Caderno 01 - Poética Neuza Ladeira

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POÉTICA NEUZA LADEIRA

Caderno Virtual 01

Caderno virtual 01 - é o resultado da copilação de versos e pinturas postados no pela poeta e artista visual Neuza Ladeira. REDE CATITU CULTURAL

período de 28/08/2008 à 31/10/2009 - parte 01



POÉTICA NEUZA LADEIRA

01 1ª edição Belo Horizonte Verão de 2012

REDE CATITU CULTURAL


Ladeira, Neuza Poética / Neuza Ladeira. Belo Horizonte: Rede Catitu Cultural, 2012. 68 p. 1. Poesia brasileira. 1. Título. ISBN - AINDA NÃO REGISTRADO C

Neuza Ladeira

Poética Ilustração - Projeto Gráfico: Marco Llobus / Foto - Elias e Píndaro Lutero 1º Edição Rede Catitu Cultural Série - Os Azuis digitais Revisão: XXXXXXXXXXXXXXXX Coordenação: Marco Llobus e Neuza Ladeira Todos os direitos reservados.

REDE CATITU CULTURAL 2012


Prefácio Um navegante de primeira viagem ao ler essa obra poderia se prender a alguma acidez, mas a leveza se faz nas formas, cores e materiais que compõem as imagens expressivas e oníricas dos textos e pinturas. A forma e palavra se mesclam. Não há antagonismo. É um jogo de linguagens em conjunções mosaicas, propondo sabores aos sentidos e experimentações que nos são mui próximas. Há também, uma ironia, por vezes, ceticismo. Neuza Ladeira não se contenta numa via de mão única. A lucidez de seu verso e a liberdade de seu traço é um convite ao participativo. Metáforas desenham passados, mas também remetem a uma esperança. E de sua lupa, ou de óculos, sugere-nos sempre, um pezinho atrás na relação ao humano. Mesmo assim, é um caderno que sobrepõe a esperança. Códigos morais perpassam em todos os movimentos, não uma rígida moral, mas sim sábia, ciente das limitações, sendo esta, uma constante entre a relatividade desse universo das mutações. Em suas pré-ocupações com o futuro surge à mulher, o humano, e o seu carinho com o outro, com a sua espécie e com a vida. Aí, ela nos surpreende trazendo as alegorias de uma alegria, uma fanfarra, tecida em nosso popular, os trejeitos de um Brasil brasileiro. Um conjunto que conjura a sapiência decifrando os códigos, cores, formas e a palavra. Uma observância ao social; um holos, entre espírito do natural e a realidade do artificial. Com sutileza evoca amores, paixões e o segredo feminino em sua própria natureza; menina mulher, mãe, esposa e senhora de uma peculiar história. Contempla o silêncio entre as distâncias, pede calma e serenidade ao espírito, convidativa, nos eleva “a insustentável leveza” de todas as coisas. E o traço vem - rompe, em segredo e movimento. Tudo é mutável no reino de chronos, apenas ele, o senhor, é imutável. E é por onde ela expressa sua eteriedade - forma e sentimentos. Em contraposições, movimentos, expansão e recolhimento, aspiração e inspiração: a vida. O coração e corpo, a temperatura e o tom. Versos e pinturas distribuídos dia a dia na rede social e, clama a poeta – concordâncias. Assim como o uivo busca a sua semelhança, ela reencontra em ecos compartilhados nos gestos e frases consoantes – sonoras ou gráficas - e nestas intercessões reverbera o espelho das paridades. Conjura a beleza das diversidades e nos convoca responsabilidade frente ao direito a diferença. E sobre as águas destes mistérios reflete as complexidades da vida - interação, cosmogonia e suas representações, a natureza em seus belíssimos arranjos. E ela realinha, descreve, suas imagéticas percepções. Ciência de quem se reconhece num prumo ou mesmo em sua própria solidez – nau dessa vivência. E se por algum momento lhe for sugerida a solidão ou um certo distanciamento, descontentamento, saiba: navegas apenas pelas profundezas de uma introspecção – o fundo, onde aflora a poética – emergindo marolas do cotidiano, e o desperto é a alma da poeta.

Marco Llobus


aos poucos as orquĂ­deas abrem-se em flores pequenas abelhas amarelas mel amendoado temperando doce no peito do mutante. neste peito nasce a poĂŠtica


POÉTICA NEUZA LADEIRA

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há muito penso que a vida já teve expansão em muitas vias como a nossa láctea agora descobrem água líquida em marte o que virá depois 4 de agosto de 2008 às 08:53 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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aguardo a hora do dia nascer 2 de setembro de 2008 às 05:30 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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no universo fechado no umbigo do mundo no medo exposto e no ódio guardado a paz custa invadir o coração só o faz quando este tem sinceridade em sua atuação 15 de maio de 2009 às 05:34 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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na arte há afinidade ao exprimir aquilo que ficou impresso raridade unicidade luz e sombra unidas tempo e ancestralidade no modismo na edição uma pulverização 19 de maio de 2009 às 07:26 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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nos cantos de muitos amores temos vários trovadores 12 de março de 2010 às 13:38 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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amor é segredo devaneio pueril sútil do sentir imaginar amor é ânsia do homem desintimidar o desentendimento de existir 09 de abril de 2010 às 05:34 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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nas cidades os acontecimentos de uma chuva assassina nos dias um grande sofrimento a terra derrapa escorrega se afunila abre vaga soterra desnorteia os habitantes na confusão fome frio sede lixo um sentimento uma dor na imagem infeliz no mundo um sentimento de estar vivo nas coincidências nas parábolas 15 de abril de 2010 às 10:20 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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a tarde nasce e sua plasticidade mescla saudade na mulher angustiada perdida ao deixar ir o montanhês naquele vento frio e furioso 25 de julho de 2010 às 18:14 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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atlântico e pacífico um imenso berço de águas vivas dois ninhos dois oceanos dois mundos dois abismos estacionando o barco ao olhar as ondas 13 de agosto de 2010 às 11:39 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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não há principio enganoso na essência das coisas mas a multiplicidade é a culpada pela extravagância um pensamento dançado é entendido amar sem medo suavemente 13 de agosto de 2010 às 19:34 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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foi aqui que me iluminei com os olhos abertos vi-me assim exatamente como sou 17 de agosto de 2010 às 10:27 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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metamorfoses do bem e do mal povoam-nos 17 de agosto de 2010 às 10:37 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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diálogos bifurcam em bocas transitórias pobreza egocêntrica dissolução abrupta do pluralismo social. 26 de agosto de 2010 às 10:47 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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não somos órfãos e devemos cada dia mais lutar pelos nossos direitos chega de carregar nas costas uma casta velha e feia vamos espanar e parar de comer capim 16 de setembro de 2010 às 07:05 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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o medo já nascemos com ele é dos homens na vida dos mistérios 25 de setembro de 2010 às 10:17 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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o jardim com suas cores estonteantes as pequenas moitas de capim num caule esguio um cálice brota na ponta onde o lírio desponta vertical tem um lírio em meio ao meu arrozal 27 de setembro de 2010 às 08:23 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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quem nunca assistiu a um excesso ao desajuste na intimidade de narciso o desfecho incrível deste acompanhamento 30 de setembro de 2010 às 17:31 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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nessa música incessante que atormenta a alma dos errantes traz para a terra uma verdade o universo é uma pérola brilhante 2 de outubro de 2010 às 08:09 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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o barulho da noite deixou de lado a nostalgia depois que o homem passou a comandar a si mesmo 8 de outubro de 2010 às 06:10 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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a terra vaga no espaço assim como vagamos na vida há uma grande simetria na alma a flor daímon pousa 9 de outubro de 2010 às 18:16 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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flores doentes se asfixiam são tantas as navegantes de pensamentos alheios 10 de outubro de 2010 às 06:50 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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ó chuva forte de primavera lava o mundo acata as lágrimas jogue o verso na alma 13 de outubro de 2010 às 07:19 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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quando o medo se enlaça a tudo que rege a emoção pode estar certo que em tudo houve um equívoco 17 de outubro de 2010 às 19:40 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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este espaço de tempo em que o sol está abaixo do horizonte caindo gelo no ar mata o curinga a noiva aparece branca e pura, mas a ponta da cauda está negra a mulher sempre atada é aranha tece a teia 20 de outubro de 2010 às 08:26 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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como que foi adquirindo a mania de viver naquele lugar bitolado e chato uma vida tão morna como pode aguentar as florestas os bosques os campos assim com este sangue latino e cheio de nuances 21 de outubro de 2010 às 00:20 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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queriam que olhasse o cotidiano com olhos sonhadores eles podiam sonhar só não viam que nela sonhos não mais havia um profundo abismo os conduzia 25 de outubro de 2010 às 06:16 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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ontem neste mesmo horário sentia frio e me encolhia tomava café e visualizava as distâncias 26 de outubro de 2010 às 07:56 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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na terceira hora do dia leonor aparece alegra a casa com seus melancólicos olhos azuis a companhia com aquele ar inquietante move o moinho leva na brisa a vida intolerável 28 de outubro de 2010 às 06:24 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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no leque do vento sopro o mundo inteiro não mais vou sem saber sou alma velha me entristeço 29 de outubro de 2010 às 07:17 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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hoje é dia das rebentas das graças das horas das musas na esfera da mulher de ouro hoje é dia espacial do cálice no vinho. hoje é dia de refletir a consciência que até aqui nos guiou 31 de outubro de 2010 às 08:21 POÉTICA NEUZA LADEIRA

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fim parte 01



“...seus versos, suas cores, suas formas cantam, dançam e clamam: liberdade” Marco Llobus.

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