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Brasil
comunidade
Maio de 2012 Ano I - Edição 1 Porto Seguro - BA
Foto: Jailson Santos Foto: Acervo do PARNA do Pau Brasil
Estes animais fazem parte da fauna do parque
Foto: Acervo do PARNA do Pau Brasil
Primeira edição do jornal comunitário do entorno do PARNA do Pau Brasil
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CHEGAMOS! O jornal Pau Brasil Comunidade chega, neste momento, para você que ama a natureza e se interessa pela vida. Nosso jornal foi construído a várias mãos, num esforço conjunto para transformar educação em comunicação e vice-versa. Participaram dessa construção os conselheiros do Parque Nacional do Pau Brasil e, principalmente, membros das comunidades do entorno do parque (Vale Verde, Projeto Vale Verde, Vera Cruz, Bom Jesus e Aldeia Velha). Neste primeiro número você conhecerá um pouco sobre o conceito de unidade de conservação - o que é e quais existem na região, com destaque para o já citado Parque Nacional do Pau Brasil. Também irá descobrir o que significa ICMBio – sigla para Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – o que faz este órgão e porque tem este nome. Entre denúncias de poluição no Rio Buranhém, e a atitude sustentável de um cidadão de Coroa Vermelha, também destacamos neste jornal notícias sobre o resgate da língua patxohã, falada pelos indígenas pataxós, que vivem na região; como se dá o abastecimento de água em Vale Verde e por que tanto falta água no local; vai conferir também os trabalhos sociais realizados por jovens católicos da Comunidade de Bom Jesus. E ainda: os problemas de um parque (nada) ecológico; a memória do distrito de Vera Cruz, um dos mais antigos do Brasil; a cultura da mandioca em Bom Jesus e o relato de dona Vilminha, uma das primeiras moradoras locais a cultivar a mandioca e comercializar beijus, puba, e outros subprodutos. Boa leitura! (Texto de Vera Alice da Silva Soares, conselheira do Parque Nacional do Pau Brasil)
Este jornal é produto da oficina de educomunicação oferecida pelo Parque Nacional Pau Brasil às comunidades do entorno do parque, realizado pela Consultoria da Educom Verde Comunicação e Educação Ambiental, no âmbito do Projeto Corredores Ecológicos. Os textos e fotografias foram produzidos pelos participantes das oficinas em fevereiro e março 2012.
Grupo de participantes da oficina de educomunicação no dia 31 de Março. Foto: Jailson Santos Consultoria: Educom Verde Comunicação e Educação Ambiental Formadora: Maiara Ribeiro Diagramação: Raquel Galvão Revisão: Débora Menezes Participantes: Adenilda Cruz Amorim, Adriane Moreira de Brito, Adriele Moreira de Brito, Afonso Souto Santos, Alberto Oliveira da Silva, Alexandro Ribeiro Dias, Artur Gonçalves de Moura Junior, Eliana Nascimento da Silva, Fabiana Dias, Fábio Cruz Amorim, Jailson Souza Santos, Jailza da Costa Ribeiro, Jairo do Carmo Ferreira, Jassanã Pataxó (Maria D’Ajuda Alves da Conceição), Joana Gonçalves Ferreira, Joilda Lopes de Oliveira, Júlia Silveira Alves da Silva, Lucélia Berbert, Lucímea Gonçalves Viana, Niognnãsé Pataxó (Geane Conceição), Norma Santos Miranda, Pedro Palma da Silva, Priscila Ribeiro, Rízia Lage de Souza Lima, Rose Ribeiro, Samuel Costa, Valter Moscoso (Ruby), Vera Alice da Silva Soares, Werymehê Pataxó (Érica Souza), Wilson Machado.
Realização:
Pau Brasil
RPPN Estação Veracel Foto: João Marcos Rosa
Alexandro Ribeiro Dias, Lucélia Berbert e Priscila Ribeiro
As unidades de conservação, conhecidas também como UC, são áreas naturais que precisam ser protegidas. Muitas contam com uma beleza cênica, ou seja, uma beleza que não foi criada pelo homem, sendo assim um cenário harmônico considerada como um bem da Natureza, que compreende ainda os bens visíveis e invisíveis como os sons, já que um pode completar o outro formando uma sensação única e harmoniosa do local. A beleza cênica é, portanto, um dos atributos da paisagem e um dos fatores determinantes para que a área seja reconhecida como uma UC. A UC pode ser um espaço territorial (na terra), e ou as águas jurisdicionais, como os parques marinhos, legalmente reconhecidos e instituídos pelo Poder Público (federal, estadual, ou municipal) com objetivos de conservação e limites definidos. Todas as UC têm entre seus objetivos: contribuir para que a biodiversidade do local seja mantida e protegida; proteger e recuperar recursos hídricos e os solos; proporcionar meio e incentivo para a pesquisa científica, a fiscalização, a educação
O ICMBio Eliana Nascimento da Silva
Foto Chico Mendes. Fonte: Wikipédia
e a interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico. Com base em características específicas, as UC são divididas em dois grupos: as de proteção integral e as de uso sustentável. Nas de proteção integral, as restrições de uso são grandes, pois seu objetivo básico é o de preservar a natureza, ou seja, deixá-la como ela se encontra, sem modificá-la. Admite-se apenas o uso indireto de seus recursos naturais, como a realização de atividades que fazem o uso da natureza sem, no entanto, causar alterações significativas de seus atributos naturais. Podemos citar, como exemplo, as pesquisas científicas e a visitação pública controlada, com finalidade educativa e de lazer. Estão nesse grupo as estações ecológicas, as reservas biológicas, os parques nacionais, os monumentos naturais e os refúgios de vida silvestre. O segundo grupo, denominado de uso sustentável, apresenta menores restrições de uso, pois seu objetivo básico é o de compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais. Fazem parte desse grupo as áreas de proteção ambiental (APA), as áreas de relevante
interesse ecológico, as florestas nacionais, as reservas extrativistas, de fauna e desenvolvimento sustentável, e ainda as reservas particulares do patrimônio natural (RPPN). O Parque Nacional do Pau Brasil é federal, e sua gestão é realizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O parque está localizado no Território de Identidade da Costa do Descobrimento, onde ainda há outras UC, como: as APA Caraíva/Trancoso, Coroa Vermelha e Santo Antônio, que são estaduais (sua gestão é realizada pelo órgão estadual, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – INEMA). Temos também o Parque Municipal Recife de Fora, administrado pela Prefeitura Municipal de Porto Seguro. E ainda 23 RPPN. Neste contexto o Parque Nacional Pau Brasil, possui, no seu entorno, 87% das RPPN do município de Porto Seguro, assegurando, assim, uma proteção garantida por proprietários particulares. Estes, ao assumirem a proteção das suas reservas, também estão protegendo o parque de forma indireta, formando um corredor de unidades de conservação.
Criado em 28 de agosto de 2007, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é um órgão vinculado ao Ministério de Meio Ambiente, responsável pelas unidades de conservação federais. Com a missão de gerir, proteger, fiscalizar e monitorar as unidades de conservação instituídas pelo governo federal, o ICMBio desempenha a importante tarefa de proteger os recursos naturais, que geram os chamados serviços ambientais, quer dizer, água potável, ar puro e clima essenciais para uma boa qualidade de vida. O ICMBio tem esse nome em homenagem ao ambientalista Chico Mendes, filho de um seringueiro. Nascido na Vila de Porto Rico, em Xapuri (Acre), em 1944, Chico Mendes dedicou sua vida à defesa da floresta amazônica. Chico ganhou projeção nacional, tornando-se referência mundial na luta contra o desmatamento na Amazônia e a favor dos povos da floresta. Tornou-se vereador, foi autor de importantes denúncias públicas, como a feita ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sobre empresas que estava devastando a Amazônia. Após estas denúncias, o BID suspendeu financiamentos destas empresas. Chico Mendes ainda recebeu vários prêmios em reconhecimento a sua luta na área de ecologia e meio ambiente. Um dos mais importantes foi o Global 500, entregue pela ONU (Organização das Nações Unidas) no dia 5 de junho de 1987, data em que se comemora o Dia Mundial de Meio Ambiente. Essa luta foi interrompida pelo seu assassinato, em 22 de dezembro de 1988. Depois de Chico Mendes muitos outros deram a vida por essa causa. É possível acompanhar pelos jornais a luta pela terra e os diferentes interesses pelo seu uso. Por um lado, os que pensam que é possível extrair da terra o que é necessário para sua subsistência, sem, portanto, destruí-la. Por outro, os que têm uma visão econômica consideram a terra não só como um meio de sobrevivência, mas principalmente de lucro. “No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a floresta amazônica. Agora, percebi que estava lutando pela humanidade”. Foi o que disse Francisco Alves Mendes. Fonte de pesquisa: http://www.chicomendes.org.br/Biografia/bio2.html e www.icmbio.gov.br
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Unidades de conservação
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Rio Buranhém pede SOCORRO
Adenilda Cruz Amorim, Adriane Moreira de Brito, Adriele Moreira de Brito, Fábio Cruz Amorim e Jailza da Costa Ribeiro jam extintas. Existem soluções mais adequadas também para dar fim à sujeira e a poluição do esgoto, porém as soluções dependem do engajamento das pessoas e do poder público. Não devemos nos esquecer que neste milênio temos o grande desafio de evitar a falta de água. Pois o uso irracional e a poluição de fontes importantes (rios e lagos), pode ocasionar a falta de água doce muito em breve, caso nenhuma providência seja tomada. Isto é mais um motivo para cuidar melhor do Rio Buranhém.
Esgoto desaguando no Rio Buranhém Foto: Fábio Cruz Amorim
esgoto do rio, pois ele só prejudica”, disse seu Raimundo. Para o pescador Manoel Messias Lisboa dos Santos, é preciso mais consciência. “As pessoas não deveriam jogar lixo nas margens do rio, pois isso está causando a diminuição dos peixes”, afirmou. Os pescadores e moradores reclamam muito do esgoto que cai diretamente no rio. E para muitos, esse esgoto está contaminando as águas e os seres vivos que nela habitam. Nossa equipe procurou a Empresa Baiana de Água e Saneamento (Embasa), empresa responsável pelo tratamento de esgoto em Porto Seguro, para falar sobre a questão do rio. O gerente do escritório local da EMBASA em Arraial D´Ajuda e Trancoso, Marivan Mega, garantiu que o esgoto não contamina o Buranhém. “O esgoto é tratado e depois devolvido ao mananciais, obedecendo às normas ambientais, sem oferecer riscos de contaminação da água”. Segundo ele, não há como desviar o esgoto do rio, pois o tratamento é feito para que a água recuperada possa ser devolvida ao rio sem problemas. Outra coisa que preocupa são os “braços” do rio, que estão se fechando por conta dos matos e pela imensa quantidade de plantas aquáticas (também conhecidas com barceiros de baronesas) que se encontram no rio. Essa situação dificulta muito o acesso à Ilha do Pau do Macaco, local onde é visivel o problema descrito acima. Apesar de tudo, o Buranhém ainda é um atrativo a mais para a cidade de Porto Seguro; além de servir como fonte de renda para muitos moradores da região, é uma fonte de vida. Bem antes de Pedro Alvares Cabral e sua frota atracarem na foz do Buranhém, em 1.500, suas águas eram essenciais para os índios beberem, se banharem e navegarem. Naquele tempo era um rio sem poluição, onde os peixes e as plantas cresciam naturalmente. Mas nem tudo está perdido. O Buranhém pode ser um rio puro. Para isso, entre outras ações, a pesca deve ser controlada, para que as espécies não se-
Foto: Fábio Cruz Amorim
Lixo doméstico e esgoto são jogados diretamente no Rio Buranhém! Nossa equipe esteve no rio e é preocupante a situação em que ele se encontra: há lixo nas margens, em seu leito, sem contar o despejo de esgoto. A presença humana está por toda parte: garrafas pet e de vidro, fraldas descartáveis, plásticos diversos - tudo isso é bastante visível num simples passeio pelo rio. O rio Buranhém nasce na Pedra do Cachorro, na Serra dos Aimorés, em Santo Antônio do Jacinto (Minas Gerais), e tem sua foz no Oceano Atlântico, entre as belas praias do Cruzeiro e Apaga-Fogo (que divide Porto Seguro e Arraial D´Ajuda). Também conhecido como Rio do Peixe, o Buranhém está no centro do triângulo turístico do sul da Bahia, que envolve Arraial D´Ajuda, Trancoso e Porto Seguro, onde abrange uma área de 377,8km², corta o centro do município e permite passeios ecológicos até a Ilha do Pau do Macaco, uma das várias ilhas fluviais locais entre ecossistemas diversos. Na língua tupi, no sul da Bahia, Buranhém significa “pau doce”, o nome de uma árvore de madeira boa e casca com propriedades medicinais. Infelizmente todo esse paraíso está sendo ameaçado, pois sua água é contaminada por poluentes e esgotos. Além disso, algumas espécies de peixes podem desaparecer por causa da captura ilegal, já que muitos pescadores pescam no período de reprodução dos peixes. Em entrevista a nossa equipe, o pescador Raimundo José Salvador disse que o rio não passa por nenhuma fiscalização. “Essa é uma reclamação que não é só dos pescadores, mas também de toda a comunidade”. Ele ainda acrescentou que o problema do rio deve ser resolvido por todos. “Os moradores e os pescadores da região tem que se unir e cobrar das autoridades uma fiscalização eficiente, pois há pessoas que pescam no rio com redinhas e pegam peixes ainda pequenos, acabando com todas as espécies. O esgoto também é um problema sério, tem que haver um jeito de desviar esse
Pescador no Projeto Vale Verde
Meio ambiente em Vera Cruz
Alberto Oliveira da Silva, Artur Gonçalves de Moura Junior, Jailson Souza Santos, Jairo do Carmo Ferreira, Joilda Lopes de Oliveira, Norma Santos Miranda e Wilson Machado Foto: Wilson Machado
Rio Pindoba, que banha o distrito de Vera Cruz
O Dia Interamericano da Água, primeiro sábado do mês de outubro, foi criado oficialmente em 1992, durante o 23º Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental, em Havana (Cuba). E o que temos feito para a melhoria dela? Hoje a prioridade número um é economizar água, principalmente porque um percentual considerável de água doce existente no planeta está localizado no Brasil. Os rios e córregos que abastecem a comunidade de Vera Cruz - distrito de Porto Seguro (BA), estão com suas margens extremamente degradadas. Apesar disso, ainda é possível restaurar sem maiores dificuldades a maior parte das matas ciliares. Até mesmo os rios e córregos que atravessam a área urbana ainda possuem grandes trechos de margens desocupadas, que poderiam ser reconstituídos e se tornarem parques lineares. Para uma melhor participação da comunidade foi sugerido conscientizar a população. No dia da árvore, 21 de setembro, será realizada uma mobilização em Vera Cruz juntos aos colégios para que a cada criança participe e plante mudas de árvores em torno do rio que abastece o distrito. A comunidade necessita deste olhar para que todos que aqui vivem se mobilizem em prol do meio ambiente.
Foto: Valter Moscoso
Valter Moscoso (Ruby)
A língua patxohã Werymehê Pataxó (Érica Souza) A língua falada pelos pataxós era conhecida como patxohã, porém, no decorrer dos tempos, foi se perdendo aos poucos. Devido a uma grande preocupação com o resgate das tradições, os professores indígenas das aldeias maiores da região de Porto Seguro, como Coroa Vermelha e Barra Velha, se reuniram com o intuito de revitalizar a língua pataxó. Foi feita uma pesquisa com os índios mais velhos de Barra Velha e Coroa Vermelha, para conhecer e reunir as palavras que permaneciam vivas nas suas memórias. A língua pataxó se perdeu aos poucos não porque queríamos mas, sim, porque os colonizadores obrigaram o povo pataxó falar a língua deles (o português). Fomos perseguidos por décadas até termos sidos aldeados, onde conseguimos reunir forças para cultuar os nossos costumes. No primeiro trabalho conseguimos reunir 1.500 palavras e batizamos esse movimento com o nome de grupo “atxohã” que significa pesquisadores da língua pataxó. Hoje possuímos 2.500 palavras e a antiga língua pataxó passou a se chamar patxohã, que significa linguagem de guerreiro pataxó. Sabemos que para um povo se considerar indígena não precisa de uma língua, mas para nós é motivo de fortalecimento cultural e revitalização dos costumes de um povo guerreiro, que sobreviveu a todas as barreiras e não perdeu os seus costumes.
PAT+ATXOHÃ+XOHÃ = Linguagem de guerreiro Pataxó Foto: Charles Timbalada
Ser cidadão não é ser somente eleitor; também é não ser submisso ao que os outros dizem, como um ditador que coloca seus anseios acima da sociedade e elabora regras para dizer como governar, o modo de agir e de pensar. Será que as regras, que são as leis, são democráticas? O cidadão Capimbará (como é conhecido Amilton dos Santos) da etnia pataxó da Aldeia Coroa Vermelha, vota e pensa em desenvolvimento sustentável em seu trabalho, mesmo numa sociedade de consumo com um sistema que degrada a vida ambiental. Ele conscientiza as crianças nas escolas para que, no futuro, elas possam ter uma visão diferenciada sobre a valorização dos cuidados com os rios e a natureza em geral. Sua preocupação é preservar o ambiente e multiplicar sua experiência, indo às escolas para levar seu trabalho de educador, ajudando na conscientização ambiental de outras aldeias, como Boca da Mata, Pé do Monte e Porto do Boi. Mas para ele isso ainda é muito pouco, seu desejo é poder fazer muito mais. Ele tem a necessidade de promover a germinação das espécies medicinais que vão servir para as futuras gerações, que precisam entender e conceber a educação ambiental como um caminho para a pesquisa sobre a
descoberta de novas espécies de plantas medicinais e seus usos. Em seu viveiro, feito e mantido com recursos próprios, Capimbará Pataxó necessita de verba para melhorar seu trabalho de cultivo de mudas medicinais como o pau-brasil, que serve para ajudar a combater o câncer, hemorragias, e também é usado para extrair tinta vermelha. Além de tantas outras plantas como aroeira, jenipapo, araçá buraê, entre outros. Estas mudas são doadas para as aldeias da região e escolas do município. Capimbará também divide seu tempo como porteiro de escola pública pela manhã, recebendo R$ 500 (quinhentos reais). Pela tarde, ele se ocupa em benefício das gerações futuras, quando desenvolve o viveiro e contribui com a região, fazendo sua parte ao equilibrar a balança da justiça pela natureza, a qual o ser humano precisa cuidar para não deixar de existir. Capimbará Pataxó é exemplo de um cidadão solidário, que contribui para a sustentabilidade do meio ambiente, se disponibilizando para preservar e para orientar quem tiver disposto a viver pelo ecossistema. Este é apenas um cidadão dentre tantos anônimos brasileiros, que se mobilizam e, juntos fazem uma grande diferença. Se somente um representante de alguma instituição pública ou privada decidisse participar, se todo ser humano fosse íntegro o suficiente para se mobilizar e atuar em seu mandato ou em sua empresa, nesse processo, fazendo do seu campo de atuação governamental ou empresarial atitudes com os mesmos propósitos e sentidos deste cidadão esforçado pela vida das futuras gerações, sua colaboração seria louvável e gratificante. Para mais informações, entre em contato com Capimbará Pataxó pelo e-mail: capimbara.viveiropataxo@hotmail.com
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Atitude sustentável
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Anciões da Aldeia Velha
Na natureza tudo tem vida. A mata é seu coração Werymehê Pataxó (ÉricaSouza) Niognnãsé Pataxó (Geane Conceição) pajé da Aldeia Velha Jassanã Pataxó (Maria D’Ajuda Alves da Conceição)
Os nossos antepassados viviam em um lugar onde o céu era muito azul e a noite, muito estrelada. Em nossos territórios, tínhamos rios onde pescávamos. Antes estes rios eram ricos, tinham muitos peixes, além de bichos como capivara e preás. Com o passar do tempo, a região ficou mais pobre. Ainda existem peixes, capivaras e preás, mas são poucos. Em nossas aldeias, existem lugares altos, baixos e muita vegetação nativa, além de algumas áreas plantada por nós. A mata é um lugar sagrado para nós, pataxós. Sabemos que nossa obrigação é preservá-la; por isso, utilizamos apenas as áreas degradadas para fazer roças, que servem para o sustento da nossa comunidade. A mata é fonte de vida, pois é ela que traz a chuva, serve de morada
para os animais e nos fornece oxigênio, o ar que respiramos, e também a nossa alimentação. Só preservando-a teremos uma vida melhor. Para isso, nós, índios pataxós, estamos reflorestando o território, conservando as árvores que ficam entre as roças para que a mata não acabe, pois onde tem índio, tem matas, animais e rios muito importantes para nós. Os rios são fontes de água que necessitamos para sobreviver. Por isso, devemos preservar as matas ciliares – que ficam na beira dos rios e ajudam a evitar erosão. Para nós, pataxós, a natureza é nossa mãe. É coisa muito sagrada. Pois é dela que tiramos o nosso sustento: a caça, o peixe, as raízes, as plantas medicinais, sementes e tudo o mais que precisamos para viver. “Na natureza tudo tem vida. A mata é seu coração”...
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Abastecimento de água da comunidade de Vale Verde Fabiana Dias, Júlia Silveira Alves da Silva, Pedro Palma da Silva, Rose Ribeiro, Samuel Costa
O primeiro serviço de água para a comunidade de Vale Verde, nas imediações de Arraial d´Ajuda, data do ano de 1972. Era um motor a diesel que ficava na bica do Rosário, e transportava a água até o chafariz, localizado na Praça do Divino Espírito Santo, onde toda a comunidade era abastecida. Com o passar do tempo, foi aberto um novo poço e o abastecimento passou a ser encanado para todas as casas, e também existia a manutenção preventiva da bomba e do poço. Porém, sem manutenção e reparos, nesse meio tempo, os moradores da comunidade ficavam sem o abastecimento de água, dificultando e até mesmo suspendendo o serviço da escola e do posto de saúde local. Muitas das famílias recorrem à bica - que fica próxima à Cooperativa de Alambiques da Comunidade e das Farinheiras. Tomam banho, lavam roupa, louças, entre outras atividades. E seguem para casa com baldes de água na cabeça para o consumo diário. Há poucos meses foi feita a troca do encanamento que faz o abastecimento das casas, pois a rede que existia já estava muito danificada e afetava o desempenho do abastecimento de água chegar às residências. Conversamos com um morador local, Alto Miranda de Almeida. Este nos informou que, com a nova rede de fornecimento, ele ficou sem o abastecimento de água, que antes chegava até a sua casa pela rua dos fundos por onde a rede anterior passava. Procuramos por Alencar Rocha de Oliveira, representante do município e também responsável pelo gerenciamento do abastecimento de água da comunidade de Vale Verde, para tirarmos algumas dúvidas sobre este assunto. Acompanhe a entrevista: Como é feito o fornecimento de água da comunidade de Vale Verde? Hoje ele é feito da seguinte forma: nós temos um poço novo, que foi construído em convênio com o Estado, com a CERB (Companhia de Engenharia Ambiental e Recursos Hídricos da Bahia, responsável, entre outros, pela perfuração de poços). Este poço tem uma vazão maior do que o anterior, ou seja, uma vazão de aproximadamente 20 mil litros a cada duas horas e 20 minutos. Com isso, fizemos uma rede nova de distribuição que atende aproximadamente 300 casas, ou seja, 300 famílias, e isso dá uma diferença em relação à distribuição anterior, que chegava a aproximadamente 120 casas. Ou seja, hoje nós temos aproximadamente 180 casas a mais sendo atendidas com o abastecimento de água. Sobre a distribuição de água, ela é feita da seguinte forma: nós dividimos toda a rede que foi feita em quatro redes. Para que cada rede, contamos com uma certa quantidade de casas, para que a gravidade seja suficiente para poder abastecer os reservatórios, ou até mesmo as caixas elevadas no “pé de caixa”, para que não haja necessidade do uso da bomba. Mas algumas casas ainda estão tendo dificuldade de elevar água até a caixa. Para o próximo mês, vamos dividir uma rede em duas, nas proximidades da Praça Ideulício, para ter facilidade de gravidade de água até a caixa e, assim, suprir as casas que ainda não se beneficiaram com o abastecimento de água. Recentemente, nós resolvemos o problema do Quadrado, porque antigamente a água era distribuída do Quadrado para frente; hoje é o inverso: como o poço se localiza na rua do Rosário, vamos solucionar o problema ao redor e proximidades da Praça Ideulício. O senhor saberia informar se existem famílias que ainda estão sem o fornecimento de água? E se há solução para este problema? Tem sim, duas ruas ainda com dificuldades. Porém, como eu disse antes, nós vamos fazer esta divisão de redes daquela região ali, próxima a Praça Ideulício e a Fazenda de Vale Verde, para solucionar este problema. Por se tratar de abastecimento por poço artesiano, estamos sujeitos a certos transtornos como manutenção, mau funcionamento ou até mesmo defeito da bomba, causando parada total de funcionamento da mesma.
Quando isso acontece, como fica o fornecimento de água da comunidade? Na verdade, todo poço tem que ter manutenção. Um poço daquele tem uma vazão de quase dez horas por dia bombeando a 20 mil litros, quase 200 mil litros diários de água, ou seja, a bomba com o tempo ela tem depreciação, tanto na parte elétrica como na parte mecânica. E com o tempo há necessidade de fazer uma limpeza do poço e da bomba, para que ela não perca a potência. Existe algum projeto que favoreça toda a comunidade e diminua estes transtornos? Para solucionar isso, a alternativa mais lógica é abrir um outro poço, ou seja, trabalhar com o abastecimento de água com dois poços. Quando estiver fazendo manutenção em um dos poços, usa-se o outro poço. Já foi solicitada à prefeitura a liberação de mais um poço, para não corrermos o risco de a comunidade ficar sem água quando houver necessidade de manutenção. A falta de água afeta o trabalho das escolas e do posto de saúde. O que pode ser feito para que isso não aconteça? Veja bem, antigamente faltava água em qualquer lugar de Vale Verde, mas não faltava na escola e nem no posto de saúde, porque o poço foi feito na parte baixa da comunidade, abaixo do Sparvati Resort Hotel, e a caixa d’água que distribuía para a comunidade era na própria escola, não tendo problema nenhum de gravidade, e até mesmo de abastecimento, a não ser quando realmente a bomba parava de funcionar. Hoje o abastecimento de água é feito a partir de um poço perfurado do lado inverso, do que era antes. Exatamente na rua do Rosário, ou seja, quando você distribui água para Vale Verde, o último ponto ao extremo é justamente a escola e o posto de saúde. E quem é o responsável pela manutenção do poço? A CERB ela faz o poço, monta a parte elétrica, a rede de água, o pé de caixa, e passa para o município. Ou seja, hoje o município é responsável pela distribuição e pela manutenção também. Na sua concepção, estamos em pleno século XXl e ainda nosso distrito não possui água tratada nem esgoto. Dê sua opinião sobre este assunto. Eu também acho que um lugar como Vale Verde já deveria ter água tratada e esgoto, assim como em outras comunidades também. Mas temos que observar que a comunidade é uma região com características rurais, onde houve também um crescimento desordenado. Mas independente disto, é um distrito que tem necessidade de atendimento médico, escolas, serviços públicos de limpeza, coleta de lixo, enfim, a questão do saneamento básico; o Estado e o governo federal têm essa incumbência. No caso de Vale Verde, o que foi solicitado ao Estado foi um poço para abastecimento de água. O Estado tem, por meio da CERB, a perfuração do poço, e depois passam para a Embasa fazer um estudo de viabilidade econômica e de estrutura, para depois darem o parecer desta possibilidade de gerência de tratamento de água e de esgoto, ou seja, de saneamento básico.
Morador carregando água da bica em Vale Verde e a Bica de Vale Verde Fotos: Rose Ribeiro
Aniversário do Grupo de Jovens Mitswan da Comunidade de Bom Jesus
Afonso Souto Santos, Joana Gonçalves Ferreira e Rízia Lage de Souza Lima
O grupo jovem Mitswan é formado por jovens da Igreja Católica da comunidade de Bom Jesus e tem como objetivo levar um trabalho social e espiritual para as pessoas da comunidade e outras localidades. O grupo de jovens completou dois anos no dia 17 de março de 2012. Antes da festa, a coordenação, junto com os jovens, se empenharam para que este evento acontecesse, desde a preparação do bolo, limpeza do lugar da festa e da Igreja para receber os convidados. Houve uma missa festiva e depois uma confraternização do grupo local com os grupos convidados. Houve ainda a presença de outros grupos de jovens como Grupo PHS, Alfa e Ômega e Jomp, além de pessoas de comunidades vizinhas. Segundo uma das fundadoras da comunidade, Joana Gonçalves Ferreira, “a festa foi maravilhosa, pois homenagear o grupo de jovens é como dar vida à comunidade, e ainda comentou que os convidados ficaram satisfeitos com a recepção”. Fábio Almeida, coordenador do Grupo Jovem Mitswan, disse a principal finalidade do grupo é mostrar para as pessoas que existe uma outra forma dos jovens se divertirem e fazerem amizades, sem precisar entrar no mundo do crime. O grupo Mitswan tem uma função especial na comunidade, que é a de promover palestras educativas e espirituais, realizar doações de alimentos e roupas para pessoas carentes, além de promover encontros para orações nas casas da comunidade. Hoje muitas pessoas da comunidade apoiam o grupo, pois elas sabem que essa juventude está procurando melhorar a comunidade que foi esquecida pelas autoridades políticas. Dona Joana Ferreira contou que depois que o grupo foi criado, a comunidade está revivendo. O grupo não conta somente com a participação dos jovens, mas também dos adultos também. São cerca de 30 pessoas atuantes. Segundo o vice-coordenador Uorcli da Silva Souza, esse número tende a aumentar nos próximos anos. A mensagem que o grupo deixa para as pessoas: “Deus é o caminho a verdade e a vida e ninguém vai ao pai se não por Jesus”.
Foto: Afonso Souto Santos
Integrantes do grupo de jovens
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Lucélia Berbert e Lucímea Gonçalves Viana
Fotos: Lucímea Gonçalves Viana
O bairro Parque Ecológico, localizado no município de Porto Seguro, fica a 40 km de distância do centro da cidade, nas imediações do entorno do Parque Nacional Pau Brasil. Apesar de ter este nome devido à época da sua formação ser uma área bem conservada de Mata Atlântica, no momento o que verificamos é um local sem arborização nas suas ruas e avenidas. Segundo informações obidas por dois moradores, que foram uns dos primeiros a chegar, o bairro era um local com muitas árvores de madeira de lei e uma fauna bem variada. Irênio Gonçalves Paraguassu, que se estabeleceu como morador no local em 1994, nos disse que o loteamento teve início em 1992. Quem fez o loteamento foi o prefeito da cidade de Porto Seguro na época, João Carlos de Pádua Neto conhecido como “João de Sunga”. Como na gestão anterior houve uma invasão em áreas próximas para formação do bairro Baianão, de forma desordenada (ocasionando até morte), o prefeito resolveu cercar a área e dividi-la em lotes. A área devoluta do Estado estava em posse de uma estrangeira e era conhecida como Faixa no bairro mostrando a indignação dos moradores
Rua sem pavimentação no bairro Parque Ecológico
“Fazenda da Gringa”. Os lotes foram estabelecidos e comprados por uma imobiliária de propriedade de João Carlos. “Havia muitas árvores de madeira de lei, como pracaju, embiruçu, pau d’arco e outras tantas”, segundo palavras de seu Irênio. Ele mencionou também a presença de muitas aves: araponga, aracã, chororão, além de outros animais como o macaco-da-noite, o tatu e o sariguê. Próximo a sua casa havia um córrego com muitas árvores em suas margens, e corria água com muita fartura e nunca secava – trata-se do Rio São Francisco, que deságua na praia na primeira ponte da orla, na entrada do Outeiro. “Hoje não temos mais estes animais e árvores nativas aqui, somente as frutíferas que alguns moradores plantaram assim como eu, mas plantei um pau-brasil na porta da minha casa para todos verem”. Wilson Costa da David, que chegou como morador no ano de 1996, havia somente quatro moradores na época, sendo que o “quinto” foi a sua família. O local não tinha energia, água, saneamento e nem telefone. A água vinha da gruta chamada Boqueirão, onde as mulheres lavavam os utensílios domésticos e as roupas. As residências possuíam o sistema de fossa séptica para escoamento dos esgotos domésticos. Na primeira casa do senhor Irênio havia uma cisterna que fornecia água para muitos moradores depois que a população cresceu no bairro. No momento, o Parque Ecológico está em situação total de abandono pela gestão pública municipal. Não se vê pavimentação nas ruas e nem segurança; não existe um posto policial, como também não há área de lazer para a comunidade. A população clama exigindo das autoridades uma providência para o bairro, onde no verão é poeira e no inverno é lama, como pode ser visto em faixas espalhadas pela comunidade.
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O Parque Ecológico: “que não é ecológico”
Resgatando memórias de Vera Cruz Alberto Oliveira da Silva, Artur Gonçalves de Moura Junior, Jailson Souza Santos, Jairo do Carmo Ferreira, Joilda Lopes de Oliveira, Norma Santos Miranda e Wilson Machado le grande, nos deu um filho vereador, Nilman Costa, muito preocupado com distância deste povoado (42 km) até a sede de Porto Seguro transformou a comunidade em um distrito, oficializado em 26 de Setembro de 2000. Este depoimento foi dado por Elias Paulo da Silva Filho, de 72 anos de idade - filho de João Paulo dos Anjos - e conhecido carinhosamente como Santo Paca. Hoje o distrito de Vera Cruz é essencialmente rural, um lugar pacato situado do lado esquerdo da BR367 no sentido Eunápolis-Porto Seguro. Está em um ponto estratégico, a 20 minutos de Eunápolis e a 40 minutos de Porto Seguro. A população de Vera Cruz, com pouco mais de 12.000 habitantes, tem em seu interior assentamentos e indígenas. As famílias tem seu sustento baseado na agricultura faSr. Santo Paca - Memória Viva de Vera Cruz miliar, artesanatos, sivulcultura, entre outros. A cultura local é retratada fortemente pelas festas religiosas com procissões terrestres e festas populares no mês de junho. Estão cercados por uma grande diversidade biológica, presentes porque Vera Cruz fica perto do Parque Nacional do Pau Brasil.
Foto: Jailson Santos
Esta é a história da Comunidade de Vera Cruz, que se encontra no entorno do Parque Nacional do Pau Brasil, em Porto Seguro, onde nasceu o Brasil. A nossa comunidade é constituída de duas partes; a mais antiga e a ampliação conhecida como bairro Novo. Este último ainda pertencente a uma fazenda. No passado, Vera Cruz era conhecida como BR-41 (Km41) cujo início da construção da estrada foi em Santa Cruz de Cabrália e conhecida como BR-367 a qual finalizou na rodovia estadual que em seguida transformou em BR 101. Sua construção inicial, por volta de 1948, primeiramente de terra batida; e asfaltada a partir de 1973. Um dado muito importante era a mobilidade antes desta estrada. Para chegar ate à sede de Porto Seguro a locomoção era feita por canoas pelo Rio Buranhém, também conhecido como Rio do Peixe. Foi nesta época que as primeiras famílias começaram a povoar e solidificar Vera Cruz. Entre as famílias estão a de João Paulo dos Anjos, patriarca com seus doze irmãos e doze filhos; hoje esta maravilhosa família ultrapassa mais de seiscentos e cinqüenta descendentes. Temos ainda as famílias de João Emiliano, Antônio Ferreira, o Melquiades, João Fernandes, Antônio Branco e Benvindo Joaquim Marques. Todas elas construíram as primeiras casas e fundaram duas ruas: a rua Guaratinga e a rua Porto Seguro, as quais foram feitas com enxadas e picaretas. Mais tarde chegaram à pequena vila, as famílias de Nicolas Coutinho do Bonfim, Eugênio Francisco da Silva e várias outras. No início dos anos 1960, do povoado de propriedade de Herculano do Santo Ramos vieram duas famílias que foram de fundamental importância para a comunidade: a de Abner Ferreira das Virgens - cuja esposa, Artenízia Fortunato das Virgens foi eleita vereadora, o seu filho, Querobim Fortunato das Virgens, vice-prefeito, e sua filha Eliana Fortunato das Virgens, eleitos por Porto Seguro. E a família de Francisco Costa, conhecido como Chico da Lage, grande produtor rural na época, também com uma pro-
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Comunidade
Pau Brasil
A Cultura da Mandioca na comunidade Bom Jesus Afonso Souto Santos, Joana Gonçalves Ferreira e Rízia Lage de Souza Lima
Grupo da Oficina em Educomunicação apresenta:
CURIOSIDADE O que você vê? Eliana Nascimento da Silva
Foto: Afonso Souto Santos
Com base em pesquisa feita na comunidade Bom Jesus que se localiza na entrada de Vale Verde, entrevistamos a senhora Vilma Novais de Souza Nunes, mais conhecida como dona Vilminha, uma das moradoras mais antigas da comunidade, que estava trabalhando na farinheira e ainda teve tempo para contar a história da cultura da mandioca na região. Ela diz: “olha, tudo isso começou no ano de 1991, quando eu e minha família nos mudamos para esse lugar que antes não era comunidade, porque não existia a Igreja do Bom Jesus e nem mesmo a quantidade de moradores que hoje existe aqui”. Dona Vilminha ainda completa dizendo: “quando viemos morar aqui não existia nenhum tipo de plantação, mas em compensação havia muito mato. Então começamos a trabalhar, no começo não foi fácil, porque tinha bastante mato e por isso tivemos que desbravar tudo isso na foice e na enxada para poder assim preparar a terra para os plantios. Segundo ela, o processo da mandioca não é fácil, pois além do plantio a pessoa tem que esperar 12 meses para enfim tirá-la da roça. Da massa da mandioca, é extraída a goma com que se faz beiju e biscoitos, além da puba e da farinha. Naquela época esses produtos não eram tão comercializados como hoje por causa do difícil acesso a lugares como Arraial d´ Ajuda, Porto Seguro e Trancoso. Hoje tudo isso mudou bastante porque, com o passar dos anos, melhorou muito o acesso a esses lugares e a procura dos produtos derivados da mandioca também aumentou. Isso tudo foi bom para Dona Vilminha que disse: “Eu faço entregas de beiju, goma, biscoitos, bolos e puba em pousadas do Arraial d´ Ajuda e Trancoso, além de vender a farinha junto com esses produtos nas feiras. Os lucros que tenho com esse trabalho são bons, deu para fazer a minha casa, comprar carro e moto e dá para o sustento da família”. Dona Vilminha diz que a família dela foi a primeira a trabalhar com essa cultura na comunidade e a partir deles surgiram outras famílias que hoje trabalham com a mandioca. Ela falou que tem orgulho do seu trabalho e aconselha essas pessoas que trabalham com a mandioca a seguirem em frente, pois foi uma coisa que ajudou, e ajuda bastante, a ela e sua família.
Foto: Jailson Santos
Pássaro conhecido também como urutau, cujo nome em tupi significa “ave fantasma”. Conta uma famosa lenda boliviana, que na densa mata habitava a bela filha do cacique de certa tribo, enamorada por um jovem guerreiro, a quem amava profundamente. Amava e era amada. Ao saber do romance, o pai da menina, enfurecido pelo ciúmes, usou suas artes mágicas e tomou a decisão de acabar com o namoro da maneira mais trágica: matar o pretendente. Ao sentir o desaparecimento de seu amado, a jovem índia entrou na selva para procurá-lo. Enorme foi sua surpresa ao perceber o terrível fato. Em estado de choque, voltou para casa e ameaçou contar tudo à comunidade. O velho pai, furioso, a transformou em uma ave noturna, para que ninguém soubesse do acontecido. Porém, a voz da menina passou à ave. Por isso, durante as noites, ela sempre chora a morte de seu amado com um canto triste e melancólico. Seu nome científico é Nyctibius griséus. É comum em bordas de florestas, campos com árvores e cerrados. Ainda que tenha o hábito de pousar em locais abertos, permanece disfarçado, sendo facilmente confundido com um galho. Tem o hábito de cantar a noite. Possui uma adaptação única em aves, chamada de “olho mágico”. São duas fendas na pálpebra superior, as quais permitem que fique imóvel por longos períodos, observando os arredores, mesmo de olhos fechados. Presente em todo o Brasil, inclusive na periferia de cidades como o Rio de Janeiro. Encontrado também da Costa Rica à Bolívia, Argentina e Uruguai. A foto acima foi tirada no Parque Nacional do Pau Brasil, pelo servidor Jailson Santos, exímio fotógrafo que adora clicar animais e plantas da Mata Atlântica. Fonte: http://www.wikiaves.com.br/mae-da-lua