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ano 10 | nツコ 92 | julho/agosto 2013 TECNOLOGIA PARA A INCLUSテグ SOCIAL
software livre
A ordem テゥ aumentar a aposta
livros digitais
O conhecimento muda de lugar
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editorial
O livro do futuro
Equipe
Em 2011, apenas 5% dos livros vendidos no Brasil eram em for-
Redação
mato digital. Mas, com a explosão da venda de tablets e smart-
Lia Ribeiro Dias Diretora Editorial
phones nos dois últimos anos, esse cenário deve ter se modi-
Miriam Aquino Diretora Associada
ficado aceleradamente, como mostra a reportagem de capa desta edição (ver página 12). O livro, tal como o conhecemos,
Áurea Lopes Editora-Executiva
impresso em papel e com cuidadosa apresentação gráfica, em breve vai se transformar em raridade, voltado ao mercado de nicho, tal qual o disco de vinil, na previsão de estudiosos do tema.
Rafael Bravo Bucco Repórter
Pesquisa entre os leitores de livros digitais, acessados por meio
Gisela Dias Editora de Arte Colaboradores Fátima Fonseca, Marina Pita (textos), Douglas Garcia, Robson Regato (fotos)
de leitores próprios para livros ou por tablets e smartphones, mostra um perfil surpreendente de quem consome esse tipo de livro. Como seria natural supor, esses leitores não estão apenas
Capa Foto Robson Regato
nas classes A e B. Estes respondem por 53% do consumo. Os demais 47% estão espalhados majoritariamente na classe C (42%) e, em menor número, nas classes D e E (5%).
Publicidade e Marketing
Para muitos especialistas, os e-books podem, no lugar de res-
Meire Alessandra Diretora Luiz Faloppa Consultor de Negócios
tringir, impulsionar a leitura no país, até porque o livro do futuro não será mais estático. Silvio Meira, professor de engenharia de
Edna Fonseca Gerente de Circulação e Marketing
software da Universidade Federal de Pernambuco, assim define esse novo livro: “Um fluxo constante de informação, que muda o tempo todo, recebe opiniões, é comentado conforme vai sendo
Administrativo-financeiro
atualizado, e reúne milhares de pessoas em torno de um mesmo
Adriana Rodrigues Gerente
assunto, para debater e trocar conhecimento, em rede, como serviço”. Por isso, diz, o livro tem a ver não só com a leitura, mas também com a escrita.
Camila Carvalho Assistente
Mas para que o e-book avance e venha a representar realmente
Web e Suporte de Rede Renan Cisi Técnico
uma democratização do livro no país, o professor Meira insiste na necessidade de o país criar uma Biblioteca Pública Digital do
Gráfica Gráfica Ipsis Distribuição Correios Entrega Direta
Brasil, a exemplo da DPLA dos Estados Unidos. “Até porque o software da DPLA está sendo publicado e é aberto. Em qualquer lugar onde você tiver um computador e internet, você tem a Biblioteca Nacional todinha”, conta ele. Esse é um tema importante de debate na definição de uma política pública para o livro digital, que tenha como pilares os formatos abertos e, no caso dos livros didáticos, a possibilidade de
ARede é uma publicação mensal da Bit Social www.arede.inf.br
construção coletiva, o estímulo à participação do leitor. O Brasil, que digitaliza a passos de tartaru-
São Paulo Av. São Luiz, 258, 21º andar, cj. 2111, 01046-000, São Paulo, SP. Tel.: 11 3129-9928 / 11 3151-2115 arede@arede.inf.br
ga o acervo da Biblioteca Nacional, precisa sair da letargia.
Lia Ribeiro Dias Diretora Editorial
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Foto Robson Regato
Jornalista responsável Lia Ribeiro Dias (MT 10.187)
ARede adota Licença CompartilhaIgual (SA) O uso livre do conteúdo não se aplica às fotos, que pertencem a seus autores.
Conselho editorial Antônio Carlos Silva Representante da Rede Mocambos
Luiz Ernesto Gemignani Presidente do Conselho de Administração da Promon
Beatriz Tibiriçá Diretora do Coletivo Digital
Manoel Horácio Conselheiro do Banco Fator
Carlos Seabra Coordenador Técnico Pedagógico na Gerência de Inovação e Novas Mídias da Editora FTD
Mário Luís Teza Representante do Projeto Software Livre Brasil
Cláudio Prado Presidente do Laboratório Brasileiro de Cultura Digital Cristina Kiomi Mori Diretora do Escritório de Projetos Especiais de Modernização da Gestão (Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão) Edson Fregni Professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Felipe Fonseca Representante da Metareciclagem Jorge Bittar Deputado Federal (RJ) Júlio Semeghini Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo
Misael Dentello Coordenador Regional de Inclusão Digital do Serpro-SP
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realização
Paulo Lima Representante do Projeto Saúde e Alegria Ricardo Knoepfelmacher Diretor da Angra Partners Ricardo Kobashi Integrante do Coletivo Lixoeletrônico.org Rodrigo Baggio Diretor do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) Rodrigo Ortiz D’Avila Assumpção Presidente da Dataprev Sérgio Amadeu da Silveira Pesquisador e educador Thiago Tavares de Melo Diretor da SaferNet Brasil
Promotores da inclusão digital A empresa ou a instituição que faz um pacote de assinaturas da revista ARede se torna um agente na promoção da inclusão digital no Brasil, ajudando a difundir informações e apoiar a formação em telecentros, escolas públicas e outros pontos de acesso coletivo às tecnologias da informação e comunicação.
Venha se juntar a esse time
Assine ARede para a sua comunidade ou patrocine um lote de assinaturas para uma instituição que precisa.
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cartas
compartilha igual Libertando a força do comum Artigo de Alexandre Abdo publicado na edição 91 Parabéns pelo texto. Ele me fez lembrar de uma entrevista da Nina Paley em que ela fala de licenças abertas (http://blog.ninapaley. com/2013..., os problemas do ND (não derivativos), NC (não comercial) e o medo que algumas pessoas/empresas possuem do SA (compartilha igual). Parabéns para ARede e para o Senai pela mudança de licença.
entrevista | Beatriz Tibiriçá
isso, é preciso participação popular e gestão compartilhada, alerta a ativista Beatriz Tibiriçá, a Beá. Pioneira na implantação de telecentros no Brasil, Beá é uma reconhecida especialista em políticas públicas nesse setor. Esteve à frente do programa de inclusão digital da cidade de São Paulo, na gestão Marta Suplicy, e integrou a Rede Nacional de Formação do programa federal Telecentros.BR. A partir dessa experiência, avalia: “Cabe ao telecentro enxergar o que existe no seu entorno, quais os agentes sociais, que projetos a comunidade quer levar adiante, e se adequar à vocação regional”.
APESAR DE TER AUMENTADO O ACESSO DAS PESSOAS À TECNOLOGIA, A NECESSIDADE DE UMA POLÍTICA PÚBLICA DE INCLUSÃO SOCIODIGITAL NÃO ESTÁ SUPERADA, NA OPINIÃO DA ATIVISTA BEATRIZ TIBIRIÇÁ. SUPERADA, ACREDITA ELA, É A VISÃO DE ALGUNS GOVERNANTES A RESPEITO DOS CENTROS PÚBLICOS DE ACESSO À INTERNET – EQUIPAMENTOS QUE, SOB BOA GESTÃO, PODEM SE TORNAR POLOS DE DESENVOLVIMENTO DAS COMUNIDADES.
Com o aumento dos computadores pessoais, os telecentros estão perdendo força no processo de
Fotos: Renato de Aguiar
inclusão digital?
chegando a essa conclusão, mas esse raciocínio tem dois problemas. Primeiro: não se pode confundir inclusão digital com alfabetização digital. É possível pensar que as pessoas hoje têm mais acesso à tecnologia, sabem mais usar as máquinas – embora, se pensarmos em termos de todo o Brasil, a coisa não é bem assim... Mas mesmo que as pessoas tenham computador, usem celular, não é motivo para o esvaziamento dos telecentros, que têm outro papel. O segundo equívoco é dizer que uma política pública de inclusão digital não faz mais sentido, quando o verdadeiro problema é um erro de gestão. Quais são os erros de gestão?
TEXTO ÁUREA LOPES
Beá – O que é o centro de uma política de tele-
FOTOS ROBSON REGATO
centros, hoje? É o acesso coletivo e a possibilidade de, com o uso de tecnologias, favorecer projetos comunitários. É isso que dá vida aos telecentros. E isso só acontece quando se coordena esses telecentros em conjunto com a população, compartilhando a gestão. Aí, sim, os telecentros se tornam centros comunitários, como devem ser. Como já foram no passado, aqui em São Paulo, por exemplo. Porque o telecentro tem a função de colocar a tecnologia no centro da vida da comunidade. E o que leva as pessoas para dentro do telecentro é o que elas querem fazer em suas comunidades, e não o uso da máquina.
HÁ POUCO MAIS de dez anos,
quando a principal demanda da sociedade da informação era conexão, surgiam os telecentros. Hoje, cresceu muito o número de pessoas que têm computadores em suas casas e dispositivos móveis de comunicação. Com isso, os programas de inclusão sóciodigital estão diante de um desafio: compreender que a tecnologia deve estar a serviço do desenvolvimento local, alavancando as iniciativas das comunidades. Para 18
Beá – Não. Alguns governantes e analistas estão
Qual seria o modelo ideal para um telecentro hoje, uma vez que as pessoas acessam internet por celular?
Beá – Antes de mais nada, um programa de
inclusão digital não tem cartilha para seguir, não tem modelo e não tem padrão. Você tem de adequar o programa aos interesses da comunidade. Dessa forma o telecentro vai ter consistência e a comunidade vai reconhecer o equipamento como seu, vai ser receptiva à gestão compartilhada. A gestão por meio dos conselhos gestores. Quando terminou o governo da Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo, a gente já apontava para a necessidade de empoderar ainda mais os conselhos gestores, que tinham caráter apenas consultivo: indicavam oficinas, cursos, fiscalizavam o funcionamento do espaço. Naquela época foi feito um projeto de lei para institucionalizar a questão dos conselhos, da participação popular, propondo a criação de um conselho municipal de inclusão digital. O projeto até foi votado, mas ficou engavetado porque o prefeito seguinte não sancionou. Hoje os conselhos poderiam ter um poder de gestão de fato, além do consultivo.
UM PROGRAMA DE INCLUSÃO DIGITAL NÃO TEM CARTILHA PARA SEGUIR, MODELO OU PADRÃO Você quer dizer que é importante a participação da comunidade nos programas? Beá – O que dá alegria ao projeto de inclusão digital é exatamente isso. A participação da população, de um lado, e dinamizar o telecentro de acordo com aquilo que a comunidade faz. Na Rede Nacional de Formação [rede de formação do programa federal Telecentros.BR], houve uma avaliação de que a rede estava atendendo o que a gente chamou de “letramento digital mais avançado”. O monitor que entrava para a rede já tinha alguma relação com tecnologia, conhecia um pouco de sistema etc. Assim, a gente tentou fazer um trabalho voltado para os projetos comunitários, dentro dessa ideia da comunidade no centro do processo de inclusão
Beá é diretora da organização social Associação para Democratização e Acesso à Sociedade da Informação – Coletivo Digital e faz parte do conselho editorial da revista ARede.
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ARede Maio/Junho 2013
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Rafael (pelo site)
Caiu na rede Presidente dos EUA defende vigilância em massa das telecomunicações
grato se vocês fizessem isso certo. Fernando Noronha Caxias (MA)
Agradecemos o recebimento do exemplar da revista, na certeza que muito irá contribuir para a continuidade de nossas atividades na E.E. Predicanda Lopes, bem como irá proporcionar uma melhor compreensão da tecnologia na sociedade contemporânea. Maria Elizabete da Silva Macapá (AP)
Reportagem publicada no portal em 07/06/2013
Raniere Silva
Telecentro? Para quê?
e TeleCEU. Quem fez parte dessa época de telecentro sabe o amor e o carinho que tenho por esse projeto. E parabéns, Beá, sabe que sempre pode contar com a galera da Zona Oeste.
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Telecentro? Para quê? Entrevista com Beá Tibiriçá, publicada na edição 91 Minha experimentação no Programa Acessa SP em São Vicente (como usuário) mostrou que devido à falta de sinergia entre governo e sociedade os telecentros não alcançam sua finalidade de centro de promoção do desenvolvimento da comunidade em que está inserido. Pena, porque o script do Programa é lindo, mas a coordenação de sua execução é lastimável !
As entrelinhas do caso são mais graves que o que está exposto nas manchetes e são agravadas com novas declarações/entrevistas! Obama passou de “pedra” a “vitrine” no debate sobre invasão de privacidade. Quando diz ser “preciso fazer concessões” que “ajudam a combater ataques terroristas”, esconde o fato de que quem decidiu não foi um (a) cidadão (ã)! Parafraseando o próprio Obama, “É possível ter 100% de INsegurança e ZERO% de privacidade!”. Pior, segundo reportagens, Obama disse que nada foi feito sem conhecimento. Se referiu ao Congresso, e, sendo mais específico, a lideranças, sem nominá-las. Há outros personagens que precisam ser “solidários” como “vitrine” a Obama e aos congressistas que teriam participado da “bisbilhotagem”. Apple, Facebook, Google, Microsoft, Yahoo e as demais empresas que transformaram informações pessoais privadas de clientes em base de dados do Prism precisam dar satisfações a seus clientes. Alegar que prestaram informações quando solicitadas a fazê-lo não justifica, nem convence! Osnaldo Moraes Silva
Foi mal Referente à reportagem “Fala Paraisópolis!”, edição 91, os responsáveis pelo Programa Einstein afirmam que, ao contrário do que foi publicado, o impacto do programa na comunidade já foi mensurado, pelo Ibope.
Para receber AREDE A revista é distribuída gratuitamente apenas a centros de acesso coletivo à internet ligados a projetos de inclusão digital, social e cultural: telecentros, infocentros, pontos de cultura, bibliotecas, escolas. Você pode solicitar a revista para sua instituição. Para receber ARede individualmente, faça a assinatura anual, no valor de R$ 115. Envie nome, endereço completo e sua função na instituição onde trabalha ou milita para: Av. São Luiz, 258, 21º andar, cj. 2111, CEP 01046000, São Paulo, SP. Ou escreva para arede@arede.inf.br. Todo o conteúdo da revista está disponível no site www.arede.inf.br.
Fernando Gonçalves
Ótima matéria, e sempre vou agradecer a todos que fizeram e fazem parte desse grandioso projeto. Trabalhei quatro anos, e anos maravilhosos, nesse projeto; aprendi e cresci muito nesses anos e sinto falta da Família telecentro
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Mandem pra cá Eu estou escrevendo para vocês para que, a partir do próximo número, enviem a revista para o Colégio Municipal Antonio Rodrigues Bayma. Eu ficaria muito
fale com a gentE @arede_ facebook.com/RevistaARede arede@arede.inf.br www.arede.inf.br
Família, vizinhos, agente de saúde e você: a parceria perfeita para vencer a dengue. O número de casos de dengue vem aumentando em diversos estados do Brasil. Mais do que nunca, precisamos da sua participação para vencer essa doença que pode matar. Não deixe nada que possa acumular água exposto ao tempo. Mantenha sacos de lixo fechados; caixas d’água tampadas; calhas limpas e vasinhos de plantas com areia. Mobilize seus amigos e vizinhos. E, em caso de febre, dor de cabeça, no corpo e nas juntas e manchas vermelhas pelo corpo, beba muito líquido e procure uma unidade de saúde.
Melhorar sua vida, nosso compromisso.
índice
cartas
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capa As estantes móveis Tablets e smartphones começam a ganhar destaque e cada vez mais adeptos como suportes para leitura
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entrevista Saúde: a mobilidade amplia o conhecimento O uso de dispositivos móveis facilita a transmissão de informações online e dá acesso a bancos de conhecimento
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conexão social Só um pouco mais transparente Lei de acesso à informação fez aniversário, mas há muito a se fazer para aproximar a administração pública dos brasileiros.
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Para se divertir e encontrar amigos Pesquisa internacional com centros de inclusão digital brasileiros mapeia hábitos em lan houses e telecentros
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#VemPraRua, software livre! CISL volta a atuar pela ampliação do uso do código aberto no governo federal
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A nova sala de aula O livro Reflexões, de Nelson Pretto, traz artigos e entrevistas sobre ativismo digital e educação.
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na escola Grupo de estudo virtual Portal de aprendizagem colaborativa já tem cerca de dez mil brasileiros, entre nove milhões no mundo.
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Educação? É só conectar! Escola virtual promove a inclusão sociodigital a partir de cursos gratuitos em diversas áreas
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Professores em tempo real Usuários de tecnologia ensinam alunos de escola pública no Pará
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livre saber Tecnologia, ensino e corujas Não existe educação sem criação, não existe criação sem autonomia, nem autonomia sem liberdade.
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hipernovas As notícias da rede
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clique aqui Links interessantes
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raitéqui Um mal necessário? O argumento de que é preciso estar onde todos estão é perigoso porque implica apoiar o alvo da militância
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A tecnologia a seu alcance
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opinião Ativismo pós-digital A multidão ganha voz por meio das mídias horizontais digitais, explica Tarcisio Torres Silva.
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Cartão de crédito bom é aquele que tem sempre mais vantagens para você: no débito, no crédito, no crediário e, principalmente, na sua vida.
Central de Atendimento BB 4004 0001 ou 0800 729 0001 SAC 0800 729 0722 • Ouvidoria BB 0800 729 5678 Deficiente Auditivo ou de Fala 0800 729 0088
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As estantes móveis Tablets e smartphones começam a ganhar destaque e cada vez mais adeptos como suportes para leitura texto Rafael Bravo Bucco | fotos Robson Regato
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“Um fluxo constante de informação, que
muda o tempo todo, recebe opiniões, é comentado conforme vai sendo atualizado, e reúne milhares de pessoas em torno de um mesmo assunto, para debater e trocar conhecimento, em rede, como serviço”. Essa definição, de autoria de Sílvio Meira, professor de engenharia de software da Universidade Federal de Pernambuco, poderia se referir a um fenômeno contemporâneo, como uma rede social, ou a um ambiente inovador, como uma plataforma científica virtual. Mas é a descrição de um objeto milenar, que simplesmente passa por transformações que garantem sua sobrevivência na era tecnológica: o livro. A substituição de textos e imagens estáticas por arquivos digitais de áudio, vídeo e aplicativos deve ser apenas uma fração daquilo que pode vir a ser o livro do futuro, disse Meira, durante o 4º Congresso Internacional do Livro Digital, realizado em junho pela Câmara Brasileira do Livro. Para fundamentar sua tese, o professor apresentou o Silent History. Um livro digital, em formato de aplicativo para iPad e iPhone, cujos capítulos são liberados de acordo com a localização do leitor – ou usuário? O programa utiliza o georreferenciamento do GPS dos aparelhos para entregar um texto apenas quando o leitor chegue a três metros de distância do local onde a trama se passa. A narrativa traz a história de crianças que não falam, mas têm habilidades fantásticas. São 120 depoimentos, feitos por pais, professores, amigos, médicos, e centenas de textos “espalhados” pelo mundo. Há trechos para serem “lidos” dos Estados Unidos a Xangai. “O livro não vai residir em um lugar, estará em todo lugar. Será assim pois o conteúdo dependerá apenas da plataforma”, disse Meira, convidado a imaginar o livro em 2020. Outra mudança fundamental, avalia, será conceitual. Ao integrar as plataformas digitais, o livro deixará de ser um objeto de consumo, uma fonte de informação de mão única. Vai se tornar um núcleo para a construção interativa do conhecimento. Deverá incorporar recursos hoje comuns no Facebook: a possibilidade de comentar trechos, compartilhar frases sublinhadas, acrescentar imagens, vídeos, criar tramas paralelas, mesmo sem ser o autor do original. “Para o bem de todos, o livro não será apenas sobre leitura, será também sobre escrita”, prevê. ARede Julho/Agosto 2013
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Nada disso, no entanto, deve levar ao fim do livro de papel, acreditam os estudiosos do assunto. O livro em papel vai se tornar artigo de nicho, para aficionados pela experiência linear e sensorial que o objeto físico proporciona. “Terá o mesmo destino do disco de vinil”, ressalta o professor Meira, que é também cientista-chefe do Centro de Estudos de Sistemas Avançados do Recife (Cesar). Mesmo os livros didáticos vão ser completamente transformados. Um exemplo que vem conquistando público é o Codecademy, um ambiente virtual de ensino e aprendizagem de programação. O leitor, estudante, começa a aprender assim que entra no site. De cara, é convidado a usar códigos para escrever na tela o próprio nome. Quando se dá conta, aprendeu um pouco da linguagem dos computadores. Conforme navega pelos “capítulos”, pode compartilhar a evolução, observar exercícios resolvidos por outros usuários e debater soluções para problemas propostos. “O que era um livro, virou um aprendizado interativo e social”, observa Meira. No Brasil, a Positivo Informática acaba de lançar o Caderno Digital, um sistema interativo que interliga o computador do professor (servidor de uma rede Wi-Fi) com tablets ou notebooks dos alunos. Com conteúdos para estudantes do ensino fundamental e do ensino médio, o Caderno permite ao educador criar e agendar atividades,
Didáticos na telinha Diante da digitalização dos livros, o Ministério da Educação (MEC) lançou no final de 2012 o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Pelo edital, as editoras deverão apresentar versões digitais dos livros didáticos. A versão digital poderá ser baixada por professores, nos sites das editoras. O MEC não sabe precisar, porém, a quantidade de livros digitais que será adquirida, nem se editoras sem expertise para criação de material digital terão suas obras selecionadas convertidas por terceiros. O governo federal é o maior comprador
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às quais pode vincular diferentes mídias. Os alunos elaboram textos, resolvem exercícios, interagem em grupos e com o próprio professor, que também conta com o apoio de uma matriz de avaliação automática.
Retrato do momento A pesquisa mais recente sobre o a leitura de livros digitais no Brasil traz dados de 2011. A 3ª edição do estudo Retratos da Leitura no Brasil, feito pelo Instituto Pró-Livro e divulgado na Bienal do Livro de São Paulo em 2012, mostra que há dois anos o mercado de livros digitais era pequeno no país. Os e-books representavam apenas 5% do mercado editorial (o que inclui os didáticos comprados para escolas públicas), equivalendo a 9,5 milhões de livros vendidos. Os maiores consumidores têm ensino superior e médio, com idade entre 18 e 39 anos. As mulheres leem mais livros digitais (bem como os de papel): 4,9 milhões compraram e-books naquele ano, contra 4,6 milhões de homens. A pesquisa surpreende quando analisa o perfil econômico do leitor de livros digitais. De posse de tablets e celulares sofisticados, as classes A e B são as principais consumidoras, mas não por larga margem. Leram 53% dos e-books, enquanto a classe C, sozinha, consumiu 42%; e as classes D e E, 5%. A maioria dos livros, porém, foi obtida gratuitamente. Nada menos que 87% dos respondentes afirmaram ter baixado o livro da internet, e, desse total, 62% assegura-
de livros didáticos do Brasil, e a previsão é de que 80 milhões sejam adquiridos para distribuição, em 2015, a 20 mil escolas de ensino médio. As inscrições de propostas terminaram em junho. Para garantir a concorrência, editoras poderiam apresentar livros apenas em formato físico. Agora em julho as editoras entregam as versões físicas, enquanto o material multimídia vai ser entregue para avaliação em agosto. Os livros passam por avaliação de especialistas do ministério, que vão selecionar as obras. Somente então o governo bate o martelo.
ram que não recorreram à pirataria. Os demais, 38% admitem ter feito download ilegal. Os números fazem editores tremerem. Mas não precisam. Basta que acreditem na migração para o digital. Quem alerta é Javier Celaya, diretor da Associação Espanhola de Economia Digital. “O mercado brasileiro vai se transformar rapidamente nos próximos cinco a sete anos. O brasileiro vai ler em telas antes do que se pensa, e se não houver oferta de e-books o quanto antes, a baixo custo, a pirataria vai predominar. O preço aqui, hoje, está muito alto”, avisou, durante o congresso da CBL. A observação vem baseada na experiência de seu país. Na Espanha, os livros digitais são lidos por 58% das pessoas, segundo pesquisa feita pela associação local dos editores, e 68% dos livros são baixados gratuitamente.
há mais de 70 milhões de celulares capazes de exibir ebooks no brasil Celaya lembrou que a leitura de livros digitais se dá não apenas em leitores digitais, os e-readers como Kindle e Kobo, mas também nos tablets e smartphones. Segundo ele, no Brasil há mais de 70 milhões de smartphones capazes de exibir, com qualidade, os livros digitais. Os editores precisam refletir sobre como levar os livros para essa população. “Houve um aumento de 400% nas buscas feitas pelo celular no último ano”,
O edital não especifica qual formato os livros digitais deverão adotar, se devem ser compatíveis com leitores digitais, com computadores ou com tablets. A especificação é que tragam o mesmo conteúdo dos livros físicos, acrescidos de recursos multimídia, como vídeos e sons, por exemplo, o que reduz o universo de dispositivos às duas últimas categorias. Também no ano passado o MEC iniciou a distribuição de tablets para professores de escolas de ensino médio da rede pública. Foram pré-requisitos para definir por onde começar a distribuição de tablets: ser escola urbana de ensino médio, ter inter-
net banda larga, laboratório do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) e rede sem fio (WiFi). Segundo o governo, foram distribuídos 254.559 aparelhos até o final de junho. A contratação foi de 423.236. Cabem aos estados e prefeituras adquirir os tablets para docentes das redes estaduais e municipais. São duas versões, uma de 7”, outra de 10”. Ambas com câmera, microfone, saída de vídeo e conteúdos pré-instalados do Portal do Professor, do Portal Domínio Público, da Khan Academy (traduzido), do Banco Internacional de Objetos Educacionais e da Coleção Educadores.
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Equipamentos para ler E-Reader Leitor de arquivos de livro digital, com tela e-ink, reproduz apenas tons de cinza. A bateria, de longa duração, pode levar um mês para se esgotar. Com menos de 200 gramas, é mais confortável para leituras prolongadas. Confira os principais modelos à venda no país: Kobo – disponível com quatro versões de tela: sensível ao toque; iluminada de 6 polegadas; HD de 6,8” e de 5”. Reconhece arquivos nos formatos ePub, PDF, Mobi, Jpeg, Gif, PNG, e Tiff, TXT, HTML, XHTML, RTF, CBZ e CBR. Custa entre R$ 289 e R$ 600. Kindle – em versão simples e com tela iluminada de 6”. Reconhece os formatos AZW3 (proprietário da Amazon, fabricante do aparelho), TXT, PDF, Mobi sem DRM, PRC, HTML, DOC, DOCX, JPEG, GIF, PNG e BMP. De R$ 299 a R$ 699. Tablet Mais sofisticado que o e-reader, faz mais do que reproduzir e-books, porém a bateria dura menos de um dia. Roda games, vídeos, músicas, tem navegador de internet etc., graças ao uso de aplicativos e tela colorida sensível ao toque. Os principais sistemas operacionais são o aberto Android, e o fechado iOS (usado apenas no iPad). Qualquer smartphone com esses sistemas apresenta as mesmas capacidades, porém, em tela menor. Alguns modelos à venda no país: iPad – são três versões (Mini, iPad 2 e Retina) lançadas no Brasil, todas com tela sensível ao toque. Com diversas configurações de memória e conectividade à internet, o equipamento pode ler qualquer arquivo de livros digitais, de acordo com o aplicativo escolhido. Preço de R$ 1.349 a R$ 2,5 mil. Galaxy Note 8 – Com tela de 8”, tem processador de quatro núcleos de 1,6 GHz, 2 GB de memória e 16 GB de armazenamento. Câmera frontal (1.3 MP) e traseira (5 MP). Custa R$ 700. Nexus 7 – Assinado pela Google, tem processador de quatro núcleos de 1,3 GHz, armazenamento de 16GB, 1 GB de memória e câmera frontal de 1,2 MP. Custa R$ 1 mil. Asus Memo Pad – Tem tela de 7”, 1 GB de memória, 8GB de armazenamento. Câmera apenas frontal, de 1 MP, e processador de um núcleo de 1 GHz. Custa R$ 500.
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afirmou. Por isso, defende que editoras criem sites amigáveis aos dispositivos móveis. Ele também afirma que qualquer editora que queira sobreviver na era digital deverá oferecer recursos de autopublicação, um mercado que somente no Reino Unido representa 20% das vendas. Outro estudo, o Painel de Livros, realizado pela consultoria GFK, aponta que o tablet deve se tornar a ferramenta principal de consumo de livros. Segundo a pesquisa, em outubro de 2012, 52% dos brasileiros tinham smartphone, 24%, tablet, e 61%, notebook. No entanto, a venda dos tablets cresceu 1.245% de abril de 2011 a outubro de 2012, e 35% dos entrevistados disseram que vão comprar um tablet nos próximos seis meses. A consultoria IDC afirma que a venda de tablets no mundo vai ultrapassar a de PCs já em 2015.
formatos da criação Os autores também já se preocupam com o impacto do e-book na criação. Tony Brandão, autor multimídia, trabalha com diferentes formatos há quase duas décadas. Nos anos 1990, lançou livros em formado CD-Rom, que podiam ser explorados pelos leitores. No começo dos anos 2000, criou um livro virtual, publicado no portal Terra, em que o leitor deveria decifrar crimes ocorridos em São Paulo. “O sucesso foi grande, os personagens [atores cujas fotos ilustravam o texto] eram reconhecidos na rua”, disse, em apresentação sobre como livros e jogos eletrônicos poderiam se unir. Para ele, a resposta é evidente: “Acho que não se deve perguntar: livro ou game. Se deve pensar em um livro e game”. O Crimes no Parque está online até hoje. O leitor pode ler os capítulos, reunir pistas, acompanhar tramas paralelas. “É de 2003, quando a maioria das pessoas usava conexão discada”, lembra. Também há imagens que podem ser exploradas ao melhor estilo Google Streetview, mas feitas antes de esse serviço ser criado. Tudo para atrair a atenção de leitores adolescentes: “É preciso se apropriar das novas tecnologias e produzir obras interativas”, ressalta. A autora Angela-Lago vê com ressalvas a adoção dos livros digitais. Para ela, as plataformas criadas atualmente desprezam a arte. “É tudo
belo horizonte
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com muitas opções, o leitor pode escolher dezenas de letras, ir para lá, para cá. Onde está a simplicidade, a valorização do trabalho do diagramador, do designer?”, questionou. Para ela, a interatividade deve ser pensada de modo a não sobressair em relação ao conteúdo. “Descobri que eu mesma posso programar. Aprendi a usar o Flash, que os designers detestam. Aprendi que dá pra converter o que fiz em Flash para HTML5. Aí ficou ótimo. Eu crio de um jeito e converto”, comentou, exibindo o material para alfabetização que criou, disponível em seu site. Ao passar o mouse em uma letra, a imagem ganha contornos divertidos e ouve-se o som da vogal ou consoante. Passando o mouse sobre diversas letras em sequência, tem-se a percepção de formação das palavras. “Desse jeito, a criança já está lendo”, diz. Mila Gonçalves, gerente de educação e aprendizagem da Fundação Telefônica, observa que apesar de pesquisas apontarem uma redução de 5% no índice de leitura do brasileiro (é o que diz o estudo Retratos da Leitura do Instituto Pró-Livro), há um equívoco de interpretação. “Há um multiletramento. As pessoas estão lendo mais, mas em outras plataformas”, defendeu. Entre as plataformas, está o computador, o tablet e o celular. Ela também acredita que o livro
está se transformando rapidamente. “A Telefônica criou a Nuvem de Livros, que é uma biblioteca tradicional de livros digitais. Mas já existem ferramentas de leitura colaborativa, como o Read Cloud”, exemplificou. Na ReadCloud, ferramenta criada por uma empresa da Austrália, leitores criam redes em torno dos livros digitais que estão lendo. Autointitulada de plataforma de social eReading, permite que alunos comentem e compartilhem o que estão estudando. Os usuários conseguem não apenas enviar texto, como publicar fotos e vídeos relacionados ao conteúdo. Pode ser usada em tablets e computadores, mas é uma solução privada.
O mercado brasileiro é composto por 97 milhões de leitores Para a Câmara Brasileira do Livro, o digital é mais um instrumento para ampliar o número de pessoas com acesso à leitura. “O mercado brasileiro é composto por 97 milhões de leitores. É um número grande, porém, é metade da população. Há outro tanto igual de pessoas que não
Onde baixar Kindle Store – loja da Amazon, por onde se baixa livros diretamente com o Kindle. A maioria dos livros é paga, mas há milhares grátis, principalmente de autores clássicos, de Machado de Assis a Honoré de Balzac. Livraria Cultura – a brasileira afirma ter mais de 10 mil títulos gratuitos, que podem ser baixados diretamente nos e-readers Kobo. Boa parte são obras de autores desconhecidos, além de alguns clássicos. Saraiva – livros grátis são raros aqui. A maior parte das obras precisa ser comprada. A livraria, porém, é a única com uma centena de livros gratuitos publi-
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cados pela Imprensa Nacional, baseados em roteiros de filmes nacionais. iBooks – também com milhares de livros gratuitos, em diversas línguas, graças a parceria com o Projeto Gutemberg. As obras são todas em versão original, com português da época em que foram escritas, sem adaptação ou revisão. Play Books – presente em todo aparelho Android, é a loja da Google. Também traz os livros do Projeto Gutemberg, além de títulos publicados por bibliotecas de livros que caíram em domínio público. Mas dá trabalho achar.
têm acesso nem ao livro físico, nem a bibliotecas”, lembra Karine Pansa, presidente da CBL. Para aumentar o número de pessoas que leem, é importante atingir aqueles que têm deficiência e comunidades carentes. O livro digital pode ajudar, pela compatibilidade com diversos formatos ou por facilitar o acesso a um vasto acervo. “As pessoas com deficiência visual hoje podem recorrer a instituições que criam versões de livros em formato Daisy. No caso das comunidades carentes, ou das pessoas que talvez não tenham condição de ter o aparelho físico, há a possibilidade de recorrer às bibliotecas públicas equipadas com computadores e internet”, opina Karine. Uma biblioteca digital também ajudaria, mas é o que falta ser feito por aqui. Para Silvio Meira, o Brasil está perdendo o bonde. “A gente devia estar em um momento de criação da Digital Public Library of Brazil, uma grande Biblioteca Pública Digital do Brasil, inspirada na DPLA, dos Estados Unidos, até porque o software da DPLA está sendo publicado e é aberto. Em qualquer lugar onde você tiver um computador e internet, você tem a Biblioteca Nacional todinha. Mas falta empolgação, falta a gente se engajar no processo”, reclama. Segundo ele, 70% da população já passam mais de sete horas por dia conectadas, um contingente que se beneficiaria diretamente da existência de uma biblioteca assim. “Quem tinha de fazer isso no Brasil era a Biblioteca Nacional, mais as cinco principais universidades, e o Ministério da Cultura. Não são agentes privados que vão conseguir fazer porque não vão ter a licença para isso. Uma biblioteca digital pública é um esforço conjunto entre o sistema federal, a indústria de copyright e as bibliotecas de referência”, conclui.
www.prolivro.org.br www.codecademy.com www.thesilenthistory.com www.angela-lago.net.br www.terra.com.br/crimes http://dp.la
Social eReading Se o livro digital, e do futuro, vai ter muita colaboração, já existem vários leitores digitais para tablets e smartphones com tais recursos. Confira: Goodreads – rede social para leitores de livros, gratuita. A maioria dos usuários fala inglês, mas há brasileiros com quem debater sobre as leituras do momento. Também é uma plataforma para novos autores publicarem suas obras online. Wattpad – a brincadeira aqui é sobre compartilhar histórias. Indicado para quem gosta de escrever, permite a fácil publicação de livros, contos, poesias. Os usuários leem textos uns dos outros, comentam, selecionam trechos favoritos etc. Bookshout – rede social que facilita a comunicação entre público e autores. Qualquer pessoa pode publicar seus livros, criar um ambiente virtual de debate sobre seus textos, além de, claro, permitir compartilhamento de comentários. ARede Julho/Agosto 2013
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entrevista | Chao Lung Wen
Saúde: a mobilidade amplia o conhecimento O uso de dispositivos móveis facilita a transmissão de informações online e dá acesso a bancos de conhecimento texto Fatima Fonseca | Fotos Douglas Garcia
A primeira disciplina de Telemedicina foi cria-
da no Brasil, há 16 anos, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Dentro dessa área, têm sido desenvolvidos conteúdos utilizando diferentes meios de comunicação. Da computação gráfica, que permitiu aos designers criar o Homem Virtual, programa utilizado para o aprendizado de saúde com imagens 3D, de forma dinâmica e simples, ao uso do tablet, o vasto repertório apoia iniciativas 20
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de ensino a distância e leva orientações sobre saúde também para as pontas. Um entusiasta do uso das tecnologias interativas para disseminar o conhecimento, o médico Chao Lung Wen, chefe da disciplina na FMUSP, trabalha, em paralelo à criação de conteúdos para a área acadêmica, desenvolvendo cursos voltados a medicina preventiva para estudantes e professores da rede pública. Ao mesmo tempo, atua, com sua equipe, em aplicações para colocar o
que chama de “nuvem do conhecimento” nos dispositivos móveis. Que avanços a tecnologia, particularmente a móvel, trouxe, tanto para o meio acadêmico, como para a ponta? Chao Lung Wen – Estamos em um momento
muito bom. A evolução das tecnologias interativas e a melhoria do sistema de comunicação abriram um precedente, que é uma pessoa poder levar educação e assistência no bolso. Tivemos um importante crescimento das unidades móveis, seja em forma de smartphones, seja de tablets, ou de acesso à informação e à comunicação online. Nunca houve um precedente histórico dessa forma e, o mais importante, a custo acessível. Essas evoluções nos levam a repensar em como aplicar as coisas de forma eficiente em vários segmentos – não só na saúde terapêutica, mas na saúde da prevenção, na de estímulo à qualidade de vida e, sobretudo, na saúde como formação humana. Sou um defensor do uso das tecnologias para cada profissional que desenvolve uma ação importante. E tem também um segmento importante, de formação de uma rede móvel para os gestores. O que é essa rede móvel para gestores? Chao – Por exemplo, as reportagens têm mostrado que o Brasil nunca teve tantos acidentes de moto. Nesse caso, é preciso considerar a densidade na quantidade de motocicletas, a densidade de veículos e outro fator, o estreitamento das faixas (onde havia três faixas virou quatro e, em alguns casos, cinco), espremendo os veículos, o que contribui para gerar acidentes. Um dos cursos que vamos montar em julho e agosto, em parceria com as secretarias de Saúde e de Segurança Pública do Estado de São Paulo, vai orientar os gestores a construir projetos para reduzir acidentes com motociclistas e atropelamentos.
que servirá, no curso, para estimular a discussão com os gestores sobre a realidade, as evidências e as recomendações. E então serão elaborados projetos para a redução de riscos. Além do curso, o Corpo de Bombeiros também poderia ter o tablet com 3G para fazer documentação e registro dos acidentes em ação pericial ou de cuidados, para evitar novos acidentes. O uso de dispositivos móveis permite identificar as condições ambientais e definir uma ação específica. A área de telemedicina da FMUSP está desenvolvendo também um curso com o uso de tablets para os profissionais que trabalham como agentes da família. Chao – Temos cinco atividades em andamento.
O primeiro curso, dedicado a médicos e enfermeiros do Sistema Único de Saúde (SUS), é voltado para atenção integral à saúde do idoso. Com duração de 18 semanas, tem como finalidade atualizar os profissionais dessa área. O segundo curso é o Jovem Doutor. Por meio da educação interativa a distância vamos formar monitores de telecentros e do programa Acessa São Paulo ou de laboratórios de informática de escolas públicas em 28 temas da saúde. Esse é um aspecto importante, porque estamos pensando sobre o novo potencial dos telecentros. Com o esvaziamento desses espaços, defendemos que sejam transformados em escolas temáticas de saúde para as comunidades. Adicionalmente, oferecemos pelo menos 10% das vagas para pessoas com deficiência física. As pessoas – por exemplo, paraplégicos – poderiam aprender e se tornar tutores, pois é um modelo de educação a distância. Então teriam uma oportunidade profissional, difundindo pela internet a estratégia de programas de saúde nas comunidades e usando as estruturas dos telecentros e dos laboratórios de informática das escolas. Como vai funcionar o curso para melhorar o atendimento ao idoso?
Como a rede e os dispositivos móveis serão utili-
Chao – Nesse caso não é um curso para o ges-
zados?
tor, mas focado nos profissionais que atendem, como os da atenção básica ou da rede secundá-
Chao – Estamos envolvendo nesse trabalho tam-
bém o Corpo de Bombeiros. O piloto prevê que dois ou três bombeiros tenham tablets e conexão 3G. Eles vão aos pontos onde há os maiores registros de acidentes para fazer a documentação do local, seja em foto, vídeo ou por meio de um testemunho. A partir daí, será gerado um acervo,
Chao Lung Wen é chefe da disciplina de Telemedicina da FMUSP, desenvolve cursos e pesquisas em parceria com a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo e coordena o Núcleo Técnico Científico de São Paulo do programa Telessaúde Brasil Redes, do Ministério da Saúde.
ARede Julho/Agosto 2013
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entrevista | Chao Lung Wen
ria, aqueles que fazem ações relevantes com os idosos. O foco é a atualização do manejo clínico, porque, muitas vezes, lidar com a saúde do idoso é difícil. O idoso, assim como a criança, tem uma condição física e mental diferente. Outro foco é como lidar com idosos com diabetes, hipertensão, osteoporose. Tem também a questão da saúde mental. Dois problemas que afetam a vida de um idoso e pouca gente se dá conta são a depressão e a saúde auditiva. Por exemplo, será que o idoso deixa de ter convívio social porque ficou deficiente auditivo? O fato de não ter convivência social gera depressão, então, vai se dar medicamento antidepressivo em vez de resolver o problema da recuperação auditiva. A outra parte é desenvolver atividades que deem independência funcional e mental, promovendo a independência intelectual e física.
com os dispositivos móveis, FAríamos pontos de conexão pelo teleambulatório.
chamados tags da dengue, que seria a unidade instrucional, com tudo que há de informações importantes sobre a dengue e um ponto de contato para formar uma rede de apoio. Neste caso, qual a função do dispositivo móvel? Chao – Como não sei qual a capacidade de conectividade das instituições que vão compor a rede, para garantir que tenham os materiais, a ideia é colocar nos dispositivos móveis as informações relevantes: manejo clínico, conduta, orientação na casa. A partir do dispositivo móvel, criaríamos os pontos de conexão pelo teleambulatório. No pronto atendimento ou no hospital haveria o tablet com o conteúdo. Se o profissional quer algo rápido, tem três minutos de vídeo que ensinam; se tem dez minutos, conecta via internet com o dispositivo e vai marcando pontuação. A ideia é ter um sistema completo, com conteúdo, acessibilidade 3G e senha para interligar com uma rede de locais de excelência para orientar o profissional. E o quinto curso?
Os outros três cursos vão focar qual público?
Chao – É o projeto do e-care do autismo. No
Além dos meios comuns para o ensino a distân-
início deste ano, foi publicada uma portaria definindo que todas as pessoas com autismo terão atendimento como as pessoas normais. A ideia é criar um teleambulatório. As pessoas começam a se familiarizar e, na medida em que tenham uma dúvida, uma dificuldade, podem consultar o sistema central, onde se faz a orientação. Queremos juntar educação e teleassistência e, em um ano, familiarizar todo o sistema de saúde com o autista.
cia, como computadores e videoconferência, também serão usados dispositivos móveis? Chao – O terceiro curso é o de orientação a ges-
tores sobre acidentes de moto e atropelamentos. É um curso para ajudar os gestores a construir projetos de qualidade e exequíveis, que possamos encaminhar ao Ministério da Saúde e para os quais possamos solicitar recursos. O objetivo é adotar melhorias para reduzir os riscos de acidente e atropelamento, o que otimiza o sistema de saúde. O quarto curso em formatação é em relação à dengue. O controle da dengue está cada vez mais difícil porque o controle de vetores não teve sucesso efetivo. Trabalhamos agora no manejo clínico, com o objetivo de habilitar cada vez mais os profissionais da saúde a fazer os manejos em pronto atendimento e depois criar métodos para o acompanhamento domiciliar. Por exemplo: um paciente que passou por atendimento em pronto socorro e vai para casa, a família acha que a febre caiu e melhorou. Às vezes, é preciso ver outros sinais, porque, no caso da dengue, não ter febre não quer dizer melhora; o paciente pode estar entrando em uma condição de choque, pode ter um colapso cardiovascular. Tentamos trabalhar até a criação de dispositivos, 22
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Para todos esses cursos já existe conteúdo para tablet e outros dispositivos móveis? Chao – Trabalhamos no conceito da educação interativa. Em princípio, todos esses cursos estão em um site vinculado, os ambientes interativos de aprendizagem. Já temos computação gráfica e vídeo. A questão do uso de tablet não está 100% equacionada porque precisamos conversar com os gestores, seja o Ministério da Saúde, seja a Secretaria Estadual da Saúde, para adquirir um lote de tablets em que será embarcado o conteúdo. Queremos levar para os governos a iniciativa do programa do tablet da saúde como integrante de uma bandeira, a do Programa de Acessibilidade Digital à Saúde. Se conseguirmos fornecer para cada um dos profissionais de saú-
b r a s í l i a
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APOIO INSTITUCIONAL
29 de julho / 2013
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Hotel Mercure Eixo Brasília Brasília - DF SHN Quadra 5, Bloco G - Asa Norte
ARede Julho/Agosto 2013
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entrevista | Chao Lung Wen
de um dispositivo que facilite o acesso a uma nuvem do conhecimento, aí funciona. O que não vale é produzir um monte de conteúdos e os profissionais não terem meios para acessar. Esses cursos são restritos aos profissionais do Estado de São Paulo? Chao – Como universidade, nós temos interes-
se em difundir esse conhecimento para o país inteiro. A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo também tem visão de colaboração, embora o objetivo primeiro seja otimizar o serviço de saúde no estado. As instituições de outros estados podem utilizar esses conteúdos. Estamos totalmente abertos e dispostos a ajudar as universidades de todos os estados para que desenvolvam sistemas semelhantes em suas regiões. O conteúdo do projeto Homem Virtual, por exemplo, está disponível para outras universidades? Chao – Há universidades que pediram para fins
de graduação. O Homem Virtual é um projeto que usa a computação gráfica para explicar sobre saúde de uma forma visual, dinâmica e simples. É uma expressão intelectual, uma produção artística e científica e pode ser utilizado não só na formação dos profissionais de saúde e dos alunos da graduação, mas em outras ações em museus, espaços de ciência. Uma das boas formas de enraizar saúde em uma comunidade é criar uma cultura. A outra ação são as TVs por internet, em conceitos chamados Minuto Saúde e Três Minutos que Facilitam a sua Vida. A internet hoje é mais estratégica para a gente do que a própria TV digital; permite construir uma base, uma estação e vários lugares do país podem acessar. Esses sistemas requerem infraestrutura de rede com qualidade. O que as operadoras oferecem atende a essa demanda? Chao – O Brasil precisa investir em infraestru-
tura de comunicações como uma das grandes prioridades estratégicas, a chamada modernização das infovias. A Índia encontrou, no lançamento de um satélite só para a área de saúde, uma das estratégias da política nacional de saúde. Eles viram a telemedicina como uma forma de amplificação dos serviços de saúde. O Brasil precisa pensar nisso, em um satélite que poderia ser compartilhado por três grandes áreas: segurança nacional, educação e saúde. 24
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As redes da RNP, como a Redecomep e a Ipê, não seriam uma alternativa? Chao – A RNP está fazendo seu esforço, mas não
é suficiente. Em vários lugares, especialmente na região Amazônica, a RNP compra comunicação satelital. Uma das grandes estratégias é uma iniciativa em conjunto formando o conceito de dutovias. O que está acontecendo? Você pode ter várias cidades comprando pequenos links, várias iniciativas dispersas. Assim como a Sabesp constrói grandes dutos para levar água, poderia haver uma junção entre governo, operadoras de telefonia e iniciativas públicas, gerando um raciocínio de planejamento: como levo dutos de conexão, para quais locais e a partir desses locais faz-se as redes de distribuição de eficiência. Hoje, apesar de existir várias iniciativas, acabam concentradas em locais que já têm demanda. Por isso, o conceito das infovias devia ser uma estratégia nacional. A educação e a saúde deveriam andar em conjunto com a segurança nacional, porque se juntarmos a segurança com a educação e a saúde teremos a questão da nacionalidade, dos valores.
Como universidade, temos interesse em difundir esse conhecimento para o país As redes 4G vão contribuir para a disseminação dessas iniciativas na área de saúde? Chao – Do ponto de vista tecnológico, sim. Têm
boa performance, são 30 vezes mais velozes. Potencialmente e tecnologicamente, ajudariam muito. Minha preocupação é: onde será feita a distribuição, como será feita e em quanto tempo? Não adianta desenvolver 4G, que tem todo o potencial, sem saber qual é a política de expansão e a cobertura. Outra questão é o preço. Quando isso estiver equacionado, eu consigo dizer se a 4G se aplica ou não (na telemedicina), porque, em muitas regiões do país, provavelmente nem 3G tem. Nas minhas estratégias de telemedicina eu sempre crio o conceito duplo: o funcionamento isolado com o funcionamento conectado. Quando eu falei do tablet, por que eu quis fazer o conteúdo embarcado? Na zona rural, não há nem 2G. Com o sistema embarcado, eu posso trabalhar com aquele conteúdo e a cada 15 dias ir até um posto com banda larga, onde coloco o meu tablet, sincronizo e recarrego.
Existem dados sobre redução nos custos da saúde pública com ações preventivas? Chao – Essa é uma área de pesquisa de 20
anos. Qualquer número que eu fale pode estar subdimensionado. Vamos pegar a região Amazônica. Um paciente em São Gabriel da Cachoeira que precise fazer um ecodoppler levará duas semanas em um barco para chegar a Manaus; e três semanas para voltar, porque estará contra a correnteza. Ou a Força Aérea Brasileira vai resgatar o paciente ou paga-se uma passagem de avião, ida e volta. Qual seria o custo só com transporte? Outro exemplo está relacionado à saúde do idoso. Se houver uma ação para evitar que o ambiente domiciliar tenha tapete que escorregue e quinas, e fizer o idoso ter uma coordenação motora, vamos reduzir muito o índice de quedas. Uma pessoa que cai e precisa colocar uma prótese de fêmur, entre a cirurgia, prótese e reabilitação, deve gastar de R$ 50 mil a R$ 60 mil. Se as ações preventivas evitarem a queda de cem pessoas, a economia é de R$ 50 milhões. A telemedicina pode ter outro papel, de orientar os pacientes. Estudos mostram que 50% dos insucessos terapêuticos ocorrem porque as pessoas não tomaram os medicamentos corretamente. O paciente não entendeu o que o médico falou e tomou errado. No caso das medicações hipertensivas, que o governo fornece para os pacientes para controlar a pressão alta e evitar o AVC, em média apenas 30% são usados corretamente, 70% se joga no lixo.
menos R$ 60 bi ao ano em saúde, pelo Ministério da Saúde, os municípios devem injetar mais ou menos R$ 30 bi ao ano, o setor privado deve injetar mais ou menos uns R$ 40 a R$ 50 bi. São R$ 140 bilhões. Vamos supor que a gente consiga melhorar a eficácia em 10%, são R$ 14 bi. Vamos supor que eu quero R$ 7 bi de volta e R$ 7 bi eu injeto. A função da telemedicina é otimizar o sistema de saúde em até 20%, eu coloquei em 10%. Isso é só para dar uma ideia de que o uso dos meios tecnológicos em teoria representa um processo estratégico entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões no país, revertendo o equivalente para a sociedade. Como está o Brasil em relação a outros países, na telemedicina? Chao – Eu diria que nas altas tecnologias o Bra-
Essa ação orientando sobre a medicação pode ser feita por meio do programa de TV que o senhor citou? Está funcionando em canal aberto? Chao – Estamos trabalhando com o canal saú-
de do IPTV da USP e discutindo internamente na Faculdade de Medicina como montar a TV saúde com esses conceitos: Minuto Saúde e Três Minutos que Fazem a Diferença. Isso significa explorar esse lado – em pequenas atitudes, fazer grandes mudanças na saúde. Por meio da telemedicina e da telessaúde, podem ser feitas ações que fazem a diferença. Se conseguíssemos mudar o índice de perda do anti-hipertensivo, de 70% para apenas 40%, qual seria o efeito em cadeia, com a prevenção de problemas renais e outros? Uma vez o pessoal de TI me perguntou quanto vale a telemedicina no Brasil. Eu disse que vale, no minimo, R$ 10 bilhões ao ano. O governo federal injeta mais ou
sil está avançando, mas tem um gap, porque as nossas bases de tecnologia de comunicação estão aquém. Por outro lado, a importação de alguns equipamentos ainda é cara, sobretudo os usados em cirurgias robóticas e para telemonitoramento de gestante de alto risco. Há algumas pequenas pontas de excelência, mas em termos de implantação estamos atrasados. Na área de políticas públicas de saúde ou para a atenção primária, o programa Telessaúde Brasil e o Jovem Doutor, estão entre os maiores e os mais originais do mundo. Mas, na telemedicina de ponta, precisamos de mais investimentos.
Nota: Entrevista produzida originalmente para a revista Wireless Mundi, nº 10, junho de 2013 – www.wirelessmundi.inf.br ARede Julho/Agosto 2013
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INFORME INSTITUCIONAL
Provedores regionais: foco em serviços e gestão Considerados “a quinta maior operadora do país”, os provedores regionais de banda larga e serviços de telecom precisam profissionalizar os negócios.
Com a entrada em vigor do Plano Geral de Me-
estão presentes. Entre os pontos fracos, a gestão
tas de Competição (PGMC) e a redução do preço
ineficaz, a informalidade (9% não tinham licença
da licença do Serviço de Comunicação Multimídia
da Anatel para operar) e a falta de capital de giro.
(SCM) para R$ 400, os provedores regionais de acesso à internet e serviços de telecomunicações
Na avaliação de Rosana, há grandes oportunida-
começam a ter melhores condições para expandir
des para os provedores regionais atuarem na ofer-
seus negócios. Um dos caminhos para baratear o
ta de serviços de telecomunicações, especialmen-
custo do link e a implantação da rede é o compar-
te nas periferias das cidades grandes e médias e
tilhamento de infraestrutura, cujas regras estão
nas cidades pequenas e zona rural. Mas precisam
estabelecidas no PGMC.
investir na qualificação para a gestão. Como mostrou a pesquisa, falta fôlego financeiro, como re-
Apesar desse cenário animador, os provedores
cursos para o capital de giro. Essa deficiência pode
regionais enfrentam dificuldades na gestão do ne-
ser suprida com linhas de financiamento como as
gócio e no acesso a linhas de financiamento, apon-
do Banco do Brasil, apresentadas por Maurício Si-
tadas durante o 1º Encontro Provedores Regionais,
queira, analista da Superintendência de Negócios
realizado pela Bit Social, em Fortaleza, em 28 de
de Varejo e Governo do BB no Ceará.
maio. Com patrocínio da Padtec e do Sebrae, apoio da Furukawa e apoio institucional da Abrint, Etice
Além das várias linhas próprias do banco para ca-
e Telebras, o encontro reuniu 80 provedores regio-
pital de giro, com juros que ficam ao redor de 1,5%
nais de 48 cidades de cinco estados do Nordeste.
ao mês, ele informou que o BB oferece o Fundo Garantidor de Operações a empresas sem garantias.
Pesquisa realizada pelo Sebrae Nacional em 2011,
Diante das reclamações dos provedores regionais
com 24 empresas de todas as regiões do país,
de que não têm como financiar os cabos ópticos,
apontou que o provedor regional de acesso tem
o maior custo na implantação de uma rede de fi-
uma razoável formação técnica, mas carece de
bra, Siqueira informou que o banco tem uma linha
formação na gestão do negócio. “O nível de impro-
chamada BB Crédito Empresas que cobre todos os
visação é grande”, relatou Rosana Melo, coorde-
elementos da rede, inclusive os cabos ópticos.
nadora nacional da carteira de projetos de TI do Sebrae Nacional, ao apresentar os resultados da
Valor agregado
pesquisa durante o evento.
Para os provedores regionais de Alagoas, Ceará, Maranhão, Piauí e Rio Grande do Norte, a maior
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Entre os pontos fortes dos provedores regionais, a
barreira ainda é o custo do link, como informaram
pesquisa destacou a qualidade do atendimento ao
Rogério Vilar, da Revnet, e Anderson Lobo, da Imais,
cliente, a presença em pequenas cidades e locali-
que atuam na cidade cearense do Crato. Com a che-
dades da zona rural, onde as grandes operadoras
gada da Telebras à região – ainda está implantando
ou não investem na oferta da banda larga ou não
seu ponto de presença em Fortaleza –, os preços
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O 1º Encontro Provedores Regionais reuniu empresários do setor em Fortaleza (CE) no final de maio.
devem cair. Mas a grande oportunidade, como des-
da, como demonstraram os representantes da Pa-
tacou Artur Coimbra, diretor de banda larga da Se-
dtec, Glauco Pereira, e da Furukawa, Priscila Ba-
cretaria de Telecomunicações do Ministério das Co-
tista Moreira. “Com a tecnologia de acesso GPON
municações, está no compartilhamento, que será
usa-se uma única fibra para transmitir nas duas
inexorável com o aumento do tráfego provocado
direções e como a rede de acesso tem topologia
pela expansão da base de smartphones e tablets.
em árvore, o provedor começa com uma central e
“Os provedores que operam regionalmente preci-
vai ramificando e atendendo uma maior quantida-
sam usar a infraestrutura de terceiros. Isso ocor-
de de clientes”, disse Glauco Pereira, gerente de
re não só com os pequenos, mas também entre os
produtos GPON da Padtec. “A tendência é de baixo
grandes provedores. Por isso, várias medidas vêm
custo na instalação, que tende a ser mais rápida e
sendo adotadas pelo governo e pela Anatel para es-
simples”, destacou Priscila.
timular o compartilhamento”, disse Coimbra. Na mesma tecla bateu Marcelo Corradini, sócio-diOutra preocupação dos provedores é expandir a
retor da empresa Kyatera, que opera na região de
oferta de serviços. De acordo com José Ulisses
Campinas (SP), e diretor da Abrint. Entre os serviços
Costa Coelho, diretor da Nippontec, que opera na
que podem ser adicionados à rede citou a telefonia
cidade maranhense de Balsas, seu objetivo é as-
IP, o PABX virtual, o vídeo sobre IP, sistema de mo-
sociar a oferta de banda larga ao serviço de VoIP.
nitoramento e o de TV por assinatura. “Mas é pre-
Para isso, precisa de um software de gestão capaz
ciso que os serviços tenham qualidade”, ressaltou.
de gerenciar os dois serviços. “A Microsiga desenvolveu a solução, mas o custo é muito alto”, disse.
Para atender justamente aos pequenos provedores, a Algar Telecom lançou o projeto ISPTV, que já
“Para crescer é preciso fidelizar o cliente e, para
tem cem mil assinantes, e tem ofertado o serviço
isso, temos que oferecer pacotes combo”, contou
em parceria com provedores regionais, com foco
Anderson Lobo, da Imais. Dono da Cariri Conect,
na classe média, onde identificou um potencial de
que opera em Cariri Açu, Grangeiro e Juazeiro do
14 milhões de clientes. “Há uma oportunidade de
Norte, cidades cearenses, João Coutinho da Silva
crescimento do mercado (de TV paga) estimada em
também quer partir para o combo, com banda lar-
29,5% em 2013. Existe, portanto, um mercado po-
ga, VoIP e vídeo. Para isso, pretende construir um
tencial e queremos atingir esses consumidores em
cordão de fibra em Juazeiro, fazendo a conexão
parceria com os pequenos provedores, no modelo
com os prédios e residências com cabo. Na oferta
ganha-ganha”, contou Rodrigo Wegmann, gerente
de mais serviços, a tecnologia de fibra é uma alia-
de negócios de vídeo da Algar. ARede Julho/Agosto 2013
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conexão social
Só um pouco mais transparente A Lei de Acesso à Informação fez aniversário, mas ainda não dá para comemorar: órgãos de governo têm muito o que fazer para aproximar a administração pública dos brasileiros. Rafael Bravo Bucco
Desde que a Lei de Acesso à Informação entrou em vigor, em 16 de maio de 2012, o governo federal recebeu 87.119 solicitações de informação. Desse total, 83.483 (95,8%) foram respondidas, e, destas, 66.185 (79,2%) foram plenamente atendidas, 8.205 (9,8%) foram negadas, e 5.764 (6,9%) não puderam ser atendidas por tratarem de matéria da competência legal de outro órgão ou pelo fato de a informação não existir. Em média, cada pedido foi respondido em 11,3 dias. Os órgãos mais demandados foram a Superintendência de Seguros Privados (8.477), o Instituto Nacional de Seguro Social (7.407) e a Petrobras (5.322).
Como são as primeiras estatísticas anuais, ainda é difícil entender esses números. São altos? Baixos? Representam um desejo da população por transparência, ou mostram que a lei é pouco divulgada? Um balanço realizado pela Controladoria Geral da União (CGU) indica que em 93% dos casos respondidos o solicitante ficou satisfeito com o retorno, não tendo sido necessário fazer um novo pedido. Mas ativistas contestam. “É preciso compreender esse número. 93% de satisfação significa que a maioria das pessoas não entrou com recurso pedindo revisão ou detalhamento da informação. Só que em muitos casos não teve recurso porque os órgãos não oferecem canais claros para isso”, aponta Fernanda Campagnucci, da Rede pela Transparência e Participação Social, iniciativa que congrega diversas organizações sociais. A CGU reconhece que os números na esfera federal não representam a implantação da lei 28
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no país. Nos âmbitos estadual e municipal, a transparência ainda é uma promessa. Até o início do ano, apenas 12 estados tinham feito a regulamentação local, determinada na lei: Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina e São Paulo. De acordo com o mesmo estudo, das 253 cidades do país com população superior a cem mil habitantes, apenas 8% fizeram a regulamentação. A CGU informa que apenas dez das 27 capitais obedecem à lei: Belém, Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Florianópolis, Manaus, Rio Branco, Rio de Janeiro, São Paulo e Vitória. A população faz sua parte, mas não de forma homogênea. Segundo a CGU, aproximadamente 70% das solicitações ao Poder Executivo Federal são originadas em seis estados, localizados principalmente nas regiões Sul e Sudeste. Líder do ranking, São Paulo responde por 21% dos mais de 87 mil pedidos. Em seguida, aparecem Distrito Federal (16%), Rio de Janeiro (13%), Minas Gerais (9%), Rio Grande do Sul (6%) e Paraná (4%). Para o ministro-chefe da CGU, Jorge Hage, é preciso tornar a lei mais conhecida. “Os dados apontam para a importância de maior divulgação e disseminação da lei para outras regiões do país”, disse ele, durante debate sobre o primeiro ano da lei. Em seminário realizado em São Paulo, representantes da Corregedoria Geral da Administração, equivalente à CGU do estado, da Con-
troladoria Geral do município, da Rede pela Transparência e Participação Social (Retps) e da Associação dos Procuradores de São Paulo lembraram que a Lei de Acesso precisa ser melhor aplicada em várias frentes. Os números mostram resultados do que é chamado Transparência Passiva, na qual o órgão busca o conteúdo e o informa ao cidadão apenas após questionamento. Mas há um enorme déficit na Transparência Ativa, em que os órgãos apresentam, espontaneamente, em seus portais na internet, a maior quantidade possível de dados sobre a administração. Entre os órgãos que fizeram sites, a falta de padronização e do uso de arquivos em formatos abertos dificulta o livre acesso à informação. A Retps questiona a forma como as respostas são remetidas aos usuários, por e-mail, em vez de publicação online. “Pedimos dados para um órgão, que enviou uma série de e-mails com os arquivos anexados, cada um com vários megabites. Depois me ligaram pedindo para limpar a caixa e enviar mais documentos. Bastaria usar a nuvem”, diz Fernanda.
organizações sociais defendem a criação de catálogos de base de dados Outra recomendação das organizações sociais é a criação de catálogos de base de dados, que descreva o conteúdo das bases, inclusive indicando se contêm informações sigilosas. Iniciativa desse gênero vem sendo tocada pelo Governo do Estado de São Paulo, por meio da Corregedoria, com auxílio da companhia de processamento de dados paulista, a Prodesp. O catálogo de São Paulo descreve o tipo de dado contido na base, o formato do arquivo disponível, ou se a base pode ser acessada pelo cidadão comum. Outra medida foi a criação de uma plataforma para publicação de dados de prefeituras e órgãos municipais do estado de São Paulo. “As cidades têm até 1º de junho para obedecer a legislação; caso contrário, não receberão os repasses para saúde e educação. Por isso criamos uma força tarefa, com ferramentas que
facilitem a divulgação”, diz Levi de Mello, procurador do Estado de São Paulo. Os municípios poderão usar a ferramenta por um ano e, se quiserem adquirir a solução, deverão negociar com a Prodesp. “O desenvolvimento da ferramenta custou cerca de R$ 2 milhões ao Estado. Imagine se as cidades não se adequassem”, alerta Mello. A CGU também procura sanar o problema. Sua plataforma de informação ao cidadão, e-SIC, foi publicada em código aberto, em maio. Prefeituras, estados e órgãos federais podem ter acesso livre, basta assinar um termo de adesão. Até o fechamento desta edição, havia 633 adesões, entre estados e municípios. Para as controladorias e organizações sociais, também é preciso uma evolução na forma de pensar a gestão pública. “Os dados são públicos por natureza. Há uma mania, no Brasil, de se achar que a informação pertence à prefeitura. Não! É de todos”, frisa Mario Spinelli, secretário da Controladoria Geral do município de São Paulo – ele trabalhava na CGU em 2006, quando a Lei de Acesso foi concebida. Desde então, Spinelli vê que os dados “servem para fiscalizar, mas são mais usados como ferramenta de acesso a políticas públicas de combate à corrupção”. Ester Gammardella Rizzi, assessora de programas da organização social Ação Educativa, lembra que não apenas dados financeiros, como salários ou gastos, devem se tornar públicos. “Por que prefeitura e estado não divulgam o processo que leva a uma tomada de decisão? Por que não informar indicadores sobre a demanda da educação fundamental, por exemplo, em vez de apontar apenas o número de alunos existentes ou os custos com a rede de ensino?”, questiona.
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conexão social
Para se divertir e encontrar amigos Pesquisa internacional com Centros de Inclusão Digital brasileiros mapeia hábitos de utilização de lan houses e telecentros
Foto: Divulgação
Áurea Lopes
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Um panorama dos centros de inclusão digital
brasileiros foi traçado a partir do Global Impact Study, projeto que tem como proposta avaliar o impacto do acesso às Tecnologias Informação e da Comunicação no desenvolvimento social. Iniciativa da Universidade de Washington, com apoio do International Development Research Centre (IDRC) e da Fundação Gates, no Brasil o estudo foi coordenado pela Fundação Pensamento Digital. Realizado em 2010, abrangeu 242 Centros de Inclusão Digital (CIDs), como telecentros, bibliotecas e lan houses de quatro estados – Maranhão, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Além da versão brasileira, a pesquisa vai reunir dados – ainda não disponíveis – de Bangladesh, Chile, Filipinas e Gana. As conclusões trazem indicadores que podem subsidiar as políticas públicas de inclusão digital, na opinião de Ana Claudia Alves, integrante da equipe da Pensamento Digital. Ela ressalta que a análise dessas informações precisa levar em conta que, em 2010, o acesso à internet em dispositivos móveis não era representativo como hoje e que o público-alvo da pesquisa foi predominantemente jovem (72% tinham entre 12 e 25 anos, 38% com nível de ensino médio e 34% com nível fundamental; e renda mensal entre dois e três salários mínimos). “Alguns pontos chamaram a atenção dos pesquisadores”, diz ela. O primeiro foi a ampla preferência dos usuários brasileiros pelo acesso nas lan houses (81%) – em seguida, vêm os telecentros (15%), as bibliotecas (3%) e outros
(1%). As causas dessa preferência, conta Ana, são o horário de funcionamento mais flexível (influenciou 74% dos entrevistados), a melhor qualidade dos equipamentos e da conexão, a proximidade das residências (41%). Também apareceu na pesquisa, que os usuários consideram as lan houses pontos de encontro: “É interessante notar o valor cultural do espaço físico, que representa uma oportunidade para socialização com outras pessoas”. De acordo com o levantamento, os usuários vão a lan houses para estar com os amigos (29%), para ter equipamento melhor do que em casa ou no trabalho (28%), por falta de opção para acessar a internet (15%), por falta de opção para acessar computadores (8%), para conseguir ajuda de outros usuários (4%), para conseguir ajuda da equipe (4%), por outros motivos (12%).
os usuários consideram as lan houses pontos de encontro e socialização No universo geral, computando-se todos os tipos de CID, a grande maioria dos entrevistados declarou saber manusear as ferramentas mais simples relacionadas ao uso do computador. Mas os dados do Global Impact Study indicam que “a principal motivação para ir a um CID está na possibilidade de obter ajuda da equipe para execução de atividades básicas” – o que aparece em 29% das respostas. Em segundo lugar na lista de motivações para ir a um centro de acesso, porém praticamente com o mesmo grau de
MOTIVAÇÃO PARA BUSCAR O CID 11%
Falta de opção para acessar computadores Falta de opção para acessar a internet
28%
Para trabalhar ou estar junto com amigos ou outras pessoas
4%
Para conseguir ajuda de outros usuários
4%
Para conseguir ajuda da equipe do cid
29% 15%
Equipamento melhor do que em casa ou no trabalho Outra
9%
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conexão social
Habilidades dos usuários
SIM
NÃO
Criar e editar documentos
87%
13%
Copiar ou mover um documento ou pasta
88%
12%
Usar o comando “copiar” e “colar” para copiar informações
87%
13%
Usar comandos aritméticos (soma, subtração, multiplicação, divisão)
60%
40%
Compactar ou “zipar” documentos
52%
48%
Conectar ou instalar novos periféricos (impressoras ou modems)
43%
57%
Criar programas usando linguagens de programação
11%
88%
importância, está a falta de opção para acessar a internet (28%). É importante notar que a busca de auxílio de agentes de inclusão digital é pequena quando se considera apenas as lan houses (4%), mas aumenta bastante (29%) quando entram na tabulação os telecentros. Outra observação de destaque no estudo, segundo Ana, é que o acesso às TICs tem impacA pesquisa mostrou que, nos telecentros, é importante o papel dos monitores na orientação do público
to direto na educação das pessoas, “uma vez que as atividades envolvem práticas cognitivas”. Porém, revela a pesquisa, as ferramentas digitais não são utilizadas prioritariamente para tarefas educacionais. O maior uso diz respeito a entretenimento (48%): “Os CIDs foram lembrados pelos usuários como espaços de entretenimento, em especial na realização de atividades relacionas à comunicação, ao acesso à internet, ao acesso às redes sociais e ao jogo”, descreve o relatório da Pensamento Digital. Os pesquisadores acreditam que apesar de parecer passatempo, “os jogos podem representar muito mais, pois podem desenvolver o raciocínio lógico e matemático, a resolução de problemas, a compreensão e a leitura”.
Foto: Robson Regato
A pesquisa revela ainda os fatores levados em conta na hora de escolher um CID: não ter filas para utilizar os computadores (74%), ter segurança no local (73%), o conteúdo estar na língua portuguesa (72%), ter atendentes informados e prestativos (72%), ser um local silencioso (68%), os amigos frequentarem o local (63%), ter privacidade (59%), oferecer ajuda a pessoas com pouca habilidade em leitura e escrita (48%) e oferecer acesso a pessoas com necessidades especiais (44%).
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20 de agosto / 2013 Transamérica Prestige Beach Internacional Recife - PE Av. Boa Viagem, 420
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PATROCÍNIO
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#VemPraRua software livre! CISL volta a atuar pela ampliação do uso do código aberto no governo Rafael Bravo Bucco
Em 2012 a luz amarela acendeu. No mesmo
mês, Polícia Federal e Caixa Econômica Federal anunciaram que abandonariam, em parte, o software livre. Em seguida, adquiram licenças de programas proprietários. Diante da ameaça de mais órgãos seguirem o mesmo caminho, o Comitê Técnico de Implementação de Software Livre (CISL) reviu sua atuação. Após dois anos com foco em capacitar servidores, convocou representantes de diversos órgãos federais e traçou um planejamento para o biênio 2013–2014. Divulgado no final de junho, o documento prevê a promoção e o incentivo do uso de soluções livres entre os gestores que acabam de chegar ao serviço público. Com a medida, o CISL – que tem como missão estimular o uso do software livre no governo federal – quer ver os padrões abertos voltarem ao centro dos debates sobre tecnologia da informação, transparência e redução de custos na administração. O planejamento é fruto de uma reestruturação. Novos órgãos foram convidados a fazer parte do comitê (ultrapassando 120). Com mais gente, o CISL se reuniu em abril na Escola de Administração Fazendária (Esaf) para debater estratégias. “Devemos retomar diversas ações”, prevê Deivi Lopes Kuhn, secretário executivo. Uma das ideias é fazer um levantamento da adoção de software livre no governo. O último estudo do tipo, de 2010, mostrava que a maior parte dos órgãos ainda não usava computadores com 34
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sistema operacional de código aberto, nem programas de produtividade (como editor de texto e planilha) livres. Já o uso em servidores de internet era mais comum, mais disseminado até mesmo que o de ferramentas de e-mail. “Vamos atualizar essa pesquisa. Tem uma percepção geral de que a política de adoção de software livre perdeu força na ponta, nos órgãos”, diz Kuhn. Se isso aconteceu, o estudo vai mostrar. Então serão definidas prioridades. “A grande questão é o papel que o Estado tem na adoção do software livre. O Estado conseguiu, com sua ação, popularizar ferramentas. Hoje, qualquer rede de varejo vende computadores com Linux”, opina. Os integrantes também chegaram à conclusão de que será necessário aumentar o controle por meio de normas. “Quando for adquirir soluções, o gestor deve olhar se há softwares públicos ou livres que atendam aquela demanda. Precisamos aperfeiçoar esse modelo”, afirma Kuhn. Atualmente, há uma instrução normativa (04/2010), criada pela Secretaria de Logística e TI do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), que prega a preferência por software aberto ou público na hora da compra por órgãos, autarquias e fundações ligadas ao governo federal. Tanto o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI), quanto o do Planejamento, trabalham – timidamente – para incentivar o crescimento do software livre. O Programa Estratégico de
Um encontro aberto O 14º Fórum Internacional do Software Livre acontece este ano entre 3 e 6 de julho, em Porto Alegre (RS). Até o fechamento desta edição, no final de junho, eram mais de 3,3 mil inscritos. Os organizadores esperavam, porém, cerca de 8 mil participantes. Nas 600 horas de programação, palestras de Tobias Anderson, um dos fundadores do The Pirate Bay, Italo Vignoli, da The Open Document Foundation, Richard Stallman, criador do Movimento Free Software, e Jon “Maddog” Hall, da Linux International, entre outros. Entre os destaques desta edição estão debates
Software e Serviços de Tecnologia da Informação (TI Maior), do MCTI, destinará até 2015 R$ 10 milhões à pesquisa e à formação de profissionais para trabalhar com tecnologias abertas. O MPOG também tem políticas de incentivo, tocadas pela SLTI, mas o orçamento depende de cada órgão. “É uma informação difícil de consolidar tendo em vista que a estrutura orçamentária de TI do Executivo Federal é descentralizada, sem detalhamento para o tipo de licenciamento das soluções a serem contratadas”, explica Nazaré Lopes Bretas, secretária-adjunta da SLTI. Apenas a secretaria, porém, deve investir R$ 4,7 milhões este ano em programas de modernização baseados em software livre.
crescimento O mercado do software livre, de acordo com o MCTI, deve crescer 22,4% este ano. Embora no encontro do CISL tenha sido comum a percepção de que é preciso fazer mais para manter o ritmo de adoção, ativistas acreditam que aumentou o uso de ferramentas livres, tanto na esfera pública, quando na privada. Ricardo Fritsch, coordenador da Associação Software Livre e do 14º Fórum Internacional Software Livre, enxerga um aumento do uso de plataformas livres nas empresas. “O Apache está em quase 100% dos servidores. Também cresceu o uso do Libre Office, e do Mozilla Firefox, que junto com o Chrome, domina a internet”, diz. Faltam pesquisas que apontem onde o software livre foi adotado no país, mas Fritsch lem-
sobre o uso do software livre nas plataformas móveis, sustentabilidade (reaproveitamento e reciclagem de equipamentos), e o compartilhamento de conhecimento. Também estavam previstos painéis sobre hardware aberto, especialmente sobre o computador Raspberry Pi, e suas aplicações. Como não pode faltar o debate político, ativistas foram convidados para falar sobre o Marco Civil da Internet, a vigilância digital por parte de governos – em especial, sobre programas como o PRISM, dos Estados Unidos, com o qual colaboram as maiores empresas de internet. (ver página 44)
bra que o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) amplia a cada ano a oferta de serviços baseados no modelo. “O Serpro passou a usar o OpenStack [sistema operacional para computação em nuvem], que é aberto. O IRPF está disponível também em software livre”, diz. O aumento do número de pessoas com smartphones também importa. O Android (aberto), está em 75% dos aparelhos no mundo, enquanto o segundo colocado, o sistema iOS (proprietário), representa 17,3%. Os dados são da consultoria International Data Corporation (IDC). “O Android, pelo fato de ser livre e poder ser customizado pelos fabricantes, apresentou vantagem competitiva”, observa Fritsch. Em compensação, fica mais sofisticado, e pesado, a cada ano, exigindo aparelhos mais potentes e mais caros. Com isso em vista, são bem-vindas as alternativas, como o Firefox OS e o Ubuntu, baseados em HTML5. “Carecemos de sistemas operacionais mais simples e que levem a sério a questão de estar em rede”, analisa. O ativista Marcelo Branco, concorda. E credita o aumento da transparência e surgimento de redes sociais ao software livre: “O movimento foi pioneiro. Hoje, os conceitos de transparência, abertura, inovação aberta estão disseminados”. Para ele, o sucesso do Android derruba o mito de que a interface era empecilho para adoção em massa do software livre. “Na plataforma móvel, o Windows é tão marginal quanto o Linux é no desktop”, diz. ARede Julho/Agosto 2013
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conexão social
A nova sala de aula o livro Reflexões, de Nelson Pretto, traz artigos e entrevistas sobre ativismo digital e educação.
Publicado pela Editora da Universidade Fe-
deral da Bahia (EUFBa), o livro Reflexões – Ativismo, Redes Sociais e Educação, do professor e ativista da cultura digital Nelson de Lucca Pretto, traz um conjunto de reflexões sobre a importância da liberdade na rede, do acesso isonômico de todos à internet, do papel das redes sociais na organização de manifestações populares de massa, da importância da ética hacker na busca do conhecimento e da autonomia, da produção coletiva e compartilhada na rede. Todos temas atuais, tratados em muitos artigos e entrevistas.
Nelson De Luca Pretto
REFLEXÕES
Mas até em função de sua história profissional, como professor e pesquisador – integra o grupo de pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologia da FaculdaNelson De Luca Pretto de de Educação da REFLEXÕES UFBa –, o tema mais ativismo, redes sociais recorrente nessa coe educação letânea é a relação entre as tecnologias de informação e comunicação, enfim da internet e dos equipamentos para acessá-la, e a educação. Disponível também na internet com licença Creative Commons (pode ser copiado, remixado, adaptado e usado na criação de obras derivadas), o livro aborda a importância do uso das tecnologias e da internet para se reinventar a educação e estimular a produção individual e coletiva de alunos e professores. Na minha geografia, o Brasil tem mais um estado que apelidei de CiberBahia. É a unidade mais libertária de nossa federação, encarregada de pensar nosso futuro pósdigitalização-de-tudo. Desde antes da criação da sigla WWW, vários ciberbaianos trabalham no desbravamento dos territórios inventados pela internet. Nomes diferentes se encarregaram de refletir sobre vários aspectos dos novos mundos digitais: política, mídia, artes. Nelson Pretto desenvolveu nosso estudo mais original sobre as relações entre cibertecnologia e educação.
Neste livro, você encontrará uma espécie de diário de campo (de batalha) narrando avanços e impasses da interação entre computador e escola. Nada aqui é distanciado: Nelson Pretto meteu a mão na massa de bytes dentro da sala de aula, participando de projetos como o "tabuleiros digitais" ou procurando influenciar a formulação de políticas governamentais. Muitos textos, apesar de recentes, já têm valor histórico, documentando experiências que podem dar lições para educadores realmente conectados com seu tempo. Sim, temos problemas bem básicos na educação brasileira - mas quem lê Nelson Pretto percebe: nenhum deles poderá ser resolvido sem enfrentarmos, com coragem, o desafio da tecnologia. Portanto, é leitura obrigatória para todos que querem uma escola de qualidade no Brasil. Que a CiberBahia nos ilumine. Hermano Vianna
“Educação não é sala de aula”, costuma repetir Nelson Pretto, que defende que a educação não se dá só na classe, mas em espaços complementares como centros de inclusão sociodigital, Pontos de Cultura, museus de ciência e tecnologia. No artigo “Espaços de Invenção 36
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e Criação Coletiva”, diz o autor: “A ideia é a de se ter em todos os bairros de todas as cidades, integrando o sistema público de educação, ciência e tecnologia, laboratórios hacker (hacker spaces) nos moldes do que já vem existindo em diversos países, inclusive no Brasil”.
além do computador Defensor do computador na escola, na mão do professor e do aluno, faz um alerta. Não basta colocar equipamentos nas escolas. É preciso ter uma conexão de qualidade – o que, segundo ele, não é realidade nas escolas – e preparar adequadamente os professores. “Não acredito que o professor seja resistente às mudanças, desde que lhes sejam dadas as condições para tal. Os mesmos foram levados a estranhar todas as possibilidades mais radicais de transformação da escola em função de suas precárias condições de trabalho, formação e salário. A superação dessa situação demanda ações em torno de políticas públicas que compreendam a educação como sendo muito mais ampla do que apenas o próprio (e complexo) campo educacional”, escreve em “Webcurrículo – Construindo um Ecossistema Pedagógico”. O autor, que participou do núcleo baiano de formação de professores do programa Um Computador por Aluno (UCA), critica a extinção do programa pelo governo federal, na gestão Dilma Rousseff, sem uma avaliação acadêmica da experiência, que considera muito rica. Instigante e atual, Reflexões, que pode ser lido na ordem que o leitor desejar, inspira outras reflexões sobre o potencial do ativismo na rede e sobre a sintonia necessária entre “a humanidade e os processos educativos”, como pontua o autor na nota introdutória.
http://bit.ly/12kz4gg
na escola
Grupo de estudo virtual Portal de aprendizagem colaborativa já tem cerca de dez mil estudantes brasileiros, entre nove milhões em todo o mundo. Áurea Lopes
É como se todo mundo estivesse na mesma
Imagens: Divulgação
sala de aula, estudando para a prova ou fazendo lição de casa. Alguém tem uma dúvida, lança uma pergunta, e logo recebe ajuda. Só que cada pessoa está no seu computador, na sua casa, na sua escola, no seu trabalho. Assim funciona a rede social educativa Brainly, que vai além de reunir conteúdos escolares gratuitamente, por meio de um sistema de aprendizagem colaborativa. O portal da rede se apoia em um time de moderadores voluntários, encarregados de garantir a qualidade do que é postado. Eles ajudam a resolver os problemas e corrigem as respostas compartilhadas. Ou seja, não tem essa de qualquer um responder qualquer coisa. Talvez seja por isso que o Brainly já conquistou mais de nove milhões de usuários, em 20 países, entre os quais o Brasil, onde começou a funcionar em novembro do ano passado.
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A ideia surgiu na Polônia, em 2009, quando três amigos que se conheceram pela internet resolveram criar um site de social learning (aprendizado via redes sociais). Michal Borkowski, na época cursando contabilidade, agora é responsável pelo portal e pela visão da empresa; Tomasz Kraus, formado em informática, está à frente do departamento de TI, e Lukasz Haluch, formado em informática e economia, cuida da área comercial e do marketing. Eles criaram a empresa Brainly.com, onde foi desenvolvido o sistema. Uma das coordenadoras do Brainly no Brasil, a polonesa Anna Skwarek, conta que até o momento a iniciativa se mantém com recursos próprios e anúncios. “Mas estamos trabalhando em outro modelo de negócio que poderá ser implementado no futuro”, diz ela, garantindo que os principais serviços serão mantidos como gratuitos.
Os conteúdos são organizados por disciplinas: matemática, física, geometria, português, biologia, história, psicologia, informática e até educação moral, entre outras. O usuário precisa se cadastrar para usar e ler com atenção o minucioso regulamento de uso do site. No painel inicial, pode-se ver pedidos de ajuda para entender “a relação conflituosa dos muçulmanos com os Estados Unidos” ou para “fazer a nomenclatura das funções orgânicas oxigenadas”, por exemplo. O usuário vê as respostas postadas e quantas pessoas daquela área online podem ajudá-lo, no momento.
Versão Tropical No Brasil, a plataforma já tem quase 10 mil cadastrados, com média de 440 mil acessos mensais. Estima-se em torno de 60% de usuários de nível fundamental, 40% de nível médio e 10% de universitários. “Entre os de nível médio, a gente percebe vários alunos de cursos profissionalizantes; e os de nível superior vêm crescendo”, conta Célio Henrique Barbosa, um dos dez brasileiros que integram a equipe de moderação do Brasil, da qual participam também três poloneses. A matéria mais popular no Brasil é matemática. “Essa tendência é comum para quase todas as versões, menos a turca”, relata Anna. A segunda matéria mais popular no Brasil é física, e a terceira, história. Português fica em quarto lugar. Os moderadores, que não recebem qualquer
Pontos para a melhor resposta O Brainly adota um sistema de pontuação que tem como objetivo incentivar a participação e a qualidade da explicação. “Para ganhar pontos os alunos devem ajudar outras pessoas, não necessariamente na mesma matéria. Se querem ser ajudados novamente, precisam também ajudar os outros, e não apenas adicionar pergunta após pergunta”, explica Anna Skwarek, coordenadora do projeto no Brasil.
remuneração, podem ser universitários, pais, professores, aposentados, especialistas. Como diz Anna, basta ser uma “pessoa com dedicação, paixão e amor pela educação”. O processo de seleção de moderadores, ela assegura, envolve vários passos. A coordenadora afirma que, “como a versão brasileira ainda é relativamente pequena, comparada, por exemplo, à versão polonesa, que tem mais de 4 milhões de visitas por mês, a estrutura de moderação ainda está se criando”. O modelo é sempre igual: cada moderador é guiado, observado e avaliado por um moderador com mais experiência e conhecimento e também pelo administrador do serviço. Barbosa encontrou o Brainly por acaso, navegando na internet. Formado em matemática, é funcionário da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. Nunca deu aula, mas dedica cerca de três horas por dia a responder as perguntas do portal, corrigir respostas erradas, verificar se nas respostas foram utilizadas informações inadequadas, entre outras tarefas da moderação. Ele conta que os moderadores participam de um forum onde discutem metodologia, aprimoramento das ferramentas e questões relativas aos usuários.
www.brainly.com.br
Ao se cadastrar, o usuário recebe pontos que precisa gastar quando faz uma pergunta. Todos podem fazer perguntas e dar respostas. A melhor resposta é escolhida pela pessoa que fez a pergunta, mas os outros usuários também podem avaliá-la por votação. Os que derem a solução mais clara e completa recebem pontos adicionais e entram para um ranking. Normalmente, esclarece Anna, “a melhor resposta é a mais explicativa e mais clara – simplesmente aquela que mais ajudou”.
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na escola
Educação? É só conectar! Escola virtual promove a inclusão sociodigital a partir de cursos gratuitos em diversas áreas Rafael Bravo Bucco
Que tal uma escola acessível de qualquer
qualquer computador, tablet, e até de um smartphone com internet, onde se possa fazer cursos sobre temas tão diversos quanto Direitos do Consumidor Bancário e Programação Orientada a Objetos? Assim é a Escola de Inclusão Sociodigital, mantida pela Universidade Corporativa do Serviço Federal de Processamento de Dados (UniSerpro). O espaço virtual, baseado na plataforma de aprendizagem livre Moodle, oferece 32 modalidades de formação. Criada em 2011, a Escola, na verdade, tem origens mais remotas. Em 2006, o Serpro resolveu formalizar seu programa de inclusão digital, estabelecendo um pacote de metas. Uma dessas metas previa a criação de telecentros; outra, oferecer capacitação com recursos de educação a distância. “Com a evolução do programa e a diversificação das necessidades das comunidades atendidas, surgiu a proposta de uma Escola Virtual específica para a inclusão digital, com identidade visual própria e abertura para participação de parceiros”, explica Eunides Maria Leite Chaves, coordenadora da Escola. Os conteúdos da maioria dos cursos hoje disponíveis foram desenvolvidos originalmente para a UniSerpro. Mas o enfoque mudou. Agora, o objetivo não é alcançar quem trabalha na empresa, e sim capacitar jovens em situação de vulnerabilidade social, familiares e moradores de comunidades onde exista acesso a internet. Conforme resume Eunides, a ideia é “auxiliar no desenvolvimento de habilidades que propi40
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ciem o acesso ao conhecimento, capacitando as pessoas para geração de renda”. A Escola funciona totalmente na nuvem: via internet, sem aulas presenciais de nenhum tipo. O sistema usa apenas softwares livres – dos servidores à interface para o usuário. O aluno pode se organizar como quiser para fazer o curso, ao mesmo tempo em que a ferramenta remete ao Serpro dados sobre a avaliação e o progresso. Podem se logar até 500 pessoas ao mesmo tempo, o que representa um atendimento de cerca de 20 mil alunos ao mês. Até agora, foram 94 turmas, 6.998 alunos cadastrados e 3.709 certificados emitidos. Francisco Guedes, de Russas (CE), tem 25 anos e fez diversos cursos sobre programação. Atualmente estudante de Direito, fez o curso no telecentro da cidade, incentivado por um amigo. “Sempre me interessei por informática, e quando fiquei sabendo que poderia fazer um curso gratuito, me inscrevi”, conta. A escolha, claro, recaiu sobre aulas de tecnologia. “Entrei em contato com conteúdos que ainda não conhecia. Aprendi a usar HTML, PHP, Java”, diz. Em oito meses de estudos, ele achou simples usar o Moodle, apesar de nunca ter visto a plataforma antes. Achou, porém, que a didática pode ser facilitada. “Havia muitos termos técnicos, o que dificulta para quem nunca teve contato com os temas”, observa. A Escola é aberta, mas organizações podem criar cursos fechados, formando grupos e até pro-
O que chamou a atenção da Unesco, parceira de longa data do Serpro em iniciativas de educação a partir do uso de tecnologias da comunicação e informação, foi que a educação a distância (EAD) impacta o maior número possível de pessoas. “Em um país com as dimensões do Brasil, as estratégias de EAD precisam estar associadas para garantir uma formação continuada para profissionais de educação e saúde, caso contrário, não há recursos que deem conta”, ressalta Mariana.
movendo aulas presenciais com tutores – neste caso, cabe à organização a contratação dos educadores. “Este modelo permite agregar todas as iniciativas da comunidade na área de capacitação para inclusão produtiva”, diz Eunides, que aponta o Serpro como um dos maiores provedores de serviço em Moodle na América Latina. Essa experiência, de acordo com ela, foi um facilitador determinante para a criação da Escola. Novos cursos devem surgir, a partir de parcerias. A Petrobras prepara um conjunto de aulas na área de economia solidária. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, a Unesco, beneficiou 5 mil pessoas, entre professores e agentes de saúde, naquele que é o caso mais emblemático da Escola.
O sistema usa softwares livres dos servidores à interface para o usuário “Entramos com o desenvolvimento do conteúdo do curso, e o Serpro com a tecnologia”, conta Mariana Braga, oficial de projeto do setor de Educação da Unesco e coordenadora do Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas, realizado em parceria com Ministério da Educação e Ministério da Saúde. Parte do projeto, as aulas do curso Juventudes, Sexualidades e Prevenção das DST/Aids começaram em setembro de 2012 e terminaram no final de janeiro deste ano. “Simultaneamente, fizemos uma turma para Cabo Verde, onde há semelhança cultural com o Brasil”, revela.
O curso da Unesco teve ainda apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância, o Unicef, e do Fundo de População das nações Unidas, o UNFPA. Foram 60 horas de aula. “O curso fala de relações de gênero, raça, negociação do uso do preservativo, discriminação e estigma de pessoas com HIV, orientação sexual, entre outras”, conta Mariana. “Os conteúdos foram elaborados por consultores de diversas universidades, e o material resultante foi revisado por nós, dentro dos paradigmas da Unesco de garantir o ensino dos Direitos Humanos dentro da escola”, observa. Os alunos eram professores e, na maioria, agentes de saúde que trabalham em postos criados dentro de escolas públicas de todo país. “As aulas eram autoexplicativas, com vídeos, jogos e textos. O sistema tem avaliações de desempenho ao final de cada um dos oito módulos, e o aluno precisava concluir ao menos 70% do curso para receber o certificado”, diz Mariana. O ambiente virtual tem também um fórum, onde os próprios alunos compartilhavam conhecimentos. Mas houve dificuldades, principalmente com relação à tecnologia. “O acesso a um computador com internet ainda é muito difícil, muitos tinham internet discada”, lembra Mariana. Também havia alunos com dificuldades de compreensão da plataforma online. Mesmo assim, a representante da Unesco considera o projeto um sucesso: “A proposta é atingir cada vez mais profissionais de educação que tenham sensibilidade pelos direitos humanos. E isso conseguimos. Inclusive o Ministério da Educação já incluiu o curso na lista de ofertas”. https://inclusao.serpro.gov.br ARede Julho/Agosto 2013
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na escola
Professores em tempo real Marina Pita
A internet só chegou à escola pública de Su-
ruacá (PA) no ano de 2011. A região, isolada pela ausência de infraestrutura de telecomunicações, ganhou uma antena 3G da Vivo em 2009. Inicialmente, a conexão atendeu à demanda comercial local e foi oferecida gratuitamente a um telecentro público. Ao chegar à escola, dois anos depois, permitiu a implantação de uma série de projetos educacionais, entre os quais o Connected to Learn – iniciativa global da Ericsson, que interliga escolas ao redor do mundo para compartilharem informações. A diretora de sustentabilidade da Ericsson, Carla Belitardo, conta que, em Suruacá foi implantado um projeto com um toque especial: a colaboração dos funcionários da empresa. Utilizando como referência o programa Jovem Parceiro, que capacita funcionários para dar uma formação complementar a jovens de baixo poder aquisitivo, Carla recrutou dez empregados para desenvolverem cursos sobre internet. Eles se tornaram os Voluntários Virtuais. “Minha preocupação era levar um projeto de valor para a comunidade e não algo que daqui nos parecia bom. Para isso, foi importante debater com as pessoas da comunidade”, explica Carla. Em 2012, começaram as aulas para alunos da 8ª série. Os voluntários permanecem conectados, durante o dia, para tirar dúvidas dos aprendizes. Os temas abordados variam: conhecimentos sobre computador, sistema operacional, formas de pesquisar na internet, como utilizar redes sociais e blogs. Ainda há 42
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Foto: Marina Pita
usuários de tecnologia formam alunos de escola pública no Pará
Estudantes testam conexão gratuita do telecentro público de Suruacá.
explicações sobre serviços de distribuição de vídeos, de armazenamento de arquivos na nuvem etc. Os resumos das aulas ficam disponíveis no Google Drive. “É um apoio na inserção dessas pessoas no universo da nuvem e das mídias sociais”, resume Carla. Para Jefferson Colares Lima, secretário da escola e um dos responsáveis pela iniciativa, o projeto ajuda a envolver os alunos no processo de aprendizagem: “Com as contas no Facebook, os alunos e os professores reencontram com parentes que moram em outras localidades e publicam vídeos e notícias do que acontece em Suruacá, por exemplo”. O voluntário Leandro Sousa, de 27 anos, acredita que a possibilidade de ensinar aos alunos de Suruacá a utilizar os recursos de editores de texto, editores de slides, entre outros, é uma conquista pessoal. “Ver a curiosidade da criança do outro lado é incrível. Além disso, ajudar uma pessoa a se desenvolver é pessoalmente gratificante”, avalia. Os desafios, como a intermitência da rede (especialmente porque a antena depende de energia solar) e as dificuldades geradas pelo universo virtual na criação de intimidade entre professores e alunos são encarados de frente pelos dois lados. “Trabalhamos com os voluntários a importância de perseverar o vínculo com os alunos”, explica Carla.
livre saber > TICs para educar
Tecnologia, ensino e corujas não existe educação sem criação, não existe criação sem autonomia, nem autonomia sem liberdade. Jenny Horta
Quem aqui escreve agora não é a professora, a
pedagoga ou a educadora. Escrevo como mãe de dois filhos de gerações distintas: um de 26 anos e outro de 11. Escrevo como mãe pois foi como mãe que comecei a observar as diferenças de desenvolvimento na fase inicial de letramento desses dois rapazes. O mais velho teve seu primeiro contato com um computador aos 8 anos, e o mais novo, desde que veio ao mundo... Eu o amamentava em frente ao PC, cheia de trabalho para complementar a renda que andava apertada (coisas de professora mesmo). Quando me dei conta, um pouco antes de ele completar 3 anos, já digitava no teclado palavras como “bola”, “gato”, “google”, “kids” e mais meia dúzia de outras associadas aos “sites educativos” que costumava navegar. A esta altura, você já deve estar me achando uma tremenda mãe coruja, ou que meu filho deve ser portador de altas habilidades. Mas o mais importante foi o que ele me levou a pesquisar, buscar, indagar e experimentar, algum tempo depois, o projeto que desenvolvi em uma pequena escola e cuja história pode ser conferida no blog http://escolaedificar.blogspot.com. Embarquei em uma aventura via web, procurando softwares infantis que me apresentassem ideias criativas no mundo das letras, sons, cores, números e palavras que faziam os pequenos olhinhos brilharem a cada descoberta! Meu primeiro grande achado foi o GCompris (http://gcompris.net/-pt-br-) – uma verdadeira e incomparável suíte de aplicativos infantis para crianças de 2 a 12 anos – e, logo depois, o TuxPaint (http://tuxpaint.org), muito mais que um simples editor de desenhos, pois é total-
mente personalizável, ou seja, o professor pode incluir, exportar, importar, tudo de acordo com sua necessidade e com a atividade pretendida. O grande diferencial desses softwares reside no fato de que são constantemente atualizados e desenvolvidos por uma comunidade, no mais exato e verdadeiro sentido da palavra. E, falando em comunidade, a partir daí surgiu uma verdadeira enxurrada de descobertas: o Software Livre Brasil (http://softwarelivre.org), o Projeto GNU (www.gnu.org/philosophy/philosophy.pt-br.html) e o GNU/Linux em suas várias versões, em especial aquelas desenvolvidas especificamente para a educação. Entre os sistemas voltados para crianças, destaco o Pandorga GNU/Linux (http://pandorgalinux. com.br), por ser uma versão brasileira, com visual adequado para crianças, e o Linux Educacional (http://linuxeducacional.com), já consagrado em muitas escolas. Além disso, vale lembrar que tais versões não contêm apenas softwares educacionais para os pequenos. Há uma imensa gama de aplicativos para as mais diversas idades e nas mais variadas áreas do conhecimento. O projeto CLASSE (http://classe.geness.ufsc.br/index.php/ CLASSE) fez uma extensiva classificação desses softwares educacionais. Caso esta mãe tenha despertado a sua curiosidade, basta pesquisar na internet e, provavelmente, encontrará outras distribuições GNU/Linux com o mesmo fim. Isso porque o espírito do software livre é justamente esse: a liberdade de criar e transformar, adequando-se à diversidade humana. Isso é liberdade e não existe educação sem criação, não existe criação sem autonomia, nem autonomia sem liberdade.
SLEducacional Esta seção tem a curadoria do grupo Software Livre Educacional, formado por educadores e interessados em organizar e traduzir documentação e softwares livres para educação. sleducacional.org ARede Julho/Agosto 2013
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hipernovas
> As notícias da rede
O número de apoiadores do Marco Civil da Internet só faz crescer. Tim Berners-Lee, inventor da internet, já disse que o projeto é muito bom. Agora foi a vez de Tim Wu, considerado o “pai da neutralidade de rede”, o primeiro a usar o termo neutralidade em um artigo acadêmico. Professor da Universidade de Columbia e especialista em políticas de telecomunicações, elogiou a proposta de lei em entrevista ao jornal carioca O Globo. Ele ressaltou a importância de aprovar logo o Marco Civil, lembrando que “a neutralidade é fundamental para fazer do Brasil um centro de inovação em internet”.
Pai da neutralidade manifesta apoio ao Marco Civil...
Equador tem nova lei de comunicações A Assembleia Legislativa do Equador aprovou o projeto de lei de Comunicação que redistribui concessões de radiofrequência entre meios de comunicação privados, comunitários e públicos em 33%, 34% e 33%, respectivamente. A lei também concede o direito de resposta e réplica e proíbe a censura prévia por parte do governo, funcionário público, acionista, sócio, anunciante ou qualquer pessoa que revise conteúdos.
Ativistas da democratização das comunicações definiram, no final de junho, estratégias de ação para incluir entre as bandeiras das manifestações populares a votação do Marco Civil e do projeto de lei de iniciativa popular para um novo marco regulatório das comunicações. Na mesma cesta, estão, também, a universalização da banda larga, garantias de acessibilidade plena às pessoas com deficiência auditiva e o controle externo do Ecad. Os movimentos sociais decidiram criar um centro e uma rede públicos de produção de conteúdo, uma rede para debate virtual com reuniões presenciais chamada Diálogos, e fazer um novo ato público com as bandeiras da democratização da comunicação.
Entre as organizações, coletivos e tribos integrantes das manifestações de rua, os hackers marcaram presença ativa. Houve vários encontros de programadores para criar ferramentas digitais para auxiliar as manifestações. Um aplicativo criado por Leo Zeba, o Protesta! (http://protesta.herokuapp. com), permite compartilhar informações, em tempo real. No Rio de Janeiro, rolou o HackdayRio, de onde saíram propostas de sites e de apps (http://pontaopad.me/transporterio) de mobilização. O pessoal do Tarrafa Hackerspace criou até a Revolta da Antena, baseada em levar roteadores conectados entre si por rede Mesh, alimentados por baterias, usando WiFi para ampliar a cobertura do sinal para os manifestantes.
Hackers ativos nas ruas
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Foto: Tarrafa Hackerspace
Foto: Mídia Ninja
...que entrou na pauta das manifestações
clique aqui Quase metade da população brasileira (45%) nunca acessou a web, revelou a pesquisa TIC Domicílios, do Cetic.br. O estudo, feito entre 1º de setembro de 2012 e 13 de fevereiro de 2013, com mais de 17 mil entrevistados, mostrou ainda que, pela primeira vez, há mais brasileiros que usam a internet (55%) do que os que nunca acessaram a rede. A má notícia – que não sai das pesquisas – é a permanente grande diferença entre os acessos nas áreas urbana (44%) e rural (10%).
74,9 milhões nunca usaram a internet
internautas O mundo ficou sabendo, em junho, que a Agência vigiados de Segurança Nacional pelos EUA...
dos Estados Unidos (NSA) mantém projetos de espionagem de cidadãos comuns. Primeiro, jornais divulgaram que o órgão tinha acesso direto aos dados de milhões de clientes de uma das maiores companhias de telefonia móvel do país. O governo se defendeu. Um Barack Obama inseguro declarou que nenhuma conversa era ouvida, apenas locais, horários e extensão das chamadas. A descoberta gerou reações de políticos e da sociedade civil organizada em vários países.
Um dia depois da espionagem telefônica ser denunciada, o ex-agente da CIA Edward Snowden vazou à imprensa que companhias de internet colaboravam com o governo do país na vigilância. Google, Facebook, Microsoft, Yahoo!, Twitter, entre outros, foram acusados de oferecer acesso irrestrito a conteúdo privado em seus servidores, por meio de um projeto denominado PRISM. As empresas desmentiram, afirmando que passaram dados pontuais, embora aos milhares, apenas a partir de pedidos da NSA. Snowden, perseguido pela Justiça estadunidense, buscou asilo no Equador.
...a partir dos provedores de serviços online
> Links interessantes
Para aprender fazendo glub! bit.ly/ZLGwC5 Que tal um jogo educativo, gratuito, que ensina sobre o bioma no fundo do mar conforme o jogador progride? O Ludo Vida Marinha traz perguntas sobre diversas disciplinas. A cada resposta correta, o jogador recebe pontos, com os quais vai montando um aquário. Destinado a estudantes do ensino fundamental e médio, foi criado na Unesp de Araraquara.
Treine o biquinho http://francoclic.mec.gov.br Uma parceria entre a embaixada da França no Brasil e o Ministério da Educação rendeu um portal de aprendizagem da língua oficial dos diplomatas. O FrancoClic traz cinco módulos para descoberta da cultura francófona. Bons études!
Maternidade em debate www.vilamamifera.com Um portal para mamães que não se contenta em trazer dicas ou chavões sobre como criar os filhos. Assim é o Vila Mamífera, que tem textos variados sobre o que é ser mãe no século 21, levantando questões como a necessidade de humanização da obstetrícia, da amamentação prolongada, e muito mais. Criado e mantido pela ONG Casa Mamífera.
O local da cultura www.mapadacultura.org O Mapa da Cultura é um site que procura associar um local a um acontecimento cultural. Além de dar o endereço de galerias, museus e bibliotecas, traz também pontos de cultura e praças onde vão acontecer eventos. Criado em 2008, acaba passar por uma grande atualização. É publicado com licença livre GPLv3.
Desejos para 2015 www.myworld2015.org Iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), o My World é um site de pesquisa que vem coletando os desejos das pessoas do mundo inteiro para os próximos anos. A ideia é ter dados sobre o que os cidadãos de diferentes países consideram prioridade. Até o fechamento desta edição, 15,3 mil brasileiros haviam respondido que uma Educação melhor era o principal sonho a ser alcançado.
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A tecnologia ao seu alcance
Um mal necessário? O argumento de que é preciso estar onde todos estão é perigoso porque implica apoiar aqueles que são alvo da militância. Anahuac de Paula Gil
Depois do primeiro impacto do PRISM jo-
gado na cara de todos, é hora de avaliar a gravidade do monitoramento ostensivo feito pela Agência Nacional de Segurança (na sigla em inglês, NSA) dos Estados Unidos, com a conivência de Microsoft, Apple, Facebook, Google e outras menos importantes (ver página 44). É claro que a culpa é da NSA, mas a conivência também é crime, fazendo essas empresas tão culpadas ou mais do que o próprio governo estadunidense. Veja bem: a NSA não prometeu sigilo ou garantia da sua privacidade. Já essas empresas juram, assinam e garantem total sigilo e proteção dos seus dados, exceto para traçar perfis de consumo. 46
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A maioria dos usuários desses serviços devassos pouco se importa com a privacidade de seus dados. A premissa é: “não tenho nada a esconder, qual é o problema que me monitorem?”. Se houvesse uma forma simples de explicar o quanto isso está errado, eu o faria. Esse é o discurso que os agentes de monitoramento usam historicamente para invadir a privacidade alheia. Na época das ditaduras militares na América Latina, esse era o slogan utilizado pelas forças torturadoras para invadir a casa de quem desejassem, na hora que bem entendessem. Se era um “cidadão de bem” não havia o que temer. O problema está na definição de “cidadão de bem” e de quem a cunha. Nos
tempos modernos, a falácia ganhou requinte e status: quem não se deixa monitorar é paranoico, está à margem. Esse fenômeno também é percebido quando se trata de licenças de software. Ninguém paga, ninguém viu, não se toca no assunto, e, se você o fizer, imediatamente é desqualificado como paranoico ou desajustado. Não se trata do que você pode mostrar ou não, mas do que outros jamais deveriam ver e saber. Especialmente governos e empresas. Infelizmente, desse status não escapam nem os bastiões brasileiros da privacidade computacional. Todas as representações da sociedade civil organizada que lidam diretamente com TI utilizam as tais ferramentas e redes sociais devassas para fazer suas mensagens atingirem o grande público. O argumento de que é preciso estar onde todos estão é perigoso porque implica dar suporte direto, mesmo sem perceber, àqueles que são alvo de sua militância. O monitoramento e a invasão de privacidade é exatamente o negócio do Facebook, por exemplo. Combater essas ações é combater o próprio Facebook. Então, usar essa rede devassa para militar pela causa da privacidade e respeito aos direitos digitais é absolutamente inócuo. Ao fazer o trabalho de mobilização, mantém-se as pessoas que se quer ajudar presas em uma rede social que faz exatamente o oposto. É como convocar um congresso sobre higiene no meio de um lixão a céu aberto. Com os cidadãos comuns convertidos pelas facilidades e joguinhos de fazendinha das redes sociais devassas, e com os ativistas cibernéticos paralisados pelo receio de perder seu canal de comunicação, estamos ameaçados de não reagir de forma contundente ao escândalo do PRISM. Estamos na eminência de dar carta branca ao governo e às empresas estadunidenses para que nos monitorem cada vez mais e de forma cada vez mais acintosa. Até o momento, organizações sociais e empresariais que se dizem ultrajadas pela iniciativa da NSA têm se limitado a fazer manifestos e dar entrevistas para a mídia. Algumas, mais afoitas, consideram fazer abaixo-assinados para pressionar os congressistas dos EUA a tomar medidas legais, mas isso só se aplica para os cidadãos estadunidenses, se vierem a ter algum tipo de efetividade. Honestamente, eu duvido. Aqui no Brasil, sequer isso.
E ações concretas? Nenhuma. Nem uma organização civil, nem mesmo no seio do Movimento do Software Livre, expressou de forma pública e concreta reação prática de oposição ao NSA, nem às empresas envolvidas. Nenhum tuitaço. Há vozes sopradas ao vento, como a minha, tentando trazer algum combustível para inflamar o debate e buscar alternativas, mas parece claro que não há interesse das partes em mudar a situação. Por um lado, os usuários continuam felizes em suas bolhas de monitoramento. Do outro estão as empresas, que obviamente não dão a devida seriedade ao caso. E no terceiro lado estão os ativistas convertidos, que insistem que usar as redes e sistemas proprietários devassos é um mal necessário. Este é um momento histórico. O ano em que a rede inteira, em que cada cidadão conectado, decidiu se deixar monitorar de forma ampla e irrestrita. Assim, qual o sentido da militância pela privacidade e democratização da internet? De que adianta lutar pelo marco regulatório ou Marco Civil da Internet se cidadãos, ativistas e empresas concordam em conviver de forma harmônica, onde os conectados são o produto, os ativistas fazem de conta que não veem e as empresas faturam? Qual o sentido de tentar garantir qualquer direito digital? Se o Marco Civil servir para levar mais cidadãos para as redes devassas e suas aplicações proprietárias, será que vale a pena? Se a neutralidade da rede servir para que mais empresas que não respeitam privacidade nos façam cada vez mais dependentes, será que vale o esforço de implementá-la? Se os representantes da sociedade civil organizada são coniventes com as redes devassas e seus métodos, acreditando que mais vale usá-las do que enfrentá-las, será que vale a pena tê-los? Se toda a resistência forem posts em blogs e abaixo-assinados digitais, será que podemos, sequer, chamar de resistência? Até agora, apenas manifestos e nada mais!
PRISM Programa de vigilância eletrônica altamente secreto mantido pela agência de segurança nacional dos Estados Unidos (NSA) desde 2007.
Anahuac de Paula Gil é nerd, hacker, professor e autor de livros de tecnologia. Integrante fundador do G/LUG-PB Grupo de Usuários de GNU/Linux da Paraíba, desenvolvedor do Projeto KyaPanel e ativista ferrenho das liberdades tecnológicas e direitos humanos. ARede Julho/Agosto 2013
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A tecnologia ao seu alcance UNFPA no celular O Fundo de População das Nações Unidas lançou um aplicativo para Android e iOS. A Biblioteca Digital UNFPA – População, Desenvolvimento e Direitos tem 18 títulos em português. Os textos são interativos, com links para outros documentos, imagens, vídeos e áudios. É a segunda experiência do UNFPA Brasil em aplicativo para celular. Ano passado, o fundo criou outro, com foco na promoção do direito das mulheres grávidas. http://bit.ly/ZXuIaL
Colab: campeã do mundo
A mente manda
A versão para celulares da rede social brasileira Colab venceu o prêmio de melhor app urbano do mundo na AppMyCity, competição realizada pela New Cities Foundation, em junho. Único representante brasileiro entre os finalistas, disputou com apps de Estados Unidos e Israel. A escolha foi feita por um júri de especialistas em gestão pública e privada, cidadãos comuns e organizações sem fins lucrativos. A Colab permite que os habitantes identifiquem problemas em suas cidades, proponham soluções e avaliem os serviços públicos. Compatível com aparelhos Android e iOS. www.colab.re
Projeto realizado na Itália criou um exoesqueleto que funciona com o poder da mente. O usuário veste pernas mecânicas e, apenas desejando, consegue ficar em pé. Para andar, basta pensar. Usar o Mindwalker, como foi batizado, exige treinamento, mas cinco pessoas conseguiram caminhar com o equipamento em laboratório. O próximo passo é reduzir o trambolho (que tem partes mecânicas, um notebook, ventoinhas e muitos fios) a algo “vestível”. O que deve acontecer, dizem os criadores, em cinco anos. www.mindwalker-project.eu
Fotona sideral
www.revista.espiritolivre.org
DICA espírito Livre
A Nasa, agência estadunidense de pesquisa espacial, e a Universidade do Estado da Pensilvânia, também nos Estados Unidos, fizeram retratos gigantescos das Nuvens de Magalhães (Grande e Pequena), as principais galáxias mais próximas da Via Láctea, onde fica a Terra. Para fotografar a Grande Nuvem foi preciso costurar 2,2 mil fotos menores, totalizando uma de 160 megapixels. A Pequena Nuvem precisou de 656 fotos, somando 57 megapixels. As imagens, registradas em infravermelho, são as mais detalhadas já obtidas desse pedaço do espaço. Seu estudo pode revelar detalhes sobre a formação do universo e até apontar estrelas semelhantes ao Sol. 1.usa.gov/12sSN04
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Código-fonte do kernel do Google Glass liberado O Google acaba de liberar o código fonte do kernel Linux utilizado como parte de seus dispositivos Google Glass, sob a licença GPLv2. O código fonte está disponível pelo branch glass-omap-xrr02 na árvore de diretório do kernel do Android Open Source Project (AOSP). Atualmente o Google Glass está em plenos testes de campo em um programa beta fechado, e seus dispositivos ainda não estão disponíveis para compra. bit.ly/183qfw4
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Um grupo de médicos do Canadá transformou um iPhone 4S em um microscópio capaz de detectar contaminação por parasitas, usando apenas uma lente esférica, fita dupla face, e lâminas para microscópio. Eles colaram a fita sobre a câmera do celular, fizeram um furo no qual prenderam a lente e, usando apoios para não permitir que a lâmina encostasse na lente, fotografaram as amostras. O resultado foi uma imagem em que era possível identificar verminoses. A detecção de parasitas, em todo o mundo, é feita por microscópio. Porém, muitos locais não têm esses equipamentos e, portanto, os médicos não conseguem emitir um diagnóstico correto. A intenção é aperfeiçoar o sistema, a ponto de obter mais de 80% de precisão, para depois, desenvolver um acessório fabricável. bit.ly/11skz9A
Ilustrações: Ohi
Microscópio ao alcance de todos
uma banda de roqueiros reciclados O grupo Compressorhead quer deixar sua marca no rock. Formado exclusivamente por robôs, tem como integrantes o baterista Stickboy, de quatro braços; o guitarrista Fingers, de 78 dedos; e o baixista Bones, de oito dedos e um gingado sinistro. Juntos, tocam covers de Ramones a Motorhead. Os robôs foram criados com peças recicladas por uma dupla de alemães, em 2012. Em janeiro, a banda fez uma turnê pela Austrália, mas desde que voltou à Europa toca apenas na garagem. As excêntricas exigências de camarim talvez expliquem a baixa demanda: três litros de óleo, três de fluido hidráulico e muitos pacotes de castanha. www.compressorheadband.com
informe publicitário
ARede Julho/Agosto 2013
opinião
> Ideias compartilhadas
Ativismo pós-digital Tarcisio Torres Silva
Meme Conceito que se propaga via internet
A um observador atento das redes de comunicação, é impossível não notar as ações ativistas na disputa por espaço e atenção entre notícias e memes vistos pelos usuários de redes sociais. Nesse espaço, que funde o privado e o público, parece haver uma nova forma de fazer política, onde se apoiam estratégias construídas a partir de um ambiente midiático híbrido, que permite aflorar novas demandas sociais.
mais eficácia se criarem estratégias que mirem também a mídia vertical (jornais, revistas, sites e redes de TV). Um dos mais significativos é o grupo Femen, cujas ações chamam a atenção por sua capacidade de virar notícia, atraindo os olhares para os vários elementos muitas vezes díspares que conseguem unir. Clichês atrativos para o noticiário, tais como a nudez feminina, a violência (ainda que muitas vezes simulada) e a quebra de protocolos, atrelados a causas globais, fazem do grupo um fenômeno ativista contemporâneo. Consegue dialogar com a grande mídia, sem deixar de lado suas estratégias digitais por meio da divulgação intensa das ações no site oficial e nas redes sociais. Por mais que recebam críticas, principalmente dos grupos feministas mais tradicionais, as mulheres do Femen têm mostrado que é possível criar estratégias multiplataforma, envolvendo performance pública e a divulgação em mídias horizontais e verticais.
O espaço desejado pelas causas sociais hoje é um problema que abrange o uso estratégico das mídias. Ao mesmo tempo em que se deposita todo um otimismo proveniente da dimensão participativa das mídias colaborativas e independentes, o esforço para também ganhar a atenção das mídias corporativas é evidente. Para autores como Antonio Negri e Michael Hardt, o poder das mídias digitais reside em dar voz e organizar a “multidão”. Por meio das mídias horizontais (sem hierarquia, de todos para todos) a democracia contemporânea pode encontrar sua melhor expressão. Formas criativas de organização e demandas políticas latentes podem ganhar força. Por isso, muitos projetos têm sido construídos a partir de plataformas digitais. Dentre os mais recentes, há o Clean Clothes Campaign, cujo propósito é monitorar empresas de confecção de roupas e denunciar abusos e maus tratos aos operários.
Porém, outros projetos entendem que terão 50
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Foto: Arquivo Pessoal
Os integrantes dessa rede conseguem criar ações que têm como alvo as lojas das marcas acusadas. Fenômeno viral de ativismo digital, o vídeo Kony 2012 talvez seja o melhor exemplo da projeção a que se pode chegar, tendo como estratégia uma narrativa audiovisual sedutora, que aproxime uma causa significativa – mas muitas vezes distante do espectador comum – das preocupações cotidianas dos indivíduos, como sustento, família e afeto.
Falar em ativismo digital hoje é falar de uma prática que se dá em um ambiente cada vez mais convergente e interconectado. Alguns dos projetos de maior sucesso, dos quais exemplificamos apenas alguns, mostram a otimização da relação entre mídia e ativismo, de forma a não se limitar ao digital, indo além ao criar diálogos, tensões e narrativas transmidiáticas em todos os espaços onde houver a possibilidade de manifestação pública.
Tarcisio Torres Silva é professor da PUC-Campinas. Bacharel em Comunicação Social e Ciências Sociais, é mestre em Artes e doutor em Artes Visuais. Estagiou pelo doutorado no Goldsmiths College, Universidade de Londres.
A combinação e a gestão dos recursos como processos de trabalho, informações, aplicações, dados, recursos humanos e infraestrutura tecnológica são fundamentais para a excelência na gestão pública. Os serviços de consultoria do CPqD visam ao alinhamento adequado entre as camadas de gestão e de Tecnologia da Informação e Comunicação, permitindo mais eficiência na realização dos serviços e o aumento de benefícios à sociedade.
Alinhamento com a Instrução Normativa IN04 Governança de TIC Reorganização de processos de trabalho e de TIC Automação e medição do desempenho de processos de trabalho Alinhamento estratégico de TIC (PDTI e PETIC) Gestão de Projetos (PMO) Avaliação do modelo de gerenciamento de serviços de TIC Utilização das melhores práticas de mercado como ITIL, CobiT e TOGAF
TRANSFORMANDO
a eficiência organizacional
EM REALIDADE
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