Princípios de Avaliação Pós Ocupacional

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Princípios de Avaliação

Pós Ocupacional Santuário do Santíssimo Sacramento


UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DEPARTAMENTO DE TEORIA E HISTÓRIA EM ARQUITETURA E URBANISMO Ensaio em Teoria em Arquitetura e Urbanismo Disciplina de graduação em Arquitetura e Urbanismo

Princípios de Avaliação Pós Ocupacional Santuário do Santíssimo Sacramento

Autora Raquel Dias Guedes Orientadora Ana Carolina Correia Lima Sant’anna

Brasília, 2017.


Sumário Introdução

Justificativa Objetivos Metodologia

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1 Avaliação Pós-Ocupacional

1.1 Arquitetura sob ponto de vista do usuário 1.2 Concepção teórica 1.3 APO Ambiental 1.3.1. Conforto térmico 1.3.2 Conforto sonoro 1.3.3 Conforto luminoso

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2. Aplicação de princípios de APO em um edifício igreja 2.1. Concepção do espaço sacro 2.2 Arquitetura religiosa e conforto ambiental 2.3 Santuário do Santíssimo Sacramento 2.4 Aplicação de princípios de APO

3. Resultados

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3.1 Diretrizes prospectivas

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4. Considerações finais

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Referências


Introdução


A pesquisa presente neste Ensaio Teórico busca estudar princípios de uma metodologia de avaliação de edifícios construídos, a Avaliação Pós-Ocupacional (APO), com intuito de caracterizar a qualidade arquitetônica de um edifício igreja. Nesse sentido, buscou-se avaliar a qualidade do espaço, principalmente referente aos conceitos de conforto ambiental. Estes, relacionados ao usuário e relevantes no momento de criação das obras arquitetônicas, sendo elementos fundamentais para qualificar o edifício após a sua construção e ocupação. De acordo com Romero (2001) os condicionantes ambientais de um edifício proporcionam estímulos e sensações aos usuários do ambiente, que podem ser positivos ou negativos. Por se tratar de um espaço religioso eles podem se tornar mais relevantes, uma vez que esta tipologia arquitetônica possui forte relação com o lado subjetivo humano, ou mesmo, sentimental. Diante disto, a avaliação realizada na igreja do Santuário do Santíssimo Sacramento busca considerar tanto aspectos técnicos, quanto as opiniões e as declarações de usuários deste espaço como critérios de qualificação deste ambiente. Diante disso, a Avaliação Pós-Ocupacional (APO) abrange duas caraterísticas relevantes ao estudo: a análise do edifício após a sua construção, bem como a inserção do usuário como parte avaliadora do espaço. Nesse contexto, Ornstein et. al (1992) propõem que a estrutura da APO seja um conjunto composto por grupos de trabalhos temáticos. Um destes grupos caracteriza-se como Avaliação técnica-construtiva e conforto ambiental, no qual consiste os princípios de análise utilizados nesta pesquisa para avaliar a igreja do santuário católico. Outros estudos, como os de Mendez (2008) e Moscati (2013), trazem espaços religiosos para análise APO considerando aspectos do conforto ambiental como variáveis analisadas. Dentro desses estudos, é importante ressaltar que um dos pontos relevantes em conforto para igrejas é o projeto adequado de isolamento e condicionamento acústico, assim como de conforto térmico e luminoso. Desta forma, é possível avaliar a qualidade do edifício, apontando as potencialidades dos ambientes, oferecendo bases empíricas e diretrizes projetuais de reforma de qualidade do ambiente em estudo. De modo geral, um edifício igreja possui espaços que conferem sensações aos seus usuários, pelo seu próprio significado social. Estas, por sua vez, são condicionadas por fatores ambientais que estão relacionados diretamente com a arquitetura. A vista disso, este trabalho utiliza princípios de APO para analisar um espaço a partir destes condicionantes ambientais, de modo a alcançar resultados a partir de análises técnicas, além de inserir o usuário como avaliador do ambiente.

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Justificativa Os edifícios construídos necessitam de constantes avaliações, estas, por sua vez, resultam em reformas e reestruturações do espaço. Contudo, as reformas nem sempre atendem às necessidades que os ambientes demandam, seja pela própria não observância às normas ou porque os atributos considerados não são os que conferem a qualidade arquitetônica necessária para cada ambiente e seus usuários. Algumas reformas em igrejas refletem bastante essas falhas de manutenção, como é o caso do Santuário do Santíssimo Sacramento, objeto de trabalho desta pesquisa. As igrejas, por sua natureza, têm como princípio espacial reunir uma grande quantidade de pessoas em um mesmo ambiente, logo, o espaço deve responder bem a esta demanda, principalmente nos aspectos relacionados ao conforto ambiental. Assim, é imprescindível que uma igreja possua um bom desempenho sonoro, para realização da Missa e dos cânticos. Além disso, por ser um espaço de permanência prolongada, deve proporcionar conforto, e responder bem ao comportamento térmico e luminoso. Quando estes fatores estão mal estruturados, podem gerar desconforto no ocupante e fazer com ele não participe com qualidade das atividades desenvolvidas no espaço. Para avaliar estes fatores espaciais nesta tipologia arquitetônica o objeto de análise (Igreja do Santuário do Santíssimo Sacramento) foi escolhido a partir de dois critérios. O primeiro refere-se ao conforto ambiental, devido a experiência pessoal da autora durante as missas. Percebeu-se que o santuário não usava todo seu potencial arquitetônico e que alguns elementos, ou a falta deles, prejudicavam o bom acompanhamento das atividades. Já o segundo critério se deu pela importância da tipologia dentro da Igreja Católica, ou seja, por se caracterizar como um Santuário, este conjunto recebe peregrinos de todo o DF, não apenas sua comunidade local. Nesse quesito foram observados problemas de demanda, pois mesmo recebendo diversos grupos de outras regiões, o espaço aparenta estar subutilizado. Nesse sentido, as missas não possuem todos os seus bancos preenchidos por pessoas e não se percebe estímulo à visitação do santuário. Nesse contexto, este trabalho busca avaliar se a questão arquitetônica pode ser um fator desestimulante da presença maior de usuários ou se, pelo contrário, ela responde bem arquitetônicamente e a pouca ocupação consiste em outro âmbito de análise, que pode ser material de estudo para outros trabalhos. Assim, além da revisão bibliográfica, buscou-se uma metodologia que avaliasse o ambiente de forma técnica, mas também, que considerasse a opinião dos ocupantes, como a APO.

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Objetivos Geral O objetivo geral deste ensaio teórico é estudar princípios norteadores da APO e obter resultados capazes de propor diretrizes projetuais de requalificação da igreja católica do conjunto do Santuário do Santíssimo Sacramento.

Específicos • Estudar referencial teórico relativo aos princípios da APO e ao conforto na arquitetura • Destacar elementos relevantes para a análise da qualidade da arquitetura e do conforto em edifícios religiosos • Levantar dados de análise e conceituar o objeto de estudo • Aplicar a APO com enfoque no conforto ambiental (térmico, sonoro e luminoso) e de satisfação do usuário no edifício igreja • Definir diretrizes de projeto para melhoria da qualidade do ambiente construído e do conforto para os usuários do edifício igreja

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Metodologia

Este estudo se divide em duas etapas: a primeira possui escopo teórico, já a segunda possui caráter prático, caracterizada por um estudo de caso a partir dos conceitos e parâmetros detacados na etapa anterior. A primeira etapa consiste no estudo de referencial teórico de temas que norteiam a APO assim como a sua própria conceituação. Inicialmente foi abordada a importância do usuário na arquitetura, com uma breve conceituação de como se faz a relação entre usuário e meio ambiente, de acordo com autores como Sommer (1973), Lynch (1997), Norberg-Schulz (2010), Roméro (2003) e Ornstein et. al (1992). Em seguida, foi estudado como surge a APO, sua difusão e consolidação como metodologia de trabalho para diversas pesquisas. Por fim, detacam-se os princípios norteadores em APO que foram utilizados na segunda etapa, os quais abrangem conceitos do grupo de conforto ambiental classificados por Ornstein et. al (1992). Esses conceitos se distribuem em três áreas: conforto sonoro, térmico e luminoso, e foram relacionados ao conforto em edifícios religiosos. A segunda etapa apresenta o estudo da concepção do espaço religioso e como ele proporcionou a inserção do usuário no projeto arquitetônico, além da descrição de estudos, relacionados a conforto ambiental, implementados em espaços religiosos. Diante dessa bordagem foi realizado estudo de caso aplicado na igreja do Santuário do Santíssimo Sacramento. Para a avaliação, foram utlilizadas as referências bibliográficas e o método de análise APO do Relatório do Hemocentro da Amazônia do Laboratório de Pesquisa Aplicada a Arquitetura e ao Urbanismo (LASUS, 2014). Buscou-se conceituar o ambiente a ser a analisado, e em seguida, levantar dados climáticos e normativos a respeito do local, assim como suas plantas e distribuição de usos, de modo a compreender a implantação do edifício. Segundo a metodologia aplicada, foi escolhido um ambiente representativo do todo e utilizadas medições em campo com equipamentos específicos, além de simulações e levantamento de dados para análise. A APO foi segmentada em três temas, que foram estruturados e analisados da seguinte forma:

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- Conforto Térmico: análise da orientação das fachadas por meio da Carta Solar de Brasília, com o intuito de compreender como o sol adentra os ambientes e quais as fachadas que recebem maior carga térmica. Além da medição in loco da temperatura, simulação computacional com software Envi-Met e aplicação de questionário aos usuários com questões relacionadas ao conforto térmico do espaço. - Conforto Sonoro: análise do Tempo de reverberação com uso do software REVERB, uso de decibelímetro para medições de ruído no local de análise, assim como questões em questionário aplicados aos usuários abordando a qualidade do som dentro do ambiente de análise. - Conforto Luminoso: análise da quantidade de luz disponível no ambiente obtido a partir de equipamentosde medição in loco, questões em questionário para os ocupantes de modo a qualificar a luz natural e artificial do ambiente e simulação no software ecotect para compreender como a luz natural se distribui no espaço durante o ano. Por fim, foi realizada a compilação dos dados e a comparação dos resultados de modo a apontar convergências e discrepâncias entre eles. Assim, foi possível notificar as potencialidades da edificação em forma de recomendações, seguindo princípios adotados pela APO e os demais refenciais teóricos de conforto e qualidade do espaço construído.

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1 Avaliação Pós-Ocupacional


1.1 Arquitetura sob o ponto de vista do usuário

A preocupação com usuário ou ainda, a relação entre o comportamento humano diante do ambiente, é estudada em diversas áreas de conhecimento englobando a filosofia, psicologia, assim como a arquitetura. As sensações do usuário no ambiente são fatores de extrema relevância no projeto arquitetõnico de edifícios, principalmente os religiosos. Autores como Norberg-Schulz (2010)1, identificam o potencial da arquitetura em dar significado ao ambiente mediante a criação de lugares específicos, ou seja, a relação entre a forma e a função do espaço. Essa relação pode conferir diferentes volumetrias, e essas particularidades conferem identidade ao espaço, o que pode fazer com que o usuário sinta que pertence aquele lugar, embora, este não seja o único atributo para avaliar a qualidade da arquitetura. A importância da relação do homem com o ambiente construído está presente também nos estudos de Sommer (1973)2 quando publica o livro Espaço Pessoal. O autor afirma que tanto a forma, quanto a número de pessoas no ambiente, e inclusive a posição de uma em relação a outra, interfere no comportamento dela, e que, este comportamento ou mesmo sensações diferentes, podem significar invasões a este espaço pessoal. Sommer (1973)2 considera ainda que a produção de arquitetura está alheia a opinião do usuário, deixando-o submisso as decisões arquitetônicas. Ele afirma que o usuário está tão distante da configuração do espaço que algumas pessoas se acomodam com o que quer que seja, por menos funcional ou mais incômodo que seja, ou porque acreditam que regras as proibiam de alterar a disposição arquitetônica encontrada. A partir dessa concepção, o autor pontua: Toda adaptação ambiental tem um preço, e frequentemente este preço é o desaparecimento dos membros da espécie que não possam fazer a mudança. Quando falamos de comportamento do usuário não queremos indicar alguma adaptação hipotética de que, em algum local, os seres humanos sejam capazes, mas, ao contrário, de comportamento de ocupantes imediatos ou prováveis. (SOMMER, 1973)

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Christian Norberg-Schulz, The Phenomenon of Place, Architectural Association Quarterly 8, no.4, 1976. Robert Sommer, Personal space: the behavior basis of design, 1969.

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Romero (2001) apud Cerasi (1990) afirma que um espaço é tanto mais significativo para a coletividade quanto maior for o número de cidadãos que o utiliza ou que o conhece e quanto mais longo for o período histórico durante o qual ele exerce sua influência. Os ambientes religiosos exercem sua influência a partir do seu uso, ou seja da quantidade de pessoas que participa das suas celebrações. De modo geral, para alcançar usuários satisfeitos com o espaço, é necessário que ele responda a diversos fatores, por exemplo, o usuário não pode se sentir invadido; ele precisa estar adaptado; e também é importante que se identifique com aquele ambiente. Estas características podem influenciar em como o usuário percebe o ambiente e quais sensações ele pode proporcionar. Segundo Norberg-Schulz (2010)1, sensação do lugar trata-se de uma noção romana de espírito do espaço, que estabelece um elo com o sagrado, denominado Genius Loci. Afirma ainda, que o conceito de genius loci refere-se à essência do lugar e que não está condicionado somente a forma arquitetônica, mas sim a um conjunto de fatores que conferem ao usuário o pertencimento àquele lugar. No entanto, pertencer ao lugar requer, antes de tudo, experiência. Desta maneira, o usuário do espaço poderá reunir significados a respeito do lugar e por conseguinte, estabelecer critérios de pertencimento ou não pertencimento. Questão que, no âmbito religioso, é essencial. Nesse sentido, Lynch (1997)3 afirma que a percepção do espaço é consequência da imaginabilidade, que por sua vez, é o atributo que oferece segurança emocional ao possuidor do espaço. Para o estudo, a qualidade do ambiente pode estabelecer uma relação harmoniosa entre o fiel e o espaço a sua volta. De maneira geral, os autores buscam aproximar a prática projetual à experiência pessoal do usuário, conceituando o espaço de modo a possibilitar a avaliação da qualidade do ambiente. Esta avaliação pode se dar de diversas maneiras, contudo, todas devem possuir o mesmo propósito: alcançar um ambiente de qualidade. No estudo em questão, a qualidade é conceituada como um atributo inerente a arquitetura que atenda as necessidades do usuário, ou seja, está associada claramente ao desempenho satisfatório dos ambientes e das relações ambiente e comportamento. Desta forma, Ornstein e Roméro (1992) classificam a Avaliação Pós-Ocupacional (APO) como a área de conhecimento que avalia a qualidade do ambiente considerando a satisfação do usuário. A APO serve como ferramenta de trabalho pra concretizar análises que inserem o usuário e qual o nível de satisfação e bem-estar que ele possui com o lugar. Isso, contextualizado a conjuntura atual, confere sobrevivência ao próprio espaço, agregando vitalidade e desempenho funcional.

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The Image of the City, Kevin Lynch, 1960.

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1.2. Concepção teórica

A APO trata-se de uma metodologia de avaliação realizada após a consolidação da construção e ocupação do espaço. Diante das diversas formas de avaliar o edifício construído, a APO torna-se relevante por possibilitar uma análise completa, principalmente, por incluir os usuários do edifício na avaliação. Esta inclusão surge como resposta à demanda arquitetônica de pensar o espaço para seus ocupantes, como já citado no tópico anterior. Segundo Ornstein e Roméro (1992), a APO surge a partir do reconhecimento da insatisfação dos usuários em relação aos edifícios habitacionais construídos em larga escala no pós-guerra por não satisfazerem as necessidades dos usuários. Observou-se que era preciso aliar os estudos das condições técnicas do edifício às expectativas comportamentais dos usuários, constituindo, então, a Avaliação Pós-Ocupacional (APO). Considerando estas condições, após estudos sobre a psicologia ambiental iniciada por Roger Barker e Herbert Wright, iniciou-se as primeiras experiências desta metodologia, lançando partida com a APO realizada em dormitórios em Berkeley, seguida de análises voltadas para habitação, como a APO, realizada em 1972, do Conjunto Habitacional Pessac, de Le Corbusier e das mais de cem APO’s realizadas em programas habitacionais realizadas por Newman em 1973. (ORNSTEIN e ROMÉRO, 1992). Ainda segundo estes autores, no Brasil, as pesquisas em APO também são iniciadas com foco em edifícios habitacionais com a avaliação pioneira de conjuntos habitacionais da Grande São Paulo pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, em 1975. Envolvendo pesquisas motivadas pela criação da disciplina “Avaliação Pós-Ocupação em Edificações” na pós graduação da FAUUSP, a metodologia em APO alcançou programas como o Museu Brasileiro de Escultura (MUBE) em São Paulo, em 1990; assim como o Edifício do Departamento de Engenharia Civil da Escola Politécnica da USP (EPUSP-Civil), realizada no mesmo ano. A disseminação da APO pode ser demonstrada pela variedade de artigos publicados, por exemplo, no Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (ENTAC), no qual é apresentada APO em Centro de teleatendimento (ANDRADE, ORNSTEIN e MALERONKA, 2002), ambientes destinados a educação infantil (FERREIRA et al, 2006), em ambientes universitários (SILVEIRA E CARVALHO, 2016) e hospitais complexos (THOMAZONI E ORNSTEIN, 2016). Além desta diversidade de programas analisados, pesquisas em APO ofereceram recursos de análises como, por exemplo, o Guide to Post Occupancy Evaluation, publicado em 2006 pela University of

Westminster, e o livro Observando a qualidade do lugar: procedimentos para avaliação pós-ocupação, da Coleção ProArq da Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ, 2009).

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Contudo, conforme França et. al (2014) apud França, Ornstein e Oto (2011), a APO tem, usualmente, se limitado à esfera acadêmica, que, de modo geral, acabam não contemplando efetivamente o uso da metodologia como recurso de projeto junto aos profissionais. Esta presença incipiente de APO no mercado possibilita a repetição de falhas em projetos de edifícios semelhantes (ORNSTEIN e ROMERO, 1992), desta forma, o Guide to Post Occupancy Evaluation (2006) considera, em sua introdução, que o procedimento em APO precisa ter foco em orientar os profissionais a tomar decisões estratégicas quanto aos projetos, relacionando questões de construção e ocupação, de modo que as técnicas utilizadas possam ser reproduzidas por outros profissionais, isso promove o crescimento tecnológico dentro da arquitetura e da construção civil. Diante desta contextualização geral sobre o que pode ser produzido a respeito da APO, é possível inferir que esta metodologia busca agrupar técnicas de análise do edifício após a sua construção e ocupação. Assim, serve como ferramenta base para análise de todo tipo de edificação, inclusive de igrejas. À vista disso, Ornstein e Roméro (1992) classificam duas fases do edifício após sua construção: fase de produção e fase de uso. Quando uma reforma ou manutenção é realizada, obtém-se uma nova etapa de projeto, renovando a primeira fase, seguindo para a segunda, em um ciclo. Para iniciar este novo projeto, é necessário um diagnóstico da edificação, desta forma os documentos iniciais serão atualizados para a nova intervenção (Figura 1). Neste ciclo de atividades, a APO abrange desde o levantamento de dados até a etapa de recomendações, em que cria-se diretrizes para o projeto seguinte.

Cadastro atualizado dos ambientes construídos

Planejamento Projeto Construção Uso e manutenção

Levantamento da memória do projeto e construção

Cadastro atualizado do mobiliário e equipamentos

Diagnóstico

Levantamento de normas e códigos

Insumos e recomendações para o ambiente construído

Realimentação do processo projetual Figura 1: Fluxograma de atividades. Fonte: Ornstein, 1992, P.63 (adaptado).

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Quando estas atividades são desenvolvidas, pode-se afirmar que o edifício se encontra em avaliação de qualidade, no qual visa analisar a edificação quanto a satisfação dos usuários. Rheingantz et. al (2009) apud Del Rio (1996) afirma que qualidade é atributo de um ambiente construído que atrai as pessoas, diante disso, pode se considerar que um espaço religioso necessita de qualidade espacial dentro dessas condições, uma vez que atrair as pessoas é um dos seus objetivos. De todo modo, é possível afirmar que a qualidade de um ambiente está diretamente ligada a condição dos usuários do espaço, e são eles quem determinam seu desempenho. Por esta razão é que a APO torna-se um ferramenta completa, dado que avalia o estado do edifício de forma integrada. A APO, de acordo com Rheingantz et. al (2009), consiste em um processo interativo, sistematizado e rigoroso de avaliação de desempenho do ambiente construído no qual focaliza os ocupantes e suas necessidades para avaliar a influência e as consequências das decisões projetuais no desempenho do ambiente, especialmente aqueles relacionados com a percepção e o uso por parte dos diferentes grupos de atores ou agentes envolvidos, isto revela a importância desta ferramenta para análises de um ambiente como uma igreja, uma vez que ele detém de estratégias arquitetônicas que buscam sensibilizar a experiência do usuário. Ornstein e Roméro (1992) consideram que parcela siginificativa de deficiências de desempenho de um edifício está relacionada à fase de produção, ou seja, a fase de projeto. Como já foi abordado, as falhas projetuais podem ser reduzidas, desde que se considere as APO’s de projetos semelhantes para a produção do novo edifício. Ainda assim, Sommer (1973)2 aponta que apenas projeto de espaços não completa a tarefa do arquiteto. É também importante mostrar como usar produtivamente o ambiente e criar programas eficientes para distribuição e localização de espaço.

CONSTRUTIVA

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

FUNCIONAL

APO COMPORTAMENTAL PSICOLÓGICA

ECONÔMICA

ESTÉTICA/ SMBÓLICA

Figura 2: Tipologias de APO por Ornstein e Roméro (1992) (adaptado). Fonte: Produzido pela autora.


De modo a compreender as defiências do edifício, a APO pode ter foco pontual em alguma área de conhecimento, ou incluir todas elas, estruturada em uma complexa análise. Ornstein e Roméro (1992) dividem a APO em grupos técnicos distribuídos em seis áreas de atuação: construtiva, funcional, econômica, estética/simbólica, comportamental/psicológica e estrutura organizacional (figura 2). Dentro destas equipes é realizadas análises técnicas e avaliações aplicadas aos usuários, pois isto, o processo é dito como interativo. Cada uma destas etapas classificadas pela autora abrange áreas de análise que podem ser subdivididas em outras classificações, uma delas, por exemplo, é a Construtiva. A própria autora divide esta categoria em duas subdivisões: Materiais e Técnicas Construtivas; e Conforto Ambiental. A primeira trata de aspectos da edificação que dizem respeito a manutenção do edifício, ou seja, a condição da estrutura, das juntas, da cobertura, das instalações, impermeabilizações, patologias e acabamentos. Já a segunda, grupo utilizado para análise deste trabalho, diz respeito a critérios de conforto térmico, ventilação natural, condicionamento do ar, iluminação natural e artificial, conforto acústico e conservação de energia. A partir desta última classificação, pode-se especificar uma tipologia específica de APO dentro de sua macroestrutura. Para tornar seu estudo mais didático, vou denominá-la APO Ambiental.

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1.3 APO Ambiental

A APO ambiental é uma ferramenta amplamente utilizada nos Relatórios Técnicos realizados pelo LaSus para analisar os hospitais da Rede de Hemocentros. Em um desses, o laboratório avalia o Hemocentro da cidade de Manaus. O estudo usa, dentre outras ferramentas, a APO Ambiental para fazer análises gráficas de conforto térmico, sonoro e luminoso, com auxílio de equipamentos para medições in loco, assim como simulações computacionais. Sem apronfundar muito na complexa análise realizada pelo LaSus, é importante complementar que após esta análise técnica, foram aplicados questionários aos ocupantes que traziam os mesmos temas avaliados anteriormente. O laboratório afirma que esta metodologia foi suficiente para apontar inadequações nos ambientes e propor diretrizes de adequação ambiental, afirmou ainda que as visitas técnicas reforçaram os registros coletados, e valorizaram a contribuição do usuário para a pesquisa. Diante disto, percebe-se que a APO Ambiental atua de forma ampla, uma vez que analisa critérios que afetam diretamente o usuário e o insere na avaliação. As condições ambientais de um espaço, muitas vezes, servem como parâmetro de qualidade, diante da análise de um espaço religioso, elas são relevantes porque geram estímulos imediatos em seus usuários. Romero (2001) afirma que o espaço se forma pelo conjunto de relações que vinculam o ambiente com o ser humano que o percebe, que corresponde sentidos e o espaço, que se estabelece por meio, prioritariamente, pela visão, seguido dos outros sentidos, gerando estímulos. Estes, por sua vez, são perceptíveis a partir das condições de calor, luz e som, que são os elementos fundamentais de análise de uma APO Ambiental. Diante do que foi exposto, alguns princípios de conforto ambiental foram pontuados a seguir, de forma sucinta, para introduzir o que é importante e o que foi considerado para avaliar o edificio estudado na segunda etapa deste trabalho.

1.3.1 Conforto térmico

A arquitetura desempenha papel fundamental no conforto do indivíduo e seus elementos formais, assim como os construtivos afetam diretamente a umidade e a temperatura dos ambientes internos. Segundo Mendes (2016), gerar uma arquitetura adequada a determinado clima significa elaborar espaços que propiciem ao seu usuário condições internas microclimáticas compatíveis ao funcionamento das diversas atividades ali exercidas. Enquanto que os materiais que compõem esta arquitetura precisam estar dispostos de modo a condicionar uma carga térmica favorável aos ambientes.

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Em uma tipologia religiosa, é importante considerar que a condição interna dos ambientes precisa favorecer a concentração do usuário. Diante disso, a soma de trocas de calor entre os materiais, realizadas por meio da condução, radiação, convecção, precisam propiciar um microclima agradável e constante. Estes tipos de trocas térmicas podem ser influenciados pela localização que o edifício está inserido, como aborda Romero (2001), se o edifício está dentro da Zona Equatorial do globo, a carga total de radiação, incluindo as laterais e o teto, é a maior de todas as zonas. Ela considera também que a altitude é outro fator que influencia na radiação, uma vez que a intensidade recebida na superfície da Terra aumenta com a altura, pois a atmosfera, de menor espessura, absorve menos energia. Tais condições explicadas por esta autora conincidem com a condição climática do local em que o ambiente religioso de análise está inserido, o que faz com que o conforto ambiental seja um parâmetro de qualidade relevante em sua avaliação. Fatores que dizem respeito aos materias relacionam-se com a condução térmica. A vista disto, a característica mais importante para controle dos materiais é seu comportamento ao conduzir calor. Quanto maior a capacidade de conservação de calor, mais lenta será a troca de temperatura propagada através do material (ROMERO, 2001). O material também possui relação com a inércia térmica e com o albedo. O primeiro está relacionado ao atraso térmico dos componentes construtivos, já o segundo, consiste na reflexão da radiação recebida pelo material durante o dia. Além disso, Mendes (2016), considera que as trocas térmicas por convecção constituem o recurso mais próximo ao ser humano, pois intervém diretamente na capacidade do ser humano de evacuar o calor pela evaporação nos poros. Ela serve também, para dissipar o calor acumulado nas superfícies internas da edificação - paredes, pisos e teto, a partir de movimentações de massas de ar de diferentes temperaturas. De modo geral, para a análise de um edifício religioso é preciso considerar quais fatores estão influenciando o microclima do espaço, uma vez que ele é quem proporcionará sensações favoráveis ou desconfortáveis ao usuário.

1.3.2 Conforto sonoro

O som, ondas sonoras que podem ser captadas pelo nosso aparelho auditivo (SILVA, 1971), detém de três fatores importantes na sua composição, a frequência, a amplitude e a intensidade. A frequência refere-se a quantos ciclos ocorrem em determinado espaço de tempo. A amplitude consiste no maior comprimento que uma onda pode alcançar, enquanto que a intensidade sonora, condiz com a quantidade de energia que esta onda sonora possui ao se propagar. Dentro de uma igreja, a composição arquitetônica pode interferir positivamente ou não nesses fatores do som, desta forma, a qualidade sonora dependerá de como a onda se propaga e como será refletida, que pode variar como o som é percebido para cada frequência, intensidade ou amplitude.

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Os elementos arquitetônicos, de acordo com Silva (1971), agem diretamente sobre o som, como quando uma onda sonora encontra um obstáculo, uma parede, por exemplo, gera um choque faz com que parte de sua energia volte em forma de onda refletida, parte da onda a parede absorve, no entanto, parte da onda produzirá vibração para o outro lado da parede, fazendo com que ela se torna uma fonte sonora, nesta condição, ruído para o ambiente adjacente. De modo a avaliar a qualidade sonora do espaço da igreja é necessário conhecer qual o tempo de reverberação e o isolamento sonoro que a arquitetura proporciona. Mendes apud Marco (2016) afirma que o Tempo de Reverberação (TR) é, por definição, o tempo necessário, para que o nível de pressão sonora diminua de 60 dB, depois que a fonte cessar, e que seu valor ideal varia em função do volume da sala e do tipo de atividade a que ela se destina. Ou seja, altas taxas de reverberação condicionam pouca clareza no som, porque este será refletido desrreguladamente, e estas reflexões sofrem inferferências entre si, fazendo com que o som fique “abafado” principalmente nas baixas frequências. Em contrapartida, o isolamento sonoro consiste na capacidade que uma vedação possui de impedir a passagem de sons externos, ruídos. Para que as atividades dentro de uma igreja sejam bem desenvolvidas, a norma NBR 10152/1987 estabelece intervalos de valores mínimos de ruído, em decibéis, para cada tipo de edificação. Da mesma forma, a NBR 12179/1992 especifica tempos de reverberação ideais para tipologias arquitetônicas, incluindo também as igrejas.

1.3.3 Conforto luminoso

Um projeto de arquitetura possuem, na maioria das vezes, elementos que proporcinam a entrada de luz natural, assim como um sistema de iluminação artificial. A luminosidade que o espaço possui, segundo Romero (2001), é a densidade, em termo de concentração, do fluxo luminoso incidente na superfície, ou seja, a luminosidade é o nível de iluminação do espaço, medida em lux. A luz de um ambiente pode condicionar diversas sensações, Romero (2001) apud Rasmussen (1959) aborda ser necessário escolher uma luz que dê muitas variações, da luz alta brilhante até as sombras mais profundas. Em ambientes religiosos isso interfere na sensação emotiva do usuário, porque muda como ele percebe o ambiente. Essa variação da luz cria condições que extraem da arquitetura plasticidade, além de conferir imaginabilidade e identidade ao espaço. Diante disto, a luz pode ser avaliada tanto forma objetiva, como subjetiva, uma vez que cada tipo de ambiente exige intensidade e plasticidade diferente para a luz. Após esta breve abordagem sobre elementos de conforto ambiental, a seguir apresenta-se um análise que parte de princípios de APO Ambiental para avaliar a igreja do Santuário do Santíssimo Sacramento (SSS). Porém, antes disso, é importante descrever em qual contexto ele se insere, caráter social, institucional e local, para compreender porque algumas decisões projetuais foram tomadas para este ambiente.

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2 Aplicação de princípios de APO em uma Igreja católica

Figura 3: Entrada principal da igreja. Fonte: Fotografia da autora.


2.1 Concepção do espaço sacro O espaço religioso se faz presente desde as sociedades primitivas. Pastro (1993) afirma que o próprio universo é a morada do divino, contudo, na relação homem-universo nem tudo é sagrado e, portanto, o templo edificado, na sociedade, é a imagem do universo divino. Este templo, considerando a concepção estabelecida pela igreja católica, é dotado de elementos compositivos e entre eles, assim como o universo, há hierarquia visual, que pode ser relacionada aos princípios conceituados por Lynch (1997) a respeito da estrutura do espaço. Lynch (1997) atribui à probabilidade de evocar uma imagem forte, por qualquer observador, o conceito de imaginabilidade, que, aplicado aos espaços sacros torna-se elemento fundamental de composição. Neste contexto, diante da construção do que caracteriza estes espaços, as igrejas contemporâneas, buscam dar identidade, simbolismo, ou mesmo, imaginabilidade ao lugar, que consiste no atributo que facilita a criação de imagens mentais (LYNCH, 1997). Isso ocorre porque, em 1963, a igreja estabeleceu uma nova reforma, o Concílio do Vaticano II - vigente até os dias de hoje - que estabelece padrões de composição arquitetônica e uma nova estrutura para as celebrações. Segundo Milani (2006), o espaço físico da Igreja, anteriormente a esta reforma, possuía elementos enaltecidos de modo exagerado, de forma que o essencial ficava minimizado. Após o concílio, o espaço do culto deve ser concebido de acordo com necessidades funcionais. Diante dessas modificações, segundo Milani (2006), os elementos essenciais da igreja católica ficaram estruturados da seguinte forma: ALTAR

• Presbitério/Altar: onde atuam celebrante e ministros;

CAPELA DO SANTÍSSIMO

SACRISTIA

• Sacristia: local de apoio para as celebrações; • Capela do Santíssimo: onde ficam as reservas

NAVE

eucarísticas; • Assembleia/Nave: onde os fiéis se reúnem;

CAPELA DE RECONCILIAÇÃO

BATISTÉRIO

• Capela de reconciliação: onde se realiza a confissão; • Batistério: onde se realiza o batismo;

NÁRTEX

• Átrio ou acesso/Nártex: hall de entrada.

Figura 05: Gráfico representativo dos espaços de uma igreja. Fonte: Pastro, 2006 (adaptado).

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Os espaços citados acima constituem o todo que compõem uma igreja católica e todos estes elementos são necessários para a realização das atividades desta instituição. Dentre estas atividades estão a celebração da missa, do batismo, da primeira eucaristia, da reconciliação, da crisma e da ordenação. Entretanto a principal delas é a missa. A ação litúrgica central da fé cristã é a eucaristia, mais comumente chamada de missa. É a celebração para fazer memória de Jesus que na última ceia com seus discípulos usou o pão e o vinho para expressar sua entrega ao Pai, por amor dos seus discípulos e da humanidade toda, mandou que essa ação simbólica fosse sempre repetida. (MILANI, 2006) Além de Milani (2006), Pastro (1993) também aborda sobre a importância da missa, ele afirma que a igreja existe para a celebração da Santa Missa e que não deve haver nenhuma outra preocupação em relação a estes espaços, sendo válido ressaltar que as atividades citadas anteriormente são decorrentes da missa. Na construção de edifícios sagrados, tenha-se grande preocupação de que sejam aptos para lá se realizarem as acções litúrgicas e permitam a participação activa dos fiéis. (Constituição Conciliar da Sagrada Liturgia, 1963) A participação dos fiéis, como demonstra o texto do concílio, coloca em pauta a importância do usuário no espaço arquitetônico sagrado. É possível inferir que as decisões projetuais devem incluir, além da missa, a figura do fiel como corpo integrante do espaço e não apenas como observador. As próprias celebrações, como são apresentadas na reforma, incluem a participação dos fieis com cânticos, respostas, gestos e falas. Desta forma, percebe-se que o usuário tem tomado papel importante não somente no espaço sacro, mas em toda conjuntura institucional. (figura 6, igreja construída usando os parâmetros do concílio)

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Após esta reforma, permeou-se a ideia de que o ambiente da igreja deveria ser funcional, e menos esplendoroso, de modo a dar significado claro a celebração. No entanto esta ideologia não contempla tudo que o espaço deveria oferecer, em algumas igrejas houve perda significativa da qualidade dos espaços de algumas igrejas. O espaço tornou-se extremamente simples, em alguns exemplares, ele não oferecem a sensação de microcosmo do universo sagrado, ou a áurea dos escritos bíblicos a respeito da Cidade Santa. Além disso, a redução de tratamento arquitetônico aliou-se à baixa preocupação, em alguns casos, ao conforto ambiental, desta forma, é possível encontrar igrejas contemporâneas que oferecem pouca atmosfera inspiradora e ainda com baixo desempenho ambiental. Todos estes fatores somados podem acarretar na redução de usuários, ou mesmo deixar o ambiente menos convidativo, o que contraria, por exemplo, as ideias propostas no concílio.

Figura 06: Igreja construída após o concílio. Catedral de Campo Limpo-SP. Fonte: Luiz Seo, disponível em https://www.flickr.com/photos/lf_seo/5950455322/in/album-72157627098379635/

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2.2 Arquitetura religiosa e conforto ambiental O conforto ambiental em igrejas é base de estudo para diversas pesquisas realizadas atualmente, principalmente no que diz respeito ao condicionamento acústico e isolamento de ruídos. Contudo, há diversas análises a respeito de como é realizado o tratamento da luz, e em menor escala, é também é estudado a condição térmica das igrejas. Para exemplificar o exposto, Clímaco (2007), avalia a acústica arquitetônica de quatro igrejas católicas existentes em Brasília. Após utilizar simulações computacionais para avaliar a condição acústicas das naves, ela afirma que as igrejas apresentam problemas recorrentes e relativos ao grande volume interno, à falta de materiais absorvedores, à geometria que não favorece a distribuição adequada dos raios sonoros e aos tempos de reverberação muito superiores aos tempos ótimos para a fala e para a música, os valores também são superiores aos tempos ótimos. Ela afirma ainda, que por conta disto, não se pode justificar que tais decisões tenham sido opção dos projetistas destas igrejas. Outro estudo dentro da área de conforto ambiental relativo à igrejas, é trabalhado por Paula (2013), ao analisar a luz em três igrejas, a partir de referenciais teóricos e suas reflexões. A autora afirma, após suas análises, que é a luz é um atributo arquitetônico que determina a percepção das texturas e das formas, criando um efeito e uma disposição psicológica em relação ao espaço construído. Considerou, ainda que a sensação de profundidade, austeridade, silêncio e serenidade são obtidas através da manipulação da luz natural, e integram uma representação simbólica do divino, que confere sacralidade e dá vida ao espaço. Diante disto, percebe-se que estes dois elementos, som e luz, quando bem trabalhados, condicionam um espaço ideal para as atividades que se desenvolvem dentro de uma igreja, porque concebem funcionalidade ao espaço. Ainda assim, outro fator muito importante, tanto para as igrejas, quanto para as diversas tipologias de arquitetura, é o conforto térmico. Silva (2008) elabora a análise térmica de uma igreja situada no Porto, em Portugal, a partir de medições com equipamentos específicos para avaliar critérios como variações, amplitudes, atrasos térmicos, entre outros. A autora pontou que a igreja em questão possui alto atraso térmico devido a elevadas espessura de suas paredes, fazendo com que a temperatura externa não seja condizente com a interna. Contudo ela considera que, a partir das análises, foi possível perceber que há alta umidade no seu interior e que a pouca ventilação da igreja não consegue fazer a renovação adequada do ar nos ambientes. Diante destes exemplos de análises, percebe-se que esta tipologia possui grande espaço na área de pesquisa técnicas, contudo é preciso também avaliá-las a partir do ponto do vista dos usuários, uma vez que sua própria conformação arquitetônica determina o seu uso, que consiste no recebimento de alto público para celebrações e solenidades. A APO então, funciona como uma ferramenta eficiente de análise, e por isso foi escolhida para o estudo que será apresentado a seguir.

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2.3 Santuário do Santíssimo Sacramento O edifício deste estudo está situado em Brasília-DF, capital do Brasil. A cidade está encontra-se na Zona Equatorial do globo, possui -15o de latitude e está acima de 1000 metros acima do nível do mar. Romero (2001) caracteriza climas com altitudes entre 400 e 1200 metros e latitudes entre 14o e 16o sul como climas de Tropical de Altitude. Logo, Brasília enquadra-se nessa classificação climática. Ela explica o clima destas localizações geográficas conferem desconforto ao homem, porque apresentam variações de temperatura entre o dia e a noite, além de possuirem baixas taxas de umidade do ar e altas radições. Diante de critérios climáticos como estes, a NBR 15220-3/2003, divide o Brasil em 8 zonas relativamente homogêneas quanto ao clima, e para cada zona ela especifica estratégias para alcançar um bom desempenho térmico. Neste contexto, Brasília encontra-se na Zona Bioclimática 4 (ZB4) (figura 08). As estratégias para esta zona consistem em proteger as aberturas da radiação solar, utilizar paredes externas pesadas, como também, deter de cobertura isolada das vedações. Além disso, a norma pontua que é importante haver resfriamento evaporativo e massa térmica para resfriamento no período do verão, e aquecimento solar no inverno. (figuras 09 e 10). A latitude também influencia a oferta de luz solar. Em áreas mais próximas da Linha do Equador os raios solares possuem com ângulos mais próximos de 90o o que faz com que haja praticamente incidência direta dos feixes de luz. Como Brasília está situada na Zona Equatorial, sua oferta luminosa é alta, e se torna mais relevante por que se caracteriza como uma cidade de céu limpo, ou baixa nebulosidade. Brasília, pela natureza de seu projeto, é dividida em setores. O objeto de análise está localizada no Setor de Grandes Áreas Sul (figura 11), no qual é normatizado pela NGB 01-86. A norma determina que a área deve ser ocupada por órgãos da Administração Pública, edifícios educacionais, culturais, empresas de pesquisa, postos de saúde, assim como edifícios religiosos. Os lotes possuem em média dimensões de 100mx150m, contudo, 30% dele deve ser destinado a áreas verdes permeáveis. Além disso, ela especifica que edifícios religiosos, diferentemente dos demais, podem alcançar até 12m de altura, já os outros usos, devem se limitar a 9,50m.

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Figura 08: Zona Bioclimática 04 Fonte: NBR 15220-3/2003.

Figura 07: Características geográficas de Brasília. Fonte: http://www.apolo11.com/latlon.php?uf=df&cityid=7.

Verão

Inverno

H - Resfriamento evaporativo e massa térmica para resfriamento. J - Ventilação seletiva.

B - Aquecimento solar. C - Vedações internas pesadas.

Figura 10: Estratégias de condicionamento térmico passivo para a ZB4. Fonte: NBR 15220-3/2003.

Figura 09: Carta Bioclimática com as normais climatológicas desta da ZB4, destacando a cidade de Brasília em azul. Fonte: NBR 15220-3/2003.

A partir dessas diretrizes urbanas, é possível inferir a área possui baixa densidade construtiva, lotes amplos, e bastante área verde. Aproximando-se do objeto de análise, percebe-se que o seu entorno urbano é uma paisagem bucólica, que possui alto movimento apenas na avenida L2 sul. A figura 12 apresenta uma vista da frente do lote que contém a igreja que será analisada, abrangendo seu entorno imediato de caracterizado pela presença de áreas públicas amplas e gramadas, a figura 13 apresenta uma vista que reflete as alturas das edificações vizinhas, constituídas de baixo gabarito, e a figura 14 apresenta a via que fica ao fundo do lote da igreja, que assevera o caráter bucólico pela presença excessiva de gramado e áreas verdes. Diante desta contextualização, a instituição escolhida para ser analisada no âmbito de conforto ambiental é o Santuário do Santíssimo Sacramento (SSS). Ele está localizado na Via L2, quadra 606, Asa Sul, bairro de Brasília e trata-se de um santuário da Igreja Católica Apostólica Romana. O conjunto recebe o nome de Santuário por ser um templo de adoração perpétua, por conseguinte, recebe comunidades e peregrinos

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Setor de Embaixadas 0

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Lago Paranoá

Figura 11: Implantação urbana. Fonte: Codeplan, Ortofotocarta, 2013 N

100

N

0

50

10

0 10

Santuário do Santíssimo Sacramento

0

100 250

500

Figura 12: Entorno imediato.Fonte: Google Earth, 2015, adaptado.

Figura 13: Entorno imediato. Fonte: Google Earth, 2015, adaptado.

Figura 14: Entorno imediato. Fonte: Google Earth, 2015, adaptado.

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PASSARELA ELEVADA

de diversas paróquias do DF e entorno. Milani (2006), aborda que esta tipologia de edifício religioso refere-se a uma igreja que é centro de peregrinações por causa de alguma devoção a Deus ou aos Santos. Partindo para uma abordagem arquitetônica, o lote do santuário possui área igual a 15.200m2 e conta com seis edifícios: a capela de adoração, a igreja, a secretaria, o centro catequético, a casa paroquial e a pastoral da família (figura 11). Cada edifício foi construído em um período diferente, sendo a igreja, a primeira deles. A igreja é projeto dos arquitetos MS Ayrton, Rômulo José de Marchi e Geraldo Jorge Estrela, e foi construída em 1972. A partir de sua configuração espacial, é possível identificar claramente os elementos exigidos pelo Concílio do Vaticano, a assembleia diante do presbitério com altar separado, asim como os outros elementos já citados anteriormente. (figura 13) As plantas não possuem muita complexidade, o espaço interno do edifício é percebido por facilmente ao passar pelo átrio, o que fica menos evidente são os espaços que ficam atrás do altar, porque foram utilizadas vedações em drywall para esconder as portas de acesso desses ambientes. Tanto externamente, quanto internamente, a ornamentação é muito simples, assim como sua volumetria cúbica. A capacidade interna é em torno de 500 pessoas e os horários das missas são às 8h, às 11h e às 19h. Em outros momentos, a igreja fica aberta para recebimento do público para realizar orações ou adorações.

25

CAPELA DO SANTÍSSIMO

MÚSICOS

SALA DE APOIO ALTAR

ASSEMBLEIA

Figura 15: Acesso de veículos. Fonte: Fotografia da autora, 2017. ÁTRIO

ACESSO PRINCIPAL

Figura 16: Nave da Igreja. Fonte: Fotografia da autora, 2017.

0 5

N

25

IGREJA CAPELA DE ADORAÇÃO SECRETARIA E GUARITA CASA PAROQUIAL CENTRO CATEQUÉTICO CASA DA PASTORAL DA FAMÍLIA

50

Figura 17: Implantação no lote. Fonte: Produzido pela autora.


A igreja possui estrutura em concreto armado, suas vedações também são deste material, com exceção das paredes do altar, construídas em drywall. A porta principal e a lateral (de frente para a entrada da capela) são em chapas de aço pintadas, as esquadrias também são de aço, mas com fechamento em vidro azul e abertura basculante. O piso interno é em placa cerâmica tipo ardósia, e a áea do altar em mármore. O forro da igreja é em gesso e sua cobertura em telhas de fibrocimento. Os materiais externos são calçadas em concreto, gramado, asfalto na via de acesso e no estacionamento, e alguns trechos em cerâmica clara ao redor dos edifícios. O lote como um todo possui bastante árvore, contudo elas se concentram em alguns pontos, fazendo com que espaços grandes do lote não recebam sombreamento delas. De modo geral, o Santuário do Santíssimo Sacramento pode ser analisados por diversos critérios, mas estes que foram esplanados foram necessários para partir para a APO ambiental, análise que será abordada nos próximo tópicos deste capítulo.

BANH PASSARELA ELEVADA

CAPELA DO SANTÍSSIMO

SALA DE APOIO

MÚSICOS

PRESBITÉRIO

SACRISTIA ACESSO CAPELA

ALTAR

CAPELA DE ADORAÇÃO

ASSEMBLEIA

ACESSO CAPELA

ACESSO LATERAL

ACESSO MEZANINO ÁTRIO

ACESSO PRINCIPAL

0 1

Figura 18: Levantamento arquitetônico. Fonte: Produzido pela autora.

26

5

10

N


2.4 Aplicação de princípios de APO O estudo envolveu análise de paramêtros relacionados ao conforto ambiental, tema foco de uma APO Ambiental. Ele foi dividido em três áreas de conhecimento, conforto térmico, luminoso e sonoro. A metodologia incluiu, além da caracterização do espaço, apresentado no tópico anterior; o uso de simulações computacionais, medições in loco e questionário aplicado aos ocupantes da igreja. A metodologia em APO promoveu o estudo de forma integrada, por isso foi possível abranger estas tipologias de coletas de dados. Adota-se o como análise de princípios porque esta área de estudo envolve outros conceitos além dos avaliados aqui, como por exemplo, a eficiências energética das edificações, ou ainda estudos em retrofit, realizados nos relatórios do HEMOAM pelo LaSus (2014). É possível ainda apronfundar muito mais esta análise se ela for dotada de uma equipe técnica maior e com prazos maiores de estudo. Contudo, este estudo pode servir como ponto de partida para iniciar um APO mais detalhada, que se inclua dentro das análises as outras tipologias especificadas por Ornstein (1992) apresentadas no capítulo anterior. Dentro dessa simplificação do estudo, os princípios envolverão análises em conforto ambiental partindo do uso de APO como metodologia. (figura 23) A utilização deste instrumento - APO Ambiental - se justifica tendo em vista a redução dos impactos sociais, econômicos e ambientais inerentes ao ciclo de vida dos edifícios. Os métodos empregados para a realização deste trabalho são pautados, principalmente, na avaliação do projeto arquitetônico. Neste sentido, toda a análise se inicia a partir dos impactos deste desde a sua implantação no sítio.

APO

AMBIENTAL

Clima Luz

Som Usuário Dados

Figura 19: Gráfico esquemático de princípios de APO aplicados na Igreja do santuário SSS Fonte: Produzido pela autora.


Diante disso, a análise foi realizada partindo da adequação do edifício quanto à orientação das fachadas, materiais superficiais componentes construtivos e suas relações com as condições climáticas locais. Após essa análise de implantação, foi utilizado o software Envi-met para obter dados climáticos do sob a edificação analisada, de modo a compreender o comportamento climático no nível do lote. Foi possível extrair das simulações os dados de temperatura do ar, velocidade do vento e umidade relativa do ar. Além disso, com o auxílio de um Termo-higrômetro-Anemômetro digital (figura 26) foi possível medir in loco a temperatura, assim como a umidade relativa do ar nos dias que foram aplicados os questionários. Também foi extraídas as temperaturas das superfícies com uso do Medidor de temperatura de superfície (figura 24), para avaliar o desempenho térmico dos materiais utilizados diante o ambiente interno. O conforto luminoso foi analisado a partir de simulação no software Ecotect, no qual apresentou gráficos com a distribuição da luz natural ao longo do ano. Também foi ferramenta de análise o mesmo equipamento utilizado para análise térmica (figura 26), porém na opção de quantidade de luz no espaço medida em lux. A análise de conforto sonoro envolve simulações a partir do uso do software Reverb para obter dados de tempos de reverberação e atenuação sonora. Foi utilizado o decibelímetro digital (figura 25) para obter a quantidade de ruído ao redor da edificação, medidos em decibeis. De modo a complementar esses dados, foi aplicado questionários aos usuários (pg.26) de forma objetiva, porém com espaço para apresentar opniões espontâneas a respeito do espaço. Os mesmos parâmetros analisados no estudo técnico foram temas do questionário, desta forma, os dados puderam ser comparados entre si e contemplados de forma mais precisa. Os questionários foram aplicados após as celebrações da missa, onde era possível obter maior número de pessoas para responder os questionários. Ao final das celebrações foi informado a assembleia que seria aplicado questionário na saída e desta forma as pessoas voluntariamente foram solicitando a folhas para respondê-lo antes de partir. Ao total, 40 pessoas responderam o questionário em horários distintos, os dados foram transformados em gráficos que serão apresentados no próximo capítulo.

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Figura 20: Medidor de temperatura de superfície Fonte: Imagem da internet.

Figura 21: Decibelímetro digital. Fonte: Imagem da internet.

Figura 22 : Termo-higrômetroAnemômetro digital Fonte: Imagem da internet.


Universidade de Brasília - UnB Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU

Questionário de Análise do

Santuário do Santíssimo Sacramento

Aluna: Raquel Dias Guedes

Ambiente de análise: ________________

Período do dia (manhã, tarde, noite):_________________

Nome do entrevistado (opcional): __________________________________________________________ Idade:__________anos

Sexo:

Feminino

Masculino

Por favor, marque somente UMA alternativa: 01.Como você avalia a temperatura no interior do ambiente neste momento? Desagradável, faz calor Desagradável, faz frio Agradável

02.Como você avalia a necessidade de ar condicionado no ambiente no verão? Necessário Desnecessário

03.Como você avalia a quantidade luz natural no interior do ambiente? Ruim, ofusca os olhos (muita luz) Ruim, pouca luz Bom

04.Como você avalia a qualidade da luz artificial no ambiente? Muita luz Pouca luz, porém confortável (aconchegante) Pouca luz, porém escuro

05. O que você acha do som dentro no ambiente? (Nesta questão, pode marcar mais de uma opção) O som faz eco Preciso estar próximo para ouvir Escuto bem estando em qualquer lugar do interior O som é muito alto 06.Como você avalia a quantidade de barulho/ruído externo? É possível escutar quase tudo que se passa do lado de fora Há ruído, e interfere na audição e nas as atividades no interior Há ruído, mas não incomoda as atividades Não há qualquer barulho ou ruído no interior 07.Deixe um comentário sobre as necessidades ou qualidades do espaço do interior da igreja a respeito do CLIMA, da LUZ e/ou do SOM. ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________

Muito Obrigada!


3 Resultados


A igreja do Santuário do Santíssimo Sacramento, após ser submetida aos estudos técnicos e comportamentais (que incluem o usuário) ofereceu dados suficientes para apontar a principais potencialidades do edifício. A metodologia mostrou-se eficaz, uma vez que dispôs de mecanismos diversos de análise assim como a particpação dos usuários, que foi de grande importância para asseverar as conclusões dos outros ensaios.

CONFORTO TÉRMICO O estudo do conforto térmico iniciou-se a partir da análise da Carta Solar de Brasília, onde se percebe predominância da incidência solar direta na zona norte da carta, a simulação de sombras apresenta amáscara para o dia primeiro de abril, data default do software. A fachada principal da igreja está orientada para noroeste, e a fachada lateral para sudoeste. É importante ressaltar essas duas fachadas, porque ambas possuem acessos para os ambientes internos da igreja, já as fachadas nordeste e sudeste não possuem acesso, isso faz com que as portas tornem-sem possibilidade de saída de ar, assim como de luz solar. Percebe-se que as fachadas que recebem maior carga térmica são as que possuem mais aberturas. A fachada nordeste, que apesar de receber somente o sol da manhã, como apresenta a máscara de sombra na figura 24, também colabora com o aquecimento do ambiente interno. A fachada que recebe menor incidência solar direta, sudeste, possui apenas uma janela, consiste em uma fachada cega para o estacionamento posterior (figura 26), o que permite afirmar que a orientação solar não foi um critério considerado no projeto. Outro fator que corrobora essa assertiva é o fato de que as igrejas, em séculos anteriores, eram orientadas no sentido leste-oeste com significado simbólico, de que o fiel vem das trevas e alcança a luz.

Figura 23: Simulação da Carta Solar em perspectiva no software Ecotect. Fonte: produzido pela autora.


Figura 24: Simulação da máscara de sombra entre 8h e 12h no software Ecotect. Fonte: produzido pela autora.

Figura 25 : Simulação da máscara de sombra entre 12h e 17h30 no software Ecotect. Fonte: produzido pela autora.

Figura 26: Fachada sudeste, destaque para o fechamento da igreja (parede pintada de bege) com apenas uma janela na lateral. Fonte: fotografia da autora, 2017.

Figura 27 : Terraço sob a secretaria Fonte: fotografia da autora, 2017.

Figura 28: Pilotis abaixo da capela. Fonte: fotografia da autora, 2017.

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Porém, não há este tipo de implantação nesta igreja, uma vez que o lote dispõe de bastante espaço para implantar o edifício desta maneira, mas não foi assim realizado. É possível inferir que o edifício apenas segue o alinhamento da rua, fazendo com que as orientações solares não se justifiquem por alguma questão religiosa passada ou por condicionantes térmicos. As figuras 28 e 29 apresentam a máscara de sombra que a igreja, assim como seus edifício adjacentes, projeta sobre o solo externo. Elas permitem afirmar que as áreas de estar e de acesso recebem insolação direta a partir da metade do dia, enquanto que o estacionamento posterior mostra-se sombreado neste mesmo período. Isso confere uma subutilização do terraço (figura 27) acima da secretaria, já que passa a maior parte do tempo com incidência solar. Ao observar a ocupação dos espaços externos, percebe-se que os usuários preferem ficar próximos ao estacionamento, mas principalmente sob o pilotis da capela (figura 28), que está durante todo o dia sombreado. A partir da análise feita com as simulações no software Envi-Met, três pontos de conforto ambiental foram avaliados: a temperatura do ar, a umidade relativa e a velocidade do vento. Na análise de temperatura, é possível perceber que há um acúmulo de carga térmica onde se projeta as áreas asfaltadas, como apresenta as simulações para 8h e 19h na figura 29. O asfalto começa a aquecer a partir do estacionamento, que recebe sol pela manhã, contudo, apesar de ficar sombreado durante a tarde, a área em magenta, que representam as maiores temperaturas, aumenta para o fim do dia, o que mostra que o asfalto começou a liberar a carga térmica acumulada devido a redução de temperatura no período da noite. A escolha do asfalto para as vias dentro do lote não se justifica em termos de funcionalidade, uma vez este material é utilizado em vias de alto fluxo, para proporcionar maior fluidez do trânsito. No entanto, as vias internas de um lote não alcançam grandes velocidades, o que a possibilita de escolha de outros materiais mais confortáveis para o pedestre e que conferem menor carga térmica ao entorno da edificação. Ainda analisando os gráficos de temperatura do ar, percebe-se a importância da vegetação como fator de redução da temperatura. No entanto, a massa densa de árvores não está próxima às edificações, apenas a Casa Paroquial se beneficia desta massa arbórea, enquanto que a igreja se encontrar entre vias de asfalto e calçadas de concreto.

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A umidade relativa do ar também está ligada a posição da vegetação. É possível afirmar que a mancha magenta no gráfico de temperatura do ar coincide com a mancha azul (menores umidades) dos gráficos de umidade. Como foi visto nos tópicos anteriores, a umidade relativa do ar é um importante mecanismo de conforto. Segundo a NBR 15220-3/2013, como foi visto, uma das recomendações para edifícios em Brasília é o resfriamento evaporativo, que pode ser feito por meio da vegetação. Contudo, neste projeto, ela não está posicionada de modo a favorecer a umidade do ar, o que promove sua redução nos locais onde possui maior número de pesssoas. A velocidade do vento, demonstrada nos gráficos da terceira linha da página 31, mostra que, o Centro Catequético, mesmo possuindo um pavimento, apresenta-se como barreira, e faz com que ele desvie das edificações, sem passar muito próximo. Apesar disso, é possível notar uma corrente de ar sob a fachada sudeste da igreja. Entretanto, esta não possui aberturas, o que faz com que essa ventilação não seja aproveitada. Diante disso, o vento incidente nessa fachada se canaliza passando por baixo do pilotis da capela, fazendo deste ambiente um dos mais confortáveis e ocupados dentre as áreas exteriores. Os questionários foram aplicados para uma amostra de 40 pessoas, distribuídas em três dias de aplicação coincidentes com horários das missas aos finais de semana e com medições realizadas durante a aplicação dos questionários. As medições estão apresentadas junto aos gráficos resultantes das respostas dos usuários. Os resultados mostraram que a maioria das pessoas consideram o ambiente agrável, contudo isso não se reflete na pergunta seguinte, sobre a necessidade ar condicionado durante o verão. Foi importante abrir para comentários, porque essas incoerências puderam ser justificadas.

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“Ar condicionado para o período da manhã.” “Precisa de mais ventiladores, ou ligar todos, às vezes estão desligados”

“Acho que a temperatura pode ser amenizada sem a necessidade de ar condicionado.”

“É preciso atualizar os equipamentos de som.”

“Faz calor e os ventiladores não resolvem.”

“O clima do santuário é bom, mas na época que faz calor se faz necessário ar condicionado”

“O ar condicionado é muito necessário”

“Gostaria de sentir o ar circulando, mas não gosto de ar condicionado”

“Em alguns períodos quentes a igreja fica muito desconfortável e o uso de ventiladores atrapalha um pouco a missa, pois os mesmos fazem muito barulho.”


8h

19h

BANH PASSARELA ELEVADA

SALA DE APOIO

CAPELA DO SANTÍSSIMO

SACRISTIA ACESSO CAPELA

ALTAR

MÚSICOS

CAPELA DE ADORAÇÃO

ASSEMBLEIA

ACESSO CAPELA

ACESSO LATERAL

ACESSO MEZANINO ÁTRIO

ACESSO PRINCIPAL

0 1

5

10

5

10

N

Figura 29: Simulação da Temperatura do ar 23/05/2017 no software Envi-Met. Fonte: produzido pela autora.

8h

19h

BANH PASSARELA ELEVADA

SALA DE APOIO

CAPELA DO SANTÍSSIMO

SACRISTIA ACESSO CAPELA

ALTAR

MÚSICOS

CAPELA DE ADORAÇÃO

ASSEMBLEIA

ACESSO CAPELA

ACESSO LATERAL

ACESSO MEZANINO ÁTRIO

ACESSO PRINCIPAL

0 5

N

0 1

N

IGREJA

25 50 CAPELA DE ADORAÇÃO Figura 30: Simulação da Umidade relativa do ar SECRETARIA E GUARITA PAROQUIAL Fonte: produzido pela autora. 23/05/2017 no softwareCASA Envi-Met.

CENTRO CATEQUÉTICO CASA DA PASTORAL DA FAMÍLIA

19h

BANH

8h

PASSARELA ELEVADA

CAPELA DO SANTÍSSIMO

MÚSICOS

SALA DE APOIO

0 10

50

100

N

SACRISTIA ALTAR

ACESSO CAPELA

CAPELA DE ADORAÇÃO

ASSEMBLEIA

ACESSO CAPELA

ACESSO LATERAL

ACESSO MEZANINO ÁTRIO

ACESSO PRINCIPAL

0 5

N

0 1

5

10

N

IGREJA

Figura da velocidade do vento 25 31: Simulação 50 CAPELA DE ADORAÇÃO SECRETARIA E GUARITA 23/05/2017 no software Envi-Met. Fonte: produzido pela autora. CASA PAROQUIAL CENTRO CATEQUÉTICO CASA DA PASTORAL DA FAMÍLIA

0 10

50

100

N


Dados da coleta: Como

você avalia a temperatura no interiorexterior: do ambiente neste momento? Temperatura do ambiente 27,7º C

Como você avalia a necessidade de ar condicionado no ambiente no verão?

Umidade relativa do ar: 55% Iluminação: 24 lux

Como você avalia a temperatura no interior do ambiente neste momento? 12%

0%

Desagradável, faz calor Desagradável, faz frio Dia 16/04/2017 àsAgradável 8h Luzes acesas Ventiladores ligados Temperatura interna 25.7 oC Umidade 55% Quantidade luminosa - 24-30 Lux Velocidade do vento intero - 0m/s

88%

Dia 16/04/2017 às 8h Luzes acesas Ventiladores ligados Temperatura interna 25.7 oC Umidade 55% Quantidade luminosa - 24-30 Lux Velocidade do vento intero - 0m/s

Como você avalia a necessidade de ar condicionado no ambiente no verão?

25% 37%

38%

Dia 30/04/2017 às 19h Luzes acesas Ventiladores desligados Temperatura interna 27 oC Umidade 55% Quantidade luminosa - 45-55 Lux Velocidade do vento interna - 0m/s

Dia 14/05/2017 às 19h Luzes acesas Ventiladores ligados Temperatura interna 26 oC Umidade 68% Quantidade luminosa - 40-42 Lux Velocidade do vento - 0m/s

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Necessário Desnecessário Não respondeu

Dia 30/04/2017 às 19h Luzes acesas Ventiladores desligados Temperatura interna 27 oC Umidade 55% Quantidade luminosa - 45-55 Lux Velocidade do vento interna - 0m/s

Dia 14/05/2017 às 19h Luzes acesas Ventiladores ligados Temperatura interna 26 oC Umidade 68% Quantidade luminosa - 40-42 Lux Velocidade do vento - 0m/s


CONFORTO LUMINOSO A igreja foi submetida a ensaios de simulação computacional, medições in loco e aplicação de questionários. Para as simulações, utilizou-se o software Ecotect. Diante dos resultados, percebeu-se que as janelas estão orientadas para as fachadas que recebem maior incidência solar, o que faz com que bastente luz entre por estas aberturas. A porta principal age como maior fonte de luz natural para o ambiente, que passa por meio das portas em vidro do átrio para a nave da igreja. Pode-se afirmar que esta disposição das aberturas favoreceu a distribuição uniforme da luz, assim como a própria intensidade luminosa dentro do ambiente, uma vez que as fachadas mais iluminadas possuem maior quantidade de aberturas. As aberturas apresentam bom desempenho em oferecer quantidade luminosa pela sua altura e peitoril baixo, como elas quase alcançam o forro da nave, a luz se distribui uniformemente pelo espaço, o que é favorecido pela cor da paredes, pintadas em branco e azul claro com tinta opaca. Entretanto, a luz uniforme pode não ser adequada para ambientes religiosos, já que as atividades desempenhadas são relativas ao caráter sagrado, subjetivo humano, e não racional. Desta forma, percebe-se que a igreja do santuário adotou propostas que tornaram a luz natural mais funcional que emotiva.Isto também se reflete na iluminação artificial, que se mostra mais uniforme ainda, as luminárias, sem recurso de proteção contra ofuscamento, fornecem luminosidade uniforme e racional. As medições in loco, assim como as simulações, pertiram afirmar que a quantidade de luz é coerente com o que a NBR 12179/1992 especifica. Para igrejas, a quantidade mínima de luz equivale a 30 lux, nas medições, as medidas mínimas giram em torno de 40 lux, o que faz com que a quantidade esteja correta. Contudo, a qualidade da uz não se reflete positiva em alguns comentários deixados voluntariamente nos questionários. De modo geral, as respostas afirmam que o ambiente possui pouca luz, mas que é uma quantidade agradável, entretanto, os comentários afirmam que a luz é muito uniforme, e isso faz com que os elementos mais importantes não sejam destacados. Diante dessas considerações, Milani (2006) afirma que a não-uniformidade de luz e a baixa intensidade luminosa ajudam no relaxamento e privacidade e podem ser usadas nos momentos de recolhimento e oração individual. Por outro lado, maior intensidade na iluminação e uniformidade no local da assembleia dão um aspecto de ambiente festivo, ideal para os momentos de louvor e canto. Isso faz com que a igreja necessite de um tratamento maior com a luz, já que pode conferir sensações diferentes para cada atividade.

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Percebe-se ainda, que os focos de luz encontram-se nas aberturas da fachada principal e nas portas de acesso, o que faz com que o espaço receba não-uniformidade luminosa em pontos que não são relevantes simbolicamente, gerando inclusive, ofuscamento para os ministros que ficam voltados para essas aberturas durante as celebrações.

Figura 32: Fotografia da área da assembleia da igreja com destaque para a ampliação das esquadrias. Fonte: Fotografias da autora, 2017.

Figura 33: Parede oposta ao altar da igreja. Fonte: Fotografia da autora, 2017.

Figura 34: Átrio da igreja. Fonte: Fotografia da autora, 2017.

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“A luz não tem muito foco no altar.” “Luz e som: agradáveis”

“A luz é boa”

“A luz é muito forte” (a respeito da luz artificial)

“Mais luz na paróquia e nos pontos mais importantes.”

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Figura 35: Simulação no Ecotect para 30 lux. Fonte: Produzido pela autora. 0% 30 Lux

100% 30 Lux

Figura 36: Simulação no Ecotect para 300 lux. Fonte: Produzido pela autora. 0% 300 Lux

Figura 37: Simulação no Ecotect para 500 lux. Fonte: Produzido pela autora. 0% 500 Lux

100% 500 Lux

100% 300 Lux

Figura 36: Simulação no Ecotect para 1000 lux. 8onte: Produzido pela autora. 0% 1000 Lux

100% 1000 Lux


Como você avalia a quantidade de luz artificial no ambiente ?

Como você avalia a quantidade de luz natural no ambiente ?

Dia 16/04/2017 às 8h Luzes acesas Ventiladores ligados Temperatura interna 25.7 oC Umidade 55% Quantidade luminosa - 24-30 Lux Velocidade do vento intero - 0m/s

Dia 16/04/2017 às 8h Luzes acesas Ventiladores ligados Temperatura interna 25.7 oC Umidade 55% Quantidade luminosa - 24-30 Lux Velocidade do vento intero - 0m/s

Dia 30/04/2017 às 19h Luzes acesas Ventiladores desligados Temperatura interna 27 oC Umidade 55% Quantidade luminosa - 45-55 Lux Velocidade do vento interna - 0m/s

Dia 30/04/2017 às 19h Luzes acesas Ventiladores desligados Temperatura interna 27 oC Umidade 55% Quantidade luminosa - 45-55 Lux Velocidade do vento interna - 0m/s

Dia 14/05/2017 às 19h Luzes acesas Ventiladores ligados Temperatura interna 26 oC Umidade 68% Quantidade luminosa - 40-42 Lux Velocidade do vento - 0m/s

Dia 14/05/2017 às 19h Luzes acesas Ventiladores ligados Temperatura interna 26 oC Umidade 68% Quantidade luminosa - 40-42 Lux Velocidade do vento - 0m/s

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CONFORTO SONORO O conforto sonoro da igreja foi avaliado pelas mesmas perspectivas do outros parâmetros, usando simulações, medições e aplicação de questionários. Para a simulação, utilizou-se o Reverb como ferramenta para alcançar o tempo de reverberação do espaço e a atenuação do som. Após avaliar estes gráficos, percebeu-se que os tempos de reverberação se mostraram muito superiores aos exigidos pela NBR 12179/1992 (figura 39). A igreja possui volume superior a 3000m3 logo, seu tempo ótimo está em torno de 1,8. No entanto, a simulação revela que a igreja apresenta valores entre 2,4 e 4,1, muito acima do esperado. Percebe-se que o tempo de reverberação é maior nas baixas frenquências, o que faz com que o som mais grave forme ruído de fundo logo após a emissão, proporcionando pontos de interferência de ondas refletidas. Isto confere um som “abafado”, torna-o menos compreensível, e este parâmetro foi pontuado diante dos usuários. A atenuação sonora também não alcançou níveis adequados, apresentou-se abaixo dos níveis ótimos, o que pode ser justificado pela ausência de elementos de isolamento acústico. Contudo, as medições revelaram que ao redor da igreja, os níveis de ruído alcançam 44db, oriundo do tráfego de veículos da L2 Sul. Diante disso, a NBR 10152/1987 especifica que para edifícios religiosos a quantidade de ruído externo máximo deve variar entre 40 e 50db, logo, a igreja está situada dentro dos intervalos, uma vez que, ao encontrar as vedações, este ruído ainda reduz para valores abaixo de 35db. As paredes da paróquia não são totalmente planas, possuem recortes que a princípio poderiam favorecer a acústica interna, contudo, diante da dimensão do volume, os recortes não trazem o efeito esperado. Os usuários percebem fortemente a acústica desfavorecida da igreja. É possível perceber que não havia uma opção no questionário que refletisse o que os eles gostariam de passar, uma vez que as respostas da pergunta a respeito da qualidade do som, onde a maioria afirmou ser possível escutar de qualquer ponto da igreja, não coincidem com os comentários. Além disso, os usuários destacaram que a qualidade do som em geral é ruim, porém para os cânticos, os comentários foram mais negativos, afirmando que os instrumentos eram mais altos que a voz, ou que não era possível compreender o que se cantava. Diante disto, percebe-se que dos três parâmetros avaliados pelos usuários, o som foi o que mais recebeu críticas, o que era esperado, já que este fator interfere diretamente do desempenho da principal atividade da igreja, que é a missa.

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“O som é mais alto que a fala dos músicos.”

“O som faz eco e às vezes é ruim.” “Precisa melhorar bastante o som, pois às vezes não escutamos nada.”

O som é abafado, mas não atrapalha.” “O som do microfone poderia ser mais alto, as vezes não dá pra ouvir o padre.”

“É preciso atualizar os equipamentos de som.”

“O som funciona melhor para as laterais.”

“O som é ruim, não é bom para ouvir de todos os pontos da igreja. A acústica não é boa.”

“O som é ruim, abafado e baixo.”

“O som não possui muita qualidade.”

“O som da banda é muito incompreensível.”

“A acústica é ruim, nas laterais da igreja é difícil ouvir o que se fala no ambão.”

“O som da banda às vezes é muito alto, não dá pra ouvir a comunidade cantar.”

“Tento ouvir a missa, mas não consigo entender nem as letras das músicas.” “O som deve aumentar.”


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Figura 39: Tempos ótimos de reverberação de acordo com a NBR 12179/1992 (adaptado). Fonte: disponível em <http://melhoracustica.com.br/2014/02/25/app-tempo-de-reverberacao/>

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Como você avalia a quantidade de barulho/ruído externo ?

O que você acha do som dentro do ambiente?

Dia 16/04/2017 às 8h Luzes acesas Ventiladores ligados Temperatura interna 25.7 oC Umidade 55% Quantidade luminosa - 24-30 Lux Velocidade do vento intero - 0m/s

Dia 16/04/2017 às 8h Luzes acesas Ventiladores ligados Temperatura interna 25.7 oC Umidade 55% Quantidade luminosa - 24-30 Lux Velocidade do vento intero - 0m/s

Dia 30/04/2017 às 19h Luzes acesas Ventiladores desligados Temperatura interna 27 oC Umidade 55% Quantidade luminosa - 45-55 Lux Velocidade do vento interna - 0m/s

Dia 30/04/2017 às 19h Luzes acesas Ventiladores desligados Temperatura interna 27 oC Umidade 55% Quantidade luminosa - 45-55 Lux Velocidade do vento interna - 0m/s

Dia 14/05/2017 às 19h Luzes acesas Ventiladores ligados Temperatura interna 26 oC Umidade 68% Quantidade luminosa - 40-42 Lux Velocidade do vento - 0m/s

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Dia 14/05/2017 às 19h Luzes acesas Ventiladores ligados Temperatura interna 26 oC Umidade 68% Quantidade luminosa - 40-42 Lux Velocidade do vento - 0m/s


3.1 Diretrizes prospectivas Diante do que foi exposto, algumas propostas para melhorar o espaço da igreja podem sejam sugeridas como diretrizes para um projeto mais estruturado. A respeito do conforto térmico, a substituição do asfalto por blocos de concreto, pavimentação em pedra, terra batida, ou cobogramas, seria bastante relevante para reduzir a carga térmica, contudo, esta nova pavimentação precisa ser bem estruturada, uma vez que a declividade do terreno pode proporcionar deterioração mais rápida destes materiais que o asfalto. Outro ponto importante para o conforto térmico seria aproveitar a fachada sul para abertura de janelas. Ainda que seja para ambientes que não coincidem com a nave, ao resfriar estes ambientes, a carga térmica na nave pode diminuir, e assim o ambiente pode ficar mais agradável. Além disso é possível também repensar a organização das áreas verdes, de modo a favorecer o resfriamento evaporativo, desta forma a baixa umidade do ar, fator relevante em Brasília, poderá ser alividada. Diante do que foi analisado sobre o conforto luminoso, Milane (2006) afirma que na iluminação do espaço celebrativo busca-se atender a quatro objetivos: favorecer as ações litúrgicas; criar uma atmosfera apropriada para a meditação, oração e celebração; valorizar os elementos que constituem o espaço; e garantir o conforto visual. Ela afirma ainda que uma igreja precisa possuir mais de um tipo de iluminação artificial, tanto para valorizar cada atividade, quanto para reduzir o uso de lâmpadas que acontece, por vezes, desnecessariamente. Desta forma, a luz natural pode ser trabalhada com aberturas zenitais voltadas paara sul, no qual proporcionaria a entrada de luz, mas não acarretaria em ganho térmico, porque não haveria incidência solar direta, ao invés disso, esta abertura seria um escape para as massas de ar quente. Quanto a iluminação artificial, é recomendado que se apresente mais de um tipo de iluminação, de forma que a luminação esteja adequada para cada tipo de atividade. Além disso, pode-se utilizar a luz artificial para destacra elementos importantes dentro da igreja, de modo a dar significado mais claro, e fortalecer os símbolos da religião dentro do espaço arquitetônico. Diante do conforto sonoro pode se utilizar materiais absorvedores ao fundo da nave, como no piso. O volume do espaço é alto, e o forro não favorece a reflexão do som por ser plano, logo sua reconfiguração formal poderia atenuar a reflexão desrregulada do som, direcionando-o para a assembleia. De modo geral, a igreja recebeu muitos comentários positivos, porém houve comentário que afirmou que se a estrutura da igreja melhorasse, o santuário poderia receber mais fiéis e ser mais convidativo. Diante disso, percebe-se que os usuários reconhecem algumas falhas arquitetônicas na igreja, e que estes fatores podem não proporcionar novos ocupantes. Logo faz-se necessário um projeto acurado, considerando essas opiniões a respeito do conforto ambiental.

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4 Consideraçþes finais


A Avaliação Pós-Ocupacional apresentou-se como uma ferramenta bastante eficiente para análise do objeto em questão. As respostas dos usuários responderam bem em relação aos dados simulados, e foram importantes para apresentar, inclusive, os pontos a melhorar na estruturação de avaliação do questionário. Foi possível perceber a importância de se avaliar o que é produzido atualmente a respeito de arquitetura religiosa e como ela revela suas qualidades e potencialidades a respeito do conforto ambiental. A conformação do espaço religioso, a partir de sua construção histórica, favoreceu a redução de elementos decorativos nas igrejas, seu foco maior era valorizar elementos específicos, ou seja, a cruz e a celebração da missa, em detrimento do poder da igreja. Foi estabelecido que o espaço precisava ser mais funcional e que buscasse aproximação com o usuários, de forma a fazer com que eles se identificassem com o ambiente e se adaptassem melhor. As igrejas estavam com muitos elementos desnecessários a realização das atividades, e isso fazia com que a arquitetura perdesse seu potencial em dar signifcado ao espaço. Diante disso, a concepção arquitetônica mostrava como o usuário estava distante do projeto, ou ainda submisso. Entretanto, apesar do foco do concílio ser a funcionalidade e maior valor nos ocupantes, percebe-se que a arquitetura, tomando como base o objeto avaliado, não está respondendo satisfatoriamente aos fatores ambientais. Estes critérios parecem não estar presente no momento do projeto e influenciam diretamente no conforto do local, como foi apresentado na análise. O conforto acústico foi pior analisado, o que torna-se inclusive, um incoerência arquitetônica, já que as igrejas se assemelham a auditórios. Materiais diversos de absorção sonora, placas vibrantes, forros específicos para cada tipo de arquitetura tem se desenvolvido no mercado, além disso, as normas técnicas têm sido mais rigorosas em termos de conforto acústico. Contudo, essas exigências não estão refletidas na realidade desta tipologia arquitetônica, e faz com que o oposto seja executado, ou seja, distanciamento dos fieis. De modo a atenuar os efeitos negativos dos fatores ambientais mal estruturados, a APO apresenta-se como uma ferramenta importante para avaliar o uso destes espaços. A opinião dos ocupantes é uma forma eficiente de aproximá-los da igreja, uma vez que estão participando agora, não somente das celebrações, mas da construção do espaço. Isso confere sentimento de pertencimento àquele lugar, uma vez que decisões tomadas em conjunto podem ser aplicadas no espaço de forma a caracterizar o genius loci do ambiente de forma mais legível. Esta pesquisa não busca finalizar os estudos em APO, muito pelo contrário, a análise abordou critérios de um grupo específico de trabalho dentre os propostos por Ornstein (1992). As outras análises podem ser combinadas a esta pesquisa de modo a complementar o que significa a qualidade para um ambiente religioso, desta forma abranger os outros grupos, ofereceria um panorama completo de análise para propor, enfim, um projeto de reestruturação de forma integrada, apoiada em estudos técnicos e comportamentais.

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Referências ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 15220-3, Desempenho térmico de edificações, 2003. ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 10151, Níveis de ruído para conforto acústico, 1987. ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 5413, Iluminância de interiores, 1992. ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 12179, Tratamento acústico em recintos fechados, 1992. ANDRADE, C. M. de; LEITE, B. C. C.; ORNSTEIN, S. W.; MALERONKA, C. G. Avaliação Pós-Ocupação (APO) aplicada em edifício antigo requalificado para abrigar centro de teleatendimento 24 horas. Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído ENTAC, n. 9. Foz do Iguaçu, PR. 2002. BARLEX, M. J. Guide to post pccupancy evaluation. University of Westminster, 2006. BECK, L. M. Avaliação Pós-Ocupacional em ambiente destinado à educação infantil: uma abordagem multimétodos. Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído ENTAC, n. 11. Florianópolis, SC. 2006. CERASI, M. El espacio colectivo de la ciudad. Barcelona: Oikos-Tau, 1990. CLÍMACO, R.; TAVARES, M. Acústica Arquitetônica de Igrejas Católicas - Estudo de Caso: Igrejas de Brasília. Revista da Sociedade Brasileira de Acústica, SOBRAC, n. 38ª, 2007. DEL RIO, V. Cidade da mente, Cidade real: Percepção ambiental e revitalização da área portuária do Rio de Janeiro. In: DEL RIO, V & OLIVEIRA (orgs). Percepção Ambiental. São Paulo, Studio Nobel, 1996. FERNANDES, J.; ROMERO, M. Reabilita - Reabilitação Ambiental Sustentável Arquitetônica e Urbanística. 2. ed. Brasília, DF: Editora UnB, 2015. FERREIRA C. S. C.; SANTOS, C. M. L.); MARQUES, F. M.; AZEVEDO, G. A. N.; CASTRO, I. S.; FRANÇA, A.; ORNSTEIN, S. Técnicas de gestão da qualidade aplicadas ao diagnóstico de avaliação pós-ocupação. Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído ENTAC, n. 15, Maceió, AL, 2014. FRANÇA, A. J. G. L.; ORNSTEIN, S. W.; ONO, R.. Mapas de diagnóstico: procedimentos de Avaliação Pós-Ocupação (APO) voltados à qualidade de projeto. In: 2o Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído / X Workshop Brasileiro de Gestão do Projeto na Construção de Edifícios, 2011, Rio de Janeiro. Projetos complexos. Rio de Janeiro: Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído / ProArq - FAU - UFRJ, 2011. v.1.


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Universidade de BrasĂ­lia Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


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