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IMPRESSÕES E EXPRESSÕES NA ILUMINAÇÃO CÊNICA PERSPECTIVAS E POTENCIALIDADES

Espetáculos musicais evoluem, conceitualmente e tecnologicamente, com imbricação entre esses dois aspectos, desde sempre. Isso não quer dizer que as tecnologias (equipamentos, técnicas, conhecimentos) sejam limitadoras nesse processo evolutivo. Do contrário, podem, inclusive, estimular a hibri- dização de recursos, sejam novos ou historicamente consolidados e estabelecidos. Nesta conversa, impressões e expressões na iluminação cênica serão abordadas sob o enfoque de estudos mais abrangentes e dos potenciais a serem explorados e percebidos na contemporaneidade. Modernidade e modernização são conceitos por vezes complementares como também confundidos, na mesma medida que a ideia de tecnologia tende a ser associada ao que existe de mais atual. Em um recorte histórico, o termo “moderno” deve ser mais apropriado às vanguardas artísticas, políticas e sociais da primeira metade do século XX (e que ainda repercutem para a pós-modernidade), na mesma medida em que a evolução tecnológica está associada ao modo de produção, desde os primórdios da humanidade.

Nesse contexto, um projeto de iluminação cênica que utiliza velas de parafina pode ser tão “moderno” como tecnológico, mesmo que sejam utilizados instrumentos arcaicos para a criação de efeitos, impressões e expressões. As impressões aqui são associadas às sensações esperadas e proporcionadas, e as expressões às linguagens definidas e estipuladas para a transmissão das sensações propostas.

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Naturalmente, os espetáculos musicais não são mais os mesmos, desde o momento em que as luminárias com dispositivos móveis começaram a ser elementos dinâmicos nos projetos de iluminação cênica. Se durante décadas as únicas variações visuais de expressão artística na iluminação cênica estavam centradas nas formas, cores e nas alternâncias pelo acionamento de luminárias, com os primeiros moving lights as impressões visuais possibilitaram a produção de sensações distintas e dos sentidos para além da visão. Também, outras expressões foram possibilitadas, pela capacidade da iluminação adquirir mobilidades até então inexistentes (ou mais limitadas e ‘artesanais’, pesquisadores, de montadores a diretores criativos, de projetistas a gestores de iluminação –responsáveis pelo mapeamento físico do espaço a roteiristas de equipes e operações relacionadas aos espetáculos. Os profissionais envolvidos nas produções cenográficas, em todas as áreas de criação e implantação de projetos de iluminação cênica, não somente diversificaram e ampliaram os conhecimentos, como também desenvolveram um setor produtivo que requer atualização e capacitação para as mais diversificadas e distintas tecnologias.

Nisso, há um “quê” de (re)modernização. Na atualidade, as constantes modificações, aprimoramentos, melhorias e ressignificações (um termo “contemporâneo”) permitem novas combinações para vários equipamentos de iluminação em um contexto digital para diversas funções e efeitos, seja para a busca de filigranas de dimerização ou para a (re)criação de cores, em novas conexões, materializadas pelos equipamentos e recursos cada vez mais “tec - realizadas com recursos distintos e específicos ou mesmo pela manipulação dos follow spots, os canhões seguidores).

Nesse contexto, um projeto de iluminação cênica que utiliza velas de parafina pode ser tão “moderno” como tecnológico, mesmo que sejam utilizados instrumentos arcaicos para a criação de efeitos, impressões e expressões.

Assim, os profissionais designers de iluminação de palco (lighting designers) tecnologicamente evoluíram e passaram de eletricistas a professores, de engenheiros a artistas visuais, de operadores a nológicos” – conhecimentos, sistemas, métodos, dispositivos e equipamentos.

Claro que as rupturas que ocorreram no fim do século XIX para o seguinte não podem ser comparadas ao que ocorre hoje, como também é muito difícil qualificar as produções dos shows realizados na década de 1970 com os mesmos critérios utilizados nos espetáculos atuais. Primeiro, porque devem ser considerados aspectos quantitativos – recursos materiais e financeiros - e o dimensionamento do espetáculo; depois, as condições de operação, distintas sob diversos enfoques, que já foram explorados em conversas anteriores. Mas também não se pode omitir um outro componente que começa a ser estudado e explorado nas produções musicais, que incluem os espetáculos: a inteligência artificial (IA). Em maior ou menor escala, o conceito de IA tem sido utilizado para a execução de tarefas, realizadas através de máquinas e equipamentos, como também pela coleta de dados e informações e produção de soluções e resultados, autonomamente. Desde o protocolo DMX512, a autonomia tem sido uma área amplamente desenvolvida na iluminação cênica, desde a capaci- dade de reprodutibilidade técnica e operacional em escala, como também pelas múltiplas funções e possibilidades, a exigência de vários profissionais sempre foi requisito imprescindível, para a concepção, programação e natural implementação. Com esses insumos, adicionam-se outros relacionados a sistemas exclusivamente digitais, tais como softwares capazes de reconhecimento de áudio e acionamento por trilhas; banco de dados com análise comparada para a ativação de cenas de iluminação de acordo com a música; softwares de sincronismo e de edição de presets diversos (áudio, vídeo, luzes), entre outros recursos e dispositivos.

Nesta perspectiva, novas possibi- lidades podem surgir na forma como a iluminação cênica interage com os outros elementos de um espetáculo, como a música, ou mesmo a plateia. Isso não é totalmente novo, já ocorrem iniciativas conceituais e práticas, mas poderão ser mais e mais presentes – e de maneira “autônoma”, ou seja, sem uma equipe de operação e, em um modelo mais abstrato e intangível na atualidade, sem um processo criativo como ocorre hoje em dia. Em outras palavras: com recursos da IA, a iluminação pode ser “operada” de acordo com melodias, reações da plateia ou mesmo combinações diversas, a partir de dados e informações previamente estipuladas (o que significaria ainda milhares de possibilidades).

Se por um lado esse “cenário” ainda requer mais e mais estudos e experimentações para a demonstração de respostas efetivas e interessantes, duas reflexões se tornam também necessárias: a inexistência de legislação de proteção para a propriedade intelectual dos projetos de iluminação cênica e a mais amplo surgimento do conceito de “auteria” aplicado às produções de shows (entendido como uma autoria coletiva, não mais restrita a uma pessoa como centralizadora ou finalizadora no processo criativo). Para a primeira situação, um projeto já existente poderia ser

“marca” ou “impressão digital” de alguém.

Essas temáticas continuam abertas, irresolutas, mas nem um pouco estáticas e rígidas. Deve-se sobretudo valorizar cada vez mais as produções autorais (individuais ou coletivas) e as possibilidades das tecnologias – sem restrições – como caminhos para a ampliação das potencia- configurado em outros, “recortados” e definidos, tais como efeitos sonoros pré-configurados em pedaleiras. Para o segundo caso, processos de configuração de cenas, também previamente definidas, mas sem a lidades da iluminação cênica, principalmente pelas possibilidades q ue essa fascinante área de conhecimento (e, portanto, tecnologia) proporciona na ampliação de perspectivas, sob todos os olhares e sensações.

Deve-se sobretudo valorizar cada vez mais as produções autorais (individuais ou coletivas) e as possibilidades das tecnologias – sem restrições – como caminhos para a ampliação das potencialidades da iluminação cênica, principalmente pelas possibilidades que essa fascinante área de conhecimento (e, portanto, tecnologia)proporciona na ampliação de perspectivas.

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