Catálogo da Exposição Interseções. (Residência artística)

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artist residency

residência artística

Immersion in [the territory] Olhos d’Água:

Imersão em [território] Olhos d’Água:

A SHORT STORY ABOUT TRANSITORY RESIDENCIES

UMA HISTORIETA SOBRE RESIDÊNCIAS TRANSITÓRIAS

“It’s clearly a change of tone, of “aspiring” someplace else

“É claramente uma mudança de tom, da ‘aspiração’ a um outro lugar que não chega para satisfazer a questões habituais, ou as respostas convencionais a que estamos habituados. É o novo espírito do tempo, esse ambiente imperceptível que pode nos incitar a ver na errância, ou nomadismo, um valor social a muitos títulos exemplar.” Michel Mafesoli. Sobre o nomadismo: vagabundagens pós-modernas.

that doesn’t arrive to fulfill usual questions, or conventional answers to which we are accustomed to. It’s the new spirit of time, this imperceptible atmosphere that incites us to see in peregrinations, or nomadism, an exemplary social value.” Michel Maffesoli. Du Nomandisme, Vagabondages initiatiques. INTERSEÇÕES

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INTERSEÇÕES


foto: Peninha

INTERSEÇÕES

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INTERSEÇÕES


SUMÁRIO/SUMMARY 9 8

foto: Peninha

INTERSEÇÕES

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PERCURSOS E LINHAS DE FUGA: PENSANDO A RESIDÊNCIA TRAJECTORIES AND VANISHING LINES: THE RESIDENCY CONTEMPLATION

11 10

ESTA É UMA PEQUENA NOTA DE DESLOCAMENTO VIAGEIRO

13 12

ESTA É UMA NOTA DE ASSENTAMENTO PARA UM DESLOCAMENTO VIAGEIRO

17 16

O PROJETO TERRITÓRIO CENTRO-OESTE

18 20

INTERSEÇÕES E PASSAGENS: EXPONDO O PROCESSO IMERSIVO

24 24

PROCESSO CRIATIVO

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DALTON PAULA

31

DANIEL PELLEGRIM

37

ÍRIS HELENA

43

RICARDO THEODORO

49

SANTHIAGO SELON

55

THAÍS GALBIATI

60 60

PASSAGEM

62 62

CONVÍVIOS

64 71

ENTREVISTAS

THIS IS A SMALL REMARK OF A TRAVELER’S DISPLACEMENT

THIS IS A SETTLEMENT REMARK FOR A TRAVELER’S DISPLACEMENT

THE CENTRAL WEST TERRITORY PROJECT

INTERSECTIONS AND PASSAGES: PRESENTING THE IMMERSIVE PROCESS

THE CREATIVE PROCESS

PASSAGES

CONVIVIALITY

INTERVIEWS  9

INTERSEÇÕES


foto: Peninha

PERCURSOS E LINHAS DE FUGA: PENSANDO A RESIDÊNCIA

foto: Peninha

foto: Peninha

THE RESIDENCY CONTEMPLATION

foto: Peninha

TRAJECTORIES AND VANISHING LINES:

of Art historian and curator

como historiadora da arte e

was to build trajectories that

curadora foi a de construir

allow the design of coordinates

percursos que possibilitassem

to arrange a mental map that could comprise imaginary and fictional spatialities in the

foto: Peninha

A ideia ao longo da viagem

foto: Peninha

The idea throughout my journey

a elaboração de coordenadas para a composição de um mapa mental que pudesse abranger

connected vessels intertwined

e ficcionais pertencentes

by idea’s associations and

ao território da arte.

writings that, on the contrary

Desejo de construir vasos

to the global pulse to unify

comunicantes interligados

everything, wouldn’t long for a shelter, but for a vanishing point, from where the lines

foto: Peninha

espacialidades imaginárias

foto: Peninha

Art territory. I wish to build

por meio de associações de ideias e escritas que, em um fluxo contrário à pulsão

and closed forest, to the

não almejassem a chegada a um

center of a mighty tidal river,

porto seguro, mas a um ponto

to the eye of the hurricane.

de fuga, de onde partem linhas

Those are places where the

que se dirigem tanto a uma

obscure pulsates; it’s dangerous and unknown. It’s also where the never-ending

foto: Peninha

globalizante de tudo unificar,

foto: Peninha

conduct themselves to a dense

floresta densa e fechada, ao centro de um rio caudaloso e corrente, e ao olho do furacão.

imagination springs.

Lugares onde pulsa o obscuro, o perigoso e o desconhecido. E onde fecunda a imaginação que não cessa.

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INTERSEÇÕES


UMA DAS LINHAS TRAÇADAS PELO PONTO DE FUGA DESTE MAPA MENTAL DESEMBOCA NA PAISAGEM DO CERRADO, onde eu me

baixa estatura, de galhos

encontro, movo-me e mergulho

furta-cores que põem à

para, de vez em quando,

mostra uma paisagem que

emergir. É nesse cenário no

se apresenta ao olhar sem

at quietly. The Cerrado

Centro-Oeste do Brasil que

muito alarde. O cerrado

of the Central West of

is the surface where I’m

estou alojada. Desse ponto

é a minha superfície de

Brazil I’m housed. From

geographically inserted, a

de vista vivo, vejo, falo,

inserção geográfica,

this point of view I live,

background for the creation

leio, escrevo e comento o

cenário para a elaboração

I see, I talk, I read,

of fantasies to which art is

mundo. Estou cercada pela

de ficções cuja arte é o

I write and I comment

the main device.

paisagem de árvores de

dispositivo central.

ONE OF THE LINES DRAWN BY THE MENTAL MAP’S VANISHING POINT CULMINATES IN THE CERRADO’S SCENERY, where I find

the world. I’m surrounded

myself, I move and immerse

sky that shows itself in

to, from time to time,

a scenery proper to gaze

emerge. In this scenery

by a landscape of short trees, twisted branches and textured trunks. There are big and small leaves. And the flowers, when they spring, they are bright spots, so coy and sweet. Little elaborated sculptures. And all of these together with the iridescent

THIS IS A SMALL REMARK OF A TRAVELER’S DISPLACEMENT. INTERSEÇÕES

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retorcidos e troncos texturizados. Há folhas graúdas e folhas miúdas. E as flores, quando surgem, são pontos luminosos, de uma graça tímida e doce. Esculturinhas elaboradas. E tudo isso com céus

ESTA É UMA PEQUENA NOTA DE DESLOCAMENTO VIAGEIRO.  13

INTERSEÇÕES


Instead of a mighty river or the eye of a hurricane, we can find a waterhole encrusted on the red clay. From that spot comes a line that expands and accommodates itself in my imagination. It seems silly to swim in a waterhole’s stream being it such a tiny part of a territory. But there it is, being the headwater that occupies a significant amount of space. It’s existence. Here, the waterhole is, simultaneously, materiality and metaphor for what comes next. The massif presence of natural phenomenon’s references found so far in this text, aren’t mere figures of speech, or a chimera, much less frivolous. Nature emerges here as a fertile ground to the tracing of parallels with situations that claim the production of art as the mainstream. Alluding also to the natural phenomenon, this expression (mainstream) is usually used in the art field to designate the hegemonic course that determines the appraisement positions for the artistic productions. A waterhole is, thereby, a countercurrent.

Em vez do rio caudaloso e de um olho de furacão, está um olho d’água incrustado na terra vermelha. Dali parte um fio que se expande e se aloja na minha imaginação. Parece tolo nadar na corrente de um olho d’água sendo ele uma parcela tão ínfima de um território. Mas, como nascente que é, ele está lá, ocupando um significativo espaço. É existência. Aqui o olho d’água é, simultaneamente, materialidade e metáfora para o que vem a seguir. A presença massiva de referências aos fenômenos naturais até agora neste texto, não é mera figura de linguagem, nem uma quimera, muito menos chorumela. A natureza surge aqui como meio fértil para o traçado de paralelos com as situações que postulam a produção arte como mainstream, (em português, corrente principal). Aludindo, também, a fenômenos naturais, esta expressão é usada corriqueiramente no meio da arte para designar o curso hegemônico que determina as posições de valoração para as produções artísticas. Um olho d’água, nesse sentido, é contracorrente.

THIS IS A SMALL REMARK OF A TRAVELER’S DISPLACEMENT.

ESTA É UMA NOTA DE ASSENTAMENTO PARA UM DESLOCAMENTO VIAGEIRO.

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foto: Peninha INTERSEÇÕES

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INTERSEÇÕES


THE CENTRAL WEST TERRITORY PROJECT

O PROJETO TERRITÓRIO CENTROOESTE

Displacement, migration, mobility,

the growing urbanization that begins at

Deslocamento, migração, mobilidade,

foi tipificado pela crescente urbanização

peregrination, vagrancy, wandering are

end of the 18th century.

errância, vagabundagem, deambulação

que começa no final do século XVIII. De

são expressões que apontam para as

um modo ou de outro, essa compulsão

expressions that indicate the many stages of relative senses to the phenomenon

When we bring the displacement

diversas instâncias de sentido relativas

a movimentações contradiz a noção de

of alteration of a state that provides, at

question to the art field and to the specific

ao fenômeno de uma alteração de

que o doméstico é o habitat “natural”

first sight, changes of spatial order, but

ambit of the artistic residency that, in our

estado que proporcionam, à primeira

do ser humano quando é, de fato, uma

that derives, ultimately, of the individual’s

case, is found in the rural area, we face

vista, mudanças de ordem espacial,

construção que enquadra o sujeito

will to grant meanings to one’s own

ourselves with previous traced lines of

mas que derivam, em última instância,

dentro de uma lógica global de

da vontade dos sujeitos de conferir

vivência e convivência.

existence. Being on the move affects

artists and intellectuals that searched,

every individual from the earliest nomadism.

sentidos próprios à existência. O estar em

Quando trazemos a questão do

since the burst of the first metropoles,

trânsito afeta todos os sujeitos desde os

a way to ward off the urbanite pattern,

nomadismos mais remotos.

deslocamento para o terreno da arte e

Os estímulos que provocam o movimento

artísticas que, em nosso caso, localizam-

para o âmbito específico das residências

The stimuli that provoke movement has

ruled by strict timetables and regulatory

a variety of roots and find meanings in

behaviors and go towards the archaic,

different historical and social movements:

têm raízes diversas e encontram sentidos

se em zona rural, deparamo-nos com

the idyllic, in an attempt to build a new

they can be driven by the myth of the

em momentos históricos e sociais

linhas traçadas há muito pelas ações

geography; an imaginary geography.

distintos: tanto podem ser impulsionados

de artistas e intelectuais que buscavam,

pelo mito da terra sonhada, como no

desde a irrupção das primeiras

Promised Land, such as in the case of the indigenous Guarani people, always

caso dos povos indígenas Guarani,

metrópoles, afastar-se do padrão urbano

in search of a “Land of Without Evil”, as

sempre em busca da terra sem males,

citadino, regido por cronogramas estritos

they can also be originated by the will to

como podem ser originados por uma

e comportamentos normatizadores e

wander, modern and curious, proper of

vontade de deambulação, moderna e

ir ao encontro do arcaico, do idílico,

the flâneur, the passionate observer of the

curiosa, própria do flâneur, observador

na tentativa de constituir uma nova

metropolitan life and that was typified by

apaixonado da vida metropolitana e que

geografia; uma geografia imaginária.

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INTERSEÇÕES


território, como as incursões às casas dos moradores da cidade realizadas por Dalton e Iris; a pintura no mural da casa das irmãs Dina e Lia, feita por Santhiago com participação de um

EXPONDO O PROCESSO IMERSIVO

grupo de meninos do lugar; a primeira exposição feita no Bar Museu de Dona

A ideia norteadora para este projeto

O processo imersivo teve a duração de 17 dias, o que parece pouco; um arranhão no tempo. Entretanto, essa sensação se aprofunda para quem se dispõe a mergulhar em uma vivência de deslocamento que alija o artista de seu ambiente de origem e de suas obrigações corriqueiras.

cultural surgiu da vontade de celebrar o Centro-Oeste a partir de uma reflexão de caráter geopolítico que possibilitasse problematizar a noção de fronteira, considerando a globalização não pela perspectiva da universalização, mas pelo viés que possibilita a articulação das diferenças que surgem a partir dos encontros dos artistas com as

As experiências vividas durante este tempo tomam dimensões inusitadas e se refletem na produção, como foi o caso da ida do grupo, logo no início do processo, à casa de Dona Geralda, onde ocorria um festejo do Divino Espírito Santo, que se revelou emblemático para o entendimento do contexto cultural, social e religioso do lugar. Outras interações com a comunidade compuseram este panorama de reconhecimento de

particularidades geográficas, culturais, sociais e semânticas locais, gerando misturas, hibridizações e contaminações que aparecem na reflexão e produção artísticas. O território Olhos d’Água/Centro-Oeste é considerado aqui como um espaço vivo, onde ideias podem surgir e se proliferar a partir do encontro entre o que cada  20

Coreto conduzida por Thaís e os registros fotográficos e em vídeo de Ricardo. Além da experiência de viver a comunidade, os artistas levaram para a residência as suas formas de pensar e lidar com a imagem que surge em suportes e linguagens como a fotografia,

foto: Peninha

a instalação, o desenho, a pintura e o objeto, juntamente com as proposições e assuntos que compõem seu universo de pesquisa, como memória, ruína, decolonialismo, corpo, subjetividade, ancestralidade, contemporaneidade e espaço, fragmentação e vazios. O projeto expográfico foi elaborado em consonância com o conceito curatorial, que optou por arquitetar um espaço que privilegiasse a ideia de um

foto: Peninha

Nesse sentido, esta primeira residência não teve o objetivo de tematizar o encontro ou procurar uma linha de aproximação entre poéticas artísticas que viabilizasse uma produção alinhada a algum princípio curatorial. O que motivou a seleção dos seis artistas foi a diversidade de seus percursos e a pluralidade de suas visões poéticas.

de desenho para as crianças na praça do

percurso em fluxo, contemplando o que foi processo individual e colaborativo durante a residência – as passagens – e alguns trabalhos de referência do repertório de produção do artista com a finalidade tanto de apontar para índices de sua trajetória individual como para os “desvios” no percurso. Procurouse, em última instância, relacionar a

foto: Peninha

artista leva consigo, entre o que ocorre intragrupalmente e o que surge ao se confrontar com o local de estadia. É, para o contexto da arte, espaço poroso, onde ficção e realidade se configuram a partir de estados de confluências poéticas.

Interseções foi derivada do projeto de residência artística Imersão em [território] Olhos d’Água que inaugurou o programa de residências do Núcleo de Arte Centro-Oeste, NACO, localizado em Olhos d’Água, no município de Alexânia. Durante duas semanas, seis artistas – Dalton Paula, Daniel Pellegrim, Iris Helena, Ricardo Theodoro, Santhiago Selon e Thaís Galbiati – radicados nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal, estiveram reunidos para participar de um processo de partilha e produção.

foto: Peninha

Cecília, concebida por Daniel; a oficina

A exposição Território Centro-Oeste:

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foto: Peninha

INTERSEÇÕES E PASSAGENS:

multiplicidade e o caráter experimental de uma produção realizada em zona de impermanência e instabilidade derivadas de um processo de “reterritorialização” interna.  21

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painting at the sisters Dina and Lia’s house, made by Santhiago, with the involvement of a group of local boys; the first exhibit held at the Bar Museu de Dona Cecília (Dona Cecília’s Museum

PRESENTING THE IMMERSIVE PROCESS

Bar), conceived by Daniel; the drawing workshop for the children at the Coreto’s

territory] Olhos d’Água which opened the residency programs at the Núcleo de Arte do Centro Oeste (Central West Arts Center), NACO, located in Olhos d’Água, in the municipality of Alexânia. During two weeks, six artists – Dalton Paula, Daniel Pellegrim, Iris Helena, Ricardo Theodoro, Santhiago Selon and Thaís Galbiati – rooted to the state of Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul and Distrito Federal, were gathered to participate in a sharing and production process. The basic idea for this cultural project came from the desire to celebrate the Central West region through a geopolitical debate that would allow the discussion of the concept of boundaries, considering globalization not in a universalization perspective, but from the bias that allows the articulation of differences that come from the artists meeting geographical, cultural, social and semantics local particularities, engendering blends, hybridization and contaminations that turn up in the debate and in the artistic production. The Olhos d’Água/Central West territory is here considered a living space, where ideas can emerge and proliferate from the combination of what the artist brings within, what happens inside the group  22

of Ricardo.

foto: Peninha

residency project Immersion in [the

photographical and video records

Besides the experience of living the

To this end, this first residency didn’t intend to settle a theme for the gathering or to look for an approach line between the artistic poetry that could able an aligned production by any curatorial principle. The diversity of their trajectories and the plurality of their poetical views were what motivated the selection of these six artists.

community, the artists brought back

The immersive process lasted 17 days, which seems little; a scratch of time. However, this feeling becomes deeper for those who are willing to immerse themselves in a displacement living that uproots the artists from their original environment and their daily obligations.

decolonialism, the body, subjectivity, the

The experiences lived during this period of time take unknown proportions and get reflected in the production, which was the case of the group’s visit, in the beginning of the process, to Dona Geralda’s house, during the Festival of the Divine Holy Spirit, which reveal itself to be iconic to the understanding of the cultural, social and religious context of the place. Other interactions with the community constitute this territory’s acknowledgement outlook, such as the incursion of the locals’ houses held by Dalton and Iris; the wall

would privilege the idea of a flowing

to the residency their way of thinking and dealing with the image that pops up in medias and languages such as the photography, the installation, the drawing, the painting and the object, together with the propositions and subjects that constitute their research

foto: Peninha

intersections was derived from the artistic

square, conducted by Thaís; and the

universe, such as the memory, the ruin, ancestry, contemporaneity and the space, fragmentations and the gaps. The expo-graphic project was made in accord with the curatorial concept that opted for building a space that

foto: Peninha

and what comes up from facing the place of stay. It is, in the artistic context, a pore space, where fiction and reality meet up from conditions of poetical intersections.

journey, contemplating the individual and the collaborative process during the residency – the passages – and some of the referential work of the artist’s production repertory aiming to point out the indices of their individual trajectory as well as the ‘detours’ of the journey.

foto: Peninha

The exhibit Central West Territory:

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foto: Peninha

INTERSECTIONS AND PASSAGES:

Ultimately, it was sought to relate the multiplicity to the experimental condition of a production held in an impermanent and instable zone derived by a process of internal “reterritorialisation”.  23

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foto: Thaís Galbiati

foto: Daniel Pellegrim

foto: Daniel Pellegrim

foto: Daniel Pellegrim

foto: Thaís Galbiati

foto: Daniel Pellegrim

foto: Daniel Pellegrim

foto: Daniel Pellegrim

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foto: Daniel Pellegrim

foto: Thaís Galbiati

foto: Daniel Pellegrim

foto: Daniel Pellegrim

foto: Daniel Pellegrim

foto: Thaís Galbiati

foto: Daniel Pellegrim

foto: Daniel Pellegrim

foto: Daniel Pellegrim

foto: Daniel Pellegrim

foto: Daniel Pellegrim


PROCESSO CRIATIVO THE CREATIVE PROCESS

Dalton Paula O artista visual Dalton Paula

The visual artist Dalton Paula lives and

mora e trabalha em Goiânia,

works in Goiânia, holds a bachelor’s

é bacharel em Artes Visuais

degree in Visual Arts and currently

e atualmente investiga o

investigates the body silenced by the

corpo silenciado no meio

urban environment. In 2014, in São

urbano. Em 2014, em São Paulo

Paulo – SP, he held the individual exhibit E um terremoto sereno e imperceptível arrasou a cidade… (And a calm and imperceptible earthquake razed the city…), at the Sé Art Gallery; he took part in the collective exhibit Histórias Mestiças (Mestizo Histories), at the Tomie Ohtake Institute. He was one of the selected for the Programa Rumos Artes Visuais 2011/2013 (Visual Arts Paths Program 2011/2013), of the Itaú Cultural Institute.

(SP), realizou a exposição individual E um terremoto

sereno e imperceptível arrasou a cidade…, na Sé Galeria, e participou da exposição coletiva Histórias Mestiças, no Instituto Tomie Ohtake. Foi um dos selecionados do Programa Rumos Artes Visuais 2011/2013, do Instituto Itaú Cultural.

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foto: Peninha INTERSEÇÕES

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foto: Peninha foto: Peninha foto: Peninha foto: Peninha INTERSEÇÕES

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PROCESSO CRIATIVO THE CREATIVE PROCESS

Daniel Pellegrim É um artista visual brasileiro.

He’s a Brazilian visual artist. The holder

Mestre em Estudos de Cultura

of a master’s degree in Contemporary

Contemporânea pela Universidade

Culture Studies from The Federal

Federal de Mato Grosso,

University of Mato Grosso, specialist in

especialista em Planejamento e

Cultural Planning and Management,

Gestão Cultural, bacharel em

with a bachelor’s degree in Law.

Direito. Trabalha com desenho,

He works with drawing, painting,

pintura, gravura, instalações,

engraving, installations, objects,

objetos, fotografia e arte

photography and computer arts. In

computacional. Em continuada

a continuous research of different

pesquisa de diferentes temas

INTERSEÇÕES

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e linguagens, explora os

themes and languages, he explores

territórios da subjetividade

the territories of subjectivity and

e da imaginação, bem como o

imagination, as well the experimental

caráter experimental da arte.

condition of art. http://s15atelie.

http://s15atelie.blogspot.com.br/.

blogspot.com.br/ (in Portuguese) .

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foto: Peninha INTERSEÇÕES

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36  37 INTERSEÇÕES

foto: Peninha

foto: Peninha

foto: Peninha

foto: Peninha

foto: Daniel Pellegrim

foto: Daniel Pellegrim

foto: Daniel Pellegrim


PROCESSO CRIATIVO THE CREATIVE PROCESS

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Íris Helena Artista visual, nascida em João Pessoa (PB), graduada em Artes Visuais pela Universidade Federal da Paraíba e mestranda em Artes Visuais pela Universidade de Brasília. Produziu duas exposições individuais (2009 e 2013), participou de inúmeras exposições coletivas nacionais e internacionais, como o 61º Salão de Abril, Fortaleza, CE (2010) e do II Prêmio EDP nas Artes, no instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP (2011). Participou da mostra City as a Process na II Ural Industrial Biennial of Contemporary Art, na Rússia (2012). Em 2011 participou do programa Rumos Artes Visuais edição 2011-2013 do Itaú Cultural. Participou de residências artísticas no Acre (2012) e Alemanha (2013).

She’s a visual artist, born in João Pessoa (PB), holds a bachelor’s degree in Visual Arts from The Federal University of Paraíba and is attending a master’s degree in Visual Arts at The University of Brasília. She produced two individual exhibits (2009 and 2013), took part in innumerous national and international collective exhibits, such as the 61º Salão de Abril (61st April Salon), in Fortaleza – CE (2010), II Prêmio EDP nas Artes (II EDP Art Award), at the Tomie Ohtake Institute, in São Paulo – SP (2011). She took part in the exhibition City as a Process at II Ural Industrial Biennial of Contemporary Art, in Russia (2012). In 2011, she took part in the Programa Rumos Artes Visuais 2011/2013 (Visual Arts Paths Program 2011/2013) of the Itaú Cultural Institute. She also took part in artistic residencies in Acre (2012)  39

and in Germany (2013) . INTERSEÇÕES


foto: Ricardo Theodoro

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foto: Peninha

foto: Peninha

foto: Peninha

foto: Peninha

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PROCESSO CRIATIVO THE CREATIVE PROCESS

Ricardo Theodoro Graduado em Arquitetura e

He holds a bachelor’s degree in

Urbanismo na Universidade de

Architecture and Urbanization from

Brasília (UnB), pós-graduado

The University of Brasília (UnB), a

em fotografia no SENAC São

postgraduate degree in Photography

Paulo, mestre na linha de Poéticas Contemporâneas, no

from SENAC São Paulo, and a

Instituto de Artes da UnB.

master’s degree in the Contemporary

Expõe desde 2012 trabalhos

Poetics line of study, from the Arts

relacionados à paisagem urbana

Institute of UnB. Since 2012, he

e desdobramentos relativos

exhibits works related to urban

à relação do ser humano

landscapes and ramifications related

contemporâneo com o espaço.

to the contemporary human being’s

Trabalha paralelamente como

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professor no Instituto

relationship with the space. He also

de Educação Superior de

works as a professor at the Institute of

Brasília (IESB).

Superior Education of Brasília (IESB).

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foto: Peninha INTERSEÇÕES

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INTERSEÇÕES foto: Ricardo Theodoro

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foto: Peninha

foto: Ricardo Theodoro

foto: Peninha

foto: Ricardo Theodoro


PROCESSO CRIATIVO THE CREATIVE PROCESS

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Santhiago Selon Artista visual e grafiteiro com intensa produção urbana, desenvolve pesquisa em composições geométricas ao estilo do grafismo, em ações de intervenções nas paredes da cidade que visita. Atua no circuito de Arte Contemporânea, exibindo sua produção em pintura, gravura e site specific, tal qual projeto apresentado nesta mostra, no qual o artista interfere diretamente sobre as paredes do museu, criando e ocasionando uma perspectiva visual a partir de seu desenho e a arquitetura do espaço.

Visual and graffiti artist, with intense urban production, he develops research in geometric composition in graffiti style in his interventions across the towns he visits. He works at the Contemporary Art circuit, displaying his production in painting, engraving and site specific; such as the project displayed in this exhibit, where the artist interferes directly on the museum’s wall, creating and causing a visual perspective through his drawing and the architecture of the space.

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foto: Peninha INTERSEÇÕES

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foto: Peninha INTERSEÇÕES

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foto: Peninha

foto: Peninha

foto: Peninha

foto: Peninha


PROCESSO CRIATIVO THE CREATIVE PROCESS

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Thaís Galbiati Graduada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS (2011). Atualmente é mestranda em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, onde desenvolve suas pesquisas artísticas em torno do desenho. Produziu algumas exposições individuais e participou de várias exposições coletivas. Os desenhos que apresenta fazem parte da série Habitantes irreais. Cria desenhos de observações, fotografias e cadernos de desenhos. Sempre em pequenos formatos, trabalha com nanquim negro, bico de pena, giz pastel misturado a óleo de linhaça ou colagens sobre papel.

She holds a bachelor’s degree in Visual Arts from The Federal University of Mato Grosso do Sul – UFMS (2011). She’s currently a master’s student of Visual Arts at The State University of Campinas – UNICAMP, where she develops her artistic researches around drawing. She produced a few individual exhibits and took part in several collective exhibits. The drawings she presents are a part of a series called “Habitantes irreais” (unreal inhabitants). She creates observational drawings, photographs and drawing notebooks. Always in small sizes, she works with black India ink, quill pen, pastels mixed with linseed oil and/or collage on paper.  57

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foto: Peninha INTERSEÇÕES

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fotos: Thaís Galbiati

foto: Peninha INTERSEÇÕES

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O trabalho de passagem de cada um - esfera de reflexão coletiva.

foto: Ricardo Theodoro

foto: Daniel Pellegrim

PASSAGEM

PASSAGES The passagework of each artist – the sphere of collective reflection.

foto: Ricardo Theodoro

Daniel Pellegrim

foto: Ricardo Theodoro

Ricardo Theodoro

Íris Helena INTERSEÇÕES

Santhiago Selon foto: Peninha

foto:Íris Helena

Dalton Paula

Thaís Galbiati  62

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foto: Peninha

CONVÍVIOS

A mesa de jantar (metáfora de interseção).

CONVIVIALITY

foto: Peninha

foto: Peninha

The dinner table (an intersection metaphor)..

foto: Peninha

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DALTON PAULA

DANIEL PELLEGRIM

ÍRIS HELENA

ENTREVISTAS INTERVIEWS

RICARDO THEODORO

SANTHIAGO SELON

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fotos: Peninha

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THAÍS GALBIATI


1. VOCÊ JÁ TINHA PARTICIPADO DE ALGUMA RESIDÊNCIA ARTÍSTICA ANTES?

Santhiago Selon: Participar da residência no NACO foi enriquecedor para meu trabalho. Eu não havia participado de outra residência antes, mas agora estou interessado em participar de novas residências.

Dalton Paula: Participar da residência artística no NACO culminou no desejo de explorar as potencialidades poéticas e naturais do Estado onde resido, pois desde 2009 desenvolvo um trabalho em espaços urbanos e a residência significou a possibilidade de desdobrar essa proposta em um contexto interiorano, na riqueza do ecossistema cerrado.

Thaís Galbiati: Minha primeira residência. Experimental. Gostei definitivamente do lugar; o nome já insinua... Olhos d’Água era vivo, a natureza, os animais, e o contato com ela me fez muito a favor, os habitantes bem receptivos inclusive a residência, todos os artistas, fotógrafo, curadores, donas-marias na cozinha; as conversas... só tenho a agradecer, pois isso engrandeceu minha pesquisa e me fez pensar mais adiante no trabalho em processo de criação. Não, primeira participação.

Embora eu já tenha participado de outras residências, essa foi uma experiência ímpar, que me permitiu conhecer e reconhecer amigos/as artistas, a curadoria, o artista-mestre Elder Rocha, a equipe de produção e os moradores do distrito de Olhos d’Água, com os/as quais tive a oportunidade de tecer novas relações e aprendizados.

2. O QUE VOCÊ TROUXE DE FORA, DA SUA EXPERIÊNCIA CORRENTE COMO ARTISTA, PARA O TRABALHO IMERSIVO EM OLHOS D’ÁGUA?

Daniel Pellegrim: Foi muito bom participar da residência no NACO. Não, nunca havia participado de uma residência como essa.

D. Paula: Dentro da poética desenvolvida no meu trabalho artístico, estou pesquisando plantas medicinais, em especial a flora utilizada no contexto étnico (popular) como possibilidade de cura física e simbólica do corpo. Esses seres vegetais agregam propriedades medicinais e tóxicas. É essa linha tênue que tem atraído meu interesse.

Íris Helena: Ter participado da residência no NACO foi uma experiência bastante enriquecedora. Eu já havia participado de três residências artísticas anteriores (Acre em 2012, Alemanha em 2013 e Brasília 2014), mas foi a primeira vez que participei de uma residência com estrutura específica para esta finalidade. Ricardo Theodoro: O Naco foi minha primeira experiência com residências artísticas. A ideia da imersão e de compartilhar o dia a dia em um atelier com artistas que até então eu não conhecia me traziam uma série de dúvidas quanto a minha capacidade de entrega nesse tipo de iniciativa. Nesse sentido, tanto a estrutura fornecida pela produção (a qualidade dos espaços; o ambiente de acolhimento e o cuidado; a disponibilidade dos recursos) quanto a dinâmica das relações pessoais, entre os artistas, com a curadoria e os convidados, fez com que tudo funcionasse de forma muito acima da minha expectativa. INTERSEÇÕES

A partir das experiências que tive das outras residências artísticas, desenvolvi um método de trabalho no qual o tema é algo fixo, mas se contamina à experiência e à relação com as pessoas e os lugares. Desse processo todo surge uma materialidade que se reverberará no futuro, como o assentar da poeira em aspersão. Assim, passei a trazer coisas e pensamentos dessas residências anteriores para a atual e isso se torna uma continuidade, já que é possível trançar conexões com esses lugares que ficaram incompletos no passado,  68

natural. O impulso de intervir como forma de codificar a organicidade e o caos e fazê-los caber em nossa concepção do mundo, principalmente na modernidade. Essa questão vinha sendo alvo de algumas investigações plásticas e leituras.

e, gradativamente, tento construir sua completude no presente e no futuro. D. Pellegrim: Fui com a ideia de desdobrar a obra InVersões, que fiz em Brasília em 2011. Essa, uma obra aberta, trata-se de 108 imagens captadas nas superquadras de Brasília, na qual utilizei inversão de foco e de negativo. São imagens desfocadas e desdobradas no computador, formando um conjunto de imagens que projetei sobre pedra bruta de granito. Para a residência em Olhos d’Água, pensei em captar as geometrias do patrimônio histórico do distrito, da mesma forma que em Brasília, mas com a diferença de que em Olhos d´Água, eu iria projetar as imagens e refotografá-las em diversas superfícies, constituindo “pinturas de luz” em diferentes texturas.

Quando surgiu o convite para a residência no NACO, minha primeira ideia foi a de tentar levar a cabo trabalhos ligados a essa contraposição entre natureza e artifício na relação com a paisagem do local. Na ansiedade de não saber o que iria encontrar, tentei me antecipar levando alguns materiais e formas que eu pudesse utilizar. Alguns desses materiais e ideias concebidas previamente até começaram a ser desenvolvidos, mas posso afirmar, sem dúvida, que o mais rico da residência foi o embate com as experiências vividas em Olhos d’Água e as contaminações com os processos dos outros artistas que acabaram sendo definitivas para a evolução dos trabalhos que desenvolvi lá.

I. Helena: Já venho, há alguns anos, pensando a experiência da cidade e fazendo abordagens polissêmicas entre imagem e materiais precários/efêmeros. Tenho pensado a memória e a passagem do tempo aplicada nessas experiências, porém, para a residência, havia pensado em criar métodos de aprender uma nova cidade pelo ponto de vista do outro, do nativo, não apenas pelas minhas próprias percepções.

S. Selon: Acredito que a bagagem mais significativa que levei para Olhos d’Água foi meu relacionamento com o espaço e a paisagem urbana. Os hábitos de caminhar e observar a paisagem foram praticados diversas vezes. T. Galbiati: Meu trabalho apresenta a obra de arte em desenhos como processo criativo. Em virtude desta linguagem, continuei a estendê-la, sobretudo calcada no local, ou melhor, site specific. Os desenhos da “série vazia” são trabalhos em que a linha desempenha um papel duplo e cria uma relação mútua entre a simplicidade e a dramaticidade nos trabalhos. Compor uma série de imagens vazias é a proposta minimalista, entretanto, sem uso de cores; apenas os traços em lápis grafite. E os desenhos mais “cheios” são as vegetações do lugar, trabalhados em nanquim sobre papel com volumes e trações bem aparentes. Os cadernos, também mais intimista, com desenhos pequenos. Como rito de

R. Theodoro: De forma geral, minha produção de atelier orbita em torno de pesquisas que vão se desdobrando. Algumas vezes são leituras e pesquisas teóricas sobre determinados temas que vão alimentando ideias e experimentações plásticas, outras vezes são alguns interesses visuais que começam a emergir em algumas produções isoladas, que a partir de um esforço de compreensão, levam-me a tomar consciência de novos rumos que o trabalho vai indicando. Nos últimos tempos venho me interessando pela necessidade humana de conformar a natureza, de dar sentido à continuidade e infinidade do espaço  69

INTERSEÇÕES


“passagem”, desenhei e pintei com látex varias pedrinhas do rio, onde foi um dos encontros mais legais... e por fim, no próprio ateliê da residência, encontrei, lavei uns tijolinhos para criação de um personagem principal da “passagem”.

complementada com fotografias e com o traçado da Rota do Sonho integrando a linha imaginária de Tordesilhas. Projetei as InVersões produzidas em Olhos d’Água em madeira e pedra e as refotografei. As projeções acabaram dialogando com obras de outros artistas, fiz projeção de cores sobre o painel de Santhiago Selon, também projetei sobre o artista Dalton de Paula, com o registro fotográfico de Ricardo Theodoro, e em outras superfícies como árvores e plantas. Desde o primeiro dia havia se instaurado um clima de colaboração entre os artistas e tínhamos uma ideia em comum, o projeto que chamamos de “Passagem”.

3. COMO VOCÊ ARTICULOU OS ELEMENTOS DE SUA POÉTICA AO QUE FOI VISTO, CONVERSADO E VIVIDO NESSES DIAS, DE FORMA QUE ESSA EXPERIÊNCIA SE TRANSFORMASSE EM PRODUÇÃO? COMO O TRABALHO DOS OUTROS ARTISTAS SE RELACIONOU COM O SEU? D. Paula: As plantas medicinais são o eixo do meu trabalho atual, que é muito intuitivo. Apesar de buscar referências na História, na Etnobotânica, na História da Arte, e nos exercícios poéticos de desenho e pintura, é principalmente na observação, nas conversas com as pessoas, que a proposta artística vai ganhando forma.

I. Helena: O meu trabalho em Olhos d’Água acabou se voltando para a ruína como materialidade da memória. Já vinha trabalhando o tema anteriormente e, ao chegar à residência, percebi que poderia fazer alguns desdobramentos novos. Foi um grande ganho para minha pesquisa poética residir e trabalhar numa cidade de interior. Pensar os fluxos urbanos num ritmo mais lento e sob um viés muito mais voltado para as memórias das pessoas. Relacionei esse material coletado na cidade às minhas próprias memórias da infância, tendo em vista que cresci numa cidade de interior semelhante. Essa sensação de se sentir em casa que tive foi, sem dúvidas, o mote que me levou a fazer a série de trabalho intitulada Casa pré-fabricada. Sobre a relação de trocas com os outros artistas, considero uma das partes mais importantes de uma residência artística coletiva. Todos se ajudam físico, material e conceitualmente. Trocamos informações o tempo inteiro e dividimos as dúvidas sobre os trabalhos também. Não teria conseguido fazer o que fiz se não tivesse ao meu lado os conhecimentos de cada um dos artistas. Acho que a relação mais imediata que posso fazer entre os trabalhos dos outros artistas e o meu é que de certa forma retiramos algo da cidade e trabalhamos com isso. Selon coletou sucatas e

Estar na cidade, estar à deriva nesses dias da residência, de alguma forma agregou novos elementos a esse processo, especialmente pelo intercâmbio entre os artistas, através do qual pude conhecer as escolhas e o modus operandi de cada um, o que enriqueceu muito meu trabalho, assim como as parcerias que surgiram. D. Pellegrim: Fizemos várias caminhadas, algumas sem destino certo, à deriva, outras guiadas; algumas em grupo, outras sozinho. Experimentamos diferentes modos de caminhar, o que relacionei ao texto em que Sandra Rey (2010) utiliza o caminhar como experiência estética e desdobramento virtual. No caminho, várias coisas me saltaram aos olhos. A partir disso passei a trabalhar em três frentes: a ideia inicial – InVersões Olhos d’Água, a composição com objetos encontrados pela cidade, e uma ação/ exposição no Bar Museu de dona Cecília Machado. Os objetos encontrados pela cidade se articularam perfeitamente com o Bar Museu, e essa ação/exposição foi INTERSEÇÕES

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Ao invés de me concentrar na disciplina da grande arquitetura, do planejamento, perceber como essas práticas populares: a decoração floral de plástico, a forma de organização dos jardins das casas (que incorporam plantas de jardins de modelo europeu, ignorando a flora do cerrado da nossa região), também espelham a relação de idealização da natureza, foco das minhas pesquisas.

materiais abandonados nas ruas; Thaís, imagens e situações para desenhos; Dalton, conhecimentos cultura/ancestrais; Daniel criou ficções e objetos a partir de fatos históricos; Ricardo colecionou matérias-primas naturais e folclóricas e eu coletei histórias e relatos das pessoas. Todos nós colecionamos os vários “tempos” das coisas, de alguma forma. R. Theodoro: Como eu estava explicando anteriormente, eu fui para Olhos d’Água pensando em desenvolver trabalhos ligados às minhas pesquisas mais recentes relacionadas à contraposição entre natural e artificial. No entanto, trabalhar essas questões em Brasília, que é a expressão máxima do urbanismo moderno, e um grande exemplo do processo de aplicação do pensamento cartesiano na artificialização de uma paisagem, que marcou a conquista do sertão brasileiro como parte de um projeto civilizatório, é completamente diferente de pensar nessas mesmas questões em Olhos d’Água, um pequeno distrito rural no interior de Goiás.

Além das fortes experiências com a localidade (a cultura local, a paisagem natural em volta da cidade, a cordialidade das pessoas) o convívio no atelier com os artistas, as peculiaridades do processo de cada um, as conversas em torno da mesa com a Renata e os outros convidados foi extremamente contagiante. S. Selon: Por me interessar por questões relacionadas à paisagem, minha maior relação com a cidade de Olhos foi durante as caminhadas para observação e para me apropriar de resíduos encontrados pelas ruas, quintais e lixeiras. As conversas frequentes impulsionavam a reflexão e os processos de criação.

Logo no primeiro dia, chegando à cidade, fomos convidados para um pouso, que é uma tradição rural ligada às comemorações da folia do Divino, e que em Olhos d’Água também acontece em algumas casas na área urbana. No pouso, uma família aceita abrir sua casa, para os foliões que a escolhem, que cantam e rezam acompanhados de violas e acordeons em reverência a um altar, que reúne um grande esforço decorativo que contrasta com a simplicidade das casas, confeccionado com suas imagens de devoção, entre toalhas rendadas e flores de plástico. A família ainda oferece comida para os foliões e para toda a comunidade. Logo nesse primeiro momento, tornou-se evidente que ali, se eu quisesse ser permeável àquelas vivências, eu teria que encontrar outras formas de pensar essa dicotomia artifício e natureza.

Acredito que outros artistas como Iris Helena e Ricardo Theodoro demonstraram interesses semelhantes aos meus em suas pesquisas. A meu ver, nós caminhávamos pelos mesmos espaços, com interesses semelhantes, mas captando detalhes diferentes. Observei estas relações com curiosidade. T. Galbiati: A articulação do trabalho seguiu da seguinte maneira: todos os dias acordava, olhava para uns papéis colados na parede do quarto e tentava mediar a imaginação no lugar, na vivência, nas conversas e opiniões dos colegas artistas, as quais eram sempre muito bem-vindas, pois o tempo todo eu perguntava a eles. Relacionou-se pela questão única de “pensar por imagens” e através dos processos de criação vir a significar um possível [olhar] em torno de Olhos d’Água.  71

INTERSEÇÕES


4. VOCÊ ACHA QUE A EXPERIÊNCIA DA RESIDÊNCIA OCUPAÇÃO EM [TERRITÓRIO] OLHOS D’ÁGUA TEVE ALGUM IMPACTO OU INFLUIU EM SUA PRODUÇÃO DE ALGUMA MANEIRA?

atelier; estou basicamente desdobrando algumas ideias que surgiram por lá. Mas acho que, de forma mais perene, a questão mais transformadora da experiência foi a de ter o momento de trabalho no atelier – que para mim sempre foi um momento de isolamento e introspecção –, exposto e compartilhado com os artistas e com a presença dos convidados e da curadoria. Poder mudar a forma de encarar a vertigem que se dá quando nos entregamos às experimentações do embrião de uma ideia, que muitas vezes culmina no erro. Estar cercado por outros artistas, cada um com suas formas particulares de apreender as vivências e depois vê-los se lançando nos seus processos de criação foi extremamente estimulante.

D. Paula: A residência foi um convite para sair do “lugar de conforto” e repensar meu fazer artístico. Falar do trabalho para os/as amigos/as e para a curadoria é sempre um exercício de ressignificar, de constantemente reelaborar minha produção. Numa sociedade onde geralmente a vida cotidiana nos exige múltiplas funções, acredito que estar nessa imersão por 17 dias, totalmente dedicado a tal atividade, foi um privilégio. Ressalto ainda que o grande impacto foi sentir que o trabalho continua caminhando; alguns nós foram desatados, mas estou convicto de que ainda há muito por vir nesta trajetória de dor e alegria que é ser artista.

O exercício de tentar elaborar para o outro, de compartilhar ideias muito antes delas ganharem materialidade, estar aberto para as trocas que se estabelecem nesse momento – acho que esse tende a ser o maior impacto da experiência da imersão na minha produção.

D. Pellegrim: Posso afirmar que a residência Ocupação em [território] Olhos d’Água teve grande influência e impacto em minha produção, pois, de alguma maneira, fez com que eu percebesse pontos fortes e fragilidades em meus processos de criação artística e, com isso, estou, paulatinamente, fazendo novos investimentos e estudos. I. Helena: Sem dúvidas, pois durante a residência procurei trabalhar com linguagens que nunca havia trabalhado antes; procurei conhecer a cidade por meio da experiência de vida dos moradores, no contato direto com eles e suas histórias. Essa foi a minha principal matéria de trabalho e isso, para mim, foi sair completamente da zona de conforto. Penso que quando acontece de ser assim, jamais conseguiremos voltar para o ponto inicial novamente. R. Theodoro: Talvez ainda seja um pouco cedo pra responder a essa pergunta. A experiência da imersão ainda está reverberando de forma muito direta no INTERSEÇÕES

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1. HAD YOU EVER TAKEN PARK OF ANY ARTISTIC RESIDENCY BEFORE?

Santhiago Selon: To participate in the NACO’s residency was enriching for my work. I hadn’t yet taken part in any other residency before, but now I’m much more interested in being part of new ones.

Dalton Paula: Taking part in the NACO’s residency culminated in the wish to explore poetical and natural potentialities of the State where I reside, because since 2009 I work in urban spaces and the residency meant the possibility to unfold this initiative in a country-style context, in the Cerrado’s rich ecosystem.

Thaís Galbiati: My first residency. Experimental. I definitely liked the place, the name already implies Olhos d’Água was alive, the nature, the animals, and to make contact with it brought me a lot of good things, the locals were quite receptive including the residency, every artist, photographers, curators, housewives in the kitchen, the talks, I can only be thankful for it aggrandized my research and made me think forward about the work in its creation process. No, first participation.

Although I had already participated in other residencies, this was an authentic experience that allowed me to meet and to acknowledge fellow artists, the curatorship, the master artist Elder Rocha, the production team and the residents of the Olhos d’Água district, with whom I had the opportunity to nurture new relationships and knowledge.

2. WHAT DID YOU BRING ABOUT EXTERNALLY, FROM YOUR CURRENT EXPERIENCE AS AN ARTIST, FOR THE IMMERSIVE WORK AT OLHOS D’ÁGUA?

Daniel Pellegrim: It was really good to be a part of the NACO’s residency. No, I had never taken part in a residency as such.

S. Selon: Acredito que a residência impactou de forma positiva a minha produção. A imersão na residência foi também um aprofundamento na pesquisa. A dedicação exclusiva à pesquisa impulsionou respostas para questões que eram de grande importância para mim.

Iris Helena: Having participated in NACO’s residency was a very enriching experience. I had already taken part in three artistic residencies before (Acre in 2013, Germany in 2013 and Brasília in 2014), but this was the first time that I was part of a residency where the structure was built for this specific purpose.

T. Galbiati: Certamente foi uma experiência gratificante; mesmo estando longe do local não parei de pensar em minha produção como evoluiu; tanto o desenho quanto a relação da materialidade e complexidade do fazer é indispensável para geração à vida da arte. Portanto, é este caos provido da observação da realidade humana, da questão do gosto para uma fruição estética, que me move diariamente e eu só tenho a agradecer apesar de ter dado trabalho em alguns momentos na residência. Muito obrigada Renata, produção, artistas, casa, Olhos d’Água.

Ricardo Theodoro: NACO’s was my first artistic residency experience. The idea of the immersion and sharing the daily routine in a studio with other artists that I haven’t yet met brought me doubts about my ability to commit to this kind of initiative. That said, such the structure furnished by the production (the quality of the spaces; the hosting and caring atmosphere; the availability of resources), as the dynamics of personal relationships, between the artists, the curatorship and the guests made everything function in a way that exceeded my expectations.

D.Paula: Within the poetics developed in my artistic work, I’m researching medicinal plants, specially the flora used in the ethnic context (popular) as a possible physical and symbolic cure for the body. These vegetal beings gather medicinal and toxic properties. This is the fine line that has captured my attention. From the experiences I had from other artistic residencies, I developed a working method in which the theme is something set, but contaminates itself with experiences and with the relationship with other people and places. From all this process comes a materiality that will echo in the future, like settling the dust by sprinkling. That way, I started to bring things and thoughts from these previous residencies to the current one and this becomes continuity, since it’s possible to weave connections with these left-incomplete spaces of the past, and gradually I try to  73

INTERSEÇÕES


build its completeness in the present and in the future. D.Pellegrim: I went with the idea to unfold the work of art InVersões (InVersions) that I made in Brasília in 2011, this, an open work, is about 108 images of the “Superquadras” (supersquares) of Brasília, where I used focus and negative inversion. They are computer blurred and unfolded images, creating a set of images that I projected over rough granite stone. For the residency in Olhos d’Água, I thought of capturing the geometries of the district’s historic landmarks, the same way as in Brasília, but with the difference that in Olhos d’Água, I was going to project the images and re-photograph them in a variety of surfaces composing a “light painting” over different textures.

of the “passage’s” main character.

When the invitation for the NACO’s residency came up, my first idea was to try to manage works related to this contraposition between nature and the artificial related to the local landscape. Anxious and not knowing what I would find I tried to anticipate myself taking a few materials and forms that I could use.

3. HOW DID YOU ARTICULATED THE ELEMENTS OF YOUR POETICS TO WHAT WAS SEEN, TALKED AND LIVED DURING THESE DAYS, IN A WAY THAT THIS EXPERIENCE WOULD BECOME PRODUCTION? HOW DID THE OTHER ARTIST’S WORK RELATED TO YOURS?

Some of these materials and ideas conceived previously actually started to get developed, but I can affirm doubtlessly that the richest thing about the residency was the confrontation with the experiences lived in Olhos d’Água and the contamination with other artist’s processes that ended up being definitive for the evolution of the works I developed there.

I.Helena: For a few years I’ve been thinking about the experience of the city and making polysemic approaches between images and time passages applied in these experiences, however for the residency I’ve thought of creating methods of learning a new city from the other’s point of view, from the native, not simply by my own perceptions.

S.Selon: I believe that the most significant baggage that I took to Olhos d’Água was my relationship with urban space and landscape. The habit of walking and observing the view was practiced several times. T.Galbiati: My work presents the work of art in drawings as a creative process, in virtue of this language, I continued to stretch it, especially based on the local, or better yet, site specific. The drawings of the “série vazia” (empty series) are works where the line plays a double role and creates a mutual relationship between the work’s simplicity and drama. To set a series of empty images is a minimalist initiative, however without the use of colors, only traces of graphite pencil. And the “fullest” drawing is the place’s vegetation, worked with India ink over a paper with volume and very apparent tractions. The notebooks, also more intimate, with small drawings. As a rite of “passage”, I drew and painted with latex gum of river stones, where I had the coolest encounter… and at last at the residency’s studio I found and cleaned some small bricks for the creation

R.Theodoro: In general my studio production orbits around the researches that unfold themselves. Sometimes they are readings and theoretical researches about determined themes that nourish ideas and plastic experimentations, some other times they’re visual interests that start to emerge into a few isolated productions, that with effort to understand, lead me to the awareness of new paths to where my works is signaling. Recently I’m interested in the human need to conform nature, to give meaning to continuity and to the infinity of the natural space. The impulse to intervene as a way to codify the organic and the chaos and make them fit our conception of world, especially in the modernity. This concern INTERSEÇÕES

has been the target of some plastic and reading investigations.

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re-photograph them. The projections ended up relating to the other artists’ work, I’ve made a color projection over Santhiago Selon’s pannel, I also projected over Dalton de Paula’s, together with the photographic record of Ricardo Theodoro, and over other surfaces such as trees and plants. From day one it was established a cooperation atmosphere among the artists and we had a common idea, the project that we named “passage”.

D.Paula: The medicinal plants are my current work axis, which is really intuitive. Although I looked for references in History, in Ethnobotany, and in Art History, as well as in the poetical drawing and painting exercises, it’s mainly through observation, by talking to people that the artistic initiative took shape.

I.Helena: My work at Olhos d’Água ended up turning itself to the ruins as a memory’s materiality. I had already been working the theme and, when I arrived at the residency, I realized I could make new unfoldings. It was of great gain for my poetic research to reside and work in a countryside town. Thinking about urban inflows in a slower pace under a bias much more devoted to the people’s memories. I related this material collected around town to my own childhood memories, taking into account that I grew up in a similar countryside town. The feelings of being back home was, no doubt, the motto that drove me to create the series of work entitled Casa pré-fabricada (Prefabricated House). About the exchanging with other artists, I consider one of the most important aspects of the collective artistic residency. Every one helps each other on the physical, material and conceptual level. We exchange information all the time, share doubts about work too. I wouldn’t be able to do what I’ve done if it weren’t for the knowledge brought by each artist by my side. I think that the most instant connection I can do between the other artists’ work and mine is that, in a way, we pulled something out of the city and worked on it. Selon collected his scraps and abandoned materials on the streets, Thaís pictures and situation to draw, Dalton cultural/ancestral knowledge, Daniel created fictions and objects based on historical facts, Ricardo collected natural and folkloric starting materials and

Being in town, floating during the residency days somehow added new elements to this process, especially by the artists’ interchange, with which I could get to know the choices and the modus operandi of each one of them, enriching my work, as well as arising partnerships. D.Pellegrim: We’ve done several walks, some with no purpose, aimless, some guided; some in group, some alone. We experimented different ways to walk, which I related to the text where Sandra Rey (2010) uses the walking as an aesthetic and virtual unfolding experience. On the way, many things came to sight. From that I started to work in three directions: the initial ideal – InVersões (InVersions) Olhos d’Água; the composition with objects found around town and an action/exhibit at the Bar Museu de Dona Cecília Machacho (Dona Cecília Machado’s Museum Bar). The objects found around town articulated perfectly with the Museum Bar, and this action/exhibit was complemented with photographs and the tracing of the Rota do Sonho (Dream’s Rout) integrating the imaginary Tordesilha’s line. I projected the InVersões (InVersions) produced in Olhos d’Água over wood and stone and  75

INTERSEÇÕES


ideal nature, which is the focus of my research.

I collected histories and people’s tales. We all collected the many ‘times’ of things, somehow.

Besides strong experiences with the location (local culture, the natural landscape around town, people’s cordiality) the interaction in studio with the artists, the process’ singularities of each of them, the conversations around the table with Renata and other guests were extremely contagious.

R.Theodoro: As I was explaining previously I went to Olhos d’Águs thinking about developing works related to my most recent research together with the contraposition between the natural and the artificial. However working these matters in Brasília, which is the maximum expression of modern urbanism, and a great example of the Cartesian thinking process in making the scenery artificial, which set the conquest of the Brazilian sertão (hinterland) as part of a civilizing project, it’s completely different to think with the same eyes about Olhos d’Água, a small rural district in the countryside of Goiás.

S.Selon: Since I’m interested in matters related to landscape, my biggest connection with the city of Olhos d’Água was during the observational walks to collect waste found on the streets, backyards and trashcans. The frequent conversations propelled the reflection and the creating processes. I believe other artists such as Iris Helena and Ricardo Theodoro showed similar interests to mine in their researches. From my point of view we walked the same spaces, with similar interests, but capturing different details. I observed theses connections curiously.

From the first day when we arrived in the city, we were invited for a landing, which is a rural tradition related to the celebrations of the Festival of the Divine, that in Olhos d’Água also takes place in some houses in the urban area. In the landing, a family accepts to open their house, for the revelers that chose it, who sing and pray followed by violas and accordions honoring an altar, that gathers a great decorative effort contrasting with the simplicity of the houses, created with their devotion images, between lace towels and plastic flowers. The family also offers food for the revelers and for the whole community. From this first moment it was evident that there, if I wanted to be permeable to those livings, I’d have to find other ways to think this artificial and nature dichotomy.

T.Galbiati: The articulation of my work went the following way: every day I woke up and looked at some papers glued to my room’s wall and tried to mediate the imagination at the place, in the livings, in the talks and opinions of other fellow artists, which were always welcome, since I’d always ask them questions. It related to the unique matter of “thinking through images” and through the processes of the creation coming to mean something possible around Olhos d’Água. 4. DO YOU THINK THAT THE RESIDENCY EXPERIENCE OCCUPATION IN [TERRITORY] OLHOS D’ÁGUA IMPACTED OR INFLUENCED IN ANY WAY YOUR PRODUCTION?

Instead of concentrating on the great Architecture, on the Planning, I began realizing those popular practices: the plastic flowers decoration, the way the house gardens were organized (which incorporate garden plants in a European style, ignoring the region’s flora of the Cerrado), also reflect the connection to an INTERSEÇÕES

D.Paula: The residency was an invitation to leave the “comfort zone” and rethink my artistic movements. Talking about work  76

with friends and with the curator is always an exercise of giving new meaning, of constantly reformulating my production.

vertigo that happens when we deliver the experimentation of a newborn idea, which often culminates in a mistake. To be surrounded by other artists, each one with their particular way to apprehend experiences and see them afterwards diving into their creation processes was extremely inspiring.

In a society where usually the everyday life demands from us multiple functions, I believe that being in this 17-days immersion, totally devoted to such activity was a privilege. I highlight yet that the great impact was to feel that the work is still flowing, some knots have been untied, but I’m sure that there’s much more to come in this being-an-artist’s trajectory of pain and joy.

The exercise of trying to produce for the other, to share ideas before they materialize, to be open for the exchanges that happen at that time, I think this might be the biggest impact that the immersion experience caused to my production.

D.Pellegrim: I can affirm that the residency Occupation in [territory] Olhos d’Água was of great influence and impact to my production, because somehow it made me realize the strengths and weaknesses of my artistic creating processes and, for that, I’m gradually making new investments and studies.

S.Selon: I believe that the residency had a positive impact in my production. The residency immersion was also a deepening of my research. The exclusive dedication to researching propelled to get answers to questions that were of big importance to me.

I.Helena: There’s no doubt, because during the residency I tried to work with languages that I have never worked before, I tried to get to know the city through the local’s living experiences, through the direct contact with them and their stories. This was the main material of my work and that, for me, was to completely leave the comfort zone. I believe that when that happens, we will never again be able to go back to where we started.

T.Galbiati: It was certainly a rewarding experience, even being away from that place I haven’t stop thinking about how much my production evolved such in the drawing area as well as in the connection of the materiality and complexity of the making it essential to give life to art. So, it’s from this chaos brought from the observation of human reality, a matter of taste for an aesthetic fruition, that I move every day and I can only be thankful despite having sometimes given a hard time at the residency. Thank you so much Renata, the production, the artists, the house, Olhos d’Água.

R.Theodoro: This question perhaps is still a bit early to answer. The immersion experience still echoes in a straightforward way at my studio, I’m basically unfolding some ideas that emerged there. But I think that the most everlasting, the most transforming point of my experience was to have to work in the studio exposed and sharing the space with other artists in presence of guests and the curatorship, when for me it was always a moment of isolation and introspection. To be able to change the way of facing the  77

INTERSEÇÕES


FICHA TÉCNICA/TECHNICAL STAFF IMERSÃO EM [TERRITÓRIO] OLHOS D’ÁGUA IMMERSION IN THE [TERRITORY] OLHOS D’ÁGUA

INTERSEÇÕES INTERSECTIONS

CURADORIA

CURADORIA

CURATOR

CURATOR

Renata Azambuja

Renata Azambuja

ARTISTAS

ARTISTAS

ARTISTS

ARTISTS

Dalton Paula, Daniel Pellegrim,

Dalton Paula, Daniel Pellegrim, Iris Helena, Ricardo Theodoro,

Iris Helena, Ricardo Theodoro, Santhiago Selon e Thaís Galbiati

Santhiago Selon e Thaís Galbiati

PRODUÇÃO

PROJETO EXPOGRÁFICO EXPO-GRAPHIC PROJECT

PRODUCTION

André Cobbe

Henrique Cabral Guilherme Barros Mendonça

PRODUÇÃO PRODUCTION

ARTISTA CONVIDADO

Eduardo Cabral

INVITED ARTIST

FOTOS

Elder Rocha Lima Filho

PHOTOGRAPH

SEMINÁRIO

Daniel Pellegrim, Lucas Las-Casas,

SEMINAR

Peninha e Ricardo Theodoro

Ludmila Brandão (MT)

ASSISTENTE DE PRODUÇÃO

Rubens Pileggi (GO)

ASSISTANT PRODUCER

Cecilia Mori (DF)

Lucas Las-Casas

FOTO

PROGRAMA EDUCATIVO

PHOTOGRAPH Peninha

EDUCATION PROGRAMME

ASSISTENTES DE PRODUÇÃO

Thiago Magalhães

Lívia Brandão, Nadja Dulci e

ASSISTANT PRODUCER

DIVULGAÇÃO E REVISÃO

Izabel P. Duarte (comida - food)

PRES AGENT AND TEXT REVISION

Maria Gonçalves (limpeza - cleaning)

(PORTUGUESE VERSION)

Divino Santiago (serviços gerais - general services)

Maria Alice Monteiro

DIVULGAÇÃO

DESIGNER GRÁFICO

PUBLISHING

GRAPHIC DESIGNER

Maria Alice Monteiro

Renata Fontenelle

DESIGNER GRÁFICO

MONTAGEM

GRAPHIC DESIGNER

EDITING

Renata Fontenelle

Fábio de Jesus Silva, Manoel Oliveira e

AGRADECIMENTOS

Ricardo Soares Pereira

THANKS TO D. Cecília (Bar Museu – Museum Bar), D.

AGRADECIMENTOS

Conceição, D. Dina, D. Geralda, D. Isabel, D.

THANKS TO

Lia, D. Maria, D. Genoveva, Nilva Bello, Marcos

Cecília Bona, Guilherme Barros Mendonça,

Medeiros, Pamela Morales, Rosa Mendonça,

Guilherme Sardinha, Henrique Cabral, Marcos

Soledad Garcia, Thiago Bresani e Wagner Barja.

Medeiros, Matias Monteiro e Nina Orthof.

INTERSEÇÕES

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