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BAM! A explosĂŁo da cultura drag
Randal Savino
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Capa e projeto grรกfico: Randal Savino
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“Todos nascemos nús e o resto é drag” RuPaul Charles
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Sumário Dedicatória 7 Apresentação 8 Prefácio 9 Drag é Ser Transcedental 11 Blue Queen 13 Kaká de Lyma 41 Thereza Bee 69 Pandora Bee 69 Vinícius Berttochi 27 Raveena Manzano 161 Sobre o Autor 168
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- Quem estará nas trincheiras ao teu lado? - E isso importa? - Mais do que a própria guerra.
Acredito que este trecho - adaptado - do livro “Adeus às armas”, de Ernest Hemingway, não é sobre estar do lado vitorioso e mais forte. Para mim, o recado é claro: esteja ao lado dos bons, pois eles valem a luta! Sempre que penso em Randal Savino, penso em alguém que vale a luta, que vale a guerra. De uma alma nobre e grandiosa, porém coberta por uma camada sarcástica e ácida de puro humor, esse moço enxerga a vida por uma ótica singular. Não à toa, este livro tão especial não foi pensado apenas para fins acadêmicos. Afinal, Randal só “mergulha” naquilo que acredita e que vale a guerra. Por isso, antes de continuar folheando esta obra, abra o seu coração - como Randal faria - e aprecie cada página com muito amor e empatia. Com carinho, Maria Máximo.
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Dedicatória Dedico este trabalho a cada integrante da comunidade LGBTI+ que perdeu sua vida devido à ignorância de seus agressores. Lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis mortas por negligência do Estado que não garantiu a segurança de suas vidas. Travestis humilhadas, torturadas e mortas em via pública, sem direito de defesa. “Travecos” que viam a prostituição como única alternativa de renda e que ainda sim, foram assinadas por cobrarem seus clientes pelo serviço prestado. Homens gays que tiveram membros de seus corpos arrancados ou mutilados por demonstrarem amor em público. Lésbicas que foram estupradas por estranhos ou parentes para que pudessem aprender a ser “mulher de verdade”. Nascer, crescer e ser uma pessoa LGBT é uma luta diária que exige o amor próprio antes de tudo. Aprender a se amar, se entender e se respeitar é fundamental para a sobrevivência de qualquer ser humano, especialmente para quem nasce com uma orientação sexual ou identidade de gênero que não se encaixa no padrão pré determinados por questões religiosas e comportamentais.
Randal Savino
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Apresentação Por Randal Savino
Esta obra foi pensada para apresentar ao público a rotina de maquiagem de uma artista drag queen. Com a evolução e democratização da internet, novos estilos de arte podem ser descobertos por meio de uma simples busca no Google. Este livro vai apresentar seis drag queens de personalidades diferentes que combinam dentro de uma forma de expressão de arte. Com a popularização de discussões sobre sexualidade, as pessoas começaram a se entender melhor como ser humano e foram se descobrindo de diversas maneiras. Transexuais passaram a compreender melhor sua situação ao perceber que ela não era a passar por este processo complicado. Homens e mulheres homossexuais também foram se descobrindo. Em uma época onde a internet era de acesso limitado ou até mesmo quando ela não existia, era um desafio andar na rua tentando descobrir por meio de sinais se alguém também fazia parte da sua tribo gay. Andar na rua e flertar com alguém do mesmo sexo na esperança de conseguir um retorno, atualmente, ainda é considerada uma aventura. E ainda fazemos parte de uma comunidade criminalizada. Mas não por nossos crimes e sim pela nossa forma de demonstrar amor. Enquanto pessoas trans buscam entender o que acontece em sua mente e em seu corpo, e enquanto homens e mulheres homossexuais buscam encontrar alguém que lhe dê um retorno amoroso, um ser mágico é responsável pelo entretenimento de todas essas pessoas. Drag queens sempre foram responsáveis pelo entretenimento de muita gente, mesmo quando ninguém entende o que ela é. Cantando, dublando, dançando ou simplesmente sendo uma figura exótica na night, as drags sempre chamam atenção de seus espectadores, seja pela habilidade performática ou maquiagem exagerada. Mas será que as pessoas já procuraram entender quem são as drag queens por baixo da maquiagem ou ao menos procuraram saber como funciona o processo de transformação desta criatura magnífica?
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Prefácio Por Milena Antunes
A imagem é um dos atributos mais cultuados na sociedade atual. Numa rotina invadida pelas redes sociais, a exposição é acessível e rápida, e a beleza se transforma em algo superficial. Você vê, e num instante já define o que tem ou não valor. A beleza não tem conteúdo, entrelinhas ou interpretações. É imediata, fria e assustadoramente perfeita. Houve um tempo em que as pessoas falavam muito da tal beleza interior, aquela que extrapola qualquer defeito e faz de algo ou alguém comum um encanto ao olhar dos mais atentos. É verdade que ela ainda é bem falada por aí, mas, na prática, é difícil encontrá-la. O culto à perfeição poucas vezes nos permite ultrapassar os limites da superficialidade. Estamos sufocados pela falta de defeitos, e caímos facilmente numa armadilha perigosa: a falta de amor-próprio. Certa vez, li uma citação que dizia que “a beleza existe em tudo, tanto para o bem quanto para o mal”. Acho que foi Charles Chaplin quem disse essas sábias palavras. Parte desse mal estamos vivendo na pele, mas o ator e cineasta nos dá esperança ao completar sua ideia, de que “somente os artistas e os poetas sabem encontrá-la”. E é exatamente aí que descobrimos o mundo encantado das drag queens. Pode acreditar: não existem figuras femininas nesse universo mais autênticas e confiantes do que as personagens caracterizadas nessa arte tão complexa e cheia de magia. Drag é, sim, beleza. Drag é, igualmente, superficial. Drag, no fim das contas, é a perfeição e o ápice da exposição. Drag pode representar tudo isso, mas também vai andar na contramão: será um culto ao diferente, à arte, ao conteúdo, aos defeitos e em algum momento vai debochar dessa sociedade que coloca a figura feminina na condição sufocante de ser e agir 24 horas como uma modelo de reality show. Drag vai fazer rir e chorar. Vai divertir e fazer pensar. E quando menos esperarmos, essa cultura colorida e cheia de felicidade nos levará para o caminho do amor... E o amor levará à aceitação da beleza pura e verdadeira. Ao nos deparamos com essas maravilhosas figuras, vamos perceber que esse mundo do avesso não está tão errado. Afinal de contas, na cultura drag a beleza que vem, sim, de fora para dentro... Mas de uma forma completamente diferente! É difícil entender como essa loucura funciona, mas é exatamente o que veremos nas páginas desse livro. As fotos mostram a transformação de seis personagens e no final: BAM! Está lá a beleza presente em todas elas. Cada imagem tem conteúdo, reflexão e energia. Vale muito a pena viajar pelas histórias e sentir um pouco do calor que só as drag queens são capazes de transmitir, mesmo que seja numa folha de papel. As últimas páginas reservam ainda uma surpresa, que certamente foi a mais transformadora de todo esse projeto captado pelo olhar apaixonado de Randal Savino. Para finalizar com uma citação, lembro de Dostoievski. O autor russo, de uma expressão completamente oposta aos moldes da perfeição, disse certa vez que “a beleza salvará o mundo”... Então que sejamos salvos pela beleza das rainhas. 9
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Drag é Ser Transcedental Por Blue Queen Eu me lembro de assistir ao espetáculo “As Bacantes”, dirigido por Zé Celso, no Teatro Oficina. Estava imersa naquela realidade central toda. Penteu, Rei de Tebas, desrespeitou o culto a Dioniso. O Deus enlouqueceu Penteu, que se vestiu de mulher e foi caminhar, primeiro pela cidade, depois para fora dela, até ser esquartejado pelas Bacantes. Quando eu saí do Teatro Oficina e voltei para esta realidade paralela que é a vida comum, estava impressionada com o poder transcendental de Dioniso. Temi eu mesma desrespeitar o culto ao Deus e, louca, sai vestida de mulher pelas ruas da cidade. Foi somente neste ponto que a verdade me estapeou o rosto: eu já estava me montando como drag queen há seis meses. O Deus/Deusa Dioniso, já me tinha enlouquecido. Tudo bem. Quem já é loka perde o medo da loucura e percebe que dor mesmo seria ser normal. Porque, afinal de contas, o que é normal? Ser Drag Queen é ser TRANScendental. Transcender é ir além de si mesmo. É precisar ser homem para precisar ser mulher. É ser covarde e transitar para o enfrentamento com a sociedade, consigo mesma. É ser comum e transitar para o estado da Arte, a drag montada. É transitar da Arte que você já fez para uma Arte completamente nova, apenas assim, viva. É ser uma drag queen e transitar para além dos estereótipos que confinam a drag queen de volta para a vida comum, para os direitos que todo mundo tem e que nós precisamos correr atrás. É transitar do não saber para o saber e se preparar para o próximo passo do desconhecido. Mas não sou eu que transcendo. É a Transcendência que me vem buscar. É a Transcendência que me leva, já que nem sei para onde estou indo, a não ser que estou indo para o Todo. Se quero ou não, pouco importa. Preciso ser. Preciso dar vazão a essa imensidão de ser homem e mulher ao mesmo tempo, a essa grandeza que mal cabe em mim. Quando admiti que sou homem e incluí a mulher em mim, todas as outras partes de mim que foram aparecendo eu abracei também. Depois da dificuldade inicial, todas as dificuldades seguintes, maiores, vão ficando mais fáceis. Ser drag queen é admitir a condição humana. É perceber que não somos o que queremos, o que escolhemos. Somos o que somos. Só. Ser drag queen é ser Amor. É perceber que o outro não é o que quis, o que escolheu. É o que é. Só.
Sendo eu mesma só e sendo o outro mesmo ele só, somos um.
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1. Blue Queen
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blue queen Fotos e texto de: Randal Savino Fotografar a Blue foi uma das experiências mais bacanas que eu já tive durante todo o processo de construção deste trabalho. Com certeza, esta também foi a entrevista mais difícil de conseguir. Conversamos de ... a setembro, mês em que as fotos foram feitas. Eu a conheci por Instagram, quando ainda estava pensando e desenvolvendo este trabalho. Depois de receber uma notificação de que ela havia curtido uma foto minha, decidi seguir seu perfil e acompanhar seu trabalho. Blue Queen habita em Fernando Cavalher, astrólogo e empresário, que recebe a ajuda de uma equipe movida a sets mixadas pelo próprio e muita conversa sobre séries, política e moda. Este time de pessoas espiritualizadas produz material reflexivo para o Youtube, vídeos em Blue se manifesta sobre amor próprio, representatividade LGBTI+, assuntos relacionados à política e também fornece seu espaço dentro da plataforma para que outras minorias possam se manifestar. Cavalher e sua equipe não se dirigem à Blue como se ela fosse apenas um personagem interpretado por Fernando, Blue é uma pessoa completamente diferente que encarna no corpo do astrólogo assim que ele veste sua peruca rosa. Este foi um dos momentos que mais me impressionou durante aquele longo domingo no bairro Paraíso, São Paulo. Ao terminar de vestir seu look improvisado com meia calça e cola quente, Fernando vestiu sua peruca pink de corte Channel e se sentou em uma cadeira estrategicamente posicionada para uma entrevista que aconteceria dali uma hora. Ele ficou cerca de três minutos sentado, com suas pernas esticadas e quando enfim abriu os olhos, Fernando não estava mais ali. Blue havia chegado. Aliás, Blue tem uma lei que deve ser seguida e respeitada todas as vezes que ela vem ao mundo: Seu cabelo deve ser rosa e a cor azul deve ser usada na maquiagem ou em algum acessório, mas sem excesso. De acordo com Agata, filha de Fernando, Blue considera a cor azul algo muito íntimo para ser exposto de maneira tão escancarada como em perucas ou roupas.
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KAKÁ DE LYMA Fotos e texto de: Randal Savino Kaká foi uma das primeiras fontes que fotografei para este trabalho. Graças a ajuda de minha mãe e seu professor de artes plásticas, tive o prazer de conversar com esta pessoa mais do que experiente na vida noturna. Visitei Kaká no final de semana em que aconteceria a tradicional Parada do Orgulho LGBTI+ de São Paulo. O ator me recebeu em sua residência fixa, localizada no bairro do Tucuruvi, vestindo roupão e pantufas. Naquela primeira sexta-feira do mês de junho, Kaká de Lyma, Dimmy Kieer, Steafany de Bourbon, Ingrid Bryan, Mulher Tudão e Luisa Marilac fariam a primeira apresentação do espetáculo de stand-up drag “Elas São Loucas”, no Teatro Paiol, em comemoração à chegada do mês do orgulho gay. Durante nossa conversa antes de Kaká começar a se preparar para o show, ele dividia sua atenção a mim e ao telefone, onde recebia dezenas de nomes que gostariam de fazer parte de uma lista amiga que permitia a entrada das pessoas no espetáculo pagando apenas meia-entrada. Kaká me mostrou retratos de família, amigos e de shows em que se apresentava ao lado de seu grande amigo Nenê, infelizmente já falecido. O ator também já fez participações em programas como “Uma Escolinha Muito Louca” na Band e “Partiu Shopping”, com sua grande amiga Nanny People, no canal Multishow. Ao citar Nanny, Kaká relembra que foi o principal responsável por traze-la ao mundo dos shows e entretenimento. Menina, eu fiquei passada. Grande fã de Liza Minnelli, ele me diz que a pinta feita com delineador em seu rosto sempre foi inspirada na cantora, mas que ela nunca esteve no lugar correto até assistir um filme em Liza fazia parte do elenco. No show daquela noite, interpretou uma música da cantora e é claro que ele não perderia a oportunidade de fazer uma piada com o nome de sua diva favorita usando uma garrafa de óleo Liza.
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Thereza Bee e Pandora Bee Fotos e texto de: Randal Savino Fotografar Thereza e Pandora foi um dos dias mais tensos de produção deste projeto. Conheci o Bruno na parada LGBTI+ de São Paulo, neste dia ele estava montado com um sobretudo azul, salto e uma peruca de raiz escura e pontas platinadas. Minutos depois de conhece-lo, meu celular foi furtado e fiquei uma semana sem ter acesso às redes do projeto ou contato com qualquer fonte. Após comprar um novo telefone, retomei as atividades do projeto e entrei em contato com Bruno, que havia seguido o perfil criado para divulgar o processo de produção deste trabalho no mesmo dia que nos conhecemos. Expliquei a ele que gostaria de fotografa-lo e perguntei se ele não conhecia alguma mulher cisgênero que também fazia drag. No mesmo momento, ele criou um grupo no whatsapp com cinco de amigas drags queens, sendo duas destas, mulheres cis. No dia 29 de junho combinamos nosso encontro para o dia 22 de julho, no apartamento de Bruno, no bairro da Liberdade. Chegado o tão esperado dia das fotos, enviei uma mensagem confirmando a presença de todas no local combinado e minutos depois, todas as drags – exceto Bruno – responderam minha mensagem dizendo que não iriam mais, cada uma dando sua justificativa. Tão desesperado quanto eu, Bruno entrou em contato com algumas amigas perguntando se elas topariam ser transformadas em drag queens naquela tarde. Quando cheguei em sua casa, Bruno me informou que sua amiga, Ana Cristina, havia aceitado o convite e que ela estaria lá em algumas horas. Enquanto aguardávamos a chegada de Ana, Bruno começou a dar vida à Thereza. Quando Ana Cristina chegou, ela e Bruno começaram a discutir qual seria o conceito da personagem de Ana já que esta seria a sua primeira vez como drag queen. Durante o processo de transformação de Ana para Pandora, nós três discutíamos o quando a maquiagem e os contornos mudavam o formato do rosto de quem se transformava em drag. No fim da transformação, todos ficaram impressionados no quanto Ana ficou irreconhecível como Pandora. As fotos no fim deste capítulo mostram como o processo realmente foi transformador.
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VINICIUS BERTTOCHI (PABLLO VITTAR COVER) Fotos e texto de: Randal Savino Vinícius foi a primeira fonte que fotografei para este livro, no início eu estava meio perdido, mas todas as fotos que você viu até agora foram inspiradas nas fotografias presentes neste capítulo. Antes de fotografar o Vinícius, eu havia participado de uma série eventos LGBTI+ que foram realizados em Mogi das Cruzes em abril. Inicialmente, minha participação nestes eventos seria para a coleta de material para a composição deste trabalho, o que infelizmente não acabou acontecendo por falta de autorização de imagem formalmente assinada pelas drags fotografadas. Na semana em que seria realizada a primeira Parada do Orgulho LGBTI+ em Mogi das Cruzes, um empresário que estava envolvido nas atividades realizadas na cidade, me perguntou se eu não teria interesse de entrevistar uma cover da Pabllo Vittar contratada para se apresentar na Parada da cidade. Aceitei o convite na hora. Entrei em contato com Vinícius e combinamos nossa entrevista para a manhã do domingo em que ele se apresentaria em Mogi das Cruzes. Ao chegar no hotel, uma das dançarinas de seu balé me recebeu na porta no quarto e me pediu para esperar um pouco, pois ele havia saído para buscar sua mãe que estava na estação de trem próxima ao hotel. Quando ele chegou no quarto com sua mãe e mais duas dançarinas, meus equipamentos já estavam preparados para iniciar a entrevista e a sessão de fotos. Gravamos uma entrevista em vídeo e logo em seguida comecei a fotografar seu processo de transformação. Enquanto se maquiava, Vinícius, sua mãe e suas dançarinas soltavam piadas ácidas e comentavam sobre como iriam executar a coreografia naquela tarde especial para todos. Durante a entrevista, Vinícius se mostrou muito atencioso e preocupava em interagir comigo e minha amiga que estava me ajudando naquele dia. Ao chegar na Parada, fomos todos ao trio elétrico em que a cover da Pabllo Vittar se apresentaria com suas dançarinas, o show foi lindo. Mas o que mais me emocionou foi ver a mãe de Vinícius aos prantos – de orgulho - por estar presente em um momento muito importante para a vida profissional de seu filho.
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Raveena Manzano Fotos de: Caroline Ferreira, Giovanna Figueiredo, Lucas Oliveira e William Carlos Texto de: Randal Savino Raveena Manzano nasceu depois de anos idealizando como eu ficaria de drag queen, mas o resultado foi uma surpresa, já que não havia um espelho para que eu pudesse acompanhar todo o processo. A experiência não foi completa, porém apenas com a maquiagem já pude sentir como seria a personalidade da minha persona drag. Tenho certeza seria uma mulher corajosa, sem filtro algum na língua e com ar de celebridade, mesmo não sendo uma. Raveena seria o que muitas vezes eu não sou... Destemida. Antes de fazer a minha barba para iniciar o processo de montação, eu estava feliz por estar realizando um sonho e ao mesmo tempo arrependido por ter que raspar o bigode e o cavanhaque que me deixam mais seguro em relação à minha autoestima. Desde o primeiro semestre de 2016 eu não fazia a minha barba, aparava periodicamente, mas ficar de cara limpa não acontecia há bastante tempo. Passei a gilete no meu rosto e fui para o estúdio envergonhado por parecer um adolescente com seus 16 anos. Algumas pessoas que também estavam no estúdio não lembravam de me ver sem barba e outros nunca haviam me visto de cara limpa. Depois de todo o processo, fotografias registradas e ego inflado, finalmente foi a hora de retirar a maquiagem que demorou duas horas para ficar pronta, e, toda magia tinha ido embora. Junto da maquiagem, toda a minha autoestima e coragem havia ido para o lixo com os lenços umedecidos manchados de base, sombra e batom. Apesar do momento deprimente pós-drag pela falta de barba e bigode, Raveena foi uma experiência muito rápida, e que de alguma forma, me ajudou a aceitar melhor a minha aparência. Espero vê-la mais vezes.
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Sobre o Autor
Randal Nascimento Savino é graduado em jornalismo pela Universidade de Mogi das Cruzes, o jovem suzanense de 22 anos defende a causa LGBTI+ e é simpatizante do movimento feminista. Já estagiou na redação do portal G1 de Mogi das Cruzes em Suzano, localizada no prédio da TV Diário, filiada da Rede Globo no Alto Tietê. Randal Savino já trabalhou também no jornal impresso Oi Diário, veículo de tiragem diária. Dentro da universidade, o jovem escreveu matérias e um artigo para quatro edições do jornal laboratório Página UM, sendo uma delas, sobre o Fórum LGBTI+ de Mogi das Cruzes. Randal foi produtor e cinegrafista de quatro matérias para o telejornal UMC Repórter, sendo repórter em duas. O estudante também fez parte da produção das duas edições do programa “Tá Ligado”, onde foi apresentador na segunda edição. Além das atividades dentro da sala de aula, Randal também participou como apresentador, fotógrafo e assistente de áudio em três edições do programa de variedades Festival de Talentos, evento anual produzido por alunos de comunicação da universidade. Randal é o idealizador, fotógrafo e escritor deste projeto.
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