Iniciativa ICE Instituto de Cidadania Empresarial Rua Eng. Antônio Jovino, nº 220 cj. 11 05727-220 São Paulo SP Telefax: (11) 3749-9603 http://www.ice.org.br ice@ice.org.br
Presidência Executiva Renata de Camargo Nascimento Gerente de Projetos Maria Célia Tanus Barletta
Coordenação Geral Projeto Casulo Wagner Luciano da Silva
Ilustrações Paulo Brito Silva (Paulo Urso) Logo Observatório, pgs: 27,35, 40, 44, 49, 63,
Coordenação de Desenvolvimento Comunitário Guilherme do Amaral Carneiro
79, 85, 95, 99, 104, 111, 125.
Alex Rodrigues Diniz (La Bamba) Pgs: 22, 31, 58, 67, 114, 120, 129, 133, 136.
Coordenação Artístico Cultural Marta Priolli Coordenação de Desenvolvimento Institucional Luis Fernando Guggenberger
Tiago de Oliveira (Careta) Pgs: 19, 74, 79, 90, 141
Fotos Projeto Casulo Meta Ambiental - Pg 80
Equipe Realização Projeto Casulo Rua Paulo Bourrol, 100 05686-050 São Paulo SP Telefax (11) 3578-0506 / 3758-0536 http://www.projetocasulo.org.br projetocasulo@projetocasulo.org.br
Assessoria Trattos Consultoria S/C Ltda Rua Padre Guilherme Pompeu, 01 Centro 06500-000 Santana do Parnaíba - SP
Autoria e Edição de texto Alexandre Isaac Colaboração em Textos Guilherme do Amaral Carneiro Vanessa Egle Leitura Crítica e Revisão Eder dos Santos Camargo Edição de Arte e Diagramação Mariano Maudet Bergel
Jovens Pesquisadores Diana de Souza Edson Salvino da Costa Francemildo Pessoa da Silva Genival dos Santos Piauí Juliana dos Santos Piauí Marciana Balduíno de Souza Renato dos Reis Nascimento Sidney Cosme C. Faria Verônica Santos Gomes Viviane de Paula Gonzaga
Que pode a nossa pesquisa? Não pode nada. Conta só o que viu. Não pode mudar o que viu. A pesquisa, entretanto, ajuda a ver, a rever, a multiver o Real nu, cru, belo, triste. Desvenda o Panorama, espalha, universaliza as imagens e informações que captou. Nos obriga a sentir, divulgar, a criticamente julgar. A querer bem, ou protestar. A desejar mudanças. A se mobilizar. Adaptado do poema de Carlos Drummond de Andrade
SUMÁRIO
PREFÁCIO - Maria do Carmo Brant Carvalho .................................................................................... 3 ICE – INSTITUTO DE CIDADANIA EMPRESARIAL .................................................................................. 5 PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO DO REAL PARQUE E JARDIM PANORAMA - PROJETO CASULO ........................................................................................ 6 OBSERVATÓRIO DE JOVENS – REAL PANORAMA DA COMUNIDADE ................................................ 8 POR QUE UM OBSERVATÓRIO DE PESQUISAS? .................................................................................. 9 NOSSO “OBSERVATÓRIO DE JOVENS” .............................................................................................. 10 APRENDENDO E ENSINANDO.............................................................................................................. 11 PENSANDO AS JUVENTUDES ..............................................................................................................15 UMA EXPERIÊNCIA DO OBSERVATÓRIO ..................................................................................................18 A VOZ DOS OBSERVADORES ..............................................................................................................19
ENCONTROS COM JOVENS 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º 13º 14º 15º 16º 17º 18º 19º 20º 21º 22º 23º 24º 25º
VIVENDO E APRENDENDO A CONVIVER ...................................................................................... 22 VIVER UNS COM OS OUTROS, EM VEZ DE UNS CONTRA OS OUTROS ...................................... 27 DIVERSIDADE, IGUALDADES E DIFERENÇAS .................................................................................. 31 NOSSO PONTO DE ENCONTRO .................................................................................................... 35 VIVER EM SOCIEDADE, MOVIMENTO CIDADANIA ........................................................................ 40 VIVER EM SOCIEDADE, MOVIMENTO CIDADANIA II .................................................................... 44 PANORAMA, DIREITOS E RESPONSABILIDADES ............................................................................ 49 ÉTICA, A MORADA HUMANA ........................................................................................................ 58 QUANDO AS ANDORINHAS FAZEM O VERÃO ............................................................................ 63 HOMEM, ANIMAL POLÍTICO .......................................................................................................... 67 TRABALHO: PRAZER OU TORTURA? .............................................................................................. 74 O AMBIENTE INTEIRO .................................................................................................................... 79 SOCIEDADE DO CONSUMO, CAPITAL TOTAL ................................................................................ 85 O PAPEL DA MÍDIA .......................................................................................................................... 90 CONHECIMENTO CIENTÍFICO E SENSO COMUM ............................................................................ 95 COMEÇANDO A PESQUISAÇÃO .................................................................................................... 99 PESQUISAÇÃO II ............................................................................................................................ 104 PESQUISAÇÃO III – Entrevistando chefes de domicílios ...................................................................... 111 PESQUISAÇÃO IV – Entrevistando jovens, adultos e idosos ................................................................ 114 PESQUISAÇÃO V – A opinião dos jovens ........................................................................................ 120 PESQUISAÇÃO VI – Uma pesquisa qualitativa sobre a história do lugar .............................................. 125 PESQUISAÇÃO VII – Conhecendo as instituições locais ...................................................................... 129 PROJETOS E INTERVENÇÕES NO TERRITÓRIO ............................................................................ 133 PROJETOS E INTERVENÇÕES NO TERRITÓRIO II .......................................................................... 136 O FUTURO POR FAZER .................................................................................................................. 141
IDÉIAS DE INTERVENÇÃO .......................................................................................................................... 144 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................ 149
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PREFÁCIO
O texto que o leitor aqui recebe possui várias preciosidades. Uma primeira diz respeito à sistematização de metodologia voltada à formação de jovens. Temos muito poucos estudos publicados que sistematizem conteúdos e metodologias de formação para este segmento contendo intencionalidades, valores, densidade e cuidado formativo. Falamos muito na atualidade sobre os jovens, sobretudo daqueles marcados pelas vulnerabilidades da vida nas periferias das grandes cidades com pouquíssimas oportunidades de ampliação de seu universo cultural e convivência com a cidade. Falamos em priorizar os jovens, mas não sabemos no mais das vezes como dialogar e oportunizar a eles projetos de sentido. Os jovens carecem de um processo formativo cujo alvo central é a leitura do mundo. Esta é outra preciosidade da opção formativa aqui apresentada. O conjunto de oficinas ofertadas aos jovens constituem-se em chaves para leitura e ampliação da compreensão de mundo, em um processo onde valores éticos, estéticos e o conhecimento são um meio para compreender o mundo e agir; produz novas textualidades em busca de diferentes referências para dialogar e viver no e com o mundo e a humanidade. Leitura do mundo começa no próprio mundo - lugar de pertença para experienciar e percorrer o mundo cidade, o mundo humanidade. Esta é outra preciosidade. Os jovens pesquisam seu bairro, conhecem seus moradores, identificam problemas, mas também fortalezas e potenciais descobertos na tenacidade do olhar investigativo. Leitura do mundo não é só contemplação, interage pela ação no mundo lugar - cidade - humanidade. O jovem, e todos nós, ganhamos neste processo de leiturAção cumulativa, a apreensão de nossa própria humanidade.
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Este ganho de humanidade se revela em exercícios de cidadania ativa e, o que é fundamental, ganhos de irmandade/solidariedade para viver no mundo e com o mundo. É este o caminho metodológico formativo que os jovens, centro desta ação comunicam. Ler o mundo convoca em nós um conjunto de competências e habilidades: atribuir sentido, buscar e analisar informações, levantar hipótese, desenhar estratégias, estabelecer relações... Promove o desejo de mudança e surgimento de idéias de soluções para problemas concretos. Há uma outra preciosidade também da maior importância: a qualificação dos jovens para a vida pública e para a vida profissional. Se falamos em desenvolvimento da empregabilidade dos jovens, este é sem dúvida um plus que os jovens ganharam. Também se qualificaram como pesquisadores sociais. É assim que a metodologia aqui apresentada é uma preciosidade.
Maria do Carmo Brant Carvalho Doutora em Serviço Social pela PUC-SP. Pós-doutora em Serviço Social Aplicado pela École des Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris. Professora titular no programa de pós-graduação em Serviço Social – PUC-SP. Coordenadora Geral do CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária.
ICE - INSTITUTO DE CIDADANIA EMPRESARIAL
O ICE - Instituto de Cidadania Empresarial é uma associação civil sem fins econômicos,
sediada em São Paulo, criada em 1999 por um grupo de empresários paulistas a partir da constatação de que deveriam participar mais ativamente na busca de soluções para o agravamento das desigualdades sociais no Brasil. A experiência exitosa do ICE de São Paulo leva a criação, em 2001, do ICE Maranhão. O ICE utiliza-se do potencial de articulação inter-setorial de seus associados para, em parceria com o Poder Público e com a sociedade civil, desenvolver programas de desenvolvimento comunitário inovadores e emancipatórios, por meio de metodologias de ação multiplicáveis, otimizando recursos e possibilitando impacto social positivo.
Missão Conscientizar a classe empresarial e provocar seu envolvimento em projetos e iniciativas do Terceiro Setor.
Visão Ser referência em práticas sociais e influenciar, por meio de projetos e programas bem sucedidos, a formulação, execução e monitoramento de políticas públicas.
Diretrizes de Atuação Mobilização Empresarial Sensibilização e envolvimento de empresários e empresas, por meio de formação conceitual e mobilização de recursos e competências. Articulação Intersetorial Fortalecimento de estratégias de promoção do desenvolvimento comunitário por meio de articulação política, parcerias e relações institucionais. Com este objetivo, o ICE integra importantes redes nacionais e internacionais, como a Rede América e a Rede Social SP.
DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO FOCO: EMPREENDEDORISMO JOVEM
MOBILIZAÇÃO EMPRESARIAL
PROGRAMAS
Programas Apoio e operação direta de projetos e programas de desenvolvimento comunitário, com foco no empreendedorismo jovem, sendo a principal iniciativa o Programa de Desenvolvimento Comunitário do Real Parque e Jardim Panorama - Projeto Casulo.
ARTICULAÇÃO INTERSETORIAL
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PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO DO REAL PARQUE E JARDIM PANORAMA - PROJETO CASULO
Em 15 de abril de 2003, o Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), em parceria com a
Prefeitura de São Paulo e com vinte empresas, fundações e institutos, inaugurou o Programa de Desenvolvimento Comunitário do Real Parque e Jardim Panorama - Projeto Casulo, no bairro do Real Parque, zona sudoeste da cidade de São Paulo. A atuação do Projeto Casulo está focada na educação e na cultura, entendidas em seu sentido ampliado, e nos jovens, em virtude da escassez de políticas públicas que os contemplem e da falta de perspectivas que a sociedade atualmente lhes oferece, e por entender que seus anseios, propostas e protagonismo podem contribuir para transformação da sociedade.
Missão Contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população do Real Parque e Jardim Panorama, por meio de um processo de desenvolvimento comunitário que prioriza o jovem como agente estratégico de transformação social.
Público Atendido São atendidos 540 jovens, com idade entre 12 e 24 anos, em situação de vulnerabilidade social. O Projeto Casulo prioriza os jovens como agentes de transformação social e apóia projetos por eles propostos, incentivando sua mobilização, autonomia e ação comunitária.
Programas e atividades culturais O Projeto Casulo aposta no jovem como indutor de mobilização e transformação social. Para isso, é fundamental que ele domine os códigos da modernidade e adquira, além de maior escolaridade, outras habilidades no plano da sociabilidade, da ampliação de seu repertório cultural, da participação na vida pública e da fluência comunicativa.
Oficinas Culturais O Projeto Casulo oferece Oficinas Culturais de Música, Teatro, Danças Brasileiras, Artes Plásticas e Hip-Hop, com o objetivo ampliar o universo cultural e informacional dos adolescentes e jovens, estimulando a criatividade e aprofundando as competências estéticas e artísticas. Também são realizadas visitas a espaços culturais, como museus, teatros e cinemas.
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Espaço Multimídia O Espaço Multimídia do Projeto Casulo oferece oficinas de som, imagem, informática e edição de textos, possibilitando aos jovens participantes a construção de uma visão crítica sobre os meios de comunicação e fortalecendo-os para sua integração no mundo do trabalho.
Programa de Formação de Jovens Professores O Programa de Formação de Jovens Professores visa garantir a formação universitária de jovens em situação de vulnerabilidade social, no curso normal superior de Educação. O Programa garante 50% de bolsa de estudos para os 20 jovens participantes e é realizado pelo Instituto Superior de Educação de São Paulo Singularidades. Os jovens participantes são oriundos dos outros Programas e atividades desenvolvidos pelo Projeto Casulo e, em contrapartida, atuam em algumas áreas do Projeto Casulo, como a Biblioteca Comunitária, que possui um acervo de cerca de 2.000 livros e que atende toda a comunidade.
Programa Jovens Urbanos O Programa “Jovens Urbanos” tem como objetivo a formação de jovens para a implantação de empreendimentos sociais e de geração de renda, partindo da crença de que a população juvenil é capaz de contribuir para o desenvolvimento comunitário. São realizadas oficinas educativas, culturais e tecnológicas, orientando-os na elaboração de projetos de intervenção social que possam ser implementados na comunidade. O programa garante aos jovens a ampliação de sua escolaridade, o desenvolvimento de competências e habilidades para a vida pública e pessoal, a ampliação do repertório cultural e social e o acesso qualificado ao novo mundo do trabalho, promovendo ainda a realização de projetos de melhoria de qualidade de vida nas comunidades atendidas.
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Nada é impossível de Mudar Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar. Bertold Brecht
OBSERVATÓRIO DE JOVENS REAL PANORAMA DA COMUNIDADE
A proposta do Projeto Casulo coloca os jovens no centro da ação e lhes atribui um papel
estratégico no processo de desenvolvimento comunitário pretendido. A mobilização e o empoderamento destes jovens requerem, entre muitas outras coisas, o aprofundamento de sua compreensão da realidade em que vivem, em seus múltiplos e interdependentes aspectos.
Nasce assim o Observatório de Jovens, cujo foco central é a capacitação de um grupo de jovens com o objetivo de conhecer e compreender melhor o mundo. O Observatório de Jovens pretende formar jovens pesquisadores que possam olhar para suas comunidades, “fazer perguntas”, analisar informações e propor ações de intervenção, visando à transformação e à melhoria da qualidade de vida dos moradores do Jardim Panorama e Real Parque, zona sudoeste da cidade de São Paulo. O Observatório de Jovens se propõe a produzir conhecimento sobre uma determinada realidade a partir de um grupo de jovens que vivem cotidianamente essa mesma realidade, se beneficiando diretamente das informações produzidas, revelando os problemas e as riquezas da comunidade, intensificando o potencial criativo de intervenção sobre o vivido e investindo na participação juvenil. É importante fazer um agradecimento especial ao CEASM - Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré, no Rio de Janeiro, cuja experiência de Observatório Social inspirou a criação do Observatório de Jovens no Projeto Casulo. Visitamos o CEASM em meados de 2003 e ficamos impressionados e encantados com as falas de alguns dos jovens que atuavam na produção de conhecimento sobre o Complexo da Maré. Suas falas tinham consistência e demonstravam uma enorme apropriação e compreensão da realidade em que estavam inseridos e sobre a qual desejavam intervir. Naquela ocasião, estava começando um processo de capacitação de jovens no Real Parque para a realização de uma Pesquisa Social Participante que iria conhecer melhor a comunidade para subsidiar futuras ações, e que se desdobrou no Observatório de Jovens. A experiência do CEASM reforçou nossa crença na necessidade de investir na formação de grupos de jovens que tivessem um novo olhar sobre a realidade, um olhar crítico-investigativo capaz de provocar sua inquietação em relação aos problemas, riquezas e demandas de suas comunidades.
Fazer pesquisa é como se cada dia fosse único e especial. Novas vidas e novos rostos, novas histórias e novos conhecimentos. Viviane de Paula, 22
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Nosso desejo é, acima de tudo, fazer com que os jovens comecem a olhar para o que é aparentemente natural e corriqueiro e enxerguem o que lá se esconde. Desejamos despertar sua inquietação e a vontade de transformar o que deve ser transformado. Esperamos poder apoiá-los e acompanhá-los nesse caminho. Maria Célia Tanus Barletta
POR QUE UM OBSERVATÓRIO DE PESQUISAS? É preciso despertar o sentimento de “luta” por uma vida melhor e tentar aos poucos ir mudando o Observatório de Jovens é uma iniciativa do Projeto Casulo e pretende desmistificar a idéia quadro de nossa comunidade, por meio do conhecimento de que “pesquisa” é algo burocrático, puramente escolar e que, portanto, não constitui matéria de e da informação. interesse dos jovens. Ao contrário, por entender a fase da infância e juventude como um momento
O
marcante de exploração e experimentação, a proposta do Observatório é transformar dúvidas e indagações cotidianas em algo que ajude a produzir e compreender os sentidos e significados do mundo físico e social.
Diana de Souza, 19
O homem vive alienado, passa pela vida e não consegue explicar ou ver sentido para a maioria das coisas. Acende a luz e não sabe explicar como funciona; manda um e-mail e não sabe como isso acontece. Vê uma criança em situação de rua e um idoso catando papelão, mas não sabe explicar tais fenômenos sociais. O objetivo do Observatório é desenvolver um olhar crítico e investigativo nos jovens, fazer com que eles se perguntem porque, e como determinadas coisas acontecem. Trata-se de inquietar-se constantemente “fazendo perguntas pro mundo”, buscando conhecer melhor o funcionamento das coisas, promovendo aprendizagens, possibilitando o prazer de descobrir e compreender, e ampliando nossas possibilidades de intervenções. Além do mais, a vida cotidiana faz de nós, quer queiramos, quer não, grandes consumidores de pesquisas. Com efeito, é provável que não se passe um dia sem que nos sejam apresentados os resultados de uma pesquisa: nos jornais, na TV, na propaganda, nos discursos dos políticos, etc. Nossa sociedade se tornou uma sociedade da informação. Uma boa quantidade dessas informações provém dos resultados de pesquisas. Quantas vezes na vida escutamos: “a pesquisa demonstrou que...” Enfim, aprender sobre pesquisa nos ajuda a ser consumidores conscientes, bem como eventuais produtores de pesquisa. Nem todo mundo se torna um pesquisador profissional, mas qualquer que seja nosso campo de atividade, um dia ou outro, vamos ter que preparar um questionário, um formulário ou uma pesquisa de opinião, conduzir uma entrevista, observar comportamentos, tirar conclusões, medir os efeitos de uma intervenção, interpretar dados e tabelas, fazer uma análise de uma informação, texto ou notícia. Em nosso dia-a-dia, existem ocasiões em que podemos utilizar, com vantagem, nossa competência em pesquisa. De fato, cada vez que um problema se apresenta e que desejamos resolvê-lo de modo eficaz, devemos avaliar sua importância, recolher as informações necessárias e considerar as diversas soluções possíveis para, finalmente, tomar a decisão mais apropriada.
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NOSSO “OBSERVATÓRIO DE JOVENS” É como olhar de dentro pra dentro... conhecer a comunidade, sentir que aqui há pessoas que têm rosto, idéias e ideais, sabedoria procedimento de formação dos jovens tem o formato de Oficinas pedagógicas que e traços que denunciam um pressupõem uma aprendizagem mais efetiva; proximidade entre educadores e jovens; trabalho em pouco de suas histórias.
O
Juliana Piauí, 19
grupo; experimentação e exploração; produto final a cada encontro. São vinte e cinco Oficinas pedagógicas divididas em três grandes processos:
1 Integração, sensibilização e formação de grupo, com 4 oficinas 2 Leitura de mundo, com 18 oficinas 3 Intervenções no território, com 3 oficinas
O conjunto de oficinas que compõem o processo “Integração, sensibilização e formação de grupo”, visa inserir os jovens num conjunto de experiências grupais que proporcionem oportunidades de convivência com as diferenças e desenvolva competências e habilidades para agir em sintonia com o outro, aprendendo a concordar e discordar, a decidir em grupo, a valorizar o saber social e a cuidar do lugar em que vivemos. O conjunto de oficinas de “Leitura de mundo” pretende oferecer um currículo que proporcione aos educadores e jovens “chaves” para leitura e ampliação da compreensão de mundo, em um processo educativo onde o conhecimento é o meio para compreender o mundo e agir. Entendendo que ler o mundo encontra-se relacionado não só a aprender a ler e escrever, mas a posicionar-se criticamente com relação a conceitos, valores e normas socioculturais estabelecidos e vivenciados na sociedade. Essas oficinas pretendem proporcionar aos jovens e educadores novas formas de ler e escrever a realidade, produzindo novas textualidades em busca de diferentes referências para enfrentar e viver nesse mundo. As oficinas são desenvolvidas a partir das convicções de que é preciso aprender a ler o mundo, a ler nas entrelinhas, a receber criticamente as mensagens veiculadas, analisando-as, comparando-as, percebendo os diferentes recursos de linguagem, as estruturas dos textos ou mensagens e suas diversas intenções e formas. Nesse processo os jovens irão refletir, juntamente com você, sobre alguns conceitos, normas e valores expressos na sociedade (cidadania, trabalho, consumo, meio ambiente, mídia, política, etc.), e realizarão algumas pesquisas com diferentes públicos em suas comunidades. O conjunto de oficinas “Intervenções no território” expressa a idéia de que é preciso ler e interpretar o mundo para propor e implementar projetos e idéias que transformem a nossa realidade desigual e injusta. Os projetos e idéias elaborados pelos jovens, a partir das certezas e dúvidas provenientes das oficinas de “Integração, sensibilização e formação de grupo” e de “Leitura de mundo”, “são o futuro a fazer, um amanhã a concretizar, um possível a transformar em real, uma idéia a transformar em ato”.
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APRENDENDO E ENSINANDO....novas lições, nas comunidades, nas escolas, nas Ong’s
A aprendizagem é um processo ininterrupto que se inicia com o nascimento e que se estende
por toda a vida. Sempre existe a possibilidade de aprender coisas novas, desde que tenhamos vontade e motivação para aprender e que, principalmente, existam condições facilitadoras para o processo de aprendizagem. Cotidianamente estamos aprendendo ao ouvir as outras pessoas, dialogando ou discutindo, entrando em contato com o conhecimento construído pela humanidade e com práticas culturais e valores expressos na sociedade.
As novas aprendizagens ocorrem na combinação entre aquilo que se apresenta como um novo saber, e os conceitos, idéias e conhecimentos já introjetados ao longo de nossa história individual e coletiva. Antes de incorporar ou rejeitar novas idéias, a pessoa faz um confronto entre suas concepções e aquelas apresentadas pelo mundo. Nesse sentido, ao compartilhar uma nova idéia ou conceito com os jovens, o educador deve considerar as opiniões e hipóteses já expressas nas falas e nas ações dos educandos. Para perguntar, pesquisar, “Aprender, sob qualquer forma que seja, é sempre aprender em um momento de minha história conhecer, é necessário aprender - mas também em um momento de outras histórias, as da humanidade, da sociedade dentro da qual a conviver com a curiosidade, vivo, do espaço no qual aprendo, das pessoas que são encarregadas de me ensinar. (...) o deparar-se com o inusitado, Aprendemos porque existem ocasiões de aprender, em um momento onde se é mais ou menos a capacidade de assombrar-se. disponível para aproveitar essas ocasiões; mas, às vezes, a ocasião não se reapresentará: aprender Madalena Freire é então uma obrigação ou uma oportunidade que se deixou passar”. Charlot (1998) Com base nessas concepções e princípios você pode organizar os encontros e as oficinas pedagógicas, de maneira a proporcionar que todos aprendam e, acima de tudo, aprendam a aprender, adquirindo confiança e autonomia progressiva ao entrar em contato com novos conhecimentos, e com as diversas oportunidades de aprendizagem colocadas a disposição do grupo. Na condição de educador e facilitador para o desenvolvimento das oficinas pedagógicas devese considerar ainda que: Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos, criticidade, postura ética, humildade e tolerância. Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação. É preciso procurar descobrir o que o jovem é, o que sabe, o que traz consigo, o que ele se mostra
capaz de fazer. Como educador que se propõe a formar jovens na perspectiva de que eles formem um grupo, se apropriem de fatos sociais locais e globais, sejam críticos com relação a conceitos, valores e normais sociais, além de propor intervenções locais com vistas à melhoria da qualidade de vida da coletividade, é preciso ainda:
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• Desenvolver a convicção de que a mudança é possível, de que por mais difícil que pareça é pela ação individual e coletiva que a realidade se transforma. • Iniciar um processo de reflexão voltado para a identificação não só de dificuldades, mas também de riquezas e potencialidades de mudança presentes na realidade social. • Perceber que a maior riqueza de um lugar é o seu povo e o ambiente, por isso é importante conhecê-los melhor, saber o que pensam as pessoas, descobrir sua força, seus talentos, seus sonhos, reconhecer os espaços e suas potencialidades. São as pessoas que lá vivem e trabalham que podem informar com precisão o que falta e o que precisa ser mudado. É conversando com elas, conhecendo suas idéias sobre a realidade local que podemos reavivar a participação comunitária. • Promover a mobilização e o engajamento dos jovens em um processo permanente de informação-reflexão-ação. A lição sabemos de cor Só nos resta aprender. Beto Guedes e Ronaldo Bastos
Essencialmente, todas as oficinas dos três processos, devem ser desenvolvidas no sentido de garantir que os conhecimentos e habilidades adquiridos convirjam para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social, dos jovens pesquisadores. Nas oficinas de “Integração, sensibilização e formação de grupo” preocupe-se em manter um ambiente emocional propício à sociabilidade e aprendizagem, permeado pelo respeito à individualidade, ao diálogo aberto, incentivando os jovens a falarem de suas emoções, de seus medos, de seus sonhos, de seus projetos, criando assim vínculos de afeto e confiança entre todos. Considere-os na sua completude, ou seja, em suas peculiaridades pessoais, cognitivas e afetivas, além do ambiente em que vivem: a família, a escola que freqüentam e a comunidade dentro da qual estão inseridos. Nas oficinas de “Leitura de Mundo” e de “Intervenções no território” é fundamental que os jovens se apropriem da cultura local e global reconhecendo a diversidade com que os espaços são ocupados e geridos, possibilitando aos jovens pesquisadores refletir sobre suas práticas alterando suas próprias maneiras de ver, sentir, pensar e perceber seu entorno e o mundo. Ao longo do desenvolvimento dessas oficinas é preciso promover oportunidades para que os jovens possam expor as suas idéias de forma clara, compreensível, argumentando e defendendo-as, utilizando diferentes formas de linguagem (oral, escrita) para criar, comunicar, expressar idéias, imagens e sentimentos. O conteúdo compartilhado nessas oficinas deve propiciar que os jovens leiam o mundo atribuindo sentido, buscando e analisando informações, levantando hipóteses, elaborando estratégias, estabelecendo relações entre os acontecimentos e pesquisando suas causas. Além disso pretende promover o desejo de mudança e o surgimento de idéias de soluções para a resolução dos problemas concretos identificados pelos jovens e pela própria comunidade.
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O Cotidiano das Oficinas Pedagógicas O processo de formação dos jovens está organizado em 25 encontros com temas específicos. Até o 17º encontro o educador terá acesso a um texto base para compartilhar com os jovens e a um conjunto de orientações e propostas de atividades que subsidiam o desenvolvimento do tema em questão. Nos encontros que vão do 18º até 22º você e os jovens estudarão as “propostas de instrumentais de pesquisa” para serem aplicados em diferentes segmentos populacionais na comunidade. É hora do trabalho de campo onde os jovens praticam por meio de diversos ensaios (entre eles mesmos e com familiares e amigos) para depois realizarem as pesquisas com o público definido. Nos três últimos encontros será necessário que você elabore um plano de aula mais detalhado. Você terá que ler os três textos anteriormente para definir as estratégias de formação. São textos que subsidiam os jovens a elaborarem projetos de intervenção comunitária. Não existe um roteiro pré-determinado para ser seguido nas discussões e no desenvolvimento das atividades, é o educador que com sua sensibilidade e leitura de grupo, planeja, executa e avalia os encontros. No entanto, propomos uma metodologia que considera que cada encontro deve contemplar um primeiro momento de aquecimento intencional, onde a partir da definição do tema a ser trabalhado, o educador propõe atividades que mobilizem as vontades e capacidades dos jovens e facilitem o processo de discussão que se seguirá. É uma espécie de acolhimento do grupo que visa sensibilizar os jovens para as discussões e trabalhos do encontro. O tipo de aquecimento escolhido deve estabelecer uma correlação direta com o tema que será abordado no encontro. Você pode se utilizar de músicas, poesias, e dinâmicas relacionadas ao tema do encontro. Um segundo momento de Apresentação e Aproximação com relação ao tema a ser compartilhado, onde o educador desafia os jovens a discutir um determinado assunto, considerando seus saberes, idéias e hipóteses, propondo atividades que promovam a ampliação do repertório cultural dos jovens com relação a esse assunto. Um terceiro momento de Leitura do texto e atividades individuais e coletivas que pretende disponibilizar aos jovens informações mais sistematizadas sobre o tema em questão. Esses textos expressam de alguma maneira o conhecimento acumulado historicamente sobre determinado tema, e revelam um pouco da visão de mundo e das convicções e dúvidas que o projeto Casulo e nosso Observatório de Jovens têm a propósito dessas questões. Não se esqueça de promover e valorizar as produções dos jovens provenientes das atividades individuais e coletivas que foram propostas.
A aprendizagem não acontece num passe de mágica, ela se dá por meio de um processo pedagógico, onde mágico e platéia são responsáveis pela magia da transformação de ambos. A. Isaac
E finalmente um momento de impressões e avaliações sobre o tema e o encontro para que você possa identificar e acompanhar de que maneira as diferentes aprendizagens estão circulando no grupo, além de fornecer subsídios para o desenvolvimento dos próximos encontros. É a partir da avaliação dos jovens que você pode rever suas práticas e metodologias, colocando a disposição do grupo, seus saberes e convicções de forma não impositiva, contribuindo dessa maneira, para que os jovens sejam críticos e reflexivos com relação aos conceitos, valores, certezas e dúvidas expressos nesses textos.
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Ainda como indicação, propomos que você disponibilize aos jovens um “diário de bordo” onde a cada encontro um jovem possa registrar de forma criativa, bem humorada e não burocrática, os acontecimentos do dia. Trata-se de um caderno de memórias do grupo. Um encontro pode ser lembrado apenas por uma poesia ou uma música sobre o tema que vocês trabalharam. Providencie também, caso você tenha condições, um “baú de saberes” - uma caixa com livros, revistas, Cds e textos informativos relacionados a diferentes áreas de conhecimento, como Ciências Naturais, Sociais e Arte, para que os jovens os acessem em diferentes momentos dos encontros. Como já fora dito anteriormente, todos nós estamos, desde o dia que nascemos, em um processo de aprendizagem contínuo. Nesse sentido, para uma otimização dos encontros e oficinas, é preciso que você educador estude antecipadamente todos os temas dos 25 encontros propostos, para que você se sinta seguro ao desenvolver as atividades e possa colocar a disposição do grupo seus conhecimentos e saberes. Na medida do possível estaremos indicando, a cada encontro, um vídeo, um outro texto e um endereço na internet para ampliação do repertório a propósito dos temas a serem trabalhados. Caso você utilize outras estratégias para o processo de formação dos jovens, não se esqueça de trabalhar com objetos culturais reais, como TV, rádio, revistas, jornais, internet, promovendo e ampliando o acesso a esses veículos de informação. Importante: Dada a complexidade de muitos dos temas desenvolvidos a cada encontro, você sentirá a necessidade de estender a quantidade de horas trabalhadas dependendo da amplitude do tema. Talvez seja necessário três ou quatro dias para “encerrar” as discussões sobre um determinado assunto. As pesquisas que realizarão e as três oficinas de intervenção no território com certeza necessitarão mais horas de discussão.
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PENSANDO AS JUVENTUDES
Apesar
de, nos grandes centros urbanos, podermos identificar algumas características Meu pai não aprova o que eu faço, tão pouco eu aprovo marcantes da fase da juventude, é preciso promover contextualizações considerando essencialmente o filho que ele fez. questões como, gênero, etnia, condição social e econômica, cultura local, momento histórico, Belchior particularidades e referências de cada sujeito. Ou seja, não é possível promover generalizações do tipo “os jovens são inconseqüentes e individualistas”, “os jovens são onipotentes”, “isso é da idade”, ou ainda relacionar a fase da juventude exclusivamente a questões problemáticas como, violência, drogas, gravidez indesejada, etc. É um cuidado a ser tomado para não incorrermos no equívoco de categorizar a idéia de juventude em um modelo hermético e consequentemente estereotipado dessa fase da vida. Estamos falando que é preciso considerar as diversas juventudes e diferentes leituras a propósito dessas juventudes, “os jovens negros da periferia dos grandes centros”, “os jovens das áreas rurais”, “os jovens da classe média”, “os jovens filhos de intelectuais e militantes políticos”, “os jovens filhos de religiosos”, “os jovens em situação de rua”, “os jovens indígenas”, “os jovens do Maranhão e os jovens do Rio Grande do Sul”, e tantas outras variáveis e condições. Dessa maneira, a concepção de juventude é uma construção cultural e histórica, cada sociedade, ou ainda, cada grupo social, define e organiza a maneira pela qual se dá a passagem da infância para juventude, e desta para a fase adulta. Portanto, a adolescência e juventude, da forma como a enxergamos atualmente, não se constitui como um período natural do desenvolvimento, mesmo as transformações físicas do corpo são sentidas e vivenciadas por meio da intermediação da cultura, marcadas hegemonicamente pelo lugar social e pela situação econômica dos sujeitos. Do ponto de vista da condição biológica podemos compreender a fase da juventude nos segmentos etários dos 15 aos 24 anos, e a adolescência dos 15 aos 19 anos, e é justamente nesse A juventude não é progressista período marcado por transformações biológicas, psicológicas e sociais que o jovem tenta construir, nem conservadora por índole, na relação com outros jovens e adultos, sua nova forma de ser e de se perceber no mundo. Ao longo porém é uma potencialidade da construção dessa nova identidade, por mais que não pareça, os jovens estão muito atentos aos pronta para qualquer nova adultos que o cercam, selecionando aspectos de que não gostam e outros que lhe agradam, fazendo oportunidade. oposições, rejeitando ou ainda concordando. Ainda no processo de constituição e significação da Mannheim identidade os adolescentes e jovens lançam mão de diversas e intensas experiências - experiências de pensamentos, palavras e ações. A juventude, marcadamente nas sociedades modernas, caracteriza-se por um momento de busca de possibilidades e de maior inserção social, é também nessa fase que se apresentam fortemente as questões referentes ao pertencimento a grupos, às escolhas amorosas, profissionais, culturais etc.
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Trabalhando com jovens No atual cenário da realidade brasileira e das políticas públicas nas áreas da infância, adolescência e juventude, torna-se absolutamente fundamental a criação de espaços e projetos que acolham os jovens para dialogar, refletir e discutir questões que os afetam, proporcionando-lhes experiências diversificadas que contribuam para ampliação da sua visão de mundo e consequentemente de suas possibilidades de escolhas.
É jovem quando descortina a clara possibilidade de mudar de opinião, É jovem quando salta Aos educadores, professores, Ong’s e escolas que pretendem desenvolver trabalhos e projetos o precipício da razão e tem com foco no público juvenil, destacamos alguns temas e questões, que do nosso ponto de vista, não uma queda pra ilusão, É jovem quando entra no oceano podem deixar de serem considerados: de quarenta correntezas • A formulação e o desenvolvimento de projetos com foco no público jovem não deve objetivar sem nenhuma embarcação, exclusivamente a realização de atividades ocupacionais para juventude, de modo a prevenir o Signo da sinceridade, da impulsão, ócio e as condutas anti-sociais. É preciso entender esses projetos como uma resposta da do sonho, da realização, sociedade e do poder público, na perspectiva da garantia dos direitos constitucionais dos É jovem quando carrega adolescentes e jovens. o mundo com as mãos Adaptado de musica de Oswaldo Montenegro
• Nas sociedades contemporâneas desenvolveu-se a idéia de que o importante é o que os jovens vão se tornar quando forem adultos, afinal eles não são nem crianças nem adultos. Essa idéia marca a juventude por aquilo que ela não é, desconsiderando as potencialidades dessa fase da vida. Nessa perspectiva a juventude seria um período de preparação e de espera, onde os principais marcos do final dessa fase seriam a inserção no mundo do trabalho, a constituição de um novo núcleo familiar e a procriação. • Os jovens, especialmente os provenientes das classes populares, são afetados desde cedo por desvantagens sociais, cognitivas e afetivas, além de sofrerem pela desatenção pública à educação, saúde, assistência e demais direitos fundamentais para sua formação. No entanto, a sociedade espera deles comportamentos ideais - “docilidade”, “ponderação”, “humildade”, “capacidade de tolerar frustrações e adiar gratificações”. Comportamentos hegemonicamente juvenis como imediatismo, agressividade, alternância de sentimentos e desejos, contestação da autoridade, devem ser percebidos como características próprias do desenvolvimento biológico, psicológico e social dessa fase da vida. • Em uma sociedade profundamente assentada e marcada pela distribuição desigual da renda e onde o ideal de consumo proposto pelo mercado é conflitante com a realidade da maioria de nossos jovens, é preciso perceber criticamente os sentimentos de revolta, o não reconhecimento do outro como semelhante e os comportamentos desviantes (drogadição e delinqüência). • É preciso investigar a relação que os diferentes grupos juvenis guardam com à escola, com o mundo do trabalho, com a família, com suas comunidades, com a mídia e a cultura de massa, com a
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violência, com o tempo livre, com seus sonhos, angustias e frustrações. Só assim poderemos contribuir para que os jovens ajam e pautem suas escolhas por critérios de justiça, ética e cidadania. • Considerar o ponto de vista dos jovens, portanto, implica um esforço interno e uma reeducação do olhar sobre eles, evitando olhá-los a partir do que lhes falta. Para permitir que o jovem experimente outros modos de ser, é preciso, antes de qualquer coisa, experimentar diferentes modos de vê-lo, evitando que o estigma o enclausure em papéis predeterminados — na maioria das vezes, oscilando entre os papéis de vilão e de vítima. O olhar que prioriza o que falta aos jovens aparece em falas como “eles não têm limites, não têm valores, não têm perspectivas, não têm sonhos, não têm boa auto-estima”. Esse modo de ver os jovens pressupõe um modelo ideal do que eles deveriam ser, raramente coincidindo com os jovens reais, com os quais o educador trabalha. Se o olhar fica preso ao ângulo do que falta ao jovem, a escuta não se realiza e o educador, em vez de ajudá-lo a pensar sobre si, acaba ocupando o lugar de quem faz julgamentos morais. • É preciso que o educador e a Ong tenham consciência da responsabilidade do papel que representam frente aos adolescentes e jovens com os quais trabalham, pois além dos jovens que conseguem sonhar, estabelecer objetivos e vislumbrar um futuro melhor para si e para coletividade, encontrarão aqueles que não acreditam que podem aprender, que não podem transformar o mundo coletivamente e que não acreditam em si mesmos. É essencialmente para esse público que os educadores e Ong’s devem investir e canalizar suas ações, de maneira que esses jovens possam olhar para si mesmos e perceber suas potencialidades, descobrindo que são capazes, como qualquer outro, de produzir, criar e intervir. • As novas exigências do “mundo do trabalho” como disponibilidade para aprender sempre, maior preparo tecnológico, flexibilidade e polivalência, apontam para a necessidade da ampliação do tempo de escolarização dos jovens e maior contato com outras atividades educativas e culturais, que ampliem seu universo informacional e respondam às suas necessidades sócio-emocionais. • “O desemprego, o subemprego e as dificuldades de inserção profissional desprezam o talento de milhões de jovens brasileiros.” (Relatório OIT — Organização Internacional do Trabalho, 2004)
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UMA EXPERIÊNCIA DO OBSERVATÓRIO
Em 2004, um grupo de 10 jovens formados pelo Projeto Casulo produziu uma pesquisa na
comunidade do Real Parque. A pesquisa identificou 821 unidades domiciliares no espaço que denominamos “favela”, 63 moradias no “alojamento” e 489 apartamentos nos condomínios do Cingapura, totalizando 1.373 residências na comunidade do Real Parque. Desse total, foram entrevistados 1.116 responsáveis pelo domicílio; houve ainda 257 unidades onde os moradores não foram encontrados, não havia moradores ou os moradores se recusaram a receber os jovens pesquisadores. A pesquisa apontou que o Real Parque possui 4.314 moradores, sendo 1.230 jovens de 14 a 24 anos. A pesquisa foi feita com dois tipos de questionários, um que denominamos “populacional”, para ser aplicado em todas as unidades domiciliares, outro que denominamos “amostral”, para ser aplicado em segmentos populacionais definidos: jovens de 15 a 24 anos, adultos de 25 a 60 anos e idosos acima de 60 anos. Os jovens entrevistaram os responsáveis pelo domicílio que responderam a diferentes perguntas sobre família, vida social, trabalho, saúde, educação, lazer, religião, participação comunitária e desejo de futuro para o bairro. O questionário populacional contemplou as questões do perfil socioeconômico da comunidade do Real Parque, procurando definir quem são, em dados gerais, os moradores locais; como vivem; qual sua procedência; sexo; idade; escolaridade; ocupação; renda. Já o questionário amostral buscou identificar os costumes, saberes, habilidades, sonhos, desejos e percepções de 210 moradores da comunidade, sendo 70 jovens, 70 adultos e 70 idosos. A grande diferença dessa pesquisa está no fato de ser participante, ou seja, realizada pelos próprios jovens da comunidade — que cartografaram a comunidade, identificaram as residências, ajudaram a definir questões relevantes para os dois questionários, “bateram de porta em porta”, ajudaram a tabular os resultados e a elaborar a uma publicação com os resultados. Uma segunda pesquisa será realizada, exclusivamente com o público jovem das comunidades do Jardim Panorama e Real Parque. Serão entrevistados 500 jovens de 14 a 24 anos, sendo 300 do Real Parque e 200 do Panorama. Essa amostra se constitui em mais de 40% da população jovem desses bairros, segundo a primeira pesquisa realizada pelo Observatório em 2004. Serão aplicados 50 questionários por idade considerando a proporção de 25 para o gênero masculino e 25 para o gênero feminino. As questões relativas ao instrumental de pesquisa serão definidas com o grupo de jovens, ao mesmo tempo em que realizaremos um estudo comparativo com os resultados da pesquisa A voz dos Adolescentes, realizada pelo Unicef a propósito da situação da adolescência no Brasil. Queremos comparar a opinião dos adolescentes do Brasil com as impressões dos jovens de 14 a 24 anos das comunidades do Real Parque e Jardim Panorama a propósito dos temas: escola, trabalho, família, sonhos expectativas e desejos de futuro, pobreza e violência, política, esporte, lazer e cultura. Após a realização da etapa de campo e tabulação da pesquisa participante, os jovens do Observatório Social compartilharão os dados, por meio de palestras, com os demais jovens participantes dos programas do Casulo, com a rede de organizações locais, faculdades e órgãos públicos, entre outros.
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A VOZ DOS OBSERVADORES
A nossa História começa assim... Outubro de 2003 Cartazes nas paredes e postes da comunidade, “Pesquisa Social Participante, precisamos de dez jovens”. A idéia era fazer uma pesquisa para conhecer melhor a comunidade e para isso, precisavam de pessoas que morassem na “favela”. A curiosidade nos levou a participar da primeira reunião e saber do que se tratava aquele anúncio. Nesta reunião estiveram presentes jovens e outros moradores, mas os que ficaram foram apenas 10 jovens, que permaneceram durante toda a pesquisa. Alguns já se conheciam da escola e da rua e outros, apesar de morarem na comunidade nem se olhavam ao passar na rua. A maior parte de nós participava das oficinas culturais no Projeto Casulo, apenas o Sidney não fazia oficina e ficou sabendo da pesquisa através de uma tia que participava da Associação Esportiva e Cultural SOS Juventude, organização parceira do Projeto Casulo. Os motivos que nos mantiveram unidos foram: encontro de amigos, ampliação do currículo profissional, curiosidade e melhor ocupação do tempo. Após todo esse processo de formação de grupo e adaptação, iniciou-se uma capacitação, que se deu por meio de debates e oficinas sobre alguns temas como, por exemplo, Cidadania, Ética, Moral, Meio ambiente, Pesquisa e outros temas ligados com a comunidade. Durante esse processo tivemos acesso aos dados do IBGE, e do programa de distribuição de renda ”Renda Mínima” que mostrava uma pesquisa feita no distrito do Morumbi, onde os dados pareciam não coincidir com a nossa realidade. Através dos nossos olhares, constatamos que os dados não estavam de acordo com a nossa comunidade, pois estes dados associavam a favela do Real Parque com a elite, igualando as condições sociais, não havendo na favela falta de saneamento básico, mas sim, grandes casas de alvenaria com muitos banheiros, onde viviam pessoas bem remuneradas, com ótimas condições de vida. Assim enxergamos, o porquê de tanta falta de atenção do poder público nessa comunidade, pois segundo estes dados o Real Parque não precisaria de um olhar mais especial, pois só haveria a elite morando nessa região. Como cita um dos observadores: ”Não sei, como conseguem deixar de ver este contraste social, pois estamos inseridos no meio de uma das maiores vias de acesso à cidade de São Paulo, que é a Marginal Pinheiros, só não enxerga a Favela quem não quer, o governo faz de conta que não estamos aqui. Parece que somos inexistentes! Além disso, parte da elite quer nos excluir daqui.
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Ao longo da capacitação foi brotando em nós a curiosidade de saber, quais eram os verdadeiros dados da comunidade? Como estas pessoas que moravam aqui sobrevivem? Quais eram suas necessidades? O que elas planejam para o futuro próximo, quais são suas expectativas? Levantamos hipóteses sobre problemas identificados pelo grupo e por lideranças da comunidade, e a partir disso elaboramos o questionário populacional (questionário aplicado com todos os responsáveis pelas residências, que pretendia conhecer os aspectos socioeconômicos das famílias) e o amostral (tinha a pretensão de conhecer o aspecto cultural e as perspectiva de vida dos moradores). Começamos o nosso trabalho fazendo o mapeamento dos becos e vielas da favela, para facilitar as nossas visitas e nos organizarmos melhor. Com a ajuda de alguns voluntários conseguimos numerar todos os barracos para que depois pudéssemos construir um mapa da comunidade contendo todas as ruas, vielas, casas e apartamentos do conjunto habitacional. O mapeamento nos marcou bastante, porque os moradores achavam que éramos da prefeitura e que estávamos fazendo este trabalho para retirar os barracos. Foi marcante para nós o contato com realidade da comunidade, pois ao contrario dos dados que foram nos apresentados, podemos constatar que aquelas informações estavam muito distantes da vida daquelas pessoas, e serviu para que déssemos mais valor para nossa própria vida, nos fortalecendo para não deixar a nossa pesquisa só no papel, mas para servir de instrumento para modificar a realidade. O trabalho de campo começou com uma grande expectativa, todos nós estávamos envolvidos numa grande mistura de sentimentos. A princípio ficamos um pouco envergonhados. Como bater na porta de alguém que não tínhamos intimidade? O que falar e como falar? Com o tempo, e depois de muito estudo e ensaio, ficamos mais a vontade, e percebemos o quanto às pessoas são receptivas, o quanto à comunidade tem necessidade de conversar, falar sobre seus sonhos e expectativas de vida. No entanto, havia moradores que não demonstravam interesse ao serem entrevistados, de saber o porquê estávamos ali com pranchetas nas mãos, coletando seus dados. Talvez porque é muito comum pesquisadores baterem a porta das casas buscando informações pessoais e familiares, e isso não se reverter em uma intervenção que melhore a vida dos moradores da comunidade. Para nós o que ficou de experiência foi conhecer um pouco mais da cultura da nossa comunidade, que às vezes de tão imersos que estamos nela, não conseguimos enxergar os traços desta cultura. Também foram importantes as oficinas e atividades que realizamos ao longo de nossa formação como pesquisadores sociais. Algo que também se evidenciou foi o total descaso de políticas públicas que atendessem estes moradores, ações na área da educação, saúde, saneamento básico, transporte e moradia. Sem contar os momentos inesquecíveis que pudemos vivenciar a cada entrevista realizada, situações que nos deixavam emocionados, indignados, mas com muita esperança. Foi muito importante olhar de perto e ouvir atentamente os moradores do Real Parque e Jardim Panorama.
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Em decorrência da pesquisa realizada deu-se continuidade ao Observatório de Jovens, espaço de estudo, reflexão e de propostas de intervenções e projetos comunitários. Por meio de uma parceria com a Prefeitura de São Paulo (Programa Bolsa Trabalho), aumentamos nosso grupo e passamos por uma nova formação que teve duração de cinco meses onde discutimos sobre cidadania, políticas públicas, mídia, consumo, valores, e diferentes temas que antes eram distantes da nossa realidade, e que depois de discutidos permitiram que ampliássemos nosso repertório cultural, nossas visões e questionamentos. Por fim, o término da formação elaboramos projetos de intervenção na comunidade relacionados à educação, meio-ambiente, esporte, sexualidade, cultura hip-hop e outros.
Edson Salvino da Costa - 19 anos Renato dos Reis Nascimento - 17 anos Diana de Sousa Sales - 19 anos Verônica Santos Gomes - 19 anos Marciana Balduino Souza - 20 anos Viviane de Paula Gonzaga - 22 anos
Juliana dos Santos Piauí - 19 anos Genivaldo dos Santos Piauí - 18 anos Sidnei Cosme Candido Faria - 18 anos Francemildo P. da Silva - 17 anos Karina Santos da Silva - 18 anos
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VIVENDO E APRENDENDO A CONVIVER
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É na família, na escola, na comunidade e no trabalho, que ao longo da nossa vida vamos
constituindo a nossa identidade em um processo de aprendizagem contínuo. Todas as coisas que aprendemos e compartilhamos fazem parte daquilo que somos, pensamos e fazemos. As pessoas não nascem sabendo conviver umas com as outras, ao contrário, a convivência social, por não ser natural, requer aprendizagens básicas que devem ser ensinadas, aprendidas e desenvolvidas todos os dias. José Bernardo Toro (1995) “APRENDER A NÃO AGREDIR O OUTRO”.
Aprendendo e ensinando uma nova lição... vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer. Geraldo Vandré
Os homens precisam ser ensinados a não agredir, nem física nem psicologicamente, os outros seres humanos. Não devemos aceitar com normalidade xingamentos, espancamentos, homem que bate em mulher, irmão que desconhece irmão, polícia que agride cidadão, briga de gangues, torcidas uniformizadas que se agridem mutuamente, violência no trânsito, discriminações, fome, guerras ou injustiças. O que está por trás da valorização da não-agressão é o princípio da vida. Ao valorizar a minha vida e a do outro, estou valorizando a humanidade.
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“APRENDER A COMUNICAR-SE”. As pessoas devem exercitar a comunicação: é o pressuposto para o entendimento, para o acordo, para a resolução de conflitos e para a convivência. Por meio da comunicação constrói-se uma nova visão de mundo e uma nova “forma de olhar”. As linguagens oral, escrita e artística devem ser entendidas como instrumentos para se viver melhor. “APRENDER A INTERAGIR”. Interagir é agir em sintonia com o outro, aprendendo a concordar e discordar sem romper a convivência. Respeitar as convicções políticas, religiosas, a condição social, a situação econômica, o time de futebol, o jeito de vestir, de pensar e de agir do outro. “APRENDER A DECIDIR EM GRUPO”. Decidir as coisas em grupo é mais difícil do que decidir sozinho. O exercício da democracia não é fácil e exige muita disciplina; no entanto, são inúmeras as vantagens de se decidirem as coisas em grupo. O comprometimento coletivo, a certeza de que todos puderam ser considerados, a rapidez e eficiência nos resultados são exemplos dessas vantagens. “APRENDER A SE CUIDAR”. “Respirar bem fundo e devagar, que a energia tá no ar. Bom é não fumar, beber só pelo paladar, comer de tudo que for bem natural, e só fazer muito amor, que amor não faz mal” (Joyce, cantora e compositora da música popular brasileira). Novamente, estamos falando da valorização da vida. Cuidar do corpo, da mente e do espírito é sinal de respeito consigo mesmo. É preciso valorizar os hábitos de higiene, a prevenção contra doenças, valorizar o hábito de não fumar e a prática de esportes e lazer.
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“APRENDER A CUIDAR DO LUGAR EM QUE VIVEMOS”. Os seres humanos vêm historicamente destruindo todos os recursos da Terra. A contaminação dos rios e dos mares, a poluição do ar que respiramos, a extração descontrolada dos recursos minerais, a devastação das matas e a extinção de algumas espécies de animais são exemplos da destruição dos recursos naturais da Terra. Ao mesmo tempo que devemos compreender por que e para que alguns homens estão destruindo esses recursos, devemos lutar pela preservação deles. O que está por trás dessa luta é o compromisso com nossa vida e com a das futuras gerações. Cuidar do lugar onde vivemos não se restringe a preservar os recursos da Terra: é no cotidiano que cuidamos da nossa casa, da nossa rua, dos equipamentos públicos como escolas, hospitais, praças, parques, dentre outros.
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“APRENDER A VALORIZAR O SABER SOCIAL”. Quando nascemos, muitas coisas já estão dadas, ou seja, já existe um conjunto de regras, valores, práticas culturais e tradições que formam a história do grupo social. É assim que o conhecimento produzido por uma geração de homens e mulheres é “transmitido” para as gerações futuras e partilhado com elas. Por meio da família, da escola, da comunidade, da igreja, dos meios de comunicação é que acessamos e compartilhamos esse conhecimento acumulado. Temos de aprender a valorizar o saber social, mas devemos utilizar a reflexão e a crítica para questionar as regras, valores e práticas culturais que nos foram passadas de uma geração a outra.
Orientações e Propostas para o Encontro Objetivo: O objetivo do encontro é possibilitar que os jovens comecem a tomar consciência de que fazem parte de diferentes grupos no seu cotidiano (família, escola, amigos) e que existem algumas aprendizagens que são básicas para a convivência social. A idéia central é incentivar a formação de um grupo coeso, que vise um trabalho cooperativo, ao longo de todo o projeto. Material Necessário: Papel sulfite, canetas, flip-chart ou lousa, pincel atômico ou giz.
Aquecimento intencional “Guardando nomes” O educador pede para que os jovens sentem em roda. O educador pode começar o aquecimento - fala seu nome e pede para o jovem sentado ao seu lado falar o nome do educador e depois seu próprio nome, o terceiro jovem fala seu nome, o nome do segundo jovem e o nome do educador. Isso se repete até que todos tenham falado seus nomes. Em grupos grandes os nomes são repetidos inúmeras vezes.
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Comentários Pergunte como foi fazer esta atividade e como ela contribuiu para a integração do grupo. Peça comentários e declarações. Comente as palavras mais utilizadas pelo grupo. Relacione as expectativas à proposta de trabalho do dia, que será a de trabalhar a convivência em grupo.
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Apresentação e Aproximação “Troca de Saberes” O educador divide os jovens em duplas segundo alguns critérios (mesmo signo, mesma letra inicial do nome, cor da roupa etc.). Após a formação das duplas pede-se para que cada um ensine ao outro algo que saiba fazer e que possa ensinar ao outro. Dar aproximadamente 15 minutos para a realização da atividade. Depois que todos realizaram em suas duplas a “troca de saberes”, o educador pede para que as duplas apresentem para o resto do grupo o que aprenderam com o colega. Surgem coisas bastante inusitadas. Depois de todos apresentarem, o educador poderá perguntar aos jovens o que acharam mais interessante, como foi aprender e ensinar coisas novas, como se sentiram apresentando suas aprendizagens para o coletivo, e caso não tenham conseguido fazer, pedir declarações do que acharam mais difícil. O educador poderá anotar no flip-chart ou na lousa para tornar a visualização mais fácil.
Leitura do texto “Vivendo e aprendendo a conviver” Constitua pequenos grupos e peça que leiam o texto “APRENDENDO A CONVIVER” em seguida os grupos apresentam para os demais suas discussões sobre o texto trazendo para o coletivo uma música ou poesia que lembraram após a discussão do texto. A leitura desse texto dá gancho para uma série de questões que podem ser trabalhadas ao longo dos próximos encontros com os jovens. É Importante dar aos jovens a oportunidade para discutirem entre si, tirarem suas dúvidas e curiosidades, de modo a tornar o encontro mais descontraído possível. Este é um momento de interação inicial do grupo, deve ser bastante valorizado pelo educador. Ainda nesse encontro você pode sugerir que produzam uma “Auto Carta”. Traga o poema da Clarice Lispector, denominado “Eu sei, mas não devia” que faz uma reflexão sobre os problemas individuais e resgata diversos temas sociais, e ambientais, tais como: poluição do ar, da água, sonora, destruição ambiental, etc.
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Pequeno trecho do poema: Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia... A tomar o café correndo porque está atrasado... A comer sanduíche porque não dá para almoçar... A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta... A ser ignorado quando precisava tanto ser visto... A gente se acostuma à poluição... A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma...
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Após a leitura do poema propõe-se a Auto-Carta, ou seja, uma carta para si próprio. A idéia é estimular uma reflexão interna sobre tudo que eles acham que se acostumam e não deviam, conforme proposto pelo poema. A auto-carta deve ser entregue no último encontro dos participantes para que eles reflitam novamente, lembrem do que escreveram, de como iniciaram e essencialmente de como mudaram no percurso da proposta.
Impressões e Avaliações A partir das atividades “guardando nomes”, “troca de saberes”, da leitura do texto “Vivendo e Aprendendo a Conviver”, pergunte aos jovens “das aprendizagens do dia qual foi mais significativa” “qual trecho da poesia foi mais marcante”. Peça também para que um jovem registre, da maneira que achar mais interessante, as coisas que aconteceram no encontro de hoje. No encontro seguinte um jovem lê as anotações do diário de bordo, e o grupo define outra pessoa para registrar as aprendizagens, brincadeiras, acontecimentos e “poesias” do dia.
Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede Textos A Escola e o Mundo Juvenil: Experiências e Reflexões. Ação Educativa. São Paulo: Ação Educativa, 2003. Série em questão, no 1. Culturas da Rebeldia: a Juventude em Questão. Carmo, Paulo Sérgio do, São Paulo:Senac, 2001. Vídeos Juventude Transviada (1955, Dir. Nicholas Ray, dur. 111') - Clássico estrelado por James Dean. Trata-se de um adolescente recém chegado a uma escola e seu esforço em se enturmar. Sites Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). www.inep.gov.br
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VIVER UNS COM OS OUTROS, EM VEZ DE UNS CONTRA OS OUTROS
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Todas as coisas que você conhece hoje, mesmo as mais simples, como a água da torneira, a
luz que você acende, a roupa que você veste, a televisão que você assiste, o jornal que você lê e tantas outras são resultado da cooperação humana.
Ao longo da história da humanidade, o ser humano percebeu as vantagens de viver em sociedade, ou seja, em troca da possível liberdade de fazer tudo o que se quer, passaram a colaborar uns com os outros, cada um desenvolvendo uma habilidade específica e compartilhando com os outros. Uns colhem o algodão, outros o transformam em fios, depois vem a tecelagem, a confecção e o comércio, até que a roupa fique pronta para você usar. No entanto, as coisas não são tão simples assim. Você sabe que tanto na vida cotidiana como na vida em sociedade existem brigas e conflitos? Você já deve ter ouvido falar em patrões que exploram empregados ou em fazendeiros que exploram trabalhadores rurais. E, até na sua vida cotidiana, há pessoas que batem em suas companheiras ou companheiros e filhos, há brigas de gangues e de torcidas, entre outras. Isso porque as pessoas têm interesses e opiniões diferentes que, às vezes, não são bem resolvidos. Esses interesses particulares e coletivos estão presentes o tempo todo em nossa vida. No entanto, são inúmeras as vantagens de se viver em sociedade, principalmente se cooperarmos uns com os outros.
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A convivência é uma condição absolutamente fundamental, tanto nas relações pessoais cotidianas como nas relações entre grupos, classes e partidos políticos. A consideração do interesse do outro - grupo ou indivíduo - tem um contraponto na garantia de que as minhas idéias, pensamentos e reivindicações também devem ser levadas em conta. Valorizar a convivência não significa mascarar as contradições de uma sociedade cada vez mais competitiva e excludente, nem se anular. Tanto no plano social como no individual existem conflitos, contradições e lutas. Não se trata de abafar o conflito. Muito pelo contrário, as transformações pessoais, sociais, políticas e econômicas são resultado de muitas lutas em que entram em jogo interesses individuais e de diversos setores da sociedade. No entanto, na maioria das vezes, só a partir das negociações e acordos é que se tornam possíveis algumas mudanças.
Orientações e Propostas para o Encontro Objetivo O objetivo do encontro é possibilitar que os jovens comecem a se conhecer melhor, interagir, pesquisar, promover a cooperação e o trabalho em equipe, respeitando as escolhas e as diferenças individuais. Material Necessário: Flip-chart, folhas de papel craft, cola, fita crepe, pincel atômico, canetinhas.
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Aquecimento intencional “Nós desfazendo nó” A atividade proposta é denominada “dinâmica do nó”. Ela procura estimular temas geradores, tais como: cooperação, competição, liderança, persistência nos objetivos, amizade, dentre outros. É uma dinâmica de sensibilização muito importante para evidenciar a necessidade de se estimular atividades coletivas e cooperativas. Inicia-se a atividade formando uma roda, com os todos os participantes de mãos dadas. Orientamse os jovens a esticarem o máximo os braços de modo a formar uma grande roda, e encolherem o máximo que puderem formando uma pequena roda. Neste segundo momento, desfazem-se as mãos dadas e pede-se para guardarem na memória as pessoas que estavam ao seu lado direito e esquerdo. Em seguida, pede-se que caminhem livremente, olhando para as pessoas e cumprimentando-as de diferentes maneiras. Em momento propício, após 30 segundos aproximadamente, pede-se que fiquem mais ou menos próximos uns dos outros. Depois disso instrua-os a restabeler as mãos, ou seja, dêem as mãos para as pessoas que estavam ao seu lado esquerdo e direito na roda inicial (sem se movimentar). Isso causará um verdadeiro Nó Humano. O objetivo é desfazer o nó formado sem desatar as mãos, restabelecendo a roda inicial. Dê um tempo de 20 minutos. Ao final, independentemente de terem conseguido desfazer o nó, discuta coletivamente o que sentiram ao enfrentarem uma situação de dificuldade e que outras questões surgiram. Pergunte sobre as dificuldades encontradas e deixe-os falarem livremente. A partir da fala dos jovens retome os temas geradores e outras questões suscitadas.
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Apresentação e Aproximação “Pra que servem as invenções humanas” O educador deve escolher 6 aparatos científicos, por exemplo, televisão, telefone, lâmpada, chuveiro elétrico, computador, avião, ou qualquer outro. Em seguida deve pesquisar quando foi inventado o objeto: sua fabricação, seu funcionamento e o que faz o objeto escolhido funcionar, além uma breve pesquisa sobre a história de cada uma dessas invenções. Coloque cada uma dessas descrições em uma folha separada. É importante fazer esta pesquisa previamente para se preparar para a atividade. Divida os jovens em 5 subgrupos e peça para cada um escolher 1 dos aparatos científicos. Distribua uma folha grande de papel craft e canetinhas para cada subgrupo e peça para representarem graficamente esse objeto, descrevendo detalhadamente o que faz o objeto escolhido funcionar, e para que e para quem serve esse objeto. Pergunte também quantas pessoas eles estimam estarem envolvidas no processo de produção desse objeto, e quando e onde eles acham que esse objeto foi inventado. Depois que todos produziram seus cartazes, os subgrupos apresentam para o resto do grupo. O educador entrega para cada subgrupo a folha de sua pesquisa, uma que não corresponda ao objeto de estudo do grupo. O grupo com a folha compara e conversa com o grupo que produziu o
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cartaz o que há de diferente entre o processo imaginado pelos jovens e o processo apresentado pelo educador. Repete-se isso até que todos os subgrupos tenham falado sobre o seu cartaz e sobre o cartaz de outro subgrupo. O educador encerra esse momento perguntando aos jovens se, quando viam esses objetos, imaginavam todas as coisas que foram discutidas na atividade.
Leitura do texto “Viver uns com os outros, em vez de uns contra os outros” Promova uma leitura coletiva do texto “Viver uns com os outros, em vez de uns contra os outros” deixando que os jovens falem livremente sobre suas impressões, e questões expressas no texto. A leitura desse texto possibilita que você retome as questões suscitadas nas atividades “Nós desfazendo nó” e “Pra que serve as invenções humanas”, promovendo um fechamento e destacando, a importância dos processos cooperativos; as brigas, conflitos e interesses presentes o tempo todo em nossa vida; a importância da reflexão sobre para que e para quem servem as coisas que inventamos.
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Impressões e Avaliações Pergunte aos jovens se gostaram do encontro, destacando uma coisa nova que aprenderam nesse dia. Pergunte também se caso eles fossem o educador, que coisas mudariam ou acrescentariam no encontro de hoje.
Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede Textos Participação e Organizações Juvenis. Abramo, Helena. Recife: Fundação Kellog, 2004. Vídeos O Ódio (1995, Mathieu Kassovitz, dur. 96') - No dia seguinte a um incidente envolvendo policiais e migrantes de um bairro de subúrbio de Paris, três jovens envolvidos no conflito refletem sobre suas vidas, o contexto em que vivem, a dificuldade de construir estratégias de sobrevivência e os preconceitos existentes no país. Sites Cidade Escola Aprendiz - www.aprendiz.org.br
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DIVERSIDADE,
IGUALDADES
E DIFERENÇAS
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Aquilo que chamamos de diversidade pode ser compreendido como "qualquer combinação de
indivíduos que são semelhantes em algumas formas e diferentes em outras”, é uma mistura coletiva e positiva de todas as pessoas. Do nosso ponto de vista deve ser compreendida na perspectiva de que as semelhanças nos unem e as diferenças nos enriquecem.
Falar de diversidade, igualdades e diferenças nas escolas, nas ong’s e em projetos sociais como esse do Observatório que você está participando, implica aproveitar da melhor forma possível as diferentes qualidades e os diferentes conhecimentos que as pessoas têm em favor do grupo. Imagine seu grupo como uma orquestra de música onde os instrumentos de corda (violino, violoncelo), de sopro (oboé, flauta), e os de percussão (pratos, tambores), se complementam e produzem uma harmonia dos sons. Da mesma maneira, entre os jovens do grupo, alguns são mais organizados, outros têm mais facilidade para falar ou escrever, alguns são criativos e inventivos, outros são obstinados e empreendedores. Sozinhos esses instrumentos podem produzir belos sons, mas “coletivamente” podem produzir uma sinfonia. Assim também acontece com a gente.
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Ser individualmente diferente significa ter características próprias, um jeito particular de ser, viver, pensar e fazer. Entretanto essas diferenças não se expressam exclusivamente nos comportamentos e habilidades de cada um, ela fica mais evidenciada quando falamos de diferenças Somos todos iguais nesta noite culturais, sociais, étnicas, religiosas e de gênero. É principalmente nesses casos que as diferenças Pelo ensaio diário de um drama são entendidas como desigualdades, quando ser negro, mulher, homossexual, nordestino, Pelo medo da chuva e da lama pobre, muçulmano é ser desqualificado e inferior aos outros. É quando esses traços, que nos tornam Pede a banda pra tocar diferentes passam a ser vividos de maneira valorativa, isto é, como se as pessoas valessem menos um dobrado...1 em função dessas características, criando uma relação de submissão que os impede de ter as um rock, um hip hop, mesmas oportunidades e os mesmos direitos. Outro exemplo diz respeito aos portadores de um samba, um jazz, um frevo, um fado, um maracatu, um baião... necessidades especiais, que devido a ocorrência de sua deficiência (visual, auditiva, mental, de locomoção etc.), são vistos como incapazes de enfrentar os desafios da vida como sonhar, amar, trecho música de Ivan Lins estudar e trabalhar. 1
As lutas pelos direitos civis, políticos e sociais são efetivamente a melhor maneira de mudar essas relações de submissão, em nome de algo que deve ser igual para todos, para além de qualquer diferença. As diferentes classes e setores da sociedade que sofrem com a questão das desigualdades devem conduzir suas reivindicações para o espaço público (manifestações e passeatas, matérias para imprensa falada, escrita e televisiva). A luta para diminuir as desigualdades deve ser vista como um compromisso de todos, é tão valiosa quanto a busca do reconhecimento das diferenças e do aprendizado que elas nos proporcionam. Muitas conquistas podem ser alcançadas com a valorização das diferenças. São elas que permitem ver o mundo e nós mesmos de forma mais rica e diferente daquela que estamos acostumados.
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O que significa dizer que “somos todos iguais”? O que significa dizer que “somos todos iguais”? Sermos iguais não significa que sejamos idênticos ou que estejamos sempre nas mesmas condições. Contudo, além de qualquer diferença, todos temos uma mesma origem e uma mesma natureza; compartilhamos a mesma condição de humanidade, a mesma aspiração de sermos livres, de satisfazer nossas necessidades básicas, de amar e sermos amados, de buscar a felicidade. Ninguém é mais ou menos humano que o outro, ninguém tem mais ou menos direito de viver humanamente que o outro. Este é o significado profundo do princípio de igualdade entre os seres humanos. É um significado que não ignora as diferenças individuais, culturais e de opção. Ao contrário, as considera e as transcende para chegar ao que nos é comum: a dignidade e os direitos da pessoa. Educação para a cidadania. Centro de Recursos Educativos Instituto Interamericano de Direitos Humanos
Orientações e Propostas para o Encontro Objetivo: O objetivo do encontro é compartilhar com os jovens que as diferenças e características individuais devem ser valorizadas e desenvolvidas ressaltando que todos nós somos capazes de aprender sempre. Essas diferenças e características não devem ser vistas como desigualdades que desqualifiquem e inferiorizem os outros. As diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de gênero, as características de cada um e de cada povo, são a maior riqueza da humanidade. Material Necessário: Flip-chart, pincel atômico, jornais e revistas
Aquecimento Intencional “Sem palavras” Peça para que os jovens se dividam em trios. O educador explica aos jovens que uma pessoa do trio deverá “convencer as outras duas a carregá-la no colo”, “convencer as outras duas a trocarem seus sapatos”, “convencer as outras a comprar sua caneta”, “convencer as outras duas a se abraçarem e dançarem”. Invente outras situações de acordo com o número de trios de jovens que tiver. O jovem deverá convencer os outros dois usando exclusivamente a mímica. O aquecimento deve durar até dez minutos.
A cidade é tanto do mendigo Quanto do policial Todo mundo tem direito à vida Todo mundo tem direito igual Travesti, trabalhador, turista Solitário, família, casal, Todo mundo tem direito à vida Todo mundo tem direito igual Sem ter medo de andar na rua, Porque a rua é seu quintal Lenine e Arnaldo Antunes
Pergunte como foi fazer esta atividade, como foi ter que se comunicar sem usar palavras. Comente com os jovens sobre pessoas que possuem diferentes limitações (visual, auditiva, mental, de locomoção) e que apesar disso se comunicam, trabalham, estudam, sonham e amam.
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Apresentação e Aproximação “Desigualdades e injustiças” Constitua 3 ou 4 subgrupos de jovens e disponibilize jornais e revistas para cada subgrupo. Peça que identifiquem e recortem textos e imagens de diferentes situações de injustiça contra negros, mulheres, homossexuais, nordestinos, pobres, muçulmanos etc. Os jovens devem discutir esses textos e imagens nos subgrupos e depois apresentarem suas reflexões para o coletivo. Antes da leitura do texto você pode convidá-los a ouvir a música “Rua da Passagem” de Lenine e Arnaldo Antunes. Pesquise quem são esses elogiados músicos e letristas da MPB para apresentar essa canção aos jovens.
Leitura do texto “Diversidade, igualdades e diferenças” Promova a leitura coletiva do texto e peça que comentem os trechos que mais marcaram para cada um. Pergunte ao grupo o significa dizer que “somos todos iguais”. Faça suas considerações a partir dos conhecimentos trazidos pelos jovens e ressalte que o Brasil é fruto de uma mistura de culturas e raças, e que as diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de gênero, assim como as características de cada um e de cada povo, constituem a beleza da diversidade.
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Impressões e Avaliações Pergunte aos jovens se gostaram do encontro, destacando uma coisa nova que aprenderam nesse dia. Pergunte aos jovens “se o encontro de hoje fosse um objeto, qual seria?”. Lembre-se: é a partir da avaliação dos jovens que você pode rever suas práticas e metodologias contribuindo para que os jovens sejam mais críticos, criativos e reflexivos.
Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede Textos Juventude em Debate. Abramo, Helena; Freitas, Maria Virgínia de; Sposito, Marília (orgs.) São Paulo: Cortez, 2000. Cenas Juvenis, Punks e Darks no Espetáculo Urbano. Abramo, Helena Wendel. São Paulo: Scrita, 1994. Vídeos Malcom X (1992, dir. Spike Lee, dur. 192') - Biografia do líder afro-americano, hoje referência para os movimentos juvenis, como o hip-hop. ABCD Jovens (1999, dir. Nanci Barbosa, dur. 67') - Gravada na região do ABC, esta série de três documentários traz elementos e questões que afetam jovens de inúmeras regiões urbanas. Billy Elliot (200, dir Stephen Daldry, dur 111') Billy é um garoto de uma pequena cidade da Inglaterra, onde o principal meio de sustento são as minas de carvão. Ele é obrigado pelo pai a treinar boxe, mas apaixona-se pelo balé. Sites Microfonia - eventos e produções independentes da cena punk - www.microfonia.com Real Hip Hop - portal fruto da iniciativa de vários jovens, envolvidos e não envolvidos com o movimento Hip Hop. - www.realhiphop.com.br
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NOSSO PONTO DE ENCONTRO
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Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio E a minha ambição era trazer o universo ao colo Fernando Pessoa
Após participar das oficinas, dinâmicas e leituras dos encontros anteriores, vocês já devem se
sentir “fazendo parte” do grupo de jovens do Observatório. Devem estar mais fortalecidos como um grupo que irá se apropriar de conceitos, valores e normas da sociedade, questioná-los, pesquisar suas comunidades, além de propor intervenções/ações locais com vistas à melhoria da qualidade de vida da coletividade. A idéia que queremos desenvolver com vocês no “Nosso ponto de encontro” é a de que estão constituindo um grupo de jovens capazes de interagir com os outros, discutindo, ouvindo e sendo escutados, respeitando e sendo respeitados. Irão discutir idéias e conceitos como “cidadania”, “ética”, “política”, “trabalho”, “meio ambiente”, “mídia”, “pesquisa comunitária”, entre outros, para depois pensarem coletivamente em propostas e projetos de intervenção local. Antes disso, vamos discutir um pouco sobre a importância de pertencer a diferentes grupos ao longo de nossa vida.
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Todos nós nos sentimos reconfortados quando nos filiamos a algum grupo. Participar de um grupo é gratificante porque fortalece o sentimento de que temos valor e a sensação de que aquilo que pensamos e sentimos é compartilhado por outros. Desde que nascemos, e ao longo de nossas vidas, somos membros de vários grupos ao mesmo tempo: na família, na escola, entre amigos, no trabalho, na igreja, na associação de moradores, no sindicato, no partido, na cidade e no lugar em que vivemos. “Pertencer” remete à idéia de “fazer parte de”. Essa palavra diz de um grupo ou lugar no qual nos “sentimos em casa”, à vontade para sermos nós mesmos. As experiências ligadas ao pertencimento a grupos fazem parte de nossa formação como pessoas; afinal, ninguém consegue construir sua individualidade sozinho, sem se relacionar e ser “visto” pelos outros. Na formação e transformação de nossa individualidade, é central o relacionamento com as outras pessoas e a busca do reconhecimento daqueles que participam dos mesmos grupos. Identificamo-nos com pessoas, modelos, líderes, “ídolos”, e buscamos ser diferentes de quem não gostamos. É exatamente na adolescência e juventude que a família deixa de ser a principal referência, pois passamos a vivenciar uma gama maior de relações e situações sociais. Estamos em busca de nos conhecer melhor e sermos reconhecidos, descobrindo o mundo, fazendo opções e escolhendo caminhos. Quando participamos de diferentes grupos ao longo de nossa juventude, estamos ampliando a nossa visão de mundo e as nossas possibilidades de escolha.
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“Nosso Ponto de Encontro” refere-se também ao encontro consigo mesmo, pois ao participar de diferentes grupos, principalmente na juventude, estamos formando nosso modo de sentir, pensar, intervir e ver o futuro. O conhecimento de si e das condições em que vivemos nos permite explorar e criar possibilidades, tomar decisões e construir diferentes estratégias de vida.
Orientações e Propostas para o Encontro
Todos juntos somos fortes Somos flexa e somos arco Todos nós no mesmo barco Não há nada pra temer Ao meu lado há um amigo Que é preciso proteger Enriquez, Bardotti e Chico Buarque
Objetivo: O objetivo do encontro é fortalecer a idéia de que os jovens constituem um grupo que irá trabalhar conjuntamente realizando pesquisas na comunidade. O encontro também trata da importância da participação em diferentes grupos sociais ao longo da nossa vida, no processo constante de formação de nossas identidades.
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Material Necessário: Folhas de papel craft, cola, fita crepe, pincel atômico, folhas de papel sulfite e cartelas coloridas
Aquecimento intencional - “Encontros e expectativas” Peça ao grupo que ande lentamente pela sala observando o espaço. O grupo também pode andar em ritmos variados, conforme sua orientação. Procure alternar os ritmos: mais rápido, mais devagar, bem devagar e bem rápido. Todos devem passar sempre pelo centro da sala, evitando andar em círculo. Solicite que pensem numa expectativa que têm para este encontro. Peça que formem subgrupos de dois, de cinco ou de acordo com a solicitação: “encontro de dois”, “encontro de cinco” e assim por diante, etc. A cada formação, peça que as pessoas conversem entre si sobre a expectativa que pensaram. Para desmanchar os subgrupos, diga “desencontros” e todos voltam a andar pela sala. Finalmente, solicite “encontro de três” e peça que relatem suas expectativas e escolham uma palavra que melhor represente a expectativa daquele grupo.
Comentários Pergunte como foi fazer esta atividade e se ela contribuiu para a integração e descontração do grupo. Comente as palavras mais utilizadas pelo grupo. Relacione as expectativas à proposta de trabalho do dia.
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Apresentação e Aproximação “Nosso grupo, nosso ponto de encontro” Pendure três folhas grandes de papel craft separadamente, uma em cada parede. Uma com as palavras “qualidades do grupo”, outra com as palavras “coisas que podem ser melhoradas” e outra com a palavra “dúvidas que tenho”. Distribua a cada um dos jovens três cartelas, uma de cada cor. E peça para que eles pensem em uma qualidade, uma coisa que pode ser melhorada e uma dúvida que tenham em relação ao grupo. Usando uma cor para cada item relacionado. Quando todos tiverem terminado, o educador pede para que os jovens colem suas cartelas na folha correspondente. Após todos terem colado suas cartelas promova uma leitura e pergunte ao grupo quais foram as cartelas que mais chamaram a atenção. E qual a opinião do grupo em relação ao que está escrito. É hora de você ressaltar as qualidades de cada um e principalmente do grupo, lembrando que sempre podemos aprender coisas novas. Também é hora de desafiá-los a melhorar e fortalecer as relações do grupo e de esclarecer os objetivos centrais do “Observatório de Jovens”. As folhas com as inscrições dos jovens podem ficar fixadas nas paredes durante todos os encontros para que os jovens possam construir no espaço um ponto de encontro ao qual realmente pertençam.
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Como contraponto à importância indiscriminada de pertencer a diferentes grupos ao longo de nossa vida, leia ou reproduza para os jovens o seguinte trecho: “Quando um jovem escolhe participar de uma torcida uniformizada que não respeita a diversidade, ou de um grupo de tráfico de drogas, certamente ele não teve a possibilidade de escolher participar do grupo de teatro, do grupo de futebol, do grupo de música, do grêmio estudantil, do grupo de jovens da Igreja”. Promova um debate sobre essa frase, ressaltando a responsabilidade com relação as nossas escolhas e que elas devem pautar-se por parâmetros de justiça, solidariedade e respeito às escolhas e opções dos outros.
Leitura do texto “Nosso ponto de encontro” Promova a leitura coletiva do texto e deixe os jovens falarem livremente sobre suas impressões e dúvidas suscitadas pela leitura. Destaque a importância de que esse “ponto de encontro” deve constituir-se em um lugar no qual nos “sentimos em casa”. Incentive-os a participarem de outros grupos na escola, na comunidade e na cidade, pois isso amplia a nossa visão de mundo, nossas possibilidades de escolha, e contribui para nossa formação enquanto cidadãos de direitos e responsabilidades. Caso tenha conseguido providenciar o “baú de saberes” (caixa com livros, revistas, Cds e textos informativos relacionados a diferentes áreas de conhecimento), promova a leitura da poesia de Fernando Pessoa e ouçam a música de Chico Buarque. Pesquise anteriormente sobre as histórias e produções desses importantes personagens da literatura mundial, para compartilhar com os jovens.
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Impressões e Avaliações Peça aos jovens para imaginarem um “nome” para identificar o grupo que estão constituindo. Não é preciso definí-lo no encontro de hoje. O jovem responsável pelo diário de bordo pode registrar todas as propostas para que o grupo defina posteriormente um nome que expresse a identidade do grupo. Peça aos jovens que decidam coletivamente uma palavra que expresse o encontro de hoje, para que todos gritem bem alto essa palavra no fechamento do dia.
Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede 4
Textos O Encontro das Culturas Juvenis com a Escola. Corti, Ana Paula; Freitas, Maria Virgínia de; Sposito, Marília Pontes. São Paulo:Ação Educativa, 2001. Vídeos Raça Ritmo e Poesia (1994, Miro Nalles, dur. 17') - A partir de depoimentos de rappers de diferentes bairros da cidade de São Paulo, a produção narra os trabalhos desenvolvidos por esses jovens na periferia da cidade tendo como eixos de atuação a consciência, o ritmo e a poesia. Sites Bocada Forte - revista eletrônica, músicas, vídeos, dentre outros materiais sobre hip Hop www.bocadaforte.com.br
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VIVER EM SOCIEDADE, MOVIMENTO CIDADANIA
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A palavra cidadania tomou conta do nosso cotidiano. A todo o momento ouvimos alguém
pronunciá-la ou a lemos em algum texto. Aparece no discurso de políticos, educadores, líderes comunitários, organizações não governamentais, nos jornais, rádios e televisão. Ela está em pauta e em debate praticamente no mundo todo, está presente tanto no nosso dia a dia, como também é um dos temas mais discutidos globalmente.
No entanto, de tanto pronunciarmos e ouvirmos a palavra cidadania corremos o risco de dizer a palavra sem nada sentir, de expressar o conceito sem compreendê-lo. O conceito de cidadania parece refletir um pouco essa situação. Tente responder você mesmo: o que é cidadania? Parece haver várias interpretações em jogo, podemos delinear concepções diferentes e até mesmo opostas sobre o conceito. Herbert de Souza, sociólogo e militante político brasileiro, popularmente conhecido como Betinho, uma das pessoas que melhor compreendeu e lutou pela questão da cidadania, dizia que ela é o valor básico de uma sociedade democrática, construída por todos e para todos e fundada em cinco princípios éticos fundamentais: igualdade, liberdade, solidariedade, participação e diversidade.
Não fechei os olhos Não tapei os ouvidos Cheirei, toquei, provei Ah, eu usei todos os sentidos Só não lavei as mãos e é por isso que eu me sinto cada vez mais limpo. Ivan Lins
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Leia e discuta com seu grupo as seguintes frases a respeito da idéia de Cidadania: “Cidadania é o direito de ter uma idéia e poder expressá-la. É poder votar em quem quiser sem constrangimento. É processar um médico que cometa um erro. É devolver um produto estragado e receber o dinheiro de volta. É o direito de ser negro, mulher, portador de deficiência, sem ser discriminado; de praticar uma religião, sem ser perseguido.” Gilberto Dimenstein Apesar de a cidadania nos remeter a uma idéia de coletividade, cada um de nós, Há homens que lutam um dia, e são bons; individualmente, pode ajudar a transformar o mundo em que vivemos. Lembrem-se do provérbio Há outros que lutam um ano, chinês, “se cada um varrer a porta da sua casa, a rua inteira fica limpa”. Respeitar o sinal e são melhores; vermelho no trânsito, não jogar papel nas ruas e praças, não destruir equipamentos coletivos Há aqueles que lutam muitos anos, como escolas, centros de cultura, lazer e de saúde, preservar telefones públicos. e são muito bons;
A conquista de direitos por meio do exercício da cidadania é resultado de um processo histórico. Porém há os que lutam toda a vida Alguém consegue imaginar um país defendendo a importância dos escravos para a economia? Estes são os imprescindíveis Mas esse argumento foi usado durante muito tempo no Brasil. Os donos da terra alegavam que, Bertold Brecht sem escravos, o país sofreria uma catástrofe. Eles se achavam no direito de bater e até de matar os escravos que fugissem. Nessa época, o voto era um privilégio: só podia votar os homens que tivessem muito dinheiro. E, para se candidatar a deputado, só com muita riqueza em terras. A idéia de cidadania também pode ser traduzida como um sinônimo de participação em movimentos sociais, tais como: de defesa da ecologia, de direitos humanos, de melhoria das condições no bairro, movimentos pela paz, grupos de jovens (teatro, música, capoeira, dança, artes), integração em grupos de igrejas, voluntariado (em creches, entidades assistenciais, Conselho Tutelar, Ong’s); participação em partidos políticos e sindicatos, entre outros. Viver a cidadania é acreditar que a humanidade pode viver melhor do que vive. Acreditar e lutar para que as possibilidades de vida garantidas a uns possam ser acessíveis a todos. Ser cidadão,
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portanto, é se ver como humano e ver os outros como humanos, tão diferentes e tão legítimos como eu, como nós como os nossos vizinhos. É olhar para a sociedade indagando suas riquezas e deficiências; explorando suas possibilidades de ser melhor. “Ser cidadão significa estar na vida e no mundo, sentindo-se parte integrante do gênero humano, peça singular do quebra-cabeça da história, deixando por onde passa suas marcas. É mais do que sobreviver, é mais do que viver com prazer, é gozar da existência.” (Aprendendo a ser e a conviver, Serrão & Baleeiro, 1999)
O cidadão é um individuo que tem consciência de seus direitos e responsabilidades e participa ativamente de todas as questões da sociedade. Tudo o que acontece, seja no meu país, na minha cidade ou no meu bairro, acontece comigo. Então, eu preciso participar das decisões que interferem na minha vida.
Orientações e Propostas para o Encontro Objetivo: O objetivo do encontro é iniciar a discussão sobre aquilo que denominamos “cidadania”, discutindo algumas interpretações e concepções sobre esse conceito pronunciado praticamente todos os dias, por diferentes atores sociais. Material Necessário: Sulfite, canetas, flip-chart;, pincel atômico.
Aquecimento intencional “Será que cabe?” Espalhe pela sala folhas de jornal, na mesma quantidade do número de jovens, ou ainda desenhe com giz pequenos círculos que possam ser apagados. Coloque uma música e peça que os participantes circulem pela sala dançando conforme a música (Procure colocar uma música cuja letra aborde o tema cidadania). Explique que quando parar a música cada pessoa terá de ficar sobre uma folha. Recomece a música, peça que todos voltem a dançar e retire uma ou duas folhas de jornal, ou apague um dos círculos. Todas as pessoas permanecem na sala e têm de buscar seu espaço, mas ninguém deve ficar de fora. Novamente, outras folhas são retiradas até que sobre apenas uma folha, na qual todos têm de se juntar. Pergunte aos jovens como se sentiram fazendo a brincadeira? E como o grupo se organizou no final, quando havia poucos espaços para ocupar? E quando sobrou só um, qual a sensação? Houve preocupação em não deixar ninguém de fora? Que estratégias foram utilizadas?, Se alguém ficou de fora como se sentiu sendo excluído?
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Apresentação e Aproximação “Cidadania no dia a dia” Promova a constituição de pequenos subgrupos de jovens. Peça para imaginarem um lugar qualquer da cidade onde moram e construam dois grandes quadros. Em um dos quadros devem desenhar ou descrever situações em que a cidadania está sendo exercida. No outro, situações em que não há prática de cidadania. Peça que dêem títulos a cada um dos quadros. Apos a discussão o educador pergunta aos jovens que outras atividades, individuais ou coletivas, os jovens acham importantes para a cidadania e vai anotando tudo no flip-chart ou lousa.
Leitura do texto “Viver em sociedade, movimento cidadania” Promova a leitura coletiva do texto em subgrupos. Cada subgrupo fica responsável por apresentar por meio de uma dramatização, cada uma das sete frases a respeito da idéia de Cidadania, expressas no texto.
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Impressões e Avaliações Peça aos jovens para avaliarem os pontos positivos e as dificuldades do encontro do dia. Antes de encerrar o encontro peça para que os jovens façam uma pesquisa, anotando para o próximo encontro tudo que ouvirem ou lerem sobre o termo cidadania.
Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede Textos Rap e Educação. Andrade, Elaine Nunes de (org) São Paulo: Summus, 1999. Vídeos Elefante (2003, dir. Gus Van Sant, dur. 81') - Um dia aparentemente comum na vida de um grupo de adolescentes, todos estudantes de uma Escola, nos Estados Unidos. Enquanto a maior parte dos alunos estão em atividades cotidianas, dois alunos esperam, em casa, a chegada de uma metralhadora semiautomática. Sites Cenpec - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária - www.cenpec.org.br -www.cidadania.org.br, www.rits.org.br
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VIVER EM SOCIEDADE, MOVIMENTO CIDADANIA II
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Agora
que você já compartilhou com seu grupo algumas idéias sobre “cidadania”, e desenvolveu as atividades do encontro anterior, propomos a leitura de um texto de aprofundamento do tema. Vamos tentar brevemente historiar o conceito de cidadania. A palavra cidadania está vinculada ao Os homens devem obedecer surgimento da vida na cidade e à habilidade das pessoas em exercer direitos e responsabilidades. às normas e às leis; Historicamente, a origem da cidadania está na pólis grega, onde homens livres, com participação no entanto, enquanto política e vivendo numa democracia direta, exerciam seus direitos e responsabilidades na coletividade. seres racionais, No entanto, as sociedades grega e romana, eram escravistas e promoviam somente para uma parcela devem fazer uso da razão e da sociedade a possibilidade de um certo exercício de cidadania. promover um processo contínuo Com o desenvolvimento da sociedade capitalista e a ascensão da burguesia enquanto classe de crítica às leis, na medida que as considerem injustas. dirigente, a idéia de cidadania é retomada e desenvolvida. Não devemos esquecer que, nesse Immanuel Kant período, a burguesia tinha um caráter revolucionário e encarnava a luta entre a velha sociedade burocrático-feudal e a moderna sociedade burguesa. No entanto, ao deixar de ser uma classe revolucionária, pois agora está no poder e quer consolidar e estender sua dominação, a burguesia passa a vincular a idéia de direitos humanos e de cidadania somente àqueles que têm propriedade. No século XIX, com o incremento da industrialização nos países europeus, o avanço da organização dos trabalhadores colocou novos problemas em discussão, que estiveram no cerne das lutas sociais. Um deles foi o questionamento da enorme distância entre os direitos formulados até então e a dura realidade vivida pelos trabalhadores nas cidades. Novos direitos, então, foram reivindicados e conquistados, configurando os chamados direitos sociais: entre eles, ao trabalho, à moradia e à educação. Hoje, podemos afirmar sem medo de cometer equívoco que ser cidadão é ter “direitos e responsabilidades”.
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A Carta de Direitos da Organização das Nações Unidas (ONU), de 1948, que estabelece seus princípios a partir das cartas de Direitos do Estados Unidos (1776) e da Revolução Francesa (1789), afirma que todos os homens são iguais perante a lei, sem discriminação de raça, credo ou cor. Garante a todos o direito de um salário condizente para promover a própria vida, o direito à educação, à saúde, à habitação e ao lazer. Garante ainda, o direito de expressar-se livremente, de militar em partidos políticos, sindicatos, movimentos e organizações da sociedade civil. No que concerne às responsabilidades individuais, devemos: promover o respeito aos direitos de todas as pessoas, ter responsabilidade em conjunto pela coletividade, respeitar e cumprir as normas e leis elaboradas e decididas coletivamente, podendo questioná-las individualmente e coletivamente. É preciso, contudo, não se esquecer da ambivalência do sistema capitalista. Se, por um lado, os direitos civis, políticos e sociais conquistados tendem a generalizar-se para toda a população e tornar-se reivindicáveis por qualquer cidadão, de outro, assistimos todos os dias, na imprensa escrita, falada e televisiva, a situações de exploração, desigualdade e injustiça, que atentam contra a legislação sobre os direitos humanos. É exatamente essa contradição que dificulta o exercício da cidadania, principalmente em países com contrastes mais gritantes. Alguns setores da população
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desses países perceberam que não eram atendidos em suas reivindicações não só porque as classes dominantes recusavam-se a isso mas, simultaneamente, porque seus próprios países também eram explorados. Nesses países, em contraposição ao exercício de cidadania plena e ativa, desenvolveuse um conceito de cidadania mais esvaziado, calcado principalmente na questão do cidadão consumidor. Com ênfase apenas no consumo, a cidadania assume um conteúdo restrito, de conformismo e de preocupação com a aquisição de bens materiais, não importando se essa aquisição está sendo possível a todo o conjunto da população. A estimulação desenfreada do consumo gera a neutralização das pessoas enquanto sujeitos atuantes e desmobiliza, em grande parte, as organizações sociais reivindicatórias. Já a idéia de cidadania plena deve promover a transformação do cotidiano das pessoas. Esse tipo de cidadania só existe quando sujeitos se organizam para agir e lutar pelos seus direitos, tanto nas fábricas/sindicatos/partidos, como no bairro, na escola, na empresa, na família, nas ruas. É preciso tornar públicas todas essas discussões, para que o cotidiano se transforme historicamente em algo melhor, sob condições que respeitem a vida e a identidade de cada indivíduo. Uma das coisas mais importantes sobre a idéia de cidadania — e que você deve compartilhar com outros jovens — é que, se existe um problema em sua rua ou bairro, não importa de que ordem seja, não se deve esperar que seja resolvido simplesmente porque é um direito, ou porque é garantido por lei: é preciso organizar-se, reivindicar, buscar soluções e pressionar os órgãos governamentais competentes. Direitos não são “dados”; historicamente, foram resultado de muitas lutas e, ainda hoje, com constituições modernas e democráticas, é preciso lutar para que os direitos expressos nas leis sejam efetivamente garantidos na vida cotidiana.
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Orientações e Propostas para o Encontro Objetivo: O objetivo do encontro é aprofundar a discussão sobre cidadania, associando-a com a participação na vida pública, e iniciando a discussão de direitos e responsabilidades do cidadão. Material Necessário: Sulfite, canetas, flip-chart, papel craft, pincel atômico, jornais e revistas.
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Aquecimento intencional “Cidadania e vida” Por ser uma continuação e aprofundamento do encontro anterior promova a audição de uma música interessante que aborde a idéia de cidadania. Você pode utilizar a música “Rua da Passagem (Trânsito)” de Lenine e Arnaldo Antunes, cujo refrão é “Todo mundo tem direito à vida, Todo mundo tem direito igual”. Pesquise anteriormente sobre esses talentosos músicos e letristas da Música Popular Brasileira. Você também pode pesquisar e trazer para o grupo de jovens a íntegra da “Carta de Direitos da Organização das Nações Unidas (ONU)”, da carta de Direitos dos Estados Unidos (1776) e da Revolução Francesa (1789), depois pode deixá-la no “baú de saberes”.
Apresentação e Aproximação “Projetando cidadania” É hora de aproximar a idéia de cidadania com a idéia de projetos de intervenção na comunidade. Não se preocupe em aprofundar as questões sobre “Projeto” trata-se de uma primeira aproximação que será retomada nos encontros sobre “projetos e intervenções no território”. Nesse momento a proposta é fazer um exercício e construir um Projeto imaginário usando toda criatividade do grupo. Distribua folhas grandes de papel craft, jornais, revistas, canetinhas, tesoura e cola, para os subgrupos.
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Explique brevemente o que é um projeto: um texto contendo o plano de ação sobre uma determinada questão. Um projeto costuma ter as seguintes seções: uma frase inicial explicando o nome do projeto; uma justificativa (por que escolhemos esta questão); objetivo (o que pretendemos, para que vai servir esse projeto); e o “como”, isto é, quem vai fazer o quê, quando, com que recursos etc. Em grupos, os jovens escolhem um “Projeto” com foco na cidadania. Deixe-os trabalhar livremente expressando suas idéias por um determinado tempo. Caso tenham dificuldade de “bolar um projeto” peça para relembrarem das sete frases a respeito da idéia de Cidadania, expressas no texto anterior. O grupo inventa um nome ou título para o “Projeto”, e por meio de textos e colagens explica para que vai servir o Projeto: a favor do quê? contra o quê? Também explicam, por escrito, as razões da escolha feita. Depois é preciso pensar no que pretendem com ele e quem vai participar. Pensar nos recursos e nos apoios necessários. Pensar na importância da atividade escolhida. Podem também criar um logotipo, cartaz, desenho para camiseta do projeto, planejar campanhas de adesão e esclarecimento. Quando pronto, cada grupo apresenta seu projeto aos demais. Proponha montar um painel com todas as idéias de Projetos “boladas” pelos jovens e deixá-los expostos pela sala.
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Leitura do texto “Viver em sociedade, movimento cidadania II” Inicie esse momento perguntando aos jovens se fizeram a pesquisa solicitada no encontro anterior (trazer tudo que ouvirem ou lerem sobre o termo cidadania). Registre no flip-chart ou lousa o que os jovens trouxeram. Promova a leitura do texto “Viver em sociedade, movimento cidadania II” e pergunte aos jovens se tivessem lido esse texto anteriormente mudariam alguma coisa nos projetos que criaram na atividade anterior?
Impressões e Avaliações Pergunte aos jovens “De todas as aprendizagens e experiências relacionadas ao tema Cidadania que foram compartilhadas nesses dois encontros, o que pretendo levar em conta para orientar minhas escolhas e decisões na vida?” Depois peça para cada três jovens combinarem coletivamente uma frase que defina o dia de hoje explicando os motivos que os levaram a escolher essa frase.
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Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede -
Textos Políticas Públicas: Juventude em Pauta. Freitas, Maria Virgínia de; Papa, Fernanda de Carvalho, São Paulo: Cortez/Ação Educativa/Friedrich Ebert Siftung, 2003. Vídeos Faça a Coisa Certa (1989, dir. Spike Lee, dur. 126') - Sal, um ítalo-americano, é dono de uma pizzaria em Bedford-Stuyvesant, Brooklyn, uma das áreas mais pobres de Nova York. Sites Cidadania na Internet - www.cidadania.org.br Instituto Sou da Paz - www.soudapaz.org.br
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PANORAMA, DIREITOS E RESPONSABILIDADES
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Constituição da República
os Direit nos Huma
Federativa do Brasil
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Depois dos encontros sobre as aprendizagens da convivência, da formação de seu grupo de
jovens, e das discussões sobre cidadania, vamos conversar um pouco sobre direitos e responsabilidades do cidadão.
Livre para sempre estar onde o justo estiver, a todo momento escolher com acerto e precisão a melhor direção... Beto Guedes e Fernando Brant
Quantas vezes ouvimos alguém falar, ou reivindicar o direito à liberdade; direito de greve e aumento salarial; direito de voto e participação na vida política; direito do povo à educação, saúde e cultura; os direitos do consumidor; o direito a ter direitos? Apesar de estar presente em nosso dia-a-dia, raras vezes nos perguntamos qual a origem da palavra “direito” e tampouco indagamos os sentidos que essa palavra vem assumindo ao longo da nossa história. A palavra direito tem sua origem etimológica no latim, “directum”, que significa aquilo que é reto. Historicamente essa palavra foi adquirindo um sentido mais abrangente, a ponto de confundirse com a palavra Lei e até com a própria ciência que trata do assunto: “Vou fazer faculdade de Direito”. No cotidiano, quando falamos que algo não esta direito, é porque não está certo, não está acontecendo como deveria acontecer. Geralmente, os nossos direitos estão expressos em um conjunto de normas e regras que costumamos chamar de Lei. Se não conhecermos essas leis que garantem os nossos direitos, como vamos saber quando eles estão sendo desrespeitados?
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Não há como pensar em direitos sem falar nas responsabilidades individuais e coletivas que o uso ou o cumprimento do direito requer. Direitos e responsabilidades não são antagônicos, a existência e garantia deles é condição fundamental para a convivência social. Se temos algum direito, temos ao mesmo tempo as responsabilidades de garantir que ele continue a existir, e de fazêlo valer a todas as pessoas. O seu direito à educação, por exemplo, pressupõe algumas responsabilidades, tanto da sua família, da sociedade, do Estado, como seu próprio. Estamos falando da obrigação da sua família ao matriculá-lo aos sete anos, da obrigação do Estado de construir escolas, mantê-las, garantir bons professores, e de seu compromisso com o estudo e a manutenção do equipamento escolar. A existência de um direito requer que vários atores sociais, inclusive você, se responsabilizem com ele. A construção dos direitos A expressão “direitos humanos” diz respeito aos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. Esses direitos, chamados de fundamentais, correspondem a necessidades essenciais da pessoa humana, como a vida, igualdade, liberdade, alimentação, saúde, educação e moradia. São também considerados universais por serem válidos para todas as pessoas, independente de nacionalidade, etnia, gênero, classe social, religião, escolaridade, etc. Muitos desses direitos garantidos pelas legislações ainda não estão efetivamente observados e respeitados no cotidiano das pessoas. Nesse sentido, conhecer, respeitar, valorizar e reivindicar a efetivação desses direitos ao conjunto da humanidade, é continuar a luta das gerações passadas para que essas idéias e valores sejam reconhecidos, aceitos e perpetuados.
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Direitos civis Os direitos civis referem-se às liberdades individuais, como o direito de locomoção – ir e vir –, o direito de dispor do próprio corpo, direito à vida, à liberdade de expressão, à propriedade, à igualdade perante a lei, a não ser julgado fora de um processo regular, de não ter o seu lar violado. Direitos políticos Os direitos políticos referem-se à participação das pessoas no governo da sociedade, dizem respeito à participação no poder. Assim, dentre eles estão a capacidade de fazer demonstrações políticas (faixas, passeatas, comícios, participação em reuniões, movimentos e associações), organizar-se em partidos políticos e sindicatos, votar e ser votado. Direitos Sociais Estamos falando dos direitos relacionados à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, à aposentadoria, à moradia e acesso aos bens culturais. São direitos que tendem a realizar a “igualização” das situações sociais desiguais. Permitem às sociedades politicamente organizadas reduzir os excessos de desigualdade produzidos pelo capitalismo e garantir um mínimo de bem-estar para todos. Idéia central em que se baseiam: Justiça Social.
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Todos Juntos Somos Fortes As freqüentes e absurdas violações dos direitos de todos os segmentos vulneráveis da população, no Brasil e em outros países, não devem ser tomadas como razão para descrédito nas leis que os afirmam (ou nas declarações), mas como encorajamento para buscar transformar, coletivamente, as condições que geram a sua não observância. É preciso incentivar os jovens a aproximarem-se de pessoas, grupos, entidades e instituições que pautam sua atuação pela observância dos direitos da pessoa humana. Trata-se de uma alternativa para reconstruir uma rede de relações que amplie seus horizontes de atuação, buscando uma existência com dignidade e uma vida melhor.
Orientações e Propostas para o Encontro Objetivo: O objetivo do encontro é discutir os conceitos de “Direito” e “Lei”, abordando a construção dos direitos civis políticos e sociais.
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Material Necessário: Cola, tesoura, canetinhas, revistas, papel sulfite, cartolina
Aquecimento intencional “Areia movediça” Desenhe no chão com giz ou cole folhas de papel como se fossem pedras. Delimite as margens da areia movediça e posicione as pedras conforme o desenho abaixo.
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As pedras que aqui estão pintadas de preto são as que não afundam, portanto esse é o único caminho para cruzar a areia. A informação do caminho é um segredo do educador. Depois de preparado o lugar, reúna o grupo em um dos lados e diga: Vocês estão viajando pelo Marrocos, andando por uma trilha, e encontram pela frente um terreno de areia movediça. É preciso passar por ele para continuar a viagem. Voltar não é possível. A saída é caminhar sobre pedras que estão na superfície da areia até atingir a outra margem. Informe ainda, que a maioria das pedras não é firme e que ao pisar nelas afundamos na areia movediça. O grupo deve descobrir quais são as pedras firmes para atravessar a areia movediça. Os jovens que estão fazendo a travessia não podem falar com os outros e vice-versa. Como só existe um caminho, o organizador informa toda vez que alguém pisa numa pedra que afunda. Cada participante que afundar deve retornar para a margem onde estava e ser o último a fazer a travessia, pois precisa descansar e recuperar as energias perdidas. O objetivo é produzir uma situação, na qual errar ajude o outro a acertar e que não basta acertar sozinho é preciso que todos realizem a travessia. Faça uma analogia dizendo que realizar a travessia é um direito de todos, desafiando o grupo a garantir esse direito a todos os jovens.
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Lembre-os que o trabalho em grupo fortalece as soluções criativas, e os erros que surgem são um aprendizado que ajuda a construir o caminho até as soluções.
Apresentação e Aproximação “Índice de desenvolvimento de cidadania” A seguir, um teste para você e os jovens avaliarem o “Índice de Desenvolvimento da Cidadania” da turma. É um modo provocativo de pensarem um pouco sobre os valores e práticas a serem levados em conta quando se discute Cidadania, Direitos e Responsabilidades. As questões abordadas nos testes dão gancho para discutir o “individualismo”, “competição”, “solidariedade”, “responsabilidade”, “justiça”, “participação”, entre outros. Entretanto, mais importante do que simplesmente atribuir os pontos e “medir” o índice, é discutir as diferentes práticas representadas nas alternativas do teste, e perceber quais dessas práticas ajudam a construir uma sociedade verdadeiramente democrática. Apenas uma alternativa deve ser assinalada!. A pontuação depois das frases deve ser de conhecimento exclusivo do educador.
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1) Perto de sua casa houve enchente e muitas famílias perderam tudo. Provisoriamente, foram abrigadas na escola, que teve de remanejar algumas classes para o pátio e dispensar outras. Você: a - Acha um absurdo, pois você e seus colegas têm direito à educação e esse direito não pode ser negado de forma nenhuma. 1 b - Acha ótimo, pois assim ficará uns dias sem aulas e poderá participar daquele campeonato de skate. 0 c - Como medida bem provisória e de emergência não há problema, desde que os responsáveis cuidem de providenciar abrigo mais adequado para as famílias. 3 d - Acha ótimo, pois assim poderá ajudar o pessoal que perdeu tudo na enchente. Isso é mais “cidadão” do que assistir às aulas. 1 2) Os colegas da firma em que você trabalha te convidaram para uma reunião no Sindicato, com o objetivo de discutir uma pauta de reivindicações da próxima campanha salarial. Você: a - Concorda e se oferece para ajudar a convidar e convencer os demais colegas, pois esse é um assunto de todos. 3 b - Concorda, mas não vai poder participar (é no domingo, no mesmo horário do futebol). Avisa que tudo o que decidirem você apoiará. 1 c - Não concorda, pois acha que cada trabalhador deve negociar seu salário e as vantagens individualmente, de acordo com sua capacidade. 1 d - Não concorda e não quer nem saber de conversar sobre isso, pois é bobagem e não leva a 0 nada.
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3) Foi votada uma lei na Câmara de Vereadores proibindo os bares de se manterem abertos após as 10 horas, nos finais de semana. Você: a - Combina com os seus amigos uma “caixinha” ao dono do bar, para fechar as portas e deixálos ficar até altas horas, discretamente. 0 b - Acha correto, pois a violência está fora de controle nos finais de semana, especialmente nos bares e casas de dança. Além disso, os vereadores foram eleitos para cuidar da cidade. 1 c - Acha um absurdo os vereadores votarem leis sem procurar ouvir os diferentes interesses envolvidos nas questões que afetam os moradores da cidade. 2 d - Ajuda a organizar uma comissão de donos e freqüentadores de bares, além de especialistas e participantes de movimentos pela paz, para propor uma discussão com os vereadores e uma rediscussão da lei. 3 4) Um vizinho passou um abaixo-assinado, propondo que a sua rua seja fechada por um portão de ferro, com uma guarita e guarda de segurança. Você: a- Concorda, pois é a única forma de garantir a segurança e o sossego de sua família. 0 b- Apesar de lamentar o problema da falta de segurança, não pode concordar, pois a rua é 2 espaço de todos da cidade e não apenas de seus moradores. c- Não concorda, pois a rua não é propriedade privada dos seus moradores. Propõe uma conversa entre todos para pensarem nas questões da segurança. 3 d- Não concorda, pois só se interessa pelo que acontece do portão para dentro de sua casa, devendo todos fazer o mesmo. 0
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5) Numa batida policial, dentre todos os presentes na porta do salão de baile, um rapaz negro é solicitado a apresentar documentos e, apesar de estes estarem em ordem, é levado preso pelos policiais. Você: a - Nem se preocupa com a questão, pois isso é um problema individual. Além disso, acha que as pessoas de “bem” nem deveriam freqüentar lugares públicos à noite. 0 b - Fica indignado ao perceber, mais uma vez, que os direitos desse cidadão não foram respeitados, por causa da sua cor. 2 c - Apesar de ser contra a discriminação racial, não se envolve, pois não vale a pena se meter com essa gente da polícia. 1 d - Procura uma entidade de defesa dos direitos humanos e notifica o acontecido, para que essa pessoa possa ser defendida nos seus direitos. 3 6) Você e seus amigos, num domingo de sol, numa estrada para o litoral, a 140 km por hora são parados por um guarda. Como motorista, você: a - Tenta enrolar o guarda, argumentando que este se enganou, já que a sua velocidade média era 100 km por hora. 1 b - Alega desconhecimento das leis de trânsito, pois é motorista novato, portanto não pode ser 0 multado.
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c - Discretamente, recolhe dinheiro com os colegas e o oferece ao guarda, para não ser multado. 0 d - Discretamente, recusa o pedido de dinheiro do guarda, alegando que prefere a multa. 3 7) Nas eleições para Presidente, você é contratado a “peso de ouro” por um candidato para inutilizar as propagandas (faixas, cartazes, outdoors, etc) dos demais candidatos. Você: a - Aceita por que é o único momento em que seu trabalho é bem pago e você precisa muito desse dinheiro. 0 b- Tem clara noção de que é uma coisa errada, mas precisa do dinheiro e, se não fizer o trabalho, outro o fará. 1 c - Não aceita, fica indignado e avisa a esse candidato que se ele pagar alguém para fazer isso, denunciará aos órgãos competentes. 3 d - Não aceita, fica indignado, mas disfarça e dá uma desculpa qualquer, preferindo trabalhar para o candidato que você acha mais sério. 2 8) Uma pessoa leva sua cachorrinha para passear na mesma praça em que você, aos domingos, leva seus filhos ou irmãos para brincarem. O cachorrinho faz suas necessidades na grama. Você: a - Educadamente avisa que, por uma questão de saúde pública, ela deveria recolher as fezes 3 do bichinho. b - Não fala nada, mas promete nunca mais levar crianças a esse lugar, para não contraírem doenças. 0 c - Procura o guarda do parque e faz a denúncia, pois você sabe que em algumas cidades já 2 existem leis proibindo essa prática.
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d - Não deixa suas crianças brincarem na grama descalças, para não terem a infelicidade de se contaminarem com fezes de animais. 1
9) Num jogo de futebol, uma decisão claramente equivocada do juiz leva seu time a uma derrota fragorosa. Como todos os torcedores do time, você: a - Xinga a mãe e toda a família do juiz, incluindo as 10 gerações anteriores. 1 b - Convida a moçada para bater naquele juiz e nos bandeirinhas, que corroboraram a decisão equivocada. 0 c - Desconta na torcida do time adversário, chutando e batendo no primeiro que aparecer na sua frente. 0 d - Conta até dez e espera a raiva momentânea passar. Depois, redige uma reclamação sobre o juiz ao tribunal esportivo e pede a seus amigos para assinarem. 3 10) Está em discussão no congresso uma lei que instala a censura prévia dos filmes e dos programas de televisão. Você: a- Concorda, pois como espectador, acha que tem o direito de não ser escandalizado, ou chocado com cenas violentas ou pornográficas em horários vistos por crianças e adolescentes. 3
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b- Não concorda, pois deve prevalecer a liberdade de expressão do artista e nenhum órgão burocrático do governo deve sufocá-la. 3 c- Concorda, mas a censura não deveria ser feita apenas pelo governo, mas por representantes da sociedade. 3 d- Não concorda, pois os espectadores podem simplesmente desligar seus aparelhos, caso fiquem chocados, não podendo impedir que outras pessoas apreciem as obras por inteiro. 3 Tabela de pontos A B C D
1 1 0 3 1
2 3 1 1 0
3 0 1 2 3
4 0 2 3 0
5 0 2 1 3
6 1 0 0 3
7 0 1 3 3
8 3 0 2 1
9 1 0 0 3
10 3 3 3 3
Resultados: 20 a 30 Você está bem encaminhado, conhecendo seus direitos e responsabilidades, fazendo escolhas de acordo com os princípios da cidadania, solidariedade, justiça, responsabilidade, e participação. Siga assim...
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10 a 19 Viver é ainda uma aventura muito incerta: ora você vislumbra caminhos e experimenta escolhas que o ajudam a se construir como um cidadão/ã, ora você se esquece das referências, do bom-senso e acaba se desnorteando um pouco. Mas não desanime, isso faz parte da maravilhosa aventura da vida: sempre é possível a gente olhar em volta, pensar e retomar a caminhada, mudando o rumo. 0 a 10
Cuidado, desse jeito você não está se formando para ser um cidadão de direitos e responsabilidades! Vale a pena repensar os seus valores, as coisas em que você acredita, olhar em volta, escolher pessoas para conversar e descobrir que ainda é tempo para dar uma guinada na vida. Por que não? Atividade escrita por Ronilde Rocha, Maurício Ernica, Alexandre Isaac
Leitura do texto “Panorama, direitos e responsabilidades” Promova a leitura coletiva do texto “Panorama, direitos e responsabilidades”, deixe os jovens expressarem suas opiniões e dúvidas. Responda aos questionamentos dos jovens e faça um fechamento ressaltando que os direitos constitucionais expressos nas Legislações, são uma conquista histórica, resultado da atuação coletiva de muitas pessoas, em movimentos sociais, desde o século XVIII.
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Incluir-se nessa comunidade de pessoas que conhece, respeita, valoriza e reivindica sua efetivação é continuar essa luta de gerações que nos precederam e, em muitos casos, até morreram para que esses direitos pudessem ser reconhecidos e aceitos. Pesquise diferentes artigos e livros sobre “direitos e responsabilidade” para disponibilizá-los no “baú de saberes”, e incentive os jovens a pesquisarem outros textos, livros e matérias jornalísticas para trazerem para o baú.
Impressões e Avaliações Pergunte aos jovens como foi fazer as atividades “Areia movediça” e “Índice de desenvolvimento da cidadania”. O que mais gostaram e se proporiam algumas mudanças para o desenvolvimento do encontro. Não se esqueça de incentivar a prática do registro no “diário de bordo”.
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Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede Textos Os Jovens, a Escola e os Direitos Humanos. Relatório de Cidadania II. Rede de Observatórios de Direitos Humanos. São Paulo, 2002. “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, aprovada em 1789, após a Revolução Francesa. Constituição Brasileira de 1988 Vídeos Vinte e Dez: o Futuro é Agora (2002, dir. Tata Amaral e Francisco César Filho, dur. 26') - Deividson é um jovem da periferia de Santo André, região metropolitana de São Paulo, que manda seu recado para a comunidade através do Rap. Sites Assembléia Legislativa de São Paulo - www.alesp.gov.br - www.direitoshumanos.usp.br
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ÉTICA, 8
A MORADA HUMANA
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A “ética” é mais uma dessas palavras que tomaram conta de nosso cotidiano, a todo o
momento ouvimos falar em ética profissional, ética política, ética nos esportes, bioética, ética médica ou religiosa. Nunca esse tema foi tão abordado como está sendo nos dias de hoje. Os jornais, os políticos e os diferentes atores sociais estão freqüentemente usando questões éticas ou antiéticas para julgar ou absolver quem quer que seja. Vejamos primeiramente para onde a origem da palavra nos remete. Em Grego, “ethos” designa a “morada humana” e está ligado a idéia de costumes e práticas sociais, assim como a idéia de moral que em Latim “mores”, também tem o mesmo significado. No entanto, historicamente esses conceitos foram adquirindo significados diferentes. Atualmente costuma-se definir moral como conjunto de princípios, crenças, regras que orientam o comportamento das pessoas nas diversas sociedades e ética como reflexão crítica sobre a moral, mas ela não é puramente teórica, ela é um conjunto de princípios e disposições voltados para ação, cujo objetivo é orientar a conduta humana. Toda comunidade humana estabelece regras de convívio social e praticas culturais para identificar-se e distinguir-se das demais, assim como também promove uma reflexão crítica sobre as mesmas regras e práticas. Nesse sentido, posicionar-se eticamente em relação a uma determinada situação, regra ou prática social é olhar a questão de maneira critica e problematizadora, perguntando sempre o porquê das coisas. Especificamente na sociedade brasileira, permeada por flagrantes situações de injustiça e desigualdade e por diversos exemplos de ações individuais orientadas por parâmetros altamente condenáveis do ponto de vista ético, impõe-se a absoluta necessidade da discussão do tema “Ética”.
A ética está para democracia como a poesia está para vida Marcio Souza
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Ética no cotidiano São diversas as situações cotidianas em que nos colocamos as questões de “Como agir na relação com os outros? Agir buscando o quê? Fazer o Bem ou o Mal?” Enfim, isso é ético ou antiético? Vejamos na prática alguns exemplos que exigem um posicionamento ético e que estão relacionados às diversas experiências da vida cotidiana: Nos esportes, por exemplo, o objetivo de qualquer competição esportiva é a vitória de alguém ou de alguma equipe, no entanto, seria ético burlar as regras para chegar ao objetivo de vencer? Coloca-se aí uma questão ética. É justo salvar o que seria o gol do adversário com uma jogada desleal? O que está em jogo nessas situações é a idéia de se ganhar a qualquer custo, não importando as conseqüências de nossa ação. A utilização de anabolizantes (substâncias que potencializam a força muscular) nas práticas esportivas de atletismo, natação, futebol entre tantas outras, e que constituem os famosos casos de dopping, são centrais para uma discussão ética sobre os meios utilizados para se vencer uma prova ou um jogo. Nos assuntos da política temos assistido a diversas situações em que vereadores ou deputados, eleitos para representarem os interesses da coletividade, aceitam propinas para legislarem e agirem em favor de interesses particulares e até mesmo em seu próprio interesse.
Ético significa tudo aquilo que ajuda a tornar melhor o ambiente para que seja uma moradia saudável: materialmente sustentável, psicologicamente integrada e espiritualmente fecunda Leonardo Boff
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A ética é includente, tolerante e solidária, reforça a pluralidade e diversidade. A falta de ética instaura um estado de guerra e desagregação pela exclusão. A falta de ética ameaça a humanidade Sergio Gabriel Seixas
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A questão da clonagem humana tratada até pelas telenovelas coloca em pauta uma discussão ética sobre até onde a ciência pode chegar com seus avanços tecnológicos. O caso de profissionais, homens ou mulheres, que se utilizam da sua posição hierárquica para assediarem sexualmente seus subordinados, também se traduz em uma discussão de ética no trabalho. Os casos de indústrias que, mesmo garantindo empregos e aquecendo as economias, desmatam ou despejam detritos na natureza, também constituem tema para uma discussão de ética ambiental. Ética nas instituições educacionais As escolas e as Ong’s cumprem hoje uma extrema importância na formação ética das novas gerações. Mas afinal de contas o que é essa formação ética? Como a escola e a Ong pode contribuir para a formação ética de nossos jovens? Embora a ação pedagógica seja prioritariamente destinada ao desenvolvimento intelectual e à aquisição de aptidões, ela inevitavelmente repercute sobre outros componentes da personalidade do jovem, que são as atitudes, os valores, os interesses e os sentimentos. É o que chamamos de desenvolvimento da autonomia moral, que depende muito mais de experiências de vida propícias e favoráveis do que discursos teóricos e até mesmo a repressão. No convívio escolar os educadores podem compartilhar com os educandos aprendizagens ligadas à resolução pacífica de conflitos, a tomadas de decisões coletivas, aos cuidados consigo mesmo e com o lugar em que vivemos.
Escolhendo Cidadania O que significa dizer que “somos todos iguais”? É preciso posicionar-se contra todas as formas de corrupção, no mundo dos esportes, na vida política do nosso país, nas relações profissionais, e no nosso próprio cotidiano. A grande aprendizagem quando se trata da ética é a idéia de que os fins não justificam os meios e que ganhar a qualquer custo contraria a idéia de cidadania.
Orientações e Propostas para o Encontro Objetivo: O objetivo do encontro trabalhar o conceito de ética com os jovens. Expandindo o conceito para o cotidiano dos jovens por meio de exemplos onde os jovens são “provocados” a se posicionarem eticamente. Material Necessário: Flip-chart, papel, canetas e pequenas tiras de tecido “venda para os olhos”
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Aquecimento intencional “Olhos vendados” Distribua uma “venda” (que pode ser um pedaço de tecido) para cada um dos jovens. Peça para que os jovens formem um circulo e coloquem as vendas nos olhos. Depois peça para formarem um quadrado, depois um triângulo. Os jovens podem se comunicar, mas não podem se utilizar da visão para realizar a tarefa. Pergunte como foi fazer esta atividade e se ela contribuiu para a integração do grupo. Pergunte se alguém espiou pelas frestas da “venda” ou se utilizou de outro subterfúgio para realizar a tarefa. Comente as palavras mais utilizadas pelo grupo. Relacione as expectativas à proposta de trabalho do dia, que é trabalhar o conceito de ética.
Apresentação e Aproximação “Ético e antiético” Forme quatro subgrupos de jovens e distribua a cada um deles as seguintes frases abaixo. Maria, de 16 anos, está grávida. Seu namorado não quer assumir a paternidade e sua família não tem condições financeiras de manter mais uma criança. Ela procura uma clínica clandestina, para realizar um aborto. Você acha justa a atitude de Maria? E a da clinica clandestina em realizar o aborto?
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Aílton sofreu um grave acidente e foi constatada pelos médicos sua morte cerebral. No quarto ao lado do hospital, há pessoas necessitando de órgãos como coração, rins, fígado, córnea e outros. Depois de muita conversa, a família não autorizou o médico a desligar o aparelho e a fazer a doação dos órgãos. Você acha ética a atitude da família? Uma indústria é instalada numa pequena cidade. Propicia emprego para os moradores e paga salários justos. Porém, despeja lixo tóxico no rio que abastece a casa de todos os moradores da cidade. É justo que eles denunciem a empresa e lutem pela saúde de todos, mesmo correndo o risco de perderem seus empregos? Um homem, sua mulher e filhos viajam por uma estrada, em alta velocidade. São parados por um guarda rodoviário que, ao invés de aplicar multa, exige dinheiro para liberar o veículo sem multa. O motorista dá uma gorjeta e vai embora sem ser multado. a) É ética a atitude do motorista? b) E a do guarda?
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Cada subgrupo deve discutir as situações expressas nas frases e chegar a uma conclusão para apresentar ao grande grupo. Caso isso não seja possível eles devem apresentar ao grupo suas divergências e dúvidas. Enquanto os jovens estiverem discutindo nos subgrupos intervenha no sentido de desestabilizar as certezas dos jovens. Peça para se colocarem no lugar dos personagens das frases e pensarem em justificativas para se comportarem daquela maneira. Você pode inserir outras frases que expressem questões éticas, situações de “dilema” ou de “justiça e injustiça”. O importante é fomentar as discussões trazendo para os jovens o maior número de informações sobre esses temas, presentes na sociedade.
Leitura do texto “Ética, a morada humana” Promova a leitura coletiva do texto nos mesmos subgrupos da atividade anterior. Peça aos jovens para se aterem ao trecho “Ética no cotidiano” que traz exemplos que exigem um posicionamento ético e que estão relacionados às diversas experiências da vida cotidiana. Abra o debate sobre o texto relacionando-o à atividade anterior.
Impressões e Avaliações 8
Selecione uma poesia ou música do seu “baú de saberes” para ser lida ou ouvida no final do encontro após uma discussão tão densa. Abra a palavra para os jovens avaliarem o encontro de hoje e peça para alguém fazer o registro no “diário de bordo”.
Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede Textos Juventude e Contemporaneidade. Revista Brasileira de Educação. Anped - Associação Nacional de PósGradução e Pesquisa em Educação. No 5 e 6, maio-dez, 1997. São Paulo. Vídeos PORÃO (2003, dir. Fernando Mozart - dur: 15') - O filme apresenta um Brasil que vive com um pé nas promessas do mundo globalizado e com o outro no "porão" do navio negreiro. Trata ainda da gravura e texto de Walsh no set de filmagem. Desperta uma nova possibilidade de expressão oral e serve de metáfora para uma análise do Brasil contemporâneo. Sites Ação Educativa - www.acaoeducativa.org - www.codigodeetica.com.br
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QUANDO AS ANDORINHAS FAZEM O VERテグ
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Nesse encontro falaremos da “participação” e dos diferentes jeitos que cada um tem de
Vamos precisar de todo mundo Um mais um é sempre mais que dois Pra melhor juntar as nossas forças... Vamos precisar de muito amor... e participação Beto Guedes e Ronaldo Bastos
participar na escola, na Ong, e na comunidade em que vivem. Da mesma maneira que as aprendizagens da convivência, que você viu no primeiro encontro do Observatório, “participar” também se pratica e se aprende. É no nosso cotidiano e no contato com professores, educadores, amigos e gente da comunidade, que experimentamos, compartilhamos e aprendemos a concordar e discordar, respeitando a diversidade. É nesse contato que aprendemos a decidir as coisas em grupo respeitando as convicções políticas, religiosas, a condição social, a situação econômica, o time de futebol, o jeito de vestir, de pensar e de agir de cada um. Participar significa assumir compromisso com um “coletivo” na resolução de uma determinada questão. Cada um tem um jeito diferente de participar, dependendo dos desejos, competências e habilidades de cada um. Se existe um problema na sua escola ou na sua comunidade, uns podem organizar uma reunião, enquanto outros fazem à divulgação e articulação para que todos possam participar, e ainda outros podem providenciar todas as coisas para realização do encontro. A riqueza da participação está justamente em contar com pessoas com características, conhecimentos e papéis diferentes em torno de um objetivo comum. Quando dizemos que “uma andorinha não faz verão” significa que individualmente podemos transformar algumas coisas na nossa vida e na nossa comunidade, mas coletivamente nossa força de transformação e intervenção se multiplica. Os problemas não se resolvem sozinhos, mas com a participação de muita gente, considerando as riquezas e potencialidades da nossa gente e do nosso ambiente.
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A nossa participação na vida social, política e econômica pode ocorrer em diferentes instituições e lugares da sociedade: na escola, na empresa, na família, no bairro, nas fábricas, sindicatos, partidos políticos, movimentos e organizações da sociedade civil. É exatamente nesses espaços que podemos nos organizar para contestar, defender e garantir nossos direitos e responsabilidades de cidadão. Participar é um direito e uma responsabilidade de todos, é também, oportunidade de crescimento e desenvolvimento para as pessoas e para as comunidades.
Veja se você concorda com essas diferentes formas de participar e se organizar, e se vocês acrescentariam outras formas de participação: Elegendo nossos representantes municipais, estaduais e federais, considerando a história, o
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currículo, a honestidade e a competência dos candidatos. Militando em partidos políticos e sindicatos, defendendo as idéias em que acreditamos. Participando em Associações de Moradores, discutindo os problemas do bairro e da cidade. Participando em diferentes movimentos e organizações da sociedade civil, como os de defesa da ecologia, de direitos humanos, movimentos pela paz, grupos de jovens, grupos de igrejas, voluntariado, Conselhos de Direitos e Conselho Tutelar. Em todas as questões referentes à organização dos estudantes dentro das escolas e nas outras organizações estudantis (União de estudantes, Grêmio das Escolas, Associação de Pais e Conselhos de Escola).
Nas passeatas e movimentos de reivindicação. Na participação em projetos como o do “Observatório de Pesquisas” e na elaboração coletiva
de projetos de intervenção comunitária.
Orientações e Propostas para o Encontro Objetivo: Ressaltar a prática da “participação” abordando as diferentes formas de se organizar. Destacar que só se aprende a participar participando e que participar é um direito e uma responsabilidade de todos. Material Necessário: Flip-chart, barbante, canetas, garrafa vazia de refrigerante, pote vazio.
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Aquecimento Intencional “Aranha” Peça ao grupo que forme um circulo. Dê a cada um deles 1 metro de barbante. Amarre todos os barbantes em uma caneta sendo que a outra ponta do barbante deve ficar na boca dos participantes. Peca para que o grupo, movendo os barbantes insira a caneta em um pote vazio. Quando o grupo conseguir faze-lo peça para que façam o mesmo agora em uma garrafa vazia de refrigerante. Repita mais algumas vezes até o grupo afinar a sintonia. Pergunte como foi fazer esta atividade e como ela contribuiu para a integração do grupo. Comente as palavras mais utilizadas pelo grupo. Relacione-as com a proposta de trabalho do dia que se aproximar do conceito de “participação”.
Apresentação e Aproximação “Começando a conversa” Procure sondar com os jovens o que eles entendem por “participação” e quais formas de organização eles reconhecem, anotando todas as falas dos jovens no flip chart. Depois promova a discussão coletiva sobre a seguinte frase: Como se dá a participação das pessoas em sua comunidade? Em que ocasiões ela ocorre, de que forma, o que precisa melhorar? Se há líderes, como atuam e quais os resultados concretos dessa participação? A participação de algumas pessoas da comunidade tem trazido melhorias para a vida dos moradores locais?
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Leitura do texto “Quando as andorinhas fazem o verão” Nesse encontro seria interessante você convidar uma “liderança comunitária”, “um jovem atuante de um Grêmio estudantil”, “um vereador”, “um sindicalista”, “um militante de partido político”, ou ainda “representantes de Conselhos da cidade”, para lerem coletivamente o texto e promoverem um debate sobre a importância da participação, e sobre as diferentes maneiras de participar.
Impressões e Avaliações Pergunte aos jovens e aos participantes que você conseguiu convidar, qual a avaliação que fazem do encontro de hoje. Ouça atentamente cada um e também faça sua avaliação. Lembre-se: A postura do educador é fundamental para criar e manter o clima de confiança e valorização de todos. Para que isso ocorra, deve estar atento ao movimento do grupo e a suas manifestações, às falas e aos silêncios, ao que fica subentendido. Seu papel é intervir com perguntas que estimulem a reflexão do grupo para que as idéias e sentimentos expressos fiquem mais claros. Por isso, ao planejar seu trabalho, deve pensar não só no conteúdo de informações, mas em estratégias que permitam a integração das pessoas e o fortalecimento do grupo pensando nos objetivos do projeto Observatório.
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Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede Textos Autonomia e Autonomia na Escola. Alternativas teóricas e práticas. Aquino, Julio Groppa (org.). São Paulo: Summus Editorial, 1999. “A Revolução das redes”, MANCI, Euclides André. Ed. Vozes 2000. Limites: Três Dimensões Educacionais. De la Taile, Yves. Sâo Paulo: Editora Ática, 1998. Vídeos Lamarca (1994, dir. Sérgio Rezende, dur. 130') - Acompanha os dois últimos anos da vida do capitão Carlos Lamarca, quando decide fazer uma opção radical pela revolução, enviando a mulher e os dois filhos para Cuba e desertando do Exército, em 1969. Na clandestinidade, ligado a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), comanda ações revolucionárias e amadurece suas convicções políticas. Sites Instituto de Juventude Contemporânea - www.ijc.org.br www.paulofreire.org/convergence.pdf www.polis.org.br/participacao
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HOMEM, ANIMAL POLÍTICO
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Quantas vezes você leu ou ouviu alguém falar em atividades políticas, participação política,
organizações políticas, ou ainda, política para juventude, política educacional, política ambiental.
O pior analfabeto é o analfabeto Atualmente a palavra política aparece no nosso imaginário com uma conotação negativa, muita político. Ele não ouve, não fala, ligada à idéia de corrupção e desencantamento. No entanto, podemos olhá-la por um lado positivo, nem participa dos acontecimentos emancipador e com potencial de transformação e melhoria da qualidade de vida de todos. políticos. Ele não sabe que o custo O sentido da expressão “política” origina-se do grego “polis” que significa cidade, isto é, o lugar de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e onde as pessoas vivem juntas. Dessa maneira, “política” se refere a vida na polis, melhor ainda, do remédio dependem das decisões trata da vida em comum, da elaboração das normas, regras e leis, dos objetivos de uma políticas. determinada comunidade e das decisões sobre a organização da vida em sociedade. Bertold Brecht
No encontro anterior quando vocês discutiram a participação e as diferentes formas de organização, (nas escolas, ong’s, bairro, sindicatos, partidos) no fundo tratava-se de “fazer política”, ou seja, de cuidar das decisões sobre problemas de interesses de uma determinada coletividade. Quando trabalhadores se organizam para fazer alguma reivindicação; quando jovens participam do grêmio estudantil ou projetos como os que estão participando; quando vereadores e deputados se reúnem para votar alguma lei; e ainda quando o governo apresenta para a sociedade sua política econômica, sua política de cultura e sua política de habitação, também estão “fazendo política”. E mesmo no cotidiano as pessoas “fazem política” para alcançar seus objetivos nas relações familiares, de trabalho, de amizade e até de amor.
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BRASIL PODER LEGISLATIVO PODER EXECUTIVO Município: Prefeito Estado: Governador País: Presidente
Município: Vereadores Estado: Deputados estaduais União: Deputados Federais e Senadores
PODER JUDICIÁRIO Estado: Tribunais e Juízes do Estado Federação: Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais
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No entanto, pra vocês que estão participando do Observatório, não basta essas informações, é preciso saber um pouco mais sobre os poderes políticos do ESTADO na nossa sociedade. São três os poderes que constituem nosso Estado, e a cada um deles cabe uma função distinta: ao Legislativo cabe a elaboração das leis e a fiscalização no cumprimento delas; ao Executivo a responsabilidade de executá-las implementando as políticas de educação, saúde, habitação, cultura, segurança, assistência social e esporte; ao Judiciário, a de fiscalizar o respeito e o cumprimento às leis, julgando quando são ou não cumpridas. Veja o esquema ao lado. Apesar de estarem separados e com atribuições distintas, para o bom funcionamento da sociedade, suas funções devem ser complementares. A idéia da separação entre Executivo, Legislativo e Judiciário é justamente para que nenhum “poder” seja soberano e absoluto na sociedade e que um sirva de “freio” para o poder do outro. Outro aspecto importante que envolve o conceito de Estado é a questão da representatividade. As pessoas que ocupam lugares nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário são representantes do povo. Somos nós que votamos em vereadores, prefeitos, deputados, governadores, senadores e presidente, portanto, também somos responsáveis por colocar esses representantes nesse lugar de poder.
Na primeira noite eles se A Constituição de 1988 traz uma novidade que dá impulso para a questão da represenaproximam, colhem uma flor de tatividade: a criação dos Conselhos de controle social com representação popular. Os conselhos de direitos da criança e do adolescente, os conselhos tutelares, o conselho da assistência social, os nosso jardim e não dizemos nada. conselhos da educação e da saúde possibilitaram maior participação nos processos decisórios e na Na segunda noite, já não se escondem: pisam nas flores, matam destinação dos recursos públicos para essas áreas, democratizando nossa sociedade. nosso cão e não dizemos nada.
Lembre-se que os recursos financeiros que o Estado destina para a implementação das políticas Até que um dia, o mais frágil deles básicas (educação, saúde, habitação, cultura, segurança, assistência social e esporte) são entra sozinho em nossa casa, provenientes da arrecadação de impostos, portanto, de todos os cidadãos. Acompanhar como está rouba-nos a lua e, sendo gasto esse dinheiro é direito e uma responsabilidade de todo cidadão. conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada. Maiakówsky
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente Deve haver na sua cidade um Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA). Esse Conselho é um órgão público criado com o advento do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente. Box
O que é... O CMDCA é um canal de participação da sociedade civil na formulação e controle das políticas públicas na área da infância e juventude no âmbito Municipal. É ele que define como recursos que a Prefeitura tem para as crianças e adolescentes serão gastos nas áreas da Educação, Saúde, Assistência Social, Esporte ou Cultura. O que faz... Dentre as atribuições dos Conselhos Municipais podemos destacar sete: - Formular a política dos direitos da criança e adolescente, definindo prioridades. - Acompanhar e avaliar tanto as ações governamentais como as não-governamentais, destinadas ao atendimento aos direitos da criança e do adolescente. - Decidir sobre a conveniência da implementação de projetos, programas e serviços. - Propor e ajudar a manter estudos e levantamentos sobre a situação das crianças e jovens do Município - Administrar o Fundo Municipal da Criança e Adolescente - FUNCAD, destinando os recursos de acordo com as prioridades estabelecidas. - Contribuir com a Prefeitura na elaboração do orçamento Municipal para Educação, Saúde, Cultura, Esporte e Assistência Social. - Coordenar o processo de eleição dos Conselheiros Tutelares do Município
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Como você pode colaborar e participar... Procure saber no seu Município quando acontecem as reuniões do CMDCA. A participação popular nesses Conselhos é absolutamente fundamental para o exercício e desenvolvimento da democracia, e para a extensão e efetivação dos direitos para todas as crianças e adolescentes. Como são escolhidos seus participantes... O CMDCA é órgão paritário, ou seja, é composto por representantes indicados pelas Secretarias da Prefeitura e por representantes eleitos da sociedade civil, em igual número. A participação da sociedade civil se dá através da eleição de representantes de diversas organizações e movimentos que atuam no Município em defesa dos direitos das crianças e adolescentes.
Conselho Tutelar 10
O Conselho Tutelar é um instrumento nas mãos do cidadão para zelar e promover os direitos da criança e adolescente, além de orientar, encaminhar e tomar providências nas situações de abandono, negligência, exploração, violência, crueldade e discriminação de crianças e jovens no Município. O Conselho Tutelar é criado por Lei Municipal e a Prefeitura deve garantir as condições para seu funcionamento. Cada Município tem pelo menos um Conselho Tutelar com cinco conselheiros. O que é... O Conselho Tutelar tem um caráter de escuta, orientação e encaminhamento tanto para crianças e adolescentes, como para seus pais e responsáveis. É o Conselho quem recebe as denúncias e reclamações e aplica as medidas de proteção previstas no Estatuto. O que faz... Dentre suas atribuições podemos destacar: - Atender crianças e adolescentes cujos direitos foram ameaçados ou violados, aplicando as devidas medidas de proteção; - Atender e aconselhar pais e responsáveis; - Requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança. (Leia o artigo 136 do Estatuto da Criança e do Adolescente para saber mais sobre as atribuições do Conselho Tutelar)
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Como você pode colaborar e participar... - Encaminhando ao conselho os casos de crianças que faltam muito à escola - Informando o Conselho os casos de suspeita de violência doméstica. - Comunicando o Conselho os casos de crianças e adolescentes que não estejam matriculadas Procure o Conselho Tutelar para saber mais sobre como você pode colaborar e participar. Como são escolhidos os Conselheiros Tutelares... A forma de escolha deve estar descrita na própria Lei que cria o Conselho. A maioria dos Municípios brasileiros tem optado pelo voto popular direto, onde qualquer cidadão pode escolher os Conselheiros Tutelares da cidade. O processo de escolha deve ser coordenado pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente e fiscalizado pelo Ministério Público.
Orientações e Propostas para o Encontro Objetivo: O objetivo do encontro é possibilitar que os jovens pesquisadores percebam que a “política” esta presente em todas as relações humanas, se faz política sempre e em todos os lugares. Compreender a política pelo lado positivo e emancipador revelando seu potencial de transformação e melhoria da qualidade de vida de todos. E apresentar os três poderes instituídos na sociedade brasileira.
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Material Necessário: Papel craft, cola, tesoura, canetinhas, revistas, papel sulfite, cartolina.
Aquecimento Intencional “Jogo do complemento” Peça ao grupo que ande pela sala observando o espaço. Peça para que formem duplas e que se cumprimentem de diferentes jeitos. Quando estiverem se cumprimentando o organizador deve falar “congela”. O educador “descongela” um dos jovens de cada dupla e pede para que saia da cena, enquanto o outro permanece congelado. O jovem que saiu da cena deverá se aproximar de outro jovem “congelado” e imaginar que coisas ele poderia estar fazendo a partir da sua posição e se “encaixar na cena” como se estivesse dando continuidade ou complementado o movimento do “congelado”. Repita algumas vezes a brincadeira. Pergunte como foi fazer esta atividade comentando as palavras mais utilizadas pelo grupo. Remeta a discussão à idéia de complementariedade e representatividade.
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Apresentação e Aproximação “Construindo poderes” Peça para os jovens formarem três grandes grupos. Oriente-os a imaginarem que estão construindo um novo país e que sua localização é em um planeta desabitado. Peça que dêem um nome para esse novo país e que imaginem como seria sua “organização”. Como serão feitas as leis? O que acontece quando alguém descumpre a lei? Onde será gasto o dinheiro do governo para garantir o bem estar da população? Como um exercício de imaginação, você pode acrescentar outros ingredientes para que os jovens desenvolvam a criatividade. Distribua revistas, jornais, canetinhas, cola, papel craft, para os jovens montarem um cartaz que expresse como será esse novo país. Dê um tempo para confeccionarem os cartazes e peça para apresentarem para o grupo. Depois dessa atividade, antes de promover a leitura do texto, leia para os jovens o texto do Frei Lourenço Maria Papin.
Quando alguém pode ainda ser considerado analfabeto político? Quando de antemão condena a política, considerando-a desnecessária em sua vida, esquecendo-
se de que é a ciência do bem comum.
Quando fica indiferente diante dos graves problemas que afligem nosso povo (fome, moradia,
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educação, saúde, desemprego, etc.), não se empenhando na transformação da sociedade. Quando passivamente se deixa levar, sem nenhum questionamento, pela propaganda política
veiculada pelos Meios de Comunicação Social. Quando não se sente indignado e não protesta contra os desmandos, falcatruas e corrupções dos
falsos políticos.
Quando vota em candidatos somente porque lhe oferecem favores. Está vendendo seu voto,
vendendo sua própria dignidade humana. Quando persiste em votar: nos políticos que querem eleger-se visando ao seu interesse particular
e pouco preocupados com o bem comum de sua cidade. Quando vota movido por simpatia, olhando as aparências, sem levar em conta a seriedade
política do candidato, seu passado e seu presente e o conteúdo mínimo de suas propostas. Frei Lourenço Maria Papin
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Leitura do texto “Homem, animal político” Você deve se preparar bem para esse encontro para compartilhar com os jovens as questões trazidas pelo texto. Pesquise anteriormente ou converse com especialistas no assunto, sobre outros textos que abordem a questão dos três poderes, a constituição brasileira e os Conselhos com representação popular. Peça que leiam coletivamente o texto e estabeleçam comparações com o país que acabaram de criar. Faça suas considerações finais e passe para o momento de avaliação do encontro
Impressões e Avaliações As questões suscitadas pelas atividades e pela leitura do texto trazem um denso conteúdo para os jovens. Tranqüilize-os no sentido de que “conhecer o mundo e as relações entre os homens” é um processo lento que talvez só termine com o fim de nossas vidas. Pergunte sobre suas dúvidas e incentive-os a estudar sempre. Leia novamente o poema de Maiakówsky (não se esqueça de pesquisar sobre esse poeta russo e sua história) e peça para os jovens avaliarem o encontro.
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Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede Textos Os Jovens no Brasil - Desigualdades Multiplicadas e Novas Demandas Políticas. Sposito, Marília Pontes. São Paulo: Ação Educativa, 2003. Os clássicos da política - capítulo 5, Montesquie: sociedade e poder, J.A. Guilhon Albuquerque. Organizado por Francisco Weffort, editora ática. Vídeos Tiros em Columbine (2002, Michael Moore, dur. 120') - aborda o fascínio dos americanos por armas de fogo e a questão da cultura do medo. Sites União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). - www2.uol.com.br/estudantenet - www.prossiga.br/politica-ct/ - www.consciencia.net
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TRABALHO: PRAZER OU TORTURA?
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Pesquisa divulgada pelo Sebrae (2004) revela que a questão do “trabalho” é a que mais
interessa aos jovens de 15 a 24 anos. Ao lado do emprego, outra preocupação dos jovens é a “educação”. Uma hipótese para essa grande preocupação dos jovens, talvez seja o fato das famílias dependerem cada vez mais do salário de cada um de seus membros. A “necessidade” e a “independência” são os fatores que levaram os jovens brasileiros a colocar o trabalho no topo dos assuntos que mais lhes interessam na pesquisa Perfil da Juventude Brasileira, divulgada pelo Sebrae. São muitos os obstáculos enfrentados pelos jovens que buscam uma vaga no mercado de trabalho, e também por aqueles que já estão trabalhando: poucas vagas existentes, muitas exigências requeridas, baixa remuneração, más condições, longa jornada de trabalho, dificuldade de conciliar trabalho/escola e desajuste entre o estudo recebido e as exigências do mercado. Isso sem contar a velha máxima “se não tem experiência, não trabalha; se não trabalha, não tem experiência”.
E o fruto do trabalho é mais que sagrado meu amor... A massa que faz o pão vale a luz do seu suor Beto Guedes e Ronaldo Bastos
A condição de pobreza da maioria das famílias acaba por levar a população jovem a ingressar mais cedo no mercado de trabalho e geralmente com baixo grau de escolarização. Nos países mais desenvolvidos o número de jovens no mercado de trabalho é menor, pois eles primeiro acabam seus estudos para depois pensarem em ingressar no mundo do trabalho, adquirindo assim melhor formação educacional e conseqüentemente melhor condição de empregabilidade. Aproveitando que vocês estão participando de um projeto chamado “Observatório de Pesquisas” e estão cada vez mais desenvolvendo um olhar critico e investigativo, procurando compreender os sentidos e significados do mundo físico e social ao nosso redor, vamos pesquisar um pouco mais sobre o “Trabalho”. Trabalho é criação e, nesta perspectiva, é uma atividade humana que busca a satisfação de necessidades, ou seja, é pelo trabalho que os homens transformam a natureza, constroem instrumentos, elaboram novas idéias e se transformam. Pelo trabalho os seres humanos têm a possibilidade de criar coisas que melhorem a qualidade de vida das pessoas. A energia elétrica, os carros, os computadores, os remédios, as construções, os livros, as produções artísticas são exemplos de criações humanas que transformam a natureza (os rios, as árvores, os minerais etc.) em coisas que melhoram nossas vidas. Dessa maneira, podemos afirmar que um indivíduo trabalha quando coloca em atividade suas forças espirituais, intelectuais e corporais, com o objetivo de criar, transformar ou construir algo que promova uma mudança de estado ou situação. No nosso cotidiano, porém, a palavra trabalho assume diferentes significados. Muitas vezes, nos lembra sofrimento, dor, estafa, um fardo que temos que carregar. Desse modo, uma atividade que poderia levar ao desenvolvimento das potencialidades do indivíduo e da sociedade por meio da satisfação de nossas necessidades materiais e subjetivas, acaba por significar exploração e cansaço. Pensamos dessa maneira por conta do sofrimento que algumas formas de trabalho provocam na vida de milhares de pessoas no mundo. Às vezes temos a impressão de que o salário que recebemos é sempre menor que o número de horas que trabalhamos, além de ficarmos quase sempre à margem das decisões sobre aquilo que se vai produzir.
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Subiu a construção como se fosse sólido Ergueu no patamar quatro paredes mágicas Tijolo com tijolo num desenho lógico Seus olhos embotados de cimento e tráfego Chico Buarque
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Tá vendo aquele edifício moço. Ajudei a levantar Zé Geraldo
Nas sociedades atuais, as riquezas materiais e culturais, produzidas por meio do trabalho humano, não estão acessíveis a todas as pessoas. Estamos falando das desigualdades sociais e da má distribuição da renda. Em quase todas as culturas existem duas palavras para designar a idéia “trabalho”, uma para indicar a obra criativa e transformadora e outra para a que denota ação de labor, esforço e cansaço. No latim, laborare “ação de labor, cansaço” e operare “opus, criação, obra”. Se procurarmos no dicionário de português, encontraremos os dois significados para “trabalho” na mesma palavra. Ou seja, a de realizar uma obra criativa e transformadora, e a de esforço cotidiano, repetitivo, sem liberdade, e que consome as pessoas. Algumas pesquisas indicam que a origem da palavra “trabalho” vem do latim “tripalium”, que era um instrumento utilizado para beneficiar o trigo e o milho para alimentar as pessoas, mas que também foi largamente usado como instrumento para torturar pessoas. É importante também que vocês saibam que no Brasil existe uma Lei que define os parâmetros legais sobre o trabalho dos jovens (ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente Lei federal 8069, de 14 de julho de 1990). É evidente a necessidade dos jovens ter uma atividade remunerada que auxilie no orçamento familiar, ou na sua própria sobrevivência. Mas, seja qual for essa atividade, ela não poderá prejudicar seu desenvolvimento físico, intelectual, social e psicológico, nem a freqüência à escola.
11 Um homem se humilha, se castram seus sonhos Seu sonho é sua vida, e vida é trabalho E sem o seu trabalho o homem não tem honra Gonzaguinha
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O capítulo V do ECA, “Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho”, é dedicado ao trabalho. Nele se definia a idade mínima de 14 anos para admissão ao trabalho, mas a Lei federal 10.097, de 2000, diz que só podem trabalhar maiores de 16 anos. Então é essa última que vale. O trabalho de crianças de 0 a 14 anos permanece terminantemente proibido. O adolescente entre 14 e 16 anos pode exercer trabalho só como aprendiz e sob muitas condições. Portanto, para enfrentarem os desafios de se inserirem no mundo do trabalho, é preciso olhar a questão de uma forma crítica e reflexiva. Ou seja, você necessita de uma boa formação educacional que lhe permita fazer as escolhas atuais e planos futuros a partir de suas necessidades e oportunidades do momento, mas também é preciso considerar seus desejos e sonhos de realização profissional. É necessário, ainda, desenvolver outras habilidades no plano da sociabilidade e da ampliação de seu repertório cultural, como as que vocês vêm desenvolvendo ao longo dos encontros do Observatório. As aprendizagens que você adquire e desenvolve participando das discussões na escola, nas Ong’s, em cursos e projetos como esse, interferem decisivamente na melhoria de sua empregabilidade. Pesquise também, junto com outros jovens e com os professores e educadores que você conhece sobre “economia solidária”, “associativismo e cooperativismo”, “empreendedorismo responsável”, “micro crédito”.
Orientações e Propostas para o Encontro Objetivo: Refletir sobre o “trabalho” como prática emancipadora e criativa, e ao mesmo tempo como atividade alienante, sofrível e estafante. Discutir sobre as dificuldades do novo mundo do trabalho, entendendo-o como além da noção de ganhar dinheiro para a sobrevivência. Refletir sobre a relação entre trabalho e acesso à riqueza Material Necessário: Flip-chart, pincel atômico, sulfite, canetas, papel, CD com as músicas propostas no encontro, folhas com as letras das músicas “Construção”, de Chico Buarque, e “Cidadão”, de Lúcio Barbosa (cantada por Zé Geraldo). CD com as músicas “Trabalho e Festa” e “Redescobrir” de Gonzaguinha.
Aquecimento Intencional “Siga o chefe” Peça aos jovens para andarem pelo ambiente se movimentando de diferentes maneiras: rápido, devagar, com um pé só, agachado, etc. Eleja um dos jovens para ser o “chefe” sendo que todos os outros jovens devem imitar o movimento realizado pelo “chefe”. Troque de “chefe” para que todos os jovens possam “liderar” os movimentos e também seguir os movimentos dos outros. Pergunte se tiveram dificuldade de realizar alguns movimentos mais difíceis, e como se sentiram “liderando” a turma ou reproduzindo o movimento dos outros.
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Apresentação e Aproximação “Construção e cidadão” Explique aos jovens que eles acompanharão trechos de duas reconhecidas músicas populares. Elas falam sobre dois operários da construção civil que não são reconhecidos pelo trabalho que realizam. Pesquise anteriormente e fale um pouco sobre os autores e outras composições deles. Ouça com os jovens as duas músicas e em seguida distribua as letras para que leiam enquanto ouvem novamente. Pergunte se compreenderam a letra e se têm alguma dúvida de vocabulário. Peça que formem pequenos grupos, de três ou quatro, nos quais discutirão os trechos das músicas, guiados por algumas questões elaboradas por você. Dentre as perguntas que fará, pergunte se eles fossem os autores dessas letras e pudessem mudar o título delas, que nomes dariam? . Ainda nesses grupos peça que identifiquem outras profissões onde os trabalhadores não são reconhecidos pelos trabalhos que desenvolvem. Peça para criarem uma estrofe, ou uma música, falando dessa profissão, para apresentarem ao grupo. Outra pergunta que pode ser feita: A partir das aprendizagens que tiveram nos encontros anteriores (cidadania, ética, política, direitos e responsabilidades) Que coisas vocês fariam para que as situações descritas nas músicas não acontecessem na vida real?
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Leitura do texto “Trabalho: prazer ou tortura?” Promova a leitura coletiva do texto nos subgrupos dando a palavra aos jovens para relacionarem as questões da atividade anterior com a leitura do texto. Ressalte a importância do trabalho como obra criativa e transformadora que busca a satisfação das necessidades humanas. Traga outras pesquisas sobre a relação trabalho e juventude, para compartilhar com os jovens. Apresente aos jovens a íntegra do (ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente Lei federal 8069, de 14 de julho de 1990), e a Lei federal 10.097, de 2000, que regulamenta o trabalho dos jovens. Outra frase para refletir com os jovens:
"No futuro, não muito distante, haverá poucos empregos para pessoas altamente educadas e bem-preparadas. Não haverá chances para todo mundo. A qualidade do ensino é precária no mundo inteiro e isso terá graves conseqüências. Em especial, a educação científica é deplorável. Em quase todo o mundo os professores ainda são mal remunerados e a qualidade do ensino de ciências é muito deficiente. Para mim, este é um dos piores problemas que enfrentamos atualmente, causador de muitas desgraças. No início deste século, o escritor H.G. Wells dizia que "o futuro será uma corrida entre a educação e a catástrofe". No momento, acho que estamos perdendo a corrida."
Impressões e Avaliações
Arthur Clarke
Peça aos jovens para avaliarem o encontro de hoje destacando uma nova aprendizagem. Peça para imaginarem duas palavras que remetam à idéia do “trabalho” como obra criativa e socializem com o restante do grupo.
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Para que os jovens saiam desse encontro com uma visão positiva do “trabalho” deixe-os ir embora ao som das músicas “Redescobrir” e “Trabalho e Festa” de Gonzaguinha que destaca o trabalho como instrumento de transformação da vida.
Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede Textos Adolescência. Escolaridade, profissionalização e Renda. Propostas de Políticas Públicas para Adolescentes de Baixa Escolaridade e Baixa Renda. Grupo Técnico para Elaboração de Políticas para Adolescentes, 2002. Vídeos Pão e Rosa (2000, dir. Ken Loach, dur. 105') - Com o apoio do sindicalista Sam, a jovem mexicana Maya lidera grupo de imigrantes ilegais que trabalham como faxineiros em um prédio comercial nos Estados Unidos. Eles não usam black-tie. HIRSZMANN, Leon. (dir.) Rio de Janeiro, 1981. Baseado na peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri, este filme premiado retrata o dia-a-dia, os conflitos e contradições de trabalhadores na indústria, de uma geração que adquiriu a consciência de que, para mudar, é preciso se organizar. Sites Secretaria de Educação Média e Tecnológica (Semtec). - www.mec.gov.br/semtec
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O AMBIENTE INTEIRO
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És o mais bonito dos planetas... o encontro anterior em que discutiram o “trabalho” vocês puderam perceber como, por meio e nos alimenta com seus frutos dele, o homem pode transformar positivamente seu ambiente promovendo a melhoria da qualidade Estão te maltratando de vida de todos. A energia elétrica, os carros, os computadores, os remédios, as construções, os por dinheiro... livros, as produções artísticas são exemplos de criações humanas que transformam a natureza (os e quem não é tolo pode ver Beto Guedes e Ronaldo Bastos
O que se corta em segundos leva tempo pra vingar. Se a floresta, meu amigo tivesse pé pra andar com o perigo não tinha ficado lá Vital Farias
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rios, as árvores, os minerais etc.) em coisas que melhoram nossas vidas. No entanto, quando essa ação humana é desorganizada e baseada em interesses de poucos, temos como conseqüência a queda da qualidade de vida da humanidade. Assim, o trabalho, a ciência e o desenvolvimento tecnológico ao mesmo tempo em que trouxeram benefícios para parte da humanidade, alteraram negativamente o ambiente natural por meio da contaminação da água, do ar e do solo, da extinção de espécies animais e vegetais e da extração desequilibrada de recursos minerais. A questão ambiental que até algum tempo atrás era tema de biólogos e ambientalistas, tem tomado conta de discursos políticos, jornais, revistas, televisão e até mesmo escolas e comunidades. Talvez porque os impactos ambientais da ação humana têm afetado decisivamente a todos, em especial os setores mais carentes das populações. Hoje, falar de “ambiente inteiro” é falar do cuidado com a vida em todas as suas formas e da responsabilidade de cada um (cidadãos, sociedade civil organizada, iniciativa privada e governamental), na construção de um mundo melhor que garanta a vida com dignidade. Muitos dos problemas ambientais que afetam nossas vidas no cotidiano resultam da falta de cuidado do poder público com as condições de vida da população, e da degradação, destruição e poluição causada pela ação das grandes indústrias. No entanto, os cidadãos têm responsabilidade na medida em que acham que tudo tem que ser resolvido pelo governo. É importante que as pessoas saibam que também são responsáveis pelos problemas e que podem colaborar para diminuí-los. Como enfrentar então os problemas que nos afetam? Em primeiro lugar o acesso à informação possibilita uma mudança de comportamento frente aos problemas ambientais. Em segundo lugar a educação ambiental é o caminho mais seguro para motivar e sensibilizar as pessoas para agirem individualmente e participarem coletivamente na defesa da qualidade de vida. A pouca responsabilidade das pessoas e das comunidades na defesa do “ambiente inteiro” resulta principalmente do desconhecimento dos principais efeitos provocados pela destruição dos recursos naturais, e da pouca experiência comunitária para resolução dos problemas locais. Vocês enquanto jovens participantes de projetos sociais que estão estudando diferentes temas, realizarão pesquisas em suas comunidades e proporão projetos e intervenções, devem estar atentos as seguintes questões que na maioria das vezes nos passam despercebidas: É preciso nos perceber como “fazendo parte do ambiente”, e responsáveis por ele.
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Ao ocupar os ambientes, o ser humano sempre os transforma. Extraímos e
utilizamos os recursos naturais - solo, água, luz do sol, animais, vegetais, minerais, para produzirmos os utensílios necessários a nossa sobrevivência. No entanto, podemos fazer isso de maneira consciente e responsável de maneira a não agredir a saúde ambiental e humana. O desmatamento sem o reflorestamento gera o empobrecimento do solo e a extinção de espécies animais e vegetais. A eliminação de resíduos sólidos e líquidos (lixo e esgoto) a céu aberto favorece
a disseminação de doenças, a contaminação do solo, das águas (nascentes, rios e mares) e a morte de animais e vegetais.
O lixo acumulado nas ruas é carregado pelas chuvas, entope os bueiros e pode contaminar os rios. O lançamento de esgotos não tratados nos rios e nos mares, contamina as águas causando a morte
de seres e também afeta a vida daqueles que a utilizam.
É preciso promover a reciclagem de lixo industrial e o tratamento dos efluentes, antes de serem
lançados aos rios e mares. A reciclagem de resíduos sólidos é uma contribuição fundamental para a economia
Pense globalmente, aja localmente John Lennon
e principalmente para melhoria da qualidade de vida de todos. É preciso separar os diferentes materiais do lixo (vidro, metal, plástico, papel limpo) para reutilizálos ou encaminhá-los a locais onde sejam reutilizados ou reciclados. É preciso armazenar adequadamente o lixo. Atitudes como jogar papeis,
plásticos ou mesmo materiais orgânicos pelas janelas de carros, ônibus e trens, ou em ruas, córregos e terrenos baldios, interferem na estética urbana e na nossa qualidade de vida, pois poluem o “ambiente inteiro”
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Evitar o desperdício de água nas ações cotidianas como no banho, desligando as torneiras ao
escovar dentes, evitando lavar o quintal, as caçadas e carros. Economizando energia elétrica sempre que possível, apagando as luzes dos cômodos que não estiverem sendo ocupados, diminuindo o tempo de uso de chuveiros e torneiras elétricas.
Exigir do poder público local que cumpra sua responsabilidade promovendo a coleta e destinação
adequada do lixo, coleta e tratamento do esgoto. Desenvolvendo técnicas para limpar as águas (em estações de tratamento) antes de serem lançadas aos rios e mares, além da limpeza freqüente de córregos, ruas e bueiros para evitar enchentes. Exigir do poder público políticas, programas e leis que contribuam para a
preservação do ambiente e dos direitos dos cidadãos.
O conhecimento mais aprofundado das questões sociais, econômicas e suas relações com as
Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas, que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontece à terra acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos. Carta de chefe indígena ao governo americano 1854
questões ambientais são primordiais para se ter um saber mais amplo sobre as complexas questões ambientais atuais. É preciso desenvolver a percepção de um Ambiente Inteiro e não um “meio ambiente”, onde nós, os homens, nos excluímos.
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Aprendizado Sequêncial Sabe-se que apenas a transmissão de conhecimento não é suficiente para a mudança efetiva de comportamento. Apesar do conhecimento técnico e científico, os seres humanos se fazem cada vez mais distantes do próprio meio natural. É hora de reaproximar as pessoas da natureza, trabalhar a percepção do ambiente e a relação de afetividade que com ele se estabelece, para enfim iniciar o processo de reversão do quadro não sustentável de desenvolvimento atual. A mudança deve ocorrer em todos os setores: sociedade civil, iniciativa privada e governamental.
Orientações e Propostas para o Encontro Objetivo: Compartilhar com os jovens a perspectiva de que todos fazem parte do “ambiente” e que somos responsáveis pelo impacto das nossas ações. Valorizar a educação ambiental como o caminho mais seguro para motivar e sensibilizar as pessoas a agirem individualmente e participarem coletivamente na defesa da qualidade de vida. Material Necessário: Flip-chart, pincel atômico, sulfite, canetas coloridas, papel, lápis de cor, giz de cera, revistas, tesoura, cola, gravador e fita.
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Aquecimento intencional “paisagem fragmentada” Divida o grupo em subgrupos de no máximo seis pessoas. Cada subgrupo se reúne em torno de uma mesa, na qual devem fixar uma grande folha de papel. Distribua lápis de cor, canetas coloridas e giz de cera para os subgrupos. Cada subgrupo deve escolher um dos participantes para ser o observador do trabalho. A tarefa de cada subgrupo é desenhar uma paisagem definida por você (praia, montanha, cidade, carnaval, feira). Importante: o grupo não deve saber qual é a paisagem. Escreva em um papel um elemento de cada paisagem e distribua a cada jovem individualmente para que ele desenhe esse elemento no papel. Elementos das de paisagens: Praia: Areia, mar, guarda-sol, carrinho de sorvete, surfista, pessoas, sol. Montanha: Árvores, cachoeira, rio, montanhas, vento, pedras, nuvens, barracas de
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acampamento. Cidade: Prédios, ruas, carros, pessoas, chuva, ônibus, semáforos, motos. Carnaval: Carros alegóricos, instrumentos de batucada, pessoas fantasiadas, avenida, arquibancada, pessoas, luzes. Feira: carrinho de feira, frutas, verduras, barraca de feira, vendedor de feira, pessoas. Distribua um papelzinho para cada membro do subgrupo, contendo o que cada um deverá desenhar. Cada participante deverá desenhar apenas um elemento que compõe a paisagem na mesma folha de papel que as outras pessoas do subgrupo. Nessa hora os jovens não podem conversar entre si. Ninguém deve contar sua tarefa. Estimule todos a desenhar, mesmo que digam não ter muita habilidade para desenho. É importante que todos desenhem. Dê um tempo de aproximadamente 15 minutos, e solicite que cada subgrupo cole na parede sua produção, para que todos possam olhar e comentar. Peça para que observem e comentem como ficaram as paisagens? Qual foi o resultado final? Tiveram vontade de conversar com o colega? O grupo conseguiu entender que estava desenhando elementos da mesma paisagem? Como é a sensação de estar fazendo algo fragmentado? O exercício tem como objetivo mostrar que as “paisagens” e o “ambiente” devem ser vistos em sua completude, e não de maneira fragmentada.
Apresentação e Aproximação “A cidade que cresce” Trata-se de uma atividade de dramatização onde os jovens devem imaginar serem moradores de uma pequena cidade, cujos habitantes são convocados a realizar um plebiscito sobre a instalação de uma indústria no Município. Para seu processo de produção a indústria requer muita água, por isso ela seria instalada às margens do rio que corta a cidade. Ao mesmo tempo em que ela traria empregos e investimentos para a cidade, teme-se pelo comprometimento da qualidade das águas do rio que abastece a cidade. O prefeito da cidade tem um laudo em suas mãos garantindo que a indústria não é poluidora, mas também foi procurado por um grupo de ambientalistas que alertam para os graves problemas decorrentes da instalação da fábrica. A cidade inteira está se mobilizando, existem grupos a favor e grupos contra a instalação da fábrica na cidade. Organize os jovens em sete grupos; cada um vai se colocar no lugar dos seguintes atores sociais: representantes da indústria; vereadores a favor da instalação da indústria; vereadores contrários à instalação da indústria; ativistas ambientais; líderes comunitários; radialistas da emissora local; população local (grupo mais numeroso). Um dia antes do plebiscito (votação em que cada eleitor só pode votar “sim” ou “não”) haverá um debate na cidade. Os representantes da indústria vão apresentar a proposta ao prefeito, na assembléia legislativa com a presença dos vereadores, ambientalistas e líderes comunitários. Enquanto isso nas ruas dois radialistas entrevistam moradores que fazem perguntas destinadas ao Prefeito, representantes da indústria e vereadores. Dê um tempo para os grupos combinarem seus discursos. Comece o debate e deixe por conta da criatividade dos jovens.
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Leitura do texto “O ambiente inteiro” Antes de iniciar a leitura do texto sugira que ouçam a música “Saga da Amazônia” de Vital Farias que é um hino em defesa da fauna e flora de nossas florestas. A música se encontra em um disco chamado “cantoria” de Elomar, Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai. Esse CD deve estar no “baú de saberes” Promova a leitura do texto em subgrupos e abra o debate perguntando aos jovens o que eles entendem por “Ambiente inteiro”, relacionando o texto com as discussões sobre a atividade “A cidade que cresce” e “Paisagem fragmentada”.
Impressões e Avaliações Antes de iniciar a avaliação ouça mais uma música chamada o “Sal da Terra” de Beto Guedes e Ronaldo Bastos que fala da relação homem e natureza e da importância de cuidarmos do nosso Planeta. Não se esqueça de pedir para um dos jovens registrar no “Diário de Bordo” os acontecimentos e discussões do encontro.
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Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede Textos Juventude e Sexualidade. Castro, Mary Garcia; Abramovay, Mirim; Silva, Lorena Bernardete da. Brasília: Unesco, 2004. Vídeos Ilha das Flores. Dur:12 min, 1989 Direção: Jorge Furtado. Um tomate é plantado, colhido, vendido e termina no lixo da Ilha das Flores, entre porcos, mulheres e crianças. Sites Ministério do Meio Ambiente - www.mma.gov.br Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA – www.ibama.gov.br www.ambientebrasil.com.br
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SOCIEDADE DO CONSUMO, CAPITAL TOTAL
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Inicialmente torna-se necessário diferenciar consumo de consumismo. No consumo o indivíduo
O consumismo é, certamente, adquire aquilo que necessita para viver. No consumismo ocorre um excesso e uma inversão da idéia de necessidade. um dos problemas centrais da juventude atual. A produção de bens e serviços (carros, casas, computadores, tênis, roupas, livros) por meio do A publicidade aposta nos jovens trabalho e da criatividade humana tem por objetivo o consumo desses produtos e serviços. para vender seus produtos. Consumir nem sempre foi visto como um problema, ao contrário, é por meio desse consumo Muitos já não encontram sentido que acessamos as “coisas” que melhoram a nossa vida. Desde que passamos a viver em na vida por não poderem consumir, sociedade e instituímos o “trabalho”, consumimos os recursos naturais, transformamos a natureza, enquanto outros descobrem construímos diferentes instrumentos, elaboramos novas idéias, para garantir a nossa sobrevivência um "sentido" consumindo e vivermos melhor. compulsivamente. Parece que não existe saída. Todas as pessoas precisam consumir a fim de satisfazer suas necessidades básicas para a Jornal Mundo Jovem
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sobrevivência. O consumo apresenta-se como atividade natural e saudável, quando praticada de forma consciente e dentro do necessário, sendo assim indispensável. No entanto, não podemos esquecer que a lógica do atual sistema de produção de bens e serviços (Capitalismo) é de criar cada vez mais produtos gerando novas necessidades. Sempre haverá um celular melhor e mais bonito, um carro mais moderno e mais veloz, um tênis e uma roupa de uma marca melhor, tudo isso obviamente um pouco mais caro. Aliado a esse fato o homem moderno, insatisfeito por excelência, apresenta-se sempre com uma vontade a ser saciada, enquanto isso não acontece, o descontentamento é inevitável, quando o desejo é satisfeito, a vontade cessa por pouco tempo dando lugar a uma outra vontade. Podemos dizer ainda que existe uma ilusão de que quando compramos um novo produto que a mídia diz que é importante, seremos pessoas mais felizes, mais completas e saudáveis. Basicamente é essa combinação que provoca aquilo que costumamos chamar de “consumismo” (o consumo excessivo e sem crítica, sem reflexão sobre o que realmente é necessário). Somos todos afetados, em maior ou menor grau, por esse sistema, no entanto há aqueles que por não poderem consumir esses produtos são excluídos sem, contudo, deixarem de desejar consumir esses bens. Isso passa a ser um grande problema, principalmente para as sociedades marcadas pelas injustiças sociais e pela má distribuição da renda. Pois as sociedades ocidentais, fundamentadas pelo poder da mídia (televisão, livros, revistas, jornais, novelas, filmes), pelo marketing e propaganda, nos oferece a todo instante uma infinidade de bens e serviços para melhorar nossas vidas, entretanto esses produtos não estão acessíveis à imensa maioria da nossa população. Consumo Inteligente Mesmo diante de uma sociedade basicamente consumista, muitas pessoas vivem sem se sentirem fascinadas ou mesmo hipnotizadas por vitrines extremamente bem elaboradas e promoções dos mais diversos tipos. Naturalmente, compram o que necessitam sem depender desse procedimento para se sentirem felizes e realizadas.
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O que queremos compartilhar com vocês nesse encontro, é que o ato de consumir pode se transformar em um ato de cidadania. O consumo consciente é um processo de escolha ética que equilibra o consumo e a sustentabilidade social e ambiental do planeta. Ou seja, o consumidor consciente busca a harmonia entre a sua satisfação, a preservação do meio ambiente e o bem-estar social. Nas nossas opções diárias de consumo podemos interferir na forma como as indústrias vão se preocupar com a sociedade ou a natureza. Vejamos alguns exemplos. Uma conhecida fábrica de tênis foi acusada de explorar os seus funcionários asiáticos ao fornecer péssimas condições de trabalho e baixos salários. Algumas indústrias são conhecidas por utilizar a mão de obra infantil, enquanto outras retiram predatoriamente da natureza os recursos para confeccionarem seus produtos. É por meio do não-consumo desses produtos e da mobilização realizada por pessoas e grupos preocupados com essas questões que nos tornamos consumidores críticos. Veja as definições sobre os tipos de consumidores que existem e se você concorda ou acrescentaria um outro tipo: Consumo alienado: esse é o consumo que a mídia propõe: que as pessoas devem comprar e consumir de uma forma absurda, sem ter um sentido para isso. Todos os seus gostos, suas escolhas, seus desejos, vem de fora, são controlados por outros. Para gerar lucro, a empresa fica manipulando os desejos das pessoas para vender, vender e ter cada vez mais lucro. Consumo compulsório: acontece quando a pessoa entra no supermercado com pouco dinheiro, tentando levar o máximo que puder para casa e não liga para etiquetas ou marcas: o importante é a quantidade, pois precisa atravessar o mês com aquele dinheiro. O drama do consumo compulsório é quando a pessoa não tem muitos recursos financeiros. Consumo para o bem-viver: é quando a gente escolhe o produto ou o serviço que a gente precisa, nunca pensando na mídia, na propaganda, mas para garantir o nosso bem-viver. Compra porque aquele alimento é saudável, é saboroso, porque o produto satisfaz minha necessidade, porque aquela roupa é agradável, confortável. Consumo solidário: é quando o consumo, além de garantir o bem-viver do consumidor, também garante o bem-viver do produtor. Por exemplo, se eu compro um produto de uma empresa que explora o trabalhador, destrói o meio-ambiente, eu também estou colaborando para a destruição do meio ambiente e exploração daqueles trabalhadores. Porém, se eu compro um produto de uma empresa da “economia solidária”, estou colaborando para que aquele produtor possa viver do seu trabalho, sem exploração. Pesquisar sobre economia solidária.
Quando vai a um Shopping e é perguntado se quer alguma coisa, Frei Betto costuma responder que está apenas fazendo um “passeio socrático”. Segundo ele, Sócrates (470-399 a.C), costumava dizer na sua época: “Estou apenas observando para ver quanta coisa existe que eu não preciso para ser feliz”. Nenhum supermercado satisfaz meu coração Belchior
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Jornal Mundo Jovem, Ano 39, N.320, set 2000, Porto Alegre. p. 12-13
“As coisas se tornam mais importantes do que as pessoas. Então se a pessoa tem aquelas roupas, aqueles relógios, aquelas coisas todas, ela tem valor. Aí se você tira aquelas coisas que ela tem, ela já não vale mais nada. Quer dizer, um relógio, um tênis, uma calça valem mais do que a pessoa. Isto é uma distorção total do que é o sentido da vida. Já não é mais a relação de pessoa-pessoa, já não é mais a tua felicidade, a tua realização humana, mas é o “ter ou não ter” uma etiqueta numa calça, num tênis que dão ou não sentido à vida.” Euclides André Mance
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Orientações e Propostas para o Encontro Objetivo: Discutir a questão do “consumismo” como um dos sérios problemas das sociedades modernas. Identificar os diferentes tipos de consumidores que conhecemos. Tratar do “consumo inteligente” como um ato de cidadania. Material Necessário: Flip-chart, pincel atômico, sulfite, canetas coloridas, papel.
Aquecimento intencional “Eu gosto de você porque…” Faça um circulo com as cadeiras de modo que todos fiquem sentados e apenas um jovem fique no centro da roda. O jovem que está no centro da roda escolhe uma das pessoas que está sentada e diz a seguinte frase “Eu gosto de você porque....” e fala alguma característica da pessoa escolhida( cor da roupa, cor dos olhos, tipo de sapato, tipo de cabelo, cor da pele, algumas características da personalidade do outro – amigável, amoroso, impulsivo, transparente, objetivo – etc). Nessa hora todas as pessoas que têm a característica da pessoa escolhida devem levantar da cadeira e trocar de lugar. Quem ficar de pé comanda o aquecimento dizendo novamente a frase “Eu gosto de você porque…” e assim sucessivamente. O aquecimento deve durar dez minutos. Pergunte como foi fazer esta atividade. O que os jovens escolheram mais, pertences das pessoas; características físicas, traços da personalidade. Atente para o fato de que às vezes o que mais nos chama a atenção “no outro” são suas posses e não os traços e características da sua personalidade.
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Apresentação e Aproximação “Primeiras idéias” Você pode iniciar a aproximação com relação ao tema perguntando aos jovens: O que vocês entendem por consumismo? Registre as idéias apresentadas no quadro ou em uma grande folha de papel, de modo que todos possam ler as anotações. Estimule a participação, questionando idéias que não estiverem muito claras. O objetivo neste momento é coletar o maior número possível de elementos e idéias que contribuam para um entendimento posterior. Comece a atividade dividindo os jovens em dois subgrupos e diga para imaginarem que são “profissionais da propaganda” que foram pagos para bolarem um novo produto, sua embalagem e um outdoor que faça a propaganda para venda do produto.
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Diga que esse novo produto tem que ser algo que não existe, mas que é de extrema necessidade de todas as pessoas. Incentive os jovens a criarem coisas insólitas como: parabrisa de óculos, sapato pra natação, gelo quente, tapete voador etc. (peça para lembrarem das invenções malucas do pessoal do “casseta e planeta”.) Peça também para criarem um “jingle” para o produto que criaram. Dê um tempo para os grupos planejarem as estratégias de marketing e peça para apresentarem para o outro grupo. Incentive o processo criativo dos jovens ressaltando que nem toda propaganda é enganosa e que é preciso sempre lembrar das discussões sobre ética realizada no oitavo encontro do Observatório. Termine essa atividade ressaltando que estamos vivendo uma época onde quase tudo é consumível e logo descartável. Até parece que trocamos “existir” por “consumir”. As empresas de publicidade “criam necessidades” o tempo todo. Os cartazes, outdoors, revistas, rádio e TV hipnotizam e embriagam os mais desavisados para consumir ou simplesmente para desejar desenfreadamente alguma coisa.
Leitura do texto “Sociedade do consumo, capital total” Peça que leiam o texto em subgrupos. Solicite que, considerando as primeiras idéias apresentadas sobre consumismo, e a leitura do texto, façam comentários e perguntas sobre o tema. Depois das discussões coletivas, pergunte se alguém recorda-se de uma música, poesia ou filme que trate do tema, para ser apresentado ou ouvido no próximo encontro.
Impressões e Avaliações Leia novamente para o grupo o texto de Euclides André Mance, e peça para os jovens pensarem em uma característica do grupo que faz parte da sua essência, que nada, nem ninguém consegue tirar. Lembre-se de incentivar o registro no “Diário de Bordo” como instrumento que narra o desenvolvimento e a história do grupo.
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Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede
Textos Baudrillard, Jean. A Sociedade de Consumo. trad. de Artur Mourão. Rio de Janeiro, Editora Elfos, 1995. Featherstone, Mike. 1995. Cultura de consumo e pós-modernismo. Tradução de Julio Assis Simões. São Paulo: Studio Nobel. (Série Megalópolis). Vídeos O Homem que Copiava (2002, Jorge Furtado, 123') - André é um jovem de 20 anos que trabalha na fotocopiadora da papelaria Gomide, em Porto Alegre. Ele precisa de 38 reais para salvar a vida de Sílvia. Para conseguir o dinheiro tem vários planos e, incrivelmente, todos dão certo. Sites www.contracultura.org.br
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PAPEL DA Mテ好IA
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Mídia é um termo que está sendo cada vez mais utilizado em nossos dias, com certeza vocês
já ouviram falar no “poder da mídia” e como ela influencia diretamente nas nossas opiniões, valores e decisões. A origem da palavra mídia é inglesa e significa “meio”. Em outras palavras, trata-se de Que tudo que a antena captar meu coração captura... um canal por onde são transmitidas informações. As mídias mais conhecidas são as rádios, a TV, as revistas, os livros, a internet, os outdoors, as placas de trânsito, entre outras. Podemos transmitir as A televisão me deixou burro, muito burro demais mensagens/informações de diversas maneiras: imagens, filmes, sons, textos sendo que cada meio Agora todas coisas que eu penso tem um impacto diferente no receptor. São as diferentes mídias que transformam os acontecimentos em informações fazendo com que elas cheguem até nós de alguma forma. Vivemos na chamada “era da informação” e somos constantemente “bombardeados” por essas informações todos os dias. A quantidade de informação é tamanha que não temos tempo de processá-la adequadamente, refletindo, criticando e interpretando-as. Tudo parece muito natural, recebemos essas informações como se fossem verdades absolutas e inquestionáveis. Como jovens pesquisadores do projeto do Observatório, muitas das informações com as quais irão trabalhar são provenientes dessas mídias, além disso, irão produzir e interpretar informações sobre suas comunidades e suas cidades, e se utilizarem desses meios de comunicação para transmitirem suas informações.
me parecem iguais
Titãs
Ainda como jovens pesquisadores devem estar atentos para reconhecerem a ação de produção de informação que está por trás do conjunto dos meios de comunicação. Ou seja, é preciso sempre perguntar quem está veiculando a informação? , quais os interesses que estão em jogo, políticos, econômicos, religiosos etc? Quem se beneficia com as informações? Às vezes o mesmo fato é veiculado a partir de diferentes interpretações dependendo dos interesses de quem comunica. Não é porque uma determinada informação chega até você por meio da televisão, do rádio ou do jornal que ela representa a “realidade” e a “verdade”, é preciso aprender a ler as informações, a receber criticamente as mensagens veiculadas, analisando-as, comparando-as, lendo nas entrelinhas e percebendo as diferentes intenções de quem comunica.
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Vejamos agora algumas considerações sobre os tipos de mídias mais comuns: JORNAL No Brasil é o meio de comunicação e propaganda mais antigo, alguns já têm mais de um século de existência. São mais de 2.500 jornais no país, sendo 70% deles na região Sudeste. Apesar disso, podemos considerar que temos uma tiragem e circulação inexpressiva, se tratando de um país tão grande e populoso, principalmente se compararmos com os Estados Unidos e os países europeus. O jornal de maior circulação no Brasil atinge a marca de 400.000 exemplares por dia, enquanto o jornal japonês de maior circulação tira 12.000.000 de unidades/dia. Hoje já existem versões eletrônicas de jornais pela internet. Dá para perceber que não somos um país de leitores de jornais. Junto com as revistas compõem os principais meios de comunicação da chamada “mídia impressa”
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RÁDIO Começou a funcionar no Brasil em 7 de setembro de 1922, no Rio de Janeiro. Existem aproximadamente 2.500 emissoras regularizadas no Brasil, sendo 75% delas emissoras FM e o restante AM. As rádios são uma concessão pública, ou seja, é o Estado que autoriza as empresas particulares, as igrejas e outras instituições a transmitirem seus programas. É uma mídia de alto alcance, pois pesquisas recentes, demonstram que cada casa tem em média de 2 a 3 receptores de rádio, sem contar os aparelhos de rádio nos carros. Sua programação pode ser rápida e bastante variada (músicas, notícias, programas esportivos, assuntos de interesse coletivo, programas religiosos, entre outros). Os jovens envolvidos com rádios comunitárias costumam dizer que “Rádio é 10% equipamento e 90% atitude”. O Rádio está em 98 % das casas, enquanto a TV em apenas 75%. Uma produção de rádio custa 95% menos que a da TV. As programações de rádio são mais interativas, pois os ouvintes podem participar por telefone, por carta, fazendo pedidos e dando informações de forma quase instantânea. Veja na sua cidade ou na sua comunidade se existem rádios comunitárias e vá com seu grupo para pesquisar mais sobre o assunto, e também para falar do Projeto e das questões importantes para a juventude local. TELEVISÃO
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Atualmente é a mídia de maior cobertura geográfica no país e de maior penetração em todas as faixas etárias, sexo e classes sociais. Teve seu início em setembro de 1950, com a inauguração da TV Tupi de São Paulo, fundada por Assis Chateuabriand. A televisão veicula diariamente propagandas de diferentes produtos e serviços, novelas, filmes e noticiários. As pessoas mais críticas com relação ao uso intensivo dessa mídia costumam dizer que ela limita o hábito de pensar, pois já traz a mensagem pronta, com imagens e áudio, sem permitir que o telespectador utilize sua criatividade de imaginar as cenas e associar idéias. Também permite pouco tempo para reflexão sobre as informações e mensagens veiculadas, pois a rapidez na comunicação sempre desloca nossa atenção para a próxima informação. No entanto, existem também programas educacionais e culturais fundamentais para nossa formação e informação. Procure identificá-los quando estiver assistindo televisão.
Criar meu web site Fazer minha home-page Com quantos gigabytes Se faz uma jangada Um barco que veleje Que veleje nesse “infomar”... Que leve meu e-mail até Calcutá... Num site de Helsinque INTERNET Para abastecer... É sem dúvida o meio de comunicação com maior possibilidade de crescimento no momento. O Eu quero entrar na rede correio eletrônico (e-mail) está substituindo as cartas, fax, ligação telefônica transformando-se no Promover um debate mais poderoso, eficiente e econômico meio de comunicação direta. Pode ser utilizado como um Juntar via Internet Gilberto Gil
recurso pedagógico, comercial, informativo, interativo e comporta as mídias de rádio, jornal, revistas e até TVs, tudo pela internet. No entanto, segundo pesquisas recentes, apenas de 3% da população brasileira têm condições de usufruir diretamente deste recurso. Por conta do trabalho das escolas e das Ong's este número tem aumentado consideravelmente a cada ano. Pesquise junto com seus colegas sobre os temas “inclusão digital” e “analfabetismo digital” e também sobre os usos indevidos dessa mídia.
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Lembre-se que as informações nos chegam através dos diferentes meios de comunicação (mídias) são sempre versões de um ou vários acontecimentos. Enxergamos a realidade com os “óculos” fornecidos por essa mídia, necessitando constantemente utilizar a nossa crítica e leitura de mundo, para formarmos nossa opinião e fazermos nossas escolhas.
Mídia Tática Para quem quiser se aprofundar nessa questão procurem pesquisar sobre o conceito de “Mídia Tática”. Desvinculada de interesses de mercado e de agendas ideológicas associadas aos grandes meios de comunicação, a mídia tática dá voz a todos aqueles excluídos desses meios: classes desfavorecidas, minorias (raciais, sexuais, etc.), comunidades alternativas, dissidentes políticos e artistas de rua, entre outros.
Orientações e Propostas para o Encontro Objetivo: Reconhecer os tipos de mídias mais comuns e identificar suas características. Exercitar a leitura crítica das mensagens veiculadas, analisando-as, comparando-as, lendo nas entrelinhas e percebendo as diferentes intenções de quem comunica. Material Necessário: Flip chart, canetas, papel sulfite.
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Aquecimento intencional “Telefone sem fio” Faça um círculo com todos os jovens. Fale a seguinte frase no ouvido da pessoa à sua esquerda, sem que mais ninguém ouça. “Jornal, revista, rádio e televisão, cada um com sua versão fazendo a comunicação” Essa pessoa falará o que entendeu no ouvido de outra, também à sua esquerda e assim sucessivamente até chegar, de novo, em você. Conte a todos a frase que chegou até você, comparando-a com a frase que falou inicialmente. Pergunte como as pessoas se sentiram e sobre as alterações que aconteceram na frase. Pergunte se as pessoas confiavam no que ouviam e se quando transmitiam a frase eram totalmente fieis ao que ouviram. Explique que o encontro de hoje vai tratar, entre outras coisas, do papel das diferentes mídias na veiculação das informações.
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Apresentação e Aproximação “Era da Informação” Divida os jovens em quatro subgrupos (Jornal, Rádio, Televisão e Internet) distribua canetas e pedaços de papel grande. Cada subgrupo irá relatar tudo o que sabe sobre esse meio de comunicação. Incentive os jovens a registrar todas as informações e todas as coisas que imaginam sobre essas diferentes mídias. Peça também para registrarem todas as coisas que queriam saber sobre essas mídias. Dê um tempo para realizarem a tarefa depois entregue aos respectivos grupos as considerações sobre essas mídias que estão no texto “Papel da mídia”. Você também pode trazer outras informações para disponibilizar aos jovens. Os participantes apresentam para o grupo o resultado de suas discussões confrontando com as informações do texto.
Leitura do texto “Papel da mídia” De volta ao grande grupo promova a leitura coletiva do texto perguntando aos jovens se têm alguma dúvida ou alguma colocação. Não se esqueça de reforçar o caráter ideológico da informação e que precisamos constantemente nos utilizar da nossa crítica e nossa leitura de mundo, para formarmos nossa opinião e fazermos nossas escolhas.
Impressões e Avaliações Você pode terminar o encontro reproduzindo a música de Gilberto Gil “Pela internet”, comparando-a com a letra de um dos primeiros sambas brasileiros chamado “Pelo telefone”. Depois peça para os jovens avaliarem o encontro de hoje por meio de uma mídia impressa, ou seja, devem fazer suas avaliações e registrar em um bilhete que deverá ser entregue a você.
Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede 14 Textos Freire, Paulo. Pedagogia da Indignação, 2000, Edit. Unesp. Vídeos Cidade de Deus (2002, dir. Fernando Meirelles, dur. 135') - Adaptação do livro de Paulo Lins, o filme retrata o cotidiano de jovens moradores de Cidade de Deus, desde o surgimento do bairro. O que é isso Companheiro? (1997, dir. Bruno Barreto, dur. 105') - Inspirado em livro autobiográfico de Fernando Gabeira, o filme apresenta uma versão do seqüestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, em 1969. Série de programas da TV cultura “Observatório da Imprensa” Sites Centro de Mídia Independente (CMI - Brasil) - www.midiaindependente.org Ong. Cipó - www.cipo.org.br http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/ - www.eticanatv.org.br
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Conhecimento CientĂfico e Senso Comum
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Todos nós, mesmo sem ter estudado ciência, lemos, interpretamos e conhecemos certos fatos
Nada na vida deve ser temido, e fenômenos. mas compreendido. Depois de certo tempo exposta ao fogo a água começa a ferver. Um copo que cai ao chão de Agora é hora de compreender mais uma determinada altura se quebrará. Jovens que não tiveram acesso à escola terão dificuldades para temer menos. Marie Curie
para conseguir trabalho quando adultos. Esses fenômenos, dentre outros tantos, são familiares ao “senso comum” e a grande maioria de nós tem condições de produzir algumas explicações de por que eles acontecem. Existem ainda outros fenômenos presentes no nosso cotidiano que de tão rotineiros sequer perguntamos como eles acontecem. A luz que você acende todos os dias, as imagens da TV na sua sala, os e-mails e a internet, ou ainda, uma criança em situação de rua e um idoso catando papelão. As explicações do senso comum a respeito de tais fenômenos físico, químicos e sociais geralmente satisfazem nossas curiosidades, no entanto, se as mesmas questões fossem formuladas a um físico, um engenheiro eletrônico, um psicólogo ou um sociólogo, as suposições e respostas seriam um pouco mais detalhadas. O objetivo do Observatório de jovens não é formar cientistas em todas essas áreas do conhecimento, mas desenvolver um olhar crítico e investigativo que levem vocês a se perguntarem porquê determinadas coisas acontecem. Trata-se de inquietar-se constantemente “fazendo perguntas pro mundo”, buscando conhecer melhor o funcionamento das coisas, promovendo aprendizagens, possibilitando o prazer de descobrir e compreender, para ampliar nossas possibilidades de intervenções. As explicações dos cientistas são mais detalhadas, são baseadas em hipóteses, testes e análises. O conhecimento científico é organizado, “prognosticador”, ou seja, o cientista pode predizer, inferir, até mesmo com certeza, de que maneira acontecerão certos fatos e fenômenos.
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Sem se aprofundar muito nessa questão, há uma primeira divisão possível entre as ciências: biológicas, exatas e humanas. A física, a química, a biologia, a geologia e a matemática são Certos fenômenos, por estarem exemplos de ciências biológicas e exatas, enquanto a história, psicologia, economia e a sociologia bem debaixo dos nossos narizes, são exemplos de ciências humanas. tornam-se invisíveis. Só os profetas enxergam o óbvio Nelson Rodrigues
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No caso do Observatório e das pesquisas que realizarão nas suas comunidades, precisarão de certo conhecimento lógico, matemático e estatístico para estudar os fenômenos sociais. Terão que preparar um questionário, um formulário ou uma pesquisa de opinião, conduzir uma entrevista, observar comportamentos, tirar conclusões, medir os efeitos de uma intervenção, interpretar dados e tabelas, fazer análises de informações, textos e notícias. Pesquisarão dados e informações a respeito de como vivem, local de origem, sexo, idade, escolaridade, ocupação e renda dos moradores da comunidade. Farão perguntas sobre a família, a vida social, a saúde, trabalho, religião, participação comunitária e desejo de futuro para o bairro. Identificarão os costumes, saberes, habilidades, sonhos, desejos e percepções dos jovens, adultos e idosos da comunidade.
Orientações e Propostas para o Encontro Objetivo: Distinguir o conhecimento produzido diariamente nas relações cotidianas, do chamado “conhecimento científico” baseado rigorosamente em hipóteses, testes e análises. Desmistificar e desburocratizar a “ciência” incentivando os jovens a serem pesquisadores que entrem em contato com o prazer de descobrir e compreender os fatos e as coisas. Material Necessário Flip chart, canetas, papel sulfite.
Aquecimento intencional “fazendo perguntas pro mundo” Peça aos jovens para andarem pela sala e imaginarem algumas situações do cotidiano que apesar de acontecerem todos os dias eles não conseguem explicar cientificamente. Exemplos: as imagens da televisão; a água que sai da torneira; as imagens e informações pela internet; a luz que você acende todos os dias; por que o céu é azul; Por que os dedos murcham quando se fica muito tempo na água; Por que o fogo queima; Por que a lua é branca; Do que é feita a nuvem; Por que a terra roda; Por que o vidro embaça; Por que o leite transborda quando ferve, e outras situações onde o conhecimento que temos não dá conta de explicar. Peça para se agruparem em duplas e fazerem suas perguntas para o companheiro (a). Voltando ao grande grupo, a dupla conta para o coletivo quais foram às perguntas e se alguma foi respondida. Incentive os jovens, mesmo que não saibam explicar tais fenômenos, a falar de suas hipóteses e suposições. A maioria dessas perguntas não será respondida pelos jovens e nem mesmo por você. Cada jovem ficará responsável por trazer, no próximo encontro, uma explicação mais detalhada e científica de tais fenômenos.
Apresentação e Aproximação “Suco de manga com leite”
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Pergunte aos jovens se já ouviram falar que suco de manga com leite pode matar, ou ainda, que ao se abrigar debaixo de uma árvore numa tempestade corre-se o risco de que um raio caia na cabeça. Pergunte de onde acham que vieram essas explicações e suposições. Trata-se de dois tipos de afirmações: a primeira parece não ter base científica alguma e se origina de uma campanha de senhores de engenho para impedirem que os escravos “roubassem” o leite no processo de ordenha das vacas, haja vista que a maioria deles comia muita manga. A segunda parece derivar da própria experiência e verificação concreta que depois com o desenvolvimento do conhecimento científico chegou-se a uma explicação lógica. Frases para serem compartilhadas com os jovens caso perceba o interesse deles: “Platão (427-347 a.C.), filósofo grego, estabeleceu uma distinção entre a "doxa" (opinião) e a "episteme" (ciência)”.
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“Os conceitos nascem no cotidiano (senso comum) são apropriados pelo meio científico, e tornam-se científicos ao romperem com esse cotidiano, com esse senso comum”. “O senso comum ou conhecimento espontâneo é a primeira compreensão do mundo resultante da herança do grupo a que pertencemos e das experiências atuais que continuam sendo efetuadas”. “A ciência, procura descobrir o funcionamento da natureza através, principalmente, das relações de causa e efeito, buscando o conhecimento objetivo e lógico”
Leitura do texto “Conhecimento científico e senso comum” Constitua pequenos grupos de 4 jovens e promova a leitura do texto. Pergunte aos jovens se entenderam o texto e se têm perguntas ou colocações. Retome as discussões desenvolvidas nas duas atividades relacionando-as ao texto, e promova um fechamento ressaltando que as pesquisas que realizarão na comunidade serão baseadas em hipóteses, testes e análises, com o objetivo de conhecer, transformar e melhorar o mundo.
Impressões e Avaliações Não se esqueça de reafirmar o combinado com os jovens para que tragam no próximo encontro a explicação científica das questões do “aquecimento intencional”. Peça para avaliarem o encontro e para que um jovem promova o registro no “diário de bordo”. Frase para ser pensada para o próximo encontro: O homem pré-histórico elaborava seu saber a partir de sua experiência e de suas observações pessoais. Quando constatou que o choque de duas pedras ou da rápida fricção de dois gravetos secos podia provocar uma faísca ou uma pequena chama capaz de queimar folhas secas, havia construído um novo saber: como acender o fogo. Esse saber podia ser utilizado para facilitar sua vida. Aqui está, portanto, o objetivo principal da pesquisa: conhecer o funcionamento das coisas para melhor controlá-las e fazer previsões a partir daí.
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Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede Textos Os Jovens e o Saber: Perspectivas Mundiais. Charlot, Bernard (org). Porto Alegre Artmed, 2001. Vídeos Fala Tu (2004, dir. Guilherme Coelho, dur. 74') - Macarrão é morador do Morro do Zinco, pai de duas filhas, torcedor do fluminense e apostador do jogo do bicho. Toghum mora em Cavalcante, é budista e vendedor de produtos esotéricos. Combatente é moradora de Vigário Geral, freqüentadora do templo do Santo Daime e operadora de telemarketing. Sites Fundação Perseu Abramo - www.fpa.org.br www.cienciahoje.org.br; www.educarede.org.br
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COMEÇANDO A PESQUISAÇÃO 16
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Pesquiso para constatar, constatando intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que eu ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.... Paulo Freire
Como vocês viram em encontros anteriores, a nossa sociedade se tornou uma sociedade da
informação. Uma boa quantidade dessas informações provém dos resultados de pesquisas. Quantas vezes na vida escutamos: “a pesquisa demonstrou que...” É bem provável que não se passe um dia sem que nos sejam apresentados os resultados de uma pesquisa: nos jornais, na TV, na propaganda, nos discursos dos políticos, etc. É comum ouvirmos, nos diferentes meios de comunicação pesquisas sobre o que as pessoas pensam sobre violência, drogas, juventude, consumo, política, entre tantos assuntos. No entanto, você já parou para pensar por que o homem faz pesquisas? Fazemos pesquisa para averiguar a existência de um problema, ou ainda para detectar a dimensão desse problema e também para compreender a visão que as pessoas têm sobre um tema, um fato ou uma ação. A pesquisa nos possibilita refletir sobre como agir, como mudar, como superar ou como reafirmar as posições e caminhos escolhidos. Filosoficamente podemos afirmar que pesquisamos para saciar nossa vontade de conhecer, transformar e melhorar o mundo. Os diferentes métodos de pesquisa são utilizados em várias áreas do conhecimento tanto pelas ciências exatas, biológicas e humanas. Vamos falar um pouco sobre o que chamamos de “pesquisa de amostragem” especificamente na área das ciências humanas, onde selecionamos uma parte de uma determinada “população”, denominada “amostra”, para identificar os perfis, as características e o que pensam e sentem as pessoas sobre os mais diversos temas. Veja o esquema abaixo:
População População
Amostra Amostra
Tratamento Tratamento dos dos Dados Dados
Inferência Inferência População - É o conjunto de interesse final para a pesquisa. É o conjunto do qual as amostras são retiradas. Por exemplo: Você pode considerar que sua “população” são todas as pessoas moradoras da comunidade e a amostra seria uma parte da população (10%, 20%, ou ainda só os jovens, só as mulheres, só os idosos, só as crianças, só os que trabalham, só os que estudam etc.)
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Amostra - É qualquer subconjunto da população de interesse. Tratamento dos dados - É o conjunto de técnicas usadas para descrever os dados provenientes da aplicação de uma pesquisa. Inferência - No dicionário inferir significa “tirar por conclusão” ou “deduzir por raciocínio”, ou seja, a partir da análise dos dados provenientes da amostra podemos deduzir coisas ou comportamentos da população.
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Exemplo: Se você entrevistar 20% dos alunos da sua escola e verificar seus gostos musicais, suas preferências culturais e esportivas, suas opções religiosas ou ainda, o que pensam sobre a escola, família ou governo, você poderá deduzir que se tivesse entrevistado todos os alunos da escola os resultados seriam muito próximos. Neste caso específico deve-se tomar o cuidado de escolher, entre os 20%, uma mesma proporção de meninos e meninas e ainda uma mesma proporção de alunos das diferentes séries da escola. Pois se você pesquisar só os alunos da 5ª série não poderá dizer que os resultados expressam os gostos musicais e as preferências culturais do conjunto dos alunos da escola. Para se ter uma idéia da margem de acerto de uma pesquisa por amostragem basta pensarmos nas pesquisas eleitorais sobre intenção de voto e rejeição a candidatos. Os institutos e empresas que realizam essas pesquisas entrevistam uma pequena parte dos eleitores e conseguem afirmar com pouquíssima margem de erro quem vai ganhar e qual a diferença de votos entre os candidatos. Às vezes, são entrevistados 3 mil eleitores (amostra) de um total de 2 milhões de eleitores (população). Também nesse caso não se pode escolher os 3 mil eleitores de maneira aleatória, mas é preciso compor a amostra com homens, mulheres, pobres, ricos, pessoas com diferentes graus de instrução e ainda das diferentes regiões da cidade. Dentre as principais pesquisas por amostragem podemos identificar as pesquisas sociais, as pesquisas de opinião e as pesquisas de mercado. As pesquisas sociais servem para conhecer e explicar as instituições como a família, a escola, o governo, os partidos, os sindicatos, além de estudar as questões sociais como a criminalidade, a violência, o mercado de trabalho, a política, a demografi,a entre outras. Essas pesquisas servem para o planejamento e execução de políticas públicas e para o desenvolvimento das ciências sociais. Um exemplo de pesquisa social é Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio, realizada pelo IBGE. As pesquisas de opinião buscam identificar a opinião dos diferentes segmentos da população sobre os mais variados temas. Você pode realizar uma pesquisa de opinião na sua escola ou na sua comunidade, basta escolher o assunto, definir a amostra, elaborar o questionário e entrevistar as pessoas. Obviamente que antes de realizar uma pesquisa de opinião é preciso considerar qual o objetivo da sua pesquisa? Para que serve? A quem interessa essas informações? O que eu quero mudar ou reafirmar com minha pesquisa? As pesquisas de mercado geralmente investigam as vantagens e desvantagens de produtos ou serviços, avaliam a satisfação dos consumidores em relação a alguns produtos e também podem verificar o potencial de consumo de determinados segmentos populacionais.
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Orientações e Propostas para o Encontro Objetivo: Compartilhar com os jovens o fato de que vivemos na chamada “sociedade da informação” e que a maior parte dessas informações é proveniente de pesquisas. Discutir com os jovens os conceitos de “população”, “amostra” e “inferência”, aproximando-os das discussões sobre “pesquisa de amostragem”
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Material Necessário: Flip chart, papéis, canetas.
Aquecimento intencional “Concordo e discordo” Divida o grupo em dois subgrupos. Entregue para um subgrupo o cartaz “concordo” e para o outro o “discordo”. Leia para todos a seguinte afirmação: A pesquisa demonstrou que os jovens da periferia estão mais expostos a violência urbana. Cada grupo terá de defender a sua posição (concordo ou discordo) e questionar a idéia do outro grupo. Quando você perceber que a argumentação dos dois grupos está ficando consistente, peça aos grupos que troquem de lugar e passem a defender a opinião contrária àquela que defendiam antes. Você será o mediador do debate passando a palavra para os jovens que solicitarem, mantendo a discussão organizada. Importante: É importante aprender a questionar. Questionando, buscamos compreender melhor a fala do outro, reforçamos o diálogo, abrimo-nos para a troca e a transformação. É preciso questionar as informações que chegam até nós por meio das diferentes mídias. Um pesquisador sempre faz as seguintes perguntas: quantas pessoas foram entrevistadas nessa pesquisa; quem encomendou a pesquisa; quais os mais interessados na veiculação da pesquisa; quem “consome” os resultados dessa pesquisa; quantas pesquisas parecidas já foram feitas e quais os resultados. Você pode utilizar outras afirmações para os jovens debaterem “concordando e discordando”, pois por meio do diálogo criamos oportunidades de aprender com o outro e de modificar ou reafirmar as nossas próprias idéias.
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Apresentação e Aproximação “Pesquisando o grupo” A capacidade de ler e interpretar gráficos tem se tornado cada vez mais importante na sociedade atual. Os gráficos aparecem constantemente nos jornais, revistas e televisão para nos informar sobre diversas situações. Esta atividade pretende facilitar a compreensão dos diferentes tipos de gráficos presentes no seu cotidiano. Você será o coordenador dessa atividade. O objetivo é fazer com que os jovens compreendam como se coleta e organizam dados, além de aprender como se constroem e interpretam diferentes gráficos. A proposta é construir um gráfico a partir de uma pesquisa simples com os jovens. Por exemplo: vamos fazer um levantamento das idades das pessoas do nosso próprio grupo. O segundo passo é tabular as informações. Utilizando uma tabela anote as diferentes idades
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das pessoas e registre quantas vezes elas se repetem. Tabulação é o processo de contagem e organização dos dados. A partir das informações da tabela monte um gráfico que reflita o resultado da pesquisa. Repita esses procedimentos para construir um gráfico das preferências musicais dos participantes do grupo e outro sobre as preferências alimentares dos jovens. Em caso de necessidade, procure a ajuda de um especialista em matemática e traga outros tipos de gráficos para serem discutidos com o grupo de jovens.
Leitura do texto “Começando a pesquisAção” Promova a leitura coletiva do texto relacionando-o às discussões da atividade anterior. Dependendo do grau de amadurecimento do grupo, e de sua avaliação, promova uma reflexão sobre as seguintes frases: "O primeiro sinal da incompreensão é o riso; o segundo, a seriedade."
Mário Quintana
"Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas que pelas respostas." Voltaire "Nada é mais perigoso que uma idéia quando ela é a única que você tem." Émile Chartier
Impressões e Avaliações Após o desenvolvimento das atividades e a leitura do texto, procure em seu “baú de saberes” uma poesia ou música (ligada ao tema) para ser lida ou ouvida no final do encontro. Abra a palavra para os jovens avaliarem o dia de hoje e peça para alguém fazer o registro no “diário de bordo”.
Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede Textos Hip Hop. A Periferia Grita. Rocha, Janaina; Domenich, Mirella; Casseano, Patrícia. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2001. Nossa escola Pesquisa sua opinião, instituto Paulo Montenegro, editora Global Vídeos Aqui Favela - O Rap Representa (2003, Júnia Torres e Rodrigo Siqueira, dur. 82') - O filme apresenta jovens desconhecidos que integram o movimento hip hop e algumas das suas principais expressões. Sites Observatório Jovem do Rio de Janeiro - www.uff.br/obsjovem Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - www.ibge.gov.br www.ibope.com.br
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PESQUISAÇÃO II
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Vocês estão se constituindo em uma equipe responsável pela realização de algumas pesquisas
em suas comunidades. A partir dos conhecimentos que compartilharam no encontro anterior, vamos identificar e descrever as diferentes fases de uma pesquisa. Estamos falando da definição do tema da pesquisa; da identificação da população e da amostra; da elaboração do questionário; do planejamento e execução do trabalho de campo; da tabulação e processamento dos dados; e da análise, interpretação e apresentação dos resultados.
Procure olhar tudo como se fosse a primeira vez Otto Lara Rezende
Por estarem se formando como “pesquisadores sociais” das suas comunidades, na definição do tema estarão pesquisando questões do perfil socioeconômico da comunidade. Poderão fazer diferentes perguntas sobre família, vida social, trabalho, saúde, educação, lazer, religião, participação comunitária e desejo de futuro para o bairro. Mais especificamente estarão procurando definir quem são, em dados gerais, os moradores locais; como vivem; qual sua procedência; sexo; idade; escolaridade; ocupação; renda, etc. Também poderão identificar, por meio de diferentes questionários, os costumes, saberes, habilidades, sonhos, desejos e percepções dos moradores da comunidade. Antes de passarem para as fases de “identificação da população e da amostra” e “elaboração do questionário”, devem discutir no grupo de jovens, o que querem saber? o que já sabem sobre o assunto? quais as hipóteses que têm sobre o tema?, E ainda o que será feito com os resultados e como serão divulgados. Também devem definir quais questões serão investigadas por meio da pesquisa qualitativa e quais pela pesquisa quantitativa. Na pesquisa qualitativa os entrevistados são estimulados a pensar e falar livremente sobre algum tema. Exemplo: organize um grupo de moradores antigos da comunidade e faça algumas perguntas tais como, como era a comunidade quando eles eram mais jovens? Como foram se dando as transformações e quem foram as pessoas que vivenciaram essas mudanças? Como acham que a comunidade vai estar daqui a alguns anos? Entre outras tantas questões. Peça autorização para gravar e filmar esse encontro para depois analisarem as opiniões e comentários que surgiram. Já a pesquisa quantitativa se utiliza de instrumentos padronizados (questionários) para apurar opiniões e identificar as características e o perfil dos entrevistados. Exemplo: questionário perguntando sobre a idade, sexo, escolaridade, renda, trabalho. A pesquisa quantitativa, além das interpretações e conclusões, deve mostrar tabelas, percentuais e gráficos provenientes da tabulação de todos os questionários aplicados.
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No caso de uma escola temos que a “população” de alunos é o conjunto de todos os alunos da escola e uma possível “amostra” seria somente o conjunto dos alunos das 8ª séries. Na sua comunidade você pode identificar diferentes “populações” - todos os chefes de domicílio; todos os jovens de 15 a 24 anos; todas as pessoas com mais de 60 anos; todas as mães que trabalham fora, entre outras tantas configurações, e a partir daí selecionar as amostras ou ainda entrevistar e pesquisar o conjunto de sua “população”.
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Não se esqueça que é preciso delimitar geograficamente o que estão definindo como “comunidade”, identificando quais as ruas e quais os domicílios que irão considerar como alvo da pesquisa. Ainda com relação à amostra, não é seu tamanho que determina se ela é de boa ou má qualidade. O importante é sua representatividade, pois só assim teremos confiança para tirar conclusões sobre a população pesquisada. Para elaboração dos questionários é preciso um longo processo de discussões de grupo para definirem quais as questões relevantes que querem investigar. É o grupo de jovens que define se as questões serão feitas por meio de perguntas abertas ou fechadas. As questões fechadas são aquelas que fornecem ao entrevistado um leque de respostas possíveis que definem o perfil ou correspondem a uma opinião. Exemplo: Em sua opinião os jovens de hoje, em relação às gerações anteriores, possuem: mais liberdade menos liberdade igual liberdade não sei Ou ainda, qual seu grau de escolarização: ensino médio ensino universitário
ensino
fundamental I
ensino
fundamental II
As questões abertas permitem ao entrevistado fornecer respostas mais amplas e que são difíceis de serem previstas pela equipe que elaborou os questionários. As questões abertas também permitem uma maior investigação sobre o imaginário do entrevistado. Exemplo: Como você acha que vai estar sua comunidade daqui a 10 anos? Qual sua opinião sobre os jovens da comunidade? Quando se escolhe trabalhar com questões abertas é preciso classificar e categorizar as respostas posteriormente. Imagine que vocês entrevistaram 100 idosos perguntando sobre o que pensam dos jovens da comunidade. Serão respostas diferentes que precisam se categorizadas para que se possa fazer uma análise quantitativa do tipo: 50% dos idosos acham que os jovens não gostam da escola e só querem curtir a vida, enquanto que os outros 50% acham os jovens preocupados com as questões sociais e pensam muito sobre seu futuro profissional. Nos próximos encontros vocês terão acesso a alguns questionários propostos, no entanto, eles podem ser adaptados às realidades locais e às questões que o grupo de jovens julga necessário investigar. Antes de iniciarem o trabalho de campo deverão realizar alguns ensaios e testes com os questionários. Vocês podem realizar esses testes e ensaios entre o próprio grupo de jovens e com os familiares de cada um. Pode parecer fácil, mas a aplicação de um questionário requer alguns cuidados que se não forem tomados podem comprometer a confiabilidade da pesquisa.
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Veja algumas orientações e cuidados que devem ser tomados ao aplicarem um questionário com moradores locais: Apresentação: De preferência saiam em duplas de jovens, enquanto um faz a conversa o outro vai anotando as respostas. Expliquem pausadamente os objetivos da pesquisa e solicitem a colaboração do entrevistado. Informem que são um grupo de jovens entrevistando pessoas, tentando conhecer um pouco mais o bairro, sua história, seus moradores e o que pensam as pessoas que
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moram ali. Digam que estão ouvindo um pouco de cada grupo: homens, mulheres, jovens, pessoal da escola, pessoal da igreja, etc. Vamos juntar tudo o que essas pessoas disserem mais o que o Sr.(a) vai dizer e depois mostrar os resultados para as escolas, a Associação de Moradores e a comunidade. Por isso, tudo o que o Sr.(a) contar vai ser importante para muita gente. Cuidados durante a entrevista (trabalho de campo): Lembrar que a entrevista é uma conversa aberta, mas orientada por um objetivo. Existe uma "agenda oculta” que direciona o rumo da conversa por meio das perguntas em cada questão. As respostas serão assinaladas só pelo pesquisador. Ficar atento para a contaminação das respostas: fixar a atenção no entrevistado principal;
lembrando sempre que é o ponto de vista do entrevistado que interessa. No caso de estarem conversando com um casal, focalizar um dos dois e perguntar sempre para a mesma pessoa. Tomar cuidado para não emitir juízos de valor durante a entrevista, evitando exercer qualquer influência sobre as respostas dadas. Os valores e opiniões do entrevistado é que interessam. Criar um clima de cordialidade e simpatia. Conduzir a entrevista calmamente. Insistir sem forçar as respostas. O entrevistador precisa suportar os silêncios. Não induzir respostas. Diante de respostas vagas ou “não sei”, tentar ajudar o entrevistado. Pode ser que o entrevistado nunca tenha pensado antes nessa questão e precise de uma ajuda para organizar o pensamento e dar uma opinião. Estar atento às fantasias e temores dos entrevistados: algumas vezes o entrevistado pode imaginar que o entrevistador mantém vínculos com alguma instituição ou pessoa que poderia prejudicá-lo; outras vezes, o entrevistado pode imaginar que suas queixas vão resolver seus problemas (porque o entrevistador é representante do governo); situações deste tipo pedem que o entrevistador retome a finalidade do trabalho, dando os esclarecimentos necessários. Reforçar sempre a importância da opinião do entrevistado. Não esquecer de reler e assinalar todas as respostas do questionário logo após sua conclusão, incluindo o registro das circunstâncias em que foi feito (como chegou até ele, como foi recebido, o que aconteceu durante a entrevista...) Isto vale, inclusive, para os casos em que a entrevista não deslanchou, porque o entrevistado se recusou a falar, deu uma desculpa, estava embriagado, etc.
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Não se esqueçam de numerar sequencialmente todos os questionários, distribuir uma cota para cada dupla e combinar os prazos para entrega dos instrumentais (questionários). A tabulação e processamento das informações podem ser realizados de maneira manual ou por meio de programas de computador. No caso de entrevistarem uma amostra pequena de 100 jovens da comunidade por meio de um questionário com poucas questões, vocês podem fazer a tabulação manualmente, inclusive para se apropriarem da construção de tabelas e de diferentes tipos de gráficos (pizza, torre, dispersão, entre outros). No caso de entrevistarem todos os chefes de domicílios da comunidade por meio de um questionário que pretende estudar o perfil socioeconômico das famílias, será preciso construir um banco de dados que armazene as
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informações coletadas. Isso pode ser feito com a ajuda de um programa de computador chamado Excel, onde você insere as informações de cada um dos questionários aplicados, para depois calcular quantos responderam cada alternativa. Vocês podem verificar, por exemplo, que 70% dos chefes de domicílio de sua comunidade são provenientes de outras regiões do país, ou ainda, constatar que 20% dos chefes do domicílio concluíram o ensino fundamental I. A última fase de uma pesquisa desse tipo é a análise, interpretação e apresentação dos resultados. É hora de fazer uma análise descritiva das informações e destacar aquilo que é mais comum ou mais discrepante. É hora de estudar o conjunto das informações coletadas. Por exemplo: por que a maioria dos chefes de domicílio está desempregada?; Porque boa parte dos jovens não se interessa pelas questões sociais? Por que as crianças pequenas ficam em casa enquanto os responsáveis saem para trabalhar? Por que as pessoas assistem mais televisão do que lêem jornais? Muitas vezes, encontramos dados importantes em análises feitas por meio de cruzamentos de duas ou mais perguntas principalmente as que consideram as respostas de homens e mulheres, jovens/adultos/idosos e pessoas com diferentes escolaridades. Por exemplo, a tabulação de uma pergunta que avalia a participação das pessoas em projetos culturais, esportivos e profissionalizantes. A hipótese inicial é que a opinião dos entrevistados varia em função do sexo, da idade e da escolaridade dos entrevistados. Só cruzamento dessas perguntas pode reafirmar ou contradizer as hipóteses iniciais. Após a realização da etapa de campo e tabulação da pesquisa os jovens do Observatório Social devem compartilhar as informações coletadas e as interpretações realizadas, por meio de encontros, com os demais jovens da comunidade, com a rede de serviços públicos local, com demais organizações não governamentais e privadas existentes no território. Depois de tornarem públicos e discutirem os resultados das pesquisas realizadas com as diferentes organizações locais, os jovens do Observatório estarão empoderados para proporem projetos de intervenções no território que transformem positivamente a realidade de suas comunidades locais.
Orientações e Propostas para o Encontro 17
Objetivo: Aprofundar com os jovens as diferentes fases de uma pesquisa: definição do tema da pesquisa; da identificação da população e da amostra; da elaboração do questionário; do planejamento e execução do trabalho de campo; da tabulação e processamento dos dados; e da análise, interpretação e apresentação dos resultados. Discutir com os jovens: pesquisa qualitativa/pesquisa quantitativa, questões abertas/fechadas e trabalho de campo. Material Necessário Flip chart, papéis, canetas, fita crepe, pranchetas.
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Aquecimento intencional “Entre vistas no grupo” Peça para cada jovem descrever em uma folha de papel “sua música preferida”, “a comida que mais gosta”, “o melhor filme que já viu”, “a atividade de lazer preferida”. Peça que fixem o papel no peito e andem pela sala observando as preferências dos outros jovens. Formem duplas considerando a “proximidade” das preferências. Cada jovem entrevista o outro, anotando todas as informações em um papel, de modo a conhecer outras preferências, escolhas, posicionamentos, crenças e características do entrevistado. Instrua-os a colherem o maior número de informações sobre o outro e registrarem o conteúdo das entrevistas. Após a entrevista cada um apresenta seu entrevistado para o grupo. Investigue com os jovens se suas hipóteses se confirmaram, ou seja, se aquilo que imaginaram do outro foi de alguma maneira confirmado pelo outro.
Apresentação e Aproximação “Primeira expedição Investigativa” Proponha que cada jovem seja um Marco Pólo que irá fazer uma “viajem”, uma expedição de reconhecimento pelos vários lugares do bairro para trazer informações, descrições e relatos sobre os lugares. O objetivo é fotografar, filmar e conversar com diferentes pessoas da comunidade. Não se preocupe com a elaboração de instrumentais de pesquisas, vocês terão oportunidades de discuti-los e elabora-los nos próximos encontros. Nesse momento, trata-se de uma primeira aproximação com o objetivo de identificar e reconhecer como os espaços são geridos e ocupados na comunidade. Divida os jovens em seis subgrupos dividindo as responsabilidades de cada um: Os “Escribas” – São os jovens que fazem o registro de todas as coisas e fatos que acontecem na expedição investigativa Os “Timoneiros” – São os jovens que cuidam do planejamento (organização, infra-estrutura, horários e trajetos). Além disso, apresentam o “grupo” para as pessoas da comunidade. Os “Caçadores” – São os jovens que buscam capturar, apreender os usos, práticas e relações que acontecem no território. Os “Piratas” – São os jovens que procuram olhar e apontar para os outros usos e práticas possíveis nos espaços visitados. Os “Batedores” – São os jovens que recolhem informações a respeito da história e identidade dos lugares visitados. Os “Terra a vista” – São os jovens que ficam atentos aos trajetos percorridos, que coisas existem pelo caminho que liga os diferentes lugares. As práticas e relações que acontecem nesses caminhos.
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Atividade elaborada por: Helena F. Correa, Edson Martins, Aline S. Andrade e Alexandre Isaac.
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Esse processo fornecerá a você e aos jovens um material precioso para a fomentação de futuras investigações e análises. A idéia é que eles possam, depois da “expedição investigativa”, se apropriar melhor do universo da comunidade alterando suas maneiras de ver, sentir, pensar e perceber seu entorno. Fundamentalmente, esse processo, desafia os jovens a desejarem conhecer melhor suas comunidades. Objetivo central do Projeto “Observatório de Jovens”
Leitura do texto “PesquisAção II” A leitura e entendimento desse texto são centrais para o sucesso da próxima etapa, onde os jovens vão discutir os instrumentais de pesquisa para serem aplicados nos diferentes segmentos populacionais. Trata-se de propostas de instrumentais que você compartilhará com os jovens adequando às realidades locais e aos interesses investigativos dos jovens. Além disso, nos próximos encontros você não terá acesso ao conjunto de orientações e propostas que subsidiam seus encontros com os jovens. É o momento de implementação do trabalho de campo.
Impressões e Avaliações Nos próximos encontros as discussões com os jovens serão mais exigentes do ponto de vista do compromisso dos jovens com relação a execução das pesquisas comunitárias. Além de fazer costumeiramente as avaliações de cada encontro, peça aos jovens para falarem de suas expectativas com relação a nova etapa do projeto. Procure no “baú de saberes” uma bela poesia, conto ou canção para compartilhar com os jovens.
Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede 17
Textos Indicadores da Qualidade na Educação. Ação Educativa, Unicef, Pnud, Inep - MEC. São Paulo: 2004. Vídeos Feliz Ano Velho (1988, dir. Roberto Geritz, dur. 80') - Mário dá adeus à sua adolescência ao mergulhar e bater a cabeça em uma pedra no fundo de um lago. Descobre depois desta experiência uma nova força para viver. Sites Organização Brasileira da Juventude - www.obj.org.br
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PESQUISAÇÃO III - Entrevistando chefes de domicílios
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Depois de identificarem e estudarem as diferentes fases de uma pesquisa é hora de iniciarem
o trabalho de campo. Vocês já estão capacitados para definirem o tema de uma pesquisa, identificar a população e a amostra e elaborarem um questionário. Vocês podem usar como base um questionário para ser aplicado com os responsáveis e chefes de domicílios de suas comunidades. Podem entrevistar todos os chefes de domicílio da comunidade ou selecionarem uma amostra representativa. O período de realização dessa pesquisa vai depender do número de questionários aplicados e da tabulação, processamento, análise e divulgação das informações.
Data
/
Entrevistador
/
lo domicílio: 1. Nome do responsável pe
2. Endereço:
F
Local de origem
sta área? 3.Há quanto tempo vive ne
4. Estado civil:
Gênero: M
Idade:
junto Solteiro Casado/mora
Viúvo Separado/divorciado
5. Grau de instrução?
Não alfabetizadoer Sabe ler e escrev a 4 série Fundamental I - 1 a 8 série Fundamental II - 5 ial Médio - 1 a 3 coleg Universitário Outros a
a
a
o
a
o
6. Trabalhando?
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Completo Completo Completo Completo
Incompleto Incompleto Incompleto Incompleto
Renda: R$
Sim Não
cupação? 7. Qual a sua profissão/o Governamental 8. Recebe algum benefício?
9. Condições da moradia
Setor s R$ Instituições Sociais Outro
materiais ia de madeira/outros Apartamento Moverad Conj.hab. Fa la
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Casa de alvenaria Alojamento
Esta moradia é: Própria Alugada
Características do terreno acentuada Risco Nda
Declividade
Cedida
Cômodos na casa: 1 a 2 3 a 5
mais de 5 Abastecimento de água Rede oficial Emprestada Energia elétrica Rede oficial Emprestada Destino do esgoto Rede Fossa Banheiro exclusivo Cozinha exclusiva
Coleta de lixo Sim Freqüência: 1x/sem
Sem abastecimento Sem acesso
Céu aberto Banheiro coletivo Cozinha coletiva Não 2x/sem
Poço Desviada
Puxada (desviada) Encanado não oficial Interno Externo
3x/sem
outra
iar Quadro de Arranjo do Grupo Famil Escolaridade
Nome
Grau de parentesco com o responsável
Idade
Sexo
Trabalhando
o/ Se for criança/adolecente. Profissã ão paç ocu , série a Informar SIM NÃO la. esco da mesmo se fora
Possui documentos Em caso negativo Renda do Setor/bairro informar qual o emprego/trabalh não possui
iais Valor R$ Ajuda financeira de Instituições Soc tais men erna Gov iais Soc as ta Básica Program Outros rendimentos da família: Ces a): o a família não tenha nenhuma rend Outras formas de sobrevivência (cas Comunidade? ticipação social-comunitária Quais os principais problemas da Alguém da família tem alguma par nte até o nº.5 Qual Dê o número 1 para o mais importa Sim outros rte spo Tran Habitação Não. Por quê: lica púb eza Limp não conhece nenhuma Emprego ça uran inho Seg Saúde busca soluções sozreso gas lva Dro que dita Lazer não acre ol Álco outro motivo: Escola
: você enxerga na Comunidade Indique 3 qualidades positivas que
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PESQUISAÇÃO IV - Entrevistando jovens, adultos e idosos
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Depois de realizarem a pesquisa com os chefes de domicílio e interpretarem as informações
provenientes da tabulação dos dados, vocês podem aplicar um novo questionário em segmentos populacionais definidos: jovens de 15 a 24 anos, adultos de 25 a 60 anos e idosos acima de 60 anos. Esta é uma proposta que deve ser discutida no seu grupo de jovens para depois realizarem o trabalho de campo, vocês podem ainda selecionar apenas algumas questões das que foram propostas. É aconselhável entrevistar o mesmo número de jovens, adultos e idosos. Exemplo: 50 questionários para cada segmento populacional /
Data
/
Nome do pesquisador Nome do entrevistado Endereço
Sexo: Masc
Fem
anos
aplica ao trabalho? conhecimento que não ou de ida bil ha a um coisa, tem alg 1. Você sabe fazer alguma Artesanato O e?que? qu Música O al? Dança Qu Ar te O que? Idade
Poesia Outros Não sabe
(Pule para a questão 3)
bilidades? 2. Como você usa essas ha sociais ar seus relacionamentos
Para ampli ir Para se distrair, se divert iro extra Para ganhar um dinhe gem? ou do seu local de ori ou costumes familiares s õe diç tra tem cê Vo 3. Não Sim Quais? praticá-los? Costuma Não Por quê? Sim Como? alguma oficina uma área ou freqüentar alg em to en im ec nh co um algum curso ou ter alg 4. Você gostaria de fazer cultural? Sim Qual? ra a questão 6) e você deseja? Não (Pule pa reça o conhecimento qu ofe e qu o çã iza an org ar alguma escola ou 5. Você sabe onde encontr Sim Onde? Não
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s ou para resolver as coisa ta soluções diferentes en inv cê (Vo ? va ati cri pessoa 6. Você se considera uma o jeito?) sm me do faz tudo sempre Sim Não lver sua criatividade? unidades para desenvo ort op tem e qu ha ac 7. Você Sim Não s pessoais. eletrodomésticos, objeto os, cul veí s, vei imó lo: cê quer comprar? Exemp 8. Tem alguma coisa que vo Sim Não de fazer financiameno você tem facilidade alt is ma sto cu m co isa rar uma co 9. Quando você quer comp to ou crediário? e Sim, tem facilidadde s lda icu dif Encontra o dit cré Não consegue sua vida? olha sobre os rumos de esc de e ad erd lib m co a pessoa 10. Você se considera um estão 12) a Sim (Pule para qu Não que impede? 11. Em caso negativo, o
a é: 12. Você acha que sua vid lizações rea Boa, com muitas
que vai alcançá-los seus desejos nem acha u ço an alc o nã e rqu po Ruim, lizações Boa, com algumasporea conseguir ançar e acha que vai alc r ito mu tem da Ain
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hos? realização de seus son 13. De quem depende a
De você mesmo s familiares De você e de seu iedade De você e da soc Do governo m quem você convive Das pessoas co De Deus
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14. Qual o seu sonho pe ssoal para realizar dentr o de 5 anos? 15. Como você se sente com relação aos seguin tes aspectos de sua vid a:
Muito bem Segurança física/amb iental Segurança no atendim ento à saúde Segurança em relação à moradia Segurança em relação ao trabalho Segurança em relação à alimentação Segurança em relação ao lazer/diversão 16. Como você sonha est a comunidade daqui a 5 anos?
Bem
Mal
Muito mal
17. Até que ponto o gove rno tem a ver com a sa tisfação de suas necessi Tudo a ver dades?
Nada a ver Pequena parcela de participação
18. Você conhece nessa vizinhança crianças qu e ficam sozinhas em ca trabalhar? sa enquanto seus pais saem para Sim
Não
19. Você considera que as crianças correm risco em função disso? Sim
Não
20. Você considera:
Tanto faz Nunca pensou nisso
a) Que a rua oferece sér ios perigos às crianças b) Que as crianças já estão tão acostumadas com a rua que já não correm tanto perigo c) Que não há espaço para ficar dentro das ca sas, então o melhor jeito é ficar na rua
21. Você considera que os jovens desta comunidad e:
Concordo Têm boa participação social comunitária Têm desejos e sonhos importantes para eles e para a comunidade São agressivos, irrespon sáveis e não pensam no fut uro Têm um comportamento positivo Têm o apoio social ne cessário para se desen volverem como cidadãos (cidadã o: aquele que consegu e ter seus direitos respeitado s e assumir suas respo nsabilidades)
Concordo
Discordo
Discordo
19
Mais ou menos
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sta comunidade? ão sobre os jovens de ini op sua a al Qu . 22 cê vive: biente físico no qual vo 23. Você considera o am riscos Saudável, sem, co e m muitos riscos à saúd Desprotegido os, el s saudáv Com alguns risc ma
e trabalham? vizinhança crianças qu sta ne e ec nh co cê Vo 24. Sim Não Não sabe to? onde buscam atendimen sua família adoecem, da as sso pe as do an is 25. Qu Recursos espirituae particulares Centro de saúde Serviços de saúd l ita sp Ho Convênio médico r atitude o orr soc nto Pro Não tomam qualque atendimento ia co mas não consegue Farmác Procura o ser viço públi Receitas caseiras do não está doente? de rotina, mesmo quan es am ex er faz ra pa o 26. Você vai ao médic
Sim Não
nidade oferece? ntro de Saúde da Comu Ce o e qu os viç ser os 27. Você conhece Vacinação dica para adultos mé lta nsu Co Dentista e nenhum anças Consulta médica paplaranecrijamento familiar Não conhec sobre ão taç ien Or , conversar? quando quer desabafar ra cu úde pro cê vo em Qu 28. Profissionais de sarel oso Apoio espiritual/ igi Familiares Parentes Outros os inh Viz Amigos relações familiares: 29. Você considera suas Agressivas ras gu Se Descuidadas is ve sá on sp Re Indiferentes s Afetiva e recebem: idosos desta comunidad 30. Você considera que os ão e cuidado Alguma proteçteç e cuidado Nenhuma proaçãoão em cuidado. , mas isso não resulta ocup pre Há
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31. Você tem alguma religi ão?
Não Sim
Qual?
Católica Protestante Evangélica
Espírita Candomblé/umbanda Fé espiritualista, sem religião
Budismo Testemunha de Jeová Outra:
32. Como você se inform a sobre o que está ac ontecendo? (No bairro , na cidade, no mundo) TV Interne
Rádio Jornal/ revista
t
Organizações sociais Outros:
33. O que você mais gosta de fazer para se divert ir? (Questão de múltipla Praticar esportes escolha)
Ver TV Ler Visitar parentes
Conversa com amigos Não procura informação
Encontrar amigos Ouvir música Ir ao shopping Ir ao teatro
Ir a parques Outros:
Grupo de jovens Partido político Grupos religiosos Associação de pais e mestres
Organização social Outro:
34. Você participa de alg um grupo da comunidad e?
Associação de moradores Grupo de mulheres Movimento reivindicatório Conselhos/fóruns
Ne
nhum 35. Quem na sua opinião pode resolver os proble Poder público: Prefeitura, Estado, União mas do seu bairro e da cidade de São Paulo?
Comunidade organizada As pessoas individualmente Outro: Ninguém
36. Quando você nota alg um problema mais gra ve no bairro e é convi os moradores, como vo dado a participar de cê reage? alguma reunião com Atende ao convite e vai à reunião
Não participa porque pensa qu adianta nada Só participa se o problema estivee rnãafeo tan Não participa porque não tem tempo do você diretamente
19
Observações:
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PESQUISAÇÃO V - A opinião dos jovens
20
120
Estamos
propondo agora uma pesquisa exclusivamente com o público jovem de sua comunidade e de sua escola. Essas questões foram adaptadas pelos jovens do “Observatório de Jovens - Real Panorama da Comunidade”, a partir de uma pesquisa chamada “A voz dos adolescentes” coordenada por um grupo de sociólogos, estatísticos, cientistas políticos e jornalistas ligados ao Unicef - Fundo das Nações Unidas para Infância. A faixa etária escolhida foram os jovens de 15 a 24 anos das comunidades do Real Parque e Jardim Panorama, da zona sul de São Paulo. São questões que pretendem investigar a opinião dos jovens a propósito de diferentes temas como: a escola, trabalho e escola, sonhos expectativas e desejos de futuro, pobreza e violência, política, esporte, lazer e cultura. Vocês podem entrevistar 500 jovens, sendo 50 questionários para cada uma das idades da faixa etária escolhida ( 50 questionários para a faixa etária de 15 anos, 50 questionários para a faixa etária de 16 anos e assim por diante até 24 anos), desses 50 questionários devem manter a proporção de 25 do gênero masculino e 25 do gênero feminino. idade
Nome do Jovem
gênero M F
Endereço
2. Freqüenta escola: 1. Tem filhos?
Sim Não
3. a) Grau de instrução:
Não alfabetiza–do1ª a 4ª séries Fundamental I 5ª a 8ª séries Fundamental II –
Sim Não
Quantos:
Médio completo Universitário
incompleto
ola: b) Local e nome da esc
4. a)Está trabalhando?
Sim Não
balha/ocupação: Se trabalha. Em que tra Formal Informal
al? para seu futuro profission b) O que você deseja
formação pessoal ? s seus direitos e da sua do tia ran ga la pe l ve is responsá 5. Quem você considera mas tiva rna bem-estar? Duas alte Governo Família Polícia ola Esc Partidos políticos eja Igr Outros Comunidade
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liz : você está mais fe 6. Em que momento
Está namorando Outros
ília
Está com aamfaigmos Está com cola Está na es
infeliz ? to você está mais en om m e qu Em 7. mília Briga com asofafre ndo Vê pessoas morada (o) e amigos Briga com na fa relação com seus 8. Como está a sua guras e afetivas Boa, pois são se
la
Vai mal na estácoem dificuldades financeiras A família es Outros
miliares?
ficuldades e tri tos de alegrias, di en om m em ist ex Normal, pois o frias, indiferentes e falta diálogo Difícil, pois são descuidadas e agressivas Ruim, pois sã
stezas
sores?
com os profes está sua relação ou i fo o em e respeito om C . 9 nsão, aprendizag ee pr m co na a ad professores Boa, base ficos com alguns lemas especí
ob Normal, comfapr diálogo Difícil, pois mltaaioria dos professores são autoritários Ruim, pois a
e? nte para sociedad Escola é importa a e qu ha ac cê 10. Porque vo SIM
:
la atividades na esco 11. Com relação as ional iss ra seu futuro prof o importantes pa
NÃO
e o mundo Sã hor a sociedade el m er nd ee pr m Te ajuda a co ade prática a vida, sem utilid su da criativo es nt sta di São o, participativo e ític cr m ve jo um ão de Ajuda na formaç estudos? lhar prejudica os ba tra e qu ha ac 12. Você Sim Não outro motivo? Por quê? u a escola por um no do an ab já cê Vo lo trabalho? b) donou a escola pe an ab Sim já cê Vo a) 13. m Não Si Por quê? Não
20
Por quê?
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14. Com relação ao hábit o da leitura
Não costuma ler Lê ocasionalmente
15. Qual seu tipo de leitur a preferido?
Gibi, quadrinhos Esportes Poesia
Lê com freqüência Só lê por obrigação Romance Aventura Policial
Cultura Outros Nenhuma
As vezes
Nunca
Educativos Religiosos
Manipuladores
16. Você lê jornal ou revista ?
Sempre
17. O que você acha do s programas de TV? Entre
tenimento e diversão Informativo
18. Quais são seus progra mas de TV preferidos?
Filmes Novelas Minisséries Desenho
Duas alternativas.
Esporte Jornal Programa de música Programa de auditório
19. Dentre as opções de lazer quais são as sua s preferidas? Escolher 3 Assistir TV
Reality Show (BBB) Entrevistas Cultura Outros
Passear ou ficar na rua Ir a bares Jogar jogos eletrônicos e fliperama Lê livros ou revistas Praticar esportes Namorar Divertir com o computador Ir ao Cinema Navegar na internet Ouve música Freqüentar a casa de amigos e pa Ou tros rentes
20. Você vai á apresentaç ão de teatro?
Nunca fui
21. a) Você vai ao Cinema
Nunca fui Até três vezes
b) Onde você freqüenta?
Até três vezes
Algumas vezes 1 vez por ano
Algumas vezes 1 vez por mês Sempre 20
22. a) Você tem acesso a internet?
Sim
b) Onde você freqüenta?
Não Pule para 24
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acesso? 23. Qual o local de óprio computador Em seu pruta alguém da família No comp dor de
ade violenta? 24. Você acha sua cid
Sim
de amigos No computador No trabalho
Não pule para a
ng
/O Na escolapa s Em locais go
26
alternativas e é violenta? Duas ad cid ssa no e qu Falta de policiais que revelam s cia ên id ev s re io 25. Quais as ma Desempregode social assaltos tros, assassinatos e es qü Se Desigualda ucação e cultura as og dr de o Trafic Falta de ed armas de ra mp co na e Facilidad sociedade? o importantes para sã s co líti po os rtid pa 26. Você acha que os Não m Si Por quê? ra sociedade? ia é importante pa líc po a e qu ha ac 27. Você Não m Si Por quê? sociedade? é importante para ja re Ig a e qu ha 28. Você ac Não m Si Por quê? nidade hoje? os Movimentos Feminin dos pela nossa comu nta fre en as lem ob pr s ai ip inc pr os nos 29. Quais Lixo Direitos Huma esejada ind ez vid ra G ua Ág Outros Habitação Natalidade ndimento da saúde Melhora no ate e? ar a sua comunidad já fez para transform cê vo e qu O . 0 3
de vida? 31. Qual o seu projeto faculdades is Cursar uma ou ma
ssoa especial Encontrar uma pe Ter uma profissão
Constituir uma famí Ser famoso la Sair da fave
lia
Outro, qual:
onceituosos? e os jovens são prec qu ha ac cê Vo . 2 3 Não
20
Sim
Por quê?
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tre os jovens? considera maior en cê vo e qu ito iência ce on 33. Qual o prec Portador de defic Câncer/Aids Gênero Portador de doenças? Etnia Religioso l cia So se as Cl
Sexualidadeens Tribo de Jov Outros
PESQUISAÇÃO VI Uma pesquisa qualitativa sobre a história do lugar
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A história não é só o que já aconteceu muito tempo atrás, mas também o que está acontecendo agora. Vavi Pacheco Borges
Um homem não toma banho duas vezes no mesmo rio. Porque da segunda vez não será o mesmo homem e nem estará se banhando no mesmo rio – ambos terão mudado. Heráclito de Éfeso (pensador grego que viveu nos anos 500 a.C.)
Como vocês viram anteriormente uma pesquisa qualitativa é aquela em que os entrevistados
são estimulados a pensar e falar livremente sobre algum tema. Nesse encontro estamos propondo uma pesquisa com moradores antigos para investigar aspectos da história do nosso lugar. Vocês devem pedir autorização para gravar e até filmar esses encontros para depois analisarem as opiniões e comentários que surgiram. Como pesquisadores que já são, devem estar se perguntando por que investigar a história do lugar? “História” é uma palavra de origem grega que quer dizer “investigação”, “pesquisa” e “informação”. Lançar um olhar para a história significa sempre fazer as perguntas: O quê? Quando? Como? Por que? Para que? Lembre-se que a história de uma comunidade, de uma cidade e de um país, é escrita por todos e não somente por heróis ou pessoas famosas. Todos têm a possibilidade de alterar, mesmo dentro de limites, a sua história pessoal, a história da comunidade e também do país. Somos, ao mesmo tempo, atores e autores da história que está sendo escrita neste momento. É a nossa ação que pode fazer uma pequena diferença no espaço que ocupamos, mas que se constitui como um primeiro passo para uma série de outras mudanças originadas por ela. Conhecer uma comunidade, como estão fazendo por meio de pesquisas, implica também saber do seu passado, pois é a partir dele e das coisas que estamos vivendo (presente) que construímos a nossa visão de futuro. A questão central desse encontro é recuperar a memória local, por meio de relatos de moradores antigos e pessoas importantes da região, que revelem acontecimentos sobre a formação da comunidade e sobre as mudanças que foram processadas. É bom lembrar que existem outras maneiras de perceber as transformações de uma comunidade, como, por exemplo, a consulta a documentos históricos - livros, jornais, revistas e vídeos. Essas fontes complementam as histórias contadas pelos moradores antigos e podem acrescentar outras versões ao mesmo fato. O foco dessa pesquisa qualitativa é compreender o processo de transformação da comunidade para perceber opções, tendências e razões que orientaram a marcha dos acontecimentos. Compreender o passado é uma forma de preparação para agir no presente com mais segurança e maiores chances de obter melhores resultados. Ao ouvir um relato, a postura mais adequada é colocar-se como ouvinte dessas pessoas, que, de alguma forma, colaboraram para a história do local, dando-lhes voz e valorizando histórias e versões até então silenciadas, evitadas, esquecidas ou simplesmente desprezadas por qualquer motivo. Não se esqueçam que ao lançarem mão de uma pesquisa qualitativa é preciso tomar mais cuidado para não emitir juízos de valor durante a entrevista, evitando exercer qualquer influência sobre as respostas e opiniões dadas. A seguir temos uma proposta de roteiro para entrevista com moradores antigos da comunidade, que obviamente deve ser adaptada às diferentes realidades locais, acrescentando-se questões que seu grupo considerar relevantes. Por se tratar de uma conversa aberta as perguntas não precisam necessariamente seguir uma ordem numérica, você pode inverter as questões de acordo com o rumo que o entrevistado for seguindo.
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Não se esqueçam de treinarem a aplicação do questionário com seus avós ou bisavós para estarem mais tranqüilos e seguros quando entrevistarem outras pessoas.
Roteiro 1. Você sabe de onde vem o nome do bairro, da região, ou da cidade em que moramos? 2. Existe uma data especial para se com emorar a criação do bairro ou da cidade? 3. Há quantos anos você mora nesse luga r e na cidade? De onde veio? E a maioria das pessoas do bairro? 4. Conte um pouco da história de como surgiu essa comunidade
5. Fale sobre os personagens e famílias , que em sua opinião, ajudaram a construir essa comunidade. 6. Fale como surgiu o transporte coletivo e o asfaltamento das ruas. 7. Conte como e quando chegou a prim eira linha telefônica na comunidade ? Era residencial ou pública? 8. Como e quando surgiram as primeira Ainda existem, expandiram?
s indústrias na comunidade ou na cidade? E em que ramo de atividad e?
9. Fale sobre como surgiu o comércio na região e de como esse setor se des envolveu no bairro. 10. Quando e como a Igreja se instalou na comunidade? Como você vê as instituições religiosas no bairro? 11. Como e quando surgiram as primeira
s instituições escolares? Eram par ticulares, Municipais ou Estaduais?
12. Como e quando surgiram as primeira s instituições de saúde na comunid ade e no seu entorno? 13. Como e quando surgiram as primeira atuavam?
s organizações sociais na comunid ade e no seu entorno? Em que área s
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14. O que você faz nos seus finais de semana?
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15. Como surgiram as primeiras atividades culturais na comunidade e como essas atividades se desenvolvem atualmente? 16. Como e por que surgiram as primeiras discussões políticas na região? Como está a política atualmente no bairro? 17. Quais são, em sua opinião, as perspectivas futuras para o bairro e para a cidade? 18. Como você se sente quando seu bairro é veiculado na imprensa escrita, falada e televisiva como um bairro violento, pobre e carente de serviços?
19. O que você acha que é possível fazer para mudar esse quadro? 20. Quais são, em sua opinião, as demandas mais urgentes para o bairro? 21. Que outros bairros da cidade você conhece e que relação você estabelece com eles? 22. Como você acha que os moradores dos outros bairros, principalmente os mais ricos, vêem nossa comunidade? 23. O que você deseja para o bairro em que você vive? 24. Se você pudesse mudar algum fato histórico da comunidade, o que mudaria? 25. Você sabe desde quando nosso bairro faz parte do mapa da cidade? 26. Como você acha que nossa comunidade vai estar daqui a 10 anos? 27. Há algum outro fato ou história que você gostaria de relatar?
Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede Textos Santos, Milton. Território e Sociedade. Vídeos Anos Rebeldes (1992, dir. Denis Carvalho, dur. 680') - A trama se desenrola entre 1964 e 1980. Minissérie da Globo com grande repercussão nacional. Sites www.memoriaeducacao.hpg.ig.com.br/memedu.htm, www.resgatehistorico.com.br, www.museudapessoa.com.br
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PESQUISAÇÃO VII - Conhecendo as instituições locais
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Nos encontros 9 e 10 vocês devem ter discutido, dentre outras coisas, a importância do trabalho
das organizações não governamentais que desenvolvem diferentes projetos sociais nas comunidades. Costuma-se definir Ong como “entidades civis sem fins lucrativos, de direito privado, que realizam trabalhos em benefício de uma coletividade”. Herbert de Souza, o Betinho, costumava dizer que o papel das Ong’s é, pura e simplesmente, propor à sociedade civil uma nova organização social que tenha como condições fundamentais: ser democrática e ser capaz de erradicar – como prioridade absoluta - a pobreza e a miséria, assim como ser competente para promover o desenvolvimento de si mesma como “humanidade em toda a sua diversidade e complexidade”. Em todo o país, são muitos os programas e projetos que oferecem atividades esportivas, educacionais e culturais, especialmente para crianças, adolescentes e jovens. Esses programas e projetos realizam um serviço público necessário à inclusão social de crianças e jovens fortalecendo a sociabilidade, a convivência, o repertório cultural e informacional, o acesso e uso da tecnologia e a participação na vida pública. Como pesquisadores sociais vocês precisam conhecer melhor o trabalho desenvolvido por essas organizações na comunidade e na sua cidade. O questionário abaixo pode servir de roteiro para entrevistarem os coordenadores dessas Ong’s. Importante: Com o que já aprenderam nos encontros “Começando a PesquisaAção e PesquisaAção II” vocês estão capacitados para bolarem um novo instrumental para ser aplicado exclusivamente com diretores e coordenadores pedagógicos de suas escolas.
01. Nome da Instituição: 02. Natureza da Instituição (qual a área de atuação): 03. Endereço: Bairro:
Tel: CEP:
E-mail:
04. Pessoa Responsável: 05. Quais os objetivos da Instituição(máximo 3) e qual a faixa etária do atendim ento? 06. Serviços prestados (que atividades desenvolvem):
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07. Número de pessoas atendidas:
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08. Existe a necessidade de se aumentar o núme ro de atendimentos no e estrutura para isso? bairro? A instituição tem capacidade 09. Há quantos anos a ins tituição se instalou na comunidade? menos de 2 anos
de 2 a 10 anos
10. Por que a instituição escolheu este bairro co mo área de atuação?
11 anos ou mais
11. Os profissionais que trabalham na instituiçã o são recrutados na co munidade? sim
não
12. Como você classificari a a população local? pa
rticipativa solidária desinteressada
em parte
desmobilizada outros comentários
13. Qual o principal proble ma de região?
desocupação dos jovens desemprego dos adultos baixo nível de renda da população loc al falta de infra-estrutura urbana escassez de vagas nos ser viços de ate ndimento à população outros comentários
14. A organização partic ipa de:
fórum associação
conselho movimento reivindicatório
nenhum outro:
15. Se a Instituição realiza trabalho em pa possibilidade de aporte de recursosrceria, o que determina a escolha de parceiros?
afinidade com a proposta de trabalho
16. Sobre a relação da Ins tituição com a cidade: a) O
proximidade física a população usuária
que mais facilita a relaç ão desta Instituição co m o poder público Mu nicipal?
b) O que mais dificulta a relação desta Instituiçã o com o poder público Municipal?
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tituição com o bairro: 17. Sobre a relação da Ins nal no bairro? lta o trabalho institucio a) O que mais dificu
? lho institucional no bairro b) O que facilita o traba ? c) O que falta no bairro sse no bairro? s que gostaria que tive isa co is ipa nc pri 3 as d) Quais
da cidade? problemas do bairro e os er olv res de po em 18. Qu blico o poder púad anizada a comunid e org as lideranças si cada um por
outros:
19. Obser vações:
20. Respondido por: Nome: Cargo: Pesquisador:
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PROJETOS E INTERVENÇÕES NO TERRITÓRIO
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Vocês estão entrando agora no último dos processos do projeto “Observatório de Jovens”
O conhecimento é o meio para compreender o mundo e agir. Carlos Lungarzo
denominado “Intervenções no Território”. Nos processos anteriores “Integração, sensibilização e formação de grupo” e “Leitura de mundo”, vocês se constituíram em um grupo coeso e forte, e compartilharam com educadores e jovens “chaves” para leitura e ampliação da compreensão de mundo, discutindo questões sobre ética, cidadania, consumo, meio ambiente, ciência e realizando diferentes pesquisas nas suas comunidades. Nesse momento é preciso lançar mão de todos os saberes e habilidades adquiridas nesses processos para compreender melhor o “mundo”, identificar problemas e riquezas de suas comunidades, e elaborar projetos coletivos de intervenção que contribuam para melhoria da qualidade de vida dos moradores locais.
O sentido de realizarmos pesquisas, especialmente nas nossas comunidades, está para além do fato de conhecermos melhor as diferentes realidades locais, mas reside na possibilidade de resolução de problemas concretos vivenciados cotidianamente pelas pessoas. Obviamente, muitos dos problemas que identificaram em suas comunidades durante os encontros e nas pesquisas realizadas, são de difícil resolução e não dependem exclusivamente da ação de vocês. São conseqüências de problemas maiores relacionados à educação, saúde, cultura, habitação, trabalho, economia, política etc. No entanto, no nível local são inúmeras as possibilidades de propostas e intervenções que contribuem para o enfrentamento dessas questões, principalmente se trabalharem coletivamente e em parceria com outras pessoas e instituições que também querem resolver esses problemas. Vocês já devem ter ouvido falar em “projeto arquitetônico”, “projeto político”, “projeto comunitário”, mas afinal de contas a que se remete a idéia de “projeto”? Se pesquisarmos no dicionário veremos que projetar está relacionado a “atirar longe; arremessar” mas também ligado a idéia de “planejar o futuro”. Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transforma-lo. Karl Marx
No que diz respeito a um projeto comunitário, podemos dizer que estamos procurando respostas a problemas concretos a partir de idéias de soluções desses problemas. O próximo passo seria transformar essas idéias em ações que produzam as mudanças desejadas. Segundo a definição da ONU (Organização das Nações Unidas), um projeto é um empreendimento planejado, que consiste num conjunto de atividades relacionadas entre si, com o fim de alcançar objetivos específicos dentro dos limites de tempo e de orçamento dados. Para transformar essas idéias de soluções em ações é preciso projetar, planejar e registrar. Na maioria das vezes, agimos sem muito planejamento, ou seja, não paramos muito para organizar como vamos fazer - simplesmente fazemos. É preciso, contudo, colocar as idéias no papel, escrever o projeto, para que todos, e em qualquer tempo, possam tomar conhecimento daquilo que estamos propondo e fazendo.
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A importância de colocar as idéias no papel não é novidade para ninguém. O ser humano sempre sentiu necessidade de registrar suas idéias e ações em documentos para que as coisas não se perdessem no tempo. Desde a Pré-História, quando os homens das cavernas faziam suas inscrições nas rochas, passando pelas primeiras sociedades que desenvolveram a escrita, até os dias de hoje, quando praticamente tudo é escrito e arquivado, os homens foram desenvolvendo a escrita e percebendo a importância de registrar em documentos aquilo que eles achavam interessante. Os papiros, os jornais e os livros são exemplos de documentos em que idéias e experiências humanas foram sendo registradas ao longo dos tempos. Com o projeto comunitário que estão desenvolvendo não é diferente, é necessário colocar as idéias no papel, para que possam comunicar quais são suas intenções e permitir às outras pessoas identificar que contribuições podem acrescentar para que essas intenções se concretizem.
Tudo acaba, mas o que eu escrevo continua. Clarice Lispector
Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede Textos Costa, L. R. F. Estratégias de planejamento. Ciência e Cultura. 38 (8): 1366-1373. Vídeos Além da Lousa - Culturas Juvenis, Presente! (2000, dir. Grupo Educação Ritmo Rua, dur. 14') - Abrir os portões da escola para outras experiências educativas. Trata-se de um recado de grupos juvenis para educadores de todo o Brasil. Sites Portal do Protagonismo Juvenil- www.protagonismojuvenil.org.br
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PROJETOS E INTERVENÇÕES NO TERRITÓRIO II
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Nesse encontro estamos propondo um roteiro de elaboração de projeto para que coloquem as
idéias no papel de maneira organizada, e de um jeito que todos entendam o que estão planejando. Existem outros roteiros para elaboração de um projeto e vocês podem pesquisar essas diferentes maneiras de sistematizar e registrar as idéias, e escolherem a que preferir. De qualquer maneira, para facilitar a escrita de um projeto, podemos identificar quatro itens que compõem parte da estrutura de um projeto comunitário.
Primeiro ítem – “O que queremos?” escolha do público alvo, seus problemas e necessidades; definição da Missão do projeto; definição dos objetivos. Segundo ítem – “Como vamos agir?” Plano de Trabalho: as grandes ações que compõem o Projeto; Cronograma de Atividades: as atividades dispostas no tempo; responsabilidades das pessoas envolvidas. Terceiro ítem – “Quanto vai custar tudo Isso?” O orçamento; cronograma de gastos. Quarto ítem – “Como vamos avaliar, tirar conclusões e comunicar resultados?” Plano de avaliação de resultados parciais e finais; comunicação dos resultados para a sociedade. No primeiro Item é preciso identificar o público alvo (segmento da população que será beneficiado pelo projeto), respondendo as seguintes questões: Que fato nos incomoda e nos fez elaborar este projeto? Que problemas identificamos? Quem sofre este problema? Onde moram essas pessoas? Que evidências comprovam a existência deste problema? (dados das pesquisas) Que necessidades se originam deste problema? Quais podemos enfrentar? De todos os envolvidos no problema, quais teremos como nosso alvo?
É assim a descrição sumária de um bom projeto. O tema está na comunidade. Ele brota naturalmente. O projeto tem objetivos claros. As atividades servem para caminhar em direção aos objetivos. O público do projeto são os alunos, professores e, principalmente, a comunidade. Periodicamente o projeto é avaliado. Os rumos podem ser corrigidos. Ou reforçados, se estiverem bem. Muda o Mundo, Raimundo! p. 146.
Na definição da missão é preciso perceber que o projeto que estão pensando em implementar é parte da resolução de um determinado problema, sozinho ele não resolve todo o problema, mas pode ser uma importante contribuição. A missão deve expressar claramente o que motiva a existência do projeto; qual e como será sua ação; ligado a que tema; em que lugar e para quais pessoas. Para descrever os objetivos do projeto é preciso identificar o que queremos, ou seja, qual a finalidade do projeto.
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Veja o exemplo de algumas missões e objetivos de projetos comunitários elaborados por jovens (Programa Jovens Urbanos, São Paulo 2004) . Missão Promover a melhoria estética no bairro buscando o bem estar e valorização da comunidade. Objetivos Revitalizar o espaço da Ong e da praça, envolvendo e mobilizando os moradores nas ações de revitalização
dos locais, promovendo a conscientização da preservação de tais espaços. Desenvolver atividades culturais no espaço da Ong e da praça Estabelecer parcerias para nos apoiarem nas ações culturais e de melhoria no Bairro. Promover encontros de formação e informação na escola e na Ong visando a preservação dos espaços
revitalizados e a valorização da cultura local.
Missão Contribuir para transformar o ambiente local, buscando a melhoria da qualidade de vida dos moradores de nossa comunidade. Objetivos Monitorar a água utilizada pela comunidade contribuindo para a melhoria da qualidade de vida. Monitorar a qualidade da água da represa, informando a Prefeitura e os moradores locais. Mobilizar a comunidade e a escola para que ela obtenha melhor qualidade da água. Realizar o plantio de mudas de árvores nas encostas do córrego. Capacitar moradores para realizar a coleta seletiva.
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No segundo Item estamos falando de planejar as ações, dividir tarefas, escolher os responsáveis e definir quando serão executadas. Como vimos no encontro anterior, na maioria das vezes, agimos sem muito planejamento, ou seja, não paramos muito para organizar como vamos fazer - simplesmente fazemos. No caso da implementação de um projeto comunitário essa não é uma prática muito aconselhável. É preciso estabelecer ONDE será executado o Projeto, ONDE está o público alvo envolvido e quantas pessoas compõem esse público alvo. Também é preciso definir quais as ações e atividades devem ser desenvolvidas para atingir os objetivos definidos. Depois é só distribuir as atividades no tempo e definir os responsáveis O terceiro item é o Orçamento do Projeto onde calculamos os custos das atividades que serão desenvolvidas. Para fechar o orçamento é preciso definir todos os recursos necessários para o desenvolvimento do Projeto. Estamos falando de recursos humanos, investimentos e despesas, onde orçamos o custo de tudo que o projeto vai precisar (equipamentos, material de consumo, mobília, aluguel, combustível, telefone, água, luz, pagamento de profissionais que desenvolvem o projeto, capacitação e formação) O último item é fundamental para o sucesso e mesmo para um possível financiamento externo do projeto que estão bolando. Trata-se do Plano de avaliação onde ao longo do desenvolvimento do projeto vamos reafirmando ou redefinindo os rumos do projeto. É preciso que cada pessoa envolvida no projeto, inclusive o público alvo, tenha a oportunidade de refletir qual o impacto do projeto, se ele está se aproximando dos objetivos propostos, e ainda se o grupo tem utilizado bem os recursos disponíveis. Para completar a redação final do projeto que estão elaborando, vocês podem seguir o seguinte roteiro:
Um projeto comunitário é uma intervenção pública. Portanto deve prestar contas à comunidade.
Título do Projeto Introdução Justificativa Público Alvo Plano de trabalho e Equipe responsável Plano de Avaliação Orçamento
Na definição do título do projeto procurem identificar um nome que seja criativo, diferente e que esteja de comum acordo com todos do grupo. Imaginem que estão dando um nome a um projeto que será lembrado por muito tempo, e que vocês também serão lembrados por iniciarem um projeto tão importante para a comunidade. Na introdução procurem descrever, de modo breve e simples, quem são vocês, que motivos levaram a elaboração desse projeto e um resumo do que pretendem realizar. Na justificativa descrevam os problemas existentes na área de atuação do projeto e os dados e informações que têm sobre a comunidade que estabelecem alguma relação com o projeto de vocês.
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Veja dois exemplos de Introdução e Justificativa de projetos comunitários elaborados por jovens do Curso de For mação Agentes Sociais 2001 (Centro Nacional de For mação Comunitária)
Introdução - Projeto Mobilizar para Construir Por se tratar de um município com baixo Índice de Desenvolvimento Humano, os jovens do Curso de Empreendedores Sociais escolheram a área de Educação como foco para a elaboração de seu Projeto. Durante a realização do curso, algumas instituições foram visitadas. Nessa ocasião, os agentes sociais observaram que os alunos de uma das escolas, na região de Espinheiro, estavam estudando em um cômodo de uma residência, que servia também como moradia para uma família. Sensibilizaram-se com as precárias condições de escola. As turmas são compostas por alunos de 6 a 35 anos, que cursam diferentes séries. Dificuldades na infraestrutura também foram observadas, dentre elas a ausência de energia elétrica e água encanada. Em entrevista com professores e alunos, a maior necessidade levantada foi a construção de uma escola, que pudesse ampliar o número de alunos atendidos em condições de aprendizagem satisfatórias. Com base nesse diagnóstico, o Projeto elaborado visa à mobilização da comunidade escolar e de todo o município e também a sensibilização do poder público local na construção de uma escola. Justificativa - Projeto Feira Itinerante CulturArte A região do Capão Redondo tem uma população de aproximadamente 203 mil pessoas, distribuída numa área de 51.428 km2, ou seja, uma região maior que muitas cidades de expressão do interior do Estado de São Paulo e do País e sem espaços de lazer e cultura. Para se ter uma idéia, o teatro mais próximo fica a cerca de 12 km; a Casa de Cultura, a 10 km. Entendemos que nosso Projeto pode contribuir para a diminuição deste problema, por meio da valorização da produção cultural de artistas da região. Nesse sentido, podemos ajudar a mudar a imagem negativa que a população do resto da cidade de São Paulo tem dessa região. E também contribuir para a garantia dos direitos dos jovens de nosso distrito, que é nossa maior preocupação.
Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede Textos Bonatto, F. R. de O. O próximo-distante: análise do projeto Pequenos Trabalhadores. Um estudo na favela Parque Santa Madalena. Tese de Doutoramento. São Paulo, Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, 1998. Vídeos Atitude na Cena (2003, dir. Joinha Filmes, dur. 17') - A produção mostra a existência, na cidade de São Paulo, de diversos grupos que desenvolvem atividades culturais e esportivas, com atividades voltadas à comunidade local. Sites Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). - www.unesco.org.br
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O FUTURO POR FAZER
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No encontro anterior vocês devem ter percebido que o projeto que estão elaborando e
implementando é uma contribuição para o enfrentamento de problemas existentes na comunidade. Nesse sentido, precisam identificar outras pessoas e organizações para trabalharem em parcerias que potencializem as ações do projeto de vocês. Quanto mais estudamos os problemas do nosso tempo, mais nos damos conta de que eles não podem ser vistos isoladamente. São problemas sistêmicos, o que quer dizer que estão interconectados e são interdependentes. Fritjof Capra
No caso de um projeto de intervenção comunitária, podemos compreender “parceria” como as relações de colaboração entre organizações que compartilham objetivos ou interesses comuns, de tal forma que cada parceiro tenha algo a oferecer e algo a receber. Para garantir o sucesso e a manutenção do projeto devem buscar apoio de outras entidades, como empresas, governos (Federal, Estadual, Municipal), pequenos comerciantes, fundações financiadoras, outras associações, escolas, universidades e sindicatos. Não se esqueçam que as parcerias podem realizar-se por meio de troca de experiências, apoio técnico e financeiro, doações, prestação de serviços, empréstimo de espaços, equipamentos e profissionais. Agora que se constituíram num grupo de jovens pesquisadores que conhecem um pouco melhor suas comunidades e o próprio mundo, às vezes poderão ficar um pouco desiludidos e até revoltados com determinadas situações. Muitos podem achar que a situação está assim porque Deus quer, outros colocam a culpa exclusivamente no Governo “que não toma nenhuma atitude”. Mas vocês como jovens pesquisadores, críticos e reflexivos não podem aceitar as coisas como se não pudéssemos fazer nada. Reflita e discuta com seu grupo o trecho da poesia de Bertold Brecht.
Nós pedimos com insistência: Não digam nunca: isso é natural! Diante dos acontecimentos de cada dia Numa época em que reina a confusão. Em que corre o sangue, Em que se ordena a desordem, Em que o arbítrio tem força de lei, Em que a humanidadese desumaniza, Não digam nunca: isso é natural!
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Acabar com as injustiças, a pobreza e resolver determinadas questões de educação, saúde e habitação é responsabilidade do poder público; entretanto, é preciso que lutemos todos pelos direitos civis, políticos e sociais que as leis brasileiras já garantem e que ainda não são integralmente cumpridos. Todos podem colaborar, de preferência coletivamente, participando mais da vida da comunidade e dos movimentos sociais que mobilizam as pessoas em busca de uma sociedade mais justa e democrática. Sonhar mais um sonho impossível Não podemos mais aceitar conviver num mundo onde a fome, a exclusão social, a violência e o desrespeito pelas pessoas e pela natureza, sejam encarados como fatalidade ou como coisas naturais. É preciso pesquisar, intervir, reivindicar, negociar, lutar, sonhar e construir um futuro melhor para todos.
Lutar quando é fácil ceder (...) E o mundo vai ver uma flor Brotar do impossível chão Versão Chico Buarque e Ruy Guerra
Para todos que querem, de fato, provocar mudanças na realidade, é preciso lembrar que muitas das conquistas que temos hoje foram fruto dos sonhos e das lutas das pessoas que acreditaram na sua capacidade de transformar o mundo. Sempre agindo com os pés no chão, na sua comunidade e na sua cultura e com o pensamento conectado no mundo, na beleza da diversidade humana.
Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede Textos Tassara, E. T. de O. e Bisilliat, M. Teatro no Presídio. 20a Bienal Internacional de São Paulo. Curadoria de Eventos Especiais. Catálogo da Exposição. São Paulo, 1989. pp. 1-8. Vídeos Meu Mestre, Minha Vida (1989, dir. John G. Avildsen, dur. 109') - Vinte anos após sua demissão, um professor que virou atleta famoso retorna a escola onde deu as primeiras aulas. O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas (2000, Paulo Caudas e Marcelo Luna, dur. 75') - Dois personagens reais, Garnizé e Helinho, formam o eixo da produção. Sites http://www.aprendebrasil.com.br/foruns/maisforuns.asp
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IDÉIAS DE INTERVENÇÃO RESUMOS DOS PROJETOS DO JOVENS DO OBSERVATÓRIO - 2004 Qualquer projeto surge de uma idéia que brota, ao mesmo tempo, na cabeça e no coração de quem pensa. Manual para educadores de adolescentes de comunidades populares.
Projeto: Quando a leitura sobe a Viela... Autora: Juliana Piauí O Projeto pretende trabalhar com a diversidade de textos que circulam socialmente, estimulando a leitura prazerosa, indagadora, reflexiva e crítica como uma forma de construção da cidadania. A princípio a proposta é focar a literatura; particularmente aspectos da cultura brasileira, por ser esta uma forma de compreensão histórica da humanidade. Num primeiro momento buscam-se conhecer quais são as conce pções de leitura dos moradores das favelas do Real Parque e Jardim Panorama, pensando em pontos estratégicos destas comun idades para desenvolver atividades de mediação de leitura e coletagem de dados para a confecção de um livro. Será uma ativid ade itinerante nos becos e vielas de ambas as favelas. Tem-se também a intenção de formar novos leitores e multiplicado res de mediação de leitura. Para abarcar a complexidade da leitura, será utilizada uma pesquisa nacional, que nos possib ilitará ter um olhar panorâmico desta questão, contextualiza ndo posteriormente na realidade local onde será desenvolvido o Projet o Quando Leitura sobe a Viela.
? XO is”LI igua dosDA toVI osa: AO “som e qu r ze di tiv a le Se fic ni ta sig le e Co qu e O m ge Projeto de Recicla Verônica dos Santos Gomes Autores: Diana de Sousa Sales, reciclagem. ção das comunidades por meio da iliza mob a e al ient amb o açã ntiz scie o projeto Vida ao lixo O projeto Vida ao lixo visa à con l Parque e Jardim Panorama que Rea do s ela fav nas os rad ont blemas enc smo a se alimentar de lixo. Foi pensando nos principais pro de sobrevivência e chegam até me ma for uma dos sóli os ídu res s fazem dos dições de vida e nasceu. Constatando que pessoa soas, para melhorarem suas con pes das a stim o-e aut e ade nid de resgatar a dig as parcerias com as O projeto surge com a missão cer o projeto conta com divers nte aco isso a Par tal. ien amb o conscientizaçã renda, por meio de educação e or que adquire instituições do bairro. a limpeza do bairro, pois o morad rar lho me a par s cio efí ben ha gan a comunidade ialização dos recicláveis, Com a reciclagem dos materiais assim gerar renda pela comerc os em Pod s. lica púb vias nas a mente o jog o hábito de separar o lixo, dificil ade com o lixo que gera. dade para ter mais responsabilid uni com a ar ntiz scie con e io díc diminuir o desper
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Projeto: A Vida é Nossa Maior Viagem Autores: Ivanilda Francisca da Silva, Yolanda Valeria, Cristiana Soares da Silva. O Projeto “A Vida é Nossa Ma ior Viagem” tem como público alvo jovens, dependentes químicos, cidade de São Paulo. da região do Rio Pequeno, na A idéia central é formar grupos de discussão e de reflexão sob re as diferentes experiências das depende químico enfrente seu pro pessoas. Fazendo com que o blema de frente, de modo a ref letir a razão do seu sofrimento. O Projeto acredita e usará com o tema/frase de incentivo: “o dependente abandona a droga melhorando a auto-estima do ind é um campeão”. Com isso, ivíduo e compartilhando experi ênc ias bem sucedidas, pode-se fazer as drogas. que o dependente abandone O processo das reuniões envolve rá também a avaliação da cau sa e conseqüência da dependênc pretende-se realizar terapias fam ia. Num segundo momento, iliares e discutir o processo de reintegração na vida familiar e social. Nos encontros serão utilizados diversos recursos para atingir os prin cip ais obj etiv atividades esportivas e musicais, os definidos, tais como: filmes, além do acompanhamento psicoló palestras, e gico individual e coletivo. O projeto pretende estabelecer parcerias com ONG'S, Universid ades, Associações comunitários. O processo de trabalho com os dependentes químicos das drogas é muito longo, e tem muitos obs não podemos definir um determ táculos no caminho, por isso inado tempo.
Projeto: Jovens em Ação Silva, Ivanilda Francisca dos Santos, Cristiana Soares da es Alv a éri Val a and Yol s: ore Aut lo em parceria iado pela prefeitura de São Pau inic ho bal Tra sa Bol do ma gra continuidade ao Pro A proposta deste projeto é dar mundo com ICE/Projeto Casulo. dos jovens que buscam entrar no ão taç aci cap a a par es ent fici oficinas realizadas são insu Verificamos que seis meses de ormática, enfermagem e de trabalho. as, tais como: Web design e inf áre s nte ere dif em es ant aliz profission O objetivo é realizar oficinas keting e vendas, entre outros. lico, Setor Privado saúde pública, propaganda, mar jeto, articulando com o Poder Púb pro do tes pan tici par ens jov trabalho dos o Jovens em Ação. Promover a entrada no mundo do ional dos participantes do Projet fiss pro nto me nha ami enc o is) rnamenta e Ong´s (Organizações Não-Gove
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Projeto: Mundo das Letras Autora: Marciana Balduino a ler e escrever de uma maneira que Par al Re do ela fav da as inar as crianç vido O Projeto tem como objetivo ens a trabalho educacional desenvol um de tir par a -as do zan eti ab reação, alf da favela divertida, como se fosse uma rec es, que também são moradoras dad ari gul Sin nal cio uca Ed uto do Instit em parceira com as estudantes iada do Real Parque. em palavras da realidade vivenc gat res que s ira de nca bri de io o por me próprio Este trabalho será desenvolvid cesso de identidade por meio do pro o ar gat res o: com as égi rat os est ano. pelas crianças. Para isso utilizarem es que fazem parte do seu cotidi nom com r lha ba tra a, sej ou , em e viv : “a nome, da familia, do bairro ond teorias do pedagogo Paulo Freire nas r sea ba se vão as anç cri essas imido, que Os jovens que iram trabalhar com dominação e a pedagogia do opr da a tic prá o com e ist ex ção a educa vimento para a liberdade, mo O . ade pedagogia dos dominantes, onde erd lib da a tic prá o educação surgiria com ela que tem que ser forjada com aqu á precisa ser realizada, na qual a ser te ren cor de gia ago ped oprimidos, e a uperação de sua humanidade”. deve surgir a partir dos próprios rec de e ant ess inc a lut na os, mens ou pov ele e não para ele, enquanto ho
Projeto: Esporte Esperança
Autores: Cíntia Pereira Timote o, Cristiano de Oliveira, Edjane de Oliveira Pereira, Edson Salvin Edvania de Oliveira Pereira, Gu o da Costa, ilherme Luoni e Maciel Feliciano da Sil va O projeto pretende levar esport e para crianças e jovens de 7 a 18 anos do Real Parque e Jardim Pretende-se proporcionar aos Panorama. jovens diferentes opções para além das drogas e da marginal esporte é uma das melhores for idade, sendo o mas de atingir estes objetivos. O projeto nasce com o objetivo de dar oportunidade de uma vid a melhor para crianças e jovens comunidades. Pretende-se quebra dessas r a rotina escola - casa - rua, ond e se expõe riscos de acidentes, ruas, mas também em sua própri não só nas a casa, pois a maioria dos pais est a trabalhando, durante estes per O mesmo pretende estabelecer íodos. parcerias de modo que as crianç as e os jovens possam adquirir transporte, lanche, espaço e os de graça uniformes para a realização dos esportes. Os participantes terão opções de fazer uma grande diversida de de atividades, tais como: ba handball e futebol de salão. O pro squete, vôlei, jeto necessita de um local que ten ha bastante espaço e quadras de que estejam em boas condições esportes de trabalho. Pretende-se atingir inicialmente um total de 80 jovens, para dep ois ampliarmos o número de par Buscaremos estabelecer parcerias ticipantes. com instituições da comunidade, principalmente o Projeto Casulo.
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Projeto: Casa de Hip Hop ria Autor: Sidney Cosme Candido Fa fissionalização também uma possibilidade de pro al tur cul ão opç a um de m alé , graffiti e de concientização DJ C, Mostrar que o Hip Hop pode ser M. ça, dan de as cin ofi r o pretende realiza das pessoas envolvidas. O projet o os jovens a da cultura afro-brasileira. públicas e privadas), incentivand ias cer par com tar con erá pod Tais atividades são excelentes . O local precisa ser definido (e sse ere int seu de am sej s culturais que desenvolverem outras atividade e políticas. a as atividades culturais, sociais par s -lo izá bil mo a par por nenhuma as ent ferram irro atualmente não é atendido ba o s poi , ma ora Pan m rdi os Ja os jovens moradores dos bairr O Projeto deverá ocorrer no re ent o açã egr int ior ma m bé promover tam atividade cultural. Pretendem-se . Real Parque e Jardim Panorama
Projeto: Clube de Mães Autora: Viviane Gonzaga Em muitas comunidades nota-s e que existem mães que ficam em casa, às vezes sem nada par intuito deste projeto além de a fazer. O fazer com que as mães participe m das atividades dos seus filhos Casulo, tem o objetivo de desen no Projeto volver outras habilidades, sejam elas artísticas ou não. Além disso, pretendem promover eventos onde ela possa se inform venéreas, cardíacas, diabetes e ar sobre a saúde da mulher, do hipertensão e outros assuntos enças que pos sam interessar as mulheres. Esse projeto também pretende contar com parceria de médicos do posto de saúde, de pessoas diferentes áreas profissionaliza ligadas a ntes para assessorarem as mã es no desenvolvimento de habilid competências que possam gerar ades e renda. O projeto pretende atingir a me ta de atendimento de 40 mães por ano com idades entre 15 e 45 queiram desenvolver alguma hab anos, que ilidade, e que morem no Real Par que e Jd . Pan ora ma . Outra proposta é fazer com que mulheres que sofram algum tip o de violência criem coragem e o agressor. denunciem
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nça Projeto: Sorria Cria azer rnanda e Claudia. , garantindo a elas o pr os an 11 a 5 de Autores: Lucinéia, Fe as nç ia colas da o para cr e projeto pois nas es dar aulas de percussã st vo ne ti je os ob am o ns m Pe co a. m ir te le ro-brasi O projeto resses pela música af te in e ns do us se a e dança. r ri de descob iar as s atividades de músic da vi ol nv se de São Paulo para ampl o de sã o de nã da e ci ad id da un s m ai co ur nossa etos cult ias com outros proj er rc pa ar iz al re e -s Pretende em endidas. ra se especializarem música às crianças at pa a so os rs es cu ac r de ze s fa de da ão oportuni antes ir ório, todos os integr rt pe re o ss no os rm Para amplia musicais. diferentes atividades ano. o de seis meses a um çã ra du rá te o et oj pr O
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