O Velho Que Escaneava Almas

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O VELHO QUE ESCANEAVA ALMAS REI SOUZA


Trilogia Cybercordel Volume 1 O Velho Que Escaneava Almas Rei Souza Edições Marginalia Raiz, 2019 reinvldx@gmail.com

Edições

I

MARGINALIA RAIZ


A Cidadezinha numa cidadezinha distante surge um estranho visitante vindo das bandas da capital eis que inexplicáveis mistérios aos poucos se tornam sérios naquele ambiente rural eis o mote destes versos e se lhes parecerem perversos é porque é perversa a aventura e se caso não lhes espante que pareça tal história irrelevante então sois filhos duma dura cultura no céu um sol constante acompanhava aquele viajante que atravessou a cidade sem ser notado na cabeça um chapéu de palha roupas gastas, nada que valha a pena ser ou não observado


cidade de talvez mil habitantes que quase não recebia viajantes não possuía hotel ou pousada mas o Velho não parecia perdido a um passante fez um pedido que lhe atendeu de forma educada alugou um casa perto do matagal e depois não deu mais sinal de vida ou de civilidade não ia à igreja aos domingos "talvez só viva dormindo". dizia Glória à comunidade conto como foi me contado sem nada a ser acrescentado conto sobre um Velho estrangeiro vindo da capital, ali fixar moradia contudo nada era o que parecia fim do capítulo primeiro


O Velho Estrangeiro era uma pequena rua afastada onde ficava a casa alugada pelo Velho estrangeiro que nunca saia à rua "é estranha a vida sua" comentavam o tempo inteiro as danadas crianças lá iam procuravam e não percebiam movimento naquela moradia jogavam pedra no telhado o velho não parecia preocupado com a molecada que sorria depois não mais ligaram o velho eles deixaram na rua ninguém mais passava já não causava espanto sempre quieto no seu canto ninguém mais se interessava


certo dia surgiu um boato com alguém entrou em contato falou algo sobre uma faxina contrataria alguém da cidade "enfim descobriremos a verdade sobre o velho e sua rotina" dona Glória estava ocupada indicou Maria, a sua cunhada para o trabalho de limpeza Maria 'das que fala muito' Investigar seria seu intuito com sua famosa sutileza o povo não se aguentava de outra coisa não se falava: lá se vai a Maria faladeira o pobre Velho nem imagina que vai lá a língua ferina disfarçada de arrumadeira


A Arrumadeira todos ansiosos pela volta de Maria e sua língua solta que não soltou nenhum segredo! voltou pra casa à tardinha não revelou nem à vizinha como foi ou qual era o enredo trabalhou por uma semana "essa Maria é uma sacana" reclamava Glória da cunhada que sem dizer um piu não revelava o que viu se mantendo sempre calada depois que a semana passou a Maria o Velho dispensou o que aumentou o mistério "ela parecia bem mais velha" zunia Glória feito abelha atazanando seu Olivério


"todo mundo tem o direito de corrigir os seus defeitos seja pro mal seja pro bem" disse Olivério, o marceneiro, "eita mania de carniceiro quer saber o que não convém" ainda assim Glória insistia que haver alguma coisa havia pra que ela houvesse mudado disse, determinada a prosseguir "deixa que eu vou descobrir" sempre com ar determinado até que outra arrumadeira bem diferente da primeira foi contratada pelo ancião Glória perguntou às amigas descobriu quem era a rapariga e foi lá entender a situação "cuidado tome muito cuidado" deixava Glória o seu recado deixando a Menina assustada "se ver alguma coisa me ligue vai que de ajuda precise" e a menina permanecia calada


A Menina "sim, ela voltou amuada desde então não fala nada" foi o que a mãe da Menina disse Glória quase que enfartou Apontou pra mãe e gritou "eu falei pra que não permitisse" o marceneiro observou a cena escutou tudo aquilo, sem pena e comentou com o companheiro "ela fica criando tempestade prefere perturbar a cidade repetindo isso tempo inteiro" de fato Glória havia recrutado a suspeita por todos os lados cumprindo a função da cunhada que desde aquela limpeza não se tinha mais certeza foi apelidada Maria, a mudada


no dia seguinte tentou proibir "pr'aquele serviço não há de ir" mas a Menina não obedeceu trabalhou o dia inteiro e assim como no primeiro chegando em casa adormeceu uma semana depois dispensada como a Maria que não fala nada a cidade não compreendia o que havia na casa do velho "ela não quis ouvir meu conselho" em todo canto Glória repetia o cruel pessoal da escola espalhavam certas histórias que faziam qualquer um corar "não digam isso da Menina eita maldade com a pequenina protestava Glória quase a chorar


Glória intrigava as mulheres o mistério os homens não levavam a sério "elas inventam cada história só curiosidade e fofoca alguém tem de por freio na boca daquela enxerida da Glória" e rindo das mulheres desocupadas dizia o marceneiro que os liderava "a Glória é uma encrenqueira" e brincava com o ditado "a curiosidade que matou o gato vai matar a velha alcoviteira" "a menina e minha cunhada ambas estão bem mudadas" analisava Glória a situação e sentia ódio do marceneiro que com sua falta de respeito perdia dela também a consideração


tentava visitar a cunhada que vivia sempre trancafiada depois ia à casa da Menina que toda conversa evitava encontrou a mãe já acostumada "isso lhe trouxe mais disciplina" "não lhe trouxe coisa alguma essa mudança foi profunda foi algo maligno e vou provar" "não se preocupe com isso" respondia a mãe "além disso não é seu dever se preocupar" os dias passaram depressa até que um homem atravessa o caminho do marceneiro diz que Glória fez uma faxina e com isso mudou a sua sina mudando sua vida por inteiro


O Marceneiro "Glória agora está transformada também a Maria sua cunhada se tem ainda aquela Menina" o marceneiro pensou um bocado "o que terá acontecido de errado naquela limpeza de rotina?" havia conversa por todo lado ainda que meio desacreditado ele não sabia bem se situar "se havia alguma transformação se eram verdadeira ou não qual atitude devo tomar?" depois de acalmar aquele povo disse que com o filho mais novo iria até aquela estranha casa "não sei se há algo de errado mas se é pela paz do povoado preciso entender o que se passa"


e chamou o filho pra missão "vamos conversar com ancião e entender o que aconteceu duas fofoqueiras agora santas isso é o que mais espanta "mas não quero" o filho respondeu mesmo assim teve de ir "é um dever e vamos cumprir" foi o argumento utilizado marcharam pela rua deserta lá encontraram a porta aberta e o velho no portal encostado o menino tremeu e ficou parado pelo pai quase foi arrastado "podemos conversar um pouco?" perguntou-lhe o marceneiro "claro que sim, companheiro" respondeu com um timbre rouco


Um Café era uma pequena casa descuidada janelas fechadas, pouco arejada "suas faxineiras trabalhão mal o lugar está meio bagunçado" disse o marceneiro espantado ao perceber quão sujo o local "é, sou um velho desleixado por isso tudo está bagunçado e é só por isso que você veio?" disse o velho da voz rouca na cabeça tinha uma touca que lhe deixava ainda mais feio "desculpe a minha indelicadeza mas o senhor contratou pra limpeza…" foi interrompido com algo pra beber "não, não, muito obrigado tenho pressa estou bem atrasado" "beba, aqui o açúcar e a colher"


o marceneiro tomou a contra gosto o filho observava indisposto a figura esquálida do ancião que parecia bem tranquilo o velho lhe lembrava um esquilo que havia visto na televisão a luz então ficando fraca o que deixou a casa opaca e de repente tudo sumiu "como eu ia dizendo aliás, já não me lembro?" depois disso nada mais viu e assim foi que o pai desmaiou o menino na pressa se levantou e viu o velho bastante assustado "o que aconteceu com teu pai?" o menino se levanta e depois cai no sofá como o pai, desmaiado


O Quarto levantou o homem com cuidado que se sentia meio atordoado e confusa era a sua fala foi carregado até um quarto um pouco mais apertado e mais limpo que a sala começou recobrar os sentidos enquanto via vultos coloridos a sua mente transtornada tentou entender a situação tentou erguer a sua mão mas ela estava amarrada um suor escorreu da sua testa sentiu a euforia de uma festa e depois tudo ficou obscuro sentiu uma picada na veia depois se viu preso numa teia onde tudo era muito impuro


na cabeça uma danada confusão sentiu os pés tocar o chão foi como pisar em terras estrangeiras percebeu que recobrava as ideias que compunham diversas odisseias que depois lhe pareceram asneiras eis que algo aconteceu uma tênue luz se acendeu se sentia como uma criança seu corpo não sentia mais medo sentiu um formigamento nos dedos "é a ausência da esperança" "é que você nada mais espera acabou-se o sonho, a quimera" a última palavra ecoou e se viu por fim numa estrada "sugiro-lhe uma caminhada" depois a voz rouca se calou


O Scanner caminhou livremente sentia-se até contente nada mais lhe importava um instante no vazio a estrada era um fio e mesmo assim lhe sustentava depois a voz retornou alguma coisa lhe perguntou sem alcançar a exata frequência "escute e pelo menos tente quero que pare e se sente" lhe parecia a voz da consciência. sentou-se numa cadeira velha algo roçava na sua sobrancelha e sentiu outra picada no braço os músculos enrijeceram luzes diversas apareceram depois sentiu enrijecer o baço


vozes alienaram o atual estado sentiu o medo do seu lado depois sentiu-se submerso então parou de respirar "não se preocupe porque o ar não há nessa parte do universo" um ruído então surgiu os olhos ele abriu algo lhe ofuscou a visão depois se deslocou até a nuca sentiu sua mente caduca até que desapareceu o clarão. foi recobrando os sentidos na cabeça alguns ruídos fora a vontade de vomitar lá fora o povoado revoltado "liberte meu pai, velho safado" o filho havia conseguido escapar


Epílogo depois de tanta confusão entenderam a situação a bebida era a resposta um café exótico alucinógeno que causavam tais fenômenos e deixava a mente exposta os efeitos grandiloquentes que causavam subsequentes mudanças na personalidade muito tempo não duraria e do povo da cidade ele ria como se não houvesse maldade "Pois que vá rir noutro lugar tem dois dias pra se mudar" disse um cidadão exaltado "ou daremos um jeito de falar com o prefeito pra lhe deixar trancafiado"


"não quero o mal de ninguém é que preciso arrumar meus bens caso contrário já teria ido!" o velho deu um sorriso matreiro eles levantaram o marceneiro que parecia bastante agradecido da porta o velho se desculpava à distancia viam que acenava "ele queria deixar o povo viciado…" essa droga era tipo um elixir…" o marceneiro começou sorrir um longo sorriso amarelado velho fechou a porta olhou no relógio a hora "agora mantenha a calma" levou a garrafa de café pra pia imaginando todo trabalho que teria ao desmontar o scanner de alma


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