Fabíola Loureiro
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maio de 2013 - Maré, Rio de Janeiro -
Nossa manchete é um trava-língua - fale rápido quatro vezes:
Histórias vivas viram livro! Joaquim Agamenon Santos marcou época do Morro do Timbau. Liderou várias lutas, entre elas a construção de caixas d’água que facilitaram o acesso dos moradores ao precioso líquido. Na época, a Cedae enviava uma conta geral para a comunidade e o Morro do Timbau chegou a ser considerado o maior consumidor de água da companhia. Essa e outras histórias do Timbau e do Parque Maré são contadas pelos próprios moradores no segundo livro do Série Tecendo Redes de Histórias e Memórias da Maré, a ser lançado pela Redes no fim Pág. 8 e 9 de maio.
veri-vg
Travessias 2
distribuição gratuita
Exposição de arte contemporânea oferece também debates com personalidades como Marcelo Yuka e José Padilha, diretor de Tropa de Elite. Pág. 15
Fabíola Loureiro
Alfabetização
Elisângela Leite
Ano IV, No
Pacificação em debate
Nunca é tarde para superar limites! Pág. 3
Desenho, música, livro, poesia, piada Pág. 16
Ações policiais frequentes afetam o ir e vir de moradores e trabalhadores, interrompem aula nas escolas, fecham postos de saúde e provocam até danos materiais. Quatro moradores apresentaram denúncia contra os policiais que fizeram incursão abusiva. Pág. 10 a 12
Seus Direitos
Rosilene Millioti
Reprodução
Espaço Aberto
Antes da UPP vem o quê?
Nesta edição, tema SAÚDE Pág. 6 e 7 Centro de Artes
Pág. 14
Entrevista
“O mercado sobe a favela, a cidadania desce”, afirma a pesquisadora Sonia Fleury, da FGV, na segunda parte da entrevista publicada nesta edição, sobre as UPPs. Pág. 13
Trava-línguas Este mês tratamos de vários temas importantes na nossa Maré, um deles sobre a história contada pelos próprios moradores. A manchete de capa faz uma brincadeira com o leitor, que é desafiado a falar várias vezes um “trava-línguas” – termo usado para um conjunto de palavras de difícil articulação. Não é fácil falar: “Histórias vivas viram livros”, não é mesmo?
Mauricio Miranda
Outro tema de destaque é segurança pública, em função das operações policiais que vêm afetando o cotidiano dos moradores e trabalhadores. No início de maio, quatro moradores decidiram denunciar os abusos cometidos pelos policiais. Entre eles está Bruno, que aparece na foto acima passando ao lado de um caveirão, que tem uma arma apontada em sua direção.
Segundo a professora Adriana Machado, a diversidade da turma contribui para enriquecer o aprendizado e ajuda a unir a turma. “Trabalhamos em sala de aula essas questões de diferenças. Eles possuem a consciência de que estão aqui para aprender e são unidos. Quando um tem dificuldade, tem sempre outro para apoiar”, revela a professora, que também se considera aluna. “Aprendo muito com esta turma. Há bastante aprendizado entre nós. Tanto do aluno com o professor como do professor com o aluno”, afirma. Fabíola Loureiro
Nunca é tarde para aprender
Associação dos Moradores e Amigos do Conjunto Esperança
Biblioteca Comunitária Nélida Piñon Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa
Instituição Proponente
Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias
Diretoria
Associação de Moradores do Conjunto Pinheiros
Conjunto Habitacional Nova Maré
Associação de Moradores do Morro do Timbau
Conselho de Moradores da Vila dos Pinheiros
Associação de Moradores do Parque Ecológico
Luta pela Paz
Andréia Martins Eblin Joseph Farage (Licenciada) Eliana Sousa Silva Edson Diniz Nóbrega Júnior Helena Edir Patrícia Sales Vianna
Coordenação de Comunicação Silvia Noronha
Instituição Parceira
Observatório de Favelas
Apoio
Ação Comunitária do Brasil Administração do Piscinão de Ramos Associação Comunitária Roquete Pinto Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas
Fabíola Loureiro
Entrar na sala de aula é lidar com emocionantes histórias, como a de Marcos Antônio da Silva, que tem 48 anos e é um dos cinco com Down. Ele não esconde a felicidade de participar do projeto. “Eu gosto muito da professora. Aprendi tudo com ela. Agora sei escrever meu nome”, orgulha-se.
ida acima) é dos alunos do Centro A foto publicada na capa desta edição (reproduz sobre o assunto na pág. 4 Social Tecno boxe, no Parque União. Leia mais
Redes de Desenvolvimento da Maré
Curso de alfabetização para jovens e adultos vai muito além das lições escolares
Junte uma turma focada e uma professora dedicada ao ensino da fase mais importante na educação: a alfabetização. É o que ocorre com a turma de Alfabetização de Jovens e Adultos iniciada em setembro do ano passado, na Nova Holanda, com 22 alunos, todos moradores da Maré. Dentre eles, cinco são alunos com síndrome de Down.
Uma foto ilustrativa do cotidiano da Maré, clicada no momento exato em que Bruno passava pelo caveirão, no dia da perícia feita em sua casa. Leia a partir da pág. 10 e acompanhe os acontecimentos pré-UPP na Maré no site da Redes (www.redesdamare. org.br) e curta nossa página no facebook ( /redesdamare ).
Expediente
Aprender é viver !
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Associação de Moradores do Parque Habitacional da Praia de Ramos Associação de Moradores do Parque Maré Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz Associação de Moradores do Parque União Associação de Moradores da Vila do João Associação Pró-Desenvolvimento da Comunidade de Nova Holanda
Conexão G
União de Defesa e Melhoramentos do Parque Proletário da Baixa do Sapateiro União Esportiva Vila Olímpica da Maré
Rosilene Miliotti Fabíola Loureiro (Estagiária) Mauricio Miranda (estagiário)
Fotógrafa
Elisângela Leite
Projeto gráfico e diagramação Pablo Ramos
Logotipo
Monica Soffiatti
Colaboradores
Anabela Paiva André de Lucena Aydano André Mota Flávia Oliveira
Coord. de distribuição Editora executiva e jornalista responsável
Givanildo Nascimento
Impressão
Silvia Noronha (Mtb – 14.786/RJ)
Gráfica Jornal do Commércio
Repórteres e redatores
40.000 exemplares
Aramis Assis Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ)
Tiragem
Leia nosso Maré na internet e baixe o PDF: www.redesdamare.org.br
Redes de Desenvolvimento da Maré Rua Sargento Silva Nunes, 1012, Nova Holanda / Maré CEP: 21044-242 (21) 3104.3276 (21)3105.5531 www.redesdamare.org.br comunicacao@redesdamare.org.br Os artigos assinados não representam a opinião do jornal.
Parceiros:
A empregada doméstica Luzia da Silva, de 56 anos, conta com a ajuda das colegas de turma e da filha. “Todo tempo minha filha falava: ‘Mãe, você tem que ir para escola’. Por causa do meu trabalho e dos meus filhos, não podia. Agora que eles cresceram, a alfabetização foi uma porta que se abriu. Nunca é tarde para aprender”, ressalta Luiza, que também fala sobre as mudanças que o curso trouxe na sua vida. “São muitas influências. Minha letra, que antes era um garrancho, melhorou. A pontuação está mais correta”, observa ela, que participa também do projeto “Maré de Sabores”, oficina de gastronomia da Redes da Maré.
EDUCAÇÃO
André de Lucena
As boas influências também fizeram Valter de Andrade, de 31 anos, voltar aos estudos. Valter trabalha com cristal de rocha e viu que para crescer na carreira precisava voltar para a sala de aula. “Eu tinha dificuldade para ler e escrever. Com o curso, estou melhorando minha leitura e escrita”, reconhece Valter. As aulas acontecem em três dias na semana, das 18h às 21h, na Redes da Maré. Às segundas-feiras, há ensino com o auxílio de jornais (entre eles, o Maré de Notícias), quando os alunos trabalham com recorte e colagem. Às quartas-feiras ocorrem atividades de estímulo à leitura na Biblioteca Po-
pular Lima Barreto e, em seguida, os alunos vão à sala de informática, onde aprendem os fonemas com aplicativo multimídia fornecido pelo Movimento Down. Às quintas-feiras é feita uma revisão da semana. Essas histórias prometem render novos capítulos. Segundo Diva Esteves, coordenadora do projeto e representante do Rotary Club (instituição patrocinadora do curso), o contrato será renovado. Para mais informações sobre a Alfabetização de Jovens e Adultos, entre em contato com a Redes da Maré - Rua Sargento Silva Nunes, 1.012, Nova Holanda. Tel.: 3105-5531.
Maré de Notícias No 41 - maio / 2013
Humor: “Só morrendo” -
Editorial
Rosilene Miliotti
Maré de Notícias No 41 - maio / 2013
EDITORIAL
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O II Encontro do Comitê de Rios, intitulado “Os Povos em Defesa da Baía de Guanabara Viva”, reuniu, em 13 de abril, ambientalistas, pescadores artesanais, pesquisadores e profissionais de saúde, num debate sobre os problemas vivenciados nas comunidades que margeiam a Sub-Bacia do Canal do Cunha. Entre elas, estão Maré, Complexo do Alemão, Manguinhos e Jacarezinho – áreas que, por falta de investimento público adequado em saneamento, convivem com sérios problemas, como valões e enchentes. Realizado na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o evento debateu as ações públicas na região. O público presente cobrou diálogo por parte do Estado.
O Centro Social Tecno Boxe, que funciona no antigo escritório da Tecno Calha, fábrica de telhas, no Parque União, oferece a alunos dos 7 aos 18 anos aulas de jiu-jitsu, MMA, luta livre, capoeira, teatro, break dance e violão. Para a terceira idade, há dança de salão e ginástica. Há ainda uma academia de musculação para os jovens. “Fui lutador amador; o esporte mudou a minha vida e pode mudar a de muitos. É por isso que desejo o projeto ainda maior, incentivando os jovens para um futuro através do esporte”, diz o presidente do centro, Francisco Braz, que reclama apenas da falta de patrocínio. A renda vem de um estacionamento no subsolo e de pequenos comerciantes que abraçaram a ideia. As aulas são gratuitas, menos a musculação (de R$ 35 a R$ 40). Fica na Av. Brigadeiro Trompowski, 200. De 2ª a 6ª feira, de 18h às 23h. Tel: 7833-7084 e 9610-4518.
A próxima articulação será desenvolver quatro oficinas nas comunidades, para fomentar a discussão e a luta em defesa da Baía. No segundo semestre haverá novo encontro do grupo.
Pisci NÃO?
Mais de 15 atividades estão sendo oferecidas gratuitamente na Unidade de Esportes e Lazer, que funciona na praça do Piscinão de Ramos. A iniciativa é da prefeitura, sob administração do Espaço Cidadania e Oportunidades Sociais (Ecos). Segundo o coordenador geral do equipamento, Rogaciano Filho, mais de 5.000 pessoas já foram atendidas desde setembro, quando o Ecos passou a administrar o local. O espaço atende também crianças com deficiências. Veja abaixo a grade de horário das atividades.
Hélio Euclides
Fabíola Loureiro
Terças e quintas-feiras
Seminário de Educação da Maré: Inscrições abertas Estão abertas as inscrições para o III Seminário de Educação da Maré, marcado para 25 de maio, no auditório da Faculdade de Letras da UFRJ. O evento é promovido pelo Programa Criança Petrobras na Maré (PCP Maré). Inscrições em redesdamare.org.br/pcp.
Xô vans na zona sul Passageiros ficam sem transporte alternativo Hélio Euclides
Elisângela Leite
Desde 15 de abril, a cidade do Rio de Janeiro ficou sem um meio de ligação direta entre as zonas norte e sul. A prefeitura proibiu a circulação de vans e kombis pelos bairros da zona sul, deixando muitos passageiros sem transporte direto, precisando pegar dois ônibus para chegar ao trabalho. “Não temos condução; só há ônibus para a zona sul bem cedo e ficamos abandonados durante o restante do dia. Só nos resta a baldeação”, conta Michele Santana. Segundo
o coordenador da linha 484 do Parque União, Amilton Gomes, a decisão afetou mais de 4.000 passageiros que circulavam nessas 21 vans. O transporte alternativo era a única possibilidade de ligação do Parque União para Copacabana e bairros próximos. Moradores e trabalhadores de Rubens Vaz, Nova Holanda e Parque Maré também utilizavam as vans. De dentro da Vila do João também existia uma linha até Copacabana. Desde abril, os moradores precisam andar muito até a Avenida Brasil e lutar para conseguir um lugar no ônibus, que costuma passar lotado nos horários de rush.
SIM!
Programação
PCD – 7h Ginástica – 7h Atletismo – 8h Hidro – 8h Running – 8h Alongamento – 9h Basquete – 9h, 13h e 14h Vôlei de areia – 9h e 14h Futsal Feminino – 10h Futebol – 10h e 15h Natação – 10h, 15h e 16h Jazz – 10h, 11h e 13h Futsal (6 a 9 anos) – 13h30 Futsal (10 a 12 anos) – 14h30
Quartas e quintas-feiras Vôlei (9 a 12 anos) – 19h Running – 20h Quartas e sextas-feiras Ginástica – 7h Natação - 8h e 9h Handebol – 9h e 15h Futebol – 9h, 10h, 14h e 15h Recreação – 9h, 10h, 13h e 14h Handbeach – 10h
Terças e quartas-feiras Condicionamento – 7h e 8h
Lona abandonada O presidente da Associação de Moradores do Piscinão de Ramos, Cristiano Reis, elogia as atividades de esportes e lazer, mas lamenta o abandono da Lona Cultural. “A estrutura está condenada e foi interditada pela Defesa Civil. A prefeitura tinha prometido retirar essa estrutura toda enferrujada e construir uma quadra poliesportiva, mas até agora nada”, reivindica ele, que também pede reforma nos banheiros do piscinão, que estão em más condições.
COMUNIDADE
Atividades no Centro social do Parque União
maré do
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Somos todos “povos da Baía”
Na
Leite
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NOTAS
O que acontece e o que não deixa de acontecer por aqui
Fotos: Elisân gela
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Segundo tema:
SEUS DIREITOS O mundo é nosso e o direito é de todos!
Saúde
Equipe Social da Redes da Maré equipesocial.redes@gmail.com
Entenda o perfil de atendimento de cada equipamento de saúde e saiba qual unidade procurar, em caso de necessidade A saúde é produto das condições de vida da população (habitacionais, alimentares, sociais, econômicas, culturais, de lazer, trabalho, renda, dentre outras) e das relações que as pessoas estabelecem entre si e com a natureza. Essas determinações podem aumentar ou diminuir a vulnerabilidade da população em relação à sua saúde. Para entender melhor a importância da saúde, vale destacar que o Brasil é um dos poucos países que oferecem atendimento gratuito, através do Sistema Único de Saúde, popularmente conhecido como SUS. A lei que regulamenta o SUS propõe que ele funcione com base em princípios éticos e em diretrizes organizacionais. Os princípios éticos são caracterizados pela: Universalidade: saúde como um direito de todos; Integralidade: o atendimento deve incluir desde a prevenção até o tratamento/cura das pessoas e grupos; Equidade: todos os cidadãos devem ter igual oportunidade no uso dos serviços. As diretrizes organizacionais estão relacionadas à descentralização (cada esfera do poder – municipal, estadual e federal – tem suas responsabilidades próprias), à regionalização e hierarquização (os serviços de saúde são divididos em níveis de complexidade) e à participação popular (os cidadãos participam da gestão do SUS através do Controle Social). A primeira questão importante para conhecer como funciona o Sistema é compreender sua divisão através de Níveis de Atenção. Entendendo como isso funciona, é possível saber porque não devemos procurar um hospital de emergência para tratar pressão falta, por exemplo. O sistema de saúde é dividido em níveis de atenção. Cada nível atende a situações de determinada complexidade, custo e necessidade de uso de tecnologia. À Atenção Primária, cujo carro-chefe é o Programa de Saúde da Família, cabe resolver a grande maioria dos agravos (ou ameaças) à saúde. É da Atenção Primária (Posto de Saúde ou Centro Municipal de Saúde – CMS) a tarefa de definir quando um paciente deve ser referenciado aos níveis de mais alta complexidade, se houver necessidade do uso desses recursos. A Unidade Básica de Saúde mais próxima da sua casa deve servir de referência sempre que você precisar de orientações, desde informações sobre prevenção e cuidados até a necessidade de atendimento médico. Confira algumas situações em que você deve procurar o posto de saúde: retirada de preservativos; realização de vacinas; grupos de educação em saúde (diabéticos, hipertensos, obesos e gestantes); cuidados preventivos de câncer do colo do útero; bebês chorando sem razão aparente; febre abaixo dos 39ºc; sintomas de resfriados, gripes e dores de cabeça, dentre outros. A Atenção Secundária surge quando há necessidade de consultas com especialistas, exames complementares e internações hospitalares por agravos que não requerem grande uso de tecnologia, como por exemplo, o Hospital Estadual Getúlio Vargas.
A Atenção Terciária é responsável por um número muito menor de condições, mas que demandam muitos recursos tecnológicos e atuação de sub-especialidades. Casos um pouco mais raros e com necessidade de cuidados mais específicos podem ser encaminhados, por exemplo, para o Hospital Federal de Bonsucesso ou para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, que também tem porta de atendimento de Emergência.
Além dessa classificação, existem os centros “quaternários”, normalmente associados a núcleos acadêmicos, com disponibilidade de recursos muito além dos usuais, intensa produção científica, super-especialistas e atendimentos de casos muito raros e graves. Este é o caso dos Hospitais Universitários. O Pronto-Socorro (ou pronto-atendimento/emergência) serve para atender casos potencialmente graves, de doenças agudas (de instalação muito recente), com risco de morte ou algum grau de incapacidade. Ao procurarmos o pronto-socorro para “ver como está o diabetes”, por exemplo, estamos reduzindo as chances de vida de outra pessoa que está infartando em silêncio ao nosso lado e vai ter que esperar (preciosos) minutos a mais. Além dos hospitais de emergência, são prontos socorros as Unidades de Pronto Atendimento 24h (UPA). Se você é morador de uma região onde já está instalada uma Unidade de Pronto Atendimento 24h, como é o caso da Maré (UPA da Vila do João) deve procurar o serviço em casos como: corte com pouco sangramento; queda com torsão e muita dor ou suspeita de fratura; febre acima de 39ºC; cólicas renais; intensa falta de ar; convulsão; dores fortes no peito; vômito constante etc. O fluxo dos pacientes entre esses níveis de atenção acontece através de um sistema de regulação informatizado que informa sobre as vagas disponíveis nas unidades, o SISREG. Agora que você já conhece as diferentes portas de entrada dos serviços de saúde, pode acessá-las de forma correta. Seguem abaixo os principais polos de atendimento da Maré e de seu entorno: Clínica da Família Augusto Boal: Rua Guilherme Maxwel, n° 107 Tels.: 3104-6087 / 3105-8982 8440-4537 / 3105-6560 Hospital Getúlio Vargas (HEGV): Rua Lobo Júnior nº 2293, Penha Tels.: 2334-7842 / 2334-7843 Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) Av. Londres, n° 616, Bonsucesso Tel.: 3977-9500 Posto de Saúde Nova Holanda (Elis Regina): Rua Ivanildo Alves, s/nº, Nova Holanda Tels.: 3105-5760 (adm) / 3105-7809 3105-5760 / 3105-6560(fax) Posto de Saúde Parque União: Rua Ari Leão, s/nº, Parque União Tel.: 3339-5604 Posto de Saúde Vila do João: Rua 17 s/nº, Vila do João Tels.: 8440-4358 / 3109-4849 / 3109-0006
Posto de Saúde 14 de Julho: Avenida Guanabara s/n° Praia de Ramos Tel.: 3384-9635 Posto de Saúde Gustavo Capanema: Via A1 s/nº, Vila do Pinheiro Tels.: 3885–6541 / 8440-4563 Posto de Saúde Hélio Smidt: Av. Tancredo Neves, s/nº, Rubens Vaz Tels.: 3882-3664 / 3881-9164 / 8440-4359 Posto de Saúde Operário Vicente Mariano: Rua Aterro da Maré, s/n° Baixa do Sapateiro Tel.: 3885-7391 Posto de Saúde Samora Machel: Rua Principal, s/nº - Parque Maré Tel.: 3105-3596 / 8440-4354 UPA 24h: Av. Brasil 4800, Rua 9, esq. com a Rua 5, Vila do João Tels.: 2334-7832 / 2334-7831
Ajude a melhorar o SUS! A sociedade, através de seus representantes, pode participar, opinar, avaliar, definir, acompanhar e fiscalizar as ações em saúde através dos Conselhos de Saúde. Exerça o Controle Social! Participe das reuniões dos Conselhos Municipais de Saúde e Distrital de Saúde. Conselho Municipal de Saúde: Rua Afonso Cavalcanti, 455 - Bloco 1 - sala 814, Cidade Nova Telefone (s): 2976-2269 / 2293-0341(telfax) - E-mail: comsaude@rio.rj.gov.br Conselho Distrital de Saúde: Rua São Godofredo, s/nº, Penha Telefone(s): 2260-0294 - e-mail: condisaudeap31@hotmail.com Disque Saúde – Ouvidoria Geral do SUS 136 ou www.saude.gov.br
Seus Direitos
Coluna especial
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Maré de Notícias No 41 - maio / 2013
SEUS DIREITOS
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“Nasci no Ceará em 1936 e lá o governador chamava-se Agamenon e, por isso, todo mundo tinha que ter esse nome. Minha história é tão grande que se eu te contasse tudo, íamos ficar 30 anos conversando.”
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Fabíola Loureiro
Elisângela Leite
Joaquim Agamenon Santos veio para o Rio de Janeiro em 1949, aos 13 anos de idade, e foi morar no Engenho de Dentro. Começou a trabalhar na Fábrica de Doces Ruth, em Ramos, onde conheceu Nadir de Araújo Santos, com quem se casou em 1966. O cearense, hoje aos 77 anos, conta que ao se casar, mudou-se para o Morro do Timbau. Um mês depois, foi chamado para participar da Associação de Moradores.
e autoritário, mas o morro precisava de organização. Era feito um rodízio na diretoria, eu escolhia quem ia ser o presidente, mas a palavra final sempre acabava sendo a minha, eu era um verdadeiro líder”, orgulha-se.
O Exército havia cercado o morro e cada morador tinha que se identificar ao entrar e sair. Muitos moradores eram semi-analfabetos e por isso acabavam sendo explorados e maltratados, mas com a chegada de Agamenon, “tudo mudou”, garante ele, que será um dos personagens do próximo livro do Núcleo de Memória, da Redes da Maré (leia o artigo de Edson Diniz nesta página). “Cheguei, organizei a associação e marquei eleição. Na época em que estive lá, todos os problemas eram resolvidos. Eu fui uma liderança muito forte. E sempre dizia que para ser presidente era preciso ter pulso firme e cabeça. Muitas vezes fui chamado de déspota
ARTIGO: A Memória e a Identidade na Maré Edson Diniz, Diretor da Redes da Maré e coordenador do Núcleo Memória e a Identidade da Maré
Revisitar o passado é uma ação permanente na vida de todas as pessoas. Em muitos momentos são as antigas recordações e as lições trazidas por elas que nos orientam e indicam os caminhos a seguir. Recordar significa revisitar bons momentos, lembrar pessoas e mesmo situações que não foram tão felizes.
Todo esse movimento em relação ao passado compõe o que podemos chamar de Memória. Cada pessoa constrói a sua. Nossas memórias são muito importantes porque elas dizem muito a respeito de quem somos. São elas que produzem o que os estudiosos chamam de identidades. A identidade é como cada um se apresenta ao mundo a partir de suas memórias. E nossas memórias e nossas identidades, somadas a de outras pessoas,
A chegada da água Agamenon ficou à frente da associação durante 32 anos. Entre as melhorias verificadas neste longo período no morro destacam-se a construção de caixas d’água, iluminação e numeração das casas, sistema de esgoto, consultório dentário e auxílio funerário. “A Cedae tinha feito uma tubulação, mas a água era bombeada e não chegava ao morro todo. Fizemos uma reunião e falamos da ideia de construir as caixas d’água, depois
“Sempre dizia que para ser presidente era preciso ter pulso firme e cabeça. Muitas vezes fui chamado de déspota e autoritário, mas o morro precisava de organização”
criam a história dos lugares e dos povos. Por isso, pensando no processo de revisitar a memória, reconstruí-la, estudá-la e preservá-la, a Redes da Maré, através do Núcleo de Memória e Identidade da Maré (Numim), lançará no final de maio o segundo volume da Série Tecendo Redes de Histórias e Memórias da Maré. No segundo livro – o primeiro foi sobre Nova Holanda – moradores do Morro do Timbau e
visitamos todos os moradores para falar do projeto. Ao todo foram 300 mil litros d’água e 850 casas cadastradas. Cada morador armazenava um barril de 200 litros. Era preciso uma contribuição, então dividimos o valor que custaria a obra pela quantidade de residentes. Isso foi na década de 1970 e o povo sempre contribuía com a associação e participava das assembleias gerais“, lembra-se. Como era uma conta geral, o Morro do Timbau chegou a ser considerado o maior consumidor de água da Cedae. Os moradores pagaram a conta desse jeito por dois anos, dividindo o valor entre todos. Depois o governador do Rio de Janeiro, Chagas Freitas, fez um decreto que isentava do pagamento de água os moradores de favelas e dos conjuntos habitacionais da Companhia Estadual de Habitação do Rio de Janeiro (Cehab). Segundo Agamenon, na década de 1980, a Organização das Nações Unidades (ONU) fez uma matéria em uma revista norteamericana dizendo que o Timbau era uma favela padrão, sendo considerado o espaço popular mais bem organizado. Agamenon, que estudou na Escola Municipal Bahia onde se formou em Técnico de Contabilidade, diz que já leu livros de
do Parque Maré contam suas memórias e tecem a história de suas comunidades. O que poderemos ver é o desenrolar de histórias de muitas lutas, perseverança, alegria, dor e esperança no futuro. A publicação traz depoimentos como o do Sr. Agamenon Agamenon (leia reportagem nesta página), liderança do Morro do Timbau que enfrentou, junto com os morado-
Marx (alemão, fundador do comunismo moderno) a Hitler (ditador alemão racista e anti-semita, que liderou a Alemanha na Segunda Guerra Mundial). Segundo ele, é necessário ler um pouco de cada autor e fazer as comparações.
Nossa História
Essa história é um tantinho assim de um vidão e tanto!
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Uma influência sua foi a escolha do nome do CIEP Operário Vicente Mariano, homenagem ao fundador e primeiro presidente da Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj). Os dois juntos tomaram “borrachada” da polícia na época da ditadura militar brasileira. Um fato curioso ocorreu quando três moradores da Rua Capivari estavam internados no Hospital Getúlio Vargas e um deles faleceu. Quando o homem que trabalhava na funerária chegou para avisar a família, ele acabou indo na casa errada, o que causou uma grande confusão. Por isso, viu-se a necessidade de nomear e numerar todas as ruas para que não houvesse mais problemas como este. E assim foi feito. Agamenon ficou na associação até 1997, teve vários empregos até se aposentar e ficar trabalhando apenas na tendinha que tem no Timbau desde 1982.
res, as enormes adversidades que se colocavam no cotidiano sofrido da comunidade.
cionam e encantam pela bravura, solidariedade e sabedoria de quem enfrentou as maiores dificuldades com a esperança de construir o seu lugar na cidade.
Traz muitos outros depoimentos, como o do Sr. Edmundo Aquino, morador do Parque Maré, que nos permite acompanhar sua trajetória desde a chegada ao Rio até seu estabelecimento na Maré e adaptação à nova vida. São memórias que nos fazem refletir sobre a história da Maré, nos emo-
O primeiro livro da série Tecendo Redes de Histórias e Memórias da Maré, sobre a Nova Holanda, está disponível em http://redesdamare. org.br/?p=4151. O segundo livro será disponibilizado após o lançamento, em data a ser marcada. Acompanhe pelo facebook da Redes (/redesdamare).
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NOSSA HISTÓRIA
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Rosilene Miliotti
Com o pé na porta
ARTIGO:
Um professor de Geografia e seus alunos
Diretora da Redes, Eliana Silva, acompanha delegado e perito na Maré
Silvia Noronha
As incursões policiais, que ocorrem quase diariamente na Maré desde março, atingem sobretudo o direito de ir e vir dos moradores e trabalhadores locais. Uma das principais consequências recai sobre crianças e adolescentes, que vêm ficando sem aulas a cada operação. No dia 2 de maio, uma operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque fez moradores reviverem o terror de ter suas casas invadidas pelos próprios policiais. Em pelo menos quatro casas, os moradores tiveram prejuízos materiais, entre eles o fotógrafo Ubirajara Carvalho, o Bira, que é cadeirante e teve sua câmera fotográfica destruída, e o professor de geografia da Redes, Bruno Paixão (leia na pág. ao lado). Os demais preferiram não se identificar; um deles sofreu agressões físicas. Os casos
Ações afetam pais e alunos
foram denunciados e, no dia seguinte, um perito e um delegado da 21ª DP estiveram na Maré para averiguar os fatos. A Corregedoria da Polícia Militar ficou de investigar os policiais denunciados e a Defensoria Pública deve entrar com ação contra o Governo do Estado. Na casa de Bruno, quando ele disse aos policiais que a ação dentro de sua casa, sem mandado de busca e apreensão, era ilegal, o PM respondeu que isso era “discurso de direitos humanos”. Esse tipo de atitude, ainda comum, foi uma das razões que levou ao desenvolvimento da campanha “Somos da Maré e Temos Direitos”, pela Redes da Maré, Observatório de Favelas e Anistia Internacional. A campanha continua nas ruas, com a distribuição de material informativo sobre os direitos dos moradores e como proceder em caso de violação. As três instituições também decidiram acompanhar a fase Pré-UPP na Maré, por meio de registros do que vem ocorrendo. Leia essas matérias do site da Redes: www.redesdamare.org.br, na aba: Maré Pré-UPP. Mauricio Miranda
As crianças do recém-criado Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) Moacyr de Góes, no Parque Maré, ficaram duas semanas sem aulas em abril, o que prejudicou também os pais. É o que contam Lidiane do Nascimento e Francisca Pereira, mães de alunas do EDI. A escola, que atende crianças de seis meses a cinco anos e 11 meses de idade, de segunda a sexta-feira, de 7 às 16 horas, retomou parcialmente as atividades em 24 de abril, funcionando até o meio dia. No dia 29, as aulas da filha de Francisca, de quatro anos, voltaram ao horário integral. Mas Lidiane não teve o que comemorar. A filha de apenas dois anos seguia, no início de maio, com aulas até as 12h. “Chegamos à porta da escola e o diretor fala que estourou a bomba d’agua ou que não tem funcionários para o turno da tarde devido às incursões policiais. Eles têm medo de ir trabalhar pela falta de segurança”, conta Lidiane. Com as filhas sem aula e precisando ir para o trabalho, as mães procuram alternativas. Francisca buscou ajuda da mãe e dos vizinhos e Lidiane ainda precisa pagar alguém para cuidar de sua filha. “Você depende da escola e ela não cumpre com suas obrigações”, lamenta ela, que também tem uma filha no Ciep Presidente Samora Machel, que ficou vários dias sem aula em abril. O posto de saúde situado dentro do Ciep ficou fechado quase um mês, desde 8 de abril. Seria reaberto em 6 de maio, dia do fechamento desta edição.
Rosilene Miliotti
Ações da polícia geram prejuízo aos moradores
Licio Monteiro - Geógrafo e doutorando em Geografia pela UFRJ
Bruno reclamava da conversa excessiva dos alunos na sala de aula. Normal de todos os professores. Ele leciona geografia numa escola ali perto da Maré. Mas nesse dia os alunos foram outros. Crianças da Maré, como aquelas para quem ele dá aula, se amontoavam em frente à sua casa para ver o que estava acontecendo. Sob os olhares do defensor público e do policial civil, Bruno abria a porta de sua casa com a chave para narrar o que havia acontecido no dia anterior.
Aquele gesto, aquele evento, dizia algo mais. Dizia que uma casa, para ser aberta, precisaria da licença de seu morador. Era a lição do dia para todos os seus novos alunos. Em vez de giz e quadro, uma chave e uma porta. Os homens do Estado agora estavam lá para garantir os direitos dos moradores, chegaram para participar da aula do Bruno. A geografia não era o conteúdo do livro didático, estava inscrita em seu próprio terreno. Não era um dia normal. Dia normal seria aquele das motocicletas passando pra lá
e pra cá, homens na garupa com armas apontadas pra cima. Dia normal teria sido o dia anterior, em que a operação policial saiu violando as casas dos moradores sem mandado judicial. Talvez aqueles novos alunos do Bruno, agora atentos e em silêncio, tivessem presenciado a cena do dia anterior. Quando Bruno voltou pra casa, os policiais do Bope já estavam lá dentro. Bruno solicitou o mandado judicial. Afinal, se era o Estado que chegava à Maré, como insiste em dizer o discurso oficial, por que é sempre a polícia quem chega
Segurança Pública
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SEGURANÇA PÚBLICA
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Os policiais não encontraram nada na casa de Bruno do que esperavam encontrar lá. Viram uma casa recém construída, com uma arquitetura bem diferente, com materiais de qualidade. Passaporte com carimbos da França e da Inglaterra, documentos da aprovação num mestrado europeu, livros acadêmicos, algumas libras esterlinas... Não. Tinha alguma coisa estranha nisso tudo. A cabeça deles não tinha sido programada para isso.
E eles não quiseram aprender nada além. Só conheciam a linguagem da intimidação e da violência. Mas Bruno aprendeu a abrir as portas públicas, que deveriam ter sempre estado abertas para todos, mas que insistem em manter fechadas para o povo. A confusão brasileira entre a casa e a rua, entre o público e o privado, construiu mais esse paradoxo: aqueles que mais encontram portas públicas fechadas ao longo de suas vidas não têm o direito de fechar sua própria porta para o poder público. Quando construiu
Bruno aquela
casa, depois de demolir a casa em que seus pais viveram e morreram, sonhava com um novo lugar. Uma república estudantil em plena Maré, do lado do Fundão. Pude ver seu entusiasmo com a planta desenhada por seus amigos franceses, estudantes de arquitetura, quando o térreo ainda estava coberto de entulho, e depois numa das pré-inaugurações que fez. Mal sabia ele que a casa seria o palco de sua aula mais importante. Os novos alunos do Bruno aprenderam algo diferente naquele dia. Principalmente aquele descalço de braço cruzado ali na primeira fila (ver foto na pág. anterior): altivo e orgulhoso de seu novo professor, como todos nós estamos nesse momento orgulhosos da coragem de nosso amigo Bruno.
Pesquisadora questiona a arbitrariedade da polícia e o poder do mercado nas favelas com UPP
ENTREVISTA
primeiro, e na maioria das vezes joga sem o regulamento debaixo do braço? Bruno sabia disso, talvez tivesse se preparado a vida inteira para aquele momento, em que teria que dizer aos policiais que uma casa é uma casa, seja na favela ou no asfalto. Mas a chave da polícia estava presa na sola do coturno, não houve conversa possível.
“O mercado sobe a favela, a cidadania desce”
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Silvia Noronha
Como prometido na edição anterior, publicamos a seguir a segunda parte da entrevista com a pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV), Sonia Fleury, que tem avaliado as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) e alertado para o processo de controle da população por parte dos policiais e do Estado. Sonia é doutora em Ciência Política e professora da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape/ FGV), onde coordena o Programa de Estudos sobre a Esfera Pública. Maré de Notícias: Com a UPP, a população de favela continua oprimida? Sonia Fleury: Em muitos casos há um desrespeito muito grande aos direitos de cidadania dentro das favelas por parte das autoridades, que não estão preparadas; são autoridades coercitivas. É colocar câmeras, vigiar as pessoas e tudo mais. Quando há uma arbitrariedade, o caso é sempre levado contra o morador, como desacato, resistência. Até fui procurar se tinha aumentado o número de atos de desacato e resistência. Olhei numa UPP como o rapaz da PM registrava, mas quando chega na Secretaria de Segurança, os dados não aparecem c o m o desacato, resistência especificamente. Mas a gente sabe que acontece, especialmente com os jovens quando se manifestam. Maré: Como seria se a UPP desencadeasse um processo de emancipação da população dos espaços populares? Sonia: Seria discutir a inserção do morador, a sua relação com o Estado, ele ser ouvido nas suas demandas e seria também criar situações em que a população tivesse poder de tomar decisões e não só ser consultada. Seria a população falar como fazer política naquele território. Mas o que acontece? No Santa Marta são 620 e tantos policiais e apenas 20 e poucas pessoas na área de saúde para aquela mesma população
e sem nenhum equipamento de saúde sofisticado, nem nada. Quer dizer, submete-se a política social a um projeto de controle social e isso não pode emancipar ninguém. E a sociedade carioca e brasileira não consegue perceber que ao apoiar esse processo da forma como ele está sendo feito, na base do silêncio, sem discutir, a população está outorgando ao Estado todo o poder de decisão sobre a sua vida. E quem é esse Estado que está decidindo? É um Estado empresário, extremamente ligado ao setor de construção civil que vai ganhar rios de dinheiros com as UPPs e o Porto Maravilha, e que acaba financiando as campanhas dos próprios governantes. Então tem todo um conjunto de interesses. A população não está se dando conta de que o processo em toda a cidade é o mesmo, é autorizar o governo a ser autoritário. Maré: Você costuma dizer: “O mercado sobe a favela e a cidadania desce”, e que assim os direitos da população não estão sendo garantidos, mas os deveres estão sendo cobrados. Como é isso? Sonia: Claro, porque no dia seguinte à entrada da UPP, há uma invasão de empresas. Elas chegam e as pessoas têm que começar a pagar, porque agora elas são cidadãs. Têm que começar a pagar tudo, pois é seu dever. Mas elas não possuem os mesmos direitos que o pessoal do “asfalto”: não têm direito à árvore nem a um espaço social de lazer e os poucos que existiam estão sendo invadidos pela classe média. Com isso, os moradores estão perdendo até essas áreas que eles tinham conseguido; ou, ainda, estão colocando teleférico no lugar onde os meninos jogavam futebol. Ninguém perguntou se o melhor era isso para aquela comunidade. Claro que a comunidade quer ter forma de subir ali, que não seja trazendo a mercadoria nas costas, mas não se discute. Então há um risco muito grande de que as pessoas não consigam (arcar com os custos), de que elas empobreçam, porque elas continuam ganhando a mesma coisa e vão ter um custo muito maior. Maré: Há iniciativas tentando mudar essas imposições? Sonia: O pessoal do Território da Paz (programa do governo federal) tenta fazer o melhor, no sentido de canalizar as demandas ou criar canais para que as pessoas possam dialogar com o Estado, mas eles não têm poder. Outro ponto é que agora existe uma Ouvidoria da Polícia (tel: 3399-1199), onde a população pode denunciar os abusos.
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Exercício M, de movimento e de maré Sábados, dias 04, 11 e 25 de maio, às 19h Núcleo 2 de formação intensiva da Escola Livre de Dança da Maré (ELDM)
A arte que estimula novos olhares veri-vg
A segunda edição do Travessias – Arte contemporânea na Maré segue até 23 de junho, apresentando obras inéditas de dez artistas renomados, entre eles Carlos Vergara, Ernesto Neto, Vik Muniz e o fotógrafo Ratão Diniz, morador da Maré. Aos sábados, os organizadores do evento prepararam ainda encontros abertos ao público, sempre com a presença de um dos artistas participantes e personalidades que contribuem para a transformação da cidade e criação de novos espaços simbólicos.
Elisângela Leite
Também faz parte do evento a montagem de uma grande maquete da Nova Holanda, por um grupo de estudantes de arquitetura e moradores da Maré. O trabalho está sendo executado neste mês de maio, a tempo de ser exposto no Travessias. Essa maquete, que terá 4x6m, será o primeiro módulo de uma série que pretende reproduzir todo o complexo da Maré. Confira in loco visitando o Galpão Bela Maré e o Centro de Artes da Maré, que ficam lado a lado na Nova Holanda (leia o serviço completo nesta página). O evento é uma produção do Observatório de Favelas e da Automática, com apoio da Redes da Maré. A curadoria é de Raul Mourão e Felipe Scovino.
oficinas regulares
Dança de rua Segundas-feiras, das 17h30 às 19h Iniciante, a partir de 8 anos Percussão (a partir de 10 anos) Terças-feiras, das 20h às 21h30 Consciência corporal Terças-feiras, das 18h30 às 20h Quintas-feiras, das 18h30 às 20h A partir de 16 anos Dança contemporânea Quartas-feiras, das 18h30 às 20h Quintas-feiras, das 20h às 21h30 A partir de 12 anos
Corpo e expressão (nova oficina infantil) Quartas-feiras, das 17h30 às 18h30 Sextas-feiras, das 17h30 às 18h30 Para crianças entre 04 e 08 anos
Lembra do papai noel feito de morangos, da edição de natal? Pois é, agora essa ave típica do Hemisfério Sul virou um lindo aperitivo para enfeitar e degustar. Descobrimos essa brilhante ideia no Facebook do Farofa Fina.
Ingredientes: Cenoura crua Azeitonas pretas grandes Queijo tipo Polenguinho ou A vaca que ri Palitos de madeira
Modo de fazer: Cada pinguim leva duas azeitonas. Para o corpo, corte a azeitona pela lateral e recheie com o queijo, de modo que ele fique visível. Para a cabeça, use a outra azeitona, fazendo um corte numa das pontas para encaixar um pedacinho de cenoura cortada, que fará a vez de bico. Os pés são feitos de rodela de cenoura com um cortezinho no meio.
Dança de salão a partir de 16 anos Sextas-feiras, das 18h30 às 19h30 - Iniciante Sextas-feiras, das 19h30 às 20h30 Intermediário, salsa e samba de gafieira Sextas-feiras, das 20h30 às 21h30 Intermediário, forró e soltinho Dança criativa Quintas-feiras, das 18h30 às 20h Para crianças de 08 a 12 anos
Pinguim se come
rva Uma visitante obse artins M n ja Ar de o lh o traba
Visão geral do Galpão Bela Maré: à esqu., os quadros de Carlos Vergara
Para juntar direitinho o corpo, a cabeça e os pés, finque um palito do alto para baixo.
Travessias 2 – Arte contemporânea na Maré - Entrada gratuita! Rosilene Miliotti
Período: até 23 de junho no Galpão Bela Maré Rua Bittencourt Sampaio, 169 (entre as passarelas 9 e 10 da Av. Brasil)
Elisângela Leite
Nos últimos meses, 12 jovens alunos do Núcleo 2 de formação intensiva da Escola Livre de Dança da Maré (ELDM) e quatro bailarinas convidadas mergulharam em partes do repertório e em alguns dos processos de pesquisa e criação da Lia Rodrigues Companhia de Danças. Juntos desenvolveram uma série de estratégias para que esses jovens em formação experimentassem o material coreográfico e deixassem suas marcas. É desta imersão que sai o “Exercício M, de movimento e de maré”, uma experiência compartilhada, com caráter pedagógico, que conta com patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, através do Fundo de Apoio à Dança (Fada) e apoio da Fondation Hermès. Os 12 jovens do Núcleo 2 foram selecionados em março de 2012, quando mais de 50 pessoas participaram de uma audição. Ao longo desse pe-
ríodo, de segunda a sexta-feira, durante quatro horas diárias, eles passaram por uma intensa formação em dança contemporânea. “Para fechar esse primeiro ano de trabalho, pensamos a experiência a partir de material de uma escrita coreográfica que a Lia Rodrigues está desenvolvendo com esses jovens e mais quatro bailarinas convidadas desde janeiro desse ano”, explica Silvia Soter, coordenadora do Centro de Artes da Maré, que é um Ponto de Cultura mantido pela Redes da Maré. O objetivo da ELDM, inaugurada em outubro de 2011, é democratizar o acesso dos moradores à arte e à dança, num trabalho acompanhado pela reflexão teórica que permite contextualizar historicamente a produção artística e desenvolver a capacidade de reflexão crítica dos alunos diante da arte e da sociedade.
R. Bitencourt Sampaio, 181 Nova Holanda (21) 3105-7265 - Programação no local ou pelo tel. 3105-7265 - 2 a a 6a, de 14h às 21h30
Quartas, sábados e domingos, das 10h às 18h - Quintas e sextas, das 10h às 20h Mais informações: www.travessias.org.br
Programação Paralela: Centro de Artes da Maré (CAM) Rua Bittencourt Sampaio, 181 - Aos sábados, às 16h Sábado 11 de maio, 16h Relato de artista: Carlos Vergara Apresentação de projeto: Ricardo Henriques, apresentando o tema “políticas públicas integradas no território e participação comunitária” Entrevista: com Fernanda Abreu e MV Bill Sábado 25 de maio, 16h Relato de artista: Ratão Diniz Apresentação de projeto: Ronaldo Lemos, discutindo o Marco Civil para Internet no Brasil Entrevista: com Marcelo Yuka e José Padilha Sábado 08 de junho, 16h Relato de artista: Daniel Senise Apresentação de projeto: Paul Heritage, apresentando o Rio Occupation London
e os visitantes Ernesto Neto permite qu ação brinquem com a sua cri
Sábado 22 de junho, 16h Mesa de encerramento: Fred Coelho, Luisa Duarte, Jailson de Souza, Felipe Scovino e Luiza Mello
Cultura
Encontros do Travessias 2 - Arte Contemporânea na Maré Sábados, dias 04, 11 e 25 de Maio, de 16h às 19h Leia a programação completa na página ao lado
Elisângela Leite
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CULTURA
PROGRAMAÇÃO
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Farofa Fina
A Lona da Maré reabrirá em breve! Lona cultural
Herbert Vianna
cultura
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Recicle e ganhe!
ESPAÇO ABERTO
Desenho na veia Elisângela Leite
Não sabe o que fazer com o óleo de cozinha usado? Jogá-lo pelo ralo faz mal ao meio ambiente. Aqui na Maré, tudo o que jogamos pelo ralo vai para os valões e para a Baía de Guanabara. Para evitar que isso aconteça, o cantor e compositor Bhega, morador do Parque União, oferece uma cópia de seu CD ou DVD “Paz, amor e natureza”, em troca de dois litros de óleo de cozinha usado. “O morador ajuda o meio ambiente e eu vendo o óleo para ser reciclado. Com o dinheiro que arrecado, consigo fazer mais cópias do CD”, conta ele. Entre as músicas gravadas estão alguns clássicos, como “Dia D da Dengue” e “Cuidado Eleitor”. Contato do Bhega: 9206-5867.
Reprodução
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O estudante Emanuel, de apenas 12 anos, tem dom para o desenho. Morador da Nova Holanda e aluno do Colégio Santa Mônica, de Bonsucesso, o garoto desenha paisagens e aviões desde os quatro anos de idade. Ele começou a aprimorar sua técnica com 9 anos e atualmente conta com as dicas do livro de artes da escola. “Adoro desenhar. Este desenho da foto eu fiz para mostrar a realidade do que acontece na favela. Vejo muita caricatura por aí e eu queria mostrar como é, com as casas de tijolos e tudo”, conta Emanuel.
l os os meses! Garanta o seu jornatod pra Maré participar do Maré
Favela. Nem tudo é mentira. Nem tudo é verdade.
S a r a
Os meus Mo
mentos surgid
os no vento ésimos do me u eterno vive r. Simbolicame nte rabiscados , “escrita” infa ntil inicial, com liberdade e prazer do faze r-escrever. Eternizando o presente do passado e do futuro, compartilhand o com você seja por amizad e, curiosidade ou por qualqu er outra realida de, um pouco dos meus Eus surgidos no vento... os meus... Mo mentos. expressam mil
Favela também é lugar de gente contente, decente, inteligente.
Momentos
SARA nasceu em 25/08/67. Reside no Co mplexo da Maré. Foi educadora voluntária. Atuou na Cre che-Escola Comunitária Nova Holanda. É agente com unitária da prefeitura do RJ/SMDS.
A moradora e fiel leitora do Maré, Sara Alves, lançou o livro “Momentos”, pela editora Multifoco. meus Momen “Fico emocionada em saber que a minha escrita pode interessar a outras pessoas, isto é Os muito gratificante”, afirma ela. Para dar um gostinho de ler o livro, veja abaixo uma poesia de Sara. expressam milés
Favela não é só lugar de desempregado, desamparado, alienado ISBN . Asfalto. Nem tudo é mentira. Nem tudo é verdade.
Momentos
Sara Alves é uma poeta pedagoga que consegue retratar na sua poesia a sua história e de muitas outras pessoas. Em seus Mome nto escrever de form s buscou a tranquila os sen clara e timentos inerentes a tod os nós, divertindo a si mesma e ao leitor, que tem a alegria de viajar em sua s palavras. Percebemos claramente na sua escrita as formas complexas da vid a, as quais a autora conseg ue transmitir de forma lúd ica e perspic az, questões imp orta existência hum ntes da ana (amor, amizade, ale gria, ilusões, solidão, etc.). O livro não pre tende ensinar ninguém a viver. Ao contrário, ele é, sim, uma exaltação ao viver, resultado de momento s e lembrança s alegres, tristes , engraçadas, intrigantes, e todas muito interessantes . A poesia de Sara convite ao leit Alves é um or para passear por todos esses Mome ntos e ser feliz na caminhada da vida. Cláudia Santos é amiga de Sara Alves, cantora e assistente social da Prefeitura do Rio de Jan eiro.
Asfalto também éSimbolicamente lugar de gente contente, com liberdade e decente, Eternizando o pr inteligente.
compartilhando Asfalto, é fato, não é só lugar de curiosidade corrupção, violação, ou por qualquer extorsão. Cidade Maravilhosa! um pouco dos m Asfalto Favelesco. Favela Asfaltosa. surgidos no vent Exclusão Escandalosa. os meus... Mome
Rindo at o a
)
qual o nome do filme? Reprodução
A l v e s
Sara Alves
Quem tem acesso à internet pode assistir a pelo menos uma centena de filmes brasileiros completos de graça. São filmes clássicos e outros recentes disponibilizados pelos diretores e produtores. O internauta Eduardo Carli de Moraes facilitou a vida da gente ao agrupar todos esses filmes num só canal do You Tube: www. youtube.com/user/educmoraes. Entre os filmes estão “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha; “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla; e muitos outros.
Moradores da sua comunidade!
Porque a poesia sara!
Reprodução
Filmes gratuitos pela internet
Busque um exemplar na Associação de
em 25/08/67. uma família perdida na selva, Depois de 40SARA dias, nasceu encontrara um lago. todos tomam banho, Reside noencontram Complexooutro lago, e Novamente menos a avó. depois de outros 40 dias de caminhada todos tomam banho, menos a avó. o filme é...? da Maré. - Avó ta imunda em 80 dias ! Foi educadora voluntária. Atuou na Creche-Escola
Um cachorro passou em frente ao cinema, viu muita pedra, e tijolos. Comunitária Novaareia Holanda. Que filme estava passando? É agente comunitária da - Nenhum, o cinema estava em obras prefeitura do RJ/SMDS.