ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
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A R T E C I D A D E C I D A D E
A R T E
universidade estadual de londrina - arquitetura e urbanismo trabalho final de graduação interdisciplinar - 2018
arte e cidade _ Uma reinterpretação do centro de londrina - pr r e n a n ta d e u m e r l i n p i n t o
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TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
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ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
RENAN TADEU MERLIN PINTO
ARTE E CIDADE : UMA REINTERPRETAÇÃO NO CENTRO DE LONDRINA - PR
LONDRINA 2018
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TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
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ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
RENAN TADEU MERLIN PINTO
ARTE E CIDADE : UMA REINTERPRETAÇÃO NO CENTRO DE LONDRINA - PR Trabalho Final de Graduação Interdisciplinar apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Londrina, como requisito à obtenção do título de Arquiteto e Urbanista. Orientadora: Prof. Ma. Elisa Roberta Zanon.
LONDRINA 2018
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TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
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ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Trabalho Final de Graduação Interdisciplinar apre-
sentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Londrina, como requisito à obtenção
do
título
de
Arquiteto(a)
e
Urbanista.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Componente da Banca Universidade Estadual de Londrina - UEL
Prof. Componente da Banca Universidade Estadual de Londrina - UEL
Prof. Componente da Banca Universidade Estadual de Londrina - UEL
Londrina,
de
de
.
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TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
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ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Dedico este trabalho a todos que lutam pelo direito à cidade.
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TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
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ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer meus pais, que
Discutir com vocês é sempre prazeroso.
sempre me incentivaram a lutar pelos meus ideiais e a persistir nos
meus sonhso. Muito obrigado por estarem sempre presentes.
pela resistência artistica na cidade.
À
minha
orientadora,
Elisa
Roberta
Zanon,
que
Ao Movimento dos Artistas de Rua de Londrina, que lutam Aos meus amigos do intercâmbio, Clara, Gabrielle, Izadora,
acompanhou-me em todo o processo de desenvolvimento desta
Letícia, Leila, Lívia, Mirele e Priscila. As experiências que tivemos
pesquisa. Levarei o conhecimento adquirido para a vida toda.
foram marcantes. Experiências que valem para mais d euma vida.
Você é inspiradora.
Vocês são meus parceiros de alma.
A todos meus amigos da Universidade que acompanharam
Aos meus amigos d’autre mer, Julia, Monika e Ricardo,
nessa trajetória de seis anos de graduação, em especial Amanda,
vous avez me montré qu’il y a des personnes incroyables dans le
Dimitria, Letícia, Larissa, Laura, Lucas, Isabella, Rafael, Natália,
monde. Merci!
Marina, Simone, Valkiria e Vitória. Vocês foram essenciais na minha
formação.
Vocês são incríveis!
Ao grupo Contemporar e ao Professor Rovenir Duarte,
Ao Studio Cube, pelos ensinamentos diários em arquitetura. E a todos que, de alguma maneira, me ajudaram nessa
que me acolheram em suas discussões sobre arquitetura
caminhada.
contemporânea, as quais enalteceram minha vontade na academia.
Muito obrigado!
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TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
PINTO, Renan Tadeu Merlin. Arte e cidade: Uma reinterpretação do Centro de Londrina - PR. 2018. Trabalho Final de Graduação Interdisciplinar (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2018.
RESUMO A investigação deste trabalho remete-se aos espaços públicos das áreas centrais, sendo o Centro Principal de Londrina, no Paraná, o objeto de estudo. Entende-se que a sociedade contemporânea vive um período de transitoriaridade, em que os espaços públicos sofreram transformações em sua filosofia de socialização. Dessa maneira, propõe-se uma reinterpretação dos espaços públicos do centro, por meio de uma proposta urbana que visa o incremento às suas atividades. Para isso, estabelece-se estratégias de conexão dos espaços públicos existentes com edifícios descoupados e lotes residuais do Centro Principal, tendo a Arte como elemento catalisador. Baseia-se na questão do espaço fluído, nas fundamentações teóricas de Henry Lefebvre, da prospecção e perspectiva; de Vera Palamin, com a noção de arte como prática social; e dos espaços vazios. Busca-se os interstícios em duas escalas: em relação à cidade a ao pedestre. Dessa
Palavras-chave: Centro. Espaço Público. espaço fluído. Arte Urbana. Interstício.
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forma, apoia-se na morfologia urbana para encontrar os espaços vazio e na análise visual, expressa pela autora Maria Elaine Kholsdorf, para compreender a conexão entre os vazios e o espaço público. wO foco visual se estabelece no Calçadão de Londrina, por ser o espaço mais pungente do Centro Principal, e suas imediações. Em primeiro plano, após a descoberta dos interstícios, faz-se propostas gerais para toda àrea visando a promoção das manifestações artísticas e cotidianas do centro. Posteriormente, aprofunda-se em uma das estratégias, adotando as práticas pré-estabelecidas, em que surge a reformulação do Calçadão de Londrina, da Praça Gabriel Martins, o reuso do desocupado Banco Banestado, e a criação de anexos em apoio ao espaço fluído.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
PINTO, Renan Tadeu Merlin. . 2018. Art and City - The interpretation Londrina’s downtown. Final Undergraduate Thesis (Graduation in Architecture and Urbanism) – State University of Londrina, Londrina, 2018.
abstract The research of this article relates primarily to public spaces of central areas, adopting the Cento Principal de Londrina, in Paraná as the subject of this study. It is common knowledge that modern society is undergoing a period of transition, in which public spaces have gone through transformations in their philosophy when it comes to socialization. Thus, this study proposes a reinterpretation of the public spaces in the city center, by means of an urban project that aims to maximize their activities. To accomplish this, strategies to connect existing public spaces with unoccupied buildings and residual allotments of the Centro Principal are established, using Art as a catalyst. The project is based on the idea of a flowing space in its development and in the theory fundamentals of Henry Levebvre, of prospection and perspective and Vera Palamin, with the notion of art as a social practice and the empty spaces. To identify the interstices, the Centro Principal is analyzed in two scales, in relation to the city and to the pedestrian. It relies
on urban morphology to identify strategic empty spaces and in the visual analysis, as defined by author Maria Elaine Kholsdorf, to understand the connection between these areas and the public space. The visual focus is established in the Calçadão de Londrina, for it is the most pervasive space in the Centro Principal, and its immediate public squares. Primarily, after the identification of the interstices, proposals that aim for collectivity and flexibility are introduced, with diagrams of intentions and uses to aid in the promotion of artistic manifestations and conventional of the city center. In a second analysis, one of the strategies is more deeply developed, adopting the pre-established practices. Lastly, the Calçadão de Londrina and Praça Grabriel Martins are reformulated, the unoccupied building of Banco Benestado is restated and dependent buildings are created to support the idea of a flowing space.
Key words: Downtown. Public Space. Transition. Urban Art. Interstice.
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TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
lista de figuras Figura 01 -Planta do banco de ferro/ Perspectiva do banco de ferro para Hotel no Pelourinho, 1986. Figura 02 - Planta da cidade de Salvador (parcial) indicando limite do parque histórico e tipo de pavimentação. Planta de ocupação e estado de conservação dos imóveis, 1986. Figura 03 - Critérios para bons plinths: contexto, rua e prédio. Cidade de Roterdã. Figura 04 - Escala e ritmo. Arquitetura à 5 quilômetros por hora. Figura 05 - Plinths convidativos com bolsões de estar. Figura 06 - Ilustração Metrópolis, destaca diversas capitais, como Paris, Berlim, Tóquio, Nova York, Milão, em que se faz uma alusão ao conceito de Terrain Vague. Figura 07- Cegueira branca, Kuczynski. Figura 08- Falsa sensação, Kuczynski. Figura 09 - Arte Urbana, Bansky. Figuras 10 e 11- Hélio Oiticica e os Parangolés. Figuras 12 e 13 - Uma das instalações do conjunto de obras “Os Penetráveis”, do movimento Tropicália, 1972. Figura 14 - Rota da Arte, Médelin, Colômbia. Figura 15 - Serpentine Gallery 2016, projetada por BIG Architect. Figura 16 - Serpentine Gallery 2018, projetadaw por Frida Escobedo. Figura 15 e 16 - Movimento dos Artistas de Rua de Londrina, 2017. Figura 17 - Feirão da resistência MARL, 2017. Figura 17 e 18 - RedBull Station, projeto do escritório francobrasileiro Triptyque, 2013. Figura 19 - Residência artística Ouvidor 63. Figura 21, 22 e 23 - Residência artística Ouvidor 63. Figura 24 - Esquema da evolução de pensamento da fundamentação teórica. Figura 25 - Esquema de nível de percepção e imagem mental. Figura 26 - Mapa Linha férrea Norte do Paraná, 1935.
37 37
45 48 48 56 65 65 66 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 86 87
87 88 88 Figura 28 - Cia. de Terras Norte do Paraná - Planta de Londrina. 89 Figura 29 - Pátio ferroviário, década de 1950. 91 Figura 30 - Centro de Londrina com destaque para a Praça Marechal 94 Floriano Peixoto, década de 1940.
14
Figura 31 -Rodoviária do arquiteto VillaNova Artigas, década de 1950 95 Figura 32 - Mapa de Figura-Fundo de 1949 Centro Principal. 97
Figura 33 - Complexo Cine Ouro-Verde e edifício Autolon,
97
década de 1950. 98 Figura 34 - Mapa figura-fundo do Centro Principal 1974. 98 Figura 35 - Mapa figura-fundo do Centro Principal 2018. 101 Figura 36 - Mapa de espaços públicos Centro Principal 2018. 101 Figura 37 Figura 38 Performance no Calçadão de Londrina, 1995. 101 Figura 39 - Teatro na rua na Praça Gabriel Martins, 2014. 102 Figura 40 - Avenida Paraná ainda aberta ao trânsito, em novembro 104 de 1973. O Calçadão um mês antes da inauguração em 1997. 105 Figura 41 - Calçadão inagurado 1977. Quiosques e luminárias. 105 Figura 42 - Calçadão em frente à Praça Marechal Floriano Peixoto, 109 1979. Figura 43 - Praça Marechal Floriano Peixoto em uma apresentação 110 acrobática, em 1977. Figura 44 - Os pontos de encontro do projeto original e suas diretrizes 111 na revitalização da área central de Londrina em 1977. 112 Figura 45 - Mapa densidade demográfica Centro Principal. 113 Figura 46 - Esquema relevo, traçado e parcelamento Centro 116 Principal. Figura 47 - Mapa topográfico do Centro Principal 118 Figura 48 - Corte limites do Centro principal. 118 Figura 49 - Esquema limites Centro Principal de Londrina. 118 Figura 50 Esquema setores de identidade. 120 Figura 51 - Mapa fluxo de pedestres, sistema viário. 122 Figura 52 - Mapa de uso e ocupação do Centro Principal. Figura 53 - Esquema de quadras do Centro Principal. 124 Figura 54 - Mapa de adensamento cultural, edifícios desocupados, 126 estacionamentos e galerias que cortam a quadra do Centro Principal. 127 Figura 55 - Mapa rota de investigação visual. 128 Figura 56 - Perspectiva Centro Principal com estações de analise visual 130 Figura 57- Diagrama 01 análise visual. 130 Figura 58 - Avenida Paraná, à esquerda. 130 Figura 59 - Avenida Paraná, à direita. 132 Figura 60 - Avenida Paraná, ao centro. 132 Figura 61 - Trecho 1 Calçadão, Praça Danielides, à esquerda. Figura 62 - Trecho 1 Calçadão, Praça Danielides, ao centro. 132 Figura 63 - Trecho 1 Calçadão, Praça Danielides, à direita. 135 Figura 64- Trecho 1 Calçadão, Praça Danielides, ao centro. 135 Figura 65 - Trecho 1 Calçadão, à direita. 135
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Figura 66 - Trecho 1 Calçadão, Praça Danielides, à esquerda. Figura 67 - Detalhe edifício desocupado, antigo Banco Itaú. Figura 69 - Trecho 2 do Calçadão, ao centro
135 135 136 136 Figura 70 - Trecho 2 do Calçadão, à direita. 136 Figura 71- Trecho 2 do Calçadão, à esquerda. Figura 72 - Trecho 3 do Calçadão, ao centro. 136 138 Figura 73 - Trecho 3 do Calçadão, ao centro. 138 Figura 74- Praça Gabriel Martins, à direita do Trecho 3 do Calçadão. 138 Figura 75 - Detalhe Praça Gabriel Martins. 138 Figura 76 - Mapa comportamental Trecho 4 do Calçadão. 140 Figura 77 - Trecho 4 do Calçadão, ao centro. Figura 78 - Trecho 4 do Calçadão, à direita. 142 Figura 79 - Detalhe Edificio do Relógio. 142 Figura 80 - Trecho 4 do Calçadão, à esquerda. 143 Figura 81 - Apropriações na Pr. Ml. Flori. Peixoto. 143 Figura 82 - Trecho 5 do Calçadão, ao centro. 144 Figura 83 - Trecho 5 do Calçadão, à esquerda. 144 Figura 84 - Trecho 5 do Calçadão, à direita. 144 Figura 85 - Feiras e apropriações no trecho 5. 144 Figura 86- Diagrama 02 análise visual. 148 Figura 87 - Rotatória Rua Minas Gerais. Figura 88 - Rotatória Rua Minas Gerais, à direita. Alameda Manoel Ribas. 150 Figura 89 - Rotatória Rua Minas Gerais, à esquerda. 150 Figura 90 - Rua Minas Gerais, ao centro. 150 Figura 91 - Praça Primeiro de Maio, ao centro. 152 Figura 92 - Praça Primeiro de Maio, à esquerda. 152 Figura 93 - Concha Acústica, à esquerda. Figura 94 - Praça Primeiro de Maio em diração ao Bosque Ml. Cândido Rondon. 152 152 Figura 95 - Galeria Vila Rica, à esquerda. 152 Figura 96 - Casa da Criança, à direita. 153 Figura 97 - SESI e Biblioteca Municipal, à direita. Figura 98 - Fotos do Cine Vila Rica atualmente. 153 Figura 99 - Bosque Ml. Cândido Rondon, à direita. 153 Figura 100 - Bosque Ml. Cândido Rondon, ao centro. 155 Figura 101 - Bosque Ml. Cândido Rondon, à esquerda. 156 Figura 102 -Praça Sete de Setembro, ao centro. 156 Figura 103- Praça Sete de Setembro, à direita. 156 Figura 104 - Praça Sete de Setembro, à esquerda. 158 Figura 105 - Praça Sete de Setembro.
Figura 106 - Alameda Manoel Ribas, à esquerda. Figura 107 - Alameda Manoel Ribas, à direita. Figura 108 - Praça Marechal Floriano Peixoto, à direita. Figura 109- Diagrama 03análise visual. Figura 110 - Avenida São Paulo. Figura 111 - Rua Sergipe, à direita. Figura 112 - Avenida Rio de Janeiro, ao centro. Figura 113 - Acesso de pedestre à Av. Leste-Oeste. Figura 114 - Avenida Rio de Janeiro, ao centro, à direita. Figura 115 - Vista Praça Rocha Pombo da Rua Benjamin Constant. Figura 116 - Resumo da diversidade espacial. Figura 117 - Mapa de potenciais interstícios. Figura 118 - Perspectiva do Interstício potencial 01. Figura 119 Implantação Agência Banestado/Itaú. Figura 120 - Plantas Agência Bancária. Figura 121 - Corte Londitudinal- Agência Bancária. Figura 122 - Implantação Praça Gabriel Martins.
137 137 137 139 141 141 141 143 143 143 144 150 155 168 174 176 Figura 123 - Perspectiva potencial interstício 02. 178 Figura 124 - Praça Floriano Peixoto. 182 Figura 125 - Praça Willie Davis. 184 Figura 126 - Perspectiva potencial interstício 03. 186 Figura 127 - Praça 1° de maio. 188 Figura 128 - Bosque Marechal Candido Rondon. 178 Figura 129 - Perspectiva potencial interstício 04. 180 Figura 130 - Praça Sete de Setembro. 182 Figura 131 - Praça Rocha Pombo. 188 Figura 132 - Perspectiva interstício potencial 05. Figura 133 - Intervenção Centro Aberto, sessão de cinema ao ar livre.192 192 Figura 134- Intervenção Centro Aberto. Figura 135 - Diagrama de mobiliários urbanos. 196 Figura 136 - Registro de atividades de permanência Centro Aberto. 202 Figura 137 - Mapa de implantação dos projetos pilotos. 204 Figura 138 - Largo Paissandu depois da intervenção. 206 Figura 139 - Intervenção na Pr. Ouvidor Pacheco e Silva. 206
lista de FIGURAS 15
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 140 - O edificio na escala do pedestre convida o usuário para 213 atravessar.
216 217 Figura 142 - Mapa setorial de propostas. 219 Figura 143 - Croqui de estudo. 220 Figura 144 - Diagrama esquemático de interstício 01. 222 Figura 145 - Ilustração espaço para feiras livres. Proposta de novo vazio 223
Figura 146 - Diagrama esquemático de interstício 03 e 04
Figura 141- Croqui Praça das Artes.
de convivência.
224 Figura 185 - Perspectiva 2 espaço fluído. 228 Figura 147 - Ilustração Praça Primeiro de Maio com novo Teatro aberto à rua. 229 Figura 148 - Diagrama esquemático de interstício 05. 230
Figura 154 - Perspectiva Explodida.
Figura 156 - Esquema estudo solar
Figura 155- Esquema intenções.
Figura 157 - Perspectiva Trecho 1 Calçadão.
Figura 158 - Perspectiva Trecho 2 Calçadão.
Figura 160 - Detalhes mobiliário urbano.
Figura 159 - Perspectiva Trecho 3 Calçadão. Figura 161 - Detalhes mobiliário urbano 02. Figura 162 - Detalhes mobiliário urbano 03.
Figura 169 - Imagem térreo da Residência dos artistas em contato com
o Calçadão.
16
Figura 184 - Perspectiva 1 espaço fluído. Figura 185 - Perspectiva 2 Figura 186 - Perspectiva 3 Figura 187 - Perspectiva 4 Figura 188 - Perspectiva 5
232 233 234 234 235 236 238 239 240 244 245
247 249 Figura 179 - Esquema do Corte DD’. 251 253 Figura 180 - Corte DD’. 255 Figura 181 - Perspectiva Plinth. 256 Figura 182 - Perspectiva conexão do Coworking à Residência Artística. 258 Figura 183 - Perspectiva conexão Residência artística ao Coworking. 259 Figura 168 - Imagem início do Calçadão reformulado.
262 263 264 265 266 267
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
lista de quadros e tabelas Quadro 1 - Metodologia de análise morfológica de acordo com Kholsdorf 01, 1999. Quadro 2 - Metodologia de análise morfológica de acordo com Kholsdorf 02, 1999. Tabela 1 - Tabela de densidade populacional por bairro Centro Principal de Londrina.
lista de ABREVIAÇões CTNP - Companhia de Terras do Norte do Paraná MARL - Movimento dos Artistas de Rua de Londrina ULES - União Londrinense dos Estudantes Secundaristas MST - Movimento dos Trabalhadores Ruais Sem Terra
17
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
w
3. PRIMEIRO ATO – A TRANSITORIEDADE
SUMÁRIO
ESPACIAL 3.1.
41 CENA 01 – O ESPAÇO FLUÍDO
3.1.1. O direito à cidade, o direito ao centro
3.2.
3.1.2. As apropriações no “entre” CENA 02 – ESPAÇO
CENTRAIS
AS APROPRIAÇÕES DO
PÚBLICO POR
DAS
MEIO
ÁREAS DAS
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS
3.2.1. A arte urbana como elemento catalisador
1. PRÓLOGO
21
2. ANTE-ATO – REFLEXÕES DO AUTOR 2.1.
CENA 1 - OS ESPAÇOS PÚBLICOS DAS ÁREAS
CENTRAIS
CONTEMPORÂNEA
18
27
NA
CIDADE
4. SEGUNDO ATO – O CORAÇÃO DA CIDADE 4.1.
4.2.
79
CENA 01 - - ABORDAGEM ADOTADA CENA
02
HISTÓRIA
–
UMA
PINCELADA
DE
4.2.1. Calçadão: um palco a céu aberto
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
5. TERCEIRO ATO – A TRAVESSIA 5.1.
5.2.
5.3.
107
CENA 01 – A BUSCA DOS INTERSTÍCIOS CENA
02
–
INTERSTÍCIOS
A
CONEXÃO
DOS
8. REFERÊNCIAS
284
9. APÊNDICES
286
CENA 03 – REFERÊNCIAS URBANOARQUITETÔNICAS
5.3.1. Centro Aberto de São Paulo 5.3.2. Praça das Artes 5.3.3. Ouvidor 63
6. ATO FINAL – PRÁTICA URBANA 6.1.
CENA 01 – QUALIDADES ESPACIAIS
6.2.
CENA 02 – EIXOS ESTRATÉGICOS
210
6.2.1. Coabitar
6.2.2. Coexistir
6.2.3. Compreender 6.2.4. Comer
6.3.
CENA 03 – A ESCALA DO PEDESTRE
7. ENCERRAMENTO
282
19
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
w
A liberdade do artista foi sempre “individual”, mas a verdadeira liberdade só pode ser coletiva. Uma liberdade ciente da realidade social, que derrube as fronteiras da estética, campo de concentração da civilização ocidental; uma liberdade ligada às limitações e às grandes conquistas da prática científica (prática científica, não tecnologia decaída em tecnocracia). Ao suicídio romântico, é urgente contrapor a grande tarefa do planejamento ambiental, desde o urbanismo e a arquitetura até o desenho industrial e outras manifestações culturais. Uma reintegração, uma unificação simplificada dos fatores componentes da cultura. (BO BARDI, Lina, 2009).
20
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
P RÓLOGO 1. A TRAJETÓRIA
Os centros das cidades brasileiras caminham no sentido de repensar seus espaços públicos. Em decorrência do desenvolvimento das cidades, das diversas mudanças de planejamento urbano, dos interesses do capital imobiliário e do surgimento dos subcentros e têm sua característica de centralidade transformada. O resultado dessas transformações, na maioria dos casos, se caracteriza pela perda da força de socialização dos espaços públicos. Com isso, as propostas de reinterpretação ganharam destaque para a
1
A transitoriedade sempre me instigou. Seja na arquitetura, na arte, no urbano ou na vida. Habitar o coração da cidade e vivenciar suas transformações cotidianas compreendem, portanto, a iniciativa deste estudo.
1
2011, PARDO. Termo relacionado às transformações da sociedade contemporânea, vivemos num período de transição.
compreensão da nova dinâmica dos espaços centrais urbanos. A sociedade contemporânea muda de forma extremamente rápida, o que gera um sentimento de efemeridade, ou seja, de que as coisas não são
21
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
perecíveis, e sim transitórias. O espaço público, tem sua característica de socialização transformada.
fragmentado da cidade, ou seja, multifuncional, tanto na
Os novos paradigmas, que rodeiam
as
relações sociais afetaram diretamente os espaços público e privado, em que seus limites, antes bem estabelecidos, acabaram se perdendo. Nesse sentido, surge o espaço fluído, o qual acompanha essa nova dinâmica social, foco de investigação e desenvolvimento
esfera da ocupação, quanto social. É um símbolo que alimenta a imaginação e a recordação do passado, por meio de seu acervo de imagens que mostram o olhar da história. Não é apenas um local de comemorar o que passou, ele é também o local das sensações instantâneas do agora. O palco de discussão e produção deste estudo é o Centro Principal2 da cidade de Londrina, no Paraná,
deste trabalho. O centro se estabelece como elemento diferenciador
Dessa maneira, estabelece-se como o mais
da
estrutura
urbana
ao
acomodar
múltiplas funções. Ele não atende somente as demandas do setor financeiro e comercial, mas também à moradia, cultura e lazer, configurando um território diversificado.
Brasil. Sendo a segunda maior cidade do Paraná, Londrina carrega consigo uma bagagem arquitetônica e urbanística de peso, apesar de ser uma cidade jovem a nível nacional. A cidade passou por transformações consideráveis em poucas décadas, mas reconhece-se espaços públicos potenciais e latentes. As qualidades espaciais já existentes são extremamente valiosas para a
2
2009, VILLAÇA. Conceito utilizado para mostrar a condição de centro em um processo de descentralização frente a outras centralidades.
22
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
história e memória da cidade e da população. De modo geral, na cidade contemporânea, o Centro Principal tem apropriações específicas do capital, o qual ao mesmo tempo que busca áreas de
Verde;
vendedores
ambulantes
oferecendo
frutas
frescas na esquina da Praça Marechal Floriano Peixoto; e pessoas ao sol esperando a missa começar, exprimem apropriações diárias no espaço.
investimento mais rentáveis, como outras centralidades,
Embora
as
manifestações
sociais
sejam
vê no centro utilidade. Todavia, o discurso de ser um
presentes na vida cotidiana, nota-se uma falta de
espaço abandonado ou esvaziado torna-se equivocado,
políticas públicas de incentivo ao uso dos espaços
pois na realidade ocorre uma mudança de conteúdo
públicos e uma promoção ao que eles têm a oferecer. A
social.
comunicação entre o usuário, o espaço público e os Numa simples visita sábado de manhã pelo
Calçadão de Londrina, por exemplo, é possível
edifícios da área central sofreram ampla interferência na compreensão da nova dinâmica dos centros.
compreender que as apropriações culturais das grandes massas existem e se fazem presentes. Narrativas diárias como as feiras de artesanato, os artistas informais expondo seus objetos manuais; performistas ensaiando em frente ao Cine-Teatro Ouro
Nesse sentido, pauta-se na perspectiva e prospecção de Henry Lefebvre (2010) e em sua abordagem do espaço lúdico3; na prática da Arte como elemento
expressivo
e
intrínseco
da
cidade,
apresentado por Vera Palamin (2000) e na apropriação
3
2010, LEFEBVRE. Relaciona-se ao espaço de descoberta, de choque, de encontro social, que instiga a vivência e a experiência da cidade.
23
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
dos vazios residuais do centro para a construção do conceito filosófico.
mostra as potencialidades do lugar. Utiliza-se como base
Para isso, faz-se analise no centro em duas escalas diferentes, a primeira compreende o Centro
a autora Maria Elaine Kholsdorf, a qual pauta-se nos estímulos visuais para compreensão do espaço.
Principal de Londrina em relação a cidade com um
Portanto, este trabalho pretende fazer uma
primeiro recorte, em que se investiga as primeiras
reinterpretação dos espaços públicos com uma proposta
quadras na busca dos vazios e interstícios, por meio da
urbana que visa o incremento às atividades do centro,
morfologia
segundo
promovendo a sua verdadeira vocação. Utiliza-se
recorte, mais específico, é aplicado no Calçadão e em
estratégias de conexão dos espaços públicos existentes
seus espaços públicos imediatos para compreender
e a ideia de ampliação para dentro dos edifícios e lotes
como os interstícios serão conectados ao espaço
residuais, estabelecendo o espaço fluído.
urbana.
Posteriormente,
um
público.
24
Cria-se um roteiro de análise visual, o qual
Com isso, representa-se a transitoriedade Para o segundo recorte da área parte-se da
exigida pela formatação da sociedade contemporânea,
premissa da apropriação já existente nesses espaços
com a incorporação da Arte como elemento conector.
públicos, sendo o Calçadão o espaço mais pungente e
Ao associar as duas análises aponta-se estratégias para a
apropriado do Centro Principal. Ele esta no imaginário
criação do espaço fluído em dois momentos, a escala
urbano da população, marcado historicamente como o
urbana, com diretrizes gerais para à área de estudo; e a
meio das manifestações cotidianas.
escala do pedestre, com o aprofundamento de uma das
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
estratégias. Desenvolver
as programas
flexíveis
e
multifuncionais nos edifícios desocupados e propor a integração deste com o espaço público se torna o alvo desta pesquisa. Esmiuçar o espaço público, o interstício entre a vida pública e privada, o espaço “entre”. Aproximar os usuários a compreender a vivência,
celebrações
e
as
manifestações
culturais
acontecerem. Essas estratégias são apenas indicativos do que se observou na pesquisa. Ao adentrar no aprofundamento de uma das estratégias faz-se uma proposta de projeto urbano mais detalhado, com intenções projetuais, desenhos, símbolos e gráficos que são marcados pela fluidez socioespacial do Calçadão.
territorialidade e temporalidade sugere um desafio que
Liga-se,
dessa
forma,
todos
elementos
vai além de reforçar o centro. Alinha-se ao caminhar
investigados até o momento: espaço público, edifícios
linear da proposta de novos olhares para a área central.
desocupados, espaços residuais e a arte. É neste
As primeiras estratégias de promoção ao espaço fluído se desdobram em quatro eixos principais num plano setorial de ideias: coabitar, coexistir, compreender e comer. Verbos híbridos que transmitem uma vivência completa no centro e instigam os eventos,
panorama que convido o leitor a descobrir e atravessar o centro de Londrina. Disseminar a cultura é um ensaio à preservação da paisagem etnográfica4 e um resgate ao conceito
de
centro.
Plantar
cultura
para
colher
diversidade.
4
Hardesy (2000) apud Kanashiro (2006). Paisagem etnográfica refere-se ao sistema de significados, ideologias, crenças, valores e a visão do mundo compartilhada por um grupo de pessoas.
25
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
w
26
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
ANTE-ATO 2. REFLEXÕES DO AUTOR
2.1 ANTES DA CENA - OS ESPAÇOS PÚBLICOS DAS ÁREAS CENTRAIS NA CIDADE CONTEMPORÂNEA A conformação atual do centro se dá por uma série de transformações no espaço público, os quais se remetem, em primeiro plano a esfera pública, em que o centro se expressa como um elemento integrante e vivo da cidade. Segundo Hanna Arendt (2007), pode-se definir “público” de duas maneiras, a primeira como aquilo que tem maior alcance, ou seja, que pode ser entendido,
Antes de iniciar a descoberta dos espaços públicos no Centro Principal de Londrina faz-se reflexões do cenário dos espaços públicos das áreas centrais das cidades brasileiras, como um processo de entendimento do que se propor ou não num centro histórico. De forma breve, ilustra a justificativa para o problema questionado neste trabalho: novos olhares para as áreas centrais.
ouvido e visto pela maior parcela da sociedade e aquele que é comum a todos, no caso, o próprio mundo. Explicita que tentamos entender a diferença e os limites entre a esfera pública e privada dentro das diversas atividades
pertinentes
ao
mundo
comum
e
as
pertinentes à vida, aplicando isso nas ações ordinárias do cotidiano. O centro, a partir disso, se estabelece no
27
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
imaginário das pessoas como o espaço principal de todas as atividades, afinal foi nele que toda a cidade se desenrolou, o que elucida sua relevância na estrutura urbana. Em um segundo entendimento, Arendt mostra que numa evolução temporal, ascender-se na esfera social tornou-se um fenômeno relativamente novo, que não se enquadra nem na esfera pública, nem na privada, e tem origem política no Estado Nacional (ARENDT, 2007). Nesse sentido, a economia nacional dá espaço para a administração doméstica coletiva, em outras palavras, o que entendemos como Estado ou governo se transforma em administração pública. E a maneira como essa administração pública se conforma influencia em como o espaço público será produzido.
28
A opinião da era moderna acerca da esfera pública, após a espetacular promoção da sociedade à proeminência pública, foi expressa por Adam Smith (…) “essa desafortunada raça de homens chamados homens e de letras, para os quais a admiração pública é sempre parte da recompensa…, parte considerável da profissão médica; talvez parte ainda maior da profissão jurídica, e quase toda recompensa dos poetas e filósofos”. Nessas palavras fica evidente que a admiração pública e a recompensa monetária têm a mesa natureza e podem substituir uma à outra. A admiração pública é também algo a ser usado e consumido; e o status, como diríamos hoje, satisfaz uma necessidade como o alimento satisfaz a outra: a admiração pública é consumida pela vaidade individual assim como o alimento é consumido pela fome” (ARENDT, 2007 - p. 66)
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A partir do momento que a riqueza torna-se capital é que a propriedade privada perde seu caráter
máscaras e o espaço público, consequentemente, perde seu verdadeiro valor.
mundano e passa a ser individual. A particularidade principal da teoria política e econômica moderna, segundo Arendt (2007), é o foco que se coloca nas atividades em benefício aos donos de propriedades para a acumulo de riqueza. Nisso, o conceito de opinião pública abrange nos séculos XVII e XVIII com Hobbes, Locke e Rousseau, sendo a ideia da opinião do povo com base na tradição e bom senso, ou ainda da opinião que por meio da discussão crítica na esfera pública é purificada numa opinião expressa como verdadeira (HABERMAS, 1984).
Vivemos numa cidade em conflito, a qual reflete uma época de transição, é tensionada, interrogada e em crise. Este estado de emergência questiona a relação da sociedade e da cultura com o espaço urbano contemporâneo. As contradições da nossa sociedade acabam “conformando microgeografias” no espaço e criam “um cotidiano denso de novas conformações e formas de apropriação. “ (ALVES, 2014, p.478).
As mudanças político-econômicas que o mundo passou desde a década de 1980 provocaram
Se partimos para o campo ideológico de Marx,
encadeamentos na estrutura do espaço urbano. Nobre
temos a opinião pública como uma falsa consciência, ou
(2003) explicita que, de um lado a desregulamentação
seja, ela camufla seu verdadeiro caráter de disfarce ao
político-econômica propiciou o fluxo livre de capitais em
interesse da classe burguesa. A esfera pública, portanto,
diversas partes do mundo, de outro, causou a
contradiz seu ideal de acessibilidade universal (SERPA,
decadência econômica das antigas cidades industriais.
2007), onde a cidade contemporânea reproduz essas
29
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Cidades,
como
Detroit,
nos
Estados
Unidos,
se
transformaram em cidades fantasmas. Em
resposta,
a
Cacciari (2011), o território que habitamos se diferencia da consciência espacial de cidade.
contemporaneidade O que habitamos hoje, se perguntam os teóricos mais perspicazes. Habitamos cidades? Não, habitamos territórios [...]. Habitamos territórios indefinidos em que as funções se distribuem em seu interior, mais além de qualquer lógica que as programe, mais além de qualquer urbanismo. (CACCIARI, 2011, p. 41).
implementou uma reforma política urbana sob olhar financeiro, em que os governos locais favoreceram a atração de capitais e o mercado imobiliário. Os centros, neste momento, voltaram a ser atrativos, pois a infraestrutura de base já existia, e o lote, que antes era desvalorizado passou a ter destaque aos olhos do capital, e a partir disso propostas de revitalização atingiram grandes capitais, em que o foco era vender o centro como mercadoria. Os
processos
de
produção
da
cidade
contemporânea rebatem os novos valores sociais, políticos e espaciais do meio urbano e vão além da evolução temporal das cidades e do desenvolvimento da modernidade. Acabam por estimular novas abordagens da
morfologia
urbana,
dos
tecidos
sociais,
dos
comportamentos e das construções conceituais. Para
30
A relação da sociedade com seu passado não se limita ao âmbito temporal, abrange problemas sociais e locais, e isso gera conflitos e estranhamentos no espaço.
A consciência moderna tenta racionalizar o
modelo de espaço para entender o passado e acaba por se afastar dele. Dessa maneira, ao contrapor a natureza de incertezas da vida pós-moderna com o meio público, tende-se a encontrar uma maior socialização do espaço no passado. Para Pardo (2011, p.355), é o distanciamento
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
entre o passado e o presente que fortifica a certeza da
O centro na estrutura urbana relaciona-se aos
modernidade, e a experiência do passado como algo
atributos que o colocam como centralidade na cidade. Em
que não se deve ressurgir. Afirma sobre a cidade
primeiro plano o setor terciário transmite a ideia de
contemporânea:
centro, por conta da sua condição histórica, todavia isso Não poderia ser que isso de estarmos transitando para um novo paradigma seja o emblema genuíno de uma das principais experiências da modernidade, a experiência da transição, a experiência da transformação […] Porque, de alguma maneira, estamos instalados permanentemente na transição? [...] O que nos está sucedendo é que o paradigma em virtude do qual se construiu a cidade em sua configuração anterior já é um paradigma antiquado e inútil para que a cidade possa fazer frente a seus desafios de futuro e, sem dúvida, todavia não terminou de instalar-se o novo paradigma, esse que tornará a cidade finalmente apta para uma supervivência ágil e eficaz em um mundo que estará completamente transformado. “ (PARDO, 2011, p. 356357)
não
se
mostra
totalmente
profundo
para
uma
compreensão total (ZANON, 2014). Relaciona-se a uma convergência para com os outros bairros, em que a ligação estabelecida transforma essa região num espaço entendido como coletivo, para todos usufruírem (PARDO, 2011). Ou seja, não está atrelado somente ao comércio e serviço e sim a uma concentração de atividades e pessoas. É comum indicarem o centro das cidades brasileiras como decantes e esvaziados, por conta da incidência de um comércio mais ocasional e popular, uma menor incidência de atributos e investimentos do capital. Todavia essa errônea percepção se conforma numa má interpretação da realidade local como explicitado por Pardo (2011). A realidade é que o mecanismo de
31
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
“deterioração” do centro se constituiu em dissipar uma
geralmente deixados à deriva, enquanto as classes mais
Como o centro é uma área importante da metrópole, a classe dominante não pode assumir esse fato e precisa ocultá-lo, formulando uma versão que não comprometa sua posição de classe dominadora. (...). Ela veicula a versão das burguesias para explicar a degradação do centro causada por ela própria, mas que ela não pode admitir. (VILLAÇA, 2001, p. 344).
populares ocuparam um espaço que antes era destinado
Com isso, o centro carrega consigo um conflito
às elites detentoras do capital (VILLAÇA, 2009). Sendo o
de interesses dos conteúdos sociais da cidade. E quando
centro de uma cidade vital para controle e dominação do
se compreende que na cidade contemporânea outros
espaço urbano, tem-se, portanto, um espaço disputado.
centros começam a aparecer essa trama se torna cada vez
Dessa forma, a classe dominante cria a ideologia de
mais complexa. Ele é um ponto de embate socioespacial,
“deterioração” como pressuposto para intervenções e
onde há uma convergência de simbolismos, cotidianos e
renovações urbanas numa degradação causada por ela
experiências.
ideologia de rotulação de um espaço decante, mas que na verdade está ocupado por um conteúdo social diferente da classe dominante (VILAÇA, 2009). Edifícios e espaços históricos no centro foram
mesma.
Os espaços públicos das áreas centrais nesse O processo rotulado de “deterioração” pela ideia dominante refere-se ao estado de quase ruína em que são deixados muitos edifícios dos centros tradicionais, em virtude de seu abandono pelas camadas da alta renda, que produziram novos centros.
32
sentido se tornam importantes catalisadores da cidade, pois são vistos como os geradores da identidade comum a toda a população, tendo, portanto, uma vocação socializadora. Além disso, entende-se que os espaços
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
públicos do centro são uma mistura de vários retalhos: lembranças,
memórias,
e
tornaram-se uma espécie de propaganda para o
ludicidade. Alves (2014) indaga pontos pertinentes das
governo, em busca de visibilidade e reconhecimento
transformações
cidade
(ALVES, 2014). O atual processo de produção do espaço
contemporânea que justificam o novo olhar que o projeto
público na cidade contemporânea desenrola-se de
urbano visa estabelecer, da relação com o poder público
maneira extremista e inédita, como sua extensão, tanto
e o “novo” urbanismo empregado.
no sentido de amplitude quanto de seus limites, em que
do
afeições,
espaço
monumentos
Com isso, vemos que as requalificações
público
na
se vê o surgimento de uma administração que acaba por Fala-se de uma outra cidade, de “novas” formas de produção do urbano, de seu empresariamento, mas em relação ao que? Que parâmetros empíricos ou temporais, que processos de urbanização, que mecanismos de cooptação e que circuitos de circulação de capital se inserem nessa “nova cidade, nesse novo urbano”? O que de fato é novo? Trata-se efetivamente de novas formas de produção da cidade, ou falamos do aprofundamento de práticas historicamente alicerçadas em nossa sociedade? (ALVES, 2014, p. 481)
seguir um modelo empresarial. Fato que propicia modificações nas características do espaço público, uma vez que preza por resultados práticos, momentâneos e econômicos que vão em detrimento à memória histórica e ao patrimonial local. A naturalização desta vontade se enraíza no imaginário urbano e é neste momento que se perde a sensibilidade da vivência cotidiana do espaço. A partir destas condutas urbanas, vemos ultrapassar as barreiras do bem-estar coletivo para atingir novos padrões, cada vez mais individualistas. Dessa
33
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
forma, há uma mercantilização da paisagem urbana ao consumo imediato (ALVES, 2014). Os
governos
apoiaram
O consumo estabelece-se de forma estrutural na cidade pós-moderna e segue como a lógica
um
tipo
de
empregada. O processo de produção do espaço urbano
planejamento para reverter a decadência econômica. A
principalmente no centro, portanto, submete a formação
cidade se abriu como um produto, visitado e vendido por
de sua paisagem ao impacto das políticas neoliberais
meio de métodos publicitários e os centros, que antes
mundiais.
eram vistos erroneamente como esvaziados, tornaram-se
espaços públicos que influenciam a ocupação passiva,
alvo do mercado (ALVES, 2014). Neste processo, tem-se
reforçando
os beneficiários, os proprietários de terra, os turistas e os
funcionalidade econômica do território (MUÑOZ, 2008),
empreendedores, enquanto as reais necessidades da
paisagens que se afastam da cultural local e da
cidade, como moradia, saúde e educação não são
permanência do tecido urbano. A transitoriedade do
atendidas.
espaço, como afirma Bauman (1999) e Pardo (2011)
(ALVES, 2014). Nota-se a produção de
paisagens
aterritoriais
ditadas
pela
sobre o paradigma da sociedade atual, acaba não sendo Reforçar a imagem da cidade através da organização de espaços urbanos espetaculares tornou-se um meio de atrair capital e pessoas (do tipo certo) num período (desde 1973) de competição interurbana intensificada e de empresariamento urbano (HARVEY, 1989, p. 92)
respeitada, é corrompida pelos setores financeiros e poder público. A estruturação do processo urbano submetida ao sistema financeiro é uma tendência tida como mundial, uma vez que se responde mais a vontade de acumulação de mercadorias que as necessidades humanas no tempo e na vida cotidiana (SERPA, 2007).
34
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
O centro, por ser porção da malha urbana da
o Estado e capital na produção do espaço. Desta maneira
cidade com maior tendência aos aspectos históricos,
constata-se uma contradição com o cotidiano das
além de possuir espaços públicos que historicamente
pessoas que vivenciam a cidade, seguindo os interesses
garantem um mínimo de qualidade, acabam por sofrer
para aumentar o ciclo do consumo de mercadorias.
mais um tratamento de mercadoria que como parte da vida da cidade, como defende Manuel Rodrigues Alves (2014):
Foster (2003) encara essa mudança da imagem da paisagem urbana como uma financeirização da cidade. A financeirização, a qual denota tratar a cidade
Assistimos aos excessos, reduções e equívocos de um urbanismo que, ainda que com uma nova roupagem, permanece promovendo a segregação funcional e socioespacial, bem como pauta a “sustentabilidade” do meio ambiente urbano na definição de uma nova mercadoria de consumo: a cidade contemporânea (ALVES, 2014, p. 489).
O urbano encontra-se prisioneiro da nova dinâmica entre o poder político e os setores financeiros (ALVES, 2014), em que esse novo processo produtivo,
de forma empresarial, marca as atuais práticas urbanas em áreas centrais históricas no Brasil, como a do no Recife antigo, do Porto Maravilha no Rio de Janeiro ou a no
Pelourinho
em
Salvador.
A
estrutura
dessas
intervenções coloca a cultura como mercadoria, em que o turismo tem foco em usuários específicos e não nas especialidades locais, se ignora o valor do patrimônio cultural e da identidade local, em que as apropriações fogem das práticas cotidianas e dão espaço para uma reconfiguração territorial em atividades específicas.
globalizado, prevê medidas econômicas e políticas entre
35
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Nas
ultimas
décadas,
os
processos
de
para área. Influenciada pela arquitetura vernacular
promoção do espaço público têm se caracterizado por
brasileira, pelo folclore e arte popular baiana, Lina, em
incorporar a cultura como conteúdo diferenciador nos
seu projeto, resolveu preservar e reforçar as raízes da
métodos de qualificação, o que se torna benéfico ao
cultural popular.
avaliar que as manifestações artísticas geram uma memória afetiva coletiva com o espaço. No entanto, deve-se atentar as peculiaridades de cada região, pois a não apreensão e/ou compreensão do patrimônio histórico, das tradições locais e da cultura popular, podem acarretar numa comercialização da área, em que esses elementos se transformam em mercadorias altamente valorizadas no mundo contemporâneo.
1986
a
1989
desenvolveu
diversas
propostas com essa preocupação, como o Belvedere da Sé, o Complexo da Barroquinha (misto de pequenos cinemas, teatros, cafés, igreja e habitação social), Casa do Benin (representação cultural, museu e restaurante), Casa do Olodum, Fundação Pierre Verger e a Ladeira da Misericórdia, projeto piloto do plano de Lina (NOBRE, 2003). Um associado de casarões deteriorados que
O centro histórico de Salvador exemplifica de
seriam restaurados para uso residencial da população de
maneira completa a consideração acima. Considerado
baixa renda local, e uso comerciais nos térreos, uma
Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1985
tentativa
(NOBRE, 2003), o Pelourinho sofreu pressão para
privilegiados (FERRAZ, 2008).
restauro e intervenção, em que a arquiteta e urbanista Lina Bo Bardi desenvolveu um projeto de reabilitação
36
De
de
não
expulsão
dos
grupos
menos
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Apesar de toda preocupação da arquiteta e urbanista com a diversidade de atividades, usos e sociais,
Figura 02 - Planta da cidade de Salvador (parcial) indicando limite do parque histórico e tipo de pavimentação. Planta de ocupação e estado de conservação dos imóveis, 1986.
a proposta de reabilitação mudou de direção quando o Governo do Estado da Bahia decidiu intervir juntamente, com visão no potencial turístico. Com tal intervenção, o Estado lança um termo de preservação histórica e diversas obras públicas de infraestrutura e recuperação dos edifícios. Após restauro, os sobrados tiveram usos estabelecidos para o desenvolvimento do turismo em geral, com estratégia de promoção econômica, em que a maioria dos imóveis se conformou em uso comercial, tendo pouca permanência residencial (NOBRE, 2003). Figura 01 -Planta do banco de ferro/ Perspectiva do banco de ferro para Hotel no Pelourinho, abril de 1988.
FONTE: Instituto Lina Bo Bardi, 2018.
FONTE: Instituto Lina Bo Bardi, 2018. Modificada pelo autor.
37
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
A maioria da população local foi realocada, recebendo
uma
compensação
financeira,
o
que
centro, como elemento pulsante de atividades, é
promoveu uma higienização da área, segundo Nobre
vinculado
(2003) e uma diminuição da população residente no
acumulação, e a experiência cotidiana do coletivo ao
Centro Histórico e arredores.
individual, que no imaginário urbano é o que mais
A cidade contemporânea deixou de ser um testemunho cultural, a arquitetura deixou de ser pensada na criação de um espaço de habitação. (...) criam-se abrigos, não testemunhos culturais. (BRISSAC, 1996, p.257).
às
lógicas
do
capitalismo
tardio
de
deveria importar, reflete o consumo (ALVES, 2014). O papel do arquiteto e urbanista vai além das estruturas arquitetônicas, ele expande a criação de experiências espaciais à formação das cidades. A
A partir dessa premissa de substituição de
maneira de produzir o espaço urbano na atualidade
populações, o espaço urbano tornou-se uma mercadoria
engloba desigualdades sociais gritantes, repercutindo
legítima, tendo um sentido contraditório de urbanidade,
cada vez mais a exclusão.
condicionado por técnicas do capitalismo que as
38
O território urbano, desta forma, em especial o
Com o crescimento econômico do Brasil,
relações sociais dão mais preferência ao fluxo que a
combinado
permanência. Alves (2014) vê tal contradição nas práticas
internacionais, nota-se a espoliação do espaço público
neoliberais de privatização do espaço e segregação
em benefício das grandes construtoras. Grandes eventos
sócio espacial, que prevê um movimento de valorização,
como a Copa do Mundo sediada no Brasil em 2014, por
desvalorização e revalorização dos espaços da cidade.
exemplo, demonstram o favorecimento dos setores
às
corrupções
e
aos
investimentos
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
privados, com a flexibilização de leis para implementar
Portanto, se o espaço da cidade é o produto
obras que fogem da ideia de atender o coletivo e apenas
das dinâmicas sociais, e os centros históricos a maior
garantem lucro para as empreiteiras (CAMPELL, 2015).
definição de tempo dentro da cidade contemporânea,
Dessa maneira, os espaços de convivência da cidade se encontram cada vez mais sucateados, rios,
temos a produção de novas territorialidades e formas de se socializar neste sistema econômico e produtivo.
praças, parques e casas históricas se convertem aos interesses do capital. Bairros inteiros são afetados com a especulação em projetos de ‘revitalização’, em que o aumento dos aluguéis acaba por banir as populações de suas casas. O centro, neste caso, se torna alvo das vontades momentâneas e de planos de qualificação que
A atual “bolha” que perpetua exige novas interpretações
e
espaciais,
que
em
ressignificações a
proposta
de
socioculturais trabalhar
a
transitoriedade e a flexibilidade como elementos socializadores sejam uma alternativa.
ofuscam a memória e história, produzindo novas arquiteturas
focadas
na
espetacularização
e
comercialização dos espaços. Muitas responsabilidade
dessas do
ações
próprio
urbanas Estado,
são que
de atua
politicamente na produção do espaço de forma a beneficiar a especulação imobiliária e os interesses do setor financeiro.
39
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
w
40
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
PRIMEIRO ATO 3. A TRANSITORIEDADE DO ESPAÇO
A segunda cena, engloba as apropriações culturais nos espaços públicos, a qual promove a relação direta entre a abordagem definida no trabalho: arte e cidade. Para isso, disserta-se no âmbito da arte como um elemento catalisador no espaço público.
3.1. CENA 01 – A FLUIDEZ SOCIO-ESPACIAL Bauman (1999) caracteriza a fase pós-moderna como como um “tempo líquido”, em que utiliza a fluidez como metáfora para traduzir a modernidade e suas
O Primeiro Ato explicita a fundamentação
relações líquidas. Exprime que os líquidos comparados
téorica de base para o problema abordado no trabalho e
aos sólidos são flexíveis e volúveis. Nesse sentido, a
a metodologia de análise. Divide-se em duas cenas, a
fluidez é sua qualidade particular e os distingue dos
primeira demonstra a perda da noção de Público da
corpos brutos: sempre que são atingidas por uma força
sociedade contemporânea e o surgimento do espaço
tangencial sofrem uma constante mudança de forma. Os
fluído. Pauta-se na influência dos paradigmas sociais no
fluidos, portanto, não mantêm uma forma específica com
espaço para compreensão dessa fluidez.
facilidade.
41
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Os fluídos não fixam o espaço nem prendem o tempo. Enquanto os sólidos têm dimensões espaciais claras, mas neutralizam o impacto e, portanto, diminuem a significação do tempo (resistem efetivamente a seu fluxo ou o tornam irrelevante), os fluidos não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e propensos) a mudá-la. (BAUMAN, 1999, p. 8.)
Bauman (1999) explicita que a modernidade está tendo sua força de derretimento realocada e distribuída. Todos os padrões de relacionamento que pressupõe alguma dependência foram colocados na malha de derretimento: ou seja, aos poucos, vão sendo esfaceladas (BAUMAN, 1999). O resultado dessa falta de referências é a impossibilidade de se guiar seguramente ao longo da vida: sem pontos de orientação seguros, passa a ser tarefa individual encontrar um caminho para seguir e arcar com as possibilidades do fracasso (ALIPRANDI, 2010).). Nesse sentido, o individualismo
42
exagerado atinge as estruturas sociais e se enraiza nas mais diversas camadas, inclusive na relação com o espaço público. A liquefação das relações, expressa por Bauman (1999),
não
significa
necessariamente
atingir
uma
liberdade para os agentes sociais, como se fossem capazes de construir suas vidas sem interferência de outros. As
pessoas
ainda
são
dependentes
da
sociedade de uma maneira geral, o que realmente foi transformado está no âmbito da experiência das pessoas dentro da sociedade, já que grupos de referência perderam força e se passou a viver numa esfera isolada de comparação,
em
que
a
responsabilidade
da
autoconstrução, da criação de si próprio, está sempre em primeiro plano. Associado as pressões de privatização e a mistificação da vida em público feita pelo capitalismo, o processo de individualização da sociedade se intensifica e
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
o que as pessoas apresentam de si mesmas para o público
individualismo, a sociedade interage no espaço público
não
como um espaço para si e não como um espaço mútuo.
necessariamente
condizem
com
a
realidade
(ALIPRANDI, 2010). Com essa perda de confiança, os
O
espaço
público,
nesse
sentido,
se
cidadãos passaram a desconfiar do que é apresentado em
transforma no local das relações econômicas de mercado,
público, e, consequentemente, se refugiar na vida
fortalecido pela ideologia do consumo de bens imediatos,
privada, lhe atribuindo uma falsa sensação de proteção.
que garantem o status urbano de indivíduos e grupos.
A partir da visão dessa modernidade privada e
Dessa forma, a esfera pública torna-se a “esfera social”
individual, nota-se a perda da noção de Público da
(ALIPRANDI,
sociedade contemporânea e, consequentemente, de
QUEIROGA, 2001; QUEIROGA; BENFATTI, 2007).
como se inserir num espaço público. Percebe-se, em
2010
apud.
AKAMINE
et
al,
2009;
A priorização das questões privadas transmite
dessa
a sensação de um processo de diluição espacial das
compreensão está muito relacionada a questão de posse.
esferas público e privado. Dessa maneira, o espaço
Como expressa Bauman (1999), a vida em
fluído atinge o patamar dos espaços intersticiais que
comunidade torna-se rara e é vista pelos demais como
caminham entre ambas as esferas, aqueles que tem-se
insegura, pois a sociedade individualista teme o próximo
dificuldade de nomear como público ou privado, são
que não compartilhe com os mesmos objetivos ou siga as
espaços fluídos.
ações
cotidianas,
que
a
dificuldade
social
mesmas regras de comportamento, e dessa forma, exclui
Espaços fluídos são adaptáveis e flexíveis.
os que não seguem determinado perfil. E em nome nesse
Geralmente tornam-se atraentes no meio urbano por
43
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
acompanharem a escala do pedestre, o nível da rua e
enquadra-se na via direta entre ambas as esferas
permitir novos caminhos, atalhos e encontros.
(KARSSENBERG, 2012).
Enriquecem e complementam as atividades
Um prédio pode não ser atrativo, porém, com
existentes no entorno e no espaço público ao incentivar
um plinth vibrante, a experiência pode ser positiva. E no
uma interação e movimentação antes não existente
sentindo inverso também é possível: um prédio pode ser
(GHEL, 2010). Dessa forma, investir nesses espaços
muito atrativo, porém se o andar térreo é um muro cego,
fluídos torna-se uma estratégia de tradução da vigente
a
modernidade líquida, do paradigma de interação -
(KARSSENBERG, LAVEN, GLASER, VAN’T HOFF, 2012).
pessoas e espaços públicos.
Nesse sentido, o plinth pode representar um espaço
Uma das estratégias físicas de entender a
na
rua
não
será
satisfatória
fluído ao incorporar elementos do espaço público.
fluidez espacial que tramita entre o espaço público e
Segundo Laven e Karssenberg (2012) o plinth
privado é o conceito de Plinth. Um plinth é o andar
é um ponto fulcral na experiência e atratividade do
térreo de um prédio, a parte que esta em contato direto
espaço urbano, seja em áreas residenciais ou comerciais.
o espaço público. É um espaço privilegiado e crucial ao
Ainda afirmam, no livro Cidade ao Nível dos Olhos, de
nível dos olhos (KARSSENBERG, LAVEN, 2012).
2012, que se o destino é seguro, limpo, relaxado e fácil
A população vivencia a esfera pública, a qual
de compreender, e se os usuários percorrem com suas
vai além do espaço público, inclui fachadas de prédios e
expectativas atendidas ou excedidas, permanecerão três
tudo que pode ser visto na escala do pedestre. Com isso,
vezes mais tempo que numa estrutura apática e confusa.
o plinth é uma porção fundamental do edifício, pois
44
experiência
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
O Departamento de Planejamento Urbano e Assuntos Econômicos da Cidade de Roterdã (2012) revelou que para desenvolver bons plinths é necessário pesquisar em três escalas: prédio, rua e contexto. E ainda ressalta que os níveis não podem ser separados um do outro, eles interagem entre si. Um prédio individual pode ser bem desenhado (de uma perspectiva da rua), porém se o restante da rua tem fachadas cegas, ele não funcionará sozinho. Uma rua pode ser maravilhosa, porém se não está conectada aos fluxos principais no centro urbano, terá mais dificuldade de funcionar (KASSENBERG, LAVEN, 2012, p.24).
Figura 03 - Critérios para bons plinths: contexto, rua e prédio. Cidade de Roterdã. FONTE: Livro A cidade ao nível dos olhos, 2015.
45
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
w
_O prédio: Unidades de pequena escala Variedade de funções Caráter especial de arquitetura Riqueza de material Orientação vertical da fachada Uma zona híbrida funcionando bem Sinalização apropriada Flexibilidade na altura Flexibilidade no plano de uso e ocupação
_O contexto Público orientado ao plinth Programa urbano especial ou um conjunto especial ou funções criativas Boas conexões com a rede de praças e parques Desenho urbano coerente Uma boa posição no tecido urbano e nas rotas urbanas para pedestres e ciclistas Fonte: (KASSENBERG, LAVEN, 2012).
Fonte: (KASSENBERG, LAVEN, 2012).
_A rua: Passear nela é prazeroso Conforto físico - vento, som, sol, sombra, manutenção Variação de prédios Qualidade que capta o olho Boa cobertura de árvores Possibilidades de sentar Densidade Fonte: (KASSENBERG, LAVEN, 2012).
46
Neste contexto, os andares térreos dos prédios são importantes e servem a muitos propósitos, principalmente Centro Principal, onde temos uma diversidade de usos, uma temporalidade de edifícios, de estilos arquitetônicos, e ainda o fato de estar associado a espaços públicos com qualidade espacial e memória afetiva. Dessa maneira, a diversidade funcional é extremamente
relevante
para
estimular
diferentes
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
horários de permanência e uma heterogeneidade de conteúdo social. A
frente
As fachadas do andar térreo são locais atraentes também para usuários urbanos que não vivem
ou
a
fachada
da
entrada
é
nos prédios. O ‘efeito borda’ refere-se à preferência de
especialmente significativa, particularmente em prédios
pessoas por ficar às bordas do espaço, onde a sua
nos quais a fachada faz frente para a rua e para a calçada.
presença é mais discreta e onde elas dispõem de uma
De modo geral, encontros imediatos com prédios podem
vista particularmente boa do espaço. Bordas e zonas de
ser valiosos em fomentar a socialização (GEHL, KAEFER,
transição entre os prédios e os espaços urbanos se tornam
REIGSTAD, 2006).
o espaço natural para uma ampla variedade de atividades Andar ao longo dos prédios. O movimento pode ser paralelo aos prédios: pessoas andam ao lado ou ao longo. O movimento pode acontecer também em ângulos perpendiculares à fachada. Pessoas chegam e vão, se aproximam, entram e saem. De pé, sentado ou ocupado com atividades do lado dos prédios. Habitantes e usuários saem ou estão na entrada para um intervalo. Cadeiras e mesas estão colocadas ao longo da fachada onde o acesso é fácil, onde as costas dos que estão sentados são protegidas e onde há o melhor clima.
potenciais que ligam funções interiores com a vida na rua (GEHL, KAEFER, REIGSTAD, 2006). Segundo Jacobs (1993) enxergar o interior e o exterior de prédios conecta visualmente atividades. O contato visual dos pedestres é próximo e pessoal, transmite o ritmo das experiências pedonal, o que torna importante o número, forma e materialidade de portas, janelas, recuos, colunas, detalhes das vitrines, mobiliário, letreiros das lojas e ambientação das decorações.
(GEHL, Jan, 2006, p.30).
47
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Enquanto a percepção do espaço público
Figura 04 - Escala e ritmo. Arquitetura à 5 quilômetros por hora.
depende do ponto de vista e distância, a rapidez com que nos movemos torna-se crucial. Os nossos sentidos são desenhados para perceber e processar impressões sensoriais andando a mais ou menos 5 km por hora: ritmo de passeio. A arquitetura que incorpora detalhes de 5 km/hora combina o melhor de dois mundos: um vislumbre de edifícios que são marcos ou da paisagem distante e o contato próximo com as fachadas do andar térreo (GEHL, KAEFER, REIGSTAD, 2006). Figura 05 - Plinths convidativos com bolsões de estar.
FONTE: Livro A cidade ao nível dos olhos, 2015. Modificada pelo autor.
Segundo Gehl (2010), as fachadas do andar IMAGEM
térreo impactam a vida pública. As fachadas ativas propagam o andar mais devagar aos pedestres, o ponto de parada, encontro e descanso. Mais atividades acontecem por segmento da rua, e segundo dados do próprio autor, fachadas ativas aumentam o número de paradas em até sete vezes quando comparadas a
FONTE: Tactical Urbanisms for Expanding Megacities, 2015.
48
fachadas passivas.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Dessa maneira, fachadas ativas e a utilização de elementos que enriqueçam e fomentem o uso térreo
3.1.1. O Direito à cidade, o direito ao centro
dos edifícios auxiliam na transitoriedade espacial e na sua
No campo filosófico, segundo Lefebvre (2010),
fluidez. Ativam o meio urbano, incrementam as atividades
a compreensão da cidade se divide em três períodos. Em
do entorno e o aspecto socializador do espaço público.
primeiro plano, a cidade como um todo, seu território, cosmo e mundo. Em segundo, ela vai além de seus limites e propõe uma reflexão sobre a história, a sociedade e Estado, onde se relaciona ao espaço. E em terceiro, se conforma na via prática, em que a reflexão se racionaliza e se transforma em prática urbana. Por meio desta prerrogativa, explicitar um direito ao centro não está apenas na vontade de trazer uma maior flexibilidade, ampliando e qualificando fisicamente seus espaços, mas também em trazê-los para a vivência do usuário. Refletindo dessa maneira, se adentrarmos o espaço público nos lotes, podemos estimular um choque entre o espaço público e privado, em que o reuso dos edifícios que não cumprem sua função social podem agir
49
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
como entremeio. Ou seja, usar o interstício como forma
questiona a visão administrativa da cidade como
de conexão da população da cidade com o centro por
produção do espaço, em que o direito à cidade não está
meio dos elementos que já estão ali presentes. Entende-
ligado somente ao desfrute dos bens urbanos. Trata-se
se interstício como uma conexão físico-espacial por meio
do controle da própria sociedade, democraticamente,
do vazio. Espaços que reforcem a vivência das pessoas e
sobre as maneiras de viver dentro do espaço, ou seja, o
estabeleçam relações que fomentem o imaginário
direito de conceber modos de vida urbana que atendam
urbano.
a todos, de forma coletiva ou individual. Idealiza um meio A ciência da cidade toma como objeto ela
mesma, recolhe métodos e conceitos de outras ciências
Ressalta ainda que este direito não se conecta
e se depara com a necessidade de recuperar a cidade
apenas a busca de uma vida mais digna dentro do
histórica e de, concomitantemente, se atualizar. O
sistema capitalista, mas sim na formação de outro estilo
urbano, atualmente, persiste imaterializado, atrelado a
de sociedade, em que a lógica de produção do espaço
valores alienados, o que reflete no fato da cidade
esteja associada ao uso e não à aquisição (LEFEBVRE,
histórica não ser mais apreendida (LEFEBVRE, 2010, p.
2010).
106). A cidade tornou-se um objeto de consumo cultural para turistas, um palco para o capitalismo desenvolver-se espacialmente e, nesse contexto, se manifesta o direito à cidade. Nesse viés, Lefebvre (2010)
50
em que a comunidade possa se manifestar livremente.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
O direito à cidade se manifesta como forma superior dos direitos: direito à liberdade, à individualização na socialização, ao habitat e ao habitar. O direito à obra (atividade participante) e o direito à apropriação (bem distinto do direito à propriedade) estão implicados no direito à cidade. (LEFEBVRE, 2010, p. 134)
Desta maneira, não se deve valorizar o crescimento econômico pelo crescimento associado ao olhar “economista” que disfarça a exploração capitalista em benefício do Estado. Manter um equilíbrio, com um crescimento harmônico e a manutenção das estruturas econômicas sob o olhar do desenvolvimento (LEFEBVRE, 2010), ou seja, orientar o crescimento. Por meio desta prerrogativa, Lefebvre (2010) elucida
que
o
liberalismo,
a
planificação
estatal
centralizada e a ideologia economista – também conhecidas como democráticas – caem por terra. Orientar o crescimento para o desenvolvimento, com isso, é
descobrir e salientar novas necessidades mesmo que elas ainda não existam. Aliado ao pensamento de Lefebvre, Serpa (2007) elucida que é necessário imaginar o futuro sob outras bases, o que pressupõe também o deslocamento de nossas preocupações analíticas da esfera da produção para a esfera de reprodução da vida cotidiana, em que as imagens poéticas podem aflorar, por exemplo, nas relações entre seres humanos e os locais onde habitam e vivem seu cotidiano, aparentemente banal e corriqueiro, o famigerado espaço público (SERPA, 2007). A teoria da sociedade urbana contemporânea pode
se
estabelecer,
em
duas
hipóteses:
a
sistematização filosófica e a sistematização parcelar, ou seja, o olhar por meio da “disciplina” ou da pesquisa “interdisciplinar” (LEFEBVRE, 2010). Ao relacionar os elementos teóricos analíticos da realidade urbana, como os jogos de ações políticas, com os elementos da filosofia, que buscam novos
51
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
olhares, perspectivas e transformam a função em
de fio conector. Desta maneira, entender a arte como
execução surge o elemento arte (LEFEBVRE, 2010).
método
Concebido sobre forma de expressão, tem a capacidade de transformar a realidade ao se apropriar do cotidiano, do tempo, do espaço, do corpo e do desejo.
da
sociedade
é
criar
novas
perspectivas para o espaço, no ensaio de uma sociedade mais crítica e menos alienada. A arte como elemento catalisador a proveito do meio urbano contribui na produção dos espaços
A
nova
sociedade
urbana
supera
em
livres, onde há uma experiência urbana: a arte de viver a
problemas à antiga devido sua a conformação atual e
cidade como obra de arte. Dessa maneira, a produção
exige olhares diferenciados. Com isso, Lefebvre (2010)
artística prepara para as “estruturas de encantamento” da
incita a prospecção e perspectiva do espaço como
cidade (CAMPBELL, 2015), propicia ao público o
método evolutivo. Sugere o olhar para o passado,
encontro, a pausa, o choque.
compreender a história, para enfrentar o presente.
Nesse sentido, a cultura, não explorada
Lefebvre (2010) aponta a prospecção como o
etimologicamente neste tópico, se apresenta inerente ao
retorno ao passado, ponto anterior, para a compreensão
espaço. Nessa relação, tem-se o espaço lúdico, ou seja,
do presente, ponto atual. E a perspectiva de modo
o cotidiano. No arcabouço teórico de Lefebvre (2010) o
inverso, a percepção do presente para a compreensão
elemento lúdico se torna inerente a uma vida social
do passado.
densa. Termo que vai além do explorado, como um
A arte, ao tramitar entre períodos, espaço e tempo (PALLAMIN, 2000), pode se tornar uma espécie
52
evolutivo
cinema, teatro ou esporte, por exemplo. Entra no universo local, da vivência e da troca de experiências.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A atual sociedade contemporânea, na criação
lúdico não se relaciona somente ao lazer, pois o lazer é
de seus espaços lúdicos reafirmou-se em volta do
um prazer que busca ser compensatório por meio da
consumo, em que a arte teve uma redução de sua
fuga das atividades de rotina.
expressão e manifestação cultural e deu abertura às mercadorias. Os “centros de lazer” e os “locais de férias” reafirmam-se como uma modalidade para atender aquisição, e com isso, há perda das significações locais e da experiência cotidiana (LEFEBVRE, 2010). Quando se compreende o espaço urbano como algo socialmente produzido pelas relações sociais, ou seja, resultado das práticas coletivas, grupos e classes, tem-se uma qualidade da democracia urbana (LEFEBVRE, 2010). Lefebvre (2010) ainda acrescenta que o urbanismo pretende não sintetizar o urbano como um funcionalismo mecânico, é preciso perceber que o aspecto lúdico é um ponto crucial na sociabilidade e, portanto, é uma dimensão em que a população se desenvolve mediante a sociabilização. O momento
O jogo possui uma espécie de onipresença vital, ligada às manifestações originárias da espontaneidade e da sociabilidade. Este não é nada menos do que uma dimensão da vida: a dimensão poética. (LEFEBVRE, 2010, p. 191).
O jogo, explicitado na citação acima, não se aproxima do trabalho abstrato no regime capitalista de produção, em que as tarefas têm como finalidade o de acúmulo de capital. O jogo é uma prática na qual as faculdades intelectuais, sensoriais, afetivas e sociais interagem sem a dominação de uma delas sobre as outras. E por romperem tais fragmentações e refazer mediações entre estas faculdades, as interações lúdicas tem seus fins e funções, ou seja, a produção de espaços, a
53
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
constituição
de
vínculos
afetivos,
a
liberação
da
técnica e avançada pode alcançar ao investir na ludicidade
sociabilidade e da imaginação criativa, uma verdadeira
e encontros e atividades participativas, em que o espaço
vocação na formação dos indivíduos.
público se torna o maior mentor dessas apropriações.
A imagem usada, portanto, é comparada a da poesia. Ao trazer para o urbanismo, compreende-se a dimensão lúdica na ligação do espaço urbano com a criatividade, como ruas, praças, edifícios influenciarem a imaginação e a interação entre os usuários, fazendo com que eles não sejam isolados, estejam em choque, encontrem-se, apropriem-se. A rua retira as pessoas do isolamento e da insociabilidade. Teatro espontâneo, terreno dos jogos sem regras precisas e ainda mais interessantes, lugar de encontros e das solicitações múltiplas – materiais, culturais, espirituais – a rua se revela indispensável (LEFEBVRE, 2010, p.192).
A visão de Lefebvre (2010) emprega uma crítica a tendência unilateral dos avanços tecnológicos e expressa o ramo de possibilidades que a sociedade
54
Num modelo lefebvriano o significado do urbano não surge de estruturas econômicas objetivas, mas do uso da cidade na sua vida cotidiana. (DEUTSCHE, 1991, p. 56)
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
tornar um lugar, entende-se lugar como um espaço com
3.1.2. As apropriações no “entre” Os espaços vazios numa malha urbana marcam pontos de respiro e socialização na cidade, entende-se
esses
como
espaços
públicos
vazios,
necessários para a formação da cidade. Camillo Sitte (1992) elucida a importância destes vazios e salienta também
sua
preocupação
com
a
excessiva
regulamentação do espaço urbano, a qual reflete na produção dos mesmos. O vazio, neste caso, como expressão do traçado da cidade, marca o espaço urbano e anuncia a história naquele local, tornando-se importante para a
significado. E o ganho, como ausência que preenche o espaço, no caso o espaço vago definido por Solà Morales (2002) – terrain vague. O termo incita uma ideia de obsolescência (SOLÁ MORALES, 2002), que pode ser associado aos edifícios desocupados. Os espaços vazios podem ser, portanto, o palco para os encontros da vida urbana, o qual promete ser o espaço da experiência, expectativa e se anuncia como futuro lugar (SOLÁ MORALES, 2002). A arte necessita desse vazio do encontra da vida urbana para se exprimir como manifestação.
memória coletiva da cidade. O vazio como elemento encarna uma oposição de conceitos, entre perdas e ganhos que pode acarretar (SOLÁ MORALES, 2002). A perda, relacionada com o vazio sem entusiasmo, vida ou presença, ou seja, aquele que nada define como espaço e que não tem perspectivas de se
55
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
A noção de terrain, com a de vague, contém ao mesmo tempo a ambiguidade e a multiplicidade de significados que fazem desta expressão um termo especialmente útil para designar esta categoria urbana com que nos aproximamos dos lugares, territórios ou edifícios que participam de uma dupla condição. [Significa] uma área disponível, cheia de expectativas, de forte memória urbana, com potencial original: o espaço do possível, o espaço do futuro. (SOLÁ MORALES, 2002, p. 126). Figura 06 - Ilustração Metrópolis, destaca diversas capitais, como Paris, Berlim, Tóquio, Nova York, Milão, em que se faz uma alusão ao conceito de Terrain Vague.
É nesse sentido que o espaço “entre” se aproxima como busca deste estudo, pois permeia entre a esfera pública e privada e se torna o interstício conector entre o indivíduo e o meio urbano. Traçar as fronteiras entre o público e o privado torna-se uma preocupação à medida
que
ambos
são
fundamentais
para
o
que
as
entendimento mútuo. Daniel transformações
Innerarity da
vida
(2006) urbana
explica e
as
crescentes
modificações da vida privada revolucionaram a distinção entre o público e o privado, pois, segundo ele, estamos num contínuo paradoxo de privatização do espaço público e politização do espaço privado. Ou seja, o espaço íntimo não se conforma mais por meio do espaço público, a ludicidade é procurada nos espaços individuais, como explicitado por Pardo (2011): estamos na transição.
imagem
56
Somando isso a tecnologia, a qual possui a FONTE: Paul Citröen, 1923.
capacidade de inserção do espaço virtual via direta,
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
entramos num espaço privado totalmente individual, onde o espaço público é deixado a deriva.
O espaço público pode ser um ponto essencial na relação entre a preservação arquitetônica e no
A experiência e uso do espaço público nesse sentido depende do sentimento de segurança que o local
emprego
de
certas
políticas
econômicas
de
desenvolvimento (MONTEIRO, 2015).
transmite. Com isso surge a necessidade de interligar os
Entende-se cada espaço público, com forma,
espaços públicos e todos os elementos da cidade – ruas e
funções e dimensões diferentes, como resultado de
edifícios
“fragmentos” de memórias da cidade ou de espaços
-
numa
rede
de
percursos
abrangente
novos que foram criados por intermédio de intervenções
(INNERARITY, 2006). Bruno Zevi (2002) também remete para a
recentes (MONTEIRO, 2015). Dessa forma, constituirão
questão do espaço vazio, mas com uma perspectiva mais
referências na cidade e no seu futuro, contemplando,
sensível e poética, transmite a ideia de cidade como
portanto, uma identidade própria que contribua para
cenário:
engrandecer e dar vida à cidade. Se pensarmos um pouco a respeito, o facto de o espaço, o vazio, ser o protagonista da Arquitetura é, no fundo, natural, porque a Arquitetura não é apenas arte nem só imagem de vida histórica ou de vida vivida por nós e pelos outros, é também, e sobretudo, o ambiente, a cena onde vivemos a nossa vida. (ZEVI, 2002, p. 28)
Aponta-se também os vazios da cidade que estão escondidos, aqueles não vistos cotidianamente como parte viva da cidade. Em cidades recentes, como Londrina, que sofreu rápidas transformações em sua ocupação e tipologia, percebe-se a existência de vazios residuais que poderiam se inserir de uma forma mais
57
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
apropriada na malha urbana, como miolos de quadra, estacionamentos e edifícios desocupados. Ao retomar a ideia de espaço público e suas transformações na cidade contemporânea, percebemos
3.2. CENA 02 - AS APROPRIAÇÕES DO ESPAÇO PÚBLICO DAS ÁREAS CENTRAIS POR MEIO DAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS Para
que nos situamos num momento em que, para renovar as
iniciar
compreensão públicos
do
das
apropriações
educação de cidadania e da forma de se vivenciar e
imprescindível entender o centro como um lugar e um
apropriar do espaço urbano.
lugar público. A palavra Público, de origem grega, elucida
privada por meio do interstício do vazio, o qual representa
espaços
acerca
políticas culturais da sociedade, é necessária uma nova
Por isso, procura-se alinhar a esfera público e
nos
a
centro
é
algo que pode ser discutido e opinado pela comunidade, podendo ter uma aprovação. (GEHL e GEMZØE, 2002).
uma possibilidade no desenho urbano de espaços já
Assim, no espaço público, torna-se visível a
consolidados que podem incrementar as atividades de
imagem como cada sociedade tem de si mesma: a cidade
uma região.
como
encenação
específica
de
uma
determinada
população (MONTEIRO, 2015). Estes espaços, públicos, se conformam como uma imensa diversidade de lugares. Estes encontram-se interligados formando assim uma vasta rede de trajetos que circundam todo a malha urbana, estruturando, assim, o meio envolvente. Dessa forma, cada um destes espaços públicos apresenta
58
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
conformidades diferentes, constituindo por si só uma
qualquer apropriação necessita de um tempo para
referência própria na cidade, ou seja, uma identidade,
acontecer.
enriquecendo e tornando-se única em cada cidade.
Desta maneira, parte-se do pressuposto de
O termo lugar, provém do latim locus e do seu
que a arquitetura, enquanto um sistema dinâmico e em
derivado localis (séc. XII), que significa “local do lugar”, o
constante mutação, converge para uma instabilidade que
luogo (MONTEIRO, 2015). Existem infinitas teorias sobre o
não pode ser prevista (NOBERG-SCHULZ, 1980). Neste
conceito de lugar, tendo este acompanhado a evolução
sentido, o lugar é um sistema complexo de ação e reação
humana. Todavia, foi a partir do mundo cultural grego que
nesse sistema dinâmico que é a arquitetura.
estas teorias tiveram uma diversidade de definição. As
Com o propósito de entender o tema da
percepções que o homem sente em relação à linguagem
cidade e do espaço público, torna-se fundamental o
simbólica e ao meio onde se insere confere-lhe um
conceito de lugar, pois tanto a cidade quanto o espaço
suporte existencial.
público são o resultado de uma relação muito íntima entre
Neste sentido, o lugar é constituído por vários
o lugar e o espaço, em que acontecem todos os processos
elementos simbólicos e consagra-se na transmissão dos
de transformação de apropriação da memória, e também
seus significados adjacentes (NOBERG-SCHULZ, 1980). A
onde a população se aglomera e cultiva memórias
construção do lugar consuma-se também, na significação
coletivas de apropriação (MONTEIRO, 2015).
de um espaço por meio da experiência pessoal. O lugar,
A imagem de espaço público é intrínseca a
com isso, é um espaço apropriado, e entende-se que
realidade das cidades, juntamente com seus valores e pressupostos.
59
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Marc Augé (1994) expõe duas noções que
futuro, pensar na relação entre os dois é, de certa forma,
relacionam espaço e lugar, o “lugar antropológico/não
pensar
lugar”. Define o primeiro o lugar como um espaço
fomos/somos e aquilo poderemos ser, ou ainda, o
identitário, relacional e histórico. O não lugar, pelo seu
presente, aquilo em que estamos nos tornando.
uma
oposto, ou seja, espaços não identitários, não relacionais e não históricos.
Augé
(1994)
que
ao
tramita
entre
relacionar
o
o
que
lugar
antropológico e o não lugar com o espaço explicita a
Isso nos permite tomar consciência das transformações
realidade
da
sociedade
contemporânea,
que
presença constante da alteridade, em que os contrastes são símbolos das transformações. Nesse sentido, as
surgem de maneira aparentemente “natural” e vão
dicotomias
substituindo a cidade antiga por uma “nova cidade”, com
homogeneidade/heterogeneidade; lugar/não lugar, etc;
paradigmas diferentes. Essas duas noções – “lugar
tornam-se ferramentas para se discutir as transformações
antropológico” e “não lugar” – são expostas como “tipos
contemporâneas.
do
espaço
como
inclusão/exclusão,
ideais” (AUGÉ, 1994), que representam os espaços dominantes respectivamente das sociedades sem escrita e da sociedade contemporânea ocidental. Na cena anterior, explicita-se que para Lefebvre (2010) o lugar desempenha papel importante na prática do cotidiano. Portanto, se o lugar antropológico retrata um tempo que já passou e o não lugar um provável
60
Se a tradição antropológica ligou a questão da alteridade (ou da identidade) à do espaço, é porque os processos de simbolização colocados em prática pelos grupos sociais deviam compreender e controlar o espaço para se compreenderem e se organizarem a si mesmos. (Augé, 1994b, p. 158)
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Com isso, compreende-se que os espaços
necessitam de uma capacidade de julgamento e decisão.
públicos não designam apenas a infraestrutura da cidade,
A cultura indica ainda que a política e a arte se inter-
como ruas, praças, edifícios, parques, mas também a
relacionam, e algumas vezes são dependentes.
interação e percepção social (SERPA, 2007). É o meio de
Na cidade global, os elementos lúdicos e
celebração coletiva da cidade, que se consagra no palco
culturais têm um papel cada vez mais relevante
das manifestações culturais.
(MONTEIRO,
2015).
Apesar
dos
conceitos
destes
Para compreender as manifestações culturais,
elementos serem complexos, os seus resultados a nível
atenta-se a etimologia de cultura. Palavra de origem
prático são visíveis e é a partir destes que se pode
romana, tem seu significado inicial relacionado a
procurar uma fundamentação mais clara acerca do papel
agricultura, revela também uma reverência romana para
da cultura e da criatividade.
com o passado, ideia de preservação do legado grego e da tradição (ARENDT, 2007).
Segundo Franco Bianchini e Charles Landry (1995), a cultura na cidade é extremamente relevante; se
Atualmente ainda se tem essa percepção da
antes tinha um valor secundário na economia, hoje
palavra, no entanto não se esgota o conceito (ARENDT,
assume uma relevância primária ao se estabelecer como
2007).
ações,
um catalisador de reabilitação e regeneração urbana.
representações e práticas populares é necessário,
Dessa forma, podemos reconhecer uma espécie de
principalmente pela forma como a cidade contemporânea
mercantilização da cultura.
Expandir
tal
significado
para
as
vem se moldando (SERPA, 2007). Segundo Arendt (2007),
O centro tem as manifestações culturais como
cultura e política são aspectos da esfera pública, pois
elemento conector entre a cidade e sua história,
61
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
preservando uma identidade cultural dos indivíduos,
mudança contínua (BIANCHINI e LANDRY, 1995). Ao
tornando-se, portanto, um ponto diferenciação entre ele e
trazer o esse olhar para os espaços públicos do centro, nos
outros. Os autores ainda expõem que a criatividade pode
deparamos com os problemas em relação à identidade
ser fundamental dentro da cidade, pois mobiliza para
como centro, onde as incidências das apropriações
contribuição da resolução de questões pertinentes – de
culturais marcam uma resistência em meio aos moldes da
forma temporária, sintética e interdisciplinar - e também
atual cidade e a criatividade entra afim de conectar os
pode atingir benefícios econômicos (BIANCHINI e
laços perdidos mediante ações reversíveis e transitórias
LANDRY, 1995).
de interesse coletivo.
A etimologia da palavra criatividade, nos
Antes de iniciar a descoberta do Centro
esboça o processo criativo, ou seja, dar vida a algo novo;
Principal de Londrina é importante conceituar a arte
olhando os antônimos desta palavra nota-se um valor
urbana no espaço público, a qual complementa e
geralmente negativo, incluindo a destruição de algo.` A
incrementa as atividades do meio urbano.
partir disso, podemos nos aproximar de uma possível
Aplicada aos espaços públicos e espaços
definição deste conceito, em que o processo de criação
residuais, torna-se elemento de atratividade para a
envolve proposições para reescrever novas regras, ou
socialização, sendo, portanto, uma linha para a concepção
seja, pensar na situação de maneira não convencional,
das propostas e estratégias.
permitindo novas abordagens (MONTEIRO, 2015). Desta forma, a criatividade se estabelece como um conceito moderno que evidencia o progresso e a
62
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A arte urbana é vista como um trabalho social, um ramo da produção da cidade, expondo e materializando suas conflitantes relações sociais. (PALLAMIN, 2000, p. 19)
3.2.1. A arte urbana como elemento catalisador Em primeiro plano, é imprescindível entender a arte como um movimento de expressão e manifestação cultural, sobrepondo o ideal técnico e discurso. A relação da arte com espaço urbano não se estabelece apenas por justaposição ou objetos ilustrativos de valor cultural, está na garantia de espaços “comuns”, os quais devem ser apreensíveis e compreensíveis pela maioria, definindo, com
isso,
uma
identidade
no
ambiente
urbano
(PALLAMIN, 2000). Os significados da arte como expressão urbana, dessa forma, exercem diversos papéis, em que os valores são projetados na relação público coletiva, por meio da apropriação. As práticas artísticas, contribuem para compreender a evolução do espaço urbano, da morfologia à construção social.
A arte urbana, por assim sendo, deve ser compreendida como uma prática social. Suas obras exprimem apreensão das relações e formas diferenciadas de se apropriar do espaço urbano, abrange em seus elementos estéticos significados sociais (PALLAMIN, 2000). Por isso, mergulhar nos simbolismos da arte urbana é descobrir a cidade por meio do imaginário da população, como explicita Lefebvre (2010) em defesa dos espaços lúdicos. E isto se torna mais sensível ainda pelo fato de incorporar uma materialidade. Ao concretizar uma obra de arte urbana no domínio
público
simbolismos
qualifica-se
permeiam
o
espaço,
interdições,
pois
contradições
os e
conflitos (PALLAMIN, 2000). A efetivação contempla a força dos grupos sociais no espaço, interpretando o
63
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
cotidiano das pessoas que o frequentam, além da
A noção de cotidiano como que costura por dentro as relações entre ações culturais, as práticas sociais e os espaços nos quais ocorrem, situando o trato com a espacialidade não como um pano de fundo daquelas, mas como uma sua dimensão constituinte. A cultura é socialmente situada e espacialmente vivida. (PALLAMIN, 2000, p. 29)
memória e história dos lugares urbanos. Nos centros urbanos, essa correlação torna-se ainda mais instigante, afinal é o centro é um espaço disputado. E ainda, ao associar às obras de cunho temporário encontramos um potencial para o choque de sentidos,
por
meio
da
negação,
subversão
ou
apontamento de valores. (PALLAMIN, 2000). Nesse sentido de criar, cultivar e cuidar da arte, permeia-se a noção de cultura como relação com os outros, em que se destaca a importância da experiência dos tempos sociais, ou seja, a socialização da vida cotidiana na cidade. Pallamin (2000) explica que a cidade não é apenas um plano de fundo no cotidiano urbano, ela é parte
viva
diretamente.
e
constituinte
dele,
pois
o
influencia
As manifestações artísticas no espaço público são elementos de um todo, demonstram articulações, segregações e rupturas do cotidiano. Essas significações estabelecem a ideia de territorialidade, a qual associa-se a um fenômeno cultural e multidimensional, com essência coletiva,
abrangendo
aspectos
econômicos,
geográficos e psicológicos. Aborda a ideia de qualificar o espaço urbano através da apropriação, em que a natureza social
e
temporal
(RONCAYOLO, 1990).
64
os
não
devem
estar
dissociadas
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A
territorialidade
margeia
a
alusão
Figura 07- Cegueira branca, Kuczynski.
de
identidade de um espaço, em que o controle, a defesa, o estabelecimento de hierarquias expressa a sua possível função. A arte urbana, portanto, quando surge para afirmar
a
territorialidade
transita
dentro
de
um
antagonismo: posse e direito de “uso” (PALLAMIN, 2000). Dessa maneira, Pawel Kuczynski, ilustrador
imagem
polonês especialista em desenhos gráficos, expressa em suas ilustrações uma compreensão das relações sociais como influência na arte. Suas obras fazem uma crítica
Figura 08- Falsa sensação, Kuczynski.
social de forma sarcástica, profunda e muito inteligente (RUANO, 2015). Por meio da metáfora expõe as realidades e divergências da sociedade e seu abuso em relação à tecnologia, em que as pessoas são atraídas pelo celular mesmo num espaço público. Arte como expressão de protesto que usa do espaço urbano e de suas práticas diárias como inspiração. Nos vendem segurança como um remédio, enquanto nos roubam nosso verdadeiro valor, deixando-nos a enfrentar riscos sem estarmos preparados. (RÍNGON, 2016).
FONTE 07 e 08: Jornal Raízes Cultural (2016).
65
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Além disso, referencia-se o artista conhecido
Figura 09 - Arte Urbana, Bansky.
como Banksy, o qual participa do fenômeno denominado como street art, termo que engloba as mais diferentes manifestações artísticas contemporâneas realizadas por meio de intervenções operadas no espaço público cotidiano,
compreendido
enquanto
ambiente
de
expressão privilegiado, tela ou palco adequado para aparições e insubordinações. O artista se mantém no anonimato e ao expor nas paredes da cidade, nas vias urbanas, cria uma obra que funciona pelo princípio do
FONTE: Thomas Coex, Getty Images , 2017.
copyleft5 da cultura digital, como um código aberto à cooperação, sujeita à efemeridade (muitos grafites são apagados após algumas poucas horas ou dias) e à manipulação de demais anônimos (DIÓGENES, 2011).
O termo copyleft denota uma modalidade de direito autoral e intelectual que objetiva derrubar as barreiras tradicionais relativas à utilização, difusão e modificação de uma obra. O termo tem sido empregado principalmente na área da Informática, referindo-se a softwares que possuem código 5
66
aberto, permitindo que seus usuários o modifiquem e aprimorem.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A Arte invadiu a intimidade e a visibilidade comum com diversos formatos urbanos de apropriação do espaço público: eventos, festivais de cultura e arte, publicidade, happenings, arte urbana, eventos pop-up, flashmobs, assiste-se a uma crescente expectativa de participação do público na obra artística (CAMPHELL, 2015). Não é por menos que a arte urbana influencia nas práticas urbanas concretizando itinerários, trajetórias e narrativas diárias, as quais modificam os espaços públicos com maneiras de se apropriar que alteram a carga simbólica. O artista Hélio Oiticica é um exemplo da integração do imaginário individual com o imaginário urbano.
Isso eu descobri na rua, essa palavra mágica. Porque eu trabalhava no Museu Nacional da Quinta, junto com meu pai, fazendo biografia. Um dia eu estava indo de ônibus e na Praça da Bandeira havia um mendigo que fez assim uma espécie de uma coisa mais linda do mundo: uma espécie de construção. No dia seguinte já havia desaparecido. Eram quatro postes, estacas de madeira de uns dois metros de altura, que ele fez como se fossem vértices de um retângulo no chão. Era um terreno baldio, com um matinho e tinha clareira que o cara estacou e botou paredes feitas de fio de barbante de cima a baixo. Bemfeitíssimo. E havia um pedaço de aminhagem pregado num desses barbantes, que dizia: “aqui é... “, é a única coisa que eu entendi, o que estava escrito era a palavra parangolé, aí eu disse: “é essa a palavra”. (OITICICA, 2009, p. 9)
67
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figuras 10 e 11 - Hélio Oiticica e os Parangolés.
Neste trecho da revista Interview de 1980, Hélio
IMAGEM
Oiticica
explica
de
onde
surgiu
a
palavra
“Parangolé”, nota-se a sensibilidade de entender como a arte e cidade andam juntas. Neste trabalho genial, o artista expandiu a noção das artes plásticas, se aproximou da arte popular, da cultura brasileira e da interação com a cidade. É
uma
obra
que
estabelece
relações
perceptivo-estruturais e coloca a cor como a estrutura do FONTE: Thomas Coex, Getty Images , 2017.
espaço ambiental. Sendo o espaço um anteparo para as ações performáticas. Para o artista, há em cada canto da cidade, uma inter-relação possível de uma imaginaçãoestrutural. Utiliza da teoria kantiana para se fundamentar, pois o transcendental é o conhecimento não dos objetos, mas dos conceitos a priori de objetos. (CAUQUELIN, 2007). É também uma visão típica da contemporaneida-
de libertar-se do museu e das galerias e ver a possibilidade de trabalhar o artístico em lugares comuns. Para Hélio Oiticica, a arte estaria no dia a dia, nas ruas, nas casas, nas FONTE: Revista Clichê , 2014.
68
atitudes, no mundo.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Por meio da filosofia de Kant, Hélio Oiticica coordena as sensações para o seu trabalho com o Parangolé e aplica a essas sensações as formas de percepção - espaço e tempo. Depois, coordena essas percepções, desenvolve então a concepção de categorias de pensamento. A etimologia da palavra estética significa sensação ou sentimento. Este é o entendimento de Kant e também de Oiticica, por isso, o artista atribui ao seu trabalho a sensação, que nada mais é que a consciência do estímulo. (DURANT, 1996, p. 257)
Figura 12 e 13 - Uma das instalações do conjunto de obras “Os Penetráveis”, do movimento Tropicália, 1972.
A dança relaciona-se com a estrutura dessas obras através da manifestação da cor no espaço ambiental. Seu ápice é quando o espectador entra em ação: corre, dança, pula, mexe. É o ato máximo de expressão e interação. Oiticica acredita que o ato de “vestir” seja mais importante e surge a capa, também um Parangolé.
FONTE 12 E 13: MEDEIROS, Roberto, 2012.
69
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Para Hélio Oiticica, conforme sua própria conceituação,
sua
obra
existe
a
morfologia e espaços livres de celebração cotidiana torna-
participação corporal direta. Ou seja, quando a relação
se inspiração para produção artística. Brissac (1998)
entre o corpo e objeto adquirem uma ação concebe-se a
explicita que a obra de arte se apresenta como um
arte, surge do movimento (OITICICA, 1986). Ao olhar a
fragmento no meio de um tecido amplo. Mostra que os
arte de Hélio Oiticica compreende-se a importância da
elementos que compõem a vida urbana: janelas, estátuas,
prática pública para arte, explicitada por Vera Palamin
muros,
(2000), onde a arte só pode ser arte quando ocorrida no
fundamentos para criação da arte. A cidade, dessa
espaço. Por isso, ao trazer a arte para o espaço público se
maneira, não é apenas o plano de fundo, mas assim parte
atinge um incremento à cidade e vida à arte.
intrínseca do processo de produção artístico.
Figura 14 - Rota da Arte, Médelin, Colômbia.
quando
existe
A cidade, por meio de sua conformação,
trânsito,
ruínas,
etc;
são
os
princípios
e
A cidade de Medelin, na Colômbia, por exemplo, traz a rota da arte como uma alternativa para integrar áreas vulneráveis. Trata-se de uma iniciativa que incita a contemplação da arte urbana, por meio de murais e projetos inovadores de renovação urbana, e também desperta o espírito de empreendimento em crianças, jovens e adultos que participam na elaboração do Arte Callejero, o qual através da cor desenvolve esperança à população, explicitando que todos somos iguais.
FONTE: ROBAYO, Sol, 2018. BURGHER, Nigel, 2018.
70
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Além
de
Hélio
Oiticica,
na
atualidade
A pequena duração e o âmbito limitado criam
encontramos diversos artistas, arquitetos, urbanistas,
o ambiente perfeito para a experimentação. Por 17 anos,
designers que usam da vida contemporânea para sua
a Serpentine Gallery forneceu uma plataforma significativa
produção artística. É o caso dos pavilhões efêmeros no
a partir da qual divulga a experimentação arquitetônica e
Hide Park, em Londres, Inglaterra, chamados Serpentines
vanguardismo, um arranjo a partir do qual os arquitetos e
Galleries, que exploram da efemeridade para descobrir
o público são beneficiados. Nesse sentido a arquitetura
novos olhares para arquitetura (ARCHDAILY, 2018).
transita no campo da arte – situação de vanguarda, olhar
IMAGEM
Nesse sentindo, vivenciar e agir nos espaços
da cidade tem sido um grande propósito da arte
contemporânea, onde sua atuação torna-se uma partilha
para o meio público. A prática artística surge com o discurso e o meio urbano com o espaço. Ressalta-se que
sem o espaço não seria possível a existência do discurso como arte.
A premissa da criação dos pavilhões é simples: um arquiteto que não tenha construído no Reino Unido
além – ao buscar nos ensaios formais novos olhares para si mesma (ARCHDAILY, 2018).
tem a oportunidade de mostrar seu talento e conquistar a exposição. Para cada arquiteto convidado são dados seis meses que incluem receber a comissão, construir o
Figura 15 - Serpentine Gallery 2016, projetada por BIG Architect.
Figura 16 - Serpentine Gallery 2018, projetadaw por Frida Escobedo.
pavilhão e, em seguida, a exposição é aberta para a exploração do público durante o resto do verão (ARCHDAILY, 2018).
FONTE: Deezen (2016).
71
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 15 e 16 - Movimento dos Artistas de Rua de Londrina, 2017.
A
arte
como
método
catalisador
na
reinterpretação de espaços é algo existente, tem–se exemplos por meio de iniciativas privadas e sociais. O primeiro exemplo apresentado é no centro de Londrina, o Movimento dos Artistas de Rua de Londrina (MARL), que ocupa o desativado edifício da União Londrinanse dos Estudantes Secundaristas (ULES), na Avenida Duque de Caxias, próximo a Avenida Celso Garcia Cid. Ponto historicamente importante. O MARL surgiu com o objetivo de reunir artistas de todas as áreas que desenvolvem o seu trabalho em espaços públicos. O movimento visa estimular discussões artísticas e políticas referentes, principalmente, à cidade de Londrina, possibilitar a troca de informações e experiências, solidificar parcerias com intuito de promover ações político-culturais e garantir o intercâmbio entre os artistas londrinenses e movimentos culturais brasileiros. FONTE: Autor, 2017.
72
IMAGE
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
O antigo barracão da ULES encontrava-se em
Além disso, em parceira com o Movimento
estado precário, e após a ocupação, mesmo com as
Sem Terra (MST) promovem o Feirão da Resistência e da
dificuldades, ganhou uma nova fachada, mais colorida e
Reforma Agrária mensalmente. A feira tem como conceito
ativa. No espaço interno, o movimento oferece aulas e
e foco os produtos agroecológicos da agricultura familiar,
oficinas gratuitas promovendo uma democratização
livre de venenos a preço justo, em apoio ao movimento.
cultural no centro da cidade.
Em outubro de 2018, a ocupação conseguiu a
O fato de ser um barracão, com planta livre e
regularização oficial em primeira instância para utilização
largo recuo frontal possibilitou uma facilidade na
do edifício, marco de resistência artística no Centro
adaptação para o uso como salas de ensaio, estudo,
Principal num período conturbado na política brasileira.
apresentação
e
promoção
de
eventos.
Estruturas
Figura 17 - Feirão da resistência MARL, 2017.
efêmeras são facilmente aplicadas ao espaço e podem garantir uma diversidade de uso sem a perda da memória no barracão. O MARL tornou-se a primeira residência artística da cidade, apesar de não contar com uma infraestrutura técnico-espacial para o uso. imagem
FONTE: Autor, 2017.
73
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 17 e 18 - RedBull Station, projeto do escritório franco-brasileiro Triptyque, 2013.
O segundo exemplo de reinterpretação espacial é no centro de São Paulo, entre as avenidas 9 de Julho e 23 de Maio, onde se encontra um espaço que inspira, conecta e transforma pessoas, com a proposta de “abastece a cidade com energia criativa”. O denominado Red Bull Station com cinco andares onde se misturam diferentes expressões, com foco em projetos que envolvem música e arte multimídia. Localizado em um edifício de 1926 tombado como patrimônio histórico pelo Conpresp, o Red Bull Station
FONTE: Tripitypque Architect (2013).
ocupa a antiga subestação de energia Riachuelo, desativada em 2004. Após um longo processo de reforma e requalificação, o prédio reabriu as portas para o público em outubro de 2013 (REDBULLSTATION, 2018). Nesse sentido, tem-se a reciclagem de edifícios históricos para fins artísticos, em que a arte incrementa e fomenta o uso do espaço.
FONTE: Archidaily (2013).
74
IMAG
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Ainda no centro de São Paulo, partindo para
“Buscamos referências em outros lugares do mundo e ficamos seis meses pesquisando imóveis ociosos de São Paulo, até chegarmos a esse”, recorda o músico Luís Só, de 30 anos, para o Jornal Estadão (2017, 03 de abril, ESTADÃO).
um exemplo social, tem-se o novo olhar para edifícios que estão desocupados. É o caso da residência artística Ouvidor 63. Um grupo de artistas se apropriou de um prédio de 13 andares no número 63 da Rua do Ouvidor.
Figura 19 - Residência artística Ouvidor 63.
Uma ocupação artística, onde 100 pessoas, dentre
circenses,
pintores,
músicos,
ilustradores,
escultores e acrobatas, dividiam aquele espaço com um propósito em comum: criar arte (2017, GOVIER, VERAS).
imagem
Deram nova vida ao edifício desocupado e uma novo denominação: Centro Cultural Ouvidor 63, uma residência artística. Os moradores do endereço não estão em situação de rua, pelo contrário, acreditam que o local deve funcionar como uma usina de criação artística, nas mais diversas áreas, sem liderança, de maneira horizontal,
FONTE: Autor, 2018.
Dentro do edifício, os artistas limparam,
discutido em assembleias, de forma modo colaborativo (2017, ESTADÃO SP).
pintaram e fizeram pequenas reformas. São cerca de cem moradores
espalhados
pelos
apartamentos
transformados em ateliês e espaços de ensaio.
75
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
No subsolo, a garagem foi convertida em uma oficina de marcenaria - utilizada pelos artistas para seus trabalhos - e outro espaço virou um estúdio. Um dos
diretamente ao outro lado avenida, onde encontra-se Figura 21, 22da e 23 - Residência artística Ouvidor 63. o RedBull Station. IMAGEM
residentes conta que o espaço do subsolo tornou-se totalmente flexível e que todo mês eles tentam transformar o espaço utilizando estruturas temporárias produzidas na marcenaria. O térreo tem uma galeria onde os moradores expõem e vendem peças - o valor arrecadado serve para
FONTE: TEIXEIRA, Daniel, 2017.
a manutenção das despesas comuns do prédio. E também há um brechó e um palco para shows e eventos, funcionando
como
uma
espécie
de
teatro
contemporâneo (2017, GOVIER, VERAS). Em visita ao espaço, notou-se que a ocupação promoveu a ativação da fachada do edifício, ao trazer o uso da cor e da diversidade material. Além disso, o térreo se abre transformou numa extensão da estreira rua do Ouvidor que é ligada a uma passarela que liga FONTE: DORIA, Bruno 2018.
76
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Em conversa com um artista residente, foi
Artistas transformando prédios abandonados
declarado o apoio entre ambos os espaços, Ouvidor 63 e
em galerias de arte não são novidade ao redor do mundo.
RedBull Station, que promoveram eventos em conjunto
Em 1999, artistas ocuparam um edifício em ruínas – que
utilizando a passarela que conecta ambos entre a Avenida
pertencia a um banco – na Rua Rivoli, em Paris. Depois de
9 de Julho. Este fato demonstra que a transformação
muita polêmica, em 2006 o espaço acabou adquirido pela
destes dois edifícios se abre para as manifestações e
prefeitura e foi reaberto como residência artística,
celebrações na esfera pública, atingindo patamares além
denominada 59 Rivoli. Em Berlim, o Tacheles teve
do previsto.
trajetória parecida, tornando-se um centro de resistência da arte alternativa (2018,
Figura 24 - Esquema da evolução de pensamento da fundamentação teórica.
ESPACO INTIMO
conteúdo para a arte, a arte pública na cidade; a cidade
ESPAcO Lefebvre
ESPACO INTIMO
ludicidade
Vera Palamin
arte urbana
terrain vague
ESPAcO PRIVADO
proposta flexível
Solá Moráles Bauman
transitório
Pardo
transformações socio-espaciais
passado
campo dos processos sociais, destaca-se, portanto, quatro
para inserção da arte no meio público: a cidade como
ESPAcO PRIVADO
consumo PUBLICO
ESPAcO PUBLICO
Por fim, entendendo o território urbano como
discursos na relação arte e cidade que serão fundamentais
presente
IMAGEM
59 RIVOLI).
ESPAcO PUBLICO
"ENTRE" ESPAcO PRIVADO ESPACO INTIMO
como obra de arte; o ambiente urbano como influência exercida sobre a experiência sensível dos artistas e expressa em seus trabalhos artísticos (2000, PALAMIN)
interstício
FONTE: Autor, 2018.
77
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
w
78
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
SEGUNDO ATO
4.1 CENA 01 – abordagem adotada O
trabalho
inicia-se
no
paradigma
da
sociedade atual em relação a socialização nos espaços públicos das áreas centrais com intuito de reinterpretá-los por meio das manifestações culturais. Nesta investigação,
4. O CORAÇÃO DA CIDADE
busca-se entender os espaços vazios da cidade, sejam eles espaços públicos, residuais ou edifícios, e como estes podem ser utilizados para fomentar a socialização no espaço público, partindo da prerrogativa da arte como elemento catalisador.
O Segundo Ato deste trabalho insere o leitor no centro de Londrina e do Calçadão, uma tentativa de elucidar brevemente a origem e as transformações mais marcantes da região. Antes de adentrar no âmbito histórico, explicita-se abordagem metodológica que foi adotada na pesquisa.
A arte é um elemento de expressão de vanguarda, do francês avant-guard, ou seja, que está a frente do seu tempo e estabelece, portanto, olhares diferenciados. Nesse sentido, para usá-la como meio conector entre o usuário e o espaço público é necessária uma metodologia de análise espacial que traga maior percepção e sensibilidade do espaço.
79
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Dessa forma, uma análise morfológica é
Este roteiro, portanto, têm a finalidade de
aplicada no centro, associada à interpretação da
conectar os interstícios encontrados com o espaço
realidade. Em primeiro plano, compreende o centro e
público, e completa, portanto, a análise morfológica. Além
seus limites e a define-se o primeiro recorte da área de
disso, situa o leitor no Calçadão e em suas imediações,
estudo. A partir dele, analisa-se os mapas de figura-fundo;
mostrando sua vocação e as potencialidades. Atrelado à
uso e ocupação do solo especifico; galerias; pontos
procedimentos empíricos, busca-se, portanto, definir os
culturais; edifícios desocupados e espaços residuais;
pontos estratégicos que receberão as propostas.
identificando, dessa maneira, os principais vazios e miolos de
quadra,
que
desdobram-se
como
potenciais
interstícios de intervenção.
Quadro 01 - metodologia de análise morfológica de acordo com Kohlsdorf (1999) Categoria analítica morfológica
Após a análise morfológica, cria-se um percurso visual, onde se adota a metodologia de análise
Eventos gerais das sequências
Campos Visuais
Observa cenas ou visadas pertencentes a cada estação seqüencial da área considerada. Podem localizar-se em qualquer direção das possibilidades motoras do observador, mas na pesquisa de percepções universais adotam-se três possibilidades de campos visuais: frontal, lateral direito e lateral esquerdo;
Efeitos Visuais
Observa os efeitos topológicos e perspectivos que compõem os campos visuais das estações sequenciais na área considerada, e suas correspondências aos padrões morfológicos (intensidades).
qualidades espaciais da paisagem, aplica-se a visão serial e a percepção ambiental, os quais se baseiam no desempenho cognitivo e na apreensão morfológica.
ESTAÇÕES: são momentos de estímulo visual adequado ao registro perceptivo; INTERVALOS: são distâncias métricas e temporais entre duas estações
do livro Apreensão da forma da cidade, da autora Maria Elaine Kohlsdorf (1999). Entre os métodos avaliativos das
Análise Observa dois eventos sequenciais na área considerada:
FONTE: KOHLSDORF, 1999. Quadro produzido pelo autor, 2018.
Quadro 02 - metodologia de análise morfológica de acordo com Kohlsdorf (1999) Categoria analítica morfológica
Análise
Caminhos
Observa os vários trajetos registrados na imagem da área considerada, sejam vias veiculares ou caminhos de pedestres, consolidados ou trilhas informais
Bairros
Observa o registro na imagem mental de partes ou porções da área considerada, que assim se expressam em função de possuírem temáticas configurativas próprias
80 Limites
Observa a representação imagética de bordas ou fronteiras entre os “bairros” da área considerada, assim como desta em relação ao entorno imediato; limites
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
como totalidade formada por partes que se articulam de
4.1.1 APREENSÃO ESPACIAL Segundo Kohlsdorf (1999), a configuração dos
maneira biunívoca. O espaço urbano é apreensível a partir de suas manifestações externas, em etapas de sucessão cognitiva onde se desenvolve um movimento de objetividade de informações. (KOHLSDORF, 1999, p. 50)
espaços arquitetônicos observa-se tanto por meio dos processos sociais responsáveis pela sua produção, quanto produto de seu uso, em que a formatação da noção dos espaços é realizada por meio de sucessivas apreensões dos lugares, entendendo lugar como um local com significado.
acontece a partir de sua forma física, em que observa-se locais
da sensação, percepção, imaginação e intuição. As sensações são o primeiro contato com os locais,
Segundo a autora, a apreensão dos lugares
os
Kohsldorf (1999) caracteriza ainda a importância
como
composições
plásticas,
ou
seja,
elementos que são relacionados em conjuntos ou totalidades. O conceito de composição implica na articulação de elementos referente a certas normas, em
constituem a conexão mais próxima da consciência com a realidade objetiva, com isso são necessárias condições do indivíduo e do meio ambiente. Nesse sentido, surge o conceito de reflexão sensorial, no qual os fenômenos sensoriais são subjetivos, mas refletem uma propriedade objetiva.
que se deve relacionar o todo e as partes (KOHLSDORF, 1999). Por isso, sua configuração deve ser analisada
81
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 25 - Esquema de nível de percepção e imagem mental.
4.1.2 NÍVEL DA PERCEPÇÃO DO ESPAÇO
A DIMENSÃO TOPOCEPTIVA Maria Elaine Kohlsdorf (1999) diz que a percepção integra a totalidade dos sentidos e da inteligência, mas a visão é a principal envolvida na percepção espacial humana (em caso de sua deficiência, atua o sistema tátil-cinético). A globalidade qualifica as
FONTE: KOHLSDORF, 1999.
informações visualmente captadas e sua decodificação, pois se percebem conjuntos com significados, e jamais aglomerados de elementos isolados. O
desempeno
topoceptivo
da
área
considerada na percepção depende de adequação do nível informativo dos eventos sequenciais para a orientação espacial e a identificação do lugar onde se está (KOHLSDORF, 1999).
Segundo a autora (KOHLSDORF, 1999) o nível da imagem mental do espaço refere se ao atendimento de expectativas de orientação e identificação espacial por meio da evocação mental de lugares previamente experimentados. representação
A e
imagem
mental
interpretação
pela
forma-se memória
por de
características morfológicas recolhidas na percepção; com esta integra o modo de conhecimento sensível, que se apoia em informações captadas pelos sentidos humanos.
82
Quadro 01 - metodologia de análise morfológica de acordo com Kohlsdorf (1999) ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Análise
Categoria analítica morfológica
Observa dois eventos sequenciais na área considerada: Eventos gerais das sequências
ESTAÇÕES: são momentos de estímulo visual adequado ao registro perceptivo; INTERVALOS: são distâncias métricas e temporais entre duas estações
Na análise, aborda-se questão por meio seqüencial da áreaessa considerada. Podem localizar-se em
Com isso, é possível obter uma representação
Observa cenas ou visadas pertencentes a cada estação
qualquer direção das possibilidades motoras do observador, mas na pesquisa de percepções universais adotam-se três possibilidades de campos visuais: frontal, lateral direito e lateral esquerdo;
Campos Visuais
na análise de imagens, ou seja, a partir de um estimulo
dos espaços por meio de seus atributos métricos e
Observa os efeitos topológicos e perspectivos que visual, tem-se uma imagem registrada (KOHLSDORF,
geométricos; distâncias entre os elementos pelas noções
compõem os campos visuais das estações sequenciais na área considerada, e suas correspondências aos padrões morfológicos (intensidades).
Efeitos Visuais
1999). As principais categorias analíticas morfológicas são: Quadro 02 - metodologia de análise morfológica de acordo com Kohlsdorf (1999) Categoria analítica morfológica
Análise
Caminhos
Observa os vários trajetos registrados na imagem da área considerada, sejam vias veiculares ou caminhos de pedestres, consolidados ou trilhas informais
Bairros
Observa o registro na imagem mental de partes ou porções da área considerada, que assim se expressam em função de possuírem temáticas configurativas próprias
Limites
Observa a representação imagética de bordas ou fronteiras entre os “bairros” da área considerada, assim como desta em relação ao entorno imediato; limites podem ser de barreira ou costura, conforme aproximem ou afastem as áreas que demarcam
FONTE: KOHLSDORF, 1999. Quadro produzido pelo autor, 2018.
A partir da compreensão destes conceitos pode-se ter a noção de espaço, no sentido das relações topológicas, ou seja, localização do corpo no espaço, ou relações euclidianas, relacionado as noções perspectivas, proporcionadas
pelo
movimento
aparente
dos
da geometria euclidiana e suas proporções através das possibilidades das operações de projeção. Os recursos métricos, dessa maneira, são associados as imagens para criação de padrões na análise, os quais serviram para compreensão da morfologia espacial. Os efeitos topológicos são representados por meio da elaboração das referências do corpo humano: à frente/atrás, acima/abaixo, ao lado, à direita, à esquerda. As possibilidades são o alargamento e estreitamento (afastar-se e aproximar-se do observador), envolvimento (espaço
limitado)
e
amplidão
(limites
espaciais
indefinidos); alargamento lateral e estreitamento lateral, e o modo de preparação para todos os casos acima (KOHLSDORF, 1999).
componentes dos locais (KOHLSDORF, 1999).
83
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Os efeitos perspectivos, diferentemente, são
Figura 26 - Esquema topológico x perspectivo.
formados pela composição plástica, em que se encontra o direcionamento, o qual enfatiza a continuidade longitudinal do espaço pela estrutura alongada e bem definida dos planos laterais; a visual fechada, que organiza a cena perspectiva de maneira pouco profunda, onde fecha o plano do observador; o emolduramento, o qual enquadra a visão da cena; o mirante, que se caracteriza pelo privilégio visual, ou seja, ponto em que a abrangência visual é maior do que em outros pontos; a conexão, efeito que mostra a descontinuidade das paredes laterais do espaço, expandindo os planos verticais antes delimitados; o realce, que é a atração do observador por um elemento da cena; e por último o efeito y, o qual mostra uma bifurcação do espaço, geralmente em ângulos agudos (KOHLSDORF, 1999).
FONTE: KOHLSDORF, 1999, p.65.
84
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Figura 27 - Esquema nível subjetivo/objetivo.
4.2 CENA 01 – UMA PINCELADA DE HISTÓRIA O início da cidade de Londrina se consagrou a partir da necessidade de um ordenamento da ocupação já estabelecida no território. O que entendemos como Centro Principal atualmente se iniciou a partir de uma malha ortogonal, a qual se trata de um modelo universal, elaborado provavelmente para facilitar a subdivisão dos lotes urbanos, tornando-os mais regulares possíveis (SUZUKI, 2001). Em 1932, o topógrafo geodesista russo Alexandre Razgulaeff, da Companhia de Terras Norte do
FONTE: KOHLSDORF, 1999, p.65.
Paraná projetou a planta inicial, conhecida como planta azul. Malha xadrez com centro uma elipse central tangenciada por uma avenida em diagonal no espigão (YAMAKI, 2006).
85
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
A histórica
foi
porção
conhecida
resultado
da
atualmente
necessidade
de
como
Figura 28 X – Mapa Linha Férrea do Norte do Paraná de 1935.
um
parcelamento do solo para fins urbanos, com o objetivo de suporte à estação ferroviária implantada no território, sendo o ponto de todo um plano modal de escoamento do café. Dessa maneira, abrigou as atividades de comércio e serviço que serviram de suporte às famílias Fonte: Yamaki (2003).
que aqui chegavam na época em que as frentes cafeeiras começaram a avançar pela região. Para garantir recursos para outros setores, o Governo decidiu conceder parte das terras que possuía para o setor privado com intuito de promover a aplicação de infraestrutura. Neste momento, surge a CTNP (Companhia de Terras do Norte do Paraná), subsidiária da firma inglesa Paraná Plantations Ltda., que deu grande impulso ao processo de desenvolvimento na região norte (SUZUKI, 2001).
Segundo Hirata (2000), a Companhia de Terras Norte do Paraná implantou um modelo de colonização baseado na pequena propriedade, em lotes de 10 a 20 alqueires paulistas, locados em quadras ortogonais de 100m x 100m. Como o território se inicia na década de 1930, período sucessor da I Guerra Mundial, a imigração e migração com famílias de baixo poder econômico tornou-se mais vantajoso a formação de lotes pequenos, Cunha (1996) ressalta essa lógica imobiliária capitalista, onde é mais lucrativo vender pequenos lotes do que grandes fazendas.
86
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Percebe-se que o projeto possui grande
Figura 29 - Cia. de Terras Norte do Paraná - Planta de Londrina.
intenção de divisão de setores a partir da malha, sendo que nas zonas residenciais, as quadras possuem lotes igualmente distribuídos por todos os lados. Diferente da parte central e do eixo diagonal, em que há outro tipo de parcelamento, de modo a sugerir outra ocupação (BARNABÉ, 1989). Isso mostra que a CTNP (Companhia de Terra do Norte do Paraná) influiu de forma determinante na ocupação e uso do solo urbano a partir da definição dos padrões de lotes e quadras. Figura 28- Pátio ferroviário, década de 1950.
FONTE: Yamaki (2003, p.17).
FONTE: Museu Histórico, 2018. Foto cedida Haruo Ohara.
87
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 30 - Centro de Londrina com destaque para a Praça Marechal Floriano Peixoto, década de 1940.
Segundo
Yamaki
(2006),
Londrina
foi
projetada com Jardins e Alamedas, tendo o alto da colina rodeado por espaços públicos. O mapa de Figura-Fundo do Plano Inicial, em 1949 explicita o início do ordenamento do futuro centro, as primeiras residências, os primeiros espaços públicos, juntamente com as iniciais conexões e marcas da cidade: a linha férrea, o eixo inicial de quando se chegava a cidade, a conexão com o bairro Heimtal e as Avenidas Rio
FONTE: Museu Histórico de Londrina, 2018.
Figura 31 -Rodoviária do arquiteto VillaNova Artigas, década de 1950.
de Janeiro e São Paulo. Além disso, nota-se que a formação de lotes estreitos na quadra de malha retangular proporcionava mais de uma residência no mesmo lote. A ideia de vila, portanto, se familiarizava com famílias vivendo no mesmo lote, em que sua extensão era ocupada. E com isso,
FONTE: Museu Histórico de Londrina, 2018.
88
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
bairros pioneiros, limítrofes ao centro
quadra regular, malha xadrez, igreja no ponto mais alto.
contexto - principais eixos do centro com a cidade, da cidade com o centro. FIGURA 32 - MAPA DE FIGURA-FUNDO DE1949.
LEGENDA
N
LINHA FÉRREA HEIMTAL JATAÍ AV. SÃO PAULO AV. RIO DE JANEIRO AV. PARANÁ
mais de uma casa por lote. Ideia de vilas. ocupação inicial em casas de madeira, típicas do paraná.
1:20000 FONTE:Autor, 2018. Desenvolvido a partir de foto área, IPPUL.
89
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
A particularidade dos centros históricos em
Na década de 1940, Londrina teve um
geral é que eles contam a história, ou seja, guardam as
incentivo às construções em alvenaria, em que se
transformações
de
substituíram as obras de madeira por uma arquitetura de
desenvolvimento das cidades, tornando-os únicos. Ao
referências Art Decó, seguindo as bases racionalizadas
longo
sofreu
da época (CASTELNOU, 2002). Essa transformação
mudanças em sua paisagem, principalmente em suas
deixou alguns registros que permanecem até hoje,
características tipológicas.
edifícios como o Centro de Saúde de Londrina e a
de
ocorridas
seu
A
no
desenvolvimento,
diversidade
é
Londrina
espelho
dessas
Agência Central de Correios e Telégrafos.
transformações, em que se pode encontrar desde
Nos anos 1950, intensificou-se uma nova
edifícios com traços do período denominado Art Déco
configuração urbana, com o desenvolvimento de um
até edifícios com influência da Arquitetura Moderna.
processo de extensão espacial com o início da
Durante a fase pioneira, a arquitetura de Londrina
verticalização da cidade. Este crescimento provocou uma
desenvolveu-se a partir de construções em madeira
modernização da arquitetura da cidade, em que se abre
(SUZUKI, 2001). Em sua essência, esta arquitetura
às influências da arquitetura paulista, escola, cuja as
vernácula consiste em importante patrimônio histórico, já
bases eram racionalistas. O resultado desenrolou-se na
que apresenta soluções tipicamente regionais, por meio
implantação da arquitetura moderna na cidade e de suas
de técnicas de execução e acabamentos próprios, além
características, tais como volumes prismáticos puros, uso
das
do concreto armado e vidro, jogos de rampas e
respostas
formais
totalmente
condições daquele momento e local.
90
processo
adaptadas
às
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
revestimentos cerâmicos em pastilha (CASTELNOU,
todos implantados na região central da cidade,
2002).
compondo um circuito da evolução da cidade. Com isso, a presença do arquiteto Vilanova
Além disso, é importante pontuar os usos
Artigas se tornou fundamental para a construção dos
diversificados que esses objetos indicavam para região
edifícios modernos, os quais se acomodaram como
central - cultura, lazer, comércio e mobilidade -, que
marcos arquitetônicos de influência na cidade. Tais obras
deveriam permanecer até a atualidade. Por meio de fotos
tiveram uma repercussão na paisagem local e marcaram
históricas, é possível identificar um espaço heterogêneo.
uma transformação tanto a nível de mentalidade como
Figura 33 -Complexo Cine Ouro-Verde e edifício Autolon,
de imagem urbana de Londrina.
década de 1950.
Hoje, ao imaginar objetos patrimoniais na cidade a população aponta de imediato os objetos modernistas. Entre as construções que marcaram esse período, as que mais se destacam são a Casa da Criança (1953), a antiga rodoviária e atual Museu de Arte de Londrina (1948), o complexo constituído pelo Edifício Autolon (1950), o Cine Ouro Verde (1952) – antigo cinema e atual teatro, restaurado em 2016 - e o Restaurante Calloni (1950) - desativado à décadas -,
FONTE: Museu Histórico de Londrina, 2018.
91
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Após a passagem do período moderno na
Por meio dos mapas de figura-fundo é possível
cidade, entre as décadas de 1950 e 1960, fatos de ordem
analisar um crescimento acelerado da cidade entre os
conjuntural e estrutural acabaram por mudar a dinâmica
anos de 1974 e 2018. Há uma concentração dos vazios
da cidade de Londrina no nível físico-espacial. Este
nos miolos de quadra, em que o perímetro das quadras
desenvolvimento acelerado pode ser explicado pela
torna-se mais cheio com o passar das décadas. Os
transferência dos lucros gerados pela economia cafeeira
espaços públicos se conformam nos vazios mais
para a área urbana. Neste contexto, percebe-se uma
importantes no Quadrilátero histórico, enquanto os
verticalização acelerada no centro da cidade, tanto a
miolos de quadra vão sendo esquecidos ao se tornarem
definição residencial quanto comercial.
o fundo de uma edificação. Nesse
sentido,
compreende-se
que
o
processo de verticalização foi crucial na formação dos vazios no interior da quadra. Afinal, o parcelamento de 1930, com lotes estreitos, não foi idealizado para ser verticalizado. Os edifícios adquiriram o estilo da escola paulista, com empenas cegas, para serem construídos aproveitando os recuos laterais. E dessa maneira, os vazios iniciais de 1930, perderam sua ideia de vila e, consequentemente, de socialização.
92
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
O portanto,
desenvolvimento
outras
centralidades
da
cidade
para
gerou,
atender
em meia lua que completam o quadrilátero histórico,
as
testemunha-se a permanência da cidade pioneira, o que
necessidades da população, como por exemplos o
leva a compreender que o território do jovem Centro
subcentro da Av. Saul Elkind na zona Norte ou vias
Principal ainda guarda qualidades em seus espaços
especializadas e shoppings centers, uma característica da
públicos.
cidade contemporânea, o que acabou disseminando parte da população. Os espaços públicos nessas últimas décadas sofreram transformações, intervenções de requalificação mal planejadas ou falta de manutenção e cuidado do interesse público. O calçadão de Londrina, por exemplo, sofreu modificações que causaram impactos negativos em relação à memória do local, com a perda de elementos físicos que caracterizavam a paisagem.
A constituição de um acervo permanente de obras significativas para a historia da cidade consiste assim em uma peça fundamental para a construção de uma memória londrinense, assim como a identificação dos exemplos de valor que representem os seus diversos momentos e formem seu verdadeiro patrimônio. (CASTELNOU, 2002).
No Centro Principal as apropriações culturais dos espaços públicos acontecem de maneira espontânea.
Apesar da passagem do tempo, a malha
O calçadão, sob olhar das manifestações, se conforma
ortogonal, a implantação da catedral, o desenho original
como um símbolo da cidade ao permitir diversas maneiras
das praças implantadas nas quadras que formam o eixo
de apropriação. Isso só foi possível graças seu destino
central - Praça Rocha Pombo e Praça Mal. Floriano
exclusivo ao pedestre, o que expressa a importância de
Peixoto - e os edifícios referenciais, as praças com vazio
valorizar o térreo neste espaço.
93
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
FIGURA 35 - MAPA DE FIGURA-FUNDO 1974.
N
1:8000 FONTE: Autor, 2018.
94
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
FIGURA 36 - MAPA DE FIGURA-FUNDO 2018.
1:8000 FONTE: Autor, 2018.
95
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Consagra com seu vazio um ponto crucial para o desenrolar de protestos, performances, feiras, etc; se insere no centro como um palco que se abre ao início de qualquer manifestação artística. Ainda nesse sentido, outros espaços públicos da área central de Londrina corroboram
com
qualidades
potenciais
para
o
desenvolvimento dessa ludicidade. A concentração das qualidades espaciais no Centro Principal motiva grandes potenciais em diversas atividades. No entanto, em seu estado atual, esses espaços
não
caracterizam
um
espaço
realmente
socializador, por conta do novo paradigma social (BAUMAN, 1999). Este déficit gera uma sensação errônea de
esvaziamento
e
abandono
nos
horários
não
comerciais, o que permite problemas sociais na região. Ao analisar a história especifica do Calçadão, por exemplo, pode-se perceber que, historicamente, reinterpretações dos espaços públicos são intrínsecas na cidade, onde surgiram tentativas e aplicações diferentes.
96
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
8
3 2 4
5
Figura 11 - MAPA DE ESPAÇOS PÚBLICOS 1. Praça Danielides 2. Praça Gabriel Martins 3. Praça Ml. Floriano Peixoto 4. Praça Willy Davis 5. Praça Primeiro de Maio 6. Bosque Ml. Candido Rondon 7. Praça Sete de Setembro 8. Praça Rocha Pombo
N
Escala 1:5000
7
6
Fonte: IPPUL, 2018. Google Maps, 2018, modificado pelo autor.
97
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 38 - Performance no Calçadão de Londrina, 1995.
2.1.1. Calçadão: um palco a céu aberto A história do Calçadão de Londrina iniciou-se com transformação da Avenida Paraná em uma via exclusiva para pedestres. Desde 1938 existem relatos da movimentação de pedestres (YAMAKI, 2006). A mudança física, desenvolvida pelo arquiteto e
urbanista
Jaime
Lerner,
em
1977,
alterou
profundamente o cotidiano no Centro Principal de Londrina, seja na modificação dos trajetos por parte dos
FONTE: Acervo Jornal Folha de Londrina, 2016.
Figura 39 - Teatro na rua na Praça Gabriel Martins, 2014.
motoristas, na revitalização comercial da região ou na formulação de um espaço urbano com uma nova proposta. Dessa maneira, é importante ressaltar que o projeto legitimou-se como um palco para as expressões culturais e cotidianas da cidade. O espaço do atual Calçadão foi realizado sob a pavimentação da Avenida Paraná, de maneira gradativa. Durante o processo pioneiro de urbanização, em 1938, a Avenida Paraná, via de terra e sem
98
FONTE: FARINA, José Carlos, 2014.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
pavimentação, era a avenida com maior destaque da
primeira via pavimentada foi a Avenida Paraná. O
cidade e incorporava, além do espaço do atual
material pioneiro manteve-se até 1970, quando, na
Calçadão, as Avenidas Quintino Bocaiuva e Celso Garcia
gestão de José Richa, o paralelepípedo é substituído
Cid (GUEDES, 2012).
pelo asfalto (GUEDES, 2012). Atualmente, ao se deparar
A terra vermelha, característica inerente da
com um “buraco” no asfalto das ruas da área central é
cidade, em dias de chuva, transformava a via em um
possível perceber o paralelepípedo sob a pavimentação.
lamaçal, com isso o deslocamento se dava de maneira
Durante a década de 1950, com o crescimento
mais lenta e algumas vezes impossível; em dias
econômico da cidade, principalmente por meio da
ensolarados, a poeira fina também não ajudava
produção cafeeira, a Avenida Paraná se consolidou
(GUEDES apud YAMAKI, 2012).
como centro comercial. Um dos pontos que averiguam
Com o passar dos anos, as casas pioneiras da
tal fato é que nesta avenida se instalou os principais
década de 1930, foram progressivamente substituídas
corretores cafeeiros. Ainda sofreu prática especulativa
pela arquitetura Art Déco e Moderna, dando espaço a
no período, e transformou-se quase numa bolsa de
verticalização. Entretanto, era possível perceber que a
valores informal do café, conhecida como “Pedra do
Avenida Paraná era “um espaço londrinense que desde
Café" quando os especuladores se reuniam para se
o início, até os dias de hoje, conserva a mesma função
atualizarem. Período também marcado pela prática do
urbana, isto é, a comercial” (IPAC, 1995, p.10).
footing, o qual caracterizou os passeios coletivos, em
A pavimentação de Londrina se iniciou em 1943, por meio do sistema paralelepípedos, em que a
que a Avenida Paraná ficou repleta de transeuntes por lazer e esporte (IPAC, 1995).
99
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
A Avenida Paraná consolidou-se como a
O Departamento de Planejamento Urbano era
“principal artéria de Londrina e para onde a população
chefiado por Bortolotti, que analisou a pedestrianização
se desloca pelas mais variadas razões” (IPAC, 1995, p.
da Avenida Paraná, entre a Rua Professor João Cândido
15), um interstício que marca a história da cidade.
e a Avenida Rio de Janeiro como uma ação positiva. A
Todavia, o fluxo de automóveis prejudicava o convívio
polêmica estabelecida nos meios de comunicação e a
entre carros e pedestres. Dessa maneira, a discussão do
preocupação de alguns comerciantes deste trecho, os
fechamento da Paraná para automóveis surgiu, por parte
quais se mostravam descrentes ou céticos, levaram a
da comunidade, e foi acatada pela PML (Prefeitura
Prefeitura
Municipal de Londrina), a qual instalou o Calçadão de
fechamento
Londrina, exaltado na época como o primeiro de uma
mencionado, com o objetivo de verificar sua viabilidade
cidade do interior do Brasil, a exemplo de muitos
(BORTOLOTTI, 2007, p. 153).
empreendimentos que acabaram por construir a imagem de uma cidade “pioneira” (IPPUL, 2018). O
100
procedimento
para
intervenção
Municipal
de
provisório
Londrina da
a
extensão
propor no
um
trajeto
Para este fechamento provisório nenhuma obra foi realizada na Avenida, de fato se impediu o
foi
trânsito ao colocar floreiras nos limites estabelecidos
considerado como “democrático” pelo arquiteto João
pela PML. Com isso, decorre uma grande divulgação
Baptista Bortolotti (2007), em que a discussão acerca do
midiática deste fechamento por conta da modificação
fechamento de ruas centrais teve como inspiração os
gerada no tráfego da região central. A população,
resultados satisfatórios atingidos na rua de pedestres de
segundo Bortolotti (2007), reagiu de maneira positiva às
Curitiba: a rua das Flores.
mudanças. Aos finais de semana, eventos de animação e
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Figura 40 - Avenida Paraná ainda aberta ao trânsito, em novembro de 1973. O Calçadão um mês antes da inauguração em 1997.
manifestações culturais se instauraram no espaço, e gradativamente,
a
rua
de
pedestre
foi
sendo
denominada como Calçadão. Portanto, a responsabilidade da entrega do Calçadão à cidade, foi do prefeito Antônio Belinati que contratou o escritório do arquiteto Jaime Lerner para preparação para realizar uma revitalização do centro de maneira geral, um plano de ações e a preparação da rua de pedestres (BORTOLOTTI, 2007, p. 152).
Figura 41 - Calçadão inagurado 1977. Quiosques e luminárias.
Figura 42 - Calçadão em frente à Praça Marechal Floriano Peixoto, 1979.
FONTE 40 e 41: Acervo Jornal Folha de Londrina, 2017.
101
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 43 - Praça Marechal Floriano Peixoto em uma apresentação acrobática, em 1977 e Praça Danielides, em 1991.
Em 1977, o Calçadão de Londrina é entregue á população, pela Prefeitura, com seu calçamento em mosaico de pedras portuguesas, os chamados petitpavet6, com desenho de correntes que representavam a mistura dos povos que haviam colonizado a cidade (IPPUL, 2018). Segundo o arquiteto Bretas, que trabalha na Prefeitura na época da construção do Calçadão, o mosaico “criava uma rede” e foi desenvolvido com urgência (YAMAKI, 2006). Similar ao Calçadão da Rua das Flores, em Curitiba. Da mesma maneira, o visual do Calçadão sofreu diversas transformações seja nos bancos, nos telefones públicos, ou em outros elementos de sua constituição (IPPUL, 2018). Em suma, cada gestão municipal se preocupou em modificar algum detalhe físico do Calçadão.
FONTE: Acervo Jornal Folha de Londrina, 2017. 6
Nome coloquial que faz relação ao mosaico ou pedra portuguesa. Termo possivelmente associado à cidade de Curitiba.
102
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
O projeto original apresentado em 1977 abrangia não somente a Avenida Paraná, como é atualmente, mas também o Bosque e outras praças (somente duas se tornaram parte do Calçadão) conforme desenho oferecido pelo urbanista Jaime Lerner e quipe à Prefeitura Municipal de Londrina, e publicado na imprensa em primeiro de junho de 1977. A reportagem ressaltava que o “centro de Londrina passaria por uma total reurbanização”, e que o projeto possuía três pontos básicos: a) melhorar organização do sistema viário; b) melhorar a distribuição do transporte coletivo e c) organizar os pontos de encontro, buscando revitalizar a cidade, inclusive, no setor terciário. Pode-se perceber mais detalhes em relação ao projeto a partir da reportagem de capa do Jornal de Londrina:
O centro de Londrina passará por uma reurbanização quase completa, segundo o projeto apresentado ontem pelo prefeito Antônio Belinati e outras autoridades e à imprensa, pelo arquiteto Jaime Lerner e sua equipe, que vieram especialmente para este fim. Será criada a “rua de pedestres”, ao tempo em que passarão por completa transformação as praças Primeiro de Maio, Willie Davis e Marechal Floriano, bem com as áreas adjacentes ao Bosque. (...) A urbanização compreenderá áreas de lazer, como quiosques, bares, sorveterias, telefones, bancas de revistas, palco para “roda de música”, abrigos para comercialização artesanal, teatrinho para crianças (...) ao tempo em que se estabelecerá mudanças no sistema viário, afastando da área central o automóvel, até onde isto for necessário. O plano é executar toda esta obra em nove meses, a um custo de 16 milhões de cruzeiros. (Folha de Londrina, 1977, p. 01)
103
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 44 - Os pontos de encontro do projeto original e suas diretrizes na
O Calçadão, depois de finalizado possuía,
revitalização da área central de Londrina em 1977.
inicialmente, 350 metros de comprimento, e posterior a 1991, 650 metros de comprimento. Uma área total de superfície de 16.530,93 metros quadrados. Equipado com mobiliário urbano específico, com similaridades ao Calçadão de Curitiba, mas em sua maioria desenhados exclusivamente para Londrina. Bancos de madeira e de concreto, telefones públicos, floreiras e lixeiras são exemplos. Em 2009, na gestão do prefeito Barbosa Neto, iniciou-se um projeto urbanístico de reformulação com o intuito de acessibilizar a região. A pedra portuguesa foi substituída pelo piso intertravado, conhecido como paver, descaracterizando totalmente a linguagem estética do calçadão e promovendo a perda da técnica construtiva material; as luminárias, bancos, lixeiras, foram quase todos substituídos. Da intervenção, tem-se como positivo a coleta das águas pluviais por meio das floreiras e a FONTE: IPPUL, 2018. Caderno Cidade de Londrina - Revitalização da Área Central. Autor Jaime Lerner Planejamento Urbano, 1977, p. 20.
104
estruturação das rampas acessíveis.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
O procedimento chamado na mídia como
Figura 46 - Nova configuração da Praça Gabriel Martins, após intervençãoacessibilização do Calçadão, com execução em de 2013.
“reforma do Calçadão” alcançou um debate sobre a identidade e imaginabilidade de Londrina e a importância histórica do Calçadão. Por conta do Cine-Teatro Ouro verde ser tombado pelo estado Paraná, o trecho referente a quadra 5 manteve-se intacto, com piso e mobiliários originais (GUEDES, 2012). Dessa maneira, enxerga-se o Calçadão como um espaço de pregnância da boa forma, interstício entre os espaços públicos. Figura 45 - Desconfiguração do piso original do Calçadão após intervenção municipal de 2013. Substituição da pedra portuguesa pelo piso intertravado.
FONTE: Acervo Jornal de Londrina, 2017. Modificado pelo autor.
FONTE: Acervo Jornal de Londrina, 2017. Modificado pelo autor.
105
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
w
106
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
TERCEIRO ATO 5. A TRAVESSIA
Na cena 2, utiliza-se a metodologia da autora Maria Elaine Kohlsdorf (1996) do livro Apreensão da Forma da Cidade, mais especificamente a percepção ambiental e a visão serial, com técnicas de caracterização (métrica e os estímulos visuais, por exemplo). Prioriza-se, na Cena 2 a investigação de conectividade entre os potenciais interstícios e o espaço público, os quais estão associados
aos
edifícios
desocupados
e
espaços
residuais, vistos na Cena 1. A Cena 3 entra com as referências urbanoO terceiro Ato, denominado “A travessia” pelo centro de Londrina é o ponto de descoberta do espaço de intervenção, onde se pretende situar o leitor sobre a realidade do centro e de seus espaços públicos. Ele é dividido em três cenas, a Cena 1 explicita a busca dos interstícios.
Faz-se uma interpretação da realidade
arquitetônicas que auxiliaram no desenvolvimento das propostas.
Buscam-se
referências
nacionais
de
intervenção, afinal a realidade dos espaços públicos das áreas centrais brasileiras difere-se de outros países. É importante ressaltar a importância da cultura local e popular no âmbito brasileiro.
associado a uma análise morfológica com levantamentos e estudos da região Centro Principal de Londrina.
107
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
5.1 CENA 2 – A BUSCA DOS INTERSTÍCIOS
própria sociedade. Por isso, a reinterpretação do centro neste trabalho destaca conexão e ampliação da ideia de espaços que já existem, propondo usos mais coletivos e
O centro é um espaço de disputas, celebraões
socializadores.
Torna-se,
portanto,
um
ensaio
ao
e conflitos. Representa o cenário da gênese da cidade.
complemento e fomento das atividades nas áreas centrais.
Nele todos podem e devem se expressar, afinal é um
No caso do Centro Principal de Londrina, é
espaço múltiplo e heterogêneo. Carrega consigo o viés da
importante ressaltar que o abandono não é justificável,
representação de toda a sociedade numa só parte. Dessa
isso se torna evidente quando se tem uma grande parte
maneira, pensar e agir no centro de Londrina exige
da população da cidade habitando o centro (ZANON,
enfrentar o campo de projeto como um campo de
2014). No Plano Diretor observa-se que na densidade
negociação de conflitos, em que exista uma coexistência
demográfica por bairros da região Centro, o “Centro
pacífica para promoção das manifestações.
Histórico”
Vimos nos atos anteriores que a realidade de Londrina se desdobra num centro jovem com espaços
lidera
o
ranking
tanto
em
densidade
populacional quanto em densidade construída. Tabela 01 - Tabela Densidade Populacional por bairro.
públicos de qualidade, que estão em constante mutação, onde a socialização sofreu modificações ao longo do tempo. A socialização nesses espaços foi alterada, houve a quebra de paradigmas, devido as transformações da FONTE: IPPUL, 2010.
108
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Labasse (1970) apud ZANON (2014) elucida dois aspectos para a definição de centro, a intensidade de fluxo de comunicação de pessoas, tráfego, mercadorias, informação
AV. leste-oeste
e
densidade
de
equipamentos
para
atendimento da cidade. Como um local de “vivência” ou local da “experiência vivida” de uma forma empírica onde as pessoas elegem seu centro por aquilo que este av. duque de caxias
rua sergipe
av. rio de janeiro
AV. HIGIENÓPOLIS
av. são paulo
CALÇADÃO
simboliza. A busca dos interstícios das próximas cenas torna-se
o
meio
para
aplicação
espacial
dessa
investigação. Transmitir espaços que se mostrem mais av. cel so
garcia c
id
flexíveis e que compreendam melhor as necessidades da sociedade transitória que vivemos.
Figura 45 - MAPA DENSIDADE DEMOGRÁFICA (hbaitante/km2) N Ausência de valor 0
- 3808,04
3814, 53 - 8224,48 8261,23 - 42062,42
Londrina é caracterizada por uma grande diferença de relevo, em que se encontram desde áreas mais planas até inclinações não apropriadas para
ESC. 1:10000
Fonte: Autor, 2018. Dados IBGE, censo 2010.
109
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
construção. Além disso, é composta por diversas várzeas,
também contínuos na sua forma e sem permeabilidade à
conhecidas no território como fundos de vales que
circulação, podendo ter efeito de segregativo.
proporcionam grandes espaços verdes em toda a cidade
Figura 46 - Esquema relevo, traçado e parcelamento Centro Principal.
e pontos visuais particulares e atrativos. As peculiaridades geográficas e as vantagens da comercialização das glebas e dos lotes urbanos apontam para o atual modelo de ocupação implantada nas quadras do centro. No qual, teve como divisor a
parcelamento atual
estrada de ferro, atual Avenida Leste-Oeste, onde as quadras regulares desceram os espigões ou chapadas e se conformaram ruas em tabuleiros de xadrez com espaços públicos na porção central, como explicitado na história.
traçado urbano
Os limites7 mais fortemente percebidos são aqueles não apenas proeminentes visualmente, mas
relevo 7
São elementos lineares constituídos pelas bordas de duas regiões distintas, configurando quebras lineares na continuidade. Definido por Lynch, 1960.
110
FONTE : Autor, 2018.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
575
580 585 620
590
rua sergipe 625
595 600
615
av. duque de caxias
CALÇADÃO
625
620
av. rio de janeiro
AV. HIGIENÓPOLIS
av. são paulo
605
av. cel so
Pontos mais elevados Curva de nível +625 Curva de nível +550 FONTE: Autor, 2018. Dados IPPUL, 2018.
id
615
610
Figura 47 - MAPA TOPOGRÁFICO DO RELEVO NO CENTRO PRINCIPAL
Visuais
garcia c
590 605
595
585
580
N
575 570
ESC. 1:10000
620
565 560
111
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
figura
Figura
Neste caso, a atual Avenida Leste-Oeste
Além da Avenida Leste-Oeste, outros limites
comporta-se como um limite a partir do momento que
são apontados para definição da área de estudo como
delimita qual região do centro é mais privilegiada. É um
Avenida Higienópolis, que transmite uma sensação de
exemplo de cicatriz da cidade.
passagem, uma clara mudança de uso e de conteúdo
Apresenta-se como um vazio fragmentado
social.
(YAMAKI, 2006), um limite sensível da malha urbana.
Antiga avenida aristocrática (YAMAKI, 2006),
Antes linha férrea, hoje uma via para carros com canteiro
abrigava grandes casarões e prédios residenciais de alto
central arborizado, com uma promessa de futura reserva
padrão. Atualmente, uma via comercial que ainda se
para transporte público coletivo.
mantém com canteiro central. A Avenida Higienópolis Figura 48 - Corte limites sensíveis do Centro principal.
limite/ruptura rua benjamin constant
rua sergipe
calçadão
bairro limítrofe
corte limites centro principal esc. 1:6000 112
FONTE : Autor, 2018.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
marca gradativamente um limite entre o Centro Principal
Entendendo as rupturas sensíveis do espaço
e um outro centro. Ainda denominado como centro,
que permeiam e delimitam o centro, torna-se mais fácil
porém abriga uso e ocupação mais residencial e com
demarcar os pontos de interesse e um primeiro recorte de
tipologias diferentes das quadras iniciais.
estudo. Nesse sentido a Avenida Leste-Oeste e a Avenida
Figura 49 - Esquema limites Centro Principal de Londrina.
Dez de Dezembro se caracterizam como grandes marcas na malha urbana limítrofes do centro, distinguindo-o dos bairros adjacentes. Em Londrina a segregação espacial que o Centro Principal se conforma com alguns bairros adjacentes expressa por si só uma má relação com a ideia de se usufruir do centro de maneira coletiva. Por isso, torna-se pertinente apontar que área
limites
central pode contribuir com as populações segregadas ao transformar seus espaços públicos em espaços mais convidativos, com fomento de usos mais lúdicos e com teor cultural apreensível a mais setores de população. Na tentativa de desenrolar o entendimento
figura-fundo 2018
social que esses limites estabelecem com o Centro Principal
de
Londrina,
depara-se
a
suscetível
FONTE : Autor, 2018.
113
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
gentrificação8
dos
bairros
adjacentes,
mais
escala de análise, concentrando no primeiro recorte, que
especificamente a porção leste do Marco Zero e norte,
abrange os principais espaços públicos do centro: Calçadão
Vila Casoni. O Centro Principal, especificamente, ainda
e as praças pioneiras.
não sofre com essa vulnerabilidade por conta do seu conteúdo social.
paisagem do Centro Principal em conjunto com os
Apesar do centro de Londrina ainda não sofrer
edifícios, relevo e o traçado. O relevo acentuado da região
de tal vulnerabilidade, está fisicamente próximo das
gera pontos mais elevados e outros menos, trazendo uma
áreas em questão. Com isso, estimular espaços públicos
multiplicidade e uma hierarquização visual.
com maior fomento cultural, ligado a edifícios que
Neste sentido, em alguns pontos é possível
tenham um teor mais social, com usos diversificados e
visualizar a paisagem e compreender sua conformação à
moldam a ideia de direito a todos ao centro.
distância. Isso se deve também ao fato da concentração
A partir da visualização desses limites do Centro
da verticalização ser predominantemente nas áreas de
Principal para com seus pontos adjacentes, diminui-se a
relevo mais acentuados.
8
um encarecimento de um espaço que antes era desvalorizado. Em terceiro plano, a nível físico, pois as intervenções agem nos espaços públicos com propostas lidas como reabilitações e renovações.
Segundo Rigol (2009, p.221) a gentrificação é uma transformação no setor urbano que consiste na mudança a nível social, econômico, físico e cultural, ligado ao senso de revalorizar, geralmente o centro da cidade. Em primeiro plano, tem-se o setor social que sofre com a substituição dos residentes. Num segundo momento, no setor econômico, o processo se conforma em uma revalorização do solo, ou seja,
114
Dessa forma, a malha urbana compõe a
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A vegetação se apresenta em espaços abertos
regularidade
e
simetria.
Com
isso
tem-se
como o Bosque e nas praças Marechal Floriano Peixoto e
identificabilidade e legibilidade9 dos espaços, ou seja, é
Rocha Pombo.
fácil de se locomover e localizar, onde os eixos visuais se
Os espaços abertos e praças estão localizadas bem ao centro do traçado, conformando uma matriz e concentração de espaços públicos. Atualmente, em meio
tornam marcantes e importantes no conjunto com os edifícios. Percebe-se
contraste
nos
efeitos
visuais
a verticalização, esse vazio pode ser compreendido como
proporcionados pela composição dos edifícios pioneiros
um respiro à massa construída. Dessa forma, associá-los a
em relação à topografia e ao traçado urbano, os quais
outros vazios pode contribuir para uma fluidez na
geram relações de cheios e vazios nas fachadas.
repentina verticalização.
Elas entusiasmam e proporcionam variações
A vegetação também está associada aos vazios
de percepção, por ora surpresa, com suas aberturas e
dos espaços públicos e aos canteiros centrais, sendo o
ritmo, por ora certo estreitamento. Esta conformação gera
Bosque um dos pontos mais expressivos.
qualidades expressivas, pois a população consegue
O traçado urbano e a tipologia das edificações completam a paisagem do Centro Principal, já que os
assimilar marcas em seu imaginário urbano do Centro Principal, atribuindo-lhe características exclusivas.
mesmos possuem características singulares, como a
9
1960, LYNCH.A imagem da cidade. O termo refere-se a facilidade com que cada uma das partes [da cidade] pode ser reconhecida e organizada em um padrão coerente” ( p.2).
115
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 50 Esquema setores de identidade.
edifícios ícones do centro
Complexo Ouro Verde Edifífcio América Museu de Arte Moderna Museu Histórico Edifício Fuganti Catedral Hotel Sahão
ESPAÇOS PÚBLICOS vegetação mais densa Destaque para as praças pioneiras e para o Bosque.
Calçadão Rua sergipe av. duque de caxias av. leste-oeste av. São paulo av. Rio de janeiro
FONTE: Autor, 2018.
116
N
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Segundo Ortegosa (2009), a arquitetura e os
Além disso, os materiais, as cores e as texturas
lugares da cidade constituem o cenário onde nossas
utilizadas no período da construção, marcam a história da
lembranças se situam e, na medida em que as paisagens
construção
construídas fazem alusão a significados simbólicos, evocam
remetendo ao passado e trazendo a lembrança da história
narrativas relacionadas às nossas vidas. Assim, a maneira
que aquele lugar tem o objetivo de transmitir. Por meio do
como interpretamos nossas experiências no espaço
levantamento especifico da região, nota-se com o uso e
converte-se em nossa realidade e possibilita-nos dar
ocupação a carência de espaços fluidos, culturais e de
significado ao nosso mundo físico. Com o passar do tempo,
respiro que propiciem maior dinâmica na experiência urbana
uma constelação de signos se estratifica na memória coletiva
do Centro Principal.
dos
edifícios
implantados
nesses
eixos,
constituindo uma cidade análoga. Nesse contexto, é importante ressaltar as particularidades de alguns eixos, que concentram maior identidade, memória, fluxo e espaços públicos, como a Rua Sergipe, Avenida Rio de Janeiro, São Paulo, Duque de Caxias e Leste Oeste, e o próprio Calçadão, onde a tipologia das construções e o tipo de comércio e serviço caracterizam as vias e permitem aos usuários que se localizem em relação às outras vias, além de servir de referência para a localização dentro da malha urbana.
117
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 51 - Mapa fluxo de pedestres, sistema viário.
Figura 52 Avenida Leste Oeste se apresenta hostil aos pedestres.
pedestres fluxo pedonal pontos de grande fluxo
concentração de pedestres no calçadão e próximo ao terminal central urbano.
N
dificuldade de travessia na avenida leste-oeste
sistema viário FONTE: Autor, 2017.
PEDESTRES Coletoras Arteriais Estruturais
Figura 53 - Corte esquemático mobilidade Centro Principal.
FAIXA DE ROLAMENTO PEDESTRE R. Piaui
ESTACIONAMENTO
Calçadão R. Para
R. Espirito Santo R. Goias
FONTE: Autor, 2018.
118
Avenida Leste-Oeste
R. Sergipe 3
R. Benjamin Constant
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
No âmbito da mobilidade, o sistema viário do
Vila Casoni, um dos primeiros bairros a surgir na cidade.
centro segue a malha urbana definida pelas quadras
As
conexões
dos
pedestres
são
feitas
ortogonais, em que essas mesmas foram cortadas pelas
principalmente pelas Avenida Rio de Janeiro e São Paulo,
principais vias de circulação, além da espinha dorsal de
que ligam a Av. Paraná (Calçadão) ao Terminal Central de
penetração definida pela atual Avenida Leste-Oeste.
Transporte Coletivo, sendo este um dos principais
A malha seguia um padrão rígido em rede
geradores de fluxo da área. As ruas perpendiculares à Av.
ortogonal, com ruas de nove metros em dois sentidos,
Higienópolis, como a Rua Pio XII e a Rua Sergipe também
ligando todas as quadras da área central e distribuindo
fazem a conexão entre a parte oeste da cidade com o
para as vias estruturais.
centro.
A Avenida Leste-Oeste liga toda a área
Com
o
fomento
nas
discussões
sobre
comercial da região central no sentido de leste a oeste,
mobilidade urbana, a prefeitura de Londrina implantou
distribuindo seu fluxo nas Avenidas Brasília e Dez de
algumas ciclofaixas que conectam a cidade com o centro,
Dezembro, principais avenidas da cidade.
iniciando a promoção do uso de transportes alternativos,
Além dessas conexões, a Avenida Duque de
como a bicicleta. Entretanto, ainda não existe um circuito
Caxias, atual centro comercial voltada para móveis
bem planejado ligando esses pontos, dificultando a
usados/antigos, foi e é uma das principais ligações entre
locomoção por esses usuários, sendo que em alguns
o centro e os bairros pioneiros localizados ao norte da
pontos essas faixas acabam por dificultar a conexão com
Av. Leste-Oeste, sendo que a mesma era utilizada pela
outros pontos.
população pioneira para ligar os bairros centrais com a
119
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 53 - Mapa de uso e ocupação.
MAPA DE USO E OCUPAÇÃO Residencial
N
Comercial Serviço Lazer
Institucional
FONTE: Autor, 2018.
120
ESC. 1:10000
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
É importante salientar pouca existência ou
Ao analisar a tipologia das quadras do Centro
inexistência de atividades atrativas no período noturno, o que
Principal, nota-se que o traçado urbano se mantém
gera na população em geral a errônea ideologia do
regular, em que as quadras originais foram mantidas.
abandono e esvaziamento, como uma região “desabitada”,
Geralmente 20 lotes desde as primeiras ocupações.
como explicita Vilaça (2009) sobre outros centros. Esse
A tipologia de quadra quadrada garante uma
sentimento não corresponde a realidade quando analisamos
maior legibilidade, ou seja, de fácil identificação no
a densidade e o uso e ocupação da região.
espaço e melhor caminhabilidade, pois temos um maior
O mapa de uso e ocupação reforça a ideia de
número de lotes em uma distância menor de quadras.
que o Centro Principal de Londrina é um lugar habitado. O
No entanto, os lotes formados são longitudinais e a
conteúdo social expresso demonstra uma concentração
forma de ocupação gerou miolos de quadra vazios e
popular ou de pessoas tradicionais da região, que habitam o
residuais.
mesmo edifício a décadas.
Nessa
tipologia,
os
lotes
compridos,
Ainda nesse sentido, o Centro Principal, como
principalmente os que estão ao centro, dificultam a
um espaço disputado dentro da cidade, deve atender um
relação com o edifício. No início da cidade, tais lotes
uso misto e diversificado. Percebe-se a grande presença do
eram ocupados por diversas famílias, com casas
setor de comércio e serviços diurnos, os quais deveriam ser
espalhadas, transformando-se numa espécie de vila,
atrelados a uma variedade de outros usos, turnos e horários
como explicitado em fotografias históricas e nos mapas
para garantir uma melhor vivência urbana.
de figura-fundo.
121
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 53 - Esquema de quadras do Centro Principal.
Atualmente, grande parte desses lotes possui POSSIBILIDADES
QUADRA BASE CENTRO
INÍCIO
ATUALMENTE
Centro Principal como espaço múltiplo e que em
20 LOTES
125
áreas residuais ao fundo. Nesse sentido, entendendo o
algumas décadas se firmará cada vez mais como um
105
evolução temporal
USO COLETIVO
centro histórico, não seria pertinente repensar a forma de ocupação dessas quadras originais regulares? Transformar esse microparcelamento em espaços mais otimizados sem perder o desenho original. Com isso, os lotes do meio de quadra, dessa maneira, podem se transformar em interstícios, tendo seu
térreo
livre
para
atividades
coletivas
e
socializadoras, quando existir um edifício, ou tornandose um espaço público para diversas manifestações culturais, o que cria mais espaços lúdicos dentro do
os miolos de quadra vazios estáticos
centro. Associado
as
lojas
e
galerias,
que
já
promovem o cruzamento entre quadras, conectados aos espaços públicos, teríamos diferentes maneiras de FONTE: Autor, 2018.
122
descoberta no Centro Principal.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Para afunilar o desenvolvimento da análise,
Antigo edifício da ULES pelo MARL – Movimento dos
aponta-se as atividades culturais afim de entender um
Artistas de Rua de Londrina demonstra essa importante
adensamento no centro e suas imediações, em conjunto
relação da população com o centro principal. Ocupar se
com edifícios que compreendam algum indicativo
torna uma resistência, nesse sentido.
pioneiro
e
transmitam
uma
memória
afetiva
Os espaços residuais se conformam em vazios
aos
sem significado e que não incrementam ás atividades do
habitantes. cultural
entorno. Nesse sentido, levantou-se os estacionamentos,
estabeleceu-se um raio de abrangência de 50 metros. Por
visto que lotes sendo ocupados com estacionamento
ser o núcleo de origem de Londrina e ter sido ocupado
numa área de solo rico e fragmentado como o centro
levando em consideração suas características físico-
torna-se um espaço inóspito frente a fundamentação
territoriais, o centro principal caracteriza-se como um dos
teórica
locais que mais podemos perceber uma variedade de
desocupados da região.
Em
cada
ponto
de
atividade
apresentada
no
Primeiro
Ato;
e
edifícios
É visível a presença de um maior número de
apropriações cotidianas. espaços
lotes com estacionamentos na porção leste, limítrofe à
culturais e artísticos é principalmente espontânea e
Avenida Dez de Dezembro e ao Complexo Marco Zero.
independente. Muitos teatros, manifestações e eventos
Dentre os edifícios desocupados, destacam-se o antigo
são organizados pela população e por produtores
edifício do Banco Itau e Banestado e o Hotel Sahão. No
artísticos da cidade na Concha Acústica ou nos Centros
entanto foca-se a análise sobre os vazios mais próximos
Culturais, como SESI e SESC Cadeião. A ocupação do
aos espaços públicos.
Atualmente,
as
apropriações
e
123
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
av. leste-oeste
3
1
av. higienópolis EDIFÍCIOS DESOCUPADOS
4 N
Escala 1:10000
ESPAÇOS PÚBLICOS galerias entre quadras
1- edifício antigo banestado 2- cine augustus 3- hotel sahão 4- antigo cine vila rica
124
calçadão
2
MAPA DE EDIFICIOS DESOCUPADOS, ESTACIONAMENTOS e galerias ESTACIONAMENTOS
av. duque de caxias
rua sergipe
Raio Cultural
áreas de interesse
av. celso g ar
cia cid
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Dessa
maneira,
sobrepondo
todas
5 . 2 C E N A 2 – A C O N E X Ã O D O S
as
investigação percorrida é legível a toda população, por
camadas, os miolos de quadra expressivos nos mapas de
caminhar entre os pontos ícones do centro principal da
figura-fundo, o uso e ocupação específico da área e os
cidade.
edifícios desocupados, espaços residuais e pontos culturais, aponta-se os principais vazios estratégicos no Centro Principal.
Interstícios 5 . 2 C E N A 2 – A C O N E X Ã O D O S Interstícios
Para compreender como estes vazios se
Com a intenção de melhor conectar os
conectam ao espaço público, propõe-se uma rota de
espaços públicos e os vazios do recorte estabelecido do
investigação a nível do pedestre associado a toda análise
Centro: miolos de quadra, edifícios desocupados e
espacial até aqui estabelecida. Aborda o Calçadão e os espaços públicos imediatos do Centro Principal. Sendo o Calçadão é o espaço de maior pregnância da área central, visto que a intervenção está inclinada na interpretação e criação de interstícios que conectem o espaço público e os espaços e edifícios subutilizados. Ao abranger os espaços públicos que já estão no imaginário urbano da população estabelece-se uma maior chance do interstício criado ser apropriado, pois a memória e o fluxo já existem. Além disso, a rota de
a intenção de melhor conectar os espaçosCom residuais encontrados na análise morfológica, espaços públicos os vazios do recorte estabelecido do parte-se para ae escala do pedestre com a análise visual. Centro: miolosA rota de de quadra, análiseedifícios aborda odesocupados Calçadão, vistoeque espaços residuais encontrados na análise morfológica, é o objeto de estudo com maior apropriação cotidiana, parte-se parapelos a escala do pedestre a análise visual. seguido espaços públicoscom imediatos a ele. Baseia-se A rota análise abordaurbano. o Calçadão, visto inicia-se que o percurso no de atual imaginário Com isso, é o no objeto detrecho estudoremanescente com maior apropriação único da Avenidacotidiana, Paraná não seguido pelos espaços imediatos a ele. Baseia-se transformado aindapúblicos num espaço somente para pedestres. o percurso no atual Com isso, inicia-se Ao adentrar o imaginário Calçadão urbano. tem-se as Praças Danielides, no único remanescente da Avenida Gabrieltrecho Martins, Marechal Floriano PeixotoParaná e Willie não Davids. transformado ainda num espaço somente para pedestres. Ao adentrar o Calçadão tem-se as Praças Danielides, Gabriel Martins, Marechal Floriano Peixoto e Willie Davids.
125
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
AV. HIGIENÓPOLIS
AV. LESTE-OESTE
Pr. Rocha Pombo
12
1
2
3
4 Pr. Gabriel Martins
5
Calçadão 6
Praça Ml Floriano Peixoto
Pr. WillieDavids
11 Catedral
de Londrina
MAPA DE ROTA DE INVESTIGAÇÃO LEGENDA ESPAÇOS SUBUTILIZADOS ESPAÇOS PÚBLICOS ROTA
FONTE: Autor, 2018.
126
ESTAÇÃO
N
Escala 1:10000
Pr. Sete de Setembro
10
Bosque Ml Rondon
9 Bosque Ml Rondon
7
8
Pr. Primeiro de Maio
AV. C EL
SO G
ARCI
A CID
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Seguindo pelas praças Primeiro de Maio, em que nos deparamos com a Concha Acústica, a qual concentra manifestações artísticas semanais, o espaço público enclosure da rota, cercada por edificações. Em seguida, o Bosque, grande vazio com vegetação densa e Praça Sete de Setembro. Finalizando na Praça Rocha Pombo, a qual possui elementos como o Museu Histórico e o Museu de Arte Moderna, espaços culturais da cidade, e o Terminal Central Urbano, o qual gera um fluxo diário e constante. As
estações
de
análise,
utilizando
a
metodologia da Kohlsdorf (1996), seguiram o critério de independência de constância do tamanho dos intervalos métricos e temporais, a marcação se deu quando houve estimulo visual durante o percurso, obtendo-se intervalos diferentes.
Figura 56 - Perspectiva Centro Principal com estações de analise visual. FONTE: Autor, 2018.
127
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO Figura 57- Diagrama 01 análise visual.
PERSPECTIVA
8
7
MAPA
11
5
10
9
5
4
1 sentido de leitura
FONTE: Autor, 2018. Street view e procedimento de campo.
128
3
ESTAÇÃO ROTA
ESPAÇOS PÚBLICOS
ESPAÇOS SUBUTILIZADOS
LEGENDA
N ESC. 1:10000
MAPA DE ROTA DE INVESTIGAÇÃO
2
3
N
Escala 1:10000
4
12
6
6
2
1
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
DESCRIÇÃO
alargamento lateral direcionamento
alargamento lateral permanência
TEMPO (minuto)
1:20
2:05
DISTÂNCIA (metros)
VELOCIDADE MÉDIA (m/minuto)
100
60
100
45
alargamento lateral direcionamento
2
100
50
estreitamento corredor
1:32
150
75
alargamento lateral direcionamento
1
50
50
1
100
100
estreitamento direcionamento
PADRÕES
129
estação
ESTÍMULOS VISUAIS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
1
direcionamento preparação para alargamento
Figura 58 - Avenida Paraná, à esquerda. FONTE: Autor, 2018.
direcionamento
130
Figura 59 - Avenida Paraná, à direita. FONTE: Autor, 2018.
Figura 60 - Avenida Paraná, ao centro. FONTE: Autor, 2018.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A estação 1 inicia-se na intersecção da
sem vontade de adentrar as residências à esquerda, em
Avenida Higienópolis com a Avenida Paraná em direção
que o efeito perspectivo de direcionamento conduz o
ao Calçadão de Londrina. O eixo visual do vazio do
observador ao Calçadão.
Calçadão direciona o observador. A partir dele pode-se
A noção do efeito perspectivo é reforçada
apreender que temos a marcação de um espaço
pelos edifícios verticalizados à esquerda, na esquina com
significativo e sedutor. Entende-se a sedução como um
da Avenida Paraná com a Rua Prefeito Hugo Cabral, os
estímulo ao observador em tentar descobrir onde aquele
quais preparam para a surpresa do trecho 1 do Calçadão,
eixo vai levá-lo.
que é marcado por um alargamento lateral. Com isso,
À direita nota-se o vazio do terreno que se
marca-se o fim da estação 1 numa métrica de 100 metros
instala a caixa d’agua da cidade, ela se conforma de
por minuto. Conclui-se que a estação 1 é um ponto
maneira central, como uma espécie de monumento
preparativo, o maior atrativo é chegar ao Calçadão.
hídrico. Esse vazio torna-se inacessível por conta do gradil que permeia o lote, tornando-se estranho ao olhar do observador. A sensação é de um local que não se deve penetrar. À
esquerda
depara-se
com
algumas
residências que foram transformadas em restaurante, aparentemente confortáveis. Tendo a influência do campo de visão do eixo central continua-se o percurso
131
estação
ESTÍMULOS VISUAIS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
2
direcionamento
alargamento lateral
alargamento lateral
Figura 61 - Trecho 1 Calçadão, Praça Danielides, à esquerda. FONTE: Autor, modificado pelo autor, 2018.
Figura 62 - Trecho 1 Calçadão, Praça Danielides, ao centro. FONTE: Autor, modificado pelo autor, 2018.
edifício se destaca
Figura 63 - Trecho 1 Calçadão, Praça Danielides, à direita. alargamento lateral
132
FONTE: Autor, modificado pelo autor, 2018.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A estação 2 se inicia no trecho 1 do Calçadão,
direcionamento para o Calçadão, uma espécie de
no alargamento lateral que concebe a Praça Jorge
corredor é formado. O transeunte segue o fluxo induzido
Danielides. Ainda na Rua Prefeito Hugo Cabral consegue-
pelos com edifícios e paisagismo.
se visualizar a paisagem da Zona Norte da cidade por
Nesse
momento,
depara-se
com
dois
conta do relevo, onde presenciamos um efeito de
edifícios, um, ao lado direito, ocupado por uma Agência
amplidão. Seguindo em direção a Praça Jorge Danielides
Bancária e uma farmácia, pouco permeáveis, que
entende-se que os edifícios e a vegetação, em conjunto
transmitem uma iniciativa de comunicação com o espaço
com o eixo central marcado, transmitem uma mudança de
público; e outro, ao lado esquerdo, antiga Agência
atmosfera. O observador é direcionado a continuar o
Itaú/Banestado (vista na analise morfológica), atualmente
percurso.
desocupado. Sua fachada expressa um muro hostil e O alargamento parcial marca o inicio do
Calçadão,
compreende-se
uma
mudança
estranho.
espacial
O
edifício
em
questão,
mostra-se
com
significativa. O vazio da praça diminui o ritmo do
arquitetura atraente, diferente dos edifícios adjacentes.
caminhar e instiga a um espaço de permanência, que, no
Possui uma diagonal em sua fachada, elemento de
entanto, tem uma aparência pouco convidativa. As
impacto, além de uma escada central com rampas, as
fachadas pouco ativas do comércio de ambos os lados
quais poderiam ser convidativas caso não houvesse o
induzem a uma continuidade.
muro.
Uma
pausa
é
estabelecida
quando
o
Como visto na analise morfológica, esse
estreitamento delimita o fim da Praça e instaura um
edifício atravessa a quadra e atinge a Rua Pio XII, mais
133
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
especificamente o Colégio Estadual Hugo Simas. Neste instante, marca-se este edifício como um ponto a ser investigado,
pois
ele
converge
no
início
do
direcionamento e estreitamento no Calçadão, ou seja, tem uma posição privilegiada e não cumpre sua função social como edifício. Com isso marca-se o fim da estação 2, com uma velocidade de 50 metros por minuto, e o início da estação 3. Portanto, interstício entre as estações 2 e 3 transforma-se num ponto importante para o estudo, pois é marcado por um edifício desocupado impactante, antigo Banestado e Itaú, e pelo início do estreitamento direcionado já no território do Calçadão. Encontra-se, portanto, dois vazios diferentes que se inclinam para entrar na proposta, o vazio do calçadão como espaço público e o vazio do edifício desocupado.
134
estação
ESTÍMULOS VISUAIS
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
edifício desocupado
3 muro hostil
direcionamento Figura 65 - Trecho 1 Calçadão, à direita.
Figura 64- Trecho 1 Calçadão, Praça Danielides, ao centro. FONTE: Autor, 2018.
FONTE: Autor, 2018.
fachada não permeável
muro hostil
Figura 66 - Trecho 1 Calçadão, Praça Danielides, à esquerda. FONTE: Autor, 2018.
Figura 67 - Detalhe edifício desocupado, antigo Banco Itaú. FONTE: Autor, 2018.
135
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
edifício desocupado edifício misto
edifícios mistos
corredor direcionamento
corredor
direcionamento
Figura 68 - Trecho 2 do Calçadão, ao centro.
Figura 69 - Trecho 2 do Calçadão, ao centro.
FONTE: Autor, 2018.
FONTE: Autor, 2018.
edifício desocupado
fachada não permeável
edifício galeria possibilidade de interstício
Figura 70 - Trecho 2 do Calçadão, à direita. FONTE: Autor, 2018.
136
edifícios mistos
Figura 71- Trecho 2 do Calçadão, à esquerda. FONTE: Autor, 2018.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A estação 3 se inicia na metade do trecho 1 do calçadão com a marca do estreitamento e do edifício desocupado. Diante da perspectiva direcionada conseguese compreender o vazio do Calçadão e ver ao fim, sob efeito topológico de amplidão, a paisagem da região leste da cidade. Seguindo nesse sentido, os edifícios formam
Praça Gabriel Martins À direita, posicionado na rua João Candido, consegue-se ter a mesma noção de eixo visual da zona norte, em que o relevo e a não verticalização garantem uma visualização de amplidão da paisagem. Com isso, o alargamento parcial da Praça Gabriel Martins marca o fim da estação 3, com uma velocidade média de 75 metros percorridos por minuto.
um estreitamento, uma espécie de corredor, um fechamento no observador. Nota-se a presença de um térreo destinado ao serviço e comércio, em que a ideia incita um espaço de venda a céu aberto. Como visto na analise morfológica, alguns desses térreos cruzam a quadra e poderiam funcionar como bons plinths, atraindo os transeuntes a cruzar a quadra. No caminho, edifícios mistos, com térreo comercial e habitação no pavimento superior se espalham. Até que ao fim do trecho 2 temos uma surpresa, o alargamento parcial do lado esquerdo com a
137
estação
ESTÍMULOS VISUAIS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
edifícios mistos
4 alargamento lateral direcionamento alargamento lateral direcionamento Figura 72 - Trecho 3 do Calçadão, ao centro.
Figura 73 - Trecho 3 do Calçadão, ao centro.
FONTE: Autor, 2018.
FONTE: Autor, 2018.
praça potencial alargamento lateral Figura 74- Praça Gabriel Martins, à direita do Trecho 3 do Calçadão.
138
FONTE: Autor, 2018.
Figura 75 - Detalhe Praça Gabriel Martins. FONTE: Autor, 2018.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A estação 4 é indicada na Praça Gabriel
cinema famoso de Londrina, o Cine Augustus, hoje
Martins, trecho 3 do Calçadão, onde pode-se notar uma
desativado. A Galeria Augustus também pode ser
maior
entendida como um potencial plinth associada à Praça
apropriação
do
espaço
pela
população,
diferentemente da Praça Jorge Danielides, na estação 2.
Gabriel Martins.
Apresenta um vazio inspirador ao Calçadão, pois esta
Nessa estação compreende-se bem a ideia de
associado a um espaço público de pregnância, ou seja,
apropriação do Calçadão quando associado a outros
aquele de boa forma que capta o observador por meio da
elementos,
visão. O alargamento parcial causado pela praça
vendedores ambulantes, artistas e pessoas utilizando
transmite uma sensação de permanência, em que fluxos
verdadeiramente o espaço público. Inúmeras narrações
se cruzam e a interação entre as pessoas a transforma num
podem
espaço sociável. Neste trecho fui abordado inúmeras
consumidores a procura de produtos ou pessoas em
vezes por pessoas distintas curiosas pela pesquisa.
estado de ócio e pausa.
como
ser
feitas,
praça.
Nota-se
usuários
na
performances,
banca
de
jornal,
Os edifícios verticalizados emolduram a praça
Prosseguindo em direção o eixo central do
em forma de meia lua e mantem o uso misto, habitação
Calçadão, tem-se um estreitamento, o qual demonstra-se
no pavimento superior e comércio e serviço no térreo. Na
um ritmo no espaço. O estreitamento direcionado é mais
analise morfológica um dos edifícios chamou atenção, a
sútil nesse trecho e quando se chega ao fim da rua
Galeria Augustus. Atualmente encontra-se mascarada
impacta-se com a Praça Ml. Floriano Peixoto, a qual torna-
pelas marquises mal projetadas. Essa galeria corta a
se, o ponto de finalização da estação 4, com velocidade
quadra até a Alameda Manoel Ribas e já contou com um
média de 60 metros por minuto.
139
estação
ESTÍMULOS VISUAIS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
5
A estação 5, portanto se inicia com a Praça
É o ponto de maior permanência dos usuários
Marechal Floriano Peixoto, a qual têm diversos pontos
em todo o Calçadão. Nesse sentido, em desenvolvimento
atrativos. O alargamento lateral ocupa toda quadra à
paralelo com a disciplina de Avaliação Pós Ocupação,
direita e o olhar do observador se divide entre o
aplica-se
direcionamento central do Calçadão e a praça, à direita.
comportamental, em que temos uma pausa na rota para
A presença da vegetação ao invés da massa edificada
explicitar os resultados do método.
também
nesta
estação
uma
analise
transforma o ambiente, consagra-se como um espaço A estação 5, portanto se inicia com a Praça público fulcral e marca a presença da Catedral de
É o ponto de maior permanência dos usuários
Marechal Floriano Peixoto, a qual têm diversos pontos Londrina.
em todo o Calçadão. Nesse sentido, em desenvolvimento
atrativos. O alargamento lateral ocupa toda quadra à
paralelo com a disciplina de Avaliação Pós Ocupação,
direita e o olhar do observador se divide entre o
aplica-se
direcionamento central do Calçadão e a praça, à direita.
comportamental, em que temos uma pausa na rota para
A presença da vegetação ao invés da massa edificada
explicitar os resultados do método.
transforma o ambiente, consagra-se como um espaço público fulcral e marca a presença da Catedral de Londrina.
Figura 76 - Mapa comportamental Trecho 4 do Calçadão.
FONTE: Planta fornecida pelo PPUL, 2018. Modificado pelo autor.
140
também
nesta
estação
uma
analise
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
O mapa comportamental é um método da
A metodologia indica dois tipos de mapas
psicologia ambiental desenvolvido para o registro de
comportamentais, os centrados no lugares e os centrados
atividades
o
nos indivíduos. No caso desta pesquisa foi aplicado o
comportamento dos usuários no ambiente (ORSTEIN,
mapa centrado nos lugares, pelo fato de se tratar de um
2003). Na análise são identificados os usos, os fluxos, as
espaço público.
e
tem
objetivo
de
compreender
interações dos usuários com o ambiente e entre eles.
N
141
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
O período de observação foi matutino, tendo uma a variação entre 10 à 20 minutos em cada ponto do trecho abordado para o estudo. Para efeito de aplicação do instrumento se definiu seis pontos de observação, na Avenida Rio de Janeiro, próximo às lojas, na praça Marechal Floriano Peixoto e na Avenida São Paulo. No primeiro ponto, próxima da Praça na Avenida
AMBULANTES
Rio de Janeiro, notou-se a maior movimentação de pessoas nas esquinas, por conta das lojas e dos ambulantes ali presentes. Os transeuntes caminhavam de forma mais acelerada na porção central do percurso,
DIRECIONAMENTO
ALARGAMENTO LATERAL PRAÇA ML. FLORIANO PEIXOTO
Figura 77 - Trecho 4 do Calçadão, ao centro. FONTE: Autor, 2018.
sendo este um espaço mais direcionado ao fluxo. Enquanto isso, nas áreas adjacentes os caminhares se moldam de forma mais lenta, espaços de permanência, incitam uma socialização que poderia ser melhor explorada por meio do mobiliário. As escadas da praça se mostraram flexíveis ao serem usadas também como pontos de assento.
142
Figura 78 - Trecho 4 do Calçadão, à direita. FONTE: Autor, 2018.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Ainda sob este ponto de vista, notou-se que os usuários dos bancos se concentravam no lado norte, próximo às lojas, por conta da sombra que a linha predial proporcionava, isso se deve também pela pesquisa ser efetuada no período matutino. Os usuários, por vezes interagiam entre si e em outros casos não. Neste sentido, aponta-se como o mobiliário pode interferir neste tipo de situação. No segundo ponto, no Calçadão próximo as lojas, Figura 79 - Detalhe Edificio do Relógio.
FONTE: FONTOURA, Larissa, 2018. Modificado pelo autor.
observou-se que onde o recuo se fazia presente os usuários, funcionários ou consumidores, se apropriavam como apoio para se proteger ou descansar, mais um indicativo de que associado à térreos convidativos o Calçadão torna-se mais atraente. As floreiras também eram usadas como apoio, em que as pessoas também interagiam em momentos de pausa. Sob a praça Marechal Floriano Peixoto, constatouse o maior acúmulo de pessoas embaixo das árvores,
ESPAÇO DE PERMANÊNCIA
protegendo-se do sol. Além disso, os usuários se Figura 80 - Trecho 4 do Calçadão, à esquerda. FONTE: Autor, 2018.
143
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
acomodavam entre os bancos, as vezes em dois,
Nesse momento sedutor de estreitamento e
interagindo ou entre si; as vezes em três, com dois
alargamento da conformação urbana do Calçadão em seu
sentados e um de pé.
último trecho tem-se a estação 6. Nela nota-se o único
Os bancos mais privilegiados eram aqueles que contavam com a sombra das árvores da praça, visto que
trecho do Calçadão preservado, com mobiliário urbano e pavimentação originais.
as árvores do calçadão em si são ainda jovens e não possuem copas tão densas. Os bancos que estavam no sol estavam mais vazios. No último ponto, na Avenida São Paulo, notou-se concentração de ambulantes e taxistas, os quais transformavam o fluxo de pedestres num ritmo menos acelerado. Além disso, o orelhão, instalado nessa porção do trecho não foi visto em uso. Após compreender a estação 5 como um ponto apropriado e denso, segue-se o efeito perspectivo direcionado do Calçadão e finaliza-se a estação 5 com o estreitamento e alargamento para a Praça Willie Davids, totalizando uma velocidade média de 50 metros por minuto.
144
Figura 81 - Apropriações na Pr. Ml. Flori. Peixoto. FONTE: Autor, 2018.
estação
ESTÍMULOS VISUAIS
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
6
alargamento lateral
alargamento lateral direcionamento Figura 82 - Trecho 5 do Calçadão, ao centro. FONTE: Autor, 2018.
Figura 84 - Trecho 5 do Calçadão, à direita. FONTE: Autor, 2018.
edifícios históricos
Figura 83 - Trecho 5 do Calçadão, à esquerda. FONTE: Autor, 2018.
Figura 85 - Feiras e apropriações no trecho 5. FONTE: Autor, 2018.
145
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
A estação 6 ressalta a esquina do Calçadão com a
À direita, tem-se edifícios comerciais de mesmo
Avenida Rio de Janeiro, em que tem-se o Edifício
gabarito de altura, que em conjunto com a praça finalizam
América, com o Relógio, o qual se materializa como um
o Calçadão, direcionando o observador à direita.
ponto de força na paisagem, prende o olhar do transeunte, distorcendo do Calçadão.
O efeito topológico no Calçadão, ou seja, aquele do corpo em relação ao espaço, relaciona-se a uma
À esquerda tem-se o Cine-Teatro Ouro Verde e o
sensação constante de alargamento e estreitamento.
edifico Autolon que formam um complexo histórico no
Somado ao efeito perspectivo, ou seja, da composição
alargamento da Praça Willy Davis. O Cine-Teatro se
plástica
conforma como um ponto arquitetônico e cultural de
direcionamento percebe-se uma identidade geral do
importância no Calçadão e no Centro Principal. Dessa
Calçadão, em que se finaliza a estação 6 em 40 metros por
maneira, destaca-se um potencial de interstício de ligação
minuto.
da
cena
vista
pelo
observador,
de
com o espaço público. Ao centro, pode-se observar o eixo formado pelas
ritmo
é
marcado
por:
alargamento,
edificações e pelo traçado urbano, com Zona Leste da
estreitamento, alargamento lateral (espaço livre de
cidade em ênfase na paisagem. Artistas e feirantes se
amplidão),
apropriam da porção central, expondo seus produtos.
respectivamente. Esse ritmo se traduz para o observador
Uma diferença em relação a praça anterior, em que as
como forma de se localizar no espaço e compreendê-lo.
manifestações aconteciam nas bordas do eixo e não em sua centralidade.
146
O
estreitamento
e
alargamento,
Percebe-se, com isso, a importância do corredor de pedestre. Vazio associado a espaços públicos e a
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
massa edificada, o qual transmite legibilidade, direção e proporciona
oportunidade
para
as
manifestações
cotidianas no espaço urbano por conter uma diversidade de oportunidades espaciais.
147
2
S
ICOS
3
TAÇÃO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO Escala 1:10000
N
Figura 86- Diagrama 02 análise visual.
MAPA
PERSPECTIVA
4
10
10
6
8
8
7
7
N ESC. 1:10000 sentido de leitura FONTE: Autor, 2018. Street view e procedimento de campo.
148
12
11
5
9
9
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
DESCRIÇÃO
TEMPO (minuto)
DISTÂNCIA (metros)
VELOCIDADE MÉDIA (m/minuto)
alargamento lateral direcionamento
1:32
150
75
estreitamento corredor
2
100
50
alargamento lateral permanência
2:05
alargamento direcionamento
1:20
100
100
PADRÕES
45
60
149
estação
ESTÍMULOS VISUAIS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
7
eixo visual
marco realce
Figura 87 - Rotatória Rua Minas Gerais. FONTE: Autor, 2018.
paisagem
Figura 89 - Rotatória Rua Minas Gerais, à esquerda. FONTE: Autor, 2018.
150
Figura 88 - Rotatória Rua Minas Gerais, à direita. Alameda Manoel Ribas FONTE: Autor, 2018.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Após a compreensão da configuração urbana do
realce ao enquadrar a Catedral. Tem-se a sensação de
Calçadão, segue-se em direção à rotatória da Catedral de
estar no ponto mais alto do Centro Principal, em que nota-
Londrina, na rua Minas Gerais, a qual forma a Alameda
se o contraste com os bairros seus adjacentes, o
Manuel Ribas. Neste momento se inicia a estação 7.
sentimento é de amplidão.
O efeito perspectivo de conexão é imediato, por
Neste ponto é possível identificar ainda outros
conta da rotatória, a qual liga vias de forma axial,
estímulos visuais importantes, que se mostram ícones do
elevando o observador a uma noção mais panorâmica do
Centro Principal, como o Edifício Júlio Fuganti, os
espaço. O Edifício Júlio Fuganti, os edifícios Twin Towers
edifícios verticais coloridos na esquina da Rua Piauí com a
e o Centro de Saúde são realçados, por estarem nos
Rua Senador Souza Naves e o Memorial dos Pioneiros,
pontos de esquinas das vias que são conectadas à
conformado pelo alargamento do vazio com a Praça
Alameda Manuel Ribas.
Primeiro de Maio, onde se finaliza a estação 7, com
A estação 7, com isso é marcada pelos eixos
velocidade média de 50 metros por minuto.
históricos. À esquerda, o efeito perspectivo em direção à Catedral de Londrina insere claramente o observador em outra escala. À direita, a Avenida Celso Garcia Cid completa configuração urbana, com o eixo viário pioneiro de chegada à cidade. O vazio formado por esta via proporciona uma melhor visualização da paisagem. Explicita o conceito de
151
estação
ESTÍMULOS VISUAIS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
8
estacionamento
alargamento lateral Figura 90 - Rua Minas Gerais, ao centro. FONTE: Autor, 2018.
Figura 91 - Praça Primeiro de Maio, ao centro. FONTE: Autor, 2018.
direcionamento Figura 94 - Praça Primeiro de Maio em diração ao Bosque Ml. Cândido Rondon. FONTE: Autor, 2018.
estacionamento
Figura 92 - Praça Primeiro de Maio, à esquerda. FONTE: Autor, 2018.
152
Figura 93 - Concha Acústica, à esquerda. FONTE: Autor, 2018.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
direcionamento cinema desativado
Figura 95 - Galeria Vila Rica, à esquerda. FONTE: Autor, 2018.
Figura 97 - SESI e Biblioteca Municipal, à direita. FONTE: Autor, 2018.
edifício histórico
Figura 96 - Casa da Criança, à direita. FONTE: Autor, 2018.
153
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
A estação 8 é marcada pela Concha Acústica, a qual encontra-se ao centro da Praça Primeiro de Maio.
importante ponto patrimonial da cidade.
A Praça Primeiro de Maio, é emoldurada por
Ainda neste lado da rua, a Associação Médica de
edifícios de alto gabarito, a ideia do enclosure é nítida. A
Londrina, o SESI, ponto cultural contemporâneo, marca
verticalização do entorno transforma a praça em um vazio
diversas atividades gratuitas para a população, com
de força.
shows, performances e exposições.
Conforma–se como um espaço público propício as
Do lado oposto da rua, o complexo de
manifestações performáticas diversas. O Memorial do
edifícios coloridos associado à galeria comercial traz um
Pioneiro
aspecto cênico ao emolduramento da Praça. Causam um
brota
com
totens
que
contam
história.
Visualmente poderia ser melhor explorado. À direita da praça, encontra-se um espaço
certo realce no observador, ou seja, efeito que atrai a atenção do individuo da cena observada.
subtilizado, como estacionamento. O lote em questão
Isso se dá por ser de certa forma mimético,
corta a quadra em direção a Avenida Celso Garcia Cid e
beirando o lúdico, tanto em forma, quanto cor. O
faz divisa com o Edifício Júlio Fuganti e com a Galeria da
complexo tem uso misto, habitação no pavimento
Concha.
superior e comércio e serviço no térreo, o qual é marcado
À esquerda, de um lado da rua, tem-se a Casa da Criança, edifício histórico, projetado pelo arquiteto e urbanista VillaNova Artigas, atualmente restaurado, que
154
abriga a Secretária Municipal da Cultura de Londrina,
por bares, cabeleireiros e lojas tradicionais, como o Bar do Jaime.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Ainda neste ponto, tem-se a Galeria Vila Rica, a qual funciona como interstício existente, ligando a Praça Primeiro de Maio à Avenida Rio de janeiro por meio do edifício. Nesta galeria, encontra-se
o atualmente
desativado Cine Vila Rica (1968 – 2001), considerado magnífico por Carlos Ribeiro, pela sua elegância, conforto e moderna aparelhagem, o que imprimia às projeções de alta qualidade. A sala foi construída pela família Veronese e contava inicialmente com 1.200 lugares. No seu auge, o Vila Rica chegou a receber mais de 15 mil espectadores por semana (FOLHA DE LONDRINA, 2001). Seguindo em direção a Avenida Rio de Janeiro finaliza-se em 40 metros por minuto e se alcança o Bosque Marechal Cândido Rondon, o qual se abre como um espaço vazio em meio a massa edificada do centro, tornando-se um potencial. Caracteriza-se com densa massa vegetativa, a qual impede a visualização do outro
Figura 98 - Fotos do Cine Vila Rica atualmente.
FONTE: SAWCZUK, Ulisses. 2017. Modificado pelo autor.
lado da quadra, com isso marca-se o início da estação 9.
155
estação
ESTÍMULOS VISUAIS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
9
enclosure
Figura 99 - Bosque Ml. Cândido Rondon, à direita. FONTE: Autor, 2018.
direcionamento Figura 100 - Bosque Ml. Cândido Rondon, ao centro. FONTE: Autor, 2018.
Figura 101 - Bosque Ml. Cândido Rondon, à esquerda. FONTE: Autor, 2018.
156
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A estação 9 se manifesta com uma sensação
vegetação de grande porte sem manutenção, funciona
de impedimento ao observador, o que é certamente
como guia do olhar, uma espécie de envolvimento toma
contraditório. O Bosque nasce no intuito de ser um
conta do observador.
espaço
público
de
respiro
e
lazer.
Inicialmente,
A maneira linear como os mobiliários são
relacionado ao footing londrinense, ganhou modificações
dispostos transforma a ideia de permanência em fluxo.
e, atualmente, sua massa vegetativa não apresenta-se
Nesse sentido, o traçado urbano marcado dentro do
convidativa.
Bosque pode ser expresso maneiras mais flexíveis e que
Densa, com vegetação de grande porte, as
incitem
à
apropriação.
Ou
seja,
seus
caminhos
árvores do Bosque acabam sufocando o que deveria ser
secundários poderiam ser mais sociáveis e interativos, e
um respiro. Os caminhos que permeiam o espaço não são
cumpririam melhor sua função espacial.
marcados, ou seja, não se conforma como um espaço facilmente legível.
Atravessando todo o Bosque pela Rua Piauí, finaliza-se a estação 9 com 60 metros por minuto.
O vazio é marcado na linha da Rua Piauí, a qual
Ressalta-se que a apropriação espacial constatada dentro
configurou-se em meio de lazer para pedestres e ponto
do Bosque está mais relacionada ao espaço de recreação
de recreação na Avenida Rio de Janeiro, com quadra,
da Avenida Rio de Janeiro que dentro da parte
academia de idosos e parquinho.
arborizada.
Ao centro da Rua Piauí, dentro do Bosque, o efeito topológico de estreitamento e o efeito perspectivo de direcionamento são constantes. Contribuído pela
157
estação
ESTÍMULOS VISUAIS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
10
alargamento lateral
Figura 102 -Praça Sete de Setembro, ao centro. FONTE: Autor, 2018.
estacionamento
Figura 103- Praça Sete de Setembro, à direita. FONTE: Autor, 2018.
Figura 104 - Praça Sete de Setembro, à esquerda. FONTE: Autor, 2018.
158
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
direcionamento
alargamento lateral Figura 105 - Praça Sete de Setembro.
Figura 104 - Praça Sete de Setembro, rua Prof. João Candido.
FONTE: Autor, 2018.
FONTE: Autor, 2018.
marco
Figura 106 - Alameda Manoel Ribas, à esquerda. FONTE: Autor, 2018.
Figura 107 - Alameda Manoel Ribas, à direita. FONTE: Autor, 2018.
159
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
marco
alargamento lateral amplidão Figura 108 - Praça Marechal Floriano Peixoto, à direita. FONTE: Autor, 2018.
160
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A estação 10 inicia-se no espaço de conexão
A Catedral de Londrina e edifícios com alto
da Avenida São Paulo com a Rua Piauí, em que há uma
gabarito de altura realçam aos olhos do observador. Na
preparação de alargamento que conforma a praça Sete
esquina da Catedral com a Praça Marechal Floriano
de Setembro. As apropriações nessa praça se mostram
Peixoto finaliza-se a estação 10, com velocidade de 60
menos evidentes, e em sua porção norte um café solidário
metros por minuto.
apresenta-se
como
massa
edificada
e
quebra
a
continuidade visual e o entendimento do espaço. A praça, diferentemente da Primeiro de Maio, é cercada por edifícios singulares, residências. A vitalidade da praça mostra-se enfraquecida, à direita temse
um
lote
subutilizado,
estacionamento.
Na
analise
configurado
como
morfológica,
um
pode-se
constatar que esse estacionamento corta a quadra e atinge a Alameda Manuel Ribas com um edifício garagem. Por conta da pouca apropriação existente na praça segue-se em direção a Alameda Manuel Ribas, a qual forma um ponto de conexão com a Praça Gabriel Martins.
161
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 109- Diagrama 03análise visual.
PERSPECTIVA
MAPA N ESC. 1:10000
12 12
3
4
5
6 11
11 7
8 N
Escala 1:10000
O
10
9
sentido de leitura FONTE: Autor, 2018. Street view e procedimento de campo.
162
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
DESCRIÇÃO alargamento lateral
TEMPO (minuto)
VELOCIDADE MÉDIA (m/minuto)
1:20
100
60
2:05
100
45
direcionamento amplidão
alargamento lateral
DISTÂNCIA (metros)
PADRÕES
direcionamento
163
estação
ESTÍMULOS VISUAIS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
hotel sahão desocupado
11 amplidão
alargamento lateral direcionamento Figura 110 - Avenida São Paulo.
Figura 111 - Rua Sergipe, à direita.
FONTE: Autor, 2018.
FONTE: Autor, 2018.
paisagem
amplidão
Figura 112 - Rua Sergipe, à esquerda. Museu de Arte Moderna de Londrina. FONTE: Autor, 2018.
164
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A estação 11 inicia-se na Praça Marechal
Museu e adentrar a praça.
Floriano Peixoto e segue direção à Rua Sergipe. O ponto
Ao chegar na esquina do Museu de Arte
de maior entusiasmo é o alargamento lateral da praça,
Moderna com a Avenida Rio de Janeiro nota-se o edifício
onde se cruza com o Calçadão.
Tokio, ponto de realce e força na verticalização do visual.
Na esquina do Calçadão com a Avenida São
Ao seu lado, lotes de estacionamento e um
Paulo tem-se o antigo Hotel Sahão, marco da memória do
bloco monolítico da loja Havan proporcionam ao espaço
centro da cidade.
histórico uma perda de qualidade visual. Neste momento,
Os planos laterais verticalizados direcionam o olhar em direção à paisagem. Por conta do relevo,
marca-se o fim da estação 11, com velocidade média de 80 metros por minuto.
consegue-se visualizar toda a zona norte da cidade, tendo, portanto, um sentimento de amplidão, onde o olhar perde a noção dos limites da cidade. Ao chegar a rua Sergipe, depara-se com o Museu de Arte Moderna, antiga rodoviária da cidade projetada pelo arquiteto e urbanista VillaNova Artigas. O edifício horizontal e permeável atrelado a Praça Rocha Pombo marca a presença de um vazio no ponto mais histórico do Centro Principal. Vira-se, portanto, para à direita e segue-se a rua Sergipe afim de contornar o
165
estação
ESTÍMULOS VISUAIS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
12
Figura 112 - Avenida Rio de Janeiro, ao centro. FONTE: Autor, 2018.
Figura 114 - Avenida Rio de Janeiro, ao centro, à direita. FONTE: Autor, 2018.
166
Figura 113 - Acesso de pedestre à Av. Leste-Oeste. FONTE: Autor, 2018.
Figura 115 - Vista Praça Rocha Pombo da Rua Benjamin Constant. FONTE: Autor, 2018.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A estação 12 inicia-se na porção leste da Praça
interstício de ligação com o Terminal Central Urbano. A
Rocha Pombo. Pessoas sentadas nos mobiliários e se
rota finaliza-se na estação 12, com velocidade média 50
protegendo do sol nas árvores de grande porte marcam
metros por minuto.
a presença no espaço. A praça conserva seus caminhos pioneiros, funcionando como um corta caminho entre o Terminal Urbano Central e a Rua Sergipe, em que a apropriação dá-se apesar da falta de manutenção visivelmente presente. O fato do Terminal Central Urbano estar próximo facilita a comunicação da praça com o individuo. À direita, entre o Museu Histórico de Londrina e o Planetário tem-se uma viela para pedestres, que conecta a Avenida Leste-Oeste a Avenida Rio de Janeiro, ponto modal com potencial. À esquerda, em frente a Praça Rocha Pombo nota-se
um
lote
de
estacionamento.
Na
análise
morfológica, ve-se que esse estacionamento corta a quadra e atinge um antigo hotel, em desuso. Dessa maneira, a quadra desse lote se mostra com potencial
167
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
estação
12
11 10 09
descriçÃO alargamento lateral direcionamento amplidão
alargamento lateral direcionamento
estreitamento
alargamento lateral permanência
07
alargamento direcionamento
06
alargamento lateral direcionamento
05
alargamento lateral permanência
04
alargamento lateral direcionamento
02 01 sentido de leitura
espaço “entre” praça + estacionamento
INTERSTÍCIO 5
espaço “entre” praça + estacionamento + bosque
INTERSTÍCIO 4
alargamento lateral direcionamento
08
03
168
padrão
espaço “entre” praça + estacionamento + bosque espaço “entre” praça + comércio + estacionamento
estreitamento direcionamento
INTERSTÍCIO 2
espaço “entre” praça + comércio
estreitamento corredor
alargamento lateral direcionamento
INTERSTÍCIO 3
INTERSTÍCIO 1 espaço “entre” edificio desocupado + calçadão Figura 116 - Resumo da diversidade espacial. FONTE: Autor, 2018.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A partir da compreensão dos vazios do centro abordados por toda a analise: espaços públicos, edifícios
Terminal Central Urbano
desocupados, lotes subtilizados e espaços livres gera-se os potenciais de interstícios da região. Sua investigação
5
sobrepõe todos esses aspectos das com as apropriações
Museu Histórico Rua Beijamin Constant Praça Rocha Pombo Museu de Arte Moderna
já existentes no espaço, ou seja, os pontos que estão no
Rua Sergipe
imaginário urbano dos indivíduos, com a tentativa de traduzir toda a análise.
Praça Gabriel Martins
Apontam-se cinco grandes potenciais de interstícios
os
quais
serão
especificados
para
2
Calçadão
1
as
Praça Ml. Floriano Peixoto
Praça Willy Davis
Rua Pio XII
estratégias urbanas.
4
Bosque Ml. Rondon
Rua Piauí
Praça Primeiro de Maio
3 Bosque Ml. Rondon
MAPA DE POTENCIAIS INTERSTÍCIOS LEGENDA
INSTERSTÍCIOS INTERAÇÃO ESPAÇO PÚBLICO
N
Escala 1:10000
ESPAÇO COLETIVO DENTRO DO LOTE CONEXÃO ESPAÇOS POTENCIAIS ESPAÇOS PÚBLICOS
169
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
interstício potencial 1 PRAÇA GABRIEL MARTINS
LOJA-GALGERIA
ESTACIONAMENTO
EDIFICIO DESOCUPADO ANTIGO BANCO ITAÚ
CALÇADÃO
Figura 118 - Perspectiva Isométrica esquemática do Interstício potencial 1 FONTE: Autor, 2018.
170
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
No primeiro, conecta-se o Calçadão com suas imediações e com ele mesmo de forma mais lúdica, a instigar outras formas de se vivenciar o mesmo espaço, trazendo os miolos de quadra como espaços de choque e encontro. Neste ponto tem-se todos os aspectos abordados: um espaço público apropriado, o Calçadão, dois
edifícios
desocupados,
a
antiga
Agência
Banestado/Itaú; dois lotes de estacionamentos; uma lojagaleria que corta a quadra em três pontos, em que se observa um potencial para o térreo; e uma praça, a Gabriel Martins, com grande potencial socializador, onde se localiza um antigo cinema desativado, o Cine Augustus. Neste interstício, tem-se uma abrangência de três quadras que compreendem o Calçadão e suas imediações.
171
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
agência
LOCALIZAÇÃO: Calçadão de Londrina, entre as ruas Prefeito Hugo
Rua Sergipe
Cabral e Professor João Candido, tendo acesso tanto para o Calçadão, quanto para a Rua Pio XII. PROPRIETÁRIO: Banco do Estado do Paraná. USO: Antigo Banestado e Banco Itaú, atualmente desocupado. PROJETO: Elidio Werka e Samuel H. Okino.
ANO DO PROJETO: 1983
ÁREA:
Praça Danielides
Rua Pernambuco
Rua Prefeito Hugo Cabral
Trecho 1 - Calçadão
Terreno - 1972 m2
Sub-Solo - 1235m2
Térreo -1175 m2
Sobre-loja - 810 m2
1° Pavimento 846 m2
2°Pavimento 846 m2
Pavimento Auxiliar 49 m2
Casa de Máquinas - 31 m2
TOTAL - 5135 m2
OBRA: Edifício em alvenaria de tijolos e concreto armado. Fonte: Secretaria de Obras de Londrina, 2018.
Rua Pio XII
172
Figura 119 Implantação Agência Banestado/Itaú. FONTE: Autor, 2018.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A antiga Agência Banestado tem um histórico relacionado
as manifestações cotidianas e politicas da brasileira. Em 1987 foi palco de um dos maiores assaltos à agências bancárias no Brasil. Tratou-se do sequestro mais longo de um grande número de pessoas no Brasil. Os bandidos exigiram 30 milhões de cruzados que foram colhidos de banco em banco. Após horas de negociação, a quadrilha fugiu com um valor aproximado do exigido, levando 14 reféns (GROTA, Rodrigo, 2018). “No dia 10/12/1987, sete homens invadiram a agência central do maior banco de Londrina, mantendo mais de 300 pessoas como reféns ao longo de sete horas. Do lado de fora, cinco mil pessoas começaram a gritar a favor dos bandidos contra o governo Sarney.” (PERARO, Guilherme, 2018).
173
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
1. PLANTA TÉRREO
2.Subsolo
ESC. 1:500
ESC. 1:500
P1
P2
P3
P4
P5
escala gráfica 0 1
174
5
escala gráfica 10
0 1
5
10
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
4. pavimento tipo
3. sobreja
ESC. 1:500
ESC. 1:500
P1
P2
P3
P4
P5
P6
0 1
escala gráfica 0 1
escala gráfica
5
10
5
10
Figura 120 - Plantas Agência Bancária FONTE: Secretaria de Obras de Londrina. Modificado pelo autor, 2018.
175
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
5. CORTE LOngitudinal ESC. 1:250
calçadão estacionamento
escala gráfica Figura 121 - Corte Londitudinal- Agência Bancária.
FONTE: Secretaria de Obras de Londrina. Modificado pelo autor, 2018.
176
0 1
5
10
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
praça gabriel martins
LOCALIZAÇÃO: No centro de Londrina, mais especificamente no
Calçadão, entre a Avenida Paraná e a Rua Professor João Candido e a Alameda Miguel Blasi.
USOS: Lazer e passagem de pedestres, significativo comércio em
seu entorno, assim como edifícios residenciais.
RELEVO: Plano.
FORMA: Triangular, sendo uma das quatro praças que emolduram
a elipse do plano central de Londrina.
MOBILIÁRIO URBANO: Ponto de táxi, caixa de serviço postal, si-
nalização, quiosque, floreiras, luminárias e bancos.
PAVIMENTAÇÃO: Piso intertravado, conhecido como paver, em
cinza, vermelho e amarelo. Desenho do antigo Calçadão de correntes.
VEGETAÇÃO: Árvores de portes variados e plantas ornamentais. ENTORNO: Calçadão de Londrina, Alameda Miguel Blasi, Lojas
Riachuelo e Americanas, galerias e demais estabelecimentos comerciais.
Figura 122 - Implantação Praça Gabriel Martins. FONTE: Autor, 2018.
177
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
interstício potencial 2
PRAÇA ML. FLORIANO PEIXOTO
PRAÇA WILLY DAVIS
ESTACIONAMENTO
CINE-TEATRO OURO VERDE AUTOLON
LOJAS
ESTACIONAMENTO
178
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
O segundo, localizado ao fim do Calçadão, conecta duas praças históricas até a rua Mato Grosso, ponto forte do comércio local ocasional, onde encontrase o Camelódromo de Londrina. Um local de fluxo diário sem espaços de permanência acolhedores e com elementos patrimoniais da cidade. Abrange o lote entre o complexo histórico do Cine-Teatro Ouro Verde e edifício Autolon, em que se encontram uma loja e um estacionamento; dois lotes também com pequenos comércios e estacionamento que não instigam uma vitalidade expressiva no térreo da região; um espaço público, a praça Willie Davids; e por fim, o térreo de um comércio que se liga a um lote de estacionamento até a praça Marechal Floriano Peixoto, abrangendo também três quadras.
Figura 123 - Perspectiva potencial interstício 02. FONTE: Autor, 2018.
179
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
praça ml. floriano peixoto
LOCALIZAÇÃO: No centro de Londrina entre ao Catedral e o
Calçadão. Conhecida como a Praça da Bandeira, uma pouco provável alusão à bandeira inglesa. Foi chamada de Praça da Matriz, Praça Rui Barbosa e finalmente Marechal Floriano. (YAMAKI, 2006)
USOS: Lazer, passagem de pedestres, comércio de ambulantes.
RELEVO: O terreno é levemente inclinado. De acordo com o
plano inicial da cidade, está localizada na parte mais alta de Londrina.
Trecho 5 - Calçadão
avenida são paulo
avenida rio de janeiro
hotel sahão
alameda manoel ribas
FORMA: Retangular e traçado interno em forma de asterisco. MOBILIÁRIO URBANO: Altar da pátria, ponto de táxi, lixeiras,
rampas e escadas, floreiras, luminárias, bancos (cópias dos bancos dos anos 1940). Elementos de infra-estrutura, como banheiros públicos estão lacrados e sem funcionamento.
PAVIMENTAÇÃO: A pavimentação é feita com paver nas cores
marrom e vermelho.
VEGETAÇÃO: Árvores de grande porte, grama e plantas
floríferas. catedral de londrina
ENTORNO: Os elementos mais significativos presentes no
entorno são o Calçadão e a Catedral Metropolitana de Londrina. FONTE: Panchoni (2007). Modificado pelo autor.
Figura 124 - Praça Floriano Peixoto. FONTE: Autor, 2018.
180
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
LOCALIZAÇÃO: Centro de Londrina, entre a Avenida Rio
de Janeiro e as Ruas Maranhão, Minas Gerais e Santa Catarina.
praça willie davis
USOS: Passagem, comércio de ambulantes, performances
de artistas.
RELEVO: Terreno levemente inclinado.
FORMA: Triangular, sendo uma das quatro praças que
emolduram a elipse do plano central de Londrina. É cortada por diagonais que formam seu traçado interno. FONTE: Panchoni (2007).
MOBILIÁRIO URBANO: busto de Willie Davids, dois
marcos simbólicos, pontos de ônibus, lixeiras, telefones públicos, sinalização, floreiras, luminárias e bancos.
PAVIMENTAÇÃO: Único trecho do Calçadão com a
pavimentação preservada, em mosaico português preto e branco, chamado de petit-pavé, com desenho de correntes.
VEGETAÇÃO: Árvores de portes variados e arbustos.
ENTORNO: Os principais elementos são o Complexo Ouro
Verde, construído nos anos 1950, com o Cine-Teatro, restaurado em 2016 e o edificio Autolon; o Calçadão, o edifício do Relógio, o Calçadão e a ACIL (Associação Comercial e Industrial de Londrina).
Figura 125 - Praça Willie Davis. FONTE: Autor, 2018.
181
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
interstício potencial 3
BOSQUE CÂNDIDO RONDON CINE VILA RICA DESATIVADO
PRAÇA 1° de maio
ESTACIONAMENTO ESTACIONAMENTO
182
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
O terceiro interstício conecta a Avenida Celso
O Bosque apresenta-se como um vazio
Garcia Cid à Praça Primeiro de Maio, via histórica da
importante, que, demonstra uma necessidade de manejo
cidade, onde encontra-se pontos culturais relacionados
e cuidado com a vegetação.
ao teatro, como a Divisão de Artes Cênicas da
Historicamente, o Bosque era um espaço para
Universidade Estadual de Londrina e próximo à ocupação
o passeio urbano, um respiro vegetal diante da massa
do MARL, localizado no antigo edifício da ULES, na
construída. A densa vegetação atual, no entanto, gera
Avenida Duque de Caxias.
uma sensação de insegurança e, com isso, o espaço
Este ponto demonstra forte potencial artístico,
público perde sua função atrativa de socialização.
por conta do mobiliário urbana da Concha Acústica, que cria uma dinâmica performática no espaço. Em conjunto com os pontos culturais existentes, como o SESI, Casa da Criança e o desativado Cine Vila Rica, o espaço público da Praça Sete de Setembro tem um grande potencial artístico e de celebração. O interstício compreende a Praça Primeiro de Maio como espaço público, incorpora dois lotes de estacionamento e cria uma conexão virtual com o Bosque Marechal Candido Rondon. Figura 126 - Perspectiva potencial interstício 03. FONTE: Autor, 2018.
183
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
praça 1 de maio
LOCALIZAÇÃO: No centro de Londrina, entre as Ruas
Minas Gerais e Rua Piauí.
USOS: Lazer, apresentações artísticas
RELEVO: Terreno inclinado, com desníveis.
FORMA: Forma triangular. É uma das quatro praças que
emolduram a elipse do plano central de Londrina. FONTE: Panchoni, 2007.
MOBILIÁRIO URBANO: A praça apresenta uma concha
acústica, o memorial dos pioneiros, lixeiras, sinalização, grades e bancos.
PAVIMENTAÇÃO: Praça é acimentada.
VEGETAÇÃO: Árvores de pequeno e grande porte e grama.
ENTORNO: Edifício Julio Fuganti, Galeria Vila Rica, antiga
Casa da Criança e atual sede da Secretaria Municipal da Cultura, e o prédio dos Correios.
Figura 127 - Praça 1° de maio. FONTE: Autor, 2018.
184
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
LOCALIZAÇÃO: Centro, entre as Avenidas São Paulo e Rio de Janeiro e a Alameda Manoel Ribas e a Rua Pará, somando duas quadras.
USOS: Lazer, passagem de pedestres.
RELEVO: Terreno levemente inclinado.
FORMA: Forma retangular. O traçado interno possui forma de
BOSQUE ML. CÂNDIDO RONDON
labirinto.
MOBILIÁRIO URBANO: Lixeiras, luminárias, mesa para jogos,
uma quadra, uma academia de idosos, bancos, floreiras. Curiosamente possui uma casa na porção oeste, próximo à a Avenida São Paulo.
PAVIMENTAÇÃO: Acimentada.
VEGETAÇÃO: Vegetação muito densa, árvores de grande porte.
ENTORNO: As principais edificações do entorno da praça são a
Catedral, estabelecimentos comerciais, a Biblioteca Municipal, o prédio dos Correios e o Colégio Mãe de Deus.
Figura 128 - Bosque Marechal Candido Rondon. FONTE: Autor, 2018.
185
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
interstício potencial 4
bosque ml. cândido rondon
alameda manoel ribas
ESTACIONAMENTO
praça 7 de setembro Figura 129 - Perspectiva potencial interstício 04. FONTE: Autor, 2018.
186
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
O quarto interstício conecta a praça Sete de Setembro, que se encontra atualmente sem muita vitalidade, com a Alameda Manuel Ribas, espaço histórico importante no Centro Principal, onde se localiza uma das saídas do antigo e, atualmente desativado, Cine Augustus. Abrange um lote com estacionamento. Tem-se também uma conexão visual latente entre o vazio estabelecido pela Praça e Bosque.
187
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Praça 7 de setembro
LOCALIZAÇÃO: Centro, entre as Ruas Prof. João
Candido e Rua Piauí
USOS: Lazer, passagem de pedestres, possui um
café solidário no meio da praça.
RELEVO: Terreno inclinado.
FORMA: Forma triangular. É uma das quatro praças
que emolduram a elipse do plano central de Londrina. FONTE: Panchoni, 2007.
MOBILIÁRIO URBANO: Lixeiras, telefone público,
rampas e escadas, uma fonte, luminárias, bancos e elementos de infra estrutura.
PAVIMENTAÇÃO: Calçada em mosaico português
com mesmo desenho do Calçadão e caminhos e, piso intertravado de pedra cinza.
VEGETAÇÃO: Árvores de portes variados, grama e
arbustos
ENTORNO: Ambiente mais residencial, com algumas
galerias, estabelecimentos comerciais e restaurantes.
Figura 130 - Praça Sete de Setembro. FONTE: Autor, 2018.
188
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Praça Rocha Pombo museu histórico
terminal central urbano rua benjamin constant
avenida rio de janeiro
loja havan
avenida são paulo
LOCALIZAÇÃO: Centro, entre as Avenidas São Paulo e Rio de Janeiro e a Rua Benjamin Constant, junto à antiga Estação Rodoviária (hoje Museu de Arte de Londrina) e Museu Histórico de Londrina USOS: Lazer, passagem de pedestres e comércio de ambulantes. RELEVO: Terreno inclinado, com desníveis. FORMA: Forma retangular. O traçado interno possui forma de labirinto. MOBILIÁRIO URBANO: Lixeiras, telefone público, rampas e escadas, uma fonte, luminárias, bancos e elementos de infra estrutura. PAVIMENTAÇÃO: Calçada em mosaico português com mesmo desenho do Calçadão e caminhos e, piso intertravado de pedra cinza. VEGETAÇÃO: Árvores de pequeno porte, coqueiros e grama. ENTORNO: As principais edificações do entorno da praça, são o Museu Histórico Padre Carlos Weiss, antiga estação ferroviária de Londrina e o Museu de Arte de Londrina, antiga estação rodoviária da cidade. Além disso, fica localizado no entorno da praça, o Terminal Rodoviário Urbano de Londrina, casas bancárias, escritórios e estabelecimentos comerciais variados, e acontece a Feira do Produtor Rural.
estacionamento
edifício Tokio museu de arte moderna rua sergipe
Figura 131 - Praça Rocha Pombo. FONTE: Autor, 2018.
189
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
interstício potencial 5
terminal central urbano lojas
institucional museu histórico
praça rocha pombo
ESTACIONAMENTO
museu de arte moderna
ESTACIONAMENTO
Figura 132 - Perspectiva interstício potencial 05. FONTE: Autor, 2018.
190
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
E o quinto e ultimo interstício encontrado promove a travessia da quadra entre as ruas Benjamin Constant e Rua Sergipe, com uma nova ligação entre o Terminal Central Urbano e a Praça Rocha Pombo.
5.3 CENA 3 – REFERÊNCIAS URBANOARQUITETÔNICAS Para idealização das propostas de intervenção
Cria uma conexão virtual com o Museu de Arte
tem-se como premissa o estudo de casos que se
de Londrina e o Museu Histórico. Incita uma maior
estabeleceram no território como pontos fomentadores
socialização na praça histórica e propõe uma flexibilização
das celebrações culturais, usando tanto o espaço público,
da viela de pedestres que conecta a Rua Benjamin
quanto os edifícios. Expõe-se a investigação do Centro
Constante com Avenida Leste-Oeste.
Aberto de São de Paulo, um projeto urbano que resgata
Aborda dois lotes de estacionamento; um
os espaços públicos do centro paulistano por meio de
edifício institucional que não garante uma vitalidade para
intervenções temporárias com auxilio do diálogo com a
rua; e uma viela para pedestres.
população; e o projeto Praça das Artes, também no centro
Com
isso,
busca-se
referencias
urbano-
arquitetônicas da realidade para traduzir toda a análise e
de São de Paulo, que usa o edifício como interstício para meio urbano e propõe a reciclagem de um edifício hi
descoberta dos interstícios em propostas que visam fomentar as manifestações culturais do centro de Londrina.
191
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
5.3.1 Centro Aberto de São Paulo PROJETO: METRO ARQUITETURA, Prefeitura de São Paulo e Itaú
LOCAL: CENTRO DE SÃO PAULO - SP ANO DA PRIMEIRA IMPLANTAÇÃO: 2014 O centro de São Paulo é um setor privilegiado da cidade. A larga oferta de empregos, a pujante Figura 133 - Intervenção Centro Aberto, sessão de cinema ao ar livre. FONTE: SMDU, 2016.
dinâmica do comércio popular e especializado, o amplo serviço de transporte público, a presença dos órgãos de governo, a memória do patrimônio histórico, e os equipamentos culturais e
de
espaços públicos o
singularizam (SMDU, 2016). A região central da cidade sofreu, ao longo da segunda metade do século XX, um processo de desvalorização simbólica e degradação de suas condições ambientais, paralelo à expansão da mancha urbana e o surgimento Figura 134- Intervenção Centro Aberto. FONTE: SMDU, 2016.
192
de
novas
regiões
com
funções
de
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
centralidade. O Centro passou a ser um lugar de
responsável pelos projetos urbanos do município,
passagem e não um espaço de estar, que convide à
organizou partir de uma metodologia colaborativa
convivência e ao desfrute de seus potenciais e qualidades
facilitada pelo Gehl Architects, escritório especialista em
históricas. Tal configuração espacial não apenas produz
transformação de espaços públicos. Como resultado,
uma sensação de insegurança aos usuários, como não
selecionaram duas intervenções estratégicas, as quais se
atende suas demandas e necessidades cotidianas. A
transforaram em projetos piloto: Largo São Francisco &
requalificação da área central é um desafio e uma
Praça do Ouvidor Pacheco e Silva; Largo Paissandu &
necessidade,
Avenida São João. Num primeiro momento, foram
imbuída
de
um
inegável
sentido
democrático (SP URBANISMO, 2013). A
conceituação
do
Centro
concebidos para serem testados pelo uso efetivo e ativo Aberto
foi
da população.
constituída num período de três workshops realizados nos
A experiência da metodologia realizada nesse
meses de abril, agosto e novembro de 2013. O processo
trabalho provou a urgente necessidade de se promover
do trabalho agregou entidades da sociedade civil com
debates e estabelecer ações coletivas na construção dos
atuação no centro, arquitetos, urbanistas, estudantes e
instrumentos que irão qualificar os espaços públicos da
diversos órgãos da administração municipal em um
área central. Espaços que deverão estar aptos a receber
processo colaborativo e participativo.
as mais diferentes manifestações, usos ou vontades que
Reunidos,
esses
agentes
discutiram,
cada cidadão tem ao se utilizar a cidade (SMDU, 2016).
escutaram, debateram e elencaram hipóteses abertas para o Centro. A São Paulo Urbanismo, empresa pública
193
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
5.3.1.1 EXPERÊNCIAS PILOTO Os projetos do Centro Aberto têm papel de articular políticas públicas municipais voltadas para os espaços públicos. Neles convergem ações de diversos órgãos municipais, como o WiFi Livre Sp e a renovação da iluminação pública, o incentivo à presença de artistas de rua e comida de rua, assim como a rede de bicicletas compartilhadas e a instalação de paraciclos. Os primeiros projetos do Centro Aberto foram implantados em caráter de experimentação, como projetos piloto. Os projetos piloto são uma forma de testar novas soluções na escala do pedestre, 1:1, antes de fazer alterações permanentes. Ao mesmo tempo em que permitem o diálogo público e o envolvimento da comunidade, convidam usuários e potenciais usuários para o engajamento no processo de mudança da cidade com relação as suas necessidades e demandas (SP URBANISMO, 2016).
194
O conteúdo, prazo e nível de temporalidade podem variar de projeto para projeto, de acordo com os objetivos e critérios de sucesso definidos para o local. Essa forma de atuação se provou uma ferramenta política forte na tomada de decisão, uma vez que mostra diretamente como a vida da cidade será afetada pelas mudanças (SP URBANISMO, 2016). A coleta de dados se estabeleceu em dois níveis: 1- Antes de realizar o projeto piloto, a coleta de dados e o levantamento no local, podem ajudar a identificar as mudanças necessárias e documentar por que essas mudanças devem ser feitas. 2- Após a implantação do projeto piloto, deve-se acompanhar a coleta de dados e o levantamento pode sublinhar os efeitos das mudanças, apontar para mudanças adicionais e validar o sucesso e aprendizados do projeto, além de levar a mudanças permanentes.
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4.31.2. PESQUISA COMO PONTO DE PARTIDA PARA TESTAR SOLUÇÕES O uso de projetos pilotos temporários foi uma maneira de ensaiar soluções e ao mesmo tempo ter um processo de engajamento e diálogo com os usuários e potenciais usuários dos espaços. Segundo SP Urbanismo (2016), a mudança no comportamental pode ser analisada de forma quantitativa e qualitativa, a partir dos fatores: aumento de atividades; número de pedestres; menos travessia fora da faixa; e entrevistas para entender quais os usos do local e a percepção de segurança. Segundo o caderno de pós-ocupação do Centro Aberto (2016), os levantamentos antes e depois da implantação foram uma parcela importante do processo do projeto piloto, uma vez que servem como base para avaliar e medir os efeitos das mudanças aplicadas. Também se aponta para alterações adicionais de levar a
um
processo,
a
longo
prazo,
de
transformações
permanentes na área.
5.3.1.2 O PROCESSO PARTICIPATIVO Como parte do processo dos projetos do Centro Aberto em São Paulo, foram realizados oficinasworkshops com participantes da municipalidade e convidados. Dados, informações e aprendizagens foram coletados em vários documentos públicos. No primeiro workshop, um amplo grupo com participantes de todos os departamentos municipais e convidados olharam para os espaços públicos no centro da cidade identificando os problemas e as potenciais soluções, utilizando os 12 Critérios de Qualidade - uma ferramenta de avaliação aplicada nessa metodologia. Com o aprendizado do primeiro workshop a SP Urbanismo investigou e apontou uma série de espaços públicos no centro da cidade a serem levados em
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TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
consideração para a primeira rodada de projetos no centro de São Paulo (SMDU, 2016). Para iniciar as estratégias o SP Urbanismo propõe uma caixa de ferramentas que funciona como um cardápio de elementos de projeto para ativação dos espaços públicos, que podem ser aplicados em todas as unidades. As estratégias de ação e os elementos deste conjunto garantem coerência e unidade ao Centro Aberto (SMDU, 2016). São eles: NOVAS FAIXAS E ZONA DE PRIORIZAÇÃO DE PEDESTRES • Garantem travessia segura nas zonas de alto fluxo, linhas de desejo e entre pontos de interesse • Priorizam o pedestre • Valorizam do percurso à pé e a presença na cidade • Promovem melhor compartilhamento do espaço viário ALARGAMENTO DA ZONA DE ESPERA PARA A TRAVESSIA • Garante a segurança do pedestre em pontos de espera • Amplia o passeio, equilibrando o uso do espaço viário • Aumenta a visibilidade do pedestre • Reduz a distância de travessia
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BANCOS MODULARES • Criam espaços para conversar • Conformam ‘espaços dentro do espaço’, convidando os passantes a sentar • Constroem grandes elementos para permanência • Tornam os espaços mais verdes com adição de vasos e plantas BANCO E MOBILIÁRIO PORTÁTIL • Garantiem múltiplas possibilidades de sentar ao ar livre • Conferem ao usuário o protagonismo no uso do espaço, movendo as cadeiras para a sombra, sentando em grupos etc. • Mesinhas na calçada dão apoio à comida de rua (barracas, food- trucks, food-bikes etc.) • Guarda-sóis proporcionam sombra nas áreas de permanência VASOS • Ampliam a presença do verde na cidade • Fornecem sombra e filtrar a luz solar • Criam novos ambientes dentro do espaço • Servem como elementos adicionais de descanso • São uma alternativa aos balizadores para bloqueio do tráfego BALIZADORES • Impedem a entrada de veículos sem interromper as linhas de desejo dos pedestres • Servem como bancos informais • Conformam pequenas bordas secundárias
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SINALIZAÇÃO
• Fornece informações sobre as linhas de ônibus
• Identiifica um ponto de encontro
• Expõe informações sobre os projetos, convidando as pessoas a participar e usar o espaço
• Informa sobre a oferta do wi-fi público TRATAMENTO DO PISO • Unifica o espaço
• Identifica com clareza as transformações do lugar
• Cria identidade visual para intervenções pulverizadas
• Conquista áreas de leito carroçável ocioso, mediando uma nova relação de uso do espaço viário
ILUMINAÇÃO E PROJEÇÃO
• Garantem espaços públicos mais seguros
• Convidam ao uso noturno
• Reanimam fachadas e muros sem janelas • Realçam detalhes das construções • Criam padrões luminosos de piso PAINÉIS E JARDINS VERTICAIS
• Ativam fachadas e muros sem janelas • Criam identidade
• Ampliam a oferta de verde
CENTRO DE INFORMAÇÃO E APOIO • Unidade de apoio e depósito de mobiliário portátil • Concentra informações sobre o projeto • Promove a zeladoria do espaço • Proporciona a interface com usuários COMIDA DE RUA • Assegura espaços visíveis para vans e carrinhos de comida • Fornece áreas sombreadas para os clientes • Oferece outras possibilidades na hora de almoço • Ativa ruas e praças, aumentando a segurança • Gera renda para trabalhadores locais. ESTAÇÕES DE BICICLETAS COMPARTILHADAS E PARACICLOS • Localizadas próximo aos destinos finais e ao transporte público • Garantem visibilidade, atraindo mais usuários aos espaços • Fornecem informações sobre o sistema de partilha de bicicletas e localização das estações de compartilhamento • Incentivam o uso da bicicleta como meio de transporte • Garantem instalação próxima aos destinos finais das pessoas, pontos de ônibus e estações de trem e metrô • Elementos adicionais: mapas da cidade, bomba de ar e oficina de manutenção e lavagem LIXEIRAS • Garantem um espaço público mais limpo • Melhoram a coleta seletiva para ampliar a reciclagem Figura 135 - Diagrama de mobiliários urbanos
FONTE: SMDU (2106).
197
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
5.3.1.3 AÇÕES ESTRATÉGICAS As primeiras estratégias básicas se pautaram em três pontos: a proteção e priorização de pedestres e ciclistas; o suporte à permanência nos espaços públicos; e os novos usos e atividades. A primeira tinha principal objetivo de melhorar e tornar acessível e seguro o centro para pedestres e ciclistas, tanto no sentido de acesso, quanto de passagem, promovendo uma boa sinalização (SMDU, 2016). Em áreas movimentadas como o Centro de São Paulo é importante garantir esse espaço, com atribuições espaciais de acordo com as necessidades dos usuários. Pauta-se na ideia de que a introdução de ciclovias promove vínculo seguro e direto entre o centro da cidade, os principais pontos de transporte público e os bairros. É um passo em direção a uma cidade mais amigável e mais humana, testando novas soluções que possam servir para outras áreas da cidade. A segunda parte do pressuposto que melhorar
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as condições de permanência em espaços públicos é fundamental para a promoção da vida urbana e da segurança na cidade. A criação, portanto, de pontos de encontro e locais de descanso e lazer fomentando a vivência urbana (SMDU, 2016). O terceiro ponto pauta-se nos novos usos, em que se instiga o comercial, cultural e as atividades físicas. As ações comerciais - como comida de rua, floriculturas e feiras - são um incentivo ao uso do espaço público. Além de garantir presença de pessoas, possibilita o comer ao ar livre e o encontro em locais públicos, medidas para um convívio social rico e de trocas com a cidade. As ações culturais dão oportunidade para permanência no espaço público ao longo do dia. Atividades como cinema ao ar livre, por exemplo, garantem permanência noturna e acesso gratuíro à cultura. A presença de artistas de rua é também benéfica neste sentido, pois mobiliza grupos de espectadores e incentiva a permanência e a participação na cidade. O
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mesmo ocorre com as atividades físicas e esportivas. Além de incentivarem um modo de vida saudável, os esportes e brincadeiras são motivadores do encontro de pessoas e da convivência mútua entre participantes e espectadores (SMDU, 2016). Com
isso
projetos
dois
projetos
são
implantados, em parceria da Prefeitura de São Paulo com o Itaú, onde o escritório de arquitetura Metro é o responsável pela execução duas intervenções transitórias
Figura 137 - Mapa de implantação dos projetos pilotos. FONTE: SMDU (2016).
Largo PAISSANDU E AVENIDA SÃO JOÃO
e flexíveis, uma que instiga a maior permanência no Largo
O Centro Aberto Paissandu e Avenida São
Paissandu e na Avenida São João e outra no Largo São
João tem como prioridade a melhora nas condições de
Francisco e Praça Ouvidor Pacheco e Silva (METRO, 2018).
segurança e conforto dos pedestres e passageiros, equilibrando a distribuição de espaço físico de acordo com as necessidades dos usuários (METRO, 2018). Trata-se de melhorar a experiência de mobilidade ao longo da rua e a espera do transporte público, com oportunidades para sentar e descansar, com pequenas intervenções que propiciam um ambiente mais
Figura 136 - Registro de atividades de permanência Centro Aberto. FONTE: SP Urbanismo (2016).
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interessante e garantem, adicionalmente, travessias de pedestres seguras e diretas ligando os dois lados da rua.
LARGO PAISSANDU E AVENIDA SÃO JOÃO O Centro Aberto do Largo São Francisco se
Ao proporcionar situações de espera de alta
pautou na estratégia de projeto para melhorar o acesso e
qualidade com assentos, sombra e atividades adicionais –
a circulação, por meio de ações que envolvem sinalização
tais como shows em espaço público e comida de rua –, a
horizontal e adição de elementos associados, como
experiência do tempo de espera pode ser reduzida e os
anteparos às travessias – vasos e monolitos de granito -
passageiros que esperam o ônibus podem vivenciar um
paraciclos e bicicletas compartilhadas. Uma nova faixa de
espaço público mais vibrante e ativo (SMDU, 2016).
pedestres foi implantada em continuidade ao eixo histórico da Rua São Bento, uma linha de desejo de pedestres bastante evidente. A travessia foi reduzida por uma zona de espera, com prolongamento do passeio e interface com a nova ciclovia. O projeto Centro Aberto na Praça Ouvidor Pacheco e Silva, em frente ao Largo São Francisco, se expressa na reconquista de uma área pública antes cercada e hostil. As grades azuis limitavam as perspectivas
Figura 138 - Largo Paissandu depois da intervenção. FONTE: SMDU (2016).
200
visuais e os caminhos dos pedestres e promoviam a sensação de insegurança na praça. A retirada das grades
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possibilitou a inserção de elementos convidativos à vida
deck
urbana na escala humana.
tornando-se uma estrutura flexível a diversos usos.
permitem
diversas
apropriações
do
espaço,
A implantação visou a consolidação de um lugar com novas funções e a intensificação de seu uso público, o que aumentou a presença de pessoas e contribuiu significativamente para melhorar a sensação de bem estar e segurança. A Praça Ouvidor Pacheco e Silva é um espaço público de encontro e descanso ao ar livre, tanto para moradores da região como para trabalhadores e estudantes. Ao proporcionar situações de permanência de alta qualidade, com assentos, sombra e atividades adicionais - como cinema na praça, comida de rua e WiFi livre -, a experiência do espaço foi qualificada, com a vivência de um lugar mais vibrante e ativo (SMDU, 2016). Para essa permanência o METRO utilizou-se da ampliação da atratividade do espaço público por meio de um deck de madeira que percorre todo a porção leste da Praça Ouvidor Pacheco e Silva. As diferentes alturas do
Figura 139 - Intervenção na Pr. Ouvidor Pacheco e Silva. FONTE: METRO Arquitetura (2014).
201
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Praça das Artes PROJETO: BRASIL ARQUITETURA LOCAL: CENTRO DE SÃO PAULO - SP ÁREA: 28500m2 ANO: 2012 MATERIAL: CONCRETO APARENTE PIGMENTADO A segunda referência, também no centro de Figura 140 - O edificio na escala do pedestre convida o usuário para atravessar. FONTE: Brasil Arquitetura (2013).
São Paulo, se elabora como uma referência arquitetônica brasileira de peso, a Praça das Artes. Iniciativa da Secretaria da Cultura da cidade de São Paulo, a proposta surgiu como um conjunto de edifícios para abrigar sedes das Orquestras Sinfônica Municipal e Experimental de Repertório, dos Corais Lírico e Paulistano, do Balé da Cidade e do Quarteto de Cordas, além dos programas secundários das Escolas Municipais de Música e de Dança, do Museu do Teatro,
Figura 141- Croqui Praça das Artes. FONTE: Archdaily (2013).
202
o do Centro de Documentação Artística.
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Diferentemente de projetos de arquitetura
administradores envolvidas nessas atividades - que
que se desdobram oponentes em grandes espaços
precisavam de espaços adequados aos ensaios e mais
livres, destacados e visíveis à distância, o projeto da
próximos do palco do teatro (MENDELEZ, 2013).
Praça das Artes se acomodou ao espaço comprimido pelos terrenos preexistentes.
Segundo Sayegh (2012) a “Quadra 27” foi objeto
de
estudo
urbano
realizado
por
órgãos
O local do projeto em estudo é composto por
municipais e discutido na academia, o que demonstra
uma série de lotes que se interligam no miolo da quadra,
alto interesse da comunidade em relação a soma do
usando do interstício para conexão entre três frentes de
espaço à malha urbana.
ruas, no centro da cidade de São Paulo. A partir do núcleo do terreno, o conjunto se desenvolve em três direções: Vale do Anhangabaú (Rua Formosa), Avenida São João e Rua Conselheiro Crispiniano. Essa implantação possibilitou a criação de novas rotas para o fluxo de pedestres, aumentando a
“Mexer na quadra 27 foi empreender uma ação de requalificação que pode reverberar em todo o conjunto do Anhangabaú e Ipiranga” (SAYEGH, 2012).
Ferraz (2014) - um dos arquitetos responsáveis pela obra – explica que se queria um projeto de “inserção urbanística e recuperação de uma zona central”.
permeabilidade física da quadra e estendendo o
A Quadra 27 também apresentada nas
domínio do espaço público. Além de agrupar atividades
palavras do ministro da Cultura de São Paulo, Eduardo
que se encontravam espalhadas e desconexas pela
Calil, como “uma quadra doente” era ocupada por
cidade, atender às necessidades de quase duas mil
prédios deteriorados, dos quais se destacava o Antigo
pessoas - dentre artistas, alunos, professores, técnicos e
Conservatório Dramático Musical - edifício histórico do
203
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
século XIX -, onde se abriga uma grande sala de recitais que por décadas ficou inutilizada (COSTA, 2018).
O interstício demonstrado na imagem, que cruza por meio do miolo da quadra 27, não era permitido em sua pré-existência anterior, por conta da forma como os edifícios existentes ocupavam os lotes.
teatro municipal
centro novo largo paissandu
av. são joã o
praça ramos de azevedo
v anh ale do ang aba ú
O fluxo de pedestres se dava em maior intensidade pela rua paralela, ao norte, a Avenida São João. Nesse sentido, já existia uma conexão, no entanto entre o Vale do Anhangabaú e o Largo Paissandu, ela não tinha a escala do pedestre e não proporcionava uma ludicidade como a forma da Praça das Artes se estabelece. O desenho do edifício na escala da rua que o aproxima do
centro velho
Figura 142- Implantação Praça das Artes.
FONTE: Archdaily (2013). Modificado pelo autor.
Os lotes destinados ao projeto são expressos no mapa em vermelho, logo entende-se que a proposta corta toda a quadra. Marca-se o Theatro Municipal e o Vale do Anhangabaú, este último pode ser visto como um limite sensível entre os centros novo e velho de São Paulo.
204
pedestre e o permite apropriar-se dele, ampliando o espaço público na área central (COSENZA, 2016). O lugar contém marcas e memórias de diferentes épocas” e é resultado dos desacertos de um urbanismo que sempre se submeteu à ideia do lote, à lógica da propriedade privada da terra, contém um ‘estoque’ de espaços vazios, subutilizados ou ociosos, abandonados, esquecidos, esperando que a cidade volte a ter interesse por eles (GUERRA, 2012).
A região não continha nenhum edifício com metragem quadrada suficiente para comportar as
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
eles (GUERRA, 2012). eles (GUERRA, 2012).
A região não continha nenhum edifício com metragem quadrada suficiente para comportar as A região não continha nenhum edifício com necessidades que o projeto se conformava. Com isso, a metragem quadrada suficiente para comportar as soma de terrenos com desapropriações, a reabilitação necessidades que o projeto se conformava. Com isso, a do Conservatório Dramático e Musical e o restauro da soma de terrenos com desapropriações, a reabilitação fachada do antigo Cine Cairo. do Conservatório Dramático e Musical e o restauro da O estudo de ocupação da quadra, elaborado fachada do antigo Cine Cairo. pela Secretaria Municipal da Cultura de São Paulo, previa O estudo de ocupação da quadra, elaborado a reabilitação do conservatório como "âncora" do pela Secretaria Municipal da Cultura de São Paulo, previa projeto e as novas edificações deveriam dispor-se em a reabilitação do conservatório como "âncora" do torno do edifício histórico (CALIL, 2013 apud COSENZA, projeto e as novas edificações deveriam dispor-se em 2016). A relação de edifícios desapropriados é expressa torno do edifício histórico (CALIL, 2013 apud COSENZA, na figura abaixo. 2016). A relação de edifícios desapropriados é expressa
completamente subutilizada (servia de transbordo de lixo), mas com uma área generosa que encontrava os fundos do de completamente subutilizada (servia conservatório musical, a partir transbordo de lixo),criada mas com uma área da demolição de um quartel do do generosa que encontrava os fundos exército nos fins damusical, década criada de 1970. conservatório a partir (SAYEGH, 2012). da demolição de um quartel do exército nos fins da década de 1970.
A proposta de (SAYEGH, intervenção também usufruiu 2012).
da aplicação do instrumento legal Operação Urbana A proposta de intervenção também usufruiu Centro que oferece incentivos para a construção. A Praça da aplicação do instrumento legal Operação Urbana das Artes, portanto, se construiu sem recuos frontal, de Centro que oferece incentivos para a construção. A Praça fundo e laterais (SAYEGH, 2012). das Artes, portanto, se construiu sem recuos frontal, de fundo e laterais (SAYEGH, 2012).
De fato, a quadra apresentava muitos
na figura abaixo.edifícios heterogêneos com gabarito
baixo,De de fato, pouco a quadraaproveitamento apresentava muitos construtivo e péssima edifícios heterogêneosqualidade com gabarito arquitetônica. miolo, baixo, de Em poucoseuaproveitamento destacava-se o ponto que motivou sua construtivo e péssima qualidade ocupação: uma praça municipal arquitetônica. Em seu miolo, destacava-se o ponto que motivou sua ocupação: uma praça municipal
Figura 143 - Lotes e edificios apropriados na Quadra 27. FONTE: Sayegh, 2012.
205
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
A obra se expressa como um grande conjunto de edifícios que surgem da relação de volumes somados e subtraídos, relacionando à ideia de cheios e vazios da cidade. Do vazio nasce a conexão com o entorno, os espaços coletivos e de convivência, o térreo livre, onde se proporciona uma travessia aos pedestres (FERRAZ, 2014).
Figura 144 - Setores de atividades. FONTE: Sayegh, 2012.
O centro de São Paulo se conforma como uma vizinhança predial caótica do ponto de vista volumétrico. O adensamento e a intensa verticalização característica de áreas centrais se misturam com as construções histórica, no caso de estilo eclético, como o Theatro Municipal de São Paulo e a Galeria Formosa, contrastando com o vazio do Vale do Anhangabaú e as praças do entorno.
206
Figura 145 - Comunicação com os edifícios históricos e vizinhos. FONTE: Archidaily (2013).
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Os volumes verticais, além de atenderem o
Ao lado, ergue-se o prédio do Centro de
programa de necessidades também representação um
Documentação, também já construído junto com os
fomento às atividades no centro, sendo um catalisador
Edifícios das Escolas, ao fundo. Para uma nova fase,
artístico. Materialmente, a obra se conforma em concreto
restaram as obras do Edifício que abrigará o Auditório/
aparente pigmentado na cor ocre, elemento principal a
Discoteca e o projeto efetivo da praça (SERGIO, 2015).
estabelecer um novo diálogo com a vizinhança e, também, com os edifícios históricos existentes que, após reformados, permanecem como parte integrante do conjunto. É um projeto que se amolda ao terreno, não nasce de uma forma pronta (FERRAZ, 2014).
O volume de corpos artísticos, contempla em sua composição a fachada restaurada do cine Cairo. Já o edifício do Antigo Conservatório Dramático e Musical,
Figura 146 - O conjunto de edificio torna-se um interstício conectando o Largo Paissandu ao Vale do Anhangabaú. FONTE: Archidaily (2013).
além de restaurado também foi readequado para abrigar a galeria de exposições do acervo do Theatro Municipal e Sala de Concertos do projeto.
207
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Quanto ao uso do concreto como material
central não há espaço para o edifício “ser o que quiser”.
predominante, os arquitetos defendem a ideia de se
Neste espaço, encontram-se limitações, como edificações
especificar um material que trouxesse identidade ao
vizinhas - e históricas - e o edifício só pôde crescer nos
projeto. A escolha pelo concreto, traz ao edifício pouca
vazios deixados por elas. A Praça das Artes lida com
demanda por manutenção, e devido à sua alta resistência,
parâmetros construtivos, questões técnicas advindas de
atua como estrutura e vedação, permitindo a criação dos
um programa de necessidades que requer cuidados
grandes vãos livres, responsáveis por liberarem o térreo
específicos, e além disso, confronta o hábito de quem já
para a circulação dos pedestres (SERGIO, 2015).
havia se acostumado com o que era a “quadra 27”
A Praça das Artes, portanto, torna-se um exemplo neste trabalho de projeto arquitetônico que usa do interstício para ampliação do espaço público. Nele se identifica elementos arquitetônicos trabalhados para darem vida a um conjunto de edifícios que querem se abrir para a cidade, tornar-se um incremento às suas atividades. A arquitetura nasce como resultado da leitura do local, e dessa forma, das configurações urbanas já existentes (SAYEGH, 2012). Quando falamos de uma área
208
(SAYEGH, 2012). Muitos edifícios na região são tombados - o Teatro Municipal, o edifício dos Correios, o Conservatório - e nesse sentido, o projeto da praça acumulou para si ainda mais restrições. "Essas restrições existem para controlar volumetrias e ambiências, e evitar a descaracterização da área próxima a um bem tombado" (SAYEGH 2012).
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
209
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
O comércio e serviço em todo o Calçadão e
ATO FINAL
suas imediações geralmente se restringem a horários específicos e comerciais, em que o período noturno tem pouca ou quase nenhuma ênfase. Além disso, espaços de ensino e aprendizagem da arte restringem-se a pontos específicos da cidade. Dessa maneira, os projetos buscam a ativação do espaço público por meio da reinterpretação de suas
6. Prática urbana
formas de uso. Promover a diversificação das atividades envolvendo um número maior de grupos de usuários, em períodos tempo também ampliados - constitui-se em um
As propostas do trabalho não buscam apenas construir novos espaços públicos, mas, transformar as estruturas preexistentes e conectá-las de maneira mais lúdica,
permitindo
atividades
de
celebração,
manifestação e descoberta no centro. Conectar arte, arquitetura e cidade torna-se o alvo dessa interpretação.
210
instrumento fundamental para a construção do domínio público sobre os espaços.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
6.1. CENA 1 - AS QUALIDADES ESPACIAIS
plinths, de um layout interativo e que influencie as manifestações cotidianas. A permeabilidade, no entanto, apenas será
Para aplicação das estratégias urbanas pauta-
eficiente se atrelada as experiências. Por isso, a variedade
se na ênfase das qualidades espaciais dos espaços
de usos é essencial (BENTLEY et all, 2005). No
públicos e na busca na diversidade, em uso e forma.
desenvolvimento das estratégias, dessa maneira, associa-
Dessa forma, utiliza-se algumas técnicas de desenho
se a arte aos elementos cotidianos da vivência urbana.
grupo
Em conjunto da variedade e permeabilidade
pesquisadores da relação ambiente comportamento,
tem-se a legibilidade que trará a forma tridimensional das
formado por Ian Bentley, Alan Alcock, Sue McGlynn, Paul
novas conexões e usos (BENTLEY et all, 2005). É maneira
Murrain e Graham Smith (2005).
de facilitar a compreensão do espaço para o transeunte.
urbano
para
um
ambiente
responsivo
do
Dentre as sete qualidades espaciais expostas
A partir dessas premissas, inicia-se os eixos
pelos autores adota-se a permeabilidade, a variedade,
urbanos estratégicos. Propostas sugestivas de atrelar arte
legibilidade e adequação visual. Segundo os autores a
e cidade na nova dinâmica social dos espaços públicos do
qualidade da permeabilidade, ou seja, o número de
Centro Principal.
caminhos alternativos por meio de um ambiente, é crucial para criação de um espaço responsivo. (BENTLEY et all, 2005). A permeabilidade é fundamental para criação dos
211
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
6.1. CENA 2 – OS EIXOS ESTRATÉGICOS As propostas se estabelecem nos interstícios encontrados nas análises, em que o espaço público se torna o ator célebre das intervenções. Se divide as estratégias em quatro eixos principais que serão descritos nas próximas cenas: coabitar, coexistir, compreender e comer.
212
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MAPA SETORIAL PROPOSTAS ATO FINAL Eixo 1 - Coabitar Eixo 2 - Coexistir Eixo 3 - Compreender Eixo 4 - Comer Novos Edifícios Edifícios Modificados
N
Escala 1:5000
Fonte: IPPUL, 2018. Google Maps, 2018, modificado pelo autor.
213
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
6.2.1 COABITAR Para
a
Para o edifício do antigo Banco Banestado/ definição
da
primeira
proposta
entende-se o interstício 1, ligado diretamente ao Calçadão, como um espaço mais tranquilo e misto, em que habitação e comércio convivem lado a lado. Nesse sentido, surge a ideia do coabitar, ou seja, trazer o sentimento da partilha e da troca de experiências. Durante a análise, destacou-se o edifício do antigo Banco Banestado/Itaú, atualmente em desuso, os comércios sem fachada ativa e a Praça Danielides no trecho 1 do Calçadão, entre as ruas Prefeito Hugo Cabral e Pernambuco. No trecho 2 e 3 do Calçadão, entre as ruas Pernambuco e Professor João Candido, o miolo de quadra formado por lotes de estacionamento e uma loja galeria, atual Lojas Americanas, se mostram receptivos para uma permeabilidade da quadra. Esses interstícios conectados a Praça Gabriel Martins formam um grande eixo com potencial para coabitação dos espaços.
214
Itaú propõe-se a abertura de todo o térreo, tornando o edifício um espaço de passagem e permanência para os usuários, assim como a transformação de seu uso, englobando o conceito atual de residência artística. Usar a arte na antiga agência bancária torna-se, portanto, simbólico. É um confronto do público e privado, em que a arte ocupa o espaço do consumo. As
residências
artísticas
destacam-se,
atualmente, como uma maneira relevante para o apoio, desenvolvimento e fomento da arte contemporânea e suas práticas. Pode-se identificar sua proliferação em todo o mundo, a partir da última década do século XX como um fenômeno a ser estudado sob diferentes perspectivas relativas
ao
processo
de
produção.
Então,
falar
em residência artística, em primeira instância, significa habitar o lugar onde se desenvolverá o trabalho, em diálogo com os demais contextos e integrantes da residência (artistas locais, artistas visitantes, produtores,
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
coordenadores, técnicos, programadores, curadores,
comerciantes e consumidores do Calçadão tem contato
público, funcionários da limpeza, motoristas de taxi,
com os artistas e podem usufruir do espaço de maneira
ascensoristas, seguranças, gato, cachorro, galo, etc.) a fim
mais coletiva. Além disso, a sul, na Rua Pio XII, a residência
de produzir um trabalho artístico.
artística entra em contato direto com o Colégio Estadual
Tecnicamente, uma residência temporária
Hugo Simas, ao ter seu térreo livre cortando toda a
onde o artista desenvolve seu trabalho e as pessoas ao seu
quadra. Nesse sentido, os estudantes podem se apropriar
redor podem assistir e participar deste processo. Em
do espaço e vislumbrar arte no seu dia-a-dia.
Londrina, a ocupação MARL, localizado no antigo edifício
Ainda
neste
espaço
livre
da
residência
da ULES, na Avenida Duque de Caxias, tentou iniciar esse
artística, tem-se o contato com lojas e restaurantes, os
tipo de prática, a qual não teve sucesso por conta de todo
quais têm em seu fundo um grande estacionamento.
um contexto do próprio espaço ocupado.
Neste ponto propõe-se um edifício galeria-temporária, o
Neste ponto, o edifício do desativado Banco Itaú se abre para o Calçadão e soma-se aos lotes adjacentes
o fundo das lojas se desdobra num ensaio ao fomento da
estacionamento. Nestes espaços tem-se a ideia de partilha
produção local. Transforma-se num espaço coletivo para
das
moradores,
promoção de novas ideias, com salas de coworking10,
Coworking é um movimento de pessoas, empresas e comunidades que buscam trabalhar e desenvolver suas vidas e
negócios juntos, para crescer de forma mais rápida e colaborativa (BRASIL COWORKING, 2018).
vivências
comportam
cotidianas,
espaços
em
que
residuais
Este novo edifício, que entra em contato com
de
10
que
qual se tornaria um anexo da residência artística.
215
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
multimídias e expositores; além de espaços de apoio aos
ao Calçadão e a Praça Gabriel Martins, formando um
lojistas locais em seu térreo. Os frequentadores da
espaço de coabitação do comércio com o espaço público.
residência artística coabitam com os usuários do edifício
Para a Praça Gabriel Martins se propõe uma
galeria-temporária, e com os moradores do centro,
caixa de ferramentas com um novo layout de mobiliários
estudantes e comerciantes do Calçadão, compartilhando
e mobiliários urbanos, com a intenção de promoção da
seus ateliês e experiências.
praça. Em analise, constatou-se que seu alargamento
À leste da residência artística, no trecho 2 do calçadão, entre as ruas Pernambuco e Professor João
lateral abre margem para um espaço performático e cotidiano, o que guiará seu desenvolvimento.
Candido, propõe-se adequação da loja-galeria, no caso Lojas Americanas, como um bom plinth, permitindo com isso
o
cruzamento
da
quadra
em
três
pontos,
transformando seu térreo numa área mais diversificada e coletiva. Ele pode ser usado como acesso às lojas adjacentes por meio do miolo de quadra, além de ganhar força coletiva com a inserção de cafés e bares. Uma tentativa a promoção de um uso fora do horário comercial. Este interstício de três pontas se liga a residência artística, Figura 143 - Croqui de estudo. FONTE: Autor, 2018.
216
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
1 6
DIAGRAMA ESQUEMÁTICO INTERSTÍCIO 1
2
7
PONTOS DE INTERVENÇÃO
8
CONEXÕES INTERAÇÕES 1 - espaço de permanência coletivo para uso dos comerciantes 2 - residência artística 3 - edificio Galeria-temporária como anexo há residências artistica, espaço coletivo de convivência. 4 - térreo livre com bares e cafés 5 - térreo livre com acesso às lojas 6 - galeria existente 7 - reformulação dos mobiliários da Praça Gabriel Martins 8 - Cine Ausgustus
5
3
4
N
Escala 1:3000
217
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
6.2.3 COEXISTIR Ao final do Calçadão, trecho 5, entre a Avenida Rio de Janeiro e Rua Minas Gerais, temos a proposta do coexistir, ou seja, propriedade da relação entre as praças e edifícios históricos com a população. O antigo e novo coexistindo juntos. A reciclagem dos espaços patrimoniais tornase importante no intuito de fomentar uma conscientização histórica. Para isso, propõe-se a criação de espaços de apoios temporários na Praça Marechal Floriano Peixoto e Praça Willie Davids, em conjunto com um espaço de Vernissage entre o Cine-Teatro Ouro Verde e o Autolon, reforçando a ideia do complexo arquitetônico de Villanova Artigas. Para criação deste espaço apropria-se da loja que se encontra entre os edifícios históricos e resgata-se o senso dos jardins do antigo Restaurante Caloni, antes ali empregado.
218
A ideia é proporcionar mais eventos e manifestações nesses espaços pioneiros do centro, trazendo maior visibilidade e complementando seu uso. Agrega-se também a essa manifestação, a utilização do interstício ao lado do Autolon, que corta a quadra entre as ruas Minas Gerais e Mato Grosso. Apropria-se de dois estacionamentos para criação de um espaço livre de celebração e permanência, que conecta a Praça Willie Davids com o Camelódromo de Londrina, espaço comercial de fluxo no centro. Neste local se propõe mobiliários urbanos flexíveis, afim de atender diversos eventos, como feiras de antiguidades e de arte; além de servir como uma área de repouso e pausa para a ruas comerciais adjacentes.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
4
3
2
1
DIAGRAMA ESQUEMÁTICO INTERSTÍCIO 2 PONTOS DE INTERVENÇÃO CONEXÕES INTERAÇÕES
N
Escala 1:3000
1 - espaços de apoio Praça Marechal Floriano Peixoto 2 - espaço de convivência 3 - espaço de vernissage 4 - espaço feiras-livres
219
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 146 - Ilustração espaço para feiras livres. Proposta de novo vazio de convivência. FONTE: Autor.
220
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Além disso, tem-se incentivo da própria Prefeitura de
6.2.3 COMPREENDER Entende-se os interstícios 3 e 4, vistos na análise do Terceiro Ato, como espaços complementares e aposta-se num espaço de aprendizagem da arte, no sentido de compreender. Para estimular a apreensão da população, se propõe um Teatro Contemporâneo no estacionamento ao lado do Edifício Fuganti. Em conjunto com os equipamentos urbanos existentes ao seu redor, como
a
Concha
Acústica
e
o
SESI,
o
Teatro
Contemporâneo engloba a ideia de um novo estilo de visualização da arte, em que a rua pode se fazer presente na peça. A cena cinematográfica é crescente em Londrina, com meios colaborativos como a Kinoarte e produtoras locais que crescem a cada ano, como exemplo a Produtora Kinopus, a qual ganhou prêmios em festivais internacionais com filmes londrinenses produzidos e filmados na cidade.
Londrina com o programa PROMIC, Programa Municipal de Incentivo à Cultura. Realiza o trabalho de abertura de editais, organiza comissões de análise que fazem a seleção dos projetos culturais, processa a celebração dos termos de cooperação cultural e financeira, repasse de recursos, acompanhamento da execução da proposta e recebimento das prestações de contas. Este programa foi criado pela Lei Municipal n º 8.984, de 06 de dezembro de 2002, que criou também o Fundo Especial de Incentivo à Cultura (FEPROC). O Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PROMIC) foi criado com “ o objetivo de propiciar os recursos financeiros necessários à execução da Política Cultural do Município”. O Fundo Especial de Incentivo à Cultura (FEPROC) é capitalizado através de dotação orçamentária própria, doações ou contribuições de pessoas físicas ou jurídicas ou de organismos públicos e privados, nacionais e
221
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
internacionais, além de recursos oriundos da União e do Estado. Através deste mecanismo o Poder Público tem maior controle dos recursos públicos investidos na área cultural e maior visibilidade enquanto patrocinador dos projetos. (IPPUL, 2018).
ministrados a diversas parcelas de estudante de toda a cidade. Em conjunto com este edifício que liga as Praças Sete de Setembro com a Alameda Manoel Ribas, assentam-se
novos
mobiliários
urbanos,
afim
de
proporcionar um melhor aproveitamento da Praça Sete de Setembro.
Para
tornar
essa
área
um
complexo
performático, propõe-se o retorno do Cine Vila Rica, como um espaço de produção cinematográfico da cidade e uma intervenção no Bosque Marechal Rondon, com o intuito de torná-lo mais permeável. Neste ultimo, o bosque pode se tornar palco das peças apresentadas no Teatro, das performances apresentadas no SESI e cenário de estudo para os filmes produzidos no reformulado Cine Vila Rica. Ainda nesse meio, a criação de uma Casa da Música e Dança com um Edifícios de Oficinas no espaço do estacionamento em frente à Praça Sete de Setembro contribui para dispersão do ensino e estimulo à arte. Com isso, aulas de teatro, curadoria, dança e música podem ser
222
Figura 147 - Ilustração Praça Primeiro de Maio com novo Teatro aberto à rua. FONTE: Autor.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
1
4 5 2 3 3
DIAGRAMA ESQUEMÁTICO INTERSTÍCIO 3 e 4 PONTOS DE INTERVENÇÃO CONEXÕES INTERAÇÕES
N
Escala 1:3000
1 - casa da música e da dança 2 - intervenção na praça Sete de Setembro 3 - manejo das árvores do Bosque 4 - teatro contemporâneo 5 - edifício de oficinas 6 - cine vila rica
223
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
6.2.4 COMER A última cena se estabelece no interstício que liga o Terminal Central Urbano à Praça Rocha Pombo, com a apropriação de um estacionamento e uma loja na quadra entre a rua Professor João Candido e Avenida São Paulo. Para esta área emprega-se a ideia de um espaço gastronômico, aberto a arte de comer. Entende-se como um meio livre às feiras gastronômicas, aos ambulantes, à quiosques e espaços de convivência. O espaço conforma-se de maneira longitudinal, e para garantir que não se torne uma espécie de corredor, salienta-se a relevância das lojas terem duplo acesso, sendo um deles o miolo da quadra, direto com o interstício. Por ser uma área com grande fluxo de pedestres e próximo às ruas Sergipe e Benjamin Constant, que não possuem espaços de respiro, o interstício 5 se mostra um potencial complementador das atividades da área. Na rua Benjamin Constant, acontece semanalmente a Feira do Produtor Rural, em frente ao Museu Histórico, essa feira pode se apropriar tanto do interstício proposto,
224
quanto da viela que circunda o Museu Histórico e estabelece uma conexão com a Avenida Leste-Oeste. Além disso, no estacionamento ao lado da loja de departamentos Havan, em conexão com os museus Histórico e de Arte Moderna, e a Praça Rocha Pombo instala-se um anexo para o Museu de Arte Moderna, com intuito de incentivar sua apropriação e flexibilização. Ainda na região, próximo ao Terminal Central Urbano, na Rua Professor João Candido, mais especificamente em conjunto com o Restaurante Popular, propõe-se um espaço de apoio social. Este espaço visa orientar, guiar e alimentar pessoas em situação de rua ou recémchegados à cidade. A realidade dos moradores de rua é real na cidade e não deve ser ignorada. Em conjunto com políticas públicas, o espaço assistencialista pode ajudar na recuperação e estabilidade dessas pessoas. O fato de se estabelecer muito próximo a um ponto de mobilidade urbana e de chegada à cidade, tornam este espaço um ponto estratégico de implantação.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
4
3
1 2 DIAGRAMA ESQUEMÁTICO INTERSTÍCIO 2 PONTOS DE INTERVENÇÃO CONEXÕES INTERAÇÕES
N
Escala 1:2500
1 - espaço gastronômico 2 - anexo do museu 3 - viela das feiras 4 - anexo do Restaurante Popular com espaço social
225
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
A reinterpretação do Calçadão inicia-se em
6.3 A ESCALA DO PEDESTRE Para atingir um desenrolar mais especifico imerge-se em um dos eixos estratégicos urbanos. Dentro dos eixos propostos nas estratégias urbanas escolhe-se o Eixo Coabitar, por ser o eixo que contempla todos os pontos expressos na pesquisa, o espaço público, o edifício desocupado e os espaços residuais. Dessa forma, resultou-se a reformulação do Calçadão e da Praça Gabriel Martins, o reuso do antigo Banestado associado à criação de espaços de apoio nos pontos
residuais.
identidade
nas
Emprega-se intervenções
uma afim
linguagem de
e
incitar
as
pedestre,
o
manifestações cotidianas. Prioriza-se desenvolvimento
dos
a
escala plinths,
do
térreos
atrativos,
permeáveis e legíveis associados ao Calçadão, a Praça e em apoio ao comércio local.
226
valorizar sua pregnância. A primeira iniciativa é o alargamento das calçadas do trecho remanescente da Avenida Paraná associado a implantação da ciclofaixa em todos os trechos. Com
isso,
permite-se
a
ampliação
das
possibilidades de locomoção e visualização do Calçadão e do Centro Principal, visto que por meio do Calçadão é possível apreciar os diversos eixos que o relevo do Centro Principal
proporciona.
relativamente
plano
O
torna
fato o
do
Calçadão
percurso
do
ser
ciclista
agradável. Propõe-se a volta do piso de mosaico português com desenho de correntes em branco e preto com técnica contemporânea. Símbolo pioneiro do Calçadão, persiste no imaginário urbano da população. Faixas elevadas em todos os trechos garantem a continuidade do piso e a priorização do pedestre.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
4. Praça gabriel martins
1 . calçadão reformulado O Calçadão ganha ciclofaixa, faixas elevadas, bolsões de estar e uma nova tipologia de mobiliário. O piso de mosaico mortuguês com desenho de correntes em preto e branco devolve sua identidade e ajuda a guiar os espaços fluidos para dentro dos edifícios e interior da quadra.
2. da agência à residência dos artistas
O antigo Banco Banestado, edíficio com histórico de manifestações populares transforma-se em Residência Artística. Associado a ele tem-se a criação de um programa cultural com biblioteca, cinema, midiateca, coworkings e espaços para eventos.
Praça performática, associada ao Calçadão. O espaço abre-se para os plinths e para as manifestações.
3. espaço compartilhado O novo anexo implanta-se no antigo estacionamento e é marcado pela fluidez espacial. Gera um bolsão de e permanência entre as lojas e instaura o edifício boêmio. Preparado para atender diversos bares e cafés, incentiva o uso noturno.
Figura 154 - Perspectiva Explodida. FONTE: Autor, 2018.
227
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
1. CALÇADÃO REFORMULADO Para proporcionar a permeabilidade visual ao
Como incentivo à socialização e marcação dos
nível dos olhos, faz-se uma intervenção na rede elétrica e
espaços de parada são criados bolsões de estar associados
telefônica, em que converte-se a fiação da aérea por
aos plinths. Os bolsões de estar são espalhados com quatro
cabeamento enterrado. Neste tipo de projeto, a rede de
tipos de layout diferentes, sempre associados à iluminação,
transmissão de energia é transferida para as galerias do
mobiliário de permanência, vegetação, lixeira e conexão
solo. Tem-se uma melhoria no paisagismo e redução de
wireless.O piso, com desenho contínuo, recebe pontos
custos de manutenção no sistema de energia. Maringá,
permeáveis com grama próximos aos bolsões, mudando o
cidade vizinha norte paranaense, adotou recentemente o
ritmo do caminhar de maneira suave, sem contrastar com o
sistema em um projeto do Centro.
rico elemento de identidade e design do piso. legenda ESPAÇO FLUÍDO NOVO EDIFÍCIO MOBILIÁRIO PERFORMÁTICO ELEMENTO SIMBÓLICO NOVAS FACHADAS PLINTHS VAZIO PARA MANIFESTAÇõES fluxo rápido fluxo lento bolsões de estar
N
esquinas livres
esquema de intenções 228
Figura 155- Esquema intenções. FONTE: Autor, 2018.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Propõe-se térreos mais permeáveis aos edifícios e fachadas mais ativas, com variedade de materiais para incentivar as manifestações cotidianas. A utilização de uma diversidade de materiais num ambiente corredor como o Calçadão auxilia na acústica e enriquece o visual. Uma nova tipologia de mobiliários é adotada. Desenvolve-se um mobiliário sugestivo, com materiais
_solstício de verão
contemporâneos e formas mais flexíveis, que incentivem a socialização. A criação do mobiliário desenrolou-se associa-se a diversidade de uso à tecnologia e história. Utiliza-se materiais ecológicos como o concreto ecológico de ágata, madeira de reflorestamento angelin e aço. As estruturas em aço recebem a cor vermelha, patrimônio imaterial da cidade,
_equinócio
com a expressão “pé vermelho”. Utilizado como identificação visual em todo o projeto, o vermelho ainda relembra a lama, comum na Avenida Paraná nas primeiras décadas do Centro Principal. Figura 156 - Esquema estudo solar
FONTE: Autor, 2018.
_solstício de inverno 229
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Para implantação do paisagismo, faz-se um
espelho d’água interativo com a forma do antigo Coreto,
estudo solar, o qual demonstou que as fachadas sul
retirado décadas atrás. O bolsão prevê um espaço vazio
recebem sombra durante o ano todo, dessa maneira,
para incentivar às feiras e concentrações cotidianas.
implanta-se uma vegetação perene deslocada nas
As luminárias de vapor de sódio garantem
proximidades das fachadas à norte. Dessa maneira o
iluminação em todo o percurso, desde o Calçadão,
transeunte pode desfrutar de sombra no verão e
espaço fluído e Praça Gabriel Martins. Espalhadas de
iluminação no inverno.
maneira rítmica, são feitas em aço e possuem uma forma
Sugere-se duas espécies de pequeno porte
cênica. Uma releitura das antigas luminárias de araucária
para o Calçadão, a Resedá rosa - Lagerstroemia indica - e
do projeto original, com desenho contemporâneo e nova
o Ipê branco - Tabebuia roseoalb.
tecnologia.
Em conjunto, as espécies geram contraste, riqueza visual e continuidade no Calçadão. Associadas ao mobiliário permitem o usuário ter contato direto com a massa vegetativa. No primeiro trecho do Calçadão, no alargamento lateral da Praça Danielides, propõe o primeiro bolsão associado a um elemento. Este, vertical e pensado em concreto pigmentado cor terra, faz uma referência ao início no Calçadão e sua história. Em sua base, tem-se um
230
TIPOS DE LAYOUT PARA OS BOLSões
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
plinth - residência artística Acesso ao miolo de quadra
TRECHO 01
faixa elevada
deck interativo + cinema ao ar livre edifícios anexos
vegetação perene Bolsão de atividades - pausa, estar, socialização, encontro e contemplação encontro Ciclofaixa elemento simbólico + espelho d’água
Figura 157 - Perspectiva Trecho 1 Calçadão. FONTE: Autor, 2018.
231
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
TRECHO 02 plinth - loja -galeria
edifício boêmio
faixa elevada espaço compartilhado Bolsão de atividades - pausa, estar, socialização, encontro e contemplação encontro
vegetação perene
Figura 158 - Perspectiva Trecho 2 Calçadão. FONTE: Autor, 2018.
232
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
TRECHO 03
plinth -galeria + cinema
quiosque
Bolsão de atividades - pausa, estar, socialização, encontro e contemplação encontro vegetação perene
deck - palco Figura 159 - Perspectiva Trecho 3 Calçadão.
FONTE: Autor, 2018.
233
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
mobiliário
banco tipo 1 linear
Figura 160 - Detalhes mobiliário urbano. FONTE: Autor, 2018.
234
banco tipo 2 em L + floreira
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
banco tipo 3 Social em L + lixeira
banco tipo 4 social em L + floreira
Figura 161 - Detalhes mobiliário urbano 02. FONTE: Autor, 2018.
235
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
lixeiras
floreira-banco escoamento de água
luminárias
3,50
5,00
vapor de sódio tipo araucária
canteiro de árvore - banco escoamento de água
Figura 162 - Detalhes mobiliário urbano 03. FONTE: Autor, 2018.
236
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
mosaico português preto
mosaico português branco
grama esmeralda permeabilidade
Det. piso 01
Det. piso 02 - bolsões de estar
esc. 1:50
esc. 1:50 Figura 163 - Detalhe piso Calçadão. FONTE: Autor, 2018.
237
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
N
0 1
238
5
esc. 1:500
10
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
galeria london
lojas americanas
239
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
240
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
GALERIA AUGUSTUS
CINE AUGUSTUS
N
0 1
5
10
esc. 1:500
241
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
2. da agência à residência dos artistas
criando um vazio interno, do subsolo à cobertura. Faz-se um reforço na estrutura com a utilização de vigas metálicas que
salientam
a
intervenção
e
demonstram
a
temporalidade, o antigo e o novo coexistindo. A antiga agência Banestado/Itaú perde suas
Implanta-se uma rampa acessível que liga todos os
esquadrias e abre-se para o Calçadão, criando um
pavimentos num percurso único. Para isso, retira-se uma
interstício urbano para o interior da quadra, agora cheio
das escadas da antiga agência.
de vida. Transformado numa residência artística, o edifício
num teto caminhável verde, com a instalação de uma
desocupado agora abriga um programa cultural completo
estrutura metálica parasitaria com vedação de vidro e
no Centro Principal. Tem-se um térreo livre com os
inclinação de 2%.
mobiliários urbanos incitando um percurso. O piso do Calçadão invade todo o térreo e atravessa a quadra, instaurando a fluidez espacial.
Em cada pavimento instalou-se novas unidades sanitárias que complementam as já existentes. O antigo subsolo, antes estacionamento, torna-se
O térreo conta com uma galeria efêmera com os
um grande salão de atividades manuais, com depósito
trabalhos dos artistas residentes, um café aos visitantes e
cenográfico e pequenas salas de cinema para atender
espaços de apoio.
tanto os artistas quando a população. É feito um furo na
Para iluminar e trazer uma unidade, continuidade e permeabilidade em todo o edifício fura-se todos as lajes
242
Com a criação do vazio, a cobertura é transformada
laje do subsolo, o qual transforma-se em mobiliário urbano, com grade, no térreo do edifício.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
A sobreloja ganha salas de ensaio, de oficinas, uma
No miolo da quadra faz-se dois anexos verticais
midiateca e biblioteca, todas de acesso à população.
afim de instigar o transeunte a entrar na quadra. Utiliza-se
Ainda, tem-se a instalação de esquadrias metálicas com
a cor vermelha para ser identificável na paisagem.
vidro de correr que protegem o ambiente interno e
Fragmenta-se o projeto no miolo da quadra, ligando-os
garantem a permeabilidade visual entre o Calçadão e o
por meio de passarelas ao edifício da antiga agência.
edifício.
As
passarelas
criam
uma
nova
atmosfera,
Os pavimentos tipo ganham vida com os novos
promovendo novos pontos visuais do interior da quadra
moradores artistas. Os apartamentos efêmeros são
para a paisagem do Centro. Os novos edifícios em anexo
flexíveis e atendem desde o artista solitário como uma
são propostos em estrutura metálica com laje steel deck.
companhia inteira de teatro. Loca-se os apartamentos nas
Os anexos transformam-se em coworking, espaços
bordas do pavimento com uma circulação em torno do
para eventos e galeria efêmera. No térreo tem-se
vazio. Dessa maneira, os artistas trabalham voltados para
bicicletário, decks mobiliários que possuem um desenho
o vazio e os visitantes podem acompanhar o processo
que direcionam o transeunte e um telão para cinema ao ar
criativo. Brises metálicos são colocados na fachada norte
livre
para proteção do ambiente de trabalho. A ventilação dos
Pontos de árvores são utilizados para guiar o
apartamentos é garantida pela altura das paredes, que
usuário,
em
que
escolhe-se
o
Manacá-da-serra-
são descoladas da laje e possuem janelas internas,
Tibouchina mutabilis – para o espaço fluído.
voltadas para o vazio, relembrando a ideia das vilas, forma de ocupação inicial da cidade.
243
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 168 - Imagem início do Calçadão reformulado. FONTE: Autor, 2018.
244
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Figura 169 - Imagem térreo da Residência dos artistas em contato com o Calçadão. FONTE: Autor, 2018.
245
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
246
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
N
0 1
5
10
247
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
248
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
_subsolo
0 1
5
10
N
249
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
250
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
_sobreloja
0 1
5
10 N
251
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
252
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
_1° pavimento
0 1
5
10
N
253
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
254
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
_2° pavimento
4 1
1
2
2
3
3
1- apartamento tipo 1 2 - apartamento tipo 2 3 - apartamento tipo 3 4 - espaço galeria-atelier
4
0 1
5
10
N
255
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
corte AA’ esc. 1:500
256
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Figura - Corte AA’. FONTE: Autor, 2018.
257
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
corte bb’ esc. 1:250 Figura - Corte BB’. FONTE: Autor, 2018.
258
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
corte CC’ esc. 1:150 Figura - Corte CC’. FONTE: Autor, 2018.
259
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
residência dos artistas coworking
CORTE ESQUEMÁTICO PERSPECTIVADO Figura 179 - Esquema do Corte DD’ FONTE: Autor, 2018.
calçadão
260
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
edifício boêmio
praça gabriel martins calçadão
plinth
Figura 180 - Corte DD’
FONTE: Autor, 2018.
261
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 181 - Perspectiva Plinth. FONTE: Autor, 2018.
262
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Figura 182 - Perspectiva Residência artística interna. FONTE: Autor, 2018.
263
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 182 - Perspectiva conexão do Coworking à Residência Artística. FONTE: Autor, 2018.
264
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Figura 183 - Perspectiva conexão Residência artística ao Coworking. FONTE: Autor, 2018.
265
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura 184 - Perspectiva 1 espaço fluído. FONTE: Autor, 2018.
266
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Figura 185 - Perspectiva 2 espaço fluído. FONTE: Autor, 2018.
267
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
3. o espaço compartilhado
próximo ao Calçadão. Em conjunto com o comércio, o
O espaço fluído da Residência dos Artistas
novo ponto cultural instaurado com a Residência dos
estende-se em direção ao Espaço Compartilhado. Neste
Artistas, promove diferentes experiências do cotidiano no
momento, o piso estampado do Calçadão continua e
Centro Principal.
atinge o interior de um lote cercado por lojas. Dessa
Com planta retangular, elevadores industriais
maneira, tem-se uma continuidade e um direcionamento
e uma estrutura metálica em steel deck, o edifício ganha
do transeunte. As floreiras guiam até o interior do lote, em
terraços em alguns pavimentos e o ecotelhado verde, os
que utiliza-se quiosques atrativos. Propõe-se uma parceria
quais permitem diferentes apreciações da paisagem. As
entre lojas com a criação de um espaço convidativo e de
aberturas são propostas em direção à Residência dos
permanência, tanto aos visitantes, quanto lojistas.
Artistas, da Catedral de Londrina e da Praça Gabriel
No ponto central do lote em questão, faz-se
Martins.
um edifício vertical de 4 pavimentos, o qual atinge o olhar
O térreo do edifício ganha portas de correr
do observador que está na rua limítrofe sem atingir a
que o abrem por inteiro, permitindo uma visualização do
paisagem do entorno. Ele faz um contraponto entre os
todo e sua expansão para o miolo de quadra.
edifícios lindeiros que divergem em gabarito de altura, atenuando a drástica mudança existente. O novo edifício, denominado Edifício Boêmio, propõe a ideia de bares verticais, incitando o uso diurno e
268
noturno. Torna-se um ponto de apoio de entretenimento
No
miolo
de
quadra
são
implantados
mobiliários semelhantes do Calçadão afim de incitar a socialização.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
calçadão
suavizar a diferença de gabarito de altura
praça gabriel martins plinth
edifício boêmio
residência dos artistas
Figura 186 - Esquema Espaço Boêmio. FONTE: Autor, 2018.
269
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
edifício residencial
loja 01
plinth
loja 02
_térreo espaço compartilhadO
N
loja 03 loja 04
esc. 1:150 270
0
1
5
10
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
_1° pavimento
_2° pavimento
2 1
1 - bar tipo 1 2 - bar tipo 2 com terraço 0
1
5
10
N
esc. 1:150
271
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
plinth
corte dd’ esc. 1:150 272
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Figura 188 - Perspectiva espaço boêmio. FONTE: Autor, 2018.
273
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Para marcar os outros dois eixos radiais, utiliza-
4. praça gabriel martins
se dois tipos de pavimentação, o mosaico português branco e preto. Com isso, marca-se também o formato de
A Praça Gabriel Martins transformou-se num palco a céu aberto. Para concepção do desenho retoma-
Calçadão, complementando-o.
se a história, em que a linguagem urbana patte d’oie era
Bolsões de estar são criados em duas
aplicada nas praças pioneiras, possivelmente por conta do
extremidades da praça e, com isso, seu centro mantém-se
formato meia lua.
livre para atender a aglomeração de pessoas. Entende-se,
Dessa maneira, aplica-se tal linguagem, em que um dos eixos radicais converte-se no palco, símbolo
O
em
linguagem urbana.
de
proteção no verão, iluminação no inverno e proporciona
reflorestamento cumaru (resistente a intempéries), não se
diferentes texturas e cores na praça. Além disso, pode ser
instala apenas como mobiliário urbano. Flexível, permite
utilizada como suporte cênico do teatro na rua.
diferentes
palco,
portanto, projetar o vazio como algo intrínseco da
A vegetação perene e contemplativa garante a
e elemento principal da Praça.
manifestações
deck
madeira
desde
Assim como as luminárias, que ganham alturas
performances, palestras, apresentações, ou até mesmo
diferentes e estão implantadas possibilitando a inserção
atos políticos. Torna-se um símbolo de socialização.
de toldos e tendas, em que as mesmas podem ser
Emoldurado
utilizadas como pontos de apoio estrutural.
pelos
e
de
edifícios
celebrações,
verticais
elemento primordial da nova reformulação.
274
meia-lua da praça em meio ao piso estampado do
transforma-se
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Para finalizar a concepção da Praça,
signo
pioneiro
dos
antigos
mobiliários
do
retoma-se a ideia dos quiosques do projeto original
Calçadão.A cor vermelha associa-se a expressão “pé
do Calçadão de 1977. Eles eram pontos da vivência
vermelho”,
cotidiana
do
Utilizado como identificação visual em todo o
quiosque contemporâneo, concentra-se na criação
projeto, o vermelho ainda relembra a lama, comum
de um elemento híbrido, que tenha movimento e
na Avenida Paraná nas primeiras décadas do Centro
possa contribuir com o espaço público mesmo em
Principal.
da
população.
Para
concepção
patrimônio
imaterial
da
cidade.
horário não comercial. Com
isso,
desenvolve-se
quiosques
flexíveis, os quais abrem e fecham suas paredes. Para isso, estruturas efêmeras são desenvolvidas, como a vedação versátil dos painéis em madeira OSB cru, os quais incentivam a personalização do usuário, e a estrutura metálica. Leve, permite vãos mais livres no interior do quiosque. Para o desenvolvimento da estrutura e cobertura, faz-se uma alusão ao carroção polonês,
275
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
legenda Resedá-rosa Lagerstroemia indica Ipê branco Tabebuia roseoalba Grama esmeralda Zoysia japonica Mosaico português branco Mosaico português preto Mosaico portuguêsCalçadão Deck de madeira de reflorestamento cumaru autoclavado N
esc. 1:150
0
276
1
5
10
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
Luminárias de vapor de sódio
vegetação perene
bolsões de estar
palco mobiliário - deck em madeira de reflorestamento cumaru quiosques flexíveis
piso de mosaico português branco e preto
praça performática Figura - Esquema explodido da Praça Gabriel Martins. FONTE: Autor, 2018.
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TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
Figura - Perspectiva quiosque. FONTE: Autor, 2018.
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ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
aberto flexibilidade fechado
Figura - Esquema quiosque. FONTE: Autor, 2018.
279
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
perspectiva praça gabriel martins FONTE: Autor, 2018.
280
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
perspectiva praça gabriel martins FONTE: Autor, 2018.
281
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
As análises investigativas demonstraram o
ENCERRAMENTO
processo de imersão ao lugar e retomam a discussão e o diálogo sobre o Centro, espaço tão disputado. Demonstrou-se que os espaços públicos têm qualidades espaciais intrínsecas e que as transformações na configuração urbana geraram vazios estáticos nos miolos de quadra, os quais não enriquecem a experiência cotidiana.
7 O diálogo
Tendo em vista que cidade e sociedade se refletem, partiu-se da premissa da Arte como prática politica e da experiência da população no espaço para
O trabalho aqui exposto encerra-se com reflexões de novos olhares para os espaços públicos do Centro Principal de Londrina. Estamos num período de transitoriedade, transformações
portanto do
refletir
momento
e
torna-se
contribuição acadêmica desta pesquisa.
282
registrar a
as
principal
interpretação deste Centro. Enxerga-se a Arte sob o ponto de vista de uma ação pública no tempo e no espaço. Dessa maneira, as propostas expressas ao final de toda investigação ensaiam incrementar as atividades do centro e do seu cotidiano, por meio do estimulo à prática urbana.
ARTE E CIDADE - UMA REINTERPRETAÇãO DO CENTRO DE LONDRINA - PR
As estratégias urbanas empregaram-se como
Dessa maneira, é papel do arquiteto e
um manifesto: os edifícios desocupados e espaços
urbanista imergir no lugar antes de planejar. Cada visita à
residuais contribuindo para socialização no espaço
história, aos costumes e tradições transformam-se em
público. E este, é, portanto, o ator principal desta
diretrizes e direções preciosas para interpretar.
narrativa. Sem o espaço público a experiência urbana não
Por fim, projetar pensando no conteúdo popular, tornou-se antes de desafiador, satisfatório. Afinal,
é completa. O aprofundamento no primeiro eixo exposto mostrou que o Calçadão pode ganhar força de
quando se projeta para as minorias, projeta-se para todos!
socialização ao estar associado aos espaços públicos, aos plinths e praças. As estratégias de promover a permanência, a fluidez e caminhos alternativos são as marcas mais relevantes
dos
ensaios
projetuais
apresentados.
Associado a intenção de fomentar as manifestações públicas, entende-se o quanto pensar no conjunto faz diferença e pode ser um elemento precioso na produção espacial.
283
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇãO INTERDISCIPLINAR - ARQUITETURA E URBANISMO
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