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Fábula XVII O Lobo e o Grou

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A vida de Esopo

A vida de Esopo

H1865

Estava um Lobo a comer carne quando se lhe atravessou um osso na garganta, que o sufocava. Estando nesta aflição, pediu ao Grou que lhe valesse e que com o seu bico e pescoço comprido lhe tirasse o osso da garganta e que seria recompensado. O Grou assim fez e tirou-lhe o osso. Estando livre o Lobo, pediu-lhe então o Grou uma parte do muito que antes lhe oferecera. Porém o Lobo respondeu-lhe:

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— Ó ingrato! Não te agradeci já o bastante por te ter deixado meter a cabeça dentro na minha boca, onde fácilmente poderia apertar os dentes e matar-te? Não me peças paga, pois tu é que me deves favor, e bem ingrato és em não reconheceres tão grande benefício.

Calou-se o Grou, e ficou muito arrependido do que fizera, dizendo:

— Nunca mais por gente ruim meterei a cabeça e a vida em semelhante perigo.

Moral da História

Benefícios feitos a gente perdida são benefícios perdidos, e podem contar-se por malefícios quando puramente não se fazem por amor de Deus, que todos os bens tem o cuidado de pagar. A homem desagradecido, quanto fazeis por ele tudo perdeis, e às vezes com palavras vos carrega, mostrando que sois vós o devedor, como este nosso Lobo fazia.

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