Especial - Dia Mundial da Água

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Editorial

Só no papel A lei específica da Billings está em vigor há um ano. Apesar do estardalhaço propagado pela aprovação no plenário da Assembleia Legislativa, na prática, sua execução está estagnada. Às vésperas do Dia Mundial da Água (22 de março), os gestores municipais alegam que a nova legislação demanda ajustes em cada Plano Diretor. Mas será que em um ano isso não poderia já ter sido encaminhado? Aliás, mais de um ano. Antes mesmo da aprovação, os itens do documento já eram discutidos e, se houvesse vontade política, muitos pontos poderiam estar em outro patamar. A torcida é para que, ao longo deste ano, o tema ganhe a realidade dos moradores do entorno da represa que tanto aguardam as regularizações e as devidas reformulações e contrapartidas. Se o projeto extrapolar para 2012, dificilmente sairá do papel, pois, em ano eleitoral, todas as aspirações políticas têm um único endereço: as urnas. Ninguém quer que a lei específica da Billings tenha o mesmo marasmo e inoperância da legislação da represa de Guarapiranga, em São Paulo. Não bastam apenas leis salutares. É preciso legislação viável e executável. E mais, cabe ao poder público – na gestão compartilhada entre Estado e municípios – fiscalizar as áreas de mananciais com afinco para que outras instalações impróprias não sejam ratificadas. Caso contrário, o marketing evidenciado na aprovação será visto também na sua rejeição. Nessa equação, perde o meio ambiente e perde a população.

Não há o que comemorar, diz especialista Renato Tagnin afirma que poder público e sociedade protagonizam cenário alarmante. arquiteto e urbanista Renato Tagnin, especialista em Planejamento Urbano, afirma que não há o que ser comemorado no Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março. Na visão dele, o atual cenário protagonizado pelo poder público e pela sociedade é alarmante e, se não houver reflexão profunda que provoque intervenções, o quadro poderá piorar. O especialista cita como primeiro item da lista de mudanças os indicadores que sustentam as avaliações de crescimento da economia. Tagnin afirma que vibrar com o crescimento dos números ‘frios’ sem aferir o contexto ambiental ‘finito’ é algo surreal. Outro ponto citado pelo arquiteto é o controle da expansão dos limites urbanos. Se não houver mecanismos e políticas públicas que concentrem os moradores em locais próximos do trabalho, as incidências de chuva, segundo Tagnin, serão cada vez maiores.

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Tagnin: conta não vai fechar Repórter Diário: O que temos a comemorar no Dia Mundial da Água? Renato Tagnin: Não temos muito o que comemorar porque a maioria dos processos que ameaça a renovação da água está em crescimento. Temos sim a evolução da consciência,mas em menor proporção. Vamos precisar de mais esforço para empatar esse jogo. Se a economia continuar a medida por indicadores de crescimento sob uma base ambiental finita, a conta não vai fechar. RD: Quais são esses processos? Tagnin: Um deles é a expansão da monocultura.A natureza é diversa e nós queremos escolher quem vai viver e morrer por meio desta prática. O equilíbrio se dá pela diversidade e não o contrário. Para você ter uma ideia,o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos. Só que tem um detalhe: boa parte deles está proibida no próprio País fabricante.

Rua Álvares de Azevedo, 210 – Centro – Santo André - Tel.: 4427-7800 www.reporterdiario.com.br

RD: Você falou de indicadores. Qual seria a fórmula para aferir o crescimento? Tagnin: Tem de medir as regiões. Por exemplo,se os ecossistemas estão se expandindo ou sendo degradados. Se as áreas equilibradas estão diminuindo de tamanho. Se as áreas que permitem a vida estão diminuindo. Não tem como falar em crescimento econômico. Não tem fábrica de água que vai sintetizar isso. Como está a fábrica de água que é a natureza? A maioria das coisas fabricadas depende de água. Se a água não é fabricada, temos problemas. Tudo isso é fácil de detectar, é só olhar a nossa volta. RD: Qual o principal alerta para a sociedade? Tagnin: Para termos água na natureza. Se nós estamos destruindo a natureza para enriquecer aos poucos, o gato su-

Jornalista responsável: Airton Resende Edição: Aline Bosio e Maria do Socorro Diogo Reportagem: Aline Bosio, Natália Fernandjes, Leandro Amaral, Carolina Neves e Larissa Marçal.

biu no telhado (risos). Quanto menos natureza protegida nós tivermos, menos nós vamos ter vida. RD: O governo do Estado pretende enviar parte da evasão das águas do rio Pinheiros à Billings. Não vai prejudicar a represa do ABC? Tagnin: Quando que a gente vai pensar em ações preventivas para as inundações? Elas não estão na pauta. A região metropolitana ainda não é participativa e nós insistimos no autoritarismo de cada município. Boa parte das enchentes graves é causada pela ocupação e expansão urbana e o número de vítimas tende a aumentar. Nós causamos as enchentes e estamos aumentando as causas com a especulação imobiliária. Essa iniciativa é o mesmo que você ter um vizinho no apartamento de cima que foi viajar e deixou a torneira aberta para encher uma banheira.Vai encher a banheira e todo o apartamento e, consequentemente, vai afetar o morador debaixo. Não adianta o apartamento debaixo tentar ‘vedar’ o teto.Tem de agir para fechar a torneira. Isso que o Estado quer fazer é o mesmo que tentar vedar o teto, não resolve. RD: O Estado vai encaminhar a lei que prevê a criação das regiões metropolitanas. O que acha disso? Tagnin: Isso vem com, no mínimo, 30 anos de atraso. RD: O que o poder público pode fazer de imediato? Tagnin: Parar a expansão urbana e discutir o papel de cada município. Pensar nas compensações para aqueles locais que estimulam a produção de água na natureza e num plano habitacional que estimule as pessoas a residir perto do trabalho. Além disso, é preciso incentivar proprietários e municípios pela implantação de áreas verdes que diminuam as ilhas de calor e, consequentemente, as enxurradas.

Comercial: Claudia Plaza e Alessandra Duran Fotos: Marciel Peres, Carolina Neves e divulgação Projeto Gráfico: Rubens Justo Suporte Operacional: Pedro Diogo Administrativo: Rita de Cássia B. da Silva


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Lei da Billings completa um ano sem resultado palpável lei específica da Billings, nº 639/ 2008, aprovada com alarde pela Assembleia Legislativa de São Paulo em junho de 2009 e regulamentada pelo então governador José Serra (PSDB) em janeiro de 2010, completou um ano sem resultados palpáveis ou perceptíveis à população que vive no entorno da represa. Segundo Márcia Maria do Nascimento, subgerente do Projeto Estratégico Mananciais e secretária executiva do Subcomitê da Billings-Tamanduateí, a lei trouxe ferramentas importantes que facilitam a regularização fundiária, mas dentro de conjunto de normas e critérios, a regularização das edificações já existentes irá ocorrer mediante compensação ambiental. “Todas as moradias terão possibilidade de regularização se efetuar essa contrapartida”, diz. A compensação varia de acordo com o tamanho do lote e a área construída. Na prática, as regularizações ainda não se deram na velocidade alardeada. Segundo Márcia, o primeiro ano serviu para adaptações do poder público no que diz respeito ao corpo técnico destinado para licenciamentos e fiscalização. “Antes, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente fazia as duas coisas. Agora, o licenciamento fica com a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) e a fiscalização com a pasta”, completa. Apesar da baixa velocidade na materialização da lei, a secretária cita que algumas residências já foram regulariza-

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CONFLITO Márcia conta que o grande problema da legislação anterior foi a falta de sintonia com a lei peculiar dos municípios. Como as determinações previstas no documento estadual eram divergentes do estabelecido no Plano Diretor na alçada municipal, o morador conseguia o licenciamento apenas numa esfera. Tal fato comprometia a regularização, a qual demanda o crivo favorável nos dois âmbitos. A subgerente afirma que a nova legislação apara essa aresta com a adequação do Plano Diretor de cada município. “A lei específica estabelece parâmetros gerais de tamanho de lote, área construída, taxa de permeabilidade e área vegetada. Para não gerar conflito, cada cidade deve adaptar-se à nova realidade”, diz, ao justificar que seria impossível fazer lei estadual numa escala regional. Segundo a secretária, o período decorrente da regulamentação da lei serviu para conscientizar a população do entorno da represa. Márcia afirma que vários profissionais têm atuado no contato direto com os moradores, principalmente nas escolas.“Vamos realizar também cursos de capacitação junto aos órgãos públicos municipais”, salienta, sem precisar a data.

Ribeirão adequou o Plano Ribeirão Pires finalizou em março as modificações no Plano Diretor,tendo em vista a nova legislação. Depois de nove audiências públicas e da participação efetiva do Condema (Conselho Municipal de Meio Ambiente), agora a proposta seguirá para o Executivo ratificar e, posteriormente, a Câmara chancelar. A medida se faz necessária porque 67% do município está situado em áreas que exigem aplicação da lei da Billings. Segundo as regras estabelecidas, lotes de 125 m2 já poderão ser regularizados – a legislação municipal previa que somente áreas de 240 m2 tivessem a situação regularizada. “Nós tivemos de

Especialista critica demora

das. Porém, afirma que não há como calcular quantas regularizações foram feitas no período, pois várias situações já estavam encaminhadas com base na lei vigente até então, a lei de mananciais (1172/76).

fazer adequação do Plano Diretor.Por isso acredito em resultados efetivos, neste sentido, a partir do segundo semestre”, disse o prefeito Clóvis Volpi (PV). De acordo com informação extraoficial, cerca de 10 mil moradias aguardam regularização. Santo André, São Bernardo, Diadema e Rio Grande da Serra informaram fazer os levantamentos necessários para se enquadrarem às exigências. “O processo deve ser maturado assim mesmo, pois implica, principalmente, na conscientização”, diz o secretário de Gestão Ambiental de São Bernardo, Giba Marson.

Projeto visa preservar represa

O arquiteto e urbanista, Renato Tagnin, critica a morosidade do projeto. Segundo o especialista, atribuir às adequações o ‘marasmo’ do primeiro ano de vigência da lei é desculpa.“Não é um trabalho de adequação que começa agora. Esse diálogo já existe há, no mínimo, cinco anos”, disse ao ressaltar que falta prioridade na execução. Apesar das projeções otimistas feitas pelos envolvidos, Tagnin prevê futuro menos promissor para a Billings.“E só vejo piorar a situação sob o aspecto da aplicação.Temos funcionários preparados? Temos mapas?”, questiona o arquiteto, referindo-se ao zoneamento delimitado pela lei que interfere na regularização.


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Tamanduateí está mais poluído do que se imagina inguém duvida que o rio Tamanduateí, que corta Santo André, São Caetano e Mauá, é poluído. Entretanto, dados preliminares de estudo do Grupo de Pesquisa e de Análise do Meio Ambiente da Universidade Municipal de São Caetano (USCS), iniciada em outubro passado, apontam que a qualidade da água é pior do que se imaginava. A coleta das amostras analisadas pela equipe, formada por professores e estudantes,é distribuída em 17 pontos espalhados pelo rio, além do Córrego dos Meninos, Córrego das Grotas/Utinga e Córrego Moinho, que verificam o IPH (Índice de Poluentes Hídricos), levando em conta as características do entorno do curso d’água, como relevo, tipo de moradia e indústrias. Para a professora e coordenadora do projeto, Marta Marcondes, o que mais a surpreendeu nos cinco meses de estudos foi a alta concentração de bactérias do grupo coliformes, aqueles encontrados nas fezes, no esgoto jogado nos córregos e, consequentemente, no rio Tamanduateí. “Todas as águas analisadas apresentam alto índice de contaminação.Isso já era esperado, mas não nestas proporções”, lamenta Marta, que conta que a metodologia do estudo teve de ser ajustada para conseguir contabilizar a quantidade de colonias de bactérias nas amostras. A pesquisa utiliza cebolas para fazer

pera o índice aceitável (que varia de 0 a 1). Metais pesados provenientes de indústrias também foram encontrados nas amostras.

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Alta concentração de coliformes assusta Marta Marcondes parte das análises. Nela, cebolas são colocadas em água limpa para estimular o crescimento da raiz e, posteriormente, colocadas nas águas retiradas para testes. Dependendo da composição do material, pode haver mutação nas células.“Isso não significa que as pessoas que entram em contato com estas águas durante as enchentes, por exemplo, vão virar mutantes. Mas correm risco de apresentar problemas, como de pele”, esclarece.

Poluição não é só esgoto Além do esgoto, os rios e córregos de São Caetano também sofrem com o descarte de outros materiais nocivos à água, como o fosfato, presente no sabão e detergente.“Quando ele é encontrado em um índice muito alto, contribui para alterar a característica do rio e até mesmo provocar sua morte”, diz. No córrego Utinga a concentração do material su-

OBJETIVO O objetivo da pesquisa é avaliar como São Caetano contribui para a qualidade das águas do rio e dos córregos.“O município capta e manda para tratamento 100% do esgoto produzido. Teoricamente, não contribui com o descarte de esgoto no rio, mas ao longo da pesquisa poderemos verificar se há, por exemplo, ligação irregular ou problema em coletor que esteja jogando dejetos in natura na água”, explica. “Também conseguiremos verificar como a água do córrego dos Meninos, que vem de São Bernardo, chega e sai na cidade. O que podemos adiantar é que verificamos pequena melhora depois que ele recebe a água que vem da estação de tratamento de esgoto”, completa. Segundo a professora, a ideia é que outros municípios utilizem a metodologia da pesquisa – que deverá ser finalizada até o fim do ano – para a criação de políticas públicas voltadas ao meio ambiente.

Três cidades do ABC ficam fora do projeto de despoluição do Tietê processo de despoluição do rio Tietê, iniciado há 19 anos, caminha com dificuldade em razão de divergências políticas entre representantes dos municípios que fazem parte da bacia hidrográfica. Além disso, o Projeto Tietê, de responsabilidade da Sabesp, não inclui Diadema, Mauá, São Caetano, Mogi das Cruzes e Guarulhos, pois os cinco possuem serviço de coleta e tratamento de esgoto próprio. A não inclusão do grupo prejudica o projeto, pois não há controle sobre descarte no rio. Na visão da coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica,Malu Ribeiro,o quadro mostra que o Brasil ainda conta com “guetos político-partidários”. “A diferença parti-

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dária é uma das maiores dificuldades e um desafio ainda a vencer”, comenta. Segundo Malu, esses problemas geram dificuldades físicas e atrapalham ações de benefício público. “Quando olhamos para o rio na Capital temos a sensação de que pouca coisa foi feita, mas os municípios ribeirinhos já podem sentir diferenças, como a melhoria dos indicadores de navegabilidade e a presença de mais peixes”, destaca. Para a coordenadora, isso é possível porque, desde 2009,as ações do Projeto Tietê passaram a enxergar o rio como um todo.

to tratado.Diadema trata 13% e Mauá 5%. A Saned (Companhia de Saneamento de Diadema) alega que não participa do Projeto Tietê, mas que está preocupada com a despoluição dos córregos, tanto que aumentou os investimentos em redes de coleta de esgoto (nos últimos dois anos implantou cerca de 20 km) e está construindo coletores tronco. A Foz do Brasil, responsável pela coleta de esgoto de Mauá, informa que estão previstos investimentos da ordem de R$ 150 milhões para ampliação do sistema de esgotamento sanitário.

NO ABC - Entre os municípios do ABC que não participam do Projeto Tietê, apenas São Caetano conta com 100% do esgo-

META - Diadema produz 1,8 milhão de m3 de esgoto por mês, mas apenas 13% tratado. A expectativa é chegar a 38%

até dezembro, com o coletor tronco Curral Grande, um investimento de R$ 4,2 milhões. Em 2012, a meta é atingir 63% com mais dois coletores: Canhema (investimento de R$ 1,1 milhão) e Monteiros/Floriano/Serraria (R$ 2,6 milhões). O índice de 100% de esgoto coletado e tratado só deve ser alcançado em Diadema por volta de 2018, com o coletor tronco Couros, contemplado pelo PAC 2. Mauá conta com 86% de coleta de esgoto e 5% de tratamento, segundo a Foz do Brasil. A previsão é tratar tudo após instalação de ETE (Estação de Tratamento de Esgoto), prevista para 2014. Com os investimentos, a coleta passará para 95% em 10 anos.


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Você já bebeu água hoje? o contrário do que muitos pensam, não é qualquer líquido que pode substituir a água no nosso organismo. Quando se fala na importância de tomar pelo menos dois litros de água por dia, sucos, refrigerantes e afins não cumprem a cota. De acordo com a clínica geral do Grupo Ana Rosa, Eliani Glória, somente a água mineral tem compostos suficientes para hidratar, saciar a sede e contribuir para a manutenção de uma vida saudável. A água de torneira deve ser evitada, a menos que seja filtrada. Presente em grande proporção no organismo do ser humano, a água favorece e participa de todas as funções fisiológicas. Órgãos como coração, rins e pulmões são compostos por cerca de 80% de água. Segundo a médica, uma pessoa saudável gasta mais de três litros de água por dia.“Temos perda de água quando respiramos, transpiramos, andamos e comemos. Em tudo perdemos água, por isso é importante a hidratação constante e reposição dos nutrientes, como sódio, potássio e sais minerais”, afirma. Para repor as necessidades do corpo, o ato de beber água não deve ser lembrado apenas quando surge sede. Segundo a médica, o certo é tomar água antes mesmo do aparecimento da sede. “A necessidade significa que o corpo já está no início do processo de desidratação. Por isso, o hábito de tomar

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Água participa de todas funções fisiológicas

água deveria ser algo muito mais presente no dia a dia de cada um”, explica. BEM-ESTAR - Para quem pratica exercícios físicos, a água favorece o funcionamento adequado de músculos e nervos. Também é igualmente importante para a digestão, pois regula a temperatura do corpo, atividade cerebral e o funcionamento do sistema nervoso, além da lubrificação dos olhos. Na estética a água mineral é fundamental para a higiene do rosto, do corpo e dos cabelos, além de minimizar os efeitos de manchas provocadas pelo sol. Ingrediente indispensável nas dietas,ela também ajuda a controlar o apetite e regula o sistema digestivo. DESIDRATAÇÃO - Uma pessoa pode passar até dois meses sem ingerir alimentos sólidos,no entanto, não suportaria mais de 48 horas sem consumidor líquido. A perda de 15% a 20% de água do organismo pode levar à morte por uremia, que é a intoxicação do sangue. Perdas de líquido de até 5% são consideradas leves; de até 10% são consideradas moderadas e de até 15% são consideradas graves. Outra consequência da falta de água é que o corpo desidratado fica mais vulnerável a bactérias e vírus, o que facilita o desenvolvimento de doenças.


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Reúso de água é estratégia para evitar desperdício utilização indiscriminada da água nas últimas décadas deixou graves consequências, uma delas a escassez. Uma das medidas para amenizar a falta do recurso foi criar mecanismos para evitar o desperdício. Tratar o esgoto e reutilizar a água para fins menos nobres, como resfriamento de caldeiras industriais e limpeza urbana, tem sido uma aplicação com sucesso. O reuso planejado da água faz parte da estratégia global para a administração da qualidade das águas, proposta pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Em São Caetano, desde maio de 2001 água não potável originária da ETE ABC (Estação de Tratamento de Esgotos do ABC) é utilizada para fins urbanos.Só em 2010 o município consumiu 2,5 mil m3 de água de reúso em lavagens de ruas, rega complementar de áreas verdes, entre outros. Em Santo André a água de reúso também é proveniente da ETE ABC e, entre outros fins, também é usada para desobstrução de redes de esgoto e do sistema de drenagem. “Este tipo de ação deveria ser aplicada por todos os municípios, pois evita que a água potável seja

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Processos da Estação de Tratamento do ABC, Sheila Carvalho.

Engenheira Sheila Carvalho aponta para quantidade de bactérias utilizada para fins menos nobres”, afirma o gerente de operações do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), Clemente Antônio Chicchi. Segundo o executivo, a autarquia utiliza cerca de 300 m3 de água de reúso por mês.“Nosso objetivo é implantar um projeto dentro do município, pois hoje compramos diretamente da Sabesp. Desta forma, além de economizar água potável, iríamos economizar verba pública”, completa.

Água tratada volta para os rios Além de utilizada pelas prefeituras, parte da água tratada na ETE ABC retorna limpa para os córregos e rios.“Se isso não fosse feito e o esgoto industrial e doméstico fosse jogado, mais uma vez, in natura, acarretaria numa série de problemas, com morte de possíveis peixes e da vegetação, fortes odores e assoreamento dos rios”, lembra a engenheira de

VÁRIAS FASES A ETE ABC, na divisa de São Caetano e São Paulo, recebe 2m3 de esgoto por segundo da região do ABC e de alguns bairros de São Paulo. Todo o material passa por ao menos três fases de tratamento. A ação preliminar retira o material grosseiro e a areia por meio de sistema caixa de areia. A etapa primária é feita com decantadores e ponte rolante, apelidada de raspador. Ao mesmo tempo em que o sistema arrasta para o fundo e sedimenta o lodo, a parte superior retira a gordura da superfície da água. Já o processo secundário conta com bactérias. O lodo e a gordura retirados vão até o decantador secundário por meio de canais aerados. Nessa fase, o esgoto, o lodo e a gordura estão dissolvidos. Para que os microorganismos consumam o material é necessário que respirem, e é neste ponto que entram os compressores e os difusores. O lodo retirado do processo secundário fica no digestor por 30 dias até ficar totalmente desidratado. O resultado final vai para o aterro sanitário ou é utilizado como adubo.

Manutenção da caixa d’água garante qualidade do produto m tempos de alto índice de poluição e do aparecimento de doenças transmitidas por mosquitos e outros agentes ambientais, a manutenção da caixa d’água é determinante para a qualidade da água que sairá da torneira e, principalmente, para a preservação da saúde da população. A caixa deve ser higienizada com cloro ou água sanitária e ter as paredes limpas com escovas constantemente. O tempo médio de duração desta importante manutenção é de duas horas e meia. Mesmo tampada,a caixa d’água possui entrada de ar, que possibilita o desenvolvimento de organismos produtores de toxinas, como alguns tipos de algas. Outro problema é o limo, que se deposita no fundo do reservatório e em casos extremos pode causar alergias em quem consumir tal água. Nesses casos um médico deve ser procurado

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para indicar qual o melhor tratamento. “Manter a limpeza de forma periódica,a cada seis meses,garante mais segurança na hora do consumo,pois não é só uma questão de higiene, garante também a saúde da família”, lembra o técnico químico do ETA (Estação de Tratamento de Água) do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), Osmar Camilo Souza. Os cuidados também devem ser estendidos quando houver troca de canos, pois quando são manipulados podem trazer bactérias e material contaminado para a água. Quando o objeto manipulado for a boia, o cuidado deve ser redobrado para evitar contaminação. Se a caixa d’água estiver instalada a céu aberto ou no telhado, a atenção deve ser com relação às frestas, que podem atrair pombos e ratos, que liberam desejos no ambiente.

DENGUE Além de possibilitar o desenvolvimento de causadores de doenças, como alergia, a caixa d’água também pode ser criadouro de mosquitos, como o da dengue. Se ela estiver destampada ou sem nenhuma proteção, o mosquito transmissor da doença (aedes aegypti) pode depositar os ovos na parede do reservatório. A água limpa e parada propicia o desenvolvimento das larvas. Para o professor de Ciências Biológicas da Fundação Santo André, José Luis Laporte, é um erro acreditar que caixa d’água destampada não representa perigo. “Dizer que sem tampa a caixa fica arejada é um erro, pois o recipiente se torna foco de procriação do mosquito da dengue”, lembra. “A questão preocupante é que o mosquito também pode picar moradores vizinhos”, finaliza.

Limpe o reservatório 1 - Feche os registros; 2 - Esvazie a caixa d’água e espere que ela fique com cerca de 15 cm de água – ela será usada na limpeza e evita que a sujeira desça pelo cano; 3 - Esfregue as paredes internas com escova de fibra vegetal ou de fios de plástico; 4 - Remova a água suja com o auxílio de panos limpos e baldes; 5 - Coloque dois litros de cloro ou água sanitária (principalmente nas paredes internas) e espere pelo menos duas horas. Neste ponto é importante que a saída de água esteja vedada para que o a solução não entre em contato com as pessoas; 6 - Enxágue com água limpa as paredes desinfetadas e abra o registro. Não esqueça de anotar a data da limpezas. O ideal é que ela seja feita a cada seis meses. Fonte: Semasa


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Reutilização da água vira rotina nas empresas Pirelli, McDonald’s, Refinaria da Petrobras e os shoppings Mauá Plaza e Grand Plaza são alguns exemplos de iniciativas bem-sucedidas no ABC a carona da sustentabilidade, em alta em todo o mundo, o ambiente corporativo no ABC é de políticas de proteção ambiental, como economia e reutilização da água. Os projetos, que envolvem reutilização, reciclagem e preservação da água, chegam a reduzir até 25% do consumo nas empresas. Bom planejamento com investimentos voltados à economia de água é fundamental para o empreendedor, avisa o coordenador do curso de Engenharia Ambiental da Fundação Santo André, Murilo Valle. “É importante que se tenha em mente projetos, de baixo ou alto custo, a serem realizados em curto ou médio prazo. A economia é um dos principais aspectos observados com essas ações, que precisam ser incentivadas pelo poder público”, comenta. A Pirelli, fabricante de pneus para caminhões, ônibus e veículos agrícolas, em Santo André, reaproveita 100% da água utilizada no processo produtivo. A unidade, que recolhe água diretamente de poços, trata todo o recurso natural usado durante a fabricação dos pneus na própria estação de tratamento de efluentes industriais. As ações, somadas a programas de conscientização de funcionários, reduziram o consumo de água na unidade em 17% nos últimos quatro anos.

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DO AR-CONDICIONADO O restaurante McDonald’s, da avenida Brigadeiro Faria Lima, centro de São Bernardo, é o único do ABC com reutilização da água coletada no sistema de ar-condicionado na limpeza externa e rega de jardins da casa. O sistema gera 900 litros de água por dia e o volume é todo aplicado nas duas áreas. A reutilização do recurso já resultou numa redução de 11% do consumo de água da unidade. A Petrobras é outra empresa com projetos de reutilização de água no processo produtivo do petróleo, assim como purificação de efluentes para reuso e aprimoramento do sistema de acom-

Refinaria da Petrobras possui estação de reúso de água e unidade do McDonald’s é exemplo panhamento e gestão de informações sobre o tema. A meta do programa de reuso de água da Petrobras é economizar 650 milhões de litros por mês, o que equivale ao consumo de uma cidade com 150 mil habitantes. Nas unidades das áreas de Abastecimento e Interna-

cional, em 2009, foram reutilizados 17,3 milhões de m3 de água. Todas as refinarias da Petrobras possuem estações de tratamento de água, que permitem captação e tratamento do recurso utilizado no processo industrial e tratado novamente antes do des-

carte. Inaugurada em 2008, a estação de reúso de água da Refinaria de Capuava, em Mauá, permite o descarte zero de efluentes e a economia de 880 mil m3 de água por ano. Além disso, todo o efluente é reaproveitado por outras empresas da região para fins industriais.

Shoppings colhem bons resultados

Brocchi: Mauá Plaza terá reservatório

Os shoppings também comemoram resultados. O Mauá Plaza Shopping possui três poços artesianos para atender o consumo de água utilizado pelo sistema de ar condicionado. Segundo Cléber Brocchi, gerente de Manutenção, está em fase de conclusão sistema de captação da água da chuva. Previsto para abril, o reservatório instalado no subsolo do shopping armazenará água da chuva para que, depois de tratada, seja utilizada em bacias e mictórios. Com investimento de R$ 45 mil, o projeto busca economia de 25% com água. O reuso de água é rotina no Grand Plaza Shopping, em Santo André. Desde 2008, o centro recicla cerca de 3,5 milhões de litros de água por mês. O resultado é uma queda de 22% no consumo

e economia de 25% em termos financeiros.Desenvolvido no Canadá,o programa de reuso de água - destinada à limpeza do shopping, rega de jardins, descarga sanitária, lavagem de pisos e abastecimento de torres de resfriamento - utiliza reator vertical de 90 metros de profundidade e trata o esgoto com injeção de ar sob alta pressão. O Grand Plaza também faz captação de água diretamente de três poços artesianos instalados sob o terreno do empreendimento, a 400 metros de profundidade. Com a substituição de parte da água comprada no sistema convencional pela água extraída dos poços, o shopping já economizou desde 2007 quase R$ 1 milhão.


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