Os
Ministérios na Liturgia
(=Diapositivo
do PowerPoint)
1. ENQUADRAMENTO DO TEMA – A NOVA ECLESIOLOGIA DO C. VATICANO II A teologia dos ministérios eclesiais desenvolveu-se principalmente depois do Cons. Vaticano II, através do restabelecimento de uma eclesiologia que encontrou na constituição Lúmen gentium a sua formulação mais completa. Não podemos negar que tenha contribuído para esta nova perspectiva a crise do sacerdócio ministerial. Depois do concílio aconteceram mudanças nas estruturas sociais e eclesiais, surgiram novas práticas pastorais e fizeram-se mais vivas pesquisas sobre a identidade dos ministérios. O ponto de partida para esta teologia dos ministérios foi a concepção do sacerdócio comum dos fiéis, a par do sacerdócio ministerial, diferentes em grau, mas chamados a uma comunhão assente no Único Sacerdócio que é o de Jesus Cristo. ministerium – Latim diakonia – Grego Muito se poderia abordar do ponto de vista Bíblico sobre os ministérios e sobre a redescoberta dos carismas na história da Igreja, que nos trouxe à nossa situação actual, mas levaria muito tempo (mostrar Dic. Liturgia, pp. 7736 e ss.).
2. O CONCEITO DE ASSEMBLEIA A primeira e fundamental realidade litúrgica é, sem dúvida a assembleia, ou seja, a ecclesia, o grupo dos que são congregados para a reunião. A oração colecta tem mesmo essa função a de chamar a atenção de toda a assembleia para a escuta da Palavra e, consequentemente, para a eucaristia.
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Portanto, o sujeito da celebração da liturgia é a assembleia. Então quer dizer, que tudo se estrutura e ordena em função desta realidade: a assembleia – os lugares e os ministérios.
E vou
sublinhar com ousadia e sem escrúpulo: é por causa da assembleia que existe o sacerdote; é por causa da ass. que existe o leitor e o acólito; é por causa da ass. que não está presente que existe o min. extraord. da comunhão; é por causa da ass. que o altar deve ser o lugar central e o ambão deve estar num lugar visível; é por causa dela que os microfones devem estar a funcionar bem e a luz ilumina os elementos mais importantes. Bem, muito teria que dizer para sublinhar a importância da ass. na celebração litúrgica. Diria que a ass. poderia ser considerado o primeiro ministério, porque ela é o sinal sagrado ou sacramento primordial de Jesus Cristo que é a Igreja.
2.1. UMA REUNIÃO FRATERNAL NA DIVERSIDADE Uma das leis essenciais da história da salvação é que haja reconciliação de toda a humanidade. Foi o que Cristo fez, reconciliando judeus e pagãos entre si. A própria Igreja nasce no Pentecostes, provocando a difusão de diversos dons, carismas e funções na Igreja. Portanto, a Igreja tem de tender para um “cantar em uníssono” dos corações, cujo modelo inicial está na Igreja primitiva.
Act 2 – Uma comunidade modelo – 42Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações.
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Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos
Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. em comum.
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Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo
Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as
necessidades de cada um.
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Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo,
partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. 47
Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o
número dos que tinham entrado no caminho da salvação.
2.2. PARTICIPAÇÃO ACTIVA, PLENA E CONSCIENTE (o mesmo é dizer INTELIGENTE!) Uma das mais importantes intuições reformadoras do Concílio Vaticano II, que teve no concílio e na liturgia pós-conciliar um forte implemento e impacto, foi o conceito de participação. Diz o n.º 14 da SC «é desejo ardente na mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e
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activa participação nas celebrações litúrgicas que a própria natureza da Liturgia exige e que é, por força do Baptismo, um direito e um dever do povo cristão». Para um entendimento e uma prática renovada da liturgia, deve partir-se daqui: a Igreja é o Povo de Deus, é comunidade à qual todos, pelo baptismo, pertencem de igual forma. A participação litúrgica deriva, portanto do sacerdócio baptismal que todos receberam, cada qual segundo a sua função: sacerdotes, religiosos e leigos. Se no que respeita à participação activa bastante se avançou, quanto aos seus atributos – plena e consciente – muito está por se conseguir. A consciente e plena participação serão fruto da formação adequada e contínua de toda a assembleia celebrante, mas particularmente dos intervenientes mais directos na acção litúrgica: sacerdotes e restantes ministérios.
2.3. AS DIFERENTES FUNÇÕES NA ASSEMBLEIA A ass. é uma reunião fraterna e unânime de um povo e todos os seus membros são participantes activos, ainda que em funções diversificadas e bem diferenciadas. Não pode ser tudo realizado por todos, não porque alguém assim o quis, mas por instituição do próprio Jesus Cristo e pela natureza da Igreja. A ass. tem alguém que preside e, entre ele e os restantes fiéis, intermediários que cumprem serviços ministeriais. Nas celebrações litúrgicas, cada qual, ministro ou simples fiel, ao desempenhar o seu ofício fará tudo e só aquilo que lhe corresponde pela natureza da acção e as normas litúrgicas. (SC 28)
Esta
distinção de funções converte a ass. num corpo orgânico, expressão e manifestação do
corpo místico de Cristo (cf. 1Cor 12,12-30), e a liturgia num conjunto harmonioso em que cada qual desempenha o seu próprio papel.
2.3.1. O QUE PRESIDE À CELEBRAÇÃO (presidente, celebrante…) O que preside, ou celebrante (!?) – bispo ou presbítero – “preside à assembleia representando a Cristo in persona Christi. Esta fórmula do Concílio Vaticano II (SC 33) resume três afirmações tradicionais:
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2.3.1.1. A acção litúrgica tem um presidente que dirige efectivamente toda a assembleia e é o condutor da oração (antigamente era mesmo o que distribuía, antes da celebração as funções, os textos, o que iam cantar); 2.3.1.2. Este presidente reza pelo povo, parte para o povo o pão da palavra de Deus e o pão eucarístico. Portanto não é de nenhum modo um simples responsável ou um ministro a par de outros; 2.3.1.3. É presidente e celebrante não por uma designação da assembleia ou por causa das suas qualidades humanas, mas porque possui pelo Sacramento da Ordem o carácter sacerdotal de bispo ou presbítero, quer dizer, como já foi dito, participa de forma especial da missão de Cristo. Mas isso também não basta, é preciso que esteja em unidade com o sentir de toda a Igreja, da missão herdada dos Apóstolos. Os presbíteros recebem a sua missão do bispo e presidem à assembleia em união com ele. A unidade do sacerdócio manifesta-se na concelebração. A dignidade do seu ministério é também manifestada pelas vestes que o adornam. Alguns ritos podem ser presididos por um diácono, a caminho do sacerdócio ou por um diácono permanente. Por vezes, alguns leigos preparados e autorizados, poderão presidir a algumas celebrações (não confundir com a eucaristia!), na ausência ou espera do presbítero.
2.3.2. O SERVIÇO MINISTERIAL EM GERAL Entre os ministros que exercem um serviço na assembleia litúrgica, uns são ministros da palavra de Deus, encarregados de proclamar as leituras; outros são ministro0s do celebrante, ao que assistem e servem; outros, enfim, estão mais directamente ao serviço do povo a quem guiam e vigiam. Algumas funções estão reservadas estritamente aos que receberam o Sacramento da Ordem. Outras funções são ofícios de modo estável, mas não exclusivo por ministros instituídos, que para isso receberam formação apropriada: leitores e acólitos (PAULO VI, motu próprio Ministeria quaedam, 15 de Agosto de 1972). Os diáconos são os ministros por excelência – os diáconoi (Lúmen gentium) – porque chamados a servir directamente o bispo e a colaborar com o ministério presbiteral somente naquilo que lhes compete. – Ler LG n.º 29. E perguntar: será que não há por aí entre os homens alguém que esteja a ser chamado por Deus à ser diáconos (pelo Sacramento da Ordem) e, em geral, de entre as nossas assembleias pessoas – homens e mulheres – ao serviço da diaconia ?!
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2.3.3. OS MINISTROS DA LEITURA DA PALAVRA DE DEUS Ao ocupar a proclamação da palavra de Deus um lugar muito importante na assembleia litúrgica, houve, desde as origens, leitores, para além da pessoa do celebrante, como já os havia na sinagoga. Mas esta função deu lugar a um ministério hierárquico estável inaugurado pelo bispo. Contudo, os leitores propriamente ditos vieram progressivamente a dar as leituras mais importantes à hierarquia, ficando a proclamação do Evangelho para o presbítero ou para o diácono ler. Na falta de leitores instituídos, o seu ministério pode confiar-se a outros leigos. Aqui insere-se também o salmista, a quem foi confiado, desde tempos mais antigos na liturgia, o canto dos salmos. Este foi um ministério que deixou de ter instituição conferida pelo bispo. Basta, claro, ter boa voz e cantar bem o salmo!
2.3.4. OS MINISTROS DO ALTAR E DO CELEBRANTE Os ministros do altar e do celebrante são sobretudo os diáconos. O seu papel na Eucaristia está descrito em detalhe na Introdução Geral ao Missal Romano, e nas celebrações presididas pelo bispo, no próprio Cerimonial dos bispos. Mas tradicionalmente há outros ministérios instituídos para o serviço do altar e para ajudar o presbítero e o diácono: são os acólitos que existem na nossa liturgia (na Igreja ortodoxa ainda se chamam subdiáconos). Estão encarregados, principalmente, ao que se refere à preparação do altar, dos vasos sagrados e das coisas necessárias à celebração da Eucaristia. O acólito (instituído – Ministeria quaedam) recuperou também o papel de ministro extraordinário da eucaristia. Quando uma celebração litúrgica se reveste de uma grande solenidade, existe a conveniência de haver vários acólitos, em número suficiente, para que a liturgia aconteça com todos os objectos ou símbolos que adornam essa mesma solenidade (cruz, incenso, velas, evangeliário se não houver diácono para o levar, etc.) Comentário: na ausência ou por detrás dos acólitos, costumam estar sempre a figura do Sacristão, que também é imprescindível. A mim não me escandaliza se ele vestisse sempre uma alva (porque não considerá-lo acólito)!
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2.3.5. OS MINISTÉRIOS AO SERVIÇO DO POVO Os diáconos, como já vimos, também exercem o seu ministério ao serviço do povo. Existia uma função no tempo em que a Missa era em Latim – o comentador – que explicava alguns textos ao povo. Esta função deixou de ser necessária, está claro! Mas a Introdução Geral ao Missal Romano reconhece a utilidade deste ministério. Cito a IGMR, n.º 68: o comentador, incumbido de fazer aos fiéis explicações e admonições a fim de os introduzir no sentido da celebração e os dispor a compreendê-la melhor. As admonições do comentador devem ser bem preparadas e muito sóbrias (o seu lugar não é o ambão, mas um lugar bem visível à frente da assembleia). Também outros ministérios ao serviço do povo são enunciados neste número da IGMR: os que são encarregados de acolher os fiéis à porta da Igreja e de os conduzir aos seus lugares e de ordenar as procissões; e também os que são encarregados de fazer, na igreja, a colecta das oferendas.
2.3.6. A SCHOLA CANTORUM A celebração litúrgica exige normalmente a intervenção de um grupo de fiéis mais exercitados na arte musical, a quem se confia assegurar o canto da ass. e a execução de cânticos destinados a acompanhar alguns ritos ou a cantar as partes mais difíceis do canto. Surgiram destas “scholae cantorum” os nossos coros litúrgicos, que devem ser considerados essa porção da ass. de elementos mais bem cuidados na arte de cantar que preparam algumas partes do canto. Convém não esquecer que os refrães dos cânticos escolhidos para as celebrações pertencem a toda a ass. (contar a experiência da celebração da euc. na visita das relíquias de Santa Teresinha). O recrutamento de pessoas para assegurar o canto não deve ter só em conta a competência técnica, mas também a qualidade espiritual. Desta derivará, para além, da arte de cantar, a capacidade de observar os critérios na escolha dos cânticos e na sua execução.
2.3.7. ORGANISTAS E MÚSICOS Quando em determinados casos e condições, a celebração admite o som de instrumentos (SC 120; MS 62-65), os músicos estão então ao serviço da liturgia na participação de um modo directo, exercendo algo que se poderia chamar também um ministério. Também estes têm que se submeter a algumas regras, não só no que toca à competência técnica, mas também espiritual.
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Neste ministério da música, há por vezes situações e questões que nos podem levar a um debate: a escolha dos cânticos, o uso de instrumentos e que instrumentos (e quando!), etc. O órgão – de tubos – recebeu do Concílio Vaticano II (e dos outros documentos sobre esta matéria) um verdadeiro título de nobreza. O papel do organista é especialmente delicado e importante: acompanha os cânticos, toca como solista e deve contribuir para a unidade, para o movimento harmonioso da celebração, sobretudo por meio das suas improvisações (daí a competência necessária tanto em liturgia como em música). – Contar o confronto que já fiz a um responsável de um coro: já pensaste, no ensaio do teu coro em fazer uma pequena formação litúrgica e em ler as leituras, etc? (perguntas às quais a pessoa em questão ficou perturbado e a pensar se seria necessário tudo isso!)
3. AS ACÇÕES LITÚRGICAS ESPECIAIS E SEM ASSEMBLEIA Existem algumas celebrações especiais, como por exemplo o Matrimónio em que os próprios noivos que vão casar são os ministros do sacramento. Nem sempre nos lembramos ou eles estão convictos disto. Também os padrinhos do Baptismo e do Crisma exercem um ministério importante ao ajudar os pais de uma criança baptizada nas suas responsabilidades ou mesmo no acompanhamento que são chamados a fazer no catecumenado. Há outras celebrações em que não propriamente uma ass. no verdadeiro sentido do termo, como no sacramento da reconciliação na forma da confissão individual dos pecados; o mesmo acontece quando um ministro extraordinário leva a comunhão aos doentes ou o sacerdote a unção e o viático; ou mesmo quando este celebra sozinho a Eucaristia. Há sempre, nestas circunstâncias e por força do Espírito uma comunhão com a Igreja na sua universalidade.
4. A CELEBRAÇÃO DO DOMINGO NA AUSÊNCIA/ESPERA DO PRESBÍTERO Com a falta de sacerdotes que presidam, no dia do Senhor, à Eucaristia, surgiu a necessidade de implementar novos ministérios, como o animador da ass. na ausência do presbítero. No recente sínodo sobre
a Eucaristia (Roma, Outubro de 2005) sublinhou-se a dimensão da espera do
presbítero, manifestação de esperança de que aumentem os trabalhadores para a messe do Senhor. Não devemos confundir este ministério com o MEC!
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