Elisângela Leite
abril de 2015 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita
PASSATEMPO !
Pezão receberá propostas da Maré Dirigentes de associações elaboram plano de ações Pág. 3
Processo civil contra o Estado Defensor público à disposição dos moradores Pág. 7
Histórias de Jovens negros pescador vivos na Maré Nossa viagem pelas quatro colônias de pescador começa por Marcílio Dias. Conheça Lourival Santos, batizado no mar de Mestre Louro. Pág. 10 e 11
Elisângela Leite
Elisângela Leite
Bonecas banto
Rosilene Miliotti
Agora em todas as edições Pág. 13
Feitas na Maré Pág. 14 e 15 PROGRAME-SE ! Centro de Artes Lona da Maré Pág. 15
Pressão da água diminui e moradores precisam fazer mais uso de bombas, o que, por outro lado, aumenta o consumo de energia. Veja como está a situação do abastecimento de água e luz na Maré, segundo moradores e dirigentes das associações. Pág. 8 a 10
Elisângela Leite
“novidade” com 10 letras:
Água e luz na Maré
Anistia Internacional lança campanha Jovem Negro Vivo na Maré no sábado, 9 de maio, com atividades na Feira da Teixeira e debate no Centro de Artes. Confira a programação e participe! Pág. 5 e 6
Adair Aguiar
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Ano V, No
Redução da maioridade para quê? Proposta do Congresso de reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos pode fazer a violência aumentar, em vez de diminuir,
segundo Edson Diniz, diretor da Redes da Maré. Ele defende debate sobre medidas de proteção aos jovens. Pág. 4 e 6
Pezão receberá propostas da Maré
O elo entre as contas de água e luz Mais uma edição diversificada, bem do jeito de ser da Maré, com muita cultura e conteúdo local. As políticas públicas ganharam destaque nas próximas páginas, tendo em vista esse momento de transição para um processo que o governo do estado chama de “pacificação” e nós preferimos falar em “ocupação pelas forças de segurança”. A reportagem de capa sobre o abastecimento de água e luz traz embutida uma preocupação com a regularização das contas de energia. Às vésperas do fechamento desta edição soubemos que a Light agora planeja investir por aqui (os detalhes não haviam sido divulgados ainda). Boa notícia, sem dúvidas, mas a questão não é simples. O consumo das famílias na Maré é maior por causa do acionamento diário das bombas. Isto porque a água chega sem força às casas.
Líderes comunitários elaboraram plano de ações com as prioridades locais Hélio Euclides
Charge enviada por Erik Coppola (na foto à esquerda), professor de Artes Plásticas que já deu aula na Vila Olímpica, morou na Maré, atualmente está em Higienópolis e continua lendo o jornal.
Fã do Maré
Sara Alves
Quanto ao desperdício, este há de ser mais fácil de resolver. Como poderá ser lido nas páginas centrais, muitos moradores já consomem água e luz com consciência e cobram que seus vizinhos façam o mesmo. Falta agora a Cedae aplicar o que prometeu em melhorias da rede de esgoto local, o que também é cobrado pelos dirigentes de associações de moradores, conforme poderá ser lido na página 3. Desejamos a todos boa leitura e mais qualidade de vida para todos nós!
Expediente Instituição Proponente
Redes de Desenvolvimento da Maré
Diretoria
Andréia Martins Eblin Joseph Farage (Licenciada) Eliana Sousa Silva Edson Diniz Nóbrega Júnior Helena Edir Patrícia Sales Vianna
Instituição Parceira
Associação dos Moradores e
Conexão G
Amigos do Conjunto Esperança
Conjunto Habitacional Nova Maré Conselho de Moradores da Vila dos Pinheiros
Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias Associação de Moradores do Conjunto Pinheiros Associação de Moradores do Morro do Timbau
Luta pela Paz União de Defesa e Melhoramentos do Parque Proletário da Baixa do Sapateiro União Esportiva Vila Olímpica da Maré
Associação de Moradores do Parque Ecológico Associação de Moradores do Parque Habitacional da Praia de Ramos
Proj. gráfico e diagramação Pablo Ramos
Logomarca
Este é o Leleco, da Vila do João, leitor assíduo do Maré de Notícias. Ele foi clicado lendo o jornal em frente à barraca de frutas e legumes, onde trabalha. Amamos a foto, Leleco! Obrigado!
Imagem de cabeçalho na capa: Morador lavando carro com mangueira. Foto de Elisângela Leite
Monica Soffiatti Edson Diniz
Os artigos assinados não representam a opinião do jornal.
Colaboradores
Permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte.
Anabela Paiva Edson Diniz
Coordenador de distribuição Luiz Gonzaga
Elisângela Leite
Dirigentes das 16 associações de moradores do conjunto de favelas da Maré elaboraram um plano de ações com as principais necessidades locais. O documento será entregue ao governador Luiz Fernando Pezão, no final de abril. A ideia do plano nasceu em uma reunião no Palácio Guanabara, em 25 de fevereiro passado, entre as lideranças comunitárias e o governador. Segundo Pedro Francisco dos Santos, presidente da Associação do Conjunto Esperança, o objetivo é que governo invista nas prioridades elencadas por quem mora e trabalha na Maré. “O poder público deve nos ouvir e não trazer para cá o que ele quer e sim o que nós de fato precisamos”, explicou. Para elaborar o documento, as lideranças se reuniram três vezes no mês de março, mas as discussões do grupo sobre as mudanças estruturais necessárias à Maré já ocorrem desde 2009, por meio do projeto Maré que Queremos, da Redes da Maré, e em reuniões entre os dirigentes, que formaram um coletivo.
plano de ações Conheça algumas propostas do o Reconhecimento e legitimação, pel o açã ent res rep governo do estado, da es açõ oci institucional do Fórum das Ass de Moradores. dação • Edificação de mais uma Fun etec) (Fa a nic Téc de Apoio à Escola junto Con e na região que abrang do Vila Esperança, Vila do João, to Ben Pinheiro, Timbau, Conjunto iro ate Ribeiro Dantas e Baixa do Sap Nova na e dad uni a (já está prevista um Holanda). ino • Utilização das escolas dea ens oferta fundamental já existentes par urno de Ensino Médio no período not ré. Ma da es dad em todas as comuni
•
Limpeza de todos os canais existentes nas comunidades. e Revisão de toda a rede de esgoto
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pluvial.
Instalação de duas agências bancárias. Agên• Ampliação do atendimento daio). cia Estadual de Fomento (AgeR
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Instalação de um posto local do Sebrae. • Instalação de casas lotéricas.
•
rnaRegularização do transporte alte . xis) tivo (kombis, vans e mototá Ampliação das linhas de ônibus • de ola esc ensão • Construção de mais uma que circulam na Maré e ext s da dia os . os dio tod ensino mé de operação para creche semana. • Apoio à instalação de uma rma da ia no Conjunto Esperança e à refo Reforma da Lona Cultural da Pra • o. Joã creche Tio Mário, na Vila do de Ramos. de • Oferta de turmas de supletivo • Criação de projeto e de inclusão . jovens e adultos digital para a terceira idade. Arborização das comunidades. ntes Implantação do Programa de Age Ambientais.
• •
•
de Implantação de unidade de saú xa do 24 horas na área que abrange Bai s. mo Ra de ia Sapateiro até a Pra
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Parceiros:
Impressão
Associação de Moradores do Parque Maré
Editora executiva e jornalista responsável
Observatório de Favelas
Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz
Ação Comunitária do Brasil
Apoio
Associação de Moradores do Parque União
Administração do Piscinão de Ramos
Associação de Moradores da Vila do João
Associação Comunitária Roquete Pinto
Associação Pró-Desenvolvimento da Comunidade de Nova Holanda
Fabíola Loureiro (estagiária) Rosilene Miliotti
Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas
Biblioteca Comunitária Nélida Piñon Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa (CRMM)
Elisângela Leite
Tiragem
Silvia Noronha (Mtb – 14.786/RJ)
40.000 exemplares
Editor assistente
Redes de Desenvolvimento da Maré
Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ)
Leia o Maré e baixe o PDF em www.redesdamare.org.br
Jornal do Comércio
Repórteres e redatores
Fotógrafa
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Rua Sargento Silva Nunes, 1012, Nova Holanda / Maré CEP: 21044-242 (21)3104.3276 (21)3105.5531 www.redesdamare.org.br comunicacao@redesdamare.org.br
@redesdamare
; líderes comunitários Parque Ecológico,única área verde da Maré ades unid com pedem a arborização de todas as
Valão da Rua Ivanildo Alves: uma das propostas é a limpeza de todos os canais da Maré
MARÉ QUE QUEREMOS
Editorial
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HUMOR - Erik Coppola: “Estádio”
Arquivo pessoal
Maré de Notícias No 61 - abril / 2015
EDITORIAL
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Porém, o que mais impressiona é saber que essa realidade, brutal, desumana e completamente inaceitável foi assumida pelo Estado e pela sociedade brasileira como algo “normal”. Não existem manifestações, protestos ou escândalos contra tal situação. Apenas a dor das famílias atingidas e o medo das comunidades pobres entregues à sua própria sorte. Como dados assim podem ser aceitos como normais? Diante desse gravíssimo quadro, o que fazemos? Como evitar o assassinato de nossas crianças e jovens? Da resposta a essas questões depende, em grande medida, nosso futuro. E, mais do que isso, depende o caminho que queremos seguir como nação no século XXI. Porém, temo que a situação tenha piorado muito na última semana de março. Isso porque como resposta à violência no Brasil a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou, no dia 31 de março passado, a continuidade da Proposta de Emenda à
a mais violência. Como sai de lá alguém que foi violentado, maltratado e humilhado na cadeia? Nos Estados Unidos, há um forte movimento para reverter a decisão tomada anos atrás de diminuir a maioridade. Inglaterra e França reviram esse processo e voltaram a subir a idade mínima para 18 anos de idade. Nenhum dos países que reduziu a maioridade penal diminuiu a violência.
Adolescentes cometem 1% dos delitos Se observarmos mais de perto o envolvimento dos adolescentes com algum tipo de delito veremos que eles são responsáveis por menos de 1% e, menos da metade, ou seja, menos de 0,5% estão relacionados a homicídios (assassinatos). Isso significa que é mentira dizer que quem mais comete crime no Brasil são os menores de 18 anos de idade.
“O suposto ´remédio` para o mal da violência pode fazêla aumentar e não diminuir, como pregam os defensores da redução da maioridade penal” Constituição (PEC) 171/1993. Ela propõe a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos de idade, ou seja, jovens com 16 anos passariam a responder criminalmente como se fossem adultos. Digo que piorou porque o suposto “remédio” para o mal da violência pode fazê-la aumentar e não diminuir, como pregam os defensores da redução da maioridade penal. Jogar adolescentes nas nossas cadeias, sobretudo, quando sabemos bem como elas são – superlotadas, insalubres, violentas e caras – significa condená-los
Outra mentira é dizer que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não prevê responsabilização para menores que infringem a lei. Há previsão de responsabilização para todos que tenham mais de 12 anos de idade. Medidas socioeducativas e mesmo internação compulsória – o que na prática significa restrição de liberdade – são adotadas, dependendo de cada infração, e o adolescente pode ficar até nove anos sob custódia (três anos em internação, três anos em semiliberdade e três anos em liberdade assistida). Porém, o papel do Estatuto vai muito além de qualquer punição. Ele tenta proteger as crianças e adolescentes justamente do caminho da violência e é considerada uma das ações mais modernas e avançadas do mundo. Se fosse realmente aplicado, não precisaríamos estar discutindo a questão da violência juvenil. O problema é o que o nosso velho maniqueísmo (divisão simplista do mundo entre o
Continua na página 6
Feira da Teixeira De 13h às 15h30 Com Núcleo de Formação da Escola Livre de Dança da Maré, Rua C Cia de Dança Centro de Artes da Maré De 16h às 19h Rua Bitencourt Sampaio, 181 Nova Holanda
Roda de conversa Com as presenças de Dudu de Morro Agudo (do Movimento Enraizados), Binho Cultura (da Flizo), Bruno Duarte (Anistia), Gilmara Cunha (Conexão G), David Amem (Raízes em Movimento), Giordana Moreira (Roque Pense), Valnei Succo e Mayara Donaria (Espocc). Intervenção Cia Marginal e Los Chivitos
Direitos Humanos
PROGRAMAÇÃO sábado, 9 de maio
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A cada duas horas sete jovens entre 15 e 29 anos são mortos no Brasil, 82 por dia e 32 mil por ano, segundo dados da Anistia Internacional. A maioria, 77%, é composta por negros, pobres e moradores de favelas e periferias. Só em 2010, 8 mil crianças e adolescentes foram assassinados. Esses números chocantes também colocam o Brasil como o quarto, dentre 99 países, que mais matam crianças e adolescentes entre 0 e 19 anos e apontam para o extermínio de uma geração de brasileiro que não consegue chegar à vida adulta.
fabiola loureiro
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Edson Diniz*, diretor da Redes da Maré
A campanha Jovem Negro Vivo, da Anistia Internacional Brasil, terá lançamento na Maré no sábado, dia 9 de maio, com o objetivo de mobilizar moradores e trabalhadores locais contra a naturalização da morte de jovens no Brasil. O manifesto poderá ser assinado no dia ou pelo site: https://anistia.org.br/campanhas/jovemnegrovivo. Saiba mais sobre a campanha na página seguinte. Diogo Vasconcellos
Redução da maioridade penal acaba mesmo com a violência?
JOVEM NEGRO VIVO NA MARÉ
Adair Aguiar
ARTIGO
Adair Aguiar
DIREITOS HUMANOS
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Você também pode participar da campanha recortando o banner abaixo e postando uma foto nas redes sociais, como fizeram os moradores AF Rodrigues, fotógrafo do Imagens do Povo; Cadu Barcellos, cineasta e produtor; e os integrantes do Dream Team do Passinho
“Nos EUA, há um forte movimento para reverter a decisão tomada anos atrás de diminuir a maioridade. Inglaterra e França reviram e voltaram a subir a idade mínima para 18 anos. Nenhum dos países que reduziu a maioridade penal diminuiu a violência”
É absurdo olhar a violência e identificá-la com a suposta má índole, violência inata ou desvio individual, como se certas pessoas nascessem más e assim caminhassem pelo mundo, promovendo suas maldades. Esse entendimento, presente na defesa da redução da maioridade penal, é um erro porque exime de responsabilidade a sociedade e o Estado Brasileiro. É preciso assumir que por trás dos crimes envolvendo crianças e adolescentes há uma falha do Estado e da sociedade que deixaram – por ação ou
omissão – que isso acontecesse. Como se chegou a esse ponto? O que poderia e deveria ter sido feito e não o foi? Como evitar que nossas crianças e adolescentes sejam capturados pelas redes criminosas? Esse deveria ser o debate sério e consequente.
O drama de dona Enilda, moradora de uma região pobre de Fortaleza, é exemplar. Ela foi entrevistada pela jornalista Elaine Brum em 2006. Reproduzo a seguir um trecho do depoimento da jornalista sobre a entrevista: “Quando conversei com ela, Enilda pagava as prestações do caixão do segundo filho (o primeiro fora assinado pela polícia). O garoto ainda estava vivo, mas em absoluta impotência, essa mãe tinha certeza de que o filho morreria em breve. Diante da minha perplexidade, Enilda me explicou que se precavia porque testemunhava muitas mães nas redondezas pedindo esmola para enterrar os filhos – e ela não queria essa humilhação. Enilda dizia: Meu filho vai morrer honestamente”. Vê-se por essa situação absurda, onde uma mãe sabe que seu filho (saudável) será inevitavelmente assassinado, que a questão da redução da
maioridade penal é muito mais complexa do simplesmente condenar jovens de 16 anos. Como proteger esses jovens para que não precisem “morrer honestamente”? Esse é o debate que deve ser enfrentado sem demagogias, ódios ou preconceitos. Não é reduzindo a maioridade penal e jogando nas cadeias meninos cada vez mais novos que vamos resolver a questão da violência no Brasil.
Processo civil contra violações do Estado As pessoas que se sentiram atingidas pela violência praticada por agentes de segurança do governo do Estado (polícias civil e militar) podem procurar o caminho da Defensoria Pública. O defensor público do estado do Rio Daniel Lozoya se colocou à disposição dos moradores da Maré que queiram entrar com ação de responsabilidade civil contra o governo do estado. Diferentemente de um processo criminal, o objetivo da ação civil é buscar uma indenização para reparar danos financeiros enfrentados pelas vítimas.
“É preciso assumir que por trás dos crimes envolvendo crianças e adolescentes há uma falha do Estado e da sociedade que deixaram – por ação ou omissão – que isso acontecesse. Como se chegou a esse ponto? O que poderia e deveria ter sido feito e não o foi? Esse deveria ser o debate”
Podem procurar a Defensoria as vítimas de bala perdida durante ação policial ou seus familiares e também moradores que sofreram danos pessoais ou domiciliares provocados por ação policial. “O Estado provocou aquela situação de confronto e tem que ser responsabilizado pelo risco que ele criou”, explica Lozoya, que esteve na Maré em março e já conversou com alguns moradores.
*Enquanto escrevia este texto soube do assassinato do menino Eduardo, de 10 anos de idade, numa operação policial no Morro do Alemão, em 2 de abril. Infelizmente mais uma vítima fatal da tal guerra às drogas que rouba, assim, mais uma vida numa favela carioca.
Defensoria Pública: Rua México, 11/15º andar. De 10h às 18h Lozoya, entretanto, explica que não cabe pedido de indenização se a vítima tiver trocado tiros com a polícia, a menos que tenha sido um caso de execução. “A principal arma do morador é filmar as ações da polícia. É importante também que o local do crime seja preservado”, afirma ele.
Momento de transição O apoio chega em boa hora, tendo em vista as Forças Armadas estarem sendo gradativamente substituídas pela Polícia Militar, desde 31 de março. A total substituição está prevista para 30 de junho. A Maré está ocupada militarmente desde 25 de março, sendo nos primeiros dias pelo Bope e Batalhão de Choque e em seguida, a partir de 5 de abril, pelas Forças Armadas.
Militares federais ocupam laje de morador
Em um ano, o governo federal gastou R$ 461,6 milhões para manter homens do Exército e Marinha no Conjunto de Favelas da Maré, com seus tanques, armas de guerra e barricadas. Segundo reportagem do jornal O Dia, 30 pessoas foram mortas neste período na Maré, em diferentes circunstâncias, entre eles estão Terezinha Justino da Silva, de 67 anos, na Vila do Pinheiro, em 15 de abril do ano passado; Osmar Camelo, presidente da Associação de Moradores do Morro do Timbau, em 15 de setembro; Felipe de Araújo Vieira, de 23 anos, no Pinheiro, em 20 de janeiro passado; e Rivaldo Sousa, na Vila do João, em 20 de fevereiro. Neste período, também houve diversas denúncias de abusos, conforme relatado na edição 59, de novembro do ano passado, na reportagem: “Tensão e mortes”, que pode ser lida no site da Redes, em redesdamare.org.br. (Texto: Silvia Noronha)
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bem e o mal) orienta a ideia tosca de que de um lado ficam os bons, ou seja, os ricos, brancos, moradores do “asfalto”, todos puros e insuspeitos; de outro lado os maus, bandidos, criminosos, nascidos violentos e incorrigíveis por natureza, moradores de favelas e periferias. Junta-se a essa “divisão de mundo”, o racismo, que coloca os negros, obviamente, do lado do mal. Não é à toa que são eles os que mais são assassinados.
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Líderes comunitários contam como está a situação em cada favela
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“Os nossos governantes precisam acordar para começar uma campanha socioeducativa. Eu já cobro economia da minha família há muito tempo. Como presidente, pedi que todo chuveiro de rua fosse retirado, e os síndicos foram orientados em prol da economia, pois compartilhamos esse momento. Aqui falta luz constantemente, porque a comunidade cresceu e não foi contemplada pela Light, que adota medidas paliativas. Ao contrário da Cedae Maré, que é parceira, tem uma equipe com pouco recursos que realiza um bom trabalho” - presidente da Associação de Moradores do Conjunto Esperança, Pedro Francisco dos Santos.
ra um gua, prefi ta mais á
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nomizo oa o c e a s a águ nha c “A“Na mi oje vejo que faltambém H máximo. as casas, mas ta oas já em algumque algumas pess ício que percebo m. Para o desperdito” a u o Sapateiro economizva, já melhoerrroeirua, dm a Baixa d esta Maria F Hélio Euclides
Elisângela Leite
“Água que nasce na fonte serena do mundo e matam a sede da população”, fragmentos da música Planeta Água, de Guilherme Arantes, escrita em 1981. Naquela época não se imaginava que a água que brota do chão poderia um dia chegar ao fim. Foram décadas de desperdício e, para piorar, uma poluição de rios sem limites. Este ano, com poucas chuvas, os reservatórios ficaram com nível baixo e o sinal amarelo acendeu o alerta: além de investimentos públicos urgentes, também é preciso consumir com consciência. Na Maré os indícios de que os tempos mudaram ficou claro neste último verão.
Água
Em muitos lares, a força da água diminuiu e em outras simplesmente o líquido vêm sumindo. Por causa da água chegando sem força, o número de residências com bombas hidráulicas aumentou visivelmente, gerando mais gastos com energia elétrica. “Na minha casa falta água e a bomba hoje já está com pouca pressão”, relata a moradora da Vila do Pinheiro, Ana Caroline da Silva Montes. Com bombas, aparelhos de ar condicionado e ventiladores ligados ao mesmo tempo, surge outro transtorno: quedas de energia. “O morro tem uma rede de água com boa pressão. Já a luz falta em alguns pontos, por causa dos aparelhos de ar condicionado. A rede de energia não está pronta e por isso não segura o pico”, conta a moradora do Morro do Timbau, Sheila Fortino. Mesmo com o fim do verão, o tema economia de água continua em alta nos meios de comunicação e também nos bate-papos das ruas. Muitos não esperam a adoção de racionamento de água e luz. “Lá na minha rua teve muito desperdício no verão. Eram muitas
Terra: planeta
piscinas imensas todos os dias. Eu economizo, mas o vizinho não. Com a falta d’água só com bomba para subir. Precisamos aprender a cuidar e não deixar para amanhã”, ressalta a moradora da Nova Holanda, Cláudia Maria Onofre Sobrinho.
Desliguem a bomba! A equipe do Maré de Notícias presenciou uma casa da Vila do Pinheiro jorrando água do terceiro andar. A vizinha Maria Cândido estava inconformada. “Desce água pelo cano durante muito tempo, a bomba sempre fica ligada e depois transborda a caixa. Eu não tenho bomba, a minha água é fraquinha”, desabafa. Segundo líderes comunitários locais, este é um dos problemas mais comuns na Maré (leia Box na página ao lado). “Na minha casa economizo o máximo. Hoje vejo que falta água em algumas casas, mas também percebo que algumas pessoas já economizam. Para o desperdício que estava,
A mesma água da se receber um po piscina pode ser aproveitada po r mais dias uco de cloro
Em tempos de crise hídrica, água chega sem força às casas e moradores mostram-se mais conscientes. Eles dão exemplo, cobram dos vizinhos que ainda desperdiçam e lembram que o poder público precisa investir para garantir o abastecimento da população já melhorou muito”, relata a moradora da Baixa do Sapateiro, Maria Ferreira. A moradora da Vila do Pinheiro, Herlândia Oliveira, acredita que a solução esteja nas mãos da nova geração. “Tem que ter conscientização. Sou professora e falo isso em aula. Observo que umas pessoas ainda gastam muito, a seca do verão ficou distante para elas”, diz Herlândia. Para a comerciante da Vila do João, Amélia Maria da Silva Lima, a conta de quem desperdiça é ela quem paga. “As pessoas precisam poupar, vejo moradores lavando calçadas, falta um programa de reeducação. Eu já sofro com essa consequência, aqui só cai água uma vez ao mês, esse ano foi a primeira ocasião de escassez. Agora pego água de lavagem de roupa da vizinha para lavar a loja e usar no banheiro”, conta. A Cedae informou que não existe risco de racionamento de água. Sobre energia, a Light dispõe, em seu site, de várias dicas sobre como economizar: http://www.light.com.br/ para-residencias/Famlia-Consciente/dicas-deeconomia.aspx.
“Aqui o povo liga a bomba e não desliga e fica a jorrar o dia todo, isso é desperdício” - presidente da Associação de Moradores da Vila do João, Marco Antônio Barcellos, o Marquinho Gargalo. “Acredito que a água vai acabar se continuar a ligar a borracha (mangueira) o dia inteiro ou enchendo essas piscinas gigantescas. Outro caso são os muitos aparelhos de ar condicionado, o que acarreta falta de luz; aqui existe muita queda de energia. Eu não ligo o aparelho da associação” presidente da Associação de Moradores do Conjunto Pinheiro, Eunice Cunha. “Há muitas piscinas na rua, tentamos proibir, mas não conseguimos. Está na hora de reutilizar a água e não ir ainda limpa para o esgoto. Para piorar o governo tenta colocar a culpa nos clientes residenciais. Hoje quem não usa bomba, não tem água no segundo andar” - presidente da Associação de Moradores da Vila do Pinheiro/Salsa e Merengue/Marrocos, Janaina Monteiro. “O desperdício é muito, é covardia encher todo dia a piscina, na minha uso cloro. O governo precisa conscientizar pela importância da água. Há dois anos já faltava água no primeiro andar, agora só com bomba” - presidente da Associação de Moradores do Parque Ecológico, Cláudia Lúcia da Silva Santana. “O desperdício é demais, se eu pudesse só abriria a água à noite, pois são muitas piscinas e pessoas lavando a calçada” - presidente da Associação de Moradores do Conjunto Bento Ribeiro Dantas, Cremilda Vicente de Carvalho. “Não estamos preparados para uma escassez, precisamos de campanhas que combatam o desperdício” - presidente da Associação de Moradores do Morro do Timbau, Glauco dos Santos. “Há aproximadamente oito anos participei de uma reunião com ambientalistas que previam essa falta d’água. O Brasil era um dos países que mais tem água doce, sendo assim não tinha preocupação, agora que começaram a conscientizar a população para economia. Esse foi o verão mais quente, com poucas chuvas, até as cachoeiras estão baixas, onde antes a água era abundante. São Paulo é um exemplo para todos. Aqui na associação estamos dando prioridade para (consertar) vazamentos, antes dos esgotos. Sobre a luz temos problemas” - presidente da Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro, Charles Gonçalves. “Há o desperdício dos chuveiros, das piscinas que ficam com a torneira aberta o tempo todo. Sem falar nos lava jato que usam água potável” presidente da Associação de Moradores do Conjunto Nova Maré, Flávio Aguiar. “Existe muito desperdício, não há controle. Sem falar nas caixas d’água que enchem e ficam jorrando ou nos lava jato. A luz está precária, passa até cinco dias sem conserto, a empresa atende muito mal” - presidente da Associação de Moradores do Parque Maré, Jeová Barbosa. Continua...
Políticas Públicas
POLÍTICAS PÚBLICAS
Um tour na Maré pela crise hídrica
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“Esse ano foi sem chuva, a população aumentou e o consumo igualmente. A crise não é culpa da Cedae, e sim do homem que desmatou e assim acabou com as nascentes. Aqui a água ainda é forte” - presidente da Associação de Moradores do Parque União, Edilmon Batista. “No piscinão o desperdício fica por conta dos banheiros, que atrás das instalações ficam jorrando água direto. A energia na favela é um caos, falta sempre e as pessoas perdem equipamentos. Acredito que seja necessário a troca de transformadores, mas ficamos só na espera” - presidente da Associação de Moradores do Parque Roquete Pinto e Praia de Ramos, Cristiano Reis. “Minha proposta é acabar com o desperdício de pessoas que deixam a caixa d’água largar água 24 horas” - presidente da Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias, Edmilson Joaquim.
Hélio Euclides
Lourival Santos, o Mestre Louro, nascido em Campina Grande, na Paraíba, em 1942, veio para o Rio de Janeiro por causa da fome, saiu da terra natal aos 15 anos de idade. “Não deu para suportar a seca, faltava opção, ou seja, emprego”, conta. Aqui no Rio primeiro foi morar em Copacabana, atuou na construção civil, depois como militar no quartel e mecânico de elevador.
Com mais de 50 anos de cais, Mestre Louro foi um dos fundadores da cooperativa MarCoop, que é filiada a Colônia da Praia de Ramos. Nessas cinco décadas, os pescadores passaram por grandes batalhas, uma foi a luta contra uma empresa que desejava tomar o cais, mas ao final deu tudo certo.
POVOS DA BAÍA
Louro lembra com carinho do tempo em que chegou a Marcílio Dias; havia apenas uns 10 barracos. Com a chegada da luz foi para 100 e depois foi tudo muito rápido. “A Caixa Econômica dava o terreno e o material e fizemos as casas de alvenaria. Mas hoje me sinto mal em casa, não saio de próximo do cais, fico a olhar o mar”, afirma.
Barco parado no cais por falta de dinheiro Na opinião do pescador, o vilão do momento é a poluição, que está exterminando os peixes. “Dependemos do mar, temos que lutar contra os grandões que poluem. Para pescar hoje só da Ponte Rio Niterói para lá (pra fora). Quem tem um barco de pouca força, já era”, relata Louro. Segundo ele, não existe amparo nem apoio à cooperativa, que tem 25 embarcações. “Ninguém vem nos ajudar, nem trazer aterro da perimetral. Há quatro anos fizeram uma maquiagem no cais. Depois disso já caiu uma parte e outra parte corre o mesmo risco”, denuncia. Sobre histórias do mar, são inúmeras. Uma das mais fortes foi quando afundou com um barco cheio de peixe, mais precisamente 10 toneladas que ele iria descarregar em Niterói, na fábrica de
sardinhas. “Perdemos tudo e só sobrevivemos porque estávamos próximo à praia. Um guindaste nos trouxe de volta, mas o motor se perdeu. Mais um barco parado. Escapei de morrer umas 30 vezes, o vento forte é nosso inimigo. O mar não tem cabelo, ele revolta muito rápido”, poetiza Louro. Agora o maior medo é da situação econômica que faz fechar as fábricas de sardinhas. “Hoje só dá para sobreviver. O que nos segura são as firmas de pesca, as empresas de sardinha em lata. Vendemos o peixe de R$ 0,30 a R$ 0,40 o quilo, isso quando a fábrica quer os peixes”, lamenta. Para uma embarcação ir para o mar é necessário no mínimo 11 tripulantes e um investimento de R$ 1.000. Tem barco que não sai do cais por falta de dinheiro. “De ano em ano tem que fazer manutenção nos barcos, pois a Marinha pega no pé. Só não pede pneus porque barco não tem. Nossa esperança era o ministro da Pesca, mas ele não sabe nem colocar isca no anzol, teria que ser uma pessoa que entenda o sofrimento do pescador”, argumenta. O que anima Mestre Louro é que a profissão ainda passa de pai para filho. Ele explica que o mar é marcante; o que ele lucrou dos peixes é o que o ajudou a criar as duas filhas. “Deus dá o peixe e não nos cobra dinheiro. Não é uma profissão fácil, minha família aceita, mas acha uma vida de maluco, saio às 4h da manhã e não tenho hora para voltar, vou num dia e volto no outro”, conclui.
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“Deus dá o peixe e não nos cobra dinheiro. Não é uma profissão fácil, minha família aceita, mas acha uma vida de maluco, saio às 4h da manhã e não tenho hora para voltar, vou num dia e volto no outro” Mestre Louro, de Marcílio Dias
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Maré de Notícias No 61 - abril / 2015
O Maré de Notícias vai fazer uma viagem pelas quatro colônias, Marcílio Dias, Praia de Ramos, Parque União e Vila do Pinheiro. Nessas visitas um pescador contará causos, histórias da favela e de sua vida. O primeiro porto é o de Marcílio Dias e o entrevistado é Lourival Santos, batizado no mar de Mestre Louro
Sua vida mudou quando passou a pescar com um amigo nas férias e pegou gosto. “Naquele tempo era muito bom, tinha muito peixe. Hoje o fracasso é ficar parado, não tem peixe”, desabafa.
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“O povo tem que se conscientizar. Aqui o lava jato diminuiu o gasto, acabei com umas quatro piscinas e chuveiros na rua, além de por fim às caixas que enchem e ficam jogam água o dia inteiro, quase apanhei com esses feitos. O bom é que o morador já vem na associação reclamar do desperdício e de vazamentos. Esse foi o primeiro verão seco, o próximo será pior. A situação da água é mais precária no Salsa e na casas próximas ao Parque Ecológico, pois é final de linha. Na Maré o projeto Água para Todos melhorou algumas comunidades” - presidente da Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz, Vilmar Gomes, o Magá.
O mar não está para peixe
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Elisângela Le
“O morador precisa se conscientizar do consumo com piscina nos finais de semana, dos chuveirões que ficam ligados, dos lava jato para não gastar tanta água. Quando souber de um vazamento, entrar em contato com a Cedae Maré ou ir a associação, pois um furinho vaza muitos litros. A água está acabando, hoje no primeiro andar ela já é fraca. De cada 10 moradores, nove têm bomba e ganha quem tem a mais possante. A luz é o caos da Nova Holanda, empata com saneamento básico. Todo dia falta energia, a associação não para de ligar para a Light. A empresa precisa fazer um recabeamento em toda rede elétrica” - presidente da Associação de Moradores da Nova Holanda, Gilmar Rodrigues Gomes.
ro Fabíola Lourei
Maré de Notícias No 61 - abril / 2015
Políticas Públicas
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O processo seletivo para a terceira turma do Curso Técnico Profissionalizante de Drywall será aberto no fim de abril ou início de maio. Poderão se inscrever homens e mulheres de 18 a 30 anos, que já tenham concluído o Ensino Fundamental e sejam moradores da Maré. Com duração de seis meses, o curso oferece 4h diárias de aulas práticas e teóricas, de 2ª a 6ª feira. O Drywall é um sistema de alta tecnologia que utiliza chapas de gesso acartonado fixadas sobre estruturas metálicas para revestimento de paredes internas. O curso é uma parceria entre a Redes da Maré, a Ireso, a Knauf do Brasil e Senai.
Rosilene Miliotti
No dia 1º de março, a cidade do Rio comemorou seus 450 anos. Há meio século a festa teve passagem pela Maré, com a reinauguração da Escola Serpha, na Rua Nova Jerusalém, na Baixa do Sapateiro, que passou a se chamar IV Centenário. A escola já existia desde 1957 e passou por uma reforma em 1965, ano da celebração dos 400 anos do Rio. Para relembrar o fato, a secretária municipal de Educação, Helena Bomeny, visitou o colégio no dia 2 de março e entregou aos alunos do 4º ano os primeiros materiais pedagógicos sobre os 450 anos. Em 1957, o terreno abrigava um antigo campo de futebol. Inicialmente, o colégio contava com apenas duas salas, tendo sido ampliado para seis em 1965, segundo conta a atual diretora da unidade, Elaine Sabino.
Kombi interna volta a circular A primeira linha de transporte alternativo na Maré tinha como itinerário Avenida Brasil x Rubens Vaz. As kombis não fechavam a porta, pois o movimento de passageiros era muito grande. Com o tempo a linha chegou ao fim, mas neste mês de abril, essa rota está de volta, fazendo o mesmo circuito. “Tem tudo para dar certo novamente, pois leva moradores até a UPA e às feiras da Vila do João e Teixeira Ribeiro, por exemplo. Agora temos que divulgar, já que poucos conhecem”, comenta o motorista Ademir Matos, que aguarda autorização da prefeitura para aceitar o cartão Riocard.
Inscrições para o Comida de Favela Estão abertas até 30 de abril as inscrições para o Comida de Favela, primeiro festival gastronômico do Complexo da Maré. O festival vai selecionar de 15 a 20 estabelecimentos locais para participar dessa festa dedicada à boa comida, que acontecerá de setembro a outubro de 2015. Uma realização da Redes da Maré, com patrocínio do Itaú Rumos, o festival pretende valorizar a cultura gastronômica da Maré e das favelas, incentivando moradores de todas as parte do Rio a conhecer a tradição e a criatividade da cozinha local.
IDA: Rua 14 (Vila do João), Via A/1, Via B/1 e Avenida Canal (Vila do Pinheiro), Rua do Canal (Baixa do Sapateiro) e Rua Principal (toda). VOLTA: Volta: Rua Principal (toda), Rua do Canal (Baixa do Sapateiro), Avenida Canal, Via B/1, Via A/1 (Vila do Pinheiro), Avenida Canal 1 e 2, Rua 7, Rua 14 (Vila do João).
Donos de estabelecimentos formais e informais das 16 favelas da Maré podem inscrever um prato para participar do circuito do festival. A equipe do evento vai selecionar os quituteiros distribuídos em duas categorias: comida de bar, restaurante ou pensão; e comida de rua – trailers, carrinhos etc. Nos fins de semana de setembro e outubro, a população será convidada a percorrer as comunidades para provar as iguarias, em um circuito dedicado à boa mesa. Ao fim do festival, serão premiados três estabelecimentos de cada categoria, escolhidos por jurados especializados e pelo público, que poderá dar notas aos pratos em urnas colocadas em cada parada do roteiro.
OBS: Obs.: Se algum passageiro morar no Salsa e Merengue, a kombi entrará na comunidade. Preço da passagem: R$ 2,50
Dica cultural do mês: MAM Atendendo a pedidos, daremos dicas culturais também de eventos de outras áreas da cidade. Até 17 de maio, é possível visitar a exposição “Poucas e boas…! Obras da coleção internacional do MAM (Museu de Arte Moderna)” e ainda ver a coleção permanente “Genealogias do contemporâneo”, com obras de artistas brasileiros. Aos domingos, existe o ingresso família a R$ 14 para até cinco pessoas, de 12h às 19h. Av. Infante Dom Henrique, 85, Aterro do Flamengo.
Reprodução
Trabalho do artista Keith Haring (EUA)
Clínica da família sai do papel Na manhã de 08 de abril, o prefeito Eduardo Paes deu o pontapé inicial para a construção da clínica da família onde eram dois campos e a ciclovia da Vila do Pinheiro. “Para essa obra sair, foram os presidentes de associações que trabalharam muito, com pressão dos moradores. Na saúde, as condições são ruins de instalações, o que já melhorou com o Augusto Boal (Clínica da Família)”, disse o prefeito, que PREVÊ inaugurar a nova unidade em dezembro deste ano. A clínica terá 14 consultórios e outros quatro exclusivos para odontologia, além de raio-x, ultrassom e uma academia carioca para exercícios, equipamentos prometidos pelo secretário Municipal de Saúde, Daniel Soranz. Eduardo Paes adiantou que a terceira unidade já está licitada, que só falta um terreno na Nova Holanda. Entretanto, o planejamento do prefeito em 2010 previa cinco clínicas da família na Maré no seu primeiro mandato.
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Inscrições e mais informação na sede da Redes da Maré (Rua Sargento Silva Nunes, 1012, Nova Holanda). Para acompanhar o evento, curta a página Comida de Favela no Facebook.
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400 anos do Rio na Maré
O que aconteceu com o ferro de passar roupa que caiu da mesa? Resposta: Ficou passando mal...
Reprodução
Quem quiser treinar, pode procurar o Flavinho Gomes pelo telefone: 98185-8740. Segundo ele, a prática ajuda no equilíbrio, na concentração, na força e na perda de peso. “Estamos precisando de ajuda como areia de praia e troncos e árvores pra deixar o local ainda melhor”, pede ele a quem puder contribuir.
Fique atento ao site da Redes (redesdamare.org.br) e ao facebook (redesdamare).
Elisângela Leite
Moradores estão curtindo praticar slackline, esporte que exige equilíbrio para se manter sobre uma fita estreita e flexível. Os praticantes vêm se reunindo na ciclovia do Pinheiro, em geral marcando os encontros pelo facebook.
DIVERSÃO
O que acontece e o que não deixa de acontecer por aqui
Na corda bamba
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Inscrições para curso de Drywall
Rosilene Miliotti
Maré de Notícias No 61 - abril / 2015
POR DENTRO DA MARÉ
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Elisângela Leite
Quando vamos comprar boneca, é muito difícil achar o brinquedo na cor negra. Isso aconteceu com a assistente social Alessandra Alves, quando foi adquirir uma boneca para a filha. “A loja dizia que a fábrica não entregava e o fabricante alegava que o estabelecimento não fazia o pedido. Depois da reclamação a ambos foi que a boneca negra apareceu na loja”, relata ela. Na Maré é mais fácil de achar, pois um grupo de mulheres cria bonecas banto e bijuterias com tema afro, além de realizar oficinas e cursos sobre como fabricar, para não deixar a cultura morrer.
B A N TO
Introdução ao balé
2as e 4as, 17h30 às 18h30 8 a 14 anos
O nome “banto” foi especialmente escolhido, conforme explica Edite. “Quando foi criado o curso, tinha que ter um nome e a expressão surgiu da denominação que receberam os primeiros escravos que chegaram ao Brasil, com as danças e toda cultura afro. Vieram da África e continuamos a nossa cultura”. Segundo o dicionário, banto também denomina o conjunto de línguas faladas
Dança contemporânea
4as, 9h às 10h30
as
Consciência corporal Dança criativa
as
3 e 5 , 16h às 17h30 a partir de 12 anos 5as, 19h às 20h intermediário
5as, 18h às 19h 6 aos 12 anos
Dança de salão
6as, 9h às 10h30
as
6 , de 18h30 às 19h30 e de 19h30 às 21h a partir de 16 anos
Pilates para a 3a idade
Teatro em comunidades Início: sábado, dia 07/03, 9h30 às 12h30 (parceria Redes e Unirio)
Dança Maré
Edite e Maria com as suas dive
rsificadas criações
“A expressão banto surgiu da denominação que receberam os primeiros escravos que chegaram ao Brasil, com as danças e toda cultura afro. Vieram da África e continuamos a nossa cultura”
Edite Neves
Tudo começou com uma professora chamada Telma, há uns 12 anos, na Ação Comunitária do Brasil (ACB), na Vila do João. Depois o grupo queria mais e foi se aprofundar num curso oferecido no Sesc Madureira. A partir daí o gosto por criar e recriar bonecas e bijuterias não parou. Essa é a história de Edite Pereira Neves e Maria de Fátima Martins, moradoras da Maré e hoje instrutoras da arte afro. “Quando estamos fazendo é muito emocionante, já que criamos, mudamos o cabelo, além de esquecermos dos problemas, pois é prazeroso até a conclusão, quando ficamos admirando as bonecas; amamos por serem lindas e nos inspiram a continuar”, detalha Edite. Elas contam que já venderam seus artigos no Fashion Rio e até exportaram para a Europa. “Nos eventos é só elogios. Os turistas sempre querem como lembrança”, comenta Maria.
Balé
3as e 5as, 14h30 às 16h intermediário
Artesãs não deixam morrer a cultura afro na Maré e produzem delicadas bonecas negras
Dança urbana
2as, 18h30 às 19h30 iniciantes as 2 e 4as, 19h30 às 21h intermediário
Ao menos um espetáculo por mês, que tem contecido na primeira quinzena de cada mês. Confira a programação no Facebook: redes da maré.
Mordedores
Espetáculo de dança de Marcela Levy Sábado, dia 18 de abril, às 18h Faixa etária: 14 anos
R. Bitencourt Sampaio, 181, Nova Holanda. Programação no local ou pelo tel. 3105-7265 De 2ª a 6ª, de 14h às 21h30
Lona cultural
Herbert Vianna ABRIL DE 2015
3ª Roda AMARÉFUNK
Pedro Malazarte e a Arara Gigante
Funk e Segurança Pública 16 de maio, às 16h no Galpão Bela Maré
15 de abril, às 14h Espetáculo Infantil
2ª Roda AMARÉFUNK pelos povos africanos que vieram para o Brasil. Edite e Maria realizam oficinas de três horas, que são uma pincelada sobre como fazer as bonecas. Para aprender essa arte é preciso dedicação e gostar muito, pois é trabalhoso. Segundo Maria, nem todos que tentam seguem o ofício. Muitos já desistiram. “Acredito que desistiram por achar difícil, as bonecas são todas feitas à mão, com moldes e segredos. Também os moradores não aproveitam muito o que a Maré dispõe”, acredita Maria.
Trabalho artesanal Um dos segredos é que a criação das bonecas não é unitária; elas são confeccionadas por etapas, com inúmeras peças. São artesanalmente feitas a partir
a criminalização do Funk 25 de abril, às 16h no Galpão Bela Maré
de retalhos, com miçangas nas roupas e cabelos que sempre reproduzem penteados afro. Foram criada em homenagem à beleza da figura negra, e são encontradas na forma de chaveiros, broches, brincos, cirandas, colares e também em aplicações nas roupas. As duas reclamam que já viveram o auge, quando a ACB estava voltada para o afro, na época em que havia mais angolanos na Maré. Nessa fase elas chegaram a fazer 400 bonecas em um mês. Elas também reclamam quando o assunto é vender as criações. “Para vender aqui é difícil, é um chororó em relação ao preço, não há valorização. Alguns ainda dizem que é de macumba ou vudu. Agora o povo só quer boneca Barbie, esquecem a nossa cultura”, afirma Edite. Pela pouca procura, no momento está tudo guardado em caixas. Vamos aproveitar e presentear nossas crianças?
Cia do Solo
AMARÉFUNK Bailão de Encerramento 23 de maio, às 19h Batalhas de Passinho e DJs + Shows Mcs (no Pontilhão Cultural)
29 de abril, às 10h e 14h Repertório de Histórias na Biblioteca Jorge Amado (Lona)
27 de maio, às 9h30 e 14h Espetáculo Infantil
MAIO DE 2015
Samba e pagode
Vem Nesse Trem
Bonecas banto e bijuterias afro
06 de maio, às 10h e 14h Espetáculo Infantil
Chaveiro = R$ 15 Ciranda = R$ 50 Casal capoeirista = R$ 80 Broche = R$ 10 Colar = R$ 25 a R$ 40 Bonecas = R$ 30
Lona Música Livre (a confirmar)
Para mais informações: 98327-2035 ou editineves@gmail.com
Cultura
Hélio Euclides
06 de maio, às 10h e 14h
Afetos Sonoros
29 de maio, às 18h Pagode da Resistência (Pagode do Biro com Pipa Vieira, João Martins, Aquininho, Aranha, Pet e Misamply) e Grupo Nova Raiz (Maré)
BillDog 31 de maio, às 18h Espetáculo
Biblioteca Popular Municipal Jorge Amado
Ao lado da Lona, atende a toda a Maré: Amplo acervo, brinquedoteca, gibiteca e empréstimo domiciliar R. Ivanildo Alves, s/n - Nova Maré Tels.: 3105-6815 / 7871-7692 - lonadamare@gmail.com FACE: Lona da Maré - Twitter: @lonadamare
cultura
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A arte das bonecas
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Renato Mangolin
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CULTURA
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ESPAÇO ABERTO
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Doce de casca de banana Ingredientes:
3 copos de casca de banana lavada; 2 copos de açúcar.
MorgueFile.com
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Modo de preparo:
Bata as cascas de banana no liquidificador. Coloque em uma panela junto com o açúcar, leve ao fogo brando e mexa sempre. Retire do fogo quando estiver soltando da panela. Despeje em um tabuleiro untado para esfriar. Depois enrole e passe no açúcar.
Garanta seu jornal - busque seu exemplar na Associação de Moradores da sua comunidade todos os meses! Envie seu desenho, foto, poesia, piada, receita ou sugestão de matéria. Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 – Nova Holanda Tel.: 3105-5531 E-mail: comunicacao@redesdamare.org.br
Altair Cardoso, cantor gospel e morador da Maré, está lançando o CD Impacto de Louvor. O primeiro CD tinha por título Centenário e reunia vários cantores locais. Contato: 3104-8167 e 99379-8510.
Graffitis da Maré
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Roberto Vianna, professor de educação ambiental que exerce trabalho voluntário de reprodução de espécies da Baía, está precisando de alguns materiais para dar continuidade à sua luta: caixas d’água para criar peixes que combatam o mosquito da dengue, tela de mosquito, cano PVC, pregos, tintas e terra adubada para 50 árvores frutíferas plantadas no ano passado na Vila Residencial do Fundão. Ele também aceita computadores fora de uso. Roberto cuida de um viveiro para devolver espécies para o Canal do Cunha. Contato: beto.ambientalista@gmail.com. Facebook: apalif pesca.
Novo CD do Altair Cardoso
Olá, jornal Maré de Notícias, sou o graffiteiro Rdoisó, tenho 24 anos, sou residente da comunidade do Parque União e faço parte do grupo de Hip Hop Atari Funkerz. Fiquei interessado ao perceber que o jornal tem um espaço aberto para diferentes artes, então resolvi mandar meu trabalho para vocês. Passei pela oficina de graffiti da Redes da Maré, na época com Felipe Reis, e desde 2007 comecei a desenvolver meus próprios trabalhos dentro e fora da comunidade. Quem quiser seguir meus trabalhos, estou no instagram: @rdoiso_af Um grande abraço, Rdoisó (Atari Funkerz)
Leia a piada do mês na página 13, abaixo do Passatempo que estreia nesta edição, atendendo a muitos pedidos dos leitores!
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Ajuda para reprodução de espécies da Baía