O Turismo como Desencadeante da Memória e Identidade

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UNIVERSIDADE DE LISBOA | FACULDADE DE ARQUITETURA

O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

Ana Rita Carvalho Monteiro Varela (Licenciada em Estudos Arquitetónicos) Projeto de Final de Mestrado para a Obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura Equipa de Orientação Professora Doutora Ana Marta Neves Santos Feliciano Professor Doutor António Miguel Neves da Silva Santos Leite Júri Presidente: Professor Doutor Pedro Miguel Gomes Januário Vogal: Professor Doutor Daniel Maurício Santos de Jesus Lisboa, Julho de 2017



O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

Ana Rita Carvalho Monteiro Varela (Licenciada em Estudos Arquitetónicos) Projeto de Final de Mestrado para a Obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura Equipa de Orientação Professora Doutora Ana Marta Neves Santos Feliciano Professor Doutor António Miguel Neves da Silva Santos Leite Júri Presidente: Professor Doutor Pedro Miguel Gomes Januário Vogal: Professor Doutor Daniel Maurício Santos de Jesus Lisboa, Julho de 2017


O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE

TÍTULO O Turismo Como Desencadeante da Memória e Identidade SUBTÍTULO Reabilitação do Quarteirão do Antigo Palácio Parreira Cortez NOME Ana Rita Carvalho Monteiro Varela EQUIPA DE ORIENTAÇÃO Professora Doutora Ana Marta Neves Santos Feliciano Professor Doutor António Miguel Neves da Silva Santos Leite Projeto Final para a obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura Lisboa, Julho 2017

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REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

RESUMO O turismo é atualmente uma atividade de grande presença no país. O aumento exponencial de turistas conduz à necessidade e composição de novas estratégias por todo o território nacional. Neste sentido, a Arquitetura está fortemente relacionada com o desenlace da atividade: não só como ponto de partida, mas como solução de novas estratégias. Contrariando a ideia do país como destino turístico litoral, este trabalho pretende reconhecer o potencial da riqueza cultural no Baixo Alentejo, que parece descurado como destino turístico. Deste modo, através da Arquitetura e recorrendo à memória e identidade do lugar, propõe-se a reabilitação de um quarteirão semi-obsoleto na cidade de Serpa. A proposta da construção de uma Escola de Hotelaria e Turismo visa reintegrar o quarteirão, eternizando o património do lugar.

PALAVRAS-CHAVE Memória | Identidade | Turismo | Reabilitação | Serpa

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O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE

TITLE Tourism as a Trigger of Memory and Identity SUBTITLE Rehabilitation of the old Parreira Cortez’s Palace Block. NAME Ana Rita Carvalho Monteiro Varela ADVISORS TEAM Ana Marta Neves Santos Feliciano PhD António Miguel Neves da Silva Santos Leite PhD FinalProject to obtain the Master’s Degree in Architecture Lisbon, July 2017

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REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

ABSTRACT Tourism is currently an activity of great presence in the country. The exponential increase of tourists leads to the need and composition of new strategies throughout the national territory. In this sense, Architecture is strongly linked with the activity’s outcome: not only as a starting point, but also as a solution of new strategies. Contradicting the idea of the country as a coastal tourist destination, this work intends to recognize the potential of the cultural richness in Baixo Alentejo, which seems neglected as a tourist destination. Thus, through Architecture and resorting to the location’s memory and identity, it is proposed the rehabilitation of a semi-obsolete block in the city of Serpa. The proposal of building a School of Hospitality and Tourism aims to reintegrate the block, perpetuating the patrimony of the location.

KEYWORDS Memory | Identity | Tourism | Rehabilitation | Serpa

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REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

AGRADECIMENTOS

Aos orientadores Ana Marta Feliciano e António Leite, aos meus pais, à minha irmã e ao Pedro. A todos, por tudo. À memória do meu avô António.

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REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO 1.1. Enquadramento e objectivo 1.2. Metodologia 1.3. Estrutura e organização

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2. A MEMÓRIA E A IDENTIDADE

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2.1. O conceito de memória 2.2. O conceito de identidade 2.3. Manutenção da identidade através da memória

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3.O TURISMO 3.1 O turismo como conceito 3.2. O turismo em portugal no século XX 3.2.1.O turismo na I República 3.2.2.O turismo no Estado Novo 3.3.3. O turismo na Democracia

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4. A MEMÓRIA COMO LINGUAGEM TURÍSTICA CASOS DE ESTUDO 4.1. Palácio Valle Flor - Hotel Pestana Palace Arqto. Manuel Tainha 4.2. Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve Arqto. Luís Carrilho da Graça 4.3. Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre Arqto. Eduardo Souto de Moura e Arquta. Graça Correia 5. O LUGAR

5.1. O lugar - Serpa 5.2. O centro, A muralha 6. A PROPOSTA 6.1. O conceito 6.2. O programa

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O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE

6.2.1. Unidade Hoteleira de Aplicação 6.2.2. Escola de Hotelaria e Turismo 6.2.3. Residência de Estudantes 6.3. A materialidade 6.4. Tabelas de áreas

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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8.REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS

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9. ANEXOS

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ÍNDICE de figuras 1. INTRODUÇÃO 1.

Esquema da relação de conceitos. Imagem da autora, 2017. Esquema.

2.

Portas de Beja, em Serpa, no início da década 60. Autor desconhecido (s.d.). Fotografia. In http://www.monumentos.pt/Site/DATA_SYS/FONTES_DOC/IMAGES/00000152/00758362.JPG

2. A MEMÓRIA E A IDENTIDADE 3.

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6. 7.

8.

Memory loss vs book narrative: Digging up the past. Reflexão gráfica como o Alzheimer afecta a memória. Autora Rita Maldonado Branco, 2012. Fotografia. In http://payload87.cargocollective.com/1/8/273179/4056803/digging-up-1.jpg Memory loss vs book narrative: Digging up the past. Reflexão gráfica como o Alzheimer afecta a memória. Autora Rita Maldonado Branco, 2012. Fotografia. In http://payload87.cargocollective.com/1/8/273179/4056803/digging-up-2.jpg Memory loss vs book narrative: Digging up the past. Reflexão gráfica como o Alzheimer afecta a memória. Autora Rita Maldonado Branco, 2012. Fotografia. In http://payload87.cargocollective.com/1/8/273179/4056803/digging-up-3.jpg Esquema da ligação de conceitos. Imagem da autora, 2017. Esquema. Gedächtniskirche - Igreja Memorial Imperador Guilherme em Berlim em 1900. Autor desconhecido (s.d.). Gravura. In https://s-media-cache-ak0.pinimg. com/564x/6f/35/ec/6f35ec87b113003463def35bb705630a.jpg Gedächtniskirche - Igreja Memorial Imperador Guilherme em Berlim actualmente. Autor desconhecido, 2010. Fotografia. In http://www.vitruvius.com.br/media/ images/magazines/grid_9/78f5_528-01.jpg

9. Esquema da relação de conceitos. Imagem da autora, 2017. Esquema.

3. O TURISMO 10. Palace Hotel do Buçaco, Buçaco, Luigi Manini. Início do século XX. Autor desconhecido (s.d.). Fotografia. In http://lh5.ggpht.com/-bstPJzUt3C8/UYaGDQyl0UI/ AAAAAAAA2fQ/6k79zCoixyY/s1600/Palace%252520Hotel%252520do%252520Bussaco.25%25255B4%25255D.jpg 11. Palace Hotel da Curia, Curia, Norte Júnior. Início do século XX. Autor desconhecido

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(s.d.). Fotografia. In http://lh6.ggpht.com/--C_RemnRKUg/UC9bNX95yWI/AAAAAAAAeA0/ RP0twi3kDZI/s1600/Palace%252520da%252520Curia.0.0%25255B9%25255D.jpg Palace Hotel de Vidago, Vidago, José Ferreira da Costa. Início do século XX. autor desconhecido (s.d.). Fotografia. In http://lh6.ggpht.com/-hKm1wvQOzjU/UJd6ni0ws9I/ AAAAAAAAmsM/MqiL3fmke4g/s1600/Vidago-Palace.8.jpg Portugal: The shortest way between America and Europe. Cartaz de promoção turística. Sociedade de Propaganda de Portugal. Autor SPP, 1907. Postal ilustrado. In https:// www.flickr.com/photos/bfranca33/3778721446 Projecção do plano para a Costa do Sol. Estoril, Estação Marítima, Climatérica Termal e Sportiva. Autor desconhecido, 1914. Ilustração. In http://comum.rcaap.pt/bitstre am/10400.26/13109/1/2016.05.001_.pdf Plano da Estância Estoril inserido na brochura de promoção no ano 1914. Autor Desconhecido, 1914. Desenho. In http://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/13109/1/2016.05.001_. pdf Cartaz de promoção turística do Estoril.Sociedade de Propaganda de Portugal. Autor SPP, 1928. Postal ilustrado. In PINA, Paulo – Portugal, O Turismo no séc. XX. Lisboa: Lucidus, 1988 Hotel de Aviz, Lisboa, Vasco Regaleira, 1942. Autor desconhecido, 1942. Fotografia. In https://lh3.googleusercontent.com/-SijBov30iME/V5W6kwtJh-I/AAAAAAABy4c/BZzZzxI_EbE/s1600-h/Hotel%252520Aviz.4%25255B7%25255D.jpg Palce Hotel do Estoril, Esoril, Henri Martinet, 1930. Autor desconhecido, década de 30. Fotografia. In http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2013/12/palacio-hotel-do-estoril.html Guia de Boas Práticas, Secretariado de Propaganda Nacional e ilustraçoes de Emérico Nunes. Autor SPN,1941. Ilustrações. In http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/06/ pousada-de-santiago-do-cacem.html Cartaz de promoção turística da Pousda de Elvas. Sociedade de Propaganda Nacional. Autor SPN, ano 40. Postal ilustrado. In http://lh5.ggpht.com/-gMheZtNF4h8/TuHas4DMJuI/AAAAAAAAPH0/4fix07_p4mo/s1600/Cartaz-Elvas16.jpg Cartaz de promoção turística da Estancia Termal da Curia. Sociedade de Propaganda Nacional. Autor SPN, ano 40. Postal ilustrado. In http://lh3.ggpht.com/-l4nn_1TMFKo/ TuHaujDv0-I/AAAAAAAAPIE/7lx1o-vm0r0/s1600/Cartaz-Curia24.jpg Cartaz de promoção turística de Óbidos. Sociedade de Propaganda Nacional. Autor SPN, ano 40. Postal ilustrado. In http://lh4.ggpht.com/-xdlQ3-KjXvI/TuHap9NXBFI/ AAAAAAAAPHU/ARz5ceLNdGY/s1600/Cartaz-bidos18.jpg Cartz da companhia aérea portuguesa TAP. Autor TAP, 1961. Serigrafia. In http://restosdecoleccao.blogspot.pt/ Inauguração do novo aeroporto da cidade de Lisboa. Autor desconhecido, 1942. Fotografia. In http://restosdecoleccao.blogspot.pt/ Mapa da localização da primeira geração das Pousadas de Portugal nos anos 40. Imagem da autora, 2017. Desenho. Pousada de Sta. Luzia, Elvas, Miguel Jacobetty Rosa, 1942. Autor desconhecido, 1942. Fotografia. In http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/01/primeiras-pousadas-de-portugal. html Pousada de São Tiago, Santiago do Cacém, Miguel Jacobetty Rosa, 1945. Autor desco-


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nhecido, 1945. Fotografia. In http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/01/primeiras -pousadas-de-portugal.html Pousada de St. António, Serém, Rogério de Azevedo , 1942. Autor desconhecido, 1942. Fotografia. In http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/01/primeiras-pousadasde-portugal.html Pousada de S.Gonçalo, Marão, Rogério de Azevedo, 1942. Autor desconhecido, 1942. Fotografia. In http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/01/primeiras-pousadas-de-portugal.html Pousada de S.Brás, S.Brás de Alportel, Miguel Jacobetty Rosa, 1944. Autor desconhecido, 1944. Fotografia. In http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/01/primeiras-pousadas-de-portugal.html Pousada de S.Lourenço, Serra da Estrela, Rogério Azevedo, 1948 . Autor desconhecido, 1948. Fotografia. In http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/01/primeiras-pousadas-de-portugal.html Pousada de São Martinho, Afeizarão, Veloso Reis Camelo, 1943 . Autor desconhecido, 1943. Fotografia. In http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/01/primeiras-pousadas-de-portugal.html Hotel Ritz em Lisboa, Profírio Pardal Monteiro, 1959. Autor desconhecido, 1959. Fotografia. In http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/05/hotel-ritz.html Marina de Vilamoura, edifícios em construção, 1975. Autor desconheido, 1975. Fotografia. In http://www.algarveimobiliaria.com/i/viver-algarve/vilamoura-desde-1971/marina-de-vilamoura-1975.jpg Marina de Vilamoura, primeiros edificios já contruídos, 1977. Autor desconheido, 1977. Fotografia. In http://www.algarveimobiliaria.com/i/viver-algarve/vilamoura-desde-1971/marina-de-vilamoura-1977.jpg Convento de Lóios - Pousada de Arraiolos, José Paulo dos Sanros, 1990. Autor desconhecido (s.d.). Fotografia. In http://www.hotel-r.net/im/hotel/pt/pousada-convento-de-arraiolos-18.jpg Mosteiro da Flor da Rosa - Pousada do Crato, Carrilho da Graça, 1995. Autor desconhecido (s.d.). Fotografia. In http://www.cultour.com.pt/sites/default/files/styles/galeria-colorbox/public/galerias/flor-rosa-1-fg.jpg?itok=I1uW87E9 Mosteiro de Santa Maria do Bouro - Pousada de Amares, Souto Moura, 1997. Autor desconhecido (s.d.). Fotografia. In https://s-media-cache-ak0.pinimg. com/564x/94/88/63/948863bfec21c2e5bff375d9eb616ea6.jpg

4. A MEMÓRIA COMO LINGUAGEM TURÍSTICA CASOS DE ESTUDO 39. Palácio Valle Flor, Nicola Bigaglia, início do século XX. Imagem da autora, 2016. Fotografia. 40. Sala de Estar Luís XIV do Palácio Valle Flor, Nicola Bigaglia, início do século XX. Autor desconhecido (s.d.). Fotografia. In https://www.meetingsbooker.com/images/ venues/Pestana-Palace-Hotel-0.jpeg 41. Piscina exterior do Palácio Valle Flor, Manuel Tainha, 2001. Imagem da autora,

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2016. Fotografia. Palácio Valle Flor, Nicola Bigaglia, início do século XX. Imagem da autora, 2016. Fotografia. Palácio Valle Flor - Pestana Palace, Manuel Tainha, 2001. Imagem da autora, 2016. Fotografia. Planta do piso 0 do Palácio Valle Flor - Pestana Palace, Manuel Tainha, 2001. Manuel Tainha, 2001. Desenho. In Biblioteca de Arte Fundação Calouste Gulbenkian Secção longitudinal do corpo Poente do Palácio Valle Flor - Pestana Palace, Manuel Tainha, 2001. Manuel Tainha, 2001. Desenho. In Biblioteca de Arte Fundação Calouste Gulbenkian Escola de Hotelaria e Turismo de Faro. Carrilho da Graça, 1997. Autor desconhecido (s.d.). Fotografia. In http://3.bp.blogspot.com/-HBaTS9qtLKc/UY_vnT0cc8I/ AAAAAAAAgf8/-7rQH41uThA/s1600/DSCN7497.JPG Escola de Hotelaria e Turismo de Faro. Carrilho da Graça, 1997. Imagem da autora, 2016. Fotografia. Escola de Hotelaria e Turismo de Faro. Carrilho da Graça, 1997. Autor desconhecido (s.d.). Fotografia. In http://guiasdearquitectura.com/sites/_guiasarquitectura/// public/1_OBRAS%20PUBLICADAS/SUL/sul_0131_FA18_04-recuperacao-transformacao-convento-s-francisco-escola-hotelaria.jpg Planta do piso 0 da Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Carrilho da Graça, 19941997. Carrilho da Graça, 1994. Desenho. In GRAÇA. Joaão Luis Carrilho da Graça - Carrilho da Graça. Lisboa: Editorial Blau, 1995 Planta do piso 1 da Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Carrilho da Graça, 19941997. Carrilho da Graça, 1994. Desenho. In GRAÇA. Joaão Luis Carrilho da Graça - Carrilho da Graça. Lisboa: Editorial Blau, 1995 Secção longitudinal da Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Carrilho da Graça, 1994-1997. Carrilho da Graça, 1994. Desenho. In GRAÇA. Joaão Luis Carrilho da Graça - Carrilho da Graça. Lisboa: Editorial Blau, 1995 Secção transversal da Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Carrilho da Graça, 1994-1997. Carrilho da Graça, 1994. Desenho. In GRAÇA. Joaão Luis Carrilho da Graça - Carrilho da Graça. Lisboa: Editorial Blau, 1995 Alçado Nascente da Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Carrilho da Graça, 1994-1997. Carrilho da Graça, 1994. Desenho. In GRAÇA. Joaão Luis Carrilho da Graça - Carrilho da Graça. Lisboa: Editorial Blau, 1995 Fotografia do interior da Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Carrilho da Graça, 1994-1997. Carrilho da Graça, 1994. Fotografia. In GRAÇA. Joaão Luis Carrilho da Graça - Carrilho da Graça. Lisboa: Editorial Blau, 1995 Fotografia do interior da Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Carrilho da Graça, 1994-1997. Carrilho da Graça, 1994. Fotografia. In https://scontent-lhr3-1.xx.fbcdn.net/v/t1.0-9/66016_133233273394469_7826266_n.jpg?oh=e938d7dfcf4c7b91ea3bb989917a9885&oe=596C3914 Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Souto Moura e Graça Correia, 2008. Luís Ferreira Alves, 2011. Fotografia. In http://dvqlxo2m2q99q.cloudfront.net/000_clients/147455/page/h800-1474551499IJWc.jpg


REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

57. Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Souto Moura e Graça Correia, 2008. Luís Ferreira Alves, 2011. Fotografia. In http://images.adsttc.com/media/images/50ae/ef4a/b3fc/4b27/8500/0117/slideshow/LFA_20110202_075.jpg?1424478904 58. Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Souto Moura e Graça Correia, 2008. Christian Richters, 2011. Fotografia. In http://www.correiaragazzi.com/escola-hotelaria-portalegre 59. Planta do Plano Estratégico para a regeneração da àrea da antiga fábrica Robinson, Eduardo Souto de Moura e Graça Correia. 2008. Souto de Moura e Graça Moreira, 2008. Desenho. In http://www.designboom.com/weblog/images/images_2/ lauren/soutodemouracorreia/soutodemouracorreia20.jpg 60. Planta do piso -1 da Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Souto Moura e Graça Correia, 2008. Souto de Moura e Graça Moreira, 2008. Desenho. In http:// images.adsttc.com/media/images/50ae/f513/b3fc/4b27/8500/015a/large_jpg/Planta_ piso_-1__basement_plan(A4).jpg?1424478964 61. Planta do piso O da Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Souto Moura e Graça Correia, 2008. Souto de Moura e Graça Moreira, 2008. Desenho. In http:// images.adsttc.com/media/images/50ae/f519/b3fc/4b27/8500/015c/large_jpg/Planta_ piso_0_ground-floor_plan(A4).jpg?1424478960 62. Secção longitudinal da Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Souto Moura e Graça Correia, 2008. Souto de Moura e Graça Moreira, 2008. Desenho. In http://images.adsttc.com/media/images/50ae/f4e4/b3fc/4b27/8500/0156/large_jpg/ Corte_Section_CL3_5(A4).jpg?1424478984 63. Secção transversal da Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Souto Moura e Graça Correia, 2008. Souto de Moura e Graça Moreira, 2008. Desenho. In http://images.adsttc.com/media/images/50ae/f4db/b3fc/4b27/8500/0152/large_jpg/ Corte_Section_CT2_A4).jpg?1424478972 64. Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Souto Moura e Graça Correia, 2008. Luís Ferreira Alves, 2011. Fotografia. In http://images.adsttc.com/media/images/50ae/ef6a/b3fc/4b27/8500/0121/large_jpg/LFA_20110202_102.jpg?1424478938 65. Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Souto Moura e Graça Correia, 2008. Luís Ferreira Alves, 2011. Fotografia. In http://images.adsttc.com/media/images/50ae/ef8b/b3fc/4b27/8500/012b/large_jpg/LFA_20110202_128.jpg?1424478923 66. Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Souto Moura e Graça Correia, 2008. Luís Ferreira Alves, 2011. Fotografia. In http://images.adsttc.com/media/images/50ae/ef82/b3fc/4b27/8500/0128/large_jpg/LFA_20110202_122.jpg?1424478926

5. O LUGAR 67. Terreiro Humberto Delgado, em Serpa, início da década de 60. Autor desconhecido (s.d.). Fotografia. In http://www.monumentos.pt/Site/DATA_SYS/FONTES_DOC/ IMAGES/00000152/00758364.JPG 68. Vista aérea de Serpa, 2016. Contextualização da vila. Autor GoogleMaps , manipulado pela autora,2016. Fotografia. 69. Evolução histórica da muralha de Serpa, século XII-XIV, século XV-XVI e século XVII -XVIII. Imagem da autora, 2017. Desenho.

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O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE

70. Fronteira de portugal fortificada pellos reys deste reyno. Iconografia de Serpa de Duarte Damas, século XVI.Duarte Damas, 1642. Iconografia. In Biblioteca Nacional Digital. 71.

Vista aérea de Serpa. Autor desconhecido, 2010. Fotografia. In http://3.bp.blogspot.com/-INxBUoEmJCw/TbGNtvq1kdI/AAAAAAAADSs/zjQSQRMQ8Ro/s1600/Serpa%2B2.JPG

72. Vista aérea de Serpa. Autor desconhecido, 2010. Fotografia. In http://2.bp.blogspot.com/-V37b6icQlVA/TbGNNLVap3I/AAAAAAAADSU/FnTMVwRwhAo/s1600/Serpa%2B5.JPG 73. Rua dos Arcos, em Serpa. Autor desconhecido, 1962. Fotografia. In http://www. monumentos.pt/Site/DATA_SYS/FONTES_DOC/IMAGES/00000042/00209712.JPG 74. Rua dos Arcos, em Serpa. Autor desconhecido, 1971. Fotografia. In http://www.monumentos.pt/Site/DATA_SYS/FONTES_DOC/IMAGES/00000042/00209805.JPG 75. Rua dos Arcos, em Serpa. Autor desconhecido, 1968. Fotografia. In http://www. monumentos.pt/Site/DATA_SYS/FONTES_DOC/IMAGES/00000042/00209820.JPG 76. Rua dos Arcos, em Serpa, início da década de 60. Autor desconhecido, (s.d.). Fotografia. In https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcREV9lgRqdsGXM4nedJkVzMUj8oBhB51EdZ_iLbgrat9WQWYvL-

6. A PROPOSTA 77. Rua dos Arcos, em Serpa. Autor desconhecido, 1968. Fotografia. In http://www. monumentos.pt/Site/DATA_SYS/FONTES_DOC/IMAGES/00000042/00209815.JPG 78. Planta esquemática das relações do quarteirão com a cidade. Imagem da autora, 2017. Desenho. 79. Mapa das Escolas de Hotelaria e Turismo no Centro e Sul de Portugal. Imagem da autora, 2017. Desenho. 80. Pormenor exterior do antigo Palácio Parreira Cortez. Imagem da autora, 2016. Fotografia. 81. Pormenor exterior do vão do antigo Palácio Parreira Cortez. Imagem da autora, 2016. Fotografia. 82. Pormenor dos estuques do tecto da sala de jantar do antigo Palácio Parreira Cortez. Imagem da autora, 2016. Fotografia. 83. Pormenor das abóbadas das antigas cavalariças do antigo Palácio Parreira Cortez. Imagem da autora, 2016. Fotografia. 84. Pormenor do tecto do lanternim que ilumina as escadas principais do antigo Palácio Parreira Cortez. Imagem da autora, 2016. Fotografia. 85. Pormenor do hall das escadas do primeiro piso do antigo Palácio Parreira Cortez. Imagem da autora, 2016. Fotografia. 86. Corte transversal esquemático do quarto de hotel. Imagem da autora, 2017. Desenho. 87. Fachada do antigo lagar na Rua dos Lagares em Serpa, afecto ao lote da Residên-

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cia. Imagem da autora. 2017. Fotografia.

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O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE

MEMÓRIA COLECTIVA

MEMÓRIA DOCUMENTO

MONUMENTO HERANÇA DO PASSADO

HISTÓRIA

I D E N T I DA D E DO LUGAR

PATRIMÓNIO DO LUGAR

TURISMO

RECURSOS TURÍSTICOS

ETNOLOGIA ARQUEOLOGIA ARQUITECTURA PAISAGEM

A PROPOSTA R E ABILI TAÇÃO EM SERPA

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Introdução

1

A arquitetura tem a capacidade de comunicar entre o passado e o presente e entre o turista e o lugar. A arquitetura torna-se deste modo capaz de construir “um sítio para a memória”. A cidade “só poderá prosseguir um desenvolvimento harmonioso se conseguir transmitir às gerações futuras um sistema de referências culturais e afirmar, através de uma memória viva, a sua indiscutível personalidade” 1 . Torna-se pertinente o surgimento de intervenções que respeitem o valor histórico e patrimonial da cidade, sem que coloquem “em jogo o mesmo desvio de atenção e a mesma transferência de valores pela inserção do presente no passado”2. A conservação integrada do património arquitetónico tornou-se uma potência para o desenvolvimento das sociedades com uma carga cultural e económica insubstituível 3. Uma intervenção produz sempre um impacto no dinamismo da cidade e está implícita na ação de restauro e reabilitação. Neste sentido, a plasticidade da arquitetura deverá fundir a leitura de novas intervenções com a pré-existência. O turismo, de um modo controlado, pode ser uma oportunidade para proporcionar uma continuidade sustentável ao uso de edifícios desprovidos de interesse, que ao serem reabilitados e renovados ganham uma nova vida. Esta atividade com um efeito dinamizador na cidade, é capaz de beneficiar igualmente a população local. A introdução de novos equipamentos e atividades não só estão ao dispor de quem a visita como também para os moradores. Ao reabilitar a cidade, dando lugar ao desenvolvimento de atividades culturais, a autoestima da população residente aumenta. 1 ALBUQUERQUE, Miguel - A cidade. Personalidade e Memória. Sociedade e Território 31-32. Porto: 2000, p.52 (de lado) 1.Esquema da relação de conceitos.

2 CHOAY, Françoise - A Alegoria do Património. Lisboa: Edições 70, 2015, p.232 3 CONSELHO DA EUROPA- Carta Europeia Do Património Arquitectónico Holanda: 1975

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O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE

Parece importante compreender como pode ser potenciada a essência da memória e identidade de um lugar através de intervenções arquitetónicas aliadas ao turismo.

| 1.1. ENQUADRAMENTO E OBJECTIVO A qualidade e o estado de conservação do património urbano em geral são premissas para o sucesso do turismo num lugar. Nos últimos anos o potencial do turismo tem-se desenvolvido generosamente. Atualmente esta atividade funciona como uma estratégia económica, tanto a nível nacional como regional. O vasto património arquitetónico e arqueológico do Baixo Alentejo, desde o Alqueva, Aldeias e seus Castelos/Fortalezas até à Gastronomia, tornam a região de Serpa rica em recursos turísticos. A cidade manifesta ser um potencial destino para o desenvolvimento e o crescimento turístico, oferecendo maior dinamismo a esta localidade. Um pouco à semelhança de Nuno Portas, que escreveu em 1983 para o Programa “Coimbra Antiga e a Vivificação dos Centros Históricos”, a vontade do projeto proposto no presente trabalho para o Município de Serpa, passa pela “revitalização das áreas centrais sem as deixar destruir; é a reutilização de edifícios e jardins antigos que perderam o seu uso tradicional, é a conservação dos quarteirões com a modernização das casas e dos locais de comércio e artesanato, considerados como um património que tem um valor económico e social independentemente do maior ou menor valor arquitetónico de cada edifício que compõe esses quarteirões” 4. Esta atitude vai de encontro ao que Françoise Choay expõe quando refere a cidade histórica como um monumento, incluindo todos os seus aspetos topográficos, paisagísticos e arquitetónicos. O objetivo principal passa pela promoção e criação de turismo através da reabilitação. Com o fim de se entender que ponto específico pode ser reabilitado e como pode ser reabilitado, serão enumerados outros objetivos para uma maior conformidade da proposta. Deste modo será procurada uma Arquitetura contextual, que através de uma simbiose com o contexto local salve o edifício do conflito da individualidade. De igual modo pretende-se perceber até onde pode uma intervenção de reabilitação ser explorada.

4 PORTAS, Nuno - Conservar renovando ou recuperar revitalizando. Coimbra: s.n., 1983, p.11

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Assim sendo, a proposta deste trabalho passa por um projeto estruturante para o Município de Serpa que integre alguns objetivos comuns apresentados no próprio Plano de Desenvolvimento Turístico de Serpa: .Revitalização do Centro Histórico de Serpa .Reforço e qualificação da oferta de alojamento e de restauração .Promoção do destino Por fim, considera-se intencional que o projeto final use como recursos toda a cultura local sem se restringir ao património edificado. A memória do lugar está presente em muito mais do que os edifícios, encontra-se também nas tradições e na gastronomia podendo associá-lo ao seu ensino.

| 1.2. METODOLOGIA O presente trabalho será elaborado com recurso a um método dedutivo, que parte de algo mais geral para mais específico, com uma lógica projetual e intensiva através de uma abordagem dos valores e conceitos locais. Consequentemente a investigação irá partir de conceitos mais gerais e termina à escala do projeto, como resultado da investigação e reflexão. Será então através do desenvolvimento dos conceitos de memória e identidade do lugar que o trabalho se vai basear. Deste modo, é necessária a interpretação de alguns conceitos e perspectivas, bem como uma interpretação do local e do seu espírito. Existe por isso uma preocupação para que todo o património cultural local seja articulado e integrado. A introdução do tema do lugar conduz a um cuidado com o mesmo: como foi, como é e como poderá ser. Entendendo o lugar nas suas diferentes épocas e nas suas diferentes necessidades creio que pode conduzir a uma estratégia mais harmoniosa do produto final.

|1.3. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO O presente trabalho está dividido em duas componentes, uma teórica e uma prática. As duas complementam-se, sendo a primeira a base de todo o desenvolvimento da segunda: o projeto. A componente teórica aborda alguns conceitos chave intrinsecamente ligados ao conceito projetual. A sua organização parte de uma abordagem mais refletiva

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baseada na definição de conceitos gerais terminando numa abordagem mais histórica. A estrutura da parte teórica começa com a análise dos conceitos de memória e identidade e a sua relação com a cidade. São conceitos tácitos na salvaguarda e reabilitação do património, seja ele edificado ou não. Por outro lado, uma das premissas iniciais do trabalho passa por garantir a sua preservação. Interessa, por isso, compreender até onde estes conceitos poderão ser atingíveis. No momento seguinte, numa perspectiva mais histórica do que conceptual, será abordado o turismo. Começando com uma pequena introdução do conceito na História, segue-se a evolução daquela atividade em Portugal durante século XX até aos dias de hoje. Foca-se esta abordagem temporal não só pela sua proximidade com o presente, mas também pelo sucesso do desenvolvimento da atividade turística naquela época. Seguidamente serão apresentados casos de estudo. Para além de contribuírem para uma componente mais técnica do projeto, tratam-se de exemplos conclusivos dos conceitos abordados nos capítulos anteriores. Serão abordados três exemplos projetuais em território nacional. Finalmente será exposto um capítulo dedicado ao estudo do lugar a intervir. Com o objetivo de compreender melhor os antepassados e as potencialidades do lugar, será apresentada uma breve história da cidade de Serpa e o desenvolvimento da Muralha da cidade ao longo da História. Lançada a componente teórica que serve de suporte ao exercício prático, é apresentada uma proposta para um quarteirão semi-obsoleto na cidade de Serpa com a aplicação de um programa que advém da reflexão do título da tese: O Turismo Como Desencadeante da Memória e Identidade. Em suma, o trabalho visa refletir como pode a arquitetura atuar em cidades “adormecidas” pelo tempo, de um modo sustentável e equilibrado, em proveito da sua identidade e memória. Existe um esforço para encontrar um programa que inclui igualmente as pessoas de dentro e fora da cidade, para que a sua memória seja preservada ao longo do tempo.

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2.Portas de Beja, Serpa, início década de 60

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a memória e a identidade

2

“Nós podemos viver sem (a arquitetura), adorar o nosso Deus sem ela, mas sem ela não podemos recordar.” 5

| 2.1. O CONCEITO DE MEMÓRIA Do latim memoria, abordado em diversas áreas, este conceito está associado à lembrança. Tanto na biologia como na psicologia, corresponde às lembranças que o ser vivo retém em si. Numa definição mais científica, consiste na intrínseca função do sistema nervoso. A importância da memória para o homem já se revelava na mitologia da Grécia Antiga com a deusa Mnemósine, a deusa da memória, que apelava à reflexão das memórias do passado para bem do futuro. Psicologicamente, o Homem apreende as suas memórias de duas maneiras e ambas funcionam igualmente de maneira seletiva: a “memória-hábito” que é adquirida pela repetição da situação e que o cérebro, inconscientemente, organiza e memoriza; e a “memória-lembrança”, um pouco semelhante a uma curta metragem, que se refere às memórias ou acontecimentos que a nossa mente grava, parte das vezes conscientemente podendo relembrá-los como uma reconstituição 6. Mais tarde, Jean Delay7 foi capaz de teorizar que seriam não duas mas três memórias que compunham o homem: a “memória sensoriomotor” que está ligada aos hábitos; a “memória autista” associada ao inconscien5 Do capitulo VI The Lamp of Memory em Seven Lamps of Architecture de John Ruskin. CHOAY, Françoise – A Alegoria do Património. Lisboa: Edições 70, 2015. op.cit. p.147 6 Segundo o nobel literário Henri Bergson (1859-1941), autor de “Matière et Mémoire”. CLÉMENT, Élisabeth; DEMONQUE, Chantal; HANSEN-LOVE, Laurence; KAHN, Pierre – Dicionário Prático de Filosofia. Lisboa: Terramar, 2007, p. 252 7 (1907-1987) Psiquiatra, neurologista e escritor francês especialista em “doenças da memória.”

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(à esquerda) 3, 4, 5. Memory loss vs. book narrative: Digging up the past. Reflexão gráfica como o Alzheimer afecta a memória: Como seria se um livro perdesse a memória. Rita Maldonado Branco, 2012 (à direita) 6. Esquema de relação de conceitos.

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te e aos afetos a que associamos certas memórias; e a “memória social” que se caracteriza por ser consciente e racional, associada à reconstituição de memórias e pensamentos 8. A capacidade de mnemónica do Homem é limitada e essa limitação obriga a mente a ser seletiva nas lembranças a recordar. A esta limitação podemos associar o esquecimento, que se torna essencial para o sucesso da memória, desfazendo assim a sua conotação negativa a que usualmente está associada. A sua função exerce o papel de um filtro na mente, privando de guardar informação aparentemente desnecessária.

LEMBRANÇA

PENSAMENTO

IMAGINAÇÃO

Contudo são inúmeras as teorias sobre os tipos de memória, tanto em relação à organização mental do homem como o tipo de construção da memória. Ainda assim, a memória social está intrinsecamente associada aos problemas do tempo e da história. Nas ciências humanas o conceito de memória é descrito como “a capacidade do psiquismo para conservar os conteúdos das vivências para além do “agora e aqui” em que foram vividas, com a possibilidade de atualizá-los em momentos posteriores” 9. A memória, como fundadora da ideia, procura manter o passado no presente ao passo que a história retém uma distância entre o passado e o presente. Há um maior esforço por parte da memória em reter a tradição, ao contrário da história que é capaz de acentuar a mudança. O carácter de ciência da disciplina da História torna-a meticulosamente organizada e ordenada, em confronto com a capacidade de desordem e modelação da memória. Ambas são as representações do passado: uma como uma ideia plausível, e outra mais exata, apesar da história se basear nas “ideais plausíveis”, ou seja, na memória. A memória coletiva consiste numa memória de um grupo ou nação que é transmitida por gerações. Refere-se a “um instrumento e um objetivo de poder. São as sociedades, cuja memória social é sobretudo oral ou que estão em vias de constituir uma memória coletiva escrita, que melhor permitem compreender esta luta pela dominação da recordação e da tradição” 10. Este 8 Neurologista e escritor francês do século XX 9 A.A.V.V. - Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura volume 13. Lisboa: Editorial Verbo, 1992, p.279 10 LE GOFF, Jacques - Memória-História, Enciclopédia Einaudi Volume 1. Lisboa: Imprensa Na-

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tipo de memória pode apresentar-se de duas formas: o documento, adaptado pelo autor, e o monumento, traçado como herança do passado que pelo seu carácter de existência física conta-nos a história de um modo mais próximo da realidade 11. Inevitavelmente associada à mens, mente, do latim memini memória, outro conceito muito próximo é o monumentum. A analogia das palavras expõe a associação monumento à capacidade de relembrar o passado. O monumento beneficia da “capacidade - voluntaria ou involuntária – de perpetuar as sociedades históricas (é um legado à memória coletiva) e reenviar para testemunhos que só numa parcela mínima são testemunhos escritos” 12. Aqui o conceito de monumento não trata do monumento como é conhecido no turismo, não precisa de ter um propósito específico de comemorar ou homenagear para existir, mas sim como elemento que se conservou de uma memória coletiva. Trata-se da herança que constrói o lugar, que constrói a sua identidade. Estes elementos constituintes do lugar são “testemunhos imprescindíveis da história” 13 capazes de caracterizar o que se passou e existiu naquele sítio, são elementos de memórias vivas associados a uma memória histórica, dotados de uma carga memorial sem nunca terem sido construídos com esse pretexto, ao contrário dos pórticos, arcos do triunfo e troféus. São memórias que, com a ajuda do tempo, se fixam nesses lugares e em conjunto com o tempo, ganham força. Poderia usar-se a analogia de uma oliveira centenária que é plantada num lugar com a simples ideia de ser plantada e, com o tempo, se enraíza fortemente no lugar (física e ideologicamente) até se tornar impensável o seu abate. É entendida como uma testemunha do tempo, com memórias que lhe pertencem. O mesmo acontece com os usos e os costumes de um lugar, tornam-se tradições: “doutrinas e práticas transmitidas de geração em geração (...) memória ou recordação” 14. Ao longo da leitura de inúmeras definições de memória, Pierre Nova 15 consegue descrevê-la de um modo bastante completo: “La mémoire est la vie, […], elle est en évolution permanente, […], susceptible de longues latences et de soudaines réalisations, […], la mémoire est un phénomène toujours actuel, un lien vécu au présent éternel […]. La mémoire s’enracine dans le con-

cional-Casa da Moeda, 1997, p.46 11 LE GOFF, Jacques – História e Memória IIº Volume -Memória. Lisboa: Edições 70, 2000, p.103 12 LE GOFF, Jacques – História e Memória IIº Volume -Memória. Lisboa: Edições 70, 2000, p. 104 13 CHOAY, Françoise – A Alegoria do Património. Lisboa: Edições 70, 2015, op.cit. p.120 14 A.A.V.V. - Dicionário da Língua Portuguesa, Dicionários Editora. Porto: Porto Editora,2006, p.1652 15 (1931- ) Historiador contemporâneo francês

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cret, dans l’espace, le geste, l’image et l’objet” 16. A memória consiste assim numa capacidade inerente ao homem, que é aplicada como uma particularidade a realidades externas ao Homem, capaz de despertar recordações. A memória “(...) procura salvar o passado para servir o presente e o futuro.” 17.

| 2.2. O CONCEITO DE IDENTIDADE A identidade poderá ser definida como “a identificação de um objeto, o que implica a sua distinção de outras coisas, o seu reconhecimento como uma entidade separável (...) significando individualidade ou particularidade” 18, sendo insubstituível. O reconhecimento da nossa existência a partir de um lugar, leva-nos a compreender que conscientemente o lugar possui a sua singularidade, ou seja, a sua identificação. Entender este sentimento de pertença e a relação do cidadão com a cidade é importante para entender o desenvolvimento do lugar. A conformidade da identidade do lugar “pode ser lida como expressão da relação civitas/urbs, isto é, o reconhecimento da coletividade nos espaços e nas arquiteturas públicas, que são a sua expressão concreta e ao mesmo tempo simbólica” 19. Assim, compreender o espaço público de um certo lugar e as suas relações com o cidadão é conhecer a identidade local. À semelhança do que defende Norberg-Schulz 20, no caso das grandes cidades torna-se difícil entender a sua identidade pois quanto maior a escala de um lugar menor será a sua definição. Por exemplo, é mais claro conceptualizar a identidade de uma vila/cidade alentejana do que da cidade Lisboa. A perda da particularidade das qualidades dos locais levou ao desenvolvimento da perda de orientação numa cidade, perdeuse o seu carácter essencial, a sua identificação. Mas o que define a identidade de um lugar? Muito para além de ter16 NOVA, Pierre. Cit. por EDWARDS, RICHARD - Mémoire et nouvel usage: du monument au projet in Património estudos nº1. Lisboa: 2001, p.22 17 LE GOFF, Jacques - Memória-História, Enciclopédia Einaudi Volume 1. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1997, p.47 18 LYNCH, Kevin – A imagem da cidade. Lisboa: Edições 70, 1982, p.18 19 AGUIAR, José – Cor e cidade histórica, Estudos cromáticos e conservação do património. Porto: FAUP Publicações, 2002, op.cit. p.123 20 (1926-2000) Arquiteto norueguês, nas suas reflexões do conceito do lugar afirmou “o ambiente moderna já tem carácter local”. AGUIAR, José – Cor e cidade histórica, Estudos cromáticos e conservação do património. Porto: FAUP Publicações, 2002, op.cit. p.115

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mos estéticos, sejam naturais ou artificiais, o modo habitar do Homem e o seu comportamento no espaço importam para compreender as singularidades de um lugar. A identidade do lugar passa também pela “materialização, ou o produto acrescentado, de múltiplas memórias, fruto de distintos momentos formativos, resultantes de complexos processos e acrescento e de transformação urbana produzindo a grande pluralidade de formas, espessamente estratificadas e sedimentadas, a que hoje chamamos cidade histórica”21. O reconhecimento cultural do lugar parece necessário, tanto por parte de quem lá vive como de quem o visita. A identidade engloba muito mais do que uma simples imagem postal ou mesmo um filme. A presença do espaço e a sua relação com o Homem ditam muito sobre o lugar. Deste modo, e tendo em conta que o conceito de identidade do lugar resulta da soma das memórias herdadas pelo lugar, ou seja, admitindo que o tempo se comporta e muda um lugar, podemos afirmar que a sua definição não é estática. Na sua definição o tempo está subentendido, logo o próprio conceito de identidade é evolutivo. A reapropriação pelas novas gerações, das heranças deixadas, gera alterações naturais que não devem ser esquecidas mas assumi-las como um carácter evolutivo presente nos lugares.

MEMÓRIA

id

TEMPO

Uma fragilidade que afeta a identidade são os efeitos da guerra na história de um lugar. É de notar que em conflitos bélicos, uma forma de atacar fortemente o inimigo é através da destruição do seu lugar, porque o mesmo representa um forte elemento associado à sua identidade. A guerra tanto tem efeitos na destruição de memórias coletivas do lugar, como na construção de monumentos-memoriais que intrinsecamente torna dúbia a identidade do lugar. Atualmente o conceito de identidade, na concepção do projeto de arquitetura, tem vindo a ganhar força. A intenção de uma maior sensibilidade com a identidade de um lugar, por parte do arquiteto, demonstra o avanço e a importância do seu trabalho. A identidade trata por isso de especificidade, ou melhor, o espírito do 21 AGUIAR, José – Cor e cidade histórica, Estudos cromáticos e conservação do património. Porto: FAUP Publicações, 2002, op.cit. p.120

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7. Esquema de relação de conceitos.


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lugar. Inclui em si o processo histórico, as evoluções e as mutações, capaz de impor a si mesma uma vocação como é o caso das cidades-portos, das cidades-capitais, das cidades-santuário, das cidades fortaleza 22 .

| 2.3. MANUTENÇÃO DA IDENTIDADE ATRAVÉS DA MEMÓRIA Os conceitos de memória e identidade estão intrinsecamente ligados. Não existe identidade sem memória, no sentido em que a memória constrói uma identidade. E, inversamente , não há memória sem identidade pois a “conexão dos estados sucessivos que o sujeito conhece é impossível se este não tem consciência a priori de que este encadeamento de sequencias temporais pode ter uma significação” 23. À fragilidade de um conceito corresponde a fragilidade do outro e aqui, mais uma vez, é o tempo a grande variável em causa, como vimos no subcapítulo anterior. A atenuação da memória por causa do tempo põe em risco a identidade. E a incúria da identidade põe em risco a memória. Como vimos, o tempo faz parte do conceito de identidade, mas o mesmo é capaz de atenuar alguns traços identitários, criando o clássico conflito: deixar o tempo atuar na memória ou recorrer à memória para atenuar os efeitos do tempo? Seguindo esta linha de pensamento, e recorrendo a informação já citada, o monumento consiste num artefato carregado de memória(s) com a função edificadora. A sua particularidade incide na ação de despertar a memória, ou seja, na capacidade de recordar o passado, associada a uma identidade. “O património arquitetónico não é, habitualmente, produto de uma configuração instantânea, mas sim o resultado de um conjunto de sobreposições, de adaptações e de transformações sucessivas que foram ocorrendo ao longo do tempo, quer estrutural, quer no campo funcional, quer ainda no campo da significação que lhe é atribuída socialmente” 24. A atribuição “da etiqueta” de património, na verdade, consiste apenas num rótulo que, com o tempo e alguns critérios estético e funcionais, 22 AGUIAR, José – Cor e cidade histórica, Estudos cromáticos e conservação do património. Porto: FAUP Publicações, 2002, op.cit. p. 121 23 CANDAU, Joël – Antropologia da Memória. Lisboa: Instituto Piaget, 2013, p.143 24 LACERDA, Manuel; RAMALHO, Maria Magalhães – A arquitetura como guardiã da memória in Património estudo nº9. Lisboa:2006, p.5

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(de cima para baixo) 8. Gedächtniskirche - Igreja Memorial Imperador Guilherme em Berlim, 1900 9. Gedächtniskirche - Igreja Memorial Imperador Guilherme em Berlim (destruída na II Guerra Mundial, 2010

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juntamente com alguma carga memorial, lhe é atribuído 25. Desde a segunda metade do século XVI até ao século XIX, a introdução da iconografia facilita a conceptualização das antiguidades, contribuindo tacitamente para a materialização do conceito de memória.26 O aperfeiçoamento desta técnica intensifica o seu rigor; as iconografias tornam-se assim mais detalhadas e paralelamente, a definição de monumento histórico adquire uma força maior no século XVII. A consciencialização e valorização do conceito de monumento despertou um grande interesse ao turista. A crescente afluência de visitantes, que até à época não existia, levou à aceleração da degradação dos espaços. Na preocupação de preservá-los, surgiu a questão de como conservá-los e que recursos utilizar. As fracas infraestruturas das entidades responsáveis pela manutenção dos monumentos não tinham como comportar a conservação da luxúria que os mesmos possuíam. No entanto, estavam incumbidas de “inventar novas utilizações para edifícios que tinham perdido a sua função original: reutilização que nos permite pesar os problemas que esta levantava então, por comparação com os que, pese embora uma longa experiência, continuam a afrontar-nos ainda hoje” 27. A questão sobre uma conservação intervencionista ou não intervencionista começou a ser bastante debatida no século XIX colocando em questão a autenticidade dos monumentos. Na época, esta questão era debatida entre Ruskin 28 e Viollet-le-Duc 29: o primeiro defendia o conservadorismo inglês e o outro defendia uma restauração intervencionista tal como acontecia um pouco pela Europa. Ruskin acreditava que a política de restauração era despropositada e que o homem não tinha o direito de tocar nos monumentos. A teoria de restaurar um monumento seria a sua verdadeira destruição, com a perda da autenticidade do monumento. Defendia que a passagem do tempo num monumento deveria ser aceite, nunca o privando de manutenção, mas sempre no sentido do menos invasivo possível. Em sua defesa dizia que a arquitetura é o elemento de ligação do passado à identidade coletiva, incluindo os conjuntos urbanos e arquiteturas de escala doméstica, pois eram também testemunhos do tempo. Em suma, acreditava que seria correto viver as cidades históricas no presente. 25 CANDAU, Joël – Antropologia da Memória. Lisboa: Instituto Piaget, 2013, p.148 26 CHOAY, Françoise – A Alegoria do Património. Lisboa: Edições 70, 2015, p. 66 27 CHOAY, Françoise – A Alegoria do Património. Lisboa: Edições 70, 2015, p.110 28 John Ruskin (1819-1900) Crítico de arte britânico 29 Eugène Viollet-le-Duc (1814-1879) Arquiteto e teórico francês

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Em confronto, Viollet-le-Duc defendia que um monumento deveria ser restituído a um estado completo “em que ele pode nunca ter existido” 30 , ou seja, a reformulação ideal e inicial de um projeto. Neste caso o arquiteto defendia a colocação de adornos em falta, que estariam inicialmente representados no projeto ou que ele próprio reconhecia faltar, para corresponder ao estilo a que estaria classificado. Sem sombra de dúvida que a autenticação do monumento é colocada em causa e, apesar de conhecermos a história, o aspeto limpo da obra anularia todo o testemunho do tempo que ele carregaria consigo. O grande exemplo desta teoria constitui do restauro Catedral de Notre-Dame de Paris, que para além de incluir a reconstrução de elementos destruídos pela força do tempo ou por ação humana, contou com a adição de novos elementos característicos da arquitetura gótica que não pertenciam à sua construção inicial. Ou seja, pouco do que atualmente existe na igreja é original e autêntico. Ainda assim o fluxo de turistas a este monumento é abundante e poucos sabem da sua autenticidade. A posição de Ruskin ampliou o conceito de monumento histórico com as ligações memoriais que até a arquitetura doméstica era capaz de fazer recordar. Com o seu seguidor William Morris 31, esta nova inserção de edifícios, no conceito de património, intensificou a noção e preocupação da conservação do mesmo. Décadas mais trade, por consequência da elaboração de uma conferência internacional em Roma em 1930 sobre a preservação de obras de arte, é realizado um novo encontro dedicado à conservação do património. Deste encontro resultou a Carta de Atenas de 1931. Pela primeira vez reconheceu-se a importância de se sensibilizar para a qualidade do espaço urbanístico, referenciando a memória e a identidade do lugar na conservação do património. A elaboração deste documento desencadeou a realização de diversas cartas ao logo das décadas seguintes, formalizando a importância da conservação, restauro e reabilitação das cidades 32. Em 1992, a Declaração Europeia do Direito à Cidade afirma que qualquer habitante de uma cidade tem o direito a viver numa “envolvente agradável e estimulante, consequência quer de uma arquitetura contemporânea de qualidade, quer da conservação e reabilitação cuidadosa do património edificado” 33, ou seja, formaliza a importância do culto da 30 DUC, Viollet-Le. Cit. por CHOAY, Françoise – As Questões do Património. Lisboa: Edições 70, 2011, p.32 31 William Morris (1834-1896) designer e ativista britânico 32 Tais como a Carta de Venez de 1964, a Carta del Restauro de 1972 e a Carta del Restauro 1987. 33 Declaração Europeia do Direitoà Cidade. Cit. por AGUIAR, José – Cor e cidade histórica, Estudos cromáticos e conservação do património. Porto: FAUP Publicações, 2002, p.98

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memória na contemporaneidade, que há muito estava subentendida em documentos anteriores. Até aos dias de hoje, a preocupação com a qualidade do espaço da cidade continua a ser uma questão delicada pelas inúmeras discordâncias na fusão de várias questões: Que valores existem a preservar? Quais os valores físicos do edificado? E como conjugar isso com as atividades e funções que a cidade atualmente precisa? A grande dificuldade reside no facto de que o “tempo e o modo de operar é muito dificilmente compatível com o tempo e os modos necessários à logica estrita de salvaguarda ou da conservação patrimonial” 34. Isto é, a reutilização desse património no presente sendo capaz de estabelecer continuidade ao seu passado, ou seja, à sua memória. Deste modo torna-se complicado definir o que é prioritário: preservar ou readaptar. Por um lado, defendem-se os valores de âmbito cultural em que se incluem valores como a idade, a tradição ou as simbologias político-religiosas, por outro lado tenta-se preservar os valores contemporâneos de âmbito socioeconómico. No entanto é preciso reajustar as políticas ativas de consumo do património a que o turismo se encontra associado. Não só o excesso de pessoas, de um modo descontrolado, destrói o que já foi “destruído” pela conservação, como diria Ruskin, como obriga à introdução de estruturas complementares descontextualizadas ou à mudança de ritmo e costumes locais. O atual boom turístico que invade a cidade de Lisboa põe em questão a problemática referida anteriormente. Com as alterações dos padrões do turismo, a preferência por alojamentos locais em relação às confortáveis unidades hoteleiras, e com as políticas acessíveis de criação de hostels oferecendo assim alojamentos a um preço muito convidativo, bairros como o de Alfama sofreram uma valorização: gentrificação. Lotes que anteriormente tinham pouco valor, tornaram-se lucrativos para o turismo. Apesar do reconhecimento dos benefícios da requalificação destes bairros, até que ponto se torna necessária a perda dos moradores, substituídos por turistas, e por consequência a perda de identidade de um lugar? “Nenhuma das motivações institucionalmente reconhecidas ou reivindicadas permite interpretar o fervor com o qual o culto patrimonial é celebrado e se propaga no mundo inteiro” 35.

34 AGUIAR, José – Cor e cidade histórica, Estudos cromáticos e conservação do património. Porto: FAUP Publicações, 2002, p.118 35 CHOAY, Françoise – A Alegoria do Património. Lisboa: Edições 70, 2015, p.251

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O TURIsMO

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“O mundo é um imenso livro do qual aqueles que nunca saem de casa lêem apenas uma página.” 36

| 3.1 O TURISMO COMO CONCEITO A palavra turismo deriva do conceito “tours” que remete às primeiras viagens movidas pelo valor cultural do lugar. O aparecimento do turismo acontece por motivações religiosas. A realização de peregrinações a terras santas era capaz de mover grande número de pessoas que se deslocavam a estes sítios por motivações pessoais, sendo este, ainda hoje o tipo de motivação que move muito do turismo atualmente. O interesse cultural como motivo de viagem apenas apareceu no Renascimento, com a movimentação de quem estudava a tradição clássica. Mas só no século XVII o turismo se desenvolve como o conhecemos atualmente, com a deslocação de artistas e populações abastadas até aos lagos na Suíça. No entanto esta atividade esteve sempre associada a uma elite privilegiada até ao início do século XX. A grande evolução acontece desde a época industrial até aos dias de hoje. O aparecimento e evolução de novos meios de transporte facilitara a deslocação das pessoas, e consequentemente a promoção das cidades. Ao mesmo tempo a implementação do direito a férias pagas acontece e 1934. Com a evolução dos meios, esta atividade passou de elitista a algo corrente na vida do homem contemporâneo.

36 Agostinho de Hipona (354-430). Cit. por

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(de cima para baixo) 10. Palace Hotel do Buçaco, antigo pavilhão de caça e de vilegiatura da família real transformado em hotel de luxo, da autoria do arquiteto Luigi Manini. Início do século XX 11. Curia Palace Hotel. Arquiteto Norte Júnior, início do século XX 12. Palace Hotel de Vidago. Arquiteto José Ferreira da Costa, início do século XX

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| 3.2. O TURISMO EM PORTUGAL NO SÉCULO XX | 3.2.1.O TURISMO NA I REPÚBLICA Nos primeiro anos do século XX, Portugal era descrito como “uma riqueza incomensurável”37. Nesta época era reconhecida a potencialidade do país como destino turístico, no entanto era pouco valorizado. O turismo no início deste século, em Portugal, era uma atividade associada à ostentação e caracterizada pelos grandes “Palace Hotel”, próximos de pontos com interesse turístico e zonas termais. O termalismo estava associado às qualidades curativas e ao descanso, apenas ao alcance das classes mais altas. No entanto, no decorrer do século, este estilo de turismo irá entrar em decadência com as alterações do estilo de vida e com a evolução da definição de turismo, que passaria a ser acessível a qualquer classe social. Na primeira década do século XX, com a queda da monarquia, havia um desejo de reconhecimento internacional do país. O mesmo se entende no primeiro cartaz produzido pela Sociedade de Propaganda de Portugal que propõe o país como potencial destino ao continente americano com o mot “The shortest way between America and Europe” 38. No entanto a imagem externa do país carecia de algumas reformas para que a atividade representasse algum peso na economia do país. A estruturas de alojamento eram reduzidas e os transportes poucos eficientes As estradas encontravam-se num estado degrado por falta de manutenção devido a uma maior preocupação dedicada às linhas férreas, numa tentativa de alcançar o mesmo nível do resto da Europa. Neste sentido, houve esforços cooperativos com Espanha na criação de itinerários entre os dois países, mas por falta de propaganda não teve grande sucesso. Apenas em 1927, com a criação da Junta Autónoma das Estradas, a qualidade das vias viria a ser melhorada e, em poucos anos, as principais estradas estavam reabilitadas. A evolução do parque automóvel, o desenvolvimento das comunicações e das artes contribuíram para o aumento do turismo. Na época, as cidades encontravam-se em transformação devido ao momento de prosperidade que se seguiu depois da “segunda revolução industrial “. Não só as infraestruturas urbanas estavam a sofrer alterações, como

13. The shortest way between America and Europe. Primeiro cartaz genuinamente turístico português. Sociedade Propaganda de Portugal. 1907

37 PINA, Paulo – Portugal, O Turismo no séc. XX. Lisboa: Lucidus, 1988, p.11 38 Sociedade Propaganda de Portugal. PINA, Paulo – Portugal, O Turismo no séc. XX. Lisboa: Lucidus, 1988, p.9

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também os meios de comunicação e propaganda, aumentando desse modo os fluxos turísticos. Apesar da cidade de Lisboa ainda estar associada à imagem do cais da Europa e o Porto associado ao vinho produzido nas margens do rio Douro, as cidades estavam a mudar e por consequência os interesses do turista também. Foi neste período, entre as duas Grandes Guerras, que se formaram as primeiras companhias aéreas regulares. Em Portugal, a primeira companhia SAP – Serviços Aéreos Portugueses - foi fundada em 1927. No entanto a escassez de clientes e a Guerra Civil Espanhola levou ao seu encerramento. Só em 1934, a Aero-Portuguesa faria de Lisboa “um novo cais aéreo da Europa, praia do ar do Ocidente.”39 Com a ambição de internacionalizar o turismo em Portugal, em 1914, o município do Estoril torna-se sócio da Sociedade Propaganda de Portugal. Esta zona, inserida na “Costa do Sol”, estrategicamente próxima da capital e da Serra de Sintra, tornou-se a primeira estância turística, em Portugal, que reunia a exploração de águas termais, hotelaria, praia, desporto e o Jogo. O projeto desenhado por Fausto Cardoso de Figueiredo e Augusto Carreira de Sousa, comunicava com a capital pela linhaférrea. O projeto inicial para esta zona não chegou a ser concluído, em parte devido a começo da I Grande Guerra, não deixou, no entanto, de ser um sucesso.

Ainda assim, as grandes atrações internacionais do país não eram exclusivas ao descanso e à terapia num ambiente termal. Fátima tornarase um local de culto, desde 1917, onde se veio implementar um Santuário monumental40. 39 PINA, Paulo – Portugal, O Turismo no séc. XX. Lisboa: Lucidus, 1988, p.51 40 Um projeto desenhado pelo Arquitecto Gerard Van Kriechen, ao estilo neoclássico, no ano de 1928

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(à esquerda) 14. Projeção do futuro Estoril, 1914 (em cima) 15. Plano da estância Estoril inserido na brochura, 1914 (à direita) 16.“O novo Estoril continuou a servir-se do mar enquanto imagem de marca” cartaz de propaganda. 1928


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A nova regulamentação das zonas de jogo balneares, em 1927, seria um grande atrativo para estes locais que até à época estavam limitados ao turismo balnear. Para além do maior controlo da atividade, seria um progresso para as localidades onde fora autorizado, para além da libertação das grandes cidades. Foram assim criadas duas “zonas de de jogo permanentes”, no Estoril e na Ilha da Madeira, e seis “zonas de jogo temporárias” espalhadas pelo país.41 Nesse mesmo ano criaram-se as bases reguladoras da indústria hoteleira. Esta lei levava à desqualificação de hotéis que não apresentassem as funcionalidades, o conforto e a higiene requerida pela Repartição de Turismo. Passaria a ser necessária a aprovação de um projeto novo, de renovação ou reabilitação, por parte de uma entidade do Estado. Para facilitar e incentivar a construção destes espaços, o Estado concedia empréstimos destinados a viabilizar a execução das obras impostas pela lei. No entanto a falta de formação dos recursos humanos das unidades hoteleiras prejudicava o turismo. Apesar do reconhecimento da necessidade de formação hoteleira no I Congresso Nacional de Hotelaria, realizado ainda durante a I República, a primeira escola vocacionada para o ensino da hotelaria apenas apareceu em 1957, em Lisboa. 42

| 3.2.2.O TURISMO NO ESTADO NOVO No decorrer do Estado Novo43, Salazar tinha sob o seu domínio toda a vida nacional. O turismo não foi exceção, controlando este toda a política, finanças e propaganda envolvida. Na década de 30 do século XX um crescente interesse pelo turismo de praia diminui o interesse das termas, que até então dominava o turismo do país. Esta nova moda mais desportista, com o resultado de “termas desafogadas, praias apinhadas”44, deixava de lado as virtudes curativas das águas termais que a farmacologia começava a substituir num modo mais prático e menos dispendioso. 45 41 Estas zonas temporárias encontravam-se em Espinho, Figueira da Foz, Praia da Rocha, Curia, Sintra e Viana do Castelo. É também de notar a proximidade destes casinos com zonas de praia. PINA, Paulo – Portugal, O Turismo no séc. XX. Lisboa: Lucidus, 1988, p.47 42 MARTINS, Luis Saldanha – Turismo, Investigação e Formação – Tendências e desafios em tempos de mudança. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2011, p.23 43 Regime político autoritário corporativista que decorreu em Portugal entre 1933 e 1974 44 PINA, Paulo – Portugal, O Turismo no séc. XX. Lisboa: Lucidus, 1988, p.45 45 PINA, Paulo – Portugal, O Turismo no séc. XX. Lisboa: Lucidus, 1988, p.45

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(de cima para baixo) 17. Hotel Aviz em Lisboa, 1942 18. Palace Hotel do Estoril, década de 30 (à direita) 19. Guia de Boas Práticas, ilustrações de Emérico Nunes, Secretariado de Propaganda Nacional, 1941

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O número de hotéis que o país oferecia, aliado à qualidade, era escasso. Assim, no início desta década foram inaugurados dois grandes hotéis: o Palace Hotel do Estoril e o Hotel Aviz em Lisboa. Também nesta década, com o esforço da propaganda para a internacionalização de Portugal, foram estabelecidos acordos com Espanha que asseguravam ligações aéreas de Lisboa para o seu território e para Paris, bem como a representação em Portugal de várias companhias aéreas estrangeiras e da criação dos serviços aéreos de Portugal. Na época, o gestor do novo luxuoso Hotel Aviz em Lisboa, apercebe-se da satisfação dos clientes que passam pelo hotel. Deste modo é apresentada a estratégia de Lisboa como ponto de escala entre as Américas e a Europa, que até então eram encaminhados para Paris ou Londres. A Pan American Airways decide alojar no Hotel Aviz todos os seus passageiros que realizassem esta escala.46 Ao mesmo tempo, em 1936, é realizado o I Congresso Nacional de Turismo. Foi feito um balanço da atividade nos últimos 30 anos e concluiu-se a urgência em remodelar os respetivos serviços e a criação de um organismo responsável pela atividade. Neste congresso apurou-se que seria conveniente a elaboração de um Código de Turismo e um Plano Nacional de Turismo. O país deveria apostar no desenvolvimento de novas estratégias de propaganda e a realização de acordos e convenções turísticas com outros países. Defendeu-se a criação de um órgão dependente da Presidência do Conselho e com autonomia suficiente para compreender as iniciativas necessárias, regular e fiscalizar as atividades a desenvolver. Juntandose a esta proposta, havia um “plano de turismo” de modo a melhorar as condições de toda a indústria hoteleira com empréstimos, cedidos pelo Estado, aos empresários hoteleiros. As conclusões apenas tiveram impacto na atividade passados três anos, em parte devido à inércia e falta de capacidade de estímulo do Ministério do Interior, que até à época estava responsável pela atividade, e pela Guerra Civil Espanhola. A pasta do Turismo passou deste modo a ser coordenada pelo Presidente do Conselho de Ministros, sendo que a sua organização ficaria a cargo do SPN, Secretariado de Propaganda Nacional, liderado por António Ferro47, impulsionador do Turismo em Portugal. 46 Este pacote era uma pareceria da companhia aérea com o Hotel, que na compra do bilhete de avião, alojava os passageiros nesse mesmo Hotel 47 António Joaquim Tavares Ferro (1895-1956) Escritor, jornalista e político. Diretor da SPN desde o seu início até aos finais dos anos 40. A sua retirada do poder foi discreta depois de

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António Ferro pretendia divulgar uma nova imagem do país. Criou, assim, uma visão moderna, sempre aliada às ideias do Estado Novo por forte influência da proximidade que tinha com Salazar. Com o apoio de um grupo de jornalistas, escritores e artistas, o SPN surgiu “sem nenhuma tradição e sem carácter burocrático” 48, como uma redação ou atelier. Acompanhando os ideais de Salazar, António Ferro propõe a construção de uma imagem bem definida da nação portuguesa com recurso a todas as áreas. O diretor propõe ao mercado internacional um Turismo de cariz “popular” contrapondo-se à “monumentalidade dos grandes centros artísticos internacionais, o tipismo das nossas vilas e aldeias” 49.

Assumindo que o país não podia competir com uma cidade cosmopolita, Ferro admite que “a diferenciação é a própria independência dos povos, a profunda manifestação do seu carácter, seja qual for o aspeto em que se manifesta”50. Ao longo da sua delegação organizou um “Estatuto do Turismo” 51 com o objetivo do Governo coordenar toda a atividade turística: propôs a criação das pousadas regionais, criou os primeiros postos de atendimento turístico e divulgou as primeiras publicidades ao estilo moderno, representou Portugal em feiras internacionais com uma imagem cuidada e organizou o Museu de Arte Popular. Com o decorrer da II Guerra Mundial houve um grande número de reaperceber-se “dos custos da política do Estado Novo” com os sobressaltos que decorriam pela Europa. Apesar do carácter tranquilo do país, sentia-se exposto por comandar toda a Propaganda do Regime. 48 CAETANO, Marcello. Cit por PINA, Paulo - op.cit.. p.89 49 PINA, Paulo – Portugal, O Turismo no séc. XX. Lisboa: Lucidus, 1988, p.97 50 António Ferro na inauguração do Museu de Arte Popular, sua criação, em 1948. Cit por PINA, Paulo - op.cit. p.97 51 Projeto destinado ao Governo que, assente nos ensinamentos da experiência, visava coordenar e articular todas as atividades turísticas, subordinando-as a um espírito e comandos únicos. PINA, Paulo – Portugal, O Turismo no séc. XX. Lisboa: Lucidus, 1988, p.99

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(em cima à esquerda) 20, 21, 22. Cartazes de promoção do país, Secretariado de Propaganda Nacional, entre os anos 40 e 50 (em cima) 23. Companhia aérea portuguesa, 1961 (à direita) 24. Inauguração do Aeroporto Internacional de Lisboa, 1942


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fugiados em Portugal, facto que levou ao reconhecimento de uma deficiente oferta hoteleira, à exceção do eixo Lisboa-Estoril. Tendo o SPN entrado em funções, uma das suas primeiras iniciativas passou pela criação de “Duas Brigadas de Revisão de Hotéis”. Fazendo jus ao nome, estas brigadas eram constituídas por um arquiteto, uma decoradora e um funcionário dos serviços, que tinham como objetivo ensinar a melhorar os seus estabelecimentos hoteleiros em vários aspetos. Com a oferta que o país tinha, é lançado o primeiro ensaio da história das Pousadas: a Estalagem do Lidador (1940), adaptação da antiga Pensão de Óbidos. Embora este ensaio tímido tenha encerrado pouco depois, a estalagem era reflexo do nacionalismo defendido pelo SPN: perfeitamente integrada na região, com o seu estilo rústico e sem esquecer o conforto. O pensamento nacionalista defendido pela instituição, aliado às teorias da “Casa Portuguesa” de Raul Lino iriam certamente influenciar a linguagem das pousadas. O plano das Pousadas de António Ferro não se focava apenas na ostentação nacionalista, seguia também a estratégia idêntica à dos paradores e albergues do país vizinho: criar pontos de ligação em longas distâncias de percursos nacionais e internacionais. Seriam as primeiras pousadas a de Elvas (1942) como apoio a viagens até Espanha, a de Santiago do Cacém (1945) que apoiava o itinerário Lisboa-Algarve e a de Serém (1942), na EN1, de apoio à viagem Lisboa-Porto. A juntar a esta primeira geração de pousadas foram contruídas no Marão (1942), em São Brás de Alportel (1944), na Serra da Estrela (1948) e em Alfeizerão (1943). Esta estratégia seria aplicada a todo o território nacional. As pousadas deveriam “pelo seu estilo e cor local, integrar-se quanto possível no pitoresco das regiões, tendo em vista o objetivo essencial da propaganda turística”52. As mesmas eram caracterizadas pelo seu ambiente intimista semelhante ao de uma habitação, mas nunca renunciando à integração com o lugar. A escala doméstica, as áreas sociais diferenciadas em pisos e a sala de jantar panorâmica são algumas das características da arquitetura desta primeira série. Apesar da inquietude da época, causada pelas carências da guerra, as pousadas tornaram-se um sucesso pela sua característica pitoresca. Sobre este sucesso, António Ferro afirmou: “Se o turismo externo se pode considerar inexistente, por estes tempos mais próximos o mesmo se não deveria dizer ao turismo interno que chegou à altura de impulsionar, porque sem ele, sem esse pano de fundo, sem essa base assegurada, nunca será possível 52 Decreto-Lei nº31:259.. Cit. por LOBO, Susana – Pousadas de Portugal. Reflexos da Arquitectura Portuguesa do séc.XX. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006, p. 45

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LEÓN VIGO

PORTO

S. GONÇALO

SALAMANCA

STO. ANTÓNIO

MADRID

S. LOURENÇO

S. MARTINHO

STA. LUZIA

LISBOA

BADAJOZ

S. TIAGO

S. BRÁS

SEVILHA

(de cima para baixo, da esquerda para a direita) 25. Mapa da primeira geração de pousadas em Portugal 26. Pousada de Sta. Luzia, Elvas, Miguel Jacobetty Rosa, 1942 27. Pousada de São Tiago, Santiago do Cacém, Miguel Jacobetty Rosa, 1945 28. Pousada de St. António, Serém, Rogério de Azevedo , 1942 29. Pousada de S.Gonçalo, Marão, Rogério de Azevedo, 1942 30. Pousada de S.Brás, S.Brás de Alportel, Miguel Jacobetty Rosa, 1944 31. Pousada de S.Lourenço, Serra da Estrela, Rogério Azevedo, 1948 32. Pousada de São Martinho, Afeizarão, Veloso Reis Camelo, 1943

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defendermo-nos das flutuações do turismo externo.”53 Com o fim da guerra e as inovações tecnológicas que a mesma forçou a desenvolver, as aeronaves estavam agora maiores, mais rápidas e seguras. Com esta evolução e o crescente tráfego aéreo, em 1942, é inaugurado o Aeroporto Internacional de Lisboa e três anos mais tarde o Aeroporto de Pedras Rubras, no Porto. O Sul ficaria apenas afeto a um pequeno aeródromo em Faro. A acompanhar a abertura dos aeroportos, em 1945 é criada uma companhia aérea nacional pertencente ao Estado, a TAP – Transportes Aéreos Portugueses. 54 Pela mesma altura, com um painel moderno ao serviço do turismo, surgiriam em Portugal as agências de viagens. Esta constante evolução dos meios de transporte acompanha a evolução de definição de turismo, ou seja, que se inicia no momento em o turista se desloca. Com o aparecimento de novos meios de transporte, a sua qualidade, conforto e rapidez tornam-se aspectos a considerar no planeamento de uma viagem. Na década de 50, a atividade foi reformulada com um novo pacote legislativo de modo a aproveitar todas as suas potencialidades económicas, com uma gestão bem planificada. Em 1954, um novo ciclo de pousadas aparece, caracterizado por uma maior sensibilidade com o lugar e o “espírito do lugar” 55, à responsabilidade da DGEMN - Direção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais. O seu programa e a sua forma eram agora explorados a fim de se tornarem espaços para turismo de carácter local. Algumas delas foram, intencionalmente, associadas ao mar e ao rio. Este novo tipo de pousadas resultava da adaptação de alojamentos outrora construídos para os construtores das barragens, no caso das pousadas associadas ao rio56 . No total deste novo ciclo resultaram 17 pousadas, das quais 13 foram construídas.57 53 António Ferro no discurso de abertura da primeira Pousada, em Elvas, 1942. Cit. por PINA, Paulo – Portugal, O Turismo no séc. XX. Lisboa: Lucidus, 1988, p. 123 54 PINA, Paulo – Portugal, O Turismo no séc. XX. Lisboa: Lucidus, 1988, p.145 55 LOBO, Susana – Pousadas de Portugal. Reflexos da Arquitectura Portuguesa do séc.XX. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006, p.64 56 Estes projetos resultaram nas séries de pousadas “Beira-Mar” e “Pousadas em Barragem”. 57 Este plano foi constituído pelas seguintes Pousadas Regionais: Pousada de S. Bartolomeu em Bragança (1959), Pousada de S. Gens em Serpa (1960), Pousada de S. Jerónimo no Caramulo (1962), Pousada de S. Teotónio em Valença do Minho (1963), Pousada de Santa Bárbara em Póvoa das Quartas (1971), Pousadas da Senhora das Neves em Almeida (1987), e as Pousadas de Vilar Formoso e da Portela da Gardunha (em Castelo Branco) que não

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(de cima para baixo, da esquerda para a direita) 33. Hotel Ritz em Lisboa, fotografia do exterior, Profírio Pardal Monteiro, 1959 34. Marina de Vilamoura, fotografia dos edifícios em construção, 1975. 35. Marina de Vilamoura, fotografia dos primeiros edifícios contruídos, 1977

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A importância turística do Algarve foi pronunciada desde muito cedo com a primeira zona de veraneio na praia de Armação de Pêra em 1923, com a abertura do Hotel da Rocha na Praia da Rocha, ficando este ligado ao Casino. No entanto, nessa época começa a aparecer “o turismo de massas” pelo Sul da Península Ibérica, reconhecendo a qualidade e o preço acessível. 58 Em 1956, foi criado o Fundo de Turismo e a logística da atividade turística foi redesenhada. O objetivo da criação deste fundo era aumentar e melhorar a atividade através de financiamentos, subsídios e comparticipações às entidades relacionadas com a atividade. Três anos depois, a moderna indústria hoteleira chega a Lisboa com a construção do Hotel Ritz, um projeto da autoria de Porfírio Pardal Monteiro, em resposta do aumento do número de turistas. Em 1962 é reconhecido um programa para a “valorização turística do Algarve” que antecedia o plano feito em 1963 que já previa o boom turístico na zona, em confronto com a estrutura social e económica algarvia. Pela mesma altura também começou a construção do maior complexo de luxo turístico da Europa: a Marina de Vilamoura. O sucesso deste plano resultou dos princípios rigorosos do planeamento territorial sendo que a estância não deveria constituir um elemento estranho ao meio regional circundante, mas pelo contrário, ser o quanto possível um elemento de desenvolvimento económico e de evolução do lugar. O projeto é caracterizado, resumidamente, por vivendas e aldeamentos turísticos em torno de uma marina como ponto central. Sentia-se um clima de mudança no turismo com o desenvolvimento da aviação comercial, com a reconstrução das estradas e com a abertura da Ponte Salazar em 1966. Conjuntamente havia o aumento do nível de vida e o alargamento do período de férias. Lisboa continuava a ser o polo de turismo do país devido às características da capital. Ainda assim e por todo o país, o turismo continuava a crescer, chegando ao milhão de turistas em 1964, valor que se traduzia num aumento 80%. foram construídas. Pousadas em Barragens: Pousada de S. Pedro em Castelo de Bode (1954), Pousada de Sta. Catarina em Miranda do douro (1962), Pousada de S. Bento em Caniçada (1968), Pousada de Sta. Clara em Sta. Clara-a-Velha (1971) e Pousada de Vale do Gaio no Torrão (1977). Da série Beira-Mar: Pousada da Ria em Murtosa e Pousada do Infante em Sagres (1960), e A Pousada da Arrábida e da Nazaré que não foram construídas. LOBO, Susana – Pousadas de Portugal. Reflexos da Arquitectura Portuguesa do séc.XX. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006, P.71 58 MANGORRINHA, Jorge – História de uma viagem: 100 anos de Turismo em Portugal (19112011) vol.1. Lisboa: Comissão Nacional do Centenário do Turismo em Portugal, 2012, p.112

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Mais uma vez, internacionalmente, o país saía-se bem. Com o apoio de Álvaro Roquette59, o turismo impulsionou o ordenamento do território, os “núcleos de desenvolvimento turístico”, o Centro Nacional de Formação Turística e Hotelaria, a construção de mais pousadas, o programa das Aldeias Históricas, o turismo social e a fiscalização hoteleira.60

| 3.3.3. O TURISMO NA DEMOCRACIA A década de 70 foi um pouco conturbada com os problemas da libra inglesa nos finais de 60, a crise energética de 1973 e, mais especificamente, a Revolução de 1974. Estes fatores contribuíram para uma baixa no fluxo de turistas e ao mesmo tempo a apropriação dos alojamentos turísticos pelos retornados61. A ausência de políticas de ordenamento e gestão do território gerou uma massificação na construção, com a ocupação anárquica de zonas litorais criando desequilíbrios acentuados na estrutura económica regional e, por consequência, a diminuição das condições ambientais. Por certo que a fraca qualidade territorial e ambiental afetou o turismo. Para contrariar tal facto foram necessárias profundas alterações nas políticas associadas ao turismo. Em 1982 foi publicado o estatuto das regiões de turismo definindo as áreas turístico-promocionais e as regiões de turismo. O estatuto da região determinaria, assim, o responsável de cada zona. No caso das áreas turístico-promocionais seria a administração central e no caso das regiões de turismo seria a administração local. No ano seguinte, 1983, é realizado o Plano Nacional de Turismo com o objetivo de planificar a retoma da atividade. Este plano tencionava recuperar o termalismo como prioritário, mas também mostrava interesse na proteção do património natural e valorização do património cultural, bem como a recuperação de zonas degradadas. 62 A entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia em 1985 coincidiu com o registo de 10 milhões de entradas no país. No III Congresso Nacional de Turismo, realizado em 1986, a inovação e a qualidade foram os principais pontos debatidos: “Não podemos ter mais um turismo baseado na destruição de espaços, na destruição do ambiente e na destruição 59 Secretário Nacional da Informação entre 1958 e 1968 e Diretor Geral do Turismo entre 1968 e 1973 60 MANGORRINHA, Jorge – História de uma viagem: 100 anos de Turismo em Portugal (19112011) vol.1. Lisboa: Comissão Nacional do Centenário do Turismo em Portugal, 2012, p.132 61 MANGORRINHA, Jorge – História de uma viagem: 100 anos de Turismo em Portugal (19112011) vol.1. Lisboa: Comissão Nacional do Centenário do Turismo em Portugal, 2012, p.136 62 MANGORRINHA, Jorge – op.cit., p.138

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dos valores culturais.”63 No seguimento das reflexões do anterior Congresso Nacional de Turismo, foi realizado em 1989 o Plano Nacional de Pousadas de Turismo64 que reforça a importância das pousadas numa perspetiva nacional: “adaptação a pousada de edifícios existentes de qualidade, promovendo-se por esta via uma recuperação significativa e exemplar do nosso património cultural”65. Deste plano resultaram três das pousadas mais icónicas do final do século: Convento dos Loios em Arraiolos (José Paulo dos Santos, 1990), Mosteiro da Flor da Rosa no Crato (Carrilho as Graça, 1995) e o Mosteiro de Sta. Maria do Bouro em Amares (Souto de Moura, 1997). Nos anos 90, Portugal passa a estar integrado num destino europeu com a celebração do Ano Europeu do Turismo. Ao mesmo tempo a cultura é ponderada como principal recurso, pela Direção Geral do Turismo. Esta ligação de conceitos – turismo e cultura – influenciou a projeção internacional do património português inscrito na UNESCO. O turismo passa a ser considerado como um factor de desenvolvimento socioeconómico do país. A Expo’98 não só serviu para o aumento da entrada de estrangeiros, como demonstrou a capacidade e as competências do país com as novas tecnologias e inovações construtivas. No início do século XXI a instabilidade política do país começa a sentir-se. Apesar das alterações sofridas pelo Turismo, o cenário nunca foi desanimador neste sector. Em 2006 nasce o Instituto do Turismo de Portugal como continuação do trabalho do Ministério do Turismo, criado três anos antes. Também foi lançado o PENT-Plano Estratégico de Turismo66 – com o objetivo de criar um crescimento sustentado do turismo nacional num período de 10 anos, traduzindo a afirmação de Portugal como destino de excelência. Em 2010, as dormidas, hóspedes e receitas cresceu, acompanhado 63 Discurso de encerramento do III Congresso Nacional de Turismo em 1986 por Licínio Cunha.Cit. por MANGORRINHA, Jorge – op.cit. p.142 64 O Plano Nacional de Pousadas de Turismo de 1989-1992 considerava “que a capacidade de alojamento de cada pousada deverá ser muito ponderadamente avaliada, quando da definição do programa, para que senão diminua, ou anule mesmo - por demasiada ou exclusiva procura de rendibilidade - a preferência de que são objetos, quando cotejadas com outros estabelecimentos hoteleiros convencionais, de grandes dimensões”. LOBO, Susana – Pousadas de Portugal. Reflexos da Arquitectura Portuguesa do séc.XX. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006, p.155 65 LOBO, Susana – Pousadas de Portugal. Reflexos da Arquitectura Portuguesa do séc.XX. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006, p.142 66 Plano com iniciativa governamental para a concretização de ações para o crescimento sustentado do turismo nacional entre 2007-2015

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(de cima para baixo) 36. Convento de Lóios - Pousada de Arraiolos, fotografia exterior, Alçado do convento, José Paulo dos Sanros, 1990 37. Mosteiro da Flor da Rosa - Pousada do Crato, fotografia exterior, Alçado do mosteiro, Carrilho da Graça, 1995 38.Mosteiro de Santa Maria do Bouro - Pousada de Amares, fotografia exterior, Alçado do pátio interir do mosteiro, Souto Moura, 1997

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pelo aumento de qualidade e quantidade do alojamento hoteleiro. O grande enfoque continuou a ser Lisboa, Algarve e Madeira. Atualmente, está em curso o Plano Turismo 202067, para o desenvolvimento da atividade entre 2014-2020. O objetivo passa por Portugal ser o destino com maior crescimento turístico na Europa, com uma oferta diversificada e inovadora.68 Portugal encontra-se no caminho certo, com um crescimento bastante acentuado do turismo. Até à data, 2016 é o ano com melhores resultados no sector do turismo, com o registo de 19,1 milhões de hóspedes.69 A tranquilidade, a localização e o clima são os principais fatores da movimentação. Outro fator, mais atual,refere-se à insegurança que é sentida por toda a Europa e que em Portugal não é sentida. Na essência, os valores que impulsionaram o início do turismo no país não mudaram. A diversidade e o elevado valor do património históricocultural e natural, a hospitalidade e a gastronomia continuam a ser os principais recursos turísticos. A Estratégia Turismo 202770 veio comprovar o atual sucesso que da atividade turística em Portugal. Este plano de estratégia, não só expõe os números do turismo, como desafia a novas estratégias de promoção do país como destino de dinamização de investimentos na área, da qualificação e diversificação da oferta. Esta proposta foi planificada a nível nacional, uma vez que o crescimento da atividade foi verificado ao longo de todas as regiões do país durante todo o ano.

67 Decorrente do Portugal 2020, o objectivo deste plano passa por fornecer um quadro estratégico para o desenvolvimento do turismo do País e das Regiões no âmbito do ciclo de programação comunitária 2014-2020 e assegurar um alinhamento entre estratégia e financiamento na área do turismo. 68 TURISMO DE PORTUGAL I.P - Turismo 2020, Plano de Acção para o Desenvolvimento do Turismo em Portugal 2014-2020. 2014, p.147 69 Dados divulgados pelo Turismo de Portugal na apresentação da Estratégia Turismo 2027 na BTL 2017 70 O ET 2017 é um referencial estratégico para o turismo em Portugal entre 2017 e 2027 proposto pelo Turismo de Portugal.

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A MEMÓRIA COMO LINGUAGEM TURÍSTICA

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CASOS DE ESTUDO A arquitetura dá forma ao espaço. É projetada para um lugar e constrói um novo lugar nesse velho lugar. Se é arte ou não, é uma questão ainda sem resposta. Se é arte, é bonito pensar que habitamos dentro dela, orientamo-nos pela arte, organizamo-nos dentro dela, e assim o seu conceito parece ser mais prático e alcançável do que abstrato. Se não é arte, é igualmente aceitável, pois a sua existência aparece por necessidade. Na verdade, começou como uma necessidade, mas atualmente também lhe compete a estética. Se a arquitetura está rodeada de conceitos relativos, porque seria fácil defini-la por completo? A organização espacial, para além de questões funcionais, advém de um raciocínio pragmático. A arquitetura começa por ser a materialização desse raciocínio. Para qualquer função incumbida a um lugar, há um estudo, uma tentativa de compreender como se comportará o homem naquele espaço. Por fim, o resultado traduz-se numa reflexão exaustiva de uma tentativa de melhorar sempre aquele espaço. A arquitetura está repleta de exemplos a aprender com eles. Neste caso, foram estudados casos com programas e/ou implantações semelhantes. Por se tratar de um projeto em território nacional foi intencional encontrar casos de estudo em Portugal. Os seus estudos levaram a uma melhor compreensão programática a ser adaptada no projeto. Mais do que ler quadros com a componente programática para planificar um espaço, a leitura do espaço e quando possível a sua visita, con-

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duzem a um maior sucesso para o projeto bem como levar-nos a uma perspectiva crítica da tipologia. Em síntese, foram analisadas questões relacionadas com a reabilitação de espaços antigos e a sua integração com a contemporaneidade.

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| 4.1. PALÁCIO VALLE FLOR - HOTEL PESTANA PALACE LISBOA ARQUITETO MANUEL TAINHA 2001 No cimo do Alto de Santo Amaro, um alto de Lisboa com uma vista privilegiada para o Tejo, numa rua bastante tranquila somos confrontados por um palácio irrepreensivelmente cuidado: o antigo Palácio Valle-Flor. Este palácio, classificado como Monumento Nacional desde 1997, foi inicialmente desenhado por Nicola Bigaglia71 no início do século XX tendo o projeto, mais tarde, sofrido alterações por parte do arquiteto José Ferreira da Costa72 e alguns pormenores de Ventura Terra73. Foi mandado construir por um transmontano de sucesso, o Marquês de Valle Flor74, que enriqueceu com a produção de cacau na ilha de São Tomé e Príncipe. Era comum, nessa época, a construção de palácios com características requintadas e repletas de pormenores decorativos tanto no seu exterior como no seu interior, acompanhado por um extenso jardim delicadamente desenhado que delimitava o quarteirão. O palácio, depois da morte do Marquês, pouco foi utilizado75 e esteve quase um século abandonado até ter sido adquirido pelo grupo Pestana em 1992. Será com esta aquisição que o palácio passará novamente a ser reconhecido pelo seu valor. O projeto de Manuel Tainha76 tinha como função integrar, naquele quarteirão, um hotel de luxo bem como os seus espaços complementares correspondentes aos hotéis de 5 estrelas. A intenção do desenho de Manuel Tainha neste lote pentagonal resulta da preservação do Parque, o rico jardim na parte de trás do palácio que sempre existiu no projeto inicial. Para o extenso programa planeado para esta unidade hoteleira, o palácio por si só não seria capaz de 71 (1841-1908) Arquiteto e pintor italiano, que viveu em Portugal. 72 (1850-1919) Arquiteto português com formação em França. 73 (1866-1919) Arquiteto português com formação em Portugal e França e autor de vários edifícios apalaçados na cidade de Lisboa como o Palacete Valmor, na Av. da República. 74 (1855-1932) José Luís Constantino Dias. Nasceu em Murça onde teve contato com a agricultura. Mais tarde mudou-se para a ex-colónia de São Tomé e Príncipe onde se tornou produtor de cacau na Roça da Boa vista. Recebeu o título de Marquês em 1907 pelo rei D.Carlos I, pela influência política e económica que tinha depois de criar a sua fortuna com as plantações de cacau. Este título levou à necessidade de construir um palácio como habitação permanente dos marqueses em Lisboa. 75 Apenas há registo de se ter fixado, depois de adquirido pelo Estado, mas por pouco tempo, o Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga. 76 (1922-2012) Arquiteto português.

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(à esquerda) 39. Palácio Valle Flor, Fotografia do Exterior, Alçado principal, Nicola Bigaglia, início do século XX (à direita de cima para baixo) 40. Palácio Valle Flor, Fotografia do interior, Sala de Estar Luís XIV, Nicola Bigaglia, início do século XX 421 Palácio Valle Flor, Fotografia do interior do quarteirão, antigo lago artificial e actual piscina exterior, Manuel Tainha, 2001

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suportar todas as funções: não só pela falta de espaço, mas também pela limitação que a riqueza dos espaços condicionava. Ao contrário dos outros projetos concorrentes, que propunham a construção de volumes no interior do quarteirão, o que por consequência destruiria o Parque, Manuel Tainha propôs a construção de dois volumes extensos no limite do lote. Os novos quartos e outros espaços foram instalados nestes longos volumes onde as preciosidades do jardim eram escassas, mantendo-o como plano de fundo do palácio, ou seja, todo o projeto vive e funciona para o Parque. Houve a preocupação de aproveitar a densidade vegetal do Parque, dificultando a percepção, por inteiro, dos novos volumes e enaltecendo o palácio. O projeto resultou na construção de dois novos corpos, o Corpo Nascente e o Corpo Poente, ligados ao antigo palácio por umas galerias de estrutura metálica e translúcidas. Nestas duas novas alas foram construídos, ao todo, 194 quartos, um health club e espaços complementares para reuniões, conferências e eventos. Visualmente, as duas alas de três pisos com um embasamento em lioz à semelhança do palácio, tiram partido das diferenças de cota do terreno. O ritmo das fachadas mantem-se constante com interrupções pontuais na marcação dos acessos, distorcendo o longo comprimento do edifício. A única exceção acontece na zona do health club, no Corpo Nascente, que se torna bastante mais discreto pela sua altura reduzida. Na estrutura original do palácio muito pouco foi alterado. Na verdade, trata-se de um exemplo de sucesso de adaptação da vida contemporânea a um palácio do início do século XX, onde foram belissimamente recuperados e restaurados os elementos originais do palácio. O piso zero foi destinado às atividades sociais à semelhança do seu uso quando ainda servia de residência dos Marqueses, com a pré-existência das 3 luxuosas salas de estar viradas a sul, a capela, os salões com vista para o jardim, que atualmente servem de sala de refeições, e a Sala de Jantar que ora é mantida como “exposição” da antiga sala de refeições do palácio, ora é usada para eventos privados. No piso 1, antigo piso dos aposentos dos marqueses, foram instaladas 4 luxuosas suites que mantêm a decoração de influência francesa e neorrococó. No último piso, nas mansardas, encontra-se um pequeno business center. Em relação à recuperação do Parque, a cargo do Arquiteto Paisagista Júlio Moreira77, houve o cuidado de salvaguardar as pré-existências do lugar, desde a salvaguarda de espécies vegetais bem como o desenho 77 (1930-) Arquiteto paisagista e engenheiro agrónomo. Além disso é escritor de romance e artigos de cariz cultural

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(de cima para baixo) 42. Palácio Valle Flor, Fotografia do Exterior, Entrada do hotel, Nicola Bigaglia, início do século XX 43. Palácio Valle Flor - Pestana Palace, Fotografia do Exterior, Alçado interior do corpo poente, Manuel Tainha, 2001 44. Palácio Valle Flor - Pestana Palace, Planta do piso 0, Manuel Tainha, 2001 45. Palácio Valle Flor - Pestana Palace, Secção longitudinal do corpo poente, Manuel Tainha, 2001

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original do jardim de influências italianas, mantendo o antigo lago mas transformando-o numa piscina exterior. Apesar do longo tempo para conclusão dos trabalhos de restauro do palácio (quase 10 anos), os mesmos resultam de um trabalho irrepreensivelmente cuidado pela introdução de infraestruturas atuais tais como climatização, acessos mecânicos, apoios de cozinha e instalações sanitárias, sem nunca comprometer a riqueza original do palácio.

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(de cima para baixo) 46. Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Fotografia do exterior, Alçado principal da escola, Carrilho da Graça, 1997 47. Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Fotografia do exterior, pátio interno do antigo convento, 1997 48. Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Fotografia do exterior, Anfiteatro exterior no pátio interno, Carrilho da Graça, 1997

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| 4.2. ESCOLA DE HOTELARIA E TURISMO DO ALGARVE FARO ARQUITETO LUÍS CARRILHO DA GRAÇA 1997 Próximo das muralhas que delimitam o núcleo histórico da cidade de Faro, ergue-se o convento de São Francisco, construído nos meados do século XVI. O convento serviu aos frades Capuchos da Província da Piedade e mais tarde aos Observantes da Província de Portugal até 1755, quando foi destruído pelo terramoto. Reconstruído no princípio do século XIX e com a extinção das ordens religiosas, o convento foi cedido às Forças Armadas até às últimas décadas do século XX. Deste seu último uso, a capela foi separada do convento até aos dias de hoje. Em 1994 o convento é proposto para ser convertido numa escola de hotelaria e turismo. O projeto, concluído em 1997,da autoria de Carrilho da Graça78, foi divulgado certamente pela coincidência da construção de obras maiores pelo mesmo arquiteto, como o caso do Pavilhão do Conhecimento para a Expo’98. A integração da Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve neste antigo convento não era compatível com a estrutura original do edifício pelo grande número de instalações técnicas. Na tentativa de salvaguardar o edifício, o arquiteto propõe um novo volume dedicado aos espaços mais técnicos. Como a tipologia deste tipo de ensino tem a possibilidade de criar contato direto com o público, e de modo a não restringir o uso do convento apenas à escola, foram-lhe atribuídas valências de cariz social e o novo volume dedicado, por inteiro, à escola. A ligação do novo com o antigo é feita por um pátio, cuja intenção já existia inicialmente e que o arquiteto acabou por formular fechando o lado este, ligando as duas alas do claustro com um anfiteatro exterior. Neste pátio, a intenção de promover as qualidades arquitetónicas do espaço é reconhecida. Não só o anfiteatro se torna prático para a tipologia do edifício, como funciona como miradouro para o antigo convento. As semelhanças deste projeto com a Pousada Flor da Rosa são notáveis, apesar de apresentarem programas diferentes. Mas, analisando as plantas de implantação, a grande diferença destaca-se na existência do pátio fechado no Mosteiro Flor da Rosa que já existia anteriormente. No entanto, a solução de reabilitação e reconversão de ambos os proje78 (1952-) João Luís Carrilho da Graça, arquiteto contemporâneo português e professor.

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(à esquerda de cima para baixo) 49. Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Planta do piso 0, Carrilho da Graça, 1997 50. Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Planta do piso 1, Carrilho da Graça, 1997 51. Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Secção longitudinal , Carrilho da Graça, 1997 52. Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Secção transversal, Carrilho da Graça, 1997 53. Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Alçado nascente, Carrilho da Graça, 1997 (à direita de cima para baixo) 54. Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Fotografia do interior, hall dos alunos, Carrilho da Graça, 1997 55. Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, Fotografia do interior, corredor do antigo convento, Carrilho da Graça, 1997

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tos consiste na construção de um extenso volume retangular que surge posterior à construção antiga. No caso da escola este volume começa e une-se com o convento a partir do anfiteatro exterior. Neste novo e longo volume fixa-se grande parte da escola: salas de aula, espaços técnicos para as aulas práticas, cantina e biblioteca. No extremo deste volume, mais distante da zona do convento, foi integrada uma residência exclusiva para os alunos da escola. No edifício do convento, no piso zero que serve de entrada ao edifício, foi projetado na ala norte um auditório flexível e na ala sul um restaurante pedagógico, que desfruta da vista para a Ria Formosa através de um rasgo no muro que delimita o lote da escola, comum nas obras de Carrilho da Graça. A contemplação que o projeto oferece para o Convento e para a Ria Formosa demonstra uma sensibilidade para com o lugar. Para além do restaurante, que pode ser usufruído pelo público, no piso 1 podemos encontrar um hotel pedagógico - a Estalagem de São Francisco. Existe “uma relação de contrastes e complementaridades entre os corpos” 79. O novo corpo em betão quando se junta ao Convento é revestido a betão branco bujardado, com a intenção de se unir com a cal do convento.

79 FERNANDES, José Manuel - Arquitetura recente em Faro-Dois exemplos qualificados in Monumentos nº24. Lisboa: Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, 2006, p.159

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(à esquerda de cima para baixo) 56.Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Fotografia do exterior, Alçado sul, Souto Moura e Graça Correia, 2008 57.Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Fotografia do exterior, Entrada da escola, Souto Moura e Graça Correia, 2008 58.Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Fotografia do exterior, Planos da zona da entrada, Souto Moura e Graça Correia, 2008

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| 4.3. ESCOLA DE HOTELARIA E TURISMO DE PORTALEGRE ARQUITETO EDUARDO SOUTO DE MOURA E ARQUITETA GRAÇA CORREIA 2008 Inserida no plano de regeneração da antiga zona ocupada pela Fábrica de Cortiça “George Robinson” encontra-se a escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, inaugurada em 2008. Esta zona, bem próxima do centro da cidade, representa uma importante “coleção” de património industrial. Este conjunto de oficinas e armazéns obsoletos com uma grande carga histórica para a cidade levaram à realização de um Plano Estratégico para a regeneração da área da antiga fábrica Robinson. Valorizando assim a perspectiva histórica e requalificando a paisagem da cidade, Souto de Moura80 e Graça Correia81 projetaram um plano para esta zona com o objetivo de reabilitar o conjunto industrial com mais de 7 hectares, dedicando-o à educação, formação, conhecimento e cultura. Deste plano não só resulta a reabilitação de edifícios existentes como também a construção de novos edifícios, que “surgem no espaço regenerado para receber novos habitantes, motores de função cultural e agentes de dinamização” 82 como é o caso da Escola de Hotelaria. Para além da escola, o plano contempla outros espaços como um Museu Industrial da Cortiça, pela memória da antiga fábrica que ali existia, um Museu dos Bombeiros e na zona das antigas abóbadas da fábrica um parque de estacionamento. A acrescentar ao plano prevê-se a construção de espaços para criações contemporâneas, associações culturais e espaços dedicados à realidade virtual, acompanhados por auditórios inseridos em antigas estruturas industriais e uma pousada no antigo Convento de São Francisco em Portalegre. Atualmente, grande parte do plano foi concretizado o que contribuiu para o aumento da qualidade e dinâmica nesta zona da cidade de Portalegre. A escola de Hotelaria e Turismo, fixada num volume construído de raiz, é assumido como uma imagem de marca deste plano pelo enquadramento paisagista que o mesmo toma em toda esta zona. Souto de Moura propõe um volume baixo mas bastante longo acompanhado por um jogo de planos; o edifício da escola é marcado pelo desenho de um bonito equilíbrio sobre a paisagem natural. O projeto fixa-se na ideia de 80 (1952-) Eduardo Souto-Moura, arquiteto Pritzker português. 81 (1965-) Arquiteta portuguesa. 82 ROBINSON, Fundação – Portalegre na rota do desenvolvimento – Parcerias para a regeneração urbana. Portalegre: Camara Municipal de Portalegre, 2014, p.11

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A

B C D

F G

J

H I

E K

(à esquerda de cima para baixo) 59. Planta do Plano Estratégico para a regeneração da àrea da antiga fábrica Robinson, Eduardo Souto de Moura e Graça Correia. 2008 A- Museu Industrial da Cortiça B- Museu dos Bombeiros C- Parque de Estacionamento nas antigas abóbadas D- Núcleo do museu Robinson e Espaço de Restauração E- Pousada no antigo Convento de S.Francisco F- Auditório A numa antiga estrutura industrial G- Auditório B numa antiga estrutura industrial H- Associaçoes cultutrais e espaço de Realidade Virtual I- Escola de Hotelaria e Turismo J- Associações culturais asssociadas ao Museu da Cortiça K- Frente urbana residencial 60. Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Planta do piso -1, Souto Moura e Graça Correia, 2008 61.Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Planta do piso 0, Souto Moura e Graça Correia, 2008 62.Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Secção longitudinal, Souto Moura e Graça Correia, 2008 63.Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Secção transversal, Souto Moura e Graça Correia, 2008 (à direita de cima para baixo) 64.Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Fotografia do interior, Secretaria, Souto Moura e Graça Correia, 2008 65. Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Fotografia do interior, Zona de estudo, Souto Moura e Graça Correia, 2008 66. Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, Fotografia do interior, Cozinhas individuais, Souto Moura e Graça Correia, 2008

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uma caixa flutuante na paisagem. Construtivamente, o edifício no seu interior consiste num jogo de paredes estruturais que garantem o equilíbrio do edifício e que comporta uma consola que atinge os 8 metros. A forma simples e clara do edifício, estrategicamente construído naquele lugar, define uma nova rua que consubstancia o eixo principal e estruturante do plano de regeneração. O edifício, com uma implantação em forma de L, tem mais de 100 metros de comprimento. A extensa fachada cega de cor ocre a norte contrasta com a fachada sul definida pelos seus longos vãos que marcam a largura de cada espaço da escola. Em relação à organização espacial, a simplicidade mantem-se. O edifício pode ser dividido em duas zonas distintas, atravessadas por um extenso corredor. Esta divisão de espaços é marcada pela entrada do edifício, onde somos confrontados pela transparência do vão sul para a bonita planície alentejana, dividindo as salas de aula e os gabinetes para um lado, e para o outro todos os espaços dedicados à parte prática da escola. Para além das diferentes características sociais destas duas “alas”, a escala das valências dos espaços também é diferente. O volume em tons de azul, destacado na fachada norte, acolhe a cozinha central que se torna o motor do funcionamento desta ala do edifício. Apenas foram construídos pisos enterrados na área correspondente à implantação deste volume, como espaços de apoio à vertente prática da escola: os balneários e os armazéns/despensas. A fachada norte ilusoriamente cega corresponde aos gabinetes de trabalho que são abertos para pequenos pátios privados. Na verdade, toda a iluminação dos espaços orientados a norte é feita por este tipo de pátio, que para além de oferecerem privacidade, conferem iluminação natural pela reflexão da luz nas paredes. As escolhas cromáticas acontecem por integração paisagística, no caso do ocre e do branco, e por marcação do tipo de espaço, no caso do azul que está associado a espaços como as padarias. A escola tem no total capacidade para acolher 250 alunos. Para além das 7 salas de aula, de uma zona de cozinhas individuais, da cozinha central, que inclui uma pastelaria, uma cozinha quente e uma cozinha fria, existem um restaurante e um bar de aplicação.

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(à esquerda) 67. Terreiro Humberto Delgado, Serpa, início da década de 60

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O Lugar

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“Serpa, o tempo preso entre muros. (...) “Um pouco antes de a estrada entrar em declive e tudo ser tragado pelo vale do Guadiana, avista-se ao longe na direção de Espanha uma terra caiada em lugar indiscutivelmente estratégico. É Serpa. Durante meia dúzia de quilómetros após a transposição do rio, a vila permanece escondida até surgir de repente no fim da subida, grandiosa e fortemente amuralhada. (...) Por cima do imponente pano de muralha sustido por torreões assomam, entre ciprestes, campanários de igrejas e as torres ameiadas do castelo, enquanto um aqueduto de dezanove arcos monta na extensa parede defensiva e vai morrer numa austera casa apalaçada que se incorpora naquela. Este verdadeiro postal ilustrado é a marca de uma terra que impõe logo à primeira vista os pergaminhos do seu passado ao visitante.” 83

83 CALDEIRA, João Mário – Margem Esquerda do Guadiana: As gentes, as terras, os bichos. Lisboa: Contexto Editora, 2000, p.113

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| 5.1. O LUGAR - SERPA Situada no Baixo Alentejo, Serpa é sede de concelho, pertencente ao distrito de Beja. Encontra-se entre Mértola e Moura e é delimitada pelo Rio Guadiana a oeste e pela fronteira com Espanha a este. BEJA

FRONTEIRA COM ESPAHA

RIO GUADIANA

SERPA

São ínfinitos os recursos e a beleza que a cidade oferece e a sua localização é bastante favorável. A proximidade ao aeroporto de Beja84 e à estação ferroviária de Beja, para além da ligação rodoviária existente por todo o Alentejo, tornam a cidade um ponto estrategicamente viável e interessante para o desenvolvimento do turismo. A proximidade com Mértola, a Vila Museu, e Sevilha (tornando-se ponto de passagem aquando a realização da rota Sevilha-Lisboa) insere a cidade num circuito que convida a visita de turistas tanto nacionais como estrangeiros85. São escassas as provas materiais que provem a origem da cidade, mas talvez tenha surgido em 480 a.C, com um povo que se fixou na região do Guadiana: os Túrdulos, um antigo povo pré-romano da Bética, a leste do Guadiana..86 Dos vestígios de ocupação humana encontrados em Serpa, os mais antigos tratam-se de moedas romanas. Teoricamente os romanos terão conquistado Serpa no ano 181 a.C., sendo que em 63 a.C. os Lusitanos ocuparam este território, tendo sido mais tarde tomado por Pompeu, ficando novamente sob o domínio dos romanos. Serpa foi um aglomerado secundário, posicionado estrategicamente próximo de itinerários principais da Península Ibérica, itinerários terrestres como via Pax Julia-Onuba, ou seja, Beja-Huelva, como itinerários fluviais, leia-se o 84 Embora seja um aeroporto com uma atividade muito reduzida, atualmente, não deixa de ser um ponto a favor do desenvolvimento turístico na região do Baixo Alentejo. 85 CAMARA MUNICIPAL DE SERPA - Plano de Pormenor de Salvaguarda do Núcleo Histórico da Cidade de Serpa: Relatório e Programa de Execução. Serpa, 2013. 86 Breves apontamentos da história de Serpa in PEREIRA, Arnaldo e MIDÕES, Ágata - Regionalização e identidades locais: Preservação e Reabilitação dos Centros Históricos. Actas do IV Encontro Nacional De Municípios com Centro Histórico. Lisboa: Edições Cosmos, 1997

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68. Contextualização do lugar. Vista aérea da localização de Serpa, 2016


REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

rio Guadiana. Já nessa época, a base da economia local estava associada à caça e pastorícia.87 A posição geográfica de Serpa colocava-a como ponto militar estratégico de grande importância, devido às características do seu Castelo e por estar indicada no itinerário do imperador António Pio88. Devido a esta importante posição estratégica, por volta do século II, Serpa adquiriu o estatuto de Cidade. Serpa foi um dos pólos da fixação do povo islâmico nas proximidades do Rio Guadiana. Deste modo foi também palco de conquistas e reconquistas cristãs. Até meados do século XII sofreu inúmeras ocupações, alternando de posse constantemente. Apenas em 1166 89, D. Afonso Henriques conquistou a cidade mas, devido à reduzida população nestas zonas, depressa foi abandonada e retomada pelos mouros. Ainda assim o povo luso não abdicou da margem esquerda do rio Guadiana, tendo sido a sua conquista “uma prova brilhante da índole guerreira de Sancho I” 90 em 1191. Esta vitória não terá sido a última conquista da cidade, a alternância de posse aconteceu até à conquista por parte de D.Sancho II, em 1232. Após as violentas mudanças de posse da cidade, a devastação era visível e a proteção da cidade era deficiente. Consequentemente a cidade recebeu um novo castelo e sobre as ruínas do antigo uma nova muralha se ergueu. Esta muralha, construída por ordem do Rei D.Dinis em 1295, oferecia a proteção necessária às ocupações futuras. No mesmo ano, a vila recebeu o seu primeiro foral que concedia os mesmos privilégios que Évora, determinando a autonomia da cidade. Este foral expressava a “preponderância das atividades agropecuárias na economia local” 91 e as atividades e produtos ligados ao comércio como o pão, vinho, peixe e têxteis de lã e linho. No início do século XVI, um novo foral é atribuído a Serpa apontado a 87 Esta base económica durou até ao século XVI. Ainda no reinado de D. Manuel I, Serpa terá sido um dos portos secos mais importantes. A produção artesanal tornou-se também um fator crucial na economia da cidade. Mateus, Rui; RAMALHO, Margarida Magalhães – História e histórias – Serpa. Guia de turismo de Serpa 2007 88 Imperador romano entre 138 e 161 d.C. 89 CABRAL, João – Serpa do Passado (esforço mono-biográfico). Braga: Tipografia Editorial Franciscana, 1968, p.22 90 CALADO, Hugo Miguel Pinto – A Raia alentejana medieval e os pólos de defesa militar- O castelo de Noudar e a defesa do patrimônio nacional. Lisboa: Universidade de Lisboa – Faculdade de Letras, Departamento de História, 2007, p.33 91 CAMARA MUNICIPAL DE SERPA - Plano de Pormenor de Salvaguarda do Núcleo Histórico da Cidade de Serpa: Relatório e Programa de Execução. 2013

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vila como um núcleo urbano em expansão e um dos portos secos mais influentes do reino. A estrutura económica era baseada na produção de cereais, pastorícia, artesanato e comércio. Mais uma vez, a proximidade com duas estradas principais que ligavam Portugal e Castela era crucial para o crescimento da zona. Porém, devido à sua proximidade com a fronteira, Serpa foi nos anos seguintes alvo de conquistas entre Espanha e Portugal, tornando inconstante a nacionalidade da cidade. Também existem referências da cidade no Plano de Luciano Bonaparte, à época das evasões francesas, apesar da invasão nunca se ter realizado. Até ao século XIX grande parte das propriedades eram geridas pela Igreja, por famílias abastadas ou sob domínio comunal. A atividade agrícola local oferecia emprego a grande parte da população de Serpa, que para além de serem pagos pelo trabalho, podiam usufruir da entidade patronal uma pequena porção das colheitas. Contudo os tempos começaram a mudar. A introdução da máquina e a vinda de trabalhadores de outras zonas do país, dispostos a receber salários mais baixos, viria a mudar a situação de todo o Alentejo. Nos tempos seguintes, o número de propriedades de famílias abastadas aumentou gradualmente, e poucos dos seus lucros eram aplicados na cidade, contribuindo assim para o gradual empobrecimento da zona. No século XX, a fraca produtividade e retorno económico da zona, e o apelo às grandes cidades, levaram a um despovoamento da cidade e por consequência o seu empobrecimento. Nem mesmo as Campanhas de Trigo do Estado Novo criaram balanços positivos, antes pelo contrário. A “monoprodução“ levou ao esgotamento dos solos com a falta de rotação de culturas necessárias para a subsistência do solo. Com a perda de qualidade dos terrenos e a fraca produção, e consequentemente a falta de rendimento, os produtores não foram capazes de acompanhar a modernização da atividade 92 e entraram em falência. Serpa, que sempre teve um crescimento demográfico acentuado, a meio do século XX enfrenta um decréscimo no número de habitantes que deixam a cidade à procura de uma vida melhor no estrangeiro ou perto das cidades de Lisboa e Setúbal, onde, atualmente, parte dos habitantes destas zonas têm ligação ao Alentejo. 92 Nesta época, a agricultura já não sobreviveria se não fosse acompanhada pela aquisição de máquinas e adubos. Os produtores, sem rendimento algum com a baixa qualidade dos seus terrenos, também não tinham como adquirir as tecnologias modernas e acompanhar a crescente evolução na agricultura. Mateus, Rui; RAMALHO, Margarida Magalhães – História e histórias – Serpa. Guia de turismo de Serpa 2007

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CASTELO

A desertificação do local sente-se ainda hoje e não se limita a Serpa, estendendo-se a diversas vilas alentejanas. A necessidade de devolver o dinamismo a esta cidade, rica de recursos culturais, torna-se essencial para mudar o curso atual que a mesma apresenta.

| 5.2. O CENTRO, A MURALHA

palácio dos condes de ficalho vila velha

PORTAS DE MOURA PORTAS DE BEJA

aqueduto

PORTAS DE SEVILHA

A paisagem alentejana é marcada por um grande número de castelos e fortificações, que vão interrompendo pontualmente a extensa paisagem natural que domina esta zona do país. Serpa não é exceção. A construção defensiva que existe está associada à sua localização estratégica, próxima da fronteira. Esta fortificação pertencia à primeira linha defensiva da fronteira com Espanha, que tinha início a Norte em Castelo de Vide, passando por Montalvão, Marvão, Alegrete, Arronches, Ouguela, Campo Maior, Elvas, Barbacena, Juromenha, Alandroal, Terena, Monsaraz, Mourão, Noudar e Serpa, e terminando em Mértola. Esta primeira frente era reforçada com uma segunda linha defensiva, a que Beja e Évora pertenciam. 93 Durante o domínio romano, a estrutura da cidade de Serpa já se compunha por uma construção amuralhada que criava duas zonas distintas da cidade: o Casttelum, atual zona do Castelo Velho, e à sua volta as Habitações Externas. A zona do Castelo Velho, como diz o nome, serviu de berço da cidade. Depois do domínio dos romanos, seguiu-se a vez dos mouros concedendo a esta zona características medievais que resistem até aos dias de hoje. Esta pequena área no canto noroeste da vila, juto à Torre do Relógio, ainda é bem notória na planta da cidade embora a antiga cerca já não exista. Ao longo da história, por consequência das constantes ocupações, o castelo foi diversas vezes destruído. O castelo e as muralhas, como são conhecidos hoje, foram mandados construir por D.Dinis em 1295 94. Esta ordem de construção demonstra a importância económica que a cidade tinha para o país no esforço da reorganização cristã do Alentejo. O plano defensivo consistiu na criação de postos de observação e torres de vigia para as principais vias de acesso à cidade sobre uma forte

69. Evolução histórica da muralha de Serpa, século XII-XIV, século XV-XVI e século XVII-XVIII.

93 BAGANHA, José – A Arquitectura Popular dos Povoados do Alentejo. Lisboa: Edições 70, 2016, p.62 94 MALVEIRO, A. Branco – Serpa Notável Vila. Serpa: Edição do Jornal Serpínia, 1989, p.23

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(de cima para baixo) 70. Fronteira de portugal fortificada pellos reys deste reyno. Iconografia de Serpa de Duarte Damas, século XVI 71. Vista aére de Serpa,2010 72. Vista aére de Serpa,2010

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parede amuralhada protegida por um barbacã95. No total foram construídas em torno da cidade, três torres que vigiariam a entrada de quem vinha de Castela ou Andaluz (a este), de Beja (oeste) e de Moura (norte)96. Coincidente com estas torres foram construídas três portas de acesso à cidade, nomeadas respetivamente pela terra mais próxima a que davam acesso: Portas de Sevilha, Portas de Beja e Portas de Moura.97 Dentro do recinto amuralhado existem vestígios de uma muralha intermédia a noroeste, que para além de integrar o castelo também integrava a Igreja Matriz, Igreja de Santa Maria e a atual Torre do Relógio. Este novo desenho da cidade foi concebido por Duarte Damas, numa iconografia elaborada no início do século XVI. A morfologia da cidade é bastante clara. A densidade populacional no interior do perímetro amuralhado é visível, bem como as três zonas distintas: o Castelo, a Vila Velha e a Vila Nova. Apenas um século depois a “imagem postal” da cidade de Serpa tornou -se mais idêntica à que conhecemos hoje. O conhecido Palácio dos Condes de Ficalho foi erguido no século XVII como a casa nobre da família Mello. Em conjunto com este imponente solar sobre a muralha, foi também construído um aqueduto sobre a mesma, para abastecimento do palácio, e a abertura da Porta Nova na muralha. No decorrer da Guerra da Restauração, Serpa recebeu um projeto de reforço da fortificação da cidade da autoria de Nicolau de Langres, para uma maior eficiência militar. O projeto nunca foi concluído, apenas se construiu o forte de S.Pedro em 1668, a oeste da cerca da cidade, tendo servido para muito pouco. 98 A posição fronteiriça tornava a cidade um ponto frágil e as ocupações por parte de Castela continuaram até 1707, quando o Duque de Ossuna tomou a cidade pela última vez. O Duque fixou-se em Serpa por um ano. Ainda assim, antes da sua partida, garantiu que deixaria a cidade

95 Muro sobreposto às muralhas para defesa. A barbacã não resistiu até aos dias de hoje. A mesma deve ter sido alterada durante o período da Restauração da Independência. CAMARA MUNICIPAL DE SERPA - Revisão Do Plano Estratégico De Serpa. Serpa: 2010, p.21 96 CALDEIRA, João Mário – Margem Esquerda do Guadiana: As gentes, as terras, os bichos. Lisboa: Contexto Editora, 2000, p.115 97 Ao longo do tempo várias portas foram abertas como é o caso da Porta Nova, junto ao Palácio dos Condes de Ficalho, no século XVII, a Porta da Corredoura no século XVIII, e as Portas de Nossa Senhora, as Portas do Prior e as Portas da Rua do Cavalo no século XIX. 98 Atualmente não existe qualquer vestígio físico da existência deste forte, onde foram construídos edifícios de habitação. Apenas aparece referido em referências escritas e desenhos realizados para o projeto.

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suficientemente destruída pondo termo aos dias de glória da vila.99 A retificação da muralha deu-se ainda no reinado de D.João V 100, com a introdução de um baluarte de estilo moderno em forma de cauda de andorinha.101 Por consequência do tempo e da falta de manutenção, a muralha sofreu desmoronamentos no século XIX, mas rapidamente foram reconstruídas no século seguinte. O nacionalismo de Salazar fazia questão em erguer os símbolos “de um passado glorioso” que reconheceu no território de Serpa. Na entanto, uma reconstrução na época do Estado Novo também era acompanhada de alguns excessos, como eliminar o que estaria a mais na paisagem. Em consequência, diversas habitações que se tinham fixado junto à muralha foram destruídas para que a obra de D.Dinis pudesse ser apreciada. Ainda nesta época, em 1954, as muralhas de Serpa foram classificadas de monumento nacional. Até aos dias de hoje pouco mudou no interior das muralhas. O tecido urbano, fortemente influenciado pela muralha, é desenhado por ruas sinuosas de pequena dimensão, tradicionalmente caiadas e acompanhadas por uma faixa cinza que domina a paisagem da “Vila Branca”, que terminam em pequenos largos que nunca se repetem. Esta poesia espacial do núcleo intramuros da cidade de Serpa levou-a a receber a classificação de Conjunto de Interesse Público, em 2011. “Tudo na verdade são marcas da história, sinais de tempo.” 102

99 A violenta destruição do Duque Espanhol ainda hoje é visível, com uma imagem que hoje em dia é um marco turístico da zona: a grande pedra em equilíbrio na entrada do Castelo Velho. MALVEIRO, A. Branco – Serpa Notável Vila. Serpa: Edição do Jornal Serpínia, 1989, P.23 100 Nasceu a 1689 e foi o vigésimo-quarto rei de Portugal entre 1707-1750. 101 CAMARA MUNICIPAL DE SERPA – op.cit. p.32 102 CALDEIRA, João Mário – Margem Esquerda do Guadiana: As gentes, as terras, os bichos. Lisboa: Contexto Editora, 2000,,0.1P.23

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(de cima para baixo) 73. Rua dos Arcos, Serpa, 1962 74. Rua dos Arcos, Serpa, 1968 75. Rua dos Arcos, Serpa, 1971 (à direita) 76.Rua dos Arcos, Serpa, início década de 60.


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77. Palรกcio Parreira Cortez, Serpa, 1968

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A PROPOSTA

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Como foi referido anteriormente, o Baixo Alentejo é uma região do país rica em recursos turísticos: o clima, a luz, a história, a cultura e a tradição. A identidade singular desta zona do país confere a este lugar uma autenticidade. A qualidade da paisagem, tanto a natureza como as suas construções, guarda consigo histórias de outros tempos. Nos últimos anos o Alentejo tem ganho algum reconhecimento como destino turístico, no entanto nem todas as suas regiões se encontram igualmente desenvolvidas, como é o caso de Serpa. Procurando recordar e valorizar o património local e ao mesmo tempo oferecer dinamismo à cidade, o projeto procura inserir um programa estruturante e sustentável para a cidade. Com o principal objetivo de requalificar o núcleo histórico da cidade através do mais rico recurso da região, a Gastronomia, a estratégia do presente projeto propõe a introdução do património do Baixo Alentejo no Ensino de Hotelaria e Turismo. Serpa, em 2008, expôs a sua vontade de dinamizar o turismo da cidade com a realização do Plano de Desenvolvimento Turístico de Serpa. O principal objetivo deste plano passa por “potenciar as horizontalidades do sistema turístico, onde no processo de globalização as procuras da diferença, das especificidades, de tradições e modos e vida, dos patrimónios culturais e naturais, podem constituir “matéria – prima” para transformar patrimónios em recursos turísticos” 103. Ao longo do plano compreende-se a vontade e preocupação do município em qualificar o território dinamizando a sociedade, a cultura e a economia local. Defende, assim, uma renovação da cidade sem nunca abandonar os traços identificadores de Serpa. Deste modo, existe uma necessidade de delinear Projetos Estruturantes, ou seja, projetos com o objetivo de criar um novo desenvolvimento socioeconómico na cidade. A ausência de entidades associadas à rede 103 CAMARA MUNICIPAL DE SERPA - Plano de Desenvolvimento Turístico. Serpa: 2008

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DR O

ENTRADA DA CIDADE

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RUA DAS CRUZ

EIXOS PRINCIPAIS DE CIRCULAÇÃO DA CIDADE EIXOS PRINCIPAIS DE CIRCULAÇÃO DO NÚCLEO INTRAMUROS LIMITE DO QUARTEIRÃO PALÁCIO E NORA EDIFICADO NOVO EDIFICADO PRÉ-EXISTENTE

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PORTALEGRE ESTORIL

LISBOA SETÚBAL

BEJA

SERPA

ESCOLA DE HOTELARIA RIO GUADIANA PORTIMÃO

de escolas de Hotelaria e Turismo nesta zona do país, contribui para o descuramento da cultura local que demonstra ser um elemento de grande influência na região. Atualmente, as escolas mais próximas desta zona são em Setúbal, Portalegre e Vila Real de Santo António. Assim, a estratégia de instituir uma escola dedicada ao ensino de hotelaria e turismo em Serpa visa não só oferecer dinamismo à cidade, como despertar o património local. Consequentemente, contribui para o aprimoramento da formação desta área na região do Baixo Alentejo.

V.R.STº ANTÓNIO FARO

Articulando e integrando o património cultural, propõe-se a Escola de Hotelaria e Turismo, aliada a um hotel e restaurante de aplicação, num quarteirão semi-obsoleto próximo dos eixos estruturantes de circulação na cidade. O projeto oferece uma restruturação ao nível de todo o quarteirão, com o objetivo de consolidar e requalificar toda a zona. O quarteirão é composto por um palácio, atualmente conhecido como Palácio dos Lopes. Este palácio, mandado construir pela família Parreira Cortez em 1833, também compreende todo o logradouro do quarteirão, que em tempos desempenhava a função de pomar. Na época, a organização social no Alentejo era essencialmente dedicada à exploração agrícola. A organização funcional do edifício revela uma forte influência da atividade agrícola na família, com a existência de espaços dedicados aos animais, ao vinho e ao azeite, a existência de salgadeiras e de um fumeiro. A estrutura espacial está dividida como era comum neste tipo de casas: o piso térreo dedicado à agricultura e o piso superior desempenhava a função de habitação. A riqueza dos espaços afetos à habitação ainda hoje é visível, apesar das alterações que o palácio sofreu ao longo do tempo. O lanternim e os trabalhos de estuque nos tetos, de notável qualidade, são as principais características da riqueza deste palácio. Atualmente o palácio encontra-se habitado numa pequena parte, no entanto carece de grandes obras de reabilitação, desgastado pelo tempo e pela impossibilidade de o conservar, por parte dos diversos herdeiros. Classificado como imóvel de interesse municipal no Plano de Reabilitação Urbana do Centro Histórico de Serpa, é de mútuo interesse preservar o edifício apalaçado que atualmente se encontra à venda

(à esquerda) 78. Planta esquemática das relações do quarteirão com a cidade (em cima) 79. Mapa das Escolas de Hotelaria e Turismo no Centro e Sul de Portugal

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(de cima para baixo, da esquerda para a direita) 80. Pormenor exterior do palácio 81. Pormenor exterior do vão do palácio 82. Pormenor dos estuques do tecto da sala de jantar do palácio 83. Pormenor das abóbadas das antigas cavalariças 84. Pormenor do tecto do lanternim que ilumina as escadas principais do palácio 85. Pormenor do hall das escadas do primeiro piso

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| 6.1. O CONCEITO Na Arquitetura a “concretização de alterações sucessivas, e por vezes sobrepostas em tempos diferentes e descontínuos do território natural e artificial, resulta com maior evidencia quando o projeto diz respeito a um edifício ou parte desse já existente” 104 . Como instrumento de recuperação da memória do lugar, a construção desta nova Escola de Hotelaria e Turismo no quarteirão visa integrar a contemporaneidade na cidade, incentivando a regeneração social do lugar. Assim, o projeto não se cinge ao palácio e inclui grande parte do quarteirão que, também, se apresenta pouco consolidado. O quarteirão de forma triangular, situado junto da zona sul da muralha, sofre alterações em duas das suas três ruas, pela necessidade de requalificação dos alçados dessas mesmas ruas: a Rua dos Lagares e a Rua de São Pedro, coincidente com as duas fachadas do palácio, exteriores do quarteirão. A restruturação do quarteirão com a introdução de novas valências e qualidade espacial procura enaltecer o Palácio. O projeto expressa-se por uma linguagem de volumes e planos contínuos que perfazem o limite da rua, respeitando as cotas dos edifícios adjacentes. Com o objetivo de criar espaços exteriores como elementos de ligação aos diversos espaços afetos do programa, sem nunca encerrar por completo o quarteirão, o projeto acontece, também, abaixo da cota da rua. Simultaneamente, procura-se respeitar o enquadramento das áreas verdes necessárias no equilíbrio ambiental, enunciado no Plano de Pormenor de Salvaguarda do Centro Histórico da Cidade de Serpa de 2013. Assim, a configuração dos novos edifícios desenha dois pátios no seu interior: o pátio da escola e o pátio do hotel. Os pátios inseridos no logradouro do quarteirão são separados pelo volume de cota menor, que une o novo volume da escola, no limite da Rua dos Lagares, à outra extremidade do quarteirão que não carece de intervenção. O pátio afeto ao hotel, por respeito ao desenho original da entrada para o logradouro e de modo a oferecer privacidade, encontra-se abaixo da cota da rua. Em virtude do carácter de lazer, com uma piscina exterior e respetiva zona de estar, encontra-se 3 metros abaixo da cota da Rua dos Lagares. No caso do pátio da escola, que une a escola à residência, o mesmo acompanha a cota do piso térreo do edifício da escola.

104 FERNANDES, Fátima; CANNATÀ, Michele - Construir no tempo. Lisboa: ESTAR Editora, 1999, p.7

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Por se tratar de um hotel de aplicação, grande parte dos serviços prestados no hotel são realizados pela escola. Assim, a cozinha central é o elemento de ligação da escola ao hotel, pelo carácter pedagógico que o hotel e o restaurante apresentam. Este espaço, para além de estabelecer uma ligação direta entre os dois edifícios, também harmoniza a ligação do pátio à cota mais baixa com as edificações adjacentes, que apresentam uma cota mais elevada, tornando-se o elemento de transição na recuperação da cota da Rua das Cruzes. Os novos volumes de linhas simples e claras, que acompanham o limite do quarteirão, não esquecem a nora que encerra o gaveto da Rua das Cruzes com a Rua de São Pedro. Este elemento, outrora privado do público, inserido numa linha de água em conjunto com a nora grande da muralha, desenha um novo largo em sua memória. Propõe-se o desenho de um novo espaço público linear, como são comuns no Baixo Alentejo.

| 6.2. O PROGRAMA O desenho de uma escola de hotelaria em Serpa propõe introduzir o património alentejano associado a este tipo de ensino. O programa do projeto divide-se em três partes distintas: o hotel, a escola e a residência. Apesar de o hotel pertencer à formação da escola, os dois espaços possuem programas funcionais distintos e em edifícios diferentes, partilhando apenas a cozinha central. Deste modo, a exposição do programa será dividida em três.

| 6.2.1. UNIDADE HOTELEIRA DE APLICAÇÃO Proposto no antigo Palácio Parreira Cortez, o hotel foi desenhado de forma a preservar as qualidades originais do espaço, complementando-o com um novo volume, redesenhando a Rua de São Pedro. À entrada, realizada pela porta principal do palácio na Rua dos Lagares, somos confrontados pela escadaria de acesso ao piso mais reservado do hotel, iluminada por um lanternim. No piso térreo foram desenhados, para além do espaço de recepção, alguns espaços de estar que acompanham os diferentes espaços antigos do palácio que conduzem ao hall dos elevadores, ao restaurante/sala de refeições e ao acesso vertical do piso inferior dedicado a atividades de lazer. O restaurante localizado nas antigas cavalariças, um espaço amplo caracterizado pelas suas abóbadas caiadas, é da responsabilidade da

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escola. Assim, o mesmo encontra-se comunicado à Cozinha Central da escola por uma copa de apoio. O acesso ao piso inferior é feito por umas escadas assumidamente escultóricas como um novo elemento do palácio. Nesse piso de carácter lúdico existe uma piscina exterior no pátio do hotel, uma piscina interior, um jacuzzi, uma sauna, uma banho turco e respectivos balneários. Nesse piso, também existe uma zona reservada ao apoio de serviços dos empregados do hotel, comunicado com a Cozinha Central. O piso 1 do hotel, acedido pelas escadas originais do palácio, reservase aos quartos de hotel, ao bar e à Sala da Muralha (sala de estar). Pelo caráter pedagógico do hotel, foram desenhados apena 17 quartos duplos (na sua maioria comunicantes), sendo que 5 se encontram inseridos no palácio e os restantes no corpo novo. Os quartos são dotados de um espaço exterior, sobrelevado à cota do quarto, onde se desenhou um pequeno tanque associado como zona de refresco em contraste com o clima seco e quente que se faz sentir na região. Este desnível foi premeditadamente alinhado com a zona de descanso do quarto de forma a proporcionar visualmente, também, a ideia de refresco.

| 6.2.2. ESCOLA DE HOTELARIA E TURISMO À esquerda do palácio, na Rua dos Lagares prolonga-se o volume da escola. Ao entrar no edifício, por essa mesma rua, por um hall de pé-direito duplo, é possível aceder aos diversos espaços da escola, separados pelas diferentes características sociais que apresentam. Na ala direita encontra-se o auditório, à frente o refeitório e as cozinha individuais, e na ala esquerda as salas de aula, os laboratórios sensoriais e os acessos verticais. No piso -1, dedicado à vertente prática da escola, foram desenhados os auditórios de cozinha e a Cozinha Central (que confecciona para o hotel). Ainda neste piso, existem salas de aula (iluminadas por poços de luz de maneira a garantir iluminação natural), salas de TIC, alguns compartimentos técnicos e um parque de estacionamento enterrado. O estacionamento prolonga-se por mais um piso, inferior a este, comum com o estacionamento do hotel, no entanto com acessos verticais distintos.

86. Corte transversal esquemático do quarto de hotel

O piso 1 da escola é dedicado a espaços mais reservados: gabinetes de administração, sala de professores e sala de reuniões. Neste piso, também se desenhou um mezzanine sob o auditório como um espaço reservado para trabalho.

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| 6.2.3. RESIDÊNCIA DE ESTUDANTES No lote com a fachada de um antigo lagar da mesma rua, desenhouse uma pequena residência de estudantes para alunos da escola de hotelaria. A residência, conservando a memória da fachada, insere-se um pouco recuada do lote. Com capacidade de acolher 20 estudantes no piso 1, o piso térreo é dedicado a espaços sociais e espaços de apoio, para além do acesso ao pátio da escola.

| 6.3. A MATERIALIDADE Serpa é conhecida como “Vila Branca”. Neste sentido, houve uma preocupação em respeitar as pré-existências na escolha dos materiais. A luz que o lugar oferece é utilizada como matéria-prima principal que produz um jogo de sombras entre os planos e entre os vazios criados pela grelhagem de tijolo de burro caiado, que unifica a imagem do projeto. A cor branca da cal, predominante na cidade, é deste modo a cor do projeto. Pretende-se, apenas, atribuir a faixa cinza identitária da cidade, à construção inicial do palácio a fim de se destacar do edifício adjacente construído posteriormente e dos novos edifícios complementares do hotel e da escola. Assim, grande parte dos edifícios são revestidos a tijolo de burro coberto por uma pintura à base de cal, com juntas de dimensões expressivas. Este revestimento cria situações de grelhagem ao longo das fachadas, conferindo contrastes na entrada de luz dentro dos espaços. Esta grelhagem também permite a criação de privacidade no confronto entre alguns espaços, sem abdicar da iluminação natural, como acontece no corredor de circulação da escola orientado para o pátio do hotel. O material com uma forte presença no projeto é o tijolo maciço. Para além de se encontrar no revestimento das fachadas dos edifícios, exceto na Rua de São Pedro por questões de integração com as pré-existências, parte do revestimento dos pavimentos também são propostos em

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87. Fachada a reabilitar do antigo lagar, afeto ao lote da Residênia


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tijolo de terracota, integrando-se com o lugar. Em espaços mais reservados, como a zona de dormir dos quartos de hotel, as salas de aula e a zona administrativa é proposto um pavimento de madeira. Nas cozinhas e nos laboratórios, pela exigência de higiene e manutenção destes espaços, selecionou-se um pavimento autonivelante impermeável. O tijolo de terracota também é proposto para a plataforma do pátio do hotel, não só como elemento de integração, mas também pela cor do mesmo se complementar com o verde existente nas restantes zonas do pátio. A lógica da escolha de um material em cor de terracota nos planos horizontais em confronto com o branco da cal nos planos verticais, reflete-se também ao nível das coberturas. Ou seja, as coberturas planas dos novos edifícios são revestidas por um material cerâmico de cor semelhante ao tijolo, integrando-se com as coberturas de telha predominantes na cidade e, sem exceção, no palácio. No remate das fachadas com estas coberturas optou-se por um capeamento em aço-corten de modo a acompanhar o cromatismo das caixilharias em madeira maciça.

| 6.4.TABELAS DE ÁREAS RESIDÊNCIA DE ESTUDANTES

ÁREA (m2)

Recepção

15,50

Sala de Estar

60,25

Zona de trabalho

34,30

Sala Polivalente (2)

144,20

Enfermaria

28,50

Lavandaria

28,25

Cozinha e Zona de Refeição

52,80

Quartos (13)

267,10

Balneários (2)

73,90

Total (sem circulação e compartimentação para arrumos)

704,80

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O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE

ESCOLA DE HOTELARIA E TURISMO Recepção

15,55

Secretaria

50,95

Auditório

220,00

Refeitório

178,05

Copa de apoio ao Refeitório

51,65

Cozinhas Individuais

161,90

Salas de aulas (8)

310,40

Laboratório sensorial (2)

58,80

Sala Polivalente (2)

67,05

Sala de TIC

84,00

Balneário para professores (2)

92,70

Balneário para alunos (2)

126,50

Auditório Cozinha (2)

124,00

Despensas Frias (6)

42,70

Despensas Secas (4)

69,00

Cozinha Central

Pastelaria

56,15

Padaria

56,30

Despensa de dia

33,30

Copa Grossa e Fina

42,25

Zona de Confecção

160,00

Cozinha Fria

47,90

Garde-manger

108,85

Escritório do Chefe

11,10

Zona de estudo

156,00

Sala de reunião (2)

62,00

Sala de professores

31,50

Gabinetes (4) Total (sem circulação e compartimentação para arrumos)

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ÁREA (m2)

150 25686,60


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HOTEL

ÁREA (m2)

Quartos Duplos (17)

539,00

Bar

60,50

Sala da Muralha

17,50

Recepção

25,60

Apoio a Recepção

41,10

Restaurante/ Sala de refeições

312,70

Copa de apoio ao restaurante

80,15

Zona Comercial (2)

300,20

Balneário Piscina Interior (2)

75,00

Piscina Interior

65,85

Jacuzzi

9,80

Sauna

9,10

Banho Turco

8,85

Bar da Piscina Exterior

22,00

Copa do Bar

25,00

Balneário para pessoal (2)

45,00

Refeitório para pessoal

52,35

Lavandaria e engomadoria

55,20

Total (sem circulação e compartimentação para arrumos)

1744,90

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

7

A cidade tem a capacidade de transmitir às gerações futuras as suas referências culturais através de memórias vivas. A relação existente com qualquer edifício e um lugar torna-se evidente devido à sua preexistência. Os mesmos são capazes de contar uma história através da sua carga memorial, que transportam consigo ao longo do tempo. Deste modo, o fator tempo parece conceder-lhe uma “beleza natural”. O turismo, assim, é uma oportunidade para edifícios desprovidos de interesse serem reabilitados e renovados, proporcionando uma continuidade sustentável com o seu uso. O turismo como atividade de consciencialização e valorização da cidade tem levantado diversas questões nos últimos anos. Apesar da atividade contribuir para o reconhecimento do património, o seu crescimento exponencial parece descontrolado e, consequentemente, a falta de estratégias para estes números coloca em risco o património do lugar – a identidade do lugar. No século XX reconheceu-se o potencial do país nesta atividade, bem como a potencialidade da atividade para o país. Este reconhecimento antecipado conduziu à construção de estratégias premeditadas. Na época, os ideais nacionalistas nunca comprometeram a identidade cultural que existia no país, como tem vindo a acontecer nos dias de hoje. Com efeito, o fator identidade serviu de base para inúmeras estratégias do desenlace positivo da atividade, apenas se colocou em questão a autenticidade da mesma. O despovoamento das regiões no interior do país em tempos passados, ainda se sente nos dias de hoje. A falta de habitantes, e consequentemente a falta de estruturas, conduziram ao descuramento do reconhecimento destes lugares. No entanto estas zonas não estão desprovidas de património cultural, muito pelo contrário. O interior do país é riquíssimo culturalmente, apenas se encontra carecido de insti-

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O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE

tuições e de estratégias capazes de revitalizá-lo sem o destruir. Aliar o passado e o presente ao futuro poderá ser a solução. O vasto património arquitetónico, arqueológico e gastronómico do Baixo Alentejo são fatores capazes de despertar o interesse, a consciência e o valor do lugar. Deste modo, procurou-se uma intervenção que respeite o valor histórico patrimonial da cidade capaz de conjugar o passado com o presente, evidenciando a importância do trinómio património – memória – identidade para a cidade dos dias de hoje. “Indivíduos e sociedades não podem preservar e desenvolver a sua identidade senão na duração e através da memória. (...) Romper com o passado não significa nem abolir a sua memória, nem destruir os seus monumentos, mas conservar uns e outros num movimento dialético que, simultaneamente, assume e ultrapassa o seu significado histórico original, ao integrá-lo num novo estrato semântico. “ 105

105 CHOAY, Françoise – A Alegoria do Património. Lisboa: Edições 70, 2015, p.116-117

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bibliografia BIBLIOGRAFIA GERAL DE REFERÊNCIA A.A.V.V. - Dicionário da Língua Portuguesa, Dicionários Editora. Porto: Porto Editora,2006 A.A.V.V. - Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura volume 13. Lisboa: Editorial Verbo, 1992 A.A.V.V. - Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (Heide-Irapu) volume XIII. Lisboa: Editorial Enciclopédia, Limitada, 1981 AGUIAR, José – Cor e cidade histórica, Estudos cromáticos e conservação do património. Porto: FAUP Publicações, 2002 ALBUQUERQUE, Miguel - A cidade. Personalidade e Memória in Sociedade e Território 31-32. Porto: 2000, 52-53 CANDAU, Joël – Antropologia da Memória. Lisboa: Instituto Piaget, 2013 CHOAY, Françoise – A Alegoria do Património. Lisboa: Edições 70, 2015 CHOAY, Françoise – As Questões do Património. Lisboa: Edições 70, 2011 CLÉMENT, Élisabeth; DEMONQUE, Chantal; HANSEN-LOVE, Laurence; KAHN, Pierre – Dicionário Prático de Filosofia. Lisboa: Terramar, 2007 CONSELHO DA EUROPA- Carta Europeia Do Património Arquitectónico Holanda: 1975. Consultado a 13 de Novembro de 2015 http://www. patrimoniocultural.pt/media/uploads/cc/CARTAEUROPEIADOPATRIMONIOARQUITECTONICO.pdf

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O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE

CUNHA, Lucínio - Desenvolvimento do Turismo em Portugal: Os Primórdios. Fluxos & Riscos nº1, 2010. Acedido a 11 de Outubro de 2016 http:// recil.ulusofona.pt/bitstream/handle/10437/1849/DESENVOLVIMENTO. pdf?sequence=1 FERNANDES, Fátima; CANNATÀ, Michele - Construir no tempo. Lisboa: ESTAR Editora, 1999. GRAÇA. Joaão luis Carrilho da Graça - Carrilho da Graça. Lisboa: Editorial Blau, 1995. GRACIA, Francisco de - Construir en Lo Construido: La Arquitectura Como Modificacion. Madrid: Nerea, 1992 LAMEIRA, Francisco I.C. - Faro, Edificações Notáveis. Faro: Camara Municipal de faro, 1997 LE GOFF, Jacques – História e Memória IIº Volume -Memória. Lisboa: Edições 70, 2000 LE GOFF, Jacques - Memória-História, Enciclopédia Einaudi Volume 1. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1997 LEITE, António Santos; FELICIANO, Ana Marta - Memoria, Projecto e Arquitectura; Reflexão e Propostas para uma Reabilitação Sustentada do Património Urbano e Arquitectónico. Lisboa: By the Book, 2016 LOBO, Susana – Pousadas de Portugal. Reflexos da Arquitectura Portuguesa do séc.XX. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006 LOPES, Rafael Caetano Saldanha - Arquitectura e turismo: uma proposta de intervenção no distrito de Évora. Lisboa: FA-UL, 2014 LYNCH, Kevin – A imagem da cidade. Lisboa: Edições 70, 1982 MAGALHÃES, Zita - Pestana Palace Hotel - Palácio Valle Flôr. Lisboa: Carlton Palácio, 2003 MANGORRINHA, Jorge – História de uma viagem: 100 anos de Turismo em Portugal (1911-2011) vol.1. Lisboa: Comissão Nacional do Centenário do Turismo em Portugal, 2012 MARQUES, Ana Isabel Figueira - Património cultural e turismo nos planos directores municipais e nos planos de urbanização. Lisboa: FA

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REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

-UTL, 2000 MARTINS, Luis Saldanha – Turismo, Investigação e Formação – Tendencias e desafios em tempos de mudança. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2011. Acedido a 10 de Outubro de 2016 http://ler.letras. up.pt/uploads/ficheiros/9155.pdf MORAIS, Carlos – A habitação no turismo de natureza e de tradição, o projecto de reabilitação e revitalização da aldeia de Cidadelha de Baixo, na modalidade de turismo de aldeia. Lisboa: Faculdade de Arquitectura-UL, 2013 NEVES, José Manuel das - Manuel Tainha-projectos 1954-2002. Colecção Arquitecturas Monográficas. Porto: Edições ASA, 2002 ORBASLI, Aylin - Tourists in Historic Towns: Urban Conservation and Heritage Management. London: E & FN Spon, 2000 PEREIRA, Arnaldo e MIDÕES, Ágata - Regionalização e identidades locais: Preservação e Reabilitação dos Centros Históricos. Actas do IV Encontro Nacional De Municípios com Centro Histórico Lisboa: Edições Cosmos, 1997 PINA, Paulo – Portugal, O Turismo no séc. XX. Lisboa: Lucidus, 1988 SOUSA , Ana Rita Simões de - O turismo como factor de revitalização da cidade. Lisboa: UTL, 2002 VENDA, Cátia – Reabilitação e reconversão de usos: o caso das pousadas como património. Lisboa: IST-UTL, 2008

BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA SOBRE O LUGAR AFFREIXO, José Maria da Graça – Memória Histórico-Económica do Concelho de Serpa. Serpa: C.M.Serpa, Biblioteca “Abade Corrêa da Serra” Arquivo Histórico Municipal, 1984 CABRAL, João – Serpa do Passado (esforço mono-biográfico). Braga: Tipografia Editorial Franciscana, 1968 CALADO, Hugo Miguel Pinto – A Raia alentejana medieval e os pólos de defesa militar- O castelo de Noudar e a defesa do patrimônio nacional. Lisboa: Universidade de Lisboa – Faculdade de Letras, Departamento de História, 2007

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O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE

CALDEIRA, João Mário – Margem Esquerda do Guadiana: As gentes, as terras, os bichos”. Lisboa: Contexto Editora, 2000 CAMARA MUNICIPAL DE SERPA - Plano de Desenvolvimento Turístico. Serpa: 2008 Acedido a 14 de Dezembro de 2016 http://www.cm-serpa. pt/ ficheiros/pdt-final.pdf CAMARA MUNICIPAL DE SERPA - Plano de Pormenor de Salvaguarda do Núcleo Histórico da Cidade de Serpa: Relatório e Programa de Execução. 2013. Acedido a 14 de Dezembro de 2016 http://www.cm-serpa.pt/ficheiros/ Relatorio_e_programa_de_execucao_reduzido.pdf CAMARA MUNICIPAL DE SERPA - Revisão Do Plano Estratégico De Serpa. Serpa: 2010 Acedido a 14 de Dezembro de 2016 http://www.cm-serpa. pt/ ficheiros/Relatorio_final_plano_estrategico.pdf MALVEIRO, A. Branco – Serpa Notável Vila. Serpa: Edição do Jornal Serpínia, 1989 MATEUS, Rui; RAMALHO, Margarida Magalhães – História e histórias – Serpa. Guia de turismo de Serpa, 2007 PORTAS, Nuno - Conservar renovando ou recuperar revitalizando. Coimbra: s.n., 1983

PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS A.A.V.V. – Escuela de Hostelaría y Turismo in Domesticar la arquitectura Eduardo Souto de Moura (2009-2014) El Croquis nº176. Madrid: 2015 p. 2847 BAGANHA, José – A Arquitectura Popular dos Povoados do Alentejo. Lisboa: Edições 70, 2016 BARBAS, Ana; BARRADAS, Alberto - Palácio Valle Flor in Architécti nº 51. Lisboa: Editora Trifório, 2000, p.24-37 BARRETO, Pedro - Pousadas de Portugal: O Elixir para Anchietações. J-A Jornal Arquitectos nº197. Lisboa: 2000, p.49-54 EDWARDS, RICHARD - Mémoire et nouvel usage: du monument au projet. Património estudos nº1. Lisboa:2001, p.17-24

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REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

FERNANDES, José Manuel - Arquitectura recente em Faro-Dois exemplos qualificados in Monumentos nº24. Lisboa: Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, 2006. P. 156-159 LACERDA, Manuel; RAMALHO, Maria Magalhães – A arquitetura como guardiã da memória. Património estudo nº9. Lisboa:2006, p.5-8 LEITE, Pedro Pereira - Turismo e Cultura. Rotas no Atlântico. Sociedade e Território 31-32. Porto: 2000, 19-29 MATOS, Madalena Cunha - Turismo e Território: Notas sobre uma Relação. J-A Jornal Arquitectos nº197. Lisboa: 2000, p.21-25 MILHEIRO, Eva; SANTOS, Jorge Pacheco dos – O Turismo em Portugal: que passado? Que futuro? In Turismo e Desenvolvimento. Portalegre: Escola Superior de Educação de Portalegre, 2005. Acedio a 10 de Outubro de 2016 https://www.researchgate.net/publication/260749673_O_turismo_em_Portugal_que_passado_Que_futuro PINHARANDA, João Lima - Tourisme Vem de Tour mas Hoje já não Dá a Volta. J-A Jornal Arquitectos nº197. Lisboa: 2000, p.4-8 SERDOURA, Francisco; MOREIRA, Graça; ALMEIDA, Helena - Sustainable Tourism Development around Alqueva Lake, in Portugal. Sustainable Architecture an Urban Development. Acedido a 20 de Novembro de 2015 https://www.academia.edu/395241/Sustainable_Tourism_Development_around_Alqueva_Lake_in_Portugal

WEBGRAFIA ARCHDAILY EDITORIAL TEAM - Hotel & Catering School / Eduardo Souto de Moura + Graça Correia. Archdaily, 2012. Acedido a 26 de Janeiro de 2017 http://www.archdaily.com/297474/hotel-catering-school-eduardosouto-de-moura-graca-correia DGPC – Direção-Geral do Património Cultural – Muralhas de Serpa. Acedido a 14 de Dezembro de 2016 http://www.patrimoniocultural.pt/pt/ patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado -ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/70215/ DGPC – Direção-Geral do Património Cultural – Palácio Vale-Flor / Pestana Carlton Palace Hotel. Acedido a 25 de Janeiro de 2017 http://www. monumentos.pt/site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=2624

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O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE

ESCOLAS DE TURISMO DE PORTUGAL - Escola de hotelaria e turismo de Faro. Acedido a 26 de Janeiro de 2017 http://escolas.turismodeportugal. pt/escola/escola-do-turismo-de-portugal-faro ESCOLAS DE TURISMO DE PORTUGAL - Escola de hotelaria e turismo de Portalegre. Acedido a 26 de Janeiro de 2017 http://escolas.turismodeportugal.pt/escola/escola-do-turismo-de-portugal-portalegre FUNDAÇÃO ROBINSON - Espaço Robinson. Acedido a 26 de Janeiro de 2017 http://www.fundacaorobinson.pt/ GRIECO, Lauren - Eduardo Souto de Moura + Graca Correia: hotel + catering school. Designboom, 2012. Acedido a 26 de Janeiro de 2017 http:// www.designboom.com/architecture/eduardo-souto-de-moura-graca-correia-hotel-catering-school/ TURISMO DE PORTUGA I.P. - Estratégia Turismo 2027. 2017. Acedido a 28 de Abril de 2017 http://estrategia.turismodeportugal.pt/sites/default/ files/Estrategia_Turismo_2027_TdP.pdf TURISMO DE PORTUGAL I.P - Turismo 2020, Plano de Ação para o Desenvolvimento do Turismo em Portugal 2014-2020. 2014. Acedido a 18 de Outubro de 2016 http://estrategia.turismodeportugal.pt/sites/default/files/ Turismo2020_Parte%20I_mercados%20-%20SWOT.pdf

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ANEXOS ANEXO I Referências de projecto complementares ANEXO II Registo fotográfico, imagens da autora, 2016 e 2017 ANEXO III Processo de trabalho Maquete do Projecto Final ANEXO IV Peças desenhadas do Projecto Final

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ANEXO I Referências de projecto complementares

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(de cima para baixo, da esquerda para a direita) Ecorkhotel; José Carlos Cruz; Portugal; 2013. Casa no Alentejo; Inês Lobo; Portugal; 2009. Quinta de Casaldronho; Jorge Branco Cavaleiro; Portugal; 2015 Casa em Odemira; Vitor Vilhena Arquitectos; Portugal; 2010 Hotel Paço de Vitorino; PROD Arquitectura & Design; Portugal; 2015 Museu da Ruralidade Castro Verde; João Cassiano Santos; Portugal; 2014 Pé no Monte; (i)da Arquitectos; Portugal; 2014

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REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

(de cima para baixo, da esquerda para a direita) Herdade de Torre de Palma; João Mendes Ribeiro; Portugal; 2014 Casa Modesta; Plataforma de Arquitectura; Portugal; 2014 Monte da Azarujinha; Aboim Inglez Arquitectos; Portugal; 2015 The Waterhouse; Neri & Hu Design and Research Office; China; 2010 Casa de Campo; Arquitectura-G; Espanha; 2015 Sala Ayutthaya; Onion; Tailândia; 2014 Hotel Paço de Vitorino; PROD Arquitectura & Design; Portugal; 2015

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O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE

(de cima para baixo, da esquerda para a direita) Casa da Cultura de Pinhel; depA Architects; Portugal; 2014 JMG House; Luca Zanaroli; Itália; 2016 Cortyards House; HK Associates Inc.; Estados Unidos; 2016 Sala Ayutthaya; Onion; Tailândia; 2014 Casa Olivi; Wespi de Meuron Architekten; Itália; 2010 Casa Olivi; Wespi de Meuron Architekten; Itália; 2010 Casa em Melides; Pedro Reis; Portugal; 2010

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(de cima para baixo, da esquerda para a direita) Paros House; John Pawson; Grécia; 2016 Masseria Moroseta; Andrew Trotter; Itália; 2016 Neue Galerie; Volker Staab; Alemanha; 2011 Neue Galerie; Volker Staab; Alemanha; 2011 Museu Municipal Abade Pedrosa; Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura; Portugal; 2012 Igreja de St. Moritz; John Pawson; Alemanha; 2013 São Lourenço do Barrocal; Eduardo Souto de Moura; Portugal; 2016 Casa São Mamede; Aires Mateus; Portugal; 2006 São Lourenço do Barrocal; Eduardo Souto de Moura; Portugal; 2016

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O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE

(de cima para baixo, da esquerda para a direita) Casa de Campo; Arquitectura-G; Espanha; 2015 Casa no Tempo; Aires Mateus , João e Andreia Rodrigues; poRTUGAL; 2014 Casa IV; MESURA; Espanha; 2015 House in Janeares; branco-DelRio Arquitectos; Portugal; 2013 Fazenda Boa Vista; Isay Weinfeld; Brasil; 2012 Termitary House; Tropical Space; Vietname; 20114 Casa Olivi; Wespi de Meuron Architekten; Itália; 2010

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(de cima para baixo, da esquerda para a direita) Remissen Pavillion; Wirth Architekten; Alemanha; 2015 Grid House; BLOCO Arquitetos; Brasil; 2016 Pavilhão Experimental de Tijolo; Estudio Botteri-Connel; Argentina; 2016 Pólo da Mitra da Universidade de Évora; Vitor Figueiredo; Portugal; 1995) Centro Escolar das Taipas; Tiago Figueiredo e Luís Pena; Portugal; 2012 São Lourenço do Barrocal; Eduardo Souto de Moura; Portugal; 2016 Parque Kindergarten; Promontorio; Portugal; 2010 Centro Escolar das Taipas; Tiago Figueiredo e Luís Pena; Portugal; 2012 Casa sobre Armazém; Miguel Marcelino; portugal; 2012

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ANEXO II Registo fotográfico, imagens da autora, 2016 e 2017

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ANEXO III Processo de trabalho Maquete do Projecto Final

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Processo de trabalho

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Maquete do Porojecto Final

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ANEXO IV Peças desenhadas do Projecto Final P01. Planta de enquadramento urbano da cidade de Serpa | 1:1000 P02. Planta de implantação | 1:500 P03. Axonometria P04. Planta piso -2 | Alçado da Rua de São Pedro | 1:200 P05. Planta piso -1 | Corte transversal | 1:200 P06. Planta piso 0 | Corte longitudinal | 1:200 P07. Planta piso 1 | Corte transversal | 1:200 P08. Cortes transversais | 1:200 P09. Alçado da Rua dos Lagares | Corte transversal | 1:200 P10. Planta do piso 1 | 1:50 | Sala de refeições | Interior do quarto P11. Sala de aula | Laboratório sensorial | Refeitório da escola P12. Corte transversla | 1:50

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PORTAS DE MOURA

LARGO DE SÃO PAULO

PORTA DA CORREDOURA

LARGO DO CÔRRO

PORTA NOVA

PORTAS DE SEVILHA

PRAÇA DA REPÚBLICA

LARGO DO SALVADOR

PORTAS DE BEJA PORTA DA RUA DO CAVALO

PORTA DA RUA DO PRIOR

PORTA DA RUA DA NOSSA SRª

LEGENDA Entrada da Cidade Eixos de articulação da Cidade Limite da Muralha - Monumento Nacional Porta principal

Entrada da Cidade

Eixos estruturantes da circulação Intra-muralhas Porta secundária

Rua dos Arcos na década de 60

O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

Vista do Castelo para a cidade

Enquadramento das áreas verdes necessárias ao equilíbrio ambiental e de enquadramento e valorização

Torre do Relógio

Espaços públicos não-lineares

Entrada do Castelo

Planta de enquadramento urbano da cidade de Serpa | 1:1000 UL - Faculdade de Arquitectura | Projecto Final de Mestrado | Ana Rita Carvalho Monteiro Varela Julho 2017 | Prof.ª Dr.ª Ana Marta Feliciano | Prof. Dr. António Leite

P 01


LEGENDA Residência de Estudantes

Vista exterior do palácio

Escola de Hotelaria e Turismo

Restaurante de Aplicação

Interior do logradouro

O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

Hotel de Aplicação

Largo (novo espaço público não-linear)

Pormenor das abóbadas das antigas cavalariças

Sala de Jantar

Pormenor interior do lanternim

Planta de implantação | 1:500 UL - Faculdade de Arquitectura | Projecto Final de Mestrado | Ana Rita Carvalho Monteiro Varela Julho 2017 | Prof.ª Dr.ª Ana Marta Feliciano | Prof. Dr. António Leite

P 02


UNIDADE HOTELEIRA DE APLICAÇÃO Proposto no antigo Palácio Parreira Cortez, o hotel foi desenhado de forma a preservar as qualidades originais do espaço, complementando-o com um novo volume, redesenhando a Rua de São Pedro. À entrada, realizada pela porta principal do palácio na Rua dos Lagares, somos confrontados pela escadaria de acesso ao piso mais reservado do hotel, iluminada por um lanternim. No piso térreo foram desenhados, para além do espaço de recepção, alguns espaços de estar que acompanham os diferentes espaços antigos do palácio que conduzem ao hall dos elevadores, ao restaurante/sala de refeições e ao acesso vertical do piso inferior dedicado a atividades de lazer. O restaurante localiza-se nas antigas cavalariças, um espaço amplo caracterizado pelas suas abóbadas caiadas, e é gerido pela escola. Assim, o mesmo encontra-se comunicado à Cozinha Central da escola por uma copa de apoio. O acesso ao piso inferior é feito por umas escadas assumidamente escultóricas como um novo elemento do palácio. Nesse piso de carácter lúdico existe uma piscina exterior no pátio do hotel, uma piscina interior, um jacuzzi, uma sauna, uma banho turco e respectivos balneários. Nesse piso, também existe uma zona reservada ao apoio de serviços dos empregados do hotel, comunicado com a Cozinha Central. O piso 1 do hotel, acedido pelas escadas originais do palácio, reserva-se aos quartos de hotel, ao bar e à Sala da Muralha (sala de estar). Pelo caráter pedagógico do hotel, foram desenhados apena 17 quartos duplos (na sua maioria comunicantes), sendo que 5 se encontram inseridos no palácio e os restantes no corpo novo. Os quartos são dotados de um espaço exterior, sobrelevado à cota do quarto, onde se desenhou um pequeno tanque associado como zona de refresco em contraste com o clima seco e quente que se faz sentir na região. Este desnível foi premeditadamente alinhado com a zona de descanso do quarto de forma a proporcionar visualmente, também, a ideia de refresco.

ESCOLA DE HOTELARIA E TURISMO À esquerda do palácio, na Rua dos Lagares prolonga-se o volume da escola. Ao entrar no edifício, por essa mesma rua, por um hall de pé-direito duplo, é possível aceder aos diversos espaços da escola, separados pelas diferentes características sociais que apresentam. Na ala direita encontra-se o auditório, à frente o refeitório e as cozinha individuais, e na ala esquerda as salas de aula, os laboratórios sensoriais e os acessos verticais. No piso -1, dedicado à vertente prática da escola, foram desenhados os auditórios de cozinha e a Cozinha Central (que confecciona para o hotel). Ainda neste piso, existem salas de aula (iluminadas por poços de luz de maneira a garantir iluminação natural), salas de TIC, alguns compartimentos técnicos e um parque de estacionamento enterrado. O estacionamento prolonga-se por mais um piso, inferior a este, comum com o estacionamento do hotel, no entanto com acessos verticais distintos. O piso 1 da escola é dedicado a espaços mais reservados: gabinetes de administração, sala de professores e sala de reuniões. Neste piso, também se desenhou um mezzanine sob o auditório como um espaço reservado para trabalho.

RESIDÊNCIA DE ESTUDANTES No lote com a fachada de um antigo lagar da mesma rua, desenhou-se uma pequena residência de estudantes para alunos da escola de hotelaria. A residência, conservando a memória da fachada, insere-se um pouco recuada do lote. Com capacidade de acolher 20 estudantes no piso 1, o piso térreo é dedicado a espaços sociais e espaços de apoio, para além do acesso ao pátio da escola.

O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

Axonometria UL - Faculdade de Arquitectura | Projecto Final de Mestrado | Ana Rita Carvalho Monteiro Varela Julho 2017 | Prof.ª Dr.ª Ana Marta Feliciano | Prof. Dr. António Leite

P 03


B.01

B.02

A.01

A.02

A.02

A.02 A.02

A.02

198.90

LEGENDA Unidade Hoteleira (A) | A.01 Acesso vertical | A.02 Área técnica de apoio à piscina Escola de Hotelaria e Turismo (B) | B.01 Estacionamento | B.02 Acesso vertical

O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

Planta piso -2 | Alçado da Rua de São Pedro | 1:200 UL - Faculdade de Arquitectura | Projecto Final de Mestrado | Ana Rita Carvalho Monteiro Varela Julho 2017 | Prof.ª Dr.ª Ana Marta Feliciano | Prof. Dr. António Leite

P 04


B.01 B.01 B.02

B.01 B.02

A.05

A.06

B.02

B.24

A.07

201.90 B.02

A.03

A.04

B.03

B.03

A.02

B.09

B.04

201.90 A.01 201.80

A.08

201.90

A.09 B.04

B.05 200.80

A.10 B.05

A.10 B.06

B.08

A.11

B.07

B.10

B.22

B.19

B.11

B.21

B.20

201.90 B.17

B.18 B.12 B.16

B.13

B.23

B.15

B.14

A.12

A.13

LEGENDA Unidade Hoteleira (A) | A.01 Acesso vertical A.02 Recepção de apoio à piscina interior | A.03 Balneário | A.04 Piscina interior | A.05 Jacuzzi | A.06 Sauna | A.07 Banho turco | A.08 Piscina exterior | A.09 Área privada de serviço | A.10 Balneário de serviço | A.11 Copa de serviço | A.12 Lavandaria e engomadoria | A.13 Acesso vertical de serviço Escola de Hotelaria e Turismo (B) | B.01 Sala de TIC | B.02 Sala de aula | B.03 Balneário de professores | B.04 Balneário de alunos | B.05 Cozinha-auditório | B.06 Copa de apoio ao refeitório | B.07 Compartimento para o lixo | B.08 Área de cargas e descargas | B.09 Estacionamento | B.10 Despensa fria | B.11. Despensa seca | B.12 Garde-manger para legumes | B.13 Garde-manger para carne | B.14 Garde-manger para peixe | B.15 Cozinha fria | B.16 Área de confecção | B.17 Escritório do chef | B.18 Copa grossa e fina | B.19 Pastelaria | B.20 Padaria | B.21 Despensa de dia | B.22 Acesso vertical de serviço ao restaurante | B.23 Área de arrumos | B.24 Área técnica

204.90

201.90

201.80

201.90

200.80

198.90

O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

Planta piso -1 | Corte transversal | 1:200 UL - Faculdade de Arquitectura | Projecto Final de Mestrado | Ana Rita Carvalho Monteiro Varela Julho 2017 | Prof.ª Dr.ª Ana Marta Feliciano | Prof. Dr. António Leite

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C.01 207.10

B.07 C.02

B.04

B.06

C.03 C.04 A.01

207.00

205.00

204.90

B.05 205.50

C.05

B.03 203.85 C.06

A.02 B.02

A.03

B.01

A.04

B.08

A.06

205.40

A.05

A.07 B.09

204.90

B.10

B.11

A.08

A.09

A.10

A.11

205.63

A.12

205.96

A.11

LEGENDA Unidade Hoteleira (A) | A.01 Hall e Recepção | A.02 Apoio à recepção | A.03 Acesso vertical do estacionamento| A.04 Acesso vertical mecânico | A.05 Acesso vertical ao piso inferior | A.06 I.S. | A.07 Sala de Refeições/Restaurante | A.08 Acesso vertical à cozinha | A.09 Acesso vertical | A.10 Copa de apoio | A.11 Zona comercial | A.12 Acesso de serviço Escola de Hotelaria e Turismo (B) | B.01 Hall e Recepção | B.02 Auditório | B.03 Régie | B.04 Zona de estar | B.05 Sala de aula | B.06 Laboratório sensorial | B.07 Sala polivalente | B.08 Secretaria | B.09 Refeitório | B.10 Copa de apoio | B.11 Cozinhas individuais Residência de Estudantes (C) | C.01 Hall e Recepção | C.02 Sala de estar | C.03 Zona de estudo | C.04 Enfermaria | C.05 Lavandaria | C.06 Sala Polivalente

220.90

214.00 213.10

211.00

209.30

209.00

205.50

205.00

204.90 203.85 202.95 201.90

201.90

198.90

O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

Planta piso 0 | Corte longitudinal | 1:200 UL - Faculdade de Arquitectura | Projecto Final de Mestrado | Ana Rita Carvalho Monteiro Varela Julho 2017 | Prof.ª Dr.ª Ana Marta Feliciano | Prof. Dr. António Leite

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C.03

C.03 C.01

B.03 210.35 B.03 C.02 B.03 B.03 B.02

C.03 B.02 C.05 C.03

B.04 B.01

C.05

209.30

A.05 A.03

C.04

A.05

C.04

B.05 C.04 C.04

C.04

C.04 C.04 A.05

A.02

C.04

A.01 C.04

A.04

A.05

209.00

A.05

A.05

A.05

A.05

A.05

A.05

A.06

A.05

A.05

A.05

A.05

A.07

A.05

A.05

A.05

LEGENDA Unidade Hoteleira (A) | A.01 Hall | A.02 Hall de acessos verticais mecânicos | A.03 Sala da muralha | A.04 Bar | A.05 Quarto duplo | A.06 Acesso vertical | A.07 Acesso vertical de serviço Escola de Hotelaria e Turismo (B) | B.01 Acesso vertical | B.02 Sala de reunião | B.03 Gabinete de administração | B.04 Sala de professores | B.05 Mezzanine (área de trabalho) Residência de Estudantes (C) | C.01 Acesso vertical | C.02 Cozinha e sala de refeição | C.03 Quarto single | C.04 Quarto duplo | C.05 Balneário

213.10

209.30

205.50

205.4

201.9

198.90

O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

Planta piso 1 | Corte transversal | 1:200 UL - Faculdade de Arquitectura | Projecto Final de Mestrado | Ana Rita Carvalho Monteiro Varela Julho 2017 | Prof.ª Dr.ª Ana Marta Feliciano | Prof. Dr. António Leite

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213.10

209.30

209.20

205.50

201.90

198.90

214.00 213.10

209.00

205.96

205.63 205.00

201.90

O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

Cortes transversais | 1:200 UL - Faculdade de Arquitectura | Projecto Final de Mestrado | Ana Rita Carvalho Monteiro Varela Julho 2017 | Prof.ª Dr.ª Ana Marta Feliciano | Prof. Dr. António Leite

P 08


204.50

213.10

207.00 205.50

203.10 201.90 200.80

198.90

O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

Alçado Rua dos Lagares | Corte transversal | 1:200 UL - Faculdade de Arquitectura | Projecto Final de Mestrado | Ana Rita Carvalho Monteiro Varela Julho 2017 | Prof.ª Dr.ª Ana Marta Feliciano | Prof. Dr. António Leite

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209.55

207.29

206.71

209.00

i=2%

O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

Planta do piso 1 | 1:50 | Sala de refeições| Interior do quarto UL - Faculdade de Arquitectura | Projecto Final de Mestrado | Ana Rita Carvalho Monteiro Varela Julho 2017 | Prof.ª Dr.ª Ana Marta Feliciano | Prof. Dr. António Leite

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O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

Sala de aula | Laboratório sensorial | Refeitório da escola UL - Faculdade de Arquitectura | Projecto Final de Mestrado | Ana Rita Carvalho Monteiro Varela Julho 2017 | Prof.ª Dr.ª Ana Marta Feliciano | Prof. Dr. António Leite

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214.00

213.10

213.10

5 6 7 8 9 4 10 11

209.20

209.00

12

207.00

13 4 14 15 16

205.50 205.00

205.40

204.90

17

18 7 19 7 20 4

202.50

201.90

201.90

201.80

1 2 3 4

201.90

200.80

198.90

LEGENDA 1. Pintura a tinta de borracha clorada | 2. Barramento | 3. Impermeabilizante de base cimentícia | 4. Camada de forma e de regularização | 5.Revestimento cerâmico | 6.Betonilha | 7. Manta geotêxtil | 8. Isolamento térmico XPS 40mm | 9. Tela de impermeabilização | 10. Capeamento em chapa de aço corten | 11. Pano exterior em alvenaria de tijolo maciço de barro vermelho 24 x 11 x 7, caiado a branco | 12. Caixilharia em madeira | 13. Tijolo de terracota 40 x 20 | 14. Laje de betão |15. Pavimento em pedra calcária (i= 1%) | 16. Canal de drenagem | 17. Revestimento de azulejo com relevo 14 x 14 | 18. Terra vegetal | 19. Camada drenante de argila expandida | 20. Tela de impermeabilização com aditivo antiraízes

O TURISMO COMO DESENCADEANTE DA MEMÓRIA E IDENTIDADE REABILITAÇÃO DO QUARTEIRÃO DO ANTIGO PALÁCIO PARREIRA CORTEZ

Corte transversal | 1:50 UL - Faculdade de Arquitectura | Projecto Final de Mestrado | Ana Rita Carvalho Monteiro Varela Julho 2017 | Prof.ª Dr.ª Ana Marta Feliciano | Prof. Dr. António Leite

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