Tebi’u eté Alimento Sagrado Guarani
Cultura, identidade e memória na comida típica Guarani.
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Ficha técnica
Realização: Associação Indígena Guarani Mboapy Pindó Coordenação do projeto: Raquel Lucena Paiva Coordenação Guarani: Keretxu Mirim - Patrícia Bilhauva dos Santos Tradução Guarani: Marcelo Djekupe, Patrícia Keretxu, Vander Karai Pesquisa e redação em português: Raquel Lucena Paiva Portadoras do conhecimento tradicional que passaram as informações sobre a alimentação tradicional Guarani presentes neste livreto, por meio de depoimentos e elaboração dos alimentos: Djatxuka Mirim - Tereza da Silva de Oliveira Keretxu - Marilza da Silva Tatatxin Ywa Rete - Joana Carvalho da Silva Para Poty - Eliane Bilhauva de Lima Tatatxin - Florentina de Carvalho Vaz Projeto gráfico e diagramação: Anderson Aguiar Ilustrações: Karai - Augusto Vaz Filho Fotografia: Nelson Barcelos, Raquel Lucena e Syã Fonseca Produção: Nelson Barcelos Pereira Patrocínio: Governo do Estado do Espírito Santo, Secretaria de Estado da Cultura (Secult), Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura). Aracruz, Espírito Santo, Brasil. 2016
OMBO’EAPO WA’E KWE KOWA’E KWATXIA RE
Odjapo kowa’e tembiguai rami: Associação Indígena Guarani Mboapy Pindó Oikwaa pota wa’e kwe ko tembiapo regwa: Raquel Lucena Paiva Nhadewa Oikwaapota wa’e kwe: Keretxu Mirim - Patrícia Bilhauva dos Santos Nhade ayu py ombopara wa’e kwe: Marcelo Djekupe, Patrícia Keretxu, Vander Karai Djurua ayu py ombopara wa’ekwe: Raquel Lucena Paiva Tembi’u ete’i regwa omombe’u ayu rupi wa’e kwe,nhade djaryi kwery odjapo wa’e kwe oetxauka awã marami pa nhadereko regwa tembi’u ete’i raka’e: Djatxuka Mirim - Tereza da Silva de Oliveira Keretxu - Marilza da Silva Tatatxin Ywa Rete - Joana Carvalho da Silva Para Poty - Eliane Bilhauva de Lima Tatatxin - Florentina de Carvalho Vaz Kowa’e kwatia re omba’eapo a’e ombopara wa’e kwe: Anderson Aguiar Ta’ãga odjapo wa’ekwe: Augusto Vaz Filho Nho ãga o wenoe wa’ekwe: Nelson Barcelos, Raquel Lucena e Syã Fonseca Nhopytywõ wa’e kwe ko tembiapo oiko awã: Nelson Barcelos Pereira Tembigwai nhopytywõ wa’ekwe: Governo do Estado do Espírito Santo, Secretaria de Estado da Cultura (Secult), Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura). Aracruz, Espírito Santo, Brasil. 2016
Índice
A’ewete pawen pe.................................................................................. 8 Agradecimentos...................................................................................... 9 Marami pa oin......................................................................................... 10 Apresentação............................................................................................11 Nhadewa kwery tekoa Espírito Santo pygwa...........................12 O povo Guarani no Espírito Santo..................................................13 Tembi’u nhadewa’e...............................................................................14 Alimentação Guarani...........................................................................15 Awatxi / Milho......................................................................................... 16 Mbyta.......................................................................................................... 18 Pamonha...................................................................................................21 Ka’i Repotxi..............................................................................................22 Rora..............................................................................................................24 Awatxiku’i..................................................................................................25 Kagwidj.......................................................................................................26 Mandji’o / Mandioca........................................................................... 28 Bedju / Beiju.............................................................................................29 Trigo arina.................................................................................................32 Trigo.............................................................................................................33 Kawure...................................................................................................... 34 Reviro......................................................................................................... 36 Txipa............................................................................................................ 37 Pakowa..................................................................................................... 38 Banana...................................................................................................... 39 Andai, djedjy, a’e tadja.......................................................................40 Abóbora, batata-doce e inhame....................................................41 Hu’itxin djopara komanda awatxi txin........................................42 Feijão com milho branco...................................................................42 Referências.............................................................................................. 46
A’ewete pawen pe 8
Pawen Kunhagwe oikwaa wa’e temi’u ete reko regwa Anhetengwa. Pawen nhadewa’e ipy’a gwatxu a’e pe oikaa wa’e nhade reko arandu. A associação indígena mboapy pindo ou onhemopu’ã
arandu
rewe
omba’eapo
djoupiwe. Secretaria de estado da cultura py gwa, Secult a’egwi governo espírito santo py gwa kwery onhemoirun wa’e ome’en edjeapo awan kowa’e tembiapo. Nhadewa’e ruwitxa kuery oipytynwon awi odjeapo awan kowa’e tembiapo. Djurua kuery onhotyn Poã e’yn rewe o’anga kowa’e tembiapo rupi odjapo wã. Pawen nhadewa’e kwery oipytywon wa’e nhadereko ete rupigwa.
Agradecimentos
A todas mulheres Guarani que cultivam no cotidiano a sabedoria da alimentação verdadeira. A todo povo Guarani, que com coragem e serenidade preserva seu modo de vida. À Associação Indígena Guarani Mboapy Pindó que vem construindo uma experiência de participação coletiva e democrática. À Secretaria de Estado da Cultura - Secult e ao Governo do Estado do Espírito Santo pelo apoio que possibilitou a realização deste trabalho. Às lideranças indígenas que apoiaram a realização deste projeto. Aos agricultores agroecológicos que cultivaram os alimentos saboreados durante a elaboração deste trabalho. A todos que apoiam a diversidade, a liberdade e os modos de vida dos povos tradicionais.
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Marami pa oin
Kowa’e tekoa pygwa kwery tembiapo py ikwai awi wy omombe’u porã yma ramo nhaneramõe’in kwery okaru agwe’i, A’e ko tembi’u regwa ma omombe’u awi nhade reko ete’i, omombe’u iporã wa’e imarãe’yn wa’e a’e anhetengwa. Ko kwatxia ma oetxauka tembi’u ete, a’e kunhagwe omombe’u, Djatxuka Mirim ou Tereza da Silva, Keretxu ou Marilza da Silva, Tatatxin / Joana Carvalho, Para Poty / Eliane Bilhauva, Tatatxin / Florentina de Carvalho, Keretxu Mirim / Patrícia Bilhauva, onhepyrun omombe’u ypy, a’e kunhagwe nhopytynwõ wa’eke ma tekoa Boa Esperança,Três Palmeiras a’e Piraquê Açu pygwa kwery waimingwewe gwi. Há’ekwery omombe’u a’e oetxauka marami pa tembi’u porã odjapo nhadewa’e reko ete’i rupi. Ko kwatia ma oetxauka tembiapo a’e onhepyru nhadewa’e kwery gwi março a’e agosto py 2016 nomombe’upa katuin’in tein oetxauka amongwe enda’i py marami pa tembi’u kunhagwe odjapo nhadereko’i py. Ko kwatia para py ma reikwaa we rã marami pa redjapo awã tembi’u, a’e odja rewe’yn tein redjapo awã wa’e, kowa’e nhãdewa’e reko ete’i rupi gwa. Nhadewa’e kwery pe ma, o ma’en ka’agwyre wy oi kwaa marami pa odjapo awã.
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Apresentação
Para as pessoas da comunidade Guarani que participaram deste projeto, a melhor tradução para Tebi’uEté é Alimento Sagrado, mas todos afirmam que seria possível também traduzir como alimento verdadeiro ou comida de verdade. O sagrado faz parte do cotidiano Guarani, representa seu modo de vida e significa tudo que é verdadeiro. Este caderno de receitas tem o sabor da memória de Djatxuka Mirim ou Tereza da Silva, Keretxu ou Marilza da Silva, Tatatxin Ywa Rete ou Joana Carvalho, Para Poty ou Eliane Bilhauva, Tatatxin ou Florentina de Carvalho e foi idealizado por Keretxu Mirim ou Patrícia Bilhauva mulheres das aldeias Boa Esperança, Três Palmeiras e Piraquê-Açu que escolheram as receitas mais representativas e transmitiram um pouco da tradição alimentar Guarani. A pesquisa foi realizada exclusivamente com estas comunidades, entre março e agosto de 2016, e não representa um estudo em profundidade, mas um recorte do momento em que vivemos, um retrato da memória dessas mulheres, portadoras de saberes originários. Com este livrinho, você vai conhecer um pouco da Cultura Guarani e poderá também usá-lo como um caderno de receitas, com boas ideias para alimentação cotidiana. Algumas receitas são perfeitas para acampamento, porque podem ser feitas até sem panela e são fruto da profunda sabedoria dos povos indígenas, que se expressa na simplicidade e intimidade com a natureza.
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Nhadewa kwery tekoa Espírito Santo pygwa
Espírito py ma oin tekoa Aracruz py norte tentã Vitória gwi, Ymã gwiwe oiko okwapy a’e djurua retãgwi mobyry’i, aynrupi ma djurua kwery eta we, a’e nhadewa’e kwery ma bowy we’i tekoa’i rupi ka’agwy weare ikwai. Nhadewa’e kwery ma ikwai aema ara ka’e 1610 py, nhadewa’e kwery mba’eae ara ka’e norte Rio Piraquê Açu, Santa Cruz a’e tekoa comboios, yy gwatxu Rio doce pewe, ko ywy ma ombodja’o ara ka’e seis Maria rami nhadewa’e kwery pe ymã djurua português ruwitxa gwi, pa’i kwery o men’en uka ara ka’e. Nhadewa’e kwery ete’i ma owãe ara ka’e ymã Espírito Santo py 1960 re, Tatatxin Ywa rete o gwata ypy ara ka’e wentarã kwery rewe ko ayn tekoa rã pewe. Ko ogwataa ma nhaderu omoetxakãa gwi nhade djaryi ogwata awã rami ywy marãe’yn oupity awã ara ka’e, a’egwi djurua kwery gwi oodjepe’i awã rupi. Nhadewa’e kwery Espírito Santo pygwa ma odjetxa nhadewa a’e mbya rami, ikwai tekoa Boa Esperaça,Três Plmeiras, Piraquê Açu, Olho d’agua a’e (Nova Esperança tekoa rã).
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O Povo Guarani no Espírito Santo
As Aldeias Guarani no Espírito Santo estão localizadas no município de Aracruz. Esta região, ao norte da Grande Vitória, concentrou, nos últimos séculos, forte ocupação indígena. Por representar uma fronteira pouco ocupada pelos não índios, tornou-se um território importante para populações nativas, acuadas pelo avanço da colonização. A presença indígena na região era tão marcante que, em 1610, toda terra que vai da margem norte do Rio Piraquê-Açu, em Santa Cruz, até a aldeia de Comboios, próxima ao Rio Doce, foi delimitada como sesmaria indígena pela Coroa Portuguesa, a pedido dos jesuítas. As famílias Gurani que deram origem às aldeias atuais, chegaram ao Espírito Santo no início da década de 1960 ao fim de uma peregrinação liderada por Tatãtxi Ywa Rete, líder religiosa e matriarca que viu neste território condições propícias para se implantar uma aldeia. A migração faz parte do modo de vida Guarani e o oguata (caminhar, andar) em busca da terra sem males é uma ação sagrada, muito importante na tradição Guarani, e uma estratégia para se escapar ao domínio do colonizador. A comunidade Guarani no Espírito Santo se reconhece como nhadewa e também como mbyá, encontram-se distribuídos nas aldeias Boa Esperança, Três Palmeiras, Piraquê Açu, Olho d’Agua e Nova Esperança (esta última, em fase de implantação). 13
Tembi’u nhadewa’e Awatxi, mandi’o mandowi, djedjy, djety, komanda, ei, pira a’e txo’o ka’agwy ma nhadewa’e kwery pe tembi’u ete’i. Amongwe tembi’u ma adjawa’e, ndo’u tema riwei wa’erã, kunhagwe imemby pytã wa’e, a’egwi ogwekore oiko djawe, amongwe tembi’u ma kunumigwe a’e kunhataingwe rembi’u e’yn, nhãdewa’e kwery ndo’ui wa’e ma carangueijo, ugwy wa’e e’yn ramo, porami e’i txamõi Tupã Kwaray. Tembi’u rã ma nhadewa’ekwery, oma’entyn goo yke a’e gwi go ka rupi, oipo’o mawy oetxy tanibu py a’e o momimõi awi. Ymã rupi ma oetxy wy nomoe’ein djuky py, ayn pewe nobodje’apa rei.
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Alimentação Guarani Milho, mandioca, amendoim, palmito, batata-doce, feijão, mel, peixe e carne de caça são reconhecidos pelos Guarani como os alimentos básicos de sua culinária tradicional. Seguem algumas restrições, principalmente, em momentos especiais como gravidez, pós-parto ou período menstrual. Alguns alimentos são inadequados para os jovens, outros devem ser evitados por todo Guarani, como caranguejo, que por não ter sangue, não deve ser comido, segundo o Pajé, Tupã Kwaray. Os alimentos são cultivados, geralmente, em volta das casas e são comidos frescos, assados na brasa ou cozidos. No passado, não usavam açúcar nem sal. Até hoje, dispensam excesso de tempero e se caracterizam pela simplicidade no modo de fazer.
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Awatxi
Milho
Awatxi gwi ma nhadewa’e kwery
O milho é um elemento fundamental
odjapo opaitxa gwa tembi’u.
na cultura guarani, é preparado de
Awatxi ete’i ma omogarai wa’e
diversas maneiras e é a semente
awi, kyringwe’i nhe’en re txamõi
sagrada do nhemongarai, a cerimônia
kwery odjapytxaka awã. awatxi ete’i
na qual as crianças recebem o nome
ma nda’ewei nhamokanhyn awã,
Guarani. No nhemongarai, os pais
nhadewy wa’erã wa’e kwe’i aema.
de cada criança recebem sementes do milho sagrado, awatxi ete’i, para
Nhade reko ete’i ma nhade ypy
cuidar e preservar, demonstrando a
kwery ombo’e agwerupi ayn pewe
importância do milho para o Povo
oikwaa awatxi ete’i regwa, oikwaa awi
Guarani.
imarãe’yn wa’e, a’e wy ma oikwaa awi djatxy onhotyn a’ara, oipo’oa ara
Preservar a Cultura Guarani significa
wy yma gwi we nhadewa’e kwery
também preservar as sementes
ogwata ma wy ogweraa awi ara ka’e,
genuínas do milho tradicional. O
onhotyn awã a’e oipo’o wy omoin
cuidado com o milho faz parte da
porã, onhotyn dju awã.
dimensão religiosa, cultural e política deste grupo étnico. Plantam e colhem milho colorido, de formatos e tamanhos diferentes. Os milhos os acompanham durante as migrações, como parte importante do modo de vida e como ação fundamental para a preservação da diversidade genética e defesa da soberania alimentar.
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MBYTA Mbyta ma djadjapo wa’e awatxiky gwi djaradja a’e djaetxy atapyinpy a’e nomoin djuky,
Awatxi ma djaradja rire djadjao’i dju pegwao rogwe py a’e pakowa rogwepy,
rire ma atãpyin py djadjao’i odjy
Odjy ma ramo nhabodja’o a’e
awã,
dja’u.
A’ewete djadjapo awatxiky djaipo’o ramo’in wa’ekwe kokwe gware gwi ma e’en porã. 18
MBYTA O mbyta é feito exclusivamente com milho verde ralado e assado na brasa. Não leva nenhum tempero, nem sal.
O milho é ralado e colocado em um recipiente forrado com folhas de bananeiras.
É levado ao fogo, com brasas por
Quando está no ponto de cortar,
cima e por baixo.
é só comer.
O Ideal é fazer com milho verde colhido na hora. Fica mais docinho 19
MBYTA Mbyta ma ko ywy a’e djawirupi odjapowa’e, awatxiky oradja wa’ekwe gwi, Tein ma djurua kwery omoe’en djuky py awi amongwe enda rupi. mbyta ma nhade ete’i ayuripigwa. Nhadewa’e mbyta ma djoorami rei odjapo, tein ma nhadewa odjapo arami ma nobodje’apa rei, awatxiky gwi riwe’i tema odjapo, mbyta’i ma odjao’i awatxirogwe’i py odjokwapa’i rire ma oetxy’i dju atapyin py. Awatxi reradja wa’ekwe redjao’i rã ipire kwe py a’e redjokwa porã rã. Etxy tanimbu gwy py Ee ratxa rã!
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PAMONHA A pamonha se tornou um alimento típico da culinária brasileira, presente em diversos estados, feita sempre com milho verde ralado, mas, de acordo com a região, leva diversos ingredientes, podendo ser doce ou salgada. A palavra pamonha é de origem tupi. O mbyta guarani é bem semelhante nos ingredientes e feitio, porém, tradicionalmente, não leva tempero, porque eles gostam do sabor natural do milho fresco. Cada mbyta é enrolado, amarrado na palha de milho e assado na brasa. Rale o milho, coloque na palha e amarre bem. Assar na brasa. Fica uma delícia!
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KA’I REPOTXI Ndatxyi’i djadjapo awã,awatxi djaradja wa’ekwe djaetxy takwa py. Awatxi ku’i nhamoakyn wa’ekwe ma nhamoin takwapy py rire ma djaetxy dju atapyin py, djaetxy kwaa rã djakai awã rami e’yn. Tembi’u takwa py riwe djaetxy, Odja ndadjaiporui,djadjapo djaikoa rupi riwe’i.
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KA’I REPOTI Simples e muito original, é feito com fubá e assado nas varinhas de bambu. O fubá é umedecido, colocado dentro da taquara e assado na cinza, perto da brasa, mas com cuidado para não queimar. É um alimento que dispensa vasilhames, pode ser bastante útil em um acampamento ou caminhada pela floresta.
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RORA
RORA
Rora ma awatxi ku’i gwi a’ewe awi
Também conhecido como fubá
djadjapo awã, yy opupu djawe
suado. Para fazer, ferve-se um
nhamoin awatxi ku’i, a’e rire ma
pouco de água e despeja-se o
djaipywu iku’i pewe, a’e gwi
fubá, mexendo bem, até ficar na
ipiru ete’yn awã.
consistência de farofa, um pouco úmida. Manter no fogo, mexendo
Rora ma tembi’u opa rupi rei pawen
sempre, por uns dez minutos.
o’u wa’e, dja’u ei rewe a’egwi nhamoirun yy re’en rewe a’egwi
O rorá é um alimento cotidiano e
djaityru mba’emõ rykwe’i rewe.
versátil. Pode ser comido com mel e acompanhado com chá ou servido como farofa, em uma refeição salgada.
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AWATXI KU’I
AWATXI KU’I
Awatxiku’i ma djadjapo manduwi
É uma paçoca, feita como milho e
rewe, nhaimbe rire djadjotxo.
amendoim torrados e socados no
Nanhamoe’ein djadjapo awã ma
pilão. Não leva açúcar ou sal. O milho
nhamoin rã odjapy, nhaimbe awã,
maduro é torrado até ficar crocante,
nhaimbe pa rire ma nhamoinrun rã
quando o milho está quase no ponto,
manduwi rewe, a’e agwi ma djadjotxo
mistura-se o amendoim. Depois de
rã angu’a py.
tudo torrado, socar no pilão.
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Kagwidjy Kowa’e tembi’u awatxi gwi odjapo
ratxo’i, kunhagwe ytxo oitxu’u ramo ma
wa’e ma nhãde reko ete’irupi gwa.
endyry e’en a’e gwi kagwidjy omoe’en
Awatxi o mbodjy rire kunhatain
awi.
opamba’e rei o’u en’yn wa’e oitxu’u rã, nhãdereko rupi oi kwaa nhãdewa
Nhadewa’e kwery odjapo arami ma
kwery pe. Kagwidjy odjapo wa’e rã ma
amboae mbya kwery odjapo wa’e
kunhatain o’u ramo ytxo’i kagwidjy
awi, odjapo wa’e awi mandji’o gwi a’e
e’enwe rã, kunhatain kagwidjy odjapo
amboae regwa gwi awi. Nhade djaryi
wa’e rama nda’ewei txo’o a’e opa
Djatxuka Mirim aipoe’i nhadewa’e
mba’erei o’u wa’e.
kwery a’ewe kagwidjy odjapo awã opaitxa gwa regwa tembi’u gwi, aipoe’i
Awatxi ma kunhataingwe oitxu’u rire
awi mandji’o gwi a’e gwi kapi’i ra’yin
ma omoin dju y’apy. Pyawy oitxu’u
gwe gwi a’e amboae regwa’i gwi,
rire ma omoin porã ko’emba pewe.
mba’eko nhãdewa’e kwery oikwaa a’e
Kunhataingwe ytxo oitxu’u ramo ma
odjapo kwaa.
kagwidjy e’en porã rã, ytxo ma pindo
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Kagwidjy Este alimento, feito de milho,
Não apresentamos fotos deste
está diretamente associado às
alimento porque as mulheres Guarani
celebrações e cerimônias sagradas.
que transmitiram o conhecimento
O milho cozido é mastigado por
tradicional e conduziram o conteúdo
uma jovem virgem que seguiu as
deste registro esclareceram também
restrições alimentares consideradas
que o feitio deste alimento não deve
importantes para os Guarani. Não
ser fotografado. Por ser um alimento
comer carne é uma das primeiras
sagrado muito especial, os Guarani
condições citadas para as jovens
consideram importante não fotografar.
serem adequadas para esta função. A tradição de fazer alimentos O milho é mastigado pelas meninas
fermentados pela saliva está presente
e cuspido em um recipiente. Será
também em outras nações indígenas,
guardado de um dia para outro, para
podendo ser feita com a mandioca ou
fermentar. Recomenda-se também
com outros alimentos. Dona Tereza,
que as meninas tenham comido ytxó,
ou Djatxuka Mirim, afirmou que os
uma larva que vive nos troncos de
Guarani podem fazer kagwidj com
palmeiras que foram cortadas. Comer
diversos alimentos, citou primeiro a
o ytxó é importante para a saliva ficar
mandioca, depois o arroz, mas afirmou
docinha e o kagwidi também.
que pode ser com outros porque “índio sabe muita coisa”.
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MANDJI’O
MANDIOCA
Mandji’o ma nhade kwery rembi’u,a’e
A mandioca é a base do alimento
djawi ara re dja’u wa’e, a’e we djaetxy,
cotidiano, a maneira mais comum
a’egwi nhamomimõi awi. Djaipo’o
de fazer é simplesmente assada
ramo’in wa’ekwe ma a’ewewe.
ou cozida. O importante é que seja fresca, de preferência, colhida na hora.
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BEDJU
BEIJU
Bedju ma djadjapo mandji’o ku’i gwi,
Pode ser feito com polvilho ou com
inhakyn’in teri rewe djaradja wa’ekwe
mandioca ralada.
gwi. O polvilho de mandioca (polvilho Mandji’o ku’i re’en akyngwe nhadepo
doce) deve ser umedecido, esfarelado
py nhamotxarambi pa odjy pewe.
com as mãos e assados em chapa
Yrupen dadjaiporutxei ramo
quente. Não precisa de peneira, as
nda’ewe’yin, ndjaiporu rã kutxarakwa.
bolinhas são amassadas com o garfo.
Kowa’e ma tembi’u pawen rei oikuaa
Este é um alimento popular no
wa’e Espírito Santo pygwa kwery,
Espírito Santo e até um passado
oikwaa bedju rami nhadewa’e
recente era nomeado apenas como
kwery rami oikwaa amboae’irami
beiju, guardando a semelhança com
omombe’u, tenta rupi ma tapioca e’i,
a origem Guarani. Nos últimos anos,
porami awi nordeste rupi tein ma
retornou aos centros urbanos com
tembi’u bedju ae.
nome de tapioca, palavra usada no Nordeste, mas trata-se do mesmo
Nhadewa’e kwery ma odjapo awi
alimento.
bedju mandji’o gwi oradja rire oetxy awi gwapepo’i py.
Os Guarani fazem também beiju com a mandioca fresca, basta ralar e assar na chapa quente.
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Trigo arina Djurua kwery tembi’u ogweru wa’e kwe gwi ma, oin arina, are rire ko ywy Brasil py onhotyn ypy ara ka’e, a’e wy ma nhadewa’e kwery oikwaa wy, oiporu awi, arina ma djaetxy awi tanibu py atapyin py a’egwi odjapo kawure. Ayn gwi ma ombotxyryry awi nhady py. Nhambotxyryry ma nhadewa’e rekorupi gwa e’yn, nhadewa’e reko’i py ma djaetxy riwe’i.
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TRIGO Entre os alimentos trazidos pelos colonizadores, o trigo demorou a se difundir no Brasil, mas nos últimos séculos tornou-se muito comum e cotidiano e sua utilização se estendeu aos Guarani. Incorporado ao modo de vida nativo, o trigo passou a ser assado na cinza da fogueira ou em palitinhos de bambu. Atualmente, também costuma ser frito, embora este modo de fazer não seja tradicional, é bastante comum no cotidiano.
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KAWURE
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Kawure ma nhanhewanga rewe
nhamboapu’a takwa’i re, a’erire ma
djadjapo wa’e, Kawure djadjapo awã
djaetxy atapyin raku py, tanimbu
ma djaiporu arina yy rewe,nhabodje’a’i
raku py, a’ewe awi mbodjape’i awi
a’e nhamou’un awi.
djadjapo awã.
Mbodjape djadjapoa rami rire ma
Djaetxy awi tanimbu raku py.
KAWURE Parece brincadeira de criança. É
Assar pertinho da brasa ou no meio
simples e divertido fazer kawure.
das cinzas da fogueira. Parece um
Basta preparar uma massa de trigo
pãozinho no espeto. Esta mesma
e água, na consistência de massa
massa pode ser feita em forma de
de pão, dividir em pequenas partes
pão e assada diretamente nas cinzas.
e enrolar em varetas de bambu.
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REWIRO
REWIRO
Rewiro ma tembi’u awi, djadjapo arina
É um alimento de trigo, bem rápido de
gwi, ndatxyi djadjapo awã, nhãdewa
fazer, que os Guarani usam bastante
kwery odjapo ara nhawõ re. Arina ma
no cotidiano. O trigo é umedecido
nhamoanky yy py nhabodje’a porã
com um pouco de água, até ficar com
a’ewe pewe mbodjape odjapo a rami.
uma consistência mais seca que de
nhabodjy awã ma nhabo txarambi
uma massa de pão. Deve ficar um
pa’i odjapy, a’e wy nhamoi awi nhady
pouco úmido e um pouco esfarelado.
a’e djaipywu porã tata py oin rewe,
Esta farofa será levada ao fogo em
odjy pewe.
uma panela com um pouquinho de óleo, mexendo bem por alguns minutos.
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TXIPA
TXIPA
Txipa ma djadjapo arina gwi,
A massa é também somente com
nhabodje’a yy rewe, nhambodje’a
trigo e água, na consistência de
porã rire ma nhabope, a’e rire ma
massa de pão. Habilidosos artesãos,
nhamboapu’a porã’in nhande
os Guarani fazem o txipa com arte e
popy, a’ewe awi djaetxy awã, a’egwi
precisão. Várias bolinhas, do mesmo
nhambotxyryry awã.
tamanho, são feitas com esta massa, que será esticada, em forma de
Ayn pewe nhadewa’e kwery
disco e assada ou frita. Atualmente,
onhemogaru txipa gwi tekoa rupi,
o txipa é um alimento tradicional muito
opa rupi odjedjou arina. owendea rupi
comum no cotidiano nas aldeias.
ndaepyi’i ramo odjedjou we’i.
A facilidade em encontrar trigo em
arina ma oparupi oiko.
qualquer comércio, por preços mais acessíveis que outros ingredientes tradicionais, explicam esta tendência.
Assados
Fritos
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PAKOWA Pakowa ma i’adju ramo dja’utxea rami
ipire nhamou’um, nhamoirun txo’o
dja’u nhabodjyxe ramo a’ewe awi,
ka’agwy’i rewe awi. Pakowa ma idjaky
idjaky ramo a’ewe awi, nhamoinrun
wa’e nhamomimõi ipire rewe rire ma
awi pira a’e txo’o ka’agwy’i rewe,
djaipiro a’e nhamou’un porã pewe.
pakowa aky ma nhamomimõi ipire rewe, odjy rire ma nhaboi
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BANANA Quando madura, é consumida crua
de carne. Tradicionalmente, era
ou cozida. Quando verde, pode
comida com carne de caça. A banana
ser a base para outros alimentos
verde é cozida com casca, depois,
da refeição, substituindo o arroz.
descascada e socada, até formar um
Atualmente, costuma ser feita para
creme consistente.
acompanhar peixe ou qualquer tipo
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ANDAI, DJEDJY, A’E TADJA Kowa’e ma’entyn regwa ma iporã tembi’u nhadewa’e kwery onhotyn wa’e Nhade kwery odjapo kwaa oetxy’i omomimõi’i awi yy aku py. Nhadewa reko py ma amongwe tembi’u nda’ewei pãwen rei o’u awã, kunhagwe ipuru’a wa’e a’e kunumigwe, kunhataingwe. Nhadewa‘e o’u e’yn wa’erã ma caranguejo,a’e pira odjeporawo wa’e kwe awi, Andai a’e djety a’e opaitxagwa rei nda’ewei o’u awã.
Andai kuarapepen ma nda’ewei
Nhadewa’e kwery ma oikwaa djety e’en
kunhataingwe imemby e’yn teri wa’e
wa’e djoegwa e’yn wa’e amongwe wa’e
o’u awã, andai ma kunhataingwe o’u
regwa ma kunumigue a’e kunhataingwe
ri ramo odjetxawai rã imemby odjaua
pe do’ukai araka’e, nhade djaryi kwery
py.
ma omombe’u pa katuin’in dja’u parei awã e’yn, nhadeapo wai rã nhaderetxa re djaetxa porã awã e’yn, opa py nhade apo wairã, waimigwe katu a’e we o’u awã djety opaitxa gwa regwa a’e kwery
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pe ndo djapowairã mba’ewe rei.
ABÓBORA, BATATA-DOCE E INHAME Estas plantas estão entre os importantes alimentos cultivados tradicionalmente pelos Guarani. O modo de fazer não tem mistério: assados na fogueira ou cozidos com água. Na cultura Guarani, alguns alimentos são restritos para determinados grupos ou fases da vida, como gestantes ou jovens, por exemplo. Outros alimentos são considerados inadequados para qualquer pessoa Guarani, como caranguejo e alguns tipos de peixe. A abóbora e a batata-doce tem restrições específicas.
Tem um tipo específico de abóbora
Os Guarani conhecem batatas doces
que não deve ser comido pelas
de diversas cores e conservam uma
mulheres Guarani que ainda podem
restrição específica para a batata
ter filhos. Segundo a tradição, pode
roxa, que não deve ser comida por
provocar problemas na hora do
jovens, pois as pessoas mais antigas
nascimento do bebê. Não é qualquer
ensinaram que poderia provocar
tipo de abóbora, mas somente as
cegueira. Mas, segundo a tradição, este
kuarapepen, que não tem tradução
efeito é lento, portanto, as pessoas
para o português.
mais velhas podem comer a batata roxa sem riscos.
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HU’ITXIN DJOPARA KOMANDA AWATXI TXIN
FEIJÃO COM MILHO BRANCO
Ko tembi’u, Hu’itxin ma nhabodjopara
Alimento bem forte, o feijão e o milho
awatxi rewe. Nhabodjy mokõiwe a’e
são cozidos juntos e comidos com um
dja’u ykwe rewe, ayngwa kwery ma
pouquinho de caldo. Atualmente, é
omoin awi djuky.
temperado com um pouquinho de sal.
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REFERÊNCIAS CICCARONE, Celeste. Um povo que caminha: notas sobre movimentações territoriais Guarani em tempos históricos e neocoloniais. Dimensões, Vitória, vol. 26, 2011, p. 136-151. MEDEIROS, Rogério. Espírito Santo: maldição ecológica. ABS Editora, 1983. LOUREIRO, Klítia. A instalação da empresa Aracruz Celulose S/A e a “moderna” ocupação das terras indígenas Tupiniquim e Guarani Mbya. Vitória: Revista Ágora, 2006, p. 1-32 TEAO, Kalna Mareto; LOUREIRO, Klítia. História dos Índios do Espírito Santo. Vitória, ES: Ed. do autor, 2010.
NOTA DOS TRADUTORES A língua Guarani no Espírito Santo tem a grafia diferente de outros estados do Sudeste e do Sul do Brasil. Este livreto foi feito dentro das convenções ortográficas que têm sido usadas pelos Guarani no Espírito Santo.
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REALIZAÇÃO
APOIO