Por uma escrita audiovisual tikmũ’ũn_maxakali: formação de um coletivo de cinema entre jovens realizadores
409306/2013-4 Chamada 2003 CNPq/SEC/MINC
Coordenação: Rosângela Pereira de Tugny Autores do relatório: Ana Carolina Estrela, Ricardo Jamal, Bruno Vasconcelos, Rosângela Pereira de Tugny Equipe: Coordenação de oficinas: Ana Carolina Estrela, Ricardo Jamal, Bruno Vasconcelos, Bernard Belisário Integrantes colaboradores das oficinas: Sofia Cupertino. Eduardo Rosse, Douglas Campelo, Ildélia Ferreira Rosa Relatório técnico Um breve histórico Em 2009, oficinas de cinema realizadas na aldeia Vila Nova, no território do Pradinho, renderam três principais filmes: Acordar do Dia (2009), Caçando Capivara (2009) e Tatakox Vila Nova (2009), tendo sido os dois últimos premiados e exibidos em muitos festivais e mostras pelo país, sendo que Tatakox (2009) foi realizado de modo autônomo pelos Maxakali, logo após o período de oficinas. Em 2011, as oficinas de cinema continuaram, através do projeto "Por uma escrita audiovisual Maxakali", do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa (INCTI). Na ocasião, professores Maxakali se apropriaram de técnicas de filmagem e edição, principalmente para criar formas alternativas e potentes de formulação didática e ação política através das imagens. O projeto seguinte, em 2013, “Convivência e ancestralidade no território tikmu’un”, realizado com recursos do PROEXT (MEC) promoveu encontros entre os Maxakali e seus parentes Pataxó, e a produção de vídeo funcionou como instrumento de partilha e encontro entre aldeias, e, sobretudo, de interação com muitas escolas nos municípios próximos às reservas indígenas. Ao mesmo tempo, desde 2007, a Aldeia Verde também mostrava uma grande produção cinematográfica, em projetos promovidos pela UFMG, Associação Filmes de Quintal e Vídeo nas aldeias, produzindo filmes também premiados e exibidos em festivais, como Tatakox (2007), de Isael Maxakali, e Quando os Yãmĩy vêm dançar conosco (2011), além de produções realizadas com a Pajé Filmes. Todas elas levaram Isael a mostras e festivais, inclusive na Colômbia. Além dessas atividades voltadas para a realização de filmes nas aldeias, todas as pesquisas realizadas pelos Maxakali em conjunto com a Escola de Música da UFMG, desde 2002, envolviam exibições audiovisuais e filmagens que renderam um vasto acervo, que até hoje origina novos projetos de filmes. O COLETIVO DE CINEMA MAXAKALI: INÍCIO A ideia de criar um Coletivo de Cinema Maxakali começou a ser mais objetivamente formulada em 2012, quando percebeu-‐se um grande interesse de
jovens aprendizes e cineastas pelo uso do cinema como forma de comunicação e produção cultural e política. Através dos filmes, suas histórias e rituais, além de suas técnicas materiais, caçadas e conhecimentos ambientais, eram reproduzidos e transmitidos a outras aldeias, escolas e cidades, consagrando o cinema como potencializador de todas essas atividades. Em 2013, realizamos a primeira reunião, na aldeia Vila Nova, para propor a formação do Coletivo e começar a planejar seu funcionamento. Estiveram presentes mais de vinte jovens aprendizes e cineastas, além de lideranças políticas e religiosas. Aliás, desde o início, a atividade de produção de filmes sempre envolveu não só cineastas, mas caciques e pajés, uma vez que, para os Maxakali, a imagem possui um grande valor político e xamânico, não sendo possível separar a realização cinematográfica das outras instâncias de pensamento e organização tradicional. Considerando o grande envolvimento desses realizadores, mas também de todas as comunidades participantes, é que foi gestada a ideia de se criar um coletivo de cinema maxakali e uma associação por meio da qual ele pudesse atuar, realizando trabalhos, captando recursos, recebendo pagamentos e emitindo notas fiscais. Assim, com o presente projeto, poderíamos oportunizar oficinas de audiovisual, de empreendedorismo e de direitos indígenas, para irmos pouco a pouco concretizando o que estava ainda, em partes, no plano das ideias. ATIVIDADES NO ÂMBITO DO PROJETO Durante os meses de Julho e Agosto de 2014, e posteriormente em dezembro 2014, janeiro e fevereiro 2015, foram realizadas então oficinas de cinema na terra indígena do Pradinho (Bertópolis -‐ MG), na Aldeia Verde (Ladainha -‐ MG), e na aldeia Cachoeirinha (Topázio -‐ MG), onde há um histórico mais grave de miséria, violência e alcoolismo. Durante quase dois meses, um pequeno grupo com integrantes dessas três aldeias acompanhou e filmou uma atividade paralela, que constituía em uma capacitação, com o acompanhamento de uma advogada da região, em assuntos jurídicos e econômicos. Na ocasião, a presença de jovens cineastas e lideranças de cada aldeia nas outras aldeias contribuiu para a troca de saberes e experiências, bem como para um esboço de como poderia atuar o Coletivo de Cinema. Os Maxakali filmaram-‐se trocando narrativas e depoimentos sobre graves abusos sofridos na região, e discutiram formas de se relacionar com as atividades comerciais nas cidades, com os bancos e com as autoridades locais e regionais. Na Aldeia Verde, foi realizada uma grande feira com produtos dos próprios Maxakali, e alguns filmes começaram a ser produzidos para circular entre as aldeias, mostrando formas de circulação econômica alternativas às relações abusivas sofridas nas cidades. OFICINAS DE AUDIOVISUAL Um dos objetivos do projeto era promover oficinas de audiovisual juntamente com os jovens das aldeias envolvidos nos trabalhos. Os coordenadores das oficinas, Bruno Vasconcelos, Ricardo Jamal, bernard Belisário e Ana Carolina Estrela, atuaram na direção de possibilitar a formação continuada de alguns dos jovens indígenas e a iniciação de outros. As atividades incluíram a formação técnica na operação e cuidado com os equipamentos, exercícios diários
de filmagem, conhecimento básico de edição em software Final Cut e a gestão dos materiais fílmicos gerados. Os anciãos, peças fundamentais nos processos rituais de cura e nas decisões importantes que as comunidades precisam tomar, atuaram ativamente nas oficinas de audiovisual. Em alguns momentos, faziam exortações aos jovens filmadores, lhes explicando como deve ser o olhar daquele que filma, bem como indicando outras posturas para se realizar um bom trabalho. Não obstante a importância da vertente mais técnica do conhecimento e das orientações dos pajés, o plano era o de que a câmera poderia também ser utilizada como arma contra os preconceitos e abusos sofridos pelos Maxakali. Contra o preconceito porque eles poderiam mostrar sua autoimagem, tanto para as populações vizinhas quanto em âmbito nacional1. Contra os abusos sofridos porque a câmera poderia servir como ferramenta de denúncia do tratamento que recebem dos comerciantes locais – como a retenção de cartões bancários por onde os Maxakali recebem salários pelo trabalho como professores, profissionais da área de saúde e benefícios do governo, como o bolsa família, os maus tratos, sistemas de endividamento, falta de controle das compras por meio de notas fiscais, que não recebem, dos produtos adquiridos – bem como diante dos fazendeiros, que permitem a entrada em terras indígenas do gado de suas fazendas e promovem a venda ilícita de bebida alcoólica. Uma parte importante foi acompanhar de perto essa relação. Em que pese as relações comerciais, além de terem sido relatados verbalmente detalhes de como os Maxakali são geralmente tratados nos comércios locais, os jovens foram até as cidades do entorno das aldeias por onde o projeto passou e registraram momentos de compras das famílias. Em cada contexto pudemos observar diferenças. Nas cidades do entorno da Terra Indígena do Pradinho, como Batinga e Bertópolis, os Maxakali tinham muitos de seus cartões em poder dos comerciantes e recebiam um tratamento um tanto rude, com relatos de recentes violências físicas. Após os trabalhos, tivemos notícias de que alguns comerciantes resolveram entregar os cartões de volta aos índios. O mesmo pareceu caracterizar a vida dos moradores da Aldeia Cachoeirinha, que fica em Topázio (MG), distrito de Teófilo Otoni. Essa população, marcada por uma extrema vulnerabilidade social, além de uma relação igualmente problemática com os comerciantes está em um território muito pedregoso e com acesso a cidade bastante difícil. Isso porque as estradas são muito íngremes e tortuosas. Em dias de chuva, nem mesmo as caminhonetes da Funai ou da Cesai, que presta assistência de saúde, conseguem chegar até a aldeia. Ainda ouvimos relatos de fazendeiros que “arrendavam” parte da terra indígena para que seu gado pastasse, dando em troca bebidas alcoólicas. Já na cidade de Ladainha, por exemplo, onde está a Aldeia Verde, os Maxakali têm muito mais liberdade para fazerem suas compras, o que não quer dizer nada muito além do direito de ir e vir dos demais cidadãos. Nos diversos mercados eles podem entrar e pegar um carrinho, para escolherem seus produtos com alguma tranquilidade, sem muito assédio dos comerciantes. Prova dessa aceitação maior que têm em Ladainha é que conseguiram, por exemplo, 1 Veja-‐se por exemplo que nos discursos das lideranças maxakali, frequentemente ouvimos frases
como “o Brasil inteiro vai ver agora a nossa cultura, o nosso conhecimento, vai como é que é”.
durante a realização das atividades do projeto, com o dono de um dos mercados (que também é dono de uma rádio local), que fosse feita uma entrevista com Isael Maxakali, importante liderança, para que ele falasse do trabalho que estava acontecendo na aldeia, sobre o que estava sendo posto em questão. Isso, obviamente, faz com que as pessoas da cidade respeitem mais os Maxakali, ao observarem que eles estão dispostos a fazerem valer seus direitos, se informando e criando meios de registrarem o modo como são tratados em suas idas à cidade. Ainda em Ladainha, os moradores da Aldeia Verde, juntamente com os visitantes de outras aldeias, fizeram uma excursão para a feira da cidade, onde puderam entrevistar o prefeito. Interessante ressaltar que, no âmbito mesmo do tema da economia criativa, os moradores da Aldeia Verde realizam, eles próprios, aos domingos, uma feira na aldeia. A feira conta com a participação de pessoas vizinhas que acabaram gostando da ideia e que levam também suas coisas para comercializarem na aldeia: frango vivo, frango assado, pastéis fritos e biscoitos. Os Maxakali vendem diversos produtos, tais como lenha, canjica, balas e doces, refrigerante, bolinho de trigo e peças de seu artesanato. Tudo foi igualmente registrado em vídeo pelos jovens realizadores. Essas filmagens, além do exercício e formação dos videastas, funcionam como registros de uma autoimagem e também como videocartas, que chegam até outras aldeias, operando na partilha de experiências, fundamental para o empoderamento das comunidades que se encontram em maiores dificuldades. OFICINAS DE EMPREENDERORISMO E DIREITOS INDÍGENAS Diante desse cenário politicamente muito tenso, tiveram um lugar importante as oficinas de empreendedorismo e direitos indígenas, conduzidas pela advogada Ildélia Ferreira Rosa – mas também com o auxílio de Ana Carolina Estrela, Bruno Vasconcelos e Ricardo Jamal – que vive na cidade de Bertópolis e integrou a equipe do projeto. Nelas foram realizadas discussões sobre os direitos e deveres das populações indígenas, sobretudo no que tange ao trânsito deles nas cidades e à relação com comerciantes, fazendeiros e funcionários dos órgãos governamentais com os quais interagem direta e diariamente. Nessas ocasiões, investimos na capacitação dos participantes indígenas para a realização de compras de maneira mais segura, como incentivar a reivindicação de recebimento de notas fiscais de suas compras nos mercados e o controle dos gastos por meio do uso de calculadora. Nesse sentido, tentamos sempre ressaltar os direitos dos consumidores diante dos donos dos estabelecimentos comerciais. Também foi tópico da oficina a capacitação para o uso dos cartões bancários, que frequentemente estão em poder dos donos dos mercados. No decorrer das oficinas, as lideranças e jovens realizadores estiveram sempre muito envolvidos nas atividades, bem como as mulheres e crianças. Cabe dizer que as mulheres é que muitas vezes fazem as compras para a família e que têm o benefício do bolsa família. Com o intuito de atender a esse público variado, e para além da óbvia alteridade já presente, buscamos utilizar nos trabalhos métodos tais como dinâmicas de encenação da relação com os comerciantes, filmagem de como se dá a compra nas cidades, registrando a relação dos moradores de cada aldeia com as respectivas prefeituras locais, elaboração de ilustrações a respeito dos abusos sofridos e dos descontentamentos e posterior relato coletivo.
Todas essas atividades nos pareceram muito importantes de serem levadas a cabo, com vistas a preparar o terreno para a formação de uma associação por meio da qual pudesse atuar, embora não exclusivamente, o coletivo de cinema maxakali. Via de regra, os projetos dos órgãos governamentais sugerem – em coro com grande parte das populações envolventes – que os Maxakali devessem ser agricultores ou criadores de gado, por exemplo. No entanto, o uso obstinado com que se dedicam os Maxakali ao cinema (haja visto a recente, porém exitosa, história desses povos com as produções audiovisuais) sugeriu que o cinema pudesse ser uma via privilegiada na criação de um processo de economia criativa. Isso porque também o envolvimento das comunidades nesses trabalhos é bastante generalizado. Junte-‐ se a isso, o potencial de denúncia do cinema frente aos abusos econômicos de que são vítimas essas populações tradicionais. Ao mesmo tempo, ainda, criando a possibilidade de mostrar sua autoimagem, sua versão da história. Afinal, nenhuma economia se sustentaria sem a necessária correção dos abusos vigentes atualmente. Esse trabalho, porém, é lento, pois combate forças que existem desde há muito tempo e em âmbito nacional, inclusive como política de Estado. Nesse sentido, os cineastas Maxakali se mobilizaram para realizar uma série de filmagens concisas (de modo a poderem ser mais eficazmente visionadas através internet, por exemplo) direcionadas ao Ministério Público, cuja atuação na região atualmente se mostra mais sensível às questões indígenas, buscando expor o histórico de violências e invasões de suas terras, cometidas por seus vizinhos não indígenas. Nessas filmagens, cineastas experientes, pajés e jovens aprendizes do audiovisual percorreram diversos pontos de seu território, rememorando momentos específicos de conflitos na história recente destes povos. Tais narrativas cumprem duplamente a função de permitir uma comunicação dos indígenas com o universo dos possíveis aliados brancos a sua causa, expondo as questões mais prementes, assim como buscam difundir entre os jovens Maxakali a crônica de seu histórico de lutas em busca da efetivação de seus direitos, constituindo um gesto de escrita, através do audiovisual, de sua história. Acondicionamento e mapeamento do acerbo digital Um intenso trabalho de revisão de todo o acervo audiovisual da pesquisa, com realização de acondicionamento em novos HDs foi realizado partindo de oficinas com jovens realizadores. Tal tarefa, de difícil gestão técnica e informativa, foi compartilhada como modo de formação dos jovens para a discussão posterior sobre a criação de Centros de cultura e registro audiovisual nas aldeias indígenas. O mapeamento seguira em anexo em arquivo separado, devido à grande quantidade de dados. CONTINUIDADE Apesar de terem-‐se realizado longas oficinas nas aldeias, a formação de cineastas deve ser uma atividade contínua, e o trânsito de professores, aprendizes, cineastas e lideranças deve ser permanente. Tentando manter minimamente o ritmo, propusemos ainda duas viagens de jovens cineastas participantes do Coletivo a Belo Horizonte, para dar continuidade ao projeto. Na primeira viagem, Alexandre Maxakali e Cassiano Maxakali, filhos do cineasta
Isael Maxakali, da Aldeia Verde, dedicaram-‐se, durante quase duas semanas, à legendagem e edição de um filme iniciado durante as atividades de Julho, na aldeia Cachoeirinha: A Flecha e a Rede (2015). O filme mostra uma anciã recolhendo a árvore Embaúba, para confeccionar bolsas e redes, e um caçador procurando material na mata e depois confeccionando flechas. A atividade foi bastante proveitosa, e os aprendizes se mostraram bastante interessados em continuar produzindo filmes, fazendo diversas sugestões para projetos futuros. Além das oficinas, os dois aprendizes também acompanharam parte do curso "Cosmociências: Cinema e Pensamento Maxakali”, integrante do “Programa de Formação Transversal Encontro de Saberes na UFMG”, ministrada por Isael e Sueli Maxakali na UFMG. Na segunda viagem a Belo Horizonte, os jovens cineastas do Pradinho, Marilton Maxakali e Josemar Maxakali, vieram realizar um trabalho que também dava continuidade às atividades de Julho. Ambos trabalharam na seleção e legendagem de filmagens realizadas nos limites territoriais da terra indígena Maxakali (Bertópolis/Santa Helena de Minas – MG). Estas filmagens, como mencionamos, constituem um motivo de interesse continuado por parte dos cineastas, lideranças e pajés Maxakali por registrar os pontos de seu território ancestral em sua estreita ligação com eventos históricos e míticos protagonizados pelos seus antepassados, tanto os recentes como os remotos. Fazemos aqui um breve parênteses, pois sabemos como entre os povos ameríndios a historicidade dos grupos se constitui de maneiras muito diversas daquela proposta pela historiografia ocidental, esta orientada por uma concepção de tempo unitário e uma cumulação sucessiva de eventos, em sequência cronológica. A evocação específica do tempo e da historicidade entre os Maxakali, nos quais eventos passados em um contexto mítico se avizinham de eventos que reconheceríamos como históricos, encontram nessas filmagens recentes por seu território um importante âmbito de expressão. Notamos que estas atividades de produção de cinema geram contextos de aproximação entre diferentes saberes e competências, em especial entre os saberes tradicionais mobilizados por experientes pajés e as novas práticas expressivas, em geral manejadas pelos jovens, propiciadas pelo advento do audiovisual. Sendo um processo orientado de acordo às coordenadas dadas por suas lideranças e sábios, os Maxakali têm conduzido o modo como apreendem as potencialidades do audiovisual em relação a suas coordenadas cosmológicas, de modo a poder controlar seus efeitos. Mencionamos um exemplo -‐ a evocação dos antepassados mortos é sempre uma questão delicada entre estes povos, uma vez que a rememoração destes antepassados pode suscitar processos de adoecimento entre eles, e requer a atuação xamânica de seus pajés. Ao mesmo tempo, as filmagens que mencionamos acima, que frequentemente denunciam o histórico de violências cometidas contra indígenas por parte dos vizinhos e invasores brancos de seu território, evocam via de regra pontos em seu território onde seus antepassados foram vítimas fatais de tais violências. Os perigos postos pela evocação de ancestrais desaparecidos é contraposta assim à estreita colaboração entre os pajés e os cineastas indígenas, que atuam em conjunto na realização de sua prática audiovisual. Em suma, o audiovisual parece estar sendo introduzido nas práticas dos povos Maxakali, sob observância atenta de suas lideranças e sábios, em certa conformidade a seus princípios cosmológicos e a seus postulados de realidade. Trata-‐se de uma arma em defesa de seus direitos e de
mais um recurso no auxílio de suas tão estimadas práticas de memória – através das quais seus espíritos aliados e seus cantos, e com eles toda uma gama imensa de conhecimentos linguísticos e ecológicos, se preserva e se projeta – como num filme – no presente, e para o futuro. Para além de tais reflexões, o projeto possibilitou iniciativas como o trabalho que deve se iniciar pelo Ministério Público Federal, “Observatório das políticas públicas junto aos povos Maxakali”, envolvendo a UFMG e a UFSB e a realização de oficinas de vídeo. Possibilitou que os centros de cultura da região inserissem em sua agenda a promoção dos cineastas Maxakali, como foi o caso da Mostra de filmes realizada pelo Centro de Cultura de Governador Valadares em abril de 2015 e a possibilidades de novas colaborações com o Museu do Indio-‐ FUNAI. Estudantes de mestrado, doutorado, e de iniciação científica se envolveram no projeto, tendo participado de eventos científicos, defendido dissertações, ou estando em fase de conclusão e mesmo podido ingressar em Programas de pós-‐graduação. Apresentamos a seguir algumas produções dos pesquisadores colaboradores do projeto: 1. Roberto Romero, doutorando no PPGAs, Museu Nacional, UFRJ: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4432641T9 • A Errática tikmũ'ũn_maxakali: imagens da Guerra contra o Estado (dissertação) • Sedução e Sedição: por uma contra-‐história da conquista dos Vales do Rio Doce e Mucuri (apresentação) • Paisagens cantadas: o nomadismo cosmológico tikmũ'ũn_maxakali (apresentação) 2. JAMAL JÚNIOR, J. R. Doutorando do PPMUS da Escola de Música da UFMG http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4255979P7 • De corpos e artefatos sonoros: exemplos etnográficos tikmũ'ũn-‐maxakali. In: VII Encontro Nacional da Associação Brasileira de Etnomusicologia -‐ VII ENABET, 2015, Florianópolis. Anais VII ENABET, 2015. • Jamal Júnior e Cupertino, Sofia: "Perguntas para abrir o mundo". Revista Urbânia 3. Bernard Belisário. Doutorando em Comunicação social do PPGCOM UFMG http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4476180J3
• Dissertação defendida em 2014. As Hipermulheres: cinema e ritual entre mulheres, homens e espíritos. Dissertação de mestrado. PPGCOM/UFMG. • Artigos publicados ou em vias de publicação (período 2014-‐2015): • BELISÁRIO, Bernard. 2015a. Os itseke e o fora-‐de-‐campo no cinema Kuikuro. In: Devires, 11 (1). (aprovado para publicação). • 2015b. Ressonâncias entre cinema, corpos e cantos em As Hipermulheres. In: Galáxia, 30. (submetido). • ALVARENGA, Clarisse & BELISÁRIO, Bernard. 2015. O cinema-‐processo de Vincent Carelli em Corumbiara. In: GUIMARÃES, César et al. Limiar e partilha: uma experiência com filmes brasileiros. Belo Horizonte: PPGCOM/UFMG. (no prelo) • Mediação em eventos acadêmicos (período 2014-‐2015): 2015. Mesa: Cosmopolíticas da imagem. In: 4º Colóquio Cinema, Estética e Política. Belo Horizonte, 24 a 26 de junho de 2015, Cine 104. • Apresentação de trabalhos (período 2014-‐2015): • BELISÁRIO, Bernard • 2014. As Hipermulheres: cinema e ritual entre os Kuikuro do Alto Xingu. In: Encontro Internacional de Antropologia Visual. São Paulo (SP), 03 a 08 de novembro de 2014, FFLCH/USP. • 2015a. O fora-‐de-‐campo e as políticas do visível no cinema Kuikuro. In: 3º Colóquio de Cinema e Arte na América Latina. Niterói (RJ), 24 a 26 de agosto de 2015, IACS/UFF. • 2015b. Ressonâncias entre cinema e ritual em As Hipermulheres. In: 19º Encontro da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual. Campinas (SP), 20 a 23 de outubro de 2015, UNICAMP. 4.
Sofia Cupertino. Mestrando no PPMUs da UFMG.
http://lattes.cnpq.br/0186333263598380
• Comunicação no ENABET: Cantos Tikmũ´ũn Como Ferramenta Pedagógica Para A Desconstrução De Estereótipos Relacionados Aos Povos Indígenas Comunicação apresentada em 28/05/2015 no Grupo de Trabalho “Experiência, transmissão musical e educação” durante o VII Encontro Nacional da Associação Brasileira de Etnomusicologia – ENABET; Florianópolis, Campus da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. • Publicação nos Anais do ENABET: Cantos Tikmũ´ũn Como Ferramenta Pedagógica Para A Desconstrução De Estereótipos Relacionados Aos Povos Indígenas. In: Anais do VII Encontro Nacional da Associação Brasileira de Etnomusicologia -‐ ENABET, 2015, pág. 782 – 795. Revista Eletrônica. ISSN 2236-‐0980 . Disponível em <http://abetmusica.org.br/conteudo.php?$sys=downloads> • Projeto de dissertação: Cantos Tikmῦ´ῦn E A Desconstrução De Estereótipos Negativos Relacionados A Povos Indígenas. Projeto de pesquisa
apresentado no processo seletivo para ingresso da turma de 2015 no Programa de Pós-‐Graduação em Música – Mestrado Acadêmico da Universidade Federal de Minas Gerais. Linha de pesquisa: Música e Cultura 5 Ana Carolina Estrela da Costa. Doutoranda em Antropologia no PPGAS da UFMG. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8132348814957146 • Defesa de dissertação: COSMOPOLÍTICAS, OLHARES E ESCUTA: experiências audiovisuais e realizações cine-‐xamânicas entre os Maxakali,Ano de Obtenção: 2015. • Artigo aceito para publicação. Pescando Imagens: presença e visibilidade nos domínios da pesca e do cinema. Devires (UFMG), 2015. • Apresentações de Trabalho: Evento-‐encontro, filme-‐ritual: experiências audiovisuais e realizações cine-‐xamânicas entre os Maxakali. 2014. (Apresentação de Trabalho/Comunicação). VASCONCELOS, Bruno. ttp://lattes.cnpq.br/2693812938093782
Cosmopista Putuxop: Cinema Tikmũ’ũn-‐Maxakali em um percurso pelas terras dos Povos-‐Papagaio. Dissertação (mestrado em Antropologia Social). FAFICH -‐ UFMG, Belo Horizonte, 2015.