Horror Plasmado em Carvão

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Fernanda Cizescki ◆ Gustavo Perez Lemos ◆ Raul Galli Alves Prosas Líricas, Proposição e Edição: Fernanda Cizescki Poesias e Consultoria Cultural: Gustavo Perez Lemos Ilustração, Diagramação e Direção de Arte: Raul Galli Alves Revisão: Cristiane Seimetz Rodrigues

Criciúma 2015

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“Dar voz ao horror é deixar falar aquele que não se submete.”

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‘ O PREFACI Por Celdon Fritzen

Observam alguns que as narrativas de horror, muitas em intercâmbio com a indústria cinematográfica, têm ganhado contemporaneamente espaço entre o público, o que se interpretaria como uma atitude de busca de entretenimento fácil, de consumo sem memória. Há algo de verdadeiro nisso: não se deve esquecer que esse gênero tem uma história de desprezo de parte da crítica moderna – sem certa razão em muitos casos, mas sem a compreensão do seu significado simbólico em muitos outros. Na raiz desses juízos negativos sobre as narrativas de horror, talvez pudéssemos localizar a adjetivação de infantil, primitivo, do que ainda não se libertou por meio da razão dos medos gerados pela imaginação. “O sono da razão engendra monstros”, lê-se numa das gravuras de Goya, e isso esclarece e ultrapassa o juízo negativo que sobre o horror se possa apressadamente fazer. Talvez possa parecer deslocado, doente para alguns, mas Horror plasmado em carvão suscitou-me o tempo de infância. Isso não significa nem uma biografia perversa, nem que o livro possa ser dito infantil com o significado empobrecedor que se atribui também a esse termo. Antes, como alguém que também nasceu e cresceu em Criciúma, sua leitura desperta aquela intensidade, vigor e arrebatamento provocados pelo poder da narrativa que fala sobre o que amedronta, faz tremer, mas não esqueçamos da dimensão etimológica da palavra horror: causar admiração. Digo isso pensando em história que ouvi nos idos de menino. Ouvi-a de um daqueles mineiros que se viam em décadas passadas, voltando do trabalho, cobertos da poeira do carvão, ressaltados da fuligem apenas os olhos vermelhos e os dentes que restavam quando sorriam. Falando sobre a sensação de descer a mina, esse mineiro, meu vizinho, descrevia numa roda de ouvintes a escuridão maciça que era aquele ambiente quando apagada a luz do carbureto: mexendo a própria mão diante de si, não se tinha dela qualquer percepção. O corpo desaparecia na espessura da treva, emparedado nas sombras daquelas galerias dispersas, enterrado na densidade de uma noite subterrânea. Essa narrativa sempre me acompanhou e seu poder de permanência não pôde deixar de estar associado às mortes nas minas, provocadas de tempos em tempos pelos desabamentos. A mina era o lugar onde se trabalhava para viver, mas também onde se poderia morrer ao trabalhar, locus horrendus. Vinculado a esse horror experimentado na infância a que me refiro, há muitos textos aqui. Caso de “Quero-quero”, os relatos sobre o velho do saco e Maria Sangrenta, por exemplo, além da meditação final do livro. Todos têm, na experiência da infância com o medo, seu motivo, e também isso

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justifica minha evocação à meninice que a leitura de Horror plasmado em carvão me provocou. Mas, para além do sabor de infância e seus assombros que associo a essa leitura, os textos e imagens aqui reunidos suscitam ainda uma reflexão aguda, pois eles dão um significado aparentemente sobrenatural ao que é uma experiência do cotidiano da cidade de Criciúma; ou melhor, dão à impressão de morte causada pela exploração do carvão nas paisagens e rios da cidade uma revelação estética. Como poderíamos assim não entender o poema o “Monstro do rio Criciúma”, poema que recupera um passado de crueldade e reforça a ideia de que todo documento de civilização é também documento de barbárie? Ele condensa uma revelação estética que também é histórica e social: nossa cidade ergueu-se sobre tumbas que desejaria recalcar, mas as quais insistem, daí sermos assombrados. A tal sugestão também procede o texto sobre a vizinhança entre o cemitério e o Paço Municipal. O horror aqui assume dimensão política, e poemas como “Caveira Sangue” e “Andarilha” reforçam essa inter-relação. Deve ainda ser mencionado que essa revelação estética da cidade, feita a partir da arqueologia do horror, não se sustentaria sem um cuidado especial com a linguagem usada pelos autores. O registro dos textos é de múltipla estirpe. Em alguns poemas, parece-nos ouvir a voz ancestral do narrador popular em quadras e redondilhas. Esse aparente registro de folclorista, porém, alterna com uma voz mais contemporânea que aparece em ”Haikais do Satanás” e “O copo”, por exemplo. Ao lado dos poemas, a prosa num tom mais solene e introspectivo também testemunha essa variedade de registros. Variedade que, sublinhe-se aqui, o texto sobre o mineiro soterrado usa como estratégia retórica, ao sugerir a possessão demoníaca do narrador pela transformação da sua inicial fala simplória numa outra, sofisticada, quase pernóstica. Riqueza e cuidado de linguagem que também cabem às ilustrações, as quais trazem, no predomínio da escuridão, uma referência ao negro mineral do carvão como sua dominante, mas não se deixe de mencionar o flerte com as HQs que os desenhos evocam e o que, ao fim, reforça essa multiplicidade de vozes e efeitos que Horror plasmado em carvão organiza. Multiplicidade esta que outros leitores poderão também ver em relação a outros temas que atravessam os textos, tais como o sexo e a morte, o diálogo com lendas urbanas, a tradição gótica etc. Há muito que se pode colher nesse cemitério soterrado pela cidade e que se fez escavar para se revelar a própria cidade. Afinal, se o sono da razão engendra monstros, o engendrar também é a vitória sobre o monstro, dando-lhe forma, expressão e permitindo que a cidade possa ser mais plena, porque mais cônscia de que sua história não é só feita de paços, mas de muitos cemitérios.

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QUERO-QUERO Quero-quero arrancador de olhos. Bicho malino defensor de bruxa. Mora no crânio dum cavalo morto, na beira dum riacho sulfuroso de pirita cheio, ali no pé do morro. O quero-quero arrancador de olhos já foi moleque soltador de pipa, já foi guri pisador de pantâno. Matava gato só pra ver as tripas. Em sexta-feira, treze de agosto, saiu pra caçar rã lá no riacho morto. Foi e não voltou antes de sete dias, voltou sem os olhos, braços e a língua. Voltou feito o riacho, assim, já meio morto. Não sabia o povo então, mas o menino acertou com a funda a bruxa bem na testa, quando ela era virada num bicho suíno e devorava cobra jiboia indigesta. A bruxa estrebuchou e lançou um feitiço de virar o menino num lacaio seu. Um quero-quero arrancador de olhos pra fazer demonhice a mando de Asmodeu.

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Era tal qual um zumbi na rua do sapo seco e ao mesmo tempo o quero-quero da bruxa tinhosa. Especialista em matar morcego, arrancar olho de criança e de mulher idosa. E uma vez, ao ver uma menina brincando perto do rio das piritas, o quero-quero até ficou com pena. Porém a bruxa precisava de canela fina. E quero-quero mergulhou zunindo num parafuso insólito e insolente. Só foi contido por chumbinho certo, da espingarda da menina. Que presente! A maldição da bruxa foi rompida e alma do menino descansou no além. Mas sem escravo, sabe, o cão não fica, e a menina virou quero-quero também.

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al sabia minha família que, secretamente, eu sempre esperava o velho do saco passar, à espreita. Eu queria conhecê-lo

e escrutinar-lhe a bagagem. Saber se as lendas eram verdade. Constituía-me, sem dar por conta, uma criança cientista, que precisava observar o que lhe era dito. Tinha medo, claro. Quem não teria?! Mas o saco do velho me instigava. Como seriam retalhadas as crianças para caberem no saco?! Haveria crianças podres, semi-vivas?! Ou formariam elas uma massa pútrida indistinguível? Queria perceber se, de repente, não despontaria uma mãozinha espasmódica, um pezinho vivente ou mesmo vísceras horrendas. Mas mais do que isso, atraía-me fantasiar como eu poderia escapar dele. Quais golpes eu poderia desferir contra ele. Era uma relação de fascínio e temor. Se eu o colocasse no chão, eu o investigaria, certamente. Aprofundar-me-ia em cada uma de suas rugas, tentando ver a que criança elas equivalem. As mais profundas remeteriam às mais antigas ou às que mais sofreram? Ou às personalidades? Sim! Às personalidades! O velho do saco deve carregar em si as mais diversas individualidades, e suas rugas são resquícios do que as crianças seriam se não tivessem deixado de existir. Seus vincos mais suaves teriam sido crianças inigualavelmente doces e simpáticas. Os mais profundos; filósofos. Os mais delineados; pessoas firmes e deci-

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didas. Todavia, elas todas foram ceifadas de ser. Por isso, eu, para constituir-me em toda minha potência, em todo meu desejo de ser, precisava estudar aquele que me ameaçava de não ser. Precisava estudar as formas de me precaver. E não há maneira mais eficaz de afastar algo de si do que conhecer-lhe até as entranhas.

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VI RGENS DA CORDA BAMBA Missa de sétimo dia das virgens da Corda Bamba encontradas desfiguradas em poças de sangue Assim sonhou Seu João, Ogã do Terreiro das Matas, e lembrou das irmãs beatas recém-chegadas Vinham pra Mina Quatro nas terras da companhia barracos sobre as piritas: rejeito é pedaço de chão. Vinham escorraçadas por conta de feitiçarias ou prováveis histerias Será quem tinha razão? Mataram mineiro coitado, com o teto da mina em seu peito. Diziam também de um sujeito que se pendurou enforcado.

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Outro era trabalhador da cooperativa de luz contam as línguas do povo morreu em forma de cruz Se as três virgens dançavam, morriam os bois no sereno. Se duas delas choravam, estrebuchavam os cães de veneno. O pai das pobres meninas, diziam que fora pastor, mas se um mirava em seus olhos sentia somente o terror A mãe nunca foi vista nas ruas da vizinhança. Quem espiou na janela, foi-se embora na ambulância. Seu João da gira da umbanda pressentiu algo anormal nas virgens que ao redor emanavam zicas nefandas

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Rezou pra Xangô da justiça pediu clarão no caminho viu nas beatas carniças e em volta seres daninhos Então resolveu ir à casa, ao foco da infestação. Na mão, reluzente machado certo da sua intenção. Porém, ao tombar a porta morreu de horror e vertigem: um ser infernal, metade bode, comia o fêmur de uma virgem. Missa de sétimo dia de Seu João boa-praça: à noite dançavam três virgens na sepultura, de pirraça.

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into nesse momento uma raiva às escuras, indiscreta, insinuante, velada. Uma raiva da diferença que há aos milhares em mim, raiva de sentir, tanto que só velando as emoções eu pa-

reço senti-las de verdade. Sou a contradição e quem contradiz. Sou do contra, do contra todos, contra mim. E só porque me lembro do escuro e de um guarda-chuva, guardo raiva. Raiva limítrofe, tinhosa. Como se, por fora, ela pudesse se espalhar como se espalhava por mim naquele momento em que nem a água relaxante parecia fazer efeito. E esse escuro que me consome, e essa ânsia por ter o que não tenho, mas sem querer ter verdadeiramente... E o que quero é simplesmente saber que posso ter a alma desses seres ignóbeis, saber que, nesse momento, eu posso fazer a diferença para que eles cruzem a barreira da existência. E qualquer emotividade se transforma em raiva. E... E... Eu olho para os lados de minha memória, busco uma cor, um rosto... e não vejo. Busco um som, um mar, uma palavra. Não lembro. Eu, que me fechei na bizarrice e me construí bizarra pelo prazer do jogo, eu, que confundia a mim mesma quando intentava alucinar outros em meio a minha multiplicidade, aproximei-me do caos aos dezesseis e me consumi no abismo aos dezessete. Rememoro, dessa época, a clausura e a raiva que trouxe comigo após lançar-me naquela cachoeira. Ainda agora, posso fechar meus olhos e senti-la, novamente, como naquele dia: intensa, mais forte e mais sincera que eu...

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O MONSTRO DO ‘ RI O CRICIUMA Caiu Garapuvu, grande pajé linhagem de Nhamandu, feixe solar Bacamarteiros Bugreiros com as orelhas de toda a família de Garapuvu num colar Fuzilaram o velho senhor das florestas Deceparam as mãos do ouvinte das almas sua cabeça coberta de plumas virou uma pedra na beira do rio das criciúmas Partiu Garapuvu grande pajé Seus ossos desceram às águas para se deitar O espírito obedeceu a Nhamandu E foi desde então do rio o mestre solar Passaram as águas, o povo e as luas Muitas bordunas tombaram ao chão Bugreiros tomaram as matas imbuias Tristeza e a terra virou em carvão Gemeu Garapuvu grande pajé pois ele era o rio destruído do lixo e do enxofre Por anos a fio engoliu as fezes da indústria Trancafiado nos canos, sob a cidade ingrata

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Vingança e pirita. Esgoto e rejeito. Ganâncias e restos. O inferno que habita em todo o leito Concreto impossível em todo o chão Lodo pútrido toma forma o espectro Antes puro elemental, agora decomposição à noite um bueiro estoura na praça e o ser inumano sai à procura dos inocentes filhos dos filhos dos podres bugreiros filhos da usura Vem pelos ralos, pelas privadas a justa vingança feita em chorume Retalha os corpos sem deixar rastros apenas o sangue e o cheiro de estrume Quem viu a fera garante que traz um colar de cabeças e um ódio voraz um rugido assombroso e causa torpor por matar sem ter pena mas quase chorar ao ver uma flor

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lha, eu nem sei direito dessas coisa de religião dusespíritu, mas que tem coisa bizarra no mundo, isso tem. Se é deus, o diabo ou algum espirituzinhu do cão,

não sei. Mas sabe como é, com ou sem alma penada, trabalho pra sustentar a casa, ... trabalho pesado lá na mina. As mina aqui dão dinheiro, mais ainda por causa do... da tal periculosidade, sabe?! Mas perigo mesmo, nem tá na mina. Perigo tá é nas coisa que a mina esconde no meio das parede. Eu me admiro dessas coisa. Meus companhero se cagam tudo de medo, mas eu não: em vez de ter medo, procuro, cutuco. Se deixar, vou lá e tomo um café cudemo, mas parecia que ele não era muito chegado nos café da vida. Muito doce pra ele, eu acho. Mas bah, um dia eu tava lá, minando, e o pessoal assustado, assustado, porque começou umas batida atrás das pedra. Diz que um mineiro morreu ali soterrado quando trabalhava. Dizem, né?! Mas parece que morreu sim. Aí tu vê, todo mundo saía de perto e não trabalhava ali. Eu trabalhava. Queria era me comunicar com aquelas batida. Vai que a gente se entende, né?! Eu e o tal mineiro soterrado. Todo dia, as batidas me transformavam. Cada uma acertava um ponto de minha existência, desde de antes de eu ser eu. Estava me comunicando com algo além-pedra, ou talvez com a própria pedra. Passei a sonhar, sem saber o que sonhava, mas acordava diferente. O ritmo de minhas ferramentas contra as

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paredes era cadenciado. Cadenciado?! O que é isso?! Não sei, mas elas vêm, as palavras. Invadem-me. Meu cérebro produz e elucubra saídas e potências. O carvão, parece-me, traz inscritos os modos de falar de todos os nossos antepassados. Se há alguma magia nesse espírito da pedra, é a magia de significar pequenos sons e indexá-los às batidas. Indexá-los?! Não hei de me reconhecer em mim nos dias subsequentes. Tenho um terror de assujeitamento que me aflige. Quanto mais reflito, com essas batidas, mais me encontro e não me vejo em mim. Não me reconhecem em casa. Dar-me-ão safanões. Calor carvoeiro da pedra que bate, quero a ti fundir-me, perder-me, impregnar meus pulmões até que parem, petrificados aos teus minérios, porque a vida, a vida estanca, a vida paralisa. Petrificar-me é salvar-me. Aí assim, eu tenho tido essas tentativa de falar com o espírito e acabo tendo um ou outro sonho estranho. Aí, por isso, vim aqui pra ver se vocês dão jeito, vocês que sabem dusespíritu. Embora saibamos não haver sanidade que resista à indelével presença do etéreo.

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O COPO

Malditos cânticos, insofismáveis hinos em torno à mesa, em prece: ave-maligna. No mesmo instante, o repicar dos sinos estremeceu até quem não vivia. O copo virgem sob os nossos dedos corria as letras a dizer quem era: no Cemitério do Brasília foi coveiro e por desleixo sucumbiu às tristes trevas. “O digno labor no campo-santo traz ao vivente pesada obrigação: dar honra e paz a todos os finados, mas respeitar os rituais dos que não são.” E num agosto gélido e sem vida, sobre o sepulcro de suposta feiticeira, viu um cálice de vinho solitário. Ao beber, percebeu sua desfeita.

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De pronto, lâminas sentiu em seu esôfago e três demônios zombaram-lhe infectos. E entre os grunhidos rotos dos espectros, viu-se insepulto, vítima das feras. O terror arquejante das mandíbulas, o findar do relato revelou. E entre os planos do irreal criou-se a fístula, de miasmas cheio, o copo estilhaçou. Se hoje me atrevo a contar essa heresia é por castigo ao meu agir imponderado, pois o coveiro ainda mostra-me as vísceras e os demônios desse copo, seu escárnio.

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u, criança mórbida, quis fixar meu olhar no espelho e, num eu diverso de mim, mas absolutamente real em sua desfiguração, encontrar o alento do medo, o alívio da hora

de fechar os olhos. E, de repente, todos os traços, toda vida circundante se esvaíam para dar lugar à tão esperada mostra de coisa diversa de mim, mas constitutiva de meu lado negro. Era, então, que eu me tornava minha própria Maria Sangrenta. Nenhum ser externo a mim se projetava naquele espelho de moldura marrom, pesada e totêmica. Era amedrontador, torto, de olhos que ora derretiam, ora afundavam, de carrancas impronunciadas, espasmódicas, o rosto que se desfigurava; mas era o meu próprio e eu não só sabia disso, eu vivia a possibilidade de ser metamorficamente sangrenta e horrenda. Hão de chamar, um dia, meu próprio nome três vezes. De tanto ali estar, houve a fusão, a deslimitação entre mim e ela. Meus pensamentos vagavam como se ela eu sempre tivesse sido, mas não, não: sempre fui dela. O momento da desapropriação de meu corpo alcançou completude quando ela penetrou em mim, lançando-me o espírito ao espelho. Chamaram, então, três vezes, meu próprio nome: Maria Sangrenta. Morri para meu próprio corpo, nasci para caçar e refletir o lado vil e temeroso de todos que ousam se encontrar comigo. Reflito-lhes a obscuridade que não revelam nem a si próprios, alimento-me de suas antigas faces sorridentes e

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vomito-lhes cada blasfêmia, cada ato asqueroso, cada repugnância que sentem, todas as faltas de respeito e absolutamente todas as atitudes arrogantes putrefazendo-lhes o rosto refletido, provocando-lhes o escorrimento do medo junto com os olhos a cada respirada ofegante. Hei de destruir todos os rostos, até encontrar um que suporte, que aceite suas facetas todas para além da desfiguração, que resista ao mundo e cujo corpo me caiba, porque a Maria Sangrenta não é uma entidade, é um lugar que escolhe quem o serve.

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CAVEI R A SANGUE Caveira Sangue te chamo aqui pra ziquizira não me ruir Caveira Sangue chamei porque nosso amiguinho quer mais poder Viu uma galega quer seu amor e quer uma vaga de vereador Caveira Sangue se tu cumprir ele promete teimar pra ti Passar projeto aprovar má lei pros moço esperto embolsar de vez O que de bom sobrou na cidade Caveira Sangue sua gangue é craque Caveira Sangue toma o que é teu o pé de bode, o dedão de ateu

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HAIK AIS DO SATANAIS #1 ManhĂŁ de agosto: sobre a sepultura vejo o encosto #2 Pesada esta caveira quando era tua e andava cheia #3 Andava pelos trilhos depois de assassinar os quatro filhos #4 Regurgitava o embruxado tesoura sob a cama ĂŠ mau-olhado #5 Um egum e um pastor saberia tu julgar melhor ator?

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ansada dos dias quentes e tediosos de nossa adorada bacia de carvão, fui induzida a dormir pela específica letargia que esses dias provocam. Eis que o mundo começa

a girar, louca e furiosamente, mas não é o torpor do calor, pois eu sequer o sinto agora. É outra coisa, uma espécie de vórtice alucinado e desmedido. Em meus olhos mentais, eu vejo multíplices acontecimentos. O teto de minha casa está se aproximando de mim. Não, não está. Eu que dele me acer-

co. Flutuo, e a forma como isso acontece passa a tolher meu raciocínio, como se em alguns momentos eu fosse parar de pensar. Desfaço-me, mesclo-me ao forro, como que impelida violentamente para fora de meu quarto. Pressão. Sinto uma pressão no peito, preciso voltar, vou morrer. Meu corpo, quero meu corpo. Estão pegando em minha mão. Calma. Sinto calma. É macia como a mais aveludada mão feminina. Impossivelmente na temperatura ideal, na calma perfeita. Está me guiando. Vejo o céu de perto, muito perto. Mais próximo que todos os conceitos de firmamento por mim conhecidos. Vejo uma imagem, uma criação nas nuvens. Há um ser não humano, plasmado em luz, ele trabalha incansavelmente como um escultor que cria algo relevante e original. Surgem curvas, bonitas, lascivas, sinuosas e insinuantes. Uma mulher linda, atraente, exótica e erótica. Na sequência, surge outro ser. Desta vez, entendo que é um homem. Naturalmente forte,

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bonito, bem apresentável. Não entendo, sigo vendo. Unem-se. Começam um sexo tradicional: ele por cima, ela por baixo. A mulher parece gostar; ambos parecem iniciantes. A cena se repete. A mulher se empolga e tenta, sem sucesso, insinuar-se por cima do homem e tentar posições novas. Ele a tolhe e repreende. Ela reluta. Tenta sexo oral. Ele repulsa. Indignada, volta ao ser de luz, que lhe repreende de maneira ainda mais visceral, expulsando-a do local e da presença do homem. Guia-me a mão velozmente no rastro da mulher recém-expulsa. Ela vaga. Eu a sigo. São inúmeros mares, terras, montanhas. Desponta, então, após infindáveis dias de solidão e desespero, a mão rosácea de outro homem. Este de rosto angular e feições firmes. Abraça-a, deseja-a, permite a ela que faça o que o momento suscita. Chegam outras mulheres que a tocam, beijam e enaltecem. Seguem, após excitante sexo, para um mar de cor vermelha. Lá, eu a percebo montando família e vivendo livremente. Passa, então, a metamorficamente poder se tornar um animal. Escolhe a cobra. Percebo que são todos demônios e que ela se tornara um deles. Bizarramente, não tenho medo. Aproxima-se de mim, flutuando, a cobra e, enrolando-se em meus braços, fita-me. No exato instante do olhar, percebi-me no fundo dos olhos daquele ser: eu, mulher, diferente, multíplice. Todos os momentos em que fui submissa passaram em minha mente, rápidos, fugazes e percebi: não precisava mais deles. Precisava somente ter um ca-

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minho, construir minha própria trilha, pisá-la até o fim, entendê-la como minha, visceral e pronta para ser vivida, sem submissões a regras morais ou estereótipos, sem restrições de amores, sexos ou desejos. Segui, então, a mão que me guiava e espantei-me ao vê-la, a própria, a primeira. Sabia o seu nome: Lilith. Fitando profundamente os da serpente, entendi que, embora digam ser os demônios símbolos de toda malevolência, o perigo representado por eles está mais na subversão que espalham do que em poças infindáveis de fogo e sofrimento. Pasmada, balbuciei minha epifania: Dar voz ao horror é deixar falar aquele que não se submete.

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oando em círculos, acompanhando o som eles vão... Exaltando-se, rodopiando, espiralmente, sem paradas, entre suspiros. A respiração pulando com as notas, e a memória do cora-

ção a bater de acordo com os leves passos da dança... Penas? Ou simples acordes flutuantes? Borboletas negras batendo as asas ao mesmo tempo, distantes da ferrugem e do carvão, próximas ao início do caos. A própria vida se reduz à simples esperança de alimentar-se da desorganização total, da inversão entre vida, morte e sabe-se lá mais quais instâncias etéreas. Mas não importa... vale o som a entrar pelos poros desses dois seres, neste momento igual. Ébrios pelas vertigens do círculo traçado por seus corpos esvoaçantes, completamente livres das amarras da gravidade. O respirar funesto, ora lento e preenchido pela tranquilidade musical, vai acelerando-se com o coração e seus passos certeiros, inconstantes e rebeldes. A força dos movimentos vem do olhar instigante dessa mulher coberta de sensualidade, malícia e graça. Suas mãos comportam-se como as de um maestro iniciante, mas firmes e seguras a ponto de enganar os veteranos. A mão traça linhas curvas, espirais, hipnóticas, que misteriosamente acompanham o balançar do vestido roxo, brilhante. O balançar do corpo faz as formas saltarem aos olhos. Os seios acompanham inocentemente os braços e tronco, enfeitiçando almas. E esse feitiço enche de lascívia os olhares discretos afunilados por entre as tumbas de onde todos emergem.

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NEPOMUCENO

“Nepomuceno, por favor, acorda agora. Sai do teu sonho de fronteiras, tão pequeno. Pensas que a vida é apenas pinga e fumo? Ainda não viste o pandemônio, Nepomuceno. Nepomuceno, um privilégio te será dado. Sai dessa cama e vai lá fora, sente o sereno. Não estás cansado desta lida e tudo? Pois abre os olhos e contempla, Nepomuceno: O céu escuro, o salpicão de estrelas os proto-seres, incontáveis eras, indescritíveis mundos. Ilustração inútil aos vãos primatas do planeta Terra. Nepomuceno, percebeste? Não controlas teu frágil corpo e nem mais teus pensamentos. Foste criado para descartável uso; um títere e mais nada, Nepomuceno.

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És o rato dos teus labirintos. Tal qual a lesma ignorante sob a relva. Uma cobaia para o nosso intuito: criar a nova colônia terra.” Por sobre a serra e depois rente ao milharal, desliza o bólido, incandescente e soberano. Nepomuceno, entrevado e observando, escuta os passos e o derrube do umbral. Nem nos mais hediondos sonhos, Nepomuceno, verás pior terror a tua porta. Nem olhar mais impassível, não terreno, e a pele cinza de verniz, tal gente morta.

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aminhei pela desolação restante das chamas governamentais de nosso coração carvoeiro e não pude evitar dar-me conta da mais pura obviedade do Paço Municipal: o Cemitério. Hoje, já

não importa mais qual deles veio primeiro, mas, embora falha para esse dado histórico, minha memória lasciva insinua lembranças de fogo também no palco do teatro, exatamente sete anos atrás. Sete anos. Digam o que quiserem, mas o número é significativo. Além do mais, há toda sorte de defuntos ali: os que devem para a prefeitura, aqueles para quem ela devia, os que com ela tiveram problemas desde sua primeira gestão, outros anarquistas, zoeirinhos, opositores coléricos. Imagine! Os espíritos dali estão fadados à eternidade e à etereidade. Não precisam dormir e, cada vez que decidem passear por nosso solo, esbarram no Paço e na natureza que o circunda. Não serão pegos, nem responsabilizados se tentarem interferir em nossa dimensão. Afinal, poucos os veem para que possam ser levados a sério, mas eu os vejo por entre os longos caminhos de grama e vegetação do Paço e de suas imediações. Vejo a eles e aos pululantes espíritos da natureza que tentam, sem sucesso, entre trapaças e brincadeiras, manter o equilíbrio do local. Alguns tolos crêem que isso é interferência de rituais ou de despachos nas encruzilhadas próximas, mas não é nem isso, nem os inocentes vinhos de adolescentes góticos por entre as tumbas. Ao fim das contas, o que se dá é o mais puro reflexo do rabugento tédio sepulcral.

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ANDARILHA Ia nua pelos trilhos entre os seres maltrapilhos vis cracudos andarilhos cambaleantes serviçais. Pés sangrentos, mãos quebradas, desviava de agulhadas desferidas pelos rotos psicóticos fatais. Foi garota de alta soma das famílias de persona, gananciosa e em redomas só viveu e nada mais. … Então, conheceu este rapaz Futuro vereador e olhos cor celestiais … Mal sabia que era o prêmio, troféu do noivo abstêmio. Dos malignos, laudêmio, prometida em rituais. … Casou-se, e finda a eleição, pouco depois Cobradas foram as dívidas usuais …

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Meses desaparecida presa em casa carcomida rente aos trilhos, mas perdida lá nos quintos dos umbrais … Escrava de Caveira Sangue, sob vigia de seres abissais … Na imprensa, seu esposo entre preces pesaroso conquistava belicoso mais benesses estatais. … E aos mascates concorrentes do seixo venenoso, exigia no atacado as penas capitais … Porém, o jovem senhor, em dia frouxo singular, por três segundos ruminou na tormenta da coitada que trocou por seu altar

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e na casa pestilenta, a garota em vil placenta viu’ma fresta lua benta libertou-se e foi à rua … Ia nua pelos trilhos entre os seres maltrapilhos vis cracudos andarilhos cambaleantes serviçais … Ao chegar na avenida, uma névoa apodrecida fez-se em sólida guarita a impedir uns passos mais … névoa podre de segredos, mui secretos infernais … E os eguns em algazarra envolveram-na em bizarra procissão e, então, uma garra arrastou-a aos espectrais senis senhores do vício ventríloquos do vereador, de olhos cor celestiais

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que é quando te presentificas na solidão de meus aposentos, mulher alada? Pois que não és natural, nem sobrenatural. Esse teu ser sexual e subversivo tira-me

dos limites da própria cama e instaura a anarquia e a libertinagem em meu universo particular. Às vezes acho que é só minha ardência fundacional imaginando formas de sanar os instintos do corpo, como válvulas de escape para uma realidade torpe e insossa, mas outras te sinto tão real e avassaladora no silêncio dominador, matreiro e sensual que exalas enquanto percorres meu corpo sonolento, prendendo-me com tuas amarras etéreas, que... Não! Não és real, vassala de Satã! Eu só posso estar te criando! Por que silencias quando te interrogo, metamorfose de todas as mulheres que desejo? Tento a respiração para espantar-te, mas sai-me o suspiro enviesado. Não haveria algo para além do silêncio rubro que nos une? Há o gemido que perfura o silêncio e exalta os batimentos. Quando me dou conta, ali está, em mim, vil demônio do gozo, dominando-me o sexo e os poros, conseguindo tocar desde minhas camadas mais superficiais até os recônditos, pressionando meu corpo, esmagando minhas esperanças e substituindo todas elas, exatamente todas, por gemidos. Assim seja, até que a existência seja resumida ao teu toque, à transformação viciante que me impões a cada noite, quando sucumbo à nulidade.

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O DI ABO DA QUARESMA Nas festas de carnaval, os corpos, templos do cristo, olvidavam o dito santo e o pecado corria listo. Os beijos, lança-perfumes. O reino do cão mais perto. Na quarta-feira, o chorume e as cinzas do come-quieto. Seguindo quarenta dias, para afastar o enxofre, requer-se novena e missa, chibata, silício e fome. Mas credo, há quem padeça de um paganismo tardio. Ou tem a cachola espessa, crânio apenas e o vazio. E dá-se ao desfrute insano, aos bacanais insensatos. Vibra na orgia o profano ao brincar com sérios fatos.

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Ouvindo, o tal Belzebu, o estalar do batidão, sorri pois manda o tabu preparar seu caldeirão. Assim um dia, Laurinha, filha de Bento, mui digno, por má influência das best, seguiu à boate Signus. Conheceu jovem mancebo. Um dançarino que só. Chapéu de fino rebento. E o pé virado, que dó. Tinha a pele vermelha, por muito tempo no sol. E era moda a unha preta no bairro do Metropol. Bailaram até madrugada sem sobressalto ou acinte. Às vezes surgiam moscas, baratas então, mais de vinte.

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Às cinco e passadas horas, o moço deu passo pra trás, disse: preciso ir embora! E tu? Vens comigo, quiçá? Laura que nunca fizera loucuras nem farras na vida jogou-se nos braços do homem “mas nem sei teu nome ainda”. E nisto quitou-lhe o chapéu e viu suas aspas fatais “Prazer, ó bela novinha, chama-me assim: Satanás” E o chão putrefato rompeu engolindo a pobre e o cramulhão. Aqui e acolá se ouviram gritos mas o dj subiu o som.

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O CI RCO O vento, e seu coral de almas açoitadas, trouxe à bacia carbonífera um circo A lona, bolorenta e depauperada, é esticada por um homem gordo e anões raquíticos Grande circo de Shaitan, em pleno bairro Santa Bárbara As mães, enlouquecidas pela criançada, estranham os animais em suas jaulas, tão franzinos Os leões sonham com esse banquete de entranhas frescas Os palhaços perturbam as pobres mães com seus olhares e afiam os dentes para a grande noite do espetáculo

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E

is que eu, devaneante e heraclitiano eu lírico, escrevo no exato momento do fim. Um fim que não se configura como único e esporádico por ser, talvez, um fim polissêmi-

co, como a própria existência ou o fim dela. Esse fim, que provoca “Angst”, é a transfiguração do que se pode ser além das lendas, na própria vida... Diz-se que a morte, o pós-morte, os próprios mortos, os fantasmas e toda a sorte de entidades são o terror, mas não... Enquanto eu lírico multifacetado que sou, dei-me conta de que o horror nada mais é do que uma faceta constituinte do próprio modo de ser humano. Viver o medo, mesmo em histórias de terror, é uma forma de conhecê-lo sem precisar, de fato, temê-lo. É uma maneira de tocar a vileza, aproximar-se das mais diversas e perigosas situações sem, de fato, arriscar-se e, ao mesmo tempo, afastar-se do antropofagismo do mundo em que se vive, da pressão daquilo que, veladamente, controla e consome. Então, de súbito, vi: ao contrário de cegar, o horror pode, enquanto presentificação do que causa terror, mostrar em que lugar se está sendo tolhido, podado, impedido de ser pensante e questionador. É-se facilmente manipulado no medo. Eu, absolutamente lírico, em todas às vezes que, aqui, fui criança, ao pensar em sair de casa só, tive medo de o velho do saco me pegar e, quando adolescente, relutante fiquei perante a proposta de me divertir na boate durante a quaresma. Em minha espinha, senti os

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calafrios mediante as paredes da mina que abrigavam espíritos da pedra e o incansável defunto soterrado. Senti-me perpassado e possuído pelo temor de que os mortos voltassem, ora como seres horrendos e sem compaixão, ora como seres leves e felizes. Mas isso foi a figuração do receio de as pessoas não serem o que demonstram ser ou de serem mais leves e felizes que eu. Estive imerso no medo do desconhecido, na lenda que explica o que inexplicável, na pressão que leva pessoas ao suicídio. No entanto, também senti a mais profunda atração pelo que amedronta, pois chamar Maria Sangrenta, fazer a brincadeira do copo, significa que estou, de alguma maneira, preparado para encarar o medo. Ousaria dizer que só ao encarar os medos a nós impostos e desvelar o poder que sobre nós exercem, podemos sacrificar nossos temores e frustrações, provocando em nós mesmos a morte daquilo que já não cabe. Afinal, morrer, nesse sentido simbólico, é transmutar-se, transfigurar a própria ignorância e, assim, descobrir: na morte, nos conhecemos.

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AGR ADECIMENTOS Agradecimentos gerais: Fundação Cultural, Conselho Municipal de Cultura e Prefeitura de Criciúma, Celdon Fritzen, Sander Hahn, Estúdio Tanuki, Gráfica Etiketa e a todas as pessoas que de alguma forma apoiaram o lançamento deste livro. Fernanda Cizescki: Aos meus ancestrais, pela sabedoria. Aos meus atuais, Raul, Cris e Celdon, pela parceria. Gustavo Perez Lemos: Aos tantos amigos que se dispuseram a contar histórias de terror para ajudar na inspiração. À minha amada pela paciência em ouvir as tateações literárias intermináveis. Aos nossos protetores por ajudar a por a mão no lodo sem se machucar.... Raul Galli Alves: À toda minha família (em especial minha mãe, Jaqueline, e minha namorada, Fernanda), aos meus ídolos e mestres (Daniel HDR, Rildo, Angélica, Rafael Alburuqerque, Mateus Santolouco) e a todos os meus amigos. São muitos pra citar, mas vocês sabem quem são. =)

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FERNANDA CIZESCKI

Nascida em berço de pirita e desde muito cedo amante da leitura e da escrita, Fer foi absorvida pela literatura de horror e de introspecção. Figuram entre seus autores mais estimados: Proust, Baudelaire, Byron, Lispector, Fernando Pessoa e Poe. Fer constituiu sua caminhada intelectual estudando Filosofia, Literatura, Linguística e flertando com ciências formais como a Física e a Astronomia. Graduou-se em Letras Português/ Inglês em 2006 (UNESC) e obteve seu grau de doutora em Linguística em 2013 (UFSC). Atualmente é professora universitária (UNESC) e passa seus dias à base de café preto, sem açúcar e quente, pois a vida não é amarga o suficiente. blacklilith69@gmail.com

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GUSTAVO PEREZ LEMOS

Nascido no bairro Imigrantes, foi a Próspera que lhe deu régua e compasso. Devora livros de todos os tipos e foi proibido pelo FMI de entrar em sebos. Quis ser jornalista, economista, psicólogo e sociólogo. Tentou ser tudo ao mesmo tempo e formou-se em História pela UFSC (2004), onde também fez mestrado em História Cultural (2008). Já que Drummond disse que podia, resolveu ser funcionário público na vida, embora da vida mesmo queira muito mais a música e a poesia. Recebeu, em 2012, prêmio da Academia Criciumense de Letras pela poesia Tambores no Sambaqui. Brinca de músico e compositor e teve algumas canções gravadas pelos malucos da cidade. perezfuentes@yahoo.com

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R AUL GALLI ALVES

Natural de Passo Fundo/RS, radicado em Criciúma/SC e desenha desde que conseguiu segurar um lápis pela primeira vez. Formou-se em Artes Visuais em 2006 e, em 2010, realizou um curso de histórias em quadrinhos com Rafael Albuquerque e Mateus Santolouco, na extinta Quanta de Porto Alegre. Desde então, tenta fazer quadrinhos e ilustrações com mais dedicação. Seu principal trabalho é Terra Incognita, uma HQ de aventura e magia que pode ser lida online em terraincognitahq.com. Raulzito também é um dos raríssimos profissionais de criação que não bebe café. Talvez o único.

raulzito2112@yahoo.com.br

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