RELATÓRIO ANUAL REDE OBLATA BRASIL
2020
ANO JUBILAR “Recordar e Agradecer”
150 anos de existência da CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS OBLATAS DO SANTÍSSIMO REDENTOR.
“Habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença oblata: este horizonte nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais.” (CapÍtulo Geral Oblatas do Santíssimo Redentor - 2019)
SUMÁRIO Clicável
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APRESENTAÇÃO A CONGREGAÇÃO REDE OBLATA PANDEMIA, PROSTITUIÇÃO E ATUAÇÃO DOS PROJETOS
14 18 22 26
DADOS QUANTITATIVOS AÇÕES EM REDE CONSIDERAÇÕES FINAIS DEPOIMENTOS
APRESENTAÇÃO O presente relatório foi desenvolvido num momento histórico. O ano de 2020 surpreendeu negativamente a humanidade com a disseminação em massa de um vírus letal. A nova variante do coronavírus, causadora da covid-19, fez com que os países passassem a enfrentar de súbito um inimigo invisível a olhos nus, mas com poder de desestruturar as mais variadas camadas das esferas públicas e privadas. No Brasil, o cenário se tornou desafiador, pois, além dos problemas estruturais e sistêmicos, a pandemia acarretou o acirramento da crise econômica, social e política já enfrentadas pelo país, reforçando as desigualdades e vulnerabilidades sociais da população. A acentuação da feminização da pobreza, corroborou consequentemente com o aumento do número de mulheres iniciando ou regressando para o contexto da prostituição.
Esse novo contexto social exigiu da Rede Oblata, presente em diferentes partes do país (Belo Horizonte/MG; Juazeiro/BA; Salvador/BA; São Paulo/SP) adaptação às novas formas de trabalho, com a utilização de ferramentas criativas e dinâmicas para dar continuidade aos atendimentos às mulheres, garantindo condições de acesso à rede de políticas sociais e outros. Dessa forma, serão apresentados os principais resultados alcançados, bem como os avanços e desafios deste período. Vale destacar que a compilação dos dados contou com a contribuição de todas as Unidades da Rede Oblata Brasil, através da análise dos seus registros e sistematizações coletadas durante o ano de 2020.
FINANCIADORES
PRINCIPAL FINANCIADORA
FINANCIADORES EXTERNOS
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Contribuição Financeira aos Projetos Apostólicos (COFIPA). Instituto das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor – Brasil
Fundação Serra-Schönthal – Madri - Espanha; Sociedade Civil Casas de Educação (SCCE) das Religiosas do Sagrado Coração de Maria - Belo Horizonte - MG; Grupo de Religiosos Inseridos nos Meios Populares (GRIMPO) - Salvador – BA; Paróquia de São Pedro – Salvador – BA.
SOBRE A CONGREGAÇÃO
A Congregação das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor nasceu no século XIX, na Espanha e se consolidou a partir das experiências e inquietações vivenciadas por Pe. José Serra, juntamente com Antonia de Oviedo, diante do abandono e da miséria em que se encontravam as mulheres em situação de prostituição da época, principalmente as que passavam por internação durante um longo período no Hospital São João de Deus, na Espanha. No Brasil a história começa a ser construída no dia 31 de janeiro de 1935, quando sete irmãs da Espanha chegaram ao Rio de Janeiro, com a missão inicial de construir Educandários para acolher meninas carentes, provenientes de famílias que viviam em situação de vulnerabilidade social. Atualmente, presente em 15 países e organizadas em três províncias (Europa, José María Benito Serra e Santíssimo Redentor), a missão desenvolve-se de forma compartilhada com toda a “Família Oblata”, a partir de diferentes formas de colaboração, olhares, experiências e perfis profissionais.
A Rede Oblata Brasil teve início em 2003 e atua na defesa e garantia de direitos, no fomento ao empoderamento e na melhoria da qualidade de vida das mulheres em contexto de prostituição e vulnerabilidade social; e no enfrentamento ao tráfico para fins de exploração sexual. O trabalho em rede consolida-se na troca de informações, de saberes, de experiências, na formação das equipes, na circulação de notícias e nas ações conjuntas. É um veículo eficiente de comunicação entre Irmãs Oblatas, funcionárias/os, leigas/os e a sociedade civil.
Inspiradas na espiritualidade cristã libertadora, por meio de um olhar humanizado e pautadas na pedagogia e mística Oblata, os projetos lutam contra as violações dos direitos humanos das mulheres e na construção de uma sociedade mais justa, com equidade de gênero. Além do atendimento direto às mulheres, as unidades ainda atuam na articulação com organizações da sociedade civil e Poder Público, na perspectiva de sensibilização social e no assessoramento a grupos e coletivos de mulheres que exercem a prostituição.
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PANDEMIA, PROSTITUIÇÃO E ATUAÇÃO DOS PROJETOS
PANDEMIA, PROSTITUIÇÃO E ATUAÇÃO DOS PROJETOS
O Brasil tem enfrentado uma forte crise sanitária em razão da pandemia por coronavírus. Os desafios para conter o avanço da doença agravaram-se dadas as múltiplas desigualdades sociais existentes no país. As medidas adotadas para conter o vírus demandaram, entre outras indicações, isolamento social, uso de máscaras e medidas de higiene, algo não alcançável para uma grande parcela de brasileiros/as. A ineficiência do Estado na gerência da pandemia acarretou um aumento visível nas expressões da questão social. A situação das mulheres que exercem a prostituição não diferiu de milhões de trabalhadores autônomos e informais que desempenham trabalhos precarizados e sem direitos básicos assegurados. Essas, em sua maioria pobres, negras, moradoras da periferia, que sofrem com a falta de acesso à infraestrutura, saneamento básico, renda, bens e serviços, ainda enfrentam preconceitos e estigmas diversos.
PANDEMIA, PROSTITUIÇÃO E ATUAÇÃO DOS PROJETOS
A prostituição enquanto atividade que requer aproximação física íntima, representa um grande risco de contaminação pela covid-19. Entretanto, não houve interrupção significativa no exercício entre as mulheres assistidas, visto que essas necessitam garantir o sustento familiar. Observou-se o uso de estratégias para burlar as fiscalizações e determinações municipais e o uso de aplicativos para marcação de encontros, entre outras dinâmicas. Mesmo assim, houve uma queda na renda, diante do fechamento de hotéis, casas, bares e praças. Com a dificuldade de exercerem a atividade sexual, começaram a emergir cenários de privações diversas, sobretudo, alimentícia.
PANDEMIA, PROSTITUIÇÃO E ATUAÇÃO DOS PROJETOS
A atuação da Rede Oblata nesse cenário foi imprescindível. Por meio do trabalho remoto, os projetos passaram a buscar metodologias de atendimento que resguardassem a saúde de funcionários e assistidas. A principal ferramenta utilizada para o contato com as mulheres foi o telefone, por meio de ligações e mensagens de WhatsApp, algo que só foi possível graças ao vínculo preexistente entre as instituições e o público. Através do envio sistemático e planejado de posts informativos, criou-se um campo de comunicação permanente, onde foi possível compreender, acolher e encaminhar as demandas. Atendimentos presenciais foram realizados mediante agendamento e uso de medidas de segurança.
PANDEMIA, PROSTITUIÇÃO E ATUAÇÃO DOS PROJETOS
Nesse contexto, foi primordial a formação de uma corrente de solidariedade, da sociedade em geral, Igrejas, organizações e coletivos, para distribuição de alimentos, produtos de higiene, limpeza, roupas e máscaras. Grupos e movimentos disponibilizaram atendimentos psicológicos e psiquiátricos online gratuitos. Diante desse cenário desafiador, se faz necessária a continuidade do trabalho da Rede Oblata, buscando garantir, por meio da articulação social e incidência política, o acesso das mulheres às políticas públicas, minimizando assim os impactos causados pela pandemia e seus desdobramentos.
DADOS 2020
LEITURA
QUANTITATIVA
DADOS QUANTITATIVOS 2020
*ABORDAGEM SOCIAL
708 atendimentos em 113 visitas
aos locais de prostituição nas cidades de atuação da Rede Oblata: hotéis, bares, privês, boates, praças, postos de combustível, cine privê.
15.215
ATENDIMENTOS DIVERSOS Acolhida (presencial e virtual), encaminhamentos à rede socioassistencial, assessorias, atendimentos psicológicos, etc.
*Até 17 de março, foram feitas 113 visitas e 708 atendimentos dentro da ABORDAGEM SOCIAL, período anterior ao fechamento das unidades Oblatas devido à pandemia.
800
MULHERES ATENDIDAS
DADOS QUANTITATIVOS 2020 INFORMAÇÃO É VIDA
39.872
COMPARTILHAMENTOS de materiais informativos sobre cuidado com a saúde física, mental e espiritual, cidadania e direitos.
215
Vídeos + materiais personalizados e direcionados para as assistidas.
34
Artigos publicados pela equipe. Visite os BLOGS OBLATAS
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DADOS QUANTITATIVOS 2020
863
DOAÇÕES Cestas básicas e kits de higiene
Doações de produtos de higiene, limpeza, roupas e máscaras foram algumas das ações solidárias que se espalharam pelo País e que beneficiaram as assistidas pelas unidades da Rede Oblata Brasil.
AÇÕES DA REDE OBLATA
AÇÕES DA REDE OBLATA MAIO
Live: I Cirandas Parceiras Impactos da pandemia na vida de mulheres em situação de vulnerabilidade social.
JUNHO Webinar: Lançamento do livro Prostituição: mudanças, autoimagens, confrontações e violências – Org. Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor. Podcast - Grito Mulher, criado com o objetivo de ampliar o som dos gritos abafados, revelar as vozes silenciadas das mulheres. Missão Oblata indo além das fronteiras virtuais.
Live: II Cirandas Parceiras Redução de Danos e Rede de Apoio Psicossocial em Salvador
Missa de celebração da Fundação Oblata (156 anos de profecia). Cirandas Parceiras/Juazeiro-BA As Relações de Trabalho na Política de Assistência Social
Participação no II Encontro de Reflexão sobre a missão, promovido desde Uruguai e Argentina - Província Santíssimo Redentor.
AÇÕES DA REDE OBLATA
JULHO
Webinar Força Feminina no Julho das Pretas Webinar de Lançamento do Novo Portal Web - Irmãs Oblatas Província Santíssimo Redentor. Novo espaço de missão e comunicação para fortalecer a luta por justiça social.
SETEMBRO Webinar de Lançamento da revista Garotas do Hotel Edição especial: Saúde Mental das Mulheres que exercem a Prostituição Live: Elos do Diálogos: 38 anos da Unidade Oblata Diálogos pela Liberdade
Live: Elos do Diálogos: Saúde Mental das Mulheres que exercem a prostituição
Webinar: Invisibilidades e Contradições: Violência contra mulheres que exercem a prostituição
Live: III Ciranda Parceira Os Retrocessos nos Direitos das Mulheres Pretas
Participação no III Encontro de Reflexão promovido pela Província Santíssimo Redentor
AÇÕES DA REDE OBLATA
OUTUBRO
Lives: É tempo de aquilombar Participação virtual - 7ª Roda de Conversa - Pandemia e Situação de Rua: Vozes das Mulheres Vulneradas Participação no IV Encontro de Reflexão promovido pela Província Santíssimo Redentor Cirandas Parceiras/Juazeiro: Um olhar sobre “As Mudanças no Trabalho Sexual”
NOVEMBRO Live: Celebração do Aniversário do Projeto Força Feminina
Live: Saberes do Feminismo Interseccional
CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do panorama explicitado, entende-se que, mediante a fragilidade e insuficiência de ações estatais em relação à população em situação de vulnerabilidade, em especial as mulheres que exercem a prostituição, faz-se necessária a atuação do terceiro setor através de projetos e instituições que deem visibilidade às causas minoritárias. Destaca-se a importância dos serviços parceiros para a efetivação do atendimento das demandas apresentadas pelas mulheres neste período. Foi possível fortalecer e ampliar as parcerias, na articulação do trabalho em rede com os diversos serviços socioassistenciais presentes em cada território, apesar das limitações causadas pela pandemia.
Mesmo diante de tantos desafios de adaptação da nova forma de trabalho, as Unidades Oblatas continuaram firmes e nesse período impulsionaram a produção de artigos, textos e vídeos, aprimoraram as ferramentas de registros e participaram de diversos cursos e capacitações online. A comunicação virtual foi implementada como estratégia de atendimento e sensibilização de diferentes atores sociais.
“Se todas as portas se fecharem eu lhes abrirei uma”, com essa frase profética do Padre José Maria Benito Serra – fundador do Instituto das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor – a Rede permanece insistindo, investindo, reinventando, acreditando e lutando pela vida, liberdade, protagonismo e autonomia das mulheres que exercem a prostituição.
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LANÇAMENTOS 2020
#podcast #GritoMulher
2020 DE DESAFIOS E PARTILHAS
DEPOIMENTOS DAS ASSISTIDAS
Muito obrigada Isabel, obrigada mesmo. Vocês aí da pastoral, vocês são tudo de bom, o que seria de nós nessa pandemia se não fosse vocês para acalmar a gente, para ajudar a gente... vocês é tudo de bom. Gente da família da gente não preocupa e nem liga, vocês estão sempre ajudando a gente de um jeito ou de outros”. (sic J.B.S)
Eu não estou lá diariamente como eu já estive, afinal de contas muita coisa da minha vida começou naquele espaço e hoje eu tenho muito orgulho, muito orgulho em dizer que naquele lugar eu aprendi a sonhar. E que naquele lugar muita coisa começou a mudar na minha vida e de coração muito obrigada.” (sic E.R.F)
“O Força Feminina tem sido o nosso apoio neste ano de tantas dificuldades... eu espero que vocês possam me ajudar sempre” (sic M.J.)
“Obrigada meninas por tudo... eu sei que vocês “faz” uma correria para conseguir essa cesta. Veio em boa hora. E o Chester então... só agradecer” (sic J.)
DEPOIMENTOS DAS ASSISTIDAS
“Um abraço a todos vocês, estamos com saudade. Quando vai abrir o Projeto, mulher de Deus? Quero ter um lugar para poder ir, um espaço pra gente poder participar. O Projeto faz muita falta nas nossas vidas, não só na minha, mas de todas as mulheres que participam. Um abraço a todos e fiquem com Deus”. (Sic A.P.N.)
“[O Projeto] tem feito uma grande diferença na minha vida, e nesse momento de pandemia, tem se tornado muito difícil para mim e para todas as mulheres que vivem na região, pois, a gente depende muito de alguém para dar um incentivo para dar o primeiro passo. O Projeto pelo fato de ter parceria com outros serviços tem ajudado muito, está muito devagar, mas a gente vai vencer, se Deus quiser, a gente chega lá!” (sic M.M.J.)
“Que alegria que a Pastoral não esqueceu de mim, obrigada pela ligação”. (sic R.B)
“Estou com saudades dos momentos de espiritualidade” (sic A.F)
“É... essa cesta pra mim é muito importante por conta da pandemia, a gente também por não tá trabalhando... como no meu caso que eu não trabalhei porque tive um problema de saúde e não ter ido trabalhar na firma por estar com problema de pressão alta e não pode ficar.” (Sic R.B)
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Revista
UNIDADES OBLATAS
Diálogos pela Liberdade - 38 anos de atuação Coordenação: Carolina Souza Paixão Assistente Social: Lucinete Santos Assistente Adm. Financeiro/Educador Social: Keila Cristina Ferreira da Silva Auxiliar de Serviços Gerais: Fabiana Fernandes Educadoras Sociais: Ir. Leonira Camatta, Ir. Pilar Laria e Ir. Luiza Pralon Psicóloga: Isabel Cristina Brandão Furtado Pastoral da Mulher - 42 anos de atuação Coordenação: Fernanda Maria Lins e Silva Assistente Social: Anna Lícia Ferreira Brito Educadoras Sociais: Fernanda Nunes de Araújo, Maria das Neves da Silva, Mônica Siqueira Cavalcante da Silva e Railane Delmondes dos Santos Assistente Adm. Financeiro/Educador Social: Iana Joane de Oliveira Silva Serviços Gerais: Janete Rodrigues da Silva Guimarães
Força Feminina - 25 anos Coordenação: Alessandra Nascimento Gomes Assistente Adm. Financeira: Rose Cristiane S. S. Barbosa – (até –outubro/2020) Assistente Social: Simone Alves Educadoras Sociais: Iracema Oliveira; Ir. Ana Paula de Assis; Ir. Maria do Rosário V. Silva; Ir. Maria Helena Braga Monitor: Valtemi Barreto Galdino Auxiliar de Educadora Social: Rosilene da Silva Ferreira Auxiliar de Serviços Gerais: Lidiane Lopes Projeto Antonia - 13 anos de atuação Coordenação: Aline Cristiane Rissardi Assistente Social: Brenda Barbosa da Silva - (até agosto 2020) Jovem Aprendiz: Ana Beatriz Celestino Prado - (até setembro 2020) Educadoras Sociais: Reine Rodrigues de Oliveira; Ir. Lúcia Alves da Cunha; Ir. Maria Glaussi Agrizzi e Ir. Marlene Bravo Estagiárias de Serviço Social: Bruna Pereira da Silva (até agosto 2020) e Jucelina Gomes Rezende (até março 2020)
“Estamos vivendo um conjunto de transformações econômicas, sociais, políticas cuja complexidade não admite precedente e nossa Congregação não é alheia a isso. Neste contexto vamos reconhecendo os avanços da pobreza e do fenômeno migratório que afetam as mulheres em situação de prostituição. Urge permanecermos atentas e dialogantes com a realidade e avançar em um caminho compartilhado com os leigos e as mulheres em relações de igualdade.” Livro: Beber na Própria Fonte 2012 p. 29
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Rede Oblata Brasil
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