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MARIA, A MISSIONÁRIA

Exemplo de humildade, dedicação e serviço que deve inspirar todos os missionários a seguirem o chamado de Deus

Todos nós, seres humanos, somos chamados à vida por Deus e, nesta vida, somos formados pelo Criador para uma missão. Três são, então, as nossas características essenciais de viventes: vocacionados, discípulos e missionários.

E Maria também tem essas características dos viventes, as quais vamos aprofundar a seguir.

Maria foi vocacionada, chamada a ser Mãe de Deus. Foi preparada por Ele através da sua concepção imaculada e, um dia, ao atingir a maturidade, é a Ela revelada a sua vocação para ser a Mãe de Deus. Assim aconteceu o anúncio realizado pelo Anjo Gabriel: “Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus” (Lc 1,3031). Maria quis entender sua missão e por isso pergunta ao anjo como isso aconteceria, pois ela não tinha tido relações conjugais com homem algum (cf. Lc 1,34). Da mesma forma, Deus quer que conheçamos nossa própria vocação e missão. E a resposta de Maria ao chamado que recebeu (cf. Lc 1,38), deve ser a mesma resposta que cada um de nós deve dar: nos colocarmos como servos do Senhor na missão, prontos para viver a vocação à qual fomos chamados.

Maria foi, de fato, discípula do Senhor. Como disse Santo Agostinho, Maria foi mais bem-aventurada por ser discípula do Senhor do que por ser mãe, porque Nossa Senhora concebeu a Palavra de Deus no seu coração, antes de concebê-la no seu ventre.

“Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá” (Lc 1,39). Maria viveu plenamente sua vocação de ser Mãe, e demonstrou que é vocacionada à missão quando tomou conhecimento que sua prima Isabel estava grávida. Ela não somente foi para ajudá-la, mas foi apressadamente.

A prontidão em servir, em fazer o bem ao outro, é uma característica missionária, mas Maria foi além. Ao chegar à casa de Isabel, Maria leva a presença de Deus e sua prima é imersa na efusão do Espírito Santo. Assim escreve o Evangelista São Lucas: “Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo” (Lc 1,40-41). Esse fato demonstra outra característica da missionariedade da Virgem Santíssima, que deve ser compartilhada por todos nós, que é propiciar o encontro do ser humano com Deus. Esse é o principal objetivo da missão.

Nossa Senhora concebeu a Palavra de Deus no seu coração, antes de concebê-la no seu ventre

Maria não é orgulhosa, ela é a humilde serva do Senhor (Cf. Lc 1,38). Ela entoa um grande louvor pela obra salvífica de Deus na História. Nunca o missionário pode acreditar que a missão é fruto da sua carne, mas sempre é graça de Deus.

Maria, no canto do Magnificat, num grande louvor, dentre outras verdades, reconhece Deus como o princípio e finalidade da Missão. Nossa Senhora, no Espírito Santo, proclama a grandeza de Deus; em seguida, louva porque o Senhor vem ao encontro dos humildes e pobres para salvá-los, cumprindo, assim, as profecias e finalmente, profetiza que está sendo cumprida a promessa feita ao pai Abraão.

“Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre” (Lc 1,54-55). O canto de Maria deve ser o canto do missionário: louva a Deus que vem salvar o seu povo.

Maria, a missionária, continua sua missão de acompanhar o crescimento de seu Divino Filho, ajudando a crescer em estatura, sabedoria e graça, diante de Deus e diante dos seres humanos (cf. Lc 2,52). Ela sempre procurava guardar e meditar no coração as intervenções de Deus na História (cf. Lc 2,19). Maria não era uma missionária passiva, mas colaborou com a ação providente de Deus. Por isso, “Maria sabe reconhecer os vestígios do Espírito de Deus tanto nos grandes acontecimentos como naqueles que parecem imperceptíveis”

(PAPA FRANCISCO. EXORTAÇÃO APOSTÓLICA EVANGELII GAUDIUM: sobre o anúncio do evangelho no mundo atual, n. 288).

Nossa Senhora vivencia a Palavra de Deus, está aos pés da Cruz ao lado do seu Filho e acompanha com amor de mãe a Igreja nascente no dia de Pentecostes. “Juntamente com o Espírito Santo, sempre está Maria no meio do povo. Ela reunia os discípulos para O invocarem (At 1, 14) e assim tornou possível a explosão missionária que se deu no Pentecostes. Ela é a Mãe da Igreja evangelizadora e, sem Ela, não podemos compreender cabalmente o espírito da nova evangelização”

(PAPA FRANCISCO. EXORTAÇÃO APOSTÓLICA EVANGELII GAUDIUM: sobre o anúncio do evangelho no mundo atual, n. 284).

Nunca o missionário pode acreditar que a missão é fruto da sua carne, mas sempre é graça de Deus

No Brasil, Maria continua sua missão. Na pequena imagem de Aparecida, ela chama os seus filhos a se encontrarem com Deus. Os brasileiros chamam o Santuário Nacional de “casa da mãe”. Casa é lugar de encontro, de convivência e de se sentir bem. Imagem descoberta em 1717, num lugar escolhido por Deus, quando ainda a cidade de São Paulo não tinha nenhum vestígio da metrópole que é hoje e o Rio de Janeiro não era a capital do Império. Nesse lugar providencial, Maria exerce ainda sua missão e vem ao encontro dos mais necessitados e pobres, se faz simples para os simples, e quer conduzir todos a participarem da comunhão da Santíssima Trindade. Nossa Senhora da Conceição Aparecida deve ser um exemplo de missionária para todos nós. Às vezes confiamos mais nas nossas forças e capacidades do que na graça de Deus e também somos enviados àqueles que se fazem necessitados de Deus, os pobres (cf. Mt 5,3). Nessa perspectiva, o missionário deve ser também uma pessoa despojada para, na liberdade, poder evangelizar.

Maria, Mãe da Igreja e Estrela da Evangelização, interceda por nós para que possamos ouvir o chamado de Deus e sermos dóceis à formação em nosso discipulado e finalmente vivermos a plenitude da missão.

Por Padre Micael de Moraes, sjs Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Pentecostes e São Francisco de Assis

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