Psicopedagogia e Literatura
Roda de Leitura Reflexiva
Turma nº 24 de
Psicopedagogia e Literatura da Faculdade Saberes. Orientação e compilação Prof.ª Dra. Renata Bomfim
Roda de Leitura Reflexiva
“Se as palavras não são precisas, o que se diz não é o que se tenta dizer. Se o que se diz, não é o que se tenta dizer, não florescem as obras. Se as obras não florescem, os costumes e as artes decaem. Se as artes e os costumes decaem, a justiça não reconhece o que é justo. Se a justiça não reconhece o que é justo, o povo não encontra apoio. Portanto, é necessário que as palavras sejam precisas.” Confúcio
A Roda de Leitura Reflexiva é uma ação educativa que utiliza textos literários variados para o desenvolvimento de trabalhos nos campos educacional e psicossocial. A conversa permeia a nossa vida social, ela é uma prática discursiva importante: é linguagem. Entretanto, a conversa deve ceder lugar ao diálogo, pois esse alia, irremediavelmente, as práticas do falar e do escutar, bem como, predispõe certa permeabilidade entre os interlocutores. É através da linguagem que o ser humano distingue, qualifica e nomeia e elevando-as ao nível do espírito. A literatura é a linguagem carregada de significado, ato criador que utiliza a palavra como forma de expressão e desempenha um papel de formação intelectual e sensível da pessoa. A literatura não tem a função reducionista de educar, ela é uma arte. Entretanto, os textos literários influenciam fortemente em todos os aspectos da educação humana, especialmente em três áreas vitais: atividade, inteligência e afetividade. A literatura educa a sensibilidade reunindo a beleza das palavras e das imagens que elas evocam. É no contexto terapêutico da dialogia que se insere a Roda de Leitura Reflexiva. Nela, variados textos, entre eles clássicos que são tesouros de diferentes tradições e culturas contribuem para o desenvolvimento da competência comunicativa tanto na educação formal, quanto na educação
informal. Essa atividade funciona como fortalecedora de um importante fator de proteção para as pessoas: a convivência, ou seja, é um trabalho que fomenta e fortalece as relações interpessoais. Encontram-se aqui textos escolhidos pelos alunos da turma de Psicopedagogia e Literatura da Faculdade Saberes. Não há unidade na apresentação dos textos, pois, a construção da Roda de Leitura reflexiva é criação individual, cada um a realizará da forma que desejar e de acordo com uma proposta pedagógica pessoal. Esses textos são uma mostra da riqueza do trabalho com a literatura nos campos educacional e terapêutico (escola ou em ONGs, OSCIPs, associações, comunidades, hospitais e centros de assistência psicossocial, etc). Trabalhar com narrativas como forma de cuidado do ser, ou seja, com cunho terapêutico, pressupõe a possibilidade de fazer valer a dimensão da autoria e da autonomia. A narrativa é um caminho para o conhecimento de si e do mundo, tendo como mediadora privilegiada a cultura. Um texto é capaz de abarcar múltiplas vozes, tornando-se assim uma estratégia de combate aos discursos autoritários e sectários. A vinculação das práticas de leitura objetiva a sensibilização do olhar para a diversidade/multiplicidade existente no mundo, propiciando o exercício da cidadania e da solidariedade.
A Roda de leitura Reflexiva abarca atividades como:
A leitura de variados textos, A reflexão crítica; A leitura de imagens e sons; A narrativa e a construção de histórias; A estruturação de bibliotecas nas comunidades A realização de atividades como sarais.
A ―Roda‖, essa atividade lúdica, abarca também, variadas possibilidades de inserção da pessoa, independente da escolaridade, nível social, credo, ideologia, nacionalidade, orientação sexual, défice cognitivo, etc., ela: Abre espaço para a fala espontânea, Ajuda a desenvolver a escuta reflexiva e o senso crítico; Privilegia o uso da imaginação como forma de criação; Potencializa o desenvolvimento de habilidades cognitivas essenciais para o aprendizado como a memória, atenção, o pensamento, a percepção, e a imaginação; Facilita a transmissão da cultura; Desperta a curiosidade, a interatividade e a cooperação. Favorece o gosto pela leitura e pela escrita de histórias (inclusive da própria história), Promove a participação ativa e reflexiva do indivíduo no grupo.
ENTRE OUTROS OBJETIVOS, A RODA DE LEITURA REFLEXIVA PROPÕE REALIZAR INTERVENÇÕES LITERÁRIAS COMO OS VARAIS DE POESIA, A REALIZAÇÃO DE RECITAIS POÉTICOS, ETC. A ESSAS ATIVIDADES ARTÍSTICAS SE ASSOCIARÃO OUTRAS COMO O TEATRO, O DESENHO/PINTURA, A MÚSICA, ETC. É fundamental que os textos da Roda de leitura Reflexiva (livros, histórias, poesias, contos, etc.) transmitam aos participantes um sentimento de respeito e dignidade pela pessoa de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, e para além, o respeito se estenda para todas as formas de vida, fortalecendo valores como a justiça, a paz, a solidariedade, a igualdades. Materiais como fotografias, revistas, jornais, entre outras, podem ser utilizados nas ―Rodas‖, e explorados nos variados gêneros literários: poesia, conto, romance, novela e crônica. Ressaltamos, também, que a Roda de leitura reflexiva deve acontecer em clima de amizade e respeito e que a fala do participante é opcional. Prof.ª Dra. Renata Bomfim
Roda de Leitura Reflexiva
1 O DIREITO DAS CRIANÇAS
O DIREITO DAS CRIANÇAS
Toda criança no mundo Deve ser bem protegida Contra os rigores do tempo Contra os rigores da vida. Criança tem que ter nome Criança tem que ter lar Ter saúde e não ter fome Ter segurança e estudar. Não é questão de querer Nem questão de concordar Os diretos das crianças Todos tem de respeitar. Tem direito à atenção Direito de não ter medos Direito a livros e a pão Direito de ter brinquedos. Mas criança também tem O direito de sorrir. Correr na beira do mar, Ter lápis de colorir... Ver uma estrela cadente, Filme que tenha robô, Ganhar um lindo presente, Ouvir histórias do avô. Descer do escorregador,
Fazer bolha de sabão, Sorvete, se faz calor, Brincar de adivinhação. Morango com chantilly, Ver mágico de cartola, O canto do bem-te-vi, Bola, bola, bola, bola! Lamber fundo da panela Ser tratada com afeição Ser alegre e tagarela Poder também dizer não! Carrinho, jogos, bonecas, Montar um jogo de armar, Amarelinha, petecas, E uma corda de pular.
Ruth Rocha (Poema para ser trabalhado com turmas do 2º ano do Ensino Fundamental I)
Ruth Rocha é escritora brasileira, especializada em livros infantis. Foi eleita para a cadeira nº 38 da Academia Paulista de Letras. Seu livro "Marcelo, Marmelo, Martelo", vendeu mais de 1 milhão de cópias. Ruth Rocha (1931) nasceu em São Paulo, no dia 2 de março de 1931. Tem formação em sociologia e atuou na área de educação. Escreveu para a Revista Cláudia, voltada para o público feminino. Escreveu também para a revista Educação. Influenciada pelo escritor Monteiro Lobato, iniciou a carreira de escritora em 1976, com o livro, "Palavras Muitas Palavras". Porém, sua obra mais famosa é "Marcelo, Marmelo, Martelo", com tradução para diversas línguas. Mas sua escrita é rica também em conteúdos sociais, como por exemplo, o livro "Uma História de Rabos Presos", lançado no Congresso Nacional brasileiro, em 1989. Em 1990, lançou na sede das Organizações das Nações Unidas o livro "Declaração Universal dos Direitos Humanos Para Crianças". Foi condecorada em 1998, pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso, com a Comenda da Ordem do Ministério da Cultura. Ganhou quatro prêmios Jabuti, considerado de grande valor para quem atua no ramo literário no Brasil, com destaque para o livro "Escrever e Criar", lançado em 2002. Ruth Rocha foi escolhida para fazer parte do Pen Club-Associação Mundial dos escritores, localizada no Rio de Janeiro.
Atividade proposta: Em uma roda conversar com os alunos sobre os direitos das crianças e trabalhar algumas questões do tipo: será que os direitos das crianças são respeitados? O que as crianças precisam para serem realmente felizes? O texto da Ruth Rocha é um convite para essa reflexão, antes de começar a ler convidar as crianças a fazer em seus cadernos uma lista do que eles acreditam como direitos das crianças. É bom explicar que esses direitos estão devidamente registrados em um documento chamado Declaração Universal dos Direitos da Criança, e que foi reconhecido numa Assembleia Geral da ONU, em 1959, claro que não em forma de poesia.
Roda de Leitura Reflexiva
2 Casa linda
Casa Linda Se eu pudesse compraria Transformaria na Casa Linda Casa de arte e poesia Música e violão todos os dias Canto e aula de reforço Autoestima e bom gosto Artesanato e pintura Aulas de corte e costura. Voluntariado e Vida Na Casa Linda! (Eliane Queiroz Auer)
Nascida em São Mateus, no dia 26 de outubro de 1965. Ocupa a cadeira Nº 5 da Academia Mateense de Letras – AMALETRAS, cujo patrono é Mesquita Neto. É uma mateense sincera, amiga e muito solidária. Está sempre pronta a levar a arte e a poesia e para isto não mede esforços para que os eventos aconteçam. No âmbito estadual é Acadêmica Correspondente da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, e em 8 de novembro de 2012 recebeu o título de Cidadã Literária Mateense no Encontro de Arte em Comunicação. Coordenou o Projeto Nacional 2012, UM POEMA EM CADA ÁRVORE... São muitas e lindas as homenagens que esta poetiza mateense tem recebido.
Este poema me expõe ao mundo, porque diz de um projeto que tenho em meu coração e um dia quero ver realidade. Nasci no Sítio Histórico Porto de São Mateus, e recebi de herança de meus pais, o lote onde existia a casa aonde vim à luz... Faz parte de meu projeto de vida, reconstruir o casarão e lá abrigar os meus amigos e amigas de vida mais difícil que a minha, dando-lhe condição de expor-se em arte e criação...
Ou isto ou aquilo Cecília Meireles Ou se tem chuva e não se tem sol, ou se tem sol e não se tem chuva! Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel e não se calça a luva! Quem sobe nos ares não fica no chão, quem fica no chão não sobe nos ares. É uma grande pena que não se possa estar ao mesmo tempo nos dois lugares! Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, ou compro o doce e gasto o dinheiro. Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo... e vivo escolhendo o dia inteiro! Não sei se brinco, não sei se estudo, se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Ou isto ou aquilo é um poema da escritora Cecília Meireles publicado no ano de 1964, ano de sua morte.
BIOGRAFIA: Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, em 7 de novembro de 1901 (falecimento em 1964), filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles, um funcionário de banco, e Matilde Benevides Meireles, uma professora.
Cecília Meireles foi filha órfã criada por sua avó. Aos nove anos, ela começou a escrever poesia. Frequentou a Escola Normal no Rio de Janeiro, entre os anos de 1913 e 1916 estudou línguas, literatura, música, folclore e outros. Em 1919, aos dezoito anos de idade, Cecília Meireles publicou seu primeiro livro de poesias, Espectros, um conjunto de sonetos simbolistas. Embora vivesse sob a influência do Modernismo, apresentava ainda, em sua obra, heranças do Simbolismo e técnicas do Romantismo entre outros. No ano de 1922 casou com o artista plástico português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas. Seu marido, que sofria de depressão aguda, suicidou-se em 1935. Voltou a se casar, no ano de 1940, quando se uniu ao
professor e engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo, falecido em 1972. Dentre as três filhas que teve, a mais conhecida é Maria Fernanda que se tornou atriz. Observa-se ainda seu amplo reconhecimento na poesia infantil com textos como Leilão de Jardim, O Cavalinho Branco, Colar de Carolina, O
mosquito escreve, Sonhos da menina, O menino azul e A pombinha da mata, entre outros. Com eles traz para a poesia infantil a musicalidade característica de sua poesia. Em 1923,
publicou Nunca
em 1925, Baladas
Para
Mais… e Poema
El-Rei.
Após
longo
dos
Poemas,
período,
e,
em 1939,
publicou Viagem, livro com o qual ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras. Católica, escreveu textos em homenagem a santos, como Pequeno Oratório de Santa Clara, de 1955; O Romance de
Santa Cecília e outros. Em 1951 viajou pela Europa, Índia e Goa, e visitou pela primeira e única vez os Açores, onde na ilha de São Miguel contatou o poeta Armando César Côrtes-Rodrigues, amigo e correspondente desde a década de 1940
Atividade proposta: Proposta de atividade 1: Fazendo meu livro falado. A ideia de atividade não seria trabalhar apenas com este poema, mas pegar suas maiores obras e gravar na voz dos alunos. O professor apresentaria outros poemas e os alunos poderiam escolher qual gostaria de ler, e o professor então, gravaria seus alunos. Ao final, um CD seria feito e distribuído para cada aluno.
Proposta de atividade 2: Desenhando o poema Após o término da leitura com as crianças, os alunos irão desenhar o que imaginaram enquanto ouviam o poema. Eles irão expressar cada estrofe através de desenho.
MINHA HISTÓRIA FAVORITA Adaptação de I Samuel 1 a 2. 1-2 Bíblia Sagrada ANA QUERIA SER MÃE... NÃO LHE BASTAVA VIVER DE AMOR!
Ana, nomezinho tão comum, mas que me encanta desde a infância. É uma personagem bíblica cuja história de amor e fé vale a pena ser conhecida. Vivia Ana com seu apaixonado marido, amante carinhoso, numa cidadezinha próxima aos montes de Efraim. Ele se chamava Elcana. Ela o amava muito, e por amá-lo tanto assim, queria dar-lhe filhos, que fossem fruto do seu ventre e do seu perfeito amor... Não bastasse a humilhação de não ter filhos, coisa horrível para aquela época, Elcana ainda tinha outra mulher chamada Penina, boa parideira que só. Por ser tremendamente fértil, vivia atormentando a pobre Ana, que chorava pelos cantos da propriedade, jogando-lhe sempre em rosto a sua maior importância diante do seu marido: era mãe de muitos filhos e filhas... Outra coisa ainda deixava Ana completamente desorientada. Era quando iam ao templo de Siló para adorar e levar ao Senhor as ofertas da colheita. Isto acontecia todos os anos. Ana apesar de receber porção dupla, modo pelo qual seu marido a compensava pelo fato de não ter filhos, sofria por ver Penina, que além de receber muitas porções, via com gosto as ofertas que eram distribuídas entre os seus filhos e filhas. Depois que voltava da cidade de Siló, a pobre mulher chorava mais ainda, pois que desejava tanto um filho, e não via sua resposta à sua oração. Nestes momentos vinha seu marido Elcana que, amorosamente buscava consolá-la com uma de suas frases feitas para estas ocasiões:
―— Ana, por que você está chorando? Por que não come? Por que está triste? Será que eu não sou melhor para você do que dez filhos?‖
Se fosse hoje, ele acrescentaria, ―você pode me acompanhar para o lugar
que eu precisar ir, enquanto Penina terá que ficar com as crianças. Pode comprar coisas novas e ver lugares encantadores em minha companhia...‖ Isto, entretanto, não animava a infeliz mulher... Passou mais um ano, e num dia em que estavam todos adorando em Siló, Eli, o Sacerdote do templo, percebendo aquela mulher prostrada ao chão, chorando e orando amarguradamente ao Senhor, enquanto os outros após fazer as suas ofertas, já se esbaldavam nos banquetes, tomou-a por embriagada. Chamou-lhe a atenção o modo como balbuciava as palavras. Entretanto, Ana chorava em seu coração assim:
―— Ó Senhor dos Exércitos, se tu deres atenção à humilhação de tua serva, te lembrares de mim e não te esqueceres de tua serva, mas me deres um filho, então o dedicarei ao Senhor por todos os dias de sua vida, e o seu cabelo e a sua barba nunca serão cortados.‖ Eli continuando a observar aquela cena, disse-lhe:
―— Até quando você continuará embriagada? Abandone o vinho!‖ Ana humildemente explicou-lhe que não estava embriagada, mas que orava ardentemente a Deus, para que concebesse um filho. Eli disse-lhe que acalmasse o seu coração e concedendo-lhe a bênção, acendeu no peito de Ana a esperança de ter suas orações respondidas. Ana desta vez retorna à sua casa com o coração em festa. Enfeita-se para o seu marido e tem com ele uma linda noite de amor, animada pela esperança de conceber. E concebeu... Chamou-o de Samuel, que significa: ―Eu o pedi
ao Senhor.‖
Criou o seu bebê com alegria, amamentando-o e vendo-o crescer em sabedoria e graça tanto para com Deus e os homens. Interiormente se preparava para o dia em que iria consagrá-lo ao Senhor em Siló. Passaram-se doze longos anos se contados com o tempo Cronos, mas para Ana que vivia no tempo Kairós, tudo passou muito rápido. Ana cuidou das roupas de Samuel, tomando cuidado para que nada lhe faltasse, pois só iria vê-lo de ano em ano... Depois que o entregou ao Sacerdote Eli, ela cantou diante do altar e daquele que testemunhava ano a ano o seu lamento, um cântico que mais tarde, séculos depois, seria cantado por Maria, a mãe do Salvador Jesus, que traduzido diz mais ou menos assim: ―A minh’alma engrandece ao Senhor, ao Senhor! Meu espírito se alegra, em meu Deus, meu Salvador. Porque me deu grandes coisas, poderoso é teu nome. E a tua fidelidade, de geração em geração...‖ Depositou o seu filho no altar, como expressão de dedicação total, e retornou à sua casa embalada pelos braços fortes do seu amado Elcana. No seu coração? Levava a fé e a certeza de que Deus a encheria de frutos de amor... E ela não chorou mais... Guardou a coragem de desapegar-se que é a melhor demonstração de amor... Naquele dia se assemelhou ao eternamente apaixonado Deus, que revelou pela cruz, lá no Calvário, o seu grande e eterno AMOR...
Roda de Leitura Reflexiva
3 Autopsicografia
Sobre o poema O poema que vamos ler insere-se na temática do fingimento poético, onde o poeta aprende a não sentir, sobrepondo o conhecimento racional (pensar) ao afetivo (sentir). Fernando Pessoa parte da afirmação "o poeta é um fingidor" identificando "poeta" e "fingidor", para mostrar que os poetas transferem emoções reais, que eles próprios viveram, para emoções fingidas e pensadas por eles, ou seja, o ato de criar poesia parte da esfera das emoções reais, para as emoções fingidas. Este fingimento faz com que o poeta tenha que "fingir" emoções que verdadeiramente "sente", resultando assim a poesia, do fingimento da dor e não do que eles verdadeiramente vivem. A criação poética não diz respeito apenas ao poeta mas também aos leitores ("os que leem o que escreve"), uma vez que estes, sentem na "dor lida" (poema), uma outra dor, a que eles próprios criam e sentem ao ler o poema. No final, o sujeito poético utiliza as "calhas de roda" e o "comboio de corda", para estabelecer uma relação entre o coração e a razão, ou seja, entre o sentir e o pensar.
Sobre o autor
Fernando Antônio Nogueira Pessoa foi um dos mais importantes escritores e poetas do modernismo em Portugal. Nasceu em 13 de junho de 1888 na cidade de Lisboa (Portugal) e morreu, na mesma cidade, em 30 de novembro de 1935. Fernando Pessoa foi morar, ainda na infância, na cidade de Durban (África do Sul), onde seu pai tornou-se cônsul. Neste país teve contato com a língua e literatura inglesa.
Adulto, Fernando Pessoa trabalhou como tradutor técnico, publicando seus primeiro poemas em inglês. Em 1905, retornou sozinho para Lisboa e, no ano seguinte, matriculou-se no Curso Superior de Letras. Porém, abandou o curso um ano depois. Pessoa passou a ter contato mais efetivo com a literatura portuguesa, principalmente Padre Antônio Vieira e Cesário Verde. Foi também influenciado pelos estudos filosóficos de Nietzsche e Schopenhauer. Recebeu também influências do simbolismo francês. Em 1912, começou suas atividades como ensaísta e crítico literário, na revista Águia. A saúde do poeta português começou a apresentar complicações em 1935. Neste ano, foi hospitalizado com cólica hepática, provavelmente causada pelo consumo excessivo de bebida alcoólica. Sua morte prematura, aos 47 anos, provavelmente aconteceu em função destes problemas, pois apresentou cirrose hepática.
Autopsicografia O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração. (Fernando Pessoa)
Atividade proposta 01: 1. Você já tentou se passar por uma pessoa que não é? 2. Sabendo que ―auto‖ significa ―sobre si mesmo, por si mesmo‖ e ―psicografia‖ significa ―descrição sobre os fatos da mente‖, reflita e comente o título do poema. 3. Se você fosse fazer uma autopsicografia o que escreveria¿ o que se passa em sua mente? 4. A partir da leitura deste poema, podemos afirmar que ―a poesia é ficção‖. Explique essa afirmação.
Atividade proposta 02: Oficina (Confeccionar uma máscara)
Proposta de atividade de produção de uma máscara. Pegar os materiais adequados e distribuir pra todos. Você vai pegar os materiais necessários e produzir uma máscara do seu personagem preferido. Irá se passar por ele, falar o que ele fala, fazer o que ele faz. Logo em seguida, falar sua experiência de fingir ser esse personagem.
Roda de Leitura Reflexiva
4 A flor e a fonte
A FLOR E A FONTE (Vicente de Carvalho) "Deixa-me, fonte!" Dizia A flor, tonta de terror. E a fonte, sonora e fria, Cantava, levando a flor. "Deixa-me, deixa-me, fonte! " Dizia a flor a chorar: "Eu fui nascida no monte... "Não me leves para o mar". E a fonte, rápida e fria, Com um sussurro zombador, Por sobre a areia corria, Corria levando a flor. "Ai, balanços do meu galho, "Balanços do berço meu; "Ai, claras gotas de orvalho "Caídas do azul do céu!... Chorava a flor, e gemia, Branca, branca de terror, E a fonte, sonora e fria Rolava levando a flor. "Adeus, sombra das ramadas, "Cantigas do rouxinol; "Ai, festa das madrugadas, "Doçuras do pôr do sol; "Carícia das brisas leves "Que abrem rasgões de luar... "Fonte, fonte, não me leves,
"Não me leves para o mar!... " As correntezas da vida E os restos do meu amor Resvalam numa descida Como a da fonte e da flor...
VICENTE DE CARVALHO (1866-1924) Nasceu em Santos, estado de São Paulo, Brasil e publicou seu primeiro livro de poesias,Ardentias, em 1885. Formou-se bacharel na Faculdade de Direito de São Paulo SP. participou na Boemia Abolicionista, encaminhando escravos fugitivos para o Quilombo Jabaquara. Candidatouse a deputado provincial no Congresso Republicano, em 1887, em São Paulo. Foi redator do Diário de Santos, e fundou o Diário da Manhã em Santos. Tornou-se Deputado no Congresso Constituinte do Estado em 1891, participando então na Comissão Redatora da Constituinte. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1909. No período de 1914 a 1920 foi Ministro do Tribunal de Justiça do Estado, em Santos. Em 1924 publicou Luizinha, comédia em dois atos. poética: Ardentias (1885), Relicário (1888), Rosa, Rosa de Amor (1902), Poemas e Canções (1908), Verso e Prosa (1909), Páginas Obra
Soltas (1911) e Versos da Mocidade (1912). É considerado um dos principais nomes da poesia parnasiana brasileira.
Sugestão de Atividades: 1- Uma pessoa, que pode ser o coordenador da Roda de Leitura, ou não, lerá o poema de maneira interpretativa. 2- Pedir que uma pessoa leia as informações sobre o poeta e o relate com suas palavras para o grupo todo. Aquele que quiser pode e deve ir contribuindo com alguma outra informação. 3- Uma segunda leitura deverá ser feita em coro falado, também de forma interpretativa. 4- Deixar que compartilhem os sentimentos que o poema faz aflorar em cada um a partir da leitura. 5- Após a leitura, aquele que quiser poderá levantar uma questão a partir de um trecho do poema. 6- Agrupar as questões por tema central e após isto abrir para o debate sobre os temas que o grupo escolher para a roda de leitura reflexiva. 7- Distribuir tinta e pincéis para que cada participante se utilize das mesmas para traçar o caminho da flor até o mar usando linhas retas ou curvas com tons diferentes, usando uma faixa de papel crafit. 8- Expor o trabalho à frente e deixar que todos o observem em silêncio. 9- Abrir espaço para que avaliem o momento e a experiência vivida.
Roda de Leitura Reflexiva
5 As peneiras da sabedoria
Publico alvo: Corpo docente de uma instituição de educação Sócrates: Nasceu aproximadamente nos anos 470 ou 469 AC foi o pioneiro da atualmente conhecida filosofia ocidental. Durante a vida seguiu os caminhos do pai e se tornou escultor até se encontrar e dedicar aos caminhos filosóficos. Até hoje é símbolo da integridade moral e sabedoria, pois sempre agiu com ética e responsabilidade.
Palavras que são. Poderia a palavra curar ou matar? Se por meio dela sou alavancado a buscar novos horizontes. Também por meio dela conheço a escuridão oculta em minha alma. Se são elas que me trazem as cores dos dias mais ensolarados. Assim também elas me trazem as sombras das noites mais tortuosas. Por meio delas posso ser aquilo que sempre quis. Enquanto observado das janelas dos ouvintes. Mas também posso me tornar o monstro temido e perseguido por todos. Mas aqueles ouvidos não me assistiriam mais. E as janelas estariam fechadas. Tenho eu noção do poder daquilo que é pronunciado de meus lábios? Ou atiro insanamente para todos os lados sem me preocupar a quem estou ferindo. Até que eu seja capaz de ouvir a melodia da sensatez. E me silenciar na infelicidade de não querer reconhecer minhas ofensas. Poderei eu repara-las? Ou suas laminas já consumaram a carne e dilaceraram os ossos? Para quem assim o fez resta apenas uma palavra. Perdão. Arthur Luiz Ardisson Amaral
As Peneiras De Hiram 1) Meia-noite em ponto! Mais uma jornada na construção do Templo terminara. Cansado por mais um dia, Mestre Hiram recostou-se sob o frescor do Ébano para o tão merecido descanso. Eis que, subindo em sua direção, aproxima-se seu Mestre Construtor predileto, que lhe diz: 2) – Mestre Hiram... Vou lhe contar o que disseram do segundo Mestre Construtor... Hiram com sua infinita sabedoria responde: – Calma, meu Mestre predileto; antes de me contares algo que possa ter relevância, já fizeste passar a informação pelas ―Três Peneiras da Sabedoria?‖. – Peneiras da Sabedoria? Não me foram mostradas, respondeu o predileto! 3) – Sim... Meu Mestre! Só não te ensinei, porque não era chegado o momento; porém, escuta-me com atenção: tudo quanto te disserem de outrem, passe antes pelas peneiras da sabedoria e na primeira, que é a da VERDADE, eu te pergunto: tens certeza de que o que te contaram é realmente a verdade? Meio sem jeito, o Mestre respondeu: 4) – Bom, não tenho certeza realmente, só sei que me contaram... Hiram continua: – Então, se não tens certeza, a informação vazou pelos furos da primeira peneira e repousa na segunda, que é a peneira da BONDADE. E eu te pergunto: é alguma coisa que gostarias que dissessem de ti?
– De maneira alguma Mestre Hiram... Claro que não! 5) – Então a tua estória acaba de passar pelos furos da segunda peneira e caiu nas cruzetas da terceira e última; e te faço a derradeira pergunta: achas mesmo necessário passar adiante essa estória sobre teu Irmão e Companheiro? 6) – Realmente Mestre Hiram, pensando com a luz da razão, não há necessidade... – Então ela acaba de vazar os furos da terceira peneira, perdendo-se na imensa terra. Não sobrou nada para contar. – Entendi poderoso Mestre Hiram. Doravante somente boas palavras terão caminho em minha boca. 7) – És agora um Mestre completo. Volta a teu povo e constrói teus Templos, pois terminaste teu aprendizado. Porém, lembra-te sempre: as abelhas, construtoras do Grande Arquiteto do Universo, nas imundícies dos charcos, buscam apenas flores para suas laboriosas obras, enquanto as nojentas moscas buscam em corpos sadios as Chagas e feridas para se manterem vivas.
Atividades: 1) Reunidos em círculo, aquele que desejar pode compartilhar alguma experiência em que foi injustiçado por boatos que foram ditos a seu respeito como se sentiu? Buscou tirar satisfação? Como foi? 2) Ainda em circulo vedar os olhos daqueles que desejarem participar e coloca-los em pares, para que desabafem a respeito de vezes que
falaram uns contra os outros ou ate mesmo contra outras pessoas de fora do grupo neste momento eles também podem pedir desculpas caso achem necessário. 3) Ao final os participantes são convidados a destacar boas características que observam em seus colegas.
Roda de leitura reflexiva Essa roda reflexiva de leitura é direcionada a professores e/ou profissionais que atuam com crianças com necessidades educativas especiais. Tem como objetivo permitir aos participantes uma ―viagem‖ para conhecer novos olhares, discutir dificuldades e refletir sobre novas possibilidades de atuação.
Roda de Leitura Reflexiva
6 Bem-vindo a Holanda Emily Perl Kingsley
Bem-vindo (Emily Perl Kingsley) Frequentemente sou solicitada a descrever a experiência de criar um filho portador de deficiência, para tentar ajudar as pessoas que nunca compartilharam dessa experiência única a entender, a imaginar como deve ser. É mais ou menos assim... Quando você vai ter um bebê, é como planejar uma fabulosa viagem de férias para a Itália. Você compra uma penca de guias de viagem e faz planos maravilhosos. O Coliseu. Davi, de Michelangelo. As gôndolas de Veneza. Você pode aprender algumas frases convenientes em italiano. É tudo muito empolgante. Após meses de ansiosa expectativa, finalmente chega o dia. Você arruma suas malas e vai embora. Várias horas depois, o avião aterrissa. A comissária de bordo chega e diz: "Bem-vindos à Holanda". "Holanda?!? Você diz: - Como assim, Holanda? Eu escolhi a Itália. Toda a minha vida eu tenho sonhado em ir para a Itália. Mas houve uma mudança no plano de voo. Eles aterrissaram na Holanda e é lá que você deve ficar. O mais importante é que eles não te levaram para
um lugar horrível, repulsivo, imundo, cheio de pestilências, inanição e doenças. É apenas um lugar diferente. Então você deve sair e comprar novos guias de viagem. E você deve aprender todo um novo idioma. E você vai conhecer todo um novo grupo de pessoas que você nunca teria conhecido. É apenas um lugar diferente. Tem um ritmo mais lento do que a Itália, é menos vistoso que a Itália. Mas depois de você estar lá por um tempo e respirar fundo, você olha ao redor e começa a perceber que a Holanda tem moinhos de vento, a Holanda tem tulipas, a Holanda tem até Rembrandts. Mas todo mundo que você conhece está ocupado indo e voltando da Itália, e todos se gabam de quão maravilhosos foram os momentos que eles tiveram lá. E toda sua vida você vai dizer: - Sim, era para onde eu deveria ter ido. É o que eu tinha planejado. E a dor que isso causa não irá embora nunca, jamais, porque a perda desse sonho é uma perda extremamente significativa. No entanto, se você passar sua vida de luto pelo fato de não ter chegado à Itália, você nunca estará livre para aproveitar as coisas muito especiais e absolutamente fascinantes da Holanda.
Emily Perl Kingsley é escritora. Em 1974 deu a luz a Jason Kingsley, portador da Síndrome de Down. Suas experiências com Jason a inspirou a produzir sobre o tema, inclusive para televisão e cinema. Bem vindo à Holanda foi escrito em 1987. Proposta: 1- Valos falar sobre a reflexão que o texto proporcionou. 2- Quais as reflexões que ele nos traz? 3- O texto é similar a algo que já vivenciou na vida? 4- Como podemos aplica-lo em nosso dia a dia? Vamos refletir juntos? Bem-vindo à Holanda nos traz uma história real na qual podemos analisar a idealização automática que fazemos sobre os aspectos diários da vida e sobre como é difícil descontruir algo que já idealizamos. No caso do texto trata-se da idealização de uma mãe para um filho. Será que na escola essa idealização também não acontece de professor para aluno? Podemos utilizar essa história pensando nos nossos alunos e nas dificuldades que nos deparamos com eles em sala de aula. As diversidades são muitas e as formas de aprender também. Descontruir a imagem do aluno ideal e conhecer as habilidades das crianças facilita lidar com novos desafios.
1- Vamos pegar um papel e uma caneta. Comece a desenhar uma criatura com as seguintes características: corpo redondo, cabeça em formato triangular, orelhas pontudas e grandes, nariz de porco, boca sorrindo, olhos brilhantes, pernas e braços com garras e por fim, um rabo de leão. 2- Após termino do desenho vamos comparar todos os desenhos do grupo. 3- Comparados?
Uma
perguntinha
para
o
grupo:
se
os
direcionamentos para desenhar eram os mesmos por que os desenhos saíram tão diferentes? 4- Agora é a hora da reflexão. Todos temos os mesmos pensamentos, ideias, opiniões e a mesma visão de mundo? Será que o aluno está em sala de aula apenas para aprender ou também para nos ensinar algo?
Como
lidar/trabalhar
com
a
diferença?
Como
descobrir/aproveitar as habilidades? Refletir sobre as diferenças e como podemos respeitá-las.
Atividade: Roda de Leitura Reflexiva Grupo: Turma de professores O texto proposto é uma poesia de Clarice Pacheco e foi extraída do Caderno de Poesias, Ed. AGE, 2003. O texto fala sobre o papel do professor. Vamos refletir sobre o papel de cada um de nós? Clarice Pacheco nasceu em Porto Alegre, no dia 17 de fevereiro de 1989. Começou a ler muito cedo e logo se tornou uma leitora voraz. A leitura foi sua grande paixão. Clarice era muito pequena quando começou a criar histórias. As primeiras tinham apenas desenhos. Aos poucos foi acrescentando diálogos curtos e textos reduzidos até escrever narrativas completas. Escreveu poesias, histórias infantis ilustradas por ela mesma, narrativas curtas. Aos treze anos Clarice não resistiu a uma miocardiopatia e partiu. Apesar da pouca idade deixou uma produção literária considerável. Após sua ausência, a família organizou seus escritos em cinco obras póstumas.
Os professores da minha escola A professora de Matemática, com suas contas complicadas, falando em equações, no Teorema de Pitágoras. A professora de Português, com seu modo indicativo, falando em advérbios, interjeições, substantivos. A professora de Geografia, com seus complexos regionais, falando em sítios urbanos, em pontos cardeais. A professora de Ciências, com seus ensinamentos ecológicos, falando em evolução, em estudos biológicos. A professora de História, com seus povos bizantinos, falando na Idade Média, no Imperador Constantino. A professora de Inglês, com seus don't, do e does, falando em personal pronouns, na diferença entre go e goes. A professora de Artes, com suas obras e seus artistas, falando em artes ópticas,
em pintores surrealistas. O professor de Educação Física, com suas regras de voleibol, falando sobre basquete, em times de futebol. Os professores da minha escola, com suas matérias que às vezes não entendemos, falando em todas as coisas, que aos poucos vamos aprendendo. Clarice Pacheco Discussão: 1. Comentem o que chamou atenção no texto? O que fez refletir sobre a prática de vocês? 2. Em duplas escrevam o que gostariam de ensinar para seus alunos e o que acham que ensinam. 3. Apresentar ao grupo e discutir como podemos nos aproximar do que gostaríamos de ensinar? De que forma podemos fazer?
Para finalizar, trago esse poema de Rubem Alves, considerado um dos maiores pedagogos brasileiros, psicanalista, educador e escritor brasileiro. Devemos refletir sobre quais experiências devemos proporcionar para nossos alunos e como proporcionar.
Será que estou proporcionando experiências gratificantes para meus alunos? "Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes".
Rubem Alves
Roda de Leitura Reflexiva
7 Empurre a vaquinha!
Um Mestre da sabedoria passeava poruma floresta, com seu Jovem di scípulo, quandoavistou
ao longe um sítio de aparência pobre,
e
resolveu fazer uma breve visita. Durante o percurso ele falou ao aprendiz sobre a importância das visitas e as oportunidades de aprendizado que temos, também com as pessoas que mal conhecemos. Chegando ao sítio constatou a pobreza do lugar, sem acabamento, casa de madeira e os moradores, um casal e três filhos, vestidos com roupas sujas e rasgadas. Aproximou-se do senhor, que parecia ser o pai daquela família, e perguntou: "Neste lugar não há sinais de pontos de comércio, nem
de trabalho. Como vocês sobrevivem"? Calmamente veio a resposta:
"Meu senhor, temos uma vaquinha que nos da vários litros de leite todos os dias. Uma parte nós vendemos ou trocamos na cidade mais próxima por outros gêneros de alimentos. Com a outra parte fazemos queijo, coalhada, etc., para o nosso consumo... e assim vamos sobrevivendo". O Mestre agradeceu a informação, contemplou o lugar por uns momentos, despediu-se e foi embora. No meio do caminho, em tom grave, ordenou ao seu fiel discípulo:
"Pegue a vaquinha, leve-a até o precipício e empurre-a lá para baixo". Em pânico, o jovem ponderou ao Mestre que a vaquinha era o único meio de sobrevivência daquela família, Percebendo o silêncio do Mestre,
sentiu-se obrigado a cumprir a ordem. Assim, empurrou a vaquinha morro abaixo, vendo-a morrer. Essa cena ficou marcada na memória do jovem durante alguns anos. Certo dia, ele decidiu largar tudo o que aprendera e voltar ao mesmo lugar para contar tudo àquela família, pedir perdão e ajudá-los. Quando se aproximava, avistou um sítio muito bonito todo murado, com árvores floridas, carro na garagem e algumas crianças brincando no jardim. Ficou desesperado imaginando que aquela humilde família tivera que vender o sítio para sobreviver.
"Apertou o passo" e ao
chegar lá foi recebido por um caseiro simpático, a quem perguntou sobre a família que ali morou há alguns anos.
"Continuam morando aqui", respondeu rapidamente o caseiro. Surpreso, ele entrou correndo na casa e viu que era efetivamente a mesma família que visitara antes com o Mestre. Depois de elogiar o local, dirigiu-se ao senhor que era o dono da vaquinha que havia morrido:
"Como o senhor conseguiu melhorar este sítio e ficar tão bem de vida"? A resposta veio com entusiasmo:
"Tínhamos uma vaquinha que caiu no precipício e morreu. Daí em diante tivemos que aprender a fazer outras coisas e desenvolver habilidades que nem sabíamos que tínhamos". E completou feliz:
"Assim, conseguimos conquistar o sucesso que seus olhos vêem agora"!
Essa história traz uma reflexão sobre as barreiras que colocamos em nossa vida que acaba impedindo nosso crescimento e a aquisição de novas habilidades. Qual será a ―vaquinha‖ que temos que nos possibilita algo básico para sobreviver e continuar com a rotina, mas que pode estar impossibilitando a aquisição de novos rumos? Por estarmos passando por um momento de crise que ―vaquinha‖ é essa que devemos empurrar morro abaixo? Pode-se ainda discutir sobre: a postura individual de cada seja no ambiente
profissional,
escolar
ou
familiar;
autoconhecimento;
desenvolvimento de habilidades; julgamento antecipado, entre outros.
Atividade 2: Poema ou música
Ciranda da bailarina Procurando bem Todo mundo tem pereba Marca de bexiga ou vacina E tem piriri, tem lombriga, tem ameba Só a bailarina que não tem E não tem coceira Berruga nem frieira Nem falta de maneira Ela não tem
Futucando bem Todo mundo tem piolho Ou tem cheiro de creolina Todo mundo tem um irmão meio zarolho Só a bailarina que não tem Nem unha encardida Nem dente com comida Nem casca de ferida Ela não tem Não livra ninguém Todo mundo tem remela Quando acorda às seis da matina Teve escarlatina Ou tem febre amarela Só a bailarina que não tem Medo de subir, gente Medo de cair, gente Medo de vertigem
Quem não tem Confessando bem Todo mundo faz pecado Logo assim que a missa termina Todo mundo tem um primeiro namorado Só a bailarina que não tem Sujo atrás da orelha Bigode de groselha Calcinha um pouco velha Ela não tem O padre também Pode até ficar vermelho Se o vento levanta a batina Reparando bem, todo mundo tem pentelho Só a bailarina que não tem Sala sem mobília Goteira na vasilha Problema na família Quem não tem Procurando bem Todo mundo tem... (Edú Lobo e Chico Buarque de Holanda 1982).
Esta é uma canção de Edu Lobo,
cantor, compositor, arranjador e instrumentista brasileiro e de Chico Buarque, dramaturgo, músico. escritor brasileiro. Composta para a trilha sonora do balé O Grande Circo Místico, de 1983. A canção foi gravada e lançada no disco homônimo com a trilha da peça, em 1983, com um coral infantil. Chico nunca a gravou, mas já a cantou em alguns especiais para TV. Em 2000, o grupo Penélope regravou a canção. Em 2004 a cantora Adriana Calcanhotto regravou a canção para seu pseudônimo Adriana Partimpim, projeto voltado ao público infantil. Essa música me faz refletir também sobre o ilusório, o perfeito que nos às vezes estipulamos, mas na verdade somos todos diferentes e todos passam por situações difíceis. Mas acho que gera uma provocação que é fazer a gente pensar que nos podemos ser essa bailarina às vezes, e que até devemos ter mais leveza e esquecer todas as imperfeições. Só a bailarina da caixinha de música vive essa perfeição toda porque não esta viva. Só quem calçou uma sapatilha de ponta sabe o quanto sofre uma bailarina, o quanto é duro os ensaios, as roupas incomodando e as sapatilhas esmagando os dedos. Muitas vezes achamos que só a gente passa por tal problema, que a grama do vizinho é mais verde, mas todos temos problemas, quem nunca teve alguns daqueles da música? Estar vivo é isso, é gerenciar as dificuldades e vitórias da vida, e criar estratégias para enfrentar. E ao mesmo tempo devemos buscar algo, uma atividade que a gente se sinta como a bailarina sem problemas, para poder ter forcas para recarregar as energias e seguir em frente. Tanto em sala de aula como em terapia podemos trabalhar esse texto discutindo as diferenças individuais, o significado da vida, a busca pela perfeição, as estratégias de enfrentamento diante de problemas.
Os pássaros Era uma vez um bando de pássaros que viviam espalhados pela floresta, eles não se conheciam. Porém, um dia ouviram a sábia coruja falando que havia aprendido a gerenciar suas emoções, conquistado metas e que seus relacionamentos pessoais estavam muito melhores. Os pássaros, curiosos, movidos pela vontade de conquistar voos mais altos e administrar seus ninhos, resolveram perguntar onde podiam ir para adquirir tais conhecimentos. A coruja toda cheia de si e com ar de segurança disse: ―No Rio da Sabedoria. Nesse lugar vocês vão encontrar flores e árvores, um lugar muito agradável de ficar.‖ Vários pássaros foram até o local, quando chegaram até o Rio da Sabedoria viram que o local era lindo, aconchegante e exalava cheiro de rosas vermelhas por todos os cantos.
Alguns pássaros eram mais acessíveis e, em busca de alçar voos de excelência, logo comeram das frutinhas de sabedoria das árvores do rio. Outros, mais resistentes, se recusaram a comer as frutinhas e partiram, pois não queriam correr riscos. Os onze pássaros guerreiros que ficaram eram de todos os tipos, alguns cantavam muito, outros tinham penas exuberantes, brilhosas e transmitiam muita alegria, alguns gostavam de cuidar de outros passarinhos, uns transmitiam juventude e carisma, tinham pássaros questionadores e outros que cantavam menos, eram envergonhados e tímidos, porém ao longo dos seis encontros os pássaros foram se transformando e criando um grande vínculo de amizade, companheirismo e confiança. Durante o período de transformação os pássaros eram guiados por águias experientes que traziam as frutinhas de conhecimento e sabedoria em suas asas grandes e plumosas, incentivando os pássaros a conquistarem voos cada vez mais altos. Um belo dia, no último encontro, os pássaros exibiam suas asas, mais fortes e resistentes prontos para lidar com as mudanças de clima, a enfrentar tempestades, a planar nos ventos fortes e a semear seu novo canto pela floresta.
Agradeço aos alunos da turma de Psicopedagogia e Literatura (nº 24) da Faculdade Saberes, pelo carinho e dedicação com que se envolveram nas atividades propostas.
Desejo a todos que explorem a riqueza da literatura junto aos seus alunos e que possamos fortalecer a cadeia de leitores no nosso país.
Recebam um abraço da professora Renata Bomfim
Revista Literária Letra e fel www.letraefel.com
―Que esse trabalho te inspire!‖ Dez.2015