Revestrés#48

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GASTRONOMIA

COMIDA É POLÍTICA Opostos à ideia de moda ou tendência, jovens apresentam o veganismo popular como vertente que luta pelo fim da exploração animal, alimentação saudável e acessível com justiça social. POR OHANA LUIZE FOTOS REDES SOCIAIS

A

pesar de insistentes vozes a negar, são fatos as mudanças climáticas e os desastres naturais. A conta não fecha entre a capacidade humana de produção em relação à distribuição de produtos básicos, como os destinados à alimentação. Mas o que isso tem a ver com o pão nosso de cada dia chegando à mesa? Ou essa seção de Revestrés não é mais gastronomia? Talvez o questionamento correto seja: como comida e política precisam ser cada vez mais misturadas em nossos pratos? É como nos provocam os adeptos do movimento vegano, mais precisamente os do veganismo popular. Caso você não conheça o movimento vegano, corra, pois está em atraso. O termo surge em 1944 na Inglaterra, do inglês vegan, e passa a figurar nas bandeiras das juventudes revolucionárias da década de 1960 com força, com o dia 1º de novembro se tornando o Dia Mundial Vegano. O eixo principal, desde o nascimento, é a luta contra a exploração dos animais – e violência – para qualquer finalidade. No Brasil, para se ter uma ideia de como crescem os adeptos do veganismo, uma pesquisa realizada em 2018 pelo Ibope revelou que 14% da população se declara vegetariana. Importante destacar que o termo vegetarianismo pode ser confundido com veganismo. Simplificando, o veganismo vai além e pauta uma negativa ao consumo de alimentos e outros produtos de origem animal, como 62 www.revistarevestres.com.br

roupas e cosméticos. Ao tornar-se um movimento, uma ética de vida, o veganismo ganha pluralidade e as vertentes surgem abordando questões políticas em diversos tons. Um acidente ocorrido no Rodoanel de São Paulo, em 2015, foi o início da virada de Eduardo Santos para o veganismo. Ex-funcionário de uma das maiores redes de fast food (Mcdonald 's) do mundo, percebeu que os porcos – que eram o carregamento do veículo tombado – sofriam, sentiam dores, sentiam medo. “Nas redes sociais de ativistas vi que uma delas tinha escrito na camiseta a frase ‘leite é crueldade’. Tudo me levou a pensar que aqueles animais precisavam de uma chance de viver”. Foram oito meses até que ele pudesse compreender melhor o funcionamento das indústrias, das testagens, de toda a cadeia produtiva até o consumo. Mesmo com pouca informação e sem nenhum exemplo vegano na família de origem humilde, da região periférica de Campinas, interior de São Paulo, Eduardo conta que passou um ano se alimentando exclusivamente de arroz, feijão, couve e suco de laranja. “Não sabia direito o que estava fazendo, não sabia o que botar no prato. Assistia vídeos, pesquisava, lia e aí comprava o suficiente para não passar fome. Eu consumia uma quantidade grande de comida”. Ele afirma que, mesmo com a dieta mais restritiva no início, tudo ia bem com a saúde.


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