revista Privada

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privada

Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.

revista

junho de 2018. ano 1.v.1

“Onde nascem os fortes”

Um dia na terra onde bode é rei.

Cancha ainda é moderno?

Personalidade de Campina Grande Mais: Literatura Sabores típicos Dança solidária


colaboradores

crítico,

Cearense, meio

meio

Camila

Stefanie,

Lisandra Barroso,

errado.

formada em publicidade

jornalista em formação.

Aposta no jornalismo de

e propaganda pela CES-

Aquela que se deixa ins-

subjetividade, mais hu-

REI e atualmente estu-

pirar por tudo que está

manizado. Leitor de vá-

dante de jornalismo da

a sua volta. Encantada

rios fragmentos soltos,

UEPB.

pelas palavras e o poder

na falta de tempo, e de

que elas possuem.

obras completas em paralelo.

Edição de texto: Renan Lutiane Redação: Camila Stefanie, Lisandra Barroso e Renan Lutiane Colaboradores: Arielly Uchoa, Jason Norte e Vivi Santos Diagramação: Camila Stefanie Supervisão: Fernando Firmino Agradecimento: Mariana Castro, Diretora de Turismo e Comunicação de Cabaceiras

Material produzido para a disciplina de Laboratório de Projeto Gráfico do Departamento de Comunicação Social da UEPB.

Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.

02


carta ao leitor

Longe de nós a privatização. A gente junto

só quer prezar pelos seus momentos íntimos, singulares e saborosos de uma leitura. Democratizar os meios e várias formas de expressão, seja nas ilustrações, escritas, fotografias, paladares, lazer e cultura.

Nessa primeira edição da revista Privada,

viajamos uma hora e meia até Cabaceiras, cidade do sertão, para falar do set de filmagens mais procurado pelos produtores quando decidem tratar de nordeste, região do sertão e cariri. Lá, onde foi gravado o Auto da Compadecida, em 1998, a gente rodou pela cidadezinha pacata e artística conversando com algumas pessoas, atores por consequência do destino, para contar o fenômeno Roliúde Nordestina.

Depois disso, já em Campina Grande, visita-

mos Pedro Cancha, o ícone da boemia da cidade. Conhecido nacionalmente pelo seu estilo único e particular de se vestir, e suas participações vanguardistas na história campinense. Ainda provamos uma pamonha, falamos de teatro e vazamos pela literatura de Daniela Arbex. A revista Privada foi um projeto que deu certo. E

Capa: Nizely Costa. Ilustração com pintura digital. Lajedo do Pai Mateus e letreiro da Roliúde Nordestina.

mesmo com todas as fragilidades de um início, fiquem à vontade para provar de um experimento regional, cultural e seu.

Renan Lutiane Editor 03


Nizely Costa, 27 Design de Produto

@nizcp Começou a trabalhar com ius-

tração ainda adolescente, pintando camisetas personalizadas para presentear amigos e parentes, em 2016, após concluir a graduação, abriu a

Gorillaz: Auto retrato no estilo Gorillaz. Ferramentas: Photoshop e mesa digitalizadora.

empresa NIZ, no inicio desenvolvendo estampas para camisetas personalizadas manualmente, logo depois expandindo para ilustrações em aquarela e pinturas digitais.

NIZ é uma marca de ilustra-

ção que abrange arte digital, aquarela e pintura em tecido. Todos os produtos são personalizados, desenvolvidos junto com o cliente e feitos à mão por uma só pessoa desde a criação e desenvolvimento, até a embalagem e publicação das ilustrações. A divulgação é feita através da página no instagram, onde os interessados podem entrar em contato e fazer suas encomendas. 04

Sereia: Pintura digital. Ferramentas: Photoshop e mesa digitalizadora.


Kylo ren: Personagem da saga Star Wars pintado à mão sobre tecido. Materiais: tinta de tecido e pincel.

Vovó: Rosto da avó da artista pintado à mão sobre tecido. Materiais: tinta de tecido e pincel .

Indiano: Homem indiano pintado em aquarela. Materiais: Aquarela em pastilha e pincel.

Polvo: ilustração autoral, estudo de composição surreal. Materiais: Aquarela em pastilha e pincel.


índice literatura

07

Personagens e Memórias de um Manicômio 03

carta ao leitor

04

painel

23

carta de saída

Renan Lutiane. Resenha de Holocausto Brasileiro de Daniela Arbex

perfil

10

O homem por trás da cancha Lisandra Barroso. Conhecendo Pedro Cancha

cultura

14

Cabaceiras: um set de filmagens no sertão Renan Lutiane. Conhecendo a Roliúde Nordestino e seus personagens

culinária

22

Olha a pamonha! Camila Stefanie. Os sabores das comidas típicas juninas

teatro

23

Dança Cidadã

Camila Stefanie.Pojeto desenvolvido dentro do Teatro Severino Cabral

06


“Ao expor a anatomia do sistema, a repórter ilumina um genocídio come-

literatura

tido, sistematicamente, pelo Estado brasileiro, com a conveniência de médicos, de funcionários e também da sociedade.” Trecho do prefácio, escrito por Eliane Brum. A partir de uma série de reportagens publicadas no jornal sobre o Holocausto brasileiro, fizeram a autora aprofundar em maiores informações e publicá-lo. Dividido em 14 capítulos além do prefácio, de maneira suave e macia conseguimos ver uma evolução do assuntos e aumento da emoção no passar de capítulos. Perfis, matérias documentais, relatos, que reunidos compõem a história do Hospital Psiquiátrico, em Barbacena, Minas Gerais. Contando da admissão de uma funcionária, ela vai traçando os seus passos de vida, que se cruzam com a história do Colônia. Os detalhes que compõem a escrita de Daniela, informações do acordar da cidade e sensações dos personagens, nos são fundamentais para imergir e tentar conseguir sentir um pouco do que seria o

complexo psiquiátrico e o sistema manicomial da época. Com uma linguagem literária, correlata saberes e pesquisas documentais que servem de índice histórico, como a passagem do grande filósofo Foucault e sua visita ao Colônia, e a vinda de Franco Basaglia -italiano, pioneiro na luta pelo fim dos manicômios, e o processo de fortalecimento da luta antimanicomial.. Histórias emocionantes que nos criam uma empatia com a situação descrita e pessoas que passaram por elas. Daniela teve o seu pontapé a partir de uma primeira matéria publicada na década de 1970 na revista O Cruzeiro, com fotos impactantes tiradas por Luiz Alfredo, à época fotógrafo da revista. Imagens são já fortes o suficiente, mas acompanhar relatos da mãe que foi separada do filho, do menino que foi jogado

em um ambiente apenas por ser tímido e quieto, meninas que passaram meio século de suas vidas agarradas ao fardo de um manicômio que tinha mais cara de matadouro. Holocausto brasileiro é um instrumento de impulso para se descobrir sobre higienização social, a verdadeira e maior função do manicômio. Ele cumpre divinamente bem sua função social, de esclarecimento e enriquecimento histórico. Um trabalho excelente de grande importância social. Investigação, denúncia, literatura são algumas coisas que encontramos no livro, mas muito além, encontramos uma forma de inquietar-se e repensar os formatos de sociedade e de que maneira que estes são impostos. Uma boa dica de leitura para todos os inquietos e curiosos em conhecer os detalhes anulados de uma passagem do Brasil.

Daniela Arbex, Jornalista com prêmio Jabuti por melhor livro-reportagem. Atua no Tribuna de Minas e conta com um grande histórico de reportagens investigativas ao longo do seu trajeto profissional.

07



“Eu sou um falso malandro. Não agia como os outros, nunca fui rico. Entrei de gaiato nessa vida.”


perfil

O homem por trás da cancha

Um homem e suas ideologias, em uma época onde ser diferente era crime.

Por Lisandra Barroso

Nas diferentes ma- co, anima-se ao receber a

nifestações que compõem

A partir daí, deu início a

proposta de falar da pró- sua vida boêmia. Sábado

as personalidades popu- pria vida. Nos apresenta

e Domingo era dia de se

lares da Rainha da Bor- sua casa e já solta uma de aventurar na noite camborema, encontramos a suas brincadeiras de cos- pinense. “Eu deixava os figura de Pedro Cancha.

tume: “Minha casa é tão bares de família e ia ca-

Conhecido por seu esti- desarrumada que parece

çar os forró de gafieira,

lo único e carisma ímpar,

a do Mazzaropi”. Mostra onde tava a bagaceira da

o bairro do Cruzeiro e o

com orgulho o troféu de

mulherada”. É com muita

centro de Campina Gran- melhor ator que recebeu graça que ele nos lembra de já foi muito agracia- pelo filme que gravou so- seu tempo de juventude. do com a presença desse

bre sua vida - Cancha:

personagem, considerado

Antigamente

era

Seu Pedro, que chegou

mais a ser preso várias vezes,

um dos maiores nomes Moderno, de Luciano Ma- conta como aconteceu sua da boemia campinense. riz, lançado em 2013 - e primeira prisão, quando Aos 84 anos, não vemos

logo começa a tagarelar.

em um dia, usando Kilt -

mais aquele homem ele- Pedro Souto Guimarães, saia típica da cultura esgante, que andava sempre homem do campo, come- cocesa, saía da missa na bem arrumado. Chinelo çou a ajudar o pai na la- Catedral à caminho da de dedo, roupas simples voura desde muito novo. rua Maciel Pinheiro. De e já bem gastas, barba à

Morava em um sítio na

repente, uma chuva de

fazer e cabelo bagunçado,

cidade de Lagoa de Roça, vaias caiu no centro de

quase irreconhecível, en- vinha à Campina só em

Campina Grande, por sua

contramos seu Pedro em dia de feira e não passava

forma diferente de ves-

frente de casa, ajudan- mais que duas horas. Em

tir-se. Telefonaram para

do alguns trabalhadores.

1950 retornou para a ci- a polícia, dizendo estar

Muito simples e simpáti- dade e nunca mais voltou. 10

havendo uma agitação. A


polícia chegou e ao invés de ajudá-lo, o levou preso. Um dia não é suficiente para tantas boas histórias a ser ouvidas. Contadas com o bom humor e alegria desse ser memória. Se você estiver passando pela avenida

Almirante

Barroso,

vale a pena procurar saber onde mora Pedro Cancha e reservar alguns minutos de conversa com ele. Você fará o bem para esse senhor tão querido e acolhedor, e será bem recompensado com sua “ladainha” desenfreada sobre sua boemia.

Imagens: Reprodução Foto Capa: Camila Stefanie

“Pedro Souto Guimarães, conhecido também como “Pedro Cancha” se permite viver realisticamente até suas fantasias mais ficcionais, tão reais, quanto seus passeios em plena década de 1970, no centro de Campina Grande-PB, com sua saia que se fazia discreta ao se comparar com sua presença performática. A trajetória de um personagem e sua verdadeira história ficcional ou de uma ficcional história verdadeira sobre um homem, suas ideologias, sobre uma época, suas nuances e contrastes, sobre ter cancha, sobre ser cancha...” 11



Como Cabaceiras se tornou a Roliúde Nordestina? “Não sei, só sei que foi assim!”


cultura

Cabaceiras: um set de filmagens no sertão Locações, personagens, turismo e belezas naturais. Por Renan Lutiane Fotos: Jason Norte

A

primeira

ima- - Onde nascem os fortes -

os cenários d’O Auto da

gem, pós uma curva, é o que ocorreu na região; fo- Compadecida - a primeiletreiro que se destaca

tos do elenco e cenas da

ra obra cinematográfica

meio a vegetação da re- minissérie que ainda pas- gravada em 1998, de Guel gião do cariri paraibano.

sa na tv, mas que já encer- Arraes.

Oitenta e quatro metros

rou seu período de grava-

Logo

na

chegada

de tamanho, não desme- ções ali há alguns meses.

paramos no

recendo a placa da origi-

frente ao museu da cidade

nal Hollywood e causando

dia

Chegamos em um atípico

na

cidade,

arraial, em

que está temporariamen-

euforia em quem chega apesar do título e gran- te fechado para obras. Ali para conhecer e tirar suas

de repercussão, a Roliú- percebi os olhares curio-

fotos no grande set de fil- de Nordestina não é tão sos dos moradores. Era magens do cinema brasi- badalada turisticamente, 9 horas da manhã de um leiro. Além da onipotente pelo menos não como na- sábado, numa cidade peplaca que chama a aten- quele sábado. Nós, uma

quena de interior, o mo-

ção de todos na entrada

equipe de seis pessoas,

vimento na via principal

da cidade, placas ocupam

além do motorista da van, da cidade é normal. Os

as laterais da via de entra- mais dois carros cheios de

olhares denunciava ainda

da de Cabaceiras, gran- curiosos, e no decorrer do

a curiosidade dos morado-

des postêr’s com imagens

dia dois ônibus escolares res em saber quem tá che-

da última produção global

chegaram para conhecer

14

gando, acredito que não


cultura

Da esquerda para direita:Rivaldo Nunes, Zé de Pineco (Seu Alfeu), Benjamin, Maria das Graças, Nilton Costa, Darlene, Dona Edite, Khetyllyn e Jennyfer.

por ser distante da reali- pesquisadores

do

ramo

Encontrei

Mariana

dade de movimento local, da antropologia, aqueles Castro alguns dez minumas por esperarem a toda

com

pensamentos

hora a chegada de algu- enraizados, ma produtora ou equipe

mais

tos depois de chegar. Di-

conservado- retora do departamento

res, não veriam essa ati- de turismo e comunicação

interessada em gravar e tude como positivo, afinal,

social da prefeitura foi

explorar os cenários de

a cidade acaba perdendo

o meu primeiro contato

Cabaceiras.

sua essência inocente e para chegar até ali. A Ma-

Toda essa chegada

leve de interior. Mas o fato riana é Jornalista, nasceu

de pessoas na cidade faz

da espera por algo novo, e ainda vive no distrito

com que tudo se normali- acredito eu, mantém todo de Ribeira de Cabaceiras. ze e os estranhos, diferen- esse imaginário que cria- Da entrada do museu já tes, os predadores aca- mos sobre pequenas cida- fomos andando até a enbam se tornando mais um.

des afastadas dos grandes

Acredito que para muitos centros urbanos.

trada da cidade, onde se encontra uma estátua do 15


cultura bode rei. Nesse caminho, os entrelaces e metáforas análise linguística da meque não durou 10 minu- criadas naquele ambiente tos, já fui perguntando à

táfora que é o nome Roli-

permitem ainda várias ou- úde Nordestina, e é a par-

ela sobre a cidade, o de- tras narrativas.

tir da língua que ela acha

senvolvimento, como ela

suas respostas e faz suas

O “que Hollywood,

chegou ali, perguntas bá- local de glamour, fama e comparações, o que não sicas que acredito que dinheiro, estava fazendo deixa socialmente de ter todo jornalista faz numa

naquele território árido, suas influências. Porém,

chegada, ou pelo menos

chamado de nordestino,

deveria.

e retratado por ícones de cobrir o que tem esse set

O meu ponto inicial um tempo de civilização

eu estive ali e tentei des-

de filmagens que o torna

na prévia para a constru- mais atrasado aos olhos

tão único e singular.

ção da matéria era falar

do senso comum”? Essa

Voltando

a

minha

de Cabaceiras e seu gran- pergunta, que é trecho conversa com a Mariana, de turismo cinematográ- de uma pesquisa científi- ela contou muito sobre o fico. Na pesquisa, como

ca de Dina Ferreira, me local, não só pelo cargo

é normal, muitas outras

aguçou e serviu de ponto

que ocupa, mas por ser

ideias e vertentes sobre

de partida para entender

“filha da terra”. Em uma

a cidade foram surgindo,

a pacata Cabaceiras de 5

parte de sua fala, que dei-

muito já se tinha falado e mil habitantes que é com- xa claro seu grau de pamuito ainda se tinha para

parada com a Los Angeles

rentesco com o prefeito da

falar sobre a Roliúde Nor- de mais de 3 milhões de

cidade, conta e demonstra

destina. E tratar somente habitantes e monetaria- o seu carinho pelo local. sobre o viés do cinema mente mais rica e “desen- “Quando meu primo assuseria um erro, ou mesmo volvida”. mais do mesmo, porém,

Ferreira

miu o cargo, todos dissefaz

uma

ram: ‘No turismo coloca a


cultura Mariana.’” É visível o co- emprega nhecimento que parte da

os

moradores

ras. Ela que acompanhou

locais, e faz crescer eco- de

perto

as

gravações

Mariana, ao falar da cida- nomicamente a cidade. Só dessa última minissérie de, seus feitos, e valor de no mês de Abril, período gravada, relata as repetifazer mostrar a pequena

em que a cidade recebeu

das vezes que escutou os

Roliúde Nordestina, que pela segunda vez a equi- elogios referentes ao set, sofre pela seca do sertão.

pe de gravação de “Onde à locação natural, além da

Nascem os Fortes”, minis- vivência com todos aque-

“Eu sempre digo, eu

posso pra qualquer lugar, série Globo, a receita do les envolvidos. mas eu nunca vou deixar

município teve uma acrés-

Quando fomos co-

de ser cabaceirense.” dis- cimo de 1 milhão de reais,

mentar sobre O Auto da

se Mariana Castro.

em média, comparado aos

Compadecida, a sensação

demais meses do ano, o sentida por Mariana, não

A participação da

cidade nas produções que

que comprova que existe

a diretora, mas alguém

ali acontecem é, principal- uma movimentação e al- que é do Sertão, ela diz: mente, ou quase somente, gum benefício financeiro “Ariano Suassuna, ele é na prestação de serviços.

para o local.

eterno…

ele

conseguiu

As produtoras, geralmen- “Belezas naturais nós va- pegar nossa cultura, brinte, procuram a prefeitu- mos encontrar em vários car com nossa cultura, e ra que tenta organizar lugares, mas a emoção,

não machucou ninguém,

e oferecer um esquema

a energia que a gente não feriu ninguém.” E sin-

para recebê-los. Isso está

encontra aqui, não é em

to uma realidade nessa

em parte dentro do Pro- todo lugar.” disse Maria- fala, andando por Cabajeto Roliúde Nordestina, na sobre os diferenciais e ceiras, no tour, no passar idealizado por Wills Leal. um dos motivos pela tam- pela cidade e conversas Tudo isso gera receita, bém procura por Cabacei- alheias

percebemos

as


cultura características nas engra-

Cabaceiras

é

um

sua “estreia” n’O Auto da

çadas e fortes de Chicó e lugar de muitos persona- Compadecida, ou a DarJoão Grilo na apresenta- gens, afora protagonistas

lene, que agora teve sua

ção da guia Sandrely So- da tela, os figurantes, mo- segunda passagem como ares que nos surpreendia

radores e protagonistas da

figurante, e uma primei-

com falas trechos do filme realidade, são parte desse

ra em “Aspirinas e Uru-

tornando uma visita mais

set e contam também so- bus”, 2006, quando saiu

engraçada e nos fazendo

bre a cidade e o cotidiano. para comprar aspirinas,

estar imerso nas ideias Automaticamente, com a

mas não saiu nas telas -

de Suassuna. E esses di- crescente ‘roliudiana’, to- risonhamente me contou. álogos continuavam, mes- dos se tornaram estrelas

Ou mesmo a Maria das

mo fora de cena, não es- e personalidades. Alguns

Graças e o companheiro

tando apresentando algo, já profissionais de tantas

Nilton, que estavam pre-

quando a guia passava e

participações, outros ain- sentes com a família com-

encontrava algum conhe- da vivenciando uma ex- pleta para falar de suas cido, ou era interrompi- periência diferente de ga- figurações em filmes, mida no percurso por algum

nhar dinheiro.

morador da cidade - ca- racterística comum e que

nisséries e comerciais de

Uma parte aqui de- tv. No final, se chegando,

veria ser dedicada só para

Rivaldo Batista, mais um

acredito enriquecer a visi- falar o perfil e participa- dos muitos figurantes. ta, nos fazendo entender

ção de cada um, como

Todos ao lado da

que eles estão à vontade seu Zé de Pineco (ou Seu igreja, ainda contidos, diao apresentar sua casa -

Alfeu), que possui várias ferente das grandes estre-

as entonações e falas re- participações nas produ- las e artistas que conhecegionais permaneciam. 18

ções. Dona Edite que teve mos, me contando sobre


cultura suas experiências, rela- pelas mídias e por quem

ber minha chegada - des-

ções com os produtores, já pesquisou ou leu sobre

preocupação e confiança

às suas maneiras falando

a Roliúde Nordestina, Seu que ainda é presente e

sobre o que cada um acha

Zé de Cila.

de benefício, fosse no co-

permanece nas pequenas

José Nunes de Araú- cidades de interior.

nhecer novas pessoas, na

jo Neto, 72 anos, Seu Zé

O cutuquei, já o ti-

diversão das filmagens,

de Cila, apelido que ga- nha visto na minha che-

no celular novo compra- nhou referente à sua mãe. gada e ele já aguardava do com o pequeno cachê.

O rapaz velho, como se

o meu retorno. Diferente

Além de me passarem a

auto refere, figurante e

de como é conhecido, por

agenda de gravações fu- dublê de Rogério Cardo- receber as pessoas, com turas.

so, o padre n’O Auto da a batina - indicação “do” A viagem foi curta, Compadecida. Uma seme- SEBRAE

o tempo foi pouco, não da- lhança forte de aparência

e

“da”

Globo

(personificação das insti-

ria para contar tudo sobre que é percebida entre os tuições), ele estava com a pequena grande Caba- dois. ceira. Discorrer as pas-

roupa comum do dia a Minha última para- dia, um sapato vermelho

sagens no ateliê de couro da foi no estabelecimento e meias cinza no tornozedo Seu Nino, o almoço no

do Seu Zé. Uma conversa lo. Despretensiosamente,

restaurante

de uma hora e pouco mais, permaneceu sentado ali

da

Sandra,

o sorvete na calçada de uma

moradora,

encontrei ele cochilando

e começou a me contar

levaria numa cadeira de balanço

sua vida com a sabedoria

tempo e mais espaço. Mas

atrás do balcão, com as

e experiência de quem já

existe ali, uma personali- portas abertas, sem preo- muito foi procurado para dade já muito conhecida

cupar-se ou mesmo perce- entrevistas. 19


cultura

Seu Zé de Cila, um algumas pessoas desce- ções são muitas.

senhorzinho

simpático, rem e observar ao redor.

que mora aos fundos do

Um personagem da cida-

Fazem vinte anos da gra- de, que não é só mais um

seu estabelecimento co- vação do filme, e Seu Zé “ponto turístico”, mas um mercial, que hoje, diz ele, continua

na

memória

alguém que vale você ti-

não lucrar, só permanece com todos os detalhes, ou rar algumas horas para ali para receber as pesso- maior parte deles, des- conversar.

Crítico,

me

as que sempre chegam à

de quando o procuraram

contou e fez uma análise

cidade à procura dele, o

às pressas para gravar a

muito importante sobre a

padre.

cena do tiro do padre, até cidade, expondo seus pen-

O que é muito inte- os detalhes que vieram samentos sobre as ques-

ressante nas falas de Seu conseguintes a essa par- tões de desenvolvimento Zé de Cila, é seu repertó- ticipação que lhe valeram local, colocando pra fora rio de vida e a capacida- várias outras e um reco- toda uma experiência e de de conseguir discorrer nhecimento e repercus- me ajudando a compremuito bem os processos

são internacional.

que a cidade passou. Ele National

Geographic

ender mais sobre o que é é como funciona a Roliúde

me contou de quando a

uma das revistas que o

Nordestina.

produtora d’O Auto da

procurou para entrevistar

O sábado acabou, na vol-

Compadecida, chegou à

no decorrer desses anos,

ta, paramos no grande le-

Cabaceiras pela primeira

além de várias outras que treiro e tiramos algumas

vez. Ele, com seu hábito ele, todo orgulhoso, ao de acordar muito cedo e ir

fotos. A narrativa já vinha

mesmo tempo que é na- sendo montada na minha

varrer a calçada da fren- tural para si, mostrou no

cabeça, o que contar, o

te, viu aquela van parar e seu balcão. E as produ- que ressaltar, o que tra20


cultura zer de novo. Cabaceiras é uma cidade que muito tem para mostrar, um set de filmagens, a festa do bode rei, as pessoas que se tornaram grandes artistas nas telas de cinema, ou personagens em pequenos documentários, artigos e teses ali produzidos. Cabaceiras não é nem de longe Hollywood, economicamente falando, ou até mesmo em questões de produção. Mas Cabaceiras é Cabaceiras, uma cidade com um céu que nos faz querer parar horas para olhar. Cidade de pessoas acolhedoras e que mostra muito, e muito bem o que é o sertão nordestino. Seu Zé de Cila, 72, o rapaz velho da pequena Cabaceiras.

21


Olha a pamonha!

culinária

Por Camila Stefanie

O mês de junho chegou e a cida-

produtos feitos com milho. A produção

de de Campina Grande é marcada pela

da pamonha, o produto de maior desejo

grande festa de São João que acontece

dos campinenses, é em média de 500

no Parque do Povo. A festa, considerada

por dia, mas quando vai chegando o

“O Maior São João do Mundo”, começou

período junino, as vendas dobram e a

em

produção de pamonha

1983, o parque do povo

e canjica, chega até

era de chão de terra

mais de mil por dia.

batida e com apenas

A empresa que abas-

algumas barraquinhas.

tece Campina e cida-

A cidade cresceu

des próximas à região,

e se desenvolveu, mas

chega a dobrar o nú-

manteve as suas tradi-

mero de funcionários

bem

pequenina,

ções de São João atra-

Pamonha A casa do Pamonheiro.

devido a grande pro-

vés de danças, espetáculos, quadrilhas

cura pelo produto. No ponto de venda

e as deliciosas comidas derivadas do mi-

exite uma diversificação de produtos

lho.

como pamonha recheada com queijo, Pamonha, cuscuz, milho, canjica,

bolo de milho, bolo pé de moleque que

bolo de milho, paçoca e outros pratos tí-

são as especialidades da casa. No ce-

picos são comidas bastante apreciadas e

nário Campinense, a empresa ficou co-

procuradas. Em Campina Grande peque-

nhecida pela revenda através de moto-

nas empresas que vivem dessa culinária,

queiros nos bairros.

como A Casa do Pamonheiro, uma microempresa que vive da venda de produtos típicos durante o ano todo.

Localizada no bairro do Presidente

Médici, A Casa do Pamonheiro foi criada em 2014, por Jurivan Correia e a esposa Gitania Menezes. Atualmente, os dois, mantém a empresa com diversos outros 22

Pamonha recheada com queijo A casa do Pamonheiro.


Dança Cidadã

teatro

Por Camila Stefanie

Em Campina Grande, o Teatro Municipal

passa por uma avaliação básica do professor para

Severino Cabral em parceria com a Prefeitura, Se- saber se o mesmo apresenta algum problema físico cretaria de Cultura e Secretaria de Educação se en- que prejudique no aprendizado da dança. contra em mais uma edição do projeto Dança Cida-

O projeto se encontra em sua 3ª edição e

dã, um projeto que oferece aulas gratuitas de Ballet conta com a participação de mais de 200 crianças Clássico para crianças e adolescentes.

praticando o Ballet Clássico.

Criado em 2015 por Erasmo Rafael, diretor

do teatro, o projeto tem como objetivo dar oportunidade para crianças e adolescentes que não tem condições de pagar aulas de ballet, mas que tem interesse em aprender a dançar.

Para participar do projeto, os jovens devem

ter entre 7 e 8 anos, ser estudante da rede Municipal de ensino (levar declaração da escola) , xerox do RG e CPF do responsável, xerox da certidão de nascimento, foto 3x4 do aluno, comprovante de residênProjeto Dança Cidadã

cia e ter físico para esse tipo de atividade. A criança

Nós éramos meninos - digo crian- dronizadas, ou pelo menos parecida.

ças, imaturos, no começo de tudo. Não

Saímos com um dever cumprido e

sabíamos onde chegar e nem o que iria comprido. Deixando o gosto de continuacontecer. Tudo nos passou tão bonito. ar pra quem vem depois, mas a certeza As visitas, as pessoas, os trajetos e até o é só depois… planejar.

marcada!

Acabamos felizes aqui. Mostramos

Um até breve sem hora e data

a Paraíba, Campina e seus personagens. Impulsionamos o minimamente diferente, mesmo dentro de uma estrutura pa-

Revista 23



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