VOLTA AO MUNDO
Nem só de música vive BRISTOL, cidade verde da Europa NO UGANDA COM O JORNALISTA PAULO SALVADOR
N .º 2 51 | SE T EM B RO 20 15 | M ENSA L | A N O 2 1
BRISTOL - UGANDA - ESPECIAL CUBA - CABO VERDE - ITÁLIA - BRASIL N.º 251 SETEMBRO 2015
CUBA LIBRE O que muda, o que fica, o que visitar em Cuba depois do fim do embargo
O Rio de Janeiro
CONTINUA LINDO. E ANGRA DOS REIS TAMBÉM
Ilha da Boavista PRAIA COM SABOR A LITERATURA
MENSAL, ANO 21, N.º 251, SETEMBRO2015 €4,90
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Porta de embarque
N.º 251 | SETEMBRO 2015 | MENSAL | ANO 21
Terminal especial de aeroporto a pensar nos animais. Página 20
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Boavista
ORLANDO ALMEIDA
Cabo Verde com inspiração literária de Germano Almeida.
14 28 52 72 88 94 98 Em Alta
Passeios em BTT na Europa, os novos locais Património da Humanidade e outras novidades.
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Ponto de Vista
O jornalista da TVI Paulo Salvador foi ao Uganda em busca de primatas. E conta-nos tudo.
Cuba
Uma viagem em tempo de mudança. Havana, o Hotel Nacional e tudo o que não pode perder na ilha.
Rio de Janeiro
Na Lapa e em Santa Teresa e ainda com tempo para uns mergulhos em Angra dos Reis.
Itália
Um pai e dois filhos percorreram Itália em automóvel. Roteiro para umas férias especiais em família.
Bristol
A cidade inglesa tem o carimbo verde da ecologia. E tem design e música a rodos. E Bansky também.
Viajantes
Carla Mota e Rui Pinto correm o mundo. Dois professores com muito para nos ensinar. 3
diário de bordo
Neste mês connosco
CUBA
Liberdade de movimentos A revolução cubana do século xxi está em curso. Não fique para trás.
Q
Redação
fotógrafo
lo que continua a valer a pena. Há praia, cultura, natureza e esperança. Nas ruas sente-se a crença na transição pacífica e na abertura da ilha aos yankees. Cuba está mais livre: há mais acesso a novas tecnologias, a produtos da moda ou a bens essenciais. Os EUA aceitaram a diferença dos seus vizinhos. Nenhum venceu o braço-de-ferro, nenhum perdeu. Ganhamos todos porque vamos poder ver como se comporta a ilha dos irmãos Castro sem um embargo de mais de meio século. Se, com a torneira norte-americana fechada, foi o que vimos – turismo, educação, cultura, saúde e desporto em alta –, com a transição a que se assiste há fé (o Papa Francisco visita a ilha neste mês de setembro...) em que a política, a liberdade de expressão e a economia possam seguir o mesmo curso. Para já, voltou a liberdade de movimentos. Mais um pequeno passo para o homem.
Faz parte da Global Imagens, coletivo que está em destaque nesta edição com três reportagens de alto nível. Orlando Almeida foi a Cabo Verde, Leonardo Negrão ao Brasil e Jorge Amaral percorreu Cuba para este especial de 20 páginas sobre a ilha das Caraíbas. Retratos, paisagens, momentos fugidios, Amaral não perde pitada.
Valentina Marcelino jornalista
JORGE AMARAL/GLOBAL IMAGENS
voltaaomundo@globalmediagroup.pt
uando viajamos não apetece ter barreiras. Faz parte da nossa essência. Era assim há cem mil anos quando começaram as migrações dos nossos antepassados. O homem saiu de África para todos os continentes. Primeiro a pé, depois por mar, hoje de todas as formas. É por isso que a limitação de movimentos é contranatura. Geopolítica à parte, o planeta é de todos e limitar a circulação dos seus habitantes é um contrassenso. Poderia isto vir a propósito dos migrantes ou dos muros (de Berlim e os atuais), mas não só. Em 1962, com as relações entre si completamente deterioradas, os EUA decretaram um embargo comercial e financeiro a Cuba. Durou até este ano, impedindo os cidadãos de cada um destes países de visitar o vizinho. Neste mês, voltamos a Cuba para mostrar o que está a mudar e aqui-
Jorge Amaral
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É um dos valores seguros do Diário de Notícias e mostra-nos toda a sua versatilidade com uma reportagem em que não falta a sensibilidade e o gosto pela literatura. Estreia-se nas páginas da Volta ao Mundo e acertou na mouche. Faz-nos viajar até à ilha da Boavista, ouvir as mornas, provar a cozinha cabo-verdiana, sentir o calor no corpo e ficar a sonhar com muito mais.
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JAPÃO
Sonhos a néon O BAIRRO DE DOTONBORI, JUNTO AO CANAL COM O MESMO NOME, É UM DOS LOCAIS MAIS VISITADOS DA CIDADE DE OSAKA. ANIMAÇÃO NOTURNA, RESTAURANTES E LOJAS NÃO FALTAM POR AQUI. FOTOGRAFIA DE THOMAS HAUPT/WESTEND61/CORBIS
AUSTRÁLIA
Património mundial
O PARQUE NACIONAL DE ULURU-KATA TJUTA FOI DISTINGUIDO PELA UNESCO. TEM MAIS DE 1300 QUILÓMETROS QUADRADOS DE ÁREA E LOCALIZA-SE NA ZONA NORTE DA AUSTRÁLIA. É LÁ QUE ENCONTRAMOS A AYERS ROCK. FOTOGRAFIA DE MARC DOZIER/CORBIS
MEGA PASSATEMPO
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LIGUE E GANHE FANTÁSTICAS VIAGENS A Volta ao Mundo celebra 20 anos e os leitores estão de parabéns. Ao longo do próximo ano, habilite-se a ganhar uma das inesquecíveis viagens que temos para si. Esteja atento às próximas edições e escolha onde serão as suas próximas férias de sonho. Ligue, ganhe e faça as malas. Boa sorte e boas viagens! 112
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Na cidade da Horta, Faial, o Hotel do Canal é a primeira escolha de quem quer conhecer esta ilha e as outras que compõem o Grupo Central do Arquipélago dos Açores. A Ilha do Faial é um ponto de passagem entre dois continentes, um destino de navegadores em busca de um porto seguro e o Hotel do Canal personifica esses princípios, sendo uma referência de conforto e tranquilidade no meio do Atlântico. Situado a poucos metros da Marina, do cais de passageiros da Horta e a apenas 10 minutos do aeroporto da Horta, o Hotel do Canal está situado numa zona central, que permite facilmente explorar a cidade, o Peter’s Café Sport, ou chegar à Praia de Porto Pim, conhecida pelas suas águas mornas e areal extenso.
LIGUE* DE 1 A 30 SETEMBRO PARA O NÚMERO: 760 308 309 COMO PARTICIPAR Ligue para o número de telefone indicado e saiba quantas chamadas faltam para ganhar. O custo por chamada é de 0,60€ + IVA. Este passatempo decorre até às 24h da data indicada, salvo atribuição do prémio antes da data final prevista. Valor do prémio aproximado. Imagens não vinculativas. Consulte regulamento em www.ligaeganha.pt. Contacto: info@ligaeganha.pt. Estes passatempos são da exclusiva responsabilidade do Liga e Ganha/Global Media Group. * Atribuído à chamada 1300. CONDIÇÕES Inclui 2 bilhetes de avião em classe turística para duas pessoas, acomodação em Hotel de 4 Estrelas, em quarto duplo com pequeno almoço durante 4 noites. O leitor vencedor e acompanhante deverão pagar diretamente à SATA o valor das respetivas taxas, que estão dependentes da data de partida. O prémio está dependente de disponibilidade do voo/hotel e deverá ser usufruído até 30 setembro de 2016, excluindo as datas de 15 dezembro 2015 a 10 janeiro de 2016, Carnaval 2016, Páscoa 2016 e de 15 julho 2016 a 15 setembro 2016. O prémio é pessoal e intransmissível.
Em Alta { Dubai pela mão do chef Pedro Barroso na página 22}
Um terminal de aeroporto para animais na página
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No meio da montanha, no País de Gales, há um parque de surf. Descubra os 24 novos locais distinguidos pela UNESCO como Património da Humanidade e hotéis recentes, percursos de bicicleta e uma entrevista com a embaixadora britânica em Portugal.
Titanic, o hotel Tem nome de acidente, mas a segurança está garantida. Numa das zonas mais turísticas da Turquia foi construído um hotel inspirado no filme que conquistou Hollywood e o mundo. Suba a bordo!
A
ntalya, na Turquia, acaba de inaugurar um hotel em forma de Titanic. A história é trágica, mas pouco mais de um século depois do mediático naufrágio já é possível criar um hotel inspirado neste navio transatlântico sem que os hóspedes tenham pesadelos. Localizado em Antalya, uma das mais famosas estâncias balneares da Turquia, o Titanic Beach Lara é na verdade um resort em regime tudo incluído com vista direta para o Mediterrâneo. São 550 quartos e uma decoração que mistura elementos modernos com pormenores da época, em grande parte inspirados no célebre filme de James Cameron. O ambiente vivido «a bordo» fica algures entre o do resort e de um navio de cruzeiro. Quem sabe se Leonardo di Caprio e Kate Winslet ficarão por ali alojados... titanic.com.tr
Há quartos duplos, com vista de jardim, a partir de 135 euros por noite. Têm 32 metros quadrados de área, televisão e internet.
O hotel fica a cerca de 12 quilómetros do aeroporto internacional de Antalya e a 17 do centro da cidade, na praia de Lara. 14
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Em Alta
Segurança reforçada e tranquilidade. É assim que a Autoridade do Turismo da Tailândia está a lidar com a situação decorrente do atentado em Banguecoque em meados de agosto. A Tailândia recebe anualmente cerca de 25 milhões de turistas.
Um terminal de luxo só para animais
UROŠ ŠVIGELJ
No aeroporto John F. Kennedy, em Nova Iorque, está a ser construído um terminal exclusivo para animais. Vai ser concluído em 2016 mas já dá que falar.
ar livre
Macedónia e Eslovénia
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em duas rodas
O BTT é muito mais do que um desporto ou um passatempo. É também uma excelente forma de viajar. Eis dois programas de eleição em território europeu.
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que é que sabe sobre a Macedónia? Por muito que se diga que já não há segredos para descobrir no Velho Continente, este país balcânico que faz fronteira com Kosovo, Sérvia, Bulgária, Grécia e Albânia é ainda relativamente desconhecido em termos turísticos. É verdade que não tem mar, mas possui uma história e paisagens muito ricas e diversificadas. Mais de 50 lagos, 16 montanhas com altitude superior a dois mil metros e milhares de quilómetros de estradas rurais são alguns dos seus encantos. É precisamente para desbravar estes terrenos que o operador Bike Tours criou um programa de nove dias. O nível de dificuldade é médio e estão também incluídas algumas caminhadas. Já a H+1 Adventures propõe uma viagem por um país que, tal como a Macedónia, também fez parte da Jugoslávia, mas está turisticamente mais desen16
volvido – em grande parte devido à sua localização, a dois passos da Europa Central, entre os Alpes Julianos e o mar Adriático. Trilhos que os participantes irão percorrer durante uma semana, num pacote que tem uma etapa muito especial: a possibilidade de pedalar em três países no mesmo dia, que é como quem diz tomar o pequeno-almoço na Eslovénia, almoçar na Áustria e lanchar em Itália.
+ ESLOVÉNIA Preço: 1320 euros por pessoa mountainbikeworldwide.com/bike-tours/slovenia
MACEDÓNIA Preço: 1278 euros por pessoa biketours.com/Macedonia/discover-macedonia
epois de o abate ilegal de alguns animais selvagens ter centrado as atenções, esta notícia deixou muita gente particularmente satisfeita. Cavalos, pássaros, cães, gatos e todos os animais que estiverem em trânsito no aeroporto JFK, em Nova Iorque, serão tratados como verdadeiros reis a partir de meados do próximo ano, altura em que está prevista a abertura deste novo terminal. É um espaço de 178 metros quadrados (que representa um investimento de cerca de 50 milhões de euros) que terá vários veterinários à disposição, piscina, suites privadas e climatizadas e serviço de massagens. Também haverá ginásio para cães e, imagine-se, televisão, para que não percam as suas séries favoritas enquanto estiverem em trânsito. VOLTA AO MUNDO
hotel
De Portugal para os Barbados Sandy Lane Resort, o local para onde foi trabalhar Vincent Farges, o até há bem pouco tempo responsável pelo restaurante da Fortaleza do Guincho.
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hegou, para já, ao fim, aventura lusitana de Vincent Farges, chef que esteve durante uma década à frente do restaurante da Fortaleza do Guincho, em Cascais espaço que há mais tempo ostenta uma estrela Michelin em Portugal. O francês quis abraçar um novo projeto, mais liberto de pressões, e dificilmente poderia ter encontrado melhor destino do que o Sandy Lane, nos Barbados. Um resort de luxo inaugurado em 1961 (sofreu uma reconstrução completa em 2011) e que ao longo da sua já longa história chegou a ser considerado como o melhor alojamento das Caraíbas. Os portugueses que por lá passarem terão assim uma ligação direta ao nosso país, até porque Vincent Farges já é também um pouco português. De tal forma que promete voltar um dia, a tempo inteiro, para abrir um restaurante seu. www.sandylane.com VOLTA AO MUNDO
Vincent Farges troca Cascais pelas Caraíbas e leva pratos portugueses na bagagem. Até já, chef!
A água do mar é mais quente, os dias de calor mais frequentes, o vento sopra menos do que no Guincho, mas a saudade fica. 17
Em Alta
Crise é oportunidade, mas não deixa de ser curioso que
14 aeroportos regionais da Grécia, por exemplo em Corfú, Mikonos ou Santorini, tenham passado a ser geridos pelo grupo alemão Fraport em troca de 1230 milhões de euros. 7
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herança
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Património da UNESCO
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continua a aumentar
São 24 e à espera de ser descobertos. Enquanto noutras paragens se destrói a herança da Humanidade, ainda há esperança para o património de todos nós. 23
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e é daqueles viajantes para quem a lista dos locais distinguidos como Património da Humanidade pela UNESCO é uma verdadeira instituição, tem a partir de agora 24 novos destinos para visitar. De igrejas sicilianas às encostas, caves e lojas de Champagne, passando pelas montanhas jamaicanas até cidades históricas iranianas, há monumentos e paisagens um pouco por todo
o mundo. E para todos os gostos. Além destas entradas, houve também três extensões de sítios já classificados, nomeadamente as áreas protegidas da região de Cape Floral, na África do Sul, o parque natural vietnamita de Phong Nha-Ke Bang e os Caminhos de Santiago, que têm mais quatro rotas com o selo de qualidade da UNESCO. São agora 1031 os locais classificados, distribuídos por 163 países.
Áreas históricas de Baekje, Coreia do Sul
Grande Montanha Burkhan Khaldun, Mongólia
Sítios da revolução industrial japonesa do período Meiji, Japão
Éfeso, Turquia
Susa, Irão
Aqueduto do Padre Tembleque, México
Climats de Borgonha, França
Speicherstadt, Kontorha Hamburgo, Alemanha
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Faça já as malas
A empresa Very First To (veryfirstto.com) tem um pacote para conhecer todos os locais Património da Humanidade. Basta ter dois anos para viajar e cerca de um milhão e meio de euros no bolso. Faça-se à estrada para os descobrir.
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Climats de Borgonha, França Encostas, caves e lojas de Champagne, França 3 Ponte de Forth, Escócia, Reino Unido 4 Speicherstadt, Kontorhausviertel e Chilehaus, Hamburgo, Alemanha 5 Christiansfeld, colónia da igreja moraviana, Dinamarca 6 Paisagem de caça par force no Norte da Zelândia, Dinamarca 7 Complexo Industrial de Rjukan-Notodden, região de Telemark, Noruega 8 Palermo árabe-normanda e as Catedrais de Cefalù e Monreale, Sicília, Itália 9 Éfeso, Turquia 10 Paisagem cultural das muralhas de Diarbaquir e dos jardins de Hevsel, Turquia 11 Necrópole de Bet She’arim, Israel 2
rquia
stadt, Kontorhausviertel e Chilehaus, go, Alemanha
SAMBA OU SAVANA?
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Betânia do Além-Jordão, Jordânia 13 Arte rupestre na região de Ha’il, Arábia Saudita 14 Susa, Irão 15 Paisagem cultural de Maymand, Irão 16 Grande Montanha Burkhan Khaldun, Mongólia 17 Sítios Tusi, China 18 Jardim Botânico de Singapura, Singapura 19 Sítios da revolução industrial japonesa do período Meiji, Japão 20 Áreas históricas de Baekje, Coreia do Sul 21 Missões de San Antonio no Texas, Estados Unidos 22 Aqueduto do Padre Tembleque, México 23 Paisagem cultural e industrial de Fray Bentos, Uruguai 24 Montanhas Blue e John Crow, Jamaica
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Montanhas Blue e John Crow, Jamaica
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Ponte de Forth, Escócia, Reino Unido
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Jon Krakauer não tem dúvidas: «Subir ao Evereste foi o maior erro da minha vida.» O autor de afirmou ao Huff Post que a escalada de 1996 (resultou na morte de quatro membros da sua expedição) deixou marcas de stress pós-traumático que nunca irá esquecer.
Em Alta
Into Thin Air - No Ar Rarefeito
desporto
Surfar
em plena montanha Tem o tamanho de seis campos de futebol e é o maior parque artificial de surf do mundo. Fica no meio da montanha, no País de Gales.
J
á se sabe que há vários locais longe do oceano onde é possível surfar – o rio Eisbach, em plena cidade de Munique, ou mesmo o rio Tejo, nas ondas dos catamarãs, são apenas dois dos exemplos – mas os galeses decidiram ir mais longe e criaram um parque de surf em plena montanha: Surf Snowdonia. Fica precisamente nas montanhas de Snowdonia, uma área protegida no Norte do país. O parque é, na verdade, um grande lago artificial do tamanho de seis campos de futebol e que já foi considerado como o maior do mundo. As ondas, essas, não
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são gigantes, mas ainda assim podem chegar aos dois metros de altura. Aberto a praticantes de todas as idades e especialmente vocacionado para famílias, disponibiliza material para aluguer e aulas para os mais inexperientes. Para que todos possam desfrutar da região sem pressas, têm também café, restaurante e uma espécie de parque glamping à disposição, com capacidade para alojar até 144 pessoas. Cabanas ecológicas com capacidade para três pessoas e que podem ser alugadas por cem euros por noite. www.surfsnowdonia.co.uk
A lição de surf para principiantes fica por 27 euros. Mais 14 para praticantes médios e de nível avançado.
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hotel Valletta também tem charme A capital de Malta tem um novo hotel boutique. Porque nem tudo na ilha é turismo de massa. E ainda bem. Malta costuma aparecer como uma das opções mais em conta quando se procuram viagens e pacotes em regime tudo incluí do, mas esta pequena ilha do Mediterrâneo é muito mais do que isso. O novo Ursulino Valletta está aí para prová-lo. Um pequeno hotel de charme situado no coração da cidade, com apenas seis quartos, uma decoração moderna e uma vista privilegiada para o porto. No terraço, no quinto piso, a vista é mesmo de 360 graus. Esta antiga casa de família mantém a traça original e tem essência e espírito italianos. Todas as tardes é oferecido um aperitivo e uma seleção de queijos. Afinal, Itália fica mesmo ali ao lado. ursulinovalletta.com
ESTE B&B TEM UM TERRAÇO COM UMA VISTA ÚNICA SOBRE VALLETTA
ESCOLHAS
Em Alta cicerone
1. Armani Hotel
5. Cavalli Club
«Pela sua localização, na torre mais alta do mundo. A marca à qual está asso‑ ciado, claro que ajuda, mas o edifício em si é tanto de espetacular como de alto. É o primeiro sítio onde se deve ir no Dubai.»
«Uma das minhas discotecas preferidas, local interessante só com gente gira, zonas de mesas mais descontraí‑ das e pistas de dança. A decoração é diferente do que se vê em Portugal.» dubai.cavalliclub.com
2. Zuma
«Se pudesse escolher só um restau‑ rante, seria este japonês. Tem visual contemporâneo e elegante, a comida é muito boa, digna de pelo menos uma estrela Michelin. Existe também em Londres e noutras cidades.»
Dubai DE PEDRO BARROSO
zumarestaurant.com
3. Barasti Bar
«É um beach club onde toda a gente se encontra nas folgas para conversar. Excelente escolha para relaxar e beber um copo durante o dia. E com a praia ao lado. Gosto de lá ir.» barastibeach.com
4. Dubai Creek
«Um sítio ideal para passear este calçadão ao lado do rio Creek, que divide a cidade ao meio. Antigamente era a zona portuária onde chegavam os barcos com mercadorias para distribuir para o Dubai.»
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NATALI AREFIEVA
dubai.armanihotels.com
6. JBR Beach
«Junto ao Jumeira Beach Resort está a praia JBR, que é pública. É capaz de ser o sítio onde se vê mais turistas na praia e também um local de encontro para muitas pessoas que cá vivem. E é uma zona onde se pode andar, tem um calçadão.»
E
ra o rapaz traquina que não largava a bola em criança, em Carvide, arredores de Leiria, e cujo comportamento levava o pai a ser chamado uma vez por mês à escola. Na gastronomia, viu a receita para se endireitar. Começou a cozinhar aos 10 anos em casa, por obrigação, para o pai e para o irmão, uma vez que a mãe estava fora durante o dia a trabalhar. Nunca mais parou. Aos 34 anos, é o sous chef executivo dos cinco restaurantes do Hotel Armani, situado na torre mais alta do mundo, Burj Khalifa, no Dubai, para onde se mudou há cinco anos. Pelo caminho trabalhou no Hotel Penha Longa, em Sintra, e em restaurantes nos EUA, França, Espanha e Turquia. Com 16 anos de carreira, cozinhou para Cristiano Ronaldo, Will Smith, Janet Jackson e Georgio Armani na maior cidade dos Emirados Árabes Unidos, onde gosta de viver e onde conheceu a namorada, a ucraniana Olya. Passa os tempos livres entre a praia e a piscina de casa, apesar das 13 horas diárias de trabalho. E também gosta de fumar uma shisha entre amigos à noite. As saudades dos pais e do irmão são atenuadas pelo Skype e pelos pastéis de nata que lhe enviam por avião. Texto de Nuno Cardoso
7. Burj Al Arab
«A Torre das Arábias simboliza o Dubai. Dizem ser o hotel sete estrelas, apesar de isso não existir oficialmente. É um sítio emblemático onde toda a gente vai, pelo menos uma vez.» jumeirah.com
8. Mercados
«Os souks são sítios onde toda a gente vai, estão todos juntos na mesma zona. Existe o mercado das especiarias, o do ouro e o dos tecidos. Gosto daquele cenário das ruas muito estreias, onde se está sempre a regatear preços.»
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Mala Diplomática TESOUROS DOS PAÍSES VISTOS PELOS EMBAIXADORES POR LEONÍDIO PAULO FERREIRA
Kirsty Hayes
«GIN, UMA BEBIDA REFRESCANTE PARA CLIMAS TROPICAIS»
Reino Unido
«TEMOS MUITO ORGULHO DA NOSSA TRADIÇÃO. E ISSO TEM QUE VER TAMBÉM COM OS NOSSOS PRODUTOS, SEJA O GIN, O ASTON MARTIN OU O JAMES BOND.»
PAULO SPRANGER/GLOBAL IMAGENS
N
a sala da residência lisboeta da embaixadora britânica, perto de Belém, destaca-se a pintura de uma infanta portuguesa. É a formosa Catarina de Bragança, por casamento com Carlos II rainha de Inglaterra e ainda hoje recordada por ter introduzido o hábito do chá nas Ilhas Britânicas em meados do século xvii. Mas é de outra bebida também muito apreciada no Reino Unido - e cada vez mais popular por cá - que fala Kirsty Hayes. «Gosto muito de gin. Aprecio em especial o Tanqueray, apesar de o Gordon’s ser mais famoso. Mas confesso que não sou uma grande consumidora. Para se apreciar bem não se deve beber todos os dias», diz a embaixadora, de 38 anos, desde o verão do ano passado colocada em Lisboa. Casada com outro diplomata de carreira, de quem tem dois filhos, Kirsty Hayes chegou a viver no Sri Lanka. O antigo Ceilão era um daqueles territórios onde nos tempos coloniais o gin fazia figura de rei, pois tomado com água tónica, com a dose certa de quinino, tinha o combate à malária como álibi para ser consumido a qualquer hora, explica sorridente a embaixadora britânica, sem confirmar se a tradição se mantém entre os europeus que passam uma temporada na Ásia do Sul. Embora quente, Portugal não ostenta um clima tropical, mas nem por isso o gin tem deixado de ganhar adeptos no país. «Há bons bares para se beber um gin em Lisboa. E os portugueses adoram os cocktails», comenta Kirsty Hayes.
Para promover o consumo desta bebida tipicamente britânica e, claro, das marcas produzidas no Reino Unido, a embaixada até se associou a uma campanha dos armazéns El Corte Inglés que ensina a tirar o máximo proveito daquilo que a diplomata descreve como a «grande versatilidade do gin». Sobre se Isabel II, que também tem direito a quadro na residência, é apreciadora de gin, a diplomata diz não ter conhecimento, mas relembra que a rainha mãe (a viúva de Jorge VI) era famosa pelo seu gosto por esta bebida forte que no processo de destilação é enriquecida com zimbro. E viveu mais de 100 anos, como gostam de lembrar os amantes do gin. «Temos muito orgulho da nossa tradição. E isso tem que ver também com os nossos produtos, seja o gin, o Aston Martin ou o James Bond», salienta a diplomata. E não por acaso os filmes do famoso agente 007 ajudam a divulgar este glamour britânico, pois Bond tanto surge a beber um cocktail Vesper Martini como a conduzir um dos bólides da marca emblemática nascida em vésperas da Primeira Guerra Mundial. «Os filmes de James Bond procuram sempre promover o que é britânico. Adele interpretou o tema de Skyfall», nota ainda Kirsty Hayes. Bond também é fã de whisky, outra bebida bem britânica, ainda que muito associada à Escócia, de onde é originária a diplomata. Já o chá nada diz ao agente secreto. Que diria Catarina de Bragança?
Kirsty Hayes nasceu em 1977 em Aberdeen. Antes de ser embaixadora britânica em Lisboa, foi diplomata em Hong Kong e em Washington
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HÁ COISAS QUE NÃO VÃO MUDAR.
A TUA MÃE VAI CONTINUAR A DIZER PARA LEVARES O CASAQUINHO.
A criar excêntricos de um dia para o outro
Passageiro Frequente
Uma crónica de
José Luís Peixoto
O ANIVERSÁRIO DE BJÖRN
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openhaga deve ser uma cidade lindíssima. Ouvi dizer, nunca lá estive. De Copenhaga, conheci o aeroporto e o comboio rápido até Malmö, no Sul da Suécia. Cheguei à tarde e atribuí o pouco movimento à tranquilidade que existe, mundialmente, nas quintas-feiras. Mas, depois de um jantar de salmão e de uma noite de sono, chegou a sexta-feira. Na paisagem da janela do hotel, havia longos passeios de bicicleta à beira do mar Báltico, gelado, a queimar a pele do rosto. Havia também repartições públicas que funcionavam, ruas limpas e pessoas à procura de um sorriso. Sábado. Almocei salmão. Estava a aproximar-se a hora do debate em que ia participar na Biblioteca Municipal de Malmö. Cheguei antes da hora. Também a biblioteca era Suécia: um edifício incrível, mistura de antigo bem preservado e de moderno com bom gosto. Milhares de livros em sueco, cestas de maçãs vermelhas disponíveis para quem quisesse. O debate começou. Eu e a tradutora dos livros do Lobo Antunes falámos baixinho sobre literatura portuguesa contemporânea. O público era composto quase exclusivamente por maiores de 70, que, no final, vieram falar connosco. Havia, no entanto, uma exceção. Sentada na última fila estava uma rapariga de cabelos vermelhos. Comecei a chamá-la por telepatia. Funcionou. Esperou pelo momento certo e aproximou-se. Conversámos. Contou-me que trabalhava no Ikea (juro) e explicou-me que Malmö é uma cidade bastante pacata, onde o tempo passa devagar. Veio jantar connosco. Nessa refeição (salmão), fiquei a saber que o bibliotecário fazia windsurf no Báltico e que já tinha
ouvido falar do Guincho. Depois da sobremesa, era sábado à noite. A rapariga de cabelos vermelhos disse que não havia grandes opções e perguntou-me se queria ir com ela à festa de aniversário de um amigo. Claro que queria. No táxi, houve aquele momento tradicional em que ela falou em sueco com o taxista e eu vi a paisagem: prédios. A campainha, o elevador e chegámos à porta. Deixámos os sapatos num enorme monte de calçado. Felizmente, tinha trocado de meias. Ajudei-a a descalçar as botas. A rapariga de cabelos vermelhos apresentou-me a duas ou três pessoas. Sim, sou de Portugal, etc. Cada uma delas contou-me as suas relações, por mais ínfimas, com Portugal e, quando essa conversa se esgotou, convidaram-me para beber qualquer coisa. Na cozinha, abri o frigorífico cheio e percebi que havia um frasco onde se colocava o dinheiro de cada bebida consumida e, sendo caso disso, de onde se retirava o troco. Olhei para trás e, nas nossas costas, estava uma fila de rapazes e raparigas à espera para se servirem, cada um com a respetiva nota na mão. Antes da meia-noite, cantaram-se os Parabéns ao aniversariante (Björn). O bolo era grátis. Comemos. Passavam uns 15 minutos da meia-noite e já quase toda a gente tinha saído. A rapariga de cabelos vermelhos estava na varanda a ter uma conversa séria com uma amiga. Não as quis perturbar. Tinha o nome do hotel escrito num papel e aproveitei um táxi que ia para os meus lados. Partilhei-o com dois rapazes que não abriram a boca durante todo o caminho. À chegada, com a calculadora do telemóvel, dividimos um número qualquer por três.
A campainha, o elevador e chegámos à porta. Deixámos os sapatos num enorme monte de calçado. Felizmente, tinha trocado de meias. Ajudei-a a descalçar as botas.
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ESTE VERÃO, VOCÊ VAI DE FÉRIAS MAS O MUNDO NÃO. SAIBA O QUE ACONTECE NO PAÍS E NO MUNDO COM O DN.
Há coisa melhor do que aproveitar o Verão para ler? Na praia, numa esplanada, na piscina é sempre bom abrir um jornal para, calmamente, ver o que está a acontecer no mundo, ler artigos de opinião, reportagens, entrevistas. Tudo isto você encontra no Diário de Notícias. Trata-se de um jornal renovado, com um painel de líderes de opinião de primeira e textos que vão fazer diferença nas suas conversas. Um jornal bom para esta estação e para o ano inteiro. Mudámos para continuar a fazer o mesmo que há 150 anos: ser o diário de notícias de todos os portugueses.
Já leu o seu Diário de Notícias hoje?
Ponto de vista
Uganda GORILAS E BRUMA
O jornalista Paulo Salvador trouxe-nos palavras e fotografias para contar uma viagem especial. Viajou até África em busca de gorilas e chimpanzés. Encontrou os primatas e carregou na bagagem histórias para contar. De gente, de animais e de sobrevivência.
U
m riacho de águas frescas e cristalinas desce a montanha. Serpenteia por entre o verde rasteiro de musgos e fetos, as folhas das bananeiras, a verticalidade das árvores de teca, a elegância das acácias e as longas lianas que pendem sobre o solo. Um cenário idílico, pintado com todas as tonalidades de verde conhecidas pelo olho humano. Um grupo de crianças brinca numa das margens. Galgam as águas, ao meu encontro, num equilíbrio instável sobre pedras que se esticam à superfície. Trazem na mão pequenas folhas, gastas e sujas. São desenhos com cores desbotadas. Exibem-nas com orgulho na esperança de um interesse estrangeiro. Rasgam-me sorrisos de um branco absoluto, e olhares tão luminosos quanto os reflexos do sol na corrente. Mostram-me as obras. São desenhos do animal que ali atrai milhares de pessoas, vindas de todo o mundo. Representações das criaturas das montanhas, os gorilas da Floresta Impenetrável de Bwindi. Uma das muitas surpresas do Uganda. Um país de sorrisos, simpatia e uma autenticidade rara. Trinta e seis anos após o fim do regime de terror do general Idi Amin Dada, o Uganda de hoje é um país em acelerado crescimento populacional e apostado em entrar no circuito mundial do turismo de vida selvagem. Numa era em que a defesa da vida
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animal se tornou uma questão não só política como também económica, a possibilidade de oferecer ao turismo uma das espécies mais ameaçadas do planeta é uma vantagem que nenhum país deve menosprezar, sobretudo se esse país tem metade de toda a população de gorilas do mundo. Quando se aterra em Entebbe, aeroporto que serve a capital do país, Kampala, sente-se de imediato algo que se vai tornando cada
A floresta de Kibale tem a maior concentração de primatas da África Oriental. Ali vivem 13 tipos de primatas e uma comunidade de perto de 1500 chimpanzés. vez mais raro, e por isso precioso, para quem viaja: a sensação de segurança. Seja nas ruas das cidades, nos parques, ou nas aldeias por onde se passa a caminho das zonas turísticas, sentimo-nos seguros. Fechar o carro deixa de ser uma preocupação. Este é um valor essencial para qualquer turista. Uma outra caraterística surpreendente, num continente que vive grandes dificuldades de infraestruturas básicas, é a higiene. Até nos locais mais remotos a limpeza é um valor constante e que impressiona qualquer
viajante atento. Sobretudo comparando com outros países africanos e até alguns europeus. Hoje, o Uganda promove a sua imagem sustentada na enorme biodiversidade. O turismo representa 10 por cento do produto interno bruto. É a principal fonte de exportação de divisas. A estratégia passa por apresentar preços 30 por cento abaixo dos valores de referência. A Lonely Planet em 2011, e a National Geographic Traveler em 2012, atribuíram distinções de qualidade ao Uganda enquanto destino turístico. Um estudo de 2013, sobre as motivações e os gastos dos turistas no país, atesta que cada dólar gasto pelos visitantes gera ganhos de 2,5 dólares para a riqueza da nação. Neste Centro de África, há muito de tudo. Muitos animais, muito verde, muitas crianças e uma das maiores taxas de fertilidade do mundo (6,7%). O Uganda tem 35 milhões de habitantes. O dobro do que tinha em 1990. É uma das populações mais jovens do planeta (48,7% têm menos de 15 anos). O crescimento económico tem rondado 5 por cento ao ano. Toda a estratégia nacional está orientada para atrair mais turismo. As mais de mil espécies, algumas delas autóctones, fazem do país simbolizado pelo grou-coroado-austral o mais importante ponto de observação de aves de toda a África. As montanhas Rwenzory, as míticas montanhas da Lua descritas por Ptolomeu há mais de 2200 anos, foram declaradas património da Humanidade pela UNESCO VOLTA AO MUNDO
As planícies de Kasenyi vistas do balão de ar quente. Uma viagem inesquecível onde se pode ver a península Mweya e o lago George. Ao fundo, a cordilheira das montanhas Rwenzori.
Os meninos de Bwindi orgulhosos dos desenhos dos gorilas-da-montanha.
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O Parque Nacional Queen Elizabeth tem todos os big five (leões, leopardos, rinocerontes, búfalos e elefantes)
Em cima, à esquerda, preparativos para o voo de balão sobre as planícies. O preço médio é de 350 dólares por pessoa (cerca de 312 euros).
Ponto de vista
em 1994 e atraem caminhantes e montanhistas, ansiosos por escalarem um dos picos mais altos de todo o continente, com 5109 metros. De norte a sul, há trinta parques florestais, dez nacionais, sete reservas e investimentos em produtos de qualidade. O maior parque nacional é o das Cataratas de Murchinson, no Noroeste. Imponente e luxuriante. Centenas de hipopótamos, crocodilos, antílopes e elefantes vagueiam junto ao delta do rio Nilo. A norte, junto ao Sudão, o vale de Kidepo e as savanas com leões, chitas, elefantes e leopardos. A sul, integrado no Parque Nacional Queen Elizabeth, é possível fazer um safari de barco nas tranquilas águas do canal Kazinga, que une os lagos Edward e George. Ainda no perímetro do parque, na zona de Ishasha, os famosos leões-das-árvores. Devido à altura da vegetação, os felinos adaptaram-se ao habitat trepando às arvores, para melhor verem as presas. Um pouco mais a noroeste, junto às imponentes montanhas Rwenzori, a floresta de Kibale, com a maior diversidade e concentração de primatas da África Oriental. Ali vivem mais de 350 espécies de aves e 13 tipos de primatas, em que se inclui uma grande comunidade de chimpanzés. São perto de 1500 indivíduos. Espalham-se por uma floresta tropical de cortar a respiração. Para os ver, as caminhadas duram em média duas horas, mas por vezes, como foi o meu caso, demorou seis penosas horas, num ambiente de grande desgaste físico, apenas compensado pelos momentos em que estamos junto dos nossos ascendentes. Tal como com os gorilas, estar junto a uma família de chimpanzés remete-nos invariavelmente para reflexões sobre a nossa origem. O que de nós há naqueles olhos, naqueles gestos, naquela selvagem familiaridade. Mas o que realmente mais distingue o Uganda e o projeta no mundo são os gorilas-da-montanha. Aqui vive quase metade de toda a população mundial, 408 animais. Os restantes dividem-se entre o Ruanda, com mais de 450, e uma população residual na República Democrática do Congo. Uma riqueza nacional que está a ser explorada e protegida pelo próprio fluxo turístico. VOLTA AO MUNDO
Gerir todo este potencial tem sido uma tarefa não isenta de dificuldades para a Autoridade Nacional de Vida Selvagem do Uganda (UWA). O tracking dos gorilas é a principal fonte de receitas do turismo ugandês. Bwindi é por isso uma história de sucesso. É um dos parques nacionais mais protegidos, onde a caça furtiva tem vindo a diminuir à medida que as populações sentem as vantagens de receber turistas. Um gorila vivo gera mais dinheiro para o país, e para as comunidades, do que os troféus de outros tempos. A estimativa é a de que, por cada um destes primatas de pelo negro e olhar
O Mihingo Lodge, no Parque Nacional do Lago Mburo, é um local único, construído por um casal europeu que se apaixonou pelo Uganda. âmbar, o país ganha um milhão de euros de receita anual. Na pequena aldeia junto a uma das entradas para a floresta tropical a noite cai, fresca - estamos a 1500 metros de altitude. A Lua mostra-se tarde, atrás da encosta íngreme que se ergue à minha frente. Adormeço a pensar no dia seguinte, na ida aos gorilas. Manhã cedo somos transportados do lodge para o centro de acolhimento do Parque Nacional de Bwindi, na chamada Floresta Impenetrável. Os caminhantes são divididos em grupos com o máximo de oito pessoas. Cada turista paga 650 dólares (cerca de 585 euros) para ir ao encontro dos gorilas e com eles estar não mais do que uma hora. A distribuição tem em conta a aparente condição física dos participantes. Estas caminhadas são muito exigentes. Podem ultrapassar as oito horas de marcha, numa densa floresta de montanha, húmida, íngreme e lamacenta. São 08h30. Uns equipados até aos dentes, outros imprudentemente descuidados. Juntamo-nos à volta da guia que nos foi
atribuída. Sinto que alguns dos meus companheiros de aventura não estão verdadeiramente preparados ou conscientes do que é caminhar neste tipo de vegetação tropical. Todas as madrugadas, um grupo de batedores da UWA (Uganda Wildlife Authority) parte para a montanha, para os locais onde no dia anterior estavam as famílias de gorilas. Estes primatas são muito territoriais e movimentam-se num raio de três quilómetros ao redor do local de alimentação. Ainda assim, a cada dia é preciso verificar onde se encontram. Em Bwindi existem 35 famílias, das quais apenas 14 estão acostumadas à presença humana, são chamados os «habituados», sem que isso lhes retire o seu caráter totalmente selvagem. Apenas quer dizer que normalmente não são agressivos, pois ao longo de anos têm sido confrontados com a presença de guias e guardas. Os restantes gorilas, isolados, vivem em zonas muito remotas e quase inacessíveis. Apenas os cientistas podem visitá-los. A nossa guia fala de forma pausada e sempre com um sorriso. Chama-se Ny Niyibizi Goreth, é uma jovem ugandesa. Trabalha no parque há seis anos e confessa nunca ter visto um português, muito menos jornalista. Sinto-me privilegiado. Aspeto cuidado, farda militar e um cuidado penteado de tranças finas, com terminações douradas, dão-lhe um ar inesperadamente afro chic. Exibe um poster com fotos e nomes de todos os gorilas da família que vamos procurar. É a família Rushegura, composta por 13 indivíduos. Goreth explica-nos as regras de conduta na selva e a distância a manter dos gorilas: sete metros. Um princípio ao qual só o primata pode desobedecer e, nesse caso, os humanos ou ficam quietos ou se desviam. Sobretudo nada de correrias. Até porque é quase impossível dada a densidade da vegetação. Feitas todas as recomendações, partimos para a dita floresta impenetrável. Para ajudar a carregar sacos, mochilas e comidas, os visitantes podem contratar carregadores, por 15 dólares (aproximadamente 13,5 euros). Dinheiro muito bem aplicado se por acaso a 31
Ponto de vista
caminhada se prolongar ao longo de horas. Ao grupo juntam-se também um batedor, que abre caminho com uma espécie de foice para cortar mato, e um guarda armado. Um elemento dissuasor para um eventual encontro com os búfalos e elefantes que partilham a montanha com os gorilas. Sendo animais potencialmente perigosos, só um disparo para o ar poderá evitar situações bastante perigosas. Claro que também acalma os nervos aos visitantes menos confortáveis com a ideia de estar num meio inóspito como este, no meio de animais selvagens. Partimos em caravana, coração ao saltos, quais exploradores em busca do grande King Kong. Luvas para nos podermos agarrar a qualquer superfície sem recear insetos ou espinhos, meias subidas para desencorajar as formigas-safari e botas para ultrapassar lamas, pedras e galhos. Uma parede verde ergue-se à nossa frente. Um muro de lianas, raízes, espinheiras, fetos, líquenes e musgos. De quando em vez uma árvore, escondida por entre folhas gigantes e troncos esguios e escorregadios. Avançamos a passo, lentamente, ao ritmo dos cortes que rasgam o emaranhado que nos cerca. Seguimos as palavras e os passos de Niyibizi, a guia do cabelo de pontas douradas. Walkie talkie em punho, ela vai recebendo constantes dicas de batedores e de outros guias que se possam cruzar com a «nossa» família Rushegura. Foi a primatologista norte-americana Dian Fossey quem nos ensinou a olhar para os gorilas e que alertou o mundo para a necessidade da proteção destes primatas. Se nos anos 1960 e 70 os gorilas estavam amea çados de extinção, hoje estão quase a atingir o ponto de sobrevivência sustentada. Nestas montanhas a população não para de crescer.
Estava eu embrenhado nestes pensamentos, quando o líder da caravana para de cortar mato. Começa a falar com a guia. Percebo que algo está a acontecer. Goreth faz-me sinal para avançar, aponta para o verde: «Estão ali!» Surgidos do nada, ali estavam, a poucos metros, sem qualquer sinal de incómodo pela invasão humana. Na floresta, os gorilas são sombras. Um olho menos treinado não os vê de imediato. São negros como as sombras. São parte do verde que os esconde. No solo, por entre ramagens e folhas, um macho adulto trinca delicadamente peque-
Durante meia hora, a fêmea da família Rushegura sentou-se junto a uma tenda, o que nos deixou prisioneiros da sua paz e tranquilidade. nos caules, cujo interior esconde uma deliciosa seiva doce. Olha para o pisteiro. Este emite um som parecido com um ronronar, que presumo seja uma sinal tranquilizador e de reconhecimento entre espécies. No cimo de uma árvore que ameaça cair, dez metros acima do solo, um gorila jovem tenta fazer uma cama para se deitar. Ouve-se apenas os galhos, que se partem às mãos poderosas e negras, o suave rasgar das folhas, o mastigar dos rebentos. Olhos esbugalhados, coração acelerado, inebriados pela paz que nos rodeia e pelo equilíbrio entre homens e gorilas, ali ficamos, em silêncio. O tempo parece que congela. Subitamente, emerge do verde o
patriarca da família, o macho dominante. Um exemplar impressionante, de costas largas e dorso prateado. Caminha tranquilamente, como se ali não houvesse ninguém. Não se desvia. À passagem roça na perna de um dos meus companheiros de viagem. Surpreendentemente, nenhum destes animais mostra qualquer stress com a nossa presença. Agem com uma tranquilidade desarmante. Apenas quando os pisteiros cortam mato demasiado próximo, eles fazem sentir a sua autoridade. Ensaiam uma carga, emitem um pequeno rugido – que nos assusta – e tudo volta ao lugar. Seguimos caminho, para tentar descobrir o resto da família Rushegura, que é conhecida por se aventurar para locais muito próximos da ocupação humana. Dez minutos mais tarde, novo sinal da Goreth. Desta vez damos de caras com um gorila que se diverte junto de uma tenda do lodge de montanha. Os ocupantes estão no exterior, junto a uma mesa, imóveis. Desfrutam da cena inesperada. O gorila está a três metros. Talvez tenha sentido o cheiro de comida. Só nós nos mexemos, para ver melhor a cena. Vêm-me à memória as imagens de Dian Fossey e dos seus gorilas na bruma. Durante quase meia hora, o bom gigante parece exibir os seus dotes dramáticos para as nossas câmaras. Deita-se de barriga para o ar, roça-se no tecido da tenda, lança breves olhares para a assistência, fecha os olhos, cruza os braços com ar melancólico. O olhar é perturbadoramente familiar. O tempo, que pensávamos parado, voa num piscar de olhos. A hora a que temos direito acaba. É tempo de regressar ao campo-base. Antes desta viagem, interrogava-me o que sentiria quando estivesse junto destes
ÁFRICA DELE Paulo Salvador nasceu no Lubango, Angola, em 1965. Passou grande parte da infância em Luanda (chegou a Portugal em setembro de 1975) e África continua a correr-lhe nas veias. É um dos rostos mais conhecidos do jornalismo televisivo português.
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Começou a trabalhar na RTP e está de pedra e cal na TVI desde 1994. Faz parte da Direção de Informação da estação de Queluz, do Observatório de Imprensa e é um apreciador da boa comida. Sobre essa matéria são conhecidas as suas reportagens feitas
bem perto dos principais chefs que trabalham em Portugal. É autor dos livros Recordar Angola (quatro volumes), em que faz uma viagem às memórias pessoais e coletivas de um povo com fortes ligações ao continente africano.
Neste trabalho que agora é publicado na Volta ao Mundo, Paulo Salvador mostra-nos também o seu olhar fotográfico num dos cenários mais impressionantes e exigentes do planeta. Ficamos à espera do próximo destino deste viajante.
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animais imponentes, com a força de dez homens, que alimentam fantasias e mitos. Depois desta aventura, sei que os milhares de anos de evolução que nos separam são também os que nos unem. Por isso deixam este desejo. Este querer voltar. Esta urgência de um novo, tranquilo e inesquecível encontro com os gentis gigantes. Goreth despede-se com mais um sorriso, e um recado: «Vão, regressem aos vossos países, mas mostrem e falem do que aqui viram, é importante para nós, e para eles», aponta para a floresta. Junto ao riacho, os meninos do rio ainda correm e brincam com as folhas que guardam os seus gorilas rabiscados. Mas num piscar de olhos também eles desaparecem na luxúria verdejante das encostas impenetráveis da floresta de Bwindi.
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Macho adulto delicia-se com a seiva das plantas da Floresta Impenetrável. Estava a pouco mais de três metros da objetiva.
Niyibizi Goreth, a guia das tranças douradas, faz a apresentação da família de gorilas a localizar, os Rushegura.
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Guia
Ponto de vista
Uganda RECORTE E LEVE NA SUA VIAGEM
DOCUMENTOS: PASSAPORTE VÁLIDO E VISTO À CHEGADA FUSO HORÁRIO: GMT -2H IDIOMA: INGLÊS E SUAÍLI CÂMBIO: 1 EURO EQUIVALE A 2 XELINS DO UGANDA (UGX) QUANDO IR: DUAS ESTAÇÕES: A SECA (DEZEMBRO A MARÇO E JUNHO A SETEMBRO) E A CHUVOSA, EM ABRIL E MAIO E OUTUBRO E NOVEMBRO. JULHO E AGOSTO SÃO OS MESES DE MAIOR AFLUÊNCIA DE TURISTAS. TEMPERATURA ENTRE 23ºC E 27ªC, EXCETO NAS MONTANHAS, ONDE SE SENTE MAIS FRIO.
IR A KLM (klm.com) voa diariamente para Entebbe via Amesterdão, Holanda. Ida e volta a partir de 870 euros. A Top Atlântico (topatlantico.pt) tem um pro grama especializado para esta viagem - À Descoberta do Uganda - com visita às montanhas e observação de primatas. O preço por pessoa em quarto duplo é a partir de 3100 euros. Inclui passagem aérea em classe económica pela KLM no percurso Lisboa-Entebbe-Lisboa; transfers de e para o aeroporto Entebbe; taxas aeroportuárias; transporte em veículo 4x4; guia/motorista; águas minerais; alojamento de acordo com o tipo de lodge escolhido (standard); refeições indicadas no itinerário detalhado; entradas nos parques nacionais; passe para entrada na floresta dos gorilas e chimpanzés; atividades detalhadas; seguro de viagem; taxas de estada.
INFOS
Parque Nacional de Murchison Falls Parque Nacional da Floresta de Kibale KAMPALA Parque Nacional Queen Elizabeth Parque Nacional de Bwindi
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Para além do passaporte, válido pelo menos por mais seis meses depois do regresso, é necessário obter um visto de turismo. Pode ser tirado à chegada ao aeroporto de Entebbe. Custa 100 dólares americanos (pouco menos de 90 euros) e o pagamento é em dinheiro vivo. Dólares e euros podem ser trocados em bancos ou casas de câmbio. Pode fazê-lo no aeroporto. Levantamentos de dinheiro em ATM só em alguns bancos. Cartões de crédito Visa são aceites em alguns locais e nos hotéis. Quanto a cuidados de saúde, recomenda-se a Consulta do Viajante. Prepare-se para a vacina da febre amarela (obrigatória) e para uma muito provável profilaxia da malária. É conveniente beber somente água mineral engarrafada. No que respeita à segurança, o Uganda é um dos países mais amistosos e seguros de África. Todos os parques nacionais são supervisionados e protegidos pelas autoridades.
DORMIR Nos dez parques naturais, em acampamentos ou lodges. Primate Lodge Kibale Tendas de qualidade e equipadas que garantem privacidade e sensação de comunhão com a floresta. Pessoal muito afável e eficiente. UGANDALODGES.COM/PRIMATE
Muyea Safari Lodge No Parque Nacional Queen Elizabeth, é um local de eleição. Grande qualidade, charme, estilo e conforto com uma vista deslumbrante sobre o rio. Das mesas de almoço ou da piscina podemos estar a ver elefantes e hipopótamos com todas as mordomias e em segurança. MWEYALODGE.COM
Mihindo Lodge Perto do lago Mburo, outro local muito especial. Um boutique resort de grande qualidade e decoração irrepreensível. É o projeto de vida de um casal que um dia se apaixonou pelo Uganda e construiu um hotel no cimo de uma formação rochosa. Feito a pensar em todos os detalhes de proteção e conjugação com o meio ambiente em que se insere, oferece a possibilidade de safaris a pé, a cavalo e até em bicicleta. Gorilla Forest Camp Em Bwindi, é uma opção para quem quer correr o risco, e a sensação única, de acordar e ter uma família de gorilas na varanda. Fica dentro do parque e frequentemente alguns gorilas aventuram-se a visitar as instalações dos turistas, conforme, aliás, pôde testemunhar o jornalista Paulo Salvador. SANCTUARYRETREATS.COM/UGANDA-CAMPS-GORILLA-FOREST-PRICE
A NÃO PERDER
aconselhável a quem goste de estar na natureza e tenha essa capacidade fisica e emocional. Os trilhos podem ser muito duros e longos e sempre feitos por entre mato cerrado com tudo o que isso implica de vida animal. Kibale Forest Tracking de chimpanzés - estar junto de uma família de chimpazés em liberdade, numa região com a maior concentração de primatas de todo o continente africano é outra das oportunidades a não perder. Mesmo que os guias digam que a caminhada vai ser curta, leve sempre água a mais e barras energéticas. Nunca se sabe quando a fome e a sede apertam. Além disso, os animais nem sempre respeitam os nossos timings. Balão de ar quente Planície do Parque Nacional Queen Elizabeth. Uma nova experiência no Uganda é o voo de balão de ar quente. Neste momento é um piloto egípcio que explora este target de negócio. Os voos acontecem ao nascer do dia, o que implica acordar de noite e esperar que o clima ajude. Ver a planície africana a 500 metros de altitude, olhar o horizonte e ver as montanhas da Lua, olhar para baixo e ver os animais ou fazer um voo a baixa altiude são momentos únicos. Aconselha-se muitos cartões de memória porque não se para de fotografar. Irresistível. Murchison Falls Quedas de água, o delta do rio Nilo e rica vida animal. Um dos parques nacionais mais procurados e com alojamentos de luxo. Observação de aves o Uganda já foi eleito um dos melhores locais do mundo para este tipo de atividade. Ali vivem milhares de espécies, muitas delas endémicas.
Parque Nacional de Bwindi Tracking (ir a pé ao encontro de) de gorilas-da-montanha - é a experiência de uma vida e
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Boa Vista CABO VERDE
A ilha perdida de um escritor
Fomos à terra do escritor Germano de Almeida em busca da morabeza que ele receia ter-se perdido. Descanse o homem das letras - e todos os viajantes apaixonados pelo arquipélago africano. A Boa Vista continua especial. TEXTO DE VALENTINA MARCELINO I FOTOGRAFIAS DE ORLANDO ALMEIDA
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Areais macios como veludo e mar cristalino são a «boa vista» que deu nome à ilha. Esta é a bela vista da esplanada do hotel Iberostar.
«
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enho medo de voltar, receio de se ter perdido a morabeza que lá deixei. Quero ficar com essa memória. Prefiro guardá-la assim. Perfeita.» Há emoção na voz de Germano Almeida, o premiado escritor que nasceu na Boa Vista, em Cabo Verde, quando lhe ligamos da sua terra, no último dia de viagem. Queríamos que nos desvendasse alguns dos mistérios da ilha que já inspirou dois dos seus livros e é palco de um terceiro, que está agora a escrever. Germano deixou a Boa Vista aos 18 anos (tem agora 70) e voltou lá apenas em 2005. Contamos-lhe o que fizemos nos últimos dias, os lugares que visitámos, avivamos-lhe as imagens de contraste entre o agreste
das colinas secas e as dunas aveludadas, as praias desertas, as comidas que provámos, a música, uma morna suave para nos embalar como um mar terno, outras vezes um funaná tão intenso como ondas altas a explodirem na areia. Mas, principalmente, falamos-lhe das pessoas. Das gentes das terras, das suas histórias, dos seus sorrisos, da forma como nos acolheram, enfim, a tal morabeza que Germano teme ter-se sumido. Do outro lado do telefone sente-se o seu sorriso aberto. «Na última vez que aí fui fiquei triste. A ilha estava muito descaraterizada, com o turismo de massas. Senti que tinha perdido aquilo que me está a dizer que encontrou. Se calhar ainda volto.» VOLTA AO MUNDO
No interior da ilha a paisagem é agreste, seca, pedregosa. Passeios de jipe são opção a ter em conta.
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Venha daí Germano Almeida, venha daí. Pode começar por visitar a sua velha aldeia, João Galego, lá no Norte, onde as casas pintadas de cores garridas contrariam descontraidamente a aridez castanha e pedregosa da paisagem. Antes, ainda parámos em Bofareira, na Mercearia do Elvis a beber uma Strela, a cerveja de Cabo Verde, quase gelada (ainda só há luz metade do dia) e a ouvir as piadas do Luís Morais («Sim, tenho o nome do grande saxofonista da Cesária Évora», disse com orgulho), com um inesperado cap de pequenas lantejoulas prateadas. Em João Galego, as mulheres vão duas vezes por semana à capital, Sal Rei, vender a sua fruta, legumes e, claro, o inesquecível queijo de 39
Nas pequenas localidades, as casas de cores garridas contrastam com a aridez castanha.
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Festa e Cabo Verde parecem andar sempre em sintonia. Este é um arquipélago de música e sorrisos.
cabra. Estes resistentes animais são uma constante no cenário, com os seus perfis a recortarem-se em cada monte, à procura de alguma erva entre as pedras. Não chove há um ano, está tudo muito seco, terras gretadas a gemer por água, mas ainda há onde fazer pequenas plantações para delas tirar o sustento. A água para rega vem do mar, é dessalinizada e tratada para consumo. Ah! Quer saber a melhor? Uma das excursões que organizam no hotel onde ficámos chama-se A Ilha Fantástica. Sim, o nome de um dos seus livros sobre a Boa Vista, aquele das histórias do nhô David, neto do judeu Ben’oliel que ali desembarcou
fugido de Marrocos, em 1800, da Ti Júlia, da Ti Maia e tantos outros. Aquele onde eu dei o primeiro mergulho da viagem, antes sequer de ter chegado. «Temos praias de areia grossa e branca, onde o mar é fundo, manso e límpido; praias de cascalho ligeiro e ondas fortes e também praias paradas como se fossem lagos ou simples poças d'água.» A praia de nhô David também está lá, a norte de Sal Rei. É a praia de David e está tal e qual como a descreveu – «Aconchegada e recatada, uma espécie de língua sensual de mar em eterna e fascinada carícia sobre corpo adormecido da terra». É verdade que para lá chegar «é preciso descer-se por uma
No pequeno porto de Sal Rei, capital da Boa Vista, o fresco da água convida a um mergulho do cais. Todos os dias o ritual repete-se.
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espécie de escada escavada entre as rochas e este simples acidente natural confere-lhe a intimidade e a quietude de um templo cujo suave vazio, que o preguiçoso ondular não chega a perturbar». De João Galego descemos ao Fundo das Figueiras. São cinco minutos. É outra aldeia com uns 150 habitantes, as ruas muito limpas e as casas, também, coloridas e bem dispostas como os habitantes. Como a D. Tina (não gosta do nome Constantina), a proprietária e cozinheira do restaurante Reencontro. Do calor seco da rua entramos numa aragem fresca que
corre na sala das refeições, uma espécie de ar condicionado ao natural, provocado pelas portas abertas. As paredes estão forradas com cestos de vime e redes de pesca, o teto são ramos de tamareira apertados. A mesa, com uma toalha de cores vistosas, enche-se: cabrito guisado, legumes de toda a espécie, beringela, aboborinha, cenouras, lentilhas. Como tempera estes filetes de atum, D. Tina? «É muito simples, alhinho, limãozinho, sal e coentrinho», responde, numa voz doce embalada por um sorriso terno, enquanto volta a prender uma madeixa do cabelo que lhe fugiu da touca de cozinha. 41
Ao final do primeiro dia, a música cabo-verdiana passou a estar na nossa cabeça, no nosso corpo. Quando regressarmos, sentiremos que também invadiu o nosso coração. Não fosse a Boa Vista a terra onde nasceu a morna, um doce canto triste, sentido, de saudade. Na procura da morabeza a Linda Araújo, uma encantadora cabo-verdiana,
com um sorriso de olhos radioso, «imigrante» de São Vicente, que teve a ousadia de se apaixonar por aquela ilha, abriu-nos a porta da casa de Celeste Almeida. Sua prima, Germano, sim. O mundo é pequeno, a Boa Vista é uma grande casa de família. Foi ela que nos disse que o seu sítio favorito em Sal Rei, quando era miúdo, era numas
rochas negras, banhadas pelo mar, onde se sentava a ler e a escrever. Celeste, 61 anos, aqueceu primeiro os nossos estômagos com uma cachupa rica. «Esta é diferente dos restaurantes, onde servem tudo misturado», começou por explicar. O tudo são as carnes e enchidos diversos, o filete de atum fresco estufado com
As praias desertas de águas cristalinas convidam a dias sem fim nesta ilha. Não admira a procura turística.
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O mar limpo abastece de bom peixe e marisco os habitantes da Boa Vista e os turistas que a visitam todos os anos.
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O velho navio está encalhado nesta praia da Boa Esperança, a norte da ilha, há 46 anos. É atração turística.
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Quem está no Iberostar tem diversas atividades à disposição para passar o tempo. Como o kitesurf.
São praias para todos os gostos: areia grossa, branca, mar fundo ou manso, com cascalho ou ondas fortes, mas todas elas inesquecíveis.
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cebola, as couves, as cenouras, a batata-doce, a mandioca e a cachupa propriamente dita, com o milho, o feijão-pedra e sapatinha (família do feijão). «Gosto de servir tudo separado e cada um põe a riqueza que quer no seu prato», acrescentou. A conversa flui, tão amena como a brisa que entra pela janela aberta sobre o mar. «Boa Vista é uma ilha sem vaidade, ampla. A vaidade cresce no mar. Olhando para ele a nossa alma fica limpa. Se tivesse de nascer outra vez, escolhia este sítio», diz firmemente Celeste, que voltou no ano passado de 30 anos fora do país como emigrante, na Suécia. Há raras famílias na ilha que não têm emigrantes. Muitas mornas se inspiraram nesta fatalidade, para expressar as saudades da ilha. «Quando estamos lá fora, a música
Na praia de Santa Mónica, uma das sugestões para passar o dia são champanhe e morangos ao pôr do Sol.
da terra é a nossa alimentação da alma», conta Celeste. Levanta-se e, de repente, a sala foi invadida pela sua voz, a fazer arrepiar os pelos dos braços. «Parti p’a terra longe / Foi sempre nha ilusão / E ali ja’m esta / Di sorriso falso / Margurado e triste / Ta vaga de mar em mar / Ta corre de vento em vento / Em busca de um futuro / Entre sombras di distino», canta, a morna de Ildo Lobo, um histórico músico de Cabo Verde, dos Tubarões. No seu rosto, em cada linha, nos seus olhos molhados, passa a sua vida como num filme, dura, sofrida, mas sempre, sempre determinada a voltar à sua ilha. «Fiz uma promessa ao meu chão. No dia que saí, fui beijar o chão da minha igreja e jurei que regressaria», lembra. Agarra-nos pela mão e leva-nos porta fora. Andamos uns metros pela rua poeirenta 45
Sim, é ilusão de ótica: a piscina do hotel Iberostar está alguns metros acima da praia, mas não deixa de ser irresistível.
e quente e chegamos perto de uma pequena casa de portas abertas. «Mulheres Ativas», anuncia uma tábua pintada de azul na parede. Lá dentro, mulheres, umas mais novas outras mais velhas do que Celeste, costuram em máquinas antigas, recortam pedaços de tecido coloridos que cosem uns aos outros até formar colchas alegres e festivas. Joana, Valentina, Filomena, Dazinha, Paulete, Amorina e Marcelina passam ali muitas da suas tardes. Quase todas estiveram fora da sua ilha, emigradas, mas a saudade não as deixou ficar. «Organizei aqui este espaço e quero que todas se juntem a conversar, a costurar. Vamos começar a vender coisas, mas o importante é estarmos distraídas», sublinha Celeste, levando-nos de volta para 46
o prometido «lanche cabo-verdiano»: bolo de cuscuz de mandioca e milho, barrado com mel de cana ou manteiga, queijo fresco de cabra e «sucrinha» (quadradinhos de doce de leite). A acompanhar um aromático chá de hortelã fresca. Na Boa Vista não faltam iguarias, para apreciar com tempo e estômago preparado. Alguns restaurantes são de ex-emigrantes que aprenderam no estrangeiro e regressaram para ficar e partilhar sabores. Como Armando Marques, que esteve 18 anos em Basileia, Suíça, e aprendeu a cozinhar num navio. «Nunca tinha entrado numa cozinha», conta, «fui aprendendo e trabalhei nos melhores restaurantes.» O nome que
deu ao seu restaurante diz tudo sobre o que o puxou de volta: «Sôdade di nha terra». Nasceu ali no Rabil, perto da capital da ilha, e foi ao lado da antiga casa da família que comprou o terreno e ergueu o estabelecimento. Nas paredes estão fotografias suas ao lado de verdadeiras obras de arte culinária, bolos principescos, cascatas de fruta. «Trouxe mais de mil receitas, mas aqui não tenho tido muitas oportunidades de as cozinhar», afirma com uma certa nostalgia. Ainda assim, faz questão de, em cada pormenor, dar um toque de chef e colocar um pequeno adorno, como flores recortadas de uma cenoura e pétalas de vegetais. Conta que várias figuras políticas já por ali passaram, desde Aristides Pereira, o VOLTA AO MUNDO
Cristina Brito emigrou e voltou à sua ilha para recuperar a casa de família e abrir o Fon'Banana, em Povoação Velha. Aqui serve comida e música típica.
Armando Marques, outro emigrante, aprendeu a cozinhar na Suiça e mistura sabores cabo-verdianos nos seus pratos.
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primeiro presidente de Cabo Verde, natural da Boa Vista, ao próprio António Costa, atual secretário-geral do PS português. Certamente provaram a sua especialidade, uma salada de couve ripada com uma vinagreta especial, a acompanhar os peixes sempre frescos. «Tenho um pescador que me liga uma hora antes de chegar a terra a dizer o que tem», afiança. Mais a sul, há um outro espaço também animado – e de que maneira – por uma emigrante. O Fon’Banana. Cristina Brito esteve 20 anos na Alemanha e voltou há cinco para Povoação Velha, a primeira localidade da ilha povoada e uma das atrações turísticas mais visitadas. Restaurou a casa dos pais, forrou o terraço com canas 47
O italiano Toni Libardoni restaurou a casa da família judaica Ben'oliel.
Frank toca mornas no Fon'Banana. Além de cantá-las no restaurante, também dá aulas a crianças, ao ar livre, na pracinha de Povoação Velha.
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e vime, decorou-a com cestos coloridos e ali criou uma sala de refeições fresca e aconchegada. Ainda se provam as entradas quando se começa a ouvir o som dos acordes de ensaio de um violão. Depois um cavaquinho, um reco-reco e uma viola. O grupo, Frank, Arikson, Aguinaldo, Marlo, Manel e Ailton, têm idades entre os 17 e os 63 anos e são todos de Povoação Velha. Frank, o mais velho, toca «há muitos anos, com amigos», mas tem ensinado os mais novos «numa espécie de escola de música», ao ar livre na pracinha da povoação. Três vezes por semana animam e enchem de mornas e coladeras o Fon’Banana. A surpresa da noite é quando Cristina, que recebe os convidados com um sorriso quente e vai depois para a cozinha apurar
A Migrante Guest House também serve produtos da terra, além de ser porto de abrigo.
o gosto às comidas (um cabrito que se desfaz na boca, galinha tenra guisada, lagosta grelhada...), entra na sala e canta, acompanhada pelos músicos. A sua voz invade a noite lá fora e junta-se às outras estrelas, as do céu. «É de família, a sua mãe tinha uma voz do outro mundo, era incrível», revela-nos Frank, mais tarde, quando lhe confessamos a nossa emoção. Enquanto os cabo-verdianos emigrados ainda não voltavam à ilha, outros, estrangeiros, aportaram a ela, à procura da sua morabeza, da história, de um lugar de gentes afetuosas. O italiano Toni Libardoni está em Sal Rei há 15 anos e escolheu a Boa Vista depois de visitar todas as outras ilhas do arquipélago cabo-verdiano. «Sol e praia, era o que VOLTA AO MUNDO
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As estradas de pedra e terra obrigam a circular devagar. No fim da viagem ainda se vai sentir a vibração do empedrado.
GERMANO ALMEIDA Nasceu em 1945 na ilha da Boa Vista, licenciou-se em Direito em Lisboa e exerce advocacia no Mindelo. Foi Procurador-Geral da República de Cabo Verde e, em 1991, publicou o seu livro mais mediático - O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo.
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procurava. E está tudo aqui. Foi simples», justifica. Porém, foi mais profundo do que isso. A guest house que dirige nasceu do restauro total da casa de uma família judaica, os Ben’oliel. Esses mesmo, Germano, a família do nhô David. «Estava em ruínas e recuperei tudo mantendo a estrutura original, as cores, os espaços», conta. Em baixo, onde era a loja da família judaica, é agora a receção, onde serve iguarias da terra e feitas ali em casa, como o doce de papaia, o grogue (aguardente) e o ponche (grogue com mel e limão). Lá dentro é um terraço interior, em quadrado, cercado na parte superior por uma balaustrada, que protege os quatro quartos, a que deu nomes de descobridores (Cadamosto, que chegou primeiro à Boa Vista, Magalhães e Vasco da Gama) e Ben’oliel, o patriarca
judeu. Paredes amarelo-torradas, portadas azuis e brancas. Foram só três dias de viagens de norte a sul, por estradas a rasgar colinas de pedras, caminhos de terra batida, desde a praia da Boa Esperança, onde ainda está aquele navio italiano encalhado (desde 1968), já só um esqueleto disforme de ferros ferrugentos, até ao sul, às paradisíacas praias de Santa Mónica e Varandinha. Estas têm mais de 18 quilómetros de areais brancos e macios que massajam os nossos pés quando caminhamos, águas mornas de um turquesa translúcido. Como dizia Juan Pujol, um catalão que dirige um hotel onde ficámos, «é pegar num cesto de morangos e champanhe e sentar-nos na areia a olhar o pôr do Sol naquelas praias desertas. Um entardecer perfeito». É esta a sua ilha perdida, Germano? VOLTA AO MUNDO
Guia
da Boa Vista IR
RECORTE E LEVE NA SUA VIAGEM
Sal Rei
A Soltrópico (soltropico.pt) sugere oito dias em quarto duplo, com passagem aérea e regime de tudo incluído (refeições buffet sempre disponíveis), a partir de 837 euros por pessoa. Há dois voos diretos para a a Boa Vista todo o ano aos sábados, um da TAP (flytap.pt) outro da TACV (flytacv.com). Pode conhecer a ilha nas variadíssimas excursões organizadas a partir dos hotéis, em jipes ou motoquatro, ou alugar um carro se quiser ir à descoberta ao seu próprio ritmo. Não se perde, mas se tiver um guia, melhor. Custam o dia inteiro cerca de 45 euros. Os trilhos nas estradas de terra batida são por vezes quase invisíveis.
comidas típicas. Não se preocupe com a linha, pois o peixe (atum, serra, garoupa, moreia) é rei nos pratos, sempre com muitos legumes. Claro que não pode perder a cachupa (género cozido à portuguesa, mas também com feijão, milho, mandioca e batata-doce) nem as lagostas grelhadas ou cozidas em água do mar. O cabrito assado ou guisado é outra especialidade. O bolo de cuscuz de mandioca e milho, com mel de cana e queijo de cabra, é um lanche do outro mundo.
MOEDA: ESCUDO CABO-VERDIANO. O CÂMBIO OFICIAL É 1 EURO = 110 ESCUDOS, MAS NA MAIOR PARTE DO COMÉRCIO ARREDONDAM PARA 1=100. FUSO HORÁRIO: - 2 HORAS DE ABRIL A OUTUBRO; - 1 HORA DE NOVEMBRO A MARÇO IDIOMA: PORTUGUÊS E CRIOULO QUANDO IR: OS MESES DE VERÃO EM PORTUGAL SÃO OS MAIS QUENTES, EMBORA A TEMPERATURA NUNCA CHEGUE AOS 30 GRAUS. O RESTO DO ANO RONDAM OS 25 GRAUS E POR VEZES É UM POUCO VENTOSO.
PRAIA DE CHAVES, BOA VISTA (3 KM DO AEROPORTO) TEL: +238 2512170 IBEROSTAR.COM
COMER Prepare-se para o deleite. No hotel o buffet é internacional, mas não deixe de sair e provar as
AGRADECIMENTOS:
POVOAÇÃO VELHA TEL: + 238 9824213 (MÓVEL); + 238 2511871
Migrante GuestHouse O italiano Toni Libardoni recuperou a casa histórica da família Ben’oliel, os judeus que chegaram à Boa Vista em 1860, e transformou-a numa acolhedora guest house, mantendo toda a arquitetura original. Aqui pode provar-se alguns produtos locais, como o queijo de cabra, o doce de papaia ou salgadinhos de atum. TEL.: + 238 251 11 43
FAZER
DORMIR Iberostar Club Boa Vista Na sedutora praia de Chaves, com o seu areal branco e macio e águas turquesa. São férias de cinco estrelas, como o hotel (276 quartos), até com espaços e atividades para os mais pequenos. As piscinas têm vista para o mar e são sempre uma boa opção, se se quiser ficar resguardado. A animação é intensa, tanto de dia como à noite. Se pensa que tem dois pés esquerdos a dançar, é quase garantido que uma das dançarinas cabo-verdianas, da equipa de animação do hotel, o vai fazer gingar o corpo ao som do funaná. À noite há quase sempre espetáculos protagonizados pelos incansáveis dançarinos ou na discoteca do hotel. Os dias intensos valem a pena, nem que seja para, no final da tarde, deixar-se relaxar nas mãos mágicas da massagista Irene.
PREÇO MÉDIO: 35 EUROS.
AVENIDA AMÍLCAR CABRAL, SAL REI
Ilha da Boa Vista
PRAIA
de sobremesas (pudins de queijo e coco, doce de bolacha)
DEIXE-SE LEVAR PELA TRANQUILIDADE.
Restaurante Reencontro Perguntem pela D. Tina e encomendem cabrito. Tem outros pratos, mas este é garantido que não se vão arrepender. O pudim de queijo e o de coco são divinos.
As excursões de dia inteiro ou meio dia permitem conhecer bem a ilha. As opções são muitas, desde os percursos culturais/ /históricos às praias e dunas. Nos meses de verão também poderá observar as tartarugas que acorrem aos areais da Boa Vista para desovar. Alguns trajetos podem ser feitos em motoquatro. Os preços são em média 40 euros.
PREÇO MÉDIO: 13 EUROS FUNDO DAS FIGUEIRAS TEL:+238 2521259; + 238 9929556
Sôdade di nha Terra Armando Almeida Marques aprendeu centenas de receitas na Suíça, onde esteve emigrado, mas é aqui que os seus sabores mais encantam. O peixe é sempre fresco e a lagosta cozida em água do mar.
JIPE OU MOTOQUATRO, AGORA ESCOLHA.
PREÇO MÉDIO: 10 EUROS RABIL TEL: +238 251048
Fon’banana Cristina Brito é a anfitriã deste espaço exótico, acolhedor e fresco na localidade mais antiga de Boa Vista. Às terças, quintas e sábados tem noites cabo-verdianas típicas, com músicos locais a tocarem mornas, coladeras e funaná, enquanto degusta o menu: aperitivo com ponche, sopa de lagosta. Lagosta grelhada, cabrito, peixe, galinha guisada à cabo-verdiana, trio
Também pode, simplesmente, passear pelo centro da cidade e entrar no ritmo cabo-verdiano. A música é constante e há esplanadas junto às praias, mais pequenas, da capital Sal Rei, que vale a pena desfrutar. Por exemplo, na praia do Estoril, o bar Alísios (como os ventos que assolam por vezes aquela ilha), tem um soufflé de chocolate com gelado, que vale a pena. Não é cabo-verdiano, mas a nossa guia Linda Araújo garante que é magnífico.
CUBA A revolução do século xxi A Volta ao Mundo testemunhou os ventos de mudança na ilha caribenha. Com ou sem norte-americanos, com ou sem os irmãos Castro, Cuba será sempre muito mais do que um ensolarado resort socialista para estrangeiro ver. Há vida e paisagem para além do regime, para lá de Havana e de Varadero. Prepare a viagem e faça as malas antes que a realidade de mais de cinquenta anos de embargo desapareça. Assista ao vivo e a cores à transformação.
TEXTO DE JOÃO FERREIRA OLIVEIRA | FOTOGRAFIAS DE JORGE AMARAL/GLOBAL IMAGENS
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avana não tem, por norma, um trânsito caótico, mas hoje é um dia especial. François Hollande está na cidade, a primeira visita de um chefe de Estado gaulês a Cuba. Há ruas cortadas, ouvem-se algumas buzinadelas, sobretudo vindas do nosso taxista. «Um rei dentro do carro e mesmo assim não nos deixam passar?» atira Juan Carlos. A capital está momentaneamente sitiada porque Cuba está em movimento. Já o Presidente francês tinha levantado voo em direção à ilha e ainda Raúl Castro andava a espalhar charme por esse mundo fora. Juan Carlos vai ao tablier buscar um exemplar do jornal Granma, órgão oficial do comité central do Partico Comunista de Cuba, 54
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Automóveis de época enchem as ruas de Havana. A necessidade aguçou o engenho.
Ao lado, a Catedral de Havana. Estima‑se que 60% da população cubana seja católica.
«Se ele continuar assim voltarei a rezar e retorno à Igreja», disse Raúl Castro sobre o Papa Francisco. O chefe de Estado do Vaticano visita Cuba de 19 a 22 de setembro. para que fiquemos a par das notícias. Dois exemplares. Num deles Raúl aparece a cumprimentar o líder da Igreja Ortodoxa russa, lado a lado com presidente da Sérvia e ainda com um alto represente do regime nortecoreano. Encontros mantidos durante uma visita à Rússia, onde também se reuniu com Vladimir Putin. No outro exemplar está já em Itália, primeiro com Matteo Renzi, líder do executivo transalpino, depois a apertar a mão ao camarada Francisco. «Se ele continuar assim voltarei a rezar e retorno à Igreja», afirmou após o encontro com o Papa. Agradeceu-lhe pessoalmente o apoio dado na aproximação com os Estados Unidos e acertaram pormenores referentes à visita do Sumo Pontífice ao país, que se realiza VOLTA AO MUNDO
este mês de setembro. Visita que passará posteriormente por Washington, Nova Iorque e Filadélfia. «Isto está mesmo a mudar, não está?», pergunto a Juan Carlos. «Está, mas não há nada a temer. Somos um povo abençoado», responde-me de imediato, humor cubano na ponta da língua.
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avana está diferente, Cuba está diferente, mesmo para quem, como eu, nunca tenha cá estado. Há qualquer coisa no ar, um futuro que ainda ninguém consegue agarrar e definir. Será o fim de uma era? A queda do regime? Ou «apenas» o progresso? A capital parada no tempo, cidade Património Mundial da Mundial pela UNESCO, museu a céu aberto com 55
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Cuba é a maior ilha das Caraíbas e está apenas a 150 quilómetros de distância dos EUA. Havana, a capital, tem uma população de pouco mais de dois milhões de pessoas.
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Colombo chegou a Cuba em 1492. Reclamou o território para o reino de Espanha e assim foi até 1898. tanto de belo como de decadente, começa, pouco a pouco, a recuperar o tempo perdido; veem-se edifícios a ser reabilitados, ruas repavimentadas, o parque automóvel moderniza-se, a língua dos cubanos solta‑se. Pelo menos a de Juan Carlos. «O mundo mudou, temos de mudar também. Não podes abrir a iniciativa privada (o governo permitiu a criação de negócios próprios no final de 2010) e depois proibir que comprem um carro ou um telemóvel melhor».
Ele que trabalhou década e meia na Força Aérea – se bem que nunca tenha conseguido ser piloto de aviões, tal como sonhara – até ter percebido que ser taxista era o caminho mais direto para a felicidade. Está a juntar dinheiro para um táxi novo, um daqueles Chevrolet dos anos 1950 que fazem as delícias dos turistas. Um clássico, digo. «Não, não, não», corrige-me. «Para vocês são clássicos, para nós são velhos. Não é que não tenhamos orgulho neles, mas se ainda
O Capitólio Nacional, em Havana, foi sede do governo cubano após a Revolução de 1959. Hoje alberga a Academia de Ciências.
hoje existem foi por necessidade e não por prazer.» Automóveis que apesar de não possuírem os motores originais – na sua maioria substituídos por motorizações Kia ou Hyundai a gasóleo – podem chegar aos 25 mil dólares. «Somos tão bons mecânicos como dançarinos», diz, antes de inventar um buraco no trânsito que nos levaria ao coração da cidade.
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olta a Cuba em oito dias. Pouco mais de 24 horas foi o tempo que estivemos em Havana, quase sempre guiados por Juan Carlos.
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Uma semana, o tempo total que estivemos em território cubano. Sete dias passados dentro de um autocarro, integrados na FITCUBA (Feira Internacional de Turismo de Cuba), juntamente com 137 jornalistas oriundos de trinta países, que este ano se realizou em Cayo Coco. Tempo manifestamente curto para fazermos um retrato fiel de Cuba, sobretudo num momento histórico como este que se vive, ainda assim mais do que suficiente para perceber a real dimensão deste país. A feira cumpriu a sua 35ª edição, mas nunca a aposta no turismo terá sido tão forte
como agora. Se o mundo está curioso com o que se passa em Cuba, as autoridades querem aproveitar a oportunidade para dar a conhecer as diferentes Cubas ao mundo. Mostrar que o país não é só Havana e Varadero, política e praia, ditadura ou democracia, uma espécie de resort socialista que todos querem ver antes que acabe. Afinal trata-se da maior ilha do Caribe, a décima sétima maior do planeta, com 110 861 km2, à frente da Islândia ou da Irlanda. Um país maior que Portugal. Daí terem «metido» os jornalistas em vários autocarros, uma bus trip de norte a sul 59
O Memorial José Martí tem 109 metros de altura e está na Praça da Revolução. É dedicado ao herói nacional da independência cubana.
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A independência de Cuba deu-se em 1902. Meio século depois começou o período de ditadura com Fulgencio Batista. do território. Uma viagem de Havana a Cayo Coco, ilha ligada ao continente por uma estrada de 27 km e parte integrante do arquipélago de Jardines del Rey, imortalizado na literatura por Ernest Hemingway no seu romance Ilhas na Corrente; de Cayo Coco a Santa Lucía, na província de Camagüey, praia com 21 km, areia branca e águas azul-turquesa protegidas por um longo recife de coral; de Santa Lucía a Guardalavaca, já no Sul da ilha, na província de Holguín, mais uma zona com vários resorts all inclusive que tenta também o seu lugar ao sol; pelo meio, uma antiga exploração de café e dois passeios de barco – um deles de catamarã, no mar, com direito a lagosta, música e animação quanto baste, o outro a bordo de uma lancha rápida, na Laguna La Redonda, a abrir caminho por entre fauna e flora tropical ao melhor estilo da Jamaica. O turismo de natureza e náutico são duas das novas apostas. Há oito marinas internacionais, 40 centros de mergulho, 200 baías, 600 quilómetros de praias, 850 de barreiras de coral e, e, e... toda uma riqueza que os números dificilmente conseguirão mostrar. Nem numa viagem de autocarro.
Ao lado, a fachada do edifício do Ministério do Interior (antes da Indústria) com a figura de Che Guevara.
Aqui e ali houve jornalistas incomodados, «não é assim, que se conhece um país» protestavam alguns, protestávamos também nós, perante os milhares de quilómetros realizados em tão poucos dias. Mais do que o cansaço acumulado era a impossibilidade de agarrar tantas paisagens, tantas histórias, que nos acicatava a curiosidade e alimentava o mau humor. Mais histórias como a de Juan Carlos e a de Reinier (Negro para os amigos e para os negócios), um agora pequeno empresário que conhecemos na praia de Guardalavaca, na província de Holguín. Ele que passou de táxi para cavalo. Assim que o país se abriu à iniciativa privada abandonou as bandeiradas e começou a dar aulas de equitação e a fazer passeios pela região. Também ele não se esquiva ao assunto do ano. «Ainda há pouco tive aqui um casal suíço que estava muito preocupado com o nosso futuro. Como vai ser quando os americanos chegarem? perguntavam-me. Vocês ainda estão mais ansiosos do que nós. Vamos recebê‑los como recebemos toda a gente. Com um sorriso. E muita música», conclui.
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HOTEL NACIONAL
Quarto com vista sobre a nova Havana Um hotel que é um marco em Havana e que mantém impecavelmente o charme dos hotéis idosos. Ter uma chave de um quarto é uma experiência que nos faz sentir uma outra Havana, mesmo esta que está em plena mudança. TEXTO DE RUI PEDRO TENDINHA
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á muitas cápsulas de tempo em Havana. Os bólides americanos dos anos 1950, as fachadas dos prédios, o sorriso das pessoas. Mas a maior delas é a própria cidade em si. Mesmo quem nunca viajou até à capital cubana, sabe que o passado aqui não é passado – é presente. Depois, há ainda uma experiência mais intemporal: o Hotel Nacional, um sumptuoso cinco estrelas, propriedade do governo, e que tem o título de monumento nacional. Aconteça o que acontecer – e muita coisa vai acontecer a este país nos próximos meses –, o tempo não passa por aqui. Essa é a ideia de um hotel impecavelmente conservado e que poderá igualmente ser uma pista de uma atitude cubana para o futuro: o orgulho. Olhar para este edifício e absorver os seus valores simbólicos tem de ser cuidadosamente contextualizado. A melhor notícia é que já não é o recreio dos ricos em Havana, a sua aura vai muito para além disso. Talvez seja antes uma
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espécie de sala de visitas pública. Um local onde a tradição cubana encontra uma espécie de El Dorado não cumprido. O efeito pode ser desconcertante, um pouco como paradoxo de dois tempos que se cruzam, mas acaba por fazer sentido, não é ficção científica nem um grão na engrenagem do cosmos. Basta chegar à entrada e ser bem recebido pelos porteiros, tão cavalheiros como castiços, e percebemos que a partir desse momento o clima é outro. Entramos numa outra dimensão. Antes da visita ou do check-in, o melhor é seguir em frente para o pátio. Aí está um pedaço de paraíso. Paraíso eterno para os que não estão com horas contadas e podem espojar-se naqueles sofás a céu descoberto e olhar para a baía. Lá à frente, à direita, está o Malecón, a marginal, e Havana Vieja. O tal paraíso eterno também reivindica um rum velho, apenas com duas pedras de gelo. Só isso e o mar à frente. Não vale fechar os olhos nem olhar para o lado, onde está sempre uma banda de salsa com uma menina ao lado a cantar o Guantanamera. Isso são distrações… Como também o gringo de charuto na boca que está no sofá ao lado e mete conversa com teorias acerca do estado de Fidel Castro. Nessa altura, os olhos fechados podem resultar. No break musical da banda residente avançamos até à falésia chamada Monte Vedado, onde se estendem os limites do hotel, mesmo por cima do paredão junto ao mar. É daqueles lugares que parecem feitos para um suspiro forte ou um acentuado respirar fundo. Ao fim da tarde, com aquele sorriso malandro do sol a pôr-se, a paisagem de Havana a falar com o mar deixa-nos a pensar numa beleza de um outro tempo, mas nesta altura já se percebeu que o tempo é equação irresolúvel. Nessa pequena ravina há uma tabuleta a avisar de perigo para o hóspede que queira testar os limites íngremes. Por acaso, é daqueles locais que nos faz pensar que nada ali é perigoso. Perder o medo com o fôlego da paisagem. VOLTA AO MUNDO
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O mar, do outro lado da rua, faz salpicar a estrada com as suas ondas. Havana, à nossa frente, não pode estar a cair aos bocados e em ruínas. Não se acredita nisso, não se acredita em evidências. Estar hospedado neste hotel de luxo não causa problemas de culpa na consciência, mesmo quando no quarteirão ao lado vemos a miséria de um país que terá falhado a sua resistência ao imperialismo. Não ficamos a ruminar culpa nem complexos burgueses porque o luxo do Nacional é sem pieguices tontas ou requintes arábicos. O hotel, se al64
gum luxo tem, deve-o à sua beleza arquitetónica e ao seu património. Sejamos claros, é um hotel histórico. A sua classificação como monumento nacional também não é truque para as estadas encarecerem. Ficar no Nacional é uma experiência em si. Uma experiência de reviver memórias que conhecíamos da literatura e dos relatos da Cuba antes e depois da Revolução. Inaugurado em 1930 sob um pequeno morro onde estão os canhões históricos dos tempos coloniais, cedo se tornou num símbolo para a cidade e para o país. Quando
apanhamos o tour histórico diário, feito por uma senhora reformada, percebemos que a própria imunidade do hotel é feita de camadas de histórias e mais histórias. Apetece dizer que é um hotel com muitas vidas. Algumas delas são do foro mais trivial, como por exemplo, a tentativa desesperada de Francis Ford Coppola em filmar lá O Padrinho 2 para respeitar o livro de Mario Puzzo. A cena em que vemos a personagem de Al Pacino no Hotel Nacional a negociar com mafiosos é mentira do cinema, mas com um rigor no decalque absolutamente impressionante. Nas últimas décadas, VOLTA AO MUNDO
Fidel Castro chegou ao poder em 1959 e lá se manteve até 2008. Desde então, o presidente é Raúl Castro, seu irmão. moderna. E a verdade é que o conforto não ganhou rugas e também não não há ali cheiro a naftalina. Nessas tours matinais percebemos que o hotel tem várias faces. Há pisos com chão de mármore, outros com alcatifa. Há quartos com requinte histórico e fotografia dos famosos que lá ficaram, com grande destaque para a suite de Frank Sinatra (do jovem Sinatra). Como se a imponência do hotel fosse também uma questão de altivez. São 362 quartos divididos em suites, singles, duplos e triplos.
Cliché ou não, a experiência de saborear o peso histórico do hotel é sabermos ser turistas. Mesmo o viajante que aqui venha parar tem de ficar um bocado turista. Esse é o espírito de um hotel que tem uma das melhores lojas em Cuba para comprar charutos, um restaurante aberto 24 horas com um mojito que Hemingway não desdenharia, murais com fotografias da Revolução, placards a explicar com ligeireza o episódio da crise dos mísseis da Baía dos Porcos (o hotel nesses dias acabou por ser o
O charme do Hotel Nacional vê-se nas pequenas grandes coisas. Como no mojito que se pode beber na esplanada sobre o Malecón.
Cuba nunca deixou nenhuma produção de Hollywood filmar lá. Quando vemos Cuba num filme americano é sempre truque. Ainda assim, as suites 213 e 211 são atração nacional. Foram lá as reuniões da máfia americana quando tentou em 1946 fazer de Havana um centro de jogos, à semelhança de Las Vegas. Há fotos dos grandes mafiosos numa convenção que trouxe a Cuba Meyer Lansky e Lucky Luciano, um encontro chamado muito pragmaticamente a Convenção da Máfia. O quarto está, garantem, como estava nos anos 1940, apenas a televisão é um pouco mais 65
quartel-general de onde Fidel supervisionou os acontecimentos, tendo mesmo instalado no terraço equipamento militar antiaéreo) e até um cabaret chamado Le Parisien (inaugurado em 1956 por Eartha Kitt) que semanalmente alberga um show Buena Vista Social Club (com bebidas e comida incluída mas que não é nada em conta). O nosso lado de turista embasbacado vem ao de cima quando ficamos muito tempo a olhar para o teto da receção, que sintetiza na perfeição os dois estilos arquitetónicos do hotel: a tendência hispânico-mourisca com a art déco, não faltando elementos da escola caribeña cruzada com uma estética dourada 66
do estilo californiano. Uma mistura de talha dourada com madeira e pedra esculpida. Depois, nos diversos salões e bares, fotografias de celebridades. Fotografias essas quase a ficar sem cor e com péssima qualidade (faz parte do charme). E a mistura de personalidades deixa‑nos agradavelmente tontos. Tanto podemos ver a Gloria Pires das novelas da Globo como Hugo Chávez ou Steven Spielberg. De alguma forma, quem é quem fica aqui na decoração das paredes, mais ou menos esbatido. Quem não tem o culto pela celebridade e quer antes o conforto do refúgio, o hotel tem duas piscinas com suavidade rétro e esplanadas recatadas. Piscinas à moda antiga que
ainda têm aquele cloro que cheira mesmo a cloro e onde não existem bares com balcões a entrar água dentro nem tão-pouco adolescentes de roda do telemóvel no Facebook – a internet é lenta, como em qualquer lugar de Cuba. Aqui é conveniente ser lenta, faz-nos ficar mais à beira do real, faz-nos ficar mais atentos à mistura de pessoas que dão vida ao hotel. Até os seguranças de fato escuro não têm ar de rufias, falam connosco e são cicerones se for preciso. Para quem aprecie um certo rebuliço multicultural, há duas alturas ideais para ter a experiência nacional, o Festival do Charuto, o Habanos Festival, sempre em fevereiro, e o Festival de Cinema, o Nuevo VOLTA AO MUNDO
O Hotel Nacional abriu em 1930 e durante a Crise dos Mísseis de 1962 serviu de quartel-general a Fidel e Che Guevara. É monumento nacional.
Cinema Latinoamericano, em dezembro, ambos com o epicentro no hotel. Em 2014, Matt Dilon, Bruna Lombardi e Benicio del Toro foram hóspedes que cirandaram nos corredores para espanto dos mais desprevenidos. Às 06h30, ao nascer do Sol, não há imagens de postais românticos, mas há uma azáfama controlada com os empregados do majestoso salão do pequeno-almoço. O senhor que faz as omeletas, o senhor dos cafés, a senhora dos talheres e até o moço que à entrada pergunta o número da «habitación». Todos têm uma educação e uma solenidade que parecem de outra era. E, ao mesmo tempo, não são figuras de cera. Conversam, riem, queixam-se. São Cuba. O nosso preferido é um dos senhores que gere os belíssimos elevadores antigos e de ponteiro pendular. É ele quem conta que, quando o hotel estava sob alçada de uma administração americana, Josephine Baker e Nat King Cole foram proibidos de dormir lá por serem negros. Fazemos check-out e voltamos ao aeroporto guardando para sempre a arte hospitaleira de um hotel único. Quem não seguir a máxima de nunca voltar onde foi feliz irá regressar ao Nacional e perceber que isto da tradição de não mexer com o tempo é coisa da ordem do divino. Hotel Nacional Calle 21 y O, Vedado, Plaza Tel.: +53 7836 3564 Quarto duplo a partir de 150 euros
www.hotelnacionaldecuba.com
O cinema é parte fulcral da cultura cubana. Em dezembro há festival.
Josephine Baker e Nat King Cole não puderam dormir no hotel Nacional. 67
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VOLTA AO MUNDO
EUA vs. CUBA Uma nova oportunidade
Depois de mais de cinquenta anos de embargo económico, EUA e Cuba voltaram a relacionar-se. Fala-se na mudança que, aos poucos, já está a abrir portas para ambos os lados. Saiba o que pode mudar e o que se vai manter em Cuba. Escolha o que visitar na ilha que aposta quase tudo no turismo. TEXTO DE NUNO MOTA GOMES
D
esde que Barack Obama, presidente dos EUA, anunciou uma mudança na política de relações diplomáticas com Cuba, os operadores turísticos registaram quatro vezes mais procura por este destino das Caraíbas. Os 45 minutos ao telefone com Raúl Castro, presidente de Cuba, foram suficientes para fechar um acordo. Houve vontade de normalizar a ligação que estava interrompida. Obama já o tinha manifestado – «Há muito tempo que estou preparado para mudar de políticas» –, no entanto havia um entrave, entretanto resolvido: meia hora antes do discurso que se tornou histórico, aterrou numa base em Washington, Alan Gross, norte-americano preso desde 2009 em Cuba, acusado de «ações contra a integridade territorial do Estado». Inimigos desde o período da Guerra Fria e separados por um embargo económico que bloqueava todo o comércio, as relações diplomáticas estavam suspensas desde 1961. Foi decisão do presidente John F. Kennedy, na sequência da aproximação dos revolucionários castristas à União Soviética e da confiscação de bens norte-americanos. Num Estado onde não há estabelecimentos de fast food em cada esquina, vários promotores reforçam uma idea: quem quiser conhecer a Cuba dos Castro tem de se apressar. É esperado um crescimento exponencial do turismo e 2015 é o ano da mudança. Com a situação devidamente regularizada, os mais de noventa mil norte-americanos que todos os anos visitam Cuba vão passar a poder utilizar cartões de crédito, já que, por enquanto, apenas podiam viajar com dinheiro no bolso. Outra mudança passa pela possibilidade de instituições norte-americanas poderem abrir contas bancárias em instituições financeiras de Cuba. As restrições económicas, que Barack Obama tenta aliviar, podem abrir a oferta das empresas norte-americanas aos onze milhões de consumidores cubanos. Além disto, é esperada uma melhoria das infraestruturas de VOLTA AO MUNDO
Raúl e Barack, de inimigos a simplesmente vizinhos.
telecomunicações (melhor acesso à internet é uma das vantagens apontadas), bem como o surgimento de outros possíveis investidores ligados à área da construção. No passado 20 de julho, EUA e Cuba reabriram as respetivas embaixadas em Havana e Washington, reatando relações diplomáticas sete meses depois do início do processo de reaproximação (dezembro de 2014). O presidente cubano, Raúl Castro, frisou que as relações bilaterais só serão normalizadas quando o seu homólogo norte-americano utilizar os poderes executivos para pôr fim ao embargo. Outras exigências de Cuba são a devolução do território «ilegalmente ocupado» da base
naval de Guantánamo, o fim das «transmissões de rádio e televisão ilegais», a eliminação de programas que promovam a «subversão e desestabilização internas» e uma compensação «pelos danos humanos e económicos» causados pelos anos de bloqueio. Para já, Washington retirou Cuba da «lista negra» norte-americana de Estados que apoiam o terrorismo. E a 14 de agosto, o secretário de Estado norte-americano John Kerry tornou-se o primeiro chefe da diplomacia dos EUA a visitar Cuba desde 1945. Kerry presidiu à cerimónia do hastear da bandeira das riscas e das estrelas na embaixada norte-americana em Havana.
Até ao final deste ano está previsto o reatar das ligações aéreas comerciais regulares entre os EUA e Cuba. 69
Guia
de Cuba IR RECORTE E LEVE NA SUA VIAGEM
MOEDA: HÁ DUAS MOEDAS. O PESO CUBANO (CUP) E OS PESOS CONVERSÍVEIS (CUC), A MOEDA DO TURISTA. UM CUC REPRESENTA SENSIVELMENTE UM EURO. FUSO HORÁRIO: GMT - 5 HORAS IDIOMA: ESPANHOL DOCUMENTOS: PASSAPORTE COM VALIDADE MÍNIMA DE SEIS MESES E VISTO OBRIGATÓRIO (NORMALMENTE É TRATADO PELAS AGENCIAS DE VIAGEM E INCLUÍDO NO PREÇO) À SAÍDA DO PAÍS É NECESSÁRIO PAGAR 25 CUC, RELATIVO A TAXAS LOCAIS. QUANDO IR: QUASE TODAS AS ÉPOCAS SÃO BOAS. ATÉ NOVEMBRO CONVÉM ESTAR PREPARADO PARA A POSSIBILIDADE DE AGUACEIROS DIÁRIOS. A PARTIR DAÍ COMEÇA A ESTAÇÃO SECA. COM OU SEM CHUVA, A TEMPERATURA É QUASE SEMPRE ALTA E A HUMIDADE ELEVADA.
HAVANA
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Entre julho e meados de setembro são efetuados voos charter desde Portugal para Cayo Coco e Varadero. Uma operação levada a cabo pela Agência Sonhado. Em 2016, e tendo em conta a procura, tudo indica que os mesmos voltarão a realizar-se. Há uma ligação diária durante todo o ano desde Madrid para a capital Havana, através da Air Europa (www.aireuropa.com). O voo tem a duração de cerca de nove horas.
DORMIR Os hotéis em regime all inclusive ainda são a imagem de marca do país, se bem que comecem agora a aparecer alguns hotéis mais pequenos, de charme, e casas privadas para alugar, sobretudo nas cidades. O H10 Panorama, com vista para o mar, é uma boa solução para quem ficar em Havana (h10hotels. com), este apenas com pequeno almoço incluído. Nos resorts junto à praia, destaque para o Melia Jardines del Rey (meliacuba. com/cuba-hotels/hotel-meliajardinesdelrey), localizado em Cayo Coco. Um espaço de luxo, composto por apartamentos.
onde nada falta. Destaque também para o Brisas de Santa Lucía (hotelescubanacan.com), na província de Camagüey e para o Brisas Guardalavaca (brisasguardalavaca.com) e o Hotel Playa Pesquero (hotelplayapesquero.info), ambos na província de Holguín.
COMER E BEBER COMER A gastronomia cubana não será, certamente, o ponto forte da ilha, até pela relativa escassez de produtos próprios – se bem que o camarão e a lagosta sejam
duas das especialidades locais. É uma cozinha relativamente pobre (com forte influência espanhola e africana) à base de arroz, feijão, batata, yuca e muita carne, sobretudo porco. Não quer isso dizer que não valha a pena experimentar os pratos típicos locais. Bem pelo contrário. Em Havana, por exemplo, há vários restaurantes de comida crioula bem no centro da cidade. Experimente os mais caraterísticos (quase frequentados só por cubanos) e onde é possível comer por menos de cinco euros. Sim, porque a vida em Cuba não é tão barata como se possa pensar, mesmo para os turistas. Quem quiser jogar pelo seguro pode estar descansado, pois são muitos os restaurantes de comida internacional, com especial destaque para as cozinhas espanhola e italiana. BEBER Em Cuba a bebida não é um simples acompanhamento da comida e merece destaque por si só. Não tivesse este país um cocktail com o seu nome conhecido em todo o mundo: Cuba Livre - rum, refrigerante de cola e limão. Mas há muitos outros cocktails famosos tais como mojito, daiquiri (herdou
o nome de uma praia próxima de Santiago de Cuba) e piña colada. A canchánchara (rum, mel e limão) é outra das combinações mais tradicionais, embora menos conhecida além-fronteiras. O rum, a bebida nacional, é omnipresente.
A NÃO PERDER Cuba é um dos países mais procurados por turistas de todo
o mundo. Com algum receio do que possa vir a acontecer, vários operadores turísticos passaram a ter à venda pacotes especiais para «conhecer o país do regime castrista». Com o turismo em massa que se espera é inevitável que alguns dos locais mais procurados comecem a transformar-se para dar resposta à procura. E isso tem aspetos positivos e negativos, como a melhoria das infraestruturas ou a perda de identidade. SUGESTÕES » Na província Cidade de Havana, uma das 15 que formam Cuba, encontramos a capital deste país: Havana. É no centro histórico e cultural, com arquitetura colonial e por onde circulam os emblemáticos carros dos anos 1950, que se descobrem os ritmos quentes da música em cada esquina. » A visita a uma fábrica de charutos cubanos faz parte de qualquer itinerário. Região importante é Pinar del Rio, única na ilha a produzir charutos Havanos, considerados por muitos os
melhores do mundo. » Passagem pela cidade colonial mais bem preservada das Caraíbas » Trinidad. Acaba de celebrar o 500.º aniversário e, a 12 quilómetros, tem o Valle de los Ingenios, centro de produção de açúcar que fez história entre o fim do século xviii e meados do século xix. Por ali passaram mais de trinta mil escravos e é hoje classificado como Património Mundial pela UNESCO. » Se a vontade de seguir os passos de Fidel Castro e Che Guevara for muita, nada como subir ao Pico Turquino, o ponto mais alto de Cuba (1974 metros). Fica a sudeste da ilha, no Gran Parque Nacional Sierra Maestra, o local onde o Movimiento 26 de julio (M-26-7) se expandiu durante a Revolução Cubana que culminou com a deposição de Fulgencio Batista em 1959. Um desafio que exige um moderado esforço físico, rodeado de pontos de interesse e muita natureza. » Se perguntar pelo lugar preferido de Fidel Castro, a resposta é Viñales. É um dos locais mais procurados em Cuba pela sua beleza natural e rural, mas com atividades para todos os gostos. Os agricultores a trabalharem a terra, plantações de tabaco, a técnica de fabrico de charutos, passeios a cavalo ou trilhos
LOCAIS CLASSIFICADOS COMO PATRIMÓNIO MUNDIAL PELA UNESCO Velha Havana e suas fortificações; Trinidad e o Valle de los Ingenios; Castelo San Pedro de la Roca, Santiago de Cuba; Parque Nacional Desembarco del Granma; Vale Viñales; Local Arqueológico das Primeiras Plantações de Café no Sudeste de Cuba; Parque Nacional Alejandro de Humboldt; Centro Urbano Histórico de Cienfuegos; Centro Histórico de Camagüey; Mais informações em: autenticacuba.com turismodecuba.info
pedestres são algumas das opções neste vale classificado como Património Mundial pela UNESCO. » Virado para as águas do Atlântico, Baracoa continua a ser um dos destinos de viagem mais encantadores do país. É uma cidade ainda muito isolada mas cheia de vida, graças à cultura e à diversidade da paisagem, composta por montanhas, rios e praias impressionantes. Para os amantes de música, aqui ouve-se o tradicional estilo changüí. Destacam-se também as florestas tropicais que abrigam milhares de espécies de fauna e flora, muitas das quais raras ou em extinção. É um paraíso à beira-mar entre zonas áridas ou de plantações férteis. Não perca também os 17 metros de queda de água de Saltadero. » Música é uma palavra muito forte em Cuba. Salsa é o estilo de dança cubano. É obrigatório ver dançar quem sabe, mas ainda mais importante é dar um passinho em compasso de quatro tempos. Este estilo nasceu de influências da Europa com a chegada de milhares de escravos africanos à ilha. Foi o ponto de partida para vários ritmos, influenciando até hoje a dança a nível mundial em estilos como a rumba ou o cha-cha-cha. NMG
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Rio de Janeiro&Angra BRASIL dos Reis Visitar o Rio de Janeiro é subir ao Cristo Redentor e sentir vertigens enquanto o bonde desliza do morro da Urca até ao Pão de Açúcar. É sentir um frio na barriga quando se está no centro histórico, é subir às alturas de Santa Teresa, descer à boémia Lapa e tomar um banho de mar em Angra dos Reis, onde há uma ilha para cada dia do ano.
TEXTO DE MARLENE RENDEIRO I FOTOGRAFIAS DE LEONARDO NEGRÃO/GLOBAL IMAGENS
Rio DE EMOÇÕES «
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É
um pouco como a subida do Chiado, em Lisboa», diz-nos, de sorriso aberto. Estamos no centro do Rio de Janeiro, a mais de treze quilómetros de Ipanema, Léblon e Copacabana. E as recentes férias em Portugal de Sandra Farias, guia turística, ainda estão bem frescas na memória. Talvez por isso, a habitual conversa com os turistas – «Cá é assim. Como é no vosso país?» – seja feita com constantes comparações a Portugal. O que não é surpreendente, se pensarmos na história comum. Mas já lá vamos. Antes, importa saber que estamos em Santa Teresa, um bairro vizinho da Lapa, na zona central da cidade. Não acabámos de descobrir nenhum destino secreto. Do alto de uma serra, Santa Teresa tem
testemunhado a história do Rio de Janeiro há pelo menos quatro séculos, depois de herdar o seu nome do primeiro claustro feminino do Brasil. Há cinco anos tinha apenas cerca de 40 mil habitantes e os turistas, por aqui, continuam a contar-se pelos dedos das mãos. «Não é uma rota muito requisitada», confessa Sandra Farias. É verdade, Santa Teresa é uma escolha improvável, com as suas pequenas casas de cores vivas, as moradias silenciosas e o vibrante verde do Brasil na paisagem. Quase parece uma parede de cortiça numa cidade com mais de seis milhões de habitantes, onde o ruído é uma constante. O glamour das festas do Copacabana Palace, a popularidade do Léblon e o areal de Ipanema ganhariam, certamente, muitos braços de VOLTA AO MUNDO
A escadaria do Convento de Santa Teresa, autoria de Jorge Selarón, é de visita obrigatória. O artista chileno foi encontrado morto em 2013.
O Rio de Janeiro é a segunda MAIOR
CIDADE BRASILEIRA QUANTO A NÚMERO DE HABITANTES, MAS A PRIMEIRA EM TERMOS DE NOTORIEDADE INTERNACIONAL. CRISTO, CARNAVAL E MUITO MAIS.
ferro. Mas, como se precisasse de mais pontos a favor do que ser morada do Cristo Redentor, esta ganha quando se fala de tranquilidade e de vistas panorâmicas. Um dos símbolo deste bairro é o bonde (nome dado ao elétrico), que voltou a fazer soar os trilhos de ferro há dois meses. Esteve inativo durante quatro anos, depois de um descarrilamento no Largo do Curvelo provocar a morte de seis pessoas. Aliás, é aqui que agora termina a nova rota, tendo início no Largo da Carioca. O que não representa nem 20% do percurso original. É apenas um trecho, já que o elétrico está em fase de testes até ao fim de setembro e as obras só têm conclusão prevista para 2017. Nem só de vistas panorâmicas do Corcovado e do Redentor se faz Santa, como é VOLTA AO MUNDO
carinhosamente apelidada pelos cariocas. A primeira paragem é o Largo das Neves. À primeira vista, esta praça parece ter pouco mais para oferecer aos turistas do que uma pequena capela. Basta contorná-la para perceber o motivo da pausa. Atrás do edifício, encontra-se um miradouro que descortina grande parte da cidade. Em Santa Teresa, não é difícil encontrá-los. Metros acima, novo mirante, como por aqui são chamados. Desta vez, apontam-nos para uma favela, ao longe. É lá que fica o Morro dos Prazeres, que foi cenário dos filmes Tropa de Elite e Velocidade Furiosa 5. Talvez o melhor e mais famoso mirante de Santa Teresa seja o do Parque das Ruínas. O antigo palacete de Laurinda Santos Lobo foi deixado ao abandono após a morte da 75
A Catedral do Rio de Janeiro
FOI INAUGURADA EM 1979 E É DA AUTORIA DO ARQUITETO EDGAR DE OLIVEIRA DA FONSECA. TEM CAPACIDADE PARA 20 MIL PESSOAS EM PÉ.
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herdeira da empresa Matte Laranjeira, conhecida por organizar glamourosas festas, às quais não faltavam artistas brasileiros e personalidades internacionais. No último andar deste recuperado edifício, que agora é um centro cultural, tem-se vista de 360.º para o Rio de Janeiro. Ao longe, distingue-se facilmente o Pão de Açúcar. O final do dia neste famoso morro, com o sol a desaparecer nas montanhas ao longe, a vista para o oceano e a cidade de Niterói por baixo, é de gravar-se na memória. Não é por acaso que Santa Teresa é também referida como a Montmartre carioca. Por aqui já passaram artistas como Carmen Miranda e Jorge Selarón, o chileno que se apaixonou pelo Brasil e pela escadaria do antigo convento, que batizou com o seu nome. Começou a decorar cada um dos lances de escada nos anos 1990, mas foi graças às peças vindas de todas as partes do mundo que conseguiu terminar a obra, no início do novo milénio. São mais de dois mil azulejos diferentes que figuram, em mosaico, nesta colorida escadaria. Mas a VOLTA AO MUNDO
A atividade física faz parte dos hábitos dos cariocas. Correr ou andar de bicicleta junto ao mar são duas opções.
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«Minha alma canta Vejo o Rio de Janeiro
ESTOU MORRENDO DE SAUDADES RIO, SEU MAR PRAIA SEM FIM RIO, VOCÊ FOI FEITO PRÁ MIM» TOM JOBIM, SAMBA DO AVIÃO
VOLTA AO MUNDO
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O Rio Scenarium foi considerado um dos dez melhores bares do mundo. Lá dentro percebe-se porquê.
história de dedicação de Selarón não tem final feliz. O corpo do artista foi encontrado na escadaria do Convento de Santa Teresa em janeiro de 2013. Estava carbonizado. A investigação continua a decorrer. As suas palavras ficaram gravadas nos últimos degraus: «Só acabarei este sonho louco e inédito no último dia da minha vida.» Lapa, a boémia. Mais uma comparação com a capital portuguesa: «É um pouco como o Bairro Alto», diz Sandra. Por aqui, chamam-lhe o bairro boémio, dos artistas e das festas. Há trinta anos, a Lapa estava abandonada, não havia investimento, contam-nos. Mas, pouco a pouco, vai sendo recuperada. Este bairro é vizinho de Santa 80
Teresa, mas os poucos metros que os separam deixam margem para uma grande diferença. Se Santa é tranquilidade, Lapa é agitação. Na primeira noite, percebemos o motivo da comparação inicial, mas na verdade, a Lapa tem poucas semelhanças físicas com o Bairro Alto. Só a tradição é a mesma: em vez de um bar, entra-se num boteco para pedir uma bebida. Em vez de se ficar nas ruas de Lisboa, vai-se bebericando em pleno centro do Rio de Janeiro. Mas os amigos estão lá, a música também, bem como o espírito descontraído, tão característico do povo brasileiro. Numa cidade em que o clima é convidativo, independentemente da estação do
ano, é natural ver as ruas encher pela noite dentro. E a Lapa é a prova que a festa faz-se quando um homem quiser. Há as baladas mais improvisadas, os botecos, os bares mais antigos e os mais icónicos, como o Rio Scenarium, ao lado da Praça Tiradentes, onde se encontra a estátua de D. Pedro IV de Portugal (I do Brasil). Ou, ainda, perdoe-se a referência, o bar das Quengas – assim chamado pela decoração (roupa interior pendurada no teto). Desfilar pelas ruas da Lapa à noite é uma viagem pelos vários ritmos brasileiros. «Ir para a balada», como se diz por aqui, não é exclusivo da sexta e do sábado. Durante a semana, bares e boîtes fazem parte do itinerário de turistas VOLTA AO MUNDO
Santa Teresa é um bairro
TRANQUILO. JÁ NA VIZINHA LAPA, QUASE TUDO É SINÓNIMO DE ANIMAÇÃO. AS DUAS ÁREAS DA CIDADE ACABAM POR SE COMPLEMENTAR DA MELHOR FORMA.
e locais. Já lá dentro, poucos são os que ficam encostados ao balcão e as letras das música sabem-se na ponta da língua. Por baixo daquele que é um dos símbolos deste bairro agrupam-se, todas as noites, jovens. Mesmo à noite, os arcos não passam despercebidos. Hoje não há muito mais para ver do que a construção em pedra branca mas, durante o dia, o antigo bonde voltou a circular no seu topo, ainda que por algumas horas (encontra-se também em fase de testes). Mas já se celebra o regresso do bondinho de Santa Teresa aos 42 arcos duplos, construídos em 1723, como um aqueduto para trazer água do rio Carioca para o centro. VOLTA AO MUNDO
Mesmo quando a noite acaba tarde, o dia começa cedo na Lapa. A um sábado de manhã testemunha-se a azáfama de dezenas de comerciantes, que vão compondo as suas bancas. As frutas exóticas e as ervas aromáticas convivem ao lado dos mais variados tipos de malaguetas. Há as amarelas, as laranjas, as verdes e as vermelhas e um prato chega a custar apenas três reais (o equivalente a 75 cêntimos). No ar, os cheiros misturam-se e os olhos não sabem o que focar, com tanta cor. «Ananás tem de ter massa amarela», vai cantarolando um dos comerciantes. E, por falar em amarelo, não se esqueça que pedir um limão no Brasil - é o equivalente a pedir uma lima.
As feiras e os mercados abundam no centro da cidade. Uma das mais conhecidas é a do Lavradio, que se realiza todos os sábados, com peças de artesanato, esculturas, mas também velharias, malas antigas, discos de vinil e até máquinas de escrever. É também na Rua do Lavradio, mais afastada dos botecos, que se encontram alguns dos melhores restaurantes da Lapa. Pastéis de carne, bolinhos de bacalhau, feijoada ou aipim frito são alguns dos petiscos a provar. Apesar da proximidade dos cariocas ao mar, a carne continua a ser uma preferência. Ainda assim, junto ao forte de Copacabana, encontra-se uma alternativa para os amantes de peixe. É aqui que se 81
Do Corcovado ou do Pão de Açúcar, as hipóteses para selfies são mais que muitas.
localiza uma das muitas colónias de pescadores do Rio de Janeiro. As vantagens? O peixe salta diretamente do mar para o mercado, sem passar pelo gelo. Corvina, anchova, robalo, pescada, camarão, garoupa... «É só chegar cedo e escolher. Um quilo a 10 reais» – pouco mais de 2,50 euros –, diz-nos um dos pescadores. A cinco minutos a pé da Rua do Lavradio fica a catedral São Sebastião do Rio de Janeiro. Com 75 metros de altura, o edifício é um ponto incontornável. Inaugurada em 1976, a construção foge ao estilo de uma 82
catedral católica, falando esteticamente. Foi inspirada na pirâmide que os Maias construíram no Iucatão, México, e tem capacidade para cinco mil lugares sentados e 20 mil de pé. No interior, quatro vitrais cruzam-se para formar uma cruz no teto e, ao fundo do presbitério, avista-se a figura de São Sebastião, padroeiro da cidade. A poucos metros da Praça Compositor Braguinha fica também a nova unidade do grupo hoteleiro português Vila Galé no Brasil, inaugurada em dezembro de 2014, no centro da Lapa. Ali próxima está a Igreja de
As baías e lagoas do Rio ANDAM NAS BOCAS DO MUNDO. GUANABARA E LIMA DE FREITAS, EM ESPECIAL. PELA BELEZA, MAS TAMBÉM PELOS JOGOS OLÍMPICOS DE 2016 E PELA QUESTÃO DA POLUIÇÃO.
VOLTA AO MUNDO
Nossa Senhora do Carmo, cuja capela foi convertida em capela real, por ser próxima da residência de D. João VI e sua família, no edifício do Paço Imperial. Este localizava-se na ainda existente Praça XV, que durante a época colonial foi apelidada de «centro da cidade». Foi daqui que a família real embarcou para o exílio em 1889. Quando nos dizem «esta praça é tão histórica quanto a do Terreiro do Paço», já não estranhamos. Quase 200 anos após a independência do Brasil, ainda se sente Portugal no centro do Rio. VOLTA AO MUNDO
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O Vila Galé Eco Resort fica apenas a 15 minutos de distância da cidade de Angra dos Reis.
A
Angra dos Reis
história divide-se quanto ao nome do navegador a quem foi atribuída a sua descoberta, mas concorda no mesmo ponto: era português e integrava a expedição lusitana, que a 6 de janeiro de 1502 desembarcou nesta enseada. Era Dia de Reis e assim ficou decidido o nome de Angra (que significa baía). Precisões históricas à parte, a nossa reação não terá sido muito diferente da dos navegadores portugueses quando aqui amanheceu no primeiro dia da viagem. Chegámos já quase de noite ao eco resort Vila Galé e, para além do som das ondas, 84
O PARAÍSO DE
pouco mais se distinguia do que as sombras das palmeiras. O jetlag já há muito que tinha diminuído os seus efeitos, mas a diferença horária de Portugal para o Brasil continuava a ter as suas consequências. Talvez por isso, tivemos oportunidade para ver os primeiros raios de sol atingir o município brasileiro. Ao longe, as montanhas de Angra dos Reis, mais perto os ilhéus e, ainda mais próximo, o oceano ia ficando mais azul à medida que o sol ia nascendo. De dia, com o verde da relva – aqui é grama – e das folhas das palmeiras, os guarda--sóis e as espreguiçadeiras amarelas, junto ao
areal da praia privada deste hotel, era um cenário totalmente diferente. Poucas horas depois, o cantar das aves e das espécies exóticas que habitam a mata atlântica davam lugar ao som de um motor. Ainda não era meio-dia, mas à praia privada chegava já a lancha Raposo 250, com um guia pronto para uma viagem pelas ilhas que se prolongaria até ao pôr do Sol. Os barcos da Angra Way, um dos parceiros da Vila Galé, têm a capacidade para transportar até 16 pessoas. Se o grupo for grande, vale a pena perder a vergonha e ensaiar uma corrida até à proa do barco, onde pode VOLTA AO MUNDO
Das 365 ilhas de Angra dos Reis, APENAS 97 O
SÃO NA REALIDADE. AS RESTANTES PORÇÕES DE TERRA RODEADAS POR MAR SÃO ILHÉUS. EM QUALQUER DOS CASOS, A BELEZA NATURAL É SURPREENDENTE.
ir sentado. Descrever esta viagem não é fácil. Falar na transparência do mar, talvez seja pouco, do desenho das montanhas ou do horizonte, onde o azul do oceano e do céu se confundem, igualmente. Por isso falamos em paraíso. «Não se avista vivalma», como refere a expressão. Em pleno oceano Atlântico, a 150 quilómetros do Rio de Janeiro, e entre os ilhéus de Angra, vamos-nos cruzando com outras lanchas. Vale a pena prestar atenção quando o barulho de outros motores dá lugar ao dos remos. É este o meio de transporte dos habitantes locais: pequenos barcos de VOLTA AO MUNDO
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VOLTA AO MUNDO
Ao longe, as montanhas de Angra dos Reis, MAIS PERTO OS ILHÉUS E, AINDA MAIS PRÓXIMO, O OCEANO IA FICANDO MAIS AZUL À MEDIDA QUE O SOL IA NASCENDO.
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O futebolista Neymar, O CANTOR
RICKY MARTIN OU A APRESENTADORA DE TELEVISÃO XUXA SÃO APENAS TRÊS DOS MUITOS FAMOSOS PROPRIETÁRIOS DE ILHAS EM ANGRA DOS REIS. ELES LÁ SABEM...
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madeira, pintados de cores coloridas. Das 365 ilhas (uma para cada dia do ano) que integram este arquipélago, algumas são públicas, outras propriedade de celebridades ou de anónimos. A mais conhecida de todas é a ilha Grande, a maior deste arquipélago, tal como o nome indica, mas o nosso percurso continha outras paragens. «Essa é a ilha da Xuxa, a apresentadora», diz-nos o condutor da lancha, ao passarmos por outro ilhéu, onde se avista apenas uma casa e dois cães a ladrar. A lancha prossegue caminho, deixando para trás a ilha da Gipóia, onde voltaríamos mais tarde, para provar a moqueca, especialidade do restaurante Canto das Canoas. No passadiço de madeira, onde o barco ficaria atracado, crianças ensaiam mortais para a água. Mais tarde, repetiam os saltos para a câmara fotográfica, confessando que estavam de férias e que só existe escola no continente, em Angra dos Reis. Entre o itinerário traçado, há ainda tempo para parar nas ilhas e mergulhar
junto à Josefa ou da Piedade, também conhecida como a antiga ilha da Caras. Era na ilha da Piedade que decorriam, em tempos, as badaladas festas que juntavam a nata dos artistas e políticos brasileiros. Esta abre ao público, todos os anos, durante o mês de julho, mas pode ser alugada durante o resto do ano. São cerca de 10 a 17 mil reais por um dia neste paraíso. Para o fim, fica um mergulho, em pleno oceano, junto às botinas, os ilhéus de rocha. O mar está tão límpido a esta hora que conseguimos avistar cardumes de peixe antes de regressarmos ao continente. Os golfinhos não apareceram, mas há quem tenha a sorte de os ver passar junto às lanchas. Já com o sol junto à linha do horizonte, passamos por eco resorts e condomínios privados, na periferia de Angra dos Reis. Contrastam com as favelas no centro da cidade. Ou não fosse o Brasil também um país de contrastes. VOLTA AO MUNDO
Guia
do Rio & Angra RECORTE E LEVE NA SUA VIAGEM
MOEDA: REAL (0,25 EUROS) FUSO HORÁRIO: GMT-4 HORAS IDIOMA: PORTUGUÊS QUANDO IR: DEZEMBRO E JANEIRO SÃO ÉPOCAS ALTA DE VERÃO, MAS CONTE COM CHUVA, APESAR DO CALOR. DEPOIS, EM
DORMIR Vila Galé Rio de Janeiro Juntou-se à rede Vila Galé no Brasil em dezembro de 2014. Localizada no centro histórico da Lapa, esta sétima unidade do grupo português foi em tempos um antigo palacete de 1886. Nos blocos mais antigos pode ainda observar-se os preservados mosaicos hidráulicos no chão, mas a decoração, essa é moderna e inspirada no samba. A piscina está no centro do empreendimento, junto ao bar Vinícius de Moraes e restaurante Inevitável, onde a cozinha é de inspiração mediterrânica. Conta ainda com spa, ginásio, sala de massagens e centro de convenções.
FEVEREIRO, O RIO DE JANEIRO PARA À ESPERA DO CARNAVAL, A GRANDE FESTA DA CIDADE.
Casa Momus Abriu em março de 2014, fica na movimentada Rua do Lavradio, num antigo casarão do século xix. Funciona como restaurante e bar boémio de cozinha mediterrânica. Tábua de tapas e ceviche de salmão, carpaccio de filé mignon e especialidades italianas. RUA DO LAVRÁDIO, 11 – CENTRO TEL:: (+55) 213852-8250 CASAMOMUS.COM.BR
ANGRA DOS REIS Canto das Canoas Navegue por entre os ilhéus de Angra dos Reis para chegar a este restaurante, cujo acesso é apenas feito de barco. Famoso pelas moquecas de peixe e marisco e por petiscos como casquinha
Angra dos Reis Rio de Janeiro
TEL.: (+55) 21 2460-4500 QUARTO DUPLO A PARTIR DE 122 EUROS POR NOITE COM PEQUENO-ALMOÇO. VILAGALE.COM
Vila Galé Eco Resort de Angra A 15 minutos do centro da cidade de Angra dos Reis e a 150 quilómetros do Rio de Janeiro, encontra-se este eco resort. Distingue-se pelas práticas ambientais sustentáveis e quase parece fundir-se com a mata atlântica, que o rodeia. Com quatro restaurantes, quatro bares, spa com sauna, jacuzzi e banho turco e ainda várias salas de massagens e tratamentos, este resort é também orientado para as famílias. Para além de um restaurante infantil, tem também um espaço lúdico para crianças. Polidesportivos, academia de fitness, salão de jogos ou o conjunto de piscinas são outros espaços deste hotel all inclusive. Destaque para a sossegada praia privada. AV. VEREADOR BENEDITO ADELINO, 8413 FAZENDA TANGUÁ, ANGRA DOS REIS TEL.: (+55)24 3379-2800 QUARTO DUPLO A PARTIR DE 176 EUROS POR NOITE EM REGIME TUDO INCLUÍDO. VILAGALE.COM
O GRUPO VILA GALÉ APOSTA NO BRASIL
COMER RIO DE JANEIRO Confeitaria Colombo Uma das mais famosas cafetarias da cidade. Fundada em 1894 por portugueses tem decoração majestosa com grandes espelhos belgas, vitrais no teto e mobiliário em jacarandá. Lugar com história para tomar café, chá ou provar os populares biscoitos da casa.
Real Gabinete de Leitura Português O gigantesco lustre que pende do teto e a claraboia de vitrais atraem o olhar assim que se entra na sala principal. Mas são os mais de 350 mil livros que prendem a atenção dos visitantes. Construído entre 1880 e 1887, o edifício de estilo neomanuelino foi criado para acolher uma das associações mais antigas do Brasil, criada por um grupo de imigrantes portugueses após ser decretada a independência. RUA LUÍS DE CAMÕES, 30 TEL.: (+55) 212221-3138 DE SEGUNDA À SEXTA, 09H00 ÀS 18H00. REALGABINETE.COM.BR
Lagoa Rodrigo de Freitas Ligada ao mar pelo canal do Jardim de Alá, esta lagoa recebe todos os verões aquela que é considerada a maior árvore de natal do mundo. Em 2014 tinha 85 metros de altura, mas o tamanho aumenta de ano para ano. Na lagoa também se pratica remo e estão previstas realizar-se aqui essas provas nos Jogos Olímpicos de 2016.
BRASILIA
R. RIACHUELO, 124 - LAPA, RIO DE JANEIRO
A NÃO PERDER
de siri (caranguejo), bolinho de feijoada ou catupiry e ceviche. Preço médio de 64 euros por pessoa. ILHA DA GIPÓIA, ANGRA DOS REIS TEL.: (+ 24)3365-5151
SAIR
Parque Nacional da Tijuca A estátua do Cristo Redentor é a primeira atração turística do Parque Nacional da Tijuca. Mas há muito mais para descobrir: tem maior floresta urbana do mundo replantada pelo homem, circuito do Vale Histórico, dos Picos, o Mirante Dona Marta, o Lago das Fadas, a gruta ou o Bico do Papagaio, um dos picos mais populares. ESTRADA DA CASCATINHA, 850
Santo Scenarium O nome faz jus à decoração, com figuras e artigos religiosos a preencher o espaço. Pode pecar-se à refeição: pastéis de brie com geleia de laranja ou de catupiry, sanduíches, saladas e pratos principais. Encerra ao domingo.
Rio Scenarium «Um dos melhores dez bares do mundo», escreveu o jornal The Guardian. Também conhecido por Pavilhão da Cultura, resulta da combinação improvável de um antiquário, casa de espetáculos e restaurante. Três andares decorados com mais de dez mil peças de objetos antigos. Tem palco no piso térreo, graças a uma espécie de varandim. Preço de entrada a rondar os 10 euros, dependente do dia da semana. Encerra ao domingo e segunda.
Passeio de Barco Angraway Navegar junto às ilhas de Angra dos Reis, com um guia, é uma das atividades que a Angraway proporciona. Viagem de seis horas (sem almoço incluído) a partir de 410 euros por barco (lotação máxima de 16 pessoas). Esta empresa, parceira do Vila Galé, organiza ainda outras atividades: mergulho, um tour pela Ilha Grande ou por Paraty.
RUA DO LAVRÁDIO, 36 – CENTRO
R. DO LAVRADIO, 20 - CENTRO
RUA DO COMÉRCIO, 314
TEL.: (+55) 213147-9007
TEL.: 213147-9000
TEL.: (+55) 2433650232
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TEL.: (+55) 212492-2252 PREÇO VARIA CONSOANTE O PERCURSO
AGRADECIMENTOS:
VOLTA AO MUNDO
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TEXTO E FOTOGRAFIA DE JOSÉ MANUEL DIOGO
em família UM ADULTO, DUAS CRIANÇAS, UM PAÍS HISTÓRICO. DE AVIÃO ATÉ LÁ, DE AUTOMÓVEL DURANTE DEZ DIAS. DE MILÃO A MILÃO, COM PASSAGENS POR GÉNOVA, FLORENÇA, SIENA, RIMINI, BOLONHA E PARMA. UMA EXPERIÊNCIA INESQUECÍVEL.
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empre me disseram que Itália é que era. E quem mo dizia não se enganava. O país dos Césares e dos impérios, da arte e da política, dos príncipes e dos heróis, de todos os anjos e santos, fonte de toda a história e galeria de todas as artes do Ocidente, é um lugar esmagador. Os dez dias em que os viajantes andaram pelas estradas, escolheram ementas, esbugalharam os olhos e dormiram em quartos com três camas foram uma experiência inesquecível. Dessas que ficam do «outro lado da vida» como dizia o escritor francês Louis Ferdinand Celine citando Litré que, como todos sabem, nunca se engana: viajar é do outro lado da vida. Nesta viagem ninguém conseguiu ficar indiferente. Nem o pai de quarenta e muitos anos, que não conhecia o Norte de Itália, nem os seus dois filhos, o Diogo de 15 e a Carolina, com 11 (havia de fazer 12 anos em Veneza), que nunca tinham estado na maior península do Adriático. A Carolina, mais pequena, mas mais viajada (os filhos mais novos nunca são
poupados pelas preocupações gregárias com que os pais demonstram incompreensível afeto aos primogénitos), escrevia assim a última entrada no seu diário de bordo, dez dias depois de terem aterrado às 23h55 no aeroporto de Milão, Malpensa: «Esta foi a melhor viagem!» Foram muito felizes os viajantes na Itália do Norte. Na terra dos Medici, dos Sforza e dos doges de Veneza; na utopia de Gabriele d’Annunzio; no sonho rico da indústria automóvel de Turim e do turismo arco-íris de Rapallo e Portofino; na terra das vinhas perfeitas e girassóis que é a Toscana; na Itália burguesa das praias urbanizadas de Rimini e, claro, das vielas líquidas de Veneza, que são o maior parque de diversões adulto do universo. Mesmo sem contar com as extraordinárias experiências que seriam a Expo em Milão e a Bienal em Veneza. Fazer as malas. A decisão parecia fácil. Afinal a Itália é muito perto. Duas horas e meia de avião. O voo relativamente barato: três pessoas ir e vir, 508,35 euros já com lugar marcado, check in feito, à ida e à volta, e uma mala extra. O suficiente para estar sempre fresco e asseado durante os dias de viagem. Com uma oferta de hotéis das mais
extensas do universo, mais de 90 mil diz o site booking.com, exatamente o dobro de Espanha e nove vezes mais que Portugal. Para os colecionadores de estatísticas aqui vai outra: em 2013 Itália foi o quinto maior destino mundial de turismo com quase 48 milhões de visitantes. O Banco Mundial diz que, maiores, só a França, os EUA, a Espanha e a China. E se não era César a atravessar o Rubicão, era, como disse o Diogo, «o pai de telemóvel na mão a reservar o avião»– estávamos lá.
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epois do avião, indispensável para poupar no tempo da viagem (se fosse feita por terra seriam 20 horas e 2130 km agarrados ao volante), o que os viajantes precisam é de um carro. Una macchina, como se diz no vale do Pó. No capítulo motorizado as hipóteses são muitas: comprar de avanço pela internet, alugar no aeroporto ou ir alugando, à medida dos destinos que o destino nos reserva. O capítulo automóvel foi pautado pela simplicidade. Não foi a solução mais económica mas sim a mais confortável. Primeiro: os carros agora vêm com internet. Um router 91
sem limite de tráfego de dados que, por apenas mais nove euros por dia, nos poupa centenas de euros em roaming. Enquanto esperamos por 2016 e pela abolição das taxas na UE é o dinheiro mais bem gasto que se pode imaginar. Serve de telefone, internet, GPS, guia Michelin e até de movie center.
Milão
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odemos alugar antes de partir num dos muitos sites que prometem carros baratos na internet. No nosso caso era um Citroën Cactus que, na altura do contrato, se transformou num Fiat 500L — batizámolo de Capuleto porque era um menino com formas de menina e tinha um ronronar de Julieta. Mas cuidado, as compras na internet não mostram os extras que depois sempre se acrescentam: seguros, taxas de circulação, condutores extra, taxas de lavagem, identificadores de portagens e outros impostos que podem facilmente atirar um bom negócio para o dobro do inicial. Neste caso, dez dias de aluguer prometidos pela rentalcars.com a 450 euros, feitas todas as contas, ficaram a 900.
Génova
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Bolonha
Florença Siena
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ongole, vongole, vongole. Uma das experiências mais notáveis em Itália é ir a restaurantes. Entre paste e pizze, osterie e trattorie, a cada dia se experimentam coisas novas. A mais petiz da família ficou obcecada com um prato em especial – spaghetti al vongole (esparguete com amêijoas). Escolheu-o sempre que havia, várias vezes e à força da devoção, parecia nativa na altura do pedido. Prego signorina! – respondiam i camerieri encantados pelo sorriso da Carolina. A oferta gastronómica nunca deixa créditos por menus alheios. Das constantes amêi joas já falámos, mas em nada elas perdem para a trattoria Galleone que, nas ruas estreitas do Porto de Génova, fora de horas e sem ar condicionado, nos serviu testaroli al pesto e fiore de zucca in pastella con burrata e acciughe acompanhados dos vinhos da casa da Toscana, da Ligúria e do Piemonte, todos baratos honestos e pouco alcoólicos mas com a acidez e a fruta que em Portugal só se consegue aos 14 graus. E por aí fora, de cidade em cidade, de ravioli de Rimini a javali de Siena. Se o seu pecado é a gula, a sua terra é Itália. É tão vasta a criatividade que até o Diogo, recente praticante de uma rigorosa dieta vegetariana que muitas vezes limita a criatividade gastronómica do melhor duas estrelas Michelin, se espantava com a quantidade e com a qualidade das escolhas em quase todos os lugares.
Parma
Pisa foi uma das passagens no itinerário. Ninguém resiste à foto da praxe.
Também de gastronomia se faz a viagem em família. E que melhor país que Itália nesta matéria?
Rimini
O
que tornou esta viagem única e inesquecível foi a imprevisibilidade. Todos os dias ao acordar ainda não sabíamos o que íamos visitar, onde íamos comer ou onde íamos dormir, partíamos em busca da aventura nas belas cidades italianas, uma por uma, dia após dia. Como toda a viagem foi feita sem horário, e apenas o do avião de regresso era certo, nunca houve falta de tempo. Era assim como um ritual lânguido, lento e feliz – levantar, e no pequeno-almoço o plano para a manhã, passeio e olhos cheios, almoço coisas boas, wi-fi, e escolher a cidade e o hotel daquela noite, mais passeio de tarde e gelados italianos em toda a parte e fé infinita no Capuleto que com conforto e desembaraço nos entregou sempre no hotel de destino. Para quem viaja em número ímpar, todas as viagens trazem um problema extra: há sempre uma cama a menos. Nos hotéis escolhidos, com uma ou duas exceções, apesar de a reserva ser sempre feita para três, éramos sempre presenteados com quartos de apenas uma cama. É certo que era gigante e quadrada, capaz de acomodar uma meia dúzia de adolescentes em festa mas, neste caso, vinha sempre acrescentada de um duro e improvisado colchão (palavra do Diogo, a quem sempre coube em sorte) em cima de uma baixa estrutura metálica. Feliz ou infelizmente, nesta família há um membro que gosta e desfruta da sua ocasional solidão: o Diogo, o mais velho dos mais pequenos. Fazendo-se de voluntário, fechava-se à noite na sua pequena cama, refletia no dia que tinha passado, no que tinha visto e deixado para ver, no mais bonito e mais esquisito e, por fim, procurava na sua mente a melhor de todas as espetaculares possibilidades de coisas para fazer no dia que ainda havia de chegar. Com isto tudo na cabeça e sem nada partilhar adormecia finalmente sem nada ter decidido.
R
enascença vs. globalização. Com a mudança e a modernização, o mundo tornou-se um lugar muito mais pequeno, mais acessível e mais aberto, tudo ficou a um clique de ser possível. É verdade que nem tudo é perfeito como já vimos, mas felizmente chegamos a um momento em que o antigo e o moderno coabitam em harmonia. Ao longo destes 400 anos a mudança passou por todo o país, mais notável em alguns sítios, menos noutros, permanecendo, mesmo assim, alguns sítios quase intocados, como Veneza por exemplo. Mas o essencial, o que realmenVOLTA AO MUNDO
te nos fascina e admira, continua incólume. E a possibilidade de podermos presenciar tal maravilha, essa reside na globalização. Com tudo visto e malas feitas, despedimo-nos da bela, mas cara, Florença, entrámos no nosso estimado Capuleto e rumámos a Siena, cidade famosa pelo pálio e pela sua medievalidade que o mais sénior dos três viajantes queria muito visitar. Um conselho do Afonso, amigo da família, muito dado às letras e à história. Depois de um excelente almoço na Praça do Mercado, feito de vegetais e ensopados medievais, decidimos visitar a insigne Piazza del Campo que foi imortalizada por James Bond numa intensa perseguição a pé. E foi aí, sentados à sombra, de telemóvel na mão a comparar o que víamos à nossa frente com a cena do 007, que tivemos a ideia de que depois de tanta história e cultura não podíamos perder as praias italianas do mar Adriático. Tínhamos um novo destino, Rimini. Não há nada igual: mais de mil hotéis ao longo de uma praia de 15 quilómetros que se divide em dezenas de secções correspondentes a determinados hotéis e milhares de guarda-sóis alinhados de forma a criar uma organização sensacional. Já a água, era calma e quase à temperatura de uma piscina aquecida. Rimini foi uma espécie de descanso para o que vinha a seguir, a intemporal Veneza.
A
rrivederci Italia. Na primeira viagem a Itália escolhe-se não perder tempo. Que é como quem diz deixar o que é muito turístico para ler nos guias. Por isso não ficámos nas filas para subir à torre de Pisa nem demos voltinhas aos duomi em Florença ou em Milão. Andámos de gôndola porque há centenas e só entrámos na Catedral de São Marcos porque aos 37 graus centígrados do meio-dia a fila tinha meia dúzia de pessoas. Escolhemos ficar na rua a ver as pessoas. Na estrada a ver vinhas e campos de girassóis. A perceber montanhas de mármore tão bem cortadas que parecia ter nevado no verão. Quisemos ir à praia ver o Adriático e sonhar com os barcos que construíram todos os diques de Veneza pagando imposto com a própria carga (30 por cento de pedra rija vinda da terra turca). Torrámos ao sol em Bolonha que estava em obras e saudámos em Parma um casamento que subia as escadarias da catedral. Chegámos a Milão a desejar que o tempo não passasse e não tivéssemos de rever aquele Airbus laranja que nos traria de volta a Lisboa. Viemos felizes e muito contrariados. Ainda neste outono havemos de lá voltar. 93
ROTEIRO ∏ BRISTOL
Cada vez mais
Já tinha belos parques e muitas paredes a servir de tela à street art, agora ostenta o título de Cidade Verde da Europa. Eis um guia para não perder o essencial de uma das mais convidativas cidades inglesas.
Colorida E
sta é uma iniciativa europeia que vale a pena acompanhar: todos os anos é eleita a Capital Verde, distinção atribuída com base nos esforços concretizados em prol do ambiente e do desenvolvimento sustentável. Criada em 2010, já premiou Hamburgo e Nantes, por exemplo, cidades que têm sabido renovar-se e, em simultâneo, são culturalmente dinâmicas e atrativas. Este é, também, o caso de Bristol, por sinal berço do artista plástico Bansky e de bandas como Portis head ou Massive Attack. Para além das estatísticas – que referem ser a cidade, entre as maiores do Reino Unido, que consome menos energia por habitação, que tem a maior taxa de utilização de bicicletas e que conseguiu reduzir a produção de lixo em cerca de 30%, por exemplo. Até possui a sua própria libra, a Bristol Pound, moeda de adesão voluntária que visa encorajar a população a gastar o seu dinheiro na cidade, estimulando o comércio independente
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TEXTO TERESA FREDERICO
local. Não é caso único no país mas aquele que tem maior sucesso: são já quase 800 os estabelecimentos que a aceitam. Os visitantes também podem aderir à causa, trocando as suas esterlinas por estas libras friendly no posto de turismo. Cidade portuária que, um dia, enriqueceu devido ao comércio de escravos, Bristol é hoje um exemplo daquilo que deve ser uma comunidade apostada no futuro. Visitá-la ao longo deste ano traduz-se numa oportunidade especial para (re)descobrir os recantos da cidade, dos lugares óbvios, como a Catedral 1 ou a Cabot Tower 2 , no parque de Brandon Hill 3 (um dos espaços preferidos para piqueniques), à rota da street art – que além de obras de Bansky inclui muitas outras – e aos bares com música ao vivo. Aqui, a cada noite, se a história se repetir, poderão atuar futuros grupos de renome mundial. De potencial «incubadora» de bandas a cidade deve, segundo os pressupostos da Capital Verde, tornar-se fonte de inspiração para outras urbes europeias.
VOLTA AO MUNDO
Afastada do centro da cidade, mas digna de visita, esta ĂŠ a ponte suspensa Clifton, sobre o rio Avon, obra de Isambard Brunel.
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ROTEIRO ∏ BRISTOL atrações da cidade e, de facto, oferece uma interessante «viagem no tempo». Obra do engenheiro Isambard Kingdom Brunel, fez-se ao mar em 1843 e navegou até 1933, transportando desde viajantes abastados a emigrantes que partiram para a Austrália em busca de uma vida melhor e soldados para lutar na Guerra da Crimeia. A visita é bastante esclarecedora e interativa: a maioria não resiste a fazer uma selfie com vestuário da época; menos são os que se atrevem a ver as vistas do topo do mastro.
KINGSDOWN
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Bristol
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Rio Avon
Bristol
SOUTHVILLE
Bairro com vista theavongorge.com
Bansky, Portishead, Tricky e Massive Attack partiram daqui para conquistar o mundo da música e da arte. Este ano é o mundo a ser convidado a (re)descobrir esta cidade que é um exemplo no que toca ao ambiente e ao desenvolvimento sustentável. Quarto ou caravana?
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brooksguesthousebristol.com A localização é perfeita para calcorrear a cidade, o atendimento impecável e o pequeno-almoço inclui uns memoráveis ovos Benedict. A Brooks Guesthouse 4 , onde é impossível não nos sentirmos em casa, proporciona duas experiências diferentes: dormir em quartos bastante acolhedores, embora não especialmente espaçosos (desde 94 euros); ou numa caravana com vista, estacionada no topo deste antigo edifício de escritórios dos anos 1950. Com design inspirado no mesmo período, as Rocket Caravans são um sucesso, pelo que convém reservar com antecedência (des96
de 112 euros). Fica ao lado do St. Nicholas Market 5 , um dos mais antigos e apreciados mercados da cidade, bom sítio para almoçar e fazer compras, de produtos frescos a vestuário e artesanato.
Numa ponta da cidade mas a poucos minutos do centro, Clifton 7 é um bairro elegante, com casas históricas muito bem preservadas, lojas tentadoras e cafés charmosos mas também espaços verdes como The Downs, que tanto inspira à atividade física como à sesta relaxante na relva. A Clifton Suspension Bridge sobre o rio Avon, outra obra de Isambard Brunel, mantém-se majestosa e um espetacular miradouro para quem a queira percorrer. Pode ser apreciada do Bridge Café do Avon Gorge Hotel (menu de almoço desde 18 euros) ou da soalheira esplanada vizinha (piza desde 12,5 euros).
Máquina do tempo
A banhos na cidade
www.ssgreatbritain.org
lidobristol.com
O SS Great Britain 6 , primeiro grande navio transatlântico do mundo, é uma das principais
Espaço criado para banhos públicos que remonta a 1849, é hoje um spa com piscina e jacuzzi exVOLTA AO MUNDO
ROTEIRO ∏ BRISTOL
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teriores bastante frequentados (mesmo no inverno) em Clifton. Esfoliações e massagens relaxantes fazem parte da oferta de The Lido 8 , que muitos residentes usam para se manter em forma através de braçadas intermináveis. Curioso é observar esse esforço saudável e adelgaçante desde o primeiro piso, onde se situa o restaurante, a degustar um suculento peixe e, depois, uma «tábua» com meia dúzia de gelados deliciosos… Preços desde 49 quros (com refeição e acesso a piscina, sauna e jacuzzi).
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Gorila, 2007. Uma das obras do street artist Banksy espalhadas pela cidade.
Bansky e outras artes bristolmuseums.org.uk theklabristol.co.uk www.arnolfini.org.uk O mais conhecido street artist a nível mundial nasceu aqui em 1974 e usou algumas paredes da cidade como tela para as primeiras obras. Há uma meia dúzia para ver (a lista está disponível no site visitbristol.co.uk), encontrando-se uma no Bristol Museum & Art Gallery 9 e outra no M Shed (ambos gratuitos), museu que traça a história da cidade. Neste último caso, trata-se de Grim Reaper, pintado no barco/sala de concertos Thekla 10 , que agora decidiu convidar outro artista para ali exibir a sua arte, além de continuar a revelar novos músi-
AGRADECIMENTOS
cos e bandas. Já o Arnolfini 11 , reconhecido centro de arte contemporânea, acolhe até novembro uma mostra dedicada à obra de outro nativo de Bristol, Richard Long, vencedor de um Turner Prize.
A EasyJet tem voos diretos de Lisboa para Bristol por tarifas desde 20,83 euros por trajeto.
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Comer e beber source-food.co.uk friskafood.com cosyclub.co.uk redlightbristol.xxx A Capital Verde apadrinha a produção local e, por isso, recomenda alguns restaurantes que a promovem. É o caso do Source Café 12 , no centro do St. Nicholas Market; mas também do Friska 13 , que serve refeições rápidas e foi recentemente nomeado melhor restaurante étnico. Há meia dúzia na cidade e também vende CD, vinis e roupa em segunda mão. Para beber um copo não faltam bares para todos os gostos, do Cosy Club 14 , a funcionar num espaço que já foi igreja, ao Red Light 15 , onde o porteiro foi substituído por um telefone e, à entrada, uma seta em néon a dizer sex indica o caminho para a cave… Afinal é um bar comum, no qual se destacam o atendimento simpático e a música, sobretudo dos anos 1950 e blues.
Mais informações visitbristol.co.uk bristol2015.co.uk
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Viajantes extraordinários
CARLA MOTA E RUI PINTO
HERÓIS DA ROTA DA SEDA Ele quase não viajava, ela sempre o fez. Desde que estão juntos, há dez anos, já estiveram em quatro continentes e conseguiram a proeza de fazer por terra os caminhos das caravanas que iam dar ao Oriente, da Turquia até à China.
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Envie as suas histórias para: viajantes@voltaaomundo.com.pt 98
TEXTO DE BÁRBARA CRUZ
arla Mota viaja desde sempre. Tem 40 anos, mas desde pequena que está habituada a explorar o desconhecido. Com os pais, fazia campismo e montanhismo, mas assim que ganhou asas e se tornou independente o céu era o limite. Geógrafa, aproveitou até o ano em que fez investigação nos Andes argentinos para calcorrear de mochila às costas a América do Sul, completamente sozinha. Rui Pinto, de 38 anos, professor de Físico-Química, viajava sobretudo «no plano teórico» até conhecer Carla. «Lia muito, mas faltavame o impulso inicial.» Quando se encontraram, e poucos meses depois de começarem a namorar, decidiram lançar-se num InterRail. Rui adorava comboios, Carla não gostava de estar quieta. Podia ter sido o fim de uma
curta relação, não tivessem descoberto na altura que afinal eram mesmo compatíveis e que o que os fazia felizes era viajarem na companhia um do outro. Passado o primeiro teste, voltaram a casa, em Guimarães, já a pensar na viagem seguinte. Porque a Europa era «demasiado próxima», escolheram um destino que lhes permitisse afastar-se de tudo quanto tinham como certo e seguro. No ano seguinte, foram para a Índia. Gostaram tanto que, em 2016, se prepararam para repetir: o célebre festival das cores, uma antiga celebração hindu que acontece todos os anos em data diferente, vem-lhes mesmo a calhar nas férias escolares da Páscoa. Sendo ambos professores, explicam, têm a vantagem de
conhecer em setembro o calendário do ano letivo. Ao mesmo tempo que planificam as aulas, vão gerindo férias e feriados. Entre viagens mais curtas, na Páscoa ou no Natal, planeiam a mais comprida, que normalmente lhes toma os dois meses das férias do verão. Neste ano, vão para África do Sul, Namíbia, Zimbabwe, Botswana. «A viagem de verão é normalmente restrita a um tema», diz Rui. Existe sempre um fio condutor que liga os vários países do itinerário. No continente africano, a prioridade será a observação da vida animal. Em 2012, foram conhecer mais de perto a civilização maia e passaram pelo México, Honduras, Guatemala. Antes, já tinham percorrido vários países do Médio Oriente e estiveram VOLTA AO MUNDO
Isl창ndia, em cima, e Gronel창ndia, em baixo, s찾o dois dos destinos mais a norte onde estiveram.
Na Patagónia, Carla e Rui renderam-se à natureza.
em Palmira, a cidade síria conhecida como a «Veneza das Areias» que agora está sob o domínio do Estado Islâmico. «Estivemos na Síria poucos meses antes do início da guerra civil. Um país que conhecemos como progressista, relativamente laico. É triste ver como se transformou», desabafa Carla. São democráticos na escolha dos destinos: ela vai para qualquer lado, garante, é raro bater o pé. Ambos vão fazendo sugestões, mas como o interesse no conhecimento científico é comum, acabam muitas vezes em locais inóspitos, que pouco atraem o comum mortal à procura de umas férias. Descanso, aliás, é coisa que não têm quando saem de Portugal à descoberta, seja para ir ver as paisagens glaciares da Gronelândia 100
ou para fazer os oito mil quilómetros da Rota da Seda, a viagem que lhes tomou o verão de 2013. Orgulhosamente, suspeitam de que mais nenhum português conseguiu o mesmo feito: terão sido os únicos – «que nós saibamos!», dizem a rir – a atravessar Turquia, Irão, Turquemenistão, Usbequistão, Quirguistão e China, sempre por via terrestre, quais Marcos Polos do século xxi. «Em termos físicos, foi uma viagem muito exigente, até porque coincidiu com o período do Ramadão. E andámos sempre em transportes públicos, a língua também foi um obstáculo.» Mas sobreviveram para contar a história, felizes e com um sentimento de «missão cumprida» por, também eles, terem feito os passos dos mer-
cadores do mundo antigo que ligavam o Ocidente ao Oriente em busca do mais belo tecido de fabrico chinês. Estão até a trabalhar num livro sobre a viagem, já que investiram em muitos meses de estudo e pesquisa antes de partir. «Ficou a sensação de que era só para nós, o que não é mau, mas tínhamos necessidade de o passar também a outros.» Por outros, diz Carla, entenda-se não só os interessados em conhecer a história desta rota como também os viajantes com quem contactam, sobretudo através das redes sociais e dos vários blogues que têm criado para cada itinerário. Recentemente, decidiram aglutinar toda a informação na mesma plataforma – viajarentreviagens.blogspot.pt – onde
GEOGRAFIA E FÍSICO-QUÍMICA SÃO AS DUAS ÁREAS DE ENSINO DESTE CASAL DE PROFESSORES QUE NÃO CONSEGUE ESTAR QUIETO.
VOLTA AO MUNDO
No deserto chinês de Taklamakan, a vista recompensa quem escala a duna.
publicam os seus relatos e, ao mesmo tempo, fazem divulgação científica, já que tantas vezes as viagens têm um «lado B» que interessa a quem estuda os fenómenos e os mistérios da natureza. Estão sempre em contacto com outros viajantes, para trocar histórias e informações pertinentes. «Temos todos a mesma doença», admite Carla, entre duas gargalhadas. A patologia sai-lhes cara, mas para pagar as viagens vão abdicando do que podem ao longo do ano. «São escolhas», esclarece Rui. Sem remorso. Dos cinco continentes, falta-lhes a Oceânia, onde ainda não estiveram porque durante o verão europeu é inverno na Austrália e na Nova Zelândia. À medida que vão desbravando países, trazem consigo
pequenas recordações que já lhes transformaram a casa num autêntico «museu etnográfico». Há peças para todos os gostos, desde o chapéu dos monges do Tibete aos trajes típicos da Mongólia e da Sibéria. O espaço já vai faltando, mas há sempre onde arrumar mais um instrumento musical ou a estátua de uma divindade desconhecida. Em Samarcanda, no Usbequistão. Uma viagem que o casal fez no verão de 2013.
Turquia, Irão, Turquemenistão, Usbequistão, Quirguistão e China fazem parte da Rota da Seda. 101
Passatempos
PACK JANTAR ROMÂNTICO
PACK SPA E BELEZA
ODISSEIAS
ODISSEIAS
VALOR DO PRÉMIO:
39,90€
VALOR DO PRÉMIO:
15,90€
ATRIBUÍDO A CADA 60 CHAMADAS
ATRIBUÍDO A CADA 25 CHAMADAS
Maravilhosas tapas, requintados jantares, fabulosos sabores de Itália, cozinha de fusão arrojada e saborosas sensações afrodisíacas porque os sabores despertam-nos sentidos, tornam tudo mais intenso, alimentam a paixão. E afinal, é de todas estas emoções que o amor vive. Inspirámo-nos na beleza do sentimento e daí nasceram momentos fantásticos, arrebatadores, intensos e arrojados! Venha experimentar... Uma ocasião especial para cuidar do amor!
Escolha uma experiência de spa e beleza para uma ou duas pessoas entre as mais de 250 à escolha. Spas para total descontração, tratamentos de corpo, rejuvenescimento de rosto ou inspiradoras massagens aromáticas são alguns dos momentos únicos selecionados pela Odisseias para este pack. Esqueça o mundo lá fora, viva momentos para si, com harmonia e tranquilidade.
Condições: Estes packs não podem ser trocados ou reembolsados na Odisseias.
Condições: Estes packs não podem ser trocados ou reembolsados na Odisseias.
LIGUE ENTRE 10 SETEMBRO E 9 OUTUBRO
LIGUE ENTRE 10 SETEMBRO E 9 OUTUBRO
760 301 282
760 301 283
COMO PARTICIPAR Ligue para o número de telefone indicado e saiba quantas chamadas faltam para ganhar. O custo por chamada é de 0,60€ + IVA. Este passatempo decorre até às 24h da data indicada, salvo atribuição dos prémios antes da data final prevista. Limitado ao stock. Valor do prémio aproximado e de acordo com o preço de venda recomendado. Imagem dos produtos não vinculativa. Os prémios são entregues em exclusivo e sem custos adicionais nas Lojas do Jornal de Lisboa e Porto. Consulte a informação completa relativa à entrega dos prémios e regulamento em www.ligaeganha.pt. Contacto: info@ ligaeganha.pt. Estes passatempos são da exclusiva responsabilidade do Liga e Ganha/Controlinveste Conteúdos.
MOVA-SE COM ELEGÂNCIA
A linha MOVE com o conceito multibolso permite organizar os seus pertences da melhor forma. O material leve e resistente combina-se com um design prático. A linha oferece uma grande gama de bolsas para a vida quotidiana e para as suas viagens. O modelo MOVE CONVERTÍVEL dá-lhe a possibilidade de ter uma mala de tiracolo ou de mão.
MALA DE SENHORA MOVE TIRACOLO ECRU
MALA DE SENHORA MOVE CONVERTÍVEL PRETA
SAMSONITE
SAMSONITE
VALOR DO PRÉMIO:
68€
VALOR DO PRÉMIO:
78€
ATRIBUÍDO A CADA 45 CHAMADAS
ATRIBUÍDO A CADA 50 CHAMADAS
LIGUE ENTRE 10 SETEMBRO E 9 OUTUBRO
LIGUE ENTRE 10 SETEMBRO E 9 OUTUBRO
760 301 280
760 301 281
mais passatempos em www.ligaeganha.pt siga-nos no facebook e twitter
Montra
Duas fragrâncias e uma emulsão para encantar neste verão que se aproxima do fim. Caudalíe, Trussardi e Eisenberg porque só queremos o melhor para si.
Caudalíe
A rainha das flores A Caudalíe continua a inovar e lança agora a quinta fragrância da coleção Eau Fraîche. Lançada em 2002, a linha é uma ode às flores de perfume suave e conta com já com as essências Fleur de Vigne, Thé des Vignes, Zeste de Vigne e Figue de Vigne. Rose de Vigne é a mais recente essência da marca que desta vez apostou num misto de aromas entre as rosas e as uvas, simbolizando assim a beleza do mundo e a generosidade da terra. Algures pela região de Graves, na Gironde francesa, o perfume puro das rosas pela madrugada e o aroma dos cachos e das videiras aparecem reunidos numa simbiose mútua, dando vida a esta fragrância. Delicie-se com esta nova edição e leve consigo uma experiência frutada e floral para onde quer que vá. Rose de Vigne 50 ml: 24 euros (preço recomendado) caudalie.com
Trussardi
Ideal para ela Não precisa de procurar mais por aquele perfume que a deixa radiante. My Scent, a nova fragrância da Trussardi, explora as áreas mais femininas e sensoriais do mundo desta marca, evocando a essência da mulher no seu estado mais puro. Um aroma juvenil e floral conjugado com uma essência fresca e almiscarada. Este é o presente perfeito para uma mulher dinâmica e cosmopolita que procure uma composição tão fresca e estimulante como o primeiro dia de primavera. Eau de toilette 30 ml Spray Natural: 42 euros trussardiparfums.com
Eisenberg
Textos José Ramalho
Para uma pele pura A linha Pure White da Eisenberg tem ao seu dispor várias soluções cosméticas inovadoras para o tratamento da pele. Para além de proteger a epiderme e prevenir o aparecimento de manchas castanhas, a marca oferece uma ação anti-idade e antioxidante eficaz. A nova Emulsão Purificante diminui os poros e ajuda a reduzir as marcas inestéticas deixadas por borbulhas, enquanto desintoxica e equilibra os óleos da pele, deixando-a fresca, mais suave e luminosa. Apenas com duas utilizações diárias, de manhã e à noite, terá resultados rápidos, visíveis e duradouros, seja qual for o tipo de pele. eisenberg.com
VOLTA AO MUNDO
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{ Castelos como na Guerra dos Tronos página 109 }
Em Viagem Dicas, curiosidades, informações, notícias, conselhos de viajantes profissionais e tudo o que precisa de saber para que as suas viagens corram bem. Em viagem, informação é poder.
CORBIS
POR RICARDO SANTOS | RICARDO.SANTOS@GLOBALMEDIAGROUP.PT
mundo
T
Cinco cuidados de saúde para uma viagem longa
em pela frente mais de meia dúzia de horas num avião? Avie-se em terra. Tome nota de alguns cuidados básicos para a sua saúde e bem-estar.
e Se tem medo de voar ou quer aproveitar a viagem para descansar, avie uma receita de comprimidos para dormir. Ou opte por VOLTA AO MUNDO
calmantes naturais e homeopáticos. Não se esqueça de os tomar antes de entrar no avião. E bons sonhos. r Evite beber café, comer pratos demasiado gordurosos e salgados no dia anterior à viagem. Beba muita água para que o corpo não desidrate. E mantenha esse hábito durante todo o voo. Um
quarto de litro por hora é o recomendado. t Mude o relógio de pulso ou do telemóvel para o fuso horário do seu destino. Pode até parecer estranho, mas vai ver que a adaptação será muito mais fácil. u Saia de casa de cara lavada. Isto é, além do duche, opte por um hidratante com efeito antio-
xidante. Se o voo for de mais de oito horas, faça-se acompanhar de toalhetes refrescantes para usar a meio do caminho. Um óleo facial também não fica mal. i Antes de desembarcar, saque do batôn de cor garrida. Todas as atenções estarão nos lábios e não na face desidratada ou nas olheiras acentuadas. 107
Em Viagem
De 18 de setembro a 31 de outubro, vai decorrer, em Inglaterra, o Mundial de Râguebi. A Nova Zelândia defende o título.
CORBIS
Canal aberto
Parceiro de viagem
A Avis lançou o serviço Travel Partner. E a sua vida nunca mais será a mesma. Todas as horas do dia, todos os dias da semana. É isso que promete a Avis com o seu novo serviço Travel Partner. Por 15 euros ao dia, as suas viagens ao Reino Unido, França, Alemanha e Itália têm tudo para correr ainda melhor - para já são estes os países abrangidos pela novidade. A ferramenta está disponível para reserva online, via app da Avis, através do call center da marca ou por intermédio do funcionário no ponto de recolha do veículo. E quais as vantagens? Aqui vão elas:
b BAGAGEM PERDIDA
b TELEMÓVEIS E TABLETS
b INFORMAÇÕES
Um problema que já bateu a muitas portas. A Avis dá-lhe assistência para reclamar e localizar a mala extraviada. E faz um ponto de situação duas vezes por dia acerca do paradeiro.
Declare a perda e bloqueie o dispositivo com um profissional por perto. De preferência pela net.
Contactos e moradas para que a sua viagem seja mais proveitosa.
b CARTÃO DE CRÉDITO Ficou sem dinheiro de plástico? Seja por distração ou por furto, o Travel Partner ajuda a decidir o que fazer. Cancelar o cartão, por exemplo, é a opção mais acertada. Fale com quem sabe do assunto. 108
b TRADUTOR b PASSAPORTE É o documento mais importante em qualquer viagem e perdê-lo pode ser um revés bastante grave. A Avis providencia o contacto telefónico, morada e horários da embaixada ou consulado mais próximo, bem como o apoio necessário durante o processo de emissão do novo documento.
O Travel Partner providencia tradução para um considerável número de línguas a partir de inglês, francês, italiano e alemão.
b HORÁRIOS Informação na hora, com dicas de tempo disponível para compras até chegar à porta de embarque.
No início de agosto, o presidente egípcio Abdel Fattah El-Sisi inaugurou o novo canal de Suez. Foi a 6 de agosto e a cerimónia contou com alguns dos principais líderes mundiais. Na realidade é uma expansão da mediática via que já existia. Levou um ano a ser terminado e vai permitir pela primeira vez tráfego simultâneo, nos dois sentidos, nesta via com cerca de 150 anos de existência. A previsão de receitas é alta: 10,9 mil milhões de euros por ano em 2023. O aumento de tráfego será de 50% nesse mesmo ano, passando o volume de 49 para 97 embarcações por dia. E quanto ao tempo de navegação na via sul, será reduzido para oito horas. Não foi fácil aqui chegar, mas graças ao esforço de 43 mil trabalhadores, 250 milhões de metros cúbicos de solo foram escavados para a criação desta via com 35 quilómetros de comprimento e 24 metros de profundidade. Agora é ainda mais fácil passar do Mediterrâneo para o mar Vermelho. E vice-versa.
Saiba mais em avis.com
VOLTA AO MUNDO
Alugue um castelo e faça a festa A Guerra dos Tronos já vai na quarta temporada e o número de fãs não para de aumentar em todo o mundo, Portugal incluído, claro. Por isso mesmo, a HomeAway, uma das principais empresas de arrendamento de alojamento online (homeaway.pt) escolheu quatro castelos que fazem lembrar as paisagens, as intrigas e a ação desta série premiada. Há luxo francês, uma ilha em Itália, uma torre na Irlanda ou uma fortaleza medieval em Malta. E estão todos disponíveis para as suas próximas férias. A saber:
Castelo em Ischia
I TÁ L I A homeaway.pt/arrendamento-ferias/p2354303
É conhecido como o antigo Castelo Aragonês e é considerado o mais impressionante monumento desta zona de Itália. Localiza-se numa ilha e no interior há igrejas, pátios, ruas antigas, terraços e arcadas com vista sobre o mar. A partir de 2200 euros por noite e capacidade para quatro pessoas.
Castelo de Challain
FRANÇA homeaway.pt/arrendamento-ferias/p230230
A decoração é do século xix, mas não faltam as modernidades dos nossos dias. Pode alojar até 30 pessoas (2500 euros por noite) e cada suite é uma experiência memorável. O lago e os jardins ajudam à festa.
Castelo em Malta
M A LTA homeaway.pt/arrendamento-ferias/p402770
Tem capacidade para 14 pessoas, uma piscina e está rodeado por um jardim de cinco hectares com pomares, hortas e plantas exóticas. A cidade de Zurrieq está a menos de um quilómetro. Preço sob consulta.
Castelo de Ballyhannon
I R LAN DA homeaway.pt/arrendamento-ferias/p425851vb
Construído no século xv, mantém a arquitetura e o encanto da herança celta. Pode receber até 25 hóspedes e tem todo o conforto do século xxi. A partir de 714 euros por noite. VOLTA AO MUNDO
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Em Viagem
A Mastercard e a Samsung criaram o MasterCard Digital Enablement Service. Objetivo: disponibilizar o Samsung Pay na Europa. Pague tudo sem preocupações.
CORPO SÃO
MOSCOVO
ESTREITO DE BERING
LONDRES
NOVA IORQUE
Petiscos para quem viaja
Manter-se saudável com tanta viagem pelo meio nem sempre é fácil. Aqueles de nós que andam sempre de um lado para outro entre estações de comboio ou de autocarros, aeroportos ou autoestradas, já sabem que não é fácil encontrar o alimento correto para uma refeição rápida e ligeira. Esqueça as barras de chocolate e os pacotes de batata frita, as sanduíches embaladas e os refrigerantes carregados de açúcar. Ora tome nota:
OVOS COZIDOS „„„„„„„„„„„
Têm proteína e nutrientes preciosos e servem de lanche entre viagens. Estão disponíveis em alguns snack bars, mas não perde nada se os levar de casa. Dão aquela energia suplementar de que vai precisar para chegar a horas ao embarque.
FRUTOS SECOS „„„„„„„„„„„
É bom tê-los sempre à mão. Fornecem proteína e gorduras essenciais à sua dieta, além de darem uma mãozinha à atividade cerebral. Isto se não sofrer de alergia, claro.
FRUTA „„„„„„„„„„„
Quando o cansaço chega e a falta de açúcar se faz sentir, recorra a uma peça de fruta e esqueça os bolos e guloseimas. Se a juntar aos frutos secos, os resultados serão ainda melhores.
CEREAIS OU MUESLI „„„„„„„
Com canela, frutos secos e fruta. Hidratos de carbono, gordura e proteína para o dia inteiro. Aconselhável ao pequeno-almoço. E se beber um café acrescente também um pouco de canela para energia rápida.
CHÁS FRIOS „„„„„„„„„„„
E sem açúcar. Têm poucas calorias, são excitantes naturais e refrescam. Se os preparar em casa ainda têm a vantagem de ser económicos.
SUMOS NATURAIS „„„„„„„„„„
Vitaminas, minerais e antioxidantes, tudo na mesma dose. Ideais para o sistema imunitário e para reduzir os níveis de stress e ansiedade. 110
Um supercomboio MUITA TERRA Já lhe passou pela ideia que um destes dias poderá viajar de Londres para Nova Iorque de comboio? E até de automóvel? Não é impossível e já há projeto para esta ligação entre Europa e América. A ideia foi apresentada pela Trans-Eurasian Belt Development que planeia construir uma autoestrada e ligação de comboio de alta velocidade através da Sibéria, passando o estreito de Bering para o Alasca. Claro que o objetivo não é o transporte de passageiros, mas sim de mercadorias e a instalação de gasodutos e oleodutos entre os dois continentes e destes para o resto do mundo. O estado norte-americano do Alasca já está ligado aos EUA através de uma autoestrada que atravessa o Canadá, por isso parte do trabalho está feito. E a União Europeia já tem planos para criar um corredor de alta velocidade entre os estados do Báltico e a Europa Ocidental e do Sul, passando também pelo canal da Mancha. Se a isto juntarmos a hipótese cada vez mais plausível de haver uma ligação de comboio entre Moscovo e Pequim também ela de alta velocidade, não faltará muito até que América, Europa e Ásia estejam novamente ligadas – um novo Pangeia mas já com a deriva continental assumida.
viajar de ouvido Guia expresso de estilos musicais para destinos de viagem
O som de
BRISTOL
Propriedade da Global Notícias, Publicações, SA Redação: Avenida da Liberdade, 266 (Ed. Diário de Notícias), 1250-149 Lisboa - Tel.: 213 187 500 Sede: Rua Gonçalo Cristóvão, 195 – 4049-011 Porto; Tel.: 222 096 111; Fax: 222 006 330
DIRETORA Catarina Carvalho DIRETOR DE ARTE Rui Leitão EDITOR Ricardo Santos PRODUTORA Cláudia Carvalho
DESIGN Pedro Botelho, diretor adjunto, Miguel Vieira, coordenador,
Ana Faleiro, Carla Maria Oliveira e Rute Cruz.
FOTOGRAFIA Fernando Marques COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Bárbara Alves, João Ferreira Oliveira, João Mestre,
H
á quem lhe chame trip hop, estilo eletrónico que, nos anos 1990, fundiu elementos de hip hop, jazz, funk e soul com ritmos down tempo e ambientes tórpidos. O som vinha de todos os lados - Islândia, Noruega, Reino Unido, EUA, Japão - mas nenhum outro sítio pode reclamar tamanha responsabilidade «parental» como Bristol. A cidade reunia forte cultura urbana underground, multiculturalidade e espírito subversivo enraizado como reação a um passado esclavagista. Massive Attack, Portishead e Tricky foram os porta-estandartes. O trip hop tornou-se banda sonora para públicos alternativos do post-grunge. Hoje é inegável inspiração para a pop. POR JOÃO MESTRE
TRÊS DISCOS ESSENCIAIS
José Luís Peixoto, José Manuel Diogo, Leonídio Paulo Ferreira, Nuno Mota Gomes, Paulo Salvador, Valentina Marcelino (texto), Jorge Amaral, Leonardo Negrão, Orlando Almeida (fotografia), Lília Gomes (design) Helena Ferreira e Rita Bento (copy desk). ASSISTENTE EDITORIAL Madalena Marques Pinto COPY DESK Elsa Rocha, coordenadora, Ângela Pereira e Nuno Carvalho DIREÇÃO DE QUALIDADE Diogo Gonçalves , diretor, Nuno Espada e Pedro Nunes. DIREÇÃO DE PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO António Carvalho, diretor (ajose@globalmediagroup.pt) Produção: Jaime Mota, João Pires, José Gonçalves e Juvenal Carvalho Distribuição: André Nunes, Martinho Ferreira, Paula Guerreiro e Raul Tavares diretor adjunto MARKETING E COMUNICAÇÃO Bruno Patrão, diretor Joana Machado, diretora adjunta (marketing.nm@globalmediagroup.pt)
DIRECTOR GERAL COMERCIAL Luís Ferreira DIREÇÃO COMERCIAL Paulo Pereira da Silva,
Susana Azevedo (Lisboa), Vítor Cunha (Porto)
PUBLICIDADE Lisboa:
Sandra Morgado
(sandra.morgado@globalmediagroup.pt) Vera Peres, diretora de contas (vera.peres@globalmediagroup.pt). Tel.: 213 187 3 75 Porto: Cristina V. Carvalho, gestora de conta (cristina.v.carvalho@globalmediagroup.pt), Tel.: 222 096 210
Blue Lines MASSIVE ATTACK { 1991 } É unanimemente considerado a obra fundadora do trip hop. Muito antes do sucesso à escala planetária do single Teardrop, o trio de Bristol pavimentava o caminho com um disco hipnótico, soturno, sensual. O cinematográfico One Love, na voz da lenda do reggae Horace Andy, é um dos pontos altos, assim como Unfinished Sympathy, hoje um clássico da música de dança. VOLTA AO MUNDO
Portishead PORTISHEAD { 1997 } No primeiro disco, usaram e abusaram da estética film noir, da voz de diva torturada de Beth Gibbons e dos ambientes que puxam o ouvinte para o abismo. Neste segundo capítulo, os Portishead (aviso à navegação: lê-se com espaço entre «Portis» e «head») cavou um abismo ainda mais fundo, mais envolvente. Cowboys e All Me Mine são duas das canções que resistem com distinção ao teste do tempo.
Maxinquaye TRICKY { 1995 } Após a colaboração nos primeiros dois álbuns dos Massive Attack, Adrian Tricky Thaws decidiu que estava na hora de trilhar o seu próprio caminho. O primeiro resultado traduziu-se num disco misterioso, intenso, desprendido, que se balança entre a electronica, a pop e o rock alternativo, de onde salta à audição a voz da sua namorada de então, uma muito jovem (e ainda desconhecida) Martina Topley-Bird.
Registada na Conservatória Comercial do Porto sob o n.º de identificação de pessoa coletiva 500 096 791. Capital social: €6.334.285. Sede: Rua Gonçalo Cristóvão, 195 – 4049-011 Porto; Tel.: 222 096 111; Fax: 222 006 330 Filial: Avenida da Liberdade, n.º 266 (Ed. Diário de Notícias), 1250-149 LISBOA Tel.: 213 187 500; Fax: 213 187 506
GLOBAL NOTÍCIAS, Publicações, S.A.: Conselho de Administração: Daniel Proença de Carvalho (Presidente) Vítor Ribeiro, José Carlos Lourenço, Pedro Coimbra, Rolando Oliveira, Luis Montez e Jorge Carreira (administradores) Detentores com mais de 10% do capital social: Global Notícias-Media Group, S.A Impressão e acabamento: Lisgráfica, S.A. – Estrada Consiglieri Pedroso, Casal de Santa Leopoldina, 2745-553 Barcarena. Embalagem, circulação e distribuição porta a porta: Notícias Direct – Tel.: 219 249 988. Distribuição em Portugal: Vasp.
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INTERDITA A REPRODUÇÃO DE TEXTOS E IMAGENS POR QUAISQUER MEIOS. TIRAGEM DESTE NÚMERO: 11.830
Grémio Geográphico
Mundos imaginários, bizarrias geográficas e outras curiosidades de bolso. Por João Mestre
OCEANO ATLÂNTICO
LE SAUGEAIS
joao.mestre@globalmediagroup.pt
lupa geográphica
A anedota fundadora LE SAUGEAIS 46° 59’ 33.58”, 6° 27’ 42.35”
N atlas imaginário
Ilha Tracy
Arquitetura hitech, cenário de postal, localização desconhecida, zero multidões. O sítio perfeito para umas férias no paraíso. Ou para o quartel-general de uma megaforça que quer salvar o mundo.
É
uma pequena ilha vulcânica de aspeto paradisíaco, dominada por uma montanha rochosa. Encosta acima, anicham-se vários edifícios retrofuturistas com amplas vistas para o mar. A localização é secreta; à partida, tudo leva a crer que fique no Pacífico Sul, mas isso é questionável – afinal, trata-se da sede ultrassecreta de uma força internacional de combate ao terrorismo, pelo que essa noção geográfica pode servir apenas para despistar ataques traiçoeiros. Há até fortes indícios nesse sentido. Desde logo, as palmeiras falsas, já que retraem para os lados, para revelar a pista secreta de descolagem do mega-avião de carga Thunderbird 2. Por outro lado, há uma apetecível piscina em forma de oito onde nunca se viu ninguém tomar banho –
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talvez por se tratar de uma plataforma deslizante que serve para esconder o silo de lançamento do avião-foguete Thunderbird 1; ou então, por a ilha não se situar na zona de clima tropical que nos querem fazer pensar, mas sim algures no Atlântico Norte. Até porque as missões que dali partem conseguem chegar a Inglaterra num par de horas, o que exigiria voar a 12 mil quilómetros/hora. Esclareça-se, a bem da ficção, que nada disto ainda aconteceu: será só daqui por meio século que o astronauta-milionário-bom-samaritano Jeff Tracy irá criar a International Rescue. E no ano 2065 tudo pode ser possível – incluindo aviões tripulados que atravessam meio planeta em pouco mais de uma hora.
Por essa altura, a ilha Tracy terá uma população de dez habitantes e, apesar de não estar aberta a visitantes, terá um monocarril que faz um tour dos hangares secretos esculpidos na rocha vulcânica, bem como quartos de hóspedes de arquitetura hitech e mesa sempre farta, preparada pelas mãos de fada da avozinha Tracy. A política de vistos não é clara, mas sabe-se que crianças travessas são potenciais convidados. O nosso planeta estará em boas mãos. Em 2015, a série de animação com marionetas Thunderbirds cumpre 50 anos – o primeiro episódio foi para o ar em setembro de 1965. Para assinalar a data, o canal ITV lançou o remake Thunderbirds Are Go, ainda sem data de estreia para Portugal.
o Leste de França há uma república especial, Saugeais, fundada com base numa graçola. O responsável: Georges Pourchet, dono de um restaurante na capital Montbenoît. Em 1947 recebeu a visita do prefeito de Doubs e interrogou-o sobre o visto para entrar em Saugeais. O político alinhou na brincadeira e Pourchet, de tão convincente, foi declarado presidente da república. Saugeais existira no século xii, em terras doadas para construção de uma abadia. Vieram colonos da Saboia, com sua cultura, dialeto e tradições. Em 1199, uma bula papal reconheceu a independência do território. Daí até à piada fundadora não houve história. A abadia está lá, é um dos atrativos, a par das paisagens e dos queijos. Os 5 mil habitantes vivem em paz com o facto de serem franceses e não estão interessados na independência. Orgulhosos da dupla nacionalidade e defensores da sua terra, referem no hino nacional que podem pegar fogo aos suecos (que invadiram em 1639) se estes lá voltarem a aparecer.
VOLTA AO MUNDO
! para o esquecimento e mais além
o mundo é um estranho lugar
David Melgueiro
É TRUTA OU CHOCOLATE?
Navegador(?-1673?)
W
illem Barentsz tentou três vezes e morreu a tentar. Vitus Bering também se aventurou e de igual modo ficou pelo caminho. O primeiro tem um mar batizado em sua honra. E o outro ficou com o nome perpetuado no estreito que separa a Ásia da América. A David Melgueiro restou-lhe uma rua secundária
em Lisboa. Quando ele, segundo consta, tentou e conseguiu: em 1660, terá cruzado o oceano Ártico pela Passagem Nordeste, feito inédito por esses tempos. A primeira travessia documentada da rota que liga o Norte da Europa ao Pacífico foi feita pelo nórdico Adolf Nordeskiöld, em 1879. Sublinhe-se o pormenor «documentada»: é que sobre a viagem de Melgueiro (e sobre o próprio) pouco se sabe. Aquilo que circula foi transmitido por um marinheiro de Le Havre que o acompanhou até à morte. Este terá contado a aventura ao diplomata francês Signeur de la Madelène, estacionado no Porto com o objetivo de espiar os avanços náuticos portugueses. E o diplomata terá sido assassinado quando regressava a França para entregar as novidades em mão. É certo que tudo tresanda a teoria da conspiração, mas a história
apresenta detalhes de plausibilidade, nomeadamente o secretismo que envolvia qualquer nova descoberta e o facto de se ter tratado de um ano anormalmente quente no Ártico. Diz a história (ou a lenda) que o capitão Melgueiro, ao serviço da marinha holandesa, terá saído do porto japonês de Kagoshima, ao comando do navio Padre Eterno, carregado de especiarias, riquezas e passageiros. Ciente dos perigos dos mares do Sul (piratas e armadas inimigas), o português voltou costas à Rota do Cabo e navegou pelos mares nunca dantes navegados do Norte. Após a travessia do estreito de Bering, terá avistado as ilhas Svalbard e daí descido para o Atlântico. Fez escala na Holanda e, noutro navio, seguiu para Portugal, tendo concluído a viagem no Porto, sua cidade natal e última morada. Um homem do Norte, só podia.
Limão, chocolate, morango. Dizem os entendidos que a qualidade de uma geladaria se mede por estes três sabores clássicos. Não faltarão, decerto, na carta da Geladaria Coromoto, mas não é a eles que a casa de Santiago de los Caballeros, na Venezuela, deve a fama internacional. O total de sabores difere consoante a fonte, mas a verdade andará algures entre os 600 e os 900, coisa para o Guinness certificar como a maior do mundo. Na hora de criar tantos gelados diferentes, o emigrante português Manuel da Silva Oliveira teve de inventar um pouco. Aliás, muito: truta fumada, salsicha, cerveja, alho, courato e sardinha são algumas das variedades, disponíveis consoante a época. O maior sucesso? Há muitos, mas diz-se que o gelado de atum com pedaços é de comer e chorar – por mais ou por «nunca mais!», depende do cliente.
* As imagens estavam disponíveis online na altura em que a recolha foi feita. Ao atualizar os mapas, a Google poderá, eventualmente, retirá-las de linha.
E agora...
5 descobertas curiosas no Google Maps*
eA SUB-SUB-SUB-
r CEMITÉRIO DE AVIÕES, EUA
t O COELHO GIGANTE, ITÁLIA
u UM BARCO NA CIDADE, HONG KONG
i POR FIM, O WALLY,
-ILHA, CANADÁ 69°47’33”N 108°14’28”W
32°08’60”N 110°50’09”W
44°14’40”N 7°46’10”E
22°18’15”N 114°11’24”E
51°13’57”N 4°24’42”E
Uma ilha num lago, dentro de uma outra ilha, num outro lago, que por sua vez fica na ártica Victoria Island - matrioska da limnologia (ciência que estuda lagos).
A Base da Força Aérea de Davis-Monthan, em Tucson (Arizona), é um gigantesco cemitério de aviões. São mais de quatro mil aeronaves reformadas.
Media mais de 60 metros este coelho cor-de-rosa, obra do coletivo vienense Gelitin. Levou cinco anos a fazer nos arredores da estância de esqui de Artesina. Já lá não está.
Foi construído para parecer um iate de 90 metros encalhado entre prédios. O The Whampoa é um centro comercial de trezentas lojas em Kowloon.
Levou anos, mas cá está ele. A personagem criada por Martin Handford foi replicada no pátio de uma escola de Antuérpia, por iniciativa de uma professora e dos alunos.
VOLTA AO MUNDO
BÉLGICA
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Última Chamada
No próximo mês
RUI OLIVEIRA
viajamos até ao futuro. Não são necessários anos-luz nem teletransporte. Basta uma curta viagem de avião para termos um vislumbre daquilo que nos espera. Venha connosco.
CORPORATE EXPERIENCE
Em pleno campo Alentejano, perto das mais belas praias do país, são 81 hectares de Natureza na Rota Vicentina, próximo da Zambujeira do Mar e de Vila Nova de Milfontes, o local ideal para realizar todo o tipo de eventos de uma forma diferente e original. Atreva-se a voar mais alto e surpreenda a sua Empresa!
Sudoeste Alentejano comercial@zmar.eu • Tel.: 283 690 010
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