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Da fumaça ao vapor

Cigarros eletrônicos carregam a promessa de ajudar a cessação do tabagismo, mas evidências apontam riscos à saúde

Lançados com a promessa de ajudar os fumantes a se livrar do vício, os cigarros eletrônicos — ou e-cigarettes, como também são chamados — conquistam cada vez mais adeptos ao redor do mundo. De acordo com dados divulgados pela consultoria norte-americana P&S Market Research, o mercado global de cigarros eletrônicos deverá alcançar 48 bilhões de dólares até 2023. No entanto, os efeitos sobre a saúde humana associados ao uso contumaz desses dispositivos ainda dividem opiniões entre os especialistas.

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“A principal ‘vantagem’ dos cigarros eletrônicos é que eles são capazes de disponibilizar nicotina e reproduzir sensação semelhante à inalação da fumaça produzida pelos cigarros comuns sem que haja a queima do tabaco. Isso reduz a liberação das mais de 8 mil substâncias tóxicas, como o monóxido de carbono, pesticidas e alcatrão, das quais pelo menos 250 são prejudiciais à saúde e mais de 50 conhecidas por desencadearem o surgimento de tumores”, esclarece Clarissa Baldotto, oncologista da Oncologia D’Or.

Incertezas e veto

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou o veto ao produto em agosto de 2009, evocando o princípio da precaução, até que existam dados científicos que comprovem sua eficiência, eficácia e segurança. A decisão também se baseou em constatações do Food and Drug Administration (FDA), agência que regula o comércio de alimentos e remédios nos Estados Unidos, de que esses dispositivos liberariam substâncias tóxicas e cancerígenas — entre as quais formaldeído, acroleína e propanol —, diferentemente do que alegam seus fabricantes.

Estima-se que os cigarros eletrônicos sejam até 95% menos tóxicos que os cigarros convencionais, segundo dados do relatório E-cigarettes: an evidence update, comissionado em 2015 pela Public Health England, do Departamento de Saúde e Assistência Social no Reino Unido. “No entanto, apesar das vantagens aparentes, a venda e o consumo dos cigarros eletrônicos são proibidos no Brasil — ainda que seja fácil adquirir esses aparelhos, muitas vezes sem marca ou garantia de origem, em sites ou tabacarias”, destaca Clarissa.

Perigos em estudo

Nos últimos anos, vários trabalhos apresentaram novasevidências que sugerem que esses dispositivos podem desencadear reações alérgicas e irritações na boca e na garganta, tosse, dor de cabeça, dispneia e vertigem, além de síndromes inflamatórias e respiratórias. Em um artigo publicado em agosto na revista científica Thorax, pesquisadores norte-americanos verificaram que o vapor do cigarro eletrônico interfere no funcionamento dos macrófagos alveolares, comprometendo sua capacidade de defesa contra infecções bacterianas no trato respiratório.

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