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Fábula LIV O Velho e a Mosca
WHsecXVII
Repousava à soalheira um Velho careca, com a cabeça descoberta, e uma Mosca não fazia outra coisa senão picar-lhe na calva. Acudia logo o Velho com a mão, mas como a Mosca fugia muito depressa, dava em si mesmo grandes palmadas, de que aquela muito gostava e se ria. Disse o Velho:
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— Podes rir-te de quantas vezes eu der em mim, que isso não me mata; mas se uma só vez te acertar, ficarás morta, e pagarás os agravos de ontem e os de hoje.
Moral da história
Há mancebos que a zombar e escarnecer dos homens sérios e sensatos são mais importunos que Moscas, até que o homem, para os castigar, lhes descobre uma falta, com que os deixa mortos de injuriados. Eu por esta Mosca entendo alguns muito zelosos, que trabalham por dar desgostos a senhores poderosos, ou fazem sobrancerias às justiças e escapam muitas vezes, até que alguma vez caem nas suas mãos, e então os fustigam de tal maneira que ficam perdidos de todo.