A ponte do Guaíba
A ponte do Guaíba
Porto Alegre, Brasil
A Ponte do GuaĂba Porto Alegre, Brasil
Copyright © 2007 by Marcos Carrilho Arquitetos
A ponte do Guaíba / Coordenação editorial Maria Cristina Wolff de Carvalho ; editoria Beatriz Blay, Maria Cristina Wolff de Carvalho. São Paulo : M. Carrilho Arquitetos, 2007. 96 p. ISBN 978-85-60897-00-1 1. Pontes em concreto protendido. 2. Pontes móveis. 3. Engenharia - história. 4. Arquitetura - história. I. Carvalho, Maria Cristina Wolff de. II. Blay, Beatriz. CDU:624.21:693.56
Todos os direitos reservados a All rights reserved to Marcos Carrilho Arquitetos Ltda. Av. Higienópolis, 318, ap. 4, Higienópolis 01238-000, São Paulo, SP, Brasil Tel.: + 55 11 3666 5519 e-mail: carrilho@terra.com.br Printed in Brazil Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização, por escrito, da editora e dos autores. All rights reserved and protected by Law 9 610 of Feb. 19th 1998. No part of this publication may be reproduced without permission in writing from the publisher and authors.
Sumรกrio 4
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Apresentação
Apresentação
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Apresentação
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Com esta edição comemorativa dos dez anos da Concepa –
De um lado, as rampas conduzem ao anel de acesso às pon-
Concessionária da Rodovia Osório-Porto Alegre, o Instituto Sócio-
tes que, em suave aclive de vias entrelaçadas, alcançam o nível da
cultural TPI, vinculado ao Grupo Triunfo, quer homenagear o Rio
estrada sobre o canal Navegantes. Essas vias-rampas são susten-
Grande do Sul e o Brasil. Ao escolher o tema, preparamo-nos tam-
tadas por elegantes pilares de seção circular dispostos em ritmo
bém para o início das comemorações dos 50 anos desta que foi,
contínuo e regular.
desde o primeiro momento, um símbolo da identidade gaúcha: a ponte do Guaíba.
A seguir, a ponte prossegue sobre aquele canal, com extensão de 777 metros, apoiada sobre uma seqüência de pilares oblongos
Monumentalidade, estética, criatividade, funcionalidade e
duplos de cantos arredondados, engastados sobre uma base única.
adequação ao ambiente foram os critérios que pautaram a esco-
A ponte móvel, nos seus 50 metros, é parcialmente contida logo no
lha do projeto vencedor para a travessia do Guaíba 50 anos atrás.
início desse trecho, e seu vão conserva e acentua a linguagem dos
E a harmonia do conjunto torna-se clara seja quando a percor-
pilares duplos.
remos, seja na leitura dos memoriais de projeto ou, ainda, quan-
A travessia continua no rumo da ilha do Pavão e, próximo
do observamos atentamente as imagens deste livro. Ela é, sem
às margens desta, os pilares que sustentam a ponte se subdivi-
dúvida, a materialização do ideário moderno nas suas refinadas
dem repetindo, dois a dois, o espaçamento rigoroso já assinalado.
linhas e sofisticada tecnologia.
Atinge-se, então, o trecho do canal Furado Grande. Essa pequena
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A Ponte do Guaíba
Apresentação
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travessia, assim como as que se seguem, foi duplicada com uma
Conquistada a ilha das Flores, temos a preparação para os
ponte que não levou em consideração a elegância de sua prece-
compridos 1.756 metros da última ponte, sobre o canal Jacuí. Em se
dente. A observação atenta deixa claro o contraste com o projeto
tratando de trecho navegável com extensão duas vezes maior do que
original cuja seqüência prossegue repetindo a mesma forma do
o primeiro, Navegantes, aqui não há necessidade de ponte móvel. A
trecho anterior: ponte sustentada por pilares oblongos de cantos
solução é simples e direta. A estrada, ainda na ilha das Flores, gra-
arredondados, aqui colocados em seqüência, um a um.
dualmente se ergue sobre os pilares circulares, os quais, ao deixarem
E alcançamos a ilha Grande dos Marinheiros que, uma vez
a margem, dão lugar aos pilares oblongos. Sobre o Jacuí, eles estão
transposta, conduz ao canal Três Rios. Esse segmento, bem mais
espaçados a cada 50 metros e atingem 20 metros de altura. Se a subi-
longo do que o anterior, foi vencido com a via sustentada pelas
da é quase imperceptível, a chegada em arco ao outro lado é abrupta,
colunas de seção circular que retornam em duplas, ecoando,
reduzida a uma seqüência de colunas de pouca altura. O efeito, no
assim, a passagem pelo canal Navegantes. Aqui o ritmo contínuo
entanto, é surpreendente: aqui, termina essa travessia.
da seqüência de pilares só é interrompido na proximidade das
Além de sua função essencial no sistema de saída e circula-
margens. A altura da ponte é contínua e, como se trata de trecho
ção a partir de Porto Alegre, essa obra, em si, possui alto significado
não navegável, muito baixa. Sua marcante horizontalidade dese-
simbólico. A Concepa, como empresa concessionária responsável
nha um risco na paisagem do grande espelho d’água.
por mantê-la e assegurar seu papel como meio de circulação, tem
consciência, também, de sua responsabilidade na manutenção
onde fica emoldurado pelos morros, compondo uma bela
e conservação de um monumento de inestimável valor cultural.
cena que parece ser de uma natureza ancestral e que con-
Nessa dupla dimensão está o seu compromisso, um compromis-
trasta, no lado esquerdo, com o skyline da ameaçadora cidade.
so do qual não se afasta. E é também com essa perspectiva que
Seria ela, agora, a ponte da sustentabilidade?”
lembramos a apropriada reflexão do professor Rualdo Menegat, ao observar as belas tomadas aéreas de Eduardo Aigner:
Obrigado a todos e boa travessia!
“A imagem muda o cartão postal: construída para ser obra de arte, e sempre fotografada do solo, eis que, agora, a cinqüentenária ponte fica mais bela ainda porque emoldurada
Odenir Sanches,
pela paisagem de seu entorno. Passados 50 anos, saímos do
presidente da Concepa
ufanismo tecnicista de uma nação agrária que queria ser industrial e passamos para uma nação que quer reencontrar
Carlo Alberto Bottarelli,
a beleza de sua paisagem. A ponte do Guaíba fez aumentar
presidente da TPI
a ocupação humana nas ilhas, mas ainda podemos respirar o verde do delta que se esparrama para o fundo da imagem
Porto Alegre, julho de 2007.
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A Ponte do Guaíba
Introdução à Psicanálise dos Monumentos Públicos Pontes Móveis
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por JORGE FURTADO
Os moradores do Rio de Janeiro que, no dia 8 de julho de 1896,
causa. “Ao filmar em Paris, enquadre a Torre Eiffel.” O sábio con-
pagaram mil réis para entrar numa sala da Rua do Ouvidor e ver
selho é de Alfred Hitchcock.
pela primeira vez as ruas de Paris, com seus personagens e carros
Cada cidade tem um espírito próprio, uma alma feita de
em movimento, mudaram sua maneira de pensar o mundo. No
arquitetura, sons, história, sotaques, genética, culinária e lumi-
início do século XX, a “magnífica impressão de vida real” provoca-
nosidade. O calor labiríntico de Nova York é totalmente diferente
da pelo cinema passou a ser a nova plataforma de lançamento de
do calor boca de forno de Cuiabá, embora a temperatura seja a
nossa imaginação.
mesma, e as pimentas do México e de Salvador causam diferen-
O cenário vivo talvez seja o personagem principal do cinema.
tes sensações e problemas, mas temperatura e sabor são infil-
Foi a capacidade técnica de saltar de Paris para Nova York e daí
máveis. Resta aos cineastas os atributos das imagens e dos sons.
para o interior das selvas africanas, em segundos, o maior atrativo
Tipos humanos são móveis, sons e luzes podem ser simulados e
para quem pretendia fazer do cinema uma arte dramática, e não
mesmo a arquitetura urbana tende a se repetir. É possível filmar
uma simples atração de circo. Quem já tentou mudar uma cena
em Havana uma história que se passa em Salvador, Tóquio dá
do Egito para Roma sobre um palco, como fez Shakespeare em
para enganar filmando em São Paulo, Lisboa e o Rio têm algumas
“Antônio e Cleópatra”, sabe o tamanho da encrenca. Entrou para o
esquinas quase idênticas, mas a Torre Eiffel ao fundo não deixa
folclore local a história da equipe de uma agência de publicidade
dúvidas: estamos em Paris.
– cerca de 15 pessoas – que, no início dos anos 80, foi a Barcelona
Para que alguns monumentos ou grandes construções públi-
filmar uma campanha de televisão e voltou de lá com algumas
cas tornem-se imagens referenciais de uma cidade, eles precisam
horas de material, tudo em close. Foram demitidos, com justa
preencher dois requisitos básicos. O primeiro é serem únicos:
11 A Ponte do Guaíba
pouca coisa consegue ser mais ridícula que a Estátua da Liberdade
um bom ícone do gaúcho, mas não tenho visto muita gente de
que enfeita um shopping na Barra da Tijuca. O segundo é, de algu-
laço e esporas pelas calçadas da cidade.
ma maneira, corresponderem ao espírito da cidade. Haverá quem
Nossa ponte é única, inconfundível e, melhor para quem
diga, não sem razão, que o símbolo de Nova York deveria ser um
filma, móvel. Talvez ela também confirme algo do espírito porto-
táxi amarelo dirigido por um paquistanês irado, mas também é
alegrense. Seus quatro grandes pilares cravados no rio não têm
fato que a Estátua da Liberdade responde à vocação democrática
adornos nem função decorativa, mas mantêm certa leveza pelas
e à pretensão cosmopolita da cidade, assim como a rigidez e a lim-
formas curvas das paredes externas. As escadas em balanço, a
peza da Alexanderplatz são a cara de Berlim, a Igreja da Sagrada
forma circular da casa de controle das máquinas, as amplas cur-
Família é uma maluquice brilhante só possível em Barcelona, o
vas das vias de acesso, dão ao conjunto da obra uma sensação de
Big Ben nos lembra a austera sofisticação londrina e nada mais
futuro do passado, o mesmo tempo verbal dos cenários dos Jetsons
carioca que um Cristo sem sua cruz, pronto a abraçar quem chega
ou Flash Gordon. Nossa ponte não tem aquele belo emaranhado
e a convidar para tomar um chopp com batatinhas.
de cabos que sustentam a Golden Gate ou a ponte do Brooklyn.
E a nossa ponte? Não tenho dúvidas de que a ponte do Guaíba é imagem que deve estar em quadro para afirmar, num filme, que
Introdução à Psicanálise dos Monumentos Públicos
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Não tem porque não precisa, ela está firme no chão. Eficiente, útil, limpa, inteligente, simples. E, o melhor de tudo, móvel.
estamos em Porto Alegre. O Teatro São Pedro e a Casa de Cultura
Nunca fiquei sabendo (espero saber ao ler este livro) se a
Mário Quintana são bonitos, mas poderiam estar em qualquer
mobilidade da ponte foi decidida por questões de custo – talvez
lugar. O Laçador, linda escultura e finalmente bem localizada, é
fosse muito caro fazer a ponte mais alta, permitindo a passagem de
navios – ou por pura diversão de engenheiros animados. O fato é que
Estado. Recreacionistas com brindes e lanches tentavam con-
é a mobilidade da ponte que a faz ser única e tão cinematográfica.
vencer as crianças nos dois engarrafamentos a não enlouquecer
Quando escrevia o roteiro de “O Homem que Copiava”, meu primei-
seus pais. Usamos quatro câmeras e uma equipe de mais de cin-
ro longa porto-alegrense, lembrei do conselho de Hitchcock e fiz da
qüenta pessoas para cumprir o plano de filmagem em uma hora.
ponte um personagem da história. Ela não é apenas cenário, faz
Cumprimos, o que não nos impediu, quando finalmente libera-
parte da trama que, se a ponte não fosse móvel, teria outro final.
mos o trânsito e nos esprememos nas calçadas da ponte, de ouvir
A cena da ponte foi a mais difícil que já fiz. Gastamos quase um ano na preparação da filmagem, que começou com reuniões
de alguns motoristas menos interessados na produção cultural a sugestão “Vai trabalhar, vagabundo!”
sobre o melhor horário para interromper o trânsito, domingo,
Valeu a pena. Já filmei na ponte do Guaíba três vezes. Acho
meio dia. Tínhamos uma hora para filmar toda a seqüência, uma
que a nossa ponte fala de nós, habitantes dos limites do país,
perseguição sobre a ponte, em movimento, com um navio passan-
por ser ao mesmo tempo moderna e antiga, sólida e móvel,
do por baixo. A equipe precisou fazer exames médicos para saber
passagem e interdição. E se algum dia o flagelo vier do sul, na
se estava apta a subir nos pilares, estacas de concreto fincadas
forma de horda separatista, grupo musical adolescente ou exér-
na rocha do leito do rio que, para quem está lá em cima, parecem
cito invasor, a mui leal e valorosa cidade de Porto Alegre, nunca
oscilar como juncos ao vento. A produção teve que deixar um
conquistada, sempre poderá dificultar-lhe a tarefa simplesmen-
helicóptero esperando ao lado da ponte, pronto para transportar
te apertando um botão. Eles podem até nos vencer, mas vão ter
pacientes de ambulância que por acaso viessem da zona sul do
que molhar os pés.
13 A Ponte do Guaíba
“Caminante, no hay camino, se hace camino al andar” 1
No final da última glaciação, há 12 mil anos, chegam os primeiros habitantes ao sul da América. Vêm em pequenos bandos, coletando alimentos, pescando e caçando, com instrumentos de pedra e ossos. Acampam nas matas, às margens de rios e em abrigos de rocha. Com a estabilização do clima, 6 mil anos atrás, a vegetação se expande formando florestas nas encostas do planalto e matas nas bacias dos grandes rios. 1
Caminante, no hay camino – Poema. Antonio Machado. Sevilha: 1937.
Pontes Móveis
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por LUIZ ANTÔNIO BOLCATO CUSTÓDIO
Avançando nos campos acoxilhados, cobertos por vegetação rasteira e muitas pedras, rápidos como os minuanos, ancestrais dos jaros e charruas demarcam a pé as primeiras trilhas no ambiente marcado pela cordilheira do Jarau. De pedras de rio tiram suas tintas, nas rochas deixam inscrições. Noites muito escuras. Brilhos de estrelas, traços cadentes. Muitos sons: da coruja, das folhagens, do leão-baio, do gato-do-mato. Os caçadores de boleadeiras se reúnem em volta do fogo. Pouco a pouco, vão, a pé, abrindo atalhos. Atravessam estreitos, pelos campos dos Aparados, entremeados por matos verdes e escuros, florestas de grossos pinheirais. Ao anoitecer, piscam nuvens de vaga-lumes. Entre córregos lajeados, manhãs frias, geadas, dias de cerração. Sol alto, a água cai e se projeta como um véu no espaço, com névoa e arco-íris, rompendo o silêncio profundo. Nos abrigos circulares, semi-enterrados, cobertos por ramagens, artefatos de pedra lascada. Comem pinhões. ::1
Serpenteando pelo Planalto, o riacho despenca no degrau abrupto que racha o campo e se aprofunda no Itaimbé. Pedras
Por onde passam, nas várzeas das lagoas, bandos de garças.
altas, recobertas de verde, de musgos e liquens – tênues borbo-
Nos campos, linhas de figueiras com barba-de-pau contra azuis
letas e muitas aranhas. Embaixo, a correnteza segue, entre gran-
esfumaçados dos morros, altos. Além das coxilhas, das lombas de
des pedras, em quebradas que se abrem e se estreitam. Escoa
Viamão, se avistam cinco caminhos de água, que vêm das fraturas
e se esconde, com ronco subterrâneo, e logo reaparece. Depois
da encosta, em delta, e formam o grande lago – Guaíba. De mar-
de tanto andar, as paredes vão se afastando, diminuindo, o céu
rom barrento, encaracolado, trazendo aguapés, formam praias e
alargando, panorâmico. E uma areia grossa, morna, recobre as
enseadas, areias claras, ilhas de pedras arredondadas, com cobras.
margens, anunciando a grande praia.
Céu e água, no mar de dentro, como um espelho em chamas ao
As dunas de areias leves e claras, o mar cinza azul-escuro,
pôr-do-sol.
com ondas de rendas brancas, salgadas. No sambaqui, ficam
Depois das serras de granito e das coxilhas, nas áreas baixas
restos dos moluscos comidos, de ossos e conchas. Muito sol, ala-
e alagadiças, banhados com juncos e capivaras, nos canais e lago-
rido e pescarias. Na beira d’água, ergue-se imponente o grande
as. Montam seus acampamentos em aterros circulares – Cerritos.
bastião de pedra da serra, no mar – Torres. Dá para subir, olhar
O litoral, de praias rasas, albardões e cômoros de areia móveis,
longe, ver o sol nascer. No costão, a água bate nas pedras e vai
vento constante, em diagonal. No inverno, a bruma úmida e o
abrindo furnas.
frio cortante.
::2
15 A Ponte do Guaíba
Então, adentram, amazônicos, os guaranis. Com casas de
No Caaró, reação dos pajés – e caem os três primeiros san-
palha, famílias extensas, redes de dormir. Respeitam tuvichás e
tos mártires. Entram tropas de gado franqueiro e de cavalos, do
pajés. Agricultores de coivara plantam em clareiras nas florestas.
Paraguai. Criam estâncias em terras sem limites, mangueiras de
Queimam cerâmicas, fumam cachimbos e tomam mate, curtem
pedra. Formam-se as vacarias: “dos Pinhais”, nos Campos de Cima
sonhos em lua cheia. Circulam na paisagem, livres, vão pelo
da Serra, e “del Mar”, no litoral. Dos ervais nativos extraem erva-
Cruzeiro, na eterna busca da “terra sem males”, rumo ao sul.
mate – caá – e usam a cuia – caîguá – para sorver. Do ritual profano,
Vestindo negras sotainas e sandálias, trazem o breviário na
nativo, ao produto industrial missioneiro, exportando a tradição.
mão, determinados. Os missionários vão a pé, percorrendo as cristas
A redução se implanta como um castrum romano. Duas vias
dos morros, atravessando matas e rios. Roque Gonzáles, de Santa
principais cruzam o centro da praça, formam o grande “foro”. De
Cruz, da Companhia de Jesus, em 1626, atravessa o rio Uruguai e
um lado, a igreja e seu campanário. Dos outros, as casas dos índios,
entra no Tape – território espanhol, no porto seguro de Santo Isidro,
alpendradas. O cabildo – do conselho; o tambo – hospedagem; e o
lavrador, padroeiro dos agricultores. Na colina, se elevam a cruz, a
cotiguaçu – onde recolhem viúvas e mulheres com maridos ausen-
capela, o assentamento provisório. São Nicolau, primeira querência,
tes. Fontes e, por todo lado, símbolos e cruzes missioneiras. Na igreja, centro do barroco, requintados rituais. Missas fes-
redução da Banda Oriental, do rio Uruguai. A terra, vermelho mis-
tivas, orquestras, corais e muito incenso entre dourados retábulos
sioneiro – barro e pó –, contrasta com o verde intenso.
::3
repletos de santos, anjos, querubins e serafins. A grande praça, o palco das funções religiosas, cívicas e esportivas. Teatro sacro, procissões, jogos, entradas de visitantes, desfiles com roupagens especiais, decorações efêmeras, pássaros vivos e as punições. Muitos mitos – do tesouro, dos túneis – e lendas, como a da cobra grande... Pelo caminho, vão reunindo, convertendo, reduzindo índios, na “conquista espiritual”. Unindo veredas, portos de rios, pontilhões, formando a rede: a cultura européia, recém-chegada, e a nativa, que sempre esteve. Pelo Atlântico, os portugueses avançam para o sul e criam a Colônia do Santíssimo Sacramento, cidadela portuguesa no Rio da Prata, em terras espanholas – 1680. Inacessível por terra, foi apoiada por Laguna, o último assentamento luso. Depois, só havia o extenso, reto e raso litoral, a praia com cômoros que encobriam a barra de Rio Grande – única entrada para o “Continente”2. ::4
“Caminante, no hay camino, se hace camino al andar”
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2
Érico Veríssimo, O continente, 1949.
Era preciso abrir estrada, explorar, ligar Colônia com o Brasil. Nos campos povoados por gado e índios, as incursões bandeirantes – paulistas – buscavam braços missioneiros. Não se fixavam no território. Domingos da Filgueira foi de Colônia a Laguna, em 1703, pelo litoral, margeando as cristalinas águas da Mirim. Atravessou a perigosa barra do Rio Grande e descreveu o primeiro caminho, o “da Praia”, considerado mais seguro por menos povoado de índios. Registrou, inclusive, com quantos paus se fazia uma canoa: “Roteiro por onde se deve governar quem sair por terra da colônia de Sacramento para o Rio de Janeiro ou Vila de Santos: saindo da povoação da colônia, se buscará o caminho do Norte, que por vinte e três dias se seguirá, e andarão dois a dois com as espingardas sempre na mão e prontas por causa das onças, passando a noite em quartos e cuidadosa vigia com fogo ao pé [...] Em todo este caminho é conveniente não
::5
::6
penetrar o mato mais do que para apanhar caça, e pela praia
O segundo foi o caminho “dos Conventos” – aberto por
se pesca na roda da maré, metendo pela água até ao joelho,
Francisco de Sousa Faria, em 1728. Ia pela serra, partindo de
ou botando linha com isca de marisco, que se tem na beira da
Araranguá, chegando a Lages. E o terceiro, o do tropeiro Cristóvão
praia, levantando-se a areia até aprofundar um palmo, e com
Pereira de Abreu, mais curto. Partia dos campos “de Viamão” para
o que daí tira cai muito peixe [...]
os campos “das Vacarias”, cruzando o rio Pelotas. Saiu de Colônia
[...] De Castilhos até o Rio Grande se gastam quinze dias, e
com oitocentos animais – cavalos e mulas – e foi abrindo cami-
tanto que se tiverem andado três ou quatro de Castilhos, se
nho, usando sinuelos – dando rumo à tropa –, lançando pontes,
: : 4 Litoral sul.
avista um lago que vai costeando a costa e vai fazer barra no
costurando o território.
: : 5 Guarita, Torres.
rio Grande [...] Neste ponto é necessário passar em jangada,
Era preciso povoar, ocupar as terras da Capitania de São
que se há de fazer em ocasião de reponta da maré. E a janga-
Pedro do Rio Grande do Sul. Cristóvão Pereira de Abreu, vaqueano,
da se fará de espinho branco pela forma seguinte: buscar-se-
fez o reconhecimento, em 1737, da famosa barra. José da Silva Pais
á por aquele mato madeira de espinho seca para as estivas
ficou em Laguna, com a frota de apoio, esperando ordens para
que se juntarão, e os três paus para a estiva pouco importa
avançar. Entraram sem dificuldades e instalaram o primeiro pre-
: : 1 Lavras do Sul. : : 2 Itaimbezinho, Cambará do Sul. : : 3 Plano da praça da Colônia do Sacramento. 1762. George de Bois St. Lys. Gravura. Pernetty, 1770, 2, XV.
: : 6 Mapa do terreno que se estende da Vila do Rio Grande de São Pedro até o distrito de Viamão. José Custódio de Sá Faria. 1763.
que sejam verdes. Hão de estes ter quinze até dezoito palmos de comprimento, far-lhe-ão duas faces, uma para baixo, outra para cima [...]”3
3
Manuel E. Fernandes Bastos, “A estrada da Laguna ao Rio Grande: sua importância histórica, relacionada com a fundação do Rio Grande e o povoamento do Sul”, 1937.
17 A Ponte do Guaíba
sídio, o Forte Jesus, Maria e José e o Regimento de Dragões. Depois, construíram outros fortins e baterias para defesa nos dois lados do canal. Logo foi criada, no Norte, a estância Real de Bojuru. Eles vinham pelo gado alçado, deixado pelos espanhóis, em campos e invernadas. Percorriam trilhas indígenas, formando caminhos pioneiros em busca de couro e sebo para indústria, de cavalos e mulas para transporte. Aos poucos os seus antigos pousos e os registros – postos de cobrança de impostos – foram se transformando em vilas e cidades. Os Caminhos das Tropas integravam o Sul ao mercado brasileiro. Mulas carregadas com bruacas, feijão-tropeiro, farinha – ruas das Tropas. Os rios eram atravessados nos vaus ou passos, às vezes em pelotas, embarcações de couro para carregar manti: : 7 Bugres transpondo um rio em pelota. Aquarela. Hermann Rudolph Wendroth. 1852.
::7
mentos ou um indivíduo, puxadas pelo guia, que ia a nado. O Rio Grande era um grande vazio e as ilhas dos Açores, superpovoadas. O governo português recomendou a vinda de
religiosas, semana santa, Corpus Christi, império, procissões lumi-
ilhéus para ocupar as Missões, que foram trocadas por Colônia, no
nosas, tapetes floridos e cheiro de alecrim queimado, sinos repi-
Tratado de Madri, de 1750. Os casais chegaram dois anos depois
cando. Os ternos de reis, cantigas de roda e doces, muito doces, de
e se instalaram perto da sede da Capitania, porque as Missões
ovos. Nos navegantes, das embarcações se ouvia o cantar ao doce
continuavam sob domínio espanhol. Com a distribuição de terras,
coração de Maria.
em sesmarias e léguas em quadros, começaram a plantar trigo, a produzir vinho e a abastecer a região. Com gado abundante,
Limites e fronteiras
alguns se tornaram fazendeiros.
Depois do Tratado de Madri, as comissões demarcadoras das
Quando Rio Grande foi invadida, em 1763, a população foge
cortes de Espanha e Portugal começam a implantar marcos de
em busca de proteção, entra pela costa doce da Lagoa, se refugia
pedra, a partir do Chuí, em requintados rituais barrocos. De longe,
em Viamão. Ali se instala a capital da Província, depois transferida
são observados pelos missioneiros, que reagem em escaramuças.
para o porto, na Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais.
“Esta terra tem dono”, bradou Sepé, e eclode o enfrentamento. A
Sobem o Jacuí e instalam suas primeiras vilas. Garantem o acesso
Guerra Guaranítica, um verdadeiro genocídio por poderes desi-
a Rio Pardo, a “tranqueira invicta”, ponto avançado do domínio
guais: dois exércitos aparelhados versus lanceiros nativos. Os
português na época.
vencedores ocupam as reduções e, com o estranhamento, logo se
Igrejas caiadas com torres sineiras, casas de porta e janelas, com guilhotinas, telhados com beirais, curtos. Nas ruas, festas “Caminante, no hay camino, se hace camino al andar”
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expulsam os jesuítas de Portugal e Espanha. E o papa extingue a ordem religiosa. É o fim do sonho, da “utopia” americana.
Em 1761, os limites estabelecidos foram revogados e a situ-
do fogo. Nas taperas, sobre escombros de antigas construções,
ação volta atrás. Os portugueses reforçam o controle militar na
crescem figueiras e cactos, entre as pedras. Abrigo para aranhas.
área e distribuem mais terras e cargos. Novos latifúndios.
E quando venta norte, aparecem nos campos cobras cruzeiras.
Os conflitos se sucedem por questões internas ou externas,
Nas estâncias, porteiras, mangueiras de pedra, taquareiras de
por fronteiras, por interesses econômicos e envolvem, geralmente,
pára-vento e, sempre, umbus. Nos moirões das cercas pousam coru-
soldados arregimentados na região. No jogo político, o governador
jas e secam couros estaqueados de reses, atraindo moscas. A água
de Buenos Aires toma Colônia do Sacramento e, em 1763, os fortes
é tirada da cacimba. O patrão mora “nas casas”, a peonada no gal-
de Santa Teresa e São Miguel, no Chuí. Ocupa a vila de Rio Grande
pão. O alvorecer é sempre com assado. E depois, a camperear, para
até 1776. Em 1777, invade Colônia e a ilha de Santa Catarina, e,
tratar do gado. De noite, um jogo de cartas, o truco, e contar causos
neste mesmo ano, um novo tratado, o de Santo Ildefonso, redefine
de assombrações, a falar das chinas e das façanhas de gaudérios.
os limites. Os portugueses ficam com a ilha e os espanhóis, com
Nos bailes ao som de gaiteiros, arrastam pés, dançam com prendas
Missões e Sacramento. A fronteira fica assim até 1801, quando
vestidas de chita, de rosto pintado com ruge e perfumes fortes.
um grupo de estancieiros e soldados brasileiros reconquista os Sete Povos. Em 1820, Portugal incorpora o território da Província Cisplatina, retomado pelos Trinta e Três Orientais, em 1825, e cria a República Oriental do Uruguai. Em 1828, Frutuoso Rivera ocupa as Missões brasileiras e leva como troféu de guerra 60 carretas de bens. O mapa do Rio Grande do Sul só se configura a partir do tratado de 1851, revisto pelo barão de Rio Branco, em 1909. Os acampamentos militares criados para defesa geraram novas povoações – cidades marcos. Fronteiras móveis, terras conquista-
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: : 10
das “nas patas dos cavalos”. Mistura de português, espanhol e índio, se forma o gaúcho,
A carne se conservava salgada, como charque. Era o alimento
homem de estância, produto de fronteira. “Pêlo duro”, usa botas
básico dos escravos em todo o Brasil. A oportunidade de vender
e bombachas folgadas. Galopa livre pelas coxilhas na imensidão
charque para o Nordeste – o principal consumidor – favoreceu a
do pampa, espantando perdizes, assustando lebres, provocando o
indústria. As charqueadas da zona sul localizavam-se nos arre-
revoar de quero-queros. Acompanhado pelo cão, o cusco, trata o
dores das cidades, principalmente na região de Pelotas, perto de
gado nos rodeios.
arroios para facilitar a ligação com o porto.
Nas estradas empedradas, transitam os carreteiros. Nas
O charque trouxe riqueza para a região, antes simples, rude e
paradas, assam a fina carne do matambre em fogo de chão
campeira. A sofisticação das novas famílias ricas, ostentando cos-
sobre a trempe ou fazem arroz com charque. Trazem salmoura
tumes importados, se verificou nas cidades. Entrou com estilo o
na guampa e esquentam água do chimarrão na cambona, preta
neoclássico, a pompa no pampa, da nova elite de charqueadores.
: : 8 Carreteiro. : : 9 Churrasco. Desenho. Série “O gaúcho”. José Lutzemberger. : : 10 Vencendo obstáculos. Desenho. Série “Caixeiro viajante”. José Lutzemberger.
19 A Ponte do Guaíba
Brocados, veludos, rendas, louças e pratarias e muito luxo, de um lado. Rios de sangue, moscas, fedentina e escravidão, do outro. Na cidade, desfiles nos teatros, óperas e musica clássica. Saraus nos palacetes. A culinária – de sal e açúcar – com sabores antes não apreciados. Nas senzalas, os negros – motores das charqueadas. Enormes grupos – maiores que os de homens livres – submetidos à força a trabalhos exaustivos. Rebeliões e fugas. Quilombos. Na fronteira oeste, os saladeiros – do espanhol – no final do século XIX. Utilizavam assalariados e envolviam tropeiros para puxar o gado da fronteira. Como não havia estradas para Rio Grande, os produtos eram transportados por ferrovias até Montevidéu, de onde iam para o mercado brasileiro. Um momento de riqueza na estagnada economia da região da Campanha. A sobretaxa para o transporte de charque, por via externa, quebrou o sistema. Restaram imponentes ruínas. : : 12
A partir de 1824, chegam os alemães. Pequenos proprietários, artesãos livres, num contexto de senhores e escravos, formam uma
: : 11
: : 11 O motorizado na volta. Desenho. Série “Caixeiro viajante”. José Lutzemberger. : : 12 Fios emaranhados. Óleo sobre tela. Pedro Weingärtner. 1892.
“Caminante, no hay camino, se hace camino al andar”
20
Levam notícias, produtos e novidades, da e para a capital.
nova classe social. Trazidos de regiões pobres, vinham com promes-
O descontentamento com impostos estabelecidos pelo impé-
sas de terras, insumos e subsídios. Desembarcavam na capital de
rio a produtos pecuários – a base da economia gaúcha – provocou
onde iam para a Real Feitoria do Linho-Cânhamo, em São Leopoldo,
reações e desencadeou a Guerra dos Farrapos a partir de 1835.
onde esperavam até receber terras. Ocuparam as matas das encos-
Guerra que criou a República Rio-grandense, com território inde-
tas da serra e os vales dos rios Sinos, Caí, Jacuí e Taquari.
pendente, constituição, brasão, bandeira e hino. Um conflito que
As novas cidades se organizaram com traçados alinhados por
envolveu grande parte da população sob o comando de lideranças
engenheiros militares. Casas com frontões recortados, varandas e
locais, como Bento Gonçalves da Silva e, inclusive, do “herói de
jardins floridos. Igrejas protestantes, geralmente com torre cen-
dois mundos”, Giuseppe Garibaldi.
tral, marcaram a paisagem na região. No campo, surgem linhas
A reação imperial, com apoio de Porto Alegre e Rio Grande,
e picadas e pontes em madeira ou pedra grês. E por todo o lado,
provocou o deslocamento sucessivo da capital Farroupilha:
casas em enxaimel, com cozinhas separadas, cercas e galpões. Nos
Piratini, Caçapava e depois Alegrete. Os combates se sucederam
entroncamentos surgem as vendas, que, junto às igrejas, salões e
e, no de Porongos, foram exterminados os bravos lanceiros negros.
sociedades, animam a colônia. Nos kerbs, adornos com guirlandas
Após dez anos de luta e com o surgimento de conflitos internacio-
e muita cerveja. Faces rosadas, risonhas. Os mascates – vendedores
nais, o governo imperial buscou uma “paz honrosa”, firmada em
ambulantes – promovem o intercâmbio, as trocas, os empréstimos.
Ponche Verde, em 1845.
O gesto espetacular desta guerra foi a tomada de Laguna, para onde se expandiu o movimento, criando a República Juliana. A falta de uma saída para o mar obrigou Garibaldi a transportar seus lanchões Seival e Farroupilha por terra, entre a lagoa dos Patos e a barra do Tramandaí. Uma cena incomum: uma comitiva de soldados, cavalos e “duas naves, atravessando em carretas puxadas por duzentos bois cinqüenta e quatro milhas ou dezoito léguas”4, por campos e várzeas.
Caminhos do Imperador e dos viajantes Ao término da Guerra dos Farrapos, o imperador D. Pedro II, aos 19 anos, veio com a imperatriz e comitiva visitar a Província, permanecendo cinco meses. Chegou por Rio Grande e, depois, se dirigiu a Porto Alegre, Rio Pardo e São Gabriel. Em Pelotas, foi hospedado pelo barão de Jaguari, e se registra que se deliciou com a culinária local, com doces de ovos, como a ambrosia, acompanhados da bebida fermentada, o hidromel. Voltou 20 anos depois, em 1865, no início da Guerra do Paraguai. Desta vez, acompanhado pelos genros. Em Porto Alegre chovia e o povo se aglomerava sob os guarda-chuvas junto à escadaria chanfrada do porto, à espera de sua embarcação. Depois passou por Rio Pardo, Cachoeira e Caçapava, onde se construía o forte que recebeu seu nome, e de lá foi para o Alegrete. Ao chegar a Uruguaiana, recebeu a rendição do exército paraguaio.
Durante o século XIX, o território também foi trilhado por viajantes de distintas profissões. Com múltiplas visões, curiosos,
Com curiosidade de cientista, o “imperador viajante” regis-
registraram em diários ou em minuciosos desenhos suas impres-
trava em diários e fotografava seus roteiros, suas incursões.
sões. Os relatos eram publicados na Europa e noticiavam regiões
Diz-se que ele deixava mudas de palmeiras imperiais para
desconhecidas ou inóspitas, numa visão externa do contexto local.
marcar os lugares que visitava. Geralmente, se hospedava nos
Entre eles, estavam os franceses, como Auguste Saint-Hilaire, que
principais casarões das cidades que ainda hoje se orgulham de
descreve em “Viagem ao Rio Grande do Sul” grande parte do terri-
tê-lo recebido.
tório gaúcho; o Dr. Alfred Demersay, que escreveu “História Física,
: : 13 Garibaldi e a Esquadra Farroupilha. Óleo sobre tela. Lucílio de Albuquerque. Instituto de Educação, Porto Alegre.
Econômica e Política do Paraguai”, publicado em Paris, com dados 4
Alexandre Dumas. Memórias de Garibaldi, 2002.
etnológicos, geográficos, estatísticos e demográficos dos usos e
21 A Ponte do Guaíba
costumes do Paraguai, incluindo as Missões jesuíticas entre 1844 e
O traçado das cidades, ortogonais, regulares, militares, sem
1847; e Robert Avé-Lallemant, autor de “Viagem pela Província do
relação com a topografia acidentada formada por encostas e
Rio Grande do Sul”, 1858, que define a barra de Rio Grande como
peraus. Depois de abrir terreno, começaram as suas plantações
“das mais desagradáveis e perigosas que existem”, referindo-se
nas encostas, introduzindo parreirais. Paisagens douradas no
à quantidade de naufrágios. Também estava Hermann Rudolf
outono, invernos com cerração. Águas geladas nos rios de corre-
Wendroth, um Brummer – rezingão, um dos soldados mercenários
deiras, com balseiros nos passos.
alemães contratados em 1851 para a Guerra contra Oribe e Rosas. Ele desertou e embrenhou-se pelo interior da província.
A religiosidade marcada por cruzes, oratórios de campo – os capitéis –, capelas e igrejas, singelamente coloridas, geralmente
Depois de 1875, também começam a vir colonos italianos.
de nave única e campanário, independente. As festas sacras, de
Com situação semelhante aos seus antecessores, buscam a opor-
padroeiros, procissões, quermesses comemoradas nos salões
tunidade de far l’Amèrica. Cosa sarà questa Mèrica?
paroquiais aos domingos, depois das missas. Com risotos, galetos,
5
As terras próximas à capital já estavam ocupadas pelos ale-
polentas e saladas de radíci, com vinho, muito tinto. As mammas
mães. A possibilidade era ocupar a serra no nordeste do Estado,
com aventais bordados, lenços na cabeça e adereços dourados, às
nas áreas dos antigos pinheirais. Logo são traçadas “a cordel e
vezes exagerados, de gosto vêneto.
régua” as primeiras colônias, sendo três no nordeste e uma no centro do Estado. Após o extermínio dos bugres – como se deno-
Palco de lutas
minavam os nativos –, se estruturam cidades e colônias abrindo
Os conflitos continuam, inicialmente por conquistas de terras
picadas e travessões, derrubando araucárias. Uma arquitetura de
e, depois, por sua manutenção. Quase todos envolvendo os gaú-
grandes casarões, construídos em madeira ou pedra basalto, com
chos como soldados para a defesa da fronteira ou como base de
: : 15 O embarque no porto de Gênova. Desenho. Vasco Machado.
telhados cobertos inicialmente de scàndole – em tabuinhas – e
apoio estratégico.
: : 16 Parreirais, década de 1980.
mentados por lambrequins.
: : 14 Vista da Igreja de São Miguel em ruínas. Litografia. A. Dastrel. In: Demersay, Alfred. Histoire physique, économique et politique du Paraguay. 1860-64.
posteriormente substituídos por zinco e, em alguns casos, orna-
As lutas contra Oribe, do Uruguai, entre 1848 e 1851, as contra Rosas, da Argentina, entre 1852 e 1853, e a maior, a Guerra do Paraguai, de 1865 a 1870, na qual a Província é atacada em São
5
Estrofe do canto popular dos imigrantes italianos “Mèrica, Mèrica”.
Borja e Uruguaiana.
: : 15 “Caminante, no hay camino, se hace camino al andar”
22
A Revolução Federalista, de 1893, foi uma disputa entre as principais correntes políticas gaúchas, identificadas pelos lenços vermelhos dos maragatos, que lutavam contra o excessivo controle do governo central, buscando um sistema federativo com mais autonomia, e pelos lenços brancos dos pica-paus ou chimangos, que apoiavam o governo central. E, no início do século XX, o tenentismo, que pretendia derrubar as oligarquias dominantes e desenvolver reformas institucionais no país. O movimento conhecido como Coluna Prestes culminou com a Grande Marcha, entre 1925 e 1927, quando gaúchos comandados por Luís Carlos Prestes partiram de Santo Ângelo, se encontraram com tropas de São Paulo e percorreram a maior parte dos Estados do país, atravessando o Paraguai, chegando a Teresina. Durante o século XX, outras etnias, de diferentes proveniências, mas em contingentes menores, também vieram para o Rio Grande. Por diferentes motivos, oportunidades ou necessidades, chegaram poloneses, judeus, árabes, sírios, libaneses e, recentemente, japoneses, entre outros. Em grupos ou isoladamente, se assentaram em distintas regiões, definindo novas paisagens culturais. A maior parte, no entanto, ficou na capital. Este mosaico cultural6 gerado pela intensa miscigenação, interna e externa, se verifica na contribuição das diferentes culturas que moldaram : : 16
os setores urbanos e rurais de cada região. Com as guerras mundiais, chegam novos grupos, outros destinos, que se encontram no
Na falta de estradas ou ferrovias, as comunicações eram feitas
mesmo território.
por meios fluviais, o que favoreceu o desenvolvimento de assentamentos ribeirinhos ao longo da barra, lagoa e bacia do Jacuí.
As redes, o intercâmbio
A instalação de faróis viabilizou a navegação na lagoa dos Patos
Durante esse período conturbado, a Província buscou se recons-
ligando a capital a outras regiões. Uma linha regular de vapores,
truir e instalar infra-estrutura para circulação e produção bus-
a partir de 1832, conectou a Zona Sul com a capital, sendo poste-
cando melhorar as conexões entre as várias regiões e a capital.
riormente ampliada pela lagoa Mirim.
6
Denominação de Barbosa Lessa para o “Mapa Cultural do Estado”, de 1980.
23 A Ponte do Guaíba
A existência de carvão favoreceu a implantação de ferrovias
O transporte aéreo entra em ação, em 1927, quando é implan-
e de um parque industrial. Em 1869, iniciou-se a construção da
tada a linha regular até Rio Grande, feita por hidroavião, pela recém-
linha ligando São Leopoldo, que foi expandida para Hamburgo-
criada Viação Aérea Rio Grandense, empresa que logo ganhou
Velho, Taquara e Canela. Em 1873, o império determinou a cons-
reconhecimento internacional. Para suporte deste sistema, surgem
trução da linha para Uruguaiana, que se ligou com a Rio Grande-
novas estruturas, os campos de aviação, e, logo, os aeroportos.
Bagé, chegando a Uruguaiana, em 1907. E pouco a pouco, foram
Durante o século XX, o Rio Grande consolida sua posição como
criados outros ramais, ligando as colônias à Zona Sul e fronteira
região celeiro e sofre grandes modificações em sua estrutura fun-
oeste, atingindo o Uruguai. O principal pólo ferroviário do interior
diária estabelecida. O cultivo de trigo e soja, com a introdução da
se consolidou em Santa Maria, uma cidade universitária estrate-
agricultura mecanizada, transforma regiões de minifúndio e gera
gicamente localizada no centro do Estado.
o êxodo rural. Populações se deslocam para áreas periféricas das
As primeiras locomotivas eram movidas a carvão, do tipo maria-fumaça, e cortavam lentamente a paisagem, deixando
“Caminante, no hay camino, se hace camino al andar”
24
uma região metropolitana.
atrás de si um rastro de fuligem negra, com chiados e apitos
No nordeste do Estado, se implantam pólos industriais meta-
característicos. Mais tarde, chegam os trens de luxo, com ar
lúrgicos, moveleiros e vinícolas. A Zona Sul e a fronteira mantêm,
condicionado, tracionados a diesel, como o Minuano e, depois,
principalmente, uma economia vinculada ao latifúndio e seus
o Húngaro.
pólos regionais recebem o excedente dos contingentes populacio-
As ligações rodoviárias eram bastante precárias até cerca de
: : 17 A formação histórico etnográfica do povo Riograndense. Pintura mural. Aldo Locatelli. 1951. Palácio Piratini.
cidades maiores e da própria capital, onde começa a se estruturar
nais em busca de empregos.
1950. O trajeto Rio Grande–Porto Alegre, por exemplo, levava dois
No entorno de Porto Alegre – centro administrativo e de ser-
dias, com trechos de terra e três balsas, até chegar ao trapiche da
viços –, surgem novas cidades e zonas industriais. Também se for-
Vila Assunção, na capital. Lentamente, foram implantadas novas
mam cinturões de pobreza, que passam a demandar infra-estru-
estradas, federais, estaduais, municipais, condicionando o destino
tura e transportes. A cidade cresce e se transforma, incorporando
das localidades por onde passavam ou por onde deixavam de
grandes edifícios e novas práticas sociais. Sucedem-se planos e
passar. O novo modelo rodoviário nacional se reflete no Estado.
projetos urbanos, grandes obras viárias com a abertura de radiais
As ferrovias começam a ser desativadas e as estruturas portuárias
e perimetrais, expansões e aterros. Novos sistemas de transporte
modificam sua forma de operar. A rede rodoviária se estrutura e
substituem os antigos bondes da Carris.
as estradas de chão vão sendo substituidas por asfalto. E novas
A capital é palco de ações, reações e manifestações – memo-
estradas, como a Free-Way, com duas faixas, constituem um
ráveis – ao sabor da conjuntura política local e nacional. É neste
marco na história rodoviária do Estado.
contexto que o velho anseio – a ponte do Guaíba – finalmente se
Ligando as novas vias foram construídas pontes. Nas frontei-
concretiza. Como o grande conector da metrópole com o mosaico
ras, as internacionais, algumas mais estilosas, como a de Jaguarão,
cultural do Estado, um monumento que articula, simbolicamente,
com o Uruguai, e a de Uruguaiana, com a Argentina, ou as mais
o Continente – as paisagens culturais, realidades e sonhos gaúchos
modernas, como a de Quaraí ou São Borja.
– a todo o Brasil.
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25 A Ponte do Guaíba
A Peculiar Paisagem da Travessia do Lago Guaíba A fisionomia de Porto Alegre, situada nos limites entre as regiões continental e costeira, é o resultado de uma composição de suaves contrastes das paisagens da porção meridional da América do Sul.
Pontes Móveis
26
por RUALDO MENEGAT
Nessas paragens, não são descortinados os imponentes abismos andinos, nem a imensidão do grande ecossistema amazônico, mas sim a quietude de morros, planícies e terraços cobertos por uma peculiar vegetação e banhados por um lago de margens invulgares recortadas por pontas e enseadas: o Guaíba. Esse cenário, cujos fulgor e grandiosidade revelam-se quando é envolto por uma sucessão de cortinas com cores alaranjadas e púrpuras que estampam o céu no pôr-do-sol – e que ganha outras cores ainda ao refletir-se no espelho do lago –, resulta da interface de sete grandes ecorregiões do Cone Sul da nossa América. Do norte, chegam até a região de Porto Alegre as influências da Floresta Atlântica, da Mata Mista de Araucárias e, mesmo, da borda da Amazônia. Vindas do oeste, alcançam a região várias espécies vegetais do Chaco. Do sul, chegam até aqui as influências do Pampa argentino e dos Campos Sulinos do Uruguai e do Escudo Sul-Rio-Grandense. Do leste, sopra a brisa litorânea e chega a influência das espécies da Província Costeira do Rio Grande do Sul, da qual faz parte o lago Guaíba. Exatamente na margem norte do lago, onde se situa um arquipélago conhecido como delta do Jacuí, encontra-se a ponte ::1
que realiza a travessia do Guaíba. Descrever esse cenário é mergulhar na longa história natural que modelou o relevo e vestiu de
Guaíba; a BR 386, que liga a capital com o noroeste do Estado e,
verde os terrenos onde hoje se situa a cidade de Porto Alegre. É o
além, com as vias da vasta região do oeste do Brasil.
que faremos no presente capítulo.
Mas, para Porto Alegre também convergem quatro caudalosos rios – Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí – que drenam grande parte
O encontro de paisagens
da região central e norte-nordeste do Estado e desembocam no
As grandes cidades brasileiras costumam ser áreas de convergên-
lago Guaíba, formando o delta do Jacuí. Assim, a ponte do Guaíba
cia de rodovias. Para Porto Alegre, por exemplo, convergem a BR
situa-se não apenas num entroncamento de grandes rodovias do
116, que liga o norte do Brasil com o extremo sul do Estado por
sul do país, mas também sobre ilhas que resultam do encontro
meio da travessia da ponte do Guaíba; a BR 290, que une a fron-
das águas fluviais com o lago. O delta do Jacuí é um estupendo
teira oeste com o litoral no leste, também passando pela ponte do
ponto nodal da paisagem da região sul-rio-grandense.
: : 1 Os sinuosos acessos à ponte do Guaíba lembram a sinuosidade dos canais do delta do Jacuí. A travessia ocorre numa área com entroncamento de rodovias e confluência dos rios que formam o delta. O tráfego parado aguarda a movimentação do segmento levadiço (v. detalhe, p. 26). No horizonte, à direita, o morro Santana, o mais alto de Porto Alegre.
27 A Ponte do Guaíba
para o norte devido à sua contínua erosão, deixando para trás SÃO PAULO
PA R A G U A I BRASIL
ASSUNÇÃO
BR 386
CASCAVEL
BR
6 11
RIO DE JANEIRO
seus testemunhos de antigas posições. Quando olhamos para o sul-sudeste, avistamos morros arre-
SANTOS PERUÍBE
CURITIBA
dondados e mamiformes que pertencem ao Planalto do Escudo
PARANAGUÁ
Sul-Rio-Grandense. Tais morros são constituídos por rochas graníticas que se formaram há 550 milhões de anos. Nesse tempo FLORIANÓPOLIS
imemorial, essas rochas faziam parte das raízes de uma antiga
BR
10
1
ARGENTINA RIO GRANDE DO SUL BR 290
: : 2 Mapa do Rio Grande do Sul com as quatro províncias morfológicas do sul do Brasil e as principais rodovias e rios que confluem para a região de Porto Alegre no delta do Jacuí. : : 3 Corticeira-do-banhado (Erythrina cristagalli), que ocorre nas ilhas do delta, florida na primavera.
n
hoje são apenas as rochas das raízes dessa ancestral cordilheira
no
Entre os dois planaltos, vislumbra-se para oeste uma planície fluvial bem estreita, chamada de Depressão Periférica, que segue
ea
URUGUAI
cadeia de montanhas, a qual foi totalmente erodida. O que vemos que não existe mais.
A
â
co
Oc
: : P. 26 Vista do delta em direção ao norte. Essas ilhas são as mais novas do arquipélago. Possuem a forma de bumerangue, cujas pontas externas apontam em direção à corrente dos canais que a bordejam. No primeiro plano, bem à esquerda, vê-se a ilha do Chico Inglês. Nela, são nítidas várias manchas de cor verde, indicando sucessivas fases de colonização dos vegetais. Ao fundo, na primeira linha de morros, avista-se o morro do Chapéu, bem à direita. Esse alinhamento marca a posição da antiga escarpa do Planalto Meridional. No horizonte, vê-se a silhueta da atual escarpa.
tl
PORTO ALEGRE
ti
até a região de Rosário do Sul, onde começa a se alargar um pouco mais. Quem segue pela rodovia BR 290 em direção à Uruguaiana,
MONTEVIDÉU
Rodovia
Rodovia
RodoviaMeridional Planalto
Rodovia Meridional Planalto
Planalto do Meridional Planalto Escudo
Planalto do Meridional Escudo
Planalto doPeriférica Escudo Depressão
Rodovia
Sul-Rio-Gandense, tanto mamiformes quanto tabuliformes, a
Planalto do Periférica Escudo Depressão
Depressão Periférica Província Costeira
Planalto Meridional ::2
exemplo do cerro Partido, próximo a Pântano do Sul.
DepressãoCosteira Periférica Província
Província Costeira
Planalto do Escudo
BUENOS AIRES
divisará ao norte morros testemunhos tabuliformes, resquícios da escarpa do Planalto Meridional; e, para o sul, morros do Escudo
Finalmente, no leste, para quem chega pela BR 290 (Free-
Depressão Periférica Way), situa-se a Província Costeira, formada por uma longa faixa Província Costeira Província Costeira Entenderemos melhor esse fenômeno se considerarmos que arenosa, onde se localizam as pequenas lagoas do litoral norte
a região de Porto Alegre é uma síntese das quatro grandes uni-
– como as lagoas dos Quadros, Barros e Tramandaí – e as gran-
dades morfológicas do sul do Brasil, as quais podem ser todas
des lagoas do litoral sul – laguna dos Patos e lagoas Mangueira e
vistas ao atravessarmos a ponte do Guaíba. Quando olhamos para
Mirim. O lago Guaíba e o delta do Jacuí fazem parte dessa provín-
o norte, é possível divisar a extensa escarpa, chamada de Serra
cia morfológica.
Geral, que marca a borda do imenso Planalto Meridional, que se
Assim, quem atravessa a ponte do Guaíba pode reconhe-
: : 4 Bando de biguás, muito comuns nas ilhas do delta.
prolonga desde o sul de Mato Grosso do Sul e da região oeste de
cer, num curto trajeto, as principais províncias morfológicas do
São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Também se avistam os diver-
Estado, ao mesmo tempo em que aprecia uma paisagem invulgar
: : 5 Juncal na margem de uma ilha.
sos morros testemunhos, como o morro do Chapéu, para quem
graças à confluência de caudalosos rios que desembocam no lago
vem do norte pela BR 116, ou o Itacolomi, para quem vem do leste
e formam um delta. Pelo fato dos vãos da ponte serem elevados
pela BR 290 (Free-Way). Esses morros marcam antigas linhas da
em relação às terras planas e baixas das ilhas, a travessia passa a
escarpa do Planalto Meridional, que está recuando cada vez mais
ser um admirável mirante da paisagem.
: : 6 Bando de garças-brancas.
A Peculiar Paisagem da Travessia do Lago Guaíba
28
::3
::4
::5
::6
29 A Ponte do GuaĂba
os Sinos Rio d
Rio Caí
da Mãe Terez a Largo
cu
í Ilha do Lage
Ilha das Garças
CANOAS
v
Ja
ataí
ra
o Ri
Ri o
Ilha do Humaitá
G
Ilha Grande dos Ilha das Flores Marinheiros Saco da Ilha do Alemoa Pavão
Saco de Santa Cruz
PORTO ALEGRE
io D Arro ilúvi
C do onde
o
A r ro i o
Ilha da Pintada
Lago Guaíba GUAÍBA
::7
::8
: : 7 Vista do rio dos Sinos, cujo canal tem a forma de uma alça antes de desembocar no canal Largo da Mãe Tereza, no primeiro plano. Em seguida, encontra-se a volta do Lage, porção norte da ilha Grande dos Marinheiros. Ao fundo, a silhueta do centro da cidade emoldurada pelo alinhamento de morros graníticos chamados de Crista de Porto Alegre, a qual pertence ao Escudo Sul-Rio-Grandense.
O encontro das águas
material, esses bancos vão ficando mais espessos até atingirem
A formação de deltas, ou seja, um conjunto de ilhas alagadiças
a superfície da água, quando passam a se configurar como ilhas
recortadas por canais, é comum quando um rio desemboca em
delimitadas por canais. Assim, o canal fluvial se subdivide em
um grande corpo d’água (oceano ou lago). Exemplo disso são os
vários canais distributários que margeiam as ilhas do delta, as
famosos deltas dos rios Nilo, Mississipi e Ganges, entre outros.
quais são muito susceptíveis à erosão e ao alagamento.
: : 8 Mapa do delta do Jacuí. A Peculiar Paisagem da Travessia do Lago Guaíba
30
Eles se formam devido à desaceleração da água do canal fluvial
No caso do delta do Jacuí, há a formação de um arquipélago
que desemboca em um corpo d’água maior. Com a perda da velo-
inusitado, pois se deve à desembocadura no lago Guaíba de qua-
cidade da água, a areia e a argila que o rio carregava vão deposi-
tro rios: Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí. O arquipélago é constituído
tando-se em bancos submersos. Quando há muita deposição de
por 18 ilhas caprichosamente recortadas por 15 canais sinuosos.
As ilhas possuem formas diversas, e muitas delas apresentam reentrâncias semicirculares chamadas de sacos, como o saco do Quilombo. A maior ilha é a das Flores e a mais comprida, a ilha Grande dos Marinheiros. O arquipélago e as áreas alagadiças das planícies fluviais dos quatro afluentes são protegidos ambientalmente por meio do Parque Estadual do Delta do Jacuí e da Área de Proteção Ambiental homônima. A travessia da ponte possui quatro vãos sobre canais, sendo eles, de leste para oeste, o Navegantes – onde se situa a ponte levadiça –, o Chico Inglês (Furado Grande), o Três Rios e, finalmente, o Jacuí. Também é composta por três segmentos sobre as ilhas do Pavão, Grande dos Marinheiros e das Flores. Embora nos terrenos nas margens da rodovia haja edificações, assim como em algumas margens das ilhas, onde há núcleos habitacionais de pescadores, clubes náuticos e residências de veraneio, a região abriga importante diversidade da flora, com mais de 320 espécies conhecidas, e da fauna selvagem, sendo identificadas cerca de 210 espécies de aves, 78 de peixes, 24 de anfíbios, 18 de répteis e 32 de mamíferos. As formações vegetais das ilhas compõem um exuberante mosaico paisagístico constituído por faixas que se sucedem da ::9
margem até o interior. Nas partes rasas dos canais, dispõem-se os juncais e os macrófitos flutuantes. Nas porções marginais das ilhas, elevam-se cordões de lama, chamados de diques margi-
em menor número, indivíduos de espécies como jacaré-de-papo-
nais, que são vegetados por florestas aluviais onde predominam
amarelo, capivara, lontra e tartaruga. Aves como a garça-branca,
imponentes sarandis, ingazeiros, figueiras e salseiros. Nas terras
o socó-boi e o martim-pescador são comumente observáveis nos
baixas atrás dos diques marginais e no interior das ilhas, situam-
passeios de barcos pelos canais do delta.
se campos e banhados inundáveis, com ocorrência de maricás e corticeiras-do-banhado.
Muito característicos são os bandos de biguás, que podem ser avistados mergulhando no espelho quieto das águas ou pousando
Esse cenário é adequado para abrigar uma grande diversidade
em galhos e troncos secos, donde a esbelta silhueta toda preta
faunística, com destaque para as aves e os peixes. Devido à pres-
e lustrosa pode ser captada contra o azul do céu ou o verde dos
são urbana sobre o ecossistema deltaico, encontram-se, cada vez
ingazeiros. Nas margens arenosas das ilhas, habitualmente pro-
: : 9 Vista do delta em direção ao norte. No primeiro plano, vê-se a ilha da Pólvora e o saco do Ferraz. Em seguida, o vão da ponte que atravessa o Saco da Alemoa, ligando as ilhas Grande dos Marinheiros, à direita, e das Flores, à esquerda. Bem ao fundo, a silhueta do alinhamento de morros testemunhos, sendo evidente, à esquerda, o morro do Chapéu. No horizonte, a silhueta da escarpa do Planalto Meridional.
31 A Ponte do Guaíba
A fauna que se abriga nas ilhas também pode ser encontrada nas matas e nos banhados de toda a extensão das margens do lago. As áreas ambientalmente protegidas do delta são, dessa maneira, um importante abrigo natural para toda a fauna da região do lago Guaíba.
Travessia sobre um rio ou um lago? Durante um longo período de tempo, desde meados do século XIX até o final do XX, o Guaíba foi denominado erroneamente de rio e, às vezes, também de estuário. Porém, diversos estudos científicos, entre os quais aqueles coordenados por Hans Thofern, célebre cartógrafo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e o “Atlas Ambiental de Porto Alegre” (2006) concluíram que a designação correta é a de lago. Quais seriam as razões disso? A primeira delas diz respeito às causas que propiciam a existência do delta do Jacuí. Ninguém nunca discordou que esse arquipélago de ilhas fosse um delta. Como vimos, essa morfologia sedimentar origina-se quando ocorre a desembocadura de um rio em um corpo d’água maior. Assim, caso o Guaíba fosse um rio, como poderiam suas nascentes situar-se na desembocadura de : : 10
outros rios? Como poderia um delta formar-se dentro do canal de um rio? Tais paradoxos são falsos, pois somente existem a partir
: : 10 Vista em direção ao sul do terceiro vão da ponte, sobre o canal Três Rios, ligando a ilha Grande dos Marinheiros, à esquerda, e a ilha das Flores, cuja ponta meridional aparece à direita na imagem. Ao fundo, a silhueta da cidade de Porto Alegre, que se desenvolve sobre a Crista da Matriz, emoldurada pelos morros da Crista de Porto Alegre.
A Peculiar Paisagem da Travessia do Lago Guaíba
32
curam mariscos e de lá acenam abrindo as enormes asas quando
da definição errônea do Guaíba como rio.
barcos passam pelos canais do delta. Ao entardecer, o céu é tingido
Além disso, as margens de um rio tendem a ser paralelas, con-
por cortinas de cores laranja e vermelha, rosa e lilás, e os bandos
formando um canal por onde escoa a água. As margens do Guaíba
retornam para seus ninhais em vôos determinados, desenhando
estão longe de ser paralelas. Elas são definidas por pontas e enseadas
peculiares formações em V. Os cidadãos que vivem próximos às
que desenham caprichosamente vários átrios ao longo dos 50 quilô-
margens do lago podem acompanhar o vôo dessas aves de longe.
metros que separam a margem norte, onde se situa o delta, da mar-
Eventualmente, alguns biguás se desalinham, mas rapidamente se
gem sul, onde as águas do lago confluem para a laguna dos Patos.
reorganizam como se soubessem que há gente assistindo ao espe-
Na margem leste, nos municípios de Porto Alegre e Viamão,
táculo. Sinais de que a noite está caindo mansamente na cidade e
as pontas são constituídas por pequenos espigões e morros rocho-
de que, no dia seguinte, estarão de volta para júbilo de todos.
sos residuais que se projetam na lâmina d’água, resultando em
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Lago Guaíba : : 11
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paisagens indizíveis. As enseadas são compostas por sucessivos
importantes para o abrigo e reprodução de répteis, como a tartaruga.
cordões arenosos paralelos à margem, cuja origem está relaciona-
O lago Guaíba possui uma profundidade média de dois
da com as flutuações do nível d’água de um corpo lacustre. Tais
metros e uma largura que varia desde 900 metros, no norte, até
cordões não se formariam da mesma maneira em margens flu-
19 quilômetros, no sul. A forma do leito é chata e levemente
viais. Nas enseadas do lago, situam-se belas praias, entre as quais
inclinada, como a de um prato raso, e, próximo ao centro do
a do Lami, repletas de banhistas na temporada de verão.
lago, encontra-se um canal de navegação com profundidades
Já na margem oeste do lago, nos municípios de Eldorado do Sul,
que variam de cinco a 31 metros. Certos segmentos do canal de
Guaíba e Barra do Ribeiro, as pontas são arenosas e as enseadas, a
navegação foram alargados e aprofundados artificialmente por
exemplo da margem leste, abrigam uma notável mata de restinga,
dragagem. Tal morfologia também não se coaduna com aquelas
com diversas espécies de cactáceas. Esses locais secos e arenosos são
típicas de um rio.
: : 11 Mapa do lago Guaíba e principais afluentes. : : 12 Vista para noroeste. No primeiro plano, o quarto vão sobre o canal do Jacuí. A planície que se desenvolve à esquerda representa a Depressão Periférica, drenada pelo rio Jacuí.
33 A Ponte do Guaíba
1. Antes de 400 mil anos, com nível do mar baixo.
4. 120 mil anos: terceira transgressão marinha.
2. 400 mil anos: primeira transgressão marinha.
3. 325 mil anos: segunda transgressão marinha.
5. 5 mil anos: quarta e última transgressão.
: : 13 Evolução geológica da região de Porto Alegre nos últimos 400 mil anos (imagens gentilmente cedidas pelo Atlas Ambiental de Porto Alegre).
A Peculiar Paisagem da Travessia do Lago Guaíba
34
O escoamento das águas num rio comumente ocorre no
Grandes oscilações do nível do mar
sentido longitudinal do canal, das terras mais elevadas para as
Sempre temos a tendência de ver a paisagem como sendo o
mais baixas. Em certas circunstâncias, em regiões mais planas,
resultado de um único evento, isto é, a partir da noção de que ela
a água pode também fluir no sentido inverso. No caso do lago
já nasceu assim como a vemos. Também é comum pensar que
Guaíba, a dinâmica da água é bidimensional, ou seja, também
ela não sofre mudanças ao longo do tempo, a não ser aquelas que
acontece no sentido transversal, formando áreas com veloci-
vemos depois de uma chuva ou da primavera depois do inverno.
dades diferenciadas. Além disso, cerca de 85% da água ficam
Ao contrário disso, a paisagem resulta de uma intrincada combi-
residentes por um longo período de tempo e, em situações de
nação de diversos elementos – rochas, solos, água, ar, vegetação,
seca prolongada, a superfície do lago fica esverdeada devido à
fauna etc. – originados em épocas muito diferentes, como se
proliferação de algas e à diminuição da carga argilosa provenien-
cada qual fosse o resto de fatos de tempos imemoriais. Por isso,
te de seus afluentes.
investigar como se formou uma paisagem é mergulhar no tempo
Segundo relato do insigne naturalista francês Auguste
geológico profundo, no qual podem ser reconhecidos eventos
Saint-Hilaire, que visitou Porto Alegre em 1820, esse corpo
que, quando mais recentes, persistem também na memória da
d’água era denominado de lagoa de Viamão ou de Porto Alegre.
humanidade como lendas e mitos, a exemplo do dilúvio de Noé.
Foi em torno dessa época que houve a mudança da designação
A constituição da paisagem do lago Guaíba e do delta do
para rio. Mas, para esse sábio, não havia dúvida de que se tra-
Jacuí está relacionada a uma sucessão de eventos geológicos
tava de um lago, pois “quem navega desde o Jacuí até o Guaíba
que modelaram toda a Província Costeira do Rio Grande do Sul.
logo percebe que a embarcação adentra num corpo d’água
Durante a longa história natural ocorrida nos últimos 400 mil
muito maior, portanto lacustre”.
anos, quatro grandes oscilações do nível do mar deixaram suas
Assim, considerar o Guaíba como lago não apenas melhora nossa geografia, mas também o modelo ambiental que constru-
marcas na costa gaúcha, compondo o mosaico de formas atuais do extenso litoral que vai do norte do Estado até o Uruguai.
ímos em relação a esse corpo d’água. Tem sido comum pensar
A primeira grande subida do nível do mar, a mais intensa de
que aquilo que se joga em um rio a água leva para longe. Porém,
todas, ocorreu há 400 mil anos e inundou toda a costa sul-rio-gran-
aquilo que se joga em um lago ali permanece. Sendo o Guaíba
dense. Nessa época, Porto Alegre era um arquipélago, pois somente
um lago, ele guarda na memória de seu leito argiloso os rejeitos
os morros mais altos ficaram emersos. Por ocasião da segunda
nele lançados ao longo da história de Porto Alegre e das cidades
transgressão marinha, acontecida há 325 mil anos, a então ilha de
metropolitanas. Portanto, denominá-lo de forma correta é ajudar
Porto Alegre conectou-se com o continente. O litoral encontrava-se
a construir uma nova responsabilidade ambiental diante de tão
muito mais próximo dos morros de Porto Alegre e, nesse período, o
importante reservatório d’água para a saúde dos cidadãos e dos
lugar hoje ocupado pelo Guaíba configurava-se como uma baía, a
ecossistemas da região.
exemplo da atual baía da Guanabara, no Rio de Janeiro.
: : 14 Vista em direção ao sul. No primeiro plano, o vão levadiço. À direita, a ilha do Pavão, em cuja margem encontra-se um tapete de cor verde-clara de macrófitas flutuantes. Bem ao fundo, à esquerda, o perfil de prédios do centro de Porto Alegre e, à direita, a linha de morros mamelonares do Escudo Sul-Rio-Grandense [página 36].
35 A Ponte do Guaíba
: : 14 A Peculiar Paisagem da Travessia do Lago GuaĂba
36
Foi apenas na terceira subida do nível do mar, verificada há
acompanhadas pela fauna tropical e, também, pelos povos indíge-
120 mil anos, que se formou a laguna dos Patos e o lago Guaíba.
nas situados mais ao norte, como os guaranis e os kaingang, que,
Dessa época resultam, também, os grandes traços da atual morfo-
ao migrarem para o sul, depararam-se com os povos indígenas
logia do delta do Jacuí e da região de banhados e planícies aluviais
pampianos, como os charruas e os minuanos.
dos seus afluentes. Porém, o delineamento do modelado atual ocorrida há 5 mil anos. Nesse episódio, formaram-se no litoral sul
O lago Guaíba, o delta do Jacuí e a sustentabilidade
as lagoas Mangueira e Mirim e, no norte, o rosário de pequenas
O lago Guaíba, cujo nome deriva da língua guarani e significa
lagoas isoladas.
“encontro das águas” e também “de enseadas”, tem uma
está relacionado à última grande transgressão do nível do mar,
Esses eventos de variação do nível do mar são globais e se
importância ambiental muito grande para as populações das
devem à sucessão de ciclos glaciais e interglaciais. Durante uma
cidades que vivem no seu entorno. Em primeiro lugar, porque
glaciação, a precipitação no continente acontece como neve, for-
é um impressionante reservatório de água doce, com cerca de
mando extensas geleiras. Na medida em que a água não retorna
1 km3, sendo praticamente a única fonte de abastecimento de Porto
aos oceanos e a evaporação destes continua, o nível marinho
Alegre. O lago também é fundamental para dispersar os rejeitos
vai baixando. De modo inverso, com o aumento da temperatura
líquidos da cidade. Sem ter onde colocar os efluentes produzidos
num período interglacial, as geleiras derretem, fazendo subir o
diariamente por parques industriais altamente contaminantes, a
nível do mar. A última elevação do nível do mar ficou registrada
vida urbana seria inviável, pois a população morreria intoxicada.
na memória de inúmeros povos em todo o planeta, sendo nar-
Porém, fruto do descaso com a paisagem natural, o descarte
rada pelos relatos bíblicos. Também no Novo Mundo, em quase
dos efluentes é, em geral, feito nos corpos d’água, sem tratamento,
todas as culturas ameríndias há lendas que remetem a fenôme-
o que leva à deterioração do ambiente. Nos últimos anos, devido
nos diluvianos.
ao impacto de contaminantes domésticos e industriais, a pesca no
O advento do último período interglacial levou a mudanças
lago diminuiu muito, bem como o usufruto de suas belas praias.
profundas da paisagem, sendo a principal delas a expansão das
A preservação ambiental do lago Guaíba e do delta do Jacuí é
florestas e a extinção dos mamíferos gigantes, como o gliptodon-
estratégica para os cerca de quatro milhões de cidadãos da região
te e o mamute. Devido ao aumento da temperatura, as florestas
metropolitana de Porto Alegre. Além de impedir a degradação da
que se concentravam próximas da região equatorial do Brasil se
imponente paisagem que o lago oferece, evitaria a sucumbência
expandiram para o sul. Assim, espécies da Mata Atlântica e tam-
dos ecossistemas onde as cidades estão encravadas, tornando
bém da Amazônia passaram a povoar as terras de Porto Alegre
mais sustentável a vida de toda a população.
Bibliografia GOMES, A. M. B. Geomorfologia do delta do Jacuí: relatório final. Porto Alegre: Plandel, Metroplan, 1979. LICHT, H. F. B. Parque Estadual Delta do Jacuí: acidentes geográficos, denominações e topônimos. Porto Alegre: Plandel, Metroplan, 1978. LONGHI, H. F. B.; RAMOS, R. F. Botânica do delta do Jacuí: relatório final. Porto Alegre: Plandel, Metroplan, 1977. MENEGAT, R. (Coord. geral); PORTO, M. L.; CARRARO, C. C.; FERNANDES, L. A. D. (Coords.) Atlas ambiental de Porto Alegre. 3. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006. MOHR, U. S. Paisagem do delta do Jacuí. Porto Alegre: Plandel, Metroplan, 1979. PORTO ALEGRE, Prefeitura Municipal de. Parque Estadual do delta do Jacuí: plano básico. Porto Alegre: Secretaria do Planejamento Municipal, 88 pp. SAINT-HILAIRE, A. Viagem ao Rio Grande do Sul: 1820-1821. Rio de Janeiro: Ariel, 1934.
37 A Ponte do Guaíba
Uma Travessia, Muitas Pontes
por FLÁVIO KIEFER
A Travessia Régis Bittencourt, construída nos anos 50 do século passado, é uma obra que impressiona. Planejada para fazer a ligação rodoviária de Porto Alegre com a metade sul do Rio Grande do Sul, com o Uruguai e a Argentina, cruza canais e ilhas alagadiças em um percurso de 15 quilômetros. As pontes e os viadutos somados alcançam 5.263 metros.
Pontes Móveis
38
Os desafios técnico-construtivos e a definição da localização da tra-
A história de Porto Alegre está intimamente ligada ao lago
vessia demandaram mais de cinco anos de estudos. A construção do
Guaíba. Iniciou-se em 1752 como um acampamento de açorianos
vão levadiço não era inédita, mas apresentava complexidade inco-
que nunca receberiam as prometidas terras para colonizar o oeste
mum. Já a utilização de concreto protendido tinha sido pouco testada
do Estado. Depois, a facilidade de comunicação com o interior,
em terras brasileiras. Soluções vindas da Alemanha foram adaptadas
através dos diversos rios que deságuam no lago, e com o mar, a
às condições dos fabricantes nacionais. Tudo isso em tempo muito
partir da lagoa dos Patos e barra de Rio Grande, propiciou as con-
curto, 1165 dias , utilizando recursos públicos e com coordenação
dições para o desenvolvimento comercial do pequeno povoado. A
dos governos federal e estadual por intermédio do Departamento
chegada ao Rio Grande do Sul dos imigrantes alemães, em 1824,
Nacional de Estradas de Rodagem – DNER e Departamento Autônomo
e italianos, em 1875, acelerou seu desenvolvimento comercial e
de Estradas de Rodagem – DAER respectivamente.
promoveu sua industrialização. A implantação das estradas de
1
Os estudos e projetos da travessia coincidiram com um perí-
ferro, em 1874, deu início a uma intensa acumulação de capitais
: : 1 Na direção norte-sul a BR-2 – hoje 116 – liga a cidade de Jaguarão a Belém do Pará e na direção leste-oeste a BR-37 – hoje 290 –, Osório a Uruguaiana.
odo conturbado da política brasileira que culminou com o suicídio do presidente Vargas, em 1954. Já a obra, a partir de 1955, foi
Caí
16 12
2
avançar 50 anos em 5. E, de fato, foi um período de muitas obras. A mais famosa foi a construção de Brasília, mas os investimentos
MONTENEGRO
era integrar e consolidar o mercado consumidor nacional para
R
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uma industrialização que tinha como um de seus pilares a indús-
RS 244
tria automobilística. Para o setor de cargas, o governo construiu a Fábrica Nacional de Motores, produtora dos caminhões FNM, que
principais centros urbanos do país. Nesse plano, Porto Alegre era
Ferrovia
Niterói
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Passo Raso
TRIUNFO
SÃO JERÔNIMO
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Arroio dos Ratos
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Pelota
1 Conforme placa de inauguração da obra, afixada em uma das torres do vão móvel da ponte sobre o Guaíba, do dia 20 de outubro de 1955 a 28 de dezembro de 1958.
Rodovia
Barca
General Neto
BR
Santo Amaro
no Guaíba um obstáculo para sua continuidade. A Travessia Régis bém aproximava vizinhos comercialmente importantes.
Esteio CANOAS
cortada pela BR-2 – hoje 116 – e BR-37 – hoje 290 – que tinham Bittencourt não só ligava duas metades de um Estado, mas tam-
Sapucaia
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GENERAL CÂMARA
SÃO LEOPOLDO
Lago Guaíba
extremo sul aos Estados do Norte e Nordeste, passando pelos
Ta q u a r i
BR 1
O Plano Rodoviário Nacional, criado por Getúlio Vargas, em 1944, previa uma rede de estradas ligando as fronteiras do
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dominaram durante décadas a paisagem das estradas brasileiras.
NOVO HAMBURGO
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Vale do Taquari
Rio d os Sinos
na construção de rodovias também foram significativos. A meta
Caxias
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fruto dos anos JK, de Juscelino Kubitschek, o presidente que queria
Garibaldi
::1
39 A Ponte do Guaíba
::2
::3
::4
que deixaria marcas na fisionomia da cidade algumas décadas
A segunda metade do século XIX deixou um legado mais rico
depois. O deslocamento de passageiros e mercadorias para mui-
de fotografias, gravuras e alguns edifícios ainda em uso. A cidade
tas localidades do interior era feito mediante a conjugação dos
que tinha sido leal ao império na Revolução Farroupilha passou a
transportes ferroviário e hidroviário. O transporte rodoviário só
ganhar edifícios projetados por arquitetos, como o Teatro São Pedro
passou a ter importância na segunda metade do século XX. Ainda
e o Mercado Público. As platibandas que marcavam os novos sobra-
em 1951, o Rio Grande do Sul contava com 408 quilômetros de
dos, quase sempre com comércio no térreo, aos poucos iam subs-
estradas revestidas com macadame hidráulico, 167 quilômetros
tituindo a feição de povoado pela de uma cidade que sedimentava
com asfalto e concreto cimento e 21 quilômetros calçados com
sua liderança cultural e política sobre a província.
pedras , o que era insignificante.
A virada do século XIX para o XX deu início a um período
2
Da arquitetura dos primórdios de Porto Alegre, sabe-se muito
de grandes modificações urbanas que ainda marcam a fisio-
pouco. Alguns relatos permitem imaginá-la como mais uma das
nomia do centro histórico da cidade. No dizer de Paul Singer,
tantas cidades coloniais brasileiras. Casas térreas e sobrados de
“Porto Alegre nunca teve, em toda a história de sua vida social,
paredes caiadas colavam-se uns aos outros ao longo de caminhos
econômica e política, um período tão fecundo como o do iní-
sem o rigor geométrico das cidades hispano-americanas do mesmo
cio do século XX”.3 Fruto desse surto de desenvolvimento, sua
período. A cidade formava um conjunto compacto e harmonioso
2
de coberturas de telha de barro com beirais sobre os passeios. Uma Travessia, Muitas Pontes
40
3
Waelter Haetinger. “Aspectos da travessia, a seco, do caudal líquido que margeia Porto Alegre”. DAER, 1954. Paul Singer. Desenvolvimento econômico e evolução urbana, 1977.
construída entre os anos de 1906 e 1908, e a Faculdade de Agronomia, entre 1909 e 1912. Um novo período de crescimento aconteceu entre 1940 e 1960, informa Singer, sedimentando o processo de verticalização iniciado pouco antes de 1930. Em 1935, a cidade havia festejado o centenário da Guerra dos Farrapos urbanizando o Campo da Redenção, rebatizando-o como Parque Farroupilha, com anteprojeto de Alfred Agache e projeto e execução de Christiano Gelbert. No plano urbanístico, desde 1914 a cidade aspirava à implementação do Plano Geral de Melhoramentos, de autoria do engenheiro-arquiteto João Moreira Maciel. Basicamente, o plano estabelecia diretrizes viárias e de saneamento, prevendo o alargamento e a abertura de vias no centro da cidade. Entre 1928 e 1932, foi realizada a obra mais importante de modernização de Porto Alegre, a abertura da avenida Borges de Medeiros, com a constru::5
arquitetura experimentou um salto. No plano urbanístico, foi
importante do período foi a abertura da avenida Farrapos, em
realizado o replanejamento do centro da cidade a partir do aterro
1937, em direção ao aeroporto e à saída norte da cidade. Principal
de centenas de metros do Guaíba, na margem norte da Ponta do
eixo rodoviário da região metropolitana de Porto Alegre, viria a
Gasômetro. Um novo porto foi construído com cais de granito,
fazer parte da rodovia BR-2 (depois 116) e do caminho em direção
armazéns, guindastes e acesso ferroviário. Os quarteirões criados
à ponte do Guaíba.
entre ele e a cidade foram aproveitados para a construção de edifícios públicos e praças.
::6
ção do viaduto Otávio Rocha, projeto de Manoel Itaqui. Outra obra
Porto Alegre inicia a década de 1950 com uma população de 394 mil habitantes. Ao seu final, já contava com 635 mil habitan-
Os principais arquitetos desse período foram Theo
tes. A velocidade de crescimento, impressionante se comparada
Wiederspahn e Manoel Itaqui. O primeiro construiu dezenas de
com os dias atuais, tornava o assunto obrigatório nas rodas aca-
edifícios públicos e privados, entre eles os Correios e Telégrafos
dêmicas e técnicas. A cidade, em franco progresso, precisava se
(atual Memorial do Rio Grande do Sul) e a Delegacia Fiscal do
modernizar. E, no Brasil, modernizar significava reconstruir as
Tesouro Nacional (atual Museu de Arte do Rio Grande do Sul
cidades ao estilo do movimento moderno, substituindo o antigo
Ado Malagoli – MARGS). Manoel Itaqui foi responsável pelo
sistema de ruas por avenidas rápidas, com grandes edifícios afas-
projeto dos prédios dos primeiros cursos universitários que
tados uns dos outros.
viriam a formar a Universidade Federal do Rio Grande do Sul –
A cidade tradicional, mais uma vez, corria riscos e, por pouco,
UFRGS, como a Escola Técnica Profissional (prédio do Château),
não desapareceu por completo. Entretanto, algumas obras de gran-
: : 2 Teatro São Pedro, construído entre 1850 e 1858, projetado por Theodor von Normann. : : 3 O Solar Lopo Gonçalves, construído entre 1845 e 1855 e hoje ocupado pelo Museu de Porto Alegre, pode dar uma idéia do tipo de edificação presente na Porto Alegre açoriana. : : 4 Mercado Público, construído entre 1861 e 1869, com projeto de Friedrich Heydtmann, : : 5 Jockey Club do Rio Grande do Sul. Conjunto arquitetônico projetado por Román Fresnedo Siri em 1951, foi inaugurado em 1959. : : 6 Edifício Sulacap, construído entre 1938 e 1943 e projetado pelo arquiteto Arnaldo Gladosch em plena avenida Borges de Medeiros, é o maior símbolo da cidade que então assumia ares de metrópole.
41 A Ponte do Guaíba
da antiga sede do clube, que se localizava no atual Parque Moinhos de Vento. Os diques foram aproveitados para a implantação de um sistema de vias expressas, como a avenida Castelo Branco, que passa sob as alças de acesso da ponte do Guaíba, e a auto-estrada Porto Alegre-Osório, conhecida como Free-Way.
As travessias Na zona sul, não muito longe da nova sede do Jockey Club, partiam as barcas que faziam a travessia do lago Guaíba em direção ao sul do Estado. O sistema de balsas foi implantado em 1941 pelo DAER, na ponta do Dionísio, no bairro Vila Assunção, em substituição ao precário sistema que uma companhia de navegação mantinha até então. As novas barcas, segundo o engenheiro Waelter Haetinger, foram compradas de forma emergencial durante e logo após a Segunda Guerra Mundial4. Elas podiam transportar 22 automóveis ou nove ônibus, numa média de 15 veículos. Por serem ::7
adaptadas, com um único acesso, necessitavam fazer manobras complicadas para atracar. O tempo médio de travessia era de
: : 7 Barcas que faziam a travessia do lago Guaíba em direção ao sul do Estado partiam do bairro Vila Assunção.
de porte, de excepcional qualidade arquitetônica, introduziram a
uma hora e 30 minutos para pouco mais de cinco quilômetros de
boa marca modernista em Porto Alegre a partir de 1951. A mais
percurso. Na medida das necessidades, novas barcas foram incor-
importante nasceu da parceria da construtora gaúcha Azevedo,
poradas à frota, mas, mesmo assim, o sistema de balsas não con-
: : 8 Planta de Porto Alegre mostrando as três alternativas de travessia estudadas.
Moura & Gertum com o arquiteto uruguaio Román Fresnedo
seguia dar conta do crescente movimento de veículos. Em 1954,
Siri, vencedores do concurso para a construção da nova sede do
funcionavam seis barcas que transportaram 246 mil veículos e
Jockey Club do Rio Grande do Sul. Este conjunto arquitetônico
827 mil passageiros ao longo do ano. Esses números já vinham
foi inaugurado em 1959. Outra obra marcante foi o Tribunal de
sendo dobrados a cada três ou quatro anos5.
Justiça, projetado em 1953 pelos arquitetos Luiz Fernando Corona e Carlos Maximiliano Fayet. A implantação do conjunto do Jockey Club na baía do Cristal é,
problema do congestionamento crescente do sistema de barcas.
de alguma forma, devedora da grande tragédia que foi a enchente
A solução apresentada, um túnel subfluvial ligando a ponta do
do Guaíba, em 1941. Foram os planos de proteção da cidade, envol-
Gasômetro à ilha da Pintada, suscitou grande controvérsia e aca-
vendo-a com um cinturão de aterros e diques, que permitiram à
4
prefeitura de Porto Alegre oferecer a área ganha ao lago em troca Uma Travessia, Muitas Pontes
42
Em 1948, o engenheiro Clovis Pestana, ministro da Viação no governo Dutra, mobilizou o DNER e o DAER para resolver o
5
Waelter Haetinger. Op. cit. Idem.
CANOAS
í
ra
ataí
Carlos Teixeira, Marcus Kruter e A. M. Waldock para estudar e comparar alternativas de travessia do lago. O resultado desse
Ilha das Flores
e and
Ilha Grande dos Marinheiros
Saco da Alemoa
Navegantes
Ilha do Pavão
Na veg ante s
C
Osório
Gr
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o DAER criou a comissão coordenada pelos engenheiros João
G Rio
ado
disputa, que envolvia autoridades destacadas do meio rodoviário,
o
cu
Três Rios
Ri
Ja
Fu r
cos de que se tem notícia na história da cidade. Para apaziguar a
v
bou se transformando em um dos mais animados debates técni-
trabalho foi apresentado e debatido na Sociedade de Engenharia e toda a argumentação técnica foi publicada nos boletins do DAER.
Ilha do Chico Inglês
Saco de Santa Cruz
A população acompanhava a discussão por meio dos extensos artigos e transcrições publicados nos jornais da cidade.
Ilha da Pintada
Ponta do Gasômetro
PORTO ALEGRE
Ponte ou túnel
B
Uma das primeiras alternativas estudadas foi a modernização do sistema de barcas, substituindo-as por balsas maiores e mais adequadas a esse tipo de travessia. A ambição do Plano Lago Guaíba
Rodoviário Nacional, entretanto, priorizou a travessia a seco. No dizer de Waelter Haetinger, “a ligação do norte com o sul, através
Travessia de barcas
de Porto Alegre, é, em última análise, um problema de travessia
Vila Assunção
GUAÍBA Pelotas
de cidade, por rodovias-tronco do Plano Rodoviário Nacional”6, pautando as discussões acirradas que precederam a decisão de
A
construir o sistema de pontes através do delta do Jacuí.
::8
A necessidade de vencer o Guaíba, descartada a hipótese de modernização do sistema de barcas, passou a ser estudada a
deslocamento de tropas e da proximidade da Base Aérea. Contra
partir de três alternativas, conhecidas como A, ao sul da capital, B,
o túnel no Gasômetro, lembrou de aspectos psicológicos e da
partindo do centro da cidade, e C, saindo da Zona Norte. Qualquer
incidência de acidentes que a imprensa internacional vinha noti-
uma delas deveria levar em conta a navegação fluvial, deixando
ciando a respeito do uso de túneis.
livre um vão com 40 metros de altura para permitir o trânsito
O engenheiro-arquiteto Edyrceu Fontoura, do DAER, defensor
de embarcações. Aspectos importantes como o custo de cada
da opção pelo norte, fez um estudo do desenvolvimento urba-
uma das alternativas e a questão do trânsito de passagem eram
no de Porto Alegre, analisando a evolução das vias públicas. O
comparados. Mas também eram levantadas outras preocupações,
precioso trabalho7 mostra mapas detalhados, com sobreposição
como a do engenheiro Waelter Haetinger, que, em sua defesa pela
de transparências e fartura de dados históricos e numéricos,
opção norte, usa até mesmo o argumento militar da facilidade do
demonstrando sensibilidade urbanística. Faz comparações com
6
7
Ibidem.
Edyrceu Fontoura. “Aspecto urbano na travessia do Guaíba”. DAER, 1954.
43 A Ponte do Guaíba
A alternativa B foi a que suscitou mais controvérsias. O projeto de fazer a ligação das duas margens no ponto onde elas ficam mais próximas parece ter sido muito atraente, talvez pela continuidade urbana que oferecia. Para substituir o polêmico projeto de túnel subfluvial, que, entre outras coisas, exigiria uma grande chaminé de ventilação em forma de edifício no meio do percurso, foram desenhadas novas opções de pontes para vencer os 1.200 metros sobre as águas. Um segundo trecho, entre a ilha da Pintada e a margem sul, sobre o Saco de Santa Cruz, com 3.600 metros, não chegou a suscitar debates e poderia ser vencido com viadutos, aterros ou a combinação de ambos. Se a alternativa A foi facilmente descar: : 9 Estudos alternativos de travessia pela Ponta do Gasômetro.
outras grandes cidades e antevê, com rara clarividência, muito do
tada, esta provocou defesas apaixonadas, como a do engenheiro
que veio a ocorrer em Porto Alegre, como a desvalorização do cen-
e professor José Baptista Pereira. Primeiro diretor-geral do DAER,
tro da cidade em decorrência da excessiva verticalização. Mostra
Pereira fazia uma defesa intransigente a favor da solução em túnel,
semelhanças entre ela e o Rio de Janeiro, pela vocação residencial
comparando a situação de Porto Alegre à de Nova York ao utilizar o
na Zona Sul e industrial e de serviços na Zona Norte.
túnel Holland sob o rio Hudson como parâmetro referencial.
8
A alternativa A previa uma ponte no mesmo lugar de onde
Algumas vozes também defendiam a opção B pela facilidade
partiam as barcas, na Vila Assunção, fazendo a ligação direta-
da ligação direta ao centro da cidade e ao porto então operante.
mente com a cidade de Guaíba. Apesar da vantagem de ser o
Esta posição provocava duras críticas daqueles que tinham uma
caminho mais curto rumo ao sul e de ligar diretamente as zonas
visão mais rodoviária da questão. Pesava ainda, a favor dessa
urbanas das duas cidades, o trajeto sobre a água era o mais longo.
opção, o desenvolvimento urbano da ilha da Pintada, que já con-
Além disso, exigiria que todo o trânsito de passagem, vindo do
tava sua população aos milhares, abrindo caminho a um novo
norte, fosse obrigado a cruzar grandes extensões da zona urbana
grande bairro muito próximo do centro da cidade.
de Porto Alegre. O custo estimado da travessia de 5.450 metros,
A travessia a seco, por ponte, neste local, deveria contemplar a
com vão livre central de 100 metros de extensão e 50 metros de
necessidade de altura do vão sobre o canal de navegação. As opções
altura e plataforma de 8 metros (pista simples, portanto), era
eram a construção de um vão levadiço, de uma grande rampa cir-
praticamente igual ao da opção finalmente adotada, mas o custo
cular sobre a água ou, ainda, de uma ponte saindo de um ponto
das obras urbanas muito maior. Essa solução parece ter sido facil-
mais alto da rua Riachuelo. De qualquer forma, o impacto urbano
mente descartada, talvez pelos inconvenientes que causaria aos
sobre a ponta histórica da cidade seria muito grande.
já tradicionais bairros residenciais de Porto Alegre.
A alternativa C era a que melhor resolvia a questão rodoviária do trânsito de passagem, de ligação entre o norte e o sul do Estado,
8
Uma Travessia, Muitas Pontes
44
Idem.
pois as principais estradas de acesso a Porto Alegre chegam pelos
quadrantes norte e leste. Essa opção, localizada no prolongamento
pelo Plandel9, como importante fator de proteção contra as cheias
da rua Sertório, no bairro dos Navegantes, oferecia um custo menor
e como de grande valor ambiental e ecológico.
e era menos conflituosa com a travessia de navios, pois só atingia os que demandavam o interior do Estado. Uma outra atração da
A ponte
alternativa C era que facilitaria a urbanização das principais ilhas
A concorrência pública internacional realizada em 1953 para a alter-
do delta do Jacuí, que passariam a ser interligadas. No período de
nativa C contou com a participação de cinco empresas, a maioria
construção das pontes, chegou a ser realizado um concurso entre
delas estrangeira, que apresentaram um total de dez alternativas
os arquitetos para a escolha do melhor projeto de urbanização des-
de projetos: a Sociedade Técnica de Engenharia e Representações
sas ilhas. Essa disposição também é percebida nos estudos enco-
S.A. (STER), com quatro soluções; a Société de Grands Travaux de
mendados aos franceses do Laboratoire Dauphinois D’Hydraulique,
Marseille, com três soluções; a Azevedo, Bastian, Castilhos S.A.,
que, além de analisarem o comportamento das águas na presença
com duas soluções; a Campenon Bernard, Estudos e Obras S.A.,
das fundações das pontes, também averiguaram os efeitos de
com duas soluções; e a Companhia Construtora Nacional S.A., com
aterros e construção de docas nas ilhas. Felizmente, essas idéias
uma solução. A construtora brasileira Azevedo, Bastian e Castilhos
não foram levadas adiante, pois, muitos anos depois, o conjunto
foi a vencedora do concurso com a solução elaborada pelo escri-
de ilhas acabou sendo reconhecido, a partir dos estudos realizados
tório de engenharia Leonhardt und Andrä, sediado em Stuttgart, Alemanha, que desenvolveu o sistema de protensão conhecido como Baur-Leonhardt. Não tivemos acesso às atas do júri formado por engenheiros do DNER e DAER, mas depoimentos nos contam que a quantidade de pontos alcançada por esse projeto na fase de qualificação da concorrência foi suficiente para conquistar a segunda fase, de preços. O próprio Fritz Leonhardt, em artigo assinado na revista especializada Beton und Stahlbetonbau (Estruturas
: : 11
: : 10 Na sede do laboratório, em Grenoble, na França, foi montada uma maquete reproduzindo o sistema hídrico do Delta do Jacuí. Foram simuladas diversas situações de cheias. : : 11 Sistema de cimbramento reaproveitável, construído para ser transportado por barcas até o local das obras.
de Concreto e Concreto Protendido), de dezembro de 1963, mostra entusiasmo com o processo de escolha pois, “antes do conhecimento do preço oferecido, era computada a qualidade técnica do projeto”, e recomenda a sua adoção na Alemanha. Leonhardt, no mesmo artigo10, assim descreve o projeto vitorioso: “mais de 2.000 metros de viadutos para interligação da cidade com a ponte; 9
: : 10
Grupo de Planejamento Parque Delta do Jacuí da Secretaria de Obras do Estado, coordenado pelo arquiteto Udo Mohr, entre 1976 e 1979, ano em que o parque foi instituído por decreto. 10 Tradução livre do autor. Os colchetes são do autor.
45 A Ponte do Guaíba
em concreto armado protendido, à exceção do vão móvel, que foi projetado em aço pela empresa alemã J. Gollnow & Sohn, com a colaboração da firma de eletricidade AEG – Allgemeine ElektricitätsGesellschaft para o sistema de elevação. Como a Cacex11, durante as obras, não concordou com a importação de aço para a obra, protegendo a siderurgia nacional, o projeto teve que ser nacionalizado. Coube à Companhia Brasileira de Construção Fichet, SchwartzHaumont, de São Paulo, adaptar o projeto de acordo com o desenho original e montar o do sistema de elevação da plataforma móvel em conjunto com a Siemens do Brasil, que importou da Alemanha : : 12
os sistemas eletrônicos sem similares no Brasil. A plataforma de aço do vão móvel foi executada, então, pela Companhia Siderúrgica
: : 12 Sistema de cimbramento sendo içado para a posição de suporte das formas de concreto armado. : : 13 Vários aspectos das obras da ponte sobre o Guaíba. Observa-se o grande aterro da margem do lago para a construção do novo porto e as novas vias de acesso a Porto Alegre. : : 14 Desenho da firma alemã Leonhardt und Andrä mostrando as elevações de projeto da ponte do Guaíba. Observa-se que os mastros sobre cada torre não foram executados e a cabine de controle foi modificada. : : 15 Desenho dos projetistas alemães Fritz Leonhardt e Wolfhart Andrä mostrando, em corte, os pilares do vão móvel e seu sistema de contrapesos.
uma ponte sobre o Guaíba [canal Navegantes], com 777 metros
Nacional, que encontrou solução para adaptar as prescrições de
de comprimento no total, com um trecho móvel de 50 metros
tensões calculadas para o sistema de laminação alemão, diferente
de vão que se eleva a 40 metros das águas;
do sistema americano que utilizava.
uma ponte sobre o Furado Grande, com comprimento total de
Percalços de toda ordem, naturais em uma obra que envolvia
344 metros, dando passagem a embarcações de pequeno porte;
grande quantidade de subempreiteiras, poderiam significar grandes
uma ponte sobre o Saco da Alemoa, com comprimento total de
atrasos no cronograma, mas as medidas eram tomadas em ritmo de
774 metros, atravessando uma baía não navegável do delta;
urgência, e o atraso foi pequeno diante de sua magnitude. O maior
uma ponte sobre o [canal] Jacuí, braço principal do delta, com
contratempo que o engenheiro Lélio Soares Araújo pôde lembrar em
comprimento total de 1.756 metros e um vão livre para a
seu depoimento ao autor foi o rompimento inesperado dos cabos de
navegação de 50 metros de largura por 20 metros de altura”.
protensão. A dificuldade foi a fragilização dos cabos pela presença do
Vale lembrar que Leonhardt faz referências ao projeto inicial, que
hidrogênio liberado por uma massa sulfurosa fundida empregada no
ganhou a concorrência pública de 1953 e que sofreria pequenas alte-
tratamento da superfície de ancoragem dos cabos. A descoberta, feita
rações em seu desenvolvimento. A equipe de projeto ainda era consti-
pelo engenheiro Werner Grunding12, acabou explicando uma situação
tuída pelos engenheiros do DAER, tendo à frente João Carlos Teixeira,
similar ocorrida na Alemanha, quando cabos de protensão transpor-
responsável pelo traçado da travessia; pela firma Estacas Franki, que
tados em bobinas também perderam a capacidade de tracionamento
fez o projeto das fundações; e pelo professor A. J. da Costa Nunes, res-
por terem ficado depositados em uma estação de trens próxima a
ponsável pelo projeto de aterros. À firma Planitécnica coube o projeto
uma fábrica de enxofre.
de iluminação. Todas as obras de arte da travessia foram projetadas na Alemanha pelos engenheiros Fritz Leonhardt, W. Andrä e W. Baur Uma Travessia, Muitas Pontes
46
11
Órgão fiscalizador do governo federal que impedia a importação de produtos e materiais produzidos no Brasil. Werner Grunding. “A fragilização pelo hidrogênio como causa de ruptura de arames de aço para protender concreto”. 1958.
12
: : 14
: : 15
: : 13
47 A Ponte do GuaĂba
: : 17
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Ilha Grande dos Marinheiros
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Ilha das Flores
Ilha do Pavão
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Ilha da Pintada
: : 16
Uma Travessia, Muitas Pontes
48
Lago Guaíba : : 18
: : 16 Cimbramento para montagem do vão levadiço da ponte do Guaíba. As diversas partes metálicas são unidas por meio de rebites. : : 17 Partes metálicas sem rebites do vão levadiço sendo içadas no cais do porto. : : 18 O percurso da travessia do Guaíba. : : 19 Vão metálico logo após a montagem ainda com os dizeres “Volta Redonda”, fabricante da estrutura. : : 20 Dia festivo de inauguração da ponte, em dezembro de 1958. : : 21 Capa da revista Rodovia comemorativa da inauguração da ponte. : : 19
: : 20
A Travessia Régis Bittencourt, com suas quatro pontes, foi
Depois da festiva inauguração, acompanhada por uma mul-
inaugurada nos últimos dias de 1958 para prestigiar o fim do
tidão de pessoas, a ponte móvel se tornou uma grande atração da
mandato do governador Ildo Meneghetti. Porém, a totalidade das
cidade e um de seus cartões postais preferidos, escondendo o fato
obras, como as do anel de acesso, ainda levou alguns anos para
de que a travessia é muito maior e mais complexa. Mas é evidente
ser concluída. O custo do empreendimento foi totalizado em 750
que a ponte levadiça se destaca com suas quatro torres. Torres
milhões de cruzeiros, assumidos na sua maior parte pelo governo
que, no dizer de Leonhardt, exigiram um cuidadoso projeto para
federal. O nome da travessia foi sugerido pelo governo do Estado
combinar o concreto armado comum com o restante da estrutura
do Rio Grande do Sul em homenagem ao então diretor do DNER.
protendida. Minucioso estudo também foi realizado para que a
O fato curioso é que logo após sua inauguração houve troca do
altura das vigas metálicas pudesse coincidir com a das vigas dos
governo estadual, saindo Ildo Menegheti e assumindo Leonel de
demais vãos em concreto protendido, criando uma composição
Moura Brizola. Este resolveu rebatizar a ponte com o nome de seu
harmônica para a estrutura.
mentor político Getúlio Vargas, chegando, para isso, a substituir
De longe, as torres parecem pilares autônomos que continu-
uma parte da grande placa de inauguração afixada em um dos
aram a crescer para formar uma espécie de farol ou estranhos
pilares da ponte. Inexplicavelmente, a placa foi roubada no dia
observatórios multiplicados. As pequenas aberturas verticais
seguinte ao seu ato... e o governo federal, dono da estrada, jamais
envidraçadas no seu topo reforçam o ar de mistério e provocam
reconheceu a tentativa de mudança de nome.
curiosidade. É de perto que se percebe que elas estão unidas
: : 21
49 A Ponte do Guaíba
: : 22 Uma Travessia, Muitas Pontes
50
duas a duas sob a ponte, formando um pilar tão grande que
por um operador que ocupa uma cabine semelhante a uma torre
abriga um compartimento para máquinas. O entendimento da
de controle de aeroporto. Construída como um elemento aposto
ponte levadiça começa a ficar claro. Dentro dessas torres correm
em uma das colunas, alguns metros acima do nível da pista, fica
os contrapesos que facilitam a elevação das 460 toneladas da
em balanço sobre as águas e é totalmente envidraçada. O acesso a
plataforma de 57,54 metros de comprimento por 18,30 metros
ela se faz por uma escada metálica em caracol também projetada
de largura . É visível o conjunto de cabos que correm na face
sobre as águas. A travessia nesse primeiro trecho tem um total de
interna das torres e que ligam os motores guardados sob a ponte
575 metros de comprimento, 16 metros de largura e 1.815 metros
ao conjunto de polias que estão lá em cima para içar o tabuleiro
de viadutos de acesso, que formam um trevo de ligação com as
metálico até uma altura de 26 metros. O vão livre dessa estrutu-
vias da cidade. Os inconvenientes da interrupção do tráfego aca-
ra, entre apoios, é de 55,80 metros e as quatro faixas de rodagem,
bam sendo muito bem compensados pelo espetáculo da elevação
divididas em dois sentidos de trânsito, ocupam 16 metros. De
da ponte e pela passagem dos navios.
13
cada lado, um passeio de apenas um metro de largura parece
As duas pontes seguintes, para quem sai de Porto Alegre, se
mostrar que na época do projeto da ponte não se imaginava que
são discretas por não mostrarem os elementos de sua estrutura,
o trânsito de pedestres, ciclistas e carroças um dia pudesse se
não passam despercebidas. A sensação de imersão na beleza da
tornar um problema.
paisagem, que a pouca altura e a proximidade das águas propor-
O sobe-e-desce da ponte é acionado para passagem dos navios
cionam, marca a travessia do canal Furado Grande, com seus 344
que querem cruzá-la nos horários permitidos. Ele é controlado
metros de extensão e sua altura de oito metros, e a do canal Três Rios, com seus 774 metros de extensão e apenas seis metros de
13
Para aliviar o peso, foi utilizado o sistema, à época inédito no Brasil, de placa ortótropa, em que a chapa do piso da ponte substitui as mesas superiores das vigas em duplo T. A plataforma também foi toda soldada para evitar a sobrecarga dos rebites. Mais dados técnicos sobre a plataforma elevadiça podem ser encontrados em: José de Moura Villas Boas. “A ponte levadiça, soldada, sobre o rio Guaíba: problemas de obtenção do aço e de fabricação”, 1959.
: : 22 Vista da ponte no dia da inauguração ainda com cimbramento em alguns vãos e trevo de acesso incompleto no lado direito da foto. Podem-se ver o novo cais do porto ainda sem função portuária e, ao fundo, a margem original do lago antes de ser completado o aterro.
altura sobre as águas. Beleza multiplicada pelos efeitos da mudança das estações e, mesmo, das horas do dia sobre o ambiente local. O encontro das águas com o verde das ilhas e o colorido do céu
51 A Ponte do Guaíba
Uma Travessia, Muitas Pontes
52
servem de enquadramento e apontam, ao fundo, para o centro de
quase intransponível. Felizmente, a aproximação vai desfazen-
Porto Alegre. Não há como evitar uma fugaz presença do sublime
do aos poucos essa sensação, já que a inclinação para atingir a
ao desfrutarmos, na velocidade que a estrada permite, dessa har-
altura do vão central é suave e gentil. Por ele passam os navios
moniosa combinação entre o natural e o construído.
em direção ao rio Jacuí, o mais caudaloso do Estado, que tam-
A ponte sobre o canal Jacuí, última desse percurso, com a
bém faz a divisa entre Porto Alegre e Eldorado do Sul. Do alto da
forma de um gigantesco arco, tem um comprimento total de
ponte, como de um mirante, os viajantes que estão chegando do
1.755 metros, sendo 53 metros do vão livre central. De longe, no
sul têm a oportunidade de dar a primeira visada sobre a cidade
horizonte, a ponte se apresenta como um obstáculo de altura
que os espera.
Quanto mais se estuda esse projeto, mais os aspectos cons-
A construção da Free-Way Porto Alegre-Osório nos anos 70
trutivos, de cálculo, de execução das fundações, formas, proten-
complementou um sistema de distribuição de tráfego que, das
são, estrutura metálica e parte mecânica do vão móvel, além dos
pontes, permite grande facilidade de conexão com todas as demais
aspectos arquitetônicos e formais, mostram sua relevância para a
estradas que cruzam a região metropolitana de Porto Alegre. Não
cultura técnica e científica. Esperamos que novas pesquisas conti-
é preciso muito esforço para perceber a correção da localização da
nuem a se debruçar sobre os dados apresentados neste trabalho e
travessia e sua importância no cotidiano dos porto-alegrenses. O
que se encontram dispersos em publicações e arquivos do Brasil,
volume de tráfego cresceu tanto que, em 1979, tornou-se impres-
Alemanha e França, ampliando o conhecimento sobre essa obra.
cindível sua duplicação, mostrando o acerto e a previdência de já
A articulação da ponte com a cidade, vista de cima, mostra a
ter sido construída a ponte com o vão móvel com pista dupla. A
beleza de um desenho que não se consegue perceber facilmente
concessão da rodovia à Concepa, integrando-a à Free-Way Porto
do solo. Um conjunto de vias entrelaçadas na forma de um círculo
Alegre-Osório, permitiu os investimentos necessários para a dupli-
faz a distribuição do trânsito em diversas direções. Abaixo deste
cação do trecho restante e sua transformação em via expressa
círculo, temos a presença das avenidas Castelo Branco e sua con-
com a construção de um viaduto de acesso a Eldorado do Sul,
tinuação como Free-Way, do trem suburbano, do trânsito local e do
cidade que cresceu às margens e como decorrência da rodovia. A
prolongamento da avenida Voluntários da Pátria, que utiliza um
evolução do trânsito de passagem indica, contudo, que breve será
viaduto que achou seu lugar entre os elevados e a linha do metrô.
necessário construir uma nova alternativa de travessia do Guaíba.
Abaixo de tudo isso, foi necessário construir uma passagem para
A ponte levadiça, como também é referida, cartão postal da cida-
ligar o bairro ao porto. A complexidade de fluxos é tão grande que,
de, entrará, então, em um novo ciclo, absorvendo apenas o trân-
Revista Rodovia, Rio de Janeiro, n. 226, dez. 1958.
do ponto de vista do pedestre, toda essa concentração de pistas e
sito local. Quem sabe, mais integrada à vida do bairro e melhor
viadutos acabou gerando um verdadeiro não lugar inseguro e de
aproveitada paisagisticamente. O certo é que por muito tempo
Separata do Boletim do DAER–RS, n. 62-63, ano XVII, 1954.
difícil orientação. As extensas áreas residuais só são utilizadas
continuará sendo uma sentinela guardiã da entrada sul da cidade.
uma vez por ano na tradicional Festa dos Navegantes. A cidade,
Monumento símbolo, mostra, desde logo, o que espera o visitante.
que encontrou no lago as melhores possibilidades de desenvolvi-
Elementos quase medievais misturados com formas dinâmicas
mento econômico, é tímida em explorá-lo em sua potencialidade
que apontam para o futuro, não deixam dúvidas: aqui o conflito
turística, cultural e de lazer.
entre passado e futuro, tradição e vanguarda é sempre presente.
Referências bibliográficas
BOAS, José de Moura Villas. A ponte levadiça, soldada, sobre o rio Guaíba: problemas de obtenção do aço e de fabricação. Separata do Boletim da Associação Brasileira de Metais, São Paulo, ABM, n. 55, 1959. Boletim do DAER–RS, n. 36, ano IX, set. 1947. Folheto impresso pelo DAER na época da inauguração da travessia. GRUNDING, Werner. A fragilização pelo hidrogênio como causa de ruptura de arames de aço para protender concreto. Separata do Boletim da Associação Brasileira de Metais, São Paulo, ABM, n. 53, 1958. KIEFER, Flávio; LUZ, Maturino. La arquitectura de Porto Alegre. Revista Elarqa, Montevideo, n. 33, fev. 2000. LEONHARDT, F.; Andrä, W. Die Guaiba Brücke bei Porto Alegre, Brasilien (The Guaiba Bridge at Porto Alegre, Brazil). Beton und Stahlbetonbau, n. 58, 1963, pp. 273-279.
SINGER, Paul. Desenvolvimento econômico e evolução urbana. São Paulo: Nacional, 1977. SOUZA, Célia Ferraz de; MULLER, Dóris Maria. Porto Alegre e sua evolução urbana. Porto Alegre: UFRGS, 1997.
53 A Ponte do Guaíba
Pontes Móveis
por BEATRIZ BLAY
A origem das pontes móveis está vinculada às pontes levadiças que eram construídas sobre fossos junto às portas das fortificações de castelos. Construídas com madeira e de pequenas dimensões, permaneciam içadas para proteger a entrada da muralha e eram abaixadas apenas quando necessário.
Pontes Móveis
54
::1
::2
A plataforma era feita de modo a girar em torno de um eixo hori-
para o assédio de cidades e fortalezas desde Alexandre, o Grande
zontal. Esse tabuleiro dispunha de um contrapeso colocado na
(356-323 a.C.) e perduraram por toda a Idade Média até a introdu-
extremidade interna da ponte que a mantinha abaixada. Calços de
ção da nova artilharia da pólvora. Grandes estruturas verticais de
madeira garantiam a sua fixação. Quando os calços eram retirados,
madeira, geralmente da altura da fortaleza a ser conquistada, as
a ponte se levantava. Outra modalidade fazia uso de um mecanis-
torres dispunham de pequenas plataformas móveis que facilita-
mo de içamento por meio de cordas ou correntes. Utilizadas já em
vam a passagem dos soldados.
antigas fortalezas, como o castelo de Eurialo, em Siracusa, Itália,
O propósito militar também gerou o uso de pontes provisó-
no século V a.C., as pontes móveis tornaram-se de uso freqüente
rias para possibilitar a travessia de exércitos. Entre elas, está a que
e fazem parte do imaginário da Idade Média e de outros períodos
foi construída com cerca de 300 barcos pelo rei persa Xerxes I, em
históricos. Um exemplo de ponte levadiça é a utilizada no forte da
480 a.C., sobre o canal de Helesponto, durante a segunda guerra
Ponta da Bandeira, em Lagos, no Algarve, Portugal, construído no
médica. Terminou destruída por uma tempestade.
: : 1 Torre móvel. Dictionnaire raisonné de l’architecture française du XIe au XVIe siècle, por Eugène Viollet-le-Duc, 1856. : : 2 Forte da Ponta da Bandeira, séc. XVII. Lagos, Algarve, Portugal.
século XVII para impedir o ataque de piratas e corsários. Um dos artifícios militares utilizados nos castelos medievais
Pontes basculantes e dobráveis
era a imposição de acessar a ponte por meio de uma grande
O princípio de içamento das pontes levadiças de madeira foi
rampa. Dessa maneira, os inimigos expunham-se mais facilmente
aprimorado e aplicado na superação de pequenos vãos de canais
aos soldados dispostos sobre a muralha.
e cursos d’água que cortavam áreas urbanas. A Magere Brug
As pontes levadiças também foram utilizadas em torres
(Ponte Magra) sobre o rio Amstel, em Amsterdã, data de 1670.
móveis. Essas torres são um dos engenhos militares desenvolvidos
Será apenas a partir de 1850, com a tecnologia da construção de
55 A Ponte do Guaíba
::3
::4
::5
: : 3 Ponte de Langlois, Arles, França. Notabilizada por ter sido pintada por Van Gogh em 1888.
pontes de ferro já estabelecida e assimilada, que os engenheiros
São Francisco, Califórnia, é o engenheiro responsável pelo desen-
desenvolvem a capacidade de vencer grandes vãos por meio de
volvimento dessa modalidade.
: : 4 Ponte Pégaso, Ouistreham, França. Essa ponte tipo Scherzer rotante teve participação importante no desembarque dos aliados na Normandia durante o final da Segunda Guerra Mundial. O nome Pégaso deriva da operação armada pela Brigada Aérea Inglesa.
pontes móveis.
: : 5 Ponte da avenida Michigan, Michigan Avenue Bridge, Chicago, 1920.
As pontes basculantes são o tipo de ponte móvel mais uti-
culantes construídas com o sistema trunnion e apresenta duplo tabu-
lizado devido à rapidez da operação e ao baixo uso de energia
leiro: o superior para o tráfego de carros e pedestres e o inferior para o
consumida. O sistema utiliza folhas basculantes que se abrem
tráfego pesado.As folhas pesam 3.340 toneladas e são içadas por quatro
e liberam a passagem central dos cursos d’água. Essa abertura é
engrenagens, com 70 centímetros de diâmetro cada. Oito motores con-
feita por meio de motores, engrenagens e contrapesos, os quais
trolam o seu içamento. A abertura e o fechamento levam no máximo
podem localizar-se acima ou abaixo do tabuleiro. Um operador
45 segundos.
situado numa cabine de controle ao lado da ponte controla os mecanismos de abertura e fechamento.
Pontes Móveis
56
A ponte da avenida Michigan, em Chicago, é uma das pontes bas-
Outra variação de ponte basculante é a que faz uso de um sistema de rotação no qual a ponte é içada a partir de dois gran-
De modo geral, há dois sistemas de pontes basculantes. Um
des cilindros giratórios de aço com contrapesos, como numa
é o sistema em que, para se levantar, a ponte gira ao redor de
cadeira de balanço. Pouca energia é necessária para levantar a
um grande eixo chamado trunnion, e os contrapesos localizam-
ponte, pois a ação da rotação reduz o atrito. Essa modalidade é
se sobre o tabuleiro. É o sistema de ponte denominado Strauss.
conhecida por pontes rotantes do tipo Scherzer, em homenagem
Joseph Strauss (1870-1938), autor do projeto da Golden Gate, em
ao seu inventor, William Scherzer (1858-1893).
::6
::7
::8
A ponte dobrável é uma variante da ponte basculante.
extremidade fica em balanço. Em relação a outras pontes móveis,
Dividida em três segmentos, ao fechar-se, toma a forma da letra
as pontes giratórias são lentas no funcionamento, e muitas foram
“n”. O departamento de planejamento da cidade de Kiel, Alemanha,
substituídas por pontes basculantes ou de içamento vertical.
: : 6 Ponte Hörn, na cidade de Kiel, Alemanha. Passarela para pedestres, 1997, von Gerkan, Marg & Associados e Schlaich, Bergermann & Associados.
solicitou o projeto de uma passarela para pedestres que fosse
Já Leonardo da Vinci (1452-1519) tinha um projeto de ponte
um símbolo para essa localidade da costa do mar Báltico e cujo
giratória. Ela era construída sobre barcos e recolhida mediante o
mecanismo de abertura e fechamento funcionasse com rapidez.
uso de um gancho adequado, cabos e cordas. Encaixava-se em um
As condicionantes favoreceram a oportunidade de se desenvolver
nicho especialmente construído à beira do rio e, dessa forma, não
um sistema semelhante a uma cama dobrável, que é hoje atração
dificultava a passagem das embarcações. Esse sistema, planejado
turística da localidade.
para atender objetivos militares, foi pensado, certamente, para
Pontes giratórias
: : 7 Puente de la Mujer, Buenos Aires. Passarela para pedestres em Puerto Madero, projeto do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, 2001. : : 8 Modelo representativo da ponte giratória de Leonardo da Vinci.
um rio de águas tranqüilas. A vantagem desse tipo de ponte é que ele dispensa o uso de
Pontes giratórias são pontes móveis que giram ao redor de um
contrapesos. Seu peso final, portanto, é bastante reduzido se com-
pilar localizado no centro do curso d’água e dão passagem às
parado aos outros tipos de pontes móveis. A desvantagem relacio-
embarcações em cada um dos seus lados. Quando o canal é
na-se com a necessidade de um pilar central de sustentação que
muito estreito e impede a instalação do pilar no meio da água,
pode ser causador de acidentes na medida em que reduz a faixa
a ponte pode ser fixada em apenas uma das margens, e a outra
de navegabilidade de um canal.
57 A Ponte do Guaíba
::9
: : 9 Canal de Corinto, Grécia, 2002. Há duas pontes submergíveis, uma em cada extremidade do canal. O centro do vão é rebaixado 8 metros sob o nível da água. : : 10 Ponte Kingsferry sobre o rio The Swale, Kent, Inglaterra, c. 1990. De concreto protendido e aço estrutural, essa é a terceira ponte móvel construída nesse ponto da travessia. Substituiu uma ponte Scherzer que, por sua vez, havia substituído uma ponte basculante. : : 11 Ponte ferroviária entre Rio Grande e Pelotas, sobre o canal São Gonçalo, RS, séc. XIX. Utilizada no transporte de grãos e combustíveis, é hoje atração turística da cidade de Pelotas. : : 12 Chicago, pontes basculantes no rio Chicago.
Pontes Móveis
58
: : 10
Pontes submergíveis e com içamento vertical
A maioria das pontes utiliza-se de torres com contrapesos,
Outro tipo de mobilidade é o das pontes submergíveis. O tabulei-
porém há casos de macacos hidráulicos localizados sob o tabu-
ro abaixa-se sob o nível da água para permitir que embarcações
leiro. A maior desvantagem desse tipo de ponte é a limitação de
trafeguem livremente.
altura que resulta do tabuleiro sobre a via de passagem.
As pontes com içamento vertical utilizam roldanas, motores e contrapesos para alçar a seção móvel, como um elevador. O vão
Chicago
central sobe verticalmente e fica paralelo à via de passagem. Essa
A terceira maior cidade dos Estados Unidos, Chicago, situa-se às
solução oferece a vantagem de ser menos custosa em relação às
margens do lago Michigan, um dos Grandes Lagos da América do
pontes basculantes e giratórias, pois o contrapeso necessário ao
Norte. O centro comercial da cidade, conhecido como Loop, compri-
seu içamento deve ser igual apenas ao peso do próprio tabuleiro.
me-se entre o lago, o rio Chicago e o circuito de linhas ferroviárias.
Já nas pontes basculantes, o contrapeso deve pesar várias vezes
Barcos provenientes do lago adentravam o rio, e automóveis, trens,
mais do que o vão a ser levantado para compensar o efeito gan-
caminhões e pessoas precisavam cruzar diariamente os lados
gorra. Por essa razão, as pontes com içamento vertical são as mais
norte e sul da cidade. Essa combinação favoreceu o uso de pontes
utilizadas para o pesado tráfego ferroviário.
móveis em toda a extensão do rio. Data de 1834 a primeira ponte
: : 13
: : 11
móvel, a qual, ainda medieval no seu mecanismo de içamento por meio de cabos e contrapesos, não resistiu às intempéries. É a partir de 1902 que surgem as pontes que fazem uso de motores e engrenagens. Hoje são 45, e Chicago é a cidade com o maior número de pontes móveis do mundo. A modalidade mais utilizada é a basculante trunnion. Esse sistema está tão identificado com a cidade que esse tipo de ponte é conhecido internacionalmente como tipo Chicago. Atualmente, os grandes navios deixaram de circular pelo centro da cidade. Apenas veleiros e barcos de passeio navegam pelo rio durante a primavera e o verão. Nessas estações, as pontes permanecem abertas durante períodos preestabelecidos. Em 17 de março, dia de são Patrício (saint Patrick), o fundador do cristianismo irlandês e data da festa nacional irlandesa, as águas do rio Chicago são tingidas de verde. : : 12
59 A Ponte do Guaíba
mais importantes edifícios públicos, entre as quais a do magnífico Palácio de Inverno, sede do Museu Hermitage. Porém, apesar da situação geográfica, Pedro, o Grande proibiu a construção de pontes. Queria que a população fizesse uso de barcos para a travessia durante o verão e de trenós quando as águas congelassem durante os meses de inverno. Após sua morte, pontes foram construídas. Hoje são cerca de 340, de dimensões, estilos e construções variadas, edificadas em diferentes períodos. Algumas são pequenas passagens para pedestres; outras, enormes artérias de tráfego, como a ponte Alexander Nevsky, de quase um quilômetro de extensão. Sobre o rio Neva, as pontes são todas móveis do tipo basculante. Durante a noite, permanecem levantadas para liberar a passagem das embarcações, o que impede os habitantes da cidade de cruzar o rio. Apenas em 2003 foi construída a primeira ponte fixa estaiada a cruzar o rio Neva, permitindo que a travessia fosse feita também à noite. Uma ligação simbólica é comumente estabelecida entre cidades com alguma afinidade para o estreitamento de relações políticas, econômicas e culturais. São Petersburgo é cidade-irmã de Porto Alegre. : : 13
Pontes aéreas ou de içamento aéreo
: : 13 Vista aérea de São Petersburgo, com o rio Neva e suas pontes móveis.
São Petersburgo O czar Pedro I, o Grande (1672-1725) concebeu a cidade de São
lidade por meio de uma plataforma que, fixa à estrutura da ponte,
: : 14 Ponte aérea de Duluth, Minnesota, Estados Unidos, 1905. A ponte “carrega” os veículos e pedestres num percurso pequeno de cerca de um minuto de duração.
Petersburgo em 1703 como um dos baluartes do seu projeto
se desloca por um sistema de rodízios. São semelhantes às pontes
político de modernização da Rússia, cuja nova capital deveria ser
rolantes que descarregam mercadorias nos navios ancorados nos
uma janela para a Europa. Seu desejo era criar uma cidade à ima-
portos. A ponte de Duluth, na divisa do Estado de Minnesota com
gem de Amsterdã ou Veneza. A cidade, grande centro comercial
Wisconsin, nos Estados Unidos, é uma das duas únicas ocorrências
e importante base naval, situa-se numa região pantanosa, com
nos Estados Unidos e é considerada um monumento histórico.
mais de cem ilhas criadas pela profusão de rios, canais e riachos.
Construída em 1905, a ponte foi reformada em 1930, e o sistema
O principal rio é o Neva, para o qual se voltam as fachadas dos
ainda hoje é utilizado. A travessia de um pequeno canal, no local
: : 15 Tower Bridge, Londres, 1894.
Pontes Móveis
60
Extremamente raras, as pontes de içamento aéreo fornecem a mobi-
Bibliografia
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: : 15
conhecido como Minnesota Point, foi objeto de várias tentativas,
água do rio para seis grandes caixas-d’água, de modo que estives-
dificultadas pelas condições climáticas. Balsas poderiam ser utili-
se disponível quando solicitada. As torres de 65 metros de altura
zadas no verão, porém o gelo causaria sérios problemas durante o
e estrutura de aço foram construídas de modo a harmonizar com
inverno. A solução veio de um engenheiro local, Thomas Mc Gilway,
a original Torre de Londres e ganharam uma conformação em
e, quando inaugurada, a ponte podia transportar apenas 54 tonela-
estilo neogótico vitoriano. Compõem, com a abertura da ponte,
das. A reforma de 1930 permitiu o içamento da porção elevada com
uma imagem de castelo medieval.
a finalidade de facilitar o tráfego das embarcações.
A passarela superior serve de amarração às duas torres, que suportam as tensões dos cabos estruturais das pontes pênseis
Tower Bridge, Londres
laterais, ao mesmo tempo em que facilita o tráfego de pedestres.
Provavelmente a mais famosa ponte móvel do mundo, a Tower
Atualmente, esse espaço abriga uma exposição permanente sobre
Bridge cruza o rio Tâmisa, em Londres. Inaugurada em 1894, com
a ponte, cujo antigo mecanismo ainda pode ser visto. Hoje, a aber-
projeto de Horace Jones revisado por John Wolfe-Barry, a ponte de
tura e o fechamento das básculas são feitos eletronicamente.
244 metros fazia uso de um sistema hidráulico para o içamento
A ponte é cenário dos filmes “O Diário de Bridget Jones” e
do vão central de 61 metros, ladeado por duas torres. A energia a
“007: O Mundo Não É o Bastante” e também do ainda inédito
vapor era fornecida por aquecedores a carvão que bombeavam a
“Harry Potter e a Ordem da Fênix”.
http://www.museoscienza.org/leonardo/galleria/ pontegirevolesubarche.asp. Sobre Leonardo da Vinci. Última visualização em 31 mar. 2007. http://www2.co.multnomah.or.us/jsp/Public/EntryP oint?ct=e70856048e817010VgnVCM9687010ac6 14acRCRD. Sobre pontes basculantes. Última visualização em 23 fev. 2007. KOGLIN, Terry. Movable bridge engineering. New Jersey: John Wiley & Sons, Inc., 2003. LEONETTI, Isabella. Chicago: a cidade das pontes móveis. Metálica, fev. 2003. LOPES, João Marcos; BOGÉA, Marta; REBELLO, Yopanan. Arquiteturas da engenharia ou engenharias da arquitetura. São Paulo: Mandarim, 2006. Pontes e viadutos. São Bernardo do Campo: Mercedes Benz do Brasil S. A. e Empresa das Artes, 1992. VASCONCELOS, Augusto Carlos de. Pontes brasileiras: viadutos e passarelas notáveis. São Paulo: Pini Editora, 1993. WELLS, Mathew. 30 bridges. Londres: Lawrence King Publishing Ltd., 2002.
61 A Ponte do Guaíba
Uma Travessia entre Margens e Vidas por ALICE DUBINA TRUSZ e ROSÉLIA ARAÚJO VIANNA
Embora as legendas dos cartões postais que veiculam imagens da ponte sobre o lago Guaíba a denominem ora como Ponte do Guaíba, ora como Travessia Getúlio Vargas ou Travessia Régis Bittencourt, todas se referem a uma mesma obra de engenharia, monumento arquitetônico e um dos principais pontos turísticos da cidade de Porto Alegre. Pontes Móveis
62
A confusão se estende à imprensa, aos empregos cotidianos da
to, este já se mostrava incapaz de atender satisfatoriamente ao
população local e às publicações sobre as pontes brasileiras. Essa
escoamento do crescente tráfego com regularidade e segurança,
variedade de denominações revela as diferentes apropriações da
tornando necessária a criação de uma alternativa. Diferentes pro-
obra pelos seus construtores, pela política e pelos usuários. Se
jetos foram elaborados com este fim, sendo discutidos no âmbito
a maioria da população desconhece a sua denominação oficial,
institucional e junto à população. Venceu a opção de um caminho
Travessia Régis Bittencourt, ela é rapidamente identificada como
circundante, com a construção de pontes a partir da rua Sertório,
ponte do Guaíba, seu nome popular, que sintetiza a sua natureza
no bairro Navegantes, ao norte da cidade, utilizando-se as ilhas
e importância na história e no cotidiano da cidade e do Estado.
do delta do Jacuí.
Construída com o intuito de dar solução ao problema da insuficiência dos serviços de travessia fluvial e às crescentes necessidades de expansão do tráfego rodoviário, a Travessia tornou-se a primeira ligação a seco entre as margens opostas do lago Guaíba, reconfigurando a sua relação com a cidade, além de ligar a capital à Região Sul do Estado e este aos países do Cone Sul. Porto Alegre constituiu-se historicamente como centro político e administrativo, cujas localização geográfica e proximidade a um conjunto de cursos fluviais navegáveis foram decisivas para que assumisse o papel de entreposto comercial e se desenvolvesse rapidamente em torno deste eixo funcional na segunda metade do século XIX e primeira do XX. Entre as rotas que contribuíam para que a capital ocupasse essa posição estavam as ligações diretas com as ilhas fronteiras e com a cidade de Guaíba, realizadas através de serviços de transporte coletivo, por navegação fluvial, empregando-se lanchas e barcas. Desde as primeiras décadas
::1
do século XX, já havia entre as duas cidades uma intensa rede de trocas econômicas, sociais e culturais. Muitos passeios de barco,
Segundo o depoimento de Lélio Soares Araújo, que partici-
excursões e piqueniques eram realizados pelos porto-alegrenses
pou da Comissão da Travessia Régis Bittencourt e acompanhou
tendo como destino Pedras Brancas, então distrito de Porto Alegre,
o seu processo de construção, ter trabalhado na obra foi um
que se emanciparia, em 1926, para se chamar Guaíba.
grande aprendizado.1 De acordo com os seus cálculos, o processo
Entre 1941 e 1964, a travessia entre Porto Alegre e Guaíba foi executada por meio de um serviço estadual de barcas, que transportava passageiros, veículos e animais. Em 1954, no entan-
envolveu cerca de duas mil pessoas. Acampamentos foram esta-
::2
: : 1 Operários trabalhando na construção da ponte sobre o Guaíba, 1958. : : 2 Acompanhamento das obras pelo engenheiro Régis Bittencourt, ao centro, e demais integrantes da equipe de engenharia.
1
Cf. entrevista concedida a Rosélia Araújo Vianna, Alice D. Trusz e Flávio Kiefer, em 29/1/2007, em Porto Alegre.
63 A Ponte do Guaíba
A capital gaúcha iniciou o seu povoamento na região entre as atuais Ponta do Gasômetro e praça da Alfândega, e se estendeu em direção à Zona Sul e, logo após, à Zona Norte, então zonas semi-rurais. Desde 1806, quando foi aberto o Caminho Novo (atual avenida Voluntários da Pátria), a área urbana e central que delimitava Porto Alegre passou a se comunicar com os municípios da Região Norte (Gravataí, Santo Antônio, Osório e Vacaria), desfrutando de um novo e belo passeio que margeava o lago, sendo, ao mesmo tempo, abastecida por meio dele. O Caminho Novo se tornou, após 1850, rota de um intenso tráfego de carretas dirigidas ao mercado público central. Foi neste eixo que o Navegantes se desenvolveu, ganhando impulso a partir da construção da estrada de ferro entre Porto Alegre, São Leopoldo ::3
(1874) e Novo Hamburgo (1876) e da abertura das primeiras ruas, a partir de 1870.
: : 3 Panorama da rua Voluntários da Pátria na década de 1910: vista do centro em direção ao arrabalde dos Navegantes.
Uma Travessia entre Margens e Vidas
64
belecidos nas redondezas para dar suporte aos trabalhadores.
Fatores como o loteamento de algumas chácaras e a melho-
Operários locais e técnicos franceses e alemães tiveram os seus
ria dos transportes impulsionaram a densificação populacional
trabalhos acompanhados por engenheiros como Edmundo Régis
da região. Aproveitando a abundante mão-de-obra, a existência de
Bittencourt, o diretor do DNER, Ildo Meneguetti e Leonel Brizola,
vias férreas e a proximidade de pontos de atracação, ali se instala-
respectivamente governador do Estado e prefeito de Porto Alegre,
ram as primeiras indústrias, contribuindo para que o Navegantes
além do padre Arthur Wickert, da paróquia de Nossa Senhora dos
se afirmasse como o arrabalde operário da cidade na virada do
Navegantes, que visitaram habitualmente o canteiro de obras.
século. Essas primeiras fábricas eram pequenos e médios estabe-
A localização do trecho inicial da travessia no bairro
lecimentos que produziam para consumo interno, abastecendo
Navegantes e o seu prosseguimento nas ilhas provocaram altera-
com bens não duráveis a região colonial. Destacaram-se as indús-
ções não só sobre o aspecto físico da região, mas sobre o cotidiano
trias de fiação e tecidos, crescendo e ganhando renome nacional
de seus respectivos moradores. Ao longo de sua história, a região
fábricas como A. J. Renner & Cia. e Companhia Industrial Rio
do Navegantes sofreu grandes transformações físicas e sociais.
Guahyba, entre outras.
Inicialmente uma zona rural, fora dos limites urbanos da cidade,
A partir de 1926, quando foram estendidas redes de água até
local de fixação de residências de verão e chácaras de abastados
as residências do arrabalde, ocorreu um expressivo aumento da
portugueses e seus descendentes, cedeu lugar ao uso residencial
construção de moradias, sobretudo de madeira. Novos moradores
de classes menos privilegiadas, constituídas, sobretudo, por imi-
chegaram à região, entre os quais imigrantes europeus, fugindo
grantes, no século XIX.
das guerras na Europa. Entre estes estava o polonês Wasyl Trusz,
que, ainda criança, viu sua família instalar-se na região em 1929. Um tio já os esperava, facilitando a obtenção de emprego pelo pai, como carpinteiro, e pela mãe, como costureira nas indústrias Renner. Com o trabalho de pouco mais de um ano, o casal conseguiu reunir recursos a fim de comprar terras nas novas áreas de colonização do noroeste do Estado e para lá se transferiu. Mas poderia ter ficado no Navegantes, onde trabalho não faltaria. Em meados da década de 1930, seus moradores continuavam a reivindicar melhores serviços urbanos junto aos poderes públicos e ações contra os constantes alagamentos pluviais e as periódicas enchentes fluviais a que estavam sujeitos. Apesar da larga experiência com as cheias e seus prejuízos, nada se igualaria à enchente de 1941, que inundou mais da metade do território do Navegantes, desabrigando a maior parte dos seus moradores e
::4
deixando 40 mil flagelados na cidade. Após a calamidade pública, diversas medidas de saneamento que vinham sendo postergadas foram empreendidas, como
bilidades com as lides domésticas, que cabiam exclusivamente às mulheres. Da rotina, que se estendia ao lago, conta:
a abertura e o alargamento de ruas e a construção de canais,
“Nós tínhamos poço, e a água era para cozinhar, era salobre.
diques, aterros e muralha. Estas obras, finalizadas décadas depois,
Mas a roupa branca, nós tínhamos que lavar no Guaíba. Toda
contribuíram para evitar novas cheias, mas também dificultaram
a semana, levava a roupa seca para baixo e trazia molhada
a relação da população com o lago, afastando-a de suas margens.
para cima e secava depois em casa. Aqui na (avenida) Brasil,
Uma série de práticas, como a pesca e os passeios de barco, e
assim, aquele pedaço era das lavadeiras. Tinha umas vinte
ainda os banhos no Guaíba, lazer dos rapazes do Navegantes nos
mulheres, cada uma tinha seu lugar. E iam todos os dias.
seus momentos de folga, perto dos locais em que suas mães e
Tinha um casal que tinha quatro filhos. Eles lavavam roupa
irmãs lavavam roupa, foi abandonada.
para fora. Passavam de carroça e recolhiam a roupa na cida-
Sobre este cotidiano da comunidade anterior à construção
de. Eles mandaram estudar todos os filhos.”
: : 4 Festa de casamento reunindo a comunidade polonesa e imigrantes recém-estabelecidos no bairro Navegantes, 1929. Sentado, à direita, com uma sanfona, o então menino Wasyl Trusz.
2
da ponte, é muito ilustrativo o relato de dona Ana Liseta Lorbieck,
A ascendência alemã foi moldando o pensar e o agir dos
moradora centenária do Navegantes, onde nasceu em 1906. Filha de
moradores no seu trabalho e nas suas formas de divertimento.
alemães que vieram para Porto Alegre, por não encontrarem traba-
Desde cedo, o Navegantes contou com associações esportivas e
lho nos cafezais paulistas, dona Ana foi a primeira filha a auxiliar
sociedades onde se praticavam esportes como o remo e a natação.
financeiramente a família, fazendo e vendendo arranjos de flores desde os 15 anos. Mas além desta atividade, executava as responsa-
2
Entrevista de Ana Liseta Lorbieck concedida a Rosélia Araújo Vianna, em 7/2/2007, em Porto Alegre.
65 A Ponte do Guaíba
Algumas delas ainda permanecem localizadas na região, como a
demográfico quanto a sua urbanização. A construção da travessia
Sociedade Ginástica Navegantes São João. Outra grande diversão
contribuiu para dinamizar a circulação rodoviária na região, mas
dos moradores da Zona Norte e habitantes de cidades vizinhas
também para diminuir a sua qualidade de vida. Se, por um lado,
como São Leopoldo e Novo Hamburgo, entre 1891 e 1907, foi o
a rua Sertório recebeu grande impulso e tornou-se avenida, por
Prado Navegantes, estabelecido onde, mais tarde, se fixariam as
outro, a praça dos Navegantes acabou ficando sob uma das vias
indústrias Renner. A partir da década de 1910, também o cinema
elevadas de acesso à ponte, perdendo visibilidade e valorização
se tornaria uma das opções de lazer dos trabalhadores locais.
como área verde e de lazer.
::5
::7
A travessia
::6
Uma Travessia entre Margens e Vidas
66
::8
A travessia do lago é feita onde se situam as ilhas do delta
Em 1955, quando teve início a construção da Travessia Régis
do Jacuí. Assim, na margem oposta do primeiro canal a partir
Bittencourt, o bairro dos Navegantes já estava em transformação.
de Porto Alegre, a travessia encontra a ilha do Pavão, passando
Desde o final da década de 1940, a região do cais de saneamento,
depois sobre as ilhas Grande dos Marinheiros, das Flores e da
em construção, abrigava favelas decorrentes da intensa migra-
Pintada. Estas, somadas a outras 12 ilhas, constituem o bairro
ção do campo para a cidade. Por outro lado, grandes indústrias
Arquipélago e fazem parte da capital. A presença humana no
dos setores metalúrgico, mecânico e químico deslocavam-se
território das ilhas remonta ao século XVIII, ocasião em que eram
para áreas periféricas, próximas das novas rodovias, mudando o
exploradas para caça e pesca pelos índios guaranis, eram ocupa-
perfil econômico do bairro e acelerando tanto o seu crescimento
das como esconderijo de escravos negros fugidos, para fixação de
negros forros e estabelecimento de portugueses e seus descen-
Em 1959, o principal meio de transporte dos ilhéus conti-
dentes. Estes últimos, sobretudo no século XIX, se expandiram
nuava sendo o barco. O lago preservava sua importância como
das ilhas da Pintada e das Flores para as demais.
meio de alimentação e sustento, comunicação e lazer. A pesca
Os primeiros moradores das ilhas desenvolveram uma eco-
e o comércio com Porto Alegre ainda eram atividades econômi-
nomia baseada na agricultura de subsistência e na pesca, fabri-
cas relevantes, embora uma parte dos ilhéus já trabalhasse no
cando suas próprias casas e seus instrumentos de trabalho, seus
centro da cidade. A ligação entre as ilhas e as margens opostas
barcos e seu carvão. O excedente da produção era comercializado
era fluvial, contando com diferentes horários, sem que o serviço
em Porto Alegre, sobretudo a partir da segunda metade do século
fosse interrompido por causa de condições climáticas desfavorá-
XIX, quando a cidade cresceu e ampliou suas necessidades de
veis. Nos domingos, não só eram mantidos os horários semanais
abastecimento. Daí o grande tráfego fluvial entre as ilhas e o
regulares, iniciados na madrugada, como era acrescentado um
centro da cidade no período, cuja importância foi fundamental
horário noturno extra que se destinava a trazer de volta para as
na consolidação do povoamento da região e na formação de uma
ilhas aqueles que iam ao cinema ou ao culto religioso na cidade.
qualificada mão-de-obra naval entre os ilhéus.
Da mesma forma, atravessavam o Guaíba em direção às ilhas
Além do comércio de sua produção primária, as ilhas tam-
músicos para a animação de bailes, filmes para a exibição nas ses-
bém participaram no incremento da economia gaúcha por meio
sões de cinema promovidas na Colônia de Pescadores e, mesmo,
das atividades industriais. A ilha da Pintada contou com um
equipes de artistas de circo. O trajeto durava 20 minutos.
importante estaleiro desde 1914, o Mabilde, e uma fábrica de
Após a inauguração da travessia a seco, esse sistema de
vidros desde 1916, que, por sua vez, demandaram a construção
transportes foi lentamente substituído. Inicialmente, muitos
de aterros e diques destinados a evitar enchentes, introduzindo
ilhéus evitavam a ponte por temerem os acidentes na estrada.
nas ilhas novos moradores, tecnologia a vapor, iluminação elétri-
Com o tempo, cresceu a adesão ao transporte coletivo rodoviário,
ca e telefone.
não sem dificuldades, visto que os ônibus não passam próximos
Entre 1927 e 1931, a ocupação da ponta sul da ilha Grande dos Marinheiros pelas instalações aeroportuárias da Varig provo-
às casas dos ilhéus, obrigando-os a longos deslocamentos até as paradas na margem da rodovia.
caria novas mudanças na região, alterando o cotidiano dos pesca-
O perfil econômico das ilhas foi também se modificando.
dores. O escritor gaúcho Erico Veríssimo, em seu livro “Um Lugar
Fatores como a proliferação dos intermediários, a poluição dos
ao Sol”, de 1936, descreve os arredores do aeroporto semi-aquáti-
rios, o desmatamento, as bombas de irrigação, as barragens e a
co, vizinho ao bairro dos Navegantes, explorando o contraste das
industrialização crescente nos vales dos rios do delta foram impe-
cores vivas das pequenas embarcações dos moradores pobres da
dindo a manutenção da pesca como uma atividade rentável. Em
região e dos pescadores das ilhas com o prata metálico dos hidro-
consequência disso, muitos moradores permanecem residindo
aviões que, por alguns anos, lhes fizeram companhia e vizinhan-
nas ilhas, mas trabalham na cidade.
ça. Recentemente, esta referência literária ganhou representação pictórica em aquarela de Joaquim da Fonseca.
Outra mudança, porém mais tardia, foi a concentração de
::9
: : 5 Em 1892, os páreos no Prado Navegantes animavam os domingos no arrabalde homônimo, estimulando o crescente gosto pelo turfe na cidade. : : 6 Na década de 1910, a extensão das salas de cinema aos bairros proporcionaria a democratização da nova forma de lazer também entre os operários do Navegantes. Anúncio do Teatro Thalia, 1918. : : 7 Comemoração da Semana da Pátria no Estádio do Grêmio Esportivo Renner, time de futebol fundado em 27/7/1931 junto às indústrias Renner. Bairro dos Navegantes, 1948. : : 8 Vista aérea do bairro dos Navegantes com os acessos à ponte do Guaíba em construção, 16/3/1960. : : 9 Desde a década de 1880, serviços de vapores proporcionavam passeios às ilhas, onde os piqueniques eram habituais.
moradores nos territórios atravessados pela rodovia e nas pro-
67 A Ponte do Guaíba
ximidades da via. Esta ocupação, além de desordenada, tem se
debatido entre as instâncias de governo municipal, estadual e
caracterizado por grande circulação populacional. Nas ilhas do
federal e as associações de moradores das ilhas e do continente.
Pavão, Grande dos Marinheiros e das Flores, as vilas populares
Acrescente-se ainda o crescimento da criminalidade na região,
apresentam precariedade de infra-estrutura urbana. São ocupa-
um aspecto presente no cotidiano da travessia, expressando-se
das na sua maioria por população de baixa renda, em casas de
nos roubos de cabos de cobre da iluminação pública e nas tenta-
baixo padrão construtivo. Uma pequena parte das ilhas também
tivas, às vezes vencedoras, de assaltos aos veículos em trânsito. O
é utilizada para as residências de verão e o lazer da elite local, que
problema social é coletivo, o que faz com que a solução deva ser
aproveita os recursos hidroviário e paisagístico da região. A ilha da
buscada também em conjunto.
Pintada difere das demais, apresentando adequada infra-estrutura em virtude de recentes investimentos públicos.
Entre conquistas do progresso e recuos na qualidade de vida, a Travessia Régis Bittencourt permanece fundamental como via de comunicação e transporte. Considerando-se o trecho sobre o
: : 10
canal Navegantes, com seu peculiar vão móvel, a Régis Bittencourt não impediu a navegabilidade de larga tradição histórica do corpo d’água que atravessa. O recurso do vão móvel foi utilizado por causa do tráfego de petroleiros que subiam o rio Gravataí (e que ainda sobem até o terminal da Petrobrás) e, posteriormente, também para a passagem dos navios que se dirigem ao Pólo Petroquímico de Triunfo. A sua passagem sob a ponte envolve, no entanto, operações de grande risco não só para os práticos das
: : 11 : : 10 Travessia da ponte do Guaíba por carroça puxada a cavalo, 2007. : : 11 O barco, meio de transporte comum da população do delta, visto da cabine de controle da ponte do Guaíba, 2007. : : 12 Porto Alegre vista das ilhas. Gravura de Hermann Rudolf Wendroth, 1852.
Uma Travessia entre Margens e Vidas
68
: : 12
embarcações, mas também para o operador do vão, instalando um clima de forte apreensão em determinadas situações. Alguns
As carências infra-estruturais que persistem vêm definindo
aspectos do cotidiano do trabalho e das formas de comunicação
um novo ilhéu. Se antes a comunidade lutava contra as cheias,
entre torre de comando e navios são relatados por Avelino Correa,
agora deve lutar contra a exclusão social. A fim de reverter o
operador do vão móvel desde 1975 até os dias atuais:
processo, novas atividades econômicas, como o artesanato e a
“De primeiro, não tinha nada. Era recado. Nós trabalhávamos
reciclagem de lixo, sendo as duas últimas executadas principal-
com bandeira. A ponte levantava lá em cima, nós pegáva-
mente por mulheres em cooperativas, vêm sendo operadas. Por
mos uma bandeira verde e botávamos na cabine debaixo da
outro lado, o aumento do fluxo de carroças, transportando lixo
janela para os barcos passarem para o outro lado. Quando
do centro para as cooperativas de catadores nas ilhas, se torna
não podia passar, era a vermelha. Aí era por apito, aí tinha o
um problema crescente para a ponte e o tráfego rodoviário, situ-
trem que passava aqui embaixo e confundia tudo. Quando o
ação que se agrava quando há içamento do vão móvel da ponte
barco vinha, ele dava um apito. E a gente respondia com dois
do Guaíba. A constância do perigo faz com que o assunto seja
apitos para dizer que tinha entendido. Cuidava do tráfego,
deixava baixar o tráfego; quando os carros estavam parados,
muito para a banda do cais. O rebocador não consegue puxar
içava. Quando a ponte estava lá em cima, pegava uma ban-
os barcos; então, a gente tem que começar antes. Aí, o pessoal
deira verde e colocava para o lado do barco entrar e pegava
xinga a gente, fica apontando o relógio”.4
a vermelha e colocava para o lado que não podia passar. Aí,
Mas a ponte também foi e continua sendo cenário de aventura
dava um apito só, que estava livre. E o barco dava dois apitos
e angústia. Em décadas de trabalho, seu Avelino também presenciou
para dizer que tinha entendido. Se ele não entendesse ou se
perseguições, acidentes e suicídios. São histórias que não possuem
estivesse com problemas, dava três apitos rápidos. Aí, quan-
registro oficial, mas que fazem parte do cotidiano e da memória
do ele passava, ele dava um apito longo, nós dávamos mais
coletiva daqueles que vivem e trabalham no entorno da ponte. São
um longo para cumprimentar. Isto tudo tinha escrito lá – a
exemplos o caso do motociclista que saltou da ponte com o vão já
distância, os apitos, as bandeiras”.
3
Seu Avelino começou a trabalhar na ponte em 1958, ainda na casa de máquinas, até tornar-se o operador de fato. Desde então, sente-se responsável pela comunicação do norte com o sul do Estado, ou com sua interrupção, a cada vez que aciona o painel de controle para o içamento das 400 toneladas do vão. No entanto, se as condições climáticas são favoráveis à passagem das embarcações e o vão é elevado, nem sempre a atitude dos motoristas e a comunicação entre estes e a torre de operações são harmoniosas. Enquanto alguns acompanham a operação com curiosidade e
: : 13 Pernambuco, o primeiro navio a passar sob o vão móvel da ponte do Guaíba, em 27/12/1958.
outros aproveitam para relaxar, há aqueles impacientes:
: : 13
“Reclamam toda a vida porque acham que a gente está
3
demorando. Agora o rio está baixo, mas no inverno ele está
em elevação, sem sucesso, na década de 1970; os acidentes com
com altura de quase dez metros de altura de água da ponte,
navios, que causaram avarias aos pilares; e os suicídios:
e os barcos do Pólo, no sentido para descer, pegam muita cor-
“Uma vez também estava fazendo um serviço na pista,
renteza. Os barcos grandes, de cento e poucos metros, vêm
arrumando umas molas, e passou uma moça muito bonita,
muito carregados, dois, três mil quilos. Então, eles acham
morena assim. Passou por nós, eram umas nove da manhã,
que a gente começa muito cedo, mas tem que começar para
no sentido Guaíba. E, quando olhamos, só ficou a bolsa dela
poder o vão estar livre para eles passarem. Passa barco para
no parapeito da ponte. Fomos lá, e ela estava na água já.
o Pólo e passa para o terminal do gás, aqui na Rio Branco.
Acho que ela caiu de mau jeito e rebentou alguma coisa. Foi
Esses barcos do Pólo, que vêm carregados, a água empurra
ao fundo e boiou. Depois, os bombeiros tiraram a moça. Dá
Depoimento de Avelino Correa concedido a Rosélia Araújo Vianna, em 5/3/2007, em Porto Alegre.
4
Ibidem.
69 A Ponte do Guaíba
: : 14
um estado de nervos na gente. Tu fica assim, não sabe quem
Globo, compreendia uma cena filmada na ponte, remetendo a uma
é. Um senhor que trabalhava com a gente, que tinha uma
descoberta dramática: alguém se atirou ou foi dali empurrado.
filha, disse que aquela mulher era muito parecida com a filha
Também é com melancolia que Antônio Carlos Textor dirige o seu
dele. Mas ele não chegou a ver a moça. Aí, ele foi para casa
olhar sobre a Porto Alegre de 1970, no curta-metragem “A Cidade e
porque achou que era a filha dele que tinha se matado. Ele
o Tempo”, a partir da ponte do Guaíba.
ficou naquele estado de nervos. Ficaram só os tamanquinhos dela ali”.
5
Empregada em campanhas publicitárias locais, a imagem da ponte do Guaíba vem participando da construção das representações identitárias dos porto-alegrenses e da sua cidade. Como
: : 15 : : 14 A ponte do Guaíba vira estrela de cinema em “O Homem que Copiava”, filme de Jorge Furtado.
A arte, a mídia e a ponte
exemplo, pode ser citada a campanha da cerveja Polar (2005), que
Alguns destes acontecimentos e temas ganharam representação
concebeu a ponte como um portal que, ao ser fechado, não permi-
cinematográfica, fazendo da ponte o cenário também da ficção. No
tiria que o produto saísse do Estado por navegação. Aposta-se no
longa-metragem “Teixeirinha a Sete Provas”, de 1973, o herói regio-
bairrismo do gaúcho na defesa da exclusividade não só da produção
nal, Vitor Mateus Teixeira, joga-se do vão em busca de um tesouro
da cerveja, mas do seu consumo. A ponte, por sua vez, é percebida
submerso. Aventureiro também é o caráter da cena em que André
como passagem obrigatória entre as redes de comercialização local
(Lázaro Ramos) foge de seu ex-cúmplice Feitosa (Julio Andrade),
e nacional, salientando-se o vão móvel como mecanismo decisivo
carregando uma bolsa com dinheiro no filme “O Homem que
na manutenção do fluxo de mercadorias por meio da hidrovia.
Copiava”, de Jorge Furtado, de 2003. O protagonista salta da parte
Outro exemplo, mais recente, visou homenagear os 235 anos
fixa da ponte para o vão, em processo de içamento, incitando seu
de Porto Alegre, comemorados em 26 de março. Trata-se do comer-
perseguidor a cair para a morte no lado seco de um acesso. Furtado
cial da rede de supermercados Záffari-Bourbon. Apostando no
é o diretor que mais tem se referido à ponte em suas obras. Já o epi-
encantamento emocional, o comercial divide-se numa primeira e
sódio “Anchietanos”, da série “Comédias da Vida Privada”, da Rede
longa sucessão de “as mais belas vistas”, fechada pela “vista que mais emociona”, que é a de quem retorna a Porto Alegre, voando
: : 15 Aquarela de Joaquim da Fonseca, 1989. 5
Uma Travessia entre Margens e Vidas
70
Ibidem.
sobre a ponte do Guaíba ou percorrendo-a como rodovia. A ponte
é novamente representada como porta de entrada da cidade,
giões próximas ao lago e que está ligado à profunda intimidade que
salientando-se a sua exclusividade e a peculiaridade geográfica
possuem com as águas. São manifestações dessa relação as suas
da capital, localizada às margens de um lago. Além da ênfase na
lendas, os esportes aquáticos e as festas coletivas. Entre estas últi-
travessia como caminho e via de comunicação, que coincide com
mas, a mais representativa acontece anualmente em Porto Alegre,
a rota aérea, a presença do lago pode ser observada em cada uma
desde 1871, quando a devoção a Nossa Senhora dos Navegantes
das “vistas mais belas”. Afinal, nos amplos panoramas urbanos da
foi introduzida na cidade por portugueses das ilhas dos Açores. A
cidade vista do alto, aparentemente genéricos, é possível ver, ao
cada 2 de fevereiro acontecem as comemorações em homenagem
fundo, o brilho das águas do Guaíba.
à santa, reunindo moradores das ilhas e do continente para com-
Já as imagens fotográficas da travessia podem ser encon-
partilharem suas crenças religiosas e sua memória coletiva.
tradas na imprensa e em publicações temáticas autorais, mas, especialmente, na forma de cartões postais impressos e eletrônicos. Reconhecidos fotógrafos gaúchos e brasileiros, como Léo Guerreiro e Pedro Flores, Assis Hoffman, Sioma Breitman, Domingos de Almeida Martins Costa e Leonid Streliaev, já a registraram. Com forte intuito turístico, predominam as imagens que procuram contrastar as formas retas do monumento com o colorido dos reflexos do sol poente nas águas do lago, destacando a beleza natural do conjunto.
: : 16 Mensagem do cartão postal: “Lucia Helena, uma recordação da famosa cidade Sorriso, hora do crepúsculo, é muito lindo, não tem coisa mais linda do que o pôr do sol no rio Guaíba. Um forte abraço da tia que te estima, Jane. Porto Alegre, 02.10.1967”.
Mas o grande destaque cabe às imagens que registram a participação da ponte do Guaíba na Festa dos Navegantes. Elas evidenciam a “cultura das águas”, termo que procura representar o conjunto das maneiras de ver, sentir, conhecer e compreender o mundo dos homens e mulheres que moram nas ilhas e nas re-
: : 16
71 A Ponte do Guaíba
: : 17
: : 17 A condução terrestre da santa para a igreja dos Navegantes reúne, anualmente, uma multidão de devotos fervorosos. Festa dos Navegantes, 2007. : : 18 Cruzando as águas, a santa continua a guiar e proteger os navegadores. Festa dos Navegantes, 2007. : : 19 “Salve Nossa Senhora dos Navegantes!”, 2007.
Realizada inicialmente no bairro Menino Deus e, desde 1877,
Desde que foi inaugurada, a Travessia Régis Bittencourt parti-
no Navegantes, a festa inicia com a condução da imagem da
cipa de perto do evento. Por muito tempo, a ponte serviu de arqui-
santa, em procissão terrestre, para a igreja de Nossa Senhora do
bancada para a população assistir aos festejos. Se esta prática está
Rosário, no centro da cidade, na semana anterior a 2 de fevereiro,
interditada, o vão móvel continua sendo içado em homenagem à
dia em que esta volta para a igreja dos Navegantes. Até 1989, este
santa e a fim de dar passagem ao cortejo lacustre, retomado em
retorno era feito mediante procissão lacustre. A proibição desta,
2000 por remadores, pescadores, representantes de clubes náuticos
por causa dos regulares acidentes como quedas de pessoas das
e demais devotos. Em 2007, a procissão aquática reuniu em torno
embarcações superlotadas ou barcos colidindo, levou a sua subs-
de 180 embarcações de diferentes calados e contou com o apoio de
tituição pela procissão terrestre, quando a santa é carregada nos
vários órgãos de segurança. Nesta, uma imagem da santa é levada
ombros dos festeiros, vestidos com trajes brancos.
da ilha da Pintada até o Parque Náutico do Estado, no bairro dos
Na década de 1950, a comemoração envolvia toda a popula-
Uma Travessia entre Margens e Vidas
72
: : 18
Navegantes, onde é realizado um culto ecumênico.
ção da cidade, atraindo também moradores de cidades vizinhas
Se a sua retomada concorre para valorizar o Guaíba como
e da região serrana. Após a missa, os devotos contavam com
um dos principais atrativos turísticos de Porto Alegre, a incorpo-
atrativos como as lembranças fotográficas e um parque de diver-
ração da ponte à festa religiosa aponta, simultaneamente, para a
sões, destacando-se como preferências alimentares tradicionais a
dinâmica característica do processo de desenvolvimento urbano
melancia e o churrasco.
da cidade, representando as necessidades constantes de busca
Referências bibliográficas
COSTA, Alfredo R. da. O Rio Grande do Sul: obra histórica, descritiva e ilustrada. Vol. 1 e 2. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1922.
: : 19
de novas alternativas de comunicação com o mundo. Se lhe fosse concedida voz, quem sabe pudessem ser escutadas frases como: “Cidade, cresça para este lado!”; “Aguardem um momento, a embarcação tem prioridade.”; “Salve, Nossa Senhora dos Navegantes!”; “Aqui é Porto Alegre!”. Estas exclamações resumem a rotina das representações que a obra assume, mas não são as únicas. A chegada do século XXI, com sua característica de aceleração e internacionalização, cobra da travessia respostas que, talvez, ela não tenha sido preparada para dar.
SCHIDROWITZ, Léo Jerônimo. Porto Alegre: biografia de uma cidade. Comemorativo do bicentenário da cidade. Porto Alegre: Tipografia do Centro, 1940. SINGER, Paul. Desenvolvimento econômico e evolução urbana. 2. ed. São Paulo: Nacional, 1977.
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Fontes primárias
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Boletins e relatórios do DAER-RS de 1947 a 1965.
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73 A Ponte do Guaíba
contained right at the start of this stretch, and the span maintains and
of Porto Alegre, the landmark itself plays a highly symbolic role. The
they are further apart so that the motorway can fit in between the
Concepa, as a concessionary enterprise, responsible for maintaining
pillars and, rising, they form the deck hoisting towers. It is as if the
the crossing and safeguarding its role as a means of circulation,
pillars had been cut across, moved over to let the motorway through.
is also aware of its responsibility in maintaining and preserving
The crossing continues towards the Ilha do Pavão and near
Introduction
Other than its vital function in the exit and traffic system out
boosts the aesthetic expression of the double pillars. Looking across
this monument of precious cultural value. It is based on these
the margins, the pillars are sub-divided into circular section pillars
two premises that it has undertaken this ever challenging, never
repeating, two by two, the rigorous spacing of the other side of the
abandoned,commitment. And it is also under this perspective that
span. Then, we reach the stretch over the Chico Inglês canal. This
we remember the appropriate comments made by Professor Rualdo
small crossing, just as the subsequent crossings, has been duplicated
Menegat, when studying the beautiful aerial pictures taken by
with a bridge that did not consider the elegance of the previous one.
Eduardo Aigner:
When we look closer, the contrast with the original design becomes
“The picture changes the post card: built to be a monument,
clear, as it maintained the sequence repeating the shape of the
and always photographed from the ground, now the 50 year-old
previous stretch: a bridge leaning over oblong round edged pillars, here
bridge has become more beautiful because it is framed by the
placed one by one at regular intervals.
surrounding landscape. 50 years on, we now abandon the patriotic
We then reach the Ilha Grande dos Marinheiros and, crossing it, we
pride of an agricultural nation just acquainted with technology
With this edition celebrating the 10th anniversary of the Concepa
come to the next section: the Três Rios canal. This segment, fairly
that wanted to become industrialized and became a nation
(Osório-Porto Alegre Freeway Concessionaire), The TPI Social and
longer than the preceding one, was overcome with the motorway
aspiring to recover the beauty of its landscape. The Guaíba bridge
Cultural Institute, an institute created by the Grupo Triunfo, wishes to
supported by circular columns bringing back the duos to repeat the
caused the island populations to increase, but we can still breath
pay tribute to the State of Rio Grande do Sul and to Brazil. By choosing
section over the Navegantes canal. Here, the structure repeats once
in the green of the delta spilling over the background of the image
this theme, we are also preparing to start celebrating the 50 years of
again the continual intervals of the double pillars only to stop as
where it is framed by the hills, making up a beautiful scene which
what has been, since the very beginning, a symbol of the identity of
the margins come nearer. The height of the bridge is even and, as it
seems to spawn from an ancestral nature that contrasts, on the
the Rio Grande do Sul State: the Guaíba bridge.
is above a non navigable section, it is quite low. The horizontal line
left side, with the skyline of the overwhelming city. Would this
formed by the 774 meter bridge across the lake draws a streak in the
now be the bridge of sustainability?”
Impressive, monumental characteristics from an aesthetic, creative and functional point of view, as well as integration with the environment, were the criteria used in selecting the winning design for
landscape surrounding this grand water surface. Once across the Ilha das Flores, we start to prepare for the long
the crossing of the Guaíba 50 years ago. The harmony of the venture as
1 756 meter stretch with the last bridge spanning across the Jacuí
a whole is made clear when we drive along the crossing, read through
canal. As this is a navigable section twice as large as the first one, the
the specification records or attentively study the pictures in this book.
Navegantes, there no need exists for a movable bridge. The solution
Thank you all and have a nice crossing!
Odenir Sanches,
is quite straightforward; the motorway still on the island, gradually
President of Concepa
smooth slope of intertwined roads, reaching the motorway level over
moves up on the circular pillars, which become oblong as they recede
the Navegantes canal. These ramp-roads are supported by elegant
from the margin. Over the Jacuí canal, they have 50 meter intervals
Carlo Alberto Bottarelli,
round shaped pillars unfolding at regular, continuous intervals.
and are up to 20 meters high. Unlike the almost unnoticeable slope
President of TPI
From one side, ramps lead to the access ring to the bridges, in a
Then the bridge stretches over the canal for 777 meters to reach
upwards, the arch shaped arrival on the other side is steep, reduced
Ilha do Pavão, leaning over a series of double oblong round edged
to a series of short columns. The effect is amazing: this is the end of
pillars, rooted on a single base. The 50 meter draw bridge is partially
the crossing.
Introduction
74
“When shooting in Paris, make sure you get the Eiffel Tower,” wisely
engine control tower and the wide curves of the access ramps confer
put by Alfred Hitchcock.
the piece as a whole a sensation of past future, the same atmosphere
Each city has its own peculiar spirit, a soul made up of
of the Jetsons or Flash Gordon. Our bridge does not have the beauty of
architecture, sounds, history, accents, genetics, cooking and light. The
the entangled net of cables that hold The Golden Gate or The Brooklyn
maze-like heat of New York City is a far cry from the furnace heat of
Bridge. It does not need it, as it stands firmly on the ground. It is efficient,
Cuiabá, in northern Brazil, even though the temperature is the same.
useful, clean, intelligent and simple. And, best of all, it is mobile.
The hot chili peppers in Mexico and Salvador, Bahia, create different
I never knew (and hope to find out by reading this book) if the
sensations and problems, yet their temperature and smell cannot
mobility of the bridge was decided because of cost reasons – may be it
be captured on camera. Moviemakers are left with the features of
was too expensive to build a higher bridge, making possible for vessel
image and sound. Human figures are portable, light and sound can be
traffic – or if the excited engineers only did it for fun. The fact is that it is
imitated and even urban architecture can be reproduced. It is possible
its mobility that makes it unique and so cinema friendly. When writing
to shoot in Havana a story taking place in Salvador, Bahia. One can
the script of “O Homem que Copiava”, my first Porto Alegre feature film,
trick the audience by shooting Tokyo in São Paulo; Lisbon and Rio de
I remembered what Hitchcock said and made a character out of the
Janeiro have nearly identical corners – however, the Eiffel Tower in the
bridge. It is not only the background, it is part of the plot, because, if the
background leaves no room for guessing: we are in Paris.
bridge were not mobile, the end of the film would have been different.
For a monument or a great public construction to become a
The scene on the bridge was the most difficult I have ever filmed.
symbol of a city, it must fulfill two basic criteria. The first one is to
The preparation took almost one year, starting with meetings to
be unique – very few things are as cheesy as the full size copy of the
decide the best time to stop traffic – Sunday at 12:00. We only had
Statue of Liberty in the façade of a mall in Rio’s west end. Secondly,
one hour to shoot the whole sequence, a chasing scene on the moving
they have to somehow represent the spirit of the city. There are those
bridge, while a ship was crossing. The crew had to take medical
who rightly believe that the symbol of New York City should be a
examinations to make sure they could climb the pillars, concrete piles
yellow cab driven by an angry Pakistani, but it is true that the Statue
driven into the river bank rock, which seem like they are moving like
of Liberty does convey the democratic nature and cosmopolitan
reeds in the wind, when you are up on top. The production crew had
atmosphere of the city, just as the rigor and cleanness of Alexander
to leave a helicopter on stand by next to the bridge, in case there were
Platz are the image of Berlin. The Sagrada Familia is deliriously
ambulance patients coming from the south part of the State. Children
Residents of the City of Rio de Janeiro who paid one thousand Brazilian
brilliant, only possible in Barcelona. The Big Ben reminds us of the
entertainers with gifts and snacks tried to convince kids on both
réis on July the 8th 1896 to enter a room on Rua do Ouvidor and see
austere London sophistication. Nothing is more representative of
sides of the traffic jam not to drive their parents crazy. We used four
the streets of Paris, its walking people and moving cars for the first
Rio than the Christ Statue, open armed, without the cross, ready to
cameras and a crew with more than fifty people to get the shooting
time, changed the way they saw the world. In the beginning of the
embrace incomers and invite them for a pint of draft beer and chips.
plan done in one hour. We managed, but that did not spare us from
Introduction to the Psychoanalysis of Public Monuments
by JORGE FURTADO
20th Century, “the magnificent impression of real life” made by motion
How about the Guaíba Bridge? I am convinced that our Bridge
hearing, when we finally released traffic and squeezed ourselves on
should be the image in frame in a movie to tell the audience that we
the sidewalks of the bridge, “Go get yourself a job, you lazy punk!”
are in Porto Alegre. The São Pedro Theater and The Mário Quintana
from some of the drivers who were less interested in the cultural
It was the technical capacity to jump from Paris to New York and from
Cultural Center are beautiful constructions, but they could be located
film production.
there to the interior of the African Jungles within seconds that attracted
anywhere. “O Laçador” (The Lacer), finally well located, is a beautiful
moviemakers who wanted to make a drama art out of the pictures
sculpture and a good representation of the Gaucho, but I have not seen
times. I think that our bridge talks about us, residents at the edge
rather than just a mere circus attraction. Whoever tried to move a
many people walking around swinging a lace and kicking spurs on the
of the country, because it is both modern and old, solid and mobile,
scene from Egypt to Rome on stage, as Shakespeare did in “Anthony and
streets of the city.
passage and barricade. And if ever, the plague comes from the south
pictures became the new launching platform for our imagination. The living scenery may have been the main character of the movies.
Cleopatra” are very well aware of the difficulties involved.
Our Bridge is unique, unmistakable and, better for film shooting,
It was worth it. I have shot scenes on the Guaíba Bridge three
in the form of some separatist group, teenage music band or invading
mobile. Maybe it also confirms something of the spirit of Porto Alegre.
army, the loyal and valuable city of Porto Alegre, never conquered,
team – approximately 15 people – became a local anecdote. They went
Its four great pillars carved in the river do not have any ornaments or a
can always make the task more difficult at the mere push of a
to Barcelona to shoot a TV campaign and came back with around
decorative purpose, but they do have a certain lightness because of the
button. They may even beat us, but they will have to get their feet
two hours of footage, everything in close. They were fired on the spot.
curves in the outer walls. The hovering steps, the round shape of the
in the water.
In the beginning of the 1980’s the story of an advertising agency
75 A Ponte do Guaíba
twinkle. Among brooks streaming on pebbled beds, cold mornings,
the Uruguay River and entered the Tape – Spanish territory, in the safe
frost, foggy days. The sun high in the sky, the water thrusts itself into
port of San Isidro, a laborer, protector of the peasants. On the hill now
space with mist and rainbow, breaking the profound silence. In the
raises the cross, the chapel, the temporary settlement. Saint Nicholas,
circular, half-buried shelters, covered by tree branches, Paleolithic
first redoubt, the Uruguay East Band redução5 . The missionary red earth
stoneware. They eat pine nuts.
– clay and dust – forms a contrast with the intense green.
Meandering across the plateau, the brook plummets from the steep
In Caaró, there is a reaction from the pagés – the fall of the first
step that cleaves the prairie and disappears into the Itaimbé. High rocks,
holy martyrs. Troops of Franqueiro cattle and horses come in from
green-clad with moss and lichen – subtle butterflies and many spiders.
Paraguay. They develop estancias in limitless lands, stone trees. The
Down under, the current proceeds, among big stones, in opening and
vacarias – i.e. cow farms – come into existence: “ dos Pinhais”, in the
narrowing bends and turns. It flows and hides, roaring underground,
Upper Sierra prairies, and “del Mar”, on the coast. From the native herb
and soon reappearing. After so long a walk, the walls gradually fade and
fields, they extract the mate-herb – caá – and use the calabash, caîguá,
shrink away, whereas the sky widens, panoramic. And the sand, course,
to drink it. From the profane, native rite to the industrial missionary
lukewarm, covers the margins, announcing the large beach.
product, they export the tradition.
The dunes of light, clear sand, the dark blue-gray sea, with white,
“Caminante, no hay camino, se hace camino al andar”1
The reduction is implemented as a roman castrum. Two main ways
salty, lacy surf. In the sambaqui are the remains of the consumed
cross the center of the plaza, forming the big forum. On one side, the
clams, bones and shells. Much sun, outcrying and fishing. By the water
church and its belfry. On the others, the Indian houses with verandahs.
there rises the imposing sierra stone stronghold in the sea – Torres.
The cabildo – town hall; the tambo – accommodations; and cotiguaçu
You can go up, look into the distance, watch sunrise. In the cliff, the
– where widows and women with absent husbands are sheltered. Water
water hits the rocks and slowly opens caves, crossed in the lagoon
springs and, everywhere, symbols and missionary crosses.
meadows, by flocks of flying herons. In the prairies, lines of fig-trees
In the church, center of the baroque, refined rites. Festive masses,
and lichens, against the smoky blues of the higher hills. Beyond the
orchestras, choruses and much incense, among gilt retables crowded
coxilhas, the Viamão ridges, five delta-shaped waterways are visible,
with saints, angels, cherubs and seraphs. The big plaza stage religious,
coming from the slope fractures, to form the great lake – Guaíba.
civic and sporting functions. Religious drama, processions, games, entry
Muddy brown, curly, bringing water plants, they form shores and
of visitors, parades with special costumes, ephemeral decorations, live
At the end of the latest glacial period, 12 000 thousand years ago, the
creeks, clear sands, pebble islands, sheltering snakes. Sky and water, in
birds, and the punishment. Many myths – that of the treasure, that of
first inhabitants arrived at southern America. They came in small
the inner sea, as a mirror in fire by sunset.
the tunnels – and legends, such as that of the cobra grande…6
by LUIZ ANTÔNIO BOLCATO CUSTÓDIO
groups, picking up food, fishing and hunting, with stone and bone tools.
After granite sierras and coxilhas, in the low, swampy areas, marshes
On their way, they gather, convert, reduce Indians, in a “spiritual
They camped in woodlands, river margins and rock shelters. With the
with reeds and Hydrochoerus (capivaras), in canals and lagoons. They set
conquest”, uniting footpaths, river ports, small bridges, forming the
climate stabilized, 6 000 thousand years later, the vegetation expanded,
their camping tents on circular landfills – cerritos. The coastline has shallow
network: newly arrived European culture, and native culture, at home.
forming forests in the plateau slopes and woods in the large river basins.
shores, lines of alternating hills and marshes – albardões - and moving sand
Making way throughout hill strewn prairies, amidst rocks and low-
dunes under constant crossing wind. In winter, wet fog and cutting cold.
growing vegetation, fast as their wind2, the Jaros and Charruas have
By then the Guaranis come up, from the Amazon. With straw houses,
By the Atlantic Ocean, the Portuguese proceed southwards and create the Santíssimo Sacramento settlement (the Colônia)¬, a Portuguese citadel on the River Plate, on Spanish land – 1680. Not accessible by land,
defined on foot the early trails in the environment marked by the Jarau
large families, sleeping in hammocks. They respect the tuchauas3 and the
it was supported by Laguna, the latest Portuguese settlement. Beyond,
range, and left inscriptions on the rocks. Nights all pitch dark. Starlight,
pagés4. Slash and burn agriculturists plant in forest glades. They glaze
only the extensive, straight and shallow coastline, the shores with dunes
shooting star dashes. Many sounds: the owl, leaf rustling, the puma,
ceramics, smoke pipes and drink mate, enjoy their dreams in the full
covering the Rio Grande mouth – sole entrance to the “Continente”7.
the wild cat. The hunters, with their bolas, meet around the bonfire.
moon. They circulate around the landscape, free, go guided by the Southern
Little by little they proceed, opening shortcuts. They cross straits
Cross, in the perennial search for the “land of no evil”, heading south.
through the Aparados prairies interspersed with green and dark woodlands, thick pine-tree forests. At nightfall, clouds of fireflies
Wearing black cassocks and sandals, resolute, they hold their breviaries. Missionaries walk, through the hill ridges, crossing woodlands
It was necessary to open roads, exploit, connect the Colônia with Brazil. In the fields populated with cattle and Indians, the raids from the São Paulo bandeirantes went in search of working arms from the missions. They did not settle in the territory.
and rivers. Roque González, from Santa Cruz, a Jesuit, in 1626 crossed Caminante, no hay camino – A poem. Antonio Machado. Seville: 1937. The author refers to both the minuano wind that blows in that region, and the Indian people known as Minuanos, who originated the above referred peoples.
5
1 2
Caminante, no hay camino, se hace camino al andar
76
3 4
Chief indians. Indian witch doctors.
6 7
Civic and religious space founded by the Jesuits. Big snake. Érico Veríssimo. O continente, 1949.
Subsequently other small forts and batteries were constructed to
Guarani War, sheer genocide by unequal powers: two powerful armies
by the coast, along the margin of crystal clear waters of the Mirim
defend both sides of the canal. Soon after, in the north, a farm was
against native spear men. The winners occupy the reduções, with the
lagoon. He crossed the risky Rio Grande mouth and described the first
created, the Estância Real de Bojuru.
encounter soon resulting in the expulsion of the Portuguese and
Domingos da Filgueira went from Colônia to Laguna in 1703
path, “da praia”, considered the safest as it counted less Indians in its population. He even recorded how to build a raft:8
They came for the stray cattle left behind by the Spaniards in fields and invernadas. They followed Indian trails, forming pioneering
“The route to be taken by whomever leaves the Sacramento
roads in search of hide and suet for the industry, on mules and
settlement heading for Rio de Janeiro or the Vila de Santos should
horseback for transportation.
be: leaving the settlement village, the north path must be sought,
Little by little, their former lodging and registros – tax collection
Spanish Jesuits. The Pope extinguishes the religious order. It is the end of the dream, of the American “utopia”. In 1761, the established borders were revoked and the situation turns back. The Portuguese reinforce military control in the area and distribute more land and positions. New large estate farms. Conflicts carry on because of domestic or foreign issues, borders,
which must be followed during twenty-three days, walking two by
posts – were transformed into villages and towns. The Drove Ways
two, at all times shotgun in hand ready to meet possible jaguars,
– Caminhos das Tropas – used to integrate the south into the Brazilian
and economic interests and usually involve soldiers recruited in the
spending the nights in watch quarters and attentive surveillance
market. Mules loaded with leather bags, feijão-tropeiro (black beans
region. It the political game, the Governor of Buenos Aires takes over
round a bonfire […]. Along this path it is convenient to avoid
with manioc), flour – Drove streets. The rivers were crossed in their
Colônia do Sacramento and, in 1763, the Santa Teresa and São Miguel
venturing into the woodland more deeply than to pick up the game,
shallow parts or passos, sometimes in pelotas, leather boats to carry
forts, in the Chuí, occupying the village of Rio Grande until 1776. In
and in the beach fishing in the return of the tide, entering the water
staples, or one person, driven by the guide, who swam across.
1777, he invades Colônia and the Island of Santa Catarina, and in
up to the knees, or throwing a line with a bait of shell-fish that we
Rio Grande was a great empty space and the Azores islands,
the same year the Santo Ildefonso treaty redefines the borders. The
find at the edge of the shore when we dig a hand span of sand, and
overpopulated. The Portuguese government recommended the islanders
Portuguese keep the island and the Spanish keep the Missions and
with the resulting harvest much fish is caught […]
to come and occupy the Missions, which became the Colony after the
Sacramento. The border remains the same until 1801, when a group
[…] From Castilhos until the Rio Grande fifteen days are spent, and
1750 Treaty of Madrid. The couples arrived two years later and settled
of farmers and Brazilian soldiers conquer Sete Povos again. In 1820,
after three or four days from Castilhos a lake appears and follows
near the seat of the Captaincy, as the Missions were still under Spanish
Portugal annexed the area of Província Cisplatina, which was retaken
the coastline, flowing into the Rio Grande […] At this point the
rule. With the distribution of the land, in sesmarias or léguas em quadros
by the Thirty-Three Westerners, creating the Western Republic of
crossing must be made on a raft, to be made at the beginning of the
(6 600 meters), they started to grow wheat, produce wine and supply
Uruguay in 1825. In 1828, Frutuoso Rivera occupied the Brazilian
flood tide. And the raft is to be made of white wood as follows: dry
the region. Some became farmers with abundant cattle.
Missions and took home as a war booty 60 carts of assets. The map
espinho wood must be sought in that woodland for the leaf, whereas
When Rio Grande was invaded in 1763, the population fled for
of the State of Rio Grande do Sul was actually formed after the 1851
for the three stakes of the leaf green wood makes no difference.
their lives and went into the interior along the fresh water margins
Treaty, revised by Barão de Rio Branco in 1909. Military camps created
Such stakes must be fifteen to eighteen hand spans long, and they
of the Lagoon, and took refuge in Viamão. This is where the Province
for defense spawned new villages – ´landmark cities´. Movable borders,
must gain two faces, one downwards, the other upwards […]”9
capital was founded, later transferred to the port, in the parish of São
land conquered “by horse hooves”.
The second was the “Conventos” path – opened by Francisco de
Francisco do Porto dos Casais. They move up the Jacuí river and settle
A Portuguese, Spanish and Indian mix, the Gaucho, a cattle raiser,
Sousa Faria in 1728. It went through the sierra, starting in Araranguá,
the first hamlets. They secured access to Rio Pardo, the “undefeated
is a border product. “Tough hair”, he wears boots and baggy bombacha
arriving at Lages. And the third, that of the muleteer Cristóvão Pereira de
trench”, an advanced point of Portuguese occupation at the time.
slacks. He gallops unbridled over the coxilhas in the immense Pampa,
Abreu, a shorter path It started from the fields of “Viamão” to the fields
Whitewashed churches with bell towers, homes with doors and
scaring partridges away, chasing hares and causing lapwing flocks to
of “Vacarias”, crossing the Pelotas River. He left the Colônia with eight
sash windows, roofs with short top borders. On the streets religious
hundred animals - horses and mules – and made his way using siñuelos –
festivities, the Holy Week, Corpus Christi, the empire, brightly lighted
On the stony roads the carreteiros come and go. They stop and
giving the drove its direction – throwing bridges, seaming up the territory.
processions, flowered rugs, the odor of burnt rosemary, the bells ring.
roast the fine matambre meat on rocky bonfires or make rice with
It was necessary to bring settlers to occupy the lands of the
fly off. Followed by the dog, cusco, he trades cattle in rodeos.
The kings suits, children’s songs and egg sweets, plenty of sweets. In
jerked beef. They bring brine in the horn and heat chimarrão (tea) water
Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul (one of the Portuguese
the Navegantes, we could hear the singing to the sweet heart of Mary
in the cambona, blackened by the fire. In abandoned farms, over the
captaincies). Cristóvão Pereira de Abreu, an experienced woodsman,
from the boats.
ruins of old constructions fig trees and cactuses grow among the rocks.
acknowledged in 1737 the famous river mouth. José da Silva Pais stayed in Laguna with the support troops waiting for orders to advance. They entered without any difficulty and installed the first stronghold, Fort Jesus, Maria e José, and the Cavalry Regiment. …com quantos paus se faz uma canoa, literally, ´how many wooden sticks it takes to build a raft´ is a popular Brazilian expression meaning how difficult it is to achieve something. 9 Manuel E. Fernandes Bastos. “A estrada da Laguna ao Rio Grande...”, 1937. 8
Spider shelters. And when the wind blows north, the urutu snakes
Limits and borders After the Treaty of Madrid, the Royal Spanish and Portuguese
turn up in the fields. In the farms, gates, stone corrals, wind breaking bamboo trees and
boundary marking committees started to plant stone landmarks,
imbu trees everywhere. Owls land on fence stakes and cattle leather
starting at Chuí, holding sophisticated baroque rites. From afar, they
hang staked, drying, attracting flies. Water is taken from the well. The
are observed by the mission people, who react with skirmishes. “This
master lives in the “houses”, the workers in the shed. Sunrise is always
land belongs to someone”, shouted Sepé, the conflict erupts. The
with a roast. And later, off to treat the cattle. At night a game of cards,
77 A Ponte do Guaíba
gin rummy, ghost story telling, talk about whores and exploits by the
the Colony a lively place. In the kerbs, garland decorations and plenty of
planted Imperial palm trees to leave his mark in the places he visited.
crooks. In the balls the sound of harmonica players, moving their
beer. Pink smiling faces. The mascates – peddling salesmen – foster exchange,
He usually stayed in palaces in the cities which are proud of the
feet, dancing with chintz–clad maidens, with blush on the cheeks and
barter, loans. They bring news, products and novelty to the capital.
imperial visit until this day.
The dissatisfaction with taxes levied by the Empire on meat
pungent perfume.
During the 19th century, the territory was trailed by travelers of
products – staple of the regional economy – caused reaction and
different professions. With various views and curiosity, they recorded
staple food of the slaves all around Brazil. The opportunity to sell
triggered the Farrapos War in 1835. This war created the República
their impressions in journals or detailed drawings. The records were
charque to the northeast – main consumer market – developed the
Rio-Grandense, with an independent territory, constitution, arms, flag
published in Europe, reporting on unfamiliar hostile regions in an
industry. The charqueadas of the southern region were located in the
and anthem. The conflict involved a great number of people under
outside perspective of the local context. Among them were Frenchmen,
outskirts of the cities, especially in the region of Pelotas, near brooks to
local command and leadership, such as Bento Gonçalves da Silva, and
such as Auguste Saint-Hilaire, who described in the “Trip to Rio Grande
facilitate connection to the port.
included “the two world hero”, Giuseppe Garibaldi.
do Sul” a major part of the State territory; Dr. Alfred Demersay, who
The meat was kept in salt: “charque” (jerked beef). This was the
The response from the Empire, with the support of Porto Alegre
The charque trade brought prosperity to the region, formerly
wrote “The Physical, Economic and Political History of Paraguay”,
simple, rough and rural. The new wealthy sophisticated families
and Rio Grande, led to successive transfers of the Farroupilha
published in Paris, with ethnologic, geographic, statistical and
boasted imported costumes in the cities. The neo-classic style made
capital: Piratini, Caçapava and later, Alegrete. There were a number
demographic data of the usages and costumes of Paraguay, including
the scene, a pompous pampa of the new charque producing elite.
of combats, and during the battle of Porongos, the brave black spear
the Jesuit Missions between 1844 and 1847; and Robert Avé-Lallemant,
Brocade, velvet, lace, china, silverware and plenty of luxury on the one
men were exterminated. After ten years of battles and with the
author of “Journey through the Province of Rio Grande do Sul”, 1858
side. Blood baths, flies, stench, and slavery on the other. In the city,
emergence of international conflicts, the imperial government sought
defining the Barra de Rio Grande as “one of the most unpleasant and
fashion shows in the theaters, opera and classical music. Soirées in the
an “honorable peace”, signed in Ponche Verde, in 1845.
dangerous in existence”, due to the number of shipwrecks.
The extraordinary event in this war was the Laguna siege, where
palaces. Cooking – with salt and sugar - with flavors not appreciated
After 1875, Italian settlers also started to arrive. In a situation
before. In the slave quarters the Africans – fuel to the charque factories.
the movement expanded, creating the República Juliana. The absence
similar to their antecessors, they came in search for the opportunities
Huge groups – larger than the free men – forced into exhausting labor.
of an exit out to the sea, forced Garibaldi to transport the Seival and
to far l’América. Cosa sará questa Mèrica?11
Rebellions and fugitives. Quilombos (refuge colonies of fleeing slaves).
Farroupilha barges over dry land, between the Lagoa dos Patos and
The land around the capital was already occupied by the Germans.
Barra do Tramandaí. An unusual scene: a group of soldiers, horses and
There was a possibility of occupying the hills in the northeast of the State,
the Spanish, saladeros - at the end of the 19th century. They used paid
two ships going across pulled by two hundred oxen over 54 miles or 18
in the old pine tree areas. The first colonies were outlined with “string and
employees and took the muleteers to bring the cattle from the border.
léguas (6 600 meters)”10 , through the fields and plains.
ruler”, three in the northeast and one in the center of the State. After the
On the west border, the saladeiros (also charque producers) – from
As there were no roads to Rio Grande, the products were transported
extermination of the Bugres – local word for natives – cities and colonies started to grow, opening trails, river passes, cutting down araucaria pine
A moment of prosperity in the slow economy of the Campanha region.
The jorneys taken by Emperor D. Pedro II and other travellers
The surcharge on the transportation of jerked beef from abroad
In the aftermath of the Farrapos War, 19 year-old Emperor D. Pedro II,
or basalt stone, with roofs initially covered of scándole – short planks – and
bankrupted the system. Impressive ruins remained.
came to visit the province with the Empress and entourage. They stayed
later replaced by zinc and, in some cases, ornate with lambrequins.
by rail to Montevideo and from there came into the Brazilian market.
As early as 1824 the Germans arrived. Small landowners,
trees. Typically, the architecture was mainly large manors, built in wood
The outline of the cities, orthogonal, regular, military, without any
5 months. They arrived via Rio Grande and headed to Porto Alegre, Rio
independent craftsmen, in a context of masters and slaves: a new social
Pardo and São Gabriel. In Pelotas, his host was the Baron of Jaguari.
relation to the rugged terrain formed by slopes and cliffs. After having
class emerged. Coming from poor areas, they were attracted by promises
It has been reported that the Emperor was extremely pleased with
made their way, they started plantations on the slopes, introducing
of land, inputs and subsidies. They arrived in the capital and then went
the local cooking, egg sweets such as ambrosia accompanied with a
vineyards. Golden landscapes in autumn, foggy winters. Cold waters in
to the Real Feitoria do Linho-Cânhamo, in São Leopoldo, where they
fermented drink, the hydromel.
the whitewater rivers, with barges in the shallow ends.
waited until they got their land. They occupied the bushes on the slopes
Religion was visible by crosses, field oratories – the capitéis
He came back 20 years later, in 1865 in the beginning of the
of the hills and the valleys of the Rivers Sinos, Caí, Jacuí and Taquari.
Paraguay War bringing his sons-in-law. He visited Porto Alegre, Rio
– chapels and churches, simply painted, usually with a single nave and
The new cities were organized along the lines drawn by military
Pardo, Cachoeira, and Caçapava, where a fort was constructed and
independent belfry. The sacred festivities, of patron saints, processions,
engineers. Houses with jagged façades, flowered verandas and gardens.
named after him, and from there headed to Alegrete. When he arrived
kermesses celebrated in church halls on Sundays after mass. Eating
Protestant churches, usually with a center tower, were, by then,
in Uruguaiana, the Paraguayan army surrendered to him.
risotto, galletti, polenta and radici, salads with plenty of red wine. The
characteristic of the region. In the interior, manmade lines and trails, wooden or sandstone bridges appear. And all over the place, timber framing
With the curiosity of a scientist, the “traveling Emperor” recorded the route in a journal and took pictures on the way. It is said that he
mammas in their embroidered aprons, scarves around their heads and golden frills, often exaggerated, Veneto style.
houses, with separate kitchens, fences and sheds. In the crossroads, little shops, which, together with the churches, sitting rooms and societies make
Caminante, no hay camino, se hace camino al andar
78
10
Alexandre Dumas. Memórias de Garibaldi, 2002.
11
Stanza of the Italian migrants popular song “Mèrica, Mèrica”.
Battle stage The conflicts continue, initially to conquer land and later to
velho, Taquara and Canela. In 1873, the imperial crown decided the
remain mainly large ownership (latifúndios) based and their regional
construction of the line to Uruguaiana which was connected to the
centers receive the rest of the population masses in search for labor.
maintain it. Almost all involving gauchos as soldiers to defend the
Rio-Grande-Bagé railroad, reaching Uruguaiana in 1907. Little-by-little,
borders, or as strategic support base: the struggle against Oribe, from
other branches were created, connecting the colonies to the southern
cities and industrial areas emerge. Also, poverty pockets begin to
Uruguay between 1848 and 1851; that against Rosas, from Argentina,
areas and the west border, and reaching Uruguay. The main rail hub in
appear demanding infrastructure and transports. The city grows and
between 1852 and 1853; and, the largest of all, the Paraguay War,
the interior developed in Santa Maria, a university town strategically
changes with new buildings and social behaviors. Urban plans and
from 1865 to 1870 where the province was attacked in São Borja and
located in the heart of the State.
projects are carried out, such as large motorway constructions with
Uruguaiana; the Federalist Revolution of 1893, a dispute among the main
The first steam engines were fueled by coal, the smoky chimney
Around Porto Alegre – administrative and service center – new
the opening of radial roads and road rings, enlargements and landfills.
political orientations in the State, identified by the red scarves of the
type, and slowly cut across the landscape, leaving a black soot trail
maragatos struggling against excessive control by the central government,
behind with their typical sounds and whistling. Later on, there came
seeking a Federative system with more autonomy, and the white scarves
the luxury trains, with air conditioning, diesel fueled, such as the
memorable expressions of the local and national political moment.
of the pica-paus or chimangos, who supported the central government.
Minuano, and, later, the Hungarian.
It is against this background that the old desire – the Guaíba bridge
And, in the beginning of the 20th century, the tenentismo, which
Road links were quite precarious until around 1950. The Rio Grande-
New transportation systems replace the old Carris street cars. The capital stages action, reaction and demonstrations,
– becomes reality as the great connector between the metropolis and
sought to topple the dominating oligarchs and foster institutional
Porto Alegre section, for instance, took two days, with parts on dry land
the cultural mosaic of the State, a monument symbolically articulating
reform in the country. The movement known as Coluna Prestes
and three ferries until it reached the warehouse in Vila Assunção, in the
and extending the Continente – cultural landscapes, gaucho dreams and
culminated with the Great March between 1925 and 1927, when the
capital. Gradually, new federal, state and local roads were constructed
realities – to the rest of Brazil.
gauchos under Luís Carlos Prestes left from Santo Ângelo, encountnered
conditioning the fate of the areas where they passed, or where they
the São Paulo troops, crossing Paraguay to reach Teresina.
failed to pass. The new national road model was reflected in the State.
During the 20th century, other ethnic groups, from different
The railway system begins to be phased out and port structures change
origins, but in smaller numbers, also came to Rio Grande. For various
the way they operate. The road system becomes more structured and
reasons, seeking opportunities or because of need, the Polish, Jewish,
dust roads are replaced by asphalt. New roads, such as the Free-way,
Arabic, Syrian, Lebanese, and more recently the Japanese, arrived and
with two lanes, become a landmark in the history of the State.
settled in different regions defining new cultural landscapes. The vast
Bridges were constructed to link the new roads. At the border,
majority, however, stayed in the capital. This cultural mosaic12, created
international connections were built, some with more stylish, such
by intense interracial relationships, internal and external, is a result
as that of Jaguarão bordering Uruguay, and the Uruguaiana with
of the contribution of different cultures shaping the urban and rural
Argentina, or even the more modern examples such as the Quaraí and
sectors of each region. With the two World Wars, new groups arrived.
the São Borja roads.
New destinies meeting in the same territory.
Airlines started to operate as early as 1927 with the commercial route to Rio Grande using hydroplanes. The service was supplied by
The networks, the exchange In the aftermath of the War, the province started reconstruction and
the recently founded Viação Aérea Rio Grandense – VARIG, which soon turned into an international airline company recognized world wide.
built infrastructure for the production and movement of goods, seeking
For the system to operate new structures were put in place, initially air
to improve the connection between the various regions and the capital. In
strips and later airports.
the absence of roads and a rail system, communications had to be made
During the 20th century, the province of Rio Grande consolidated its
via rivers, leading to the development of riverside populations along the
position as the regional grain supplier, therefore undergoing profound
mouth, lagoon and basin of the Jacuí. The installation of lighthouses
changes in its established land use structure. Cultivation of wheat
facilitated navigation in the Patos lagoon, connecting the capital to other
and soy beans, with the introduction of mechanized agriculture,
regions. A regular steamship line, as early as 1832 connected the southern
transformed small ownership areas (minifúndios) causing rural
areas to the capital, later expanded through Lagoa Mirim.
migrations. Rural populations started to move to the outskirts of the
The presence of coal facilitated the implementation of railroads and, therefore, of industrial areas. The construction of the line to São Leopoldo started in 1869 and was expanded to Hamburo12
larger cities, or the capital, where a metropolitan area began to develop. In the northeast of the State, steel, furniture and wine production industries establish industrial centers. The southern areas and the borders
1 : : Lavras do Sul. 2 : : Itaimbezinho, Cambará do Sul. 3 : : Plan of Praça da Colônia do Sacramento. 1762. George de Bois St. Lys. Print. Pernetty, 1770, 2, XV. 4 : : Southern coast. 5 : : Booth, Torres. 6 : : Map of the land stretching from Vila do Rio Grande de São Pedro to the district of Viamão. [1763]. FARIA, José Custódio de Sá. 7 : : Wild Indians crossing the river in pelota. Watercolor. Hermann Rudolph Wendroth. 1852. 8 : : Trucker. Drawing. Gaucho Series. José Lutzemberger. 9 : : Bar-b-q. Drawing. Gaucho Series. José Lutzemberger. 10 : : Overcoming obstacles. Drawing. Salesman Series. José Lutzemberger. 11 : : The machine on the way back. Drawing. Salesman Series. José Lutzemberger. 12 : : Entangled wires. Oil on canvas. 1892. Pedro Weingärtner. 13 : : Garibaldi and the Farroupilha Fleet. Oil on canvas. Lucílio de Albuquerque. Instituto de Educação, Porto Alegre. 14 : : View of the ruins of the São Miguel Church – Lithograph. A. Dastrel. In: Demersay, Alfred. Histoire physique, économique et politique du Paraguay. 1860-1864. 15 : : Boarding at Genoa Harbor. Drawing. Vasco Machado. 16 : : Vineyards. 17 : : The historical ethnographic evolution of the people of Rio Grande do Sul. Wall painting. Aldo Locatelli. 1951. Palácio Piratini.
Barbosa Lessa´s denomination for the 1980 State Cultural Map.
79 A Ponte do Guaíba
breeze blows from the east bringing the influence of species typical of
ago. During these immemorial times the rocks formed the foundation
the Rio Grande do Sul coastal province that shelters Lake Guaíba.
of an ancient chain of mountains, entirely eroded by time. What we
On the northern side of the lake, on a cluster of islands known as Jacuí Delta, is the bridge crossing Lake Guaíba. Describing this scenery is diving into the long natural history which gave the region
see today is what was left of the roots of this ancient mountain range which no longer exists. Between the two plateaus, towards the west, a narrow river plain
its contours and covered with a green blanket the area today occupied
can be glimpsed, the Depressão Periférica, which extends to reach the
by the city of Porto Alegre,. This is precisely what we are going to do in
region of Rosário do Sul, where it starts slightly to widen up. Heading
this chapter.
to Uruguaiana through the BR 290 highway, the traveler will discover table-shaped sampling hills, remains of the southern plateau slope;
A meeting point of landscapes
and to the south, the Escudo Sul-Rio-Gandense hills, both breast and
Most large cities in Brazil are areas of road concentration. Porto Alegre,
table-shaped, such as the Cerro Partido, near the southern marsh.
for instance, is the convergence point of BR 116, linking the north of
Finally, to the east, if coming from the BR 290 (Freeway), is the
the country to the southern tip of the State by crossing the Guaíba
coastal province, formed by a long sand strip, site of the small lakes
Bridge; BR 290, stretching from the west border to the eastern coast,
of the north coast – the lagoons:, Quadros, Barros and Tramandaí
also crosses the Bridge; and BR 386, which links the capital to the
– and the great lakes of the southern coast – the Patos, Mangueira
northeastern part of the State, and further on, to the roads of the vast
and Mirim lagoons. Lake Guaíba and the Jacuí Delta are part of this
western Brazil region..
morphologic province.
In addition, four large rivers – Jacuí, Caí, Sinos and Gravataí – flow
Therefore, when crossing the Guaíba Bridge, are distinguished,
into Porto Alegre. They drain a large part of the central and north-
in a short ride, the main morphological provinces of the State, while
The Peculiar Landscape of the Lake Guaíba by RUALDO MENEGAT
northeastern regions of the State and flow into Lake Guaíba, forming
enjoying the unique landscape at the junction of the large rivers that
the Jacuí Delta. Therefore, the Guaíba Bridge is located not only at
flow into the lake forming the delta. Because the bridge spans are
the crossroads of a number of southern highways, but also over the
elevated over the flat lowlands of the islands, crossing it becomes a
islands in the meeting point of the river waters with the lake. The Jacuí
fantastic form of viewing the landscape.
The landscape in Porto Alegre, located in the border between the
Delta is a fantastic nodal point in the landscape of the State of Rio
continental areas and the coastline, results from a composition of mild
Grande do Sul.
scenery contrasts in the southern section of South America. In this
This phenomenon is better explained when we consider that
The convergence of the waters The formation of deltas, i.e. a cluster of waterlogged islands penetrated
area, the impressive cliffs of the Andes are not within sight, nor is the
the Porto Alegre Region is the fusion of the four great morphologic
by canals, is a common phenomenon when a river flows into a large
huge Amazon ecosystem, but rather the quietness of the hills, plains
units of Southern Brazil, all clearly visible when crossing the Guaíba
water body (ocean or lake). Some examples are the deltas of the Nile,
and terraces covered by their peculiar vegetation, bathed by a lake of
bridge. Looking north, it is possible to make out the extensive steep
Mississippi and Ganges, to mention just a few. They are formed due to
unique contours, jagged by capes and creeks: Lake Guaíba.
slope called Serra Geral, outlining the edges of the immense Planalto
the slowdown of the water flow of a river canal when encountering the
Meridional, stretching downwards from the south of the State of Mato
larger water body. Because of this slowdown, the sand and clay carried
is wrapped in the rows of orange and purple curtains that tinge the
Grosso do Sul, the west part of the State of São Paulo, and the States of
along by the river begin to sediment forming underwater banks. As
sky at sunset - enriched with new colors when hitting the lake surface
Paraná and Santa Catarina.
the deposits accumulate, the banks grow thicker until they reach the
The brilliance and grandness of the scenery are revealed when it
- and is the product of the interface of seven large ecologic regions in
It is also possible to see the various sample hills, such as the
surface, then forming islands separated by canals. Therefore, the river
the Southern Cone and our America. The atlantic rainforest, the mixed
Morro do Chapéu, when coming on BR 116 from the North, or the
canal forks out to create tributary canals bordering the delta islands,
araucaria pine woodland and even the borders of the Amazon bring
Itacolomi, coming from BR 290 (Freeway) from the East. These hills
which are extremely exposed to erosion and flooding.
their influence from the north to the Porto Alegre region. A number
are the ancient lines of the Southern Plateau, which is permanently
of Chaco vegetation species also reach the region from the west. The
receding towards the north as a consequence of constant erosion,
is unusual, as it is a result of four rivers flowing into Lake Guaíba:
influence of the Argentine pampa, the southern Uruguayan fields
leaving behind the samples of its old positions.
The Jacuí, Caí, Sinos and Gravataí Rivers. It is a cluster of 18 islands
and the Escudo1 Sul-Rio-Grandense comes from the south. The coast 1
Escutcheon.
The Peculiar Landscape of the Lake Guaíba
80
When we look south-southeast, we can see the round, breast-
In the case of the Jacuí Delta, the formation of the archipelago
cut through by 15 winding canals. The islands have varied forms,
shaped hills that belong to the Escudo Sul-Rio-Grandense plateau.
and many have inward semi-circles known as Sacos (sounds) such
These hills are constituted by granitic rocks formed 550 million years
as the Saco do Quilombo. The largest of the islands is Ilha das Flores
and the longest is Ilha Grande dos Marinheiros. The archipelago and
nesting grounds in their predetermined flights, forming their peculiar
as the east end, are home to impressive sand strip woodland, with
the waterlogged river plains of the four rivers are environmentally
V. The people living near the edge of the lake can see the birds flying
a number of cactus species. These dry sandy areas are vital for the
protected by the Jacuí Delta State Park and the Jacuí Delta
at a distance. Sometimes, some birds leave their flock, but quickly
sheltering and reproduction of reptiles, such as the turtle.
Environmental Protection Area.
reorganize in lines as if they knew that someone is watching the show.
Across the lake, there are four bridge spans over canals. They are, from east to west: the Navegantes – where the draw bridge is –, the Chico Inglês, the Três Rios and, finally, the Jacuí. There are three
Lake Guaíba has an average depth of two meters and width
They are announcing nightfall slowly taking over the city and their
varying between 900 meters in the north and 19 km in the south. The
certain return the next day for everybody’s joy.
edge is flat and slightly slanted, just like a dish, and near the center
The wildlife on the islands is also found in the forests and swamps
of the lake there is a navigation canal with depth between 5 and 31
stretches over the islands (Ilha do Pavão, Grande dos Marinheiros
all along the lake edges. The environmentally protected areas of the
meters. Certain stretches of the navigation canal have been widened
and das Flores). Despite the existence of buildings along the road,
delta are, therefore, an important natural shelter for all the wildlife of
and artificially deepened by dredging. These characteristics are also in
as well as along the water lines of the islands - location of fishing
the Lake Guaíba region.
conflict with a typical river.
home to an important vegetation diversity, with over 320 known
Crossing a river or a lake?
downstream from the highlands to the lowlands. In some cases, in
species, and wildlife with around 210 bird, 78 fish, 24 amphibian,
For a long period of time, between mid 19th Century until the end of
flatter areas, the water can flow backwards. In Lake Guaíba, the water
18 reptile and 32 mammal species identified to the present day.
the 20th Century, the Guaíba was wrongly designated as a river and
flows in two dimensions, also flowing across, with areas in different
sometimes also called estuary. However, a number of scientific studies,
flow speeds. Furthermore, approximately 85% of the water remains
exuberant mosaic of landscapes in a series of patches stretching from
among them some led by the prominent cartographer and Federal
stagnant for a long period of time, and in long, dry periods, the surface
the waterlines to the interior of the islands. The shallow parts of the
University of Rio Grande do Sul Professor Hans Thofern, and the Atlas
of the lake becomes greenish due to the growth of weeds and the
canal are home to reeds and floating macrophytes. Mud belts in the
Ambiental de Porto Alegre (2006) concluded that the Guaíba is actually a
reduction in clay amounts coming from the affluent rivers.
marginal areas, known as marginal dikes, are covered by alluvial forests
lake. What would be the reasons?
The water in a river, usually flows alongside the canal,
communities, boating clubs and secondary homes - this region is
The various types of vegetation on the islands make up an
where is found an impressive array of Phyllantus sellowianus2, Inga,3 fig
The first reason is what caused the Jacuí Delta to exist. Nobody
According to reports by the eminent French naturalist Auguste Saint-Hilaire, who came to Porto Alegre in 1820, this water body was
trees and Mühlenbeckia sagittifolia4. In the low lands behind the marginal
has ever disagreed with the fact that this cluster of islands is a delta.
called lagoa de Viamão or de Porto Alegre. It was around this time that
dykes in the interior of the islands, there are flood hazard fields and
As we have seen, this sedimentary formation occurs when a river
the lake was designated as a river. However, for this scientist there
swamps, with the presence of mimosas and cockspur coral-trees.
flows into a larger water body. Therefore, should the Guaíba be a
was never any doubt that it was a lake, as “whoever navigates from
river, how could its source be located in the mouth of other rivers?
the Jacuí to the Guaíba soon observes that the boat is entering a much
and fish. Due to the urban impact on the delta ecosystem there is
How could a delta be formed in the canal of a river? These are false
larger water body, therefore it is entering a lake”.
a continuous decrease in the number of species such as Caiman
paradoxes, as they can only exist based on the incorrect definition of
latirostris5, Hydrochoerus hydrochoeris6 Lutra paranaensis7 and turtles.
the Guaíba as a river.
This scenery shelters a great diversity of wildlife, especially birds
As a result, considering the Guaíba as a lake not only improves our geography, but also enhances the environment model built for
In addition, the banks of a river tend to be parallel, along a canal
this water body. It is not unusual to think that what we throw in a
through which the water flows. The Guaíba banks are all but parallel. The
river is carried far away by the water. But what is thrown in a lake
edge is defined by peninsulas and creeks minutely designing a number of
stays there. The Guaíba, being a lake has imprinted in its clay bed all
diving into the still surface of the lake or landing on dry branches,
atria along the 50 km separating the north margin, that of the delta, and
the waste thrown in it throughout the history of Porto Alegre and the
where their slim all black shiny silhouette contrasts with the blue
the south margin, where the lake waters flow into the Patos lagoon.
surrounding cities. Therefore, giving it its proper name, means to help
Birds like the white-heron, the Tigrisoma lineatum8 and the martinpêcheur are often seen in boat rides along the delta canals. Flocks of sea ravens9 are often seen in this area. They can be seen
skies or the green of the Inga trees. They usually look for clams in the
On the east side, the cities of Porto Alegre and Viamão, the points
building a new environment responsibility towards a reservoir so important for the health of the citizens and of the region ecosystems.
sandy edges of the islands, and from there they wave their huge wings
consist of small, sharp peaks and rocky hills stretching onto the water
to the boats on the delta canals. At sunset, the sky is tinted by an
surface, resulting in a breathtaking landscape. The small bays are
orange and red, pink and purple curtain and the flocks return to their
formed by rows of sandy belts along the edge, which result from the
Significant fluctuations of the sea level
wavering of the water level, characteristic of the water body of a lake.
We tend to see our landscape as a result of a single event, i.e. based
Such belts could not ever have been formed in the same way on river
on the notion that it was created just as we see it. It is often thought
banks. In the small lake bays there are beautiful beaches such as the
that it does not change with time, except for the changes we see after
Lami beach crowded with swimmers in summer.
a rain shower, or during the spring in the aftermath of winter. Contrary
2
Sarandis. Ingazeiros. 4 Salseiros. 5 Jacaré-de-papo-amarelo. 6 Capivara. 7 Lontra. 8 Socó-boi. 9 Biguá. 3
On the west part of the lake, in the districts of Eldorado do Sul, Guaíba and Barra do Ribeiro, the points are sandy and the small bays,
to this notion, landscape is a result of an intricate combination of a number of elements – rocks, soil, water, air, vegetation, wildlife, etc.
81 A Ponte do Guaíba
– originating in very distinct eras, as if each of them were a vestige of
equatorial region of Brazil expanded towards the south. Thus, species
Santana hill, the highest in Porto Alegre.
facts of immemorial times. Therefore, investigating how a landscape
from the Atlantic Woodland and the Amazon reached the Porto Alegre
was formed means diving into a deep geological time, where events
lands, followed by tropical wildlife and Indian populations located a
can be recognized which, when more recent, are present in human
little further north, such as the Guaranis and the Kaingangs, who, in
memory as legends and myths, such as Noa’s Universal Deluge.
migrating to the south, encountered the Indian Pampa populations,
2 : : Map of the State of Rio Grande do Sul with the four morphological provinces of southern Brazil and the main motorways and rivers converging into the Porto Alegre region at the Jacuí delta.
such as the Charruas and the Minuanos.
3 : : Corticeira-do-banhado (Erythrina crista-galli), present in the delta islands, blossoming in spring.
Rio Grande do Sul coastal province. During the long natural history
Lake Guaíba, the Jacuí Delta and the sustainability
4 : : A bigua flock, quite common in the delta islands.
that developed over the last 400 000 years, four major fluctuations of
Lake Guaíba, whose name originates from the Guarani language
5 : : Reed cluster on the margins of an island.
the level of the sea left their footprint on the coast of the State of Rio
and means “where the waters meet” and also “where the creeks
Grande do Sul, making up a mosaic of the current forms of the long
meet”, plays a vital environmental role for the populations living
coast stretching from the north of the State to reach Uruguay.
in the surrounding cities. First and foremost, because it is a major
The formation of the landscape of Lake Guaíba and the Jacuí Delta is linked to a plurality of geological events shaping the whole of the
6 : : White heron flock at the margin of an island.
occurred 400 000 years ago and flooded the whole of the coast in Rio
source of water supply for the city of Porto Alegre. The lake is also
Grande do Sul. At this time, Porto Alegre was a cluster of islands, as
vital to receive liquid waste produced by the city. Urban life would be
only the higher hills remained above water. In the second movement
impossible without a place where to disperse effluents daily produced
in sea level, 325 000 years ago, the island in the location of today’s
in a city with highly contaminating industrial areas, because the
7 : : View of the River dos Sinos, the canal makes a loop before flowing into the Largo da Mãe Tereza Canal, in the foreground. Then, we find the volta do Lage, northern section of the Ilha Grande dos Marinheiros. In the background, the skyline of the city center framed within the alignment of the granitic hills called Crista de Porto Alegre, located in the Escudo Sul-Rio-Grandense.
Porto Alegre became connected to the continent. The coast was much
population would be intoxicated to death.
8 : : The Jacuí delta.
The first major sea level rise, the most intense of them all,
closer to the hills. At that time the place occupied by the Guaíba nowadays was a bay, similar to the Guanabara bay in Rio de Janeiro. It was only in the third sea level movement, 120 000 years ago,
fresh water reservoir, with a 1 km capacity. It is practically the sole 3
However, because of carelessness with the natural landscape, liquid waste is discharged in the waters without treatment leading to the deterioration of the environment. In recent years, because of
that the Patos lagoon and Lake Guaíba were formed. Major features
the impact of domestic and industrial pollutants, fishing has been
of the current configuration of the Jacuí Delta and of the region of
drastically reduced, and so has the inflow of beach-goers to the
swamps and alluvial plains of their affluents also date from that time.
beautiful beaches. The environment preservation of Lake Guaíba and
However, the contours of the current profile date from the last great
the Jacuí Delta is strategic for the approximately 4 million inhabitants
sea level movement 5.000 years ago. In this episode, the Mangueira
of greater Porto Alegre. In addition to avoiding the destruction of
and Mirim lagoons were formed in the south coast, and the rosary of
the impressive landscape offered by the lake, it would also prevent
small standalone lagoons appeared in the north.
the collapse of ecosystems where the cities are located, improving
These fluctuations of the sea level are a global phenomenon, caused by successive glacial and interglacial cycles. During a glacial period, the rainfall in the continent turns into snow, creating extensive glaciers. As the water does not return to the sea and evaporation continues, the water depth is gradually reduced. Conversely, with temperature increases in an interglacial period, the glaciers will melt leading to an increase in the water depth. The last increase in the sea level is imprinted in the memory of a number of peoples around the planet, and was recorded in the Bible. In the New World, in almost all American/Indian cultures there are also narratives of deluge phenomena. The last interglacial period led to a profound landscape transformation, one major change was the expansion of forests and the extinction of giant mammals, such as the glyptodont and the mammoth. Due to the increase in temperature, the forests around the
The Peculiar Landscape of the Lake Guaíba
82
sustainability for the population at large.
P. 26 View of the delta looking north. These are the youngest islands of the archipelago. They are boomerang shaped. The outer ends going along the bordering canal currents. In the foreground to the very left, the Ilha do Chico Inglês. Greenish colored stains indicate the various vegetation colonization phases. In the background, on the first row of sample hills, we can see the morro do Chapéu, to the very right. This alignment borders the position of the old slope of the southern plateau. In the horizon we can make out the current slope. 1 : :The winding access ramps to the Guaíba Bridge remind us of the curves of the Jacuí delta canals.The crossing was built in an area where roads and the rivers forming the delta converge.The motionless cars wait for the movable section to come down (see detail, p.26). In the background to the right, the
9 : : View of the delta looking north. In the foreground, the Ilha da Pólvora and the saco do Ferraz. Then, the bridge span crossing the Saco da Alemoa, connecting the Ilha Grande dos Marinheiros, to the right, to the Ilha das Flores, to the left. In the background, the outline of the sample hills alignment, displaying, to the left, the morro do Chapéu. In the horizon, the outline of the slope of the southern plateau. 10 : : View looking south of the third bridge span, over the Três Rios Canal, connecting Ilha Grande dos Marinheiros, to the left, and the Ilha das Flores, whose southern tip shows at the right side of the picture. In the background, the skyline of the City of Porto Alegre evolving over the Crista da Matriz, framed by the hills of Crista de Porto Alegre. 11 : : Lake Guaíba and main affluents. 12 : : View to the northeast. In the foreground, the fourth span over the Jacuí Canal. The plain to the left is the Depressão Periférica, drained by the Jacuí River. 13 : : Geological evolution of today’s Porto Alegre region in the last 400 000 years. 14 : : View looking south. On the foreground, the draw span. To the right, the Ilha do Pavão. At the margins we find a light green carpet of floating macrophytes. In the background, to the left, the profile of the buildings downtown and, to the right, the outline of the breast shaped hills of the Escudo Sul-Rio-Grandense [page 36]
The study and design phases of the project coincided with a
Little is known about early Porto Alegre architecture. Some
politically unstable period in Brazil, which ultimately culminated with
reports lead us to imagine it as one of many other Brazilian colonial
President Getúlio Vargas committing suicide in 1954. The construction
towns. Whitewashed one-story homes and two-story town houses
works, starting 1955, were carried out during the JK years, where JK
squeezed against each other along the alleyways with the little
stands for Juscelino Kubitschek, the President who wanted to progress
geometric rigor of the Hispanic-American towns of that time. The
50 years in 5. This was indeed a period with plenty of public works.
city was a compact, harmonic cluster of clay tiled roofs with roof
The best known of them naturally being Brasilia, the construction
projections over the sidewalks .
of the Capital, but investments in road construction were also
The second half of the 19th Century is better documented by a
significant. The objective was to integrate and consolidate the
legacy of photos, prints and some buildings which are still in use.
domestic consumer market for industrialization, which had the car
The city of Porto Alegre had been loyal to the Empire during the
industry as one of its driving forces. The government constructed the
Farroupilha Revolution and was home to constructions designed by
FNM, Fábrica Nacional de Motores (The National Motor Factory), which
architects, such as The Teatro São Pedro and The Mercado Público. The
produced the heavy-duty cargo vehicles that dominated the road
top borders typical of the new two-story town houses, often with shops
landscape in Brazil for decades.
on the ground floor, slowly replaced the small town atmosphere to
The National Road Plan, created by President Getúlio Vargas in 1944, designed a road network linking the borders of the very southern
become a city which would impose its political and cultural leadership over the Province.
tip of the country to the northern and northeastern States, while
One Crossing, Many Bridges by FLÁVIO KIEFER
At the turn of the 19th into the 20th Century, a period of great
crossing the main cities in Brazil. According to the plan, Porto Alegre
urban change started leaving features still visible in the city’s old
would be cut across by the BR-2 road, today the BR – 116, and the BR-
center. As stated by Paul Singer, “Throughout its social, economic and
37, BR-290 today. Lake Guaíba was a hurdle for the continuity of the
political history, Porto Alegre never experienced such a productive
roads. Not only did the Travessia Régis Bittencourt link both halves of a
period as in the beginning of the 20th Century”.3 As a result of this
State, but it also approached important commercial neighbors.
development outburst, local architecture took an unprecedented leap.
The history of Porto Alegre is closely related to Lake Guaíba. It
The city’s Urban Planning was transformed, as the city center was
started in 1752 with a settlement by Portuguese immigrants from the
revamped using a few hundred meters of land reclaimed from the
The Travessia Régis Bittencourt, constructed in the 1950’s, is an
Azores Islands, who never received the land they had been promised to
north margin of the Guaíba at Ponta do Gasômetro. A new port was
impressive piece of work. Planned as a road link between Porto Alegre
colonize the west of the State. Later, easy access to the interior, through
built with granite wharves, warehouses, cranes and rail access. The
and the southern half of the State of Rio Grande do Sul, Uruguay
the various rivers leading to the lake and to the sea, from Lagoa dos
newly created area between the new port and the city was used for the
and Argentina, it crosses canals and waterlogged islands and it is
Patos and Barra do Rio Grande, facilitated the commercial development
construction of public buildings and squares.
15 km long. The bridges and overpasses together reach 5.263 meters.
of the small village. The arrival of German immigrants in 1824 and
It took five years of study to solve the technical and construction
the Italians in 1875 to the State of Rio Grande do Sul accelerated this
Manoel Itaqui. Wiederspahn designed dozens of public and private
challenges and to define the exact crossing location. From a technical
commercial progress and led to its industrialization. The railway in 1874,
buildings, one example is the Central Post Office, between 1910 and
viewpoint, the construction of a draw span was not new, however it
started a vigorous accumulation of capital which left its imprint in the
1913 (currently The Rio Grande do Sul Memorial), and The National
was unusually complex. The use of pre-stressed concrete had been
urban landscape decades later. The transportation of passengers and
Treasury Inspection Bureau, between 1913 and 1915 (The MARGS
little tested in Brazil. German technology had to be adapted to the
goods to various villages in the interior of the State was made through
today). Manoel Itaqui signed the first university buildings which later
demands of national suppliers. All that within a very limited time
a combination of rail and waterborne means. Roads become more
became the Federal University of Rio Grande do Sul, including the
frame, 1165 days1, using public funds and under political and technical
central as a means of transportation towards the second half of the
Engineering School, constructed between 1898 and 1900, The Law
coordination by the Federal and State governments through the
20th Century. Back in 1951, the State of Rio Grande do Sul had 408 km of
School, from 1900, and The Professional Technical School (Château),
National Highway Department (DNER) and the Independent Highway
hydraulic macadam roads, 167 km asphalt and concrete roads, and
between 1906 and 1908.
Department (DAER) respectively.
21 km cobble roads2, not an extensive road system.
Important Architects of this period were Theo Wiederspahn and
Another growth period occurred between 1940 and 1960, states Singer, strengthening the high rising process, which had started a
According to the inauguration plate, posted to one of the towers of the Guaiba bridge movable span, from the 28th of October, 1955 through the 28th of December, 1958.
1
Waelter Haetinger. “Aspectos da travessia, a seco, do caudal líquido que margeia Porto Alegre”. DAER, 1954.
2
3
Paul Singer. Desenvolvimento econômico e evolução urbana. 1977.
83 A Ponte do Guaíba
little before 1930. In 1935, the city celebrated one hundred years of
freeway system, including the Avenida Castelo Branco, crossing under
using the main roads of the National Road Plan”6. The controversy
Farroupilha War urbanizing Campo da Redenção, renaming it Parque
the access ramps of the Guaíba bridge, and the Porto Alegre – Osório
dominated the discussions leading to the decision to construct a
Farroupilha, whose preliminary drawings were signed by Alfred Agache
highway known as the Free-Way.
bridge system on the Jacuí Delta.
The crossings
the barge system had been ruled out, began to be looked at from
and design and construction by Christiano Gelbert. In terms of urban planning, since 1914 the city had been expecting
The need to span across the Guaíba, once the idea of modernizing
the implementation of the General Improvements Plan, made by
From the southern end of the city, not far from the new Jockey
three perspectives: A - south of the capital, B - starting at the center
engineer and architect João Moreira Maciel. The Plan basically
Club, the barges departed crossing Lake Guaíba towards the south of
of town, and C - taking off from the north. Any of the above had to
established road and sanitation guidelines, allowing for the widening
the State. The barge system was implemented in 1941 by DAER, at the
take into account water crossing leaving a 40 meter span for vessel
and opening of new streets in the city center. Between the years of 1928
Ponta do Dionísio, in the Vila Assunção neighborhood, to replace the
traffic. Important aspects such as the cost of each alternative and the
and 1932, the most important enterprise for the modernization of Porto
precarious system run by a boat transportation company until then.
issue of pass through traffic were compared. However, other issues
Alegre, was the opening of Avenida Borges de Medeiros, including the
The new barges, according to engineer Waelter Haetinger, were bought
were raised, such as one put by engineer Waelter Haetinger, who,
construction of the Otávio Rocha overpass, by Manoel Itaqui. Another
as an emergency measure during and right after the Second World
advocating the choice of the north, even used the military argument
important project from the same period was the opening of Avenida
War4. They could carry 22 cars or 9 buses, an average of 15 vehicles.
to facilitate the deployment of troops and the proximity of an air
Farrapos, in 1937, towards the airport and the northern exit of the city.
Because they were an adaptation with only one access, they were
base. Arguing against the tunnel in the Gasômetro, he pointed out
This was the main road in metropolitan Porto Alegre, and became part
forced to make complex maneuvers to dock. The average crossing time
the psychological aspects and the number of tunnel accidents the
of the BR-2 (today 116) and of the path leading to the Guaíba bridge.
was 1 hour and 30 minutes for a little over 5 km. New barges were
international media had been publishing.
Porto Alegre started the 1950’s with a population of 394 000
added to the fleet as needed, yet the system did not keep up with the
Engineer and architect Edyrceu Fontoura, from DAER, in favor of
inhabitants. At he end of the decade, it had reached 635 000.
growth in traffic. In 1954, 6 barges were in operation, transporting 246
the north solution, conducted a study about the urban development
This growth rate, quite impressive as compared with numbers
000 vehicles and 827 000 passengers, these numbers were increasing
of Porto Alegre, focusing on the evolution of public means of
today, became a recurrent subject in the academic and technical
twofold every three to four years5.
transportation. His valuable work7 included detailed maps, with slide
communities. The fast growing city needed to be modernized. In
In 1948, engineer Clovis Pestana, Transport Minister during the
overlay and a wealth of historical data and numbers, and showed a
Brazil at that time, modernizing meant rebuilding cities inspired in
President Dutra administration, deployed the DNER and the DAER
great deal of urban sensibility. It compares Porto Alegre with other big
the modern movement, replacing the old street network with fast
to solve the growing deficiencies in the barge system. The proposed
cities and forecasts with rare clairvoyance, a lot of what became true
boulevards with huge buildings erected distant from each other.
solution was a tunnel underwater linking Ponta do Gasômetro to
in Porto Alegre, such as the deterioration of the city center because
Ilha da Pintada. It generated great controversy and turned into one
of the excessive proliferation of high rises. It shows similarities
risk of completely disappearing. However, a number of big size
of the hottest technical debates the city has ever been through. To
with the city of Rio de Janeiro, with a residential use of the space in
construction works of exceptional architectural quality, introduced
settle the dispute involving important officials in road transportation,
the southern end and more industries and services located in the
a positive modernist footprint in Porto Alegre as of 1952. The most
the DAER created a committee under the coordination of engineers
northern areas8.
important emerged from the partnership between the local Azevedo,
João Carlos Teixeira, Marcus Kruter and A. M. Waldock to study and
Moura & Gertum building company with Uruguayan Architect Román
compare solutions for crossing the lake. The result of this study
departed from, in Vila Assunção, making a direct connection with the
Fresnedo Siri, who won the contest to construct the new building
was presented and debated in the engineering community and the
city of Guaíba. Despite the advantage of being the shortest southbound
of the Rio Grande do Sul Jockey Club. This architectural compound
technical arguments were made public in the DAER publications. The
way and making a direct link between the urban areas of both cities,
was inaugurated in 1959. Another important building was the Court
local population followed the discussion through long articles and
the stretch over the water was longer. In addition, all the traffic from
of Appeals (Tribunal de Justiça), designed in 1953 by Architects Luiz
transcripts published in the city newspapers.
the north would have to cross long urban parts of Porto Alegre. The
The traditional city was yet again under pressure running the
Fernando Corona and Carlos Maximiliano Fayet. The implementation of the Jockey Club compound in Baía do
One of the first options under study was to modernize the barge
The A solution suggested a bridge exactly where the barges
estimated cost of crossing 5 450 meters, with a 100 meter long
system, replacing the old barges with larger ferries more adequate for
50 meter high central span and an 8 meter deck (single lane), was
Cristal is, to a certain extent, a result of the enormous natural disaster
this type of crossing. The National Road Plan, however, preferred a dry
almost the same as the final solution, but at much higher urban
in 1941: the flooding of the Guaíba. It was the plan to protect the
road crossing. As put by Walter Haetinger, “the link between north and
construction costs. This solution seemed to have been easily ruled out,
city surrounding it by a belt of landfills and dikes, that allowed the
south, through Porto Alegre, is ultimately a problem of city crossing,
Porto Alegre local authorities to offer the land reclaimed form the lake in exchange for the old club building, at the location of today’s Parque Moinhos de Vento. The dikes were used for the construction of a
One Crossing, Many Bridges
84
6 4 5
Waelter Haetinger. Op. cit. Idem.
7 8
Ibidem. Edyrceu Fontoura. “Aspecto urbano na travessia do Guaíba”. DAER, 1954. Idem
perhaps due to the impact it would cause to the already traditionally
of landfills and dock building on the Islands. Fortunately, these ideas
designing the foundations; and Professor A. J. da Costa Nunes, in charge
residential areas of Porto Alegre.
did not survive, as years later the cluster of Islands was classified,
of landfills. Planitécnica was the company in charge of lighting.
Option B stirred the most controversy. The idea of bridging the two margins where the distance was shortest seemed to be very
after studies conducted by Plandel9, as an important protection factor against floods and as having great environmental value.
The art work of the crossing was designed in Germany by engineers Fritz Leonhardt, W. Andrä and W. Baur in reinforced pre-stressed concrete, except for the movable span, designed in steel by J. Gollnow U.
attractive, maybe because it allowed urban continuity. To replace the controversial underwater tunnel, which among other things would
The Bridge
Sohn, in collaboration with the AEG - Allgemeine Elektricitäts-Gesellschaft
require a large ventilation chimney in the form of a building in the
The international public tender held in 1953 for option C had 5
the electrical firm for the hoisting system. Because Cacex11, during
middle of the way, other bridge drawings were made to cross the 1 200
participating bidders, including foreign companies, submitting a total
the construction works, did not approve the importing of steel for the
meters over the water. A second stretch, the 3 600 meters between
of 10 projects: Sociedade Técnica de Engenharia e Representações S.A.
project to protect the domestic steel industry, the project had to be
Ilha da Pintada and the south margin, over Santa Cruz harbor, never
(STER), with four; Société de Grands Travaux de Marseille, with three;
nationalized. Companhia Brasileira de Construção Fichet, Schwartz-Hautmont,
led to debate and it could easily be crossed by overpasses, landfills
Azevedo, Bastian, Castilhos S.A., with two; Campenon Bernard, Estudos
a building company from São Paulo, adapted the design following the
or the combination of both. Unlike alternative A, easily ruled out, the
e Obras S.A., with two; and Companhia Construtora Nacional S.A., with
German drawings and mounted the movable leaf hoisting mechanism
B plan had passionate partisans, such as engineer and Professor José
one. The Brazilian Azevedo, Bastian e Castilhos building company was
in cooperation with Siemens do Brasil, which imported from Germany
Baptista Pereira. First Director-General of DAER, Pereira stubbornly
the winning bidder with design by the German engineering company
the electronic systems with no equivalent in Brazil. The steel leaf of the
defended the tunnel solution, comparing the location of Porto Alegre
Leonhardt und Andrä, using the Baur-Leonhardt pre-stressed system.
movable span was built by the Companhia Siderúrgica Nacional – CSN,
to New York City using the Holland Tunnel under the Hudson River as
We did not have access to the minutes of the jury formed by DNER
which found adapted solutions to the effort specifications calculated for
a reference.
and DAER engineers, but we do have statements that confirm that the
the German lamination system, which was different from the American
number of points obtained by their project in the qualifying round
system the company was familiar with.
Others voiced their support for alternative B because of the easy, direct connection with the city center and the port in operation at the
of the tender was enough to make it to the second round; pricing.
time. This opinion was fiercely attacked by those who believed in a
Leonhardt himself, in an article published in the German magazine
such a great number of subcontractors, could have led to significant
road solution. The urban development of Ilha da Pintada was another
Beton und Stahlbetonbau, of December 1963, expressed enthusiasm
delays in the construction timetable, but all measures were taken
argument in favor of this option, as its population had reached the
with the system, that, “before knowing about the offered price, the
on an emergency basis, and delays were minor given the size of the
thousands of inhabitants, it paved the way to the creation of a new
technical quality was taken into account”, and he recommended its
project. The biggest difficulty facing engineer Lélio Soares Araújo,
neighborhood very close to the city center.
adoption in Germany.
as he remembered the works in his statement to the Authors of this
A dry crossing at this location through a bridge, would also have
Hurdles of all types, quite natural in an enterprise involving
Leonhardt, in the same article10, so describes the winning project:
book was the sudden rupture of the pre-stressing cables. The problem
to consider the need for a high span over the navigation channel. The
“over 2 000 meters of overpasses to connect the city with the bridge;
was the weakening of the cables because of the presence of hydrogen
options at hand were a draw span, a large round ramp over the water,
the bridge over the Guaíba (canal), 777 meters long in total, with a
released from the melted sulfur mass used in the treatment of the
or a bridge starting at a higher point of Rua Riachuelo. Whatever the
50 meter movable span at 40 meters above the water;
anchoring surface of the cables. The discovery made by engineer
solution, the urban impact on this historical tip of the city would be huge.
one bridge over the Furado Grande (canal), 344 meters long in total,
Werner Grunding12, ended up explaining a similar problem occurred
Option C was the best designed to solve the road pass through
allowing for small size waterborne vessel traffic;
in Germany, when pre-stressed cables transported in rolls also lost
traffic, linking the north and the south of the State, as the main access
one bridge over the Saco da Alemoa, 774 meters long in total,
their traction quality because they were stored in a train station near
roads into Porto Alegre come from north and east. Such option offered
crossing a non navigable bay in the delta;
a sulfur plant.
lower cost and less difficulties for waterborne vessel crossing, as it
one bridge over the Jacuí (canal), main arm of the delta, 1.756 meters
only affected those headed for the hinterlands.
long in total and a 50 meter wide 20 meter high navigable span”.
inaugurated in the last days of 1958 to pay tribute to the outgoing
It must be pointed out that Leonhardt makes reference to the
Governor Ildo Meneghetti administration. However, some of the
One advantage of alternative C was the fact that it would
The Travessia Régis Bittencourt, with the four bridges, was
facilitate the urbanization of the main Guaíba Islands, which would
original 1953 public tender winning project, which was, naturally,
secondary works, such as the access ring, were not concluded until
become interconnected. During the bridge construction period, a
slightly modified as it evolved. The project team was still formed by
a few years later. The total cost of the works reached 750 million
contest was held among architects to select the best urbanizing plan
DAER engineers, under the leadership of engineer João Carlos Teixeira,
cruzeiros, mostly borne by the Federal Government. The name of
for the Islands. The intent to urbanize these Islands is clearly felt in
in charge of the road lay-out; the Estacas Franki pile foundation company,
the studies commissioned to the Laboratoire Dauphinois D’Hydraulique, a French Company, which, other than studying the water movements as in relation to the bridge foundations, also calculated the impacts
The Jacuí Delta Park Planning Group of the State Department of Public Works, coordinated by architect Udo Mohr, between 1976 and 1979, the year when the park was instituted by decree. Free translation by the author. Author’s parentheses.
9
10
Federal Government Inspecting body that forbade imports of products and materials produced in Brazil. Werner Grunding. “A fragilização pelo hidrogênio como causa de ruptura de arames de aço para protender concreto”. 1958. 11
12
85 A Ponte do Guaíba
the crossing was a suggestion of the Government of the State of Rio
The lifting and lowering mechanism of the bridge is activated to
The articulation of the crossing and the city, seen from above, shows
Grande do Sul as a tribute to the then Director of DNER. An interesting
let waterborne traffic through at pre-booked hours and it is controlled
the beauty of a layout that we do not easily sense from the ground.
fact was that the State administration changed soon after the
by an operator sitting in a booth similar to an airport control tower.
A cluster of intertwined roads forming a circle distributes the traffic
inauguration with Ildo Menegheti as the outgoing Governor replaced
Constructed with an element attached to one of the columns, a few
in many directions. Underneath this ring is Avenida Castelo Branco
by Governor Leonel de Moura Brizola. Governor Brizola decided to
meters above the traffic lanes, it juts out over the water and it is
and its extension as a freeway, the commuter trains, local traffic and
rename the bridge as a tribute to his political mentor, Getúlio Vargas,
entirely made of glass. Access to it is made by a spiral metal staircase
the extension of Avenida Voluntários da Pátria, using an overpass that
going to the extent of replacing part of the large inauguration panel
also hovering above the water . The crossing in this first stretch is
managed to squeeze itself between the bridges and the metro tracks.
placed in one of the pillars. The plaque was mysteriously stolen the
575 meters long, 16 meters wide, and has 1 815 meters of access
Underneath all this, a passage between the neighborhood and the port
day after... and the Federal Government, the actual owner of the road,
roads forming multiple connecting rings with the city streets. The
had to be built. Traffic flow is so complex that, for a pedestrian, this
never recognized the attempt to change the name.
disadvantages of interrupting traffic are well offset by the exciting
concentration of vehicle lanes and overpasses ended up creating an
experience of watching the lifting of the bridge and vessel crossing.
unsafe no-zone with difficult orientation. The vast residual areas are only
After the inauguration festivities, followed by a large crowd, the movable bridge became a major attraction in the city, and one of
Although the next two bridges when leaving Porto Alegre are
used once a year in the traditional Navegantes Festivities. The city saw
its most popular post cards, concealing the fact that the crossing is
discrete, as they do not show any structural elements, they cannot
in the lake the best possibilities for economic development, but has been
much longer and complex. However, it is clear that the draw bridge
be missed. The feeling of plunging into the beauty of the landscape,
timorous in exploiting its tourist, cultural and leisure potential.
stands out with its four towers. These towers, according to Leonhardt,
triggered by the little height and proximity with the water is achieved
demanded a detailed design to combine the regular reinforced
when crossing the Furado Grande canal, 344 meters long and 8 meters
completed a traffic distribution system which is easily connected from
concrete with the rest of the pre-stressed structure. A detailed study
high, and the Três Rios canal, 774 meters long and only six meters
the bridge to the various roads crossing metropolitan Porto Alegre. It does
was also conducted to cause the height of the metal beams to coincide
above the water. This beauty is amplified by the effect of season change,
not take much effort to recognize the adequacy of the location of the
with the other beams in the pre-stressed concrete spans, maintaining
or even the different times of the day, on the local environment. The
crossing and its impact on the everyday life of Porto Alegre residents.
a harmonic balance of the structure as a whole.
meeting point of the waters against the green color of the islands
The construction of the Porto Alegre–Osório Freeway in the 1970’s has
The traffic has increased so much that its duplication became
and the colorful sky make up the frame and point to downtown Porto
inevitable in 1979, confirming how timely and wise was the construction
grow to form a sort of lighthouse or strange multiplied observatories.
Alegre. It is impossible not to notice the ephemeral presence of the
of the double lane movable span bridge. The concession of the road
The small vertical glass openings at the top reinforce the atmosphere
sublime when we enjoy, as the speed of the road permits, such harmony
to Concepa, integrating it to the Porto Alegre-Osório Freeway, enabled
of mystery and inspire curiosity. It is only when we move closer that
between the natural and the man-made landscape.
further investments for the duplication of the remaining stretch and its
From afar they look like independent pillars which continued to
it is possible to see that the towers are attached two by two under
The bridge over the Jacuí canal, last in the crossing, has the shape
transformation into an expressway with the construction of an access
the bridge, forming such a large pillar that it can shelter the control
of a gigantic arch, is 1 755 meters long, with a 53 meter central span.
overpass to Eldorado do Sul - a city that grew along the road – and
equipment machinery. So, it becomes easier to understand the idea
From afar, over the road horizon, the bridge appears as an obstacle of
because of the road. The current growth in pass through traffic, however,
behind the draw bridge. Inside these towers counterweights run to
almost insurmountable height. Fortunately, on approaching the bridge
indicates that it will soon be necessary to build an alternative for crossing
hoist the 460 ton leaf (57,54 meters long X 18,30 meters wide13). It is
this sensation is dissipated, revealing a smooth gentle slope built to
the Guaíba. The draw bridge, as it is also known, the city post card, will
possible to see the set of cables running on the inside of the towers,
cross the high central span, 20 meters above the water. This span
be then entering a new cycle only serving local traffic. Possibly better
connecting the engines under the bridge to pulleys at the top to
allows for vessel crossing towards the Jacuí river, the largest in the
integrated into the life of the city and the landscape. It is certain that it
hoist the metal deck 26 meters. The span of this structure between
State, and the border between Porto Alegre and Eldorado do Sul. From
will continue for years to come the guardian of the southern entrance to
supports is 55,80 meters high, and the four traffic lanes divided in two
the top of the bridge, as in a belvedere, travelers arriving from the
the city. A symbol and a landmark, revealing immediately what awaits
directions are 16 meters wide. On each side, a one meter wide sidewalk
south have the chance to see the city awaiting them for the first time.
the visitor. Quasi medieval elements mixed with dynamic forms tuned
seems to confirm that at the time of the works it was unimaginable
The more we study this project, the more the construction,
that pedestrian, bicycle and horse-drawn cart traffic could one day
calculation, foundation building, shapes, pre-stressing, metal
become a problem.
structures and mechanical systems of the movable span, as well as the architectural and design aspects impress as a technical and scientific
13 In order to lighten the weight, the system utilized was one by that time unknown in Brazil: the orthothropic deck, where the deck plate of the bridge replaces the tables of the upper double T beams. The platform was also entirely welded in order to avoid overloading of the rivets. Further technical data on the draw bridge platform may be found in: José de Moura Villas Boas. “A ponte levadiça, soldada, sobre o rio Guaíba: problemas de obtenção do aço e de fabricação”, 1959.
One Crossing, Many Bridges
86
contribution. We hope that further research work will continue to analyze the data hereby presented , now dispersed in publications and archives in Brazil, Germany and France, widening and deepening the knowledge of this work.
into the future leave no doubt: here, conflict between past and future, tradition and avant-garde is always present.
1 : : North to south, the BR-2 – today 116 –, connected the city of Jaguarão to Belém do Pará and east to west the BR-37 – today 290 – Osório to Uruguaiana. 2 : : São Pedro Theater built between 1850 and 1858, designed by Theodor Von Normann.
3 : : The Lopo Gonçalves Manor built between 1845 and 1855, today the Museum of Porto Alegre, can give us an idea of the type of building in Azores influenced Porto Alegre. 4 : : The Public Market built between 1861 and 1869, designed by Friedrich Heydtmann. 5 : : The Rio Grande do Sul Jockey Club. Architectural compound designed by Román Fresnedo Siri in 1952, inaugurated in 1959. 6 : : The Sulacap building, built between 1938 and 1943 designed by architect Arnaldo Gladosch in the middle of Avenida Borges de Medeiros is the main symbol of the city which was beginning to turn into a metropolis. 7 : : Barges making the Lake Guaíba crossing southbound, departing from the Vila Assunção neighborhood. 8 : : Blueprint of Porto Alegre displaying the three options for crossing under study. 9 : : Alternative studies of the crossing via the Ponta do Gasômetro. 10 : : At the laboratory headquarters, in Grenoble, France, a mock up was built reproducing the water system of the Jacuí Delta. A number of flooding situations were simulated. 11 : : Reusable supporting system, built to be transported by barge to the building site. 12 : : Supporting system hoisted into position to take reinforced concrete molds. 13 : : Various aspects of the construction works of the Guaíba bridge. Emphasis on the land claimed from the margins of the lake to construct the new harbor and the new access roads into Porto Alegre. 14 : : Drawings by designers F. Leonhardt and W. Andrä, displaying sectioned movable span pillars and the counterweight system. 15 : : Original drawings by Leonhardt und Andrä firm showing project elevations of the Guaíba bridge. Notice that the masts over each tower were not executed and the control booth was changed. 16 : : Support system for mounting the draw span of the Guaíba bridge. The various metal parts are joined by rivets. 17 : : Metal parts without rivets for the draw span being hoisted at the harbor. 18 : : Throughout Lake Guaíba. 19 : : Metal span just after mounting still displaying “Volta Redonda”, the structure supplier. 20 : : Festive day inaugurating the bridge in December 1958. 21 : : Cover of the review Rodovia celebrating the inauguration of the bridge. 22 : : View of the bridge on inauguration day, still with the supporting system in some of the spans, and access junction not yet completed on the right hand side of the picture. We can see the new harbor before operations, and in the background, the original margin of the lake before the landfill.
Draw bridges were also used in movable towers, designed as a military artifact to besiege cities and fortresses since the times of Alexander, The Great (356-323 BC.), and were used throughout the Middle Ages until the introduction of the new gun powder artillery. They consisted of huge wooden vertical structures, usually the height of the fortresses to be conquered and carried small movable decks used by the soldiers to better access the castles. Military strategies also led to the use of temporary bridges for army crossing. One example is the bridge constructed with approximately 300 boats by the Persian King Xerxes I, in 480 BC, over the Hellespont Canal, during the Second Median War. The bridge was later destroyed by a storm.
Bascule and folding bridges The hoisting mechanisms of wooden draw bridges were improved and used to span over small canals and streams cutting across urban areas. The Magere Brug (Slim Bridge) over the Amstel River, in Amsterdam, was built in 1670. It was not until the 1850’s, when iron
Movable Bridges
bridge construction technology had been established and assimilated,
by BEATRIZ BLAY
that engineers developed the ability to cross over greater spans using movable bridges. Bascule bridges are the most common type of movable bridge
Movable bridges originated from draw bridges which were constructed
in existence because they open quickly and require little energy to
in the past to span over moats facing the gates of ancient castle
operate. The system consists of bascule leafs that open up, freeing the
strongholds. They were small and made of wood, were kept up to
central span of waterways for boat traffic. This movement is obtained
protect the entrance into the castle walls and were only to be lowered
by engines, gearings and counterweights, which may be located
when needed.
above or below the deck of the bridge. An operator working from a
The floor was constructed so as to rotate around a horizontal axle. A counterweight was placed on the bridge deck at the inner end to keep it down. Wooden wedges kept the leaf down, and when removed
control tower beside the bridge operates the opening and closing mechanisms. There are two common designs of bascule bridges. One is when
would cause it to lift. Another type of bridge applied a rope or chain
the bridge rotates around a large axle called trunnion to raise, and
hoisting mechanism. Used in ancient fortresses such as the Eurialo
the counterweights are located above the bridge deck. This system
Castle, in Syracuse, Italy, in V BC., movable bridges were widely spread
was dubbed Strauss. Joseph Strauss (1870-1938), who designed the
and became an image often associated with the Middle Ages as well as
Golden Gate Bridge, in San Francisco, California, is the engineer who
other periods of History. One example of a draw bridge is found in the
developed this mechanism.
Ponta da Bandeira Fortress, in Lagos, Algarve, Portugal. It was built in the 17th century to stop pirate and corsair attacks. One of the military tricks used in Middle Age castles was to limit
The bridge on Michigan Avenue in Chicago, is one of the most famous bridges built with the trunnion system with a double deck: the upper deck, for cars and pedestrians, and the lower deck, for heavy
the access to the bridge to a wide, long ramp. This way, the enemy was
traffic. Each bascule leaf weighs 3.340 tons; both are lifted by four 70
much more exposed to the soldiers strategically placed on the top of
cm gearing systems. Eight engines control the upper swing. Opening
the walls.
and closing takes no more than 45 seconds.
87 A Ponte do Guaíba
of the deck, whereas the bascule bridge counterweights have to weigh
the bridge is lifted from two huge rotating steel cylinders with
several times more than the span to be lifted to offset the seesaw effect.
sledges when the water froze in winter. After his death a number of
counterweights, similar to a rocking chair. Little energy is needed
Therefore, vertical lift bridges are the most suitable for heavy rail traffic.
bridges were constructed. Today, there are 342 bridges of different
Another form of bascule bridge uses a rolling system, in which
to lift this type of bridge, as the rotation force reduces friction.
Most vertical lift bridges use towers with counterweights, some
He wanted the local population to use boats in summer and
sizes, styles and building techniques, constructed in different periods
This system is known as Scherzer rolling lift bridge, a tribute to its
use hydraulic jacks located below the deck. The main disadvantage
in time. Some are small passageways for pedestrians; others are major
inventor, William Scherzer (1858-1893).
of this type of bridge is the height restriction resulting from the deck
traffic roads, such as the Alexander Nevsky Bridge, almost one km
being above the passageway.
long. Over the Neva River, all bridges are bascule movable bridges.
A folding bridge is a type of movable bridge. It is a three-segment
During the night, they remain lifted to allow for boat traffic, keeping
bascule bridge that folds in the shape of the letter “N”.
Chicago
pedestrians from crossing the river. It was not before 2003 that the
project for a pedestrian bridge to become a symbol of this Baltic
Chicago is the third largest metropolitan area the United States. It is
first braced fixed bridge was built to cross the Neva River, also allowing
Sea town. The opening and closing mechanism were required to be
located on the shores of Lake Michigan, one of North America’s Great
night pedestrian crossing.
fast. The demands led to the development of a system resembling a
Lakes. The city center known as the Loop, is squeezed between the
foldable bed, which became a tourist attraction in the city.
lake, the Chicago River and the railway system. In early Chicago, boats
some affinity to foster political, economic and cultural bonds. Saint
coming from the lake came into the river. Cars, trains and trucks as
Petersburg is sister town to Porto Alegre.
The Planning Department of the City of Kiel commissioned a
Town twining is a symbolic link created between two cities with
Swing bridges
well as pedestrians had to cross the city northbound and southbound
Swing bridges are movable bridges which rotate around a pivot point
everyday. The combination of these factors led to the use of movable
Transporter or aerial transfer bridges
located in the center of a watercourse allowing for boat traffic on both
bridges all along the river, the first one dated 1834. It did not survive
Aerial transfer or transporter bridges are quite rare. Mobility is achieved
sides. When the canal is too narrow making it impossible to install
weather conditions due to its ancient cable and counterweight lifting
by a gondola which hangs from a high bridge structure and moves
the pillar in the center, the bridge can be attached by one end while
mechanism. It was not until 1902 that engine and gearing bridges
through a system of wheels. They are similar to rolling bridges which
the other remains jutting out over the water when the span is open.
started to appear. Today, there are 45, and Chicago is the city with the
unload cargo into vessels at harbor. The Duluth Bridge, in the border
Compared to other movable bridges, swing bridges are slow. Many of
highest number of movable bridges in the world. The most common
between the States of Minnesota and Wisconsin, U.S.A., is one of the
them have been replaced by bascule or vertical lift bridges.
is the bascule trunnion. This type of bridge has become so closely
two rare examples in America and it is considered to be a Historical
associated with the city that it is internationally known as the Chicago
landmark. It was constructed in 1905 and redesigned in 1930, and is
on boats and a special hook, cables and ropes caused it to withdraw
type. Today large water vessels no longer move around the center of
still in use. Many attempts to cross the small canal spanning over a
to fit into a niche especially built on the riverside, therefore not
town. Only sail and leisure boats navigate the river during spring and
place known as the Minnesota Point were hindered by difficult weather
obstructing water traffic. This system was likely developed for rivers
summer, when the bridges remain open at pre-booked hours.
conditions. Barges could be used in summer, but the ice made crossing
Leonardo da Vinci (1452-1519) designed a swing bridge. It was built
On Saint Patrick’s Day, the 17th of March, National Irish Day and
with still waters.
impossible in winter. A local Engineer, Thomas Mc Gilway, came up with
celebration of the Founder of Irish Christianity, the Chicago River
the solution and when inaugurated, the bridge could only carry 54 tons.
waters are dyed green.
The 1930 redesign lifted the central span to facilitate waterborne traffic.
the need for a central foundation pier, which may be a hazard to
Saint Petersburg
Tower Bridge, London
navigation as the shipping channel is reduced.
Tsar Peter I, the Great (1672-1725) founded the city of Saint Petersburg
Probably the most famous movable bridge in the world is the Tower
in 1703 as one of the pillars of his political project to modernize Russia.
Bridge across the Thames in London. It was inaugurated in 1894,
Submersible and vertical lift bridges
The new capital was meant to be a window to Europe. His ambition
designed by Horace Jones and later modified by John Wolfe-Barry. The
Another type of movable bridge is the submersible bridges. The bridge
was to create a city inspired in the cities of Amsterdam or Venice. Saint
244 meter bridge was originally operated by a hydraulic system for
deck is lowered below the water level to permit waterborne traffic.
Petersburg is an important commercial center and naval base and it
lifting the 61 meter wide central span, flanked by two towers. Steam
is located in a swamp area among over one hundred islands amid the
power from coal-burning boilers pumped river water into six large
to lift the movable section, as in an elevator. The central span rises
scores of rivers, canals and streams. The main river is the Neva.
hydraulic accumulators, so that power was readily available when
vertically while remaining parallel with the deck. This system offers
The main public buildings are all facing the Neva, including the Winter
required. The 65 meter tall steel towers were built to be in harmony
the benefit of lower cost as compared to bascule and swing bridges, as
Palace, home to the Hermitage Museum. However, despite its geographic
with the original London Tower and were built in Victorian Gothic
the counterweights for lifting are required to be equal to the weight
characteristics, Peter the Great banned the construction of bridges.
style. When the bridge is open it looks like a Middle Age castle.
The advantage of this type of bridge is that it requires no counterweights. Its complete weight is significantly reduced as compared to other types of movable bridges. The disadvantage is
Vertical lift bridges use pulleys, engines and counterweights
Movable Bridges
88
the lake and connecting the capital to the southern region of the State of The upper walkway links the two towers, which support the
Rio Grande do Sul, and the State to other countries in the Southern Cone.
tension of the structural cables of the two lateral suspension bridges,
Porto Alegre evolved historically as a political and administrative
while allowing for pedestrian crossing. Today, the twin towers house
center. Its geographic situation and proximity with a navigable
the bridge museum where the old engines are displayed. Raising and
watercourse system were decisive in attributing to the city its role as
lowering the bascules is done electronically now.
a commercial hub, therefore developing a fast- growing center around
Tower Bridge is the film location of the movies Bridget Jones’s Diary
it at the second half of the 19th and first half of the 20th century. Some
and 007: The World is not Enough as well as the unreleased Harry Potter
routes contributed towards this position, among them the direct
and the Order of the Phoenix.
connection with the nearby islands and the town of Guaíba, by public waterborne transportation using motor boats and barges. Since the early decades of the 20th Century, there was intense economic, social
1 : : Dictionnaire raisonné de l’architecture française du XIe au XVIe siècle, Eugène Viollet-le-Duc, 1856.
and cultural exchange between the two cities. Porto Alegre residents went on boat rides, excursions and pick-nicks bound to Pedras
2 : : Ponta da Bandeira Fortress, 17th century. Lagos, Algarve, Portugal
Brancas, then a district of Porto Alegre, which became an independent
3 : : The Langlois Bridge, in Arles, France. Became world famous because it was painted by Van Gogh, in 1888. 4 : : Pegasus Bridge, Ouistreham, France. This is a rolling lift Scherzer bridge. It played a vital role on the Normandy allied D Day at the end of the Second World War. The name Pegasus was coined because of the English Air Brigade Operation with the same name. 5 : : Bridge on Michigan Avenue, Chicago, 1920. 6 : : The Hörn Bridge, in the city of Kiel, Germany. A pedestrian bridge, 1997 7 : : Puente de la Mujer, Buenos Aires. Pedestrian bridge in Puerto Madero, design by the Spanish Architect Santiago Calatrava, 2001. 8 : : Mock up of Leonardo da Vinci’s swing bridge. 9 : : The Corinth Canal, Greece, 2002. There are two submersible bridges across the Corinth Canal, one at each end. The center span is lowered 8 meters below water level.
city in 1926, and took the name of Guaíba. Between 1941 and 1964, the connection between Porto Alegre and Guaíba was provided by a State barge service carrying passengers, vehicles and animals. However, as early as 1954, the service showed signs to be no longer capable of regularly and safely meeting the increasing
A Crossing between Margins and Lives
traffic needs, leading to the search for a new alternative. A number of solutions were developed and discussed with the authorities and the population. The winner was a road system with the construction of bridges starting at rua Sertório, in the Navegantes borough, at the northern end of the city, using the islands of the Jacuí Delta. According to Lélio Soares Araújo, who participated in the Travessia
by ALICE DUBINA TRUSZ and ROSÉLIA ARAÚJO VIANNA
Régis Bittencourt Committee and followed the construction process, In spite of the captions in post cards featuring the bridge over Lake
having participated in the civil works was a great learning experience.1
Guaíba calling it Ponte do Guaíba sometimes, Travessia Getúlio Vargas
According to his calculations, the process involved approximately
other times or even Travessia Régis Bittencourt, all the names refer to the
2 000 people. Lodging camps were set up in the neighboring areas
10 : : Kingsferry Bridge over the Swale River, Kent, England, 1990. Made of pre-stressed concrete and structural steel, this was the third movable bridge built at this crossing point. It was built to replace a Scherzer bridge, which itself replaced a bascule bridge built in 1860.
same engineering enterprise, architectural monument and one of the
to give logistical support to the workers. Local construction workers
main tourist attractions in Porto Alegre. The confusion also reaches
and French and German technicians had their work monitored by
the press, everyday local language and publications about Brazilian
engineers such as Edmundo Régis Bittencourt, Director of DNER, Ildo
bridges. The variety of names discloses the various appropriations of the
Meneguetti, State Governor and Leonel Brizola, Mayor of Porto Alegre,
11 : : Railway bridge between Rio Grande and Pelotas, over the São Gonçalo Canal, State of Rio Grande do Sul, 19th Century. Used for the transportation of grains and fuels. Today it is a tourist attraction in the city of Pelotas.
construction by the building companies involved, politicians and bridge
as well as Reverend Arthur Wickert, of the Navegantes parish. They
users. Although most people do not know its official name, Travessia
were often seen visiting the construction site.
12 : : Movable bridges over Chicago River, Chicago. 13 : : Aerial view of Saint Petersburg with Neva River and his movable bridges.
The location of the initial stretch in the borough of Navegantes
Régis Bittencourt, they immediately recognize it as being the Ponte do Guaíba, its popular name, which conveys the nature and importance of
and its continuation over the islands had an impact not only on
the bridge in the history and routine of the city and the State.
the physical aspect of the region, but also on the routine of local
Built to provide a solution to the problem of deficient waterborne
residents. Throughout its history, the region of Navegantes withstood a
14 : : The Duluth aerial bridge, Minnesota, USA, 1905. The bridge carries vehicles and pedestrians across a short one-minute stretch.
crossing services and the increasing need to expand road traffic
great deal of physical and social change. Initially a rural area, outside
alternatives, the bridge became the first dry connection between opposite
15 : : Tower Bridge, London, 1894.
1
ends of Lake Guaíba, transforming the relationship between the city and
Cf. interview given to Rosélia Araújo Vianna, Alice D. Trusz and Flávio Kiefer, on the 29th of January 2007, in Porto Alegre.
89 A Ponte do Guaíba
the urban borders of the city, it was a place where affluent Portuguese
had long been postponed, were taken. Among them, opening and
driving population growth and urbanization. The construction of
and their descendents built their secondary homes and ranches. Later
widening streets and construction of canals, dikes, landfills and
the road contributed to boost road traffic in the region, but also
on, it became a destination for the less privileged immigrant families
walls. These projects, concluded decades later, contributed to prevent
had an adverse impact on the quality of life. On the one hand, rua
who built their homes in the 19th Century.
new floods, but became a hurdle between local residents and the
Sertório boomed and became a boulevard, on the other, the Praça dos
lake, as they were driven away from the lake shores. A number of
Navegantes wound up underneath one of the access ramps to the
settlement in the region between what is today Ponta do Gasômetro
local activities disappeared: fishing, boat rides, and swimming of the
bridge, losing visibility along with its quality of green leisure area.
and Praça da Alfândega, expanded to the south, and later, to the north,
Navegantes young men in their free time near the places where their
both considered and occupied for a long time as semi-rural areas. As
mothers and sisters washed clothes.
The capital of the State of Rio Grande do Sul started as a
In connection with the local routine before the construction of the
of 1806, when the Caminho Novo (today Avenida Voluntários da Pátria)
The crossing was constructed where the islands of the Jacuí Delta were located. This way, at the opposite margin of the first canal coming from Porto Alegre, it meets the Pavão island, crossing over
was opened, the urban central area circumscribing Porto Alegre was
bridge, it is interesting to hear dona Ana Liseta Lorbieck, a 100 year-
islands Grande dos Marinheiros, Flores and Pintada. These islands plus
connected with the districts of the north (Gravataí, Santo Antônio,
old resident of Navegantes. She was born there in 1906. The daughter
the other 12, constitute the archipelago borough and are part of the
Osório and Vacaria), and began to enjoy the pleasant road bordering
of German parents who came to Porto Alegre because they could not
Greater Porto Alegre. Human presence on the islands dates back to
the lake which also became the supply route, with intense dray traffic
find a job in the coffee farms in São Paulo, Mrs Lorbieck was the first
the 18th century, when it was used as hunting and fishing grounds by
after 1850 to the central free market. Navegantes developed along this
daughter in the family to provide financial help to the family, making
the Guarani Indians and occupied as a hiding area for fleeing African
axis and boomed after the construction of the railroad between Porto
and selling flower bouquets at the age of 15. But, in addition to the
slaves, settlement of emancipated slaves and Portuguese immigrants
Alegre, São Leopoldo (1874) and Novo Hamburgo (1876), with the first
flowers, she also performed the house chores, activities by then carried
and their descendants, who settled in on the Pintada and Flores
streets appearing in the1870’s.
out by women only. About the routine around the lake she says:
islands and expanded to the others, mo ly in the 19th Century.
“We had a well, and the water was for cooking. It was salty. But
Population growth was driven by real state development of some
The first island dwellers developed the economy based on self-
properties and improvements in the transportation system. With
white linen had to be washed in the lake. Every week I carried
sufficient farming and fishing, making their own homes and work
abundant labor, a rail system and nearby berth facilities, the first
dry laundry down and brought it up back wet, to dry at home.
tools, boats and coal. Surplus was sold in Porto Alegre, especially after
industries settled there making Navegantes a working class suburb of
Around here at (avenida) Brasil, was the place for the washing.
the second half of the 19th Century, when the city grew larger and
the city in the turn of the century. The first factories were small and
There were about twenty women, each had her own spot. And so
supply needs were on the increase. Therefore, river traffic between
medium size businesses producing for local consumption, supplying
they did every day. There was a couple with four children. They
the islands and the center of town boomed in this period, this playing
non durable consumer goods to the colonial region. The main
made an income by washing for other families. They went around
a vital role in the consolidation of settlements in the region and in
industries were fiber spinning and textile industries, which developed
with a horse-cart and picked up laundry in town. They put all the
spawning a naval skilled labor force among island residents.
to become relevant factories nation-wide, such as A. J. Renner & Cia.
children through school this way.”2
and Companhia Industrial Rio Guahyba, to mention just a few.
Their German origin had an influence on the thinking and behavior
As of 1926, when water supply reached suburb residences, there
In addition to selling their primary output, the islands also participated in the economic development of the State through
of the residents, in the way they worked and had fun. Since the early
industrial activities. As of 1914, Pintada was home to an important
was a sharp increase in house construction, particularly wooden homes
beginning, Navegantes had sports associations and societies for rowing
shipyard, the Mabilde, and as of 1916 a glass factory. This led to the
. Newcomers arrived at the region, some were immigrants, fleeing the
and swimming. Some of them still exist today such as Sociedade
construction of landfills and dikes to prevent floods, and brought new
wars in Europe. Among these immigrants was Wasyl Trusz, who came
Ginástica Navegantes São João. Another great source of fun for local
residents, steam technology, electricity and telephone to the islands.
to the region in 1929 as a child with his family. An uncle was waiting for
residents of the north end and neighboring cities, such as São Leopoldo
their arrival, and found his father a job as a carpenter and his mother a
and Novo Hamburgo, between 1891 and 1907, was the Prado Navegantes,
Varig in the southern end of Ilha Grande and Ilha dos Marinheiros
position as a sewer in the Renner Industries. A little after one year, the
located where the Renner Industries were subsequently established. In
brought more changes to the region, impacting the routine of
couple had enough resources to buy land in the new settlement areas
the 1910’s, the movies also became a leisure activity for local workers.
fishermen. Author Erico Veríssimo, in his book “Um Lugar ao Sol”, 1936,
in the northeast of the State and moved there. They might as well have stayed in Navegantes, where there was plenty of work.
In 1955, when the construction of the Travessia Régis Bittencourt
Between 1927 and 1931, the construction of airport facilities by
describes the surroundings of the semi-aquatic airport, next to the
started, the neighborhood was already going through changes.
Navegantes district, using the contrast between the bright colors of
Since the end of the 1940’s, the area of the sanitation wharf, under
small boats of poor local residents and island fishermen and the silver
authorities for better urban services and measures against constant rain
construction, was home to a number of slums resulting from the
metal of the hydroplanes which stood side-by-side and kept them
inundations and frequent river floods in the area. Despite the familiarity
intense rural migration into the cities. At the same time, large steel
company for a number of years. Recently, the literary reference was
with the floods and their consequent losses, nothing would compare to
mechanic and chemical industries started to move to the outskirts
painted in watercolor by Joaquim da Fonseca.
the 1941 floods, which submerged half the Navegantes district, leaving
near the new roads changing the economic profile of the area and
most of the residents homeless and affecting 40 000 people in the city.
2
Towards the mid 1930’s, residents continued to press public
After the public disaster, a number of sanitation measures, that
A Crossing between Margins and Lives
90
Interview with Ana Liseta Lorbieck given to Rosélia Araújo Vianna, on the 2 of July 2007, in Porto Alegre. nd
In 1959, the main means of transportation for islands dwellers was still boats. The lake maintained its importance as a source of food and income, communication and leisure. Fishing and trade in
Porto Alegre continued to be relevant economic activities, although an
associations. In addition, there has been a rise in crime rates, felt in
always smooth. While some follow the operation with curiosity and
increasing number of island residents were working in the downtown
the routine of the bridge and roads, when copper cables are stolen
others take a moment to relax, there are those who become impatient:
area. The connection between the islands and the opposite margins
from the public lighting system and during attempts, successful at
“They complain all the time because they think we are too slow.
was ensured by the river, relying on a time-table, the service not being
times, to rob moving cars in the traffic. The social difficulties are
Now, the water level is low, but in winter it is almost ten meters
subject to interruptions due to bad weather. On Sundays, not only was
collective, demanding a collective effort to solve them.
high and the vessels from the terminal going downstream are
Amid the achievements of progress and the setbacks in the quality
the regular week schedule running, starting at dawn, but also an extra
pushed by currents. Larger boats, around one hundred meters long
evening crossing was added to bring movie and church goers from
of life, the Travessia Régis Bittencourt remains a vital communication
are quite loaded, 2 to 3 thousand tons. So, they think we hoist too
town back to the islands. Likewise, musicians for ball entertainment,
and transportation artery. Specifically considering the stretch over
early, but then we have to, so that the span becomes completely
film rolls for movie sessions held at the Fishing Community) or even
Lake Guaíba, - a movable span bridge - its peculiar role is clear: it is a
free for passage. The vessels go to the petrochemical terminal
circus entertainers crossed the Guaíba towards the islands. The
road crossing a water body with a vast historic tradition as a navigable
and to the gas terminal, here at the Rio Branco. The heavy loaded
crossing took 20 minutes.
way, making sure it remains so. Using a movable span was the solution
terminal vessels are pushed by the water towards the wharf. The
adopted to allow for oil tanker traffic coming upstream the Gravataí
tow boat does not manage to hold them back, so we have to start
slowly phased out. Initially, islanders avoided the bridge for fear
river (they still go up to the Petrobras Terminal) and, later on also for
earlier. Then, they start to call us names, they keep pointing at
of road accidents. With time, they started to take public buses, not
vessels going towards the Triunfo Petrochemical Terminal. The passage
their watches”.4
without difficulty, as these did not come near local homes, making
under the bridge involves a number of high risk operations not only for
users walk long stretches to reach the bus stops by the roadsides.
boat crews, but also for the bridge operator, creating an atmosphere
In his decades of work Mr. Correa has seen car chases, accidents and
After the road was inaugurated, this type of transportation was
The bridge was and still is a place for both adventure and torment.
of strong tension in a number of occasions. Some aspects of the
suicides. These stories not necessarily have official records, but are
of factors, such as the increasing number of middlemen, river water
work routine and the forms of communication between the control
part of the routine and collective memory of those who live and work
pollution, deforestation, irrigation pumps, dams and the increasing
tower and the vessels have been described by Avelino Correa, bascule
nearby. Some examples are: in the 1970’s, the motor biker who jumped
industrialization of riverside delta areas started to impact fishing
operator from 1975 to the present day:
off during hoisting, with no success; the accidents with ships that
Economic activity on the islands also started to change. A number
making it less profitable. As a consequence, many of the residents still
“At first, there was nothing. Just messages. We worked with flags.
lived on the islands, but worked in town.
The bridge hoisted up there, we took a green flag and placed it
“Once, I was doing some work on the bridge, fixing some springs,
Another change, though later, was the concentration of
under the window in the booth so that boats could cross to the
when a beautiful young lady came by, dark haired. She went
populations in the areas cut across by the road and on the road
other side. When they could not cross the flag was red. Then we
past us towards Guaíba, it was around nine a.m.. And when we
sides. This occupation not only evolved in a random manner, but was
used a whistle, then the train passed down here and confused
looked up, we could only see her handbag on the guard rail. We
also affected by a large population turnover. In the Pavão, Grande
everything. When the boat came they blew the whistle. We replied
approached and she was already in the water. I think she fell
dos Marinheiros Flores islands, small villages have little urban
with two blows to signal that we had copied. We looked at the
awkwardly and broke something. She went to the bottom and
infrastructure and are occupied mostly by low income families, living
traffic, waited until it slowed down, and when the cars stopped,
floated back. The firemen took her out. It is disturbing. We just
in low quality homes. A small portion of the islands is also used for
we hoisted. When the bridge was up, we displayed the green flag
looked, we didn’t see who she was. A gentleman working with
secondary homes and leisure for local affluent families, attracted by
on the traffic side and the red flag for the stopping side. Then we
us, who had a daughter, said that the girl looked like her. But, he
the landscape and river navigating features of the region. The Ilha da
blew the whistle once to signal it was free to go. Then the boat
didn’t really see the girl. So, he went home because he though it
Pintada is different from the others, having adequate infrastructure as
whistled twice to signal it had copied. If they did not copy or if
might be his daughter who committed suicide. He was a nerve
a result of recent government investments.
there was a problem, they whistled three short times. Then when
wreck. Just her flip-flops remained behind”.5
the boat had gone by, we made a long blow as a greeting. It was all
Some of these themes and events became films, making the bridge
The long-lasting deficiencies in infrastructure define the profile
caused damage to the piers; and the suicides
of the new island resident. In the past, the local community fought
written in the books – the distance, the whistling, the flags”.3
also a scenery for fiction. In the movie “Teixeirinha a Sete Provas”,
against the floods. The struggle today is against social exclusion.
Mr. Avelino Correa started working on the bridge in 1958, in the
from 1973, the regional hero, Vitor Mateus Teixeira, throws himself
In order to avert this process, new economic activities, such as arts
machine room, later he became bascule operator. Since then, he feels he
off the bridge looking for an underwater treasure. Also exciting is
and crafts and waste recycling, both mainly carried out by women
is responsible for the communication between the north and the south
the scene where the character André (Actor Lázaro Ramos) flees his
organized in cooperatives, have emerged. At the same time, the
of the State, or for its interruption, every time he presses the control
former accomplice Feitosa (Actor Julio Andrade), carrying a money bag
increase in horse cart traffic to transport waste from the center to
panel to hoist the 400 ton bascule. However, when there are good weather
in the movie “O Homem que Copiava”, directed by Jorge Furtado, 2003.
the cooperatives on the islands have become a problem for the bridge
conditions for waterborne traffic and the bridge is hoisted, the attitude
The main character jumps off the bridge while hoisting, onto the fixed
and road traffic. This is worsened when the central span of the bridge
of motorists and their communication with the operating tower are not
deck leading his persecutor to fall to death on the dry side of a bridge
is hoisted. This constant risk has led to a debate between the local, state and federal governments and the island and continent resident
4 3
Statement from Avelino Correa to Rosélia Araújo Vianna, on 3/5/2007, in Porto Alegre.
5
Ibidem. Ibidem.
91 A Ponte do Guaíba
access. Furtado is the film Director who has most used the bridge in
of the waters”, a term that attempts to convey a general idea of the
way!”; “Hold on a minute, the boats have priority.”; “Hail, Nossa Senhora
his work. The “Anchietanos” episode, of the TV broadcast “Comédias
viewing, feeling and understanding of the universe of the men and
dos Navegantes!”; “This is Porto Alegre!”. These quotes summarize the
da Vida Privada”, broadcast by Rede Globo, had a scene filmed on the
women living on the islands and in the surrounding areas of the lake,
routine of the representations incorporated by the bridge, but they
bridge, leading to a dramatic finding: somebody had jumped or was
very much a result of the close bonds that they have with the water.
are not the only ones. The arrival of the 21st Century, with its typical
pushed off. Antônio Carlos Textor turns his eyes over 1970’s Porto
This relationship is reflected in the legends, water sports and collective
acceleration and internationalization, puts Travessia on the demands
Alegre from the Guaíba bridge with melancholy in the short film
festivities. One of these has been held every year in Porto Alegre, since
as it was not really cut out to fulfill.
“A Cidade e o Tempo”.
1871, when the rites of devotion to Our Lady of the Seafarers (Nossa
1 : : Construction workers at the Guaíba bridge building site – 1958. 2 : : Engineer Régis Bittencourt supervising the works and the other members of the engineering team – 1958. 3 : : View of the Rua Voluntários da Pátria in the 1910’s: from the center towards the Navegantes borough. 4 : : Wedding party at the Polish community and recently established immigrants at the Navegantes borough – 1929. To the right, sitting holding a harmonica, the then child Wasyl Trusz. 5 : : In 1892, the races in the Navegantes Prairie were good Sunday entertainment in the area, fostering interest in horse racing in the city. 6 : : In the 1910’s, the arrival of movie theaters to the suburbs would make this new form of entertainment popular also among the Navegantes construction workers. Advertisement for the Thalia movie theater, 1918. 7 : : Celebration of the National week in the Grêmio Esportivo Renner Stadium, a soccer team founded on the 27th of July 1931 next to the Renner Industries. Navegantes borough, 1948. 8 : : Aerial view of the Navegantes borough and access to the Guaíba bridge under construction – 16th of March 1960. 9 : : Since the 1880’s, steam services took people to the islands. Pick-nicks were quite popular. 10 : : Porto Alegre seen from the islands – Print by Hermann Rudolf Wendroth, 1852. 11 : : Crossing the Guaíba bridge by horse-drawn cart, 2007. 12 : : Boating, common means of transportation for the delta population, seen from the Guaíba bridge central booth, 2007. 13 : : Pernambuco, the first ship to cross under the movable span of the Guaíba bridge, on the 27th of December 1958. 14 : : The Guaíba bridge becomes a movie star in the film “O Homem que Copiava”, by Jorge Furtado. 15 : : Watercolor by Joaquim da Fonseca, 1989. 16 : : “Lucia Helena, a recollection of the famous smiling city, sun set is really beautiful, there is nothing more beautiful than the sun set around the Guaíba. A big hug from this lady who enjoys you, Jane. Porto Alegre, 2nd of October1967”. 17 : : Crossing the water the Saint continues to guide and protect the seamen. The Navegantes festivities, 2007. 18 : : The road procession of the Saint to the Navegantes church gathers a crowd of keen worshipers every year. Navegantes festivities, 2007. 19 : : Hail Our Lady of Seafarers!
Also used in local advertising campaigns, the image of the Guaíba
Senhora dos Navegantes) was introduced by the Portuguese coming from
bridge has been part in building up the identity representations
the Azores Islands. Every 2nd of February the festivities are a tribute to
of Porto Alegre residents and their city. One example is the Polar
the saint, gathering islanders and continent residents to share their
beer campaign (2005), which featured the bridge as a gate. When
religious beliefs and their collective memory.
closed it did not let the product go out of the State by water. The
Initially held in the district of Menino Deus and, since 1877, in
campaign appeals to the local pride of the Gaucho (person born in
Navegantes, the celebration begins with the onshore procession of the
the State of Rio Grande do Sul) in defending the exclusive right not
image of the saint carried to the Church of Our Lady of the Rosary ,
just of producing the beer, but also of drinking it. The bridge itself is
in the center of town, during the week preceding the 2nd of February,
perceived as a compulsory passageway between the local and national
on which day the image is taken back to the Navegantes Church
commercial networks, the movable span having a vital role in the
. Until 1989, the return was made by an offshore, lake procession.
maintenance of the flow of goods through the river.
Subsequently it was fobidden due to the frequent accidents, such as
Another more recent example was a tribute to the 235 years of
people falling overboard from overcrowded boats, or boat collisions. It
the city of Porto Alegre, celebrated on the 26th of March. It is the TV
was then replaced by a walking procession , when the image is carried
commercial of the Záffari-Bourbon supermarket chain. Appealing to
on the shoulders of the pilgrims all dressed in white.
emotional charm, the commercial is divided into a first long series of
In the 1950’s, the celebration involved the population of the whole
“the most beautiful views”, closed in by “the view that most touches
town, attracting also residents of neighboring towns and cities uphill.
your heart”, it is the view seen by those coming home to Porto Alegre,
After Mass, churchgoers looked forward to the attractions, as souvenir
flying over the Guaíba bridge or crossing it as a road. The bridge is
pictures and an amusement park, the main traditional delicacies being
again featured as the gate into the city, with emphasis on its peculiarity
watermelon and barbecue.
and unique geographic location at the shores of a lake. In addition to
Since the inauguration, the Travessia Régis Bittencourt is a close
the emphasis on the crossing as a way of communication, coinciding
participant in the event. For a long time, the bridge was used as a
with the air route, the presence of the lake can be seen in each of the
tribune for the people to watch the festivities. Although this has been
“most beautiful views”. After all, in the vast urban panoramas of the
forbidden, the span continues to be hoisted as a tribute to the Saint
city seen from above, general at a first glance, it is possible to see the
and to give way to the lake procession, resumed in the year 2000
waters of the Guaíba shinning in the background.
by rowing boats, fishermen, water club representatives and other
The photos taken of the crossing can be found in the press and in
pilgrims. In 2007, the water procession gathered approximately 180
special publications, but most often in printed or electronic post card
boats of different draft and was followed by a number of safety bodies.
format. Prominent Rio Grande do Sul and Brazilian photographers,
The image of the Saint was then taken from the Pintada island to the
such as Léo Guerreiro and Pedro Flores, Assis Hoffman, Sioma
State Nautical Park, in Navegantes, where an ecumenical mass is held.
Breitman, Domingos de Almeida Martins Costa and Leonid Streliaev,
If the renewed participation of the bridge has contributed towards
have taken photos of the bridge. With strong emphasis on the tourist
enhancing the image of Lake Guaíba as one of the main tourist
potential of the area, the most common pictures feature the contrast
attractions of the city of Porto Alegre, the integration of the bridge into
of the straight lines of the monument with the colorful sunset
the religious celebration illustrates at the same time the dynamics of
reflection on the lake waters enhancing the natural beauty of the site.
the urban development process of the city, representing the constant
But the highlight is on the pictures of the part played by the Guaíba Bridge in the Navegantes Festivities, showing the “culture
A Crossing between Margins and Lives
92
quest for new alternatives of communication with the world. If it was given a voice, maybe we would hear sentences like: “City, grow this
Créditos e fontes das ilustrações Picture credits
As fotografias e reproduções contidas nesta publicação foram especialmente produzidas no verão e outono de 2007 por Eduardo Aigner. As fotografias e reproduções contidas nas páginas indicadas abaixo são de autoria de: The photos and reproductions in this publication were specially produced in the summer and fall 2007 by Eduardo Aigner. The authors of the photos and reproductions on the pages indicated below are: P. 15 2 Luiz Antônio Catafesto de Souza. P. 16 3 Paulo Backes. P. 17 5 Arquivo Histórico do Itamaraty. Rio de Janeiro. Reprodução de Luiz Antônio Catafesto de Souza. P. 17 6 Arquivo Histórico do Itamaraty. Rio de Janeiro. P. 18 7 WENDROTH, Rudolf Hermann. O Rio Grande do Sul em 1852. 1983. Aquarelas e desenhos. Porto Alegre: Governo do Estado do Rio Grande do Sul. P. 19 8, 9 e 10 Reprodução de Eduardo Aigner. P. 20 11 Reprodução de Eduardo Aigner. 12 Coleção Sergio Fadel. Reprodução de Vicente Mello. P. 21 13 Instituto de Educação, Porto Alegre. Reprodução de Luiz Antônio Catafesto de Souza. P. 22 14 Arquivo Histórico do Itamaraty. Reprodução de Luiz Antônio Catafesto de Souza. 15 IOTTI, Luiz Horn; BÓ, Juventino Dal. Italianos no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: IPHAN, 1995. P. 23 16 Aldo Toniazzo. Projeto ECIRS/UCS.
P. 25 17 Reprodução de Luiz Carlos Felizardo. P. 27 3, 4, 5 e 6 Paulo Backes. P. 34 MENEGAT, R.; PORTO, M. L.; CARRARO, C. C.; FERNANDES, L. A. D. (Org.). Atlas ambiental de Porto Alegre. 3. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006. P. 42 7 e p. 44 9 Separata do Boletim do DAER, n. 62-63, ano XVII, 1954. P. 45 10 Rio Jacuí. 1956. Laboratoire Dauphinois d’Hydraulique. P. 45 11 a p. 47 13 Lélio Soares Araújo. P. 47 14 e 15 Beton un Stahlbetonbau, n. 58, 1963. P. 48 16 a p. 50 22 Lélio Soares Araújo. P. 52 Lélio Soares Araújo. P. 55 2 © Georges Jansoone, 2006. P. 56 3 Kröller-Müller Museum, Otterlo, Países Baixos. 4 © Yummifruitbat, 2004. 5 © Jeremy Atherton, 2006. P. 57 6 © Anthony John West/Corbis, 2003. 7 Bea Hoppe, 2001. 8 Museo Nazionale della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci, Milão. P. 58 9 © Leonard e Apasia Coumiotis, 2005. 10 © Penny Mayes, 2006. P. 59 12 © RM/Corbis, 1951. P. 60 13 © Geoeye/Science Photo Library/Corbis, 2002. P. 61 14 © Minnesota Historical Society, 1907.
P. 61 15 © Arpingstone. P. 62 Nelson Leal Vianna. P. 63 1 e 2 Lélio Soares Araújo. P. 64 3 Fototeca Sioma Breitman/Museu Joaquim José Felizardo, Porto Alegre. P. 65 4 Coleção Família Trusz. P. 66 5 Museu CSHJC. Jornal Mercantil, Porto Alegre, 23 abr. 1892, p. 2. 6 Museu CSHJC. Jornal A Federação, Porto Alegre, 14 mar. 1918, p. 6. 7 Fototeca Sioma Breitman/Museu Joaquim José Felizardo, Porto Alegre. 8 Leo Guerreiro; Pedro Flores. Fototeca Sioma Breitman/Museu Joaquim José Felizardo, Porto Alegre. P. 67 9 Museu CSHJC. Jornal Gazeta de Porto Alegre, Porto Alegre, 29 out. 1881, p. 3. P. 68 12 WENDROTH, Hermann Rudolf. 1852. Álbum de aquarelas. Porto Alegre: Riocell, 1982. Museu Joaquim José Felizardo, Porto Alegre. P. 69 13 Lélio Soares Araújo. P. 70 14 Casa de Cinema, Porto Alegre. 15 Coleção particular Joaquim da Fonseca. P. 71 16 Mercator, São Paulo. P. 72 17 Fabricio Barreto.
93 A Ponte do Guaíba
Os autores Authors Flávio Kiefer
Alice Dubina Trusz Doutoranda em História pela UFRGS. Desenvolve pesquisas acadêmicas e profissionais sobre a história de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul desde 1992. Possui artigos publicados em anais, livros e revistas como ArtCultura e História Hoje.
Ph.D student in History at the UFRGS. Has conducted academic and professional research work about the history of Porto Alegre and the State of Rio Grande do Sul since 1992. Has published articles in annals, books and reviews such as ArtCultura and História Hoje. Beatriz Blay Arquiteta com especialização em restauração de monumentos pela Universidade de Roma, tradutora de italiano de catálogos e livros de arte, pesquisadora e coordenadora de produção editorial e de eventos culturais. Criou o Arquitetour e é vice-presidente da Associação dos Amigos do Museu Judaico de São Paulo.
Architect specialized in monument restoration at the University of Rome, certified translator in Italian, researcher and editorial production coordinator and cultural event coordinator. Creator of Arquitetour and is vice-president of the Association of Friends of the São Paulo Jewish Museum. Eduardo Aigner Fotografou prédios, músicos, casas, gatos, panelas, pedras, livros, cadeiras, fábricas, amigos, folhas, personalidades, paisagens, brinquedos, tempestades, banheiras, atores, árvores, campos, cavalos, computadores etc. Estudou arquitetura, descobriu a fotografia e segue transitando em ambos os mundos.
Has photographed buildings, musicians, houses, cats, pots and pans, rocks, books, chairs, factories, friends, leaves, celebrities, landscapes, toys, storms, bathtubs, actors, trees, fields, horses, computers, etc. Studied architecture, discovered photography, carries on moving across both worlds.
Os autores
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Arquiteto, mestre e doutorando em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul; professor e pesquisador da Faculdade de Arquitetura da UniRitter; e sócio diretor da Kiefer Arquitetos. www.kiefer.com.
Architect, master and Ph.D student in architecture at the Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professor and researcher at the UniRitter Architectural School. Managing partner at Kiefer Arquitetos. www.kiefer.com. Jorge Furtado Diretor e roteirista dos longas “Houve uma Vez Dois Verões”, “O Homem que Copiava” e “Meu Tio Matou um Cara”, além de vários curtas premiados ao redor do mundo, como “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda”, “Barbosa”, “Ilha das Flores”, entre outros. Roteirista e diretor do episódio “Estrada”, do longa “Felicidade É...”. Para a TV Globo, dirigiu a série “Cena Aberta”, a minissérie “Luna Caliente” e escreveu dezenas de roteiros: “Memorial de Maria Moura”, “A Invenção do Brasil” etc., além da série “Comédias da Vida Privada”, da qual também dirigiu o episódio “Anchietanos”. Escreveu o romance “Trabalhos de Amor Perdidos”, publicado pela editora Objetiva em 2006. Seu mais recente longa é “Saneamento Básico, o Filme”.
Director and scriptwriter of the feature films: Houve uma vez dois verões, O homem que copiava and Meu tio matou um cara, plus a number of short subject prize-winning films in Brazil and abroad. For the TV Globo broadcasting corporation, he directed the series Cena Aberta, the mini-series Luna caliente and has written a number of scripts, such as Agosto, Memorial de Maria Moura, A invenção do Brasil, as well as the series Comédias da vida privada. Wrote the novel Trabalhos de amor perdidos, published by Objetiva, ed. in 2006. Luiz Antônio Bolcato Custódio Arquiteto do Iphan, mestre em Planejamento Urbano e Regional; especialista em Preservação de Monumentos e Sítios Históricos. Foi diretor regional e diretor do Departamento de Promoção do Iphan; representante do Ministério da Cul-
tura na Comissão do Patrimônio do Mercosul; presidente do Comitê Brasileiro do Icom. É professor da Faculdade de Arquitetura UniRitter.
Architect, master of Regional and Urban Planning – UFRGS; Expert in landmark preservation and historical sites; Regional Director of IPHAN – RS (1987-1996); National Director of the Promoting Department of IPHAN - BSB (1996-1998); Representative of the Ministry of Culture in the Mercosur Technical Committee for Heritage (19962002); President of the Brazilian Committee of the International Museum Counsel - ICOM (2000-2006). Head Professor of the school of Architecture at UNISINOS (1979-1984) and UNIRITTER (1986-). Rosélia Araújo Vianna Relações-públicas, mestra em Administração e Marketing Estratégico pela Universidade de Ciências Econômicas – UCES/ Argentina. MBA em Tecnologia da Informação pela ESPM. Mestranda em Comunicação Social pela PUC – RS. Sócia diretora da High Contact – Marketing de Relacionamento.
Public Relations, master of Management and Strategic Marketing at the Universidade de Ciências Econômicas – UCES/ Argentina. MBA in Information Technology at ESPM. Master student in Social Communication at PUCRS. Managing Partner at – Relationship Marketing. Rualdo Menegat Professor da UFRGS, geólogo, mestre em Geociências, doutor em Ecologia de Paisagem, editor da revista Episteme, assessor científico da National Geographic Brasil e coordenador geral do “Atlas Ambiental de Porto Alegre”. Recebeu a Medalha de Porto Alegre e a Máxima Distinción por la Investigación Calificada da Universidade Nacional Mayor de San Marcos, Peru.
Professor at UFRGS, geologist, Master of Geo sciences, Ph.D in Landscape Ecology, Editor of the Episteme review, scientific advisor to National Geographic Brazil and General Coordinator of the Porto Alegre Environmental Atlas. Was awarded the Medal of Porto Alegre and the Máxima Distinción por la Investigación Calificada from the Universidade Nacional Mayor de San Marcos, Peru.
Agradecimentos Acknowledgements A. Antje Ellendt Ana Cristina Solheid da Costa de Carvalho Ana Liseta Lorbieck Augusto Carlos de Vasconcelos Avelino Correa Bea Hoppe Claire Whittaker Clovis Barbedo Daniel Haller Denyse Emerich Flávia Matzenbacher Gercino Fernando de Carvalho
Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, da Biblioteca Pública Leopoldo Boeck Azevedo Bastian Castilhos S/C Construções, Porto Alegre Casa de Cinema de Porto Alegre DAER – Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem Docomomo – International working party for documentation and conservation of buildings, sites and neighbourhoods of the Modern Moviment
Gisela Waetge
Editores do “Atlas Ambiental de Porto Alegre”
Günther Schnell
Estúdio de Santiago Calatrava, Valência, Espanha
João Miguel Sequeira Bastian Lélio Soares Araújo Luiz Roberto Aguiar Manfred Schmid Maria Beatriz Carvalho Schnell Maria Rita Mancini Maysa Blay Rozman Paulo Sergio Del Negro
Fototeca Sioma Breitman, do Museu Joaquim José Felizardo Funcionários da Concepa Leonhardt, Andrä und Partner – LAP Beratende Ingenieure VBI, GmbH, Stuttgart
Ricardo Piovezan
Museo Nazionale della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci, Milão, Itália
Sandro Lima
Museu da Brigada Militar do Rio Grande do Sul
Sergio Fadel Siegfried Schnell Sílvia Ferreira Santos Wolff Wasyl Trusz
Setor de imprensa e fotografia do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa Wikipedia – The Free Encyclopedia
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Edição Publisher
Ficha catalográfica CIP Catalogue Record
Marcos Carrilho Arquitetos Ltda.
Maria Rita Mancini
Coordenação editorial Editorial Coordination Maria Cristina Wolff de Carvalho
Versão para o inglês English Version Franziska Becskehazy
Editoria Editors Beatriz Blay e Maria Cristina Wolff de Carvalho
Fotografia Photography Eduardo Aigner
Apresentação Presentation Jorge Furtado
Ensaios Texts
Projeto gráfico Project and Graphic Design Renata Reis
Alice Dubina Trusz e Rosélia Araújo Vianna
Ilustração Art Assistant to maps
Beatriz Blay
Maíra Roman
Flávio Kiefer Luiz Antônio Bolcato Custódio
Tratamento da imagem Inglês
Rualdo Menegat
Pesquisa Research
Impressão Inglês
Alice Dubina Trusz Beatriz Blay Eduardo Aigner Flávio Kiefer Luiz Antônio Bolcato Custódio Maria Cristina Wolff de Carvalho Rosélia Araújo Vianna Rualdo Menegat
Revisão Proof Reading Ismar Leal
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Divulgação Marketing Advice High Contact – Marketing de Relacionamento MidiaMix