DETALHAMENTO DE ATIVIDADES E REGISTRO DE OCORRÊNCIAS
Como anexo a esta prestação de contas, segue o seguinte detalhamento de atividades e registro de ocorrências, nos termos do item II.4.1.2 da Chamada CNPq/MinC/SEC N.º 80/2013.
Frente aos desdobramentos da pesquisa de campo, e visando ampliar o
potencial inovador do projeto, os modelos de atitude multiatributos foram descartados como eventuais contribuições ao desenvolvimento do projeto. Isto ocorreu pois a abordagem do design thinking mostrou-se adequada o suficiente para atingir os objetivos do projeto, sem prejuízo à execução do objeto. De fato, a abordagem baseada em design prevê a criação de novas soluções cujo alcance inovador pode mudar a percepção de sentido acerca de determinado produto, processo ou serviço (VERGANTI, 2009). Assim, adotar procedimentos de coleta de dados que se limitassem a questionar os usuários sobre as suas percepções em relação às soluções existentes seria não somente contraprodutivo, mas também, traria um problema metodológico, pois reduziria a consistência interna do estudo. A alternativa de postergação desta etapa, para que fosse realizada apenas somente quando o aplicativo fosse disponibilizado para o público, também seria inviável, dado o prazo de duração do projeto. Como não houve prejuízo ao alcance do objetivo, tendo sido alcançados os resultados previstos, fica registrada esta alteração de ordem teórico-conceitual na execução do projeto.
Da mesma forma, houve a alteração do indicado à bolsa DTI-C. No projeto
originalmente submetido, foi previsto como beneficiário da bolsa o sr Joe Colombo, vinculado à Tecsinapse Tecnologia da Informação Ltda. Em seu lugar, também foi indicado um representante da empresa, cujas responsabilidades incluem o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas. Foi assim designado como beneficiário da bolsa o sr Paulo Vieira Milreu.
Frente ao conjunto de atividades na etapa de desenvolvimento do aplicativo,
uma nova instituição foi incorporada ao projeto. Trata-se da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), cuja participação ocorreu por meio da profa Dra Juliana Freitag Borin e do acadêmico Renan Camargo de Castro, ambos vinculados ao Instituto de Computação da referida instituição.
A composição dos membros que participaram da execução do projeto é
apresentada no quadro 1.
Nome
Instituição
Jeovan de Carvalho Figueiredo
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Marcos Augusto de Vasconcellos
Bolsista DTI-B
Luiz Carlos Di Serio
Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP)
Paulo Vieira Milreu
Tecsinapse Tecnologia da Informação Ltda
Juliana Freitag Borin
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Renan Camargo de Castro
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Atendendo ao inciso II.4.1.3 da Chamada CNPq/MinC/SEC N.º 80/2013, é
encaminhada proposta de artigo científico para o CNPq com vistas à possível publicação e sua divulgação por meio do Observatório Brasileiro de Economia Criativa (OBEC) e dos Observatórios Estaduais de Economia Criativa.
O produto final, o aplicativo em sua versão beta, pode ser acessado para
download no seguinte link https://play.google.com/store/apps/details?id=br.com.myflyers
Referências Bibliográficas VERGANTI, R. 2009. Design-driven innovation: changing the rules of competition by radically innovating what things mean. Boston, MA: Harvard Business Press.
OPORTUNIDADES DE INOVAÇÃO NA ECONOMIA CRIATIVA: UMA ABORDAGEM BASEADA EM DESIGN THINKING1 Jeovan de Carvalho Figueiredo2, Marcos Augusto Vasconcellos3, Luiz Carlos Di Serio4, Paulo Vieira Milreu5, Joe Colombo5, Juliana Freitag Borin6, Renan Camargo de Castro6.
Resumo: O objetivo deste trabalho foi identificar oportunidades de melhoria na integração de agentes da cadeia de valor da economia criativa, especificamente no setor de artes cênicas. Para tanto, realizou-se a coleta e análise de dados secundários e primários, por meio de bancos de dados oficiais e entrevistas semi-estruturadas. A partir dos resultados obtidos, foi possível identificar oportunidades de melhoria na integração dos agentes inseridos na cadeia analisada, por meio de a) maior efetividade na comunicação e desenvolvimento de negócios e ainda, b) da profissionalização em gestão.
Palavras-chave: Música ao vivo; teatro; ópera; empreendedores culturais; pensamento divergente; pensamento convergente.
1. Introdução
A economia criativa tem contribuído positivamente para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país. De fato, Costa e Souza-Santos (2011) identificaram que os diferentes setores que conformam a economia criativa no Brasil movimentaram, somente em 2006, cerca de 16% do PIB brasileiro. Segundo dados da Firjan (2012), no ano de 2011 o mercado de trabalho formal das indústrias criativas era composto por 810 mil profissionais, dispersos em 243 mil empresas em um setor que contribuiu com R$ 110 bilhões para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Ainda assim, os setores que compõem a assim chamada economia criativa enfrentam desafios. Estes desafios foram identificados por Costa e Souza-Santos (op. cit.), a partir de quatro aspectos, a saber: 1
Os autores agradecem o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Ministério da Cultura (MinC) para a realização deste estudo. 3 4 2 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Professor Aposentado da FGV-EAESP. FGV5 6 EAESP. Tecsinapse Tecnologia da Informação Ltda. Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
a) carência de estudos e dados aprofundados sobre o setor; b) formação de mão de obra capacitada; c) necessidade de melhor articulação entre os agentes (grifo nosso); e d) melhorar a fluidez da produção, distribuição e consumo dos bens e serviços criativos (grifo nosso).
Os pontos ressaltados no trabalho de Costa e Souza-Santos (op. cit.) justificam a realização do presente estudo, que tem como objetivo identificar oportunidades de melhoria na integração de agentes da cadeia de valor da economia criativa, especificamente no setor de artes cênicas. Para tanto, a próxima seção aprofunda o referencia teórico necessário para o conhecimento do setor estudado. Na terceira seção, os procedimentos metodológicos são ressaltados, enquanto na quarta seção os resultados são discutidos. A quinta seção apresenta as considerações finais deste trabalho.
2. Referencial Teórico
2.1 Economia criativa
A economia criativa ganhou contornos cada vez mais evidentes na última década, enquanto área de interesse de empreendedores, gestores públicos e acadêmicos. De fato, a criatividade está alterando o cenário global, não em termos da dispersão da criatividade entre as pessoas inseridas em diferentes países e culturas, mas sim, na capacidade que as diferentes regiões têm oportunizado aos indivíduos para expressarem sua criatividade e o seu talento em produtos e experiências que possam ser acessados por mercados consumidores (HOWKINS, 2001). No Brasil, o Ministério da Cultura (MinC), por meio da Secretaria da Economia Criativa, criada pelo Decreto 7743, de 1º de junho de 2012, tem como missão conduzir a formulação, a implementação e o monitoramento de políticas públicas para o desenvolvimento local e regional, priorizando o apoio e o fomento aos profissionais e aos micro e pequenos empreendimentos criativos brasileiros. Assim, o país tem criado condições para que empreendedores das mais diversas indústrias criativas sejam contemplados com políticas públicas aderentes às suas demandas e necessidades. Estas indústrias criativas podem ser categorizadas de
diferentes maneiras, mas em todas elas, estas indústrias são consideradas o cerne da economia criativa (Figura 1). Figura 1 – Economia criativa e indústrias criativas Locais Culturais Sítios arqueológicos, museus, bibliotecas, exposições
Expressões Culturais Tradicionais Artesanato, festivais e celebrações
Patrimônio
Artes Cênicas
Artes Visuais Pinturas, esculturas, fotografia e antiguidades
Editoras e Mídia Impressa
INDÚSTRIAS CRIATIVAS
Serviços Criativos
Interiores, gráfico, moda, joalheira e brinquedos
Artes
Audiovisuais Mídia
Filme, televisão, rádio, demais radiodifusões
Livros, imprensa e outras publicações
Design
Música ao vivo, teatro, dança, ópera, circo, teatro de fantoches
Arquitetônico, publicidade, P&D criativo, cultural, recreativo
Novas Mídias Software, vídeo games e conteúdo digital criativo
Criações Funcionais
ECONOMIA CRIATIVA Fonte: UNDP/UNCTAD (2010).
Assim como nas demais indústrias, o fenômeno do empreendedorismo está presente neste segmento econômico, mas com características próprias. De acordo com Lange (2011), os trabalhadores da economia criativa que optam por criar iniciativas de novos negócios criativos estão fundamentalmente inseridos em cenas3 locais, cujas construções sociais emergem principalmente a partir das narrativas dos próprios empreendedores culturais (ou culturepreneurs na abordagem proposta pelo autor). Desta forma, se por um lado os empreendedores culturais criam socialmente as narrativas pelas quais a cena em que estão inseridos é conformada, por outro, cada vez mais os receptores destas narrativas (os consumidores) tornam-se acessíveis a partir das redes sociais online. Esta característica foi analisada por Rheingold e Weeks (2012), que identificaram como traços deste novo consumidor o individualismo e a conexão permanente à internet. Turkle (2011) havia identificado anteriormente que este excesso de conectividade afetou profundamente os hábitos, valores, sentimentos e relações dos indivíduos. Como consequência desta mudança, os indivíduos se tornaram mais propensos a compartilhar conteúdos, principalmente aqueles que possuem elevado alinhamento de sentido e significado para o receptor (JENKINS, FORD, GREEN; 3
Definida por Lange (2011. p. 259) como um “contexto social que assume o papel de pré-requisito necessário para a formação do meio criativo”.
2013). O potencial de inovação derivado destas mudanças é discutido na próxima seção.
2.2 Inovação Cultural por Meio do Design Thinking
Na economia criativa, empreendedores culturais devem conceber novos produtos e experiências para consumidores em contextos de alta subjetividade. Caves (2002) sugere que nas indústrias criativas, há incerteza na demanda, e uma vez demandado o produto ou experiência, a reação dos consumidores dificilmente pode ser previamente prevista, nem tampouco objetivamente avaliada após o consumo. Assim, alternativas como o design thinking emergem como rotas possíveis para o desenvolvimento de produtos e experiências voltados para os mercados de cultura e criatividade4. Por design thinking, entende-se o conjunto de métodos e linguagens que impulsionam o esforço inovador por um profundo entendimento baseado na observação daquilo que as pessoas necessitam e desejam em suas vidas (BROWN, 2008). Beckman e Barry (2007) sugerem que adicionalmente à observação contextual, outras três etapas serão necessárias para a projetação baseada em desing thinking: os enquadramentos das variáveis identificadas no objeto de estudos, a definição das variáveis relevantes (imperativas), e a criação de soluções pragmáticas. O processo de observação se baseia no profundo entendimento do contexto de envolvimento do usuário no uso de produtos e serviços, normalmente a partir de um quadro etnográfico de referência. As percepções, sentimentos e atitudes dos indivíduos será captadas nesta etapa do processo. Já na etapa de enquadramento são definidas as variáveis indispensáveis para a projetação da solução inovadora. Essas variáveis podem incluir atores relevantes dos processos investigados; atividades realizadas; objeto investigado; eventos; sentimento dos indivíduos e outras igualmente relevantes. Na definição das variáveis-chave (imperativas), são decididas as metas que deverão ser alcançadas com a inovação. Essas variáveis imperativas normalmente são decorrentes da percepção do que os indivíduos buscam das inovações projetadas.
4
O texto seminal de Buchanan (1992) apresentou as contribuições do design thinking para a resolução dos assim chamados wicked problems, entendidos como aqueles problemas com dados incompletos, contraditórios e mesmo, requisitos mutáveis ao longo do tempo e entre classes de tomadores de decisão.
Por fim, a definição das soluções representa o aspecto mais concreto do processo de inovação. Nesta etapa a equipe envolvida pode utilizar técnicas de geração de conceitos para chegar a soluções alternativas, resultando em novos ou aperfeiçoados produtos e experiências. Estas diferentes etapas percorrem o assim chamado modelo de pensamento divergente e convergente, apresentado na figura 2. Figura 2 – Pensamento divergente e convergente Diverge
Converge
Cria Escolhas
Faz Escolhas
<- Amplia leque de possibilidades ->
-> Reduz leque de possibilidades <-
Fonte: Adaptado de Brown (2009).
O design thinking é uma abordagem adequada para o objetivo proposto neste estudo, pois ele permite a projetação tanto no contexto de inovação em produto e processos, quanto no contexto da experiência do consumidor cultural. Conforme a figura 2, estas diferentes possibilidades de esforço inovador estão presentes nas etapas da cadeia de valor da indústria criativa. Figura 2 – Inovação na cadeia de valor das indústrias criativas Macro-institucional (regulamentações, ambiente político, mercados) Produção Original Processo simbólico de valor criativo Conceito e formato do produto, conteúdo simbólico Inovação do produto e conceito
Produção
Distribuição
Consumo
Processo de distribuição
Experiência do
(varejo e exposição)
consumidor final
Estrutura de gestão e
Marketing e
Interação com o usuário
perfil profissional
comunicação
final
Arranjos organizacionais (internos / externos)
Inovação em Inovação em processo e canais
experiência e interface com o consumidor
Macro-contextual (tamanho da população, nível de educação, número de estabelecimentos, tamanho do mercado de trabalho, mudanças tecnológicas) Fonte: Brandellero e Kloosterman (2010).
No início da cadeia de valor das indústrias criativas é onde ocorre o processo original de criação de valor. Nesta etapa, significados são construídos, bem como conceitos e produtos culturais são também desenvolvidos. A inovação que ocorre neste momento é baseada em produtos e experiências (conceitos). Por sua vez, no final da cadeia, a inovação será principalmente na experiência e interface com o consumidor cultura, sendo assim mais subjetiva e simbólica. No nível intermediário, de produção e distribuição, ocorre a inovação em processo e canais. Como demonstra a seção de análise dos resultados, este é o nível de análise com maiores possibilidades de novas soluções voltadas para a integração dos agentes da cadeia.
3. Método
Para a realização deste estudo, foi adotada uma pesquisa exploratória, baseada em análise documental e análise de dados, sendo posteriormente adotada a coleta de dados primários, a partir de uma abordagem baseada em design thinking. Os dados secundários foram coletados junto a banco de dados oficiais, especificamente aqueles do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por sua vez, os dados primários foram coletados a partir de cinco entrevistas semiestruturadas, feitas com indivíduos atuantes no setor de interesse em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. As entrevistas foram realizadas entre março e abril de 2014. Os entrevistados possuem o perfil apresentado no quadro 3. Quadro 3 – Perfil dos apresentados Atividade
Gênero
Idade
Maestro
Masculino
60
Produtor cultural
Masculino
30
Professora de Técnica Vocal
Feminino
60
Ator e Produtor Cultural
Masculino
42
Músico e Produtor Cultural
Masculino
35
As questões norteadoras, utilizadas nas entrevistas semi-estruturadas, foram as seguintes:
a) Como fazer com que os fãs de empreendedores culturais possam ter acesso às informações dos artistas, e ao mesmo tempo interagir com os mesmos? b) Como fazer com que os empreendedores da indústria de artes cênicas possam disponibilizar com mais facilidade informações sobre suas criações, eventos e atividades correlatas para os seus fãs? c) Como substituir as formas tradicionais de divulgação impressa dos eventos promovidos pelos empreendedores culturais? d) Qual a melhor forma de comunicar as atividades / eventos dos empreendedores cultuais?
As questões foram elaboradas tendo como referência o setor de artes cênicas, anteriormente apresentado na figura 1 deste artigo. As transcrições das entrevistas foram registradas em anotações físicas, sendo posteriormente transferidas para cartões de papelão, a partir dos quais se buscou identificar categorias comuns nos discursos dos entrevistados. Esta etapa consistiu em ampliar o leque de possibilidades interpretativas dos dados obtidos, sendo assim realizado um esforço de pensamento divergente (BROWN, 2009) voltado para as classificações possíveis do conteúdo analisado. Como consequência, foi necessário reduziu o conjunto de possibilidades interpretativas, a partir da incorporação de escolhas condizentes ao objetivo desta pesquisa, qual seja, identificar oportunidades de melhoria na cadeia de valor da indústria criativa analisada. Os resultados deste esforço são apresentados na próxima seção deste artigo.
4. Análise dos Resultados
Frente aos objetivos deste estudo, o interesse recaiu em um setor específico da economia criativa, o setor das artes cênicas. Apesar da dificuldade de desagregação, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do Brasil, em sua Pesquisa Anual de Serviços (PAS) referente ao ano de 2011, revelam que as atividades culturais, recreativas e esportivas tiveram uma receita operacional líquida de aproximadamente R$ 6 bilhões, empregando um contingente de 143.334 pessoas em 29.526 empresas.
Importa destacar que estas atividades demonstram uma característica única em relação aos demais serviços prestados às famílias no período analisado. Como demonstra o quadro 1, estas atividades são conduzidas por um número significativo de sócios cooperados, demonstrando assim o caráter simultâneo de produção e gestão na referida atividade. Quadro 1 – Número de empresas e pessoal ocupado (serviços) Pessoal oc upado em 31.12 Pessoal não assalariado Número de empresas
Atividades
Total
Pessoal assalariado
Proprietários e sóc ios c om atividade na empresa
Membros da família sem remuneraç ão
Sóc ios c ooperados
T o t a l d a s e mp r e sa s d e se r viç o s p r e st a d o s p r in c ip a lme n t e à s fa mí lia s Tota l Serviç os de alojamento Serviç os de alimentaç ão
339 354
2 4 13 2 8 1
1 961 446
4 2 4 19 5
4 650
22 990
26 315
327 341
290 317
33 384
3
3 637
206 899
1 530 588
1 253 654
262 501
-
14 433
Atividades c ulturais, rec reativas e esportivas
29 526
143 334
98 728
38 500
4 037
2 069
Serviç os pessoais
45 522
221 545
169 850
50 007
-
1 688
Atividades de ensino c ontinuado
31 092
190 473
148 897
39 803
610
1 163
Fonte: IBGE (2011).
O quadro 2, por sua vez, demonstra que este fenômeno é mais visível nas atividades artísticas, criativas e de espetáculo, desenvolvidas por empresas com 20 (vinte) ou mais pessoas ocupadas. As implicações imediatas destes dados revelam oportunidades de melhoria no setor. A divisão de tarefas tradicionalmente é associada à maior eficiência e produtividade, medidas clássicas de resultados empresariais. Logo, se não ocorre a especialização nem na atividade produtiva, nem na dimensão gerencial, a hipótese mais provável é que os resultados da organização sejam sub-ótimos. As oportunidades de melhoria para os agentes inseridos no setor são evidentes, dado o volume de gastos nas atividades culturais no orçamento familiar brasileiro. Especificamente na identificação da estrutura de gastos com bens e serviços culturais realizados pelas famílias brasileiras por meio da POF 2007-2010 (IBGE, 2011), é possível destacar que 5% do consumo total familiar é destinado à cultura, ou seja, o 7° maior consumo, perdendo somente para habitação, alimentação, transporte, assistência à saúde, despesas diversas e vestuário, sendo maior até que o consumo em Educação (8° colocado).
Quadro 2 - Número de empresas e pessoal ocupado (empresas com 20 ou mais pessoas) Pessoal oc upado em 31.12 Pessoal não assalariado Número de empresas
Atividades
Pessoal assalariado
Total
Proprietários e sóc ios c om atividade na empresa
Membros da família sem remuneraç ão
Sóc ios c ooperados
E mp r e sa s c o m 2 0 o u ma is p e sso a s o c u p a d a s (1) Tota l
19 8 3 4
1 050 298
1 0 14 0 2 2
31 242
4 368
666
S e r viç o s d e a lo ja me n t o
3 537
18 8 6 5 4
18 2 4 6 4
5 990
3
19 7
A t ivid a d e s c u lt u r a is, r e c r e a t iva s e e sp o r t iva s
1 023
51 548
46 094
1 636
3 793
25
120
6 894
3 264
204
3 424
2
10
790
783
7
-
-
4
148
146
2
-
-
Atividades artístic as, c riativas e de espetác ulos Gestão de espaç os para artes c ênic as, espetác ulos e outras atividades artístic as Atividades de exploraç ão de jogos de azar e apostas Parques de diversão e outras atividades de lazer
307
18 357
17 827
515
10
5
Atividades esportivas
582
25 359
24 074
908
359
18
S e r viç o s p e sso a is
1 622
78 201
75 599
2 561
-
41
A t ivid a d e s d e e n sin o c o n t in u a d o
1 650
5 9 4 11
56 041
2 764
572
34
Fonte: IBGE (2011).
Em relação ao consumo de atividades culturais, lazer e festas, ainda considerando os dados do IBGE (2011) é possível destacar que: a) Do total de gastos com cultura, 14,1% são destinados a atividades culturais, lazer e festas, sendo: cultura e lazer (6,5%) e festas (7,6%); b) Teatro, museus e shows representam 0,6% dos gastos totais e boate, danceteria e discoteca, 2,2%. Tanto a renda quanto a escolaridade interferem no consumo de produtos culturais. Em famílias de menor renda (rendimento de até R$830,00 mensais) os gastos com cultura representam 8,9% enquanto que nas famílias com maior renda (rendimento maior que R$ 6.225,00) o gasto chega a 18,5%. É possível notar também que quanto maior a instrução maior é o consumo. Para chefes de famílias que apresentaram nível superior, a despesa chegou a R$95,88 mensais, enquanto que para famílias com chefes sem instrução o consumo não passou de R$10,66. A relação entre instrução e consumo cultural é evidente. O menor
rendimento e o menor peso da cultura nos gastos foram nos domicílios com pessoas de referência sem instrução ou fundamental incompleto. Quanto ao sexo, parece haver pouca diferença entre o consumo das famílias lideradas por homens e mulheres. A despesa média, em reais, com o grupo para as famílias cuja pessoa de referência era do sexo masculino foi de R$ 193,09, enquanto para as famílias cuja pessoa de referência era do sexo feminino foi de R$ 165,52. Especificamente, no consumo de teatro, museus e shows, a participação é maior em famílias unipessoal, chegando a 1,1% do consumo. Em família composta por casal com filhos, o gasto é da ordem de 0,6%. O gasto dos casais sem filhos não ultrapassa 0,4%. Uma vez revelados os dados secundários que demonstram condições específicas da oferta e procura de proposições de valor no setor estudado, são agora apresentados os resultados dos dados primários levantados neste estudo. O quadro 4 apresenta uma análise sintética do discurso, com classificação junto ao quadro de categorias do setor de interesse deste estudo (ou seja, o conjunto de atividades relacionadas ao grande grupo das artes cênicas). Quadro 4 – Análise e enquadramento 1. 2. 3. 4. 5. 6.
7. 8. 9. 10. 11. 12.
13.
Música / Ópera “Existem coisas boas e as pessoas não vão” “Um dos desafios é criar plateia que consome” “Para divulgação na TV precisa ter contato” “As pessoas não consomem arte como um todo” “A maior dificuldade é montar espetáculos, dirigir” “Importante ter algo que se consome, achar algo para oferecer que as pessoas consumam” “o custo é alto para montar para pouco retorno” “As características da cultura local poderiam ser mais aproveitadas” “O melhor caminho para os cantores é sair” “O custo-beneficio é complicado” “Criar espaços mais reais, sólidos, de base” “Falta o intermediário para juntar as pontas soltas da rede. A rede existe, mas não tem ninguém que liga tudo. Quem dá o movimento”. “O artista não é empreendedor. É artista.
1. 2.
3.
4.
5. 6.
Teatro “É difícil viver unicamente disso” “Área não cabe na lógica mercadológica de produto, onde em 3 meses o espetáculo está pronto” “O teatro possui 2 logicas: de teatro de grupo (não trabalha somente por dinheiro; tem proposta de reflexão para quem faz e para quem vê) e do teatro de massa (trabalha para dinheiro; os besteiróis com preço alto)” “Qual o impacto que SP e RJ causam para outras regiões? Somente nessas capitais é possível viver da profissão de ator” “Tudo é uma questão de mídia. Só é notado se aparece na TV” “O teatro local não sabe se promover, não têm estratégias”
Fazer as duas coisas é complicado”. 14. “Você forma uma rede com a sua ação concreta” 15. “O musico é mais independente. Difícil entrar no sistema organizado.” 16. “As pessoas estão precisando ser tratadas de forma especial, não como consumidores. Que a valorize como ser humano” 17. “Se você valoriza a arte, a pessoa, você a chama para sua casa, para um evento especifico, mais intimo. Circo 1. “Vivemos em uma fase de transição” 2. “A força da tradição é mais intensa no interior” 3. “O circo passou por um processo de tropicalização. O palhaço europeu, por exemplo é diferente do palhaço brasileiro (mais alegre, conquistador, dinâmico” 4. “ Aqui o comportamento do público é outro: as pessoas vão para sentir emoção e ver números perigosos; Em outros lugares eles vão para apreciar a arte”. 5. “No BR temos 2 mil circos mais ou menos sendo 80 de médio / grande porte” 6. “os prêmios concedidos vão todos para os grandes e mais notados circos” 7. “o circo não tem CNPJ, endereço nem conta no banco. É difícil conseguir patrocínio” 8. “Muitos bons profissionais vão para fora. Lá são mais reconhecidos” 9. “Preconceito do modelo tradicional versus contemporâneo” 10. “A arte que mora no seio do imaginário coletivo” 11. “tivemos que repensar o circo. Não em sua essência, mas em sua potencialidade”.
Dança 1. “Nesta área é importante buscar orientação de pessoas mais experientes, para criar movimentos mais adequados para o artista e simétricos” 2. “às vezes o mau professor estraga” 3. “Existe mercado para todos. Cada um no seu estilo” 4. “Não dá para competir. Isso não pode existir” 5. “Existe o medo de tentar novidades. Tentar o desconhecido” 6. “ter repertório e variedades” 7. “Na dança não podemos pensar 1o no dinheiro. O dinheiro nunca poderá falar mais alto” 8. “o artista dança muito mais pelo prazer do que pelo dinheiro”. 9. “orientação sexual não prejudica a profissão” 10. “divulgação da dança carece de recursos” 11. “sou dançarino e professor, não gestor” 12. “Eu faço de tudo. Estar no palco não é um trabalho, mas uma realização”. 13. “trabalho para o meu público, monto as coreográficas para quem vai assisti-las” 14. “dificuldade de formação de público” 15. “Para maior projeção profissional é preciso trabalho autoral”
Ao adotar um esforço de classificação para além das atividades que compõem o setor das artes cênicas, é possível identificar oportunidades de melhoria para os empreendedores que atuam neste setor. Isto é feito por meio da reclassificação de temas recorrentes no discurso dos entrevistados, que foram agrupados em duas categorias: a) efetividade na comunicação e desenvolvimento de negócios, e b) apoio à profissionalização da gestão. Estes grupos são apresentados no quadro 5.
Quadro 5 – Oportunidades identificadas Música / Ópera
Teatro
Dança
“Falta o intermediário para
“Tudo é uma
juntar as pontas soltas
questão de mídia. Só
Efetividade na da rede. A rede existe, é notado se aparece comunicação e mas não tem ninguém desenvolvimento de que liga tudo. Quem negócios dá o movimento”. “Você forma uma
“divulgação da
na TV”
dança carece de
“O teatro local não
recursos”
sabe se promover, não têm estratégias”
rede com a sua ação concreta” “sou dançarino e professor, não Apoio à profissionalização da gestão
“O artista não é
gestor”
empreendedor. É
“Eu faço de tudo.
artista. Fazer as duas
Estar no palco não é
coisas é complicado”.
um trabalho, mas uma realização”
Tendo como referência a análise dos pontos centrais dos discursos dos entrevistados, foi possível ainda definir relações que emergiram de modo mais frequente e de maneira mais relevante. Estas relações podem ser divididas em dois níveis. Um primeiro nível, relacionado a elementos do discurso que podem ser vinculadas a soluções de negócios, e um segundo nível, relacionado a formação de coletivos culturais na economia criativa. Estes elementos são apresentadas no quadro 6. Os elementos centrais estão relacionados à efetividade na comunicação entre os diversos atores da cadeia produtiva da economia criativa. Mais do que isto, contemplam a possibilidade de aperfeiçoamento gerencial, por meio de ampliação do esforço de divulgação e da profissionalização das atividades dos empreendedores culturais. Por sua vez, os secundo conjunto de elementos presentes no discurso dos entrevistados pode ser agrupado em um conjunto voltado para a formação de coletivos culturais nos setores da economia criativa.
Quadro 6 – Análise do discurso Elementos Centrais: Efetividade na comunicação e gestão profissional Divulgação
Profissionalismo
- Todas as áreas possuem dificuldade em se projetar e promover. - Pouco recurso, falta de políticas públicas ou estratégia para isso. - A grande mídia não é acessível para os pequenos profissionais ou algumas áreas.
- Todas as áreas mencionam a dificuldade e necessidade de profissionalizar os artistas / grupos / empresas. - Clara visão de que artista não é gestor. - Difícil viver só da arte. - O artista precisa ser dinâmico e multitarefa.
Elementos Secundários: Formação de coletivos culturais nos setores da economia criativa Políticas públicas pouco Articulação Competição efetivas ou inexistentes - Falta maior - Competir não - Falta politicas contato e traz benefícios de articulação, articulação dos para os de incentivos profissionais, profissionais e aos setores, de por questões artistas. politicas próprias da área - Cada artista nacional (circo) ou por deve procurar estratégica, ou rivalidade. seu estilo para de iniciativas - Menção de ter destaque. locais para pensar - Começar beneficiar os possibilidade de fazendo pequenos unir as áreas trabalhos artistas. para fortalecer tradicionais e as artes. depois avançar - Contratar para trabalhos parceiros de autorais. negócios no âmbito dos diferentes setores da economia criativa.
Neste conjunto, emergiram questões sobre modos de ampliar a articulação dos agentes da cadeia de valor criativa, visando o reforço mútuo e benefícios conjuntos dos envolvidos. A noção de competição foi considerada pelos entrevistados contraprodutiva, dado que a cooperação parece ser uma estratégia promissora de novas ações entre eles. Para que este quadro avance, os entrevistados sugerem a necessidade de políticas públicas que possam criar os incentivos institucionais para tanto.
5. Considerações Finais
O objetivo deste trabalho foi identificar oportunidades de melhoria na integração de agentes da cadeia de valor da economia criativa, especificamente no setor
de artes cênicas. Tais oportunidades foram identificadas, tanto por meio da revisão da literatura, quanto por meio da coleta e análise de dados primários. À necessidade de melhorar a articulação entre os agentes da cadeia, bem como melhorar da fluidez da produção, distribuição e consumo dos bens e serviços criativos, identificados em estudos anteriores, foram adicionadas novas contribuições provenientes do presente estudo. Estas contribuições abrangem duas áreas: a) a efetividade na comunicação e no desenvolvimento de negócios; e b) o apoio à profissionalização da gestão. Estas duas frentes são promissoras oportunidades para a melhoria dos processos de integração dos agentes que atuam no setor de artes cênicas. Tais oportunidades, isoladamente, podem não ser suficientes para o alcance dos resultados esperados. É necessário ainda ampliar a articulação entre os profissionais do setor, reduzindo sua competição e ampliando a cooperação. Para tanto, políticas públicas relacionadas a estes objetivos devem ser elaboradas e implementadas, como alternativa para a melhoria das atividades no setor estudado.
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