ARTIGO
PROJETOS
PIMENTA NOS OUTROS
CACTO INICIA AULAS CURTA O GÊNERO EM ITINERÂNCIA
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INFORMATIVO BIMESTRAL FÁBRICA DE IMAGENS EDIÇÃO Nº10 ABRIL-MAIO 2012
FOTO: REGYS LIMA
informativo
VÍDEO 2.0 JOVENS UTILIZAM-SE DAS NOVAS TECNOLOGIAS PARA DOCUMENTAR A REALIDADE Pág. 4 e 5
FÁBRICA ENTREVISTA
DIREITOS HUMANOS
RENÉ SILVA VOZ DA COMUNIDADE
FORTALEZA PREPARA PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
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Editorial O acesso à informação e às novas tecnologias são fatores primordiais à consolidação da democracia. Compreender o quão estratégicos são esses dois campos é o primeiro passo para pressionar o poder público no sentido de garanti-los. Países vizinhos como Argentina, Bolívia e Equador têm vivido processos de regulamentação do setor das Comunicações com vistas a garantir os dois direitos citados anteriormente. Atualmente no Brasil, diversos coletivos, organizações e grupos tem
se organizado no Fórum Nacional pela Democratização das Comunicações (FNDC) e articulado uma ampla campanha nacional em prol do novo Marco Regulatório das Comunicações. A pauta do dia para todos/ as os/as brasileiros/as que se preocupam com a qualidade das informações que leem, ouvem ou assistem e que se indignam com a falta de financiamento e espaço para as produções independentes é uma só: Comunicação é direito. Novo marco regulatório já! Contrariando toda sorte de ad-
versidades, vê-se emergir e multiplicar-se experiências de comunicação comunitária e produção de vídeos independentes. À despeito da falta de financiamento público e da dificuldade de acesso a equipamentos, grupos de jovens apostam na utilização de novas mídias como celulares e câmeras digitais para produzir e difundir conteúdos via internet. Essa edição do informativo traz experiências nesse sentido. Que inspirem tantas outras e que fortaleçam a luta pela garantia do direito humano à comunicação. Boa leitura!
ERRATA
INFORMATIVO BIMESTRAL FÁBRICA DE IMAGENS / EDIÇÃO Nº10
Na matéria “30 anos depois: a AIDS muda de cara”, da 8ª edição do informativo Fábrica de Imagens, publicamos que apenas o Hospital São José distribui os antirretrovirais (medicação destinada às pessoas soropositivas). Na verdade, os medicamentos são distribuídos também nos SAE - Serviço Ambulatorial Especializado do Município de Fortaleza, a Assistência Farmacêutica do Governo do Ceará é a responsável por repassá-los aos Serviços.
PIMENTA NOS OUTROS... Por Tel Cândido | Coordenador do projeto Outros Olhares
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opa de “Frango cremoso apimentado” (seja lá como isso é feito) foi a escolha de hoje entre todas aquelas guloseimas sedutoras na padaria do bairro. Como de costume, solicitei à moça gentil que me fizesse um recipiente para viajem, é que conservo o péssimo hábito de me alimentar frente à TV. Acompanhando esse ritual nada recomendável, confesso, também não posso alegar lá muita seletividade na escolha dos canais, afinal, parte da cerimônia seria limada houvesse alguns poucos critérios (estamos falando em TV aberta, ora!). Assim, a audiência de hoje foi para o programa Casos de Família, do SBT, cujo tema era “Quero meu filho homem de volta!”. O propósito do programa não foi diferente de tantos outros que já abordaram a questão da homossexualidade: apresentar de forma polêmica/ sensacionalista um aspecto da vida de personagens do cotidiano, com nítido privilégio à participação de figuras que, se existem de fato, representam uma parcela - legítima, mas não única - de um amplo e heterogêneo leque de experiências circunscritas no campo da 2
diversidade de orientações, identidades e expressões sexuais e de gênero. Sabemos que a condução desses debates adquire geralmente uma tônica de exploração vexatória da vulnerabilidade social desses sujeitos e, não obstante, abrem espaço para discursos discriminatórios sob a máscara do humor. Por outro lado, sempre fico surpreso ao assistir as falas espontâneas daquelas pessoas na programação vespertina da TV. Para aqueles da geração pré-facebook, Iphone e pokebola (como eu), basta lembrar que, com raras exceções, as inserções de LGBT na mídia não eram acompanhadas pela oportunidade de voz. Nossos afetos, bandeiras e modos de viver estiveram historicamente à mercê de supostos porta-vozes e da interpretação de terceiros (quem aí lembra dos concursos de transformistas do Show de Calouros?). Ali não. Entre galhofas e vaias do público, eram discursos em primeira pessoa o que se ouvia da boca das travestis. Eram as suas danças, e os relatos minuciosos sobre as suas vidas sexuais e afetivas que vinham à tona, sem intermediários, na sala de estar das pessoas.
Ao final do programa, havia em mim certo pesar ao perceber a que meios ainda estavam submetidas as discussões francas e diretas sobre a sexualidade humana. É o próprio retrato da sociedade, pensei: pronta para consumir o universo LGBT por um olhar voyerista, mais preocupado com a manutenção dessas experiências no campo da excentricidade, do “estranho” ou do “exótico”, do que na apreensão dos significados envolvidos no processo de hierarquia e subordinação que ainda cercam as dissidências da heteronormatividade. Pelo visto, continuamos, imprensa, estudantes, instituições, “casos de família” e outros “nós”, a assimilar, difundir e vomitar temas, símbolos e atitudes relacionadas às experiências LGBT, simulando vanguardas e pseudoliberdades para, no fim das contas, repor desigualdades e opressões históricas, deixar tudo como está. Semelhante à fórmula do programa, a sopa tinha lá o seu sabor, mas a pimenta da receita ainda ardia ao paladar.
TÊM INÍCIO AS AULAS DA SEGUNDA TURMA DO PROJETO CACTO FOTO: THYAGO NOGUEIRA
Por Catarina Érika
“É
muito importante discutirmos as relações do homem na sociedade [...] trabalho com diversidade e sei da importância e entender também sobre gênero é bom para meu crescimento”, relata Ítalo Lopes, 23, com expressão de expectativa, os primeiros dias de aula do curso de Teatro do projeto Cacto , que começou em abril deste ano acolhendo mais de 100 jovens entre 16 e 29 anos, nos cursos de Fotografia, Webdesign, Audiovisual I e II, Teatro e Animação 3D. Roger Garcia, 25 anos, concluiu o curso de audiovisual na primeira edição
do projeto e ao final produziu um documentário sobre a vida das mulheres do Movimento Sem Terra, intitulado “Mulheres da Comuna”. O jovem encontrou no curso incentivo para fazer uma produção audiovisual com compromisso político. “Nesse processo tive um crescimento muito grande. Acabou resultando no filme Mulheres da Comuna. Comecei a mudar minha observação com as aulas, principalmente para a questão de gênero. Comecei a ver que isso era importante para mim que já vivo na militância, embora fosse mais voltado à juventude”, explica o ex-aluno do Cacto e
atual estagiário da Fábrica de Imagens. O projeto, que tem o patrocínio da Petrobras por meio do Programa Desenvolvimento e Cidadania e parceria da Embaixada da Finlândia, está em sua segunda edição. A metodologia se baseia em três eixos: formação, produção e difusão. No primeiro processo, os alunos passam por formações no campo sociopolítico que, colocam em questão as discussões das temáticas de gênero, diversidade sexual, juventude, comunicação, saúde e cultura digital. Ao mesmo tempo, recebem formação técnica específica de cada área.
CURTA O GÊNERO NA ESTRADA: MOSTRA AUDIOVISUAL CHEGA AO INTERIOR DO CEARÁ Sobral e Iguatu são os primeiros municípios a receber a itinerância do projeto que se propõe a discutir as relações de gênero Por Lícia Militão
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ez cidades do interior do Estado vão receber o Curta O Gênero 2012 – Mostra Nacional Audiovisual/ Seminários/Itinerâncias até julho deste ano. O evento acontece em cada cidade parceira em três dias e conta com o Seminário “Gênero, Cultura e Mudança” desdobrado nas seguintes mesas: “Gênero, Educação e Direitos Humanos” e “Machismo, Sexismo e Homofobia”. Três minicursos são oferecidos para o público: “Estratégias em Cultura Digital para a Promoção da Equidade e Diversidade” ministrado por Regys Lima, coordenador técnico da Fábrica de Imagens, oficineiro, estudante do fenômeno das mídias sociais e sua relação com a sociedade nas questões de produção de
FOTO: THYAGO NOGUEIRA
conteúdo e ações de cidadania e graduando do curso de Bacharelado em Design/ Devry Brasil –Fanor; “Direitos Humanos, Gênero, Cultura e Políticas Públicas”, facilitado por Marcos Rocha, psicólogo, diretor da Fábrica de Imagens e coordenador de projetos na área de educação em direitos humanos, comunicação e gênero e; “Direitos Humanos, Gênero e Comunicação” com a equipe de comunicação da Fábrica de Imagens. Alunos da rede pública de ensino recebem as Mostras Escolares que consistem em sessões de vídeo-debate com produções da Fábrica de Imagens relacionadas às questões ou temáticas de gênero. As noites do evento são finalizadas com a Mostra Nacional Audiovisual exibindo
curtas-metragens selecionados para o Curta O Gênero 2012. No total são apresentados 18 vídeos de produtores de várias regiões do Brasil. Além destas atividades, a exposição fotográfica Contrastes – gênero, tempos, lugares, olhares fica em cartaz durante todo o evento com entrada gratuita. O Curta O Gênero tem o apoio institucional do Governo do Estado do Ceará, através da Secretaria da Cultura e da Lei de Incentivo Fiscal e da Secretaria de Cultura de Fortaleza. Conta também com a parceria da Embaixada da Finlândia, apoio cultural da Coelce e patrocínio da Petrobras através do Programa Desenvolvimento e Cidadania.
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VÍDEO 2.0 JOVENS UTILIZAM-SE DAS NOVAS TECNOLOGIAS PARA DOCUMENTAR A REALIDADE
FOTO: THYAGO NOGUEIRA
Por Catarina Érika e Lícia Militão
INFORMATIVO BIMESTRAL FÁBRICA DE IMAGENS / EDIÇÃO Nº10
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uma tarde de quarta-feira na rotatória localizada em frente ao estádio Castelão, em Fortaleza, jovens utilizam uma parede antes coberta por pichações, de um terreno abandonado, para expressar a opinião deles sobre as remoções de comunidades que darão lugar às construções da Copa do Mundo 2014. Enquanto uns mostravam o talento artístico desenhando comunidades unidas que se tornavam um grande braço que impedia a entrada de um trator, outros filmavam a ação e buscavam histórias como a de seu Zé, morador do local que irá ser removido sem ter informações de para onde irá e se receberá indenização. Ao final da tarde, esses jovens iriam integrar-se aos moradores para um grande protesto onde registrariam tudo. Ações como esta, são comuns nas ruas, praças, comunidades e movimentos sociais que reivindicam direitos utilizando-se de intervenções urbanas e do audiovisual. Em outro local da cidade, um grupo de dez jovens está produzindo um documentário sobre o local onde nasceram, a comunidade São Vicente de Paulo, conhecida como comunidade dos Trilhos, que também sofrerá remoções para dar lugar ao Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), mais uma das obras da Copa do Mundo 2014. Um dos jovens participante é Valdo Silva, 17 anos, que com uma câmera digital na mão começou filmando algumas ações da comunidade e da família. Mais tarde, ele teve a oportunidade de fazer uma oficina do projeto Olho Mágico. “Com o audiovisual eu passei a ver as coisas de outra
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forma [...] podemos criticar, pôr nossas ideias em prática e até revolucionar”, afirma Valdo.
Olho Mágico
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projeto foi concebido em 2009 por Roger Quentin, Bruno Xavier e Leonardo Ferreira na época estudantes de Comunicação Social. A proposta do grupo é promover oficinas em audiovisual para jovens de várias comunidades de Fortaleza. A primeira experiência de capacitação dos idealizadores utilizava-se de equipamentos profissionais, porém, perceberam que a produção dos vídeos não tinha continuidade já que o público com quem trabalhavam não tinha recurso para adquirir tais equipamentos. A solução foi simples, adaptaram o processo à realidade local. Os jovens começaram a desenvolver vídeos com equipamentos que têm acesso no dia-adia. “Percebemos que eles não têm em casa uma câmera profissional, mas têm um celular que filma ou pelo menos tira foto. [...] A câmera digital, no mínimo um primo tem, uma tia, alguém tem sempre pra emprestar e computador já vemos alguns terem um modelo mais simples, também trabalhamos a utilização de lan house”, nos conta Roger Quentin. Atualmente, o projeto atua junto ao Comitê Popular da Copa, um grupo de pessoas que acompanha e fiscaliza os processos de construções da Copa do Mundo 2014. Assim, nasceu a ideia para as oficinas, uma ação de comunicação aplicada à
temática do direito à moradia. Herbert Souza, professor de história da EEFM 2 de Maio localizada no Passaré, proximidades do Castelão, viu o movimento que o projeto estava causando nos alunos e na comunidade e resolveu entrar para a turma. “Não é só a casa do povo que vai sair, eles vão levar a nossa história. O audiovisual é importante para registrar o que está acontecendo [...] Os meninos cresceram bastante, conseguiram se sentir sujeitos da história. Descobriram um poder. A juventude tem um poder que ela nem sabe que tem.” avalia o professor. Outra ação que desenvolve capacitações para jovens nessa área é o projeto “Juventude e Comunicação” da Cáritas Regional. Integrando jovens de todas as regiões do Ceará, a formação é modular, no período das férias escolares, além de propor intercâmbios com outras instituições que trabalham em torno das temáticas juventude e audiovisual. A coordenadora do projeto, Patrícia Amorim, afirma que a ação tem por objetivo promover uma produção audiovisual diferenciada do que vemos todos os dias nos meios de comunicação. “O ideal da juventude como modelo é comum na maioria dos programas televisivos, peças publicitárias e em realizações audiovisuais comerciais, isso coloca a juventude como principal público (e alvo) da comunicação de massa. A partir desse contexto a decisão institucional da Cáritas é agir junto a juventude na proposição da formação de produtores de mídia”, afirma ela.
Vanessa Reis, coordenadora de Oficinas da Associação Cultural Kinoforum, acredita que o audiovisual é uma ferramenta de expressão, mas, vai além disso, ao tornar-se uma linguagem capaz de organizar discursos e possibilitar a criação coletiva reunindo indivíduos e grupos que querem expor um ponto de vista e essa ideia tem a probabilidade de adquirir uma circulação entre amigos ou espalhar-se atingindo outros grupos e fortalecendo laços. “Então, seja para reivindicar ou para quaisquer outros objetivos, hoje se pode aliar a enorme expressividade do audiovisual com mecanismos de divulgação que não existiam. A questão é,
como toda ferramenta, ela pode ser usada para diferentes fins. E os fins importam muito. Não adianta ter ferramentas se não se pensar o que se quer dizer.” declara. Na mesma linha de pensamento, o diretor da Fábrica de Imagens e membro do comitê consultivo da Secretaria de Audiovisual, Marcos Rocha, acredita que a cultura é um campo estratégico de disputa política. “Investe-se pouco em cultura porque não se compreende essa dimensão estratégica. Mas acho que todo processo de produção, formação e difusão do Ministério da Cultura, a Secretaria deveria estar de olho em trabalhar as simetria e desigualdade e processos
de exclusão na sociedade”, diz o militante que produz vídeos envolvendo temáticas sociais. Com o objetivo de mapear trabalhos que desenvolvem produção de comunicação da juventude de Fortaleza, professores e estudantes da Universidade de Fortaleza – Unifor criaram em 2010 o projeto de pesquisa “Nas Alturas: narrativas das juventudes produtores de comunicação (JUCOM)”. Em uma lista ainda em construção, eles encontraram cinco iniciativas em audiovisual entre elas a Fábrica de Imagens. Abaixo você encontra o contato desses grupo e outros.
EM FORTALEZA Olho Mágico Contato: (85) 8775.7081 (Roger) facebook.com/projetoOlhoMagico Associação Beneficente O Pequeno Nazareno Contato: Telefone - (85) 32125727 www.opequenonazareno.org.br Endereço: Rua Senador Alencar, 1324, Centro. Cirandas da Vida Contato: Telefone - (85) 34526617 www.cirandasdavida.blogspot.com Endereço: Rua do Rosário, 283, 5º andar, Sala 513. Companhia de Brincantes Valéria Pinheiro (Vatá) Contato: Telefone - (85) 32194939 www.teatrodasmarias.org.br Endereço: Rua Senador Almino nº 233 A, Praia de Iracema. Conselho de Integração Social (Integrasol) Contato: Telefone - (85) 34737507 www.observatoriodajuventude.org Endereço: Rua Paranaí, 1240, Planalto Airton Senna. Instituto do Desenvolvimento do Pantanal (ITV Janela) Contato: tvjanela.org.br Serviluz sem fronteiras / Titanzinho Digital Contato: serviluzsemfronteiras@gmail.com / titanzinhodigital.com
Fonte: jucom.tumblr.com/grupos
FOTO: THYAGO NOGUEIRA
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FÁBRICA ENTREVISTA Por Iara Moura
RENÉ SILVA @vozdacomunidade
FOTO: DIVULGAÇÃO
INFORMATIVO INFORMATIVO BIMESTRAL FÁBRICA DE FÁBRICA IMAGENS DE IMAGENS / EDIÇÃO/ESPECIAL EDIÇÃO Nº10 - 14 ANOS FÁBRICA DE IMAGENS
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ra um domingo. Homens armados e tanques pareciam emergir das vielas e becos. Repórteres com coletes à prova de balas abordavam passantes em busca de entrevistas. Ninguém sabia explicar direito e ninguém ousava falar. Enquanto os helicópteros cruzavam os ares outros tantos homens armados fugiam em disparada para as comunidades vizinhas. Os moradores trancados em casa viam pela TV o que acontecia no quintal. Nove anos antes, um crime chocava as famílias que assistiam o Jornal Na-
(...) procuramos focar nos problemas sociais da comunidade porque a grande mídia já aborda quando há algum tiroteio ou conflito (...)
cional. Um jornalista havia sido espancado, esquartejado e queimado por ter denunciado o livre comércio de drogas na região. O silêncio mais uma vez ecoou na favela. Naquele dia, 28 de novembro de 2010, um garoto franzino assistia com a avó a cobertura ao vivo da operação de invasão do Complexo do Alemão. De repente, a repórter faz alusão a um perfil no twitter que naquele momento passava dos 30 mil seguidores e que informava aos “do asfalto” o que se passava na comunidade. A avó, que mal mexia no com-
putador, mas era atenta ao que acontecia dentro de casa, olhou de soslaio pro moleque que ainda se esforçava para acreditar. @Vozdacomunidade era o perfil que ele tinha criado e que agora se tornava fonte inquestionável da comunidade do Complexo do Alemão. A voz do menino ecoou em várias vozes. O jornalzinho nascido na escola tornava-se agora porta-voz de uma comunidade inteira que busca vencer o silêncio e se reinventar a despeito do silêncio imposto pelas antenas e os homens armados.
1. Numa entrevista recente você contou que durante a ocupação do complexo do alemão você fazia a cobertura via twitter e ficou surpreso com a visibilidade que o perfil ganhou. A que você atribui isso?
3. Um dos grandes desafios da comunicação comunitária é a sustentabilidade, uma vez que não há investimento público para manter essas iniciativas. Como o Voz das Comunidades se mantém?
Eu acredito que esse processo de ocupação do Complexo do Alemão tenha dado maior destaque ao Voz da Comunidade porque estávamos publicando em tempo real tudo o que acontecia. Acho que teve tamanha repercussão porque era o único veículo de comunicação local, e estava noticiando aquele momento histórico da comunidade.
Atualmente trabalham 3 pessoas, jovens e talentos que tem de 14 a 18 anos de idade. Nosso trabalho é sustentado pelos próprios comerciantes locais, que pagam um valor pra colocar propaganda e manter assim nossa tiragem mensal gratuita para os moradores da comunidade.
Na verdade minha família não temia pela segurança no início, eles apenas reclamavam do horário que eu chegava em casa após fazer uma matéria. Porque eu demorava muito, então eles ficavam preocupados porque na época não tinha condições de comprar um celular. Nunca sofremos nenhuma opressão, e nunca impediram a gente de postar nada. Mas procuramos focar nos problemas sociais da comunidade, porque a grande mídia já aborda quando há algum tiroteio, ou conflito dentro da comunidade.
ENTREVISTA
2. O jornal nasce, como o próprio nome diz, influenciado pela vontade de publicizar os fatos e a realidade das comunidades próximas ao Morro do Adeus, do Complexo do Alemão. Como a comunidade participa da escolha das pautas? De que tipo de notícias você sentia falta nos veículos de comunicação já existentes? A comunidade participava no inicio e participa hoje colaborando com as reportagens que são feitas na comunidade. Problema social é o que não falta, e a gente noticia tudo: desde poste caindo no alto do morro até ruas esburacadas ou com esgoto a céu aberto. Moradores são a peça fundamental pra participações dessas matérias, porque dão entrevistas relatando o problema.
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4. Ao longo desses 7 anos de existência que tipo de transformações você consegue observar que a comunidade conquistou a partir do Voz da Comunidade? A partir do Voz da Comunidade as comunidades do alemão e do Morro do Adeus, principalmente, porque foi onde começou o jornal, conseguiram conquistar diversos benefícios, como a melhoria de urbanização das ruas que dão acesso ao alto do Morro. Diversos bueiros abertos com esgoto foram fechados e os problemas diminuíram bastante. 5. O Voz das Comunidade pauta temas da realidade das comunidades que são polêmicos. Você ou a equipe do Voz chegaram a sofrer algum tipo de preconceito ou intimidação? Você contou que no inicio sua família temia pela sua segurança...
6. Suas primeiras experiências com a comunicação comunitária foi aos 11 anos, quando você criou com seus amigos o Voz da Comunidade. Atualmente há algum projeto de formação com as crianças e jovens da comunidade Morro do Alemão que envolva a comunicação? Acho de extrema importância que as crianças e jovens já aprendam de cara a comunicação, porque é tudo né? Mesmo que não seja o futuro dela trabalhar com jornalismo, mas em qualquer outra área que ela trabalhar, já estará bem na fita. Atualmente não existe nenhum trabalho desse de comunicação aqui no Morro do Adeus, mas já há um projeto escrito que iremos captar patrocínios de empresas grandes de fora da comunidade e o projeto deve entrar em vigor ainda este ano, depois das férias de julho.
FOTO: THYAGO NOGUEIRA
FORTALEZA PREPARA PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS PLENÁRIAS ACONTECEM ATÉ JUNHO QUANDO O PLANO DEVE SER CONSOLIDADO
Por Iara Moura
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stá marcada para os dias 01 e 02 de junho a plenária final de elaboração do Plano Municipal de Educação em Direitos Humanos de Fortaleza (PEDHFOR). O documento que definirá a política de educação em direitos humanos da cidade para os próximos 10 anos reúne propostas de vários setores da sociedade civil e do Estado. Segundo Joana Schroeder, coordenadora de Educação em Direitos Humanos da SDH de Fortaleza, o desejo de construção do plano nasceu a partir do surgimento, em outubro de 2010, do Comitê Municipal de Educação em Direitos Humanos. “O maior desafio é construirmos na cidade de Fortaleza esse sentimento de que os direitos humanos não surgem e não devem aparecer somente quando as violações desses direitos acontecem, mas que são direitos inerentes a todos os seres humanos pelos quais todos e todas nós devemos primar e afirmar nas nossas relações mais cotidianas”, destaca Joana. A discussão do plano municipal teve início com um seminário realizado no dia 24 de março com o tema “A Educação e a Garantia dos Direitos Humanos”. Na ocasião, o professor doutor Solón Viola (UNISINOS), coordenador do Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos, fez um balanço de como está a aplicação do Plano Nacional. Segundo ele, as medidas referentes à Educação Superior tem avançado, porém, as discussões sobre Educação e Mídia continuam estagnadas. Na mesma perspectiva, Rita Potiguara, conselheira da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CEB/CNE) e membro do Colegiado de Culturas Indígenas do Ministério da Cultura (MinC), afirma que os
meios de comunicação ainda tratam os direitos humanos como “direito de bandido”, “dos menores marginais”, “da impunidade do judiciário” e não os apresentam sob a perspectiva do direito que conduz a responsabilidades.
Universalizar a educação Além dos desafios apontados, cabe ao PMEDH a proposição de mecanismos voltados à universalização do acesso à educação nos moldes do que estabelece a declaração universal dos Direitos Humanos e a Constituição Federal. Rita Potiguara afirma que a violação desse direito atinge, sobretudo, os povos indígenas e quilombolas que, segundo dados oficiais, figuram como aqueles não conseguem entrar, permanecer e concluir com êxito processos formais de escolarização. Para garantir esse direito, a pesquisadora aponta que as políticas públicas devem articular questões ligadas aos princípios da igualdade, mas ao mesmo tempo, suprir demandas específicas como a edificação de escolas situadas em seus territórios e voltadas para as vivências sociopolíticas, econômicas, ambientais e culturais destes povos. Concomitante a isso, o Plano deve orientar oferta do ensino da história e cultura dos povos indígenas e populações negras para todos os estudantes da rede municipal. “O PMEDH, desse modo, pode contribuir valiosamente para o movimento sociopolítico desses povos que busca afirmá-los positivamente como sujeitos históricos, contemporâneos, sujeitos de conhecimento, como coletividades políticas e de direitos, enfim como cidadãos brasileiros”, afirma.
Coloque na agenda A Fábrica de Imagens integra o comitê desde sua fundação como mobilizadora do eixo Comunicação e Educação. A abertura da plenária final do Plano de Educação em Direitos Humanos de Fortaleza acontece no dia 1º de junho às 18h no auditório da Faculdade Integrada do Ceará – Fic Via Corpus. Mais informações: Coordenação de Promoção (SDH Fortaleza): (85) 3452-2364
Outros Olhares: educação em direitos humanos, equidade e diversidade Tem início no mês de maio mais uma edição do Projeto Outros Olhares – Educação em Direitos Humanos para Promoção da Equidade de Gênero e Diversidade Sexual. O projeto é uma iniciativa da Fábrica de Imagens desenvolvida desde 2008 que promove o fomento das discussões referente às áreas de Gênero, Diversidade Sexual e Educação. Anteriormente a ação se voltava para estudantes da rede pública de ensino e educadores das escolas do interior do Ceará. De cara nova, o projeto que se inicia este ano em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), propõe a formação social para acadêmicos de pedagogia, ativistas e agentes culturais em direitos humanos com foco em gênero, diversidade sexual na cidade de Fortaleza. A ação consiste na realização de formações dentro das temáticas referidas e de um seminário regional sobre educação em direitos humanos e combate à exclusão educacional de grupos socialmente discriminados. Inscrições e informações: outrosolhares2012.wordpress.com 7
Educação em Direitos Humanos, Gênero e Diversidade Sexual Formações, Seminários e Documentário
Informações outrosolhares2012.wordpress.com outrosolhares@fabricadeimagens.org.br ou no telefone: (85)3495-1887
EXPEDIENTE
Este jornal é uma publicação do projeto Cacto realizadado pela ONG Fábrica de Imagens Ações educativas em cidadania e gênero. Coordenação geral: Marcos Rocha Coordenação pedagógica: Christiane Ribeiro Gonçalves Editoração eletrônica: Regys Lima
REALIZAÇÃO
PARCEIRO
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Jornalistas responsáveis: Iara Moura - MTB CE:2580-JP Lícia Militão - MTB CE: 2770-JP Estagiária de comunicação: Catarina Érika Endereço: Rua Carlos Juaçaba, 1133, Maraponga, Fortaleza-CE Contatos: (85) 3495-1887 / comunicação@fabricadeimagens.org.br / www.fabricadeimagens.org.br