Arquitectura de terra região de aveiro

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO

ARQUITETURA DE TERRA na Região de Aveiro Reabilitação de construções em adobe

Vítor Manuel Costa Almeida

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

Orientador Prof. Doutor Bruno Marques

Porto, 2014/2015

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ARQUITETURA DE TERRA na Região de Aveiro Reabilitação de construções em adobe

Agradecimentos

Agradeço, em primeiro lugar, à minha família mais próxima (pais e irmão) pela sua dedicação e possibilidade de alcançar mais uma etapa da minha vida, e à restante família e amigos pelo seu apoio e contributo na minha evolução enquanto pessoa. Um agradecimento especial, ao Professor Doutor Bruno Marques pelo seu tempo, disponibilidade, paciência e dedicação no acompanhamento desta dissertação. Quero também deixar aqui o meu agradecimento, ao Professor Doutor Humberto Varum e também ao Sr. Daniel Bastos (da Câmara Municipal da Murtosa) pela sua disponibilidade e contributo no desenvolvimento deste trabalho. E não menos importante, agradeço a todas as pessoas que diretamente ou indiretamente proporcionaram a aquisição de conhecimento sobre o tema aqui tratado, através dos seus textos escritos, documentos e imagens, ou a possibilidade de acesso e contacto direto com este tipo de edificado, sem eles tudo seria mais complicado. OBRIGADO!

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ARQUITETURA DE TERRA na Região de Aveiro Reabilitação de construções em adobe

Índice Índice de Imagens ............................................................................................................ VII Resumo ........................................................................................................................... XVI Abstract ......................................................................................................................... XVII Lista de Abreviaturas .................................................................................................. XVIII INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 19 1.

CARATERIZAÇÃO: ARQUITETURA DE TERRA ..................................... 25 1.1. Arquitetura de terra ............................................................................................... 26 1.2. Técnicas de construção em terra ........................................................................... 27 1.2.1. 1.2.2. 1.2.3. 1.2.4.

(A) – Monolítica e Portante .................................................................... 31 (B) – Alvenaria Portante ........................................................................ 33 (C) – Enchimento de uma Estrutura de Suporte ..................................... 37 Outras Técnicas e Diferentes Estados Físicos da Terra ......................... 41

1.3. História e universalidade da arquitetura de terra .................................................. 43 1.4. Ecologia da Arquitetura em terra .......................................................................... 54 2.

ARQUITETURA DE TERRA EM AVEIRO: O ADOBE .............................. 57 2.1. Arquitetura de terra em Portugal........................................................................... 59 2.2. Definição: Taipa, Adobe e Tabique ...................................................................... 61 2.3. Contextualização do território _ Aveiro e Região ................................................ 63 2.3.1. 2.3.2. 2.3.3.

Geografia ................................................................................................ 63 Apontamento histórico (Aveiro) ............................................................ 65 A ria de Aveiro ....................................................................................... 69

2.4. O adobe na região de Aveiro ................................................................................ 71 2.4.1. 2.4.2. 3.

Produção de adobe e mestres adobeiros ................................................. 73 Alvenaria em terra crua na região .......................................................... 75

ADOBE: REABILITAÇÃO / RECUPERAÇÃO ............................................ 79 3.1. Enquadramento ..................................................................................................... 81 3.2. Vantagens e Desvantagens do uso do Adobe ....................................................... 85 3.2.1.

Vantagens: .............................................................................................. 85

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3.2.2.

Desvantagens: ........................................................................................ 87

3.3. Patologias das construções em adobe ................................................................... 89 3.3.1. 3.3.2.

Principais agentes de degradação........................................................... 89 Patologias ............................................................................................... 93

3.4. Boas Práticas Construtivas: prevenção e reparação de patologias ..................... 101 3.5. Inovações Técnicas face ao Adobe: .................................................................... 111 3.5.1. 3.5.2. 4.

Sismos e Resistência Sísmica: ............................................................. 111 Bloco de Terra Comprimida (BTC) ..................................................... 115

CASO DE ESTUDO: Reabilitação da “Casa de Brasileiro”, Bunheiro ...... 119 4.1. “Casa de Brasileiro”: Enquadramento ................................................................ 121 4.2. Contextualização ................................................................................................ 123 4.3. Descrição: “Casa de Brasileiro” ......................................................................... 123 4.4. Patologias e estado conservação ......................................................................... 127 4.5. Proposta .............................................................................................................. 131 4.6. Proposta: nota conclusiva ................................................................................... 137

CONCLUSÃO ................................................................................................................. 139 ANEXO I .......................................................................................................................... 143 ARQUITETURA DE TERRA NO PRESENTE ...................................................... 143 Índice Bibliográfico ......................................................................................................... 153

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Índice de Imagens Fig. 1: Diagrama do grupo CRATerre, das diferentes famílias de sistemas de construção antigos e modernos, que utilizam a terra como matéria-prima. …….………………….…. 28 Fonte: “Terra: Forma de Construir : Arquitectura-Antropologia-Arqueologia” (p. 21). Lisboa: Argumentum, 2006.

Fig. 2: Casas escavadas na rocha. Matmata, Tunísia. …………………………………… 30 Fonte: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e3/Tunisia_matmata_pacio.jpg> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 3: Casas escavadas no solo. Matmata, Tunísia. …………………………………….... 30 Fonte: <http://mimpipribumi.wordpress.com/2012/02/12/rumah-gua-dari-tunisia/> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 4: Terra escavada na horizontal, grutas. “Mogao Grottoes”, Dunhuang, China. …….. 30 Fonte: <http://www.pbase.com/firstlightimaging/image/102772921> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 5: Exemplo de construção em terra empilhada. ……………………….……………... 30 Fonte: <http://burgibill.blogspot.pt/2013/03/laltro-costruire-ii-parte-il-massone-o.html> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 6: Casa em França, executada em bauge. ……………………..……………………... 30 Fonte: <http://www.earth-auroville.com/stacked_earth_en.php> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 7: Cabanas de barro. “Musgum mud huts”, Norte dos Camarões. …………………... 30 Fonte: <http://pixdaus.com/files/items/pics/5/37/553537_28ba9b0459f3084cf5adb34130b635f d_large.jpg> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 8: Fotomontagem de execução da Taipa: montagem do taipal; apiloar a terra (bater); taipal tradicional do Alentejo. ……………………………………………………..……... 32 Fonte: “Arquitectura de Terra em Portugal” (p. 23). Lisboa: Argumentum, 2005.

Fig. 9: Construção em taipa. ………………………………………………………….…... 32 Fonte: “Arquitectura de Terra em Portugal” (p. 26). Lisboa: Argumentum, 2005.

Fig. 10: Manufatura de blocos apiloados. Ambo, Tibete. …………………………….…... 32 Fonte: <http://mestrado-reabilitacao.fa.utl.pt/disciplinas/jaguiar/MariaFernandesTERRA1.pdf> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 11: CINVARAM. Primeira máquina de comprimir blocos de terra. ……………….... 32 Fonte: <http://www.earth-auroville.com/compressed_earth_blocks_en.php> Novembro de 2014].

[acesso:

em

Fig. 12: Fábrica e produção de BTC. Carrapateira, Aljezur, Portugal. ………………….... 32 Fonte: “Arquitectura de Terra em Portugal” (p. 55). Lisboa: Argumentum, 2005.

Fig. 13: Fotomontagem da Basílica Bom Jesus, construída em laterite. Goa, Índia. ……... 34 Fonte: <http://www.earth-auroville.com/cut_blocks_en.php> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 14: Vista geral de um local de extração de blocos. Kari, Burkina Faso. ……...……... 34 Fonte: <http://www.earth-auroville.com/cut_blocks_en.php> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 15: Fotomontagem: abertura de roço para extração de blocos e ajuste do corte. Orissa, Índia. ……………………………………………………………………………………... 34 Fonte: <http://www.earth-auroville.com/cut_blocks_en.php> [acesso: em Novembro de 2014].

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Fig. 16: Extrusão de plaquetas de terra. França. …………………………………...……... 34 Fonte: <http://www.earth-auroville.com/extruded_earth_en.php> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 17: Fotomontagem da produção de adobe de forma mecânica e em série. ……...…... 34 Fonte: <http://mestrado-reabilitacao.fa.utl.pt/disciplinas/jaguiar/MariaFernandesTERRA1.pdf> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 18: Fotomontagem de exemplos de hab. executadas em adobe mecânico. EUA. ...... 36 Fonte: <http://mestrado-reabilitacao.fa.utl.pt/disciplinas/jaguiar/MariaFernandesTERRA1.pdf> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 19: Torrões de terra empilhados. Afotobo, Costa do Marfim. …….......................…... 36 Fonte: <http://mestrado-reabilitacao.fa.utl.pt/disciplinas/jaguiar/MariaFernandesTERRA1.pdf> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 20: Moldagem do adobe ……................................................................................…... 36 Fonte: <http://greentalks.blogs.sapo.pt/13228.html> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 21: Produção de adobe e secagem ao sol. Aït Benhaddou, Marrocos. …………..…... 36 Fonte: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/06.062-63/4355> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 22: Casa em adobe. Vilamar, Cantanhede, Portugal. …….....................................…... 36 Fonte: Arquitectura de Terra em Portugal” (p. 49). Lisboa: Argumentum, 2005.

Fig. 23: Parede em tabique. Mizarela, Guarda, Portugal. ………………………..…...…... 38 Fonte: <http://oldportuguesestuff.com/2012/07/wall/> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 24: Casa em terra de cobrimento. Alsace, França. ……...…………………………..... 38 Fonte: <http://www.earth-auroville.com/wattle_and_daub_en.php> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 25: Esquema de parede em engradado. ……...……………………………………...... 38 Fonte: <http://www.dachverband-lehm.de/pdf/DVL_consumerinfo_gb.pdf> Novembro de 2014].

[acesso:

em

Fig. 26: Construção em engradado. …………………………………………………..…... 38 Fonte: <http://www.thiscobhouse.com/cob-building-systems-foundations-and-walls/> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 27: Casa em terra-palha. Darmstadt, Alemanha. ……...........................................…... 38 Fonte: <http://www.earth-auroville.com/formed_earth_en.php> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 28: Construção em terra de enchimento “superadobe”. Califórnia, EUA. ……....…... 38 Fonte: <http://www.earth-auroville.com/earth_filled_in_en.php> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 29: Fotomontagem da Casa MOORE, Arq. Alfredo de Vido. Connecticut, EUA. ...... 40 Fonte: <http://valogianni.blogspot.pt/2010/01/moore-house-connecticut-by-alfredo-de.html> [acesso: em Novembro de 2014].

Fig. 30: Casas em terra pintada. Burkina Faso. ……............................................................ 40 Fonte: <http://www.greenprophet.com/2014/06/burkina-fasos-painted-earth-homes-in-a-royalvillage/> [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 31: Execução de um reboco “à mão”. Índia. ……..................................................…... 40 Fonte: <http://www.recriarcomvoce.com.br/blog_recriar/arquitetura-de-terra-ii/> [acesso: em Dezembro de 2014].

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ARQUITETURA DE TERRA na Região de Aveiro Reabilitação de construções em adobe

Fig. 32: Áreas de construção em terra no mundo. …….................................................…... 42 Fonte: <http://www.earth-auroville.com/world_techniques_introduction_en.php> [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 33: Grande Muralha da China, parte executada em taipa. Jiayuguan, China ………... 42 Fonte: <http://arquitecturasdeterra.blogspot.pt/2010/03/grande-muralha-da-chinataipa.html> [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 34: Cidade de Jericó. Palestina. ……………………………………………….....…... 42 Fonte: <http://www.bible-architecture.info/Jericho.htm> [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 35: Ruínas da cidade de Jericó, construção em tijolo de barro. Jericó, Palestina. ..….. 44 Fonte: <http://www.bible-architecture.info/Jericho.htm> [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 36: Torre de vigia do período Neolítico. Jericó, Palestina. ……............................…... 44 Fonte: <http://blog.bibleplaces.com/2010_10_01_archive.html> [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 37: O templo Branco e o seu zigurate. Uruk, Iraque. …………………………....…... 44 Fonte: <http://otemplodeishtar.wordpress.com/category/arte-da-sumeria/> Dezembro de 2014].

[acesso:

em

Fig. 38: Zigurate de Nanna. Ur, Iraque. ……………………………………………....…... 44 Fonte: <http://caixadepandora.xpg.uol.com.br/monumentos-antigos-e-intrigantes/#.VILw3zGs WA1> [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 39: Cidadela Arg-e Bam, antes do sismo, 2001. Bam, Irão. ……..........................…... 46 Fonte: <http://dsr.nii.ac.jp/bam/collection/000016-000020.html.en>, Mitsuteru, Março 2001. [acesso: em Dezembro de 2014].

foto

de:

Nakayama

Fig. 40: Vihara Budista de Paharpur, mosteiro. Paharpur, Bangladesh. ……...............…... 46 Fonte: <https://ssl.panoramio.com/photo/38516576?comment_page=1#users_comments> [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 41: Desenho da cidade Çatalhöyük, interpretação de artista. Çatalhöyük, Turquia. .... 46 Fonte: <http://www.sci-news.com/archaeology/science-catalhoyuk-map-mural-volcanic-erup tion-01681.html> ilustração de: Dan Lewandowski. [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 42: Palácio Saad ibn Saud. Ad-Dariyah, Arábia Saudita. ………………………..…... 46 Fonte: <http://whc.unesco.org/en/list/1329/>, foto de: ADA. [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 43: Shibam, cidade murada. Shibam, Iémen. ……................................................…... 46 Fonte: <http://whc.unesco.org/en/list/192/>, foto de: Jean-Jacques Gelbart. [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 44: Cidade Sana’a, executada em taipa. Sana’a, Iémen. ………………………....…... 48 Fonte: <http://whc.unesco.org/en/list/385>, foto de: Jean-Jacques Gelbart. [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 45: Forte de Jiayuguan, executado em taipa. Jiayuguan, Gansu, China. ………...…... 48 Fonte: <http://www.beijinghikers.com/trip-reports/hike-photos-jiayuguan-fortress-and-zhan gye-coloured-cliffs-2012-10/> [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 46: Habitações rurais chinesas em taipa. Fujian, China. ………………………...…... 48 Fonte: <http://whc.unesco.org/pg.cfm?cid=31&l=en&id_site=1113&gallery=1&&index=1>, foto de: Song Xiang Lin. [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 47: Ramesseum, abóbadas em adobe. Tebas, Egipto. …………………………...…... 48 Fonte: <http://www.egypt-touring-guides.co.uk/Hatshepsut_Nobles.html> Dezembro de 2014].

[acesso:

em

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Fig. 48: Vista panorâmica da cidade Ait-Ben-Haddou. Ouarzazate, Marrocos. ……...…... 48 Fonte: <http://dsphotographic.com/photos/morocco-part-i/>, foto de: Darby Sawchuk. [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 49: Cidade Ait-Ben-Haddou. Ouarzazate, Marrocos. …………………………....…... 50 Fonte: <http://www.trekearth.com/gallery/Africa/Morocco/South/Ouarzazate/Ait_Benhaddou/ photo277765.htm> [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 50: Grande Mesquita de Djenné. Djenné, Mali. ………………………………....…... 50 Fonte: <http://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotos-g480205-w2-Djenne_Mopti_Region .html > [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 51: Castelo Baños de la Encina. Espanha. …….....................................................…... 50 Fonte: <http://www.earth-auroville.com/traditional_rammed_earth_en.php> Dezembro de 2014].

[acesso:

em

Fig. 52: Parte da muralha do Castelo de Alcácer do Sal, em taipa. Portugal ……........…... 50 Fonte: <http://arquitecturasdeterra.blogspot.pt/2013/04/castelo-de-alcacer-do-sal-al-qasr.html> [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 53: Montezuma Castle. Arizona, EUA. ……………………………………….....…... 50 Fonte: <http://education.nationalgeographic.com/education/news/montezuma-castle-andwell/?ar_a=1> [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 54: Cidade de Taos. Novo México, EUA. …………………………………….....…... 52 Fonte: <http://whc.unesco.org/en/list/492/gallery/> foto de: David Muench. [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 55: Ruínas do Fort Selden. Novo México, EUA. ……………………………......…... 52 Fonte: <http://mikeandcarole2010.blogspot.pt/2011_03_01_archive.html> Dezembro de 2014].

[acesso:

em

Fig. 56: Ruínas de Joya de Céren. El Salvador …….....................................................…... 52 Fonte: <http://whc.unesco.org/pg.cfm?cid=31&l=en&id_site=675&gallery=1&&index=1>, foto de: Colinmac. [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 57: Complexo de Chan Chan. Trujillo, Peru. …………………………………....…... 52 Fonte: <http://whc.unesco.org/en/list/366/>, foto de: Jim Williams. [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 58: Huaca del Sol, construída com mais de 143 milhões de adobes. Trujillo, Peru. .... 52 Fonte: <http://archaeology.about.com/od/hterms/g/huaca_del_sol.htm> [acesso: em Dezembro de 2014].

Fig. 59: Coberturas de salão. Porto Santo, Madeira. …….............................................…... 58 Fonte: “Arquitectura de Terra em Portugal” (p. 66). Lisboa: Argumentum, 2005.

Fig. 60: Mapa da distribuição geográfica das principais técnicas tradicionais. ……....…... 58 Fonte: “Arquitectura de Terra em Portugal” (p. 21). Lisboa: Argumentum, 2005.

Fig. 61: Alvenaria em Taipa. ………………………………………………………....…... 60 Fonte: “Arquitectura de Terra em Portugal” (p. 21). Lisboa: Argumentum, 2005.

Fig. 62: Alvenaria em Adobe. ………………………………………………………...…... 60 Fonte: “Arquitectura de Terra em Portugal” (p. 21). Lisboa: Argumentum, 2005.

Fig. 63: Alvenaria em Tabique. ……............................................................................…... 60 Fonte: “Arquitectura de Terra em Portugal” (p. 21). Lisboa: Argumentum, 2005.

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Fig. 64: Mapa das sub-regiões (NUTS III), Baixo Vouga. …………………………...…... 62 Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Aveiro>, fonte: Wikipédia [acesso: em Janeiro de 2015].

Fig. 65: Vista aérea da região e ria de Aveiro. Google Earth. ……………………......…... 62 Fonte: “Google Earth” [acesso: em Janeiro de 2015].

Fig. 66: Vista da Serra da Freita ……………………………………………………....…... 64 Fonte: <https://sites.google.com/site/serradafreitaumaserraencantada/> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 67: Vista da Serra da Arada ……………………………………………………...…... 64 Fonte: <http://montisacn.blogspot.pt/2014_11_01_archive.html> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 68: Vista da Serra do Arestal ………………………………………………..…...…... 64 Fonte: <http://paginas.fe.up.pt/~gei02025/encantos.htm> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 69: Vista de Aveiro, canal das Pirâmides e as marinhas de sal, 1950. …………..…... 66 Fonte: <http://www.prof2000.pt/users/secjeste/arkidigi/aveiro03.htm> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 70: Marinhas de sal ao lado do canal de S. Roque. …….......................................…... 66 Fonte: <http://www.prof2000.pt/users/secjeste/arkidigi/Aveiro06.htm> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 71: Comércio junto ao canal Central, centro da cidade, 1926. ………………...…... 66 Fonte: <http://www.prof2000.pt/users/secjeste/arkidigi/Aveiro03.htm> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 72: Lota do peixe no Canal de S. Roque, 1921. …….............................................…... 66 Fonte: <http://aveiro-espaco-tempo-memoria.blogspot.pt/2011_11_01_archive.html> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 73: Vista da cidade, um dia de festa no canal central, 1928 ……………………..…... 66 Fonte: <http://www.prof2000.pt/users/secjeste/arkidigi/Aveiro05.htm> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 74: Estátua a José Estêvão Coelho de Magalhães, 1935 ……................................…... 66 Fonte: <http://www.prof2000.pt/users/secjeste/arkidigi/Aveiro06.htm> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 75: Ria de Aveiro, e prática de “kiteboarding”. ……………………………..…...…... 68 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 76: Ria de Aveiro, e prática de “kiteboarding”. …….............................................…... 68 Fonte: <http://www.panoramio.com/photo/36825388> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 77: Barcos Moliceiros, Torreira. ……...................................................................…... 68 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 78: Exemplos de painéis decorativos, nos barcos Moliceiros. ……………...…...…... 68 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 79: Três exemplos de Arte Nova, Museu da cidade, Casa do Turismo e Corporativa Agrícola, em Aveiro. ………………………………………………………………....…... 70 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 80: Habitação no estilo Arte Nova, Salreu. ……...…………………………………... 70 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

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Fig. 81: Quartel da G.N.R. de Aveiro ……...……………………………………………... 70 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 82: Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro ……………………………………...…... 70 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 83: Muro em adobe, Estarreja. ……...………………………………………………... 70 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 84: Fotomontagem da Casa Major Pessoa (alçados Sul e Norte), atual Museu de Arte Nova e Casa de Chá, Aveiro. ………………………………………………………....…... 72 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 85: Habitação de emigrantes brasileiros, Bunheiro. …………………………......…... 72 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 86: Habitação em Pardilhó. ……………………………………………………...…... 72 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 87: Mestre-adobeiro, Costa de Lavos. …………………………………………...…... 74 Fonte: “Arquitectura de Terra em Portugal” (p. 262). Lisboa: Argumentum, 2005.

Fig. 88: Mestre-adobeiro, Sr. Luciano, Aljezur. ……………………………………...…... 74 Fonte: “Arquitectura de Terra em Portugal” (p. 265). Lisboa: Argumentum, 2005.

Fig. 89: Parede com vários tipos de adobes e com malhetes de fragmentos de telha. …... 74 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 90: Alvenaria de adobe de barro, Bunheiro. …………………………………......…... 74 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 91: Alvenaria de adobe de cal, Estarreja. ………………………………………...…... 76 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 92: Alvenaria em tabique. ……………………………………………………......…... 76 Fonte: <http://www.cienciabraganca.pt/index.php?pagina=nav/tecnologias-show&id=412> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 93: Construção em ruína, Aveiro. ………………………………………………..…... 80 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 94: Edifício 4 Estações, reabilitado, Aveiro. ………………………………..…...…... 80 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 95: Fotomontagem de alguns ensaios de provetes de adobe e argamassa realizados no laboratório da U.A. a) Ensaio de compressão simples, b) ensaio de compressão diametral, c) ensaio de compressão simples sobre provete de argamassa; d) ensaios sobre muretes; e) ensaio sobre murete na diagonal às juntas de assentamento. ……...…………………….... 82 Fonte: “Caracterização e reabilitação de construções existentes em terra” (p. 5). 2007. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10773/6478>

Fig. 96: Transporte de barco e descarga de adobes em Estarreja. …….........................…... 84 Fonte: <https://www.facebook.com>. Foto na Cronologia do Facebook de Paulo Horta Carinha [acesso: em Março de 2015].

Fig. 97: Casa na Av. Dr. Lourenço Peixinho, clara falta de manutenção. …………....…... 88 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

XII


ARQUITETURA DE TERRA na Região de Aveiro Reabilitação de construções em adobe

Fig. 98: Casa com fendas visíveis, em Aveiro. ……………………………………….…... 90 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 99: Casa em Aveiro, aspetos da erosão do revestimento das paredes. ……...…...…... 90 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 100: Barracão/armazém, visível a degradação do revestimento da parede. …......…... 90 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 101: Alvenaria com fundação em adobe, Aveiro ……..........................................…... 92 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 102: Alvenaria com fundação em pedra, xisto, Fermelã. ……………………......…... 92 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 103: Destacamento do revestimento. ………………………………………….....…... 94 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 104: Fissura nos cantos das aberturas, Aveiro …………………………………...…... 94 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 105: Fissuração nos cunhais, Aveiro ………………………………………….....…... 94 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 106: Manchas de humidade e surgimento de bolores. …………………………...…... 96 Fonte: NETO, Célia A. B. dos Santos. "Estratégia para caracterização do edificado em adobe em Aveiro" (p. 112). Aveiro: Universidade de Aveiro. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, 2008.

Fig. 107: Acumulação de detritos e surgimento de vegetação na cobertura, Aveiro. …...... 96 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 108: Deterioração das vigas de madeira de pavimento. ………………………….…... 98 Fonte: OLIVEIRA, Cristina, VARUM, Humberto, GUERREIRO, Luís. "Arte Nova em Aveiro e sua relação com o Adobe" (p. 6). RIPAM 3: 3rd International Meeting on Architectural Heritage of the Mediterranean, 2009.

Fig. 109: Descasque do revestimento do teto sobre fasquiado. ……...………………….... 98 Fonte: NETO, Célia A. B. dos Santos. "Estratégia para caracterização do edificado em adobe em Aveiro" (p. 87). Aveiro: Universidade de Aveiro. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, 2008.

Fig. 110: Reparação de revestimentos com argamassa de cimento. ………………....…... 100 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 111: Destacamento da pintura do suporte. ………………………………..…...…... 100 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 112: Esquema consolidação da fundação, a). ………………………………....…... 102 Fonte: APPLETON, João. "Reabilitação de Edifícios Antigos: Patologias e Tecnologias de Intervenção" (p. 166). Amadora: Edições Orion, 2003.

Fig. 113: Esquema de alargamento e recalçamento da fundação, b). ……………...…... 102 Fonte: Idem (p. 168).

Fig. 114: Esquema de confinamento lateral da fundação, c). ……..............................…... 104 Fonte: Idem (p. 172).

Fig. 115: Esquema de recalçamento da fundação, d). …….........................................…... 104 Fonte: Idem (p. 173).

XIII


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Fig. 116:Fotomontag. de esquema de consolidação da fundação por microestacas, e). ..... 104 Fonte: Idem (p. 174).

Fig. 117: Fotomontagem de uma selagem de fissuras, em laboratório, com injeção de goma de cal hidráulica sob pressão, e reforço com rede sintética. ……...……………….……... 106 Fonte: FIGUEIREDO, António, et al. "Reforço de paredes de adobe: caracterização experimental de uma solução de reforço sísmico" (p. 8). 6 ATP e 9 SIACOT, 2010.

Fig. 118: Exemplo de caiação de um muro. ……...…………………………………….... 108 Fonte: <http://domusmater.blogs.sapo.pt/2012/01/> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 119: Substituição de topo de viga em madeira de um pavimento. ………….......…... 108 Fonte: APPLETON, João. "Reabilitação de Edifícios Antigos : Patologias e Tecnologias de Intervenção" (p. 196). Amadora: Edições Orion, 2003.

Fig. 120: Reforço das vigas com peças metálicas empalmadas. …….........................…... 108 Fonte: Idem (p. 197).

Fig. 121: Injeção de resina epoxy para reconstituição da zona deteriorada. ……...……... 108 Fonte: Idem (p. 199).

Fig. 122: Zonas de risco sísmico elevado e muito elevado …….................................…... 110 Fonte: TORGAL, F. Pacheco, EIRES, Rute M. G., JALALI, Said. "Construção em Terra" (p. 92). Guimarães: Universidade do Minho/Tecminho, 2009.

Fig. 123: Zonas com elevada densidade de construção em terra ………………….....…... 110 Fonte: Ibidem.

Fig. 124: Tipos de danos sísmicos que ocorrem em edif. de adobe não reforçado......…... 112 Fonte: SILVEIRA, Dora, VARUM, Humberto, COSTA, Aníbal. "Análise do comportamento sísmico de construções existentes em adobe" (p. 2). Sísmica 2007: 7º Congresso de Sismologia e Engenharia Sísmica, 2007.

Fig. 125: Vários exemplos de BTC’s. …….................................................................…... 114 Fonte: < http://dorimconstrucoes.com.br/internas/portifolio.html > [acesso: em Março de 2015].

Fig. 126: Prensa manual. ……....................................................................................…... 114 Fonte: <http://www.wordy.photos/index.php?keyword=graco%20ram%20hidr%C3%A1ulica %20www.gracomaq.net&photo=afczgFa8iOQ&category=people&title=ceb+machine+operatio n+training+day+1+morning+session> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 127: Prensa hidráulica. ………………………………………………………....…... 116 Fonte: TORGAL, F. Pacheco, EIRES, Rute M. G., JALALI, Said. "Construção em Terra" (p. 53). Guimarães: Universidade do Minho/Tecminho, 2009.

Fig. 128: Alçado Sul da “Casa de Brasileiro”, foto: de Abril, 2015. ……...................…... 120 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 129: Alçado Norte da “Casa de Brasileiro”, foto: de Abril, 2015. ……...............…... 120 Fonte: Foto tirada pelo candidato, 2015.

Fig. 130: Planta de Implantação da “Casa de Brasileiro”, Bunheiro, Murtosa. ……...…... 122 Fonte: Desenhos e montagens elaborado pelo candidato, 2015.

Fig. 131: Plantas de Materiais Pré-existentes. ……....................................................…... 124 Fonte: Desenhos e montagens elaborado pelo candidato, 2015.

Fig. 132: Alçados da “Casa de Brasileiro” ………………………………………......…... 126 Fonte: Desenhos e montagens elaborado pelo candidato, 2015.

XIV


ARQUITETURA DE TERRA na Região de Aveiro Reabilitação de construções em adobe

Fig. 133: Plantas identificação de demolições. ……...…………………………………... 128 Fonte: Desenhos e montagens elaborado pelo candidato, 2015.

Fig. 134: Plantas da proposta. …………………………………………………….....…... 130 Fonte: Desenhos e montagens elaborado pelo candidato, 2015.

Fig. 135: Planta Cobertura, e cortes da proposta. ………………………………........…... 132 Fonte: Desenhos e montagens elaborado pelo candidato, 2015.

Fig. 136: Alçados da proposta. ……...........................................................................…... 134 Fonte: Desenhos e montagens elaborado pelo candidato, 2015.

Fig. 137: Alçado Poente e Corte Construtivo da fundação e cobertura. ……..............…... 136 Fonte: Desenhos e montagens elaborado pelo candidato, 2015.

Fig. 138: Moradia em Beja. ……...…………………………………………………….... 144 Fonte: <http://www.betaoetaipa.pt/obras_detail.php?obra=habitacao_em_beja> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 139: Fotomontagem de Moradia em Beja. ……...................................................…... 144 Fonte: <http://www.betaoetaipa.pt/obras_detail.php?obra=habitacao_em_beja> <http://joaosemog.wix.com/joaogomesarq#!beja/c2nn> [acesso: em Março de 2015].

e

Fig. 140: Centro de Arquitectura de Terra ……...……………………………………...... 146 Fonte: <http://iwan.com/photo_Mopti_Centre_de_L_Architecture_en_Terre_Mali_Francis _Kere.php> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 141: Fotomontagem de Centro de Arquitectura de Terra ……...…………………..... 146 Fonte: <http://iwan.com/photo_Mopti_Centre_de_L_Architecture_en_Terre_Mali_Francis _Kere.php> e <http://www.kere-architecture.com/> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 142: Casa “Earth Bricks”. ……............................................................................…... 148 Fonte: <http://www.tekuto.com/en/works/a166_earth-bricks/> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 143: Fotomontagem de Casa “Earth Bricks”. …………………………………..…... 148 Fonte: <http://www.tekuto.com/en/works/a166_earth-bricks/> e <http://www.archdaily.com/ 241809/earth-bricks-atelier-tekuto/> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 144: Casa “Rauch”. …….....................................................................................…... 150 Fonte: <http://www.architonic.com/aisht/rammed-earth-house-rauch-family-home-boltshauserarchitekten/5100620> [acesso: em Março de 2015].

Fig. 145: Fotomontagem de Casa “Rauch”. ……........................................................…... 150 Fonte: <http://www.architonic.com/aisht/rammed-earth-house-rauch-family-home-boltshauserarchitekten/5100620> e <http://www.lehmtonerde.at/en/projects/project.php?pID=7> [acesso: em Março de 2015].

Capa e Contracapa Fonte: Fotos tiradas pelo candidato, 2015.

XV


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Resumo Apesar da aparente fragilidade para que nos remete o uso da terra como material de construção, existem evidências arqueológicas que nos remetem para a sua utilização, há mais de 10.000 anos e que ainda hoje é utilizada como material construtivo. Sendo este, um material existente em qualquer parte do mundo, por isso, é universalmente utilizado, apresentando uma variedade enorme de técnicas e possibilidades construtivas. No contexto português, mais especificamente na região de Aveiro, território rico em construções de terra, e em particular de adobe, encontrando-se este, presente em cerca de 40% da construção da região, que face ao surgimento de novos materiais entrou em desuso. O abandono, a demolição e más intervenções têm sido práticas recorrentes, surgindo assim, a necessidade de travamento destas práticas e preservação deste edificado em adobe com a aquisição do conhecimento técnico necessário para a sua reabilitação. No desenvolvimento desta dissertação, procurou-se entender o conceito de arquitetura de terra, mas sobretudo, aprofundar o conhecimento pela técnica do adobe, através da análise de textos, estudos e experiências laboratoriais, que nos facilitarão a compreensão e valorização do adobe quanto às suas propriedades, vantagens, desvantagens, limitações e compatibilidade com outros materiais. Procurando-se, deste modo, uma intervenção mais eficaz e adequada à reabilitação do edificado em adobe, e que se procuraram evidenciar através do caso de estudo apresentado neste trabalho. Apesar das potencialidades do adobe enquanto técnica construtiva, é necessário reconhecer as suas limitações, e para isso, a importância da divulgação, o estudo e conhecimento técnico necessário à sua manutenção e preservação, de modo a que possa continuar a corresponder às necessidades e exigências construtivas atuais, mas para que também, não se perca a identidade e a importância que o adobe adquiriu na região de Aveiro.

Palavras-chave: Arquitetura de Terra, Aveiro, Adobe, Reabilitação, “Casa de Brasileiro”.

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ARQUITETURA DE TERRA na Região de Aveiro Reabilitação de construções em adobe

Abstract Despite the apparent fragility which leads us to the use of earth as a building material, there are archaeological evidences that leads us to the use of it for more than 10.000 years and that, today it has still being used as a building material. Thus, a material existing anywhere in the world is universally used, presenting a huge variety of techniques and constructive possibilities. In the Portuguese context, more specifically in the region of Aveiro, territory rich in earth buildings, and particularly of adobe bricks, which are present in about 40% of the region's construction, facing the advent of new materials fell into disuse. The abandonment, demolition and bad interventions have been recurrent practices, this way, the need for locking these practices and preservation of built in adobe bricks with the acquisition of technical knowledge necessary for its rehabilitation. Developing this dissertation, it was tried to understand the concept of earth architecture, but above all, to further knowledge of adobe technique, by analyzing texts, studies and laboratory experiments, which will facilitate the understanding and appreciation of the adobe as to its properties, advantages, disadvantages, limitations and compatibilities with other materials. Thus, a more effective and appropriate intervention for the rehabilitation of the built in adobe, and that evidence showed through the study's case presented in this work. Despite the adobe's potential as a constructive technique, it is necessary to recognize its limitations, and for this, the importance of the disseminating of the study and expertise techniques necessary for its maintenance and preservation, so that it can continue to meet the current needs and constructive requirements, but also for not missing the identity and the importance of the adobe bricks acquired in Aveiro region.

Keywords: Earth Architecture, Aveiro, Adobe Brick, Rehabilitation, “Brazilian’s House”

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Lista de Abreviaturas a.C. - antes de Cristo BTC - blocos de terra comprimida CdT - CENTRO da TERRA CEB - compressed earth blocks CINVA - International American Housing Centre CINVA-Ram - Compressed Earth Block Machine CRATerre ou CRATERRE-AEG - International Centre on Earthen Architecture d.C. - depois de Cristo FAAULP - Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada do Porto Fig. - Figura ICOMOS-ISCEAH - International Scientific Committee on Earthen Architectural Heritage km - quilómetro km² - quilómetro quadrado MPa - MegaPascal NUTS II - Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos: Região do Centro NUTS III - Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos: Sub-região do Baixo Vouga p. - página PROTERRA - Rede Ibero-Americana de Arquitetura e Construção com Terra UA - Universidade de Aveiro UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)

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ARQUITETURA DE TERRA na Região de Aveiro Reabilitação de construções em adobe

INTRODUÇÃO

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Enquadramento do Tema A terra é, sem dúvida, o material mais abundante em todo o nosso planeta, e se não, o mais importante em toda a vida que nele coexiste. É a terra, a base de quase todas as formas de vida no planeta Terra, e é nela que se fixam todos os recursos naturais que possibilitam a produção de alimentos e ar, essenciais a nossa existência e sobrevivência. Posto isto, poderá afirmar-se que a terra desde sempre esteve presente na vida e evolução do Homem, não apenas a nível da produção de alimentos, mas também a nível da obtenção de novos materiais e desenvolvimento do conhecimento e técnicas importantes ao desenvolvimento do ser humano. A terra, a par com outros materiais, a pedra, a madeira por exemplo, passaram a funcionar como elementos estruturais à produção de abrigos para o Homem. O uso da terra crua, ou seja, na sua essência natural, para a construção de abrigos, remonta-nos para alguns milhares de anos, correspondendo aos primórdios da civilização humana, e prevalecem até aos dias de hoje. Existem por quase todo o mundo construções em terra, estimando-se que atualmente ainda existam mais de 60% da população mundial a habitar em construções de terra. Apesar do grande historial de utilização da terra como material de eleição na construção, o seu uso tem vindo a perder-se face ao aparecimento de novos materiais na construção, o caso do ferro e do betão armado, sendo visto o uso da terra crua como um material inferior e muitas das vezes associado à pobreza. Esta associação, por consequente, levou também ao desuso e esquecimento das técnicas em terra. Pretende-se, com este trabalho, dar a conhecer a longevidade do uso da terra enquanto material de construção, a sua grande variedade de utilizações, técnicas e propriedades que o seu uso nos proporciona. Mas também, a aquisição do conhecimento básico sobre as técnicas de construção em terra crua para uma posterior aplicabilidade na reabilitação e recuperação de construções existentes, ou até mesmo no desenvolvimento de novos projetos, tendo em conta, e em particular, as construções em adobe, visto que, o estudo se restrita a zona de Aveiro, e esta ter sido a técnica mais comum na região.

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Âmbito No âmbito da conclusão do Mestrado em Arquitetura pela Universidade Lusíada do Porto (FAAULP), desenvolve-se este estudo com base à aquisição de conhecimento em relação a um material milenar, que face a descoberta e introdução de novos materiais e técnicas na construção, tem-se vindo a perder e a esquecer, assim como, as suas potencialidades enquanto material construtivo. Grande parte do território nacional é constituído por construções em terra, sendo mais predominante o uso do tabique a Norte, a taipa a Sul, sendo a região delimitada entre os rios Douro e Mondego, marcada pelo uso do tijolo de adobe. Da qual se destaca a região de Aveiro com uma percentagem de construções em adobe de cerca 40%.

Motivações A pouca divulgação e conhecimento da Arquitetura de Terra na atualidade, despertou uma enorme motivação na sua exploração e procura de conhecimento em relação a essa forma de construir. Para além disso, já se constrói em terra há milhares de anos, e apesar da fragilidade que esse material nos transmite, ainda hoje prevalecem monumentos com séculos de existência e que são uma importante referência dos feitos da humanidade e potencialidades da terra como material de construção. A Arquitetura de Terra, com o surgimento de novas técnicas modernas, tem vindo a entrar no esquecimento e, em consequente, tem-se vindo a perder muitas das suas técnicas e conhecimentos que outrora seriam transmitidos de forma empírica. Apesar disso, a arquitetura em terra detém um enorme leque de variedades, quer em técnicas, formas de construir, mas também, por se tratar de um material que apesar da sua fragilidade, mantem as propriedades de um material ecológico, barato e com ótimos resultados térmicos e que este pode ser obtido no próprio local de construção. Estes são alguns dos fatores que despertaram o interesse na Arquitetura de Terra, motivando assim a investigação sobre este tema e as suas possibilidades futuras, quer a nível de novas construções ou reabilitação das já existentes.

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Objetivos Pretende-se com esta dissertação, de uma forma geral, perceber o que se entende por Arquitetura de Terra e a sua utilização pelo mundo, assim como, as suas principais técnicas, formas de construir, vantagens e desvantagens da utilização da terra como material de construção. Este estudo prende-se também, pelo facto de este ser um tema pouco abordado e divulgado, e por se tratar de um material com enormes potencialidades e que se encontra à mão de toda a gente. O desenvolvimento desta dissertação irá ter como base a região de Aveiro, e passará por uma investigação da técnica de terra crua mais predominante na zona, ou seja, o tijolo de adobe, encontrando-se este em cerca de 40% da construção na região. Pretende-se assim, adquirir o conhecimento necessário sobre o adobe; as suas propriedades, vantagens e desvantagens da sua utilização na arquitetura, possibilidades construtivas e técnicas utilizadas. Afim de, possibilitar a sua aplicabilidade, quer em novos projetos como na recuperação e reabilitação das construções, evitando o ato mais comum face às construções em adobe, ou seja, a sua demolição ou as más práticas usadas na reabilitação de construções executadas com materiais em terra crua.

Estado da Arte Apesar dos longos séculos de existência da terra como material de construção, pouco se conhece acerca dele e o que conhecimento que se tinha de muitas das técnicas tem-se vindo a perder face à introdução de novos materiais mais resistentes na construção. No entanto alguns grupos e associações têm-se dedicado a divulgação das construções em terra, assim como, no ensinamento de algumas das técnicas a ela associadas. Das quais se destacam a ICOMOS-ISCEAH na divulgação e estudo dos monumentos em terra a nível mundial, a associação CENTRO da TERRA, o grupo PROTERRA e o CRATERRE-AEG, que têm como objetivo difundir a construção em terra, assim como, o ensinamento e formação das técnicas da construção em terra, através de seminários e ações de formação.

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ARQUITETURA DE TERRA na Região de Aveiro Reabilitação de construções em adobe

Existem algumas referências bibliográficas em relação aos temas que envolvem a construção em terra, no entanto a sua acessibilidade é muito limitada impossibilitando a sua consulta. A nível nacional poderemos encontrar alguns artigos relacionados com os seminários realizados e considerações de autores ligadas às construções em terra. Como tal, esta dissertação terá como principal suporte os livros “Terra em Seminário” que reúne artigos de vários autores apresentados nos seminários e que abordam a terra nas suas diferentes técnicas e aplicabilidades. Na mesma lógica bibliográfica surgenos o livro “Arquitectura de Terra em Portugal”, coordenado pela Doutora Maria Fernandes e pela Professora Doutora Mariana Correia, que nos fornece uma visão geral da Arquitetura de Terra com um conteúdo mais completo e abrangente sobre o tema. Em relação a parte mais objetiva da dissertação, ou seja, a temática do tijolo de adobe na região de Aveiro e a sua viabilidade enquanto material de construção. O estudo basear-se-á em grande parte em trabalhos e investigações realizadas por alunos e investigadores do departamento de Engenharia da UA (Universidade de Aveiro). Será tida em linha de conta, muito do trabalho realizado pelo Professor Doutor Humberto Varum, professor auxiliar da UA, através de artigos relacionados com a recuperação e reabilitação de estruturas em adobe, assim como, o seu reforço para resistir às condicionantes naturais, nomeadamente aos sismos.

Metodologia Quando se pretende entrevir eficazmente numa determinada temática, é necessário adquirir, nem que seja de uma forma simplificada ou empírica, um conhecimento generalizado de forma a responder adequadamente às necessidades e exigências do tema. A metodologia utilizada nesta dissertação é sobretudo analítica, visando a análise e aquisição do conhecimento básico e necessário, para a intervenção e reabilitação de edifícios executados em técnicas de terra crua, principalmente os de adobe, tendo em conta a fragilidade deste material e a sua compatibilidade com outros materiais. Numa primeira abordagem ao tema, procuraremos analisar o que se entende por Arquitetura de Terra, passando por uma análise e exemplificação das diferentes técnicas, associadas à construção em terra e agrupadas em três grandes grupos que as diferenciam:

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monolítica e portante, alvenaria portante, e como enchimento duma estrutura. Neste capítulo, procuraremos ainda apresentar a longevidade e universalidade das construções em terra, com a apresentação de exemplos de diferentes épocas e de várias partes do mundo, em que muitos prevalecem e fazem parte do património mundial da humanidade. Será também abordada a eficácia a nível ecológico da utilização da terra como material construtivo. Num segundo capítulo se fará a análise das técnicas mais comuns no país, Portugal, enquadrando-se o tema na região de Aveiro. Procurar-se-á contextualizar o território da região de forma a perceber a sua influência e contributo para a produção de adobes, que apesar da sua produção sazonal, adquiriu na região um papel, de material de eleição para a construção. Serão também, analisadas as técnicas mais utilizadas na construção em terra da região, assim como, a variação da constituição de alguns materiais utilizados. O terceiro capítulo passará por uma análise mais concreta e técnica na abordagem do adobe enquanto material. Ter-se-á em linha de conta, as vantagens e desvantagens do uso do adobe e as principais problemáticas na construção, onde este foi introduzido, ou seja, identificação e análise das principais patologias que surgem no edificado em adobe, procurando-se possíveis soluções e boas práticas para a sua recuperação e reabilitação. Serão igualmente abordadas, algumas inovações técnicas, já estudadas, no que diz respeito à resistência sísmica destas construções e novos materiais como substitutos do adobe. No quarto capítulo será apresentado um caso de estudo, onde será proposta uma reabilitação de uma casa em adobe. O processo passará por uma análise e levantamento da pré-existência, procurando-se posteriormente, pôr em prática o conhecimento adquirido no desenvolvimento desta dissertação, tendo em conta as boas práticas na reabilitação deste tipo de construção, as suas limitações e compatibilidade entre materiais.

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ARQUITETURA DE TERRA na Região de Aveiro Reabilitação de construções em adobe

1. CARATERIZAÇÃO: ARQUITETURA DE TERRA

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1.1.

Arquitetura de terra Na maioria dos idiomas a palavra Terra tem simultaneamente dois sentidos, a

designação de planeta em que vivemos e a designação de matéria, do solo que pisamos. Sendo assim, a terra é a nossa basse de sustentação física, pois permite-nos estar de pé, movermo-nos e andar sobre ela, através da força gravitacional exercida pela Terra aos objetos. No entanto, a terra é também a nossa base de sustentação orgânica, nela nascem, desenvolvem e dependem a maioria dos elementos, sobretudo os vegetais, que fazem parte da nossa alimentação, e que nos possibilitam viver, estar vivos, existir e ser. (ROCHA, 2006, p. 26). Posto isto, poderemos ter em conta a importância do elemento terra como suporte à vida, orgânica e física, mas também na criação de abrigos para o Homem. A terra é uma mistura de partículas sólidas de granulometrias diversas originadas por transformações de rochas sob a influência de processos físicos, químicos ou biológicos. Desta forma pode-se subentender que o solo é um betão de terra, também denominado por betão magro ou terra crua nas construções em terra. Da mesma forma que o betão contém gravilha, areias e cimento, sendo este último o elemento aglutinador, o solo também contém inertes de características semelhantes às do betão, bem como elementos aglutinantes. A terra quando em contacto com o ar endurece e seca, e esta ao contrário do betão (à base de cimento) ou do estuque (à base de cal), depois de endurecida pode voltar ao estado plástico natural através da adição de água sem que perca as suas propriedades e qualidades, conferindo-lhe um caráter ecológico e reciclável. (CAMPOS, 2006, p. 59-60). Por arquitetura em terra entende-se toda e qualquer construção edificada em terra crua, em que esta é utilizada como matéria-prima, sem alteração das suas características mineralógicas. Excluindo assim, todos os materiais cerâmicos que alteram no seu processo

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de cozedura, as características iniciais da terra que apenas é seca ao sol 1. (FERNANDES, 2006, p. 20) Portanto, na arquitetura de terra a matéria-prima das construções é constituída principalmente por solo, terra crua, estabilizada por meio de simples compactação ou pelo uso de aditivos aglutinantes, sejam eles naturais ou industrializados. No caso particular da taipa de pilão2 ou do adobe, o solo, desde que tenha algumas características físicas especiais, é o único material usado. Na maioria das vezes, no entanto, acrescentam-se ao solo fibras vegetais, aglutinantes naturais ou industrializados como cal e cimento, para estabilização. Mas mesmo nesses casos, o solo representa de oitenta a noventa e dois por centro do peso da estrutura construída, dependendo das características da terra usada. (HOFFMANN, 2005, p. 256)

1.2.

Técnicas de construção em terra Ao longo dos tempos a terra crua tem servido para construir e criar habitat. A

utilização desse material construtivo deve provavelmente ter-se dado desde os primórdios do Homem, sendo difícil comprovar a sua origem devido a reciclabilidade do mesmo. Pelo facto de que uma construção em terra crua, quando não mantida, degrada-se até ao seu desaparecimento, daí a quase inexistência de construções que nos permitam conhecer a sua origem. (CAMPOS, 2006, p. 82)

1 Procura-se nesta nota caracterizar alguns processos de cozedura dos materiais a diferentes temperaturas. “Entre os 20 e os 150ºC elimina-se a água livre, utilizada na mistura e não eliminada totalmente na secagem ou absorvida pelo meio ambiente. Em torno dos 200ºC, dá-se a eliminação da água coloidal, que permanece intercalada entre as pequenas partículas de argilominerais depois da secagem e da água proveniente da matéria orgânica. Entre 350 e 650ºC dá-se a combustão de substâncias orgânicas contidas na argila e a dissociação de compostos sulfurosos. Entre os 450 e 650ºC dá-se a composição dos minerais de argila propriamente ditos com a libertação de água. Acima dos 700ºC, iniciam-se as reações químicas da sílica e da alumina com elementos fundentes, formando silico-aluminatos complexos. Entre os 800 e 950ºC os carbonatos decompõem-se e libertam Co2. Acima dos 1000ºC os silico-aluminatos que estão sobre a forma vítrea, amolecem e absorvem pequenas partículas, dá-se assim a gressificação característica das porcelanas e dos “grés”. Este processo resultante da temperatura é irreversível e por isso a matéria-prima não poderá ser devolvida à natureza tal como foi extraída inicialmente.” (TORRACA, 1986, p. 106-7) apud (FERNANDES, 2006, p. 25). 2 Taipa de pilão é o termo utilizado no Brasil e que corresponde à taipa em Portugal.

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Fig. 1

Fig. 1: Diagrama do grupo CRATerre, das diferentes famílias de sistemas de construção antigos e modernos, que utilizam a terra como matéria-prima.

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É do conhecimento geral, e do domínio comum a atribuição do termo “Homem das cavernas”, sendo que nessa época a casa/habitat se centrava num processo simples de apropriação de um espaço, o carácter nómada dos povos fazia com que um espaço (gruta/abrigo) fosse temporário, e provavelmente sazonal. Com a sedentarização dos povos, originado pela descoberta da agricultura, motivou a necessidade de criação da habitação, e esta terá sido criada com os materiais e técnicas existentes ao alcance do Homem. Portanto a terra terá surgido como material construtivo de duas formas; a escavação como processo simples de criação ou ampliação da gruta; e a terra moldada à mão como material plástico, técnica que poderá ter sido supostamente dominada em paralelo com a agricultura. (CAMPOS, 2006, p. 82) Tendo como base o diagrama criado pelo grupo CRATerre (Fig. 1), onde se procurou sistematizar as inúmeras técnicas das construções em terra, das quais o CRATerre enumerou dezoito sistemas antigos e modernos, divididos em três grandes famílias. O diagrama é uma síntese das soluções possíveis de técnicas construtivas que utilizam, e utilizaram, a terra como matéria-prima, em que as três grandes famílias de construção em terra compreendemse sob a forma: monolítica e portante (A); alvenaria portante (B), entendida como a construção com unidades inicialmente manufaturadas; e por último, de enchimento ou proteção duma estrutura de suporte (C). “A partir de uma matéria-prima inicialmente frágil como a terra é possível manufaturar materiais com resistências consideráveis e construir sistemas quase indestrutíveis utilizando apenas a terra de forma diversificada misturada com água. Poderíamos enumerar dezenas de maneiras de construir com terra, com uma infinidade de variantes adaptadas à qualidade da terra, identidade dos lugares, das culturas e das experiencias construtivas locais.” (FERNANDES, 2006, p. 20) De seguida iremos caracterizar as diferentes famílias e as técnicas a elas associadas, tendo como base explicativa o texto elaborado pela Doutora Maria Fernandes (FERNANDES, 2006, p. 20-24), onde são explicadas as diferentes técnicas, assim como, os locais ou regiões onde estas mais se caracterizam.

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Fig. 2

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Fig. 6

Fig. 7

Fig. 2: Casas escavadas na rocha. Matmata, Tunísia. Fig. 3: Casas escavadas no solo. Matmata, Tunísia. Fig. 4: Terra escavada na horizontal, grutas. “Mogao Grottoes”, Dunhuang, China. Fig. 5: Exemplo de construção em terra empilhada. Fig. 6: Casa em França, executada em bauge. Fig. 7: Cabanas de barro. “Musgum mud huts”, Norte dos Camarões.

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1.2.1.

(A) – Monolítica e Portante Esta família compreende a elevação in situ, onde não existe separação entre material

e a técnica construtiva. Deste grupo fazem parte cinco técnicas. Terra escavada (1) – Consiste tal como o nome indica em escavar no terreno e moldar no seu interior construções. É por isso uma técnica construtiva em negativo, onde se retira material e depósitos de terra no estado sólido ou seco, construindo ao mesmo tempo espaços no seu interior. Conhecem-se dois tipos; horizontal e vertical; e os casos identificados situam-se em colinas e planaltos de climas quentes e secos, como na China, Tunísia, Colômbia e em geral por todo o Mediterrâneo. ( Fig. 2 a Fig. 4) Terra plástica (2) – A terra no estado quase líquido pode ser utilizada como betão magro, em cofragens ou moldes para elevar respetivamente paredes ou construir pavimentos. É um sistema moderno e pouco empregue devido aos grandes problemas de retração que apresenta foi no entanto utilizada em novas construções durante períodos pós segunda guerra mundial, quando não existiam materiais disponíveis e mesmo durante o século XX nos Estados Unidos e no Brasil. Esta técnica está neste momento a ser desenvolvida experimentada de novo, utilizando porém menos quantidade de água e estabilizando a terra de forma a contrariar os efeitos negativos da secagem, que levaram ao seu abandono anos antes. Terra empilhada (3) – É um sistema tradicional, que foi abandonado na Europa, mas recuperado recentemente no Reino Unido. É designado bauge em França e cob no Reino Unido. A técnica consiste em empilhar bolas de terra ou molhes de lama e palha à fiada, até formar parede, sendo depois a mesma aparada ou regularizada à superfície. Para além dos países mencionados, estes sistemas são também conhecidos na Alemanha, África, Iémen e Afeganistão. (Fig. 5 e Fig. 6) Terra modelada (4) – No estado plástico a terra é moldada ou esculpida à fiada formando paredes. É uma técnica associada a construção de planta circular (mas não exclusiva), muito comum nas regiões do equador e por todo o continente Africano. Esta técnica caracteriza-se pela beleza das formas arquitetónicas na sua maioria extremamente decoradas. É ainda identificável pela utilização de uma mão-de-obra diminuta e instrumentos muito rudimentares, quase dispensáveis. (Fig. 7)

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Fig. 8

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Fig. 11

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Fig. 8: Fotomontagem de execução da Taipa: montagem do taipal; apiloar a terra (bater); taipal tradicional do Alentejo. Fig. 9: Construção em taipa. Fig. 10: Manufatura de blocos apiloados. Ambo, Tibete. Fig. 11: CINVARAM. Primeira máquina de comprimir blocos de terra. Colômbia, 1950. Fig. 12: Fábrica e produção de BTC. Carrapateira, Aljezur, Portugal.

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Terra prensada (5) – A mais conhecida técnica deste grupo é a taipa, vulgarmente designada de taipa de pilão no Brasil ou simplesmente taipa no sul de Portugal. Nos países anglo saxónicos o termo é rammed earth, nos germânicos stampflehmbau, nos francófonos pisé e nos espanhóis tapial. Este sistema tradicional e histórico que foi recuperado e melhorado para construção contemporânea carece de instrumentos para a sua execução. A técnica consiste em prensar ou comprimir camadas de terra quase seca dentro de uma cofragem, os taipais (Fig. 8). É ainda uma técnica que se encontra na Europa mediterrânea e também na Alemanha, Suíça e Áustria, por todo o Mediterrâneo, na China, na Austrália, nos continentes Americano e Africano e predominante no Oriente em climas secos e quentes. Em Portugal, a taipa encontra-se sobretudo em fortificações históricas do Sul, na arquitetura tradicional e pública em paredes exteriores e interiores do Alentejo, em paredes exteriores no Algarve e em alguns edifícios em áreas restritas no centro e norte litoral. É uma técnica que foi recuperada a partir dos anos noventa do século XX em Portugal e tem sido utilizada em construções no litoral Alentejano. (Fig. 9) 1.2.2. (B) – Alvenaria Portante Esta família compreende a manufatura prévia de unidades em terra, que após secagem são utilizadas na construção. Com estes módulos ou unidades podem ser elevadas paredes em diversos aparelhos, arcos, cúpulas e abóbadas. Para este grupo foram identificadas oito técnicas. Blocos apiloados (6) – Conhece-se a sua utilização no Reino Unido e noutros países da Europa e do Indico. Trata-se da manufatura de pequenas unidades em terra no estado plástico ou seco, comprimidas com um pequeno maço em moldes de forma quadrada ou paralelepipédica em madeira. Estas unidades são posteriormente secas ao sol. A sua utilização em Portugal recebe a designação simples de adobe, muito embora seja uma técnica distinta. (Fig. 10) Bloco prensado (7) – Técnica contemporânea, desenvolvida sobretudo na Bélgica, França e Alemanha. Consiste em comprimir, ou apertar à pressão terra seca e com grande percentagem de partículas finas em moldes. Esta pressão só é possível em máquinas que vão desde a simples prensa manual às mais sofisticadas mecânicas e industriais. Costumam-se

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Fig. 13: Fotomontagem da Basílica Bom Jesus, construída em laterite. Goa, Índia. Fig. 14: Vista geral de um local de extração de blocos. Kari, Burkina Faso. Fig. 15: Fotomontagem: abertura de roço para extração de blocos e ajuste do corte. Orissa, Índia. Fig. 16: Extrusão de plaquetas de terra. França. Fig. 17: Fotomontagem da produção de adobe de forma mecânica e em série.

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designar os blocos de terra comprimida (BTC), de pequenas taipas, dadas as semelhanças entre as duas técnicas. A primeira prensa Cinva-Ram foi desenvolvida ma América Latina, mais propriamente na Colômbia em meados dos anos cinquenta do século XX (Fig. 11). Esta máquina permitiu a rápida produção de materiais para programas de construção habitacional. Hoje, esta técnica é utilizada um pouco por todo o lado, em África, na Europa, na Ásia e também na América central e do Sul. Pela facilidade de produção e vantagens em termos de secagem rápida e resistência mecânica, os BTC ou CEB (compressed earth blocks), são nos dias de hoje uma das técnicas de construção em terra com maior sucesso. (Fig. 12) Blocos cortados (8) – Solos superficiais de características minerais que apresentem boa coesão estão na origem de pedreiras de extração de blocos cortados. Os mais conhecidos são blocos de Laterite provenientes de solos de desagregação avançada e grade concentração de hidróxidos metálicos. A arquitetura construída com este material situa-se sobretudo nas regiões tropicais e subtropicais húmidas, na Índia e em África. Incorretamente é muitas vezes designada de arquitetura em pedra, dada a dureza que o material adquire ao longo do tempo, causada pela oxidação do mesmo, e que se aproxima do material pétreo. (Fig. 13 a Fig. 15) Torrões de terra (9) – Depósitos superficiais de terra vegetal coerente permitem o corte de blocos; unidades, que depois de secos são empregues na elevação de paredes. Esta técnica é conhecida na América Latina, nos países Nórdicos e na Ásia. Apesar de histórica e antiga esta técnica tem sido recuperada para a construção contemporânea. (Fig. 15) Terra extrudida (10) – Sistema moderno e mecânico que permite a produção de blocos a partir de terra seca/plástica, com alto teor de finos. Tem sido utilizada nos programas de construção habitacional em larga escala, na Alemanha e em França, permitindo a produção de material homogéneo e controlável em grandes quantidades. Esta técnica exige sistemas de produção complexos e mecanizados e o seu aparecimento deriva da adaptação da indústria cerâmica de tijolo, sem os custos adicionais do forno pois os blocos são apenas secos. Esta produção permite para além de um rendimento elevado uma diversidade de formas nos produtos finais. (Fig. 16) Adobe mecânico (11) – Sistemas muito semelhante ao anterior com a diferença que a terra terá de ser plástica/líquida e que as unidades terão de secar ao ar, levando muito mais tempo. Esta técnica permite igualmente a produção de material de construção em série, mas devido à secagem lenta exige uma área de produção muito superior à necessária para os blocos

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Fig. 18

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Fig. 18: Fotomontagem de exemplos de habitações executadas em adobe mecânico. EUA. Fig. 19: Torrões de terra empilhados. Afotobo, Costa do Marfim. Fig. 20: Moldagem do adobe Fig. 21: Produção de adobe e secagem ao sol. Aït Benhaddou, Marrocos. Fig. 22: Casa em adobe. Vilamar, Cantanhede, Portugal.

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extrudidos. Tem sido muito utilizada nas operações de loteamentos habitacionais de vivendas na América do Norte, no estado da Califórnia, Texas e Novo México. As máquinas utilizadas na sua produção são adaptações de máquinas agrícolas. (Fig. 17 e Fig. 18) Adobe manual (12) – Técnica ancestral ainda hoje viva em África e que consiste em moldar ou esculpir apenas com as mãos, unidades em terra plástica de formas diversas, que depois de secas são utilizadas na construção de paredes (Fig. 19). Julga-se que esta terá sido a forma primitiva dos adobes quadrados e paralelepipédicos hoje existentes. Em diversos sítios arqueológicos como Mohenjo-Daro no Paquistão ou Jericó na Palestina é possível observar a evolução das formas dos adobes, de cónicos a achatados e finalmente ortogonais. Sem afirmar que o adobe terá evoluído de manual para moldado, o que hoje se sabe em termos de arqueologia é que ambas as técnicas persistiram ao longo da história ao mesmo tempo em regiões diferentes do globo. Adobe moldado (13) – Esta é seguramente a técnica mais universal de todas. O seu uso é vulgar em todos os continentes adaptando-se as suas formas ortogonais às zonas sísmicas, variando de cubos a paralelepípedos de secção quadrada a retangular. São vulgares em zona de terrenos arenosos/argilosos, na maioria das vezes terrenos aluviões próximo de água, em vales, nas margens de rios, na costa ou junto a linhas de água. A manufatura do adobe moldado consiste no enchimento com terra no estado plástico de moldes de madeira, pressionando ligeiramente com as mãos, sendo pouco depois retirado o molde deixando-se o adobe a secar ao sol (Fig. 20 e Fig. 21). Em Portugal as construções elevadas com este material situam-se na Beira Litoral e Estremadura (entre Alcobaça e Espinho), nos vales dos rios Mondego, Tejo e Sado e apenas em paredes interiores no vale do rio Guadiana e no Barlavento Algarvio. (Fig. 22) 1.2.3. (C) – Enchimento de uma Estrutura de Suporte Esta família compreende a utilização da terra como elemento secundário, no enchimento ou revestimento de outras estruturas. Essas estruturas de suporte tradicionalmente são de madeira ou de outros materiais de origem vegetal como canas, bambo ou outras. A arquitetura contemporânea tem explorado muito este grupo, utilizando ainda outros materiais inorgânicos na construção de estruturas de suporte. Foram identificados neste grupo cinco técnicas.

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Fig. 23

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Fig. 23: Parede em tabique. Mizarela, Guarda, Portugal. Fig. 24: Casa em terra de cobrimento. Alsace, França. Fig. 25: Esquema de parede em engradado. Fig. 26: Construção em engradado. Fig. 27: Casa em terra-palha. Darmstadt, Alemanha. Fig. 28: Construção em terra de enchimento “superadobe”. Califórnia, EUA.

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Terra de recobrimento (14) – Muito comum nos países nórdicos, trópicos, em África, América Latina e na Europa Central e no Norte, esta técnica consiste no revestimento com terra de estruturas em grade de madeira ou noutro material vegetal. Em França recebeu a designação de torchis e em Portugal e no brasil de taipa de fasquio e de pau a pique. São também vulgarmente designados de tabique e existem em paredes exteriores e interiores nas regiões do Norte de Portugal; Beira Alta, Beira Baixa, Trás-os-Montes e Minho (Fig. 23 e Fig. 24). São vulgares em paredes do primeiro piso nas zonas onde predominam a alvenaria de granito e xisto no piso térreo, mas existem muitas vezes em todos os pisos nas designadas casas dos Brasileiros do século XIX e XX. Existem ainda em paredes interiores na zona do Ribatejo e Alentejo, onde muitas vezes o caniço é utilizado como entrançado da estrutura em madeira. Terra sobre engradado (15) – Para além da função de revestimento, esta técnica acumula ainda a função de enchimento. O princípio construtivo é igual ao anterior com algumas diferenças. Permite por exemplo que a terra seja ao mesmo tempo de revestimento em rebocos e enchimento como sucede com adobes, rolos em terra e palha ou outros materiais em terra que são estalados estre as estruturas de madeira. É também uma técnica muito comum nos países nórdicos e tropicais sobretudo na América Latina e na Europa central. Em Portugal esta técnica é designada de taipa de rodízio e no Brasil taipa de mão. A pouca diferença entre esta técnica e a anterior descrita é comum designarem-se ambas de técnicas mistas em terra ou simplesmente de tabiques em terra. (Fig. 25 e Fig. 26) Terra - palha (16) – Trata-se de um processo que utiliza a terra sob a forma de barbotina de terra argilosa misturada com palha ou outro cereal. Pode ser utilizada na construção de pavimentos, os hourdís e fusée Franceses, de paredes construídas em cofragens ou como isolamento das mesmas. É uma técnica contemporânea, particularmente utilizada em França e na Alemanha. (Fig. 27) Terra de enchimento (17) – tal como o nome indica a terra é utilizada no enchimento de outras estruturas. É vulgar o seu uso como isolamento ou reforço de estruturas existentes, sendo a mais frequente, o enchimento de estruturas ocas, esta técnica tradicional muitas vezes associada a fortificações tem vindo a ser recuperada em construções modernas para isolamento de paredes. (Fig. 28)

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Fig. 29

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Fig. 31 Fig. 29: Fotomontagem da Casa MOORE, Arquiteto Alfredo de Vido. Connecticut, EUA. Fig. 30: Casas em terra pintada. Burkina Faso. Fig. 31: Execução de um reboco ”à mão”. Índia.

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Terra de cobertura (18) – Consiste no revestimento e no uso da terra em coberturas. A terra reveste ou protege estruturas construídas com outros materiais, na sua maioria estruturas de madeira e fibras vegetais. Varia desde as coberturas em terraço, às pendentes com ou sem relvado. São vulgares na América do Norte e Sul, em África, nos países Nórdicos e na Ásia. Em Portugal, conhecem-se as coberturas em pendentes da ilha de Porto Santo, os designados tetos de salão. (Fig. 29) 1.2.4. Outras Técnicas e Diferentes Estados Físicos da Terra Para além das técnicas já referidas, podemos ainda acrescentar outras como os rebocos ou as superfícies arquitetónicas, que apesar de não serem técnicas construtivas propriamente ditas, desempenham um papel fundamental nas construções em terra, na sua execução e proteção às adversidades ambientais. A matéria-prima dos rebocos é a mesma utilizada nas paredes de suporte, executadas em várias camadas, sendo a terra crivada e conforme se aproxima da camada final maior é a percentagem de grãos finos utilizados. Os rebocos variam de lisos a rugosos, de relevos a granulados e de decorados a simples, podendo ser finalizados com uma camada pictórica. Estas superfícies em terra conseguiram superar a sua função de camada protetora, pelo facto de terem preservado até aos dias de hoje, relevos ou outras expressões arquitetónicas que são símbolos de identidade de comunidades, etnias, grupos ou tribos, sendo muitas das vezes o único meio de informação de civilizações desaparecidas e que não tinham escrita. (FERNANDES, 2006, p. 24) (Fig. 30 e Fig. 31)

As técnicas anteriormente descritas no diagrama do CRATerre (Fig. 1) e pertencentes aos três grupos; monolítica, alvenaria e enchimento, utilizam a terra em estado físico distintos: - Estado sólido, também designado de estado sólido com retração, ou seja com o mínimo de humidade possível, compreende as técnicas de terra escavada, torrões de terra e blocos cortados;

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Fig. 32

Fig. 33

Fig. 34

Fig. 32: Áreas de construção em terra no mundo. Fig. 33: Grande Muralha da China, parte executada em taipa. Jiayuguan, Gansu, China Fig. 34: Cidade de Jericó. Palestina.

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- Estado seco, também designado de estado sólido sem retração, com alguma, mas ainda pouca percentagem de humidade, inclui as técnicas de terra prensada, blocos apiloados, blocos compactados, terra extrudida e algumas técnicas de terra em cobertura; - Estado plástico, a percentagem de água nesta mistura, é de forma que a terra possa ser trabalhada sem se deformar, neste estado incluem-se a maioria das técnicas como a terra empilhada, modelada, adobe manual, adobe moldado, terra de recobrimento, terra sobre engradado e algumas técnicas de terra em cobertura; - Estado líquido, neste estado a terra já não pode ser trabalhada sem se deformar pelo que a percentagem de água terá de ser superior, compreende apenas as técnicas de terra de enchimento e adobe mecânico. (FERNANDES, 2006, p. 24)

1.3.

História e universalidade da arquitetura de terra Em grande parte dos países com climas quentes e temperados, a terra como material

tem dominado a construção. Hoje em dia, estima-se que um terço da população mundial ainda habita em casas de terra, nos países em desenvolvimento, essa estimativa passa para mais de metade da população (Fig. 32). (MINKE, 2006, p. 11) Apesar da fragilidade a que o material terra crua nos remete, o seu uso tem origem nas mais antigas criações do homem, com evidências arqueológicas que nos remetem para mais de 10 mil anos. Jericó terá sido a primeira cidade a ser construída em terra, comprovada através de vestígios arqueológicos (Fig. 34). Entre outros mais exemplos, como é o caso da Muralha da China (Fig. 33) e de algumas construções no Egipto, que não as faz menos importantes que as executadas em pedra (FELIX e MELLO, 2007, p. 215). Numa base de uma pirâmide milenar, perto do Cairo, construída pelo rei Asydis, pode-se ler: “Não me despreze comparando-me às pirâmides de pedra: estou tão acima delas como Júpiter acima de outros deuses, por ter sido construída com tijolos feitos de limo do fundo do lago”. (DETHIER, 1982, p. 14) apud (FELIX e MELLO, 2007, p. 215)

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Fig. 35

Fig. 37

Fig. 38

Fig. 35: Ruínas da cidade de Jericó, construção em tijolo de barro. Jericó, Palestina. Fig. 36: Torre de vigia do período Neolítico. Jericó, Palestina. Fig. 37: O templo Branco e o seu zigurate. Uruk, Iraque. Fig. 38: Zigurate de Nanna. Ur, Iraque.

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Fig. 36


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A terra enquanto material possibilitou-nos uma infinidade de aplicações num leque variado de edificações, desde a simples habitação vernácula, a palácios, igrejas, mesquitas, até mesmo a aglomerados rurais e conjuntos urbanos. (CORREIA, 2006, p. 12) De seguida procuraremos contextualizar a universalidade do uso da terra pelo mundo, assim como a exemplificação de alguns casos de carácter histórico/arqueológicos e que nos evidenciam a longevidade da arquitetura de terra como material até aos dias de hoje. O texto que se segue terá como referência um artigo realizado pela Professora Doutora Arq. Mariana Correia (CORREIA, 2006, p. 12-19), onde são enumerados inúmeros casos de construções em terra, ao longo dos tempos e espalhados por todo o mundo. No Próximo Oriente, e como já referido anteriormente, surge-nos a cidade de Jericó que terá sido um dos aglomerados mais antigos da história executado em terra, construído cerca de 8000 a.C., na Palestina no período Neolítico. Aí foram identificadas a aplicação de adobes em cabanas de planta circular datados de 6800 a.C., mais tarde por volta de 5500 a.C. as habitações começam já a apresentar-se em planta retangular, com a fundação executada em pedra e o restante construído em adobe, sendo o pavimento e a cobertura em caniço e terra (Fig. 35 e Fig. 36). A Mesopotâmia, integrada na atualidade em grande parte do Iraque até ao Golfo Pérsico, a sul situavam-se as cidades da Babilónia, Ur e Uruk (ou Warka), esta última datada de 3500 a 3000 a.C. (Fig. 37), de onde se destacam dois grandes templos construídos unicamente em adobe e tendo sido a cidade mais povoada da primeira urbanização mesopotâmica. Da cidade de Ur destaca-se o grande Zigurate3 de Nanna (Fig. 38), de 2095 a.C., originalmente construído com adobe e posteriormente revestido a tijolo cozido. Durante o período mesopotâmico começam a surgir por toda a Mesopotâmia as primeiras cidades-estado, como é o caso da Tell Hassuna (5000-3200), no atual Iraque, assim como Susa no sudoeste do Irão. Na atual Síria, a cidade de Mari, 2800 a.C., com as escavações arqueológicas que têm colocado a descoberto a cidade de adobe, assim como o seu palácio; também a cidade

3 Zigurate é uma construção típica da arquitetura sacra mesopotâmica, é uma pirâmide truncada em degraus decrescentes. O edifício é construído segundo critérios rigidamente geométricos, e sobre o terraço mais alto encontra-se o santuário, ao qual se ascendia através de escadas construídas sobre os flancos. (MOSCATI, 1978, p. 8)

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Fig. 39

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Fig. 39: Cidadela Arg-e Bam, antes do sismo, 2001. Bam, Irão. Fig. 40: Vihara Budista de Paharpur, mosteiro. Paharpur, Bangladesh. Fig. 41: Desenho da cidade Çatalhöyük, interpretação de artista. Çatalhöyük, Turquia. Fig. 42: Palácio Saad ibn Saud. Ad-Dariyah, Arábia Saudita. Fig. 43: Shibam, cidade murada. Shibam, Iémen.

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de Mureybet, 2500 a.C., esta levantada em terra prensada, acreditando-se que a técnica construtiva utilizada terá sido a taipa. Ainda no Irão podemos encontrar a cidade de Bam, que recentemente, Dezembro de 2003, foi destruída por um sismo que vitimou mais de 25 mil pessoas que habitavam a cidade. A cidadela Arg-e Bam foi construída há mais de 2000 anos em terra empilhada e em adobe, em 2004, assim como a cidade Bam e toda a paisagem cultural envolvente, foram classificadas pela UNESCO como Património Mundial. (Fig. 39) Em Oman existem também destintas estruturas em terra, das quais se destacam a cidade fortificada de Bid-Bid e o palácio Birket Muz. Nos países que fazem fronteira com a Índia, podem-se identificar alguns exemplos de construção em terra. Por exemplo, no Paquistão, numa aldeia em Mehrgarh (7000 a.C.), foi originalmente construída em adobe do qual se destacam as grandes torres adossadas aos altos muros de adobe. No Bangladesh, pode-se ver o mosteiro budista Paharpur (Fig. 40) a 40 km da capital Mahasthan, edificado entre o século VIII-IX d.C. sendo o maior mosteiro budista do sul da Ásia. Devido à inexistência de pedra na região, todo o santuário foi construído em adobe, presentemente tem 22 metros de altura, mas calcula-se que chegou aos 30 metros e por isso considerado uma maravilha da engenharia. Na Ásia Ocidental, na atual Turquia, temos a cidade Çatalhöyük (Fig. 41), datada entre 6300 e 5400 a.C., construída em adobe com uma área de 13 hectares e com cerca de 5000 habitantes. A cidade tinha as suas edificações tão próximas umas das outras, que se considera que muitas das entradas se faziam pela cobertura das habitações. Podemos também identificar outras estruturas de alvenaria em adobe, no Turquestão e na cidade de Bokhara na República do Uzbequistão. Para além destes exemplos, a Arábia Saudita, na Península Arábica, é um país que nos apresenta um variado património em terra, dos quais se destacam os palácios realizados durante os séculos XIX e XX, ainda hoje em uso. Nomeadamente, o Palácio de Omar Bin Sa’ud, em Turaif, com muros decorados e caiados na parte superior. A fortificação de Ad-Dariyah e as muralhas de Gurayat. (Fig. 42) No Iémen, podemos encontrar a cidade de Shibam (Fig. 43), construída há pelo menos 500 anos, na região Hadramawt, edificada em terra empilhada, terra compacta e em

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Fig. 45

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Fig. 48

Fig. 44: Cidade Sana’a, executada em taipa. Sana’a, Iémen. Fig. 45: Forte de Jiayuguan, executado em taipa. Jiayuguan, Gansu, China. Fig. 46: Habitações rurais chinesas em taipa. Fujian, China. Fig. 47: Ramesseum, abóbadas em adobe. Tebas, Egipto. Fig. 48: Vista panorâmica da cidade Ait-Ben-Haddou. Ouarzazate, Marrocos.

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adobe. Ainda a destacar a cidade de Sana’a (Fig. 44) com as suas muralhas de adobe e pedra, a Saada, na região norte e Jâwf, construída em terra empilhada, composta por habitações tipo-torre, de 2 a 3 pisos e de 12 a 20 metros de altura, em que os edifícios mais antigos foram realizados no século XVIII. Na Ásia Oriental, mais propriamente na China, podemos encontrar um variado património realizado em terra. Por exemplo, na parte Ocidental do país, em Jia Ohe, encontra-se a estrutura de um monumento Budista, realizado com terra local comprimida na sua secção inferior e a parte superior realizada em adobe. Mesmo uma grande parte da Muralha da China construída entre V-III a.C. e XV-XVII d.C., foi realizada em terra sob a forma de taipa, sendo algumas partes revestidas a pedra. O Forte de Jiayuguan e parte da muralha, na zona oeste, em Gansu, são bons exemplos do uso da terra na construção da muralha. (Fig. 45 e Fig. 33) Na província chinesa de Fujian, em LongYan e Hua’na, podemos encontrar alguns exemplos de construção em terra interessantes. Existem vários conjuntos fortificados de planta circular construídos em taipa. Trata-se de habitações coletivas constituídas por várias unidades habitacionais, distribuídas por três a quatro pisos, com um balcão interior em madeira que permite o acesso e circulação entre as unidades. O diâmetro destas estruturas pode chegar aos 73 metros aproximadamente. (Fig. 46) No continente africano, podemos também encontrar excelentes exemplos da construção em terra. No antigo Egipto, temos o Ramesseum (Fig. 47) do século I a.C., edificado na época de Ramsés II, era uma construção realizada em adobe com arcos e abóbadas, e tinha como função de armazenamento de cereais. É de ressaltar a possibilidade de ainda ser possível observar nos adobes, as impressões digitais dos adobeiros que os modelaram. Em Marrocos destaca-se a cidade Ait-Ben-Haddou, situada a norte de Ouarzazate e faz parte do património da Humanidade. (Fig. 48 e Fig. 49) Também como parte do Património da Humanidade, temos a cidade de Tombouctou, no Mali, dos quais se destacam três mesquitas principais que têm vindo a ser constantemente

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Fig. 49: Cidade Ait-Ben-Haddou. Ouarzazate, Marrocos. Fig. 50: Grande Mesquita de Djenné. Djenné, Mali. Fig. 51: Castelo Baños de la Encina. Espanha Fig. 52: Parte da muralha do Castelo de Alcácer do Sal, em taipa. Portugal Fig. 53: Montezuma Castle. Arizona, EUA.

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reconstruídas, restauradas e conservadas. A mesquita de Djinguéréber, século XIII; a mesquita de Sankoré, construída entre 1325 e 1433; e a mesquita de Sidi Yahya, fundada aproximadamente em 1440. As duas primeiras construídas em adobe paralelepipédico e adobe moldado, a última em blocos de terra cortados (provavelmente laterite), mais conhecido na zona como “pedra de Tombouctou”. Ainda no Mali, a sul de Tombouctou, encontra-se Djénné, uma das cidades mais antigas do continente africano, datada do século III d.C., toda a cidade é totalmente construída em terra crua e o seu reboco de manutenção mantém-se como o original. (Fig. 50) Pela Europa poderemos encontrar indícios arqueológicos da utilização da terra na construção. Em Creta, por volta dos anos 1900 a 1600 a.C., utilizava-se o adobe e o tabique na construção não monumental. A civilização Grega, no mar Egeu e Thessalina em particular, a arquitetura doméstica do século VI a.C. apresentava-se com estruturas em madeira com enchimento de adobe. Durante o período islâmico e a partir do século VIII d.C., realizaram-se na Península Ibérica inúmeras fortificações em taipa militar. É de salientar que por toda a Europa é possível encontrar arquitetura vernácula em terra. Em Espanha, a região de Castilla y Léon apresenta um património rico, mas muito abandonado (Fig. 51); em França, na região da Alsace-Lorraine, tal como na região vizinha alemã, as estruturas mistas são em madeira com enchimento em terra (colombage, em francês) e na região de Isère observa-se um património rural edificado com uma taipa muito fina; em Inglaterra, na região de Devon, destaca-se a terra empilhada (cob, em inglês), ou o tabique um pouco mais a norte (wattle-in-daub, em inglês); a Roménia apresenta muita construção em tabique, na região da Valáquia e da Moldávia; na República Checa, a região da Morávia também tem estruturas edificadas com terra; assim como as regiões italianas, nomeadamente na Sardegna; em Portugal, a sul do Tejo grande parte do património vernáculo português é construído em taipa, adobe ou tabique. (Fig. 52) Na América do norte, no estado do Arizona, Estados Unidos, Casa Grande distinguese com um dos monumentos em terra mais visitados do sudoeste americano; e Montezuma Castle (Fig. 53), que se trata de uma edificação realizada em escarpas naturalmente

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Fig. 54: Cidade de Taos. Novo México, EUA. Fig. 55: Ruínas do Fort Selden. Novo México, EUA. Fig. 56: Ruínas de Joya de Céren. El Salvador Fig. 57: Complexo de Chan Chan. Trujillo, Peru. Fig. 58: Huaca del Sol, construída com mais de 143 milhões de adobes. Trujillo, Peru.

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escavadas e construída em terra, ambas construídas pelo povo Anasazi4. No Novo México destacam-se as cidades de Taos (Fig. 54) e de Acoma City, ambas realizadas em adobe e ainda habitadas na atualidade. Neste estado podemos ainda ter em conta o Fort Selden (Fig. 55) e Fort Union, do século XIX, construídos em adobe, entre outras mais estruturas realizadas em terra. No México é de destacar as zonas das Três Zapotas, La Venta e Zapotecas, do ano 800 a.C., realizadas em terra e com coberturas planas. Na América Central, em El Salvador distingue-se Joya de Céren (Fig. 56), classificada como Património Universal da Humanidade, é dos poucos sítios arqueológicos em terra, com um Plano de Gestão elaborado em conjunto com instituições nacionais e internacionais, como a UNESCO. A América do Sul é bastante rica em construção em terra, das quais sobressaem as realizadas no Peru. Na cidade de Trujillo, destaca-se Chan Chan (Fig. 57), o maior complexo em terra em todo o mundo, existindo por todo o país palácios, exemplo Palácio de Tschudi; entre enumeras Huacas (Fig. 58), (pirâmides de adobe monumental e em terraço, que simbolizavam o sagrado e estavam vinculadas os conceito de origem, do transcendente), que se encontram por todo o país. Por todo o continente americano, é possível, observar-se património arquitetónico monumental em terra, assim como, arquitetura vernácula em adobe, taipa ou tabique e as suas variantes regionais. Como se pôde verificar a terra será com certeza o material mais antigo, o mais disponível, acessível e económico no nosso planeta, mas também o mais diversificado, quer a nível das técnicas utilizadas, quer na sua forma de aplicabilidade e resultado estético das construções. E apesar do seu aspeto frágil, podemos constatar a universalidade do uso da terra pelo mundo e a sua durabilidade e longevidade, pelo simples facto, de ainda hoje ser possível observar e comtemplar construções ou vestígios delas, com séculos de existência, assim como, a continuidade do uso da terra crua como material na atualidade, quer de uma forma popular e social como de arquitetura contemporânea.

4 Os Anasazi eram um antigo povo indígena norte-americano, cerca de 1.200 a.C., que viveu onde hoje fica o Four Corners (o único lugar do país onde se encontram quatro estados; Colorado, Novo México, Arizona e Utah), nos Estados Unidos. (WIKIPÉDIA;, 2014a).

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1.4.

Ecologia da Arquitetura em terra A ecologia é a ciência que estuda as interações entre os organismos e o seu ambiente.

Portanto, a ecologia na arquitetura corresponde ao menor impacto que a construção deve ter face ao meio ambiente e por isso promover a sua preservação. Com a mesma conectividade, em relação a arquitetura ecológica, poderemos encontrar outros termos que nos remetem para as mesmas preocupações da construção face aos problemas ambientais do planeta, são elas: arquitetura sustentável, eco arquitetura e arquitetura verde. A utilização da construção em terra como sistema construtivo tem vindo a desaparecer com o aparecimento de novas técnicas e novos materiais, marginalizando a terra como matéria-prima, e esta muitas das vezes associada à pobreza e precariedade. Apesar disso, nos países subdesenvolvidos a escassez de recursos económicos na obtenção de novos materiais, faz com que a terra seja a forma mais económica e eficiente da obtenção de uma habitação para grande parte da população, enquanto, que nos países desenvolvidos ou em desenvolvimento as populações estão a redescobrir os benefícios do uso da terra crua na construção. (NETO, 2008, p. 11[31]) “Nos conceitos de modernidade uma casa em betão é “melhor” que uma casa em pedra e esta “melhor” que uma em terra crua. Este conceito é incutido desde muito cedo nas crianças. Aliás, a história dos “Três Porquinhos”, imortalizada por Walt Disney, relata exatamente o conceito da casa enquanto fortaleza – a casa de palha, a casa em madeira e a de tijolo – apenas a ultima resiste ao “lobo mau”.” (CAMPOS, 2006, p. 29) As casas em terra crua são ecológicas, estáveis do ponto de vista térmico e higrométrico contribuindo para a salubridade, havendo estudos científicos que comprovam que o betão não é seguro para a saúde por este conter radioatividade. (CAMPOS, 2006, p. 29) Adiante procuramos identificar algumas propriedades da terra e que fazem dela um excelente material ecológico e sustentável na construção, tendo como base comparativa o uso do betão.

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As construções em terra são facilmente recicláveis sendo a sua matéria-prima infinitamente renovável ao contrário do betão. Tanto as construções em terra como as de betão necessitam de ser conservadas, no entanto, nas de betão armado é difícil evitar a oxidação do aço perdendo assim as suas propriedades, estimando a vida útil destes edifícios em cerca de 50 anos. A nível do número de pisos, as construções em terra são mais limitadas mas nem por isso deixam de atingir cotas consideráveis, chegando aos 8 pisos de altura. No caso da terra, as fontes de matéria-prima quase sempre estão próximas do local de obra, tirase a terra do solo e constrói-se ao lado, ao contrário do betão que tem de vir de fábrica, com todos os encargos que daí resultam, desde a extração de areias e britas, até ao fabrico do cimento5. As construções em terra podem ser controladas na sua qualidade construtiva à semelhança do betão, com o uso de estabilizantes, por exemplo a cal, que podem ser aprovados nos processos de homologação de materiais e de controlo de qualidade. A terra como o betão podem ser moldados e ter a forma que ser quiser dar, dentro dos próprios limites de resistência do material, no entanto a vantagem da terra é que esta não necessita de cozedura e no processo de produção não existe emissão de gases derivados das combustões, e com menor custo energético quando comparada com o tijolo ou o cimento. (CAMPOS, 2006, p. 32-33) Em suma, apesar da construção em terra, estar muitas das vezes associada: à pobreza e a países subdesenvolvidos, ao abandono face a novos materiais, técnicas mais resistentes e rápidas de executar, não deixa de apresentar as suas vantagens ecológicas. A terra é reciclável, esta seca ao ar e endurece, com a adição de água esta volta ao seu estado natural podendo voltar a ser reutilizada. É um bom meio de sustentabilidade na arquitetura face aos problemas ambientais do planeta. A construção em terra caracteriza-se pelo baixo custo económico, quer na produção quer na obtenção da matéria-prima, e por isso um menor gasto energético e menor impacto ambiental. Sendo a terra, um material não poluente, ainda consegue reunir propriedades de um material bioclimático e termoacústico.

5 O processo de fabrico do cimento, descrito de uma forma simplificada, passa pela extração em pedreiras da matéria-prima (calcários e argilas), que depois de fragmentadas e em proporções adequados ao tipo de cimento, são submetidas a uma cozedura a altas temperaturas (entre os 1250º e 1500º) formando assim o clínquer. Este depois de arrefecido é moído, obtendo-se assim o cimento. (MALHEIRO, 2010).

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2. ARQUITETURA DE TERRA EM AVEIRO: O ADOBE

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Fig. 59: Coberturas de salão. Porto Santo, Madeira. Fig. 60: Mapa da distribuição geográfica das principais técnicas tradicionais.

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2.1.

Arquitetura de terra em Portugal A utilização da terra e argamassas de argila como material de construção verifica-se

desde a pré-história na construção de cabanas, e a taipa é já uma técnica bem conhecida no período romano. Apesar, da taipa ser uma técnica típica do mundo mediterrâneo, a sua maior utilização na Península Ibérica, dá-se durante a ocupação islâmica, quer na sua forma de edifícios modestos, quer em grandes estruturas defensivas. (CATARINO, 1992, p. 15) Em Portugal Continental, as edificações antigas em terra crua disseminam-se por várias zonas do país, tais como nas zonas aluvionar do baixo Douro, de Castelo Branco, mas com uma maior incidência no sul de Portugal, mais propriamente no Alentejo e Algarve. As técnicas de construção mais comuns no país são a taipa, o adobe e o tabique (Fig. 60). Surgindo outros casos menos comuns mas que pelo seu conjunto não deixam de adquirir alguma importância, como marco da arquitetura vernácula duma determinada região, como é o caso dos “tectos de salão” ou “coberturas de salão”6 da ilha de Porto Santo. (RODRIGUES, 2005/07, p. 149) (Fig. 59) A construção em terra, como elemento estrutural, é predominante no sul e centro litoral, sendo o norte e centro interior dominado pelas alvenarias de pedra. Em Portugal, a técnica mais utilizada a sul é a taipa, estado o adobe confinado sobretudo ao centro litoral, (VARUM, COSTA, et al., 2008, p. 23[1]) em que a separação, imaginária, entre as duas técnicas é estabelecida pelo rio Mondego. Quanto ao tabique verifica-se sobretudo no norte e centro interior, como se pode verificar no mapa da (Fig. 60).

6 As “coberturas de salão” ou “tectos de salão” é a designação para as coberturas em terra/barro das casas de Porto Santo. O “salão” é a designação do barro utilizado, constituído à base da decomposição de materiais vulcânicos, este barro local agrega-se facilmente quando em contacto com a água devido a sua “goma natural”. (MESTRE, 2005, p. 66)

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Fig. 61

Fig. 62

Fig. 63

Fig. 61: Alvenaria em Taipa. Fig. 62: Alvenaria em adobe. Fig. 63: Alvenaria em Tabique.

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2.2.

Definição: Taipa, Adobe e Tabique Taipa: esta técnica construtiva consiste em moldar no local um elemento construtivo

que geralmente é uma parede. Após a colocação de uma cofragem, correntemente de madeira, a terra é depositada em finas camadas e compactada. A descofragem ocorre quando a terra adquiriu a capacidade resistente adequada. Uma parede em taipa, apresenta geralmente uma espessura considerável o que lhe permite funcionar como elemento estrutural e monolítico, mas também, lhe confere excelentes propriedades térmicas. (CARVALHO, PINTO, et al., 2008, p. 2) (Fig. 61) Adobe: os blocos de adobe são fabricados essencialmente à base de terra crua que é moldada em moldes de madeira e seca ao sol. Os blocos de adobe podem ser fabricados a partir de um solo composto por argila e areia. Após a moldagem segue-se o processo de secagem destes blocos. A secagem é natural e não passa por nenhum processo de cozedura. Os blocos de adobe podem ser fabricados com diferentes dimensões, tipos de solo e eventualmente podem incluir fibras naturais ou algum ligante como por exemplo cal. Atendendo a que os blocos de adobe apresentam uma capacidade resistente à compressão significativa, justifica que estes tenham sido usados não só na construção de paredes de alvenaria, mas também na construção de outros elementos estruturais como arcos, abóbadas e cúpulas. (CARVALHO, PINTO, et al., 2008, p. 2) (Fig. 62) Tabique: o tabique aparece como sendo outra técnica construtiva tradicional em terra. Esta técnica consiste em aplicar terra sobre uma estrutura previamente concebida, que geralmente é de madeira ou de cana. Forma-se deste modo, uma estrutura mista em que a capacidade resistente é basicamente conferida pela estrutura de madeira e em que a terra funciona como um material de enchimento e de revestimento. Este facto, destaca o tabique das outras técnicas construtivas em terra dominantes em Portugal, porque, tanto na taipa como no adobe, a terra é o material principal. O tabique também é designado por pau-apique, taipa de mão ou taipa de sopapo. (CARVALHO, PINTO, et al., 2008, p. 2) (Fig. 63)

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Fig. 64

Fig. 65 Fig. 64: Mapa das sub-regiões (NUTS III), Baixo Vouga. Fig. 65: Vista aérea da região e ria de Aveiro. Google Earth.

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2.3.

Contextualização do território _ Aveiro e Região

2.3.1. Geografia Aveiro é uma cidade portuguesa, sede de concelho e capital de distrito com o mesmo nome. Fica situada na foz do rio Vouga, que atravessa o distrito, sendo banhada por este rio e pelo oceano Atlântico. O município localiza-se na Região do Centro (NUTS II) e Sub-região do Baixo Vouga (NUTS III) (Fig. 64), com 78450 habitantes, segundo dados dos censos 2011, e abrange uma área de 197,58 km², onde se distribuem 10 freguesias: Aradas; Cacia; a fusão entre Eixo e Eirol; Esgueira; a fusão entre Glória e Vera Cruz, Oliveirinha; fusão entre Requeixo, Nossa Senhora de Fátima e Nariz; Santa Joana; São Bernardo e São Jacinto. (WIKIPÉDIA, 2014b) O município é limitado a norte pelo município da Murtosa, seja através da Ria de Aveiro ou por terra, a nordeste por Albergaria-a-Velha, a leste por Águeda, a sul por Oliveira do Bairro, a sueste por Vagos e por Ílhavo, sendo os limites com este último concelho, também feitos por terra e através da ria, e com uma faixa relativamente estreita de litoral no Oceano Atlântico, a oeste, através da freguesia de São Jacinto. É um município territorialmente descontínuo, visto que compreende algumas ilhas na Ria de Aveiro, e uma porção da península costeira com quase 25 km de extensão que fecha a ria a ocidente. (INDUSTRIA_12D, 2008) (Fig. 65) Os afluentes do Vouga, do Sever, do Caima, do Antuã, do Alfusqueiro e do Cértima, e ainda os rios Paiva e Arda, afluentes do Douro, são importantes estradas líquidas do distrito, onde também se localiza a lagoa de Fermentelos, com 4 quilómetros de comprimento e 2 quilómetros de largura. O distrito de Aveiro, está situado na província tradicional da Beira Litoral, sendo limitado a norte pelo distrito do Porto, a sul pelo de Coimbra, a leste pelo de Viseu e a oeste pelo oceano Atlântico. (INFOPÉDIA, 2003-2014)

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Fig. 66

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Fig. 66: Vista da Serra da Freita Fig. 67: Vista da Serra da Arada Fig. 68: Vista da Serra do Arestal

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A orografia do distrito de Aveiro é formada pela cordilheira do Maciço da Gralheira, que separa as bacias hidrográficas do Vouga e do Douro passando entre os rios Paiva e Vouga (INFOPÉDIA, 2003-2014). Esta região mostra-nos uma acentuada gradação de patamares altimétricos, que vão desde a planície aluvial do litoral atlântico, com os primeiros relevos entre os 50 e 150 metros, passando depois por um nível basal que vai até aos 400 metros, e alteando-se depois o território até aos níveis montanos entre os 800 e os 1100 metros que caracterizam o Maciço da Gralheira, que reúne as serras da Freita, Arada e Arestal , servindo de algum modo de limite oriental à Sub-região do Baixo Vouga. (SILVA, 1999, p. 2) (Fig. 66 a Fig. 68) O distrito compreende 19 concelhos: Águeda, Albergaria-a-Velha, Anadia, Arouca, Aveiro, Castelo de Paiva, Espinho, Estarreja, Feira, Ílhavo, Mealhada, Murtosa, Ovar, Oliveira de Azeméis, Oliveira do Bairro, São João da Madeira, Sever do Vouga, Vagos e Vale de Cambra. (INFOPÉDIA, 2003-2014) 2.3.2. Apontamento histórico (Aveiro) "No documento de doação testamentária efetuada pela condessa Mumadona Dias, ao mosteiro de Guimarães em 26 de Janeiro de 959, consta a referência a "Suis terras in Alauario et Salinas", sendo esta a mais antiga forma que se conhece do topónimo Aveiro. No século XIII, Aveiro foi elevada à categoria de vila, desenvolvendo-se a povoação à volta da igreja principal, consagrada a S. Miguel e situada onde é, hoje, a Praça da República, vindo esse templo a ser demolido em 1835. Mais tarde, D. João I, a conselho de seu filho, Infante D. Pedro, que na altura era donatário de Aveiro, mandou rodeá-la de muralhas que, já no século XIX foram demolidas, sendo parte das pedras utilizada na construção dos molhes da barra nova. Em 1434, D. Duarte concedeu à vila privilégio de realizar uma feira franca anual que chegou aos nossos dias e é conhecida por Feira de Março. Em 1472, a filha de Afonso V, Infanta D. Joana, entrou no Convento de Jesus, onde viria a falecer, em 12 de Maio de 1490, efeméride recordada atualmente, no feriado municipal. A estadia da filha do Rei teve importantes repercussões para Aveiro,

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Fig. 69: Vista de Aveiro, canal das Pirâmides e as marinhas de sal, 1950. Fig. 70: Marinhas de sal ao lado do canal de S. Roque. Fig. 71: Comércio junto ao canal Central, centro da cidade, 1926. Fig. 72: Lota do peixe no Canal de S. Roque, 1921. Fig. 73: Vista da cidade, um dia de festa no canal central, 1928 Fig. 74: Estátua a José Estêvão Coelho de Magalhães, 1935

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Fig. 74


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chamando a atenção para a vila e favorecendo o seu desenvolvimento. O primeiro foral conhecido de Aveiro é manuelino e data de 4 de Agosto de 1515, constando do Livro de Leituras Novas de Forais da Estremadura. A magnífica situação geográfica propiciou, desde muito cedo, a fixação da população, sendo a salinagem, as pescas e o comércio marítimo fatores determinantes de desenvolvimento. (Fig. 69 a Fig. 73) Em finais do século XVI, princípios do XVII, a instabilidade da vital comunicação entre a Ria e o mar levou ao fecho do canal, impedindo a utilização do porto e criando condições de insalubridade, provocadas pela estagnação das águas da laguna, causas estas que provocaram uma grande diminuição do número de habitantes, muitos dos quais emigraram, criando póvoas piscatórias ao longo da costa portuguesa, e que consequentemente estiveram na base de uma grande crise económica e social. Foi, porém e curiosamente, nesta fase de recessão que se construiu, em plena dominação filipina, um dos mais notáveis templos aveirenses: a igreja da Misericórdia. Em 1759, D. José I elevou Aveiro a cidade, poucos meses depois de ter condenado, ao cadafalso, o seu último duque, título criado, em 1547, por D. João III. Por essa razão, e a pedido de algumas pessoas notáveis da cidade, à nova cidade foi dado o nome de “Nova Bragança” em vez de Aveiro, por Alvará Real de 11 de Abril de 1759. Com a queda do poder do Marquês de Pombal, após D. Maria I se tornar rainha em 1777, logo esta mandou voltar a cidade à sua anterior designação. Em 1774, a pedido de D. José, o papa Clemente XIV instituiu uma nova diocese, com sede em Aveiro. No século XIX, destaca-se a ativa participação de aveirenses nas Lutas Liberais e a personalidade de José Estêvão Coelho de Magalhães (Fig. 74), parlamentar que desempenhou um papel determinante no que respeita à fixação da atual barra e no desenvolvimento dos transportes, muito especialmente, a passagem da linha de caminho-deferro Lisboa-Porto, obras estas de capital importância para o desenvolvimento da cidade, permitindo-lhe ocupar, hoje em dia lugar de topo no contexto económico nacional." (DIAS, 1993)

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Fig. 75: Ria de Aveiro, e prática de “kiteboarding”. Fig. 76: Ria de Aveiro, e prática de “kiteboarding”. Fig. 77: Barcos Moliceiros, Torreira. Fig. 78: Exemplos de painéis decorativos, nos barcos Moliceiros.

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2.3.3. A ria de Aveiro “A Ria de Aveiro é o resultado do recuo do mar, com a formação de cordões litorais que, a partir do século XVI, formaram uma laguna que constitui um dos mais importantes e belos acidentes hidrográficos da costa portuguesa. Abarca 11 000 hectares, dos quais 6 000 estão permanentemente alagados, e é composta por quatro grandes canais, ramificados em esteiros, que circundam um sem número de ilhas e ilhotes. Nela desaguam o Vouga, o Antuã e o Boco, tendo como única comunicação com o mar um canal que corta o cordão litoral entre a Barra e São Jacinto, permitindo o acesso ao Porto de Aveiro de embarcações de grande calado. Rica em peixes e aves aquáticas possui grandes planos de água, locais de eleição para a prática de todos os desportos náuticos. (Fig. 75 e Fig. 76) Ainda que tenha vindo a perder, de ano para ano, a importância que já teve na economia aveirense, a produção de sal, utilizando técnicas milenares, é, ainda, uma das atividades tradicionais mais características de Aveiro, havendo, atualmente, salinas em laboração. Muito especialmente no Norte da Ria, até há pouco tempo, os barcos moliceiros, embarcações únicas e de linhas perfeitas, ostentando coloridos e ingénuos painéis decorativos, continuavam a apanhar o moliço, fertilizante de eleição, bem dentro dos mais exigentes e atuais parâmetros ecológicos que transformou solos estéreis de areia em ubérrimos terrenos agrícolas”. (DIAS, 1993) (Fig. 77 e Fig. 78)

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Fig. 79: Três exemplos de Arte Nova, Museu da cidade, Casa do Turismo e Corporativa Agrícola, em Aveiro. Fig. 80: Habitação no estilo Arte Nova, Salreu. Fig. 81: Quartel da G.N.R. de Aveiro Fig. 82: Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro Fig. 83: Muro em adobe, Estarreja.

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2.4.

O adobe na região de Aveiro Em Portugal, a construção em alvenarias resistentes em adobe encontra na região de

Aveiro a sua maior implantação. Impulsionada em finais do século XIX, teve o seu auge na primeira metade do século XX, vindo a ser gradualmente abandonada nos anos sessenta, com a emergência de novos materiais, nomeadamente o cimento, até ao seu desaparecimento como técnica construtiva. Atualmente, são ainda, vários os exemplos de património histórico, sobretudo ligado à Arte Nova7, movimento artístico e arquitetónico dominante à época, edificados neste tipo de alvenaria (Fig. 79 e Fig. 80). Embora o desuso desta técnica de terra crua e o abandono e degradação destas construções, são ainda inúmeros os exemplos de edifícios de habitação e serviços, alguns de dimensões consideráveis, que continuam a satisfazer as funções para as quais foram projetados, atestando assim, a longevidade do adobe enquanto material construtivo. (VARUM, COSTA, et al., 2008, p. 24[2]) (Fig. 81 e Fig. 82) O emprego do adobe na região, era sobretudo feito na construção de casas e muros, embora sejam conhecidas outras utilizações como na construção de muros de suporte de terras e poços de água. De tal forma se faz ainda sentir a presença da construção em adobe na região que, segundo a Câmara Municipal de Aveiro, cerca de 20 a 25% da construção existente na cidade é de adobe e se nos referirmos à região a percentagem sobe para os 35 a 40%. (VARUM, COSTA, et al., 2008, p. 24[2]) (Fig. 83)

7 O movimento Art Nouveau surgiu no final do século XIX com o desenvolvimento da era industrial

e é descrito como a expressão artística através de formas curvas, representando elementos naturais. Este estilo surgiu repentinamente e durou por um período curto, com manifestação em diferentes países da Europa, adotando diferentes designações: Art Nouveau na França e Bélgica, Judendstill na Alemanha, Nieuwe Kunst na Holanda, Sezessionsstill na Áustria, Stile Florale na Itália, Arte Nova na Catalunha. O apogeu desta corrente deu-se na altura da Exposição Universal de Paris em 1900, onde a Art Nouveau esteve em destaque. No início do século XX surgiu a Arquitetura Moderna em que se exigia um regresso à sobriedade, simplicidade, eliminação da ornamentação excessiva, com procura de linhas retas e formas geométricas simples, o que levou ao abandono da Arte Nova cerca de 1910. (OLIVEIRA, VARUM e COSTA, 2011, p. 1) 71


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Fig. 84

Fig. 85

Fig. 86

Fig. 84: Fotomontagem da Casa Major Pessoa (alçados Sul e Norte), atual Museu de Arte Nova e Casa de Chá, Aveiro. Fig. 85: Habitação de emigrantes brasileiros, Bunheiro. Fig. 86: Habitação em Pardilhó.

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O adobe não foi só usado em pequenas construções, como por exemplo casas rurais, arrecadações, armazéns, muros de propriedades ou poços de água. Foi empregue em obras maiores, mais nobres e ricas, tendo algumas delas nos nossos dias um elevado valor patrimonial e cultural, nomeadamente igrejas, casas de espetáculos, grandes mansões, algumas destas ligadas arquitetonicamente ao estilo da Arte Nova. (VARUM, COSTA, et al., 2008, p. 24[2]) (Fig. 84) Os materiais de construção, as técnicas e as soluções construtivas tendem a ser fortemente influenciados pelo poder económico dos seus proprietários. Na região de Aveiro, devido à limitação de disponibilidade de outros materiais na região, o adobe foi utilizado de uma forma generalizada durante um largo período de tempo. Tipologicamente, e existindo sempre exceções, nas zonas urbanas predominam as habitações de dois pisos, enquanto, que nos meios rurais, normalmente, são compostas unicamente por um piso térreo e de corpo retangular, que em caso de necessidade de criar novos espaços a ampliação era efetuada na horizontal. Nas zonas rurais havia a preocupação em orientar as casas a sul, provendo-as de maiores ganhos solares, assim como os anexos e as dependências agrícolas. (VARUM, COSTA, et al., 2008, p. 24 [2]) (Fig. 85 e Fig. 86) 2.4.1. Produção de adobe e mestres adobeiros A falta de pedra em Aveiro, e o elevado custo na sua aquisição, fez com que esta fosse um elemento de ostentação e diferenciação social, e possibilitou o desenvolvimento de outras técnicas na região, como é o caso do adobe. Foi a escassez de pedra que levou à demolição de algum edificado em pedra, assim como, da muralha que cintava parte da cidade, para a construção de obras de interesse público. (RODRIGUES, 1998, p. 314) Na primeira metade do século XX o adobe tomou domínio absoluto na construção da região de Aveiro. A inexistência de pedra na região, criou condições para o sucesso da madeira de pinho, abundante na região, e do adobe, materiais que na altura detiveram um domínio quase absoluto na construção local. O adobe, torna-se assim, no material de construção por excelência, abundante e barato, inviabilizando até, a expansão da indústria do tijolo na região, estando quase exclusivamente limitada à produção de telha marselha. (RODRIGUES, 1998, p. 315)

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Fig. 87

Fig. 88

Fig. 89

Fig. 90 Fig. 87: Mestre-adobeiro, Costa de Lavos. Fig. 88: Mestre-adobeiro, Sr. Luciano, Aljezur. Fig. 89: Parede com vรกrios tipos de adobes e com malhetes de fragmentos de telha. Fig. 90: Alvenaria de adobe de barro, Bunheiro.

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O número de fabricantes de adobes teve um aumento significativo principalmente nos últimos anos da década de 20, e em Esgueira, a sua produção ocupava um elevado número de indivíduos, cerca de 500 pessoas segundo dados de “O Annuario Commercial de Portugal”, sendo esta, uma zona de referência na produção de adobes na região, havendo por vezes a exigência de que os blocos fossem daqui: “com adobes de cal e areia daqueles que se costumam fazer na freguesia de Esgueira”. As areias presentes nesta zona eram também muito estimadas, por serem consideradas boas para traçar com a cal no fabrico de argamassas. Para além de Esgueira, eram também, produzidos adobes na freguesia do Eirol e em Aveiro, no lugar da Presa. (RODRIGUES, 1998, p. 316) (Fig. 87e Fig. 88) 2.4.2. Alvenaria em terra crua na região As alvenarias portantes em terra na região são marcadas por uma variedade de formas de execução, desde as simples alvenarias de adobe e argamassa de assentamento, à conjugação de vários materiais, tais como a inclusão de “cacos” de materiais cerâmicos, telha e tijolo, pedras, e fragmentos de xisto no preenchimento de espaços entre blocos, denominados por “malhetes”, que conferiam aderência às argamassas de acabamento. (NETO, 2008, p. 45[65]) (Fig. 89) Das técnicas em terra crua, o adobe foi o mais utilizado na região de Aveiro e aqui poderemos encontrar dois tipos de adobe: o de barro e o de cal. O adobe de barro, era realizado com terras barrentas das margens da ria onde cresce junco e a sua manufatura era local. Composto por areias muito finas e argilas do barro, esta em muito maior quantidade, o que proporcionava um bloco frágil, que com um simples ensaio de compressão realizado com a força do polegar e do indicador, faz com que este se desfaça. A cor negra denota uma forte presença de húmus, ou seja matéria orgânica em decomposição e fermentação, originária dos fragmentos de palha, raízes, casulos de insetos, entre outros organismos presentes no barro da ria, e que funcionam como agregador natural e garantem a estabilidade do bloco. (FONSECA, 2007, p. 158) (Fig. 90)

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Fig. 91

Fig. 92

Fig. 91: Alvenaria de adobe de cal, Estarreja. Fig. 92: Alvenaria em tabique.

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O adobe de cal, apresenta-se com uma cor mais esbranquiçada, ou amarelado, dependendo do local e do tipo de terra que era misturado com a areia, sendo estes blocos mais pequenos, quando, comparados com os de barro. A maior diferença para o anterior está na adição de cal como elemento agregador à terra, e que lhe proporciona maior resistência à compressão. A produção deste tipo de adobe era realizada fora da localidade, em areeiros próximos, no entanto, a sua produção é similar, cumprindo as mesmas fases de amassadura, colocação em moldes e secagem. A adição de cal e a pouca quantidade de argila na areia destes blocos proporcionam-lhes uma maior capacidade de resistência e durabilidade às agressões externas tendo mesmo sido usados em fundações. (FONSECA, 2007, p. 158) (Fig. 91) Apesar de não muito falado o tabique também se encontra em muitas das casas da região. Era normalmente utilizado como alternativa ao adobe, nas habitações com mais de um piso e em paredes interiores, pelo facto de ser muito mais leve. As paredes em tabique tinham espessuras compreendidas entre os 9 e 15 cm, cujo fasquiado era revestido com rebocos de argamassa de saibro8 e cal e por vezes com acabamentos a estuque. (FERREIRA, VICENTE, et al., 2009, p. 713[3]) (Fig. 92) As espessuras das alvenarias exteriores em adobe variam tipicamente entre 0.30 e 0.53 m, em função do tipo de acabamento e de assentamento, não havendo também uma relação clara entre a espessura da parede resistente e a altura do edifício. As argamassas de assentamento, eram normalmente constituídas pelos mesmos materiais dos blocos, compostas por cal, terra local e areia. Os revestimentos mais comuns são as argamassas de saibro e cal ou areia e cal, com acabamentos a pintura ou estuque. (FERREIRA, VICENTE, et al., 2009, p. 712[2])

8 Saibro: areia grossa misturada com pequenas pedras e argila.

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3. ADOBE: REABILITAÇÃO / RECUPERAÇÃO

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Fig. 93

Fig. 94 Fig. 93: Construção em ruína, Aveiro. Fig. 94: Edifício 4 Estações, reabilitado, Aveiro.

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3.1.

Enquadramento Procura-se com este capítulo elaborar uma espécie de manual, “guia”, para a

reabilitação e recuperação de construções em terra crua, mais propriamente as de adobe. Através da identificação dos problemas e patologias mais comuns, associadas a este tipo de construção, assim como, a apresentação das melhores soluções construtivas: materiais, técnicas e inovações que permitam a melhoria das construções em adobe, a sua preservação e divulgação. A construção em adobe, no distrito de Aveiro, era realizada com base na experiência acumulada, transmitida de geração em geração, não havendo grande preocupação com as exigências das construções atuais, quer a nível de cuidados associados a questões funcionais e de conforto, quer a preocupações de segurança a nível sísmico. Este último de alguma importância, pelo facto da região de Aveiro encontrar-se numa zona de risco sísmico moderado e devido à natureza mole dos seus solos, e por isso, este ponto não deve ser negligenciado. (VARUM, COSTA, et al., 2007, p. 3-4) Presentemente é evidente o nível de degradação e abandono das construções em adobe na região de Aveiro (Fig. 93). No entanto, existem casos em que o edificado se encontra plenamente capaz de cumprir com as funções para o qual foi pensado e construído, necessitando apenas de pequenas obras de manutenção e conservação (COSTA, VARUM, et al., 2007, p. 2). Mesmo assim, e de uma forma geral, a opção pela demolição tem sido a solução encontrada para esta construção, porém, nos últimos anos, pontualmente, tem-se assistido à reabilitação e reforço das construções em adobe, por parte de alguns proprietários sensibilizados com a sua salvaguarda e preservação, assim como, das entidades públicas e municípios na preservação do património em adobe. (VARUM, MARTINS e VELOSA, 2005, p. 233) (Fig. 94)

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Fig. 95

Fig. 95: Fotomontagem de alguns ensaios de provetes de adobe e argamassa realizados no laboratório da U.A. a) Ensaio de compressão simples, b) ensaio de compressão diametral, c) ensaio de compressão simples sobre provete de argamassa; d) ensaios sobre muretes; e) ensaio sobre murete na diagonal às juntas de assentamento.

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A reabilitação das construções em terra apresenta uma dificuldade acrescida devido à falta de informação, sobre as propriedades e caraterização mecânica do adobe, sendo necessários estudos técnicos para determinar propriedades, tais como, módulo de elasticidade, a resistência à compressão, à tração e ao corte, a sua composição, entre outros. Portanto a caraterização mecânica dos blocos de adobe e das argamassas, bem como das próprias alvenarias, são instrumentos fundamentais na avaliação da segurança e de valiosa utilidade no apoio à realização de projetos de reabilitação e reforço das construções em adobe. (COSTA, VARUM, et al., 2007, p. 2) (Fig. 95) É portanto urgente adquirir conhecimento profundo do parque construído em adobe da região de Aveiro, até pela sua grande percentagem de contruído existente, no que diz respeito à sua constituição, dimensões, sistemas estruturais, patologias e estados de conservação, com o principal objetivo de promover a sua reabilitação e reforço. Tendo em consideração as exigências e necessidades modernas, contribuindo para uma melhoria da qualidade de vida daqueles que a utilizam, e para um aumento dos níveis de segurança associados a este edificado, principalmente, assegurando o reforço sísmico. A preservação desta herança cultural e arquitetónica pode também contribuir para o reconhecimento das vantagens do adobe, enquanto material construtivo, encorajando o seu uso em construções novas, e assim permitir uma redução dos esforços e recursos afetos às novas edificações que geralmente substituem as existentes em adobe. (VARUM, COSTA, et al., 2007, p. 4)

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Fig. 96

Fig. 96: Transporte de barco e descarga de adobes em Estarreja.

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3.2.

Vantagens e Desvantagens do uso do Adobe De um modo geral as construções em terra apresentam qualidades muito

interessantes. A terra é um material barato, reciclável e amplamente disponível, permitindo uma utilização mais sustentável com a preservação dos recursos naturais, para além disso, é um material que apresenta boas propriedades térmicas e acústicas, e está associada a métodos construtivos bastante simples, exigindo apenas um consumo reduzido de energia. (OLIVEIRA, VARUM e COSTA, 2011, p. 4) 3.2.1. Vantagens: Do ponto de vista ecológico, o adobe pode apresentar algumas potencialidades, assim como, toda a construção em que a terra é o seu material construtivo de eleição. No que diz respeito à poluição e degradação do ambiente, o uso do material terra pode oferecer um cenário bastante positivo, pelo facto de não consumir energias não renováveis, não necessitar de transporte, não contribui para a degradação da paisagem, utiliza pouca água, não produz subprodutos e tem a vantagem de ser reciclável. (RODRIGUES, 2005/07, p. 151[3]) Não consume energias não renováveis: a produção dos blocos e a execução das alvenarias em adobe está associada a métodos construtivos simples, tradicionais, recorrendo quase exclusivamente à força humana. No entanto, e na atualidade, poderemos ter em conta um pequeno consumo de energia, através do recurso a meios mecânicos no auxílio à mistura de solos, das areias e estabilizantes. Não necessita de transporte: muita da matéria-prima encontra-se no local de obra, as areias e solos, assim como, as madeiras, por isso, não sendo necessário o seu transporte. No entanto, há que ter em conta a necessidade de transportar algumas matérias, para a execução e estabilização dos adobes e até mesmo para transporte dos próprios blocos. (Fig. 96) Não contribui para a degradação da paisagem: pelo facto de na maior parte das vezes usar materiais do próprio local, não poluentes, quer na sua produção ou aplicação. O próprio adobe quando lhe é adicionado água, transforma-se de novo em matéria-prima podendo esta

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ser reutilizada na produção de novos blocos não havendo assim a produção de inertes ou subprodutos. Utiliza pouca água: está é necessária em pequenas quantidades, somente para ajudar a ligar os diferentes constituintes das argamassas e na moldagem dos blocos. Tem a vantagem de ser reciclável: como já referido a matéria-prima usada na produção dos adobes pode ser reutilizadas enumeras vezes, unicamente com a adição de água, o que faz do adobe um material ecológico. Economicamente a construção em terra poderá ser comparável com tecnologias alternativas ou até mesmo tornar-se mais económica se forem atingidos determinados níveis de otimização de recursos, e não requer grande mobilização financeira pois poderá funcionar com uma infraestrutura de produção relativamente ligeira. (RODRIGUES, 2005/07, p. 151[3]) Em termos técnicos, este tipo de construção apresenta propriedades higrotérmicas que contribuem para a regulação do conforto térmico e para a exploração de mecanismos com funcionamento bioclimático, devido à elevada inércia térmica apresentada e ainda boas características relativamente ao isolamento acústico a sons aéreos, devido à massa associada às paredes resultantes. Por outro lado, a construção em terra requer equipamento simples para produção e aplicação, o que a coloca acessível à larga percentagem de pedreiros e construtores (RODRIGUES, 2005/07, p. 151[3]). Há que ter em conta também outras vantagens deste material, para além de não ser tóxico também é incombustível, apresentando assim, um bom comportamento face ao fogo. (LOURENÇO, BRITO e BRANCO, 2002, p. 1) O solo por si só poderá ser uma matéria-prima instável, de limitada resistência mecânica e à água, características que podem ser contornadas, através de disposições construtivas adequadas e melhoradas, através de diferentes processos de estabilização de solos, que permitem conferir à terra determinadas características específicas e estáveis. (RODRIGUES, 2005/07, p. 151[3])

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3.2.2. Desvantagens: As desvantagens das construções em terra ou as suas agravantes principais, são principalmente duas e estão normalmente relacionadas com as agressões da água por infiltração ou ascensão capilar, e ações cíclicas, nomeadamente os sismos. Estes dois pontos poderão ser considerados os elementos chave para a origem de muitas das patologias existentes nas construções deste tipo e que serão abordados posteriormente, no entanto, tais problemas poderão ser contornados com o conhecimento adequado e a aplicação de boas práticas construtivas. O adobe, como já referido, deteriora-se muito facilmente em contacto com a água, por isso, a construção em adobe, se não for adequadamente protegida, a água tornar-se-á um dos seus principais agressores. (VARUM, COSTA, et al., 2007, p. 3) Outra desvantagem da construção em adobe está associada a sua resistência mecânica limitada, é um material relativamente frágil e que muitas vezes associado ao peso elevado das construções, juntamente com a falta de manutenção das estruturas e prevenção, conduzem a anomalias, a nível estrutural e não estrutural, de grande significado à sustentabilidade do próprio edifício (OLIVEIRA, VARUM e COSTA, 2011, p. 4), impondo assim um limite ao número de pisos das construções. Por desconhecimento técnico ou por na altura não se ter muito em conta as preocupações sísmicas, muita da construção em adobe na região de Aveiro, ou quase todas, não se encontra devidamente concebida e reforçada para responder às forças induzidas por esses fenómenos naturais. Quando sujeitas a essas ações cíclicas, as estruturas podem ser severamente atingidas e fragilizadas levando ao colapso do edificado como já aconteceu em várias partes do mundo (VARUM, COSTA, et al., 2007, p. 3). Como exemplos, temos os sismos de El Salvador a 2001 e da cidade de Bam, no Irão a 2003. A construção em adobe apresenta alguma limitação na abertura de muitos vãos nas fachadas, ou no caso de meios mais urbanos, a abertura de grandes vãos para a criação de espaços, como garagens ou superfícies comerciais. Estes poderão provocar, por um lado,

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Fig. 97

Fig. 97: Casa na Av. Dr. Lourenço Peixinho, clara falta de manutenção.

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uma diminuição da secção resistente da alvenaria que passa a estar sujeita a tensões superiores, sem que, na maior parte das vezes, tenha sido devidamente reforçada, e por outro lado, uma diminuição da rigidez, e eventualmente, uma distribuição irregular em planta da rigidez, alterando assim as propriedades dinâmicas do edifício. (SILVEIRA, VARUM e COSTA, 2007, p. 5)

3.3.

Patologias das construções em adobe Nas últimas décadas, a conservação e reabilitação, de grande parte do edificado em

adobe da região e principalmente da cidade de Aveiro, e tendo em conta os inúmeros edifícios com reconhecido interesse histórico, cultural e arquitetónico, tem vindo a ser descurada, como se pode constatar pelo estado atual de deterioração e de dano evidenciado por grande parte destas construções. O abandono e ruína iminente em que se encontram muitas destas construções, deixam antever, a breve prazo, a entrada em colapso das mesmas e consequentemente, até originando a sua possível perda. A falta de manutenção deste património em terra é um fator marcante na redução da vida útil do edificado, quer pelas implicações em termos de durabilidade dos materiais, segurança estrutural, questões funcionais e de conforto (MARTINS, VARUM e COSTA, 2010, p. 1-2) (Fig. 97). Por outro lado, e como grande parte do edificado, geralmente não possuem projeto e são construídos por mão-de-obra não especializadas, o que também contribui para uma grande quantidade de anomalias e patologias nas construções. (VARUM, COSTA, et al., 2007, p. 3) 3.3.1. Principais agentes de degradação A análise de patologias das construções em terra permite distinguir um conjunto principal de agentes de degradação, cujos efeitos e consequências são importantes para uma melhor compreensão dos processos segundo os quais se manifestam, e assim se poder atuar de uma forma mais eficaz para a sua prevenção. (RODRIGUES, 2005/07, p. 151[3]) Ação mecânica: Como já referido anteriormente, as ações mecânicas podem provocar danos

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Fig. 98

Fig. 99

Fig. 100

Fig. 98: Casa com fendas visíveis, em Aveiro. Fig. 99: Casa em Aveiro, aspetos da erosão do revestimento das paredes. Fig. 100: Barracão/armazém, visível a degradação do revestimento da parede.

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estruturais nas alvenarias em terra, que vão desde a fendilhação (Fig. 98), esta que consequentemente permitirá a abertura de caminhos preferenciais para o acesso da água enfraquecendo o suporte e levando à própria rutura e colapso da construção. Os efeitos da ação sísmica, encontram-se entre os mais gravosos. (RODRIGUES, 2005/07, p. 151[3]) Erosão: A ação da chuva, do vento com elementos em suspensão, e principalmente dos sais solúveis higroscópicos9 podem provocar erosão nas paredes de terra. O impacto da chuva, direto ou repetido, vai alterando a superfície dos elementos exteriores dos edifícios, provocando o desgaste e erosão da parede, assim como, a escorrência de água da chuva sobre essa superfície. (RODRIGUES, 2005/07, p. 151[3]) (Fig. 99 e Fig. 100) A erosão poderá ocorrer pela infiltração e absorção da água, com origem na chuva, no terreno ou em acidentes, pela rotura de tubagens. A presença da água em contato com os elementos de construção conduz à absorção dessa água por parte das paredes em terra, por ascensão, difusão capilar ou infiltração pela fendilhação existente. As principais consequências são, a diminuição da resistência mecânica e do isolamento térmico, o transporte dos sais solúveis higroscópicos que após a cristalização provocam a degradação do revestimento da parede, a dilação/retração do material provocam novas fissuras e o desenvolvimento de vegetação parasitária. (RODRIGUES, 2005/07, p. 152[4]) Outra consequência da erosão poderá ter origem na condensação de vapor de água, este em excesso e a ocorrência de situações propícias a que esse vapor de água condense à superfície ou no interior dos elementos da construção, pode provocar um humedecimento do material, geralmente localizado na superfície interior do elemento em contato com o exterior, ou entre materiais diferentes. A condensação proporciona o desenvolvimento de fungos e bolores, a redução do isolamento térmico, a diminuição local da resistência mecânica e o risco de descolamento do acabamento ou revestimento. (RODRIGUES, 2005/07, p. 152[4])

9 Sais solúveis higroscópicos: são sais transportados pela água e quando esta evapora, cristalizam. Os sais estão presentes em maior ou menor quantidade em grande parte dos materiais de construção e nomeadamente na terra. Podendo surgir em maior quantidade em construções situadas perto da orla marítima (cloretos), em zonas com elevada poluição atmosférica (sulfatos) ou onde tenha havido contaminação por dejetos de animais (nitratos). (RODRIGUES, 2005/07)

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Fig. 101

Fig. 102

Fig. 101: Alvenaria com fundação em adobe, Aveiro Fig. 102: Alvenaria com fundação em pedra, xisto, Fermelã.

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3.3.2. Patologias Fundações: De um modo em geral, as anomalias mais frequentes em fundações estão relacionadas com um conjunto variado de fatores, associados ao próprio terreno de fundação, às fundações ou ao edificado no seu conjunto. As anomalias no terreno podem ocorrer com as alterações do nível freático, por efeito de bombagens, em que o espaço ocupado pela água virá a ser posteriormente ocupado pelas partículas do solo, ocorrendo movimentos de assentamento. A água poderá ter outros efeitos nas fundações relacionado com a ocorrência de infiltrações, de água das chuvas ou proveniente de roturas de canalizações de água ou esgotos, que no processo de escoamento podem conduzir ao arrastamento dos elementos mais finos do solo, criando nomeadamente o seu assentamento. (APPLETON, 2003, p. 97) Em relação aos alicerces e bases de suporte das alvenarias em adobe, em alguns casos, estes eram realizados, com o mesmo material das paredes, o adobe, ou recorrendo a alvenarias em pedra (Fig. 101 e Fig. 102). Pela ação de capilaridade e a inexistência de processos de drenagem, permitem que as águas existentes nos solos possam ascender através das paredes até alturas muito consideráveis, dependendo das condições de alimentação de água pela base, da espessura da alvenaria e das condições de evaporação permitidas pelos paramentos. O humedecimento do material da base, faz com que este perca a sua capacidade de resistência mecânica, provocando roturas na estrutura e o surgimento de enumeras patologias nas alvenarias, que podem levar ao colapso do próprio edifício. (RODRIGUES e HENRIQUES, 2005, p. 121)

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Fig. 103

Fig. 104

Fig. 105 Fig. 103: Destacamento do revestimento. Fig. 104: Fissura nos cantos das aberturas, Aveiro Fig. 105: Fissuração nos cunhais, Aveiro

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Paredes e Revestimentos: Do ponto de vista estrutural, as patologias que surgem nas paredes poderão estar associadas a uma má conceção estrutural ou a outras situações, tais como movimentos das fundações, sismos e outros impactos do foro ambiental. As causas podem estar relacionadas com a fraca resistência dos materiais em situações de tração ou flexão, a ação prolongada da água e humidade que vão destruindo a resistência do material, construção sobre um terreno com fraca resistência às cargas transmitidas, uso do material terra de fraca qualidade, e sistemas construtivos mal executados, com fundações subdimensionadas, paredes não travadas e sobrecargas. (LOURENÇO, BRITO e BRANCO, 2002, p. 6) As patologias mais evidentes, que surgem a nível estrutural em paredes exteriores são: a fissuração, a rotação para fora do seu plano (inclinação da parede), e as patologias nos cunhais. No entanto, as patologias não estruturais predominam nas construções em adobe, provocadas por agentes naturais e atmosféricos. O impacto direto da chuva vai alterando a superfície dos elementos exteriores dos edifícios, provocando desgaste e o aparecimento de outros problemas associados à humidade ascensional, escorrências, condensações superficiais e infiltrações. Estes com a cristalização dos sais entre a estrutura de suporte e o respetivo revestimento, promovem a fissuração e conduzem ao destacamento de todo o revestimento, e por consequente à degradação das camadas superficiais do suporte, provocando a redução da espessura do elemento de estrutural e consequente diminuição da resistência mecânica, acentuação de vias de penetração de água e de infiltração por absorção capilar. (NETO, 2008, p. 106) (Fig. 103) Como se pode verificar, as fissuras podem afetar restritamente as camadas de revestimento, ou de uma forma mais gravosa, formar-se ao nível dos suportes e por consequente atingir os revestimentos. Este tipo de patologia manifesta-se geralmente na superfície corrente das paredes e tetos, nos cantos das aberturas, na ligação entre paredes ortogonais e cunhais. (FERREIRA, VICENTE, et al., 2009, p. 715[5]) (Fig. 104 e Fig. 105)

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Fig. 106

Fig. 107

Fig. 106: Manchas de humidade e surgimento de bolores. Fig. 107: Acumulação de detritos e surgimento de vegetação na cobertura, Aveiro.

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As causas do seu surgimento poderão estar ligadas, ao assentamento das fundações e do solo, levado por obras realizadas nas imediações; aos impulsos horizontais das coberturas sobre paredes; à fraca ligação entre paredes ortogonais; à concentração de tensões nos cantos dos vãos ou na zona de entrega das vigas de madeira sobre as paredes. (FERREIRA, VICENTE, et al., 2009, p. 715[5]) Em relação às paredes e revestimentos interiores, as patologias estruturais manifestam-se fundamentalmente pela fragilização das ligações à restante estrutura, e as não estruturais mais frequentes são caracterizadas igualmente pela fissuração e desagregação do suporte; surgimento de manchas de humidade e sujidade, bolores, descasque ou queda de reboco (NETO, 2008, p. 107). Há que ter em conta também, as paredes interiores de compartimentação, que no edificado desempenham um papel importante no travamento estrutural e no próprio comportamento do edifício no seu conjunto, que muitas das suas patologias surgem como consequência de outras, tais como assentamento de fundações seguidos de fendilhação das paredes resistentes e deformação excessiva de pavimentos de madeira. (APPLETON, 2003, p. 122) (Fig. 106) Cobertura: A cobertura tem como principal objetivo a estanquidade à água, podendo a sua função ficar altamente comprometida pela acumulação sobre as telhas cerâmicas, de detritos, musgos, microrganismos e outros materiais, proporcionando o surgimento de patologias (Fig. 107). Outros problemas poderão estar associados à deformação dos elementos estruturais, causados sobretudo pelo envelhecimento e pela degradação dos materiais constituintes ou pela fragilização da estrutura de suporte. A inclinação da cobertura insuficiente, a existência de telhas partidas ou má colocação destas, a degradação e deformação dos elementos estruturais, dificultam o escoamento das águas pluviais e facilitam a infiltração da água, podendo ainda ser agravado pela incidência do vento, originando patologias a nível da degradação dos materiais; com o apodrecimento de madeiras, degradação das estruturas e revestimentos devido às infiltrações e todas as problemáticas associadas à humidade. (NETO, 2008, p. 110)

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Fig. 108

Fig. 109

Fig. 108: Deterioração das vigas de madeira de pavimento. Fig. 109: Descasque do revestimento do teto sobre fasquiado.

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Pavimentos e tetos: As anomalias mais frequentes em pavimentos estão associadas à própria natureza dos seus materiais constituintes. Nos pavimentos de madeira, surgem problemas relacionados com o envelhecimento e degradação do material, e de determinadas características mecânicas; tal como deformação das vigas por empenamentos, fissuras e outras deteriorações. Estas ultimas, de maior importância e mais preocupantes, estando normalmente relacionadas com a presença de água e ataques biológicos. A humidade de precipitação afeta os pavimentos de madeira, a partir de infiltrações que podem ocorrer através da própria caixilharia exterior dos vãos ou por fissuras nas paredes e coberturas. Deste modo, criam-se condições propícias para o desenvolvimento de fungos de podridão, e o ambiente húmido existente, favorece também, com as alternâncias de temperatura, a proliferação dos ataques de insetos xilófagos, em particular de térmitas e carunchos. (APPLETON, 2003, p. 110) (Fig. 108) Relativamente aos tetos, as anomalias mais frequentes já foram abordadas nos parágrafos anteriores, relativamente às patologias referidas para os pavimentos e outras, associadas às paredes interiores. Os revestimentos em madeira dos tetos apresentam um quadro patológico idêntico aos revestimentos de madeira dos pavimentos. Podendo fazer-se, destaque para os revestimentos à base de massas de gesso, aplicados sobre fasquiado de madeira, ou em placas de sisal, em que esta fibra funciona como “armadura” de uma lâmina de gesso. Nestes casos, as anomalias mais usuais correspondem, a deformações excessivas originadas pela falta de rigidez da estrutura dos tetos e fendilhação, associada a essa deformação, mas também à incapacidade desses materiais de revestimento acompanharem a deformação das estruturas, a vibrações estruturais e a fenómenos de retração da própria massa de gesso. (APPLETON, 2003, p. 129-130) (Fig. 109)

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Fig. 110

Fig. 111

Fig. 110: Reparação de revestimentos com argamassa de cimento. Fig. 111: Destacamento da pintura do suporte.

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Em geral, outras situações: Conclui-se que a falta de utilização das construções e a falta de manutenção são os principais fatores para a sua degradação e surgimento de anomalias. No entanto, o surgimento de patologias pode também estar associado a uma falta de conhecimento técnico e a más práticas, por desconhecimento, na tentativa de recuperação ou reabilitação do edificado, marcado pelo uso de materiais incompatíveis com o adobe, que ao invés de solucionarem um problema acabam por o agravar, como é o caso do uso de argamassas de cimento na substituição e reparação de argamassas originais e a utilização de tintas que não permitam a devida “respiração” das paredes. (Fig. 110 e Fig. 111) Há que ter em conta também, anomalias que possam surgir das necessidades básicas e habitacionais exigidas, tais como a criação de instalações técnicas que nos são indispensáveis na atualidade; tais como a criação de redes de gás, água e luz; e a criação de instalações sanitárias, que por vezes são inexistente em edifícios antigos.

3.4.

Boas Práticas Construtivas: prevenção e reparação de patologias É importante reconhecer, que muito do edificado em adobe existente, foi construído

recorrendo a técnicas e materiais tradicionais, com base no conhecimento empírico. Assim sendo, é importante que numa primeira análise sejam realizados estudos e investigação multidisciplinar, como forma de compreensão e de diagnóstico dos principais processos patológicos neste tipo de construção (MARTINS, VARUM e COSTA, 2010, p. 2). Posto isto, a reabilitação deste edificado necessita de uma atenção especial relativamente a aspetos de compatibilidade, relacionados com os materiais e soluções tradicionais, o que infelizmente nem sempre ocorre, sendo frequentes intervenções de reabilitação que introduzem efeitos mais nocivos, do que os que se verificavam antes da intervenção. (OLIVEIRA, VARUM e GUERREIRO, 2009, p. 5)

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Fig. 112

Fig. 113

Fig. 112: Esquema consolidação da fundação, a). Fig. 113: Esquema de alargamento e recalçamento da fundação, b).

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Importa salientar ainda, que a conservação engloba o conjunto de ações destinadas a prolongar o tempo de vida do edificado, e de acordo com o espirito da Carta de Veneza, que os edifícios sejam sujeitos a operações regulares de manutenção, como processo profilático. A manutenção é o conjunto de operações preventivas destinadas a manter, em bom funcionamento, a edificação e as suas partes constituintes, incluindo limpezas e pinturas, inspeções e pequenas reparações, sendo a prevenção o melhor caminho, quer do ponto de vista da plena utilização do edificado, quer do ponto de vista económico. (APPLETON, 2003, p. 143) Fundações: Como já é sabido, o grande inimigo das construções em terra é a água, por isso, o princípio básico destas construções é evitar o contacto direto das paredes com o solo. Para prevenir a ascensão da água através dos fenómenos de capilaridade, deve-se ter em conta algumas técnicas correntes na construção, como a utilização de um solo bem compactado e estável, a previsão de sistemas eficazes de drenagem de águas e execução de barreiras de vapor entre a fundação e o início da parede. (LOURENÇO, BRITO e BRANCO, 2002, p. 6) Na generalidade, as fundações e a base das paredes dos edifícios antigos eram executadas em alvenarias de pedra, pouco porosas e mais resistentes a ação da erosão. Aplicadas junto ao solo e da água, e por isso, simultaneamente menos capilar, limitando a quantidade de água que ascendia do terreno por capilaridade. (RODRIGUES, 2005/07, p. 152[4]) Na reabilitação dos edifícios antigos, deverá ter-se em conta a consolidação da fundação, este é o elemento fundamental na sustentação de todo o edifício, mas também, o que mais influencia na maioria das patologias que surgem. Dependendo de cada caso, a intervenção no reforço da fundação pode ser executada tendo em vista três formas distintas e que serão apresentadas de seguida e de uma forma sucinta.

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Fig. 114

Fig. 115

Fig. 116

Fig. 114: Esquema de confinamento lateral da fundação, c). Fig. 115: Esquema de recalçamento da fundação, d). Fig. 116:Fotomontagem de esquema de consolidação da fundação por microestacas, e).

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Intervenção sobre o solo da fundação, esta técnica exige um conhecimento profundo acerca das características dos terrenos e consiste na injeção de argamassas no terreno de forma a melhorar as suas características, eliminando as causas dos assentamentos, muitas das vezes originadas pela movimentação de águas subterrâneas. (APPLETON, 2003, p. 162-165) Consolidação e reforço da fundação, como o próprio nome indica, consiste na consolidação da fundação, e poderá seguir os seguintes procedimentos: a) consolidação do material, através da injeção de argamassa na consolidação das juntas e espaços existentes entre os materiais constituintes da fundação (Fig. 112); b) alargamento da base com recalçamento, procedimento executado em fases, e que consiste no reforço da base de assentamento das fundações (Fig. 113); c) confinamento lateral das fundações sem recalçamento, é uma solução possível se não houver insuficiência da fundação para a resistência às cargas permanentes, neste caso processe-se ao alargamento da base de fundação (Fig. 114); d) transferência da carga para camadas profundas do terreno com recalçamento, este procedimento consiste em cravar ou moldar estacas no solo que posteriormente são travadas e encabeçadas por uma viga de recalçamento da fundação (Fig. 115); e) transferência de cargas para camadas profundas do terreno sem recalçamento, esta é uma alternativa ao procedimento anterior e consiste na execução de microestacas executadas de modo a atravessarem as próprias fundações (Fig. 116). (APPLETON, 2003, p. 165-175) Intervenção sobre o edifício, reduzindo ou transferindo cargas, atuando diretamente nas cargas ou na estrutura do edifício, por exemplo, reforçando determinadas zonas, criando ligações estruturais suplementares, aligeirando elementos de compartimentação e de revestimento, sobretudo procurando aligeirar as cargas sobre a fundação. (APPLETON, 2003, p. 164) Paredes e Revestimentos: Muitos dos problemas encontrados nas paredes estão relacionados ou com problemas na estrutura da fundação ou por degradação derivada da falta de manutenção de coberturas e camadas protetoras. Antes de mais, neste tipo de construção deve-se assegurar uma boa ventilação interior de forma a evitar o aparecimento de bolores e manchas de humidade,

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Fig. 117

Fig. 117: Fotomontagem de uma selagem de fissuras, em laboratório, com injeção de goma de cal hidráulica sob pressão, e reforço com rede sintética.

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fatores que também proporcionam o desenvolvimento de agentes biológicos responsáveis pela deterioração das madeiras, bastante frequentes na construção em adobe. (OLIVEIRA, VARUM e COSTA, 2011, p. 6) Como regra geral, as paredes poderão possuir uma altura inferior a sete vezes a sua espessura, com um máximo de 3,5 metros, e um comprimento livre inferior a dez vezes a espessura da parede até aos 5 metros, para comprimentos superiores poderá ser necessário promover a adição de contrafortes pelo exterior. As aberturas deverão ser limitadas e com largura máxima de 1,2 metros, com um máximo de um terço do comprimento das paredes, e os elementos formados entre aberturas deverão ter uma largura mínima de 1,2 metros. Os lintéis dos vão devem ser prolongados para cada lado da abertura cerca de 0,30 metros. (NETO, 2008, p. 18[38]) Aquando da verificação de patologias, é recomendável que se proceda ao travamento das fachadas de forma a evitar o seu destacamento e colapso, bem como, ao escoramento de pavimentos e coberturas se assim se justificar. Como reparação, poderá adotar-se técnicas de reforço que passam pela utilização de tirantes de aço no travamento de paredes, ou pelo revestimento das faces das paredes com soluções capazes de resistir a esforços de tração, como redes de aço ou de materiais polímeros10, ou por telas de materiais compósitos. Para tratamento das fissurações, poderá recorrer-se a uma selagem das fissuras com argamassas de cal hidráulica, injetada sob pressão, e a reparação ou substituição total de rebocos, tendo em atenção cuidados especiais para que os novos materiais sejam compatíveis com os materiais e técnicas originais. (OLIVEIRA, VARUM e COSTA, 2011, p. 6) (Fig. 117) Os revestimentos são a camada de desgaste e sacrifício das alvenarias em adobe, e têm como papel fundamental a proteção das paredes sobre a qual está aplicada, evitando processos que conduzam à sua degradação, garantindo que a absorção de água seja minimizada, enquanto a evaporação é otimizada, ou seja, a argamassa deverá garantir uma boa resistência aos sais solúveis higroscópicos, uma eficaz evaporação e secagem e boas

10 Materiais polímeros, como definição química, macromolécula resultante da união de moléculas mais pequenas, e podem ser de origem natural, como o âmbar ou a celulose, ou de origem sintética usadas na produção de plásticos, silicone, borracha sintética, etc.

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Fig. 118

Fig. 119

Fig. 120

Fig. 121

Fig. 118: Exemplo de caiação de um muro. Fig. 119: Substituição de topo de viga em madeira de um pavimento. Fig. 120: Reforço das vigas com peças metálicas empalmadas. Fig. 121: Injeção de resina epoxy para reconstituição da zona deteriorada.

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resistências mecânicas, evitando argamassas de ligantes hidráulicos com base em cimento. Os acabamentos dos rebocos, por ordem estética, poderão ser realizados com o recurso a pinturas tradicionais à base de cal, caiação com leite de cal, juntamente com pigmentos e corantes, orgânicos ou inorgânicos, naturais ou artificiais. Como alternativa a caiação poderão ser utilizadas pinturas com tintas à base de silicatos de potássio, juntamente com os mesmos pigmentos da cal, apresentando características intermédias em relação às tintas atuais e as de base em leite de cal. (RODRIGUES, 2005/07, p. 153 e 154[5 e 6]) (Fig. 118) Cobertura e pavimentos: Estes elementos, na maioria dos casos, são executados recorrendo a estruturas de madeira, e como já referido, deverá ter-se em atenção o arejamento para evitar a ação da humidade e o desenvolvimento de agentes biológicos, responsáveis pela degradação e apodrecimento das madeiras, principalmente nas zonas de ligação das estruturas dos pavimentos com as paredes, e dos apoios da estrutura da cobertura. Quando possível, estes elementos estruturais em madeira, tanto dos pavimentos como os das coberturas (asnas), poderão ser reparados recorrendo à substituição das partes danificadas por peças idênticas no mesmo material, ligadas por elementos metálicos ou através da injeção de resinas epoxídicas, que vão preencher os espaços vazios e deteriorados. (APPLETON, 2003, p. 191206) (Fig. 119 a Fig. 121) Em geral, as coberturas devem ser o mais leve possível, de forma a reduzir as cargas sobre as paredes mas devidamente ligadas a elas, devem apresentar uma boa inclinação e beiral prolongado, de modo a facilitar o escoamento das águas da chuva e afasta-la da superfície da parede e base, assim como, minimizar a acumulação de detritos. De uma forma genérica, e excetuando as ações mecânicas, pode dizer-se que o estado de conservação das construções em adobe e em terra no geral, dependerá da eficiência de três aspetos fundamentais: a existência de “umas boas botas, uma boa gabardina e um bom chapéu-de-chuva”. Entenda-se: “umas boas botas” como um bom corte de capilaridade nas fundações e uma boa base resistente á água, “uma boa gabardina” o revestimento de proteção das paredes exteriores e “um bom chapéu-de-chuva” como uma boa cobertura. (RODRIGUES, 2005/07, p. 152[4])

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Fig. 122

Fig. 123

Fig. 122: Zonas de risco sísmico elevado e muito elevado Fig. 123: Zonas com elevada densidade de construção em terra

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3.5.

Inovações Técnicas face ao Adobe:

3.5.1. Sismos e Resistência Sísmica: Os sismos têm origem principalmente pela interação das placas tectónicas ou por atividade vulcânica. A forma como um sismo influencia a estrutura não só depende da sua magnitude e do tipo de construção, mas também, da profundidade e distância do epicentro, do tipo de solo, da geologia e topografia do terreno, e da sua duração, frequência e aceleração. (GOMES e BRITO, 2005, p. 250) A construção em terra é comum em muitas das regiões do mundo onde a perigosidade sísmica é elevada, como em alguns países da América Latina, África, Ásia (especialmente na Índia), Médio Oriente e Sul da Europa. (GOMES e BRITO, 2005, p. 250) (Fig. 122 e Fig. 123). Vários sismos afetaram a construção em terra evidenciando a vulnerabilidade sísmica associada a este tipo de construção, quando não é devidamente reforçada. Os sismos em El Salvador, que ocorreram em Janeiro e Fevereiro de 2001, deixaram mais de um milhão de pessoas sem casa, tendo a maioria dos danos ocorrido em casas de adobe, e o sismo em Bam, no Irão, a 26 de Dezembro de 2003, são exemplos representativos da vulnerabilidade da construção em terra. (SILVEIRA, VARUM e COSTA, 2007, p. 2) Nos últimos séculos, Portugal tem vindo a ser afetado por vários sismos de intensidade elevada e moderada. O distrito de Aveiro, fica localizado numa região de perigosidade moderada, devido à natureza mole dos solos de fundação, o que pode fazer com que eventuais sismos que ocorram na região possam ser consideravelmente amplificados. A par disso, as técnicas adotadas na construção do edificado de adobe na região eram baseadas na experiência acumulada, transmitida de geração em geração, e não incluíam preocupações com a segurança a nível sísmico. Para além disso, a reabilitação e reforço deste edificado, tem sido negligenciado durante décadas, e por isso, encontra-se inadequadamente reforçado para resistir a ações sísmicas. (SILVEIRA, VARUM e COSTA, 2007, p. 6)

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Fig. 124

Fig. 124: Tipos de danos sísmicos que ocorrem em edifícios de adobe não reforçado.

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A construção tradicional em terra tem uma resposta muito deficiente quanto sujeita a movimentos sísmicos. A fraca capacidade destas construções a um abalo sísmico, deve-se ao seu comportamento frágil e à baixa capacidade de resistência à tração, flexão e corte. Assim, quanto maior for a altura da construção e o seu peso, menor é a sua capacidade para resistir a elevados níveis de forças sísmicas, sofrendo danos estruturais severos, que vão desde a queda de paredes e cobertura: abertura de fendas, a desintegração de paredes, a separação de paredes nos cunhais e a separação dos tetos das paredes, levando em muitos casos ao colapso da construção. (GOMES e BRITO, 2005, p. 250-251) (Fig. 124) Como é impossível prever ou consegui controlar um sismo, deve melhorar-se a capacidade de resistência da construção em terra face a ações sísmicas tendo em conta alguns aspetos. Para construções existentes e que apresentem resistência insuficiente, devem ser considerados os seguintes aspetos: todos os erros grosseiros devem ser eliminados; nos edifícios altamente irregulares (rigidez ou resistência), a regularidade em planta e altura deve ser melhorada; deve-se aumentar a ductilidade das secções ou elementos mais frágeis; o aumento de resistência obtido não deve reduzir a ductilidade global da estrutura para um nível inaceitável; os lintéis frágeis devem ser substituídos; as ligações inadequadas entre paredes e pavimentos, e entre paredes transversais, devem ser melhoradas; os impulsos horizontais sobre paredes devem ser eliminados. Para construções novas, deve ser efetuada a escolha adequado dos materiais (solo, areia, palha e, eventualmente armadura); a presença do nível freático a profundidade adequada; a boa qualidade da execução; a definição de uma solução estrutural robusta; construção de um piso e que a cobertura seja o mais leve possível; forma do edifício regular e simétrica de planta quadrada ou planta retangular, ou com associação de volumes retangulares independentes e separados por juntas; como melhoria do reforço sísmico a utilização de armaduras em madeira, em redes, varões de aço e fibra de vidro, no interior ou à face das paredes; ou a utilização de uma viga-cinta em betão armado ou em madeira no coroamento da parede. (LOURENÇO, 2005, p. 190-191)

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Fig. 125

Fig. 126

Fig. 125: Vários exemplos de BTC’s. Fig. 126: Prensa manual.

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O Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro, ao longo dos últimos anos tem vindo a desenvolver inúmeros estudos e ensaios em laboratório e em Insitu, relativamente às construções em adobe da região, tendo um papel fundamental para colmatar a pouca informação existente. Têm sido realizados levantamentos dimensionais, estudos da composição dos diferentes adobes da região, ensaios cíclicos e dinâmicos, mecanismos de colapso e reforço de estruturas em adobe, entre outros mais. Muitos dos estudos encontram-se disponíveis na base de dados da Universidade de Aveiro (http://ria.ua.pt/). 3.5.2. Bloco de Terra Comprimida (BTC) O BTC foi desenvolvido nos anos 50 do século XX, pela mão do Engenheiro Raul Ramirez, que criou e patenteou uma prensa manual, mundialmente conhecida como prensa CINVA-Ram, com o objetivo de melhorar o adobe. Portanto, esta técnica surgiu da evolução do adobe, por estabilização do solo através de meios mecânicos, consistindo na prensagem do solo confinado num molde, permitindo obter pequenos bolos de terra prensada, mais resistente, mais duráveis e com desempenhos superiores em relação ao adobe. A prensagem da terra é realizada através de uma prensa, acionada de forma manual ou mecanizada, permitindo realizar diversos tipos de blocos, maciços ou perfurados, e placas de revestimento. A consistência da terra utilizada é de terra húmida, semelhante à taipa, permitindo obter blocos bastante resistentes, embora mais pesados que o adobe. Este tipo de construção permite uma rápida execução, facilidade de montagem e uma diminuição dos resíduos de construção. (TORGAL, EIRES e JALALI, 2009, p. 47-48) (Fig. 125) Prensas Manuais As prensas correntes aplicam pressões na ordem dos 2 MPa, embora existam prensas capazes de aplicar pressões superiores, no entanto estas tem o inconveniente de serem bastantes pesadas e caras. Estes blocos comparados com recursos a prensas manuais requerem mais mão-de-obra e tempo de fabrico. Tem a vantagem de ser mais económico em termos de consumo energético e a facilidade de transporte para o local da obra, podendo fabricar-se blocos com a terra do próprio terreno. (TORGAL, EIRES e JALALI, 2009, p. 51) (Fig. 126)

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Fig. 127

Fig. 127: Prensa hidrรกulica.

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Prensas Hidráulicas Os blocos de terra compactados em prensa hidráulica, não requer força manual, tornando-se num processo de fabrico mais rápido, sobretudo em máquinas que prensam diversos blocos ao mesmo tempo. Estes blocos apresentam resistência mecânica substancialmente maiores em relação aos prensados manualmente, tendo ainda uma maior resistência ao contacto com a água. As prensas podem ser fixas ou móveis, podendo estas ultimas serem mobilizadas para a produção de blocos no local da obra, tal como as manuais, utilizando a terra local, com a vantagem de uma maior rapidez de fabrico. (TORGAL, EIRES e JALALI, 2009, p. 52-53) (Fig. 127) A técnica dos blocos de terra comprimida está em constante evolução quer na forma como nas suas características técnicas, existindo inúmeras tipologias e formas, dependendo de cada fabricante, e que vão desde os simples maciços, aos perfurados e com encaixe. Ao nível de inovações, existem estudos relacionados com a procura de novos estabilizantes para o solo, sendo o cimento o principal material utilizado na estabilização dos blocos de terra comprimida, procuram-se alternativas mais ecológicas com o uso de cal, fibras naturais, reaproveitamento de desperdícios industriais, entre outros.

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4. CASO DE ESTUDO: Reabilitação da “Casa de Brasileiro”, Bunheiro

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Fig. 128

Fig. 129

Fig. 128: Alçado Sul da “Casa de Brasileiro”, foto: de Abril, 2015. Fig. 129: Alçado Norte da “Casa de Brasileiro”, foto: de Abril, 2015.

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4.1.

“Casa de Brasileiro”: Enquadramento Os registos de emigração Portuguesa no Brasil surgem no século XVIII e tornaram-

se mais regulares a partir do século XIX. A origem socioeconómica do português que emigrou para o Brasil é muito diversificada, desde uma próspera elite nos inícios do século XIX passou a um fluxo crescente de emigrantes pobres a partir da segunda metade do século XIX. Das quatro fases de emigração portuguesa para o Brasil interessa apenas para o tema a designada emigração de massa que decorreu entre 1851-1930. Foi durante esse período que mais se verificaram o regresso de emigrantes portugueses do Brasil e a construção das respetivas casas em território português. (FERNANDES, 2007, p. 238) As inovações arquitetónicas da casa de brasileiro representam na maior parte dos casos uma reprodução “desfocada”, de soluções formais de uma arquitetura que se pretendia “elegante”, adotada da residência brasileira a partir de oitocentos, por via de arquitetos e companhias de construção europeias, um modelo onde pontuam influências da casa colonial vitoriana, soluções formais afrancesadas, misturadas com algum revivalismo de cariz italiano. A casa de Brasileiro que se encontra na Beira Litoral portuguesa, não foge a este modelo, antes pelo contrário, a sua especialidade reside na exímia construção e na adaptação do sistema construtivo local em adobe e estes modelos importados e tradicionalmente construídos em pedra e tijolo nas regiões do Minho e Sintra. Ao seu valor arquitetónico há que acrescentar o valor construtivo, de solução hábil em estrutura portante de paredes em adobe, com pisos e coberturas em estrutura de madeira e ferro. As casas de brasileiro existentes na região, na verdade, são mais os exemplos de casas à moda de brasileiro do que as de brasileiro original, de emigrantes que regressavam ao território português; em que muitos dos proprietários nunca estiveram no Brasil. Os construtores locais renderam-se aos novos modelos arquitetónicos “brasileiros”, tendo a casa de brasileiro na região influenciado toda a arquitetura durante o período que decorreu entre a monarquia constitucional, passando pela república até ao início da segunda guerra mundial, em 1939. (FERNANDES, 2007, p. 239)

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Fig. 130: Planta de Implantação da “Casa de Brasileiro”, Bunheiro, Murtosa.

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4.2.

Contextualização A casa em estudo situa-se no Bunheiro e trata-se de uma casa de influência brasileira

por via de emigrantes. A construção com data do ano 1904, construída pela mão do Sr. Francisco José Lopes de Almeida sogro do professor Ruela Ramos, este último figura importante e reconhecida na freguesia. O Bunheiro é uma das quatro freguesias do concelho da Murtosa, do distrito de Aveiro, com 24,60 km² de área e 2 707 habitantes. É a mais rural das quatro freguesias tendo, além da agricultura, como atividade económica significativa, no sector primário, a pesca. A indústria, só há relativamente pouco tempo se começou a desenvolver, encontrando-se nesta freguesia a Zona Industrial do concelho. Os serviços ocupam hoje uma grande franja dos habitantes, não tendo o comércio grande expressão. A freguesia situa-se numa planície contígua, pelo nascente, à Ria de Aveiro, cujos braços entram pela terra dentro terminando em esteiros, que outrora foram muito utilizados como as grandes autoestradas da época, através dos quais se desenvolveu o comércio.11

4.3.

Descrição: “Casa de Brasileiro” O edifício encontra-se implantado num terreno de carácter agrícola, junto à Rua Prof.

Ruela Ramos, na freguesia do Bunheiro, município da Murtosa. A construção desenvolvese segundo um eixo longitudinal, perpendicular à rua, encontrando-se no lado nascente uma habitação anexa pertencente aos atuais donos. A envolvente próxima é marcada por terrenos agrícolas e alguma construção de habitações de carácter unifamiliar, que vão surgindo de forma descontínua, junto à via pública, e ocupando os terrenos existentes. Em termos volumétricos, a “Casa de Brasileiro” em estudo, desenvolve-se perpendicular a um eixo imaginário, norte-sul, segundo volumetrias regulares. Formada por

11 Fonte Junta Freguesia do Bunheiro. (Referência de Abril de 2015. Disponível na internet em: <http://www.freguesias.pt/portal/apresentacao_freguesia.php?cod=011201>)

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Fig. 131: Plantas de Materiais Pré-existentes.

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um volume central retangular com dois pisos, constituídos por um pé-direito na ordem dos 4 metros de altura; e por dois volumes laterais de forma quadrada, de um piso e com aproveitamento das águas furtadas. Arquitetonicamente, a casa insere-se na tipologia de uma casa apalaçada, com paredes estruturais em adobe de cal. A fundação segue a lógica deste tipo de construção, na falta de pedra as fundações eram executadas em alvenarias de adobe, e esta não é exceção. A cobertura é inclinada de duas águas com pendentes acentuadas executadas em asnas de madeira e revestidas a telha cerâmica plana do tipo “marselha”. As paredes exteriores são rebocadas com argamassas à base de saibro e cal com acabamentos em azulejo. Os vãos são delimitados por molduras em pedra granítica, nas portas e janelas do primeiro piso e alçado sul do segundo piso, sendo a cantaria mais trabalhada nos alçados sul e poente, as restantes molduras são realizadas em argamassa. As caixilharias de janelas são em madeira de duas folhas com bandeira e vidros simples, com portadas em madeira no interior. As portas são igualmente em madeira, constituídas por duas folhas e bandeira. As paredes interiores da casa em estudo são na maioria em alvenaria de tijolo de adobe, existindo apenas algumas divisórias em tabique no volume central e na caixa de escadas. As paredes são rebocadas com acabamentos em gesso caiado, estuque, existindo algumas pinturas a fresco no corredor, imitando o mármore. Os pavimentos são em soalho de madeira pregada assim como os tetos.

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Fig. 132: Alçados da “Casa de Brasileiro”

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4.4.

Patologias e estado conservação Um dos maiores problemas encontrados nesta casa é o mais corrente neste tipo de

construção, o seu abandono e falta de manutenção, que por si só, já é um fator agravante no seu estado de conservação. De um modo em geral e apesar de mais de um século de existência, a casa apresentase estruturalmente conservada, não sendo visíveis grandes problemas a nível de fissuração, surgindo apenas algumas fissuras no alçado nascente, eventualmente resultantes da abertura de furos para a passagem de tubos de água, e no volume que faz o remate da caixa de escadas, neste último resultante da fragilidade da ligação com a restante estrutura. O alçado nascente é dos que apresenta maior deterioração dos rebocos, sendo visível uma eventual tentativa de reparação, recorrendo a revestimentos cimentícios, os restantes alçados executados em azulejo com molduras em argamassa. Os azulejos apresentam-se na generalidade em fracas condições, lascados, estalados e quebrados, fruto do tempo e de pequenos incidentes. As infiltrações são o maior problema encontrado, sendo o principal fator agravante da deterioração das madeiras. Muitas das portas e janelas encontram-se arrombadas assim como vidros partidos, permitindo a entrada das águas da chuva, sendo evidente nos espaços próximos a essas aberturas, o apodrecimento de soalhos e o destacamento dos rebocos e das molduras em madeira que contornam a abertura dos vãos. A cobertura é outro elemento responsável pelas infiltrações ocorridas. Nos últimos anos, a ocorrência de ventos fortes, pequenos fenómenos atmosféricos e a falta de manutenção, têm levado à degradação acelerada da cobertura através da quebra e deslocação de telhas possibilitando a entrada da água e de animais, tais como, pombos. Os fenómenos atmosféricos terão sido também, a causa de queda da chaminé, que por si só, tem acelerado a degradação do espaço envolvente.

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Fig. 133: Plantas identificação de demolições.

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A nível das madeiras, as estruturais apresentam um razoável estado de conservação, no entanto as que correspondem a soalhos e tetos, encontram-se em estado avançado de degradação, com sinais evidentes. Apodrecimento de soalhos, mais acentuado nas zonas já referidas onde há contacto direto com a água da chuva, queda do forro de teto, apodrecimento e aparecimento de bolores. A modo de curiosidade, a casa deixou de exercer as suas funções habitacionais há algum tempo, pelo que é evidente pela acumulação de detritos e lixos no seu interior. É usada pelos atuais donos, que se dedicam a atividades agrícolas e habitam numa casa anexa ao edifício em estudo; como uma espécie de “armazém” para as suas produções e arrumo de ferramentas. A falta de manutenção é alegada pela falta de recursos económicos que acarretam na manutenção deste tipo de edificado, deixando-o assim, “à mercê do tempo”. As análises de patologias e estado de conservação efetuadas ao edifício foram realizadas de forma visual e ao toque, não tendo recorrido a métodos científicos elaborados nem a maquinaria de análise mais pormenorizada do edifício e estado conservação.

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Fig. 134: Plantas da proposta.

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4.5.

Proposta Procurou-se nesta proposta por em prática alguns dos conhecimentos adquiridos ao

longo desta dissertação tendo em conta as boas práticas na reabilitação de edifícios em adobe. Na reabilitação da “Casa de Brasileiro” em estudo, teve-se como estratégia manter a integridade formal do edifício, assim como a sua função habitacional, intervencionando principalmente no espaço interior de forma a criar espaços mais amplos e funcionais, contornando as divisões de áreas reduzidas, limitadas pelas espessas paredes interiores de adobe. Do ponto de vista estrutural, e apesar do aparente bom estado da fundação e paredes estruturais, procedeu-se de forma a evitar danos futuros, a um reforço da fundação através do seu recalçamento, recorrendo a execução de estacas e viga, esta que funcionará como travamento e consolidação da fundação, mas também como apoio à estrutura da laje do pavimento do rés-do-chão. Devido á fundação ter sido executada em adobe, é importante manter a água longe da estrutura, para isso, o controlo da água por capilaridade será realizado por um sistema de drenagem de água em volta da estrutura do edifício de forma a manter a fundação livre desta. Em termos formais decidiu-se manter a forma original do edifício, mantendo todas as paredes exteriores portantes, procedendo-se à consolidação de fissura através da injeção de argamassa de cal hidráulica. No entanto o mau estado dos revestimentos, azulejos e rebocos, e porque a recuperação dos azulejos danificados e os que foram substituídos por argamassa de cimento em intervenções posteriores, seria um processo demoroso e dispendioso, procedeu-se a remoção de todo o revestimento exterior, substituindo-o por novos rebocos de argamassas à base de cal, caiadas com tintas à base de silicatos com pigmentos naturais, permitindo assim, a livre respiração das paredes evitando os efeitos hidrófugos e a acumulação de humidade nas paredes

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Fig. 135: Planta Cobertura, e cortes da proposta.

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A remoção de todo o reboco exterior possibilitou o reforço das paredes com a aplicação de uma malha sintética e tirantes, dando ao edifício um reforço adicional em relação às questões de reforço sísmico. A nível de vãos manteve-se a caixilharia em madeira, com a aplicação de novas caixilharias com vidro duplo e folha dupla, de forma a proporcionar um melhor conforto térmico interior. Interiormente procedeu-se a demolição de todas as paredes que não desempenham um papel estrutural, ficando apenas as paredes exteriores e as paredes que suportam o piso superior central. Os pavimentos, no piso 0, são elevados criando uma caixa-de-ar para ventilação das estruturas de madeira e fundações. Foram criados dois tipos de pavimentos, para as áreas húmidas, cozinha, serviços e instalações sanitárias, foi criado um pavimento duro, constituído por vigas metálicas de aço e cofragens em chapa de aço galvanizado revestido com um betão leve sobre o qual são aplicados os materiais cerâmicos. Nas áreas secas, quartos e sala comum, a estrutura do pavimento é executada em vigamentos de madeira com soalhos de madeira, assim como todo o piso superior, à exceção da casa de banho. Os tetos são falsos, realizados em placas de gesso cartonado. Em relação às paredes divisórias do piso 0, foram executadas em blocos de BTC, por ser o material mais próximo do bloco de adobe, podendo este ser revestido por material cerâmico, rebocado ou pintado consoante o espaço onde se encontra. As restantes paredes foram rebocadas com argamassas de cal e acabamento em estuque pintado, dando-lhes um aspeto mais homogéneo e liso. As paredes do piso superior foram executadas em tabique, recorrendo a estrutura metálica e placas de gesso cartonado (Pladur), com acabamento fino e pintado. Em relação aos acessos verticais, a escada foram realizadas recorrendo a uma estrutura metálica com degraus em madeira e sem espelhos permitindo a iluminação do espaço através da janela que se encontra no volume da caixa de escadas. Quanto à cobertura, manteve-se o mesmo sistema em asna de madeira à vista nas zonas das águas furtadas, procedendo-se ao isolamento térmico da cobertura e aplicação da telha sobre uma estrutura ventilada. Foram também abertas janelas de sótão, na cobertura

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Fig. 136: Alรงados da proposta.

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para uma melhor iluminação das áreas de águas furtadas. De forma a evitar o escorrimento da água da chuva sobre a superfície das paredes e o agravamento da erosão do reboco, foi criado um sistema de recolha de águas pluviais. Quanto à cobertura, manteve-se o mesmo sistema em asna de madeira à vista nas zonas das águas furtadas, procedendo-se ao isolamento térmico da cobertura e aplicação da telha sobre uma estrutura ventilada. Foram também abertas janelas de sótão, na cobertura para uma melhor iluminação das áreas de águas furtadas. De forma a evitar o escorrimento da água da chuva sobre a superfície das paredes e o agravamento da erosão do reboco, foi criado um sistema de recolha de águas pluviais. Em termos funcionais o edifício desenvolve-se em dois pisos. Ao piso 0 correspondem as áreas sociais e de serviços. A zona social ocupa o espaço central do edifício, funcionando este como elemento de ligação entre o espaço de serviços e uma zona de quartos, de carácter semiprivado, constituído por uma suite e dois quartos com apoio de instalação sanitária, destinado a eventuais visitas/convidados, podendo também ser utilizado pelos donos. O espaço da cozinha abre-se para a zona de jantar criando um espaço amplo que se prolonga para as restastes zonas através das paredes em BTC que não chegam a tocar o teto. Junto à escada criou-se uma casa de banho de apoio e no outro extremo próximo à cozinha, uma lavandaria e dispensa. No piso 1, o volume central, destinado a um quarto principal de casal e uma instalação sanitária, podendo os espaços laterais, das águas furtadas, serem utilizados como espaços de lazer e quartos.

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Fig. 137: Alçado Poente e Corte Construtivo da fundação e cobertura.

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4.6.

Proposta: nota conclusiva Tendo em conta, que cada caso é um caso e as intervenções na reabilitação têm de

ser ajustadas a cada caso em particular, na procura das melhores soluções. Este caso de estudo teve um papel fundamental no entendimento das principais condicionantes, para as quais nos remetem este tipo de construção, e que muitas das vezes não são percetíveis através dos meios teóricos. No desenvolvimento deste projeto surgiram enumeras questões técnicas, das quais, irão ser enumeradas as que se consideraram mais relevantes. A nível da fundação, e por esta havendo sida executada com um material relativamente frágil, o adobe, geram na sua intervenção e reforço alguns problemas. Para que não sejam criados novos danos, quer à fundação quer às paredes estruturais, é importante que a intervenção no reforço da fundação seja executada faseadamente e pontualmente, de forma a prevenir e evitar o aparecimento de fissurações. Outra questão, prede-se com o reforço sísmico destas construções. Neste caso em particular, a remoção do azulejo possibilitou o reforço da estrutura com uma malha sintética, mas em outros casos, onde o azulejo terá uma carga simbólica muito maior, ou pela sua importância ou por se tratar de um painel representativo, o reforço sísmico nesses casos, será claramente mais complexo, havendo a necessidade de intervenções extremas, desde a remoção, preservação dos azulejos e eventual restauro. Do mesmo modo, surge o reforço dos vãos, quando estes são executados em cantaria, a necessidade da malha contornar o vão para reforço da estrutura, encontra-se neste caso condicionada. A possibilidade poderá passar por uma intervenção aproximada da do azulejo, que será, a remoção da cantaria para que se possa contornar o vão com a malha e posteriormente passar à recolocação das pedras no seu respetivos lugar.

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CONCLUSÃO

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Conclusão Desde os primórdios da civilização os materiais naturais, pedra e madeira, têm sido os principais constituintes na criação de abrigos para o Homem, e a terra não foi um elemento descorado prevalecendo até ao presente. Usada essencialmente de duas formas, uma mais natural, em que a terra é escavada diretamente no solo sob forma de criação ou ampliação dos abrigos, grutas, ou sob a forma de modelação, com a conjugação de vários tipos de solo e materiais a terra é transformada num material plástico que pode ser moldado à mão ou com recursos a formas. A terra como elemento construtivo oferece-nos uma variedade enorme de cores, técnicas e formas de construir, tornando-a um material diversificado e com enormes potencialidades, quer no que se refere à massa térmica nas construções quer às suas qualidades de material ecológico. Apesar das suas nobres qualidades, a terra perdeu preferência face às inovações técnicas e ao aparecimento de novos materiais, betão e ferro, chegando mesmo em alguns casos, considerado como um material de segunda muitas das vezes associado a países do terceiro mundo, e por isso considerado um material inferior. É algo que se pode comprovar na atualidade, como exemplo e por ser a área em estudo nesta dissertação, a região de Aveiro, fortemente marcada por uma enorme quantidade de construção em adobe, cerca de 40%. De uma forma em geral, muita da construção em adobe na região tem vindo a ser substituída pelo betão armado e o tijolo cerâmico, e a que prevalece ou é deixada ao abandono até ao seu estado de degradação máximo, ruína, ou então é intervencionada de forma incorreta, muitas vezes por falta de conhecimento técnico e compatibilidades entre materiais, originando problemas de maior gravidade, em que as tentativas de reabilitação se transformam em soluções de maior gravidade face ao estado original antes da intervenção. Foi face a esta problemática das más práticas da intervenção no edificado em adobe que surgiu a necessidade de elaborar este trabalho, procurando de uma forma simples criar uma espécie de guia de boas práticas, para o entendimento das melhores formas de intervencionar no edificado em adobe ou até mesmo em outros executados em terra, de forma

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a preservar este legado, procurando também dar a conhecer um pouco as vantagens do uso da terra como material de construção em alternativa ao betão armado. De um modo geral, as construções em terra têm vindo a ressurgir na atualidade, e em várias partes do mundo, não se limitando apenas aos países em desenvolvimento. As técnicas mais utilizadas na atualidade e a mais comum é a taipa, pela sua homogeneidade e por se aproximar mais do “aspeto e forma” do betão, mas também pela sua capacidade portante, facilidade e rápida execução, face às outras técnicas em terra crua existente. O adobe apesar de ainda utilizado, e tendo sofrido alguma inovação no modo de produção, como o recurso a máquinas na produção do adobe de forma mecânica que rentabilizam a sua produção, o seu longo período de cura tem levado à sua substituição pelo BTC. O bloco de terra comprimida, mantém todas as propriedade do bloco de terra executado à mão, conferindolhe um aspeto mais regular, e maior resistência mecânica e à humidade, assim como a diminuição do tempo de cura para cerca de um mês podendo o ser utilizado, apesar de não recomendado, imediatamente logo após a sua produção. Em particular, na região de Aveiro, pouco ou nada se tem feito pela construção em terra existente, a demolição e abandono tem sido o ato mais comum, havendo alguma reabilitação de edificado com interesse histórico, mas que é realizado por iniciativa camarária. Quanto a nova construção em terra poderá dizer-se que é um fenómeno raro ou inexistente na região. Em suma, a terra está presente em todas as nossas vidas e por isso não deverá ser desprezada. Não se pretende aqui, obrigar à utilização do material terra como elemento prioritário na construção, mas sim, alertar para as qualidades da terra enquanto material de construção na preservação do ambiente, pelos seus baixos custos energéticos e excelentes propriedades ecológicas. A terra apesar de algumas limitações poderá ser utilizada em conjunto com novos materiais, havendo uma conciliação refletida, um pouco a par do que se tem feito na atualidade, ou seja, conciliação entre paredes executadas em terra com suportes estruturais em betão armado.

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ANEXO I ARQUITETURA DE TERRA NO PRESENTE 12

12 NOTA: Procura-se com este anexo, não criar referências de projeto, mas sim, mostrar um pouco do que se tem feito em terra neste ultimo século, e assim demostrar que a arquitetura de terra continua viva e em desenvolvimento em qualquer parte do mundo, seja qual for o estrato socioeconómico ou estado de desenvolvimento do país.

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Fig. 139

Fig. 138: Moradia em Beja. Fig. 139: Fotomontagem de Moradia em Beja.

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Projeto: MORADIA EM BEJA. Arquitetura: Bartolomeu Costa Cabral, João Gomes e Mário Anselmo Crespo. Local: Salvada, Beja, Portugal. Ano: 2006-2008 Construção: taipa; betão armado e madeira.

Fig. 138

Moradia particular localizada numa herdade no distrito de Beja, isolada no campo, longe de qualquer construção e infra estruturas, construída em taipa com a terra das próprias escavações, com cobertura em laje de betão armado e madeira e remates em zinco. Pavimentos executados em tijoleira artesanal, madeira e autonivelante. Paredes rebocadas com argamassa tradicional de cal aérea e caiação com a introdução de pigmentos naturais. Projetada para escultores, a casa foi desenvolvida num só piso, dividido em dois núcleos, habitação e atelier de escultura, separados por um pátio que faz a ligação entre ambos. Paralelamente ao núcleo do atelier foi construída uma parede em taipa aparente, para proteção solar e de remate à piscina. O controlo térmico da cobertura é assegurado por uma camada de 5 cm de água protegida por lajetas isolantes, com um dispositivo de ventiladores destinados a aumentar a evaporação da água durante o verão arrefecendo a água e a casa, e durante o inverno, esta caixa-de-ar permanece encerrada para que o isolamento das placas proteja do frio. Devido ao seu isolamento, a casa foi pensada para ser autónoma, tem água própria através de um furo de captação, energia a partir do sol com painéis fotovoltaicos, água quente através de painéis solares, fossa para os esgotos e aquecimento central com caldeira a gasóleo. Tem ainda uma cisterna para recolha de água da chuva, para a rede de rega e reserva eventual.

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Fig. 141

Fig. 140: Centro de Arquitectura de Terra Fig. 141: Fotomontagem de Centro de Arquitectura de Terra

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Projeto: CENTRO DE ARQUITECTURA DE TERRA. Arquitetura: Diébédo Francis Kéré. Local: Mopti, Mali. Ano: 2010 Construção: BTC Fig. 140

A realização do Centro de Arquitetura de Terra completa uma série de iniciativas do Aga Khan Trust for Culture (AKTC) em Mopti, incluindo a restauração da mesquita e da construção de um novo sistema de drenagem de águas residuais. O edifício é constituído por volumes simples, dividido em três áreas diferentes compostas por sala de exposição, um centro comunitário, banheiros públicos e um restaurante para atender às exigências da comunidade local e do turismo. A construção foi implantada na borda de um lago, e concebido de forma a não comprometer a vista da mesquita. As paredes e abóbadas são construídas em BTC (blocos de terra comprimidos) protegidas por uma cobertura saliente e separada da estrutura proporcionando a ventilação do edifício e áreas de sombra. A nível paisagístico, toda a envolvente do edifício e do lago foi intervencionada, criando grandes espaços públicos e percursos pelas margens do lago.

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Fig. 143

Fig. 142: Casa “Earth Bricks”. Fig. 143: Fotomontagem de Casa “Earth Bricks”.

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Projeto: CASA “EARTH BRICKS”. Arquitetura: Atelier Tekuto Local: Japão Ano: 2011 Construção: Tijolo de Terra (BTC) Fig. 142

Esta foi a primeira casa em terra construída no Japão, projetada pelo atelier Tekuto, e foi conseguida devido ao apoio e compreensão dos clientes, assim como, a colaboração de universidades e profissionais da área. O edifício trata-se de uma habitação privada, com cerca de 50 m², de planta em forma de “vírgula” e estruturalmente construída com alvenaria aparente de blocos de terra comprimida, estabilizado com óxido de magnésio, fazendo com que este tijolo seja 100 % natural. Entre a parede de blocos de terra e a cobertura foram utilizados tijolos de vidro para permitir a entrada de luz natural de uma forma suave. As divisórias interiores são executadas em painéis LVL (Laminated Veneer lumber), e a iluminação interior é feita por duas pequenas claraboias que fazem a iluminação do espaço delimitado pelas paredes de terra.

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Fig. 145

Fig. 144: Casa “Rauch”. Fig. 145: Fotomontagem de Casa “Rauch”.

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Projeto: CASA “RAUCH”. Arquitetura: Roger Boltshauser, Martin Rauch (escultor). Local: Schlins, Áustria. Ano: 2005-2008 Construção: Taipa Fig. 144

A casa em taipa foi projetada pelo arquiteto Roger Boltshauser e pelo escultor Martin Rauch na Áustria, e trata-se de uma reinterpretação contemporânea de uma técnica antiquíssima. A casa encontra-se implantada em uma escarpa inclinada a sul, e a sua volumetria monolítica parece-se com um bloco escultural que surge da terra de forma natural. Toda a terra utilizada na construção foi a adquirida pela escavação das fundações, tendo sido apenas adicionada cal hidráulica na consolidação da terra usada nas fundações. As paredes exteriores são realizadas em taipa com a adição de tiras de tijolos de barro, tipo tijoleira, nos intervalos das diferentes camadas de taipa, com o principal objetivo de acentuar a horizontalidade e criar efeitos de textura, luz e sombra na superfície da parede. Interiormente as paredes foram isoladas com uma câmara-de-ar de 10 cm constituída por canas, dentro das quais passam as tubagens de aquecimento do ar, depois consolidada com uma mistura de argila e finalmente caiadas. Os pavimentos dos pisos inferiores foram criados em terra compactada, através de camadas de granulagem diferentes, cada vez mais finas, sendo na última camada utilizado óleo de linhaça para torná-la mais elástica e para completar, a resistência à abrasão e o efeito hidrófugo foi conseguido com um acabamento de cera de abelha. As lajes dos andares superiores e cobertura foram feitos com traves de madeira e vigas de aço, onde se apoiam os tijolos - cozidos no forno do laboratório de Rauch.

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO Faculdade de Arquitectura e Artes

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