a vida por outro ângulo
Gerações prolongadas Empreendedorismo a um clique Diálogos e confissões
Pontes ao invés de muros Aos poucos, portadores de necessidades especiais conquistam direitos e sentemse inseridos na sociedade. Mas ainda há muito a ser feito
Mudanças inevitáveis
Sumário
N
o início de cada ano, a mesma história se repete: Promessas de mudanças e uma lista de metas a serem atingidas, as quais nem sempre saem do papel. Pode ser o cuidado com a saúde, retomar os estudos, comprar um carro novo, passar mais tempo com a família ou até mudar de emprego. Mas, diante das dificuldades que se apresentam ao longo dos meses, muitos nem sequer chegam a lembrar-se de seu planejamento. No entanto, 2012 tem tudo para ser um ano diferente. Diferente não porque começa envolto pelas incertezas divulgadas pelos meios de comunicação, que noticiam desde o ano passado a teoria de que o mundo está com seus dias contados e chega ao fim em dezembro. Diferente, sim, porque este é um ano de esperança. Esperança de sair das dívidas, comprar a tão sonhada casa ou mesmo para aumentar o número de membros da família. Independentemente de quais sejam seus planos, 2012 pode trazer os resultados que você espera, ou que nunca esperou. Pode ser um ano que ficará gravado na história ou que uma nova história começará a ser escrita. Muitos ao redor do mundo compreendem que algo novo acontecerá. Embora não seja possível prever que mudanças atingirão a vida de cada habitante do planeta, apenas não duvide de que neste ano a esperança pode bater à sua porta. Estará você preparado(a) para recebê-la? Jefferson Paradello é editor-chefe da Revista Repensar.
Repensar 1º trimestre de 2012. Ano 2. Número 2. Projeto gráfico e Diagramação: Nadaline Design Revisão de texto: Jorgeana Longo. Colaboradores: Altemir Farinhas, Ana Paula Lisboa Peixoto, Jeferson Fortes, Márcio Tonetti e Raquel Moroz. Conselho administrativo: Lourival Gomes de Souza, Marcelo Cardoso e Laudecir Mazzo.
2 | Repensar #2
Ilustração: Felipe Carmo. Jornalista responsável: Jefferson Paradello. Tiragem: 10.000 exemplares. Impressão: Gráfica Capital A revista Repensar é uma publicação trimestral da Igreja Adventista na região central do Paraná. Para comentários e sugestões: repensar@adventistas.org.br ou Rua Deputado João Ferreira Neves, 159, Vista Alegre. CEP 80820-380, Curitiba/PR. Os textos publicados são de total responsabilidade de seus autores.
3 .
4 .
6 .
Mais Vida Filhos: Até quando adiar este sonho? Em pauta Um mar de oportunidades
Sociedade Em busca de um sorriso
8.
Educação Adolescência: a busca pela identidade
11. Seu bolso Amnésia financeira 12.
Conselhos para uma vida melhor Palavras que transformam
14. Debate Rompendo barreiras sociais 16. Rápidas Fatos Recentes Projetos Futuros
Filhos: Até quando adiar este sonho? Embora as possibilidades diminuam e as dificuldades aumentem, após os 35, a desejada maternidade ainda pode ser conquistada Ana Paula Lisboa Peixoto
A
o longo dos anos, as mulheres foram se lançando cada vez mais e se destacando no mercado de trabalho, assumindo, muitas vezes, profissões e atividades quase sempre exercidas por homens. No entanto, toda esta dedicação à profissionalização, usando todo o tempo disponível para cursos, mestrados e doutorados fez com que o sonho de ser mãe fosse sendo adiado. Até mesmo a dedicação a um relacionamento estável para que o projeto de ter filhos fosse iniciado foi ficando para trás. Só que, infelizmente, a natureza não espera. A mulher tem um relógio biológico bastante rigoroso em relação à sua fertilidade. Após os 35 anos, a fertilidade sofre uma queda abrupta e a chance de conseguir a gestação vai diminuindo, o que requer mais tempo de tentativa e gera frustração e ansiedade. Além disso, há um aumento no risco de malformações e aborto. É claro que, mesmo assim, a chance é muito pequena, apenas um pouco maior em relação às gestações abaixo de 35 anos. Felizmente, a maioria progride bem. Após os 40 anos, a chance de conceber é mínima, necessitando na maioria das vezes de tratamento, já que o risco de aborto e malformações aumenta. Neste ponto, a mídia muitas vezes passa uma informação errada em relação ao que a ciência pode fazer, mostrando personagens em novelas com idade em torno de 40 anos ou mais engravidando com facilidade. Apesar dos significativos avanços científicos na área da reprodução humana, os tratamentos que visam estimular os ovários para que ocorra a ovulação são muito pouco eficientes após esta idade. São necessárias altas doses de hormônios, o que eleva bastante o custo do tratamento, sem contar os inúmeros exames e procedimentos necessários. Apesar disto tudo, não é garantido que a paciente terá uma boa resposta. A fertilização “in vitro” ou “bebê de proveta” é, em geral, a única opção para que se tenha alguma chance de conseguir a gestação após os 40. Mesmo assim, a chance gira em torno de 10 a 15% por tentativa. Isto acontece porque os óvulos já estão presentes desde o nascimento. Eles têm exatamente a mesma idade da mulher. Por isso, se ela tem 40 anos, a gravidez, se ocorrer, virá de um óvulo de 40 anos. Quanto mais envelhecidos os óvulos, mais defeituosos eles são, pois já sofreram várias mutações, radiações e diversas interferências do ambiente ao longo destes anos. Sendo assim, eles serão mais difíceis de serem fecundados e de gerarem um embrião saudável, daí o maior risco de aborto e malformação. Já os espermatozoides são renovados a cada três meses, o que dá ao homem mais possibilidade de engravidar uma mulher em idades avançadas. Mesmo assim, após os 40 anos, ele já começa a diminuir sua produção de espermatozoides.
e de ecografia para este fim. No caso da mulher, estes hormônios, dosados no sangue por volta do terceiro dia da menstruação, podem informar como está a reserva ovariana, ou seja, a quantidade de óvulos que ela ainda possui. Uma reserva ovariana baixa significa que a quantidade de óvulos é pequena e existe risco de menopausa precoce. Consequentemente, não se recomenda adiar a gestação. O controle da ovulação através de ecografia seriada também pode avaliar se a mulher está ovulando corretamente e datar de forma exata seu período fértil. Para o homem, a melhor forma de avaliar a fertilidade é através da coleta do espermograma. Muitos têm preconceito em fazer este exame com receio de que um resultado ruim possa interferir em sua sexualidade, o que não tem a menor correlação. Se o exame mostrar uma baixa produção de espermatozoides, muitas vezes, isto pode ser melhorado com uso de vitaminas, antibióticos ou simplesmente ser transitório. Diante de uma alteração também são solicitados exames hormonais e ecografia testicular. Sendo assim, o casal que pretende ter filhos deve iniciar esta investigação de preferência quando a mulher já estiver na faixa etária entre 30 e 35 anos. Nesta fase, os problemas que aparecerem serão muito mais fáceis de tratar, possibilitando que este sonho se realize de forma mais tranquila e natural, sem ansiedade, sem pressa e sem muitas intervenções. Ana Paula Lisboa Peixoto é ginecologista com especialização em Ginecologia Endócrina e Infertilidade. anapaula@clinicaconceber.com.br www.clinicaconceber.com.br
Para saber como está a fertilidade e avaliar se é possível esperar um pouco mais para engravidar, o casal pode fazer alguns exames hormonais
Repensar #2 | 3
Um mar de oportunidades Depois de constatar na prática que negócios na Internet dão certo, empresário argumenta sobre o empreendedorismo na web Jefferson Paradello
N
os primeiros anos da Internet, poucos eram os que acreditavam que ela poderia trazer algum retorno financeiro para quem decidisse investir em algo tão incipiente. Hoje, ela é imprescindível para a economia e faz milionários cada vez mais jovens, atraindo assim o olhar de uma nova geração de empreendedores. No entanto, para alguns o desafio é encontrar espaço em um ambiente tão competitivo e desafiador. Por isso, quando uma ideia surge, além de muito planejamento, análise e uma proposta estruturada, também é preciso ousadia para conquistar sucesso na rede. Essa é a visão do empresário Emerson Andrade, sócio-fundador e corresponsável pelas áreas comercial e de operações do site de compras coletivas Peixe Urbano, um dos fenômenos que têm conquistado cada vez mais adeptos no Brasil, México, Argentina e Chile.
4 | Repensar #2
Como surgiu a ideia de apostar no modelo de compras coletivas no País? Eu e o Julio Vasconcellos fizemos MBA juntos na Stanford University entre 2005 e 2007. O Julio também já conhecia o Alex Tabor desde 2005 – os dois já haviam empreendido juntos. Após o MBA, me mudei para Seattle para trabalhar para a Microsoft, e o Julio continuou no Vale do Silício, trabalhando para uma start-up de Internet. No inicio de 2010, ele me chamou para lançar o Peixe Urbano no Brasil. O modelo [de compras coletivas] havia surgido há pouco tempo nos Estados Unidos, com bastante sucesso, e ainda não existia nada similar na América Latina. O conceito nos chamou a atenção por trazer benefícios relevantes tanto para os consumidores como para as empresas, e apostamos que daria certo no Brasil devido ao cenário macroeconômico muito positivo, à crescente penetração da Internet e do poder aquisitivo da classe média, e também às características do povo brasileiro, que usa muito a Internet e as redes sociais e gosta de compartilhar rapidamente novidades com os amigos.
Para os consumidores, os descontos, que podem chegar a 99%, servem como um incentivo para que descubram e experimentem os melhores produtos, serviços e atividades de suas cidades. Para as empresas locais, é uma forma inovadora e eficiente de promover seus serviços para um público amplo e qualificado e de conquistar um grande número de novos clientes em pouco tempo e sem ter qualquer desembolso. A internet tem impulsionado a criação de novas oportunidades para diversos segmentos do mercado. Apesar de se mostrar um campo fértil, quais são os perigos que ela pode trazer para quem pensa em iniciar seu próprio negócio na rede? É fácil colocar um site no ar, mas não é tão fácil ter toda a estrutura necessária para continuar crescendo e se destacando cada vez mais no mercado. É preciso escutar o cliente, ter uma equipe excepcional, ter visão e know-how e ao mesmo tempo muita dedicação para crescer de forma sustentável e diferenciada. Aqueles que pensam em empreender, iniciar um negócio e alcançar prosperidade aproveitando as oportunidades proporcionadas pela expansão da tecnologia devem atentar para quais itens? A nossa recomendação é ser ousado e colocar ideias em prática, mesmo sem ter um plano perfeito. Testá-las em tempo real, com clientes reais, e monitorar com olho crítico os resultados para ir adaptando e melhorando o produto de acordo com as necessidades e preferencias do cliente. Além disso, é necessário ter visão e know-how e ao mesmo tempo muita dedicação para crescer de forma sustentável e diferenciada. Também é importante montar e motivar uma equipe com excelentes profissionais 100% comprometidos com a missão e o espírito da empresa, trabalhando em conjunto e num ambiente propício à constante geração e implementação de grandes ideias. São inúmeras as empresas que têm apostado no potencial da Internet. Tanto que, enquanto muitas estão expandindo seus negócios para o virtual, outras já nascem exclusivamente na rede. Seria esse o futuro dos negócios diante de tantas possibilidades, inclusive no quesito visibilidade? Hoje em dia ter uma presença online é essencial. O modelo de compras coletivas acaba funcionando como uma vitrine online para muitos estabelecimentos físicos que ainda não têm uma presença online tão forte, e até para outros que já têm, porém, gostariam de promover
determinados produtos ou serviços para um público ainda mais amplo. Entretanto, mesmo diante desta migração online e do enorme alcance e potencial da Internet, acreditamos que ferramentas de marketing online, como é o caso das compras coletivas, complementam o trabalho desenvolvido em outros canais. Uma das grandes vantagens desse novo modelo é também que ele une o mundo local off-line com o global online, deixando o consumidor usufruir das vantagens de cada um. Mesmo com suas oportunidades, a internet tem se mostrado um ambiente de crescente competitividade. Ética também é uma prática que deve ser observada no contexto virtual? Como lidar com isso? Sem dúvida. Acreditamos que a ética seja fundamental para qualquer negócio, dentro ou fora do ambiente virtual. Nós procuramos ser sempre totalmente transparentes e corretos com toda a nossa equipe, com os nossos parceiros, com os consumidores e com todos ao nosso redor. Acreditamos que essa seja uma premissa fundamental para construir um negócio de sucesso a longo prazo. Como foi o receio e até mesmo a expectativa em iniciar um projeto praticamente do zero? Vocês acreditavam que o empreendimento teria tantos resultados? Sempre existem riscos em começar um projeto do zero. Mas nós realmente acreditávamos muito na ideia, tanto que deixamos para trás bons empregos nos Estados Unidos para voltar ao Brasil e empreender. Apostamos que este modelo daria muito certo no Brasil e realmente deu, porém a velocidade de crescimento do mercado realmente nos surpreendeu e superou as nossas mais otimistas expectativas. Lançamos o site com uma equipe de apenas 5 pessoas e cerca de 6 mil usuários cadastrados em 1 cidade. Hoje, pouco mais de 2 anos, já somos mais de mil colaboradores e mais de 16 milhões de usuários cadastrados em mais de 100 cidades do Brasil, México, Argentina e Chile. Desafios existem em todas as etapas do processo. É preciso muita perseverança, comprometimento e ao mesmo tempo bastante flexibilidade. Que importantes lições vocês extraíram dessa experiência? Aprendi que para inovar é preciso ser ousado e arriscar, tirar ideias do papel e colocá-las em pratica, testá-las em tempo real, com clientes reais. Nem sempre tudo sairá perfeito ou como planejado, porém, o mais importante é saber ter a velocidade, a flexibilidade e a transparência necessárias para adaptar e melhorar constantemente, estando sempre em sintonia com o que os clientes querem. Além disso, o trabalho em equipe é essencial para um alto padrão de qualidade, e, portanto, é fundamental investir na contratação e no desenvolvimento de excelentes profissionais e na integração da equipe como um todo.
Emerson Andrade, COO do Peixe Urbano. “É necessário ter visão e know-how e ao mesmo tempo muita dedicação para crescer de forma sustentável e diferenciada”
Divulgação
De que forma o Peixe Urbano tornou-se uma vitrine para anunciantes e consumidores e que vantagens apresenta para ambos?
Repensar #2 | 5
Em busca de um sorriso
O que antes era um trabalho voluntário realizado nas horas vagas transformouse na profissão de duas mulheres que levam alegria nos momentos mais tristes Jefferson Paradello
H
á pouco mais de dois anos, Valesca Rodrigues e Edla Martins fizeram uma escolha delicada: abandonaram o emprego para se dedicar integralmente, e sem salário nenhum, a uma atividade que traria um retorno que nem o dinheiro pode pagar. A decisão fez com que elas deixassem para trás o banco e a rádio onde trabalhavam para transformar um projeto antes realizado nas horas vagas em uma verdadeira profissão. A nova carreira de ambas, no entanto, se mostra mais complexa do que a anterior. Aos domingos, elas acordam cedo, colorem o rosto, vestem asinhas e se dirigem ao Hospital da Criança João Vargas de Oliveira, em Ponta Grossa, no interior paranaense. Lá, o objetivo é um só: arrancar sorrisos e gargalhadas dos pacientes e, com isso, amenizar o sofrimento causado pelas doenças. E foi com essa proposta que, no início de 2009, nasceu a Associação Mãozinhas de Anjo (AMA). Além das músicas que são cantadas e acompanhadas por um violão, durante as visitas as crianças recebem livros infantis, revistas, jogos educativos e presentes doados por colaboradores e associados. “O que elas fazem é fantástico. Quando sabem da vinda delas, os pacientes ficam animados”, comenta a médica Mônica Lankszner, do Instituto Sul Paranaense de Oncologia (Ispon), entidade também atendida pela AMA. “Isso é bom para a autoestima deles, e com essa atividade a melhora de cada um é evidente.” Nos dias de visita, logo que entram no quarto, as crianças as reconhecem e vão em busca de um abraço. E na hora de ouvir as histórias, não são apenas os pequenos que param para prestar atenção. Os adultos também ficam apreensivos e, quando há interação, os pais dão um empurrãozinho. Ao final das histórias e brincadeiras, uma rápida oração encerra o encontro. A tônica é agradecer e pedir pela melhora de cada um deles. Mãozinhas multiplicadas Somando-se aos sorrisos que recebem como retorno, ao longo do tempo Edla e Valesca passaram a contar com outros incentivos. Ao tomar conhecimento da ação que desenvolvem, as pessoas se interessaram pela iniciativa e ajudam como podem. Parte desse auxílio é financeiro, e o restante chega em forma de brinquedos e materiais destinados às crianças. Outros, por sua vez, decidiram colaborar como voluntários. É o caso do aposentado Ademar de Paulo, que hoje atua como motorista da entidade. “Tem seis meses que estou aqui. Resumindo, esse trabalho é maravilhoso. Tive um problema de saúde e isso é como meu remédio”, declara, com um sorriso que se estende ao longo de todo o rosto. Como a AMA e nem suas fundadoras possuem carro, de Paulo corta a cidade e até mesmo outros municípios sempre que necessário, a qualquer hora do dia ou da noite. Ao todo, são 19 voluntários que atuam nas mais diversas áreas. E foi por meio do envolvimento deles que o atendimento foi expandido também para
6 | Repensar #2
Um dos diferenciais da AMA em relação a outras entidades é o suporte espiritual aos pacientes. Além do apoio em questões físicas, ela oferece a oportunidade para que interessados conheçam sobre a Bíblia e sua mensagem. “Temos encontrado vidas destruídas e, a partir dos estudos bíblicos, algumas voltam a viver outra vez”, relata o aposentado Ademar de Paulo que, além de motorista, nas horas vagas visita famílias para ensinar sobre o livro sagrado. Doe qualquer valor Caixa Econômica Federal Agência: 2958 Operação: 013 Conta: 9044-8 CNPJ: 10.942.882/0001-68
outras localidades. Em Telêmaco Borba, por exemplo, a entidade conta com uma equipe que cuida de quatro casas lares da cidade. Mas o trabalho do time não se limita apenas ao que ocorre nas unidades de saúde. Uma parte tão importante quanto a visita nos leitos ocorre depois. Trata-se de um acompanhamento para compreender a realidade das crianças e de suas famílias. Ao ir até seus lares, os voluntários verificam se na etapa pós-hospitalar elas tem alimentos suficientes, remédios para a continuidade do tratamento e mesmo itens para suprir as necessidades básicas. “Quando visitamos a família em casa, fazemos uma leitura da situação e vemos as necessidades, mas não fazemos nenhuma promessa. Levamos o caso para a diretoria e nunca tomamos decisões sozinhas”, explica Valesca. Em 2010, a AMA construiu uma casa para uma das famílias que necessitava de ajuda. E tudo com a contribuição de apoiadores. Muitos, anônimos. “Tem pessoas que doam e nós nem sabemos quem é.” Além das lágrimas A entidade, no entanto, não busca suprir apenas as questões físicas e materiais. Depois de perder o filho no final do ano passado, a cuidadora de idosos e crianças especiais Fabiana Graciele Marçao está recomeçando sua vida. Ruan Luiz Romoaldo da Cruz tinha 10 anos e faleceu devido à hidrocefalia. A AMA acompanhava o caso há algum tempo. Depois de ser notificada sobre a morte de Ruan, que esteve internado durante 40 dias, uma das primeiras ligações que Graciele fez foi justamente para Edla e Valesca. Diante da situação, elas deram todo o suporte que a família precisou na hora de enfrentar a dor da separação. Na casa em que mora, ainda é possível ver quadros com a fotografia do menino e um banheiro adaptado para atender suas necessidades especiais, elementos que contribuem para que sua figura se mantenha viva. Agora, depois de todo o apoio que recebeu, a mãe deseja ajudar outras pessoas que passam por situações semelhantes. “Quero demonstrar mais e mais que o trabalho da AMA é especial, e quero fazer com que as pessoas se conscientizem da importância do que elas fazem. Não tenho nem palavras para descrever o quanto isso foi importante para mim”, emociona-se. Mesmo diante dos desafios que se apresentam no dia a dia, como a falta de uma sede, apoio de mais pessoas e recursos garantidos para manter o projeto, as fundadoras, assim como os voluntários, entendem que tem uma missão a cumprir, um papel a desempenhar. E quem mais ganha com isso são eles mesmos. “Fazer o que fazemos é a melhor oportunidade que temos. É conhecendo histórias como essas que você vai valorizar a sua vida”, assegura Valesca. Jefferson Paradello é jornalista.
Análise ““Sempre que fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mateus 25:40). Este é um dos principais ensinos de Cristo: cuidar, amparar, proteger e suprir as necessidades dos menos favorecidos. É importante ter em mente que, pela ótica humana, devemos realizar algo por aqueles que sofrem. Jesus dedicou a maior parte de seu ministério a curar, ouvir e aconselhar quem vinha ao seu encontro. Na maioria das vezes, no entanto, ele não olhava apenas para as deficiências físicas, mas também para as espirituais. Enquanto filhos de Deus, devemos trabalhar ao máximo em favor de outros que, por si mesmos, talvez não conseguissem vencer as dificuldades do mundo. Diversas instituições ao redor do planeta buscam viver esse princípio, auxiliando pessoas nas mais diversas áreas da vida. Porém, grande parte das iniciativas visa, obviamente, sanar questões físicas e psicológicas. Mas o ser humano, como apresenta a Bíblia, é dotado de três áreas: física, mental e espiritual. E, na maioria dos casos, quando uma delas está abalada, toda a estrutura do ser é afetada. Por isso, nossas ações devem visar o fortalecimento harmônico de todas elas. Era dessa forma que Jesus agia. Quando uma multidão veio de longe para ouvi-lo, e teve fome, ele supriu todas as suas necessidades (Mateus 15:29-39). Nosso dever é fazer a diferença na localidade em que estamos inseridos e, de acordo com aquilo que podemos, ajudar a mudar a vida daqueles que estão ao nosso redor. Célio Longo é teólogo e diretor do departamento de Evangelismo da Igreja Adventista para a região central do Paraná.
Repensar #2 | 7
Adolescencia: a busca pela identidade Compreender a mente dos filhos que vivem essa fase é um dos segredos para fortalecer os relacionamentos familiares Raquel Moroz
V
ocê provavelmente já deve ter ouvido falar em Crise de Identidade, principalmente quando o assunto está relacionado à adolescência. O psicanalista alemão Erik H. Erikson foi o primeiro a utilizar o termo, cunhado durante a Segunda Guerra Mundial, ao observar a desorientação dos soldados em estado de choque, que tinham dificuldade de lembrar até mesmo do próprio nome. Após alguns anos, a expressão tornou-se uma ferramenta útil para indicar o conflito do processo de amadurecimento dos seres humanos. Para o adolescente, seu maior desafio durante o processo de desenvolvimento é justamente descobrir sua identidade. Como um soldado perdido no estado de confusão mental, ele é atingido pela bomba chamada puberdade. Entre a infância e a vida adulta, seu corpo sofre transformações drásticas, incluindo mudanças emocionais, o que faz com que ele se torne um estranho para si mesmo. Desnorteado e bombardeado por hormônios, começa a se perguntar: “Quem sou eu?”. Normalmente, o adolescente se preocupa em como as pessoas o estão vendo, apesar de demonstrar o contrário. Ele tende a imitar aqueles que admira, como, por exemplo, os pais, os irmãos mais velhos ou um artista da TV. Em sua mente, independentemente dos meios pelos quais ele
8 | Repensar #2 #1
encontrará sua identidade, o mais importante é ter uma. De acordo com Erikson, essa conquista produz uma sensação de autocontrole que acompanhará o indivíduo por toda a vida. Essa busca pela identidade é assustadora não só para o adolescente, mas para sua família. Dos 12 aos 18 anos de idade, ele tem a necessidade de garantir sua personalidade e abandonar a infância. Portanto, para isso se afasta da proteção dos pais numa tentativa de provar que já tem maturidade. Aproximação necessária No entanto, em alguns casos, a própria família não compreende a questão. A estudante Mariana Golveia, de 16 anos, fica chateada porque é tratada pela mãe como se fosse uma criança. “Ela nunca teve tempo pra mim. Ou estava trabalhando ou muito cansada pra me dar atenção. Agora que cresci, ela quer ser minha amiga”, desabafa a jovem. De acordo com a psicopedagoga Fabiola Guedes, Mariana não é a única a reclamar de tal tratamento. Ela acredita que para manter uma relação de amizade com o adolescente, os pais devem começar
Análise
a se relacionar e se preocupar com eles ainda na infância. Quando a preocupação acontece somente na puberdade, o adolescente tende a imaginar que o pai está querendo controlá-lo, dando a impressão de que ele ainda é uma criança. “Adolescente não gosta de ser tratado assim”, diagnostica a profissional. Mas se os pais erraram na infância, nem tudo está perdido. Eles devem se aproximar dos filhos com carinho e atenção e, como amigos, mostrar que são confiáveis. É essa a estratégia usada pela enfermeira Milena Sabino, mãe de três adolescentes. Para ela o maior desafio na educação deles é fazê-los entender que a família tem muito valor. “Procuro ajudar nessa fase incentivando para que eles tenham boas amizades, mas lembrando-os sempre que nós somos seus melhores amigos”, compartilha. Eu no lugar dele? A questão é que compreender a mente deles não é tarefa simples. Para isso é necessário que os pais façam a seguinte pergunta a si mesmos: “Será que já me coloquei no lugar de meu filho adolescente?”. Fabíola lembra que cada adolescente é único, e nem sempre o que os pais acham que irá agradá-lo será suficiente. É preciso passar tempo com ele, dar atenção, ouvir e respeitar suas dores e conflitos. “Mesmo que os conflitos pareçam pequenos, para o adolescente são verdadeiros e sinceros”, enfatiza a psicopedagoga. Ela reconhece que colocar-se no lugar do adolescente exige mudanças. No entanto, tal atitude fará com que o pai entenda o que pensam e, mais do que isso, sinta o que eles sentem. Contudo, é importante evitar o exagero. Não é preciso usar calça jeans desbotada ou ouvir certo estilo musical no rádio do carro para entrar no universo deles. Isso pode parecer artificial e levar tudo por água abaixo. Ser sincero e verdadeiro é o caminho indicado. A psicopedagoga acrescenta que não adianta os pais quererem que seu filho adolescente seja autêntico, carinhoso e verdadeiro se eles próprios vivem uma vida desregrada sem autenticidade, carinho e verdade. “Uma frase de Mahatma Gandhi exemplifica muito bem isso: ‘Seja a mudança que você deseja ver no mundo’. Podemos aplicar isso na relação pai e filho”, orienta. Dizer não é necessário Mas para manter um bom relacionamento às vezes é preciso dizer não. O adolescente briga pela liberdade, mas quando se impõe limites ele sente que realmente é importante para aqueles que o amam. Pode até ser que na adolescência ele prefira ser livre para fazer o que bem entender, entretanto, quando crescer compreenderá as tentativas dos pais de lhe impor limites. Diante de tudo isso, aqueles que desejam manter um bom relacionamento com os filhos e ajudá-los a crescer saudáveis emocionalmente devem se lembrar de que precisam estar ao lado deles em uma das fases mais difíceis de sua existência. Raquel Moroz é jornalista.
“Lembra-te do Teu Criador nos tempos da tua mocidade.” (Eclesiastes 12:1). Esta é uma das citações mais conhecidas da Bíblia sobre juventude, fase que se insere a adolescência. O rei Salomão, em seus últimos dias, deixou esta exortação, pois reconheceu, após intensa reflexão, que para ser um adulto ajustado, a juventude é fase decisiva. Por meio de muitas histórias, a Bíblia apresenta os desafios e mudanças que serão expostos nesta etapa da vida, para que saibamos como agir e direcionar nossos adolescentes. Muitas vezes, como pais e educadores, focalizamos apenas a crise de identidade pela qual passam, e esquecemos que a chave para que eles tenham um desenvolvimento significativo é conhecer e respeitar os limites, o que só acontece quando o adolescente é levado a experimentar a intimidade com Deus por meio do amor incondicional daqueles que são referência. O adolescente questionará e testará a fidelidade daqueles que alegam que o ama. Procurará a veracidade dos atos em cada pormenor. Se a educação for centralizada na verdade, na transparência, na lealdade e amor verdadeiro, o resultado será certamente um adolescente feliz, que passa sim, por mudanças, mas chegará à fase adulta com o pleno desenvolvimento de suas faculdades físicas, mentais e espirituais. A fim de sermos um referencial eficaz, cabe a nós, pais e educadores, seguirmos o conselho bíblico: “Tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, tudo o que é amável, de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isto que ocupe o vosso pensamento.” (Filipenses 4:8). Jorgeana Longo é professora e atualmente dirige o departamento de Crianças e Adolescentes da Igreja Adventista na região central do Paraná.
Repensar #2 | 9
Amnésia financeira
Além de levar ao endividamento, perder o controle sobre o dinheiro e os gastos excessivos também pode afetar a saúde. A cura, no entanto, nem sempre está nas mãos da medicina Altamir Farinhas
F
programando uma viagem para “espairecer” e que em breve faria uma reforma no consultório.
Respondi diversas perguntas, fizemos alguns exames e o restante foi marcado para outro dia. A orientação era de que na próxima consulta eu deveria voltar com os resultados em mãos. Mudamos de assunto, e quando ele perguntou sobre meu trabalho, informei que estava ministrando muitos cursos e palestras, e que as empresas procuravam esses serviços com frequência, pois seus empregados se endividam cada vez mais. Expliquei que os funcionários são o maior ativo da empresa, pois detêm o conhecimento, ideias, relacionamentos e processos, e que grandes companhias se preocupam com isso.
Perguntei se eu havia me excedido e me intrometendo em sua vida. Ele declarou que, na verdade, eu lhe fizera um favor e comentou com pesar que como médico não tem décimo terceiro nem FGTS, e que devido ao período de férias o número de consultas cai, o que reflete em seu faturamento. Decepcionado, o doutor me pediu ajuda para fazer um planejamento financeiro, pois, apesar de tanta coisa que aprendeu na faculdade e em suas especializações, nada lhe foi falado em relação ao assunto. Ele então me perguntou se é comum que as pessoas não se organizem e se esqueçam de suas dívidas. Declarei que sim, atitude essa que chamo de “amnésia financeira”. “As pessoas querem esquecer as contas, mas os credores dificilmente o fazem”, ironizei.
ui ao médico fazer o meu check-up anual. Ao entrar em seu consultório, ele perguntou sobre minha família e eu disse que estávamos todos bem, graças a Deus. Aproveitei o momento e indaguei sobre a sua. Ao contrário de mim, a situação não estava nada bem. Ele me contou que havia se separado. “Poxa, que notícia ruim!”, pensei comigo. O doutor Sued notou meu constrangimento e pediu para que eu não me preocupasse, já que não me dirigi ao consultório para saber de sua família, e sim sobre minha saúde.
O médico, por sua vez, contou que ouvia muito sobre esse assunto no consultório. Os casos variam desde pessoas com ansiedade, angústia à depressão. Ele até receita alguns medicamentos, mas lhe disse que o que esses pacientes realmente precisam é de educação financeira. Comentei que o estresse causado pelo desequilíbrio econômico é tão grande que o empregado pede demissão, falta ao trabalho e gera problemas de relacionamento em seus círculos profissionais e pessoais. Nesse momento, o doutor encostou-se em sua cadeira e falou pausadamente: “Eu sei bem o que você está falando. Trabalho muitas horas no hospital e no consultório, não tenho tempo para a esposa e filhos, e quando perdi o controle financeiro, peguei dinheiro emprestado até de agiota”, desabafou. “Isso causou muito estresse e minha mulher pediu a separação. Em um mesmo round fui golpeado diversas vezes. Ao cair na lama me lembrei do banco, da financeira, do financiamento do carro, equipamentos que comprei para o consultório, cheque especial, cartões de crédito, empréstimos que fiz junto a familiares e amigos e apaguei.”
Ao perceber meu olhar, ele parou de falar e reconheceu: “Ops, estou cometendo o mesmo erro, não?” Tentei levá-lo a refletir e questionei se ele se lembrava do IPVA, IPTU, Imposto de Renda, pagamento de férias de funcionários, cheques pré-datados e os demais compromissos. Sued mudou o semblante, ficou em silêncio e fitou o olhar para longe.
Antes de sair, fiz uma última pergunta. “De agora em diante, como o senhor pretende lidar com suas finanças?”, questionei. O médico apertou minha mão como quem agradece por ter recebido um presente e pontuou: “Reconheço que gasto sem pensar e não invisto tempo fazendo um planejamento financeiro”, constatou. “Mas nunca é tarde para aprender. De hoje em diante vou melhorar meus hábitos e tentar reconquistar o que perdi.” Ao me despedir, perguntou-me quando poderíamos conversar novamente sobre sua saúde financeira. Respondi que teríamos um longo ano pela frente e diversas oportunidades para fazê-lo. Consulta encerrada. Altemir Farinhas, palestrante e especialista em Finanças Pessoais, autor dos livros “Cura! Há Solução Para Sua Vida Financeira” e “Dinheiro? Pra que Dinheiro?” @ProfFarinhas www.equilibriofinanceiro.com.br
Quando acordou, Sued estava em uma cama de hospital. Fora socorrido por um amigo. Perguntei lhe como havia deixado as coisas chegarem naquele estado, o que ele não soube responder. “Quando abri os olhos já era tarde”, calculou. Em seguida, questionei se ele havia aprendido algo com a lição e como iam suas finanças. O doutor Sued identificou que, agora, tirando o valor da pensão, conseguia pagar as contas do consultório e ainda guardar um pouco. Expliquei que esse é o ideal, gastar menos do que se ganha e investir o excedente. Nesse momento fui interrompido por ele, que me mostrou a propaganda de um carro novo, partilhou que estava Repensar #2 | 11
Palavras que transformam Por mais simples que seja, a mensagem de um livro pode causar impactos que perpetuarão ao longo de uma história Jeferson Fortes
T
arde de sexta-feira. O relógio indicava quase 3 da tarde. Pedro não imaginava que após abrir a porta sua vida nunca mais seria a mesma. Havia muito tempo que sua família não entendia o significado dessa palavra. O alcoolismo havia destruído a vida daquele homem e, consequentemente, de seus dois filhos e de sua esposa. Quando olhou para fora, se deparou com um jovem que dizia trazer orientações sobre bem estar familiar. Ao final da conversa, o visitante orou com Pedro e deixou uma literatura muito especial. Aquele encontro não fora apenas um momento pontual. Fora, na verdade, um divisor de águas para a família. Aquele foi o dia em que a esperança de um recomeço penetrou naquele lar. O livro ali deixado tinha por título Ainda Existe Esperança. Pedro, que não era uma pessoa dada à leitura, se entregou a ela por causa da estima que teve pelo jovem. Em tais páginas, ele encontrou a trilha para uma vida nova e a possibilidade de assim mudar toda sua história. Experiências como essa estão fazendo parte da vida de um número de pessoas que cresce a cada dia. Pessoas que vivem em uma casa cheia, mas se sentem sozinhas. Que experimentam um relacionamento cuja chama do amor há muito se apagou. Filhos que não têm diálogo com seus pais e buscam saciar a solidão nas ondas da internet. Famílias que foram destruídas pelo álcool, drogas e pornografia. Pessoas que precisam de esperança. A Bíblia narra que um dia Jesus teve um encontro especial com uma pessoa assim. Em uma época em que as leis eram muito duras, uma mulher foi tomada em
#1 12 | Repensar #2
adultério e, como consequência, deveria morrer. Ela não via como escapar da condenação. Não tinha sequer coragem de levantar a fronte e olhar nos olhos dos que estavam ao seu redor. O texto bíblico diz que, de forma vergonhosa, ela “foi colocada em pé diante de uma multidão”(João 8:3). Sua situação era desesperadora. Recomeço Essa mulher não imaginava que naquele dia, talvez o mais vergonhoso de sua vida, receberia o que realmente desejava: uma nova chance. Enquanto todos a condenavam por sua conduta, Jesus fez o contrário. Na realidade, aqueles acusadores queriam ver a sua atitude. Se ele a condenasse, poderiam indagar: “Que tipo de amor é esse que ele ensina?”. Por outro lado, se a absolvesse, eles o condenariam também pelo fato de Cristo ir contra as leis da época. A situação era delicada. Em uma atitude inesperada, Jesus se abaixa e, ali, no solo empoeirado, começa a escrever. Ele não escreve em um local onde suas letras seriam perpetuadas. Ele não usa tinta ou algo semelhante. Usa apenas seu dedo e a poeira do chão. O que Jesus fez naquele dia foi mostrar que por meio do seu poder ele pode fazer com que nossos erros passados sejam apagados. Apagados como o vento apaga algo que foi escrito na terra. Naquele dia, Jesus tirou um fardo das costas de alguém que não via saída. Ao olhar para a atualidade, vemos que ele continua a fazer o mesmo. Você se lembra de Pedro e de sua família, descritos no início deste texto? São histórias de pessoas assim que Cristo quer reescrever. Existem hoje homens e mulheres que batem de porta em porta para levar uma mensagem de esperança por meio da literatura, como aquele jovem mencionado no primeiro parágrafo. Os livros que carregam consigo são escritos e impressos para conduzir à Bíblia e aos seus ensinos. Educadores e estudiosos acreditam que as palavras transformam vidas. Elas podem garantir um futuro, uma profissão ou até mesmo uma vaga na universidade. De igual modo, podem trazer um novo sentido para um alcoólatra e transformá-lo em alguém sóbrio. Jesus também usava as palavras para transformar corações, independentemente dos dramas ali contidos. Pode ser que você não consiga visualizar uma forma de vencer seus problemas ou se sinta sozinho depois de um ato falho. Há alguém, no entanto, que te garante outra oportunidade. As palavras de Cristo ainda ecoam até os dias de hoje, e declaram: “Eu não te condeno, vá e viva longe do mal” (João 8:11). Jeferson Fortes é teólogo e diretor do departamento de Publicações da Igreja Adventista para o centro do Paraná.
Estatísticas de brasileiros com algum tipo de deficiência desafiam o governo e a sociedade a pensar ações que incluam e garantam a dignidade de pelo menos 45 milhões de pessoas
Márcio Tonetti
O
Censo 2010 do IBGE forneceu uma dimensão atualizada do tamanho do desafio que a inclusão significa para o País. Segundo o levantamento, 45 milhões de brasileiros afirmaram ter algum tipo de deficiência, o que representa cerca de 24% da população. São pessoas, por exemplo, com dificuldade de audição, de visão ou com problemas motores, verificados desde o nascimento ou em função de doenças ou acidentes. Quase 13 milhões de pessoas disseram aos pesquisadores do IBGE que têm uma deficiência grave motora, visual, auditiva ou mental, dado que revela que a ocorrência de deficiência(s) entre os habitantes é mais comum do que se imagina. Manoel Evangelista nasceu sem a visão por causa do glaucoma. A despeito disso, leva uma vida independente. Semanalmente, ele apresenta um programa na rádio Novo Tempo Curitiba, intitulado “O Universo Dos Que Não Veem”, fazendo dos microfones um canal para informar a sociedade e promover a inclusão social. Apesar dos avanços dos recursos tecnológicos disponíveis e das leis sancionadas para garantir os direitos da pessoa com deficiência, os desafios ainda são substanciais. Na prática, o tema da inclusão, embora em voga, nem sempre vai além do discurso. Por isso, em Curitiba, há 21 anos existe o Centro de Apoio Operacional do Ministério Público, que ajuda os promotores de justiça de todo o Estado que atuam na defesa dos direitos da pessoa com deficiência.
Repensar #2 | 13
“Aqui também funciona a promotoria de defesa da capital, recepcionando reclamações, esclarecendo dúvidas das pessoas, ingressando com medidas judiciais e administrativas, quando da violação dos direitos da pessoa com deficiência”, explica a procuradora de Justiça, Rosana Beraldi Bevervanço. Outro avanço registrado na região nos últimos anos foi a criação da Secretaria Especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência. A cidade foi a quarta capital brasileira a criar um órgão do gênero, depois de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. “O papel fundamental da Secretaria é funcionar como articuladora, como uma interface entre o desejo da pessoa com deficiência, respeitando todas as suas especificidades, e o poder público; porque nós sabemos de nossas reais necessidades e de nossas urgências. Esse entendimento por parte do poder público ficava um pouco distante entre a nossa real necessidade e o que eles podiam oferecer”, explica o coordenador da pasta, Irajá de Brito, que ficou paraplégico depois de um acidente.
Leis inclusivas Nas últimas décadas, algumas leis foram aprovadas na tentativa de maximizar a inclusão. Foi o caso da Lei de Cotas, criada em 1991. Essa legislação prevê a reserva de dois a cinco por cento das vagas para deficientes. Quem não cumpre a lei fica sujeito a multas, que nem sempre são leves. Embora a lei exista há 21 anos, nem todas as empresas, entretanto, obedecem a legislação. “Não é toda empresa que se propõe a investir, gastar dinheiro para qualificar um candidato com deficiência para ocupar uma vaga. Ela quer ele pronto. A desculpa é que qualificação é problema do governo e que, às empresas, cabe a geração de emprego e riquezas. Mas quando se considera a Lei de Cotas, o objetivo dela não é só dar emprego, e sim promover a inclusão, tanto social quanto profissional da pessoa”, pondera Enilson de Moraes, presidente da Associação Brasileira de Pessoas com Deficiência, entidade que capacita cidadãos com necessidades especiais para o mercado de trabalho. A Associação dos Deficientes Visuais do Paraná (Adevipar), localizada na capital do Estado, também cumpre o seu papel na readaptação de pessoas sem a visão. Leomir Barbosa, também deficiente visual, atua como professor na entidade. “Como trabalho educacional, nós cuidamos da leitura, da escrita, da orientação em mobilidade e a educação de uma forma geral”, explica o diretor de profissionalização da Adevipar. Foi por meio da entidade que Luiz de Oliveira Santos descobriu um novo mundo, por meio da ponta dos dedos. Depois que perdeu a visão, ele precisou recomeçar do zero, aprendendo a ler e escrever novamente. Trocou o lápis e a caneta pela reglete, um dos instrumentos usados pelos cegos para a escrita em Braile. “Com o tato, a gente vê muita coisa e percebe muita coisa”, conta Luiz. Na Adevipar, a inclusão também é tirada de letra a partir de um projeto articulado com aquilo que é a paixão dos brasileiros: O futebol. Todas as quintas-feiras há treino da categoria B1, na qual apenas o treinador e os goleiros enxergam. A equipe representa o Estado do Paraná em campeonatos nacionais. Trata-se de um time de craques, pois muitos deles integram a seleção brasileira de futebol para cegos. “Meu sonho agora é jogar uma paraolimpíada, se Deus quiser em Londres, em 2012”, espera Emerson Carvalho. “Através do esporte, nós tiramos muitos jovens e crianças de um isolamento, crianças que ficavam restritas ao ambiente de casa e que acabavam sendo privadas de muitas oportunidades para o melhor desenvolvimento motor, afetivo e social”, analisa Paulo Roberto Moreira, treinador da seleção de futebol de cegos do Paraná. 14 | Repensar #2 #1
Apesar dos avanços dos recursos tecnológicos disponíveis e das leis sancionadas para garantir os direitos da pessoa com deficiência, os desafios ainda são substanciais.
Políticas públicas O desafio da inclusão não cabe, entretanto, somente às empresas e ONGs. O poder público também precisa tornar a inclusão uma questão prioritária, fazendo com que projetos saiam do papel. As necessidades da pessoa com deficiência ainda permeiam áreas elementares, como a de transporte. Isonete dos Santos Carneiro, moradora de Colombo, na região Metropolitana de Curitiba, depende do transporte público para levar o filho para seções de hidroterapia na capital. Encontramos a dona de casa num terminal de Curitiba. A despeito das várias adaptações realizadas para deficientes nos terminais, como a instalação de rampas de acesso e elevadores nos ônibus, etc., Isonete ainda enfrenta dificuldades para conduzir o filho, que é cadeirante e possui deficiência mental. “A principal dificuldade nossa é nos bairros. Às vezes, o cobrador não sabe lidar com o elevador e derruba a gente. No centro funciona bem; normalmente é tudo tranquilo, apesar de que, neste ônibus aqui, o cinto de segurança é curto demais e inviabiliza completamente que a gente prenda a cadeira. É um risco porque diante de qualquer freada, a cadeira pode atropelar a gente e machucar a criança”, desabafa a dona de casa, enquanto mostra o cinto de segurança estragado. É inegável que os avanços registrados nos últimos anos foram significativos. Segundo o responsável pela Secretaria Especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Curitiba conta atualmente com 86% da sua frota de ônibus adaptada e 66% dos alimentadores também ajustados. “Como o nosso prazo é até 2014, isso nos permite supor que, ao final desse período, Curitiba será, provavelmente, a única capital brasileira a ter toda a sua frota adaptada”, acredita Irajá. Nas últimas duas décadas, a cidade também investiu em outras soluções,como semáforos com indicação sonora e aviso em áudio dentro dos ônibus comunicando qual será a próxima parada, para facilitar a vida dos deficientes visuais, trabalho conjunto com as empresas concessionárias para replanejamento das calçadas, retirando postes e outros obstáculos ou evitando que eles sejam instalados em locais que comprometam a acessibilidade, entre outras. Mas os desafios ainda estão por toda parte, mesmo nos municípios onde o processo de adaptação para os portadores de necessidades especiais está num estágio mais avançado. “A cidade nunca está pronta. Todos os dias tem coisas para fazer, demandas mil”, ressalta Olga Mara Prestes, arquiteta da Urbanização de Curitiba S/A (URBS). Possibilitar uma vida digna a esses milhões de brasileiros demanda uma engenharia complexa, que exigirá esforços contínuos de todos os setores da sociedade, a fim de que um número tão expressivo de pessoas não seja tratado com questão meramente estatística. Márcio Tonetti é jornalista. Repensar #2 | 15
FATOS
RECENTES
Alunos paranaenses vencem competição esportiva nacional O esforço e preparo dos estudantes paranaenses durante a disputa das modalidades individuais da edição 2011 das Olimpíadas Escolares garantiu que o Estado somasse mais 44 medalhas ao quadro de vitórias. Dentre elas, uma foi conquistada pela aluna Lorhanna Saboya Rodrigues, do Colégio Adventista Boa Vista, de Curitiba. A judoca, de 17 anos, competiu na modalidade meio-pesado e levou o bronze. Essa foi a terceira participação de Lorhanna na competição escolar. Nas outras edições, a estudante também garantiu medalhas e subiu ao pódio. Em setembro, em João Pessoa, Luanh Saboya Rodrigues conquistou o segundo lugar na categoria médio-masculino do Judô e trouxe para o Paraná o segundo lugar. Rodrigues é irmão de Lorhanna e estuda na mesma instituição.
Evangelismo via satélite resulta em decisões no PR As mensagens que atravessaram o País durante o Evangelismo Via Satélite, transmitido a partir de Belo Horizonte, também foram acompanhadas no centro do Paraná e transformaram a vida de mais de duas centenas de pessoas que vivem nessa localidade. O programa, apresentado pelo pastor Luís Gonçalves, evangelista da Igreja Adventista para a América do Sul, não foi visto apenas nos templos. Diversas casas tiveram suas portas abertas para receber interessados. Ao final da série de palestras, em toda a região central do Paraná um total de 240 pessoas haviam passado pelo batismo.
Encontro matinal leva 40 ao batismo e incentiva plantio de igrejas Foram 40 madrugadas dedicadas à oração e à adoração a Deus logo nas primeiras horas do dia. A iniciativa foi realizada pela Igreja Adventista do Portão, em Curitiba, e levou 40 pessoas ao batismo, uma a cada manhã. Durante o período, cerca de 130 pessoas participaram diariamente do encontro, que tinha início às 5h30. Aqueles que não compareceram pessoalmente puderam acompanharam o programa via internet, inclusive a partir de outros países. As reuniões também visaram estimular a igreja a abraçar o desafio de implantar um novo templo no bairro Água Verde, em Curitiba. A localidade é conhecida por concentrar a população com um dos mais elevados níveis sociais da capital paranaense. A proposta integra o projeto Templos de Esperança, cuja meta é abrir 800 novas congregações até 2015 nos Estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.
Campori foca relacionamento com Deus Em pleno feriado, 2.700 adolescentes deixaram o descanso de lado para participarem durante quatro dias do I Campori de Desbravadores realizado pela Igreja Adventista na região central do Paraná. O encontro aconteceu no Centro de Eventos de Ponta Grossa e envolveu os participantes em atividades que visaram o fortalecimento físico, intelectual, social e espiritual. Eles ainda saíram às ruas, arrecadaram alimentos que foram distribuídos para entidades locais e entregaram exemplares do livro Ainda existe Esperança. No centro da cidade, além de um desfile ritmado por fanfarras, eles também convidaram a população para uma série de palestras bíblicas que ocorreria no município. O Clube de Desbravadores é destinado a juvenis e adolescentes entre 10 e 15 anos, cujas atividades visam o desenvolvimento do indivíduo em todas as suas áreas. 16 | Repensar #2
ASA e Conab fecham parceria no interior Em um encontro que reuniu a liderança da Igreja Adventista do Sétimo Dia na região central do Paraná, representantes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e da sociedade de Telêmaco Borba, no interior do Estado, resultou na assinatura de um contrato histórico. A parceria inédita entre a Conab e a Ação Social Adventista (ASA) do município garante à Igreja Adventista do Sétimo Dia, por meio da ASA local, receber um total de 70 toneladas de alimentos e 31 em reserva. A quantidade, que será distribuída ao longo de um ano, será entregue semanalmente pelas congregações da região e atenderão aos necessitados da localidade.
Programa auxilia conclusão de construções Templos que estão finalizando suas construções, mas enfrentam problemas orçamentários, agora contam com um auxílio financeiro para concluir a obra. Por meio do programa “Igreja 100% concluída”, a sede administrativa da Igreja Adventista na região central do Paraná tem contribuído para que o maior número de congregações sejam finalizadas e inauguradas. A iniciativa visa auxiliar o término de obras começadas antes do lançamento do projeto “Templos de Esperança”, que visa construir 800 congregações em todo o Sul do Brasil até 2015. Para solicitar a inclusão no programa, os templos precisam se encaixar em dois pré-requisitos: Estar legalizados perante os órgãos municipais e com as obras caminhando para a etapa final. Diante dessas condições, a sede administrativa auxilia a construção com um total de 50% dos custos necessários.
Prefeito de Curitiba visita Rádio Novo Tempo O prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, visitou os estúdios da Rádio Novo Tempo, localizada na capital paranaense. Ele concedeu uma entrevista ao Jornal da Manhã, ocasião em que respondeu perguntas relacionadas à cidade, seus desafios e a disputa eleitoral deste ano. Antes de sua participação, no entanto, Ducci foi recebido pelos administradores e funcionários da Igreja Adventista para a região central do Estado na sede da instituição, onde a emissora está situada. Em seu discurso de agradecimento pela recepção, o prefeito elogiou as ações e frentes de atuação dos adventistas. O prefeito foi presenteado com os livros Esperança Viva, que apresenta de forma detalhada as diversas áreas de atuação da Igreja Adventista, e O Grande Conflito. O prefeito de Curitiba, Luciano Ducci (direita), recebe os livros “O Grande Conflito” e “Esperança Viva”.
Repensar #2 | 17
PROJETOS
FUTUROS
Igreja planeja abrir mil pontos de encontro durante a Semana Santa A partir do dia 1º de abril, a Igreja Adventista em toda a América do Sul dá início ao programa da Semana Santa, uma das mais importantes ações desenvolvidas pela instituição ao longo do ano. A iniciativa é vista como uma oportunidade para despertar e fortalecer o interesse da comunidade pela pessoa de Cristo, já que nesse período muitos buscam fortalecer sua fé. O objetivo é levar amigos para participar das reuniões, que ocorrerão em aproximadamente mil pontos somente na região central do Paraná. Os encontros devem acontecer, inicialmente, em casas, salões e empresas. Nos dias 6, 7 e 8, no entanto, nos templos adventistas.
Encontro visa crescimento espiritual de anciãos Líderes nas igrejas locais, os anciãos de Curitiba e região metropolitana participam de um concílio entre os dias 20 e 22 de abril na cidade de Campo Largo. O programa objetiva reforçar os projetos missionários que serão desenvolvidos ao longo do ano, as normas e condutas do cargo e afinar o trabalho com outros departamentos. Mas o principal propósito do evento é fortalecer a espiritualidade dos líderes que, na ausência do pastor, conduzem o andamento das programações em cada templo. Para tanto, o encontro oferecerá um estudo aprofundado sobre o Espírito Santo, tema que será conduzido pelo professor doutor Amim Rodor, da Faculdade de Teologia do Centro Universitário Adventista de São Paulo.
Semana de saúde busca estimular novo estilo de vida
Caravana da Esperança chega em maio
Interessados em obter um estilo de vida saudável de acordo com a visão adventista já tem data marcada para acompanhar as palestras do médico Jea Myung Yoo, coreano radicado no Brasil que atualmente auxilia o departamento de saúde da Igreja Adventista na região central da capital paulista. Com duração de uma semana, o encontro intitulado “Restaurando Saúde” ocorre entre 24 de abril e 6 de maio.
Com a presença do pastor Ivan Saraiva, orador de A Voz da Profecia, e do quarteto Arautos do Rei, as cidades de Curitiba, Ponta Grossa, Telêmaco Borba e Guarapuava recebem em maio a Caravana da Esperança. O programa percorre as localidades entre os dias 18 e 22 com o objetivo de despertar o interesse dos convidados pelo estudo da Bíblia.
Durante o período, os participantes usufruirão de um estilo de vida simples, saudável e ligado à espiritualidade em um ambiente cercado pela natureza. A proposta é levar o indivíduo a entender que questões relacionadas à saúde que parecem normais, como as dores de cabeça, na verdade, não são. O encontro também será marcado pela reflexão e o fortalecimento da fé como item indispensável para um estilo de vida diferenciado. 18 | Repensar #2
Baseado em mensagens, música e oração, a iniciativa ainda visa levar ao batismo aqueles que se decidiram durante a Semana Santa e preparar pessoas para a Semana de Colheita Jovem.
Para saber mais sobre os programas e projetos desenvolvidos pela Igreja Adventista na região central do Paraná, acesse www.usb.org.br/acp
Em breve você entenderá por que 2012 será um ano diferente