Relatorio anexo 40878420130

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INCLUSÃO PRODUTIVA E SOCIAL EM TERRITÓRIOS CRIATIVOS: UMA REDE DE SUSTENTABILIDADE E INOVAÇÃO PARA MULHERES ARTESÃS NO MUNICÍPIO DE GOIANA - PERNAMBUCO PROCESSO: 408784/2013-0


RELATÓRIO DE PESQUISA APRESENTADA AO CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO – CNPQ COMO REQUISITO PARCIAL PARA PRESTAÇÃO DE CONTAS DO PROCESSO 408784/2013-0.

Inclusão Produtiva e Social em Territórios Criativos: uma rede de sustentabilidade e inovação para mulheres artesãs no Município de Goiana - PE PESQUISADOR RESPONSÁVEL: VIRGINIA PEREIRA CAVALCANTI

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Resumo É grande o esforço das políticas públicas voltadas para o combate à desigualdade de gênero e raça, no entanto, ainda não foi possível garantir uma participação igualitária de mulheres nos diversos campos da vida social brasileira. A inserção das mulheres no mercado de trabalho, marcada por diferenças de gênero e raça, ocupam espaços diferenciados em relação aos homens, muitas vezes realizando trabalhos precários e, adicionalmente, com a acumulação das tarefas com a casa e a família. No ambiente artesanal a situação não é diferente. Em Pernambuco, especificamente, a produção artesanal alcança um total de 75 mil pessoas e o problema associa a urgência de promover o desenvolvimento tecnológico e organizacional à necessidade de investir no desenvolvimento sustentável para as regiões do Estado, estimulando seu potencial criativo. O Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 – 2014 aponta que design e artesanato são setores criativos nucleares com potencial de contribuir para o desenvolvimento econômico e cultural territorial. O projeto Inclusão Produtiva e Social em Territórios1 Criativos: uma Rede de Sustentabilidade e Inovação para Mulheres Artesãs no Município de Goiana – Pernambuco pretende investir em ações articuladas de pesquisa e extensão que reforcem e ampliem a capacidade de criar e empreender, articulando sustentabilidade e alcance social, tomando por base a articulação de redes de parcerias com vistas a instituir um espaço colaborativo que estimule a vocação local e reforce o desenvolvimento territorial; a inovação tecnológica em materiais e processos de modo a promover a inclusão produtiva sustentável; e o desenvolvimento de produtos artesanais que considerem a dimensão simbólica diretamente relacionada às características e tradição locais. A articulação entre pesquisa e extensão prevê o envolvimento das comunidades e poderes locais para gerar ações com potencial de transformação, tomando como base os princípios norteadores da economia criativa: inovação, diversidade cultural, sustentabilidade e inclusão social. Por fim, este projeto se justifica pelo impacto social imediato e por seu potencial de replicabilidade uma vez que utiliza como abordagem metodológica o modelo de atuação para a relação entre design e artesanato desenvolvido e testado pelo O Imaginário – Laboratório de Design da Universidade Federal de Pernambuco, considerado como tecnologia social, porque contribui para a transformação social ao interagir com comunidades artesãs respeitando suas necessidades e gerando estratégias adequadas a cada realidade. Seu direcionamento também prioriza ações estratégicas destinadas a valorizar a cultura das comunidades e ampliar a divulgação e comercialização do artesanato produzido, promovendo a geração de renda e o desenvolvimento sustentável. Palavras-chave: economia criativa, design, artesanato, sustentabilidade, inovação

1 Territórios

criativos são bairros, cidades ou regiões que apresentam potenciais culturais criativos capazes de promover o desenvolvimento integral e sustentável, aliando preservação e promoção de seus valores culturais e ambientais. Disponível em: http://pnc.culturadigital.br/metas/110-territorios-criativos-reconhecidos-2/

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Lista de Figuras Figura 1: Representação gráfica do modelo de atuação do Laboratório O Imaginário ....................... 11 Figura 2: A economia criativa brasileira e seus princípios norteadores .............................................. 18 Figura 3: Pescador confeccionando o tradicional covo para pesca .................................................... 23 Figura 4: Artesãos utilizando os equipamentos para o beneficiamento do coco ................................ 24 Figura 5: Área externa do Centro de Produção José Romualdo Magalhães durante sua inauguração 25 Figura 6: Grupo de artesãs Artesanato Cana-Brava .......................................................................... 25 Figura 7: Marca do Grupo de artesãs Artesanato Cana-Brava ........................................................... 26 Figura 8: Construção do edifício CVT em regime de obra escola e a edificação pronta ...................... 27 Figura 9: Oficina para a construção do CVT Marisqueiras/ Goiana em regime de obra-escola ........... 28 Figura 10: Grupo Quilombolas de São Lourenço/ CVT Marisqueiras – Goiana ................................... 29 Figura 11: Grupo de artesãs Quilombolas de São Lourenço .............................................................. 30 Figura 12: Marca do Grupo de artesãs Quilombolas de São Lourenço ............................................... 30 Figura 13: Discussão de conceitos e ferramentas com gestores ........................................................ 35 Figura 14: Revisão de conceitos e aplicação prática em diferentes grupos ........................................ 35 Figura 15: Repasse dos conceitos entre a liderança e o grupo Artesanato Cana-Brava ...................... 36 Figura 16: Repasse dos conceitos entre a liderança e o grupo Quilombolas de São Lourenço ........... 36 Figura 17: Destaque para os postais que apresentam o endereço do site portfólio de produtos ........ 38 Figura 18: Artesãs Adélia (à esquerda) e Jozelma durante a rodada de negócios ............................... 39 Figura 19: Compradora americana, interessada no portfólio de colares de marisco .......................... 40 Figura 20: Processo de extração, beneficiamento e trançado da fibra de cana-brava ........................ 43 Figura 21: Tecido trançado com a fibra de cana-brava ...................................................................... 43 Figura 22: Molde de aço utilizado para fazer as laminações .............................................................. 44 Figura 23: Corpos-de-prova para ensaio de tração ............................................................................ 47 Figura 24: Corpos-de-prova para ensaio de tração ............................................................................ 48 Figura 25: Curvas Tensão vs Deformação da resina pura (a) e do compósito (b) ................................ 49 Figura 26: Perfil de ruptura do material compósito ........................................................................... 49 Figura 27: Perfil de ruptura da resina ................................................................................................ 50 Figura 28: Instrutoras e membros da comunidade reunidos para o início da oficina .......................... 52 Figura 29: Explicação sobre a fibra e suas características .................................................................. 52 Figura 30: Instrutora Nelzia apresentando a técnica do trançado ...................................................... 53 Figura 31: Paleta da fibra da cana-brava bruta .................................................................................. 54 Figura 32: Paleta da cana-brava de molho ........................................................................................ 54 Figura 33: Participantes aprendendo a beneficiar a paleta ................................................................ 55 Figura 34: Apresentação do trançado ............................................................................................... 56 Figura 35: Instrutora explicando a participante sobre a técnica do trançado ..................................... 56 Figura 36: Participantes exercitando o trançado a partir de um molde .............................................. 57 Figura 37: Participantes exercitando o trançado a partir de um molde mais complexo ...................... 57 Figura 38: Participantes em exercício prático .................................................................................... 58 Figura 39: Instrutora auxiliando alunas no exercício .......................................................................... 58 Figura 40: Jovem artesã replicando uma peça .................................................................................. 59 Figura 41: Participantes dando o arremate nas peças ....................................................................... 59 Figura 42: Participante retirando os fiapos das peças ....................................................................... 60 Figura 43: Participantes com suas peças quase finalizadas ............................................................... 60 Figura 44: Preparação para confraternização de encerramento ........................................................ 61 Figura 45: Instrutoras Adélia e Nelzia ............................................................................................... 61 Figura 46: Participantes e instrutora ................................................................................................. 62

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Figura 47: Reuniões do grupo das Quilombolas com a artista plástica Suzana Azevedo .................... 63 Figura 48: Testes de modelagem da massa de papel ........................................................................ 63 Figura 49: Apresentação de referências para desenvolvimento de produtos ..................................... 64 Figura 50: Oficina para desenvolvimento de artefatos com mariscos ................................................ 64 Figura 51: Oficina com o grupo para desenvolvimento de artefatos .................................................. 65 Figura 52: Produtos de cestaria do grupo Artesanato Cana-Brava .................................................... 66 Figura 53: Produtos de papel do grupo Artesanato Cana-Brava ........................................................ 66 Figura 54: Produtos do grupo Quilombolas de São Lourenço ........................................................... 67 Figura 55: Centro do Artesanato de Pernambuco – Unidade Recife .................................................. 68 Figura 56: Produtos expostos no Centro do Artesanato de Pernambuco .......................................... 68 Figura 57: Entrada e vista interna do pavilhão da Fenearte 2014 ....................................................... 69 Figura 58: Exposição de produtos na Fenearte 2014 ......................................................................... 69 Figura 59: Equipe do Imaginário com as representantes dos dois grupos produtivos ........................ 70 Figura 60: Vista geral do estande unificado das comunidades na Fenearte 2014 ............................... 70 Figura 61: Artesãs representantes dos grupos produtivos (Luciana, Cecília, Rosa e Adélia) ............... 71 Figura 62: Artesãs Jozelma e Adélia durante a rodada de negócios .................................................. 72 Figura 63: Exposição dos produtos do Artesanato Cana-Brava e material de comunicação visual. .... 72 Figura 64: Página inicial do site Mãos de Pernambuco ...................................................................... 73

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Sumário 1. Introdução ...................................................................................................................................... 8 1.1. Objetivos da Pesquisa ............................................................................................................ 10 1.2. Metodologia da Pesquisa ....................................................................................................... 10 1.3. Estrutura do Relatório ............................................................................................................ 13 1.4. Equipe Técnica ...................................................................................................................... 14 Parte 1. Fundamentos Teóricos e Contextualização do Objeto de Pesquisa ...................................... 16 2. Fundamentos Teóricos ................................................................................................................. 17 2.1. Economia Criativa ................................................................................................................. 17 2.2. Desenvolvimento local .......................................................................................................... 18 2.3. Sustentabilidade ................................................................................................................... 19 2.4. Inovação Tecnológica ............................................................................................................ 20 3. Reconhecimento das Comunidades Produtoras de Artesanato ..................................................... 22 3.1. Comunidade Produtora Artesanato Cana-Brava .................................................................... 22 a.

Contextualização histórico-geográfica ............................................................................ 22

b.

O Grupo Artesanato Cana-Brava ..................................................................................... 23

3.2. Comunidade Produtora de Artesanato Quilombolas de São Lourenço ................................... 26 a.

Contextualização histórico-geográfica ............................................................................ 26

b.

O Grupo Quilombolas de São Lourenço ........................................................................... 28

Parte 2. A Pesquisa: redes, sustentabilidade, inovação de processos e produtos .............................. 31 4. Rede de Parcerias e Intercâmbio entre os grupos de artesãs ......................................................... 32 4.1. Oficinas de Gestão ................................................................................................................ 32 a. Oficina de Técnicas de Gestão para Lideranças .................................................................... 33 b. Oficina de Gestão Compartilhada ........................................................................................ 36 4.2. Rede de Parcerias .................................................................................................................. 37 5. Compósitos Poliméricos de Poliéster Reforçado com Fibra de Cana-Brava ................................... 41 5.1. Fibras Sintéticas .................................................................................................................... 41 5.2. Materiais e Métodos .............................................................................................................. 44 a. Materiais .............................................................................................................................. 44 b. Ensaio de Tração .................................................................................................................. 48 5.3. Resultados ............................................................................................................................. 48 5.4. Perspectivas para Trabalhos Futuros ..................................................................................... 50 5.5. Limitações da Pesquisa.......................................................................................................... 50 6. Produtos Artesanais em Fibra, Papel e Marisco ............................................................................ 51

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6.1. Oficinas Técnicas .................................................................................................................. 51 a. Oficina de Repasse do Beneficiamento e Técnica de Trançado ............................................. 51 b. Oficina Técnica de Papel ...................................................................................................... 62 c.

Oficina de Desenvolvimento de Produtos em Marisco ..................................................... 63

6.2. Produtos em fibra, papel e marisco ....................................................................................... 65 6.3. Exposição dos produtos em Feiras e Centros Especializados ................................................. 67 a. Centro de Artesanato de Pernambuco ................................................................................. 68 b. XV Fenearte ......................................................................................................................... 69 c. Rodada Internacional de Negócios ....................................................................................... 71 d. Site Mãos de Pernambuco ................................................................................................... 72 7. Considerações Finais .................................................................................................................... 74 8. Referências Bibliográficas ............................................................................................................ 75 9. Apêndice ...................................................................................................................................... 78 9.1. Comprovante de submissão de artigo – AHFE ....................................................................... 78

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1. Introdução Apesar do esforço das políticas públicas voltadas para o combate à desigualdade de gênero e raça, ainda não foi possível garantir uma participação igualitária de mulheres e negras nos diversos campos da vida social brasileira. Dados estatísticos apresentados em 2009, confirmam que 51,3% da população brasileira é formada por mulheres, dentre as quais, 49,9% se declaram negras, com um aumento crescente do papel da mulher como chefe de família (10 pontos percentuais entre 19952009) significando que 21,7 milhões de famílias eram chefiadas por mulheres. Tal fato contribuiu para mudança do padrão de comportamento das famílias brasileiras, que de acordo com análises do IPEA2, ainda apresentam situações de maior vulnerabilidade, em especial naqueles casos chefiados por mulheres negras, quando comparados com domicílios chefiados por homens. Outro aspecto significativo para compreender as relações assimétricas vivenciadas pelas mulheres e negras, é o historicamente limitado acesso à educação, progressão e oportunidades, principalmente da população negra e nordestina, situadas na área rural. A inserção das mulheres no mercado de trabalho, marcada por diferenças de gênero e raça, ocupam espaços diferenciados em relação aos homens, muitas vezes realizando trabalhos precários e, adicionalmente, com a acumulação das tarefas com a casa e a família. Entretanto, principalmente para a população negra, o acesso ao mercado de trabalho é condição sine qua non para enfrentar a situação de pobreza, realidade que pode se transformar com a melhoria nas condições de vida e quebra das barreiras de desigualdades sociais e econômicas. No Nordeste do Brasil essa situação é ainda mais crítica, contribuindo para a existência de um grande percentual de população para a qual as únicas opções de geração de trabalho e renda permanecem atreladas ao exercício de atividades manuais e/ ou artesanais 3. Desse modo, gerações inteiras se sucedem repetindo praticas produtivas de grande riqueza cultural, mas com baixíssimo nível de inserção no mercado consumidor e sem quase nenhum grau de sustentabilidade 4.

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O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) é uma fundação pública federal vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Os dados utilizados estão apresentados documento Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, 4° Edição, 2011. 3 O artesanato está entre as primeiras formas de ação do homem sobre o meio ambiente e sobre si mesmo. É com as mãos que ele começa também a se construir e a se inventar como ser humano. Isso, porque, por incrível que pareça - o homem não nasce humano, ele se torna humano, pelo trabalho, pela inteligência. Gullar, 2001. 4 Quando a proposta é um cenário de sustentabilidade, o entendimento deve ser que a dimensão econômica está pautada na ideia de durabilidade no tempo. Neste sentido, o empreendimento deve ter características que, nas suas relações com o mercado, assegurem sua permanência. As orientações para a viabilidade econômica de uma sociedade sustentável fundamentam-se nas condições necessárias para sua sobrevivência, e assim, a relação entre custo e benefício das práticas produtivas e de consumo deve ser equilibrada para alcançar padrões sustentáveis. A sustentabilidade social e cultural pretende a melhoria da qualidade de vida, à redução das desigualdades e injustiças sociais e à inclusão social por meio de políticas de justiça redistributivas. Como pano de fundo, a questão ambiental deve ser considerada no sentido de permitir que o

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Nesse contexto, apesar das ações governamentais para instituir políticas públicas específicas para estimular a produção artesanal (artesanato e arte popular), ainda é necessário investir em programas e projetos que busquem equilibrar o tripé valor cultural X valor econômico X valor social da produção cultural material, para evitar que famílias de artesãos e artistas populares deixem de repassar seus saberes e fazeres às novas gerações, desestimulados pelo pequeno retorno financeiro dos seus esforços, comprometendo o valioso patrimônio cultural brasileiro. Segundo o Ministério de Desenvolvimento da Indústria e Comércio (2007), 8,5 milhões de pessoas, em todo território nacional, estão envolvidas com o artesanato, movimentando e gerando recursos de cerca de 28 bilhões por ano, o que representa para o Produto Interno Bruto Nacional (PIB), cerca de 2,8%. Parte dessa contribuição vem da região nordeste, no qual o maior contingente da população é feminino e tem no artesanato a sua única fonte de renda. Em Pernambuco, especificamente, a produção artesanal alcança um total de 75 mil pessoas. Pesquisa realizada pela Prefeitura de Goiana constatou que o crescimento industrial do município, representa um salto no PIB per capita que tende a se manter elevado por um longo período, mas contempla apenas as atividades que exigem trabalhadores qualificados. Segundo a pesquisa, a partir de 2015, as oportunidades de trabalho serão para as pessoas com formação profissional de nível médio e superior. Com a redução da oferta de vagas nas atividades que dispensam conhecimento técnico, grandes massas de pessoas ficariam desempregadas. Nas localidades de Ponta de Pedras e São Lourenço, objetos de ação desta pesquisa, essa situação é ainda mais grave. Em São Lourenço, a atividade econômica da povoação gira em torno da ação extrativista de marisco feita predominantemente por mulheres e a grande maioria das famílias ali residentes está ligada à atividade. Isso pode ser confirmado pelo alto índice de famílias que recebem bolsa-família, um total aproximado de 80%; e pela renda média familiar menor do que um salário mínimo por mês5. Em Ponta de Pedras, a atividade econômica é regida pela pesca e a maioria das mulheres é esposa ou filha de pescador. Por isso, os jovens da localidade visualizam poucas perspectivas de melhoria de condições de vida e, em consequência, os índices de violência e uso de drogas só tendem a aumentar. Outros problemas estão relacionados à ociosidade relacionada principalmente ao período de entressafra da coleta de mariscos, piorando o acesso à renda. Seria possível também enumerar tantos outros problemas decorrentes disso e que interferem diretamente nas questões sociais da comunidade, como alcoolismo, gravidez na adolescência e problemas de saúde. Diante desse cenário, o Laboratório O Imaginário vem, desde 2003, investindo em ações de pesquisa e extensão direcionadas a grupos produtores de artesanato do estado de Pernambuco. Essa experiência permitiu identificar nos grupos - Artesanato Cana-Brava e Quilombolas de São Lourenço, a problemática e potencialidades necessárias a implantação deste projeto.

ecossistema tenha capacidade de absorver ou se recuperar das agressões derivadas das atividades humanas. Assim, alcançar um novo equilíbrio entre as taxas de emissão ou produção de resíduos e as taxas de absorção ou regeneração da base natural de recursos. Manzini, 2005

5 Dados obtidos pela AERPA (Agência de Estudos e Restauro do Patrimônio) em 2010.

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1.1. Objetivos da Pesquisa Geral Promover a inclusão produtiva e o empreendedorismo criativo em grupos de mulheres artesãs no Município de Goiana - Quilombolas de São Lourenço e Artesanato Cana-Brava, visando à geração de trabalho e renda como fator de desenvolvimento territorial, estimulando a valorização das redes, tradição e vocação do local, a partir do investimento na promoção de redes de parceria, inovação de produtos, processos e tecnologia de materiais; com ações que articulem pesquisa e extensão e que incentivem a autonomia econômica, a capacidade de empreender e a sustentabilidade social e cultural. Específicos  Articular uma rede de parcerias e/ou intercâmbio de experiências entre os grupos de artesãs - Quilombolas de São Lourenço e Artesanato Cana-Brava com vistas a instituir um espaço colaborativo de compartilhamento de informações, processos e espaços de comercialização, estimulando a vocação local e reforçando o desenvolvimento territorial;  Pesquisar refugos e/ou resíduos naturais (fibras de coco e /ou casca de marisco) abundantes nas localidades para o desenvolvimento de compósitos fibrosos que servirão como insumo para a produção de novos produtos artesanais, de modo a inovar na tecnologia de materiais e processos ao passo em que promove a inclusão produtiva sustentável ambiental, cultural e economicamente;  Desenvolver novos produtos artesanais tomando como referencial o ciclo de criação, produção, distribuição e consumo dessas cadeias produtivas e sua dimensão simbólica fortemente vinculada a características locais e a tradição do território, promovendo a inclusão produtiva, a inserção ocupacional e a geração de renda.

1.2. Metodologia da Pesquisa A condução epistemológica da pesquisa foi baseada na abordagem dialética. A dialética é considerada uma das metodologias mais convenientes para o estudo da realidade social, pois fornece as bases para uma interpretação mais dinâmica e totalizante da realidade 6 (DEMO, 1995). De acordo com essa perspectiva, os fenômenos sociais não podem ser considerados de forma isolada, descontextualizados de suas condicionantes históricas, políticas, econômicas e culturais. Em sintonia com esses preceitos, a estratégia metodológica desta investigação alojou o método dialético em sua instância epistemológica. Desse modo, foram estabelecidas através dele as regras de produção e explicação dos fatos e as operações para a construção do objeto científico da pesquisa. A condução de procedimentos da pesquisa foi balizada pelo modelo transdisciplinar de atuação do Laboratório O Imaginário, desenvolvido e validado para a relação design e artesanato. O modelo tem se demonstrado eficaz na geração de estratégias capazes de promover a inclusão social de comunidades em situações de vulnerabilidade, de otimizar a produção artesanal, de valorizar a

6 DEMO, Pedro. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 1995.

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cultura das comunidades e ampliar a divulgação e comercialização do artesanato produzido, promovendo a inclusão produtiva, geração de renda e o desenvolvimento sustentável. O modelo atende a produtores de artesanato, uma vez que perpassa cinco eixos que norteiam as ações, que são: gestão, produção, design, comunicação e mercado.

Figura 1: Representação gráfica do modelo de atuação do Laboratório O Imaginário Fonte: arquivo O Imaginário, 2007

gestão: Promove a articulação, a formação e o fortalecimento de grupos, incentivando a construção de acordos coletivos e a busca pela autonomia. A ação favorece o reconhecimento e a formação de lideranças, desperta a autoestima e conscientiza artesãs e artesãos para o valor de seu trabalho.

produção: Baseado nos modos de produção e no respeito ao ritmo de vida das comunidades, busca a otimização dos processos produtivos, a melhoria das condições de trabalho e o uso sustentável dos recursos naturais. A inserção de novas tecnologias e ferramentas garante a qualidade do fazer artesanal e agrega valor ao produto.

design: Cada peça é desenvolvida a partir da valorização do saber popular, do reconhecimento das tradições, habilidades e uso dos materiais. Como resultado, designer e artesão criam linhas de produtos em que formas, texturas e cores refletem os valores culturais e sociais das comunidades. A excelência do produto e a sua compatibilidade com as demandas do mercado possibilitam a sustentabilidade da atividade.

comunicação: Gera informações capazes de sensibilizar e mobilizar a opinião pública para o valor do artesanato e os direitos de seus criadores, e desenvolve ações de comunicação com um foco estratégico. Para cada comunidade parceira do projeto é construída uma identidade visual que reafirma a história, a cultura e o sentimento de pertencimento a um grupo, imprimindo um selo de origem e qualidade ao que é produzido pela comunidade.

mercado: Direciona a produção das comunidades parceiras para segmentos específicos do mercado capazes de reconhecer o valor agregado ao produto, garantindo uma remuneração

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justa e a continuidade do fazer artesanal. A valorização das referências culturais fortalece a relação destas comunidades com o mercado, colocando a atividade como um caminho para o desenvolvimento e para a transformação social. A atuação parte do entendimento que os grupos produtivos são sujeitos de suas práticas; coletiva, por meio do incentivo à construção de acordos coletivos e o reconhecimento de lideranças; individualizada, através do reconhecimento de habilidades e competências dos envolvidos; crítica, na medida em que leva artesãs e artesãos a fazer uma leitura de seu próprio fazer artístico; e contextualizante, já que a intervenção está calcada nas necessidades, desejos e no respeito aos valores de cada localidade. Para este projeto foram adotados estes mesmos princípios metodológicos, incluindo procedimentos de monitoramento e avaliação das atividades que foram realizados por meio de encontros e reuniões regulares (quinzenais) de acompanhamento com a equipe técnica e os grupos, de modo a assegurar os resultados, e a redefinição, se necessário, das estratégias de atuação. Para tal, foram definidas as seguintes metas, etapas metodológicas e resultados esperados:

META 1 - Integrar os [02] dois núcleos de gestão, sendo [01] um na Povoação de São Lourenço e [01] em Ponta de Pedras/ Goiana – PE ETAPA 1.1 - Realizar reuniões para estruturação de plano conjunto para promoção e comercialização dos produtos ETAPA 1.2 - Realizar reuniões para troca de experiências e estruturação de rede de parcerias Resultados Esperados Grupos Artesanato Cana-Brava e Quilombolas de São Lourenço trabalhando conjunta e estrategicamente para a promoção e comercialização dos produtos;

META 2 - [01] um novo material desenvolvido – compósito polimérico, testado em relação à sua usabilidade, acabamento e junção ETAPA 2.1 – Preparar matérias-primas a partir dos refugos e/ou resíduos naturais para análise em laboratório ETAPA 2.2 - Experimentar a usabilidade das matérias-primas e sua aplicabilidade em artefatos Resultados Esperados [01] um novo material desenvolvido – compósito polimérico fibroso e compósito polimérico particulado;

META 3 - [08] oito novos produtos desenvolvidos com exposição e comercialização em pelo menos [01] Feira e [01] Centro especializado em venda de artesanato ETAPA 1.1 - Realizar pesquisa bibliográfica, de internet e visitas técnicas a feiras especializadas para observação das tendências de mercado

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ETAPA 3.2 - Desenvolver modelos e protótipos para avaliação de sua usabilidade e estética ETAPA 3.3 - Identificar locais (feiras e centros especializados) para exposição e comercialização dos novos artefatos ETAPA 3.4 - Desenvolver os produtos em parceria com os grupos de artesãs ETAPA 3.5 - Expor os novos artefatos em locais de comercialização Resultados Esperados [08] oito novos produtos desenvolvidos com exposição e comercialização em pelo menos [01] Feira e [01] Centro especializado em venda de artesanato;

META 4 - [01] pelo menos um artigo produzido e submetido a periódicos e/ ou eventos científicos de reconhecida relevância na área Etapa 4.1 - Redigir e submeter pelo menos dois artigos em periódicos e/ ou eventos científicos Etapa 4.2 - Identificar periódicos e/ ou eventos científicos de relevância para a área Resultados Esperados [01] pelo menos um artigo produzido e submetido a periódicos e/ ou eventos científicos de reconhecida relevância na área.

1.3. Estrutura do Relatório Este relatório tem o conteúdo organizado em duas partes: a primeira corresponde a fundamentação teórica da contextualização do objeto de pesquisa e unidades de análise: grupos produtores Artesanato Cana-Brava e Quilombolas de São Lourenço. A segunda descreve o conteúdo e processo da pesquisa, o que inclui três capítulos que correspondem a cada uma das metas. O capítulo Rede de Parcerias e Intercâmbio entre os grupos de artesãs descreve as oficinas de gestão que estão divididas em duas oficinas, uma primeira voltada as lideranças e a segunda a todos os membros dos grupos. A seguir são descritas as estratégias utilizadas para a manutenção e ampliação da rede de parceiros. O capítulo Compósitos Poliméricos de Poliéster Reforçado com Fibra de Cana-Brava trata do processo de desenvolvimento de um material compósito que utiliza como base a fibra de cana-brava. Neste capítulo também se compreende sua aplicabilidade e possibilidades de projetos futuros. Já o capítulo Produtos Artesanais em Fibra, Papel e Marisco descreve as oficinas realizadas nas duas comunidades artesãs – Artesanato Cana-Brava e Quilombolas de São Lourenço, bem como o processo de desenvolvimento compartilhado de produtos e os espaços de exposição e comercialização dos produtos.

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1.4. Equipe Técnica Coordenadora e Pesquisadora Sênior  Virgínia Pereira Cavalcanti

Pesquisadores Sêniores  Ana Maria Queiroz de Andrade  Germannya D´Garcia de Araújo Silva  Tibério César Macedo Tabosa

Pesquisadores Juniores  Erimar José Dias e Cordeiro  Vinícius Simões Botelho  Ana Carolina dos Reis Silva  Felipe Rodrigues Soares

Colaboradores  Camila Cavalcanti  Mariana Souza Melo

Perfis dos membros da equipe técnica Virginia Pereira Cavalcanti, Doutora. Doutora e Mestre em Estruturas Ambientais e Urbanas pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e Designer pela Universidade Federal de Pernambuco. Professor Associado nível II do Programa de Graduação e Pós-Graduação, mestrado e doutorado, em Design da UFPE. Coordenadora do Laboratório O Imaginário – UFPE; líder do Grupo de Pesquisa Design, Tecnologia e Cultura. (http://lattes.cnpq.br/2292931009490444)

Ana Maria Queiroz de Andrade, Doutoranda. Arquiteta. Mestre em Educação pela Temple University (USA). Professora Adjunta da Universidade Federal de Pernambuco. Coordenadora do Projeto O Imaginário - UFPE. (http://lattes.cnpq.br/2864245790838226)

Germannya D´Garcia de Araújo Silva, Doutora. Designer de Produto. Especialista em Ergonomia. Mestra em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Pernambuco. Doutora em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Pernambuco. Professora do Núcleo de Design no Campus Acadêmico do Agreste e pesquisadora do Laboratório O Imaginário e do Laboratório de Cerâmicas Especiais no Departamento de Engenharia Mecânica, ambos na UFPE. (http://lattes.cnpq.br/0237996809524149).

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Tibério César Macêdo Tabosa, Msc. Mestre em Engenharia de Produção pela PUC/RJ, Engenheiro Civil pela Universidade Federal de Pernambuco (1976). Palestrante, consultor e facilitador de processos em economia criativa. (http://lattes.cnpq.br/8284735713426637)

Erimar José Dias Cordeiro. Designer de Produto pela Universidade Federal de Pernambuco. Técnico em Tecnologia da Informação. (http://lattes.cnpq.br/1671816652215612)

Vinicius Simões Botelho. Designer de Produto pela Universidade Federal de Pernambuco. Técnico em manipulação de imagens tridimensionais. (http://lattes.cnpq.br/9838789705627702)

Ana Carolina dos Reis Silva Designer pela Universidade Federal de Pernambuco. Pós-Graduada em Marketing - UFPE. (http://lattes.cnpq.br/4792086279015381)

Felipe Rodrigues Soares Designer gráfico pela Universidade Federal de Pernambuco. Fotógrafo e técnico em manipulação de imagens digitais. (http://lattes.cnpq.br/4742221280900799)

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Parte 1. Fundamentos Teóricos e Contextualização do Objeto de Pesquisa Nesta parte, os fundamentos teóricos trazem uma revisão sobre os conceitos das principais premissas utilizadas na pesquisa: economia criativa, desenvolvimento local, sustentabilidade e inovação tecnológica. Já a contextualização do objeto de pesquisa traz, em primeiro plano, uma delimitação histórico-geográfica de cada comunidade e a seguir um descritivo do processo de formação dos grupos produtivos – Artesanato Cana-Brava e Quilombolas de São Lourenço.

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2. Fundamentos Teóricos As teorias que norteiam o projeto têm como referência o Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 – 2014, instituído pelo Ministério da Cultura em 2011, a partir da revisão dos conceitos a seguir.

2.1. Economia Criativa A economia criativa gera cerca de US$ 8 trilhões por ano no mundo, representando de 8 a 10% do PIB mundial. Segundo dados do IBGE (2010), a contribuição dos segmentos criativos no Brasil foi de R$ 104 bilhões, ou 2,84% do PIB, o que justifica a necessidade de investimento para profissionalização desses empreendimentos. Dados da FIRJAN (2010) indicam que, para cada emprego gerado no núcleo criativo, há um efeito multiplicador para os outros segmentos econômicos da cadeia produtiva. Para cada emprego gerado na economia criativa, há quatro empregos gerados em atividades relacionadas. O Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 – 2014 define a Economia Criativa “a partir das dinâmicas culturais, sociais e econômicas construídas a partir do ciclo de criação, produção, distribuição/circulação/difusão e consumo/ fruição de bens e serviços oriundos dos setores criativos, caracterizados pela prevalência de sua dimensão simbólica.” 7, e reforça sua importância para gerar crescimento econômico e desenvolvimento a partir do potencial dos recursos criativos locais. Para tanto, consideram-se como princípios norteadores da economia criativa: 

A diversidade cultural do País;

A sustentabilidade como fator de desenvolvimento local e regional;

A inovação como vetor de desenvolvimento da cultura;

A inclusão produtiva com base em uma economia cooperativa;

7 Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 – 2014. Brasília, Ministério da Cultura, 2011. Disponível em: http://www2.cultura.gov.br/site/wpcontent/uploads/2012/08/livro_web2edicao.pdf.

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Figura 2: A economia criativa brasileira e seus princípios norteadores Fonte: Plano da Secretaria da Economia Criativa (2011)

Do mesmo modo, o Plano da Secretaria da Economia Criativa define o artesanato e o design como setores criativos nucleares, ou seja, aqueles setores que estão diretamente relacionados ao ato criativo com instrumento gerador de um valor simbólico, nesse caso o produto artesanal, e que contribui para a valorização da cultura local, a inclusão produtiva e econômica.

2.2. Desenvolvimento local O desenvolvimento sustentável de uma localidade – também chamado de desenvolvimento local sustentável - é o resultado de múltiplas ações convergentes e complementares, que abrange cinco dimensões: sustentabilidade sociocultural, sustentabilidade ecológica ou ambiental, sustentabilidade tecnológica, sustentabilidade político-institucional e sustentabilidade econômica. As cinco dimensões do desenvolvimento sustentável, segundo Buarque (2002) 8 possuem interações múltiplas: A dimensão econômica diz respeito à estrutura produtiva e cadeias produtivas centrais; setores produtivos; complexos produtivos relevantes; relações econômico-comerciais com o contexto; oferta de infraestrutura econômica (transporte, sistema viário, energia e comunicação); logística econômica; sistemas institucionais de fomento, regulação e crédito, dentre outros aspectos; A dimensão ambiental refere-se à disponibilidade de recursos naturais (renováveis e não renováveis); situação dos recursos hídricos (disponibilidade e tendência de esgotamento, uso e qualidade); recursos florestais (disponibilidade e tendência ao esgotamento/desmatamento), solo, relevo e clima; qualidade geral do meio ambiente natural; degradação dos recursos naturais e do meio ambiente; A dimensão sociocultural trata da: evolução geral da população, sua estrutura e sua tendência; emprego e estrutura de renda; oferta e qualidade dos serviços públicos de infraestrutura (saneamento, habitação), de saúde e educação; relações de trabalho; estrutura fundiária; padrões

8

BUARQUE, S. Construindo o desenvolvimento local sustentável: metodologia de planejamento. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.

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culturais e da produção cultural (patrimônio histórico-cultural, artes e artesanatos, manifestações culturais mais significativas); A dimensão tecnológica diz respeito ao sistema de pesquisa, inovação e capacitação científica e tecnológica; qualificação de pessoal; padrão tecnológico dominante na região; necessidades e demandas de tecnologia da economia para elevar a produtividade, aumentar a qualidade do produto e assegurar a sustentabilidade ambiental, dentre outros aspectos; A dimensão político-institucional refere-se ao sistema político e estrutura de poder prevalente; quadro das instituições públicas e privadas atuantes no território municipal; atores sociais e seus interesses; relações estado-sociedade; nível de organização e participação da sociedade, dentre outros aspectos. Segundo a concepção de Buarque (2002), qualquer estratégia de desenvolvimento local deve se basear em três pilares: organização da sociedade, combinada com a formação de espaços institucionais de negociação e gestão; agregação de valor na cadeia produtiva com vantagens locais; fortalecimento do setor público local com elevação de eficiência e eficácia da gestão pública local. No que se refere à organização da sociedade, entende-se que o desenvolvimento local depende da capacidade dos atores locais se estruturarem e se mobilizarem, nas suas potencialidades e na sua matriz cultural, para definir e explorar suas prioridades e as especificidades locais. Conforme analisa Boisier (1998 apud Buarque, 2002), o desenvolvimento de uma localidade, município, microrregião, bacia, comunidade ou outro recorte que se queira dar, deve ter um claro componente endógeno, tanto em relação ao papel dos atores locais quanto em relação às potencialidades da localidade. No âmbito econômico, Buarque (2002) adverte que desenvolvimento local não pode ser confundido com o movimento econômico gerado por grandes investimentos de capital externo, que não se internalizam e não se irradiam na economia local. Desta forma, as atividades de agregação de valor na cadeia produtiva devem se traduzir em vantagens locais.

2.3. Sustentabilidade A ideia de sustentabilidade implica na construção de uma visão de futuro negociada em diferentes dimensões, como defende Manzini9, “a dimensão física (os fluxos de matéria e energia), a dimensão institucional (as relações entre os atores sociais), além das dimensões éticas, estéticas e culturais (com os critérios de valor e juízos de qualidade que socialmente legitima o sistema)”. 10 (2005). A Dimensão Econômica e Produtiva da Sustentabilidade A dimensão produtiva deve considerar a redução dos recursos ambientais na prática do crescimento econômico. Para grupos produtivos, essa situação fica evidenciada com a utilização, frequentemente indiscriminada, das reservas nativas de matéria-prima, muitas vezes não renováveis, sem um planejamento adequado a sua extração. Este quadro é agravado, quando o desperdício e a

9 MANZINI,

Ezio. A Matéria da Invenção. Lisboa: Centro Português de Design, 1993. _____________. Design para inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-Papers. 2008. 10 MANZINI E, Vezzoli C. O desenvolvimento de produtos sustentáveis. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005.

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manipulação inadequada durante o processo de beneficiamento provocam perdas de produtos e insumos utilizados para a produção. Já as orientações para a viabilidade econômica de uma sociedade sustentável fundamentam-se nas condições necessárias para sua sobrevivência, e assim, a relação entre custo e benefício das práticas produtivas e de consumo deve ser equilibrada para alcançar padrões sustentáveis.

A Dimensão Social e Cultural da Sustentabilidade A sustentabilidade social e cultural pretende a melhoria da qualidade de vida, à redução das desigualdades e injustiças sociais e à inclusão social por meio de políticas de justiça redistributivas. Como pano de fundo, a questão ambiental deve ser considerada no sentido de permitir que o ecossistema tenha capacidade de absorver ou se recuperar das agressões derivadas das atividades humanas. Assim, alcançar um novo equilíbrio entre as taxas de emissão ou produção de resíduos e as taxas de absorção ou regeneração da base natural de recursos.

Design, Artesanato e Produção artesanal Segundo Cardoso, a figura do artesão contribuiu para a configuração do conceito tradicional de design e o seu distanciamento foi fundamental durante o processo de instituição do designer enquanto profissional. (2004:15) No momento em que a atividade foi oficializada como uma atividade de apelo profissional a partir do estabelecimento do sistema de fábrica e da divisão de tarefas; o espaço da indústria foi um dos caminhos para explicar a nova profissão, e se tornou fundamento básico das primeiras escolas. Fica claro que, apesar das semelhanças existentes entre as atribuições das atividades, uma diferenciação clássica entre o processo de design e o fazer artesanal pode ser esclarecedora. Tanto designer quanto artesão objetivam a materialização, venda e uso do objeto; ambos reúnem para isso elementos que dizem respeito à produção e à matéria-prima empregada. O processo de design utiliza ferramentas projetuais de prospecção de mercado para o desenvolvimento do produto com a finalidade de que seja factível na produção, que atenda ao usuário, e seja vendável. Por outro lado, a atividade artesanal apresenta espontaneidade na maneira de criar; na forma de pensar o produto e de se difundir o conhecimento da técnica, transmitindo de geração a geração os saberes sem que haja uma sistematização dos processos. Na contemporaneidade, é possível visualizar no Brasil formatos diferentes de relacionamentos entre o design e o artesanato: Design com Produção Artesanal e Design com Intervenção no Artesanato. O Design com Produção Artesanal pode ser caracterizado por um projeto de design que utiliza a produção ou técnicas artesanais para sua execução. Neste caso, o conceito, o repertório, os códigos, são utilizados no processo de configuração do designer. A produção artesanal é uma escolha e não uma imposição. Já no Design com Intervenção no Artesanato, a ênfase está no artesanato. A relação é bilateral e a troca de conhecimentos é base para a ação. O papel do designer não é mais o de simplesmente projetar, mas de munir o artesão de ferramentas que possibilitem, entre outros, a inserção de seu produto no mercado.

2.4. Inovação Tecnológica Compósitos fibrosos A princípio, qualquer combinação de dois ou mais materiais (metálicos, poliméricos ou cerâmicos) pode ser elaborada para produzir uma nova geração de materiais. Um material compósito é a

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combinação de qualquer material multifásico que exiba uma proporção significativa das propriedades de ambas as fases (matriz e carga) que o constituem. A matriz constitui a fase contínua, que envolve a outra fase denominada de carga dispersa. As propriedades dos compósitos são em função das propriedades das fases constituintes, de suas quantidades e da geometria da fase dispersa (CALLISTER, 2008). Segundo Almeida11 (2006), nos últimos anos um grande interesse mundial tem surgido pelo desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitem a utilização de produtos com menor impacto ambiental. A busca por novos materiais visando minimizar os problemas ambientais tem levado os cientistas a desenvolver compósitos utilizando fibras naturais. As fibras naturais ou lignocelulósicas são provenientes de recursos renováveis, e existe uma grande diversidade de espécies que ainda não foram explorados com todo o seu potencial, principalmente os rejeitos agrícolas ou industriais (PRADO, 2010).12 No Brasil, existe uma grande variedade de fibras vegetais com diferentes propriedades químicas, físicas e mecânicas. As fibras e cargas naturais vegetais, originadas ou não de resíduos, citadas na literatura especializada como potenciais modificadores de polímeros termoplásticos são: Fibras nativas brasileiras: sisal, coco, juta, rami, curauá, fibra de bagaço de cana de açúcar e soja; Fibras do exterior: kenaf, fique e hemp; Amidos; Resíduos de madeira: estes resíduos são comercialmente denominados farinha de madeira ou pó de madeira; Casca de arroz, trigo e outros cereais. O campo de emprego das fibras naturais é bastante amplo, abrangendo aplicações clássicas na indústria têxtil, o uso como reforço em matrizes poliméricas termoplásticas 13 e termofixas14 e, mais recentemente, a utilização como materiais absorventes de metais pesados no tratamento de resíduos industriais, entre outras aplicações. Isto tem incentivado pesquisas científicas e tecnológicas tanto em fibras tradicionais, como o sisal, a juta, e o curauá, que já apresentam características promissoras.

11 D’Almeida,

A.L.F.S., Barreto, D.W., Calado, V., d’Almeida, J.R.M. Efeito De Tratamentos Superficiais Em Fibras De Piaçava Sobre O Comportamento Dinâmico-Mecânico De Compósitos De Matriz Poliéster Isoftálica. In: 17o CBECIMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, Foz do Iguaçu, Panará, 2006. 12 Fibras lignocelulósicas são fibras naturais à base de lignina. Prado, K.S. Spinacé, M. A. S. Caracterização de fibras lignocelulósicas de resíduos agroindustriais. Sociedade Brasileira de Química (SBQ), 2010. 13 Os termoplásticos consistem em longas moléculas com comprimento da ordem de 20 a 30 ηm de alta massa molar molecular, que fluem facilmente sob tensão sem elevadas temperaturas, permitindo assim serem fabricados na forma solicitada e mantendo a forma quando resfriado à temperatura ambiente (ASKELAND, 1998). Esses polímeros podem ser repetidamente aquecidos, fabricados e resfriados — e, consequentemente, reciclados. Dentre os termoplásticos mais utilizados, pode-se citar: acrílico, nylon (poliamida), polietileno (PE), polipropileno (PP), poliestireno (PS) e policloreto de vinila (PVC) (ASHBY, 2011). 14 Resinas termofixas (termorrígidos) são aquelas que sofrem transformação irreversível quando submetidas às influências de calor devido à formação de ligações covalentes diferentemente dos termoplásticos que amolecem e fluem quando calor e pressão são aplicados em mudanças reversíveis (ASKELAND, 1998). Os tipos mais comuns de termofixos são o poliéster, resinas fenólicas, epóxi, furânicas, poliuretanas e alquílicas (FERRANTE, 2010).

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3. Reconhecimento das Comunidades Produtoras de Artesanato As localidades Ponta de Pedras e São Lourenço, territórios das comunidades artesãs Cestaria CanaBrava e Quilombolas de São Lourenço respectivamente, estão localizadas no Município de Goiana – PE. A origem do nome Goiana, para alguns vem do nome Goyanna, palavra em tupi-guarani Guyanna, que significa "terra de muitas águas"; uns atribuem a origem à língua tupi, que significa “gente estimada”; e há outros que atribuem o significado de “porto” ou “ancoradouro”. A história de Goiana está muito ligada aos engenhos de açúcar da região e seus habitantes tiveram uma participação ativa na história do Estado de Pernambuco. A Batalha das Heroínas de Tejucupapo em 1646, quando a população do vilarejo, liderada por mulheres reagiram a invasão dos holandeses é um exemplo. O Município de Goiana encontra-se inserido na Zona de Desenvolvimento da Mata Norte do Estado de Pernambuco, que é parte da mesorregião da Mata e se caracteriza por forte tendência à diversificação da atividade econômica, destacando-se agricultura, turismo e indústria de transformação de alimentos. Outra atividade praticada imemorialmente em Goiana é a pesca artesanal destacada pelas praias como as de Atapuz, Carne de Vaca e Ponta de Pedras. Nessa última, foi de um pequeno agrupamento de palhoças à beira mar que se fez surgir um pequeno vilarejo de pescadores que viriam a ter uma forte participação na consolidação da atividade pesqueira na região. Todo o pescado obtido era vendido aos almocreves, comerciantes que levavam a mercadoria no lombo de animais para as regiões circunvizinhas. A região da Mata Norte é composta de 19 municípios e ocupa uma área total de 3.242,9 km2, correspondendo a 38,6% do território estadual. O município de Goiana é dividido em três distritos, Sede, Ponta de Pedras e Tejucupapo, e apresenta o quinto maior PIB do interior do estado, estimado em 789 milhões de reais (IBGE/2011). Ainda segundo o IBGE, em 2010, o município de Goiana tinha uma população de 75.644 habitantes, composta por 48,4% de homens e 51,6% de mulheres. A população economicamente ativa (PEA) era de 25.225 correspondendo a 33,3% da população total, este indicador está abaixo da média estadual que é 38,7%. Segundo informações do Ministério do Desenvolvimento Social, em 2011, 58,5 % da população era beneficiada pelo Programa Bolsa Família. O município se encontra no extremo nordeste do estado. Distante 68 km da capital, Recife, e a 10 km da divisa com a Paraíba, Goiana é hoje uma das cidades que mais cresce no Estado.

3.1. Comunidade Produtora Artesanato Cana-Brava a. Contextualização histórico-geográfica A praia de Ponta de Pedras é um distrito do município de Goiana, localizado na Zona da Mata Norte de Pernambuco, a 65 quilômetros do Recife. Ponta de Pedras possui uma pequena área comercial e uma rede hoteleira, além de diversos restaurantes a beira mar que garantem a economia da região.

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O período do ano mais rentável é o verão, porque recebe um grande número de turistas de Goiana, Região Metropolitana de Recife, João Pessoa e região. Ao tempo da colonização, Goiana era habitada pelos índios Caetés e Tabajaras e pertencia à antiga Capitania de Itamaracá́. Desde a instalação dos primeiros engenhos de açúcar, ainda na primeira metade do século XVI, o contato entre diferentes etnias marcou a cultura local. Assim é que ao território outrora habitado apenas por nativos indígenas, sobreveio um outro, transformado pelo trabalho do escravo africano e do branco. Por se tratar de área de praia, Ponta de Pedras tem na pesca umas das principais fontes de emprego e renda. Foi a partir da fundação da colônia “Z-3”, que pescadores da região consolidaram a atividade com o uso de covos, armadilha de pesca artesanal que é repassada de pai para filho. A praia de Ponta de Pedras é a praia mais movimentada do município de Goiana, além de ser a zona do município que recebe mais turistas. As zonas de acesso da praia são a BR-101 e a PE-49. A temperatura da região é bem alta, com sua temperatura média de 24°C ao ano.

b. O Grupo Artesanato Cana-Brava Ninguém sabe ao certo quando os moradores de Ponta de Pedras começaram a confeccionar cestaria com a fibra da cana-brava, cuja origem está nos trançados feitos pelos pescadores para produção de covos destinados a prática da pesca artesanal, tradição que continuou sendo repassada de geração em geração. A pesca de covo resume quatro séculos de história. De origem indígena, o covo é uma espécie de caixa retangular cujas arestas são de madeira e cada uma de suas faces é composta por telas trançadas com a fibra da cana-brava. Confeccionado pelos próprios pescadores, quando utilizados em alto mar, os covos possuem grandes dimensões e telas com paletas espessas.

Figura 3: Pescador confeccionando o tradicional covo para pesca Fonte: arquivo O Imaginário, 2007

Dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente – Ibama mostram que, ainda hoje, a prática da pesca artesanal, através do uso de covos, é frequente no litoral norte de Pernambuco. A tradicional técnica é a preferida de muitos pescadores da região, pois peixes pequenos não são capturados pela armadilha. Antes da intervenção do Laboratório O Imaginário, poucas pessoas no vilarejo dominavam a técnica para a confecção de produtos e a demanda por peças artesanais superava a capacidade produtiva da

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única família que se dedicava à atividade. Na verdade, apenas dois irmãos – os artesãos Zezinho e Lourenço, dominavam a técnica e ficaram conhecidos no Estado por suas produções de cestarias. O Artesanato Cana-Brava iniciou em 2003, com a formação de um grupo de mulheres (filhas e esposas de pescadores) que aprenderam o trançado em cana-brava e criaram o grupo de artesãs; resultado da parceria entre o SEBRAE-PE15 e o Laboratório O Imaginário, a partir do reconhecimento do potencial social e econômico do artesanato. Para preservar esse fazer artesanal, a primeira ação foi a implantação de oficinas ministradas pelos dois mestres-artesãos da própria comunidade. Com à facilidade de aquisição da matéria-prima na região, durante os primeiros anos, o foco do trabalho foi o trançado e a produção de moldes de cestas. Com o tempo e a necessidade de diferenciação no mercado, novos materiais e técnicas foram incorporadas permitindo o uso do tecido, criação de estampas e o uso da madeira e do coco. Dentre outras ações, o investimento em tecnologia permitiu o uso de cor, o desenvolvimento de ferramentas e máquinas que oferecem mais segurança e maior rapidez no beneficiamento da matéria-prima. Para lidar com o mercado, principalmente o internacional, os produtos de cestaria receberam novos componentes tais como o tecido e o metacarpo do coco (casca interna rígida). O uso da serigrafia, associado ao coco criaram alternativas para que os produtos feitos em canabrava se diferenciassem no mercado, especialmente diante dos concorrentes orientais (China e Índia), ganhando maior competividade. A substituição dos componentes em madeira por coco nas luminárias e fruteiras também permitiu a redução do custo de produção dos objetos. Da mesma forma, o desenho de estampas exclusivas contribuiu para agregar valor às peças.

Figura 4: Artesãos utilizando os equipamentos para o beneficiamento do coco Fonte: arquivo O Imaginário, 2007

As parcerias do Laboratório O Imaginário com governo federal (MCTI) e o poder público local permitiram a reforma de uma antiga edificação e a instituição do Centro Cultural José Romualdo

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SEBRAE – A instituição leva a ação empreendedora para municípios pernambucanos, desde 1990, com palestras, jornadas, cursos e orientação empresarial. Trabalhar de forma estratégica, inovadora e pragmática para que as pequenas empresas possam alcançar uma evolução sustentável e contribuir com o desenvolvimento do Estado é o principal papel do SEBRAE em Pernambuco, que teve origem em 1968, como Núcleo de Apoio Empresarial. Hoje, conta com sete unidades em todo o Estado, além de duas estações móveis e pontos de atendimento.

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Maranhão, espaço que hoje abriga o grupo que já recebeu, em duas edições consecutivas, o Prêmio TOP 100 SEBRAE (2009 e 2012) evento que apresenta a seleção das cem melhores práticas de artesanato no Brasil.

Figura 5: Área externa do Centro de Produção José Romualdo Magalhães durante sua inauguração Fonte: arquivo O Imaginário, 2010

Outro exemplo de estímulo ao processo criativo compartilhado pode ser observado pela necessidade de integração com outros grupos locais. Ao grupo de cestaria, ao longo do tempo, agregaram-se o grupo da Terceira Idade e os jovens que trabalham com arte-educação e produção do papel artesanal. Recentemente, a rede de parceiros e atores envolvidos foi ampliada com a participação de membros da comunidade vizinha de São Lourenço e de organizações sociais, como a Sociedade de Amigos de Ponta de Pedras; e foi conquistado mais um espaço para comercialização no Mercado Municipal de Ponta de Pedras.

Figura 6: Grupo de artesãs Artesanato Cana-Brava Fonte: O Imaginário, 2013

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Figura 7: Marca do Grupo de artesãs Artesanato Cana-Brava Fonte: O Imaginário, 2013

3.2. Comunidade Produtora de Artesanato Quilombolas de São Lourenço a. Contextualização histórico-geográfica O povoado de São Lourenço está localizado no litoral norte de Goiana, região de belas praias e forte potencial turístico, com aproximadamente 2.400 habitantes. Desses, uma parcela significativa se dedica à extração de mariscos, atividade que, em 80% dos casos, consiste na principal fonte de renda familiar. O beneficiamento dos mariscos é feito ainda de forma precária com uma comercialização realizada de porta em porta, no mercado local e por atravessadores — que compram o produto a preços muito baixos. A estrutura urbana e física da localidade é insuficiente. As casas, em sua maioria, são de taipa. Existe na comunidade apenas uma escola municipal, que só atende até o Ensino Fundamental e comporta atualmente 950 alunos — o que contribui para que 70% das marisqueiras sejam analfabetas. Há um posto de saúde na comunidade, porém o hospital mais próximo se encontra no Centro de Goiana, a 30 km de distância. Não existe água encanada nem rede de esgoto. A água é obtida de um chafariz ou por meio de carro pipa, e 70% das casas não possuem banheiro. O fornecimento de energia é irregular, e o lixo coletado é jogado na maré, gerando problemas de contaminação. Um dos principais problemas referentes à atividade de coleta de mariscos na comunidade é a entressafra, período no qual a renda familiar cai bastante e se agravam os problemas de acesso à renda. Esse período representa para as marisqueiras e sua família ociosidade, pois a grande maioria não possui outra ocupação. Esse fato impulsiona o surgimento de outros problemas que interferem diretamente nas questões sociais da comunidade, como alcoolismo, gravidez na adolescência, problemas de saúde. As marisqueiras, quase em sua totalidade (90% dos casos), catam mariscos há mais de 10 anos, o que têm gerado problemas de saúde à população, pois a atividade é exercida com o corpo curvado durante longo período de tempo — praticamente 8 horas por dia —, em ambiente insalubre. O total arrecadado às vezes não justifica o esforço: 2 a 5 quilos de marisco por família. 80% das famílias recebem bolsa-família. Essas mulheres possuem em média 3 filhos, sendo que, em 80% dos casos, elas são responsáveis pela renda da casa, e 80% delas recebem menos que um salário mínimo por mês. A grande maioria — cerca de 90% — apresenta problemas de saúde devido à fumaça produzida por fogão a lenha que têm casa e quase 70% são analfabetas.

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Em 2008, o projeto CVT Marisqueiras iniciou com o objetivo de promover a inclusão socioeconômica da comunidade quilombola de São Lourenço através da implantação um Centro Vocacional Tecnológico (CVT), que atuou em diversas ações: educativas com cursos gratuitos, profissionalizantes ou treinamentos de curta duração; alfabetização de jovens e adultos; alvenaria, serralheiro, cerâmica utilitária, preservação ambiental e energias alternativas e noções de saneamento básico; desenvolvimento local e transferência de tecnologias solidárias com o desenvolvimento e melhoria projetos para cisternas, fossas e fogão a lenha; geração de renda, com a capacitação em prática e técnicas artesanais para a produção de artefatos; e a valorização da cultura local, registrada em meios digitais, identificando aspectos significativos da formação e história recente do povoado. O CVT Marisqueiras desde a sua construção em regime de obra-escola, permitiu a realização de vários cursos de capacitação junto a toda a comunidade do local; dentre os quais aqueles que mais se identificam com o público-alvo, jovens, mulheres e negros, como cursos de fotografia e a formação e desenvolvimento de habilidades para a feitura de produtos artesanais com o resíduo de mariscos. Nesse espaço também foram realizadas outras ações como o desenvolvimento e construção de kit saneamento; construção da caixa d’água que atende ao CVT; realização de treinamento sobre moradia e sinalização da obra escola; treinamento sobre o uso de EPI; desenvolvimento de marca, embalagens e material gráfico; levantamento de referências da história da comunidade e do local; além do apoio para participação em feiras de comercialização de artesanato realizadas através do Laboratório O Imaginário em parceria com outras instituições.

Figura 8: Construção do edifício CVT em regime de obra escola e a edificação pronta Fonte: O Imaginário, 2008 e 2009

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Figura 9: Oficina para a construção do CVT Marisqueiras/ Goiana em regime de obra-escola

Fonte: O Imaginário, 2008

Por meio da ação de geração de renda implementada durante o CVT Marisqueiras de São Lourenço, foi possível identificar o potencial de trabalho e ocupação que o Curso para o Aperfeiçoamento do Artesanato com a Casca do Marisco – Quilombolas de São Lourenço pode proporcionar para o povoado.

b. O Grupo Quilombolas de São Lourenço O Grupo Quilombolas de São Lourenço, formado em 2008, foi articulado a partir das ações do Projeto CVT Marisqueiras de São Lourenço instalado na comunidade e coordenado pelo Laboratório O Imaginário da Universidade Federal de Pernambuco com o apoio da Prefeitura Municipal de Goiana. O CVT Marisqueiras/ Goiana é formado por um conjunto de dois edifícios com aproximadamente 341,25 m2. A edificação principal tem três pavimentos. O térreo é formado por um grande salão e dois banheiros aonde acontecem reuniões e atividades pedagógicas. No primeiro pavimento, há um laboratório de informática, e no segundo, um terraço coberto, com vista panorâmica para o rio e o mar, também utilizado para aulas e outras atividades. Na edificação secundária, o espaço é utilizado para viabilizar reuniões, oficinas e a produção de artefatos produzidos com mariscos e conchas. No pavimento superior, o espaço serve como depósito de materiais diversos. O Grupo Quilombolas de São Lourenço é composto por marisqueiras ou parentes de marisqueiras, uma vez que essa é a principal atividade geradora de renda do município. Essas mulheres têm entre 20 e 45 anos de idade, pouca ou nenhuma escolaridade e baixa renda.

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Figura 10: Grupo Quilombolas de São Lourenço/ CVT Marisqueiras – Goiana

Fonte: O Imaginário, 2008

Atualmente o CVT Marisqueiras e o CVT Patrimônio Goiana funcionam no mesmo espaço, na Povoação de São Lourenço, abrigando cursos de naturezas diversas que atendem à demanda de formação de mão-de-obra para as novas indústrias que se instalam no recente polo industrial de Goiana. Para o Grupo Quilombolas de São Lourenço, grupo formado a partir da capacitação para o desenvolvimento de produtos artesanais, também foram desenvolvidos marca, embalagens e material gráfico que permitiu sua participação desde a XII Fenearte16, realizada em Pernambuco, maior Feira de Artesanato da América Latina e uma das maiores do mundo. Além disso, foi realizado um levantamento das referências da história da comunidade e da história do local.

16 FENEARTE – Feira Nacional de Negócios do Artesanato.

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Figura 11: Grupo de artesãs Quilombolas de São Lourenço Fonte: O Imaginário, 2013

Figura 12: Marca do Grupo de artesãs Quilombolas de São Lourenço Fonte: O Imaginário, 2013

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Parte 2. A Pesquisa: redes, sustentabilidade, inovação de processos e produtos

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4. Rede de Parcerias e Intercâmbio entre os grupos de artesãs 4.1. Oficinas de Gestão Para estabelecer a rede de parcerias e o intercâmbio entre os grupos, foi estruturado um treinamento dividido em duas oficinas, a primeira envolvendo as lideranças de cada grupo e a segunda reunindo todos os membros dos grupos. Os treinamentos foram realizados entre 6 de junho a 19 de dezembro de 2014. A carga horária total prevista para o treinamento foi de 48 horas, com módulos divididos em 12 (doze) encontros, sendo 01 (um) encontro por semana com 4h de duração. O formato geral do treinamento foi estruturado como o descrito a seguir: Ementa Apresentar e discutir conceitos e modelos de gestão, com ênfase na sustentabilidade do artesanato. Objetivo Repassar técnicas de gestão e planejamento estratégico para os Grupos Produtivos Artesanato Cana-Brava e Quilombolas de São Lourenço. Conteúdo programático:  Noções sobre planejamento estratégico;  Noções sobre comunicação e negociação;  Ferramentas de gestão para acompanhamento e controle;  Noções básicas de informática; Metodologia A atividade tem caráter teórico/prático e visa a construção partilhada do conhecimento, buscando soluções para a gestão dos Grupos Produtivos. A dinâmica será realizada da seguinte forma:  Oficinas expositivas/práticas para apresentação e discussão de métodos e técnicas de gestão;  Atividades semanais, em grupo ou individualmente. Periodicidade A oficina tem a duração de 06 (seis) meses, sendo módulos divididos em 12 (doze) encontros, sendo 01 (um) encontros por semana com 4h de duração. Carga horária O treinamento terá uma carga horária total de 48 horas. Público-alvo Mestres artesãos do Centro de Artesanato, equipe técnica e parceiros. Recursos didáticos e estruturais Material impresso diversos (textos, formulários, etc.); Projetor multimídia; Computadores ligados à internet

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a. Oficina de Técnicas de Gestão para Lideranças A primeira oficina foi direcionada para as lideranças de cada grupo no intuito de elevar a autoestima dos partícipes da comunidade e possibilitar maior envolvimento destes na realização das outras ações. Este treinamento foi estendido também para o grupo de Cerâmica do Cabo. As premissas da oficina indicavam que:  

O princípio norteador do curso é o de que os conteúdos teóricos devem ser aplicados a pratica cotidiana; Os representantes dos grupos (lideranças) fazem o repasse dos conteúdos e técnicas aos demais membros da comunidade num segundo momento. Esses conceitos são discutidos à luz das experiências e compartilhados para a configuração do modelo de gestão desejado; A adição de representantes de outros grupos produtivos é importante e estimula a discussão e a troca de experiências.

Programação da Oficina Atividade realizadas Oficina

Tema

Objetivo

1

Apresentação do curso, facilitadores e participantes

Estabelecer o acordo com o grupo.

Apresentação da metodologia e da abordagem conceitual (participação e aplicação do conteúdo a prática)

Refletir sobre: gestão de modo geral e pensar sobre esse fazer visando a melhoraria da prática de gerencial

Gestão | uma introdução. As diferenças entre carisma e liderança Discussões sobre o poder e redes de poder 2

3

Discussão do conceito de valor e princípio Aspectos que diferenciam os grupos e as equipes

Reconhecer a importância dos valores e princípios na formação de grupos e equipes.

Iniciação a formatação de um projeto coletivo

Identificar os elementos que interferem na construção de projetos coletivo.

Consenso versus Acordo. As tentações e seduções de um gerente 4

Estilos Gerenciais As relações entre os projetos da organização, dos grupos e dos indivíduos/ o projeto coletivo

Identificar os elementos que interferem na construção de projetos coletivo | a influência do gestor na construção do projeto coletivo

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O gerente contemporâneo: os contextos, os enfoques: espaço, especialidade, papéis e conhecimentos

Entender a ação do gerente contemporâneo

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Os papéis do gerente contemporâneo: articular, mediar e coordenar

Compreender os papéis do gerente atual, discutindo, a partir da prática as

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suas capacidades, o que e como fazer. 7

As especialidades do gerente contemporâneo: gente, mudança e resultados.

Discutir as capacidades do gerente em função das suas especialidades.

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Conceitos de planejamento estratégico

Aproximar os artesãos dos conceitos de planejamento estratégico

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Construção de missão e visão

Instrumentalizar os artesãos para formatar a visão e a missão do Grupo

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As ferramentas do planejamento estratégico (construção de cenários, fofa, etc.)

Compreender e utilizar as ferramentas na construção do planejamento estratégico

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O Plano estratégico

Instrumentalizar os artesãos para montagem do plano estratégico

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Noções de monitoramento e avaliação

Instrumentalizar os artesãos para realizar o monitoramento e avaliação.

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Apresentação e discussão de conteúdo e troca de experiências

Figura 13: Discussão de conceitos e ferramentas com gestores Fonte: O Imaginário, 2014

Figura 14: Revisão de conceitos e aplicação prática em diferentes grupos Fonte: O Imaginário, 2014

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b. Oficina de Gestão Compartilhada A equipe do Laboratório O Imaginário também deu suporte a Oficina de Gestão Compartilhada, momento em que as lideranças reportavam para os grupos os conteúdos e técnicas apreendidos nas Oficinas de Técnicas de Gestão.

Figura 15: Repasse dos conceitos entre a liderança e o grupo Artesanato Cana-Brava Fonte: O Imaginário, 2014

Figura 16: Repasse dos conceitos entre a liderança e o grupo Quilombolas de São Lourenço Fonte: O Imaginário, 2014

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4.2. Rede de Parcerias Além dos parceiros mobilizados pelo Laboratório O Imaginário, como a Prefeitura do Município de Goiana, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e o SEBRAE-PE; as lideranças são estimuladas a estabelecer novas relações de colaboração, incentivando sua autonomia e empreendedorismo. É o caso, por exemplo, da Sociedade dos Amigos de Ponta de Pedras. O resultado desse esforço pode ser conferido durante a participação dos grupos, com apoio da equipe do Laboratório O Imaginário, na Rodada de Negócios Internacional. Rodada de Negócios Internacional – Recife/ PE O evento foi realizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos - Apex Brasil em parceira com o Sebrae Nacional, Sebrae Minas, Sebrae Pernambuco e com a participação de 30 artesãos em representação individual ou coletiva e organizações de intermediação de produção artesanal. O objetivo foi promover o encontro entre nove compradores internacionais (França, Suíça, Alemanha e Estados Unidos) e artesãos do Estado de Pernambuco com a possibilidade de geração de negócios de US$ 200 mil a US$ 450 mil num período de 12 meses. Esses compradores representavam empresas estrangeiras, especializadas no comércio de artesanato, com interesses em comprar produtos e levá-los para serem vendidos em lojas de museus e de departamentos, galerias de arte, pequenos centros comerciais e boutiques em seus países. Cestaria Cana-Brava e Quilombolas de São Lourenço foram dois dos grupos produtores de artesanato em Pernambuco selecionados para participar da Rodada Internacional. Ambos os grupos foram representados por Adélia Tavares. A seleção foi realizada pelo SEBRAE PE a partir da qualificação do portfólio de produtos e da análise da capacidade operativa do grupo produtivo. Como etapa de preparação foi solicitada a elaboração das fichas técnicas de 5 potenciais produtos para exportação. O evento foi dividido em dois momentos: Primeiro dia - Montagem da exposição dos produtos e orientações O s produtos foram conferidos em relação a ficha técnica, organização e exposição no local. Além disso, os artesãos receberam orientação sobre como proceder nas negociações diante das demandas dos compradores. Os preços para exportação foram calculados detalhadamente e a seguir corrigidos para as moedas oficiais da rodada (Dólares Americanos e Euros) pela equipe de coordenação da rodada. No preenchimento das fichas de produtos foram detalhadas as características dos produtos, a embalagem proposta e o seu preço de exportação em reais.

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Figura 17: Destaque para os postais que apresentam o endereรงo do site portfรณlio de produtos Fonte: O Imaginรกrio, 2014

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Segundo dia - Rodada de Negócios Internacional A rodada de negócios aconteceu no salão de eventos do Recife Praia Hotel entre 9 compradores estrangeiros (cada um acompanhado de tradutor) e 30 potenciais exportadores de diversas tipologias de artesanato. Os artesãos tiveram a oportunidade de expor os produtos no local, observar o portfólio de produtos dos demais expositores, trocar experiências com outros artesãos, além de fazer contato diretamente com os compradores para uma possível negociação de venda das peças no futuro.

Figura 18: Artesãs Adélia (à esquerda) e Jozelma durante a rodada de negócios Fonte: O Imaginário, 2014

Como resultado, uma compradora internacional americana, Amanda Ottoienghi Bosca, distribuidora de produtos para galerias de arte e para lojas de museu em Washington e Nova Iorque, ficou interessada pelo portfólio de produtos do Artesanato Cana-Brava/Quilombolas de São Lourenço e na ocasião o produto que despertou a atenção da compradora com maior potencial e valor agregado foram os colares de marisco. Ela comprou um mostruário para apresentar as suas clientes da loja do Museu e caso exista o interesse entrará em contato para negociar novos modelos e cores de colares. A experiência de participar de uma Rodada de Negócios Internacional foi bastante positiva por gerar uma exposição qualificada dos produtos, o empoderamento do artesão no processo de negociação e a criação de novos canais de vendas com perfis compatíveis com a produção da cestaria de valor agregado.

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Figura 19: Compradora americana, interessada no portf贸lio de colares de marisco Fonte: O Imagin谩rio, 2014

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5. Compósitos Poliméricos de Poliéster Reforçado com Fibra de Cana-Brava A pesquisa que inicialmente estava prevista para refugos e/ ou resíduos naturais (fibras de coco e/ ou casca de marisco) abundantes nas localidades para o desenvolvimento de compostos fibrosos foi direcionada para o desenvolvimento de um compósito polimérico de poliéster reforçado com fibra de cana-brava. Para a realização da pesquisa e desenvolvimento do compósito polimérico foi necessário também contar com a participação dos seguintes professores: Rômulo de Oliveira Pletsch – bolsista iniciação cientifica / FACEPE e Profa. Dra. Nadège Sophie Bouchonneau da Silva– Dep. Engenharia Mecânica /UFPE; além da Profa. Dra. Germannya D’Garcia de Araújo Silva, membro da equipe do Laboratório O Imaginário / UFPE.

5.1. Fibras Sintéticas A utilização de fibras sintéticas para o reforço de polímeros é uma técnica extensivamente empregada na indústria para a obtenção de materiais com melhor desempenho mecânico. Devido à crescente preocupação mundial com a preservação do meio ambiente, o interesse por tecnologias ecologicamente corretas cresceu significativamente nos últimos anos. As novas normas de desenvolvimento econômico estão voltadas para promover a melhoria de vida das futuras gerações, incorporando desta forma atividades de produção menos poluentes e impactantes, que possam contribuir em reduzir a geração de resíduos, utilizando, de formas mais eficiente, matérias-primas e energia. Neste cenário e em resposta a essas necessidades, surgiu o atual interesse nos compósitos com fibras naturais, sejam elas de origem vegetal, mineral ou animal. A substituição de fibras sintéticas por fibras vegetais vem mostrando um grande potencial, pelo fato desta fibra ser de uma fonte renovável, biodegradável, competitiva devido ao seu baixo custo e por provocar menor impacto ambiental (Mattoso et al, 1996, Sahari e Sapuan, 2011). As fibras vegetais ou lignocelulósicas possuem menor densidade, boas propriedades de atenuação de ruído e provocam menor desgaste do que as sintéticas nos equipamentos convencionais de processamento de polímeros. Fibras vegetais, usualmente definidas como fibras naturais, são atualmente bastante utilizadas como reforço em compósitos poliméricos em diversas áreas de aplicações, como na construção civil, indústria de móveis, embalagens e no ramo automotivo (Marroquim, 1994), geralmente utilizado como material funcional ou para carregamentos de leve e médio porte (Suddell et al., 2008). Nos últimos anos, fibras vegetais foram utilizadas na área de construção Naval, visando a substituição das fibras de vidro em embarcações (Baley et al, 2012; Le Duigou et al, 2014). Dentre as fibras vegetais que podem ser utilizadas para estas aplicações estão: sisal, rami, juta, malva, curauá e fibra de coco, entre outras (Varghese et al, 1994, Joseph et al, 1995, Kuruvilla et al, 1999).

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Para avaliar a eficiência das fibras vegetais, vários testes podemos ser realizados, como: ensaios mecânicos para entender o comportamento mecânico complexo das fibras e dos compósitos (Kern et al, 2014, Miraoui et al, 2012, Mishra et al, 2012) envelhecimento térmico (Bezerra et al, 2013, Scida et al, 2013) ou higroscópico (Cavalcanti et al, 2010, Joseph et al, 1995), entre outros. No Brasil a utilização de fibras vegetais na indústria automobilística e de construção civil está tomando novo impulso. Além disso, o Brasil é, sem dúvida, um dos países que possuem uma das maiores biomassas do mundo e a maior extensão territorial cultivável, potenciais estes que devem ser melhor explorados. Considerando essas novas diretrizes e legislações ambientais e o potencial de fibras vegetais como fonte de matéria-prima, esta proposta de trabalho visa à obtenção de novos materiais, disponibilizados a partir de matérias primas renováveis e biodegradáveis, em particular com fibras vegetais, visando à obtenção de compósitos suportados em matrizes termofixa e fibras naturais atuando como reforço, através de processos ecologicamente limpos, minimizando a produção de resíduos, trazendo inúmeros benefícios para o país e a região Nordeste como um todo. Nesta pesquisa, os compósitos constituídos de matriz polimérica termofixa comercial (poliéster) reforçados com fibras de cana-brava foram produzidos utilizando uma técnica convencional de moldagem (prensagem) de materiais compósitos. As fibras, provenientes da matéria-prima cana-brava, uma espécie de bambu, são oriundas da Praia de Ponta de Pedras, município de Goiana, a 65 km de Recife, Zona da Mata Norte do Estado de Pernambuco. Por se tratar de área de praia, Ponta de Pedras tem na pesca uma das principais fontes de emprego e renda. Foi a partir da fundação da colônia “Z-3”17, que os pescadores da região, consolidaram a atividade com o uso de covos, equipamento necessário para a prática da pesca artesanal e que é repassado de pai para filho. O processo de extração da cana-brava é feito manualmente através de um corte transversal aproximadamente 25 cm do chão, sem a remoção da raiz. Com isso, em apenas 03 meses a área extraída pode voltar a ser cortada, sem danos para a sustentabilidade da espécie. A cana-brava não possui período de restrição para extração, sendo possível seu fornecimento o ano inteiro. A adaptação da espécie ao mangue e seu crescimento rápido favorecem o abastecimento da produção. A planta é composta por uma superfície externa e ciliada, denominada casca, uma camada interior onde se encontra a fibra, de superfície lisa, rígida e de aspecto encerado, por fim, um composto interno, chamado “miolo”. Todo material extraído da planta pode ser utilizado: o pendão possui uso decorativo, a fibra é utilizada para fazer esteiras, covos, cercados, além da cestaria. Para a confecção dos produtos faz-se necessária a utilização de secções das fibras, denominadas paletas. Já o miolo pode ser utilizado para confecção de papel artesanal.

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Colônia de Pescadores fundada em 1931, a Z-3 abriga cerca de 800 associados, unidade de beneficiamento e comercialização de pesca em Goiana - PE.

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Figura 20: Processo de extração, beneficiamento e trançado da fibra de cana-brava Figu r a 5 . Processo de extração e beneficiamento da fibraO de cana-brava. Fonte: Imaginário, 2014 Fonte: arquivo do Laboratório O Imaginário, 2011.

Em função da resistência da fibra à água do mar por longos períodos, sendo utilizada como matériaprima para armadilha de pesca (covos) pela comunidade, um tecido de cana-brava foi desenvolvido para ser testado como reforço de compósitos poliméricos com matriz termofixa.

Tr a j e t ór ia do Gr u po: Or ga nizaçã o

A cana-brava faz parte da história do local desde os primeiros habitantes, e até hoje, o seu trançado é utilizado para confecção de covos e cestas; ainda assim, esta habilidade encontrada na comunidade era pouco explorada como geração de trabalho e renda. No local, apenas dois mestres artesãos utilizavam a matéria-prima para a produção de cestas. A identificação das potencialidades da matéria-prima e do contexto socioeconômico da comunidade despertou o interesse do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Pernambuco (SEBRAE|PE) que, compreendendo que a localidade dispõe de pouca oferta de empregos e serviços e, que a pesca artesanal é a principal fonte de renda, além de ter uma população de jovens e mulheres que sofrem a cana-brava falta de oportunidades, articulou Figura 21: Tecido trançado com acom fibra de Fonte: O Imaginário, 2014 com a Universidade, por meio do Imaginário, uma ação focada para a organização de um

grupo produtivo.

Devido a inerente natureza rica em hidroxilas das fibras vegetais, o uso de polímero termofixo geralmente permite garantir melhor qualidade de interface entre a matriz e o reforço. Foi escolhido Essa realidadeummotivou a criação dea um grupo, formado predominantemente por mulheres, poliéster comercial devido sua grande aplicação industrial, em particular no meio marinho.

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algumas com experiência junto aos dois mestres artesãos, outras voltadas exclusivamente a atividades domésticas, e constituiu o grupo de Cestaria Cana-Brava. No início, a atuação do laboratório O Imaginário em Ponta de Pedras foi baseada em três focos: primeiro, a formação de um grupo para produção artesanal; segundo, a capacitação desse grupo na técnica de cestaria com trançado em fibra de cana-brava; e terceiro, o


Ensaios preliminares de tração foram realizados nos compósitos para avaliar o comportamento mecânico do material e as suas propriedades (módulo de elasticidade, tensão e deformação de ruptura).

5.2. Materiais e Métodos a. Materiais Foram confeccionados corpos de prova dos compósitos com matriz de resina poliéster insaturada da marca VIFIBER, com o endurecedor MEK V-50 também da VIFIBER e o catalisador naftanato de cobalto da IBEX Química, reforçadas com um tecido de fibras de cana-brava. Preparação dos corpos-de-prova O primeiro desafio da pesquisa foi definir os parâmetros necessários para o processamento com o equipamento disponível. As proporções indicadas pelo fabricante eram de 30 gotas de endurecedor para cada 100ml de resina e de 2-3 gotas de acelerados para 100ml de resina. Para isto, foram realizados diversos testes sob o molde metálico fabricado para essa pesquisa.

Figura 22: Molde de aço utilizado para fazer as laminações Fonte: O Imaginário, 2014

A sequência de testes com os materiais realizados para consecução do compósito em acordo com a Norma ASTM D3039 estão descritos a seguir: Teste 1 Materiais: 100ml de resina e 30 gotas de endurecedor. Sem uso das fibras. Procedimento: Após a mistura da resina com o endurecedor em um Becker a solução foi vertida no molde que foi fechado sem a aplicação de pressão. Esperou-se 24h para cura e então o molde foi aberto.

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Resultados: A placa apresentava um número excessivo de bolhas, além de apresentar várias zonas de contração (cerca de 6 a 8% segundo Jorge Nasseh) fazendo com que o molde não ficasse totalmente completo. Teste 2 Materiais: 110ml (como tentativa de atenuar os efeitos da contração) de resina e 35 gotas de endurecedor. Foram utilizadas 3,43g de fibras de vidro (por serem mais baratas para testes) de densidade de 1,20g/cm3 Procedimento: Após a mistura da resina com o endurecedor em um Becker, metade da solução foi vertida no molde, colocou-se a fibra e então completou-se o molde com a metade da solução restante no Becker. O molde foi fechado e colocado em uma prensa hidráulica onde se desejava que ele ficasse sob uma pressão de 5ton por 8 horas. Entretanto, a prensa não conseguia manter a pressão constante apresentando uma queda para uma pressão de 0ton em cerca de 20 minutos. Mesmo assim, colocou-se o material na prensa sob estas condições. Esperou-se 24h para remoção do material da prensa e do molde. Resultados: Os problemas com bolhas e de contração ainda eram presentes. Teste 3 Materiais: Como, na prensagem anterior, houve muito material que foi expulso do molde quando as 5ton foram aplicadas decidiu-se diminuir o volume de resina para 100ml de resina e aumentou-se o volume de endurecedor para 40 gotas para acelerar a reação. Foram utilizadas 3,33g de fibras de vidro de densidade de 1,20g/cm3 Procedimento: Verteu-se metade da resina no molde, aplicou-se a fibra e após verteu-se o restante no molde. O endurecedor foi aplicado sobre a resina, após ela já ter sido vertida no molde, como tentativa de evitar a fase de mistura que está associada ao aparecimento de bolhas. Antes de ser prensado esperou-se 20 minutos com o intuito de remoção das bolhas do molde antes do fechamento do mesmo. O molde foi prensado por 1h a 5ton e após isto foram cessados os esforços, visto que a prensa não era capaz de mantê-los. Resultados: Houve melhor estabilidade dimensional, entretanto ainda houve a presença de bolhas. Teste 4 Materiais: manteve-se 100ml de resina para 40 gotas de endurecedor e à mistura foram adicionadas duas gotas de naftanato de cobalto que é um acelerador utilizado em resinas poliéster. Ele foi adicionado com o intuído de acelerar ainda mais a reação visando uma maior remoção de bolhas antes do fechamento do molde. Foram utilizadas fibras de vidro de densidade de 1,20g/cm 3 Procedimento: O procedimento foi similar ao efetuado no Teste 3. Entretanto, após os 20 minutos para remoção de bolhas e o fechamento do molde, ele foi colocado sob a pressão de um bloco de 30kg por 24h. Resultados: A amostra não apresentou mais bolha e apresentava boa qualidade superficial, entretanto não preenchia o molde por completo devido, justamente, à alta contração da resina poliéster.

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Teste 5 Materiais: aumentou-se o volume da resina, 110ml, utilizou-se para 40 gotas de endurecedor e à mistura foram adicionadas 5 gotas de naftanato de cobalto. Foram utilizadas fibras de vidro de densidade de 1,20g/cm3 Procedimento: Exatamente o mesmo do realizado no teste 4 Resultados: A amostra não apresentou mais bolha e apresentava boa qualidade superficial, entretanto não preenchia o molde por completo. Teste 6 Materiais: aumentou-se o volume da resina, 130ml, utilizou-se para 40 gotas de endurecedor e à mistura foram adicionadas 4 gotas de naftanato de cobalto. Foram utilizadas fibras de cana-brava visto que o produto já apresentava uma boa qualidade necessitando somente de pequenos ajustes para obtenção de um padrão de produção. Procedimento: procedimento inicial similar ao teste 4 e 5, entretanto o endurecedor e o acelerador voltaram a ser adicionados à resina no Becker e não mais diretamente no molde devido a visualização da contração não uniforme. Após a prensagem com o peso de 30kg a amostra foi colocada em estufa a 80C por 8h para completa cura. Resultados: O corpo de prova apresentava boa qualidade, tanto com relação à presença de bolha, quanto ao acabamento de superfície, mas ainda não havia o completo preenchimento do molde. Teste 7 Materiais: aumentou-se o volume da resina, 160ml, utilizou-se para 48 gotas de endurecedor e à mistura foram adicionadas 5 gotas de naftanato de cobalto. Foram utilizadas fibras de cana-brava visto que o produto já apresentava uma boa qualidade necessitando somente de pequenos ajustes para obtenção de um padrão de produção. Procedimento: semelhante ao Teste 6. Resultados: O corpo de prova apresentava-se em ótimo estado tanto com relação às bolhas, quanto ao acabamento superficial e ao preenchimento do molde, mas suas dimensões estavam muito superiores às previstas devido à baixa pressão que foi utilizada para prensagem do molde. Ao final, foram realizados sete (07) testes para definir os parâmetros de processamento do compósito. Todos os corpos-de-prova, possuem as seguintes dimensões: 250mm x 25mm x 2,5mm, segundo a norma ASTM D3039. Todavia, apesar de se obter um produto com bom acabamento, todos apresentaram 5mm de espessura, o dobro do proposto pela norma devido a limitação imposta pelo equipamento disponível. Contudo, o método padrão utilizado para consecução do compósito foi o descrito a seguir: 1. Aplica-se um desmoldante a base de silicone no molde. Mistura-se a resina com o endurecedor e o acelerador num Becker para uma contração uniforme do material. 2. Após a metade da solução ser vertida no molde, colocou-se a fibra e então completa-se o molde com a outra metade da solução restante no Becker. 3. Após os 20 minutos para remoção de bolhas e o fechamento do molde.

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4. O molde deve ser fechado e colocado em uma prensa hidráulica onde se deve ficar sob uma pressão de 5ton por 8 horas. Entretanto, a prensa não conseguiu manter a pressão constante apresentando uma queda para uma pressão de 0ton em cerca de 20 minutos. Para esse estudo o molde ficou sob pressão de bloco de 30kg por 24h. 5. Após a prensagem com o peso de 30kg a amostra foi colocada em estufa a 80 oC por 8h para completar o processo de cura. 6. Após remoção do material do molde deve ser feita a inspeção visual para detecção de defeitos como excesso de bolhas e anomalias dimensionais. 7. Caso aprovado, o material segue para o corte em uma serra de fita para obtenção dos corpos-deprova.

Figura 23: Corpos-de-prova para ensaio de tração Fonte: O Imaginário, 2014

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b. Ensaio de Tração Foram realizados ensaios de tração nas amostras de resina poliéster com e sem a adição de fibra de cana-brava. Nos ensaios foi utilizada uma velocidade de 1mm/min.

Figura 24: Corpos-de-prova para ensaio de tração Fonte: O Imaginário, 2014

5.3. Resultados A resina pura apresentou uma tensão de ruptura de 20,8MPa e módulo de rigidez de 1,57GPa. Já o compósito fibroso apresentou uma tensão de ruptura de 26,3MPa e módulo de rigidez de 1,84 GPa. Com base nesses primeiros resultados é possível concluir que houve influência da fibra na melhoria das propriedades mecânicas do material, tanto na elevação da tensão de ruptura quanto no aumento da rigidez do material. Nota-se, também, que a resina possui maior deformação até o cisalhamento que o compósito. Pode-se concluir que as fibras também atuaram restringindo a deformação frente aos esforços trativos. O resultado dos ensaios de tração da resina e do compósito podem ser vistos nas figura a seguir.

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(a)

(b) Figura 25: Curvas Tensão vs Deformação da resina pura (a) e do compósito (b) Fonte: O Imaginário, 2014

A partir do ensaio de tração, observou-se também o perfil de ruptura dos corpos de prova que podem ser observados para o compósito e para a resina. Nota-se em ambas as figuras que a resina possui uma fratura de caráter frágil, já as fibras apresentam certo alongamento.

Figura 26: Perfil de ruptura do material compósito Fonte: O Imaginário, 2014

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Figura 27: Perfil de ruptura da resina Fonte: O Imaginário, 2014

5.4. Perspectivas para Trabalhos Futuros Para dar continuidade à pesquisa, serão feitos alguns ajustes como: 

Melhoria no processo de preparação de compósitos, usando uma prensa mecânica para garantir a espessura das amostras e realizar amostras dentro da norma técnica;

Testar e investigar várias frações volumétricas e orientações da fibra no compósito;

Comparar os resultados com compósitos reforçados com outras fibras;

Testar uma outra resina polimérica biodegradável e proveniente de fonte renovável;

Como também, serão necessários outros ensaios para definição dos parâmetros de desempenho do compósito, antes dos testes de usabilidade e aplicação em serviço do tipo: 

Análises microscópicas (MEV) do perfil de ruptura das amostras para avaliar a qualidade da interface fibra-matriz;

Ensaios de absorção de água em função do tempo de imersão e da temperatura de uso para avaliar a sua durabilidade;

Ensaios eletroquímicos como: potencial de circuito aberto, espectroscopia de impedância eletroquímica e de polarização além de ensaios de degradação atmosférica.

Ensaios de tração mais extensivos, antes e após os ensaios de absorção de água;

Avaliar a influência das condições de cultivo e tratamento pós-cultivo (químico e/ou físico) nas propriedades das fibras, visando a obtenção de fibras que resultem em compósitos de melhor desempenho.

5.5. Limitações da Pesquisa A principal dificuldade encontrada nesses meses de pesquisa foi a ausência de equipamento adequado para o processamento, o que acarretou a falta de controle de alguns parâmetros de fabricação. Para o processamento deste tipo de material é necessária uma prensa uniaxial que mantenha sua pressão constante por pelo menos 8h (tempo de prensagem) e que possua resistências (com temperatura controlada) para que a cura da resina se dê por completo durante só uma etapa, como é apresentado na literatura.

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6. Produtos Artesanais em Fibra, Papel e Marisco Para atingir a meta de produtos desenvolvidos com exposição e comercialização em Feira e Centro especializados em venda de artesanato, foram adotadas as seguintes estratégias: 

 

Realização de oficinas técnicas versando tanto com o repasse dos processos de beneficiamento e produção nas matérias-primas quanto com a criação compartilhada de artefatos; Desenvolvimento de produtos em fibras, papel e marisco por meio de oficinas técnicas ou em seções de criação compartilhada; Realização de pesquisa bibliográfica, de internet e visitas técnicas a feiras especializadas direcionadas a exposição e comercialização dos produtos desenvolvidos.

Essas estratégias utilizadas para o desenvolvimento, exposição e comercialização dos produtos tomou como referência o ciclo de criação, produção, distribuição e consumo das cadeias produtivas e sua dimensão simbólica fortemente vinculada a características locais e a tradição do território, promovendo a inclusão produtiva, a inserção ocupacional e a geração de renda.

6.1. Oficinas Técnicas a. Oficina de Repasse do Beneficiamento e Técnica de Trançado A Oficina de Repasse do Beneficiamento e Técnica do Trançado da cana-brava foi realizada no Centro de Artesanato José Romualdo Maranhão para moradores dos distritos de Ponta de Pedras e de São Lourenço, ambos municípios de Goiana - PE, no período de 20 de outubro a 19 de dezembro de 2014. A oficina foi ministrada pelas artesãs Adélia e Nelzia, ambas integrantes do grupo produtivo Artesanato Cana-brava. A carga horária total da oficina foi de 54 horas, com 02 (dois) módulos, sendo 02 (dois) encontros por semana com 3h de duração cada para formação da turma. O propósito da oficina foi de transmitir conhecimentos sobre a fibra da cana-brava, a técnica do beneficiamento e do trançado da fibra com a finalidade de ampliar o grupo de artesãos dos grupos produtivos.

Módulo I – A fibra e o beneficiamento Objetivos: Reconhecer o grupo de participantes (instrutoras e membros da comunidade de Ponta de Pedras e São Lourenço) e promover sua integração; Apresentar a metodologia da oficina e iniciar conteúdo programático por meio da breve explanação sobre a fibra, sua origem, características, forma de extração. Apresentação da oficina e breve explanação sobre a fibra (1 encontro de 3h = 3h) 1. Apresentação das instrutoras e da metodologia da oficina de desenvolvimento de produtos. Considerando que tem caráter teórico/prático tanto em relação a sua proposta quanto em relação a sua condução, a dinâmica proposta para os encontros foi:

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Oficinas expositivas/ práticas direcionadas ao desenvolvimento do produto;

Atividades semanais, em grupo ou individualmente.

Figura 28: Instrutoras e membros da comunidade reunidos para o início da oficina Fonte: O Imaginário, 2014

2. Apresentação do grupo participante (membros da comunidade) e dos relatos das suas expectativas em relação à oficina.

Figura 29: Explicação sobre a fibra e suas características Fonte: O Imaginário, 2014

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Figura 30: Instrutora Nelzia apresentando a técnica do trançado Fonte: O Imaginário, 2014

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Técnica de beneficiamento: a preparação da paleta (3 encontros de 3h cada = 9h) Objetivos: Fazer a introdução ao processo de produção de confecção da paleta. Desde da atividade de receber a paleta, selecionar, separar, molhar a palha / tirar o miolo, abastar/acertar paleta (banco com duas facas) até preparar a paleta mole para acabamento. 1. Instrutoras recebem a paleta de forma bruta para em seguida ensinar aos participantes como deve beneficiar a paleta de maneira a deixar pronta para a confecção de produtos.

Figura 31: Paleta da fibra da cana-brava bruta Fonte: O Imaginário, 2014

Figura 32: Paleta da cana-brava de molho

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Fonte: O Imaginário, 2014

Figura 33: Participantes aprendendo a beneficiar a paleta Fonte: O Imaginário, 2014

Módulo II – O trançado e acabamento em fibra de cana-brava Objetivos: Apresentar aos participantes a técnica do trançado em fibra da cana-brava a partir de moldes pré-definidos pelas instrutoras. Iniciação ao trançado (4 encontros de 3h = 12h) 1. Apresentação das técnicas de trançado e o trançado feito a partir do uso de moldes pré-definidos.

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Figura 34: Apresentação do trançado Fonte: O Imaginário, 2014

Figura 35: Instrutora explicando a participante sobre a técnica do trançado Fonte: O Imaginário, 2014

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Figura 36: Participantes exercitando o tranรงado a partir de um molde Fonte: O Imaginรกrio, 2014

Figura 37: Participantes exercitando o tranรงado a partir de um molde mais complexo Fonte: O Imaginรกrio, 2014

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Trançado em peças de baixa complexidade (4 encontros de 3h = 12h) Objetivos: Uma vez que os participantes tenham praticado a repetição da técnica, passam a treinar em peças com maior nível de complexidade. 1. Execução de algumas peças de baixa complexidade de modo a desenvolver a habilidade manual e o conhecimento da técnica pelo aluno.

Figura 38: Participantes em exercício prático Fonte: O Imaginário, 2014

Figura 39: Instrutora auxiliando alunas no exercício

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Fonte: O Imaginário, 2014

Figura 40: Jovem artesã replicando uma peça Fonte: O Imaginário, 2014

Acabamento e qualidade das peças (3 encontros de 3h = 12h) Objetivos: Apresentar aos participantes a técnica de acabamento e controlar a qualidade do produto. 1. Apresentação das técnicas de acabamento e verificação de qualidade em peças confeccionadas com fibra de cana-brava; Arremate das bordas; Retirada dos fiapos; Atividades de exercício prático. Produzir uma peça do início ao fim.

Figura 41: Participantes dando o arremate nas peças

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Fonte: O Imaginรกrio, 2014

Figura 42: Participante retirando os fiapos das peรงas Fonte: O Imaginรกrio, 2014

Figura 43: Participantes com suas peรงas quase finalizadas Fonte: O Imaginรกrio, 2014

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Encerramento (3 encontros de 3h = 12h) Objetivos: Promover a integração com instrutores, participantes e convidados com a finalidade de encerrar a oficina, avaliando os pontos positivos e as oportunidades de melhoria e possíveis perspectivas para novas oficinas.

Figura 44: Preparação para confraternização de encerramento Fonte: O Imaginário, 2014

Figura 45: Instrutoras Adélia e Nelzia Fonte: O Imaginário, 2014

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Figura 46: Participantes e instrutora Fonte: O Imaginário, 2014

Resultados Como resultado importante, algumas participantes aprenderam a técnica do trançado com rapidez e já foram incorporadas ao grupo Artesanato Cana-Brava para auxiliar a demanda de uma encomenda de cestos. Aproveitando o interesse e disponibilidade das participantes, a instrutora Adélia combinou com as participantes para ensinar a serigrafia, técnica também praticada pelo grupo. Segundo a instrutora Adélia: “Esse curso foi uma experiência boa, pois despertou na outra instrutora, também artesã, a capacidade de dividir o conhecimento”.

b. Oficina Técnica de Papel A Oficina de repasse da técnica de produção e modelagem do papel LMAIS foi realizada também no CVT Marisqueira com foco no grupo de artesãs do grupo Quilombolas de São Lourenço no período de março a junho de 2014. A oficina foi ministrada pela artista plástica Suzana Azevedo com carga horária de 120 h, sendo 02 (dois) encontros por semana com 4h de duração. O objetivo da oficina foi de desenvolver novos produtos visando apresentação na Fenearte.

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Figura 47: Reuniões do grupo das Quilombolas com a artista plástica Suzana Azevedo Fonte: O Imaginário, 2014

Figura 48: Testes de modelagem da massa de papel Fonte: O Imaginário, 2014

c. Oficina de Desenvolvimento de Produtos em Marisco A Oficina de Desenvolvimento de Produtos em Marisco foi realizada no CVT Marisqueira/ Goiana para moradores dos distritos de São Lourenço e de Ponta de Pedras, ambos municípios de Goiana PE, no período de janeiro a maio de 2014. A oficina foi ministrada pelo designer Ticiano Arraes. A carga horária total da oficina foi definida previamente para 120h, sendo 02 (dois) encontros por semana com 4h de duração. O objetivo da oficina foi de desenvolver [5] cinco novos produtos com a casca do marisco; otimizar o processo produtivo a partir da organização do fluxo de produção; criar material gráfico de divulgação do grupo produtivo e seus produtos – folder e catálogo de produtos [impresso e digital];

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Figura 49: Apresentação de referências para desenvolvimento de produtos Fonte: O Imaginário, 2014

Figura 50: Oficina para desenvolvimento de artefatos com mariscos Fonte: O Imaginário, 2014

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Figura 51: Oficina com o grupo para desenvolvimento de artefatos Fonte: O Imaginário, 2014

6.2. Produtos em fibra, papel e marisco Durante as oficinas foram desenvolvidas várias alternativas de produtos para as comunidades artesãs Artesanato Cana-Brava e Quilombolas de São Lourenço, tomando como materiais principais em sua confecção a fibra de cana-brava, o papel reciclado e o marisco.

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Figura 52: Produtos de cestaria do grupo Artesanato Cana-Brava Fonte: O Imaginรกrio, 2014

Figura 53: Produtos de papel do grupo Artesanato Cana-Brava Fonte: O Imaginรกrio, 2014

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Figura 54: Produtos do grupo Quilombolas de São Lourenço Fonte: O Imaginário, 2014

6.3. Exposição dos produtos em Feiras e Centros Especializados Foram levantadas duas opções de exposição, promoção e venda das peças confeccionadas pelos grupos produtivos envolvidos nesta pesquisa: o Centro do Artesanato de Pernambuco, como opção fixa e contínua; e a Fenearte – Feira Nacional de Negócios do Artesanato, como evento anual para lançamento de novas linhas de produtos. Portanto, as peças desenvolvidas pela parceria do Laboratório O Imaginário com as artesãs do Artesanato Cana-Brava e das Quilombolas de São Lourenco foram expostas e comercializadas na Fenearte 2014 e no Centro do Artesanato de Pernambuco. Outra oportunidade foi a seleção dos grupos Artesanato Cana-Brava e Quilombolas de São Lourenço participarem da Rodada de Negócios Internacional, realizada pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos - Apex Brasil. Ademais destas, também foi submetido e aprovado ao Edital Independente do Funcultura (gerenciado pela Fundação de Cultura de Pernambuco – Fundarpe), um projeto para elaboração de um site portfólio para os grupos produtivos envolvidos nesta pesquisa (juntamente com a Cerâmica do Cabo), denominado Mãos de Pernambuco.

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a. Centro de Artesanato de Pernambuco O Centro de Artesanato de Pernambuco está localizado ao lado do Marco Zero, no antigo armazém 11, no Bairro do Recife. O Centro do Artesanato proporciona um espaço de 2.511m² onde funciona uma loja, um espaço gastronômico, assim como uma galeria para exposição, auditório e o setor administrativo da unidade. Com foco na arte popular e no artesanato tradicional, já foram comercializadas 106 mil peças de todas as regiões de Pernambuco. O Centro dispõe de um repertório de 16 mil peças produzidas por cerca de 700 artesãos selecionados por um processo de curadoria desde sua inauguração, em setembro de 2012.

Figura 55: Centro do Artesanato de Pernambuco – Unidade Recife Fonte: O Imaginário, 2014

Figura 56: Produtos expostos no Centro do Artesanato de Pernambuco Fonte: O Imaginário, 2014

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b. XV Fenearte A Feira Nacional de Negócios do Artesanato é o maior evento do segmento de artesanato na América Latina e uma das mais importantes do mundo. A 15ª edição, ocorrida entre 2 e 12 de julho de 2014 no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda, ocupou uma área de 29 mil m². Segundo a organização, teve investimento de aproximadamente R$ 5 milhões e a um volume de negócios superior a R$ 40 milhões, e público estimado de 320 mil visitantes durante os 11 dias de realização.

Figura 57: Entrada e vista interna do pavilhão da Fenearte 2014 Fonte: O Imaginário, 2014

Figura 58: Exposição de produtos na Fenearte 2014 Fonte: O Imaginário, 2014

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Figura 59: Equipe do Imaginรกrio com as representantes dos dois grupos produtivos Fonte: O Imaginรกrio, 2014

Figura 60: Vista geral do estande unificado das comunidades na Fenearte 2014 Fonte: O Imaginรกrio, 2014

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Figura 61: Artesãs representantes dos grupos produtivos (Luciana, Cecília, Rosa e Adélia) Fonte: O Imaginário, 2014

c. Rodada Internacional de Negócios A Rodada de Negócios Internacional foi realizada no salão de eventos do Recife Praia Hotel em 2 de outubro de 2014. Organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos Apex Brasil em parceira com o Sebrae Nacional, Sebrae Minas, Sebrae Pernambuco com a participação de 30 artesãos em representação individual ou coletiva e organizações de intermediação de produção artesanal. O objetivo foi promover o encontro entre nove compradores internacionais (França, Suíça, Alemanha e Estados Unidos) e artesãos do Estado de Pernambuco. Esses compradores representam empresas estrangeiras, especializadas no comércio de artesanato, com interesses em comprar produtos e leválos para serem vendidos em lojas de museus e de departamentos, galerias de arte, pequenos centros comerciais e boutiques em seus países. Como resultado, uma compradora internacional americana, Amanda Ottoienghi Bosca, ficou interessada pelo portfólio de produtos do Artesanato Cana-Brava/Quilombolas de São Lourenço e na ocasião o produto que despertou a atenção da compradora com maior potencial e valor agregado foram os colares de marisco. Ela comprou um mostruário para apresentar as suas clientes da loja do Museu e caso exista o interesse entrará em contato para negociar novos modelos e cores de colares.

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Figura 62: Artesãs Jozelma e Adélia durante a rodada de negócios Fonte: O Imaginário, 2014

Figura 63: Exposição dos produtos do Artesanato Cana-Brava e material de comunicação visual. Fonte: O Imaginário, 2014

d. Site Mãos de Pernambuco O site Mãos de Pernambuco é um portfólio virtual para as comunidades produtoras de artesanato apoiadas pelo Laboratório O Imaginário. O Centro de Artesanato do Cabo, o grupo de Quilombolas de São Lourenço e o grupo Artesanato Cana-Brava tem distintas produções, mas elevado grau de organização.

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O objetivo do site Mãos de Pernambuco é ampliar a visibilidade dos grupos produtivos envolvidos e agregar valor aos produtos. Não existe cobrança de nenhuma das partes envolvidas, funcionando tão somente como uma apresentação das peças aos interessados. A negociação final para aquisição das peças acontece diretamente entre produtor e comprador. Esta iniciativa foi possível graças ao patrocínio da Governo do Estado de Pernambuco e da Fundarpe, por meio do Funcultura.

Figura 64: Página inicial do site Mãos de Pernambuco Fonte: O Imaginário, 2014

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7. Considerações Finais A pesquisa intencionava que o direcionamento para a promoção da inclusão produtiva e do desenvolvimento social sustentável pudesse articular pesquisa aplicada e extensão tecnológica as vocações econômicas e produtivas das localidades, uma vez que pretendia a aplicação da ciência e de novas tecnologias na inovação de processos e produtos, tendo como foco principal o aproveitamento das potencialidades locais e a geração de maiores e melhores oportunidades de emprego e renda, com inclusão produtiva, social e econômica para mulheres de baixa renda (Artesanato Cana-Brava) e de povos e comunidades tradicionais (Quilombolas de São Lourenço). Para tal, definimos como premissas para a execução do projeto: O aspecto criativo e econômico – pela articulação dos grupos produtivos e comunidade local, mobilizados pela inclusão produtiva, por meio da implementação de novos processos e produtos voltados à geração de renda, e da disseminação desse conhecimento para mulheres de baixa renda e comunidades tradicionais; O aspecto social e cultural — por se tratar de comunidades tradicionais, o projeto pretende reconhecer e respeitar as práticas de trabalho utilizadas, a história do povoado e suas referências culturais. Esses valores e práticas serão incorporados aos novos produtos ao mesmo tempo em que servirão como fundamento para estabelecer acordos para a gestão dos grupos; O aspecto ambiental e sustentável — pois pretende intervir de forma planejada e de maneira a intensificar a relação homem–natureza, aumentando os benefícios mútuos gerados dessa relação. Isso diz respeito à reutilização de refugos naturais como insumo para o desenvolvimento de novos materiais, e a uma lógica sustentável de utilização dos meios produtivos e ambientais. Essa lógica envolve também uma educação ambiental experimentada a prática das ações e processos de aprendizado; O aspecto educacional — o projeto contribuirá para que os participantes tenham opções profissionais, elevando a autoestima dos partícipes da comunidade e possibilitando maior envolvimento destes na realização das outras ações. A relação da comunidade acadêmica (UFPE) e comunidade local (grupos produtivos e população do entorno) possibilitarão a troca entre os saberes - popular/ tradicional e acadêmico/ tecnológico, norteados pela relação e indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, com foco no desenvolvimento das comunidades envolvidas. Diante das ações apresentadas, acreditamos que avançamos com os resultados das ações e que esta será mais uma semente no campo da necessidade urgente de preservar a identidade e os valores simbólicos do rico e variado artesanato do Estado de Pernambuco. Como resultado, foi submetido no final de 2014 o artigo INNOVATION IN FIBROUS COMPOSITE FOR APPLICATION IN CRAFT PRODUCT DESIGN no The 6th International Conference on Applied Human Factors and Ergonomics (AHFE 2015) que ocorrerá em Las Vegas, USA, entre 26 e 30 de Julho de 2015 [ver apêndice 01].

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8. Referências Bibliográficas AD/Diper. Artesanato de Pernambuco – III Fenneart Edição Especial. Recife: AD/Diper, 2002. AD/Diper – Fenearte Feira Nacional de Negócios do Artesanato. Fenearte Catálogos das Feiras V a XV. Recife: AD/Diper, 2004 a 2014. AMORIM, Maria A. Patrimônios Vivos de Pernambuco. Segunda Edição Revisada e Ampliada. Recife: FUNDARPE, 2014. ANDRADE, Ana; CAVALCANTI, Virgínia (organizadoras) Imaginário Pernambucano: design, cultura, inclusão social e desenvolvimento sustentável. Recife: Zoludesign, 2006. ANDRADE, Ana Maria Queiroz de; SILVA, Germannya D Garcia de Araújo; BOTELHO, Vinicius Simões; CAVALCANTI, Virginia. P. Design metholology and sustainability: between crafwork production and industrial production. In: Changing the change - design visions proposals and tools,2008. ANDRADE, Ana Maria Queiroz de; TABOSA, T. C. M. C.; SILVA, G. D. A.; CAVALCANTI, Virginia Pereira. Local sustainable development and design-craftwork intervention model. In: 4º INTERNATIONAL FORUM OF DESIGN AS A PROCESS, 2012, Belo Horizonte. BAUER, Martin W; GASKELL, George. Pesquisa Qualitativa com Texto, Imagem e Som: um manual prático. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2008. BERTUCCI, Ademar. Sistematização de Experiências da Economia Solidária. Porto Alegre: Cooperativa Catarse Coletivo de Comunicação, 2012. BORGES, Adélia. Design + Artesanato: o caminho brasileiro. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2011. BOSI. Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. CANEVACCI, Massimo. Antropologia da Comunicação Visual. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. CARDOSO, Cármen; CUNHA, Francisco C da. Repensando a Organização: uma abordagem psicossociológica. Recife: Instituto de Tecnologia e Gestão, 2005. CARDOSO, Denis. Uma Introdução a História do Design. São Paulo: Edgar Blülcher, 2004. CASTRO Cláudio M. A Prática da Pesquisa. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1978. CAUDE, Roland. Como se Documentar. Lisboa/ Portugal: Editorial Pórtico, 2001. CAVALCANTI, Virgínia P; ANDRADE, Ana M; SILVA, Germannya D; TABOSA, Tibério C M. “Sustainable Design in Communities Producing Arts and Crafts: an experience in Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco – Brazil”. Artigo aprovado para apresentação e publicação nos anais do I International Symposium on Sustainable Design, realizado na cidade de Curitiba/PR, em setembro de 2007. CAVALCANTI, Virginia. P.; CAMPOS, C.; ANDRADE, Ana Maria Queiroz de; SILVA, Germannya D’Garcia de Araújo; CORDEIRO, E. J. D. Ergonomia e design: soluções para implementação de melhorias na produção de cerâmica artesanal do Cabo de Santo Agostinho. In: 7º ERGODESIGN, Balneário do Camboriú, 2007 CAVALCANTI, Virginia. P.; ANDRADE, Ana Maria Queiroz de; SILVA, Germannya D DEMO, Pedro. Metodologia do Conhecimento Científico. São Paulo: Atlas, 1995. FISHER, Tânia; SOARES, Rodrigo. Mestres em Artes e Ofícios Populares. Salvador: UFBA, CIAGS,2010. FREITAS, Sônia M de. História Oral: possibilidades e procedimentos. São Paulo: Associação Cultural Humanitas, 2006. GULLAR, Ferreira. Poesia Primeira. In: Artesanato do Brasil. Brasília: Reflexos/Shadow Design – Sebrae Nacional, 2001 HALBWACHS, Michael. A Memória Coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.

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9. Apêndice 9.1. Comprovante de submissão de artigo – AHFE Resumo O presente trabalho apresenta os primeiros resultados do desenvolvimento de materiais compósitos fibrosos a partir do tecido da fibra de cana brava, principal matéria prima dos grupos de artesanato Cana Brava e Quilombolas de São Lourenço, apoiados pelo Laboratório de Design O Imaginário, desde 2003. Essa ação está inserida num objetivo maior que é o de promover a inclusão produtiva e o empreendedorismo criativo nos grupos de mulheres artesãs no Município de Goiana Estado de Pernambuco - Brasil. Os compósitos poliméricos fibrosos foram preparados, inicialmente, com matriz de resina termofixa de poliéster e carga de reforço a partir de dois tamanhos distintos do tecido fibroso. As propriedades mecânicas de resistência e rigidez (módulo de elasticidade) foram determinadas para os ensaios de tração uniaxial descritos na norma ASTM D3039-00. Os resultados do ensaio mecânico apontam para ganhos na resistência mecânica do material, com grande potencial de uso no desenvolvimento de novos produtos. O reaproveitamento do resíduo de matérias-primas naturais como inovação tecnológica no design dos produtos promove também vantagens competitivas nos âmbito técnico, econômicos e ambientais, o que beneficia os grupos integrantes desta cadeia produtiva local.

Abstract This research presents the first results of the development of composite fibrous materials from the braided wild cane fiber, the main raw material used by the groups Artesanato Cana Brava and Quilombolas de São Lourenço, supported by O Imaginário Design Lab, since 2003. This action is included in a larger goal which is to promote productive inclusion and creative entrepreneurship among the craftswoman groups from Goiana, Pernambuco - Brazil. The composite fibrous polymer were prepared, initially, based on a polyester thermosetting resin and load reinforcement from two different sizes from the the braided wild cane fiber. The resistance and strength mechanical properties (modulus of elasticity) were determined to the uniaxial tensile tests described on ASTM D3039-00. The mechanical testing results point out gains in the mechanical resistance of the material, with great new products development use potential. The reuse of raw material residue as a technological innovation in the design of products also promotes competitive advantages in the technical, economical and environmental fields, which benefits the groups integrated in this local productive chain.

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04/02/2015

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De: Germannya Silva (germannyadgarcia@gmail.com) Enviada: sexta­feira, 19 de dezembro de 2014 00:34:27 Para: Erimar Cordeiro (erimar.cordeiro@gmail.com) essa é a comprovação de um artigo submetido a evento ­­­­­­­­­­ Forwarded message ­­­­­­­­­­ From: AHFE 2015 Administrator <admin@ahfe.org> Date: 2014­12­13 23:31 GMT­03:00 Subject: AHFE 2015: Submission Confirmation ID 311 To: germannya@yahoo.com.br Dear Germannya Silva, We have received your submission for AHFE 2015 International Conference. Submission ID: 311 ­ Title: INNOVATION IN FIBROUS COMPOSITE FOR APPLICATION IN CRAFT PRODUCT DESIGN Your abstract will be sent for review, if this is an invited submission then your session chair will be informed, and you will be notified regarding the outcome after 15 Dec 2014. Please visit our website at http://www.ahfe2015.org to view all conference details. Thank you for your contribution. AHFE 2015 Administration ­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­ Conference Website: http://www.ahfe2015.org Questions? Please send to: ahfeadmin@ahfe.org

­­ Profa. Germannya D'Garcia, Dra. Núcleo de Design ­ CAA/UFPE Coord. de Produção do Lab. O Imaginario ­ UFPE (81) 87153799 (TIM) / (81) 32260423 (Lab)

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