PEDALAR E CAMINHAR AO LONGO DOS TRILHOS FERROVIÁRIOS DE ASSIS, UM CONVITE

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RAYANE EMONALIZA DE LIMA BEZERRA

PEDALAR E CAMINHAR AO LONGO DOS TRILHOS FERROVIÁRIOS DE ASSIS, UM CONVITE

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Dr. Gilson Bergoc Jacob

Londrina 2021


RAYANE EMONALIZA DE LIMA BEZERRA

PEDALAR E CAMINHAR AO LONGO DOS TRILHOS FERROVIÁRIOS DE ASSIS, UM CONVITE

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Departamento

de

Arquitetura

e

Urbanismo,

da

BANCA EXAMINADORA ____________________________________

Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial

Orientador: Prof. Dr.

para obtenção de título em Arquitetura e Urbanismo.

Universidade Estadual de Londrina – UEL

Orientador: Prof. Dr. Gilson Bergoc Jacob

____________________________________ Prof. Dr. Componente da Banca Universidade Estadual de Londrina - UEL ____________________________________ Prof. Dr. Componente da Banca

Londrina,

_____ de

__________de

_____.

Universidade Estadual de Londrina – UEL


BEZERRA, Rayane Emonaliza de Lima. Pedalar e caminhar ao longo dos trilhos ferroviários de Assis, um convite. 2021. 89 p. Trabalho de Final de Graduação (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2021. RESUMO O presente trabalho estuda o tema da mobilidade ativa, investiga a formação da cultura do automóvel na mobilidade urbana nacional sob a perspectiva do planejamento urbano, e seus efeitos negativos sobre as cidades. Analisa a mobilidade na cidade de Assis-SP e a identifica com uma estrutura viária excepcionalmente dedicada a circulação dos automóveis. Como medida de contribuir para criação de uma nova cultura de mobilidade na cidade, propõe o projeto de uma via dedicada a ciclistas e pedestres convidando a população assisense a se deslocar de forma ativa, ao longo do terreno da ferrovia desativada que cruza a cidade. Palavras-chave: Mobilidade. Ativa. Bicicleta. Cultura. Automóvel.


BEZERRA, Rayane Emonaliza de Lima. Walk and ride bikes along Assis’ railway tracks: an invitation. 2021. 89 p. Final Graduation Work (Graduation in Architecture and Urbanism) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2021. ABSTRACT The present work studies active mobility, investigates the development of the automobile culture in urban mobility in Brazilian cities under the perspective of urban plan and its negative impacts over the cities. The paper analyzes mobility in the city of Assis-SP and identify its public road’s structure exceptionally dedicated to the circulation of automobiles. As an alternative to contribute to the development of a new mobility culture, this work proposes the project of a dedicated way exclusively to bikers and pedestrians, inviting population from Assis to move in urban space in an active way, along the inactive railway tracks crossing the city. Keywords: Mobility. Active. Bike. Culture. Automobile


LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 - Vista aérea da cidade de Assis com destaque ao traçado da ferrovia. ................................................. 14 Imagem 2 - Antiga plataforma de embarque e desembarque da estação ferroviária, atualmente com o uso de terminal de ônibus urbano. ......................................................................................................................................... 18 Imagem 3 – Trecho da ferrovia ao Norte da cidade distante do centro. ............................................................... 19 Imagem 4 – Trecho da ferrovia ao sul da cidade distante do centro. ................................................................... 19 Imagem 5 – Pessoas usando o traçado da ferrovia no seu deslocamento. ............................................................ 19 Imagem 6 - Trabalhador pedalando a margem da ferrovia em Assis - SP ............................................................. 23 Imagem 7 - Avenida Rui Barbosa, principal via da cidade de Assis-SP ................................................................. 31 Imagem 8 - Homem caminhando sobre ciclovia de Assis. .................................................................................. 41 Imagem 9 - Meninos usando bicicleta em ciclovia de Assis. ............................................................................... 41 Imagem 10 - Pessoas caminhando sobre ciclovia de Assis. ................................................................................ 41 Imagem 11 – Meninas caminhando a margem dos triblhos ferroviários de Assis. .................................................. 43 Imagem 12 - Vistas aéreas do High Line Park. ................................................................................................. 49 Imagem 13 - Estudantes caminhando ao lado dos trilhos ferroviários em Assis-SP. ............................................... 51


Imagem 14 - Via Férrea, segmento de estudo 1. .............................................................................................. 64 Imagem 15 - Via férrea, segmento de estudo 2. .............................................................................................. 66 Imagem 16 – Via férrea, segmento de estudo 3. .............................................................................................. 68 Imagem 17 - Via férrea, segmento de estudo 4. .............................................................................................. 70 Imagem 18 - Via férrea, segmento de estudo 5. .............................................................................................. 72 Imagem 19 - Via férrea, segmento de estudo 6 ............................................................................................... 74 Imagem 20 - Intervenção no leito ferroviário para via dedicada a mobilidade ativa. .............................................. 77 Imagem 21 - Proposta ciclovia. ..................................................................................................................... 79 Imagem 22 - Proposta ciclovia, passando pelo terminal urbano de transporte coletivo. .......................................... 80


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localização de Assis no estado de São Paulo. .................................................................................... 15 Figura 2 - Território Assisense ....................................................................................................................... 15 Figura 3 - Planta da cidade de Assis, 1959. Edifícios marco da história do município. ............................................. 16 Figura 4 - Comparação do tempo de deslocamento, numa distância de 5 km. ....................................................... 27 Figura 5 – Cidade Jardim, Ebenezer Hoaward. Diagrama de Howard. Distrito e Centro. A cidade dividida em seis setores. .................................................................................................................................................................. 32 Figura 6 - Vila Radiosa, Le Corbusier. Projeto não executado. ............................................................................ 32 Figura 7 – Traçado High Line Park .................................................................................................................. 48 Figura 8 - Divisão das áreas de estudo............................................................................................................ 63


LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Área de especial interesse ............................................................................................................... 21 Mapa 2 - Raio de alcance de alcance da bicicleta de 5 km a partir do centro da cidade de Assis .............................. 29 Mapa 3 - Sistema viário ............................................................................................................................... 40 Mapa 4 – Estrutura urbana ........................................................................................................................... 53 Mapa 5 - Densidade urbana .......................................................................................................................... 55 Mapa 6 – Classes econômicas ....................................................................................................................... 58 Mapa 7 - Declividade ................................................................................................................................... 60 Mapa 8 - Estudo da área de intervenção, segmento 1. ...................................................................................... 65 Mapa 9 - Estudo da área de intervenção, segmento 2. ...................................................................................... 67 Mapa 10 - Estudo da área de intervenção, segmento 3. .................................................................................... 69 Mapa 11- Estudo da área de intervenção, segmento 4. ..................................................................................... 71 Mapa 12 - Estudo da área de intervenção, segmento 5. .................................................................................... 73 Mapa 13 - Estudo da área de intervenção, segmento 6. .................................................................................... 75 Mapa 14 – Divisão dos trechos padrão ........................................................................................................... 78


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Custo por modo de transporte. ...................................................................................................... 36 Gráfico 2 - Índices de acidentes por modo de transporte. .................................................................................. 36 Gráfico 3 - Consumo de energia por pessoa e por modo de transporte. ............................................................... 36 Gráfico 4 - Percentual de geração de poluentes por modo de transporte. ............................................................. 36 Gráfico 5 – Crescimento populacional x Crescimento da frota de veículo individuas em Assis, SP. ............................ 38 Gráfico 6 – Distribuição percentual de viagens por modo e porte dos municípios. .................................................. 39 Gráfico 7 – Motivo de viagens - Pesquisa origem destino. .................................................................................. 52 Gráfico 8 - Ocupação por atividade econômica em Assis, 2017. .......................................................................... 52 Gráfico 9 - Classes de rendimento nominal mensal domiciliar per capita .............................................................. 56


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 13 ASSIS E A FERROVIA, APRESENTAÇÃO................................................................................................... 15 Breve histórico ................................................................................................................................. 16 Situação atual .................................................................................................................................. 18 TEMÁTICA .......................................................................................................................................... 23 Mobilidade urbana e ativa .................................................................................................................. 23 A bicicleta a serviço da mobilidade ativa .............................................................................................. 27 PROBLEMÁTICA .................................................................................................................................. 31 Contextualização: a cultura do automóvel ............................................................................................ 31 Os impactos da cultura do automóvel .................................................................................................. 35 Assis, mobilidade dedicada aos veículos ............................................................................................... 37 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................................................................. 43 Fatores que influenciam o uso da bicicleta............................................................................................ 43 Correlato - High Line Park .................................................................................................................. 48


LEVANTAMETAMENTO .......................................................................................................................... 51 Assis, características da cidade e da mobilidade.................................................................................... 51 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ............................................................................................................... 77 PRANCHA 01 ...................................................................................................................................... 81 PRANCHA 02 ...................................................................................................................................... 82 RHANCHA 03 ...................................................................................................................................... 83 PRANCHA 04 ...................................................................................................................................... 84 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................... 85 REFERÊNCIAS DA INTERNET................................................................................................................. 87 REFERÊNCIAS LEGAIS ......................................................................................................................... 89


INTRODUÇÃO

A cidade de Assis cresceu com a chegada dos

ativa, reconhecendo as qualidades que o traçado do leito

trilhos da Ferrovia Sorocabana em 1914 ao povoado

ferroviário tem na malha urbana para deslocamento, com

fundado em 1905. Sua chegada elevou o patrimônio de

grande potencial de conexão para a população assisense.

Assis

a

município

e

a

tornou

uma

das

cedes

Tratar do tema da mobilidade ativa em Assis se

administrativas da ferrovia atraindo diversos serviços que

mostra relevante, pois a cidade é de médio porte, mas

lhe trouxeram desenvolvimento. Porém em 1999 a linha

possui certas características de mobilidade de cidades de

férrea foi desativada deixando todo o leito que corta a

grande porte, com alta frota de veículos individuas, e vias

cidade sem uso até os dias de hoje.

dedicadas prioritariamente aos veículos. Para propor uma

Este trabalho se propõe a intervir nesse terreno de

nova cultura de mobilidade na cidade o trabalho estuda e

grande importância na história da cidade na perspectiva

propõe a criação de uma ciclovia

de desenvolvimento sustentável a partir da mobilidade

ferroviários da cidade.

ao longo dos trilhos

13


Imagem 1 - Vista aérea da cidade de Assis com destaque ao traçado da ferrovia. Fonte - Google earth, editado pela autora.

14


ASSIS E A FERROVIA, APRESENTAÇÃO

Assis é uma cidade do interior paulista localizada no sudoeste do estado a 434 km da capital São Paulo.

Possui 460,609 km² de área territorial (IBGE, 2019) e sua área urbanizada ocupa apenas 15% de sua extensão com uma malha urbana compacta.

Figura 1 - Localização de Assis no estado de São Paulo.

Figura 2 - Território Assisense

15


Breve histórico

Paranapanema para o município recém proclamado em 1918. A importância da ferrovia para a cidade é evidenciada pelo autor (ARRUDA, 1978) quando a

Assis

foi

fundada

em

1905,

mas

seu

localização da estação ferroviária fez deslocar a principal

desenvolvimento, de acordo com Arruda (1978), se deve

avenida a esquerda da atual Catedral, que passava a

exclusivamente à chegada da ferrovia paulista, a Estrada

frente da casa do fundador da cidade - hoje museu

de Ferro Sorocaba - E.F.S., em 1914. A sua implantação

histórico do município - para a rua direita que tinha

provocou a elevação do povoado a município em 1917 e

acesso à estação, a Avenida Rui Barbosa, principal via da

a transferência da sede da comarca de Campos Novos de

cidade ainda hoje (fig. 3).

Figura 3 - Planta da cidade de Assis, 1959. Edifícios marco da história do município. Fonte: Planta: Arquivo Público do Estado de São Paulo, repositório Digital, documentos Cartográficos. Imagens: Assiscity.

16


Diversos serviços foram incorporados a cidade

Em 1971 a E.F.S. foi incorporada a FEPASA –

com a acomodação da ferrovia, a instalação da Oficina de

Ferrovia Paulista S/A, empresa estadual que unificou a

Locomotivas Sorocabana em Assis atraiu moradores de

administração das ferrovias paulistas, mas devido a

alta classe como engenheiros, pelo local ser sede de seus

dificuldades financeiras em 1998 foi entregue a União e

serviços, e de um grande número de trabalhadores

arrematada em leilão pela FERROBAN – Ferrovias

ferroviários, e que por conta da estabilidade empregatícia

Bandeirantes S/A em 1999, que operava exclusivamente

que possuíam foram importantes para incentivar e

no transporte de cargas. Após processos de concessão às

fortalecer

cidade (ARRUDA, 1978).

diferentes gestões, pública e privada, sem poder mais

Todavia, conforme aponta Rozendo (2009), o declínio do

viabilizar a manutenção de seus serviços a ferrovia foi

sistema ferroviário de transporte, em função da crise do

desativada e atualmente está sob a concessão da Rumo

café, desacelerou as atividades econômicas no município,

Logística, mas está impedida de operar dentro da área

e também iniciou o contínuo processo de sucateamento

urbana da cidade de Assis por ordem judicial expedida em

de todo o sistema ferroviário nacional, em virtude, dentre

2016, devido a insegurança presente nos cruzamentos

outros fatores, da significativa falta de investimento no

entre locomotiva e trafego de pessoas e veículos na

setor afetando assim a Estrada de Ferro Sorocabana.

cidade1.

1

do

site

o

comércio na

Locomotivas não podem mais passar por Assis, matéria Abordagem, de 21/12/2016, disponível em:

https://www.abordagemnoticias.com/noticia/1232/locomotivasna-o-podem-mais-passar-por-assis

17


Situação atual Hoje o leito ferroviário na cidade de Assis se configura como um grande vazio urbano, pois a cidade cresceu em torno da ferrovia deixando seu traçado centralizado na malha urbana. Toda a extensão do seu terreno de aproximadamente 7km dentro dos limites urbanos da cidade está em situação de abandono, com exceção do trecho que passa pelo centro, em que prédios do complexo ferroviário foram revitalizados para receber novos

usos,

funcionando

como desde

o

terminal

2019

na

de

antiga

ônibus

urbano,

plataforma

de

embarque e desembarque do trem. Embora o cuidado com todo o restante do terreno seja mínimo, apenas com a capina das áreas mais próximas ao centro da cidade, é observado ao longo do leito ferroviário o uso do espaço por trabalhadores e estudantes como caminho, principalmente para uso de Imagem 2 - Antiga plataforma de embarque e desembarque da estação ferroviária, atualmente com o uso de terminal de ônibus urbano. Fonte: Acervo próprio.

bicicletas em seus deslocamentos diários, pois seu traçado corta a cidade de norte a sul com poucas interseções com as vias carroçáveis, sendo assim uma 18


potencial ciclovia, porém cheia de obstáculos e insegura já que não é um local dedicado a este uso.

Imagem 3 – Trecho da ferrovia ao Norte da cidade distante do centro. Fonte: Acervo próprio.

Imagem 5 – Pessoas usando o traçado da ferrovia no seu deslocamento. Fonte: Acervo próprio.

Imagem 4 – Trecho da ferrovia ao sul da cidade distante do centro. Fonte: Acervo próprio.

19


Em oposição ao abandono em que se encontra a

Seguindo esta recomendação do plano de diretor

ferrovia o plano diretor da cidade de 2006 revisado em

de Assis este trabalho estuda o tema de mobilidade ativa

2019 e que está em processo de aprovação delimita todo

em contra senso a cultura do automóvel estabelecida em

o leito ferroviário dentro da malha urbana como Área de

grande parte das cidades brasileiras e do mundo para

Especial Interesse Institucional, destinada a ampliação do

propor uma intervenção no leito ferroviário dedicado a

sistema viário, a implantação de equipamentos públicos

mobilidade por bicicleta oferecendo uma estrutura para

comunitários, ou para abrigar serviços públicos (Mapa 1).

convidar mais pessoas a se deslocarem de forma segura na cidade de Assis por meio da bicicleta.

20


Mapa 1 - Área de especial interesse

21


22


TEMÁTICA

Mobilidade urbana e ativa No início do século passado a dinâmica urbana das cidades brasileiras se diferenciava em muitos aspectos das atuais. A população urbana era até então menor que a rural2, as cidades tinham sua configuração espacial mais compacta

e

os

deslocamentos

eram

feitos

predominantemente de modo coletivo - com destaque ao sistema

sobre

trilhos,

como

os

bondes

elétricos

(CARVALHO, 2016), especialmente nos grandes centros Imagem 6 - Trabalhador pedalando a margem da ferrovia em Assis - SP Fonte: Acervo próprio.

em consolidação como as capitais de estado - pelo modo

Em 1950 a população urbana brasileira era de 36%, ultrapassou a população rural apenas em meados da década de 1960 e atingiu 84% em 2010 (IBGE, séries históricas 2010). 2

23


não motorizado e tração animal, que dava uma feição de

circulação ou deslocamento, porém seu conceito é mais

maior vida as cidades.

amplo que a simples transposição de um indivíduo de um

A

partir

de

lugar a outro, implícito na definição da lei pela palavra

acontecimentos altera esse cenário. O sistema ferroviário

“condição”. Segundo Balbim (2016) pode-se entender por

de

mobilidade

transporte

dos é

anos

1930

desestimulado

uma por

cadeia

políticas

que

a

ação

do

deslocamento

integrado

às

implantam o sistema rodoviário enquanto se acompanha

condições e às posições dos indivíduos e da sociedade.

um

e

Portanto o tempo gasto com o deslocamento, a origem e

desordenado mudando drasticamente a mobilidade das

o destino da viagem, os recursos econômicos e recursos

cidades, que passou a ser pautado pelo transporte

técnicos de circulação determinam a efetividade da

individual motorizado. As ruas que antes eram ocupadas

mobilidade de um indivíduo, como aponta o autor.

processo

de

urbanização

descentralizado

por pessoas, na virada do século já estavam invadidas

“Uma pessoa pode, por exemplo, considerar que tem baixa ou pouca mobilidade, ainda que seu índice de mobilidade – ou seja, o número de deslocamento por dia –, seja relativamente alto. Essa sensação pode resultar da constância e da repetição dos seus deslocamentos, que, em vez de libertar essa pessoa, a encerram.” (BALBIM, 2016, p. 27)

pelos carros, gerando uma série de impactos de ordem econômica, social e ambiental. Nesse

contexto,

seguindo

as

tendências

internacionais, o Brasil vem criando políticas para melhorar as condições da mobilidade urbana, através de

Essa situação, entre outros fatores, pode ser

planos de mobilidade e regulamentação do tema. A lei brasileira de Mobilidade Urbana 12.587/12 a

incitada pela renda de uma pessoa que a condiciona a um

define como a “condição em que se realizam os

padrão de circulação limitado, atendendo apenas uma

deslocamentos de pessoas e cargas no espaço urbano”. O

parcela

de

suas

necessidades

cotidianas,

não

a

termo pode por vezes ser confundido como sinônimo de 24


possibilitando de usufruir dos diversos equipamentos da

“Desenvolvimento sustentável é aquele em que a humanidade é capaz de garantir que se atendam as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também as suas.” (Brundtland, 1991, p. 9)

cidade. A lei 12.587/12 é considerada um marco para as cidades brasileiras por impor medidas ao planejamento urbano que objetivam reduzir as desigualdades sociais, melhorar

as

condições

urbanas

de

mobilidade

e

acessibilidade e dar prioridade aos investimentos em transporte coletivo e não motorizado na matriz de deslocamentos da população (MCIDADES, 2013). Essas determinações postas na lei advêm de um debate de ordem mundial que ganhou destaque em 1987 quando uma comissão formada pela Organização das Nações Unidas - ONU – Comissão Brundtland - publicou um relatório denominado Nosso Futuro Comum que trouxe

para

a

discussão

pública

o

conceito

de

desenvolvimento sustentável, objetivando “lidar com a crescente deterioração do ambiente humano e recursos naturais” (MCIDADES, 2013, p. 69) com a seguinte definição:

As

recomendações

do

Relatório

Brundtland

apontaram o compromisso e responsabilidade global com o desenvolvimento sustentável das cidades e a partir dele a ONU organizou novas conferências sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, tendo o Brasil como sede por dois anos, em 1992 e 2012, na cidade do Rio de Janeiro. A última conferência ocorreu no ano de 2015 na cidade de Nova

Iorque

e

resultou

na

atual

agenda

de

sustentabilidade para o ano de 2030, com o objetivo de contribuir para a diminuição dos índices de pobreza, promover a prosperidade e o bem estar comum, protegendo o meio ambiente e buscando enfrentar as mudanças climáticas. Uma das metas para alcançar os objetivos da agenda da ONU, é promover a mobilidade urbana sustentável, que pode ser definida como o conjunto de políticas de transporte e circulação que propõe medidas 25


para ampliar o acesso ao espaço urbano de forma

cardíacas, vasculares e também índices de sedentarismo,

democrática, priorizando o transporte coletivo e os meios

pois esse tipo de deslocamento é ao mesmo tempo um

não motorizados, para incluir as classes mais afetadas

exercício para o corpo que melhora o condicionamento

com a segregação socioespacial, ampliando o direito de

físico, além de combater o estresse que está muito

acesso

presente no trânsito de veículos, causados, por exemplo,

à

cidade

com

responsabilidade

ambiental

(MCIDADES, 2004). Uma mobilidade

estratégia sustentável

pelo ruído dos motores e pelas horas perdidas em importante das

cidades

na é

busca

pela

promover

a

congestionamentos em horário de pico muito comum nas grandes cidades.

mobilidade ativa, mobilidade na qual as pessoas utilizam

O modo ativo de deslocamento, conforme aponta

suas próprias energias para realizar um deslocamento,

o Instituto de Energia e Meio Ambiente – IEMA (2010),

andando a pé, usando bicicleta ou outro meio não

ainda cumpre um papel social muito importante, pois é

motorizado. Diferente dos modos passivos de circulação -

acessível à população independentemente da faixa de

transportes motorizados seja individual ou coletivo - a

renda,

mobilidade ativa é energicamente mais eficiente e

mobilidade e acesso ao trabalho e aos equipamentos

contribui para a redução da emissão de poluentes

públicos

atmosféricos e gases de efeito estufa, gerados pelos

economicamente, que não possuem veículos particulares

veículos automotores na queima de combustíveis fósseis

e por muitas vezes estão fora da cobertura de serviços de

(IEMA, 2010).

transporte público. A mobilidade ativa, portanto, é

A mobilidade ativa assim contribui para a melhoria da qualidade do ar e também impacta positivamente na saúde pública, com a redução das doenças respiratórias,

podendo desta pela

forma

ampliar

população

mais

o

índice

de

vulnerável

também um instrumento democrático de acesso à cidade. Criar

uma

nova

cultura

de

deslocamento

priorizando o meio de transporte não motorizado é crucial 26


para elevar a qualidade de vida nos centros urbanos. Um

(2000) (fig. 4), desde que tenha infraestrutura para isso

plano de mobilidade urbana alinhado ao desenvolvimento

ela pode se igualar ou ser mais eficiente que o carro em

sustentável das cidades deve conter estratégias para

relação ao tempo de viagem, sendo tão flexível quanto a

reduzir o número de viagens pelo transporte individual

circulação de pedestre. Podendo ainda ser conectado com

motorizado, oferecendo infraestrutura adequada aos

o transporte público para aumentar a distância a ser

pedestres e ciclistas, com boas condições de calçadas,

percorrida.

ciclovias

e

travessias,

fazendo

conexão

com

os

O uso da bicicleta está sendo cada vez mais

transportes coletivos de forma acessível a todas as

discutido entre pesquisadores e gestores públicos como

pessoas. Essa nova cultura permitiria equilibrar o sistema

como estratégia de mobilidade, principalmente neste

viário, acomodando os diferentes modos de transporte de

momento de pandemia, por ser um modo deslocamento

forma segura, principalmente aos que transitam em condição mais vulneráveis, tornando as ruas novamente um espaço de convivência urbana. A bicicleta a serviço da mobilidade ativa A bicicleta como meio de transporte é uma estratégia muito interessante de ampliar a mobilidade ativa e desafogar o trânsito de veículos nas ruas, sendo uma boa substituta para viagens curtas, e ainda é muito eficiente em longas distancias de até 5km, conforme aponta a pesquisa divulgada pela Comunidades Europeias

Figura 4 - Comparação do tempo de deslocamento, numa distância de 5 km. Fonte: Cidades para bicicleta, cidades de futuro, Comissão 2000

27


individual e feito ao ar livre evitando aglomeração e

oportunidade de se construir uma nova cultura para

enclausuramento de pessoas no mesmo ambiente.

cidade de Assis, que por possuir uma malha compacta

Desta forma a mobilidade ativa através da bicicleta será a estratégia tomada neste trabalho para

facilita o deslocamento por bicicleta para qualquer ponto da cidade para o centro e vice versa (Mapa 2).

combater a cultura do automóvel na mobilidade dando

28


Mapa 2 - Raio de alcance de alcance da bicicleta de 5 km a partir do centro da cidade de Assis Fonte: Elaborado pela autora.

29


30


PROBLEMÁTICA

Contextualização: a cultura do automóvel “Os automóveis costumam ser convenientemente rotulados de vilões e responsabilizados pelos males das cidades e pelos insucessos e pela inutilidade do planejamento urbano. Mas os efeitos nocivos dos automóveis são menos a causa do que um sintoma de nossa incompetência no desenvolvimento urbano.” (JACOBS, 2011, pág. 5)

Jane Jacobs em 1961 já alertava a insurgência de um urbanismo inurbano, um planejamento fundamentado em uma utopia moderna baseado num projeto de aparência de cidades. Jacobs (2011) fez uma crítica direta ao estilo de planejamento em vigência desde os anos 1920, denominado pela Imagem 7 - Avenida Rui Barbosa, principal via da cidade de Assis-SP Fonte: Acervo Jean Carlos, 10 out. 2018. Reeditada pela autora.

autora como urbanismo moderno ortodoxo, afirmando que essa teoria tirava a autonomia e os anseios das pessoas na vivência da cidade, reservando apenas aos planejadores o direito de ter projetos, programando a forma como as pessoas viveriam no espaço urbano. 31


Essas compartilhadas

ideias pelos

criticadas mais

pela

autora

renomados

eram

arquitetos

modernos europeus que compunham o CIAM – Congresso Internacional de Arquitetura Moderna, fundado em 1928 para discutir os rumos da arquitetura moderna e introduzi-la como uma ferramenta de desenvolvimento social e econômico. Suas principais ideias sobre cidades

Figura 5 – Cidade Jardim, Ebenezer Hoaward. Diagrama de Howard. Distrito e Centro. A cidade dividida em seis setores.

foram firmadas em 1933, no 4° congresso organizado pelo grupo, com a elaboração da conhecida Carta de Atenas, na qual está expresso o pensamento desses

Fonte: Vitruvius, arquitextos, 04.042/637.

arquitetos sobre uma cidade funcional, setorizada em funções básicas como habitação, trabalho, lazer e circulação. Esses princípios já haviam sido destacados nos projetos de cidades utópicas de Ebenezer Howard, a Cidade Jardim - no final do século XIX em resposta ao caos urbano vivido nesse período na Inglaterra - e a Vila Radiosa apresentado em 1924 por Le Corbusier - redator da carta de Atenas - na qual “procurou fazer do

Figura 6 - Vila Radiosa, Le Corbusier. Projeto não executado.

planejamento para automóveis um elemento essencial” (JACOBS, 2011, p.23).

Fonte: Archidely.

32


Essa era uma ideia empolgante nos anos 1920 e

aponta Lara (2016), o Plano Agache, 1929, no Rio de

1930, quando o automóvel ganhou signo de modernidade,

Janeiro e o Plano Prestes Maia, 1930, em São Paulo são

e foi com a Carta de Atenas que o veículo motorizado se

exemplos dessa afinidade.

tornou

elemento

essencial

no

nascente

urbanismo

“Se, até os anos 1930, o bonde facilitou essa expansão em um raio de 3 km a 5 km do centro das cidades, o automóvel, a partir dos anos 1930, veio potencializar o processo de urbanização.” (LARA, 2016, p.135)

modernista. Nesse período, a partir da década de 1920, se iniciava no Brasil um processo de transição econômica e social até então marcado pelo modelo agrário-exportador,

A

apologia

ao

automóvel

como

principal

em direção a um novo padrão de acumulação o qual Cano

ferramenta

(2012) denomina como crescimento para dentro, isto é, a

arquitetura moderna, ganhou muito apoio da classe

transição de um velho padrão primário exportador - com

política que entusiasta dos interesses da elite desenvolveu

predomínio do complexo cafeeiro paulista - rumo ao da

a infraestrutura viária na direção do novo padrão de

industrialização, firmado de forma mais contundente a

moradia da alta classe brasileira, distante do centro

partir do ano de 1933. O movimento de industrialização

principal da cidade, onde viviam no início do séc. XX,

representou o impulso de crescimento populacional nas

como bem explanou Villaça (2001). Essa ação favoreceu

cidades, expandindo e reconfigurando a organização do

a

espaço urbano.

desencadeando na segregação dos grupos econômicos,

prática

da

mobilidade

especulativa

do

urbana

inserida

mercado

pela

imobiliário,

A teoria moderna na arquitetura foi a base

empurrando os mais vulneráveis para as periferias da

responsável por organizar as cidades brasileiras em

cidade, que sem condições de possuir um automóvel

expansão, estabelecendo definitivamente a relação entre

particular, tem sua mobilidade determinada pelo sistema

a infraestrutura viária e a expansão territorial, conforme

precário de transporte oferecido a essa população. 33


Os

um

O planejamento urbano moderno, e as políticas

elemento de diferenciação de classes sociais. Possuir um

públicas de incentivo ao transporte individual fizeram

veículo próprio passa a ser um fetiche que agrega poder,

aliança definitiva no Brasil em 1950, com a aproximação

charme

o

do então presidente da república Juscelino Kubitschek e

planejamento urbano voltado para esse bem de consumo

os principais representantes da arquitetura moderna

fez com que ele se tornasse uma necessidade, mais que

brasileira Oscar Niemeyer e Lúcio Costa para a construção

um luxo, e isso é seu grande mal como descreveu

da capital nacional, a monumental cidade de Brasília.

e

automóveis

liberdade

se

ao

tornam

seu

assim

condutor.

mais

Porém

Maricato (2008).

O projeto urbano para a capital federal de Lúcio “O automóvel conformou as cidades e definiu, ou pelo menos foi o mais forte elemento a influenciar, o modo de vida urbano na era da industrialização. Daquilo que era inicialmente uma opção – para os mais ricos evidentemente – o automóvel passou a ser necessidade de todos. E como necessidade que envolve todos os habitantes da cidade, ele não matou apenas a cidade, mas a si próprio. (MARICATO, 2008, p.6)

Costa aliado a arquitetura de Niemayer colocou em prática os princípios definidos na carta de Atenas, enquanto Kubitschek adotava medidas para fortalecer a entrada da indústria automobilística no Brasil, iniciada no governo Vargas. Por conta da relevância econômica que a indústria automobilística alcançou no Brasil, como parte essencial do PIB3, a produção e comercialização de veículos

Vasconcellos (2013) aponta que entre 1966 e 2010 o setor automotivo teve participação no PIB industrial com variação de 8,7% (1990) e 18,5% (2010). E segundo o Ministério da Economia o setor automotivo representa cerca de 22,0% do PIB industrial brasileiro, e seu desempenho afeta outros diversos setores industriais como, por exemplo, o setor de aços e derivados. Disponível em: 3

http://www.mdic.gov.br/index.php/competitividadeindustrial/setorautomotivo#:~:text=A%20ind%C3%BAstria%20automobil%C3 %ADstica%20brasileira%2C%20em,e%205592%20concession% C3%A1rias%20(2017).&text=Participa%C3%A7%C3%A3o%20d e%2022%2C0%25%20no,%25%20no%20PIB%20Total%20(201 5) Acesso em: 18 jun. 2020.

34


receberam muitos incentivos nas décadas seguintes à

toneladas de poluentes locais e 32,3 milhões de toneladas

construção

e

de GEE (gases do efeito estufa), consumindo cerca de

ampliando a circulação de veículos automotores nas ruas,

11,8 milhões de TEP (toneladas equivalentes de petróleo)

que

4

por

de

Brasília,

sua

vez,

facilitando

sua

demandaram

aquisição

mais

vias,

e

. Os carros particulares são responsáveis por dois terços

consequentemente, áreas de estacionamento, ocupando

dos

resíduos

toda a estrutura viária. As políticas que favoreceram os

consomem 62% do total de energia despendida na

automóveis foram responsáveis pela precarização dos

mobilidade urbana (Gráf. 4 e 3).

outros modais de transporte, que não obtiveram a mesma carga

de

investimentos

para

sua

poluentes

lançados

na

atmosfera

e

Os dados demonstram o quanto o uso excessivo

melhoria,

do transporte individual impacta o meio ambiente, sem

desequilibrando o sistema de mobilidade urbana e

mencionar a demanda gerada pela impermeabilização do

gerando severos impactos ambientais, socioeconômicos e

solo e canalização dos rios que a implantação de

de saúde pública.

infraestrutura

(Sistema de Informações de Mobilidade Urbana da de

transportes

motorizados

Transportes emitem

por

Públicos) ano

140

os mil

Os poluentes locais considerados são os seguintes: CO (monóxido de carbono), HC (hidrocarbonetos), NOx (óxidos de nitrogênio), MP (material particulado) e SOx (óxidos de enxofre), conforme definição da Cetesb/SP. 4

Brasil

segue,

mudando

a

pontos das cidades. Os impactos ambientais decorrentes

Segundo o Relatório de 2017 da Simob/ANTP Nacional

no

paisagem natural e provocando enchentes em vários

Os impactos da cultura do automóvel

Associação

viária

da

priorização

dos

veículos

também

influenciam

negativamente a saúde pública da população, com agravamento de doenças respiratórias, aumento de índices

de

sedentarismo,

culminando

em

doenças

No caso dos gases do efeito estufa (GEE) foi considerado o CO2eq (CO2, CH4 e N2O)2.

35


cardiovasculares. Os acidentes decorrentes da velocidade

O custo do transporte individual é alto tanto para

em que circulam os veículos nas cidades também geram

o setor público como para o privado. Possuir um veículo

grande pressão no sistema de saúde pública, 60% dos

demanda um alto investimento, portanto a população de

leitos de UTI do Sistema único de Saúde - SUS são

baixa renda tem menor possibilidade de migrar para esse

ocupados por vítimas de acidentes de trânsito, segundo a

tipo de modal, dependendo mais dos serviços de

Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (apud,

transporte e da mobilidade ativa. Apesar das viagens

RONILK,

foram

feitas pelo transporte individual motorizado serem menos

empregados, em 2017, 115,4 bilhões de reais em gastos

expressivas que as viagens feitas pelo transporte coletivo

2020).

ANTP

(2020)

estima

que

públicos apenas com acidentes de trânsito. 0,44 12,2 Trilho 8%

29% 62%

4%

67%

12%

Ônibu s 26%

26% Locais Carro

Efeito Estufa Moto

273, 9 Carro 62%

0,15

0,14

Transporte coletivo

0,07

Moto 4%

Ônibus

0,14

0,02 A pé

Bici

Ônibus Carro

3,5 57,8 Transporte individual

Custo público Moto

Total

Custo pessoal

Gráfico 4 - Percentual de geração de poluentes por modo de transporte.

Gráfico 3 - Consumo de energia por pessoa e por modo de transporte.

Gráfico 2 - Índices de acidentes por modo de transporte.

Gráfico 1 - Custo por modo de transporte.

Fonte: ANTP, 2020.

Fonte: ANTP, 2020.

Fonte: ANTP, 2020.

Fonte: ANTP, 2020.

36


e deslocamento ativo5, esse é o modo que mais recebe

uso, apostando nesse modelo para sair da quarentena e

investimentos do setor público, três vezes mais que o

retomar as atividades diárias com menor risco de

transporte coletivo (Gráf. 1).

disseminação do vírus. Esta é uma medida exemplar, mas

O tema ganhou ainda mais visibilidade no atual

de difícil implantação em muitos lugares que dispõe de

cenário que estamos vivenciando de enfrentamento à

pouca ou nenhuma estrutura para este modal, como o

pandemia do Covid-19. Sendo uma doença de infecção

caso da cidade de Assis-SP.

viral com transmissão por contato de pessoa a pessoa, aglomerações devem ser evitadas e o isolamento social adotado como medidas preventivas para que o vírus não circule. Tal conjuntura afeta diretamente a mobilidade urbana,

pois

os

transportes

coletivos

se

tornam

arriscados, por não possibilitar o distanciamento seguro. Também há a preocupação que o número de automóveis nas ruas aumente, agravando os impactos negativos, muito conhecidos e criticados, ao meio ambiente e às cidades. Por isso países desenvolvidos, como a França, estão investindo em melhoria para mobilidade ativa, com a

ampliação

das

vias

disponíveis

para

ciclistas,

subsidiando a aquisição de bicicletas e incentivando o seu

Em 2017 o total de viagens feitas foi 66,1 bilhões, destas 28,0 bilhões foram feitas de modo ativo, seguidas pelo transporte individual 5

Assis, mobilidade dedicada aos veículos Após 115 anos de sua fundação Assis é hoje uma cidade de médio porte, e possui 105.087 habitantes estimados pelo IBGE no ano de 2020. A população nas duas últimas décadas vem crescendo abaixo da média estadual e nacional. Segundo dados do Atlas Brasil (2020),

entre

2000

e

2010

houve

um

acréscimo

populacional a uma taxa média anual de 0,87%, enquanto que no país foi de 1,17%. Entre 2013 e 2017, a população do município registrou um aumento de 2,71%, nesse mesmo período, o estado de São Paulo teve um acréscimo

motorizado, 19,6 bilhões, e pelo transporte coletivo, 18,5 bilhões (ANTP, 2020)

37


de

3,28%,

demonstrando

uma

estagnação

no

crescimento da cidade. Enquanto conservador

de

a

população

crescimento

mantém a

frota

um de

ritmo 15,00%

veículos

0,00% 0,00%

particulares vem acumulando números consideráveis. Segundo dados do DENATRAN - Departamento Nacional

2,71%

de Trânsito (apud IBGE, 2020) a frota de veículos

2013

particulares motorizados na cidade em 2018 era de 70,1

população

mil, considerando carros e motocicletas. Entre 2013 e

Fonte: Atlas Brasil, 2020; IBGE, 2020, elaborado pela autora.

vezes maior que o aumento da população no mesmo período. pessoas na cidade - em 2018, quando a população estimada pelo IBGE foi de 103.666 habitantes – o que

veiculos

Gráfico 5 – Crescimento populacional x Crescimento da frota de veículo individuas em Assis, SP.

2017 o acréscimo foi de 15%, aproximadamente seis

Isso está perto de dois veículos para cada três

2017

brasileiras, e isso devido principalmente ao seu porte médio. Em

cidades

com

o

mesmo

contingente

poderia configurar em uma situação caótica de trânsito

populacional de Assis é comum haver um grande padrão

caso todas as pessoas resolvessem usar seu automóvel

de mobilidade ativa, conforme captou a pesquisa ANTP

no

um

(2020). Em cidades com até 100 mil habitantes, mais da

comportamento observado na cidade, não há grandes

metade, 50,6%, das viagens realizadas no ano de 2017,

congestionamentos que roubam das pessoas valiosas

foram feitas pelo modo não motorizado, e em cidades com

horas do seu dia como ocorre nas grandes capitais

população entre 100mil e 250mil habitantes 46,3%.

mesmo

horário.

Todavia

esse

não

é

38


Entretanto o grande aumento da frota de veículos representa uma alerta ao município. Gehl (2013) afirma 50,6%

46,3%

30,5%

31,3%

18,9%

22,5%

60 - 100 mil

100 - 250 mil

TC

TI

TNM

que a maior oferta de estrutura viária ao automóvel é um convite para sua maior circulação. Em Assis a infraestrutura oferecida ao transporte não motorizado não se equipara ao disponível aos Gráfico 6 – Distribuição percentual de viagens por modo e porte dos municípios. Fonte: ANTP, 2020.

automóveis.

O

mapa

de

sistema

viário

(Mapa

3)

apresentam as principais vias de circulação intraurbana, o sistema de trilhos desativado que cruza a cidade de norte a sul e uma única ciclovia existente que possui apenas 1,9 km de extensão.

39


Mapa 3 - Sistema viário

40


A ciclovia existente foi implantada no ano de 2019 para atender a uma demanda local, numa área conhecida popularmente como Rodobanha, onde as pessoas se encaminham para realizar atividades físicas e recreativas. Indicando qual a visão que a os gestores locais e população assisense tem sobre o uso da bicicleta, como uma atividade preferencialmente de lazer e física, já que a ciclovia foi implantada em uma região com essa finalidade sem conexão com outras regiões. Imagem 8 - Homem caminhando sobre ciclovia de Assis. Fonte: Acervo próprio.

Imagem 9 - Meninos usando bicicleta em ciclovia de Assis.

Imagem 10 - Pessoas caminhando sobre ciclovia de Assis.

Fonte: Acervo próprio.

Fonte: Acervo próprio.

41


Por outro lado, o traçado da linha férrea que cruza

Por tanto a atual situação da mobilidade em Assis

toda a malha urbana no sentido norte - sudoeste numa

está

extensão de aproximadamente 7 km dentro do perímetro

enquanto que há na cidade um alto padrão de mobilidade

urbano, passando pela área central e como já foi

ativa, que acontece sem priorização dos mais vulneráveis

mencionado neste trabalho é comumente utilizado por

no trânsito, pedestres e ciclistas. Diante do exposto é

trabalhadores

de

preciso encontrar meios de romper com o culto ao

deslocamento por bicicleta, segue a anos sem uma

automóvel enraizado na sociedade pós-moderna, e esse

dedicação a esses usuários, podendo ainda se converter

se lança como o maior desafio a mobilidade urbana

em mais uma via para veículos como já foi especulado por

sustentável conforme observado por Lara (2016).

e

estudantes

como

um

caminho

gestores locais como modo de revitalizar o terreno da ferrovia. “A revitalização opta por vias periféricas com tráfego de veículos e interligação às vias internas da cidade por vias de pedestres e qualquer tipo de veículo”.

dedicada

ao

fluxo

dos

veículos

automotores,

Quebrar a relação de glamour entre o motorista e seu automóvel parece ser o desafio colocado diante da nossa geração. Da mesma forma como a geração anterior desmistificou a relação de glamour entre o fumante e o cigarro. (LARA, 2016, p. 131)

(PORTAL PREFEITURA ASSIS, 2018)6.

Matéria do boletim informativo do portal da prefeitura de Assis. Um quilometro e meio de da linha férrea será revitalizado, 2018. Disponível em: 6

https://www.assis.sp.gov.br/noticia/1099/um-quilometro-emeio-da-linha-ferrea-sera-revitalizado. Acesso em: 22 de maio 2020.

42


FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Fatores que influenciam o uso da bicicleta Diante do desafio de contribuir para uma possível mudança na cultura da mobilidade por automóveis estabelecida na cidade de Assis este trabalho buscou na literatura pesquisas sobre fatores que influenciam o uso da bicicleta como modo de deslocamento nas cidades. As

pesquisas

investigaram

quais

que embasaram os

fatores

e

este trabalho

intervenções

na

infraestrutura urbana são capazes de influir no uso da bicicleta como meio de transporte e quais os efeitos na quantidade de pessoas pedalando, além da percepção das pessoas sobre o uso da bicicleta como meio de transporte e o comportamento dos ciclistas no ambiente urbano. Imagem 11 – Meninas caminhando a margem dos triblhos ferroviários de Assis. Fonte: Acervo próprio.

43


Os resultados das pesquisas são apresentados por

Há, aparentemente, dois tipos de pessoas que começam a utilizar a bicicleta: os mais pobres que podem aumentar a sua renda sem o custo do transporte; e a classe alta, bem-educada, ambientalmente consciente que viajou por países em que a bicicleta é uma opção de locomoção. (PENALOSA apud Zanettini, 2018 p. 31)

meio de análises e discussões de estratégias tomadas em diversos

municípios

nacionais

e

internacionais,

comparando o antes e depois das intervenções propostas, e por meio de pesquisa de atitude que influencia a escolha da bicicleta.

Pucher (2010) aponta em sua pesquisa a relação

As pesquisas demonstram diversos fatores que influem

nesse

uma

aponta um quadro onde mulheres, apesar da preferência

infraestrutura dedicada ao ciclismo, também apontam

pelo deslocamento em lugares com menos tráfegos de

questões individuais, culturais e ambientais.

veículos automotores, as mesmas se sentem mais

Fatores

comportamento,

individuais:

renda,

além

idade,

de

da mobilidade ativa com o gênero do usuário, onde

gênero

e

seguras ao caminhar em espaços com mais movimentos

atividade. Estudos apresentados por Olekzechen (2016)

de

trazem resultados que apontam que pessoas de classe

apresentados por Olekzenchen (2016), ainda sobre o uso

média e com níveis mais elevados de educação, possuem

de transportes alternativos ligados ao gênero, aponta que

maior propensão ao uso da bicicleta. Complementando a

o uso de bicicletas é menos comum por mulheres,

conclusão de Olekzechen (2016) sobre o uso da bicicleta

resultado ligado diretamente a falta de segurança do uso

por renda, Gil Penalosa (apud Zanettini, 2018), menciona

de bicicletas nas vias urbanas destinadas aos automóveis.

pessoas.

Um

ponto

curioso

sobre

estudos

que:

44


Outro apontamento do autor Gil Penalosa (2018)

Fatores climáticos também possuem interferência

complementa o estudo apontado por Olekzenchen (2016),

na escolha da bicicleta para locomoção, onde dias com

dizendo que:

excesso de frio ou calor, acabam sendo um empecilho no Do ponto de vista de gênero, os homens começam a utilizar (bicicleta) antes que as mulheres – que não vão pedalar se não se sentirem seguras. Em cidades onde a infraestrutura é ruim, como Dalas, 94% dos ciclistas são homens. Já em Copenhague, os homens representam apenas 45%. (PENALOSA apud Zanettini, 2018 p. 31)

uso desta. Fatores de infraestrutura: Segundo Puger (2009) estar perto de uma ciclovia a menos 800 metros é mais provável que a pessoa pedale que quando está distante mais de 1,5 km, o que demonstra a necessidade que se crie um circuito de ciclovia que abranja a maior quantidade de pontos possíveis no local de implantação.

Fatores ambientais: Implantar uma ciclovia em

Além disso, Puger (2009) diz que pesquisas de

um terreno plano é uma ótima solução caso haja a

preferência mostram que os ciclistas preferem ter

necessidade de deslocamentos com mais velocidade ou

ciclovias a andar em trafego misto, mostrando a

maiores percursos, sendo que ciclovias com topografia

necessidade de se pensar em estruturas de vias próprias

mais acentuada exigem dos usuários maiores esforços.

para circulação de bicicletas, outra observação é quanto

Entretanto a topografia não necessariamente é uma

ao número de paradas ao longo do trajeto da ciclovia,

barreira para a implantação destas, uma vez que cidades

além de trazer maior segurança ao ciclista, ainda traz

como Belo Horizonte e Porto Alegre onde apresentam

mais velocidade durante o trajeto proposto.

grandes aclives e declives e são exemplos de implantação de

ciclovias

artificiais.

que

ultrapassam

barreiras

naturais

e

Outro ponto importante apontado é a necessidade da criação de estacionamentos para a bicicleta ao longo do caminho, de preferência em locais seguros e que 45


possibilite a conexão entre outros modais de transporte,

a imagem positiva da bicicleta em um contexto social que

como o transporte público.

defende que enxerga esse meio de transporte como algo

Fatores socioculturais: status social. Olekzechen

estranho. Nesse sentido, as iniciativas públicas de

(2016) aponta que apenas oferecer infraestrutura não é o

incentivo ao uso da bicicleta como meio de transporte são

suficiente para o uso efetivo das ciclovias. Também deve-

também imprescindíveis para o sucesso de propostas de

se trabalhar com programas de influência positiva ao uso

ciclovias.

da bicicleta para alterar a cultura do automóvel e inserir

46


Com base nas pesquisas apresentadas o trabalho

O trabalho também buscou referências projetuais

extrai diretrizes projetuais, apontadas na tabela a seguir,

nas quais estruturas ferroviárias também desativadas

para intervir no espaço com atenção aos fatores que

foram convertidas a um novo uso, sendo apropriada pelas

podem efetivamente convidar a população assisense a se

pessoas em seu uso cotidiano. O High Line, parque de

deslocar pela cidade diariamente em conexão as suas

Nova Iorque surgiu inspiração projetual correlata a

atividades de modo ativo através do uso de bicicletas.

proposta de intervenção apresentada nesse trabalho.

47


Correlato - High Line Park Localização: New York, EUA Extensão: 2,33 km Projeto: James Corner Field, Diller Scofidio + Renfro e Piet Oudolf Descrição: O High Line é um parque urbano linear, construído sobre a estrutura elevada de uma antiga ferrovia na cidade de Nova York. Esse espaço foi por muito tempo depreciado, após a desativação da operação ferroviária no local, e mais de uma vez condenado a demolição, mas foi defendido pela comunidade local que enxergou sua potencialidade como espaço vivo. Inspirações a este trabalho: O parque é uma via dedicada ao pedestre que rompe com a linearidade de sua implantação com curvas desenhadas a Figura 7 – Traçado High Line Park Fonte: Friends The High Line, 20002021.

partir de canteiros

de vegetação e o caminho

pavimentado, aderindo tanto ao seu desenho os trilhos ferroviários quanto a memória do seu uso original.

48


Imagem 12 - Vistas aéreas do High Line Park. Fonte: Friends The High Line, 2000-2021.

49


50


LEVANTAMETAMENTO

Assis, características da cidade e da mobilidade Para convidar os assisenses a circularem de forma ativa é preciso compreender as necessidades de deslocamento da população a partir da sua caracterização e da estrutura físicas da cidade. A pesquisa de origem e destino é uma ferramenta imprescindível para desenhar o perfil de mobilidade nas cidades, porém em Assis, até o momento, não há nenhum estudo dessa origem realizado, todavia, as pesquisas de origem Imagem 13 - Estudantes caminhando ao lado dos trilhos ferroviários em Assis-SP. Fonte: Acervo próprio.

e destino aplicados nas cidades das regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro demonstram que trabalho é o principal motivo das viagens intraurbanas realizadas pelas pessoas, seguida por educação (Gráf. 7).

51


Com base nessa informação verificou-se que atualmente a principal atividade econômica desenvolvida

44% 44% 35% 32%

Trabalho

Educação

em Assis, segundo dados de 2017 da Fundação SEADE 4% 3%

4% 3%

5% 4%

8% 14%

Saúde

Lazer

Compras

Assuntos pessoais

RMSP (2017)

(Sistema Estadual de Análise de Dados), está relacionada ao setor de serviços, com participação de 81,4% na economia, seguido por 16,36% na indústria e 2,21% na agropecuária. O setor de serviço é, portanto, a principal

RMRJ (2002/2003)

atividade geradora de empregos na cidade, seguida do Gráfico 7 – Motivo de viagens - Pesquisa origem destino.

comércio como pode ser observado no gráfico de

Fonte: OD Metrô SP, 2019. OD RMRJ 2002-2003

ocupação por setores econômicos no município (Gráf. 8). No mapa de estrutura é possível observar como

Serviços

52,9%

Comércio

20,0%

Utilidade pública

1,2%

Construção

8,3%

Indústria

9,0%

Agropecuário

5,0%

estão distribuídas as atividades que motivam as viagens urbanas (Mapa 4). Os serviços públicos e equipamentos culturais estão predominantemente concentrados no centro principal da cidade7, enquanto que os espaços verdes de lazer, dos quatro existentes, apenas um deles está centralizado na malha urbana, os outros se localizam ao norte, as margens das rodovias de acesso ao

Gráfico 8 - Ocupação por atividade econômica em Assis, 2017.

município,

demonstrando

uma

baixa

Fonte: Atlas Brasil, 2020.

infraestrutura verde no ambiente urbano.

presença

de

Sítio entre a antiga Estação Ferroviária, atual Museu Ferroviário, e a atual Catedral Diocesana de Assis, marco inicial do município. 7

52


Mapa 4 – Estrutura urbana

53


A revisão Plano Diretor do município de 2019, que

A partir do mapa de estrutura é possível ter um

está em processo de aprovação, propõe como meta 12 m²

quadro geral dos principais destinos das viagens da

de área verde por habitante para a cidade, seguindo as

população assisense, que vão ao sentido do centro e da

recomendações da Organização Mundial de Saúde - OMS,

margem norte, localização do parque industrial.

atualmente a situação é de aproximadamente 4 m² de área

verde

por

habitante,

considerando

as

áreas

representadas no mapa. Os equipamentos de saúde e educação pública estão bem distribuídos por todas as regiões da cidade, as

Para identificar os locais com maior impulso inicial dos deslocamentos intraurbanas realizados foi analisado o mapa de densidade populacional, relacionando maior densidade

com

maior

número

de

origem

de

deslocamentos.

escolas privadas se concentram mais ao centro, centro-

As regiões noroeste e sudoeste são as mais

leste e centro-oeste, e as unidades de ensino superior

densas, com destaque a sudoeste. A região central,

ficam próximas as vias de acesso ao município.

principalmente onde há a maior concentração de comércio

As atividades que geram emprego e, portanto,

e serviços, e a região leste são as que apresentam menor

ocasionam maior fluxo de deslocamento dentro do limite

reunião de pessoas por metro quadrado, evidenciando

urbano, também estão bem distribuídas por toda a

assim um menor impulso inicial dos deslocamentos vindos

cidade, porém de forma concentrada, as atividades

dessas áreas. Isso sugere que os maiores fluxos de

industriais se localizam ao norte, nas margens da rodovia,

deslocamento partem das porções noroeste e sudoeste da

e as atividades de comércio e serviços, em sua maioria,

cidade, indo no sentido do centro e para o extremo norte,

estão reunidas no centro principal e, também, distribuídas

onde se localizam as maiores oportunidades de trabalho.

em subcentros formados ao longo das principais vias de

Compreendendo de forma geral os principais

conexão da cidade.

sentidos do fluxo de deslocamento na cidade, é preciso 54


Mapa 5 - Densidade urbana

55


traçar o perfil de rentabilidade da população, pois a

se mantém em níveis ainda bastante elevados no

caracterização

para

município, demonstrando que há pessoas em condições

compreender o modo de deslocamento das pessoas,

precárias de renda e por tanto com a mobilidade limitada.

conforme já foi apontado, Balbim (2016) relaciona o

Localizar espacialmente a população por classe

poder econômico do indivíduo com sua capacidade de

econômica para implantar infraestrutura cicloviária na

mobilidade.

direção dos mais desfavorecidos economicamente é uma

econômica

é

fundamental

Os dados do IBGE mostram que, em 2018, o rendimento médio mensal dos trabalhadores formais chegou a 2,5 salários mínimos. Até 2010 43% dos

forma de dar maior subsidio para o acesso à cidade por esse grupo, lhes garantindo o direito de usufruir dos diversos equipamentos da cidade. Porém o IBGE não

domicílios da cidade de Assis contavam com rendimento nominal mensal domiciliar per capita de até 1 salário mínimo, segundo o censo demográfico de 2010 (gráf. 9). Os números apresentados evidenciam que a população do município, tendo como base a escala nacional, possui

Sem rendimento Mais de 5 salários mínimos Mais de 3 a 5 salários mínimos

Mais de 1/2 a 1 salário mínimo Mais de 1/4 a 1/2 salário mínimo

existe um padrão de disparidade que se repete em todos

Até 1/4 de salário mínimo

níveis

geográficos,

e

apesar

da

redução

da

desigualdade de renda observada na última década está

7% 11%

Mais de 1 a 2 salários mínimos

municipais8,

os

6%

Mais de 2 a 3 salários mínimos

rendimentos médios, mas com acentuada desigualdade, segundo o documento de indicadores sociais

2%

31% 30% 11% 2%

Gráfico 9 - Classes de rendimento nominal mensal domiciliar per capita Fonte: IBGE, SIDRA, 2010. Tab. 3261

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Indicadores sociais municipais: uma análise dos 8

resultados do universo do censo demográfico 2010. Rio de Janeiro, 2011

56


disponibiliza essa informação por setores censitários para

A partir do mapa elaborado é possível relacionar o

o município de Assis. Buscando fazer uma aproximação

rendimento médio dos domicílios com o volume de

dessa característica espacialmente, foi elaborado um

habitantes por setores. As regiões classificadas com

mapa a partir da malha dos setores censitários do IBGE

menor rendimento, classe E, também são observadas

adotando como critério de classificação econômica a quantidade

de

banheiros

em

cada

domicílio

e

as

residências com rendimento médio per capito de até 70 reais, ambos dados retirados da base de dados dos setores censitário do IBGE (2010), e ainda o tamanho dos

como as regiões com maior densidade na cidade, regiões sudoeste e noroeste. Enquanto que as áreas com menor densidade, centro e leste, foram classificadas com maior rendimento, classes A e B.

lotes por setores, a partir da base cartográfica do município. Seguindo a classificação da tabela a seguir. Classes A B C D E

Renda média familiar (R$) Mais de 5 salário mínimo De 3 a 5 salário mínimo De 2 a 3 salário mínimo De 1 a 2 salário mínimo Até 1 salário mínimo

Tabela 1 - Classificação econômica Fonte: IBGE. Elaborada pela autora.

57


Mapa 6 – Classes econômicas

58


No contexto de mobilidade ativa o relvo é um fator importante a se considerar, pois a inclinação das ruas

também são destino final de parte dos deslocamentos realizados.

influencia no conforto de quem faz um trajeto de bicicleta

O traçado da linha férrea se mostra como um

e a pé. Conforme observado no mapa de declividade,

ponto favorável de conexão entre diferentes regiões da

(map. 7), Assis não tem o relevo muito acidentado, porém

cidade. Cruza toda a malha urbana no sentido norte -

a malha viária xadrez estabelecida desde sua formação

sudoeste numa extensão de aproximadamente 7 km

sem considerar as condições geotécnicas do sítio físico

dentro do perímetro urbano, passando pela área central.

podem causar fadiga no percurso ativo em algumas áreas

A ferrovia liga os pontos mais densos da cidade, onde se

da cidade. A ferrovia foi implantada sobre o espigão,

concentram também a população economicamente mais

tendo declividade suave, conforme a necessidade de

vulnerável, a região sudoeste, com os pontos onde há

deslocamento das locomotivas. A ciclovia existente

maior concentração de equipamentos públicos, culturais

também se localiza sobre terreno de declividade suave.

e de comércio e serviços, principais atividades de trabalho

As vias principais, destacadas no mapa, são importantes para a conexão entre as diferentes regiões

na cidade, e com o parque industrial no extremo norte da cidade, as margens da rodovia.

da cidade e para a comunicação dos bairros com o centro

É comum observar ao longo de toda a extensão da

principal. A maior parte dessas vias também concentra

ferrovia a movimentação de ciclistas e pedestres, como

em sua extensão atividades de comércio e serviços,

trabalhadores e estudantes utilizando o caminho para se

conforme observado no mapa de estrutura (Mapa 4),

deslocarem entre suas atividades cotidianas. Pois todo o

formando subcentros distribuídos em diferentes regiões,

trecho da ferrovia além da conexão que permite, tem

dessa forma acomodam grande fluxo de viagens e

topografia suave o que favorece a mobilidade ativa.

59


Mapa 7 - Declividade

60


Desde que a ferrovia foi desativada o terreno ficou

Atualmente os prédios anexos a ferrovia abrigam

sem utilização bem como todo o conjunto de edifícios de

órgãos da administração pública. Na antiga Oficina de

apoio a ferrovia, apenas em 2006 com a instituição do

Locomotivas, parte de sua estrutura abriga a Incubadora

Plano Diretor do Município os prédios ferroviários e as

de Empresas de Assis, responsável por dar apoio aos

áreas anexas a eles foram consideradas com Áreas de

micros e pequenos empresários no início de seus projetos.

Especial Interesse (AEI). Em 2019 a Revisão do Plano

Nos prédios da Antiga Estação Ferroviária, denominada

Diretor Municipal, considerou toda a extensão da linha

atualmente como Parada das Artes, funcionam o Galpão

férrea, dentro do limite urbano, como Área de Especial

Cultural, espaço dedicado as manifestações artísticas de

Interesse Institucional, destinada a ampliação do sistema

grupos independestes da cidade e região, o Museu

viário,

Ferroviário e o Terminal Urbano de Passageiros.

a

implantação

de

equipamentos

públicos

comunitários, ou para abrigar serviços públicos.

61


No entanto todo o terreno por onde passam os trilhos

ferroviários

permanecem

sem

função,

exceção das áreas nos dois extremos, norte e sul, que se

se

estendem até a última divisão de lote. Também foi

configurando num vazio urbano, com áreas inseguras com

delimitado um raio de 500 metros9 a partir da linha férrea

baixa visibilidade em diversos pontos onde há vegetação

para se aproximar da escala das pessoas, e captar a

densa, e sem iluminação no período noturno. Para melhor

particularidade de cada área por onde passa a ferrovia.

compreender a área de intervenção que tem 10,9 km² de

Fazendo uma análise síntese para cada recorte dos

área total, numa extensão de 6,1 km, o terreno da via

estudos apresentados.

férrea foi dividido em seis segmentos de 1 km cada, com

Segundo Gehl (2013) 500 metros é distância que a maioria das pessoas está disposta a percorrer a pé para chegar a algum lugar. 9

62


Figura 8 - Divisão das áreas de estudo

63


Segmento 1 A

área

delimitada

no

primeiro

segmento

é

predominantemente residencial, com alguns pontos de comércio informal nas próprias residências e pequenos comércios de bairro. Engloba uma área de AEI-Social, e possui alta densidade populacional e baixa rentabilidade. Nesse segmento a ferrovia está localizada ao centro de duas ruas com circulação de veículos, para as quais as fachadas das casas estão voltadas. Observa-se no entrono da via férrea a presença de vegetação densa, com árvores de pequeno e médio porte. É notório nesse trecho, devido à limpeza e a existência de bancos improvisados sob as árvores do terreno, a apropriação do espaço da ferrovia pela vizinhança. Ao fim desse segmento estão localizados uma escola pública e um ginásio de esporte municipal, ambos fazem divisa com o terreno da rodovia, que nessa altura é ladeado por apenas uma rua. A área também abrange a o Centro Esportivo, e possui

seis

tipos

diferentes

de

cruzamentos

interrompendo a linha do trem com asfalto. Imagem 14 - Via Férrea, segmento de estudo 1. Fonte: Acervo próprio.

64


Mapa 8 - Estudo da área de intervenção, segmento 1.

Fonte: elaborado pela autora.

65


Segmento 2 Nesse segmento a ferrovia se transpõe de uma área residencial, passando pelo fundo dos lotes das residências com espaço mais estreito e vegetação selvagem, para um importante via comercial. A ferrovia é seccionada em dois cruzamentos e está ladeando o centro comunitário do bairro. Essa região é caracterizada por baixa rentabilidade e alta densidade populacional,

sendo

predominante

a

ocupação

por

residências.

Imagem 15 - Via férrea, segmento de estudo 2. Fonte: Acervo próprio.

66


Mapa 9 - Estudo da área de intervenção, segmento 2.

Fonte: elaborado pela autora.

67


Segmento 3 Nessa área há predominância residencial, com uma rua comercial paralela a implantação da ferrovia, mas sem contato direto. É ladeada por uma via de trânsito de veículos com as fachadas das residências voltadas para sua direção. O terreno da ferrovia nessa área é considerado AEI - Industrial, passando pelos edifícios enquadrados como AEI – Histórico Cultural, os prédios da Antiga FEPASA, Armazém, Depósito e Oficina de Locomotivas, onde atualmente está funcionando a Incubadora de empresas de Assis. A área também abrange instituições públicas, como a CEAGESP no terreno imediato a via, o parque urbano da cidade e o estádio municipal. Não há cruzamentos nesse segmento. A área também se caracteriza como de alta densidade populacional e baixo rendimento.

Imagem 16 – Via férrea, segmento de estudo 3. Fonte: Acervo próprio.

68


Mapa 10 - Estudo da área de intervenção, segmento 3.

Fonte: elaborado pela autora.

v

69


Segmento 4 Segmento com predominância de comércios e serviços, concentrando a maior parte dos edifícios históricos e culturais da cidade. Nesse espaço também há maior atração de atividades culturais. A via férrea faz contato com o terminal urbano, instalado na antiga Estação Ferroviária, sobre terreno considerado como AEI- institucional, tem largura mais ampla nesse trecho que vai afinando conforme se direciona aos bairros. A ferrovia é ladeada por via com leito carroçável na parte mais estreita do terreno, onde é seccionada entre os cruzamentos 9 e 10. Possui no total cinco cruzamentos de quatro tipos diferentes, todos muito próximos uns aos outros e as esquinas, ponto com maior conflito de veículos. Caracteriza-se como uma área de baixa densidade populacional e rendimentos médios.

Imagem 17 - Via férrea, segmento de estudo 4. Fonte: Acervo próprio.

70


Mapa 11- Estudo da área de intervenção, segmento 4. Fonte: elaborado pela autora.

71


Segmento 5 Área

residencial

entre

importantes

ruas

comerciais, bem atendida por equipamentos públicos, como escolas e unidades de saúde. Essa região possui rendimentos e densidade populacional média. A ferrovia passa ao fundo dos lotes das residências e é seccionada por cinco cruzamentos, que no geral são simples, no meio do quarteirão e bem espaçados entre si, com ao menos um quarteirão entre cada um. Área com características mais monótonas, sem fachadas voltadas à sua direção, porém com visão ampla e saídas rápidas para as ruas adjacentes, devido às quadras curtas de 80m².

Imagem 18 - Via férrea, segmento de estudo 5. Fonte: Acervo próprio.

72


Mapa 12 - Estudo da área de intervenção, segmento 5.

Fonte: elaborado pela autora.

73


Segmento 6 Nesse segmento a via férrea, em sua maior extensão, está compreendida entre fundo do Cemitério Municipal e um terreno subutilizado, dando ao segmento característica monótona e sem escapes rápidos para outras ruas. Há nessa área apenas um cruzamento que ligando esse primeiro curso aos conjuntos habitacionais. Esse segmento abrange regiões de baixa e alta densidade com rendimentos baixos e médios.

Imagem 19 - Via férrea, segmento de estudo 6 Fonte: Acervo próprio.

74


Mapa 13 - Estudo da área de intervenção, segmento 6.

Fonte: elaborado pela autora.

75


76


PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

O projeto foi pensado para a extensão de 6 km do leito ferroviário dentro da malha urbana de Assis, conectando a região norte e sul ao centro da cidade e uma região a outra através da ciclovia e caminho para pedestres. Para viabilizar o projeto em toda sua extensão foram desenhados três tipos de padrão de implantação para trechos com as tais características: um desenho para os trechos que estão entre duas vias carroçáveis, um desenho para os trechos entre uma via carroçável e o fundo dos lotes e por fim um desenho para os trechos ao fundo dos lotes. Desta forma se consegue prever a acomodação da ciclovia em situações diferentes, além da possiblidade de variação do desenho se adequando a necessidade de uso do entorno, com áreas Imagem 20 - Intervenção no leito ferroviário para via dedicada a mobilidade ativa.

de

Fonte: Elaborado pela autora.

lazer e encontros.

estacionamento

para

food

truck,

espaços

livre

para

permanecia

pavimentados e permeáveis para que o espaço seja também um espaço de

77


Mapa 14 – Divisão dos trechos padrão

Fonte: Elaborado pela autora.

78


Para segurança e eficiência da circulação dos

circulação de ciclistas com travessias elevadas, e hora

ciclistas, ao centro das quadras o desenho predomina em

dando a preferência para veículos mas o sempre visando

linearidade, e nos pontos onde há cruzamento com

a segurança do ciclista com áreas de recuo para espera.

pedestres e automóveis foram desenhadas curvas e

A iluminação e sombreamento das árvores respeita o guia

rampas para reduzir a velocidade evitando conflito nestes

de arborização urbana da Secretaria de Agricultura e Meio

pontos, e cruzamento sempre cm visão de 90° entre

Ambiente de Assis, com distanciamento mínimo entre

ciclistas e automóveis, com prevenção de projeto para

plantio e luminária, para conforto e segurança dos

diferentes tipos de cruzamento hora favorecendo a

ciclistas durante os períodos de dia e noite.

Imagem 21 - Proposta ciclovia. Fonte: autora.

Elaborado

pela

79


Para possibilitar a conexão entre bicicleta e

com praça de alimentação e uma oficina para concerto de

transporte publico foi previsto a implantação de um

bicicletas, possibilitando também maior vigilância natural

bicicletário no na área onde está localizada a antiga

das bicicletas estacionadas neste espaço, o bicicletário

estação ferroviária, onde hoje funciona o terminal urbano

também conta com espaço de vestiários que garante

de ônibus da cidade. Junto aos bicicletários foi pensado

maior comodidade para quem faz longos trajetos de

espaço para atuação do comercio através de quiosques

bicicleta para chegar ao seu destino final.

Imagem 22 - Proposta ciclovia, passando pelo terminal urbano de transporte coletivo. Fonte: autora.

Elaborado

pela

80


PEDALARECAI NHARAOLONGODOSTRI LHOSFERROVI ÁRI OSDEASSI S,UM CONVI TE O pr oj et of oipensado par a a ext ensão de 6 km do l ei t of er r ovi ár i o dent r odamal haur banadeAssi s,conect andoar egi ãonor t eesulao cent r odaci dadeeumar egi ãoaout r aat r avésdaci cl ovi aecami nho par apedest r es.Par avi abi l i zaropr oj et oem t odasuaext ensãof or am desenhadost r êst i posdepadr ãodei mpl ant açãopar at r echoscom as t ai s car act er í st i cas:um desenho par a os t r echos que est ão ent r e duasvi ascar r oçávei s,um desenho par a ost r echosent r e uma vi a car r oçáveleof undodosl ot eseporf i m um desenhopar aost r echos aof undodosl ot es.Dest af or maseconseguepr everaacomodação daci cl ovi aem si t uaçõesdi f er ent es,al ém dapossi bl i dadedevar i ação do desenho se adequando a necessi dade de uso do ent or no,com ár eas de est aci onament o par a f ood t r uck, espaços l i vr e par a per maneci a pavi ment ados e per meávei s par a que o espaço sej a t ambém um espaçodel azereencont r os.Par asegur ançaeef i ci ênci a da ci r cul ação dos ci cl i st as, ao cent r o das quadr as o desenho pr edomi na em l i near i dade,e nospont osonde há cr uzament o com pedest r es e aut omóvei sf or am desenhadas cur vas e r ampas par a r eduzi ra vel oci dade evi t ando conf l i t o nest espont os,e cr uzament o

com vi são de 90° ent r e ci cl i st as e aut omóvei s,com pr evenção de pr oj et o par a di f er ent es t i pos de cr uzament o hor af avor ecendo a ci r cul ação de ci cl i st as com t r avessi as el evadas, e hor a dando a pr ef er ênci apar aveí cul osmasosempr evi sandoasegur ançadoci cl i st a com ár easder ecuo par a esper a. A i l umi nação esombr eament o das ár vor es r espei t a o gui a de ar bor i zação ur bana da Secr et ar i a de Agr i cul t ur a e Mei o Ambi ent e de Assi s,com di st anci ament o mí ni mo ent r e pl ant i oel umi nár i a, par a conf or t o e segur ança dos ci cl i st as dur ant e osper í odosde di a e noi t e.Par a possi bi l i t ara conexão ent r e bi ci cl et a e t r anspor t e publ i co f oi pr evi st o a i mpl ant ação de um bi ci cl et ár i ononaár eaondeest ál ocal i zadaaant i gaest açãof er r ovi ár i a, ondehoj ef unci onaot er mi nalur banodeôni busdaci dade.J unt oaos bi ci cl et ár i osf oipensadoespaçopar aat uaçãodocomer ci oat r avésde qui osquescom pr aça de al i ment ação e uma of i ci na par a concer t o de bi ci cl et as,possi bi l i t andot ambém mai orvi gi l ânci anat ur aldasbi ci cl et as est aci onadasnest eespaço,obi ci cl et ár i ot ambém cont acom espaçode vest i ár i os que gar ant e mai or comodi dade par a quem f az l ongos t r aj et osdebi ci cl et apar achegaraoseudest i nof i nal .

T RE CHOSCOMDUASVI ASL AT E RI ASRE PRE S E NT ADOSNACORAMARE L A

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UNI V E R S I DADEE S T ADUALDEL ONDR I NA C E NT R ODET E C NOL OGI AEUR B ANI S MO ARQUI TETURA E URBANI SMO

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PROPOS T ACI CL OVI A

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PROPOS T ACI CL OVI A

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Pl ant a bai xa -Tr echo padr ão de f undo dosl ot es

Ar v or esdemédi opor t edes ombr ea ment odapr opos t a .

Ma gnól i a a ma r el a

I pêbr a nc o

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Res edá gi ga nt e

Pedal arecami nharaol ongodost r i l hosf er r ovi ár i osdeAssi s, um convi t e

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Bi c i c c l et á r i o

Pl a nt aba i x abi c i c l et á r i o

E s t a c i ona ment odev eí c ul i se x i s t ent e

T er mi na l ur ba nodet r a ns por t ec ol et i c o-Ant i gapl a t a f or mede emba r queedes emba r quedost r ens

Mus euf er r ov i á r i o-Ant i gaes t a ç ã of er r ov i á r i a

E s t a c i ona mnet odos ôni bus Pl ant a-Tr echot er mi nal

PROPOS T ABI CI CL ET ÁT I O

UNI V E R S I DADEE S T ADUALDEL ONDR I NA C E NT R ODET E C NOL OGI AEUR B ANI S MO ARQUI TETURA E URBANI SMO

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