Elisângela Leite
agosto de 2015 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita
Pág. 11
Arquivo pessoal
Felipe é ouro
Morador conquista o Para-Pan Pág. 5
Em setembro, teremos um encontro da arte e da culinária pelas ruas da Maré. A partir do dia 12, tem Travessias 4 – Arte Contemporânea na Maré, que vai apresentar fotos de famílias de moradores dentro e fora do Galpão Bela Maré. E de 17 de setembro a 17 de outubro, tem Comida de Favela, primeiro festival gastronômico da Maré, com 16 restaurantes e quiosques participantes. Encontraremos acará com baião de dois, carne assada com bolinho de chuchu, croquete de cordeiro com molho de maçã e muito mais! Conheça cada prato, saboreie e dê o seu voto. pág. 8 a 10
“Série: Ruas” visita a Vila Monteiro
Seu Ramos da Laje, com seus quase 50 anos de Maré, perdeu a conta de quantas dessas construções já fez no Timbau, Pinheiro, João. pág. 6 e 7
Filha e neta contam sobre Joaquim Francisco Monteiro, ex-morador que batiza uma travessa no Timbau, onde funcionava sua pensão. pág. 3
Rosilene Miliotti
Cia Marginal em nova peça
Eliane e os netos Hebert e Adriel, uma das fotos do Travessias 4
Se sua laje falasse...
Povos da Baía Colônia da Praia de Ramos Pág. 4 e 5
Paula servirá carne assada com bolinho de chuchu
Rosilene Miliotti
Violência e abusos da PM
Comida de Favela e Travessias 4
Elisângela Leite
pág. 14
Eventos
Antonello Veneri
Sorria com o Raphael dos vines
Leite
65
Elisângela
Ano VI, No
Pág. 13
O Centro de Artes da Maré está em plena atividade! Pág. 15
Seu Ramos e o filho, Almir
Entrada da Vila Monteiro, que liga as Rua dos Caetés a Travessa Nova Jerusalém
Editorial
mirim. Ele é da turma 1802 e quem nos enviou as charges, com autorização do autor, foi sua professora Viviane Couto. Parabéns, Robson! Obrigado, Viviane.
Diversidade cultural Esta edição reflete a diversidade e a pulsação cultural da Maré. Em setembro, teremos um pouco de tudo: parada LGBT, evento gastronômico, exposição de arte contemporânea, teatro engajado e exposição de fotos e exibição de um curta-metragem sobre a cena do crack. E em outubro, teremos encontro para troca de experiências sobre MPB. Tentamos divulgar alguns eventos, mas certamente há muitos outros, tão merecedores quanto.
Nome da travessa Vila Monteiro homenageia o ex-morador Joaquim Francisco Monteiro Reprodução / Acervo da família
Como nem tudo são flores, o artigo da Anistia nos lembra uma triste realidade, infelizmente bastante próxima de nós: os homicídios decorrentes das incursões da Polícia Militar, em geral tratados como “autos de resistência”, porém sequer investigados. Casos impunes que alimentam o ciclo da violência, conforme destaca o artigo da pág. 11.
A filha de Monteiro, Maria (ao centro), e duas netas. Na foto à esqu., a pensão nos anos 1980; à dir., a entrada do beco com a placa Vila Monteiro
A luta por direitos e por mais qualidade de vida permeia a história dos moradores que aparecem nesta edição. Seu Ramos da Laje, o pescador Massa, o paratleta Felipe, o Raphael dos vines e tantos outros que, a cada mês, vamos buscando apresentar, atendendo às sugestões, debatendo e trocando ideias pelas ruas da Maré.
Hélio Euclides
Boa leitura a todas e todos!
Expediente Instituição Proponente
Redes de Desenvolvimento da Maré
Diretoria
Andréia Martins Eliana Sousa Silva Edson Diniz Nóbrega Júnior Helena Edir Secretaria Executiva: Patricia Vianna Eixo Educação: Coordenadora: Gisele Martins Eixo Arte Cultura: Maíra Gabriel Anhorn Eixo Desenvolv. Territorial: Responsável: Edson Diniz Eixo Segurança Pública Responsável: Eliana Sousa Silva Eixo Comunicação: Responsável: Andréia Martins
Instituição Parceira
Observatório de Favelas
Apoio
Ação Comunitária do Brasil
Administração do Piscinão de Ramos
Associação de Moradores da Vila do João
Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ)
Associação Comunitária Roquete Pinto
Associação Pró-Desenvolvimento da Comunidade de Nova Holanda
Repórter
Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas
Biblioteca Comunitária Nélida Piñon Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa (CRMM)
Associação dos Moradores e Amigos do Conjunto Esperança
Conexão G Conjunto Habitacional Nova Maré
Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias
Conselho de Moradores da Vila dos Pinheiros
Associação de Moradores do Conjunto Pinheiros
Luta pela Paz
Associação de Moradores do Morro do Timbau Associação de Moradores do Parque Ecológico
3 SÉRIE “RUAS”
Morador vira nome de beco no Timbau
HUMOR - Robson, estudante do 8º ano do Ciep Operário Vicente Mariano, é um cartunista
Maré de Notícias No 65 - agosto / 2015
Maré de Notícias No 65 - agosto / 2015
EDITORIAL
2
União de Defesa e Melhoramentos do Parque Proletário da Baixa do Sapateiro
Associação de Moradores do Parque Habitacional da Praia de Ramos
União Esportiva Vila Olímpica da Maré
Associação de Moradores do Parque União
Leia o Maré e baixe o PDF em www.redesdamare.org.br
Rosilene Miliotti
Fotógrafa
Elisângela Leite
Proj. gráfico e diagramação Pablo Ramos
Logomarca
Monica Soffiatti
Colaboradores Anabela Paiva Priscila Xavier
Impressão
Jornal do Comércio
Tiragem
40.000 exemplares
Associação de Moradores do Parque Maré Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz
Editor assistente
Editora executiva e jornalista responsável Silvia Noronha (Mtb – 14.786/RJ)
/redesdamare
@redesdamare
Redes de Desenvolvimento da Maré Rua Sargento Silva Nunes, 1012, Nova Holanda / Maré CEP: 21044-242 (21)3104.3276 (21)3105.5531 www.redesdamare.org.br comunicacao@redesdamare.org.br
Imagem de cabeçalho na capa: Seu Ramos da Laje, em foto de Elisângela Leite.. Os artigos assinados não representam a opinião do jornal. Permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte.
Parceiros:
Rosilene Miliotti
Nosso primeiro passeio pelas ruas da Maré teve parada na Rua Ivanildo Alves, onde conhecemos a história desse ilustre morador (ed. 62). Continuando a caminhada, subimos o Morro do Timbau e descobrimos que a comunidade é um celeiro de ruas que homenageiam moradores que marcaram a vida local. Para contar a trajetória de um residente que mereceu virar nome de beco, ou melhor, de Vila, destacamos Joaquim Francisco Monteiro. A Vila Monteiro liga a Rua dos Caetés a Travessa Nova Jerusalém. Para Maria Avelino da Cruz, de 78 anos, o seu pai foi uma pessoa que percebeu que o morro era um local acolhedor e retribuiu da mesma forma, recebendo os parentes que vinham do Nordeste para cá e, por isso, mereceu a homenagem. “Acredito que o batismo da rua se deve a ele ser um homem de grande coração e todos gostarem dele”, conta sua filha.
Monteiro nasceu em Pedro Velho, município do Rio Grande do Norte, e veio para a capital fluminense tentar uma vida melhor. No Morro do Timbau virou comerciante. Em um barracão abriu uma pensão, que também vendia bebida. Na época, o beco, onde situava a pensão, tinha o nome de Rua dos Caetés, número 25. Para diversão dos clientes, o comércio tinha um espaço para o carteado. O jogo de aposta era proibido, então quando vinha a polícia, ele escondia as cartas num buraco falso. Os frequentadores disfarçavam indo para frente do bar e fingiam estar bebendo. Nosso personagem também era um galanteador; teve 10 filhos com três mulheres diferentes. “Meu pai não era um homem que morava com as mães de seus filhos, apenas visitava, e dessas visitas iam nascendo as crianças. Quando era pequena, ele ajudava financeiramente, mas depois com o número grande de filhos, ficou difícil, era um homem com pouco dinheiro”, afirma Maria. Ela explica que por ser bom, chegava a ser ingênuo; aceitava a venda fiada e, em troca, recebia muito calote. “Só fiquei próxima do meu pai por seis meses, quando morei na casa dele. Nesse período
eu trabalhava no Vinho Catete, onde hoje é a quadra do Coração Unidos. Eu era rotuladeira e morava em Duque de Caxias com a minha mãe, era longe para o retorno todo dia, então só ia aos finais de semana”, conta Maria.
Homenagem póstuma A Lei Federal nº 6.454, de 1977, não permite nome de ruas usando pessoas vivas. Dessa forma, Monteiro só foi homenageado após sua morte. Uma brincadeira que virou profecia marcou esse momento. “Tinha um senhor conhecido como Bio, que carregava água. Certa vez, meu pai falou que Bio ainda morreria pelo consumo de bebida alcoólica. Bio não pestanejou e fez um prognóstico: ‘Se eu for, no outro dia será sua vez.’ Assim aconteceu. Bio escorregou do alto do morro e meu pai morreu atropelado na Avenida Brasil, foi uma distração”, lembra Maria. “Minha mãe me falou que meu avô falecera aos 72 anos, em 1970. Já o nome dado ao antigo beco, que após a homenagem virou Vila Monteiro, foi em meados dos anos 1980”, recorda-se a neta Marina Medeiros.
Maré de Notícias No 65 - agosto / 2015
Hélio Euclides
Elisângela Leite
Depois de uma viagem pelas águas da Baía de Guanabara, entorno de Marcílio Dias, Parque União e Vila do Pinheiro, chegamos à nossa penúltima parada: Colônia de Pescadores Z11, na Praia de Ramos, oficializada em 15 de novembro de 1919. Para esta edição, o bate papo foi com a secretária da colônia, Regina Alves de Oliveira, neta do fundador, e com o pescador Manuel de Brito Lima, conhecido por Massa. Regina, de 53 anos, atua desde os 19 na administração. “Tudo começou com meu avô, que era pescador. Ele fez um barraco aqui, aterrando o lugar, e assim foi surgindo a colônia. Com a ajuda de amigos foi ampliando”, comenta ela, que depois do ensino médio teve seu primeiro emprego na colônia. O pai dela também tinha barco, um caico (com até oito metros), onde iniciou a família no amor ao mar.
Um passo importante para a colônia foi a doação do terreno por parte da Marinha. Em tamanho, ela é uma das maiores colônias, com 33 boxs que guardam materiais de pesca e alguns abrigam pescadores idosos. O papel da colônia é no apoio aos pescadores, como a luta pelo defeso, ajuda no preenchimento do carnê do INSS e recibo de venda, além de oferecer carteira de identificação aos filiados.
Acredito que a decadência veio disso”, afirma. Nem a tradicional festa de 29 de junho é a mesma. Antes tinha procissão marítima e barraquinhas, hoje só há missa e fogos. Assim, parte do terreno da colônia está alugado. “Se vivêssemos só da pesca iriamos fechar. Uma vez recebemos a visita do ministro da Pesca, que fez promessas de modernização do espaço, igualmente a prefeitos, governadores e deputados. Mas tudo ficou na promessa”, confessa.
Tempos áureos
Um destaque do passado foi o projeto Baía Limpa, quando o pescador retirava lixo flutuante do mar, com o uso da rede de pesRegina lembra que a Praia de Ramos era um ca. O projeto durou menos de um ano. Os mercado de peixes. No passado o píer era pescadores entendem que se tivesse conde madeira, que com o tempo se acabou, tinuado o mar estaria limpo. “Está muito então a entrega de peixes ficou em Niterói. difícil o peixe, fazendo com que os pescaAté hoje, os integrantes do grupo sofrem as dores sobrevivam com um trabalho extra. Os filhos já não continuam na profissão, pois há dificuldade até para consertar o barco”, laMassa, o pescador mais antigo da colônia da Praia de Ramos menta Regina.
“Fui do tempo que batia a madeira na água e as tainhas pulavam. Os barcos eram carregados com 10 toneladas de peixes” consequências do derramamento de óleo dentro da Baía de Guanabara, ocorrido no ano 2000, pela Petrobras. “Sofremos com a poluição que afastou alguns pescadores da luta. O laudo feito pela perícia dizia que a poluição duraria 10 anos, o que já ultrapassa.
Massa, o mais antigo da colônia, pescou por 40 anos
História de pescador
“O Rio de Janeiro era um brinco, um paraíso. Comia, bebia de graça e tinha muitas mulheres. A moradia era 200 mil réis o aluguel, com direito a comida”, conta. Antes da pesca, ele trabalhou como servente na obra de construção do Maracanã, como camelô na Central do Brasil e na garagem e transporte da cervejaria Antárctica. Sua primeira moradia na região foi na Rua Ouricuri, em Roquete Pinto; depois veio para a Praia de Ramos. O amor ao mar foi cultivado quando tirava férias e ia pescar. “Há uns 40 anos comecei na colônia. Hoje sou o pescador mais velho, conheci o avô da Regina e plantamos juntos algumas árvores daqui”, diz. Dando gargalhadas, ele conta dois causos do amar. “Eu e mais dois pescadores, Trovoada e Euclides, fomos ao mar e à frente veio vento e chuva. O Trovoada gritava mais que bezerro. O Euclides teve até diarreia. Expliquei que somos folhas secas no mar, que não deveríamos ter medo se tivesse chegado a nossa hora”, conta. Outra bravura foi contra ‘piratas’ do mar. “Uma vez tive o meu caíque furtado. Fui atrás. Quando achei, havia cinco homens armados com ele. Voltamos para a colônia e não desistimos. Retornamos com tudo, estava com dois parabelos na mão (pistola que era usada por militares da Alemanha e que chegou ao Brasil nos anos de 1950) e conseguimos trazer o barco de volta”, relata. Massa, como outros pescadores, reclama da poluição da Baía. “Fui do tempo que batia a madeira na água e as tainhas pulavam. Os barcos eram carregados com 10 toneladas de peixes. Eram tantos peixes que vendíamos a dois mil réis o quilo e ninguém queria”, finaliza. Nossa última parada dessa série será a Vila Residencial, antiga Divineia. Até lá.
Massa, por sua vez, é um pescador das antigas. Aos 78 anos de idade, ele já não pesca mais, por problemas na visão.
Regina na colônia. A foto mostra no canto à esquerda o píer destruído
Peixinhos resistentes aparecem em meio à poluição das águas
Moradores representam o Brasil em Toronto. Felipe garantiu vaga para os Jogos Paralímpicos de 2016 Rosilene Miliotti Este ano tivemos dois moradores da Maré competindo nos Jogos Pan-Americanos e Parapan-Americanos, no Canadá. O boxeador Roberto Custódio venceu a primeira luta, mas perdeu a segunda para o venezuelano Gabriel Maestre Perez. Já o veterano Felipe Gomes participou pela terceira vez dos Jogos e conquistou duas medalhas de ouro, nos 400m e no revezamento 4x100, e uma de prata nos 200m, na categoria T11. “Estou feliz pela torcida e já estou classificado para os Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro, em 2016, e para o Mundial no ano que vem em Doha, no Quatar”, comemora Felipe. Para Roberto essa foi uma das melhores experiências que já passou. “Eu nem sei explicar, mas foi muito gratificante estar entre atletas que eu só via pela televisão. Infelizmente a medalha tão esperada não veio, mas o foco continua e agora é treinar. Ainda não sei qual será a próxima competição, mas tenho que estar pronto”, comenta. Continuem assim meninos, que nós estaremos sempre na torcida por vocês e pelos futuros atletas da Maré.
ESPORTE
Maré no Pan-Americano
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Pescar é “massa”!
Nosso pescador veio de Aroeira, cidade da Paraíba. Teve seu primeiro porto de parada no município de Altura, hoje Campos Elísios.
Arquivo pessoal
Povos da Baía
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Seu Ramos da Laje perdeu a conta de quantas dessas construções fez, desde que as casas por aqui começaram a ser de alvenaria
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Priscila Xavier
Elisângela Leite
São mais de 130 mil moradores nascidos ou somente criados no maior complexo de favelas do Rio de Janeiro, a Maré. Cada pessoa com uma particularidade, algo que não o torna superior ou inferior ao outro, mas apenas o diferencia: a história. Seria praticamente impossível falar de uma comunidade sem passar pelo povo que a compõe. E são histórias de vida e superação que fazem a Maré subir. Nascido em 28 de agosto de 1944, na cidade de Santa Rita, na Paraíba, Severino Inacio da Silva, popularmente conhecido como Ramos da Laje – apelido que ganhou após a mãe ter feito uma promessa a São Severino dos Ramos –, chegou ao Rio de Janeiro em 1965, aos 21 anos, para trabalhar. Filho do meio entre os 14 irmãos, dos quais a metade já falecida, ele foi o primeiro a sair de casa e a embarcar em busca de uma melhor qualidade de vida no Sudeste. “Quando vim da Paraíba, um vizinho, que era compadre de
minha mãe, morava na Rua Itambé, na descida da Ilha do Governador. Fiquei na casa dele por um determinado tempo, consegui um emprego na Rede Ferroviária 10ª Região da Leopoldina e depois na fábrica de refrigerantes Crush. Logo em seguida, houve a fundação do Parque União e eu arrumei um barraco na Rua Teixeira Ribeiro. Era tudo mangue até a entrada da Ilha”, lembra. Com trabalho e moradia, ele resolveu que era hora de trazer os irmãos. Aos poucos, a família foi chegando e se instalando em habitações também na Maré. Aos 24 anos, Severino foi trabalhar com um pedreiro que lhe ensinou o ofício. Logo em seguida, iniciou temporariamente no Consórcio Rio-Niterói, auxiliando na construção da Ponte Rio-Niterói, e ainda na empresa Odebrecht, recémfundada na cidade. “Depois da Odebrecht, fiz um curso de pedreiro no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, no Fundão, que estava abandonado há 18 anos por conta de um acidente que matou mais de 20 funcionários numa obra. Um tempo depois, um engenheiro da prefeitura tomou conta de lá e organizou esse curso profissionalizante. Percebi que aquela era a minha profissão. Enquanto os outros começavam a fazer uma coisa, eu já havia terminado. O curso era de três meses, mas fui aprovado em dias. O engenheiro e os técnicos me entregaram uma mala
com várias ferramentas de pedreiro junto a um diploma que guardo até hoje. Com ele, a minha carteira passou a ser assinada como meio oficial”, conta. Nessa época estavam construindo o metrô na Central do Brasil e, na manhã de domingo, saiu num jornal que precisavam de profissionais para a construção. Foi então que Ramos organizou a documentação, colocou debaixo dos braços a nova maleta de ferramentas e, às 6h da manhã, estava na fila para a vaga de emprego. “Essa foi uma porta que se abriu”, afirma.
bom projeto de obras e aonde continuo até hoje”, conta. De acordo com Ramos, atualmente não se ganha mais dinheiro com as lajes, principalmente com as grandes crises e a instabilidade da economia. Outro fator é que antes não existiam fabricantes, o que fazia dele um soberano no ramo, chegando a vender o material até mesmo para outros lugares como Pedra de Guaratiba, Barra da Tijuca e Santa Cruz da Serra. Severino não sabe nem ler nem escrever, mas consegue realizar cálculos de cabeça,
Meu sonho é aumentar o nosso serviço, não apenas com a fabricação das lajes, mas seguir para o ramo de construção e,
Fim das palafitas, início das lajes Certa vez, um amigo chamado Mauro, ao retornar de uma viagem ao Nordeste, trouxe três formas de lajes na caçamba de um caminhão. Esse foi o início de uma jornada que dura mais de 40 anos. Nesse período, acontecia o Projeto Rio, primeira grande intervenção do governo federal na Maré, que tinha o objetivo de acabar com as moradias construídas precariamente sobre palafitas e transferir as famílias para casas pré-fabricadas. Sem perceber, esse foi o “empurrãozinho” que faltava para que o projeto das lajes começasse.
“Quando teve início a remoção das palafitas, eu já tinha uma casa de tijolos, então fui um dos indenizados. Com o dinheiro, comprei mais formas e comecei a fabricar as lajes. Iniciei no Morro do Timbau, depois na Vila do Pinheiro e, em seguida, na Vila do João”
Seu Ramos da Laje
sem a ajuda de calculadora ou lápis e caderno. Inteligência lógica, autodidata? Ele “Quando teve início a remoção das nem sabe o que elas significam, mas faz palafitas, eu já tinha uma casa de tijolos, questão de destacar: “Quem leva os proentão fui um dos indenizados. O chefe jetos e as memórias é a cabeça e não a da obra, o Dr. Edgar, da Fundação Leão leitura. Conheço vários empresários, com XIII, retirava areia da Praia de Ramos formação, que faliram, e eu, desde que coe trazia para a Maré. Com o dinheiro da mecei a trabalhar com lajes, ainda não fali. indenização, comprei mais formas e Inclusive, tenho vários projetos em mente comecei a fabricar as lajes. Iniciei no Morro que preciso colocar em prática. Já dei volta do Timbau, depois na Vila do Pinheiro e, até num cidadão com nome de Almir, que em seguida, na Vila do João, onde teve um é o meu filho e tem estudo. Ele chegava com umas contas e, quando eu olhava, percebia que estava errado e pedia para que ele refizesse Seu Ramos e o filho, Almir, que trabalha com oopai desde cálculo”, lembra os 16 anos ele, entre risos. Sendo o filho mais velho
Todas as lajes ao fundo foram construídas por Seu Ramos (foto tirada na sua oficina, na Vila do João).
de Ramos, Almir Inacio trabalha com o pai desde os 16 anos. São 28 anos de parceria, lutas e conquistas. Sendo a segunda geração na fabricação de lajes, ele já sonha com o futuro. “Esse é um trabalho pesado. Todos os dias fazemos concreto, entregamos lajes, realizamos orçamentos nos locais. Apesar dos quase 70 anos, meu pai é muito ativo, ele não para. O que mais admiro nele é a inteligência, pois mesmo sendo analfabeto ele nos surpreende.
consequentemente, obter mais lucros”, sublinha Almir. Há quase 50 anos como morador da Maré, seu Ramos recentemente começou a sentir o desejo de sair da comunidade, após o neto ter sido baleado durante uma troca de tiros. “Hoje eu mudaria, pois criei um dos meus netos desde quando ele tinha três anos e no dia 15 de dezembro do ano passado, ele foi comprar um lanche e acabou baleado na perna direita, acima do joelho. Teve diversas complicações e foi preciso amputar a perna para que ele sobrevivesse. Foi uma luta e uma dor muito grande ver um jovem aos 20 anos naquela situação e sem receber nenhum tipo de apoio, somente o da família. Por isso eu mudaria, mas seria necessário ganhar na mega-sena, porque não conseguiria deixar minha família aqui. Meu maior sonho é continuar tendo saúde, pois mesmo me considerando jovem, a idade está chegando, mas ainda quero viver muito”, avisa. Apesar da violência, que não é exclusividade local, ele continua sendo nordestino de coração mareense e sorriso fácil, que criou a família e continua a fazer a história da favela.
Perfil
Engenheiro sem diploma
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PERFIL
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Comida de Favela apresenta nossa boa gastronomia e Travessias 4 - Arte Contemporânea na Maré mostra obras de artistas consagrados e em início de carreira. Por um período, os dois eventos acontecerão simultaneamente
Silvia Noronha e Rosilene Miliotti De 17 de setembro a 17 de outubro, acontece o Comida de Favela, primeiro festival gastronômico da Maré, que visa valorizar a boa mesa da favela. Cada um dos 16 restaurantes e quiosques participantes escolheu um prato para servir ao público a preço camarada. Boa parte dos donos dos estabelecimentos é oriundo do Nordeste, mas os pratos escolhidos por eles para o festival apresentam uma grande diversidade e criatividade. O público poderá dar nota aos pratos e, ao final, o melhor colocado será premiado. “A gastronomia da Maré, por ser caseira, tem princípios artesanais com preço justo, mesmo quando o prato é mais elaborado, como o Salmão ao molho de camarão e lulas com alcaparras. Há também uma reinterpretação de pratos de outras regiões e países, como o feijão mexicano, uma criação local e não cópia da receita tradicional do México”, ressalta Mariana Aleixo, uma das coordenadoras do projeto. A ideia do festival nasceu a partir de outros projetos do eixo Desenvolvimento Local, da Redes da Maré, como o Maré de Sabores e o Censo dos Empreendedores da Maré. Conheça os participantes no mapa ao lado! Leia sobre o Travessias na página 10.
Festival Comida de Favela Período: 17/09 a 17/10 Horário sugerido: de 12h às 19h de sexta a domingo
Baixa do Sapateiro
Rei das Cabritas Prato: Carne de sol c/ aipim Proprietário: Antônio Praça do Parque União, s/n Horário: 18h às 5h (sex, sab, dom e seg)
Open Bar Prato: Acará com baião de dois Proprietário: Elmo Rua Nova Canãa, 33 Horário: 11:30h às 2h
Galeto Dourado Prato: Paella Proprietário: Ribamar Rua Roberto da Silveira, 17 Horário: 11h às 2h (seg a dom)
Bar e Pensão da Amparo Prato: Carne assada com batata corada e pão Proprietário: Amparo Rua Luiz Ferreira, s/n Horário: 8h às 21h
Nova Holanda
Empadinha da Leandra Salgado: Empadinha de Frango Proprietária: Leandra Beco São Bento, 8 Horário: 16h às 18h
Timbau Sonia’s Gourmet Prato: Salmão ao molho de camarão e lula c/ alcaparas Proprietária: Sônia Rua Praia de Inhaúma, 299 Horário: 7h às 16h Sabor Brasileiro Prato: Carne assada com bolinho de chuchu Proprietária: Paula Rua Nova Jerusalém, 346 Horário: 11h às 16h
Preço sugerido: até R$ 15 por pessoa
Vila do Pinheiro
Haverá visitas guiadas e vans saindo do centro do Rio.
Pensão do Wilson Prato: Churrasco misto Proprietário: Wilson Av. Bento Ribeiro Dantas, Bl. 30 Horário: 11h às 16h Angu e Cia Prato: Batata recheada Proprietária: Solange Av. Bento Ribeiro Dantas, Bl. 20 Horário: 19h30 às 2h (qui, sex e sab)
Previsto show de encerramento na praça do Parque União, na noite de 17/10 Informe-se pelo Facebook: Comida de Favela ou pelo site: www.redesdamare.org.br
Boner Gourmet Japonês Prato: Hot Gourmet Proprietário: Rodrigo Rua Roberto da Silveira, 31 Horário: 18h às 3h
Kiosque da Luci Prato: Feijão Mexicano Proprietário: Felicio Praça de Nova Holanda, s/n Horário: 18h30 às 3h Bar do Gil Prato: Cachupa Proprietário: Gilberto Praça de Nova Holanda, s/n Horário: 12h às 24h
Vila do João Frango Assado da Vila Prato: Frango Assado na brasa Proprietária: Ana Rua 14, nº 392 Horário: 9h às 21h Bar e Pensão da Marilda Prato: Rabada com aipim Proprietária: Marilda Rua 14, nº 187 Horário: 7 às 24h Point do Macarrão Prato: Croquete de cordeiro com molho de maçã Proprietário: Thiago Rua 3, nº 7 Horário: 11h à 1h Bar da Buchada Prato: Galinha ao molho pardo Proprietária: Eulina Rua 14, s/n Horário: 8h às 02h
9 Eventos
Eventos agitam a Maré a partir de setembro
Parque União
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Maré de Notícias No 65 - agosto / 2015
EVENTOS
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Silvia Noronha
Antonello Veneri
A quarta edição da exposição de arte contemporânea “Travessias”, que será aberta em 12 de setembro, terá uma troca maior entre os visitantes e a Maré. Desta vez, um dos projetos selecionados apresentará fotos de 10 famílias de moradores dentro de suas próprias casas. Além disso, as mesmas 10 fotos que estarão no Galpão Bela Maré – local da exposição – também serão colocadas na rua, em tamanho maior e em diferentes pontos da Nova Holanda. Após o evento, as imagens serão presenteadas às famílias. Com o título “Interiores da Maré”, o trabalho foi desenvolvido em dupla pelo morador Henrique Gomes e o fotógrafo italiano Antonello Veneri, e foi selecionado por meio de edital aberto pelo Travessias 4. A proposta é mostrar a intimidade e o cotidiano dos moradores, indo além das imagens mais comuns da favela, tiradas da rua. “Queremos mostrar o lado cotidiano da comunidade, que é retratado muito pouco pela mídia, e apresentar também as
Eliane com os netos, Heber
t (à esqu.) e Adriel
grandes diferenças que existem. Quem não é da comunidade pensa que é tudo padronizado”, afirma Antonello, que desenvolveu o projeto em 2013, quando morou na Maré. Com o apoio de Henrique, os dois escolheram diferentes modelos familiares, para mostrar a diversidade social da favela. “Fui a famílias que já conhecia e que saíam um pouco do tradicional, do marido, mulher e filhos. Há pai com quatro filhos, casais gays, avó que cria os netos, moradores da cena de crack que se unem como parentes, entre outras. Eliane Antunes, uma das participantes, gosta da ideia de mostrar onde sua família vive. “Eu os deixei mostrar minha intimidade, só não imaginava que seria exposta na Maré e sim no exterior, mas acho legal. A foto mostra minha casa diferente do que está agora. Hoje está arrumadinha, com móveis novos, televisão nova”, conta ela, que mora com três netos.
Travessias 4
Arte Contemporânea na Maré Local: Galpão Bela Maré Período: de 12/09 a 14/11 Rua Bittencourt Sampaio, 169, Nova Holanda (entre as passarelas 9 e 10 da Av. Brasil) De terça a sexta, das 10h às 17h. Sábado das 11h às 17h Entrada Gratuita Para saber mais – Facebook: Travessias / Site: travessias.org.br Realização: Observatório de Favelas e Automática Parceria: Redes da Maré O festival Comida de Favela acontecerá durante o Travessias 4 (leia na pág. 8 e 9)
Nos últimos cinco anos, os autos de resistência responderam por cerca de 16% dos homicídios registrados na cidade do Rio
A Anistia Internacional lançou no início de agosto o relatório “Você matou meu filho – Homicídios cometidos pela Polícia Militar na cidade do Rio de Janeiro”. A pesquisa conclui o que moradores de periferia e favela já sabem: a Polícia Militar tem usado a força de forma desnecessária, excessiva e arbitrária, desrespeitando normas e protocolos internacionais sobre o uso da força e armas de fogo. Isso resulta em diversas violações dos direitos humanos e em um número elevado de mortos, que são em sua maioria homens, jovens e negros. Outros abusos também foram documentados: relatos frequentes de ameaças a moradores, testemunhas e defensores de direitos humanos, invasões, furtos e agressões. Com base nos dados cedidos pelo Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro, a Anistia Internacional apurou que, em média, nos últimos cinco anos, os homicídios decorrentes de intervenção policial (autos de resistência) responderam por cerca de 16% dos homicídios registrados na cidade do Rio de Janeiro. Apesar de representarem uma porcentagem significativa do total de homicídios, os casos decorrentes de intervenção policial tendem a não ser investigados. Do total de 220 registros de “autos de resistência” na cidade do Rio de Janeiro em 2011, até abril de 2015, mais de 80% dos casos permaneciam com a investigação em aberto e apenas um deles foi denunciado à justiça.
Além do projeto “Interiores da Maré”, o Travessias 4 mostrará o trabalho dos artistas já consagrados Regina Silveira, de São Paulo; e Eduardo Coimbra, do Rio; e da pernambucana Marie Carangi, também selecionada por edital.
tênio com o filho Aris enrique , a ç ra G a H ad gato Fred e esqu.: Mari A partir da rida, Antonello com o a gata F
“A crença de que vivemos uma ‘guerra às drogas’ e que matar ‘traficantes’ faz parte desse combate tem sido usada como justificativa para uma polícia que age fora da lei. A falta de investigação dos casos de homicídios envolvendo policiais alimenta a impunidade e o ciclo de violência”, alerta
Atila Roque, Diretor Executivo da Anistia Internacional no Brasil. A organização selecionou a Área Integrada de Segurança Pública (AISP) 41, área de abrangência do 41° Batalhão da PM. Segundo levantamento, esta foi a área que apresentou o maior número de registros de homicídios decorrentes de intervenção policial no estado em 2014. Dentro dos limites da AISP 41, foi selecionada a favela de Acari, que registrou naquele ano 10 “autos de resistência”. O resultado foi que a Anistia Internacional conseguiu reunir informações sobre nove dos 10 casos em Acari e revelou que há fortes indícios de execução nestes casos documentados. Nenhum policial foi morto em serviço em Acari.
A pesquisa também revela que a falta de investigação e consequente impunidade dos casos de “autos de resistência” fazem com que policiais militares usem este registro como forma de encobrir a prática de execuções. O padrão dos registros de ocorrência alegando confronto e legítima defesa, a alteração da cena do crime pelos policiais envolvidos, a não realização de perícias adequadas, a tentativa de criminalizar as vítimas, a falta de seguAtila Roque rança para as testemunhas, e a omissão de atores como o Ministério Público contribuem para a não investigação desses homicídios e, consequentemente, para sua impunidade.
“A crença de que vivemos uma ‘guerra às drogas’ e que matar ‘traficantes’ faz parte desse combate tem sido usada como justificativa para uma polícia que age fora da lei. A falta de investigação dos casos de homicídios envolvendo policiais alimenta a impunidade e o ciclo de violência”
Ação policial no Complexo do
Caju
DIREITOS HUMANOS
Fotos de famílias da Maré estarão no Travessias 4 dentro do galpão e também pelas ruas
Violência e abusos da PM na berlinda
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Maré de Notícias No 65 - agosto / 2015
Na intimidade das casas
Arquivo / Anistia
Eventos
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13 DICAS CULTURAIS
Vida Real promove cultura da MPB
Domingo, 6 de setembro, acontece o Festival de Cultura, Direitos e Cidadania LGBT de Favelas 2015, na Rua Teixeira Ribeiro, próximo ao número 535. As atividades começam às 7h, com café da manhã durante a montagem das barracas da Feira de Saúde Maré Saudável, que abrirá às 10h. Durante todo o dia haverá oferta de serviços de ação social e de assistência, além da apresentação de trabalhos de organizações comunitárias que atuam com promoção da saúde.
O Instituto Vida Real está organizando a Feira Cultura da MPB, que durante dois dias apresentará trabalhos de alunos e promoverá atividades de valorização do conhecimento sobre a música popular brasileira. A ideia surgiu quando os professores detectaram um fraco conhecimento sobre o tema, mesmo entre os alunos de canto e instrumentos musicais.
O público poderá se informar a respeito de encaminhamento de denúncias de violência por orientação sexual e homofobia, receber orientação sobre retirada de documentos, conhecer serviços de referência para a população LGBT, entre outras ações. Também será lançada a Cartilha LGBT de Favelas. Pela primeira vez, haverá o Prêmio Atila Ramalho, que homenageará pessoas engajadas na luta pelos direitos da população LGBT.
Reprodução
Às 17h, haverá a já tradicional parada LGBT, com saída da Praça do Parque União. O evento é organizado pelo Conexão G com apoio de postos de saúde da Maré.
A partir daí, teve início um trabalho de pesquisa e sensibilização que apresentou resultados positivos, que agora serão compartilhados com os moradores e trabalhadores da Maré. Anote na agenda. Serão dias de encontros com troca de conhecimento, música e festa pautada nessa temática. A feira será nos dias 15 e 16 de outubro, quinta e sexta, na Casa de Festas Ocle Night, na Rua Bittencourt Sampaio, 155, de 10h às 18h.
DICA CULTURAL Cia Marginal em novo espetáculo A Cia Marginal, companhia de atores que nasceu na Maré, apresenta seu novo trabalho, “Eles Não Usam Tênis Naique”, de 20 de agosto a 6 de setembro, no Teatro Glauce Rocha, no centro da cidade. A peça conta o reencontro de pai e filha numa favela carioca. Ela é uma jovem traficante e ele, ex-integrante do movimento nos anos 1980. Com texto inédito e premiado de Marcia Zanelatto e direção de Isabel Penoni, o espetáculo gira em torno de um embate ideológico entre os dois personagens. O espetáculo faz parte da ocupação artística Grandes Minorias, que reúne trabalhos de vários grupos de teatro, com temáticas que propõem uma reflexão da sociedade. Os preços são populares, R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Há chances de a peça ser apresentada aqui na Maré em breve. Com vários moradores da Maré no grupo, a Cia Marginal surgiu em 2005 e já produziu três espetáculos: Qual é a nossa cara? (2007), Ô, Lili (2011) e In_Trânsito (2013).
Prêmio da Holanda e visita de franceses no CAM
Ratão Diniz
O Centro de Artes da Maré (CAM), na Nova Holanda, tem sido palco de uma série de eventos diversificados. Em julho, alunos da escola de dança TryËma, do Teatre Jean Vilar, da cidade de Vitry-Sur-Seine, na periferia de Paris, estiveram por aqui durante 15 dias para uma troca de experiência com os participantes do Núcleo 2, da Lia Rodrigues Companhia de Danças. No ano passado, os dançarinos do Núcleo 2 já haviam passado uma temporada nessa cidade francesa, também para um intercâmbio.
Rosilene Miliotti
E em agosto, a dançarina e coreógrafa Lia Rodrigues recebeu o prêmio Prince Claus, uma homenagem a realizadores em destaque no campo da cultura e do desenvolvimento. Segundo o cônsul geral do Reino dos Países Baixos no Rio de Janeiro, Arjen Uijterlinde, a comissão julgadora identificou em Lia um esforço audacioso, que busca cidadania por meio do movimento do corpo. A entrega foi no CAM, onde são realizados os ensaios da Lia Rodrigues Companhia de Danças e do Núcleo 2. Acompanhe a programação do CAM na pág. 15 e no Facebook: Redes da Maré.
Integrantes do Núcleo 2 e da escola de dança TryËma, da França
Maré de Notícias No 65 - agosto / 2015
Feira de Saúde e Parada LGBT
Imelenchon / Morghefile
NOTAS
O que acontece e o que não deixa de acontecer por aqui
Eles Não Usam Tênis Naique Com Cia Marginal. Direção: Isabel Penoni Elenco: Geandra Nobre, Jaqueline Andrade, Phellipe Azevedo, Rodrigo Souza e Wallace Lino. Temporada: 20/08 a 06/09, de quarta a sábado às 19h, domingo às 17h. Teatro Glauce Rocha (Av. Rio Branco, 179 – em frente ao Metrô Carioca) Duração: 1h15 / Censura: 14 anos. Ingressos: R$ 20 (inteira) / R$ 10 (meia) Agendamento de grupos: companhiamarginal@gmail.com
Você sabe o que é vine?
OFICINAS - Entrada gratuita! Consciência corporal Dança urbana 4as, 9h às 10h30
O adolescente diz que é tímido e gago. Para gravar, ele se tranca no quarto, mas avisa a avó e pede para ela ficar quieta que é para o som da voz dela não sair na gravação. “Quero seguir na comédia, mas ainda não sei o que vou estudar na faculdade. Só sei que quero fazer o ensino médio no Sesc e estudar teatro para fazer os filmes com mais qualidade, mas tenho medo porque sou gago. Não dá pra perceber a gagueira nos vídeos porque são curtos e eu também edito ou gravo de novo se gaguejar”, se diverte.
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aula de canto, mas acho que nem assim tem jeito”, brinca ela. Raphael explica que é comum os vines falarem das mães ou da relação delas com os filhos. “Mas às vezes ela briga comigo porque ela não é do jeito que aparece no vídeo. Lá em casa, por exemplo, ela não me acorda batendo panela. É o som alto mesmo; ela é daquelas que acorda ouvindo Pablo bem alto”, diverte-se.
6as, 18h30 às 19h30 e de 19h30 às 21h a partir de 16 anos
2as e 4as, 17h30 às 18h30 8 a 14 anos
(parceria Redes e Unirio)
Introdução ao balé
Teatro em comunidades Sábados, 9h às 10h30
Do lado de dentro, do lado de fora
Exposição de fotografias de Sammi Landweer De 10 de agosto a 25 de setembro, de 2a a 6a, das 12h às 18h A mãe, figura sempre presente nos vídeos, na verdade é a avó Maria Antonia, cheia de orgulho do neto
O estudante diz que teve que dar um tempo na criação dos vídeos por causa das provas. “Minha mãe ficou falando muito no meu ouvido e também as ideias sumiram. Estou pensando em fazer um blog e um canal no YouTube, quem sabe ganhar dinheiro com isso assim como a Bianca Andrade, do Blog Boca Rosa, que foi moradora da Maré”, planeja. Assista pelo Facebook: Raphael Vicente
Dança de salão
EXPOSIÇÕES
O patrão da avó de Raphael gostou tanto dos vídeos que deu a ele uma peruca. Nos primeiros vídeos, o que diferenciava um personagem do outro era uma toalha enrolada na cabeça. A avó, cheia de orgulho e de riso fácil, diz que já estão reconhecendo o neto na rua. “Outro dia fomos a Quinta da Boa Vista e um rapaz o reconheceu na Kombi”, diz.
O fotógrafo holandês Sammi Landweer visitou o CAM durante vários anos e acompanhou de perto os ensaios da Lia Rodrigues Companhia de Danças, que trabalha diariamente no local. Ao mesmo tempo, ele percorreu as ruas vizinhas e fez retratos dos moradores. O resultado do trabalho pode ser visto nesta seleção de 22 fotos em preto e branco, já apresentada no Teatro Jean Vilar de Vitry- sur-Seine, França, em 2013.
Anotações sobre uma aproximação De 20/08 a 21/09, das 12h às 18h
Exposição de fotografias em pinhole e o curta metragem do projeto “Reflexões sobre drogas a partir da perspectiva de uma cena de consumo na Maré”, realizado entre fevereiro e julho de 2015 na Cena de Consumo da Flávia Farnese, no Parque Maré.
“DANÇA MARÉ” APRESENTA
Além dos Sons e Sonhos
A peruca que do patrão da ganhou avó
3a, 25/08, às 18h Espetáculo de dança e música, com Caroline Baudouin (dança) e Cyril Hernandez (percussão e multimídia)
Companhia Franco-brasileira Les Trois Cles Sábado, 29/08 - A confirmar
SETEMBRO TEM:
Semana de Portas Abertas
De 21 a 26/09 com apoio do Grupo LIBRA Apresentações das turmas da Escola Livre de Dança da Maré e alunos do Teatro em Comunidades, com trabalhos de alunos e grupos convidados, abrindo as portas do CAM aos pais, amigos e convidando os moradores para conhecer o espaço. R. Bitencourt Sampaio, 181, Nova Holanda. Programação no local ou pelo tel. 3105-7265 De 2ª a 6ª, de 14h às 21h30
Estrelando, a mãe Vídeos que mostram a relação com a mãe sempre fazem sucesso. Mas, na verdade, a mãe é a avó. Maria Antonia da Silva, avó de Raphael, diz que ele inventa essas ‘coisas’ e que o personagem se parece com ela só no jeito de falar. “Com os vídeos, ele arrumou um jeito de se expressar. Ele é muito tímido, mas vive cantando. Eu já falei pra ele fazer uma
3as e 5as, 16h às 17h30 a partir dos 12 anos 5as, 19h às 20h
as
Dança criativa
Dança contemporânea
Gabi Carrera
Os vídeos de Raphael têm forte apelo porque são cenas do cotidiano de quase todo adolescente. Amigos, professores e principalmente a mãe estão sempre nas cenas. E como as ideias surgem? Raphael diz que os amigos dão muitas ideias, até porque querem aparecer.
5as, 18h30 às 19h30 6 aos 12 anos
idade
Balé - intermediário
Rosilene Miliotti
Raphael conta que um dia estava em casa sozinho, nada pra fazer e saiu o primeiro vídeo. “Via as pessoas postando esses vídeos curtos nas redes sociais e percebi que elas estavam ficando famosas. Aí eu também quis ficar famoso”, brinca.
3as e 5as, 14h30 às 16h
Pilates para a
O estudante Raphael Vicente sabe e faz muita gente rir nas redes sociais
Vine é um aplicativo de armazenamento de vídeos curtos que se tornou sucesso, principalmente entre os adolescentes. Na Maré, Raphael Vicente, 15 anos, morador da Nova Holanda e aluno do curso preparatório para o 9º ano da Redes da Maré, está ganhando cada vez mais destaque nas redes sociais. Ele já publicou mais de 60 vídeos desde fevereiro deste ano.
6as 9h, às 10h30
2as, 18h30 às 19h30 iniciantes 2 e 4as, 19h30 às 21h intermediário (a partir de 8 anos)
3a
Um dos primeiros vídeos, ainda com cabelo de toalha
Cultura
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Lona cultural
Herbert Vianna A programação da Lona Cultural voltará em breve!
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Jovens da Maré
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ESPAÇO ABERTO
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Bolo de chocolate sem farinha Massa: 7 ovos; 7 colheres (sopa) de açúcar; 7 colheres (sopa) de chocolate em pó; 4 colheres (sopa) de óleo; 2 colheres (sopa) de margarina; 100 g de coco ralado seco; 1 colher (sopa) de fermento em pó.
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açúcar, 7 colheres de chocolate em pó, 4 colheres de óleo e 2 colheres de margarina. Retire do liquidificador e misture 100 g de coco ralado seco e 1 colher de fermento em pó. Numa forma redonda (25 cm x 4 cm) untada e forrada com papel-manteiga, despeje a mistura do bolo e leve ao forno a 180ºC por 40 min. Para ficar ainda melhor, faça uma cobertura a gosto.
Dodgerton Skillhause / morguefile.com
Preparo: Bata no liquidificador 7 ovos, 7 colheres de
POESIA
Dupla dinâmica
Por Hélio Euclides
)
Rindo at o a
As moradoras Iraci Costa e Eudésia Santos da Silva estão formando parceria. Iraci é cantora, tem três CDs gravados e entrou em contato conosco assim que leu o poema “Favela”, de Eudésia, publicado no Maré de Notícias de junho (ed. 63). “Quero fazer uma música para essa poesia”, disse ela. As duas já se conheceram e o combinado é Iraci cantar primeiro outro poema de Eudésia, que já tem melodia pronta. Parabéns às duas!
Elisângela Leite
Cof cof cof
A mãe reclama com o filho e pede para ele sempre colocar a mão na boca antes de tossir. Ele responde: Eu até coloco, mas a tosse vem mesmo assim.
Olho grande
O neto pergunta para a avó se os óculos são de aumento. Ela diz que sim. O garoto: Então usa ele quando cortar o bolo para mim.
Sem título
Por: Sara Alves
Ah, louca alegria! o que seria do meu dia se não fosse sua ousadia?! Como não pirar com tanta injustiça no ar?! Como não se incomodar, olhar e passar, deixar caídos no chão nossos irmãos?! Qual pobreza você vê? A deles ou a nossa? Pobreza deles. Pobreza nossa.
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