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AES Brasil 2019
redacao@backstage.com.br | Fotos: Ernani Matos
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Convenção da AES Brasil em 2019 reforça a opção pela difusão do conhecimento
Durante três dias a convenção da AES Brasil promoveu a difusão do conhecimento técnico entre os profissionais brasileiros.
Entre os dias primeiro e 4 de julho aconteceu, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, a vigésima segunda convenção nacional da AES Brasil. Cerca de 900 visitantes puderam participar das 60 horas de eventos. Entre os assuntos abordados nas palestras, debates e workshops estavam desde alinhamento de sistemas até áudio para games, passando por masterização, trilha sonora, som para cinema, broadcast, acústica, sistemas sem fio e muito mais. Tudo a partir do conhecimento dos melhores profissionais de cada área.
Por conta das dificuldades do mercado, a exposição em estandes que acontecia até 2016 não está, por enquanto, nos planos da entidade. No entanto, o caráter de difusão do conhecimento está sendo reforçado. “Por causa da crise, em 2017 não conseguimos fazer a convenção. Em 2018 estava um burburinho de melhorar o mercado. Conseguimos fazer o evento, apesar de diminuir em relação ao que era. Voltamos a fazer no Centro de Convenção Rebouças. A feira foi crescendo por pedido e sugestão dos patrocinadores. Aí aconteceu de a convenção ir para um pavilhão inteiro do Expo Center Norte, mas não existe mais mercado para isso, e não podemos parar os evento educacionais”, explica José Anselmo Paulista, presidente da AES Brasil.
Joel Brito, tesoureiro da entidade, reforça o caráter educacional e internacional da AES: “a economia e o mercado estão em crise, tanto que a Expomusic foi cancelada. Nós retomamos a convenção ano passado, mas temos feito eventos com regularidade. De julho do ano passado a março deste ano fizemos em são Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre, sendo que, só em São Paulo, fizemos três ou quatro encontros. E a AES é internacional. Sempre acontecem eventos ao redor do mundo”.
E o evento atendeu aos objetivos. As palestras tiveram assuntos variados e de acordo com as demandas que acontecem no espaço do áudio profissional. “As pessoas que tem que se adaptar às novas tecnologias, mas a disposição para o aprendizado tem que se manter. As pessoas de uma geração anterior criaram bastante e as novas gerações estão evoluindo a partir do que foi criado no passado. Agora estamos indo para a área do digital, falando sobre som imersivo. Antes fazíamos muito as coisas para fora, com sonorização e acústica. Hoje em dia, com a realidade virtual, se faz o áudio ‘para dentro’”, aponta Joel.
HOMENAGENS
É verdade que as gerações de hoje criam a partir da base do que foi feito no passado. Por isso, é importante homenagear os profissionais que ajudaram a montar esta base. “Íamos homenagear uma pessoa só, mas decidimos homenagear três: o Carlos Ronconi, o Pedruzzi e o Framklim Garrido”, enumera Anselmo, secundado por Joel Brito: “o foco não é uma questão pontual, mas um reconhecimento ao que foi desenvolvido na carreira até aquele ponto. Ano passado homenageamos o Luiz Fernando Otero Cysne. Acho que temos que parar um pouquinho e olhar para trás e mostrar para a atuais gerações o que já foi feito e o que está sendo entregue a eles, como na corrida de bastão”.
Além dos serviços prestados ao áudio, cada um em sua área – Ronconi na TV, Pedruzzi no som ao vivo e Framklim Garrido também no ao vivo e em estúdio – os três homenageados tem em comum a atuação na difusão do conhecimento, seja na empresa na qual trabalhavam, como Carlos Ronconi, com as pesquisas sobre áudio na Rede Globo; ou criando e lecionando em cursos de áudio, como Pedruzzi, um dos criadores do IATEC, no Rio de Janeiro, e Framklim Garrido, que atua há mais de 20 anos como professor no Instituto de Audio e Video, em São Paulo.
OS HOMENAGEADOS
Há mais de trinta anos Carlos Ronconi tem atuação no áudio para TV, contribuindo de forma decisiva para o desenvolvimento deste segmento do áudio no Brasil. Carlos Ronconi estudou engenharia de som cerca de um ano e meio em Nova York, no início dos anos 80. Quando voltou ao Brasil, trabalhou em estúdios como o Transamerica e o Nosso Estúdio, em São Paulo. Após trabalhar na Som Livre, no Rio de Janeiro, com a Rede Globo, no programa Chico & Caetano, foi definitivamente incorporado ao time da emissora onde ficou até se desligar, há pouco.
O profissional comemora a homenagem e o reconhecimento promovido pela AES Brasil. “Para mim foi uma honra e um privilégio muito grande. Sou membro desde 1981. Quando entrei, estava nos EUA estudando e achei essa a melhor chance de saber o que se passava no mundo do áudio, porque naquela época, no Brasil, ainda não havia tanto profissionalismo. Hoje em dia tem mais gente tecnicamente capaz e o áudio é encarado como uma profissão. Não é mais aquele pessoal que ficava atrás da mesa para fazer som para os amigos. É importante ser reconhecido como alguém que contribuiu para isso. Mas todo mundo me ajudou, porque ninguém faz nada sozinho. Estive sempre apoiado por gente que compra a ideia e faz junto. Tanto eu quanto o Carlos Pedruzzi e o Framklim Garrido fomos reconhecidos por participar da parte educacional , uma da coisas que batalhamos muito. Agora que vou ter um pouco mais de tempo na AES vou batalhar mais pela parte estudantil. Já fui secretario da AES 2006 a 2008, mas com os afazeres não deu para continuar, agora vou me dedicar mais”, afirma.
Para Ronconi, aconteceram algumas mudanças fundamentais no tempo em que está no áudio. “Primeiro a seriedade das pessoas em aprenderem e conhecer mais o que estão fazendo. Na medida em que a tecnologia evolui, as pessoas sentem mais essa necessidade do conhecimento. O mundo analógico era bem direto, o digital é bem mais obscuro no sentido de ter uma ‘mágica’ que não é tão evidente. Tem outras áreas, além do áudio, as quais você tem que saber mais: IP, rede, bit... Facilitou muito, mas também exige muito mais de atenção e entendimento de outras tecnologias que vieram junto”.
O técnico de som, engenheiro e educador da área de áudio Carlos Pedruzzi participou de vários momentos fundamentais do áudio brasileiro, desde quando trabalha- va junto à Mac Audio, ainda nos anos 80. Como um dos fundadores do IATEC, deu uma contribuição decisiva na difusão do conhecimento. “Recebi a noticia (da homenagem) com muita alegria. Uma feliz surpresa. Acho que a nossa geração é muito autêntica nesse aspecto. Muitos que eu conheço dessa época estavam na atividade por pura paixão. Então, buscar o conhecimento era a nossa única opção. As discussões eram intensas e muitas, e a formalização (da difusão do conhecimento), eu acredito que tenha sido uma consequência da jornada de muitos de nós. Um amadurecimento. Divido esse reconhecimento com tanta gente com quem convivi e convivo. Parceiros e amigos desde uma época, há quarenta e tantos anos, quando começamos nisso, até os dias de hoje, em que estou em plena atividade”, comemora.
Pedruzzi destaca as mudanças comportamentais no meio do áudio brasileiro. “O conhecimento realmente se espalha de uma forma impressionante, em uma velocidade absurda, e cada vez mais gente tem acesso. Impressiona a quantidade de bons técnicos comprometidos com a atividade. Só temos que estar atentos que a profissionalização não é apenas a coleta e junção de um conhecimento. Mas também o compartilhamento desse conhecimento, que é uma experiencia engrandecedora”, comenta.
Entre as mudanças tecnológicas que testemunhou nos últimos anos, Pedruzzi detaca duas: “a eletrônica digital, que para muitos de nós é uma coisa que foi implementava quando já eramos profissionais vindos de um mundo analógico. Essa eletrônica digital, não só no nosso campo, promoveu uma abertura de portas imensa para uma criatividade. Muita coisa que era limitada deixou de ser, então a ideias tomaram rumos inimagináveis. Outra, que muito me seduz, diz respeito aos alto-falantes, agrupamento, gerenciamento e controle de sistemas, que também sofreu uma mudança, uma evolução tecnológica”.
Framklim Garrido concorda com Pedruzzi no que diz respeito à evolução tecnológica dos transdutores. “Realmente, se houve uma grande evolução, foi nas tecnologias dos transdutores: as caixas de som, que sempre foram o elo mais fraco da cadeia de áudio. Na parte de eletrônica, o pessoal já dominava há muito tempo. O que foi melhorando com o passar dos anos? As tecnologia dos transdutores. Os modelos das caixas de som e a qualidade dos componentes que compõe o transdutor, associados aos amplificadores digitais, tudo em um conjunto pequeno e prático, para quem trabalha em sonorização ficou fácil fazer um show de grande porte. O chamado processo de array, as ‘tripas’ penduradas do lado do palco, aquilo tem uma tecnologia bastante grande. Claro que tem problemas. Não se faz omelete sem quebrar os ovos, mas, para a prestação de serviço, é mai fácil fazer hoje um evento para um número maior de pessoas”, analisa.
Framklim, desde os anos 70, ajuda a promover a evolução tecnológica no aúdio brasileiro, tendo, inclusive, projetado um crossover quando isso ainda não estava no radar do áudio nacional. “Até comentei com o Joel Brito que só progredi quando estava fazendo os meus divisores eletrônicos passivos, tipo de equipamento que hoje estão incorporados em DSPs de qualquer caixa, porque li papers da AES”, relembra. A partir dos anos 90, começou também a atuar como professor. “Esse negócio de dar aula foi insistência do Claret (Marcelo Claret, do IAV). O Ronconi criou uma academia dentro da Globo, o Pedruzzi tem o IATEC e eu fiquei no IAV. Isso é uma tremenda renovação. Falar com o mais jovem. Tem que tentar entender o jovem, ou não tem comunicação. Essa questão de passar a informação é comum a nós três. Acho que tentamos dizer pros caras como errar menos”, diz, ressaltando a importância da homenagem recebida por ele e os colegas: “qualquer coisa no Brasil que lembre quem realizou, acho bacana, porque cria um link com a história, e pode ter uma quantidade de erros menor”, conclui o engenheiro.
Além da homenagem aos três profissionais de áudio, a entidade também promoveu uma homenagem surpresa a Joel Brito. Esta honraria somou-se à que ele já havia recebido na convenção da AES Internacional, no mês de março, em Dublin, na Irlanda. “Sem ele muita coisa não teria acontecido. Ajudamos em tudo o que pode, mas muito do que a AES Brasil é hoje acontece graças ao trabalho dele. Se dependesse dele não teria essa homenagem. E ele merece pelo trabalho dele na AES e no áudio”, reforça Anselmo Paulista.
PARTICIPAÇÃO
O presidente da AES Brasil faz ainda uma convocação aos profissionais de áudio para que participem da entidade. “Só o conteúdo que você tem na biblioteca eletrônica da AES, de 1946 até hoje, todos os papers e pesquisas... Muita coisa as pessoas pensam que são conceitos novos, mas já estão em papers de 20, 30 anos atrás. Então a importância de o profissional de áudio participar da AES é grande para o próprio profissional. A AES Brasil é mantida por trabalho voluntario e patrocínio. Não tem nenhum fim lucrativo A anuidade que o profissional paga não vem para a AES Brasil. Vai para manter a biblioteca e as atividades. Para participar, vá no site da AES internacional, o aes.org”, diz Anselmo.