A Importância das Crianças Parte C
Capítulo traduzido do livro Children Matter Publicado por Eerdman´s Publishing Co http://www.eerdmans.com 4/9/2013
Modelo “Dança com Deus” Comparando com os outros, este modelo, cheio de expressão artística, é difícil de descrever. Não há uma imagem vívida, facilmente reconhecível, ou uma experiência clara que retrata esse modelo. Enquanto a Jornada dos Peregrinos é um modelo educacional, a metáfora Dança com Deus representa um modelo relacional – a relação da criança com o Deus vivo – que está integrado à forma de ser desse mundo. As pessoas na vida da criança tornam-se agentes facilitadores desta relação enquanto as crianças crescem na consciência da presença de Deus. Como a Jornada dos Peregrinos, o modelo Dança com Deus inclui a pessoa como um todo, em suas dimensões cognitiva, afetiva, comportamental e, em especial, a espiritual. O nome e a descrição desta metáfora vem de The Orphean Passages, obra de Walter Wangerin Jr. Ele retrata a experiência de uma criança com Deus como uma dança através dos estágios da vida espiritual, que ele chama de “faithing” (desenvolvendo a fé). Wangerin acredita que desde a concepção uma pessoa carrega a imagem de Deus (o imago Dei), e, assim, a criança em desenvolvimento tem uma sensibilidade inata para com Deus. A dança começa logo após o nascimento - "na neblina" – com as primeiras experiências da criança com tudo ao seu redor. Os raios de sol aquecem o berço. A sensação e o cheiro do corpo da mãe que amamenta o bebê. Uma canção de ninar suave. O toque e os sons consistentes e amorosos dos cuidadores no berçário da igreja. Por causa da graça de Deus, esses tipos de coisas ajudam a começar a dança do bebê com esta presença e com esse amor, ainda desconhecidos e ainda sem nome, que são manifestações de Deus. Quem pode dizer quando, numa criança, começa a dança com Deus? Ninguém. Nem mesmo a criança pode, mais tarde, olhar para trás e se lembrar do começo dela, porque ela é uma experiência tão natural (tão cedo e tão universalmente recebida) como a relação da criança com o sol ou com o seu quarto. E o começo dessa experiência não pode ser lembrado porque no início não há palavras para para se expressar o que se vivencia. A linguagem para denominar, conter e explicar a experiência só vem mais tarde. A dança, então, essa relação com Deus, o desenvolvimento da fé, começa em uma névoa. Após esta fase inicial, vem a fase de nomeação da dança, em que nomes de Deus são introduzidos. Aqueles que cuidam dos pequenos em casa e na igreja falam esses nomes santos em oração, música e história, mas também por meio de uma conversa direta com a criança: "bata palma, bata palma, Deus ama você"; "Jesus te ama, isso eu sei", "Deus lhe deu um sorriso maravilhoso". Muito naturalmente, a criança absorve estes nomes de Deus tão prontamente quanto Papai e Mamãe.
Texto traduzido com permissão do livro Children Matter
April 9, 2013
Conforme a criança cresce nos anos pré-escolares, a dança continua na fase de contenção - quando a criança começa a ouvir histórias do caráter e das ações de Deus e então ela começa a contê-las e a retê-las. A aprendizagem básica de casa é reforçada por experiências na igreja. A dança passa para a fase da explicação conforme a criança atinge a idade escolar. A criança ja ouviu a história de Deus em casa e na igreja o suficiente para que ela possa recontar e logo explicar simples histórias da Bíblia para um amigo ou um irmão mais novo, e às vezes, encenar na escola dominical. A fase final da dança da criança com Deus – reinvidicação - vem no início da adolescência, quando a dança passa a ser uma reivindicação própria do adolescente. Para Wangerin a criança está dizendo, essencialmente, "Eu quero que essa dança com Deus continue o resto da minha vida." Em algumas tradições da igreja esta fase equivale a confirmação ou profissão de fé. Wangerin passa a explicar que a música para a dança com Deus é controlada pelo ambiente - a casa e a igreja. E a música pode morrer. Quando isso acontece, a dança para. Se a criança nunca escuta nomes relacionados a Deus, a música morre no início da vida da criança. Se a criança nunca ouve histórias de Deus, se a criança nunca está apta para recontar essas histórias, ou se não é dado a ela oportunidade de reivindicar a história como parte de sua própria vida, a música morre. Este modelo faz Scottie lembrar de uma celebração de páscoa maravilhosa na congregação na qual ela frequenta: uma celebração para todas as idades na quintafeira santa. A liturgia utiliza as histórias e comidas simbólicas que comemoram o êxodo dos filhos de Israel da escravidão no Egito. É um belo momento para apresentar a bondade de Deus entre todas as idades e tipos de famílias na comunidade de fé. Ao final da refeição há um tempo para danças tradicionais do povo judaico - a "dança com Deus" representada para todos verem. A lactante aprecia a música enquanto acaricia seu bebê. A criança que está aprendendo a andar é carregada por seus pais enquanto eles dançam com os outros no círculo tradicional. Quando estão em idade pré-escolar elas quase dançam, quase balançam entre seus pais uma vez que seus pés ainda não tem muita coordenação para manté-las em pé. Um aluno do primeiro ano, observa, atentamente, os pés de sua mãe e tenta imitar os movimentos. As crianças mais velhas movem-se por meio da dança, da coreografia, com facilidade e energia. De um lado, alguns adolescentes criam seu próprio círculo, acrescentando rodadas extras e giros. Congregantes de oito décadas de vida dançam juntos a música que celebra a libertação por Deus dos filhos de Israel. A dança da criança com Deus começa de forma misteriosa e é sustentada na comunidade - a comunidade de fé. No ministério infantil, a escolha de um modelo pela congregação influencia a dança, e os líderes do ministério são parte da orquestra que Texto traduzido com permissão do livro Children Matter
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faz a música. Mas, como no modelo Jornada dos Peregrinos, ninguém, além do Espírito Santo, é o responsável por manter a dança para a criança, no seu processo de desenvolvimento da fé. Muitas pessoas ao longo dos anos influenciaram essa dança, para o bem e para o mal. Wangerin escreve, "desenvolvimento da fé não é simplesmente uma série de proposições, ou teses, conceitualmente unidas, é uma experiência progressiva". No modelo de ministério Dança com Deus, se para algumas crianças a música da dança parou, experiências de aprendizagem são fornecidas para permitir que a música retorne. Para outras crianças, oportunidades ajudam a manter a música, auxiliando o crescimento na fé. Isto significa que os ministérios não podem ser hermeticamente classificados por idade como em outros modelos, mas são vinculados aos estágios de desenvolvimento da fé. Além disso, os pais são incentivados a participar ativamente em casa e no ministério na igreja, a fim de ajudar os seus filhos, independentemente da idade, a crescer no seu relacionamento com Deus. Embora possa ser difícil conceituar esse modelo, ele leva a sério o fato de que as crianças possam ter um relacionamento com Deus e que a comunidade de fé, bem como a família têm um papel vital na manutenção dessa relação.
Pontos fortes Este modelo baseia-se no conceito de que uma pessoa cresce na fé - que é um processo. O modelo Dança com Deus tem uma visão elevada da criança, reconhecendo acima de toda a criação de Deus o amor para com a criança. Os líderes assumem que as crianças são capazes de encontrar a Deus a partir do sentimento de respeito e admiração, mas eles reconhecem que crianças de idades semelhantes não terão a mesma consciência sobre Deus. Como no modelo Jornada dos Peregrinos, experiências de aprendizagem tendem a ser construídas em torno de tarefas "autênticas". Instrução direta no sentido tradicional geralmente não acontece. Muitas pessoas em toda a vida da criança ajudam a sustentar a música da dança.
Pontos fracos A menos que os líderes sejam intencionais, esse modelo pode ignorar a tendência da criança para o pecado e sua necessidade em reconhecê-lo. Também pode deixar de oferecer oportunidades para a criança que, desde cedo, deseja fazer um compromisso em seguir a Jesus. Muitos pais contemporâneos, norte-americanos, se sentem mal equipados para envolver-se no crescimento espiritual de seus filhos, assim este modelo pode não ser tão eficaz quanto poderia, se os pais e igreja trabalhassem juntos.
Origens e implicações das metáforas
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April 9, 2013
A forma como ministramos com crianças é moldada por metáforas conscientes e inconscientes. Essas metáforas são formadas por aquilo que acreditamos sobre as crianças, como elas aprendem e experimentam Deus, e como o nosso ministério deve ser. Precisamos avaliar a nossa tendência de procurar na cultura popular as metáforas e métodos que moldam as experiências que as crianças vivem na igreja. Metáforas não se desenvolvem no vácuo. Elas são influenciadas por tradições históricas, econômicas, sociais, teorias educacionais, e tendências teológicas, além de outros aspectos da cultura. Nenhuma metáfora é perfeita, e todas elas comunicam valores. Mas algumas figuras de linguagem são mais compatíveis com os valores bíblicos e com os objetivos do que outras. Ao analisar as metáforas identificadas neste capítulo, as ideologias e os pressupostos subjacentes a eles começam a surgir. Essas mesmas metáforas apoiam teorias educacionais e de certa forma metodologias previsíveis que influenciam o tipo de experiências de aprendizagem que irão ocorrer. Cada igreja deve escolher uma micro-metáfora para o ensino que esteja em harmonia com a macro-metáfora do próprio ministério. Estas duas categorias de metáforas também devem ser compatíveis com a declaração do propósito do ministério, a fim de garantir que a aprendizagem pretendida e as experiências venham realmente a acontecer. Mas este não é sempre o caso. Os líderes do ministério das crianças devem analisar estas questões. Eles precisam estar conscientes por que as metáforas e seus métodos de acompanhamento têm poder real, eles têm o potencial de informar, formar, ou deformar crianças. O ministério de crianças é informador quando a ênfase é colocada sobre a cognição, aprendizagem dos conteúdos da Bíblia, conhecimento das histórias e fatos da Escritura. O processo de informar tem um lugar em todos os ministérios, mas não é adequado se ele for o foco principal do ministério. O ministério é mais formador. quando se busca envolver a criança como um todo, e não apenas seu intelecto, num processo que acaba apenas quando Cristo for formado nela (Gl 4-19). Quando metáforas formadoras conduzem o ministério, o educador cristão é um guia, um companheiro de viagem. O papel do guia é mais amplo e mais holístico do que o de um especialista em conteúdo bíblico. Um ministério infatil formador é capaz de proporcionar o que normalmente fica faltando em um modelo informador. No entanto algumas metáforas do ministério infantil podem, realmente, estarem deformando, especialmente quando elas entram em conflito com o propósito do ministério. As formas desta "deformação", geralmente, são sutis. Isso acontece quando um aspecto essencial do ministério é omitido ou ofuscado por alguma faceta da metáfora, de modo que as crianças venham a formar uma visão distorcida de Deus e/ou da vida cristã.
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Em última análise, todo ministério precisa ser transformador – a criança está sendo transformada para se tornar mais parecida com Jesus Cristo. Nenhum modelo ou ministério pode fazer isso. Nenhuma pessoa pode fazer isso. Transformação é uma obra exclusiva do Espírito Santo. Tudo que podemos fazer é ajudar a facilitar esse processo. Na maioria das vezes, isso significa que nós, adultos, precisamos sair do caminho para que o Espírito de Deus possa fazer esse trabalho. Nossa responsabilidade é criar um ambiente em que a criança possa aprender e entrar na história de Deus, responder ao Santo Espírito, e experimentar a presença e o comando de Deus.
Sumário Este capítulo analisa a influência que as metáforas podem exercer sobre o ministério com crianças. Micro metáforas representam a relação entre o professor, os alunos, e os materiais em um pequeno grupo ou sala de aula. A macro metáfora é a metáfora primária ou aquela que organiza todo o ministério. Embora cada uma das metáforas possa ser usada de forma adequada dentro do ministério de crianças, algumas macro metáforas são menos eficazes do que outras. Mesmo que muitas metáforas possam ser válidas para o ministério, é essencial que os métodos de acompanhamento ou abordagens sejam compatíveis com as metas e objetivos de cada contexto. Os líderes do ministério infantil tem a responsabilidade difícil, mas importante, de garantir que haja harmonia entre a metáfora escolhida para aquele ministério, a abordagem ou método educacional, e o fim último do ministério – precisam se certificar de que há congruência entre propósito e métodos. Reconhecendo que a aprendizagem é um propósito de ministérios educacionais, o filósofo educacional George Knight diz que existem propósitos mais elevados que devem ser proeminentes: "reconciliar indivíduos com Deus e com o seu próximo e restaurar a imagem de Deus, neles. ... Educadores cristãos usarão muitos, se não todos, os mesmos métodos que os outros professores. Eles, no entanto, selecionarão e enfatizarão as metodologias que possam auxiliá-los no trabalho de ajudar seus alunos a desenvolver o caráter de Cristo". Praticamente todas as igrejas que se consideram verdadeiramente cristãs acreditam que o ministério infantil é baseado na Bíblia. No entanto, essas igrejas proporcionam experiências amplamente diferentes conduzidas por metáforas e metodologias contrastantes. Essas diferenças importam? Sim, com certeza. Mas há muitos, muitos fatores que tornam inadequado julgar qualquer modelo de ministério como totalmente equivocado. O primeiro e mais importante é o fato de que, apesar da insuficiência de nossos esforços, nosso Deus, soberano e poderoso é capaz de trazer reconciliação e redenção a qualquer circunstância através da obra do Espírito Santo. Em segundo lugar, o cuidado consistente do adulto representa o amor incondicional de Jesus Cristo pelas crianças que é uma força poderosa para ajudar a criança a conhecer a Deus. Tal relacionamento amoroso fala mais alto para a criança do que qualquer metáfora de ministério. Texto traduzido com permissão do livro Children Matter
April 9, 2013
Nenhuma metáfora ou modelo é necessariamente errado, mas o líder do ministério deve estar ciente do modelo escolhido e de suas implicações. É difícil fazer isso. É um desafio ser objetivo na identificação das próprias metáforas, especialmente se houver nelas aspectos que não ajudem no crescimento espiritual da criança. Sabendo que as metáforas sustentam a questão do ministério infantil, considere as seguintes perguntas ao avaliar este capítulo e analisar o seu próprio ministério com as crianças:
Quais metáforas melhor adaptam-se a história redentora de Deus? (Você pode querer adicionar metáforas além das que estão na breve lista citada neste capítulo.) De que forma se for o caso, elas transcendem culturas, a teoria educacional atual, e modismos?
De que forma cada metáfora se identifica com as Escrituras? Onde estão as inadequações?
Dentro do modelo adotado para o seu ministério, qual é a visão que se tem do aluno? É uma visão bíblica da criança? Qual é a visão e o papel do professor?
De que forma a metáfora molda o modo como se dá o aprendizado?
Que valores são transmitidos através da metáfora? Esses valores ajudam a criança a crescer em semelhança com Cristo?
Como as Escrituras são tratadas e apresentadas para os aprendizes?
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