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2.2.3 A Entrevista

A formação da cultura, das tradições e religiões deve-se principalmente, aos relatos orais passados entre gerações. Halbwachs 29 chama essa construção social de “memória coletiva” e Bloch explica na obra “Apologia da História” que “todo conhecimento da humanidade, qualquer que seja, no tempo, seu ponto de aplicação, irá beber sempre nos testemunhos dos outros uma grande parte de sua substância”. (BLOCH, 2002, p. 70). Já a memória individual, consiste nas lembranças que cada pessoa tem e que podem ser recordadas através de outras pessoas ou acontecimentos.

A preservação da memória é importante para a projeção da identidade humana e, como já dito acima, entender as causas e possíveis consequências das atitudes do homem. O ato de registrar histórias, depoimentos e biografias do “hoje”, poderá saciar o anseio do “homem do futuro” de conhecer seus ancestrais ou lembrar do próprio passado. O canal “Biogracast” é uma ferramenta de preservação da memória e respeita a singularidade de cada uma.

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2.2.3 A Entrevista

A entrevista é realizada entre duas ou mais pessoas, sendo elas o entrevistador e o(s) entrevistado(s), que se baseia em realizar perguntas específicas para obtenção de informações de interesse do entrevistador. Diversos campos profissionais utilizam a entrevista como matéria prima para estudos e projetos.

Em intervenções terapêuticas a entrevista pode ser aplicada como uma importante ferramenta para descrever o diagnóstico de um paciente. Cientistas podem obter dados importantes a partir de amostragens de entrevistas realizadas em grupo ou população. No campo jornalístico é uma prática que registra fatos para transmitir notícias ou histórias.

Apesar da intenção de adquirir-se informações verdadeiras em uma entrevista, Modena explica que:

A validade das entrevistas relaciona-se, portanto, com seu grau de fidelidade e de verdade em relação aos fatos da realidade que pretende

29 Sociólogo Francês. (1887 – 1945)

traduzir. Sendo, porém, de natureza essencialmente humana, ancorada na palavra, a entrevista corre o permanente risco da dissimulação e/ou da fabulação. Assim, não raro, figuram-se, nas entrevistas elementos que pertencem, o que não somente ao mundo real, mas, também, ao mundo imaginário de seus participantes, o que faz com que a validade cientifica das entrevistas esteja, constantemente, em xeque. (MODENA, 2009, p. 25)

A seriedade e o critério utilizado para a pesquisa são de extrema importância, antes e depois da entrevista, independente do campo de origem, para garantir a fidelidade dos dados obtidos.

Os documentários utilizam a entrevista como uma linguagem estrutural, muitas vezes dando “voz” a quem não tem oportunidade ou condições de se expressar. No cinema documentário, pessoas reais são os “personagens” e cabe ao diretor fazer as perguntas certas, ou conseguir registrar o melhor momento para encaixar no tema trabalhado. A interação entre entrevistador e entrevistado, diretor e “personagens”, tende a transmitir naturalidade para que ambos se entendam e diretor consiga transmitir a sua mensagem para o público.

Perguntar o que fazemos com as pessoas quando fazemos um documentário implica perguntar o que fazemos com os cineastas, os espectadores e também com aqueles que são tema do filme. Suposições sobre relações que derivam existir entre os três percorrem um longo caminho para determinar o tipo de vídeo ou filme documentário resultante, a qualidade da relação que ele tem com seus temas e o efeito que exerce no público. (NICHOLS, 2005, p. 46)

O diretor e roteirista Eduardo Coutinho em “Edifício Master”, é um bom exemplo de entrevista e interação em documentário. A obra mostra as “micro realidades” que compõem o cotidiano dos moradores do Edifício Master, em Copacabana. Coutinho vai de encontro com moradores pré-selecionados do prédio e, em seus apartamentos, mostra a situação de cada um. Na condução da entrevista, os personagens revelam desde suas angústias até vaidades que caracterizam cada um.

Primando pela ética, Coutinho rejeita qualquer edição que possa espetacularizar seus entrevistados e/ou causar-lhes danos que possam ser previamente evitados. Seu poder de controle sobre o material filmado, o cineasta tenta minimizá-lo, devolvendo àqueles que participam de seus filmes, durante ou depois da filmagem, a imagem que deles captou, ou seja, o produto final ou em andamento dessa filmagem. (MODENA, 2009, p. 58)

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