Revista diVino Sabores Ed. 3

Page 1

Edição 3 ano I

SabOres RoteirO Miúdos: onde comer, experimentar e se deliciar

Confraria

Uma experiência sensorial para descobrir mais sobre o azeite

SugestãO dO Chef várias versões do cappelletti in brodo, Ideal para os meses mais frios

edição 3 ano I

R$ 12,90



Carta aO Leitor Diretora Geral Daniela Graicar

Redação

Diretora de redação: Cristiane Duarte cristiane@coletaneaeditorial.com.br Editora-chefe: Heloisa Whately heloisa@coletaneaeditorial.com.br Editora: Cristina Judar cristina.judar@coletaneaeditorial.com.br Subeditora: Claudia Zani claudia@coletaneaeditorial.com.br

Arte

Diretor de criação: Marcio Caparica Diretor de arte: Dinho Guzman Designer: Mayra Fernandes Projeto Gráfico: Flavio Giannotti Tratamento de imagem: Nilton Porto Produção gráfica: Gheisa Baldessin

Comer, beber, lembrar

Colaboradores

Aline Oliveira, Anderson Barreto, Andrezza Arnone, Carlos Marcondes, Danilo Nakamura, Eduardo Passarelli, Fernando Levy, Flavia Lima, Gisele Alexandre, José Henrique Vieira, Laura Meurer, Luana Ribeiro, Marcel Miwa, Pamela Fortes, Paulo Uras, Sonia Denicol e Thaís Nicoleti

Azeite, café, cerveja, chocolate. Parece que a combinação dos textos e das imagens está surtindo efeito, pois as páginas estão praticamente exalando o aroma de cada uma dessas delícias. A começar pelo encontro da Confraria diVino, que, desta vez, se reuniu em torno de algumas variedades de azeite para conhecer melhor suas origens e particularidades e aprender a degustá-los. Enquanto ela acontecia, em outro canto da cidade, os melhores baristas de São Paulo travavam duelos em um campeonato independente de latte-art e o café corria solto pela casa – e depois a cerveja também. Você vai encontrar também um roteiro com alguns dos melhores endereços para saborear – ou, para os não iniciados, para experimentar – miúdos. Além disso, a diVino Sabores selecionou algumas receitas de cappelletti in brodo, ótimas para esquentar o corpo e a alma no friozinho que começa a chegar. E, como não poderia deixar de ser, conversamos com gente que faz acontecer na gastronomia: Marisa Ono – que está sempre trazendo novidades para as mesas, como o alho negro – e Alberto Landgraf, que comanda o novo e já famoso restaurante Epice, em São Paulo, são algumas dessas figuras que você precisa conhecer.

Conselho Editorial

Carlos Hakim, Daniela Graicar, Fabio Liberman, Heloisa Whately e Marcel Miwa

Publicidade

Tel. (11) 3225-1215 Beatriz Sarti, Camila Speciali, Marcus Mendonça e Naiara Nogueira publicidade@revistadivino.com.br

Marketing

Tel. (11) 3363-3344 Juliana Balieiro M. Rodriguez juliana.balieiro@revistadivino.com.br

CTP e Impressão

Vox Editora – Tel. (11) 3871-7300 www.voxeditora.com.br

Distribuição Klar

Assinaturas

Tel. (11) 3512-9447 assinaturas@revistadivino.com.br www.assinedivino.com.br

Contato

Rua Fradique Coutinho, 1235, São Paulo, SP CEP 05416-011. Tel. (11) 3585-0100 contato@revistadivino.com.br www.revistadivino.com.br

Heloisa Whately

Foto / Capa: Shutterstock

A diVino não se responsabiliza por conceitos ou opiniões emitidas em artigos assinados.

4 diVino Sabores


JunhO 2011 Viagem Divina

30

Uma experiência sensorial, durante a qual os confrades puderam conhecer muito mais sobre o azeite e todas as suas particularidades de cor, aroma e sabor.

Um inestimável patrimônio histórico e cultural do Rio Grande do Sul, transformado em roteiro turístico. Saiba tudo sobre os Caminhos de Pedra.

Papo de Mesa

58

Confraria

62

40

Roteiro

46

Sabores no Ar

Gosta de miúdos? Nunca provou? Para facilitar a vida dos interessados (e dos curiosos) nessa iguaria, confira o roteiro com algumas sugestões.

Alberto Landgraf, hoje à frente do restaurante Epice, relata sua trajetória profissional e destaca a importância do investimento na formação dos chefs.

Sugestão do Chef

Um prato que é sinônimo de tradição, sabor e aconchego, ideal para os meses mais frios. Confira algumas versões do italianíssimo cappelletti in brodo.

Além do Sabor

54

Uma chef especializada na arte de “equilibrar os pratos”. Renata Vanzetto conta como foi seu ingresso na gastronomia e relata sua paixão pelos picadeiros.

72

o glamour, o conforto e a sofisticação oferecidos pelas salas VIP de companhias aéreas ou de cartões de crédito situadas em aeroportos de todo o mundo.

Artigo Ser Saudável, por Fernando Levy Eu, cervejeiro, por Eduardo Passarelli Um café e a conta, por Danilo Nakamura

90 102 112

Seções Degustação Sacola de Compras Na Ponta da Língua

8 20 24

Cafezinho 80 Minha Cozinha 88 Eu Recomendo 92 Vide Vino 94 Sabores do Mundo 98 Biblioteca 104 Boas Ideias 108 Fique Sabendo 110 Onde Encontrar 114


DegustaçãO Bartender glory Com o drinque Morning Glory, o bartender do restaurante Kinoshita, Henrique Monteiro, foi o grande vencedor da primeira etapa nacional do DIAGEO World Class 2011. A bebida, que leva ingredientes como lichia, pitaia vermelha, suco de limão siciliano e a vodca KETEL ONE® – foi servida em um ritual (tema central dessa etapa), em que foram degustadas iguarias como gelatina de vodca com baunilha, espuma de graviola e até flocos de ouro. “Criei o Morning Glory uma semana antes da competição e procurei valorizar a vodca, o que é uma tendência. Preparei o drinque com ingredientes que não ofuscam o sabor da bebida e trabalhei com a textura em cima, deixando a parte debaixo líquida, e com o cítrico”, explica Monteiro. (Cristina Judar)

Sabor basco Com reinauguração prevista para julho, o Brasero Amatxu Jardins, em São Paulo, é o primeiro empreendimento internacional do Grupo Zaldua, rede gastronômica do País Basco. O restaurante tem seu cardápio inspirado na tradicional cozinha basca, mas com uma apresentação contemporânea e o acréscimo de produtos locais. A seleta carta de vinhos da casa oferece, entre outros, o vinho basco Txakolí, importado diretamente do produtor. Outros destaques são os pintxos, tradicionais aperitivos bascos, e os chamados revueltos, ovos mexidos à moda da casa com cogumelos, aspargos, presunto ibérico, paio e queijo, servidos no brunch aos domingos. O Brasero Amatxu, que tem como sócia a paulistana Monica Freitas, foi totalmente renovado. A reforma ficou a cargo do arquiteto Dado Comini, que deu à casa espaços modernos e aconchegantes. (Luana Ribeiro)

Uma das sugestões do Brasero Amatxu: piperrada de bacalhau

Sob encomenda As geladeiras coloridas estão com tudo e prova disso são as peças da Smeg, que têm design que remete à época dos nossos avós e vem nas cores azul-claro, azul-escuro, amarelo, verde-limão, verde-claro e rosa, além da ousada versão listrada. A Smeg, marca italiana representada no País pela Falmec do Brasil, trouxe as novas e divertidas cores devido à receptividade do consumidor brasileiro, que já deu provas de seu gosto pela inovação, embora prefira não abrir mão da neutralidade. Seguindo essa combinação de características opostas, os refrigeradores são projetados para manter o ar retrô, mesclando o apelo vintage com todas as facilidades oferecidas pela tecnologia da atualidade. O resultado é um equipamento elegante que confere um toque lúdico e divertido à cozinha. Por dentro, o design revela a contem­po­raneidade e bom aproveitamento dos espaços. Disponíveis na versão 247 litros – e com congelador com capacidade para volume líquido de 21 litros –, os refrigeradores Smeg são produzidos apenas sob encomenda. (LR)

8 diVino Sabores

diVino Sabores 9


DegustaçãO Chefs no resort Nos meses de junho, julho e setembro, o Ponta dos Ganchos Resort realizará mais uma edição do Ciclo dos Chefs, que, neste ano, terá a participação de Felipe Bronze, Helena Rizzo e Paola Carosella. O evento começou com Felipe, que, de 3 a 5 de junho, preparou novos pratos, além de alguns que já fazem parte do cardápio do restaurante Oro, localizado no Rio de Janeiro. De 1º a 3 de julho, Paola Carosella – proprietária do restaurante Arturito, em São Paulo – pilota os jantares com sugestões especiais à base de peixes e frutos do mar, além de oferecer um menu vegetariano com produtos da época. A gaúcha Helena Rizzo, que comanda o Maní, em São Paulo, conduzirá o evento de 29 a 31 de julho, e promete fazer uma releitura moderna da culinária brasileira. A programação de setembro ainda será confirmada. Josimar Melo, um dos principais críticos gastronômicos do País, faz a curadoria do Ciclo dos Chefs 2011. Especialista em vinhos, ele ministrará uma degustação com rótulos exclusivos da importadora Mistral, além de cuidar da harmonização dos jantares. (Pamela Fortes)

10 diVino Sabores



DegustaçãO Hora do cafezinho O novo roteiro da operadora de turismo Latitudes, “Café, um sabor brasileiro – do cultivo à arte da degustação”, leva os viajantes a uma viagem de quatro dias para a Fazenda Monte Alto, em Dourado, a 190 km da capital paulista. Ali, os participantes poderão saber mais sobre a história, as variedades e os processos produtivos do café na companhia do coffee hunter e especialista em cafés especiais Ensei Neto. Poderão ainda conhecer as lavouras e colher o grão, bem como aprender a degustar a bebida, experimentar drinques feitos à base de café e apreciar as belas paisagens da fazenda. “Uma longa jornada é necessária para que essas safras e seus novos grãos cheguem até a xícara. Depois dessa viagem, a pessoa não vai mais tomar uma xícara de café como antes”, diz Alexandre Cymbalista, sócio da Latitudes. Com base na percepção de que havia muitos brasileiros interessados em aprender sobre o café, o roteiro foi desenvolvido levando em consideração aspectos geográficos e culturais do País. “Pensamos o Brasil a partir de suas riquezas culturais pouco exploradas, de personagens artísticos que nos engrandecem, de tesouros ocultos pela perda de memória histórica e muito mais”, afirma Cymbalista. (LR)

12 diVino Sabores



DegustaçãO Freddo no Brasil Depois de Brasília, agora é a vez de São Paulo saborear os sorvetes da Freddo. Recentemente, foram inauguradas duas lojas na região – uma na capital, em Moema, e uma em Alphaville. Entre seus 30 sabores de sorvetes artesanais, os preferidos pelos consumidores são o de doce de leite e o de chocolate suíço. E, para agradar o paladar dos brasileiros, a Freddo também pretende desenvolver sabores como pistache, coco com doce de leite, brigadeiro e açaí com banana. Tradição na Argentina há mais de 40 anos, os sorvetes da Freddo resultam de um processo de produção totalmente artesanal, que confere à massa uma consistência cremosa e leve. Os sorvetes são refrigerados em um equipamento especial, que mantém a temperatura homogênea e impede a cristalização, garantindo sua textura inconfundível. A terceira loja no Brasil será inaugurada no ano que vem, no Rio de Janeiro. (CJ)

Cem vezes chocolate A fabricante belga de chocolates finos Callebaut está completando cem anos e, para celebrar a data, lança a campanha intitulada “100 years, 100 faces, 100 reasons”, na qual cem chefs do mundo todo foram convidados para dizer por que utilizam os produtos da marca. No site criado para a comemoração, cem depoimentos homenageiam o centenário da Callebaut, e uma linha do tempo conta a história da fabricante de chocolate que disputa o título de melhor do mundo. No Brasil, a Callebaut tem conquistado um público cada vez maior com seus chocolates finos de sabores e texturas diferenciados. “A linha gourmet que vem crescendo constantemente”, diz Plínio Freitas, gerente gourmet da Barry-Callebaut. “A cada dois anos, 120 embaixadores da Callebaut – grandes chefs confeiteiros que trabalham com chocolate – reúnem-se em um seminário, que neste ano seria na Costa do Marfim, mas foi transferido para o Brasil”. Para comemorar o centenário, a Callebaut prepara um grande evento para o segundo semestre, mas Plínio faz mistério: “Vamos ter, com certeza, um evento para comemorar o centenário, mas, por enquanto, só posso dizer isso”, finaliza. (LR) 14 diVino Sabores



DegustaçãO Café na vila Que tal provar uma xícara de café com cream cheese ou ainda um cafezinho temperado com sal? Desde abril, quem passa pela Vila Madalena pode degustar o resultado dessas misturas inusitadas na bebida mais tradicional do Brasil. O Coffee Lab, da barista Isabela Raposeiras (antes situado em Pinheiros), instalou-se no bairro boêmio e promete encantar os apreciadores do café com o diferenciado cardápio da casa. “Viemos para cá porque precisávamos de mais espaço, e os clientes de Pinheiros migraram conosco”, conta a barista. Pioneiro no Brasil, o trabalho de Isabela como mestre de torra consiste em extrair o melhor do grão. “Nossa principal proposta é oferecer um café especial e queremos que as pessoas possam levá-lo para casa.” As versões do grão para viagem vêm nas já tradicionais – e por que não dizer irresistíveis? – embalagens brancas. No cardápio, também há comidinhas que combinam com a bebida e outras nas quais o café é ingrediente da receita. (LR)

Surpresa Uma estrela de cinco pontas que surge sob a luz negra. Essa é a novidade trazida pela cervejaria Heineken na Star Bottle, uma embalagem importada da Holanda que, quando colocada sob a luz negra, traz à tona desenhos de estrelas cadentes. Feita de alumínio, a garrafa que brilha no escuro está disponível apenas em casas noturnas selecionadas nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte e Brasília. (LR)

16 diVino Sabores



DegustaçãO Caviar e muito mais A Maison Petrossian, grife francesa de produtos gourmet, chega ao Brasil com um espaço no shopping Cidade Jardim. A loja oferece os mesmos produtos disponíveis na Europa, como o tradicional caviar e os inconfundíveis peixes defumados, além de um pequeno restaurante, comandado pelo chef Federico Paduan. Há também várias versões de foie gras, patês, blinis, azeites, temperos, chás, bolos, chocolates, geleias e biscoitos, todos com a marca Petrossian, além de uma seleção de vodcas, champanhes, vinhos e acessórios para cozinha. O ambiente recria um típico bistrô, com fotos históricas que contam a trajetória da família Petrossian e imprimem ao ambiente um ar intimista e descontraído, com influência art déco. Fundada em 1920, a Petrossian tem dez pontos de venda próprios e centenas de lojas espalhadas pelo mundo. “Tivemos a chance de conhecer ótimos parceiros para dividir a paixão pelo caviar e esperamos abrir em breve novas lojas”, diz Armen Petrossian, presidente mundial da marca. (LR)

Os apreciadores de charutos vão comemorar a chegada de uma novidade ao mercado dos eletrodomésticos premium. Trazidos pela LOFRA, representante exclusiva da marca alemã Liebhrrer no Brasil, os umidores de charutos prometem manter o produto impecavelmente preservado. A temperatura constante de 16°C a 20°C e o grau de umidade regulado entre 68% e 75% proporcionam a manutenção das características originais do tabaco. O gerenciamento preciso da temperatura e da umidade desejadas se dá pelo sistema eletrônico de controle do umidor, que conta com diversos sensores internos. Foram cinco anos de pesquisas para chegar ao resultado final, que tem moldura de aço inoxidável alemão, gavetas e prateleiras artesanais de cedro espanhol feitas à mão e iluminação LED, que gera o mínimo de calor. (LR) 18 diVino Sabores

fotos: Divulgação, Tomás Rangel e Shutterstock

Isto não é uma adega



Sacola de Compras

por Claudia Zani

Brunch time

Porta-ovo feito de porcelana, que vem com saleiro. (R$ 15,50 – Tok&Stok)

Omeleteira em formato meia-lua, feita de alumínio antiaderente. (R$ 39 – Multiflon)

O Grill Panini da Cuisinart tem acabamento em aço escovado e chapas antiaderentes. (R$ 679 – Doural)

Garrafas para suco e água, com capacidade de 1 litro. (R$ 15 a unidade – Du Chapéu)

fotos: DIVULGAÇão e José Henrique Vieira. Preços sujeitos a alterações

Miniprato para bolo Matrioska com 12 cm de diâmetro. Feito de porcelana, com acabamento fosco. (R$ 89 – MO.D)

A chaleira da marca americana Oxo tem bico que abre automaticamente e revestimento de aço esmaltado. Tem capacidade para 1,9 litro e vem com apito para sinalizar a fervura da água. (R$ 399 – Spicy)

20 diVino Sabores

A máquina de waffle tem ajuste de temperatura e placas antiaderentes, além de luzes para indicar quando o waffle está pronto. (R$ 398 – Spicy)

Tábua migalheira em bambu; vem com uma faca para pão (R$ 178,86 – Du Chapéu)

diVino Sabores 21


Sacola de Compras

O misturador deixa qualquer bebida mais cremosa, de maneira bem prática. (R$ 37,80 – Pepper)

Garrafa térmica com acabamento cromado e ampola de vidro espelhado. Capacidade de 1.000 ml de líquido quente ou gelado. (R$ 239,90 – Tok&Stok)

Máquina de café Latíssima, da Nespresso, que prepara espressos, lungos e cappuccinos. Tem reservatório para leite, saída para água quente e controle automático do volume de café. (R$ 1.690 – Spicy)

Conjuntos de chá e café da St. James. (Jogo com duas peças: verde por fora – R$ 145; branco por fora – R$ 185)

Torradeira Professional da Viking em aço inoxidável com bordas arredondadas e botões de controle com múltiplas opções de tostagem e abertura, inclusive para pão italiano. (Preço sob consulta – Viking)

22 diVino Sabores



Na Ponta da Língua

por Andrezza Arnone

Alquimista da terra

Conheça a arte de Marisa Ono, que desenvolve produtos para alguns dos melhores restaurantes do País.

24 diVino Sabores

diVino Sabores 25


Na Ponta da Língua

C Marisa Ono não conhecia o alho negro. Começou a pesquisá-lo e hoje é uma das maiores produtoras do Brasil. 26 diVino Sabores

ientista, cozinheira de mão cheia e blogueira, Marisa Ono ganhou a atenção de grandes chefs da gastronomia – entre os quais Alex Atala – ao se tornar a principal produtora de alho negro do Brasil. Ela é uma das poucas que dominam a técnica de transformar o ingrediente, até então comum, em uma iguaria apreciada nos restaurantes mais requintados. Dona de uma pequena propriedade em Ibiúna, no interior de São Paulo, Marisa vende hoje cem quilos do produto por mês. Mas não pretende parar por aí. Em conversa com a diVino Sabores, Marisa contou que pretende dobrar esse número até o final do ano e já está trabalhando a terra para o cultivo de diferentes alimentos

em 2012 e em 2014. Também lembrou como foi o seu começo na lida com a terra e falou sobre orgânicos. Como foi o seu começo como produtora? Um dia, em 2008, o chef Carlos Bertolazzi, do Zena Caffé, voltando de um estágio no restaurante de Ferran Adrià na Espanha, comentou que havia provado um alho negro importado do Japão e perguntou se eu sabia de que se tratava. Eu não fazia ideia do que fosse aquilo e comecei a pesquisar. Achei interessante o processo pelo qual o alho passava, e o assunto começou a martelar em minha cabeça. Fiquei dias pensando: como vou produzir tal iguaria sem gastar dinheiro?



Na Ponta da Língua

Peguei uma chapa de aço velha e montei uma estufa. Fiz muitos testes, perdi muito alho, até chegar ao resultado ideal. Foi aí que comecei a produzir para vender. Carlos Bertolazzi também ajudou nesse processo? Quando considerei o resultado final satisfatório, mandei uma amostra do alho para ele, que disse estar perfeito. Fiquei feliz e resolvi encaminhar outra para o Alex Atala, que eu ainda não conhecia. Escrevi um bilhetinho com meus contatos, imaginando que ele jamais me procuraria. Numa manhã, porém, recebi uma ligação do Alex. Ele elogiou o produto e foi um grande incentivador. Decidi correr atrás de um padrão: diminuir o tempo de produção e aumentar qualidade. Foram seis meses de testes. Hoje produzo cerca de cem quilos de alho negro, mas quero dobrar esse número nos próximos meses. Isso vai facilitar o meu trabalho e ainda sobrará tempo para novos estudos. Quais alimentos você ainda pretende desenvolver? Quero levar a sério a produção do inhame-torto, também chamado de inhame-camarão por causa de seu formato. Temos duas variedades dele: o branco e o vermelho. Eles são mais secos, menos “babentos” que o comum vendido em feiras e mercados. Vou fazer alguns testes, preparar algum croquete com ele para ver como fica.

Quando você iniciará a produção do inhame-torto? Ainda não consegui trabalhar nele por causa da falta de chuvas. Sei que preciso de um solo mais úmido para cultivá-lo e o da minha propriedade é argiloso. No momento, estou atrás de aditivos naturais para deixar o solo mais permeável. Depois disso, quero focar, daqui a três anos, a produção de sansho (pimenta de Szechuan) e de yuzu, um citrino de aroma pungente que lembra o grapefruit. Já tenho as mudas.

Mas a procura por orgânicos é maior a cada dia... Sim. Não sou contra isso. Mas algumas pessoas estão exagerando. Minha mãe lidou a vida toda com a terra e foi exposta ao BHC (agrotóxico). Hoje, aos 73 anos, ela está com muita saúde. Infelizmente, os orgânicos, ao menos por enquanto, não vão matar a fome do planeta. Quando forem produzidos em grande escala, aí sim teremos dado um grande passo. E qual a sua opinião sobre os produtos transgênicos? Não me atrevo a falar sobre isso, já que não sei muito sobre o assunto. Mas, se puder não usar, não vou usar.

Quais outros produtos diferenciados você cultiva? A vagem de Okinawa, conhecida no Japão como shikaku ingen, é um deles. Apesar de ser bastante consumida por lá, sua origem é africana. No Brasil, recebe o nome de vagemde-asa e, segundo o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), é bastante consumida nas regiões Norte e Nordeste – tanto suas folhas quanto a batata que produz e as sementes. Mas só a plantei para manter as sementes. Testei ainda uma qualidade de batata-doce rosada, bem mais adocicada, outra que devo demorar um pouco para produzir em grande quantidade.

Prato de um dos clientes de Marisa, o restaurante Emiliano: leitão de leite assado, com farofa, alho negro e maçã verde

Você vai com frequência ao Japão em busca de sementes diferentes? Já trouxe muitas para plantar no Brasil? Agora viajo menos, mas, quando quero algo, entro em contato

com amigos de lá. Já trouxe cerca de 15 ou 20 tipos, entre ervilha, milho, berinjela, pimenta e pimentão. O problema é que a produção ainda é pequena. Penso na viabilidade de trazer uma variedade de abóbora do tipo kabochá, também chamada de kuri kabocha, de polpa bem doce e textura fina, que lembra a das castanhas portuguesas. Kuri é castanha em japonês.

Alho negro – pode ser utilizado de várias formas: em pasta, com sorvete, com carne, na pizza ou inteiro como elemento decorativo, na finalização de pratos ou até mesmo para molhos de guarnição. Inhame-torto (ebi-imo ou inhame-camarão) – é servido cozido. Croquetes com a raiz ainda estão em fase de testes. Cebolinha japonesa (rakkyo) – é servida em conserva ou, quando bem novinha, com pasta de soja. Ruibarbo japonês (fuki) – para utilizá-lo, descasca-se o talo, tirando a fibra mais grossa. A parte interna pode ser consumida cozida, em água e sal ou em conservas à base de molho de soja. Nabo – é servido cozido ou em conserva. As variedades que Marisa estuda são mais para cozidos, de sabor adocicado e textura macia. Sansho (pimenta de Szechuan) – no Japão costumam-se usar as folhas trituradas para aromatizar pratos ou inteiras para decorá-los. Yuzu – citrino de aroma pungente, que lembra o grapefruit. Tanto a casca quanto o suco são usados em diversos preparados, como molhos, licores, em pasta (com pimenta ou misturado à pasta de soja), como tempero para sushis, peixes e vegetais e também em conservas. Para saber mais sobre o trabalho de Marisa Ono, acesse o blog Delícia: http://marisaono.com/delicia

28 diVino Sabores

fotos: Paulo Uras e Tadeu Brunelli

Conheça alguns produtos desenvolvidos por Marisa Ono

Os seus produtos são orgânicos? Esse tipo de agricultura faz diferença no resultado final de um alimento? Meus produtos não são orgânicos. Para que o fossem, a semente também deveria ser orgânica. Além disso, a semente não pode passar por tratamento e algumas das minhas passam. Sinceramente, a cultura de consumir orgânicos é importante: para o pequeno produtor, que é mais bem pago, para diminuir a agressão ao solo e ao meio ambiente e para valorizar o homem da terra. Mas não se pode dizer que um produto é melhor só porque é orgânico. Eu já comi morangos orgânicos bem piores que os comuns. É preciso ter cuidado com a qualidade.

Você fala muito em cuidados, padrão, qualidade. Esses pontos foram determinantes para o seu sucesso? Quando eu tinha 25 anos, meu pai, japonês, resolveu voltar para o seu país natal e, é claro, fui junto. Lá trabalhei numa indústria de alimentos. Era uma empresa de marmitas, onde eu montava caixas e bandejas de sushi, embalava produtos, etiquetava. Os chefes eram bastante exigentes e acho que eu trouxe um pouco dessa “neurose” para o meu trabalho por aqui. A indústria no Japão foi sua única ligação com a área de alimentação? Nunca trabalhei de verdade nessa área. Estudei até o terceiro ano de física, parei e fui bancária. Só que gosto muito de cozinhar. Aos quatro anos de idade, quando morava em Catumbi, no Rio de Janeiro, já preparava ovo quente para o café da manhã. Aos nove anos, mudamos para Londrina, no Paraná. Nessa época, fazia o almoço ou o jantar, mas era tudo muito simples. Refeições mais elaboradas eu comecei a fazer por volta dos 20 anos, quando passei a trabalhar fora, comer pratos diferentes... Além

de

Carlos Bertolazzi

e

Alex Atala,

com quais

outros chefs conhecidos você trabalha?

Tenho contato com o Murakami, do restaurante Kinoshita, a Janaína, do bar Dona Onça, e o Shinya Koike, aqui do Aizomê. Também forneço produtos para o Pomodori e para o Emiliano, entre outros. O que é necessário para garantir produtos de qualidade? Um dos pontos importantes é ter um solo adequado, outro é plantar cada produto na época correta, ou seja, na estação a que ele se adapta melhor. Aí não tem erro. diVino Sabores 29


Viagem DiVina

por Sonia Denicol

CaminhO de Pedra

Conheça os encantos de um roteiro pela serra gaúcha que propõe uma viagem ao tempo dos colonos italianos.

A

garoa fina de verão e a névoa típica das regiões serranas encobrem a copa das araucárias e acompanham o passeio por um roteiro de nome curioso, próximo à cidade de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha: Caminhos de Pedra. Na realidade, é de asfalto o trajeto no qual foram erguidas as primeiras moradias dos imigrantes italianos que chegaram à região em 1875 – um inestimável patrimônio histórico e cultural do Rio Grande do Sul, transformado em roteiro turístico. Por esses caminhos, pode-se vivenciar uma arquitetura

única no País e também conhecer a cultura, a culinária, os vinhos e o artesanato locais, que fundiram a forte influência das origens italianas com a paisagem e os recursos naturais. Parar no caminho para observar as moradias antigas faz-nos imaginar a vida dos primeiros imigrantes vindos para a região. A fumaça branca escapando de uma chaminé mistura-se à névoa e sinaliza um fogão a lenha ainda em uso, talvez já preparando o almoço a ser servido nos restaurantes locais de comida típica. Quase dá para sentir o perfume

Fachada da Casa do Artesanato e das Massas, que oferece produtos tradicionais do cardápio italiano

30 diVino Sabores

diVino Sabores 31


Viagem DiVina

do pão colonial e das geleias caseiras, do galeto assado e do molho de tomate a acompanhar as massas caseiras. Nos porões de pedra, úmidos e com pouca luz, a imagem dos queijos, salames e copas em processo de cura. Dá até mesmo para ouvir o som das garrafas de vinho sendo empilhadas ou abertas durante as refeições sempre alegres em família.

O início de tudo Essa cultura teve origem na Colônia Dona Isabel (hoje Bento Gonçalves), em um barracão construído pelo Major-engenheiro José Maria da Fontoura Palmeiro, encarregado da demarcação dos lotes de terra que abrigam os agrimensores e acomodam os colonos (como são chamados os agricultores da região). Esse local é o atual bairro do Barracão, porta de entrada dos Caminhos de Pedra. Ao longo da Linha Palmeiro, a maior de todas as linhas de colonização italiana, foi feito, em 1987, um levantamento do acervo arquitetônico de todo o interior do município de Bento Gonçalves. Constatou-se que o distrito, composto por sete comunidades, tinha o maior número de casas antigas que ainda conservavam suas caracte­ rísticas originais. Uma cultura única e o acesso facilitado re-

presentaram um grande potencial turístico, mas o conjunto arquitetônico necessitava de restauração por causa do abandono ocorrido nas décadas de 1960 e 1970, o que foi viabilizado graças aos recursos da rede de hotéis Dall’Onder. Esse precioso acervo cultural a céu aberto tornou-se então roteiro turístico. A ideia, creditada ao engenheiro Tarcísio Vasco Michelon e ao arquiteto Júlio Posenato, visa a resgatar a cultura estabelecida pelos imigrantes italianos na região. O primeiro grupo de turistas, proveniente de São Paulo, foi recebido na Cantina Strapazzon em 30 de maio de 1992. O sucesso do roteiro animou os idealizadores e a comunidade a fundar, em 10 de julho de 1997, a Associação Caminhos de Pedra, que contou com a assessoria do Sebrae. Em 1998, o projeto foi aprovado pelo Conselho Estadual de Cultura e passou a receber recursos de doadores beneficiados pela Lei de Incentivo à Cultura do Estado do Rio Grande do Sul.

Casas de pedra A história dos Caminhos de Pedra, hoje um sucesso, guarda tempos de dificuldades e grandes transformações. Nas décadas de 1930 e 1940, com a melhoria das condições Restaurante Nona Ludia: fachada rústica mantém as características da construção de 1880

32 diVino Sabores



Viagem DiVina

de vida, os habitantes, inspirados nas casas de alvenaria das cidades grandes, que representavam um nível socioeconômico melhor, passaram a revestir suas moradias com cimento para cobrir a aparência bruta das pedras. No entanto os descendentes contemporâneos, ao retornarem à Itália em busca de suas raízes, ficaram orgulhosos de encontrar semelhanças com a arquitetura de origem italiana. As casas, então, passaram a ser restauradas, revelando a riqueza e beleza dessa cultura esquecida. A residência onde funciona hoje um dos restaurantes locais, o Nona Ludia, foi uma das primeiras a serem restauradas pelo projeto em 1994, quando foram recuperadas as caracte­ rísticas de sua construção original de 1880. O resultado é de grande beleza: fachadas rústicas com um charme particular. No lado de dentro, um capricho de mamma italiana: aconchego, mesas bem-arrumadas, comida farta e saborosa servida com a tradicional hospitalidade gaúcha. O papel atual dos Caminhos de Pedra é resgatar a histó34 diVino Sabores

ria, a cultura, a culinária local e as atividades tipicamente rurais, como o cultivo de frutas, a criação de ovelhas e a produção de lã, de queijos, de doces, de geleias e de erva-mate para o chimarrão. Sem esquecer o artesanato, como a dressa (tramas feitas com a sobra da palha do trigo e utilizadas na confecção de cestos e chapéus). O projeto encadeou na comunidade uma série de iniciativas para preservar o seu patrimônio cultural (o dialeto “talian”, a língua típica dos imigrantes locais, a dança e a música), entre as quais as empreendidas pela Casa da Memória, onde grupos artístico-culturais se apresentam em ocasiões especiais.

Registro gastronômico Como na arquitetura, a culinária se desenvolveu com base nos hábitos alimentares tradicionais dos italianos mesclados com os recursos encontrados localmente. Foram incorporadas as massas de farinha de trigo e os molhos à base de tomate, além da polenta e dos risotos. Difundiu-se

fotos: divulgação/ associação caminhos de pedra e sonia denicol

Detalhe do processo de desidratação, na Casa do Tomate



Viagem DiVina

O sucesso do roteiro animou os idealizadores e a comunidade a fundar, em julho de 1997, a Associação Caminhos de Pedra.

o gosto pelo queijo, que acompanha pratos de massas ou é consumido com frutas e doces. Uma verdadeira experiência para en­tender a gastronomia como uma importante forma de manifestação cultural dos povos, além de inegável atrativo turístico. Nos porões de pedra da Casa dos Doces Predebon, por exemplo, a família produz doces com frutas cultivadas na propriedade, com destaque para o de figo. Nada mau provar essas delícias enquanto se aprecia uma bela vista de vales e cascatas. A família Lerin dirige a Casa do Tomate. No porão da residência, é possível observar o processo de fabricação de extratos, mo-

lhos, sucos e de desidratação do tomate. Também se podem degustar refrigerantes com sabor de frutas produzidos por processo natural, sem conservantes químicos. Três restaurantes oferecem a típica culinária italiana local. No cardápio do Nona Ludia, não faltam o cappelletti in brodo, as massas, a polenta, o frango e o tradicional sagu entre as opções de sobremesa. A Casa Vanni Espaço Gastronômico – uma residência de madeira sobre um porão de pedras irregulares, construída em 1935 e restaurada em 1996 pelo projeto dos Caminhos de Pedra – teve, em 2008, seu subsolo de pedra transformado em um restauCasa da Ovelha, um dos pontos pitorescos do trajeto

rante que oferece um cardápio à base de risotos e massas. Outra boa parada é a Cantina e Casa Strapazzon. Construída em 1880, mantém as características originais da casa erguida pela primeira geração da família. Em 1995, foi cenário para o filme “O Quatrilho”. Explicações sobre o processo de produção do vinho e degustação de produtos coloniais, como queijos, salames, vinhos e sucos, são oferecidas aos visitantes. Parada obrigatória é também a Casa da Ovelha. De madeira pintada de verde-claro, com janelas brancas, foi construída em 1917 e, durante um longo período de prosperidade, quando havia intenso movimento rodoviário pela região, abrigou um restaurante e um hotel. No porão de pedras, funciona uma loja onde se dá a degustação dos queijos, dos iogurtes, do doce de leite e dos demais derivados do leite. Na Casa da Erva-Mate, com uma bela roda-d’água ainda em funcionamento na fachada, pode-se observar o processo artesanal de produção da erva-mate.

Na Casa da Erva-Mate pode-se conhecer o processo artesanal de produção da erva

A hora e a vez do vinho Nesta, que é a região mais tradicional em produção de vinhos, também não faltam vinícolas. Além da moderna Lovara, pertencente ao grupo Miolo, há a pequena Salvati & Sirena, instalada em uma edificação em formato octogonal construída com as pedras basálticas extraídas do próprio local. A vinícola resgatou a casta italiana Peverella, quase desaparecida mesmo na Itália, com a qual faz um vinho branco seco fresco e agradável. Na degustação, os visitantes são orientados a fechar os olhos e a prestar atenção ao sabor picante causado na língua logo ao primeiro gole. Na esteira da valorização de todo esse patrimônio, deu-se também o desenvolvimento de regiões próximas, como o Vale dos Vinhedos, um dos mais importantes polos vinícolas do País. Pequenos produtores, que forneciam uva ou vinho para os grandes produtores locais até o início da década de 1990, passaram a produzir o próprio vinho e a vendê-lo localmente, promovendo forte crescimento desse segmento. A Casa Valduga foi uma das primeiras a puxar esse desenvolvimento, e a Miolo logo veio atrás. O vale organizou-se e hoje é um dos pontos mais visitados da serra. Surgiram ainda outros roteiros, como os Caminhos do Espumante, em Garibaldi, e a Rota Romântica, que vai de Caxias do Sul até Dois Irmãos. 36 diVino Sabores

Profusão de encantos Arte em madeira, tecelagem e até mesmo esculturas que têm como matéria-prima o basalto encantam aqueles que fazem esse roteiro cultural. Em todo o trajeto, a natureza é exuberante. Pinheiros e araucárias, bem como jardins e canteiros bem cuidados, demonstram a preocupação em preservar a natureza local e a arte de receber bem os visitantes. Mais do que um roteiro turístico, os Caminhos de Pedra são uma oportunidade única para vivenciar a história que criou um dos mais importantes e belos patrimônios culturais do nosso País. diVino Sabores 37



PapO de Mesa

DiVersidade e tradiçãO

Landgraf: estilo gastronômico influenciado pela filosofia de Tom Aikes

Alberto Landgraf, do restaurante epice: aprendizagem gastronômica na Europa unida à filosofia de ex-atleta.

Q 40 diVino Sabores

por Carlos Marcondes fotos José Henrique Vieira uem acompanhava a seleção paranaense de vôlei infantojuvenil há mais de 15 anos, não imaginaria que, daquele time, dois companheiros mostrariam seus talentos em ambientes tão distintos. Em uma ponta da quadra, o atacante Giba, que seguiu sua carreira e se transformou no ídolo mais bem pago do esporte. Ao seu lado, Alberto Landgraf, um ponteiro promissor, mas que profissionalmente só se encontraria mesmo entre sabores e panelas, despontando hoje como um talento da nova geração da cozinha brasileira. O chef não cresceu em tamanho o quanto precisava. Trocou o vôlei pelo desafio antagônico de estudar física, uma ciência que o fascinava, mas que também não o completava. Trancou a faculdade e partiu para a Europa a fim de abrir seus horizontes – e o acaso o colocou no caminho da gastronomia. “Quando entrei na cozinha, sabia que teria futuro, pois ela me dava duas coisas que eu adorava: a possibilidade de trabalhar o intelecto, como na física, estudando para a criação de pratos e de novas propostas, e a

oportunidade de preencher a minha necessidade de adrenalina e esforço físico, fatores que me encantam no esporte.” Segundo ele, a busca pela melhoria constante no desempenho, por uma perfeição quase utópica, é algo muito próximo nas duas atividades. “A satisfação com os resultados após um jogo ou depois de uma degustação e a necessidade de saber trabalhar em equipe, com sincronismo, são também pontos que aproximam as duas práticas.” Landgraf faz questão de frisar que sua comida é sóbria, forte e bem séria. Fruto dos cinco anos que passou na Europa, principalmente em Londres, trabalhando com grandes feras, como Anthony Demetre, do Arbutus, Neville Campbell, do luxuoso Blakes, e Tom Aikens, do restaurante de mesmo nome. No curto período em que viveu na França, Alberto atuou com o superchef Pierre Gagnaire, três estrelas Michelin. Muitos comentam a experiência do brasileiro em restaurantes badalados, mas quem mais influenciou sua formação foi Tom Aikens, além do grande amigo Lawrence Lingard, diVino Sabores 41


PapO de Mesa

hoje à frente do londrino Simplicity, que o iniciou no mundo da cozinha. “Aprendi muito com os dois. Hoje, meu estilo de comida tem diversas semelhanças com a filosofia do brilhante Tom Aikes”, lembra. Além de trabalhar em várias casas com o objetivo de conhecer diferentes estilos, Alberto cursou gastronomia na renomada escola Westminster College, um curso prático que privilegia o aprendizado no trabalho. Após cinco anos na Europa, voltou ao Brasil, passou uma fase na Bahia e depois chegou a São Paulo para trabalhar em alguns projetos com a chef Ana Soares. Por mais de um ano, atuou como

coordenador de gastronomia da Companhia Tradicional de Comércio, proprietária de bares como Astor e Pirajá. Dessa formação diversificada, Alberto amadureceu para então buscar o sonho de montar um pequeno restaurante. Elaborou o projeto do Epice, que, segundo ele, é o sonho de todo cozinheiro: um local para apenas 38 pessoas, com menu enxuto, que funciona com reservas nos fins de semana. Bem prático e financeiramente sustentável. No entanto, antes de sair do papel, o projeto Epice recebeu um não de quase todos os empresários ligados à gastronomia paulista. Pouco antes de desistir da ideia, para o bem dos comensais, o chef encontrou dois jovens empresários, de apenas 26 anos, Pedro Keese e Lara Ezzeddine, que buscavam um parceiro para abrir um restaurante diferenciado. “Devo muito a eles por terem acreditado nesta ideia. Nossa sintonia é muito forte e é, sem dúvida, uma das razões do excelente início que estamos vivendo, com ótima avaliação dos clientes e da mídia”, comemora.

Epice Segundo o próprio chef, se ele estivesse na Europa, sua comida seria definida como “francesa moderna”. Aqui muitos a chamam de contemporânea. Ele reluta em definir, mas é convicto ao afirmar que pratica um estilo de cozinha e de montagem de pratos bem francês, fruto da escola que teve em Londres, uma cidade que venera a gastronomia parisiense. Seja qual for a classificação, para Landgraf há apenas dois tipos de comida: a boa e a ruim. Em seu conceito, não há espaço para o razoável. Dedicado, ele chega todos os dias às sete da manhã e sai sempre depois da meia-noite, acompanhado de sua equipe, que é formada por nove pessoas na cozinha e seis no salão. Uma maratona de alguém que afirma ser muito exigente

O chef estudou gastronomia na renomada escola Westminster College, um curso prático que privilegia o aprendizado no trabalho. 42 diVino Sabores



PapO de Mesa

de sazonalidade, Alberto buscou uma alternativa e teve a ideia de grelhar tentáculos de polvo, cercando-os de batata fondant e tomate confit, e temperá-los com vinagrete de Jerez, pignoli e catalônia. A aceitação tem sido tão boa que a demanda exige 120 polvos por semana. Ainda do mar, Alberto preparou um robalo com farofa de amêndoas, purê de limão, alho-poró, cerefólio e molho vierge. Entre as carnes, há a inusitada barriga de porco (R$38), montada com grão-de-bico, chorizo e páprica e finalizada com azeite de chorizo. As sobremesas, quase todas com frutas, como o ravióli de abacaxi (R$15), com toques de musse de coco, sorbet de abacaxi e tuile de abacaxi, são surpreendentes. “Faço uma comida autoral, pois o que oferecemos no Epice não há no Brasil, ao menos não com essa transformação do mesmo ingrediente e do jeito como apresentamos o prato”, define.

Alta gastronomia Tentáculos de polvo: um dos pratos mais pedidos

No Epice, a comida é autoral: são poucos os pratos – sete entradas, oito principais e cinco sobremesas –, todos com diversos ingredientes.

44 diVino Sabores

em prol de uma perfeição que nunca será alcançada. “Não é fácil trabalhar comigo. Lá fora aprendi que não há como servir um belo almoço chegando ao restaurante às nove da manhã. Cobro intensamente, mas valorizo muito meu time”, comenta. No Epice, a comida é mesmo autoral: são poucos os pratos – sete entradas, oito principais e cinco sobremesas –, todos com diversos ingredientes, um dos conceitos para a formação do menu. A inspiração começa com a matériaprima. Por exemplo, no caso da abóbora, ele a corta para fazê-la sauté e, com o que sobra, elabora um creme, que depois virará um nhoque. Acrescenta ainda o próprio creme, desta vez com avelãs, adiciona gelatina de parmesão e dá um toque oriental com o shimeji. Uma bela entrada por apenas R$ 20. “Gosto dessa linha, da ideia de usar várias partes do mesmo ingrediente em um prato. Evita desperdício e aguça a criatividade”, revela. Outra criação que vem agradando aos comensais é o polvo (R$54). Na falta de camarões de qualidade, por questões

Com a experiência de ter passado por um restaurante de três estrelas, de ter sido o head chef de outro de “uma estrela Michelin” e ainda de ter atuado no Tom Aikens, que, na época, era o sétimo na mesma lista, posição em que se encontra hoje o paulistano D.O.M., Alberto vê com outros olhos o conceito de alta gastronomia no Brasil. Considera um pouco utópico e exagerado dizer que estamos avançados nesse setor. “Há muita subjetividade na lista dos 50 melhores, e as estrelas do Michelin são mais consistentes. Se um dia evoluirmos como espero, o Epice terá mais o perfil de conquistar uma estrela do que o de entrar na lista”, analisa. Na sua visão, há muito o que melhorar no País em estrutura educacional, principalmente das equipes de garçons, pois não há cursos preparatórios de qualidade. Os profissionais também não são bem remunerados, e é ruim a oferta de fornecedores sérios no quesito ingredientes. Como exemplo, cita a Ceagesp, onde há monopólios quase institucionalizados, ou seja, apenas um produtor é responsável por determinada fruta ou legume. Outro ponto é a formação de cozinheiros aprendizes que atuaram com renomados chefs. Segundo Alberto, não encontramos um importante profissional que surgiu após ter trabalhado por anos com um chef brasileiro famoso, fato comum na Europa e nos EUA. “Para falar em alta gastro-

Segundo o chef, é preciso treinar os cozinheiros para brilharem no futuro

nomia, precisamos de formadores, que treinam seus cozinheiros para brilharem no futuro e abrirem seus próprios restaurantes. É o que pretendo fazer com quem atuar no Epice”, projeta Landgraf. O paranaense também aprendeu na Europa a admirar a filosofia e o trabalho do catalão Ferran Adrià. Ele utiliza cocção a vácuo em seu polvo, no entrecôte e em todas as frutas das sobremesas. Para Alberto, o que o dono do recém-fechado El Bulli criou é um marco histórico. Adrià usou algo que já existia na indústria, como espessantes e lecitina de soja, e implantou esses ingredientes no universo dos restaurantes e até na cultura de muitas famílias europeias, que já possuem máquinas a vácuo em suas casas. “Tudo o que hoje é clássico já foi moderno um dia. Scoffier já foi vanguardista! Em alguns anos, as pessoas vão olhar para trás e se perguntar como poderia existir a gastronomia sem o Ferran. Ele fez do El Bulli um grande desfile de moda, um exemplo para o mundo”, comenta o jovem chef, já de olho no futuro. diVino Sabores 45


SugestãO dO Chef

por Aline Oliveira

Cappelletti

brodO

FOTOs: José Henrique Vieira, Paulo Uras e Divulgação

A 46 diVino Sabores

Confira cinco versões desse prato tradicional, cada uma com suas particularidades, ideais para aquecer o corpo e a alma nesse inverno. dedicação que o cappelletti in brodo exige para ser preparado é, por vezes, obscurecida por sua aparente simplicidade. Não que para fazê-lo sejam necessárias as habilidades profissionais de um chef, mas, sim, porque se levam horas e, dependendo da receita, até dias para que fique pronto. O ideal, segundo dizem os especialistas, é que a massa seja preparada com um dia de antecedência para que a farinha de trigo se solte o suficiente para não “empapar” o caldo do cozimento. A paciência é outro elemento fundamental, afinal, cada etapa do preparo é um convite à reflexão: a cocção da massa propriamente dita, o preparo do recheio e a combinação de ingredientes para que o brodo seja suficientemente saboroso e aromático. Esse caldo de carne, que pode ser tanto de boi quanto de galinha, é servido com uma massa em formato de pequeno chapéu – daí a origem do nome “cappelletti” – recheada com uma combinação de carnes e temperos. Sua origem é um pouco controversa e, em

seu país natal, a Itália, dependendo da região, dos tipos de carne usados e até mesmo do formato da massa, é chamado ora de cappelletti, ora de tortellini. É apenas uma questão geográfica. Ainda na “bota”, o prato é mais consumido em regiões mais frias, como Emiglia Romagna, Toscana e Piemonte e é tradicionalmente servido na época do Natal. Aqui no Brasil, importamos a tradição para fazer parte dos nossos cardápios durante o inverno, apesar de a massa ser muito mais apreciada quando acompanhada por molhos como à bolonhesa, ao sugo ou à romanesca. Dependendo da quantidade de massa servida com o brodo, o prato pode tanto atender aos mais famintos como inaugurar uma grande refeição. O importante, na verdade, é saborear a receita que muitos chefs se lembram de terem visto suas próprias avós fazerem. Nesta edição, a diVino Sabores apresenta algumas das versões servidas nos restaurantes italianos mais tradicionais de São Paulo. diVino Sabores 47


SugestãO dO Chef

Famiglia Mancini A Famiglia Mancini possui uma série de restaurantes na rua Avanhandava, na Bela Vista, em São Paulo. Walter Mancini adora servir sopas, porque, além de ser uma opção tradicional, é um prato rico em sabores e texturas. O cappelletti in brodo é servido na casa desde 1980 e a receita, segundo o chef, é a genuína, exatamente como se serve na Itália.

Cappelletti in brodo Rendimento 2 porções Ingredientes Recheio 100 g alcatra 100 g lombo de porco 100 g de peito de frango Sal Pimenta Azeite Alho Cebola Brodo 1 carcaça de frango 2 l de água 2 tomates sem pele e sem sementes 1/2 cebola cortada em gomos 2 galhos de salsão Sal a gosto Alho-poró

Frango desfiado complementa a apresentação do prato

48 diVino Sabores

Modo de Preparo Para o recheio, moer os pedaços de carne, devidamente temperados e assados. Para o brodo, colocar a carcaça de frango e os demais condimentos nos dois litros de água e cozinhá-los por uma hora. Coar, acrescentar a massa e servir.



SugestãO dO Chef

Piselli O chef Paulo Kotzent, do Piselli, tem ótimas recordações do prato que era consumido na época do inverno com a sua família. “Me lembro da minha avó levando horas para fazer a massa, abrindo, moldando. E depois o recheio, o caldo. Era muito divertido. Quando pequeno, achava o prato muito simples. Era só pegar na sopeira! Mas passei a dar muito valor quando tentei fazer pela primeira vez. É realmente muito trabalhoso, mas reconfortante”, conta. O chef prepara tanto a receita típica do norte da Itália, que leva presunto Parma e mortadela

bolonhesa, como também outra, em que troca esses ingrediente pelo embutido cotechino, um misto de salsinha com linguiça de porco que é envolvida pela pele do animal. “O cotechino deve ser cozido e depois misturado com os outros ingredientes, o que resulta em um recheio com sabor muito mais acentuado”, revela o chef, que ainda afirma que o queijo parmigiano reggiano, dependendo do tempo de cura, é usado para salgar o recheio. Outro detalhe que o chef conta é que, no Piselli, eles apostam no caldo de carne.

Fasano A casa cultiva a gastronomia clássica e o prato, assinado pelo chef Salvatore Loi, é uma das inúmeras opções do menu tradicional e especializado na alta gastronomia italiana. Um dos mais pedidos nos meses de inverno.

Cappelletti in brodo Rendimento 4 porções Ingredientes Recheio 2 colheres (sopa) de azeite extravirgem 1 cebola pequena em cubos 100 g de carne de vitelo picada 1 peito de frango sem pele e sem osso picado 1/2 xícara de vinho branco 1 l de caldo de carne 50 g de presunto cru picado 50 g de mortadela picada 2 colheres (sopa) de parmesão ralado Noz-moscada Sal e pimenta-do-reino moída na hora

50 diVino Sabores

Brodo 2 litros de água 1/2 cebola 2 talos de salsão 1 talo de alho-poró 300 g de osso de carne Sal Modo de Preparo Para o recheio, refogar a carne e o frango, adicionar o vinho branco e deixar evaporar. Após cozido, deixar esfriar e bater no processador de alimentos. Para o brodo, cozinhar os ossos de carne e os demais condimentos e coar. Após isso, adicionar a massa e servir.

diVino Sabores 51


SugestãO dO Chef

Il Sogno di Anarello O italiano Giovanni Bruno é quem está à frente da cozinha, atende os clientes e até o telefone. Sua cantina, localizada numa rua homônima na Vila Mariana, mantém vivas as características de sua terra natal. Como sabe que o prato não é muito pedido pelos brasileiros, ele mesmo faz questão de oferecê-lo aos comensais. Quem aceita a sugestão certamente não se arrepende, pois, além de saborear um cappelletti in brodo produzido artesanalmente – Giovanni é o tipo de chef que conhece as medidas “de cabeça” –, tem a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre os hábitos alimentares do norte da Itália. O recheio escolhido pelo chef é feito com carne moída, presunto cozido, filé ou carne de vitela, além de nozes-moscadas raladas e um pouco de creme bechamel.

Vinheria Percussi

“É a receita das avós”, conta a chef Silvia Percussi, que comanda a cozinha do restaurante Vinheria Percussi. Apesar de a tradicional receita italiana levar carne de boi e de porco, a chef Silvia Percussi quis manter a receita familiar passada de geração a geração. “Ela é muito mais suave por ter a massa recheada com frango e ricota. O toque do limão siciliano também confere ao prato um aroma especial”, diz. De acordo com a chef, o restaurante faz a massa artesanalmente e recheia cada um dos cappelletti à moda antiga. E, apesar de a massa levar frango, o caldo é feito com carne bovina, o que deixa o sabor mais acentuado. No preparo de uma porção para uma pessoa, são usados 80 g de massa e quase 600 ml de caldo, que será reduzido quase à metade até que a massa esteja cozida.

52 diVino Sabores



Além dO Sabor

RespeitáVel

públicO...

por Gisele Alexandre fotos José Henrique Vieira

A 54 diVino Sabores

A chef Renata Vanzetto nos recebe em seu restaurante para mostrar que também é boa na corda bamba. jovem e bela Renata Vanzetto, de 23 anos, chef do Marakuthai, abriu as portas de seu restaurante, em São Paulo, em pleno dia de faxina, para receber nossa equipe. Depois de um fim de semana bem movimentado, como nos contou Renata, era hora de pôr a casa em ordem para dar início a mais uma semana de muito trabalho. Em meio aos móveis coloridos e exóticos – ainda fora do lugar –, a chef nos contou um pouco sobre o seu ingresso na gastronomia. “Desde que me lembro, sempre ajudei minha avó na cozinha.” Foi por influência das delícias preparadas por Dona Cida Camargo que Renata começou a se aventurar no mundo dos sabores. Segundo ela, uma das entradas mais vendidas hoje no Marakuthai, o Kiri Kiri (bolinhos de camarão com crosta de castanha-de-caju), é uma releitura dos bolinhos que a avó fazia quando ela era criança.

Renata Vanzetto encontrou no circo muito mais que equílibrio: “é exercício para o corpo e a mente”

diVino Sabores 55


Além dO Sabor

Anos depois, quando tinha 13 anos, sua mãe, a decoradora Silvia Camargo, resolveu abrir um pequeno restaurante tailandês em Ilhabela, no litoral paulista. Foi aí que sua paixão pela cozinha começou a ficar séria: “Inauguramos nas férias, dentro de casa mesmo. Minha prima, que já trabalhava na área de gastronomia, era quem chefiava a cozinha, e eu, ainda menina, já era a responsável pelo preparo de todas as entradas”. Após as férias terminarem, sua prima, que morava fora do País, voltou para casa e o pequeno e improvisado restaurante fechou. Mas o trabalho de Renata não! “Depois dessa experiência, muita gente começou a perguntar se eu tinha aprendido a fazer os pratos que eram servidos no restaurante, e eu dizia que sim.” Aos 15 anos, Renata já cozinhava para aniversários, festas etc. Daí para a frente, a vocação foi conquistando cada vez mais espaço em sua vida. Ganhou um concurso de Chef Amador e, depois, de Melhor Chef de Ilhabela, aos 16 anos. Após se formar no ensino médio, aos 17 anos, a jovem promissora foi conhecer o mundo. Na Europa, fez estágio na Brasserie Les Varietés, em Saint Rémy, no sul da França, ao lado do chef Antonio Pereira – que conheceu no restaurante Deck, em Ilhabela –, e permaneceu cerca de um mês na cozinha do bufê do restaurante Villaurrutia, em Tarragona, no nordeste da Espanha. De volta a São Paulo, teve a ideia de abrir o Marakuthai – nome criado com base em uma brincadeira com a cozinha tailandesa. “Sempre gostei de comida bem temperada, coisas com gengibre, curry, pimenta, e eu descobri que tudo aquilo que eu gostava de comer era da cozinha tailandesa. Por isso, quando veio a ideia de abrir o restaurante, eu acabei trazendo alguns desses temperos para as minhas receitas. Daí o nome, pois, apesar de não ser um típico estabelecimento tailandês, ele tem muitos sabores dessa cozinha.” O restaurante contemporâneo cheio de sabor e estilo se tornou um grande sucesso em Ilhabela. Foi com seu trabalho nessa casa que, em 2008, Renata conquistou o prêmio de Chef Revelação do Guia Quatro Rodas. Um ano depois, o Marakuthai ganhou uma filial em São Paulo, onde vem repetindo o sucesso de seu irmão mais velho de Ilhabela. 56 diVino Sabores

O sucesso subiu a serra e, além do restaurante em Ilhabela, Renata comanda a cozinha da filial na capital

Da cozinha ao picadeiro Quem acha que Renata se contenta com a correria do trabalho no restaurante está enganado. A moça é do tipo hiperativa. “Quando morava na Ilha, tinha uma vida bem agitada. Fazia tudo de bike, velejava, estava sempre na praia ou na cachoeira. Quando me mudei para São Paulo, procurei fazer algo para gastar minha energia”, lembra. Primeiro, procurou uma academia, mas não deu certo. Em seis meses, foi malhar apenas três vezes. “Nunca tinha feito academia na vida e achei muito chato”, diz Renata. Depois dessa experiência, resolveu procurar algo diferente.

Pesquisou cursos de pilates, ioga, dança, mas nada tinha o ritmo da chef. Até que um dia, em uma de suas buscas, ela se deparou com um anúncio de aulas de circo. “Quando li o anúncio, pensei: nossa, aulas de circo! Como será isso? Então resolvi conhecer e me apaixonei.” A paixão de Renata pelo picadeiro é evidente em seu olhar. Ela está todas as noites no Marakuthai e, à tarde, pelo menos duas vezes por semana, vai à Casa do Circo para suas aulas, que passam pelas modalidades aérea (trapézio, tecido, lira, cordas), acrobática (solo, minitrampolim, trampolim acrobático) e de destrezas de

equilíbrio (arame e bola de equilíbrio e perna de pau). Renata conta que, em nove meses de aula, além de perder o medo de altura, conquistou ainda mais confiança em sua vida pessoal e profissional: “O circo é muito mais do que um exercício físico, ele trabalha a confiança em nós mesmos e nos outros também. Além disso, o ambiente é bacana, com música e pessoas legais. É uma terapia”, afirma Renata. Além dos picadeiros, há cerca de três meses Renata voltou a fazer aulas tae kwon do – esporte que já praticava em Ilhabela –, estimulada por uma de suas colegas de circo, que também é professora desse esporte. diVino Sabores 57


Confraria

OurO

em gotas azeite: o alimento que, além de ser considerado sagrado, é sinônimo de saúde, longevidade e sabor.

U 58 diVino Sabores

por Cristina Judar fotos José Henrique Vieira m clássico da gastronomia mediterrânea, o azeite está cada vez mais presente na cozinha da atualidade. Seja como o tempero perfeito para pizzas e saladas, seja como base para antepastos e molhos, seja para incrementar o sabor de risotos, carnes e frutos do mar. No entanto, é interessante saber que nem sempre foi assim. Para os gregos e romanos, dois dos grandes produtores da Antiguidade, seu uso não estava restrito à arte culinária. Ele era utilizado como medicamento, bálsamo, perfume, combustível e até como impermeabilizante de tecidos. Também, não é para menos. Estudos comprovam as ricas propriedades do puro óleo verde-dourado extraído das azeitonas, que, além de conferir um sabor único aos alimentos com os quais é servido e/ou preparado, representa o que há de melhor e mais saudável para o nosso corpo, a nossa mente e – por que não? – o nosso espírito. E foi exatamente isso o que os participantes do mais recente encontro da Confraria diVino – promovido no Le Vin Bistrô, em São Paulo – puderam conferir em uma experiência rica para todos os sentidos. Marco Guimarães, da importadora D’olivino, conduziu o evento, convidando a todos para uma viagem repleta de história e significado e, como não podia deixar de ser, de diferentes sabores, vivenciados por meio da degustação de produtos de variadas origens, características e “personalidades”. diVino Sabores 59


Confraria

fatores como a cor, a textura e, obviamente, o sabor, que pode ser ácido, metálico, áspero, picante, mais ou menos frutado, amargo, adocicado ou avinagrado”, completa Guimarães. Nesse processo, os degustadores percebem, em graus diferenciados, uma sensação doce na ponta da língua, um certo amargor na parte superior e um gosto picante em sua base, perto da garganta. “Dependendo da intensidade de cada uma dessas sensações e de suas transições, uma história sensorial será contada. Pode agradar ou não, mas um azeite de oliva que proporciona essas sensações tem algo a dizer e merece respeito.” Aos interessados em realizar degustações, Guimarães recomenda alguns cuidados fundamentais para que o olfato e o paladar estejam em condições adequadas: “O melhor período para realizá-las é o matutino. Também é recomendável que os degustadores estejam em jejum há, pelo menos, uma hora. Fora isso, é importante não ter bebido café nem fumado cigarro, charuto ou cachimbo. O ambiente deve estar tranquilo, sem odores fortes ou qualquer tipo de perfume”, finaliza.

Os reis da noite Dois produtos foram eleitos os reis da noite: o azeite Art Premium, do Alentejo, em Portugal, e o Ca’Bora, do Uruguai. • Art Premium: é um blend das azeitonas cobrançosa, cordovil, arbequina e picual. Apresenta um frutado intenso de Entre as várias informações divulgadas durante a apresentação – um verdadeiro passeio sobre as origens do produto até o seu uso na atualidade –, Marcos fez questão de falar sobre os vinhos. “Um dado curioso sobre o azeite é que, ao contrário do vinho – em que o contraponto de sabores é fundamental –, ele deve caminhar ‘na mesma direção’ do alimento com o qual é servido.” Além disso, segundo o especialista, é preciso ficar alerta em relação às vinícolas que também são produtoras de azeite, já que isso não é garantia de qualidade. “Nem sempre uma produtora de excelentes vinhos comercializa excelentes azeites”, ressalta o especialista, que passou um ano na Europa estudando azeites originários de diversos países, como Portugal, Grécia, França e Eslovênia.

Experiência sensorial Servidos em copinhos transparentes, seis azeites foram cuidadosamente analisados durante o encontro dos confrades. 60 diVino Sabores

A degustação de azeites envolve várias etapas: em primeiro lugar, é preciso tapar o copo com uma das mãos, enquanto a outra mão deve permanecer por baixo dele por cerca de 30 segundos, para aquecer o líquido. Esse procedimento serve para concentrar os aromas do azeite e auxilia no processo de identificação. Em seguida, os degustadores aspiram o aroma, procurando identificar a natureza de cada um. Dependendo da variedade, os azeites podem lembrar ervas recém-cortadas, maçãs verdes, frutos secos, abacate, notas cítricas etc. Só depois dessas etapas é que o azeite é sorvido – e os degustadores produzem um ruído característico ao fazê-lo. O “som” pode não ser dos mais agradáveis, mas é resultado de um procedimento que auxilia na percepção de todos os sabores do azeite de oliva. Um pedaço de maçã verde é ingerido entre uma prova e outra com o objetivo de limpar as papilas gustativas. “A degustação é uma experiência sensorial que engloba

Degustadores aquecem o azeite com a palma das mãos para concentrar seus aromas

azeitona verde, ligeiramente amargo e mediamente picante. Ideal para acompanhar carnes vermelhas, peixes e aves de sabor mais intenso. • Ca’Bora: é um blend das azeitonas arbequina e picual. Devido às características de clima e solo, apresenta sabor bem adocicado. Apropriado para acompanhar carnes vermelhas. Também pode ser utilizado como acompanhamento para frutos do mar, pescados e saladas mais adocicadas.

Você sabia? • A palavra azeite é oriunda do árabe az-zayt, que significa “óleo, azeite”.

• Os bicos dosadores, assim como as latas, também aceleram a oxidação.

• Existem mais de 1.400 tipos de azeitona.

• Ao contrário do que muitos pensam, o azeite de oliva é ideal para frituras. Na temperatura correta (de 130 a 190 graus), ele não sofre substanciais alterações estruturais e mantém seu valor nutricional, muito mais do que outros óleos.

• A Espanha é o maior país produtor e exportador de azeites, com aproximadamente 300 milhões de oliveiras. Portugal representa apenas 1% da produção mundial de azeites. • Quanto mais novo, melhor: a durabilidade média de um azeite é de dois anos. • A incidência de luz catalisa a oxidação do azeite. Por isso, dê preferência para produtos comercializados em frascos escuros.

Para saber mais sobre o assunto, confira os guias recomendados por Marco Guimarães: • “Guida Agli Extravergini”, da editora Slow Food Editore (também disponibiliza aplicativo para Ipad). • “Flos Olei”, da editora Marco Oreggia.

diVino Sabores 61


ROteirO

por Danilo Nakamura

Miúdos Pois é, Eles são a bola da vez. Confira os restaurantes de São Paulo que oferecem pratos com fígado, moela, coração, rim...

Fígado de galinha à milanesa com figo grelhado, da Casa da Li

62 diVino Sabores

diVino Sabores 63


ROteirO

O

mundo gourmet tem seus clichês, como a maioria dos mundos tem. Variam com o tempo, mas, como na moda, os mais antenados não perdem o timing e sempre sabem o que é legal consumir, a bola da vez. Lembra-se da manga na salada? Manga no filé? Manga de sobremesa? Suflê de manga? E agora, cadê a manga? Ah, e os minilegumes? Qualquer coisa valia, se tivesse baby no nome: baby agrião, baby cenoura, berinjela baby, baby beef (não, este foi há bem mais tempo). Pois a onda agora é o purismo. É certo que os clássicos dificilmente saem de moda, mas não é sempre que eles estão na moda – ou melhor, são a moda. Amigos que até há pouco tempo eram entusiastas do ovo perfecto hoje não hesitam em pedir um picadinho. Isso mesmo, um trivial picadinho com arroz e farofa. Espaguete ao sugo, coq au vin, bife a cavalo, vitelo tonatto... está tudo in. Talvez seja o baque pós-Ferran Adriá, o cansaço da grandiloquência gastronômica que dominou a década passada. Nos círculos mais engajados, porém, aqueles fechados, que se levam muito a sério e fazem confrarias quase secretas, a coisa vai um pouco além. Não basta ser purista, tem que ser roots. Quanto mais a namoradinha torcer o nariz, melhor.

Salada de mâche com moela de frango e mostarda di Cremona, do Le Marais Bistrot

64 diVino Sabores



ROteirO Picadinho, um dos mais pedidos no Bar da Dona Onça

Na gincana gourmet atual, funciona assim: espaguete ao sugo, 3 pontos; bife a cavalo, 5 pontos; coxa-creme, supertrunfo. Por fim, no topo da lista, estão os miúdos. Fígado, rim, moela, intestino, coração, timo, por aí vai. O horror! O horror! Só de mencioná-los, já se ouve um “bleh!”. Não há uma definição precisa para miúdos. Tecnicamente, são o conjunto de órgãos e entranhas que caíam no processo de abate do animal. O termo em inglês é offal, literalmente, “off fall”. Mas a dimensão desse universo é bem maior se considerarmos outras culturas, como a culinária asiática e do meio oriente. Entram na lista miolo, língua, testículos... São, de fato, o Woody Allen da gastronomia: uns amam, outros odeiam, mas não custa apresentá-los – naquele esquema “se não gostar, não precisa comer, a mamãe come”. A própria harmonização com bebidas é difícil. Na dúvida, uma cerveja ou um bom Jerez devem resolver. Minhas experiências foram inúmeras, como amante declarado e consumidor inveterado. A maioria delas foi memorável para o bem (não queira ter uma má experiência com vísceras, até porque o que pode sair dali é bem perigoso... e bem memorável). Desde que morei na Escócia, não consigo passar um Burns Day *(vide boxe) sem comer miúdos, quaisquer que sejam. Minha avó faz o melhor macarrão 66 diVino Sabores

com moela do país. Mas, como nem a Escócia, nem a casa da minha avó são aqui do lado, a diVino Sabores fez uma lista de lugares confiáveis de São Paulo para comer miúdos em várias línguas, inclusive as próprias.

Bar da Dona Onça Dos poucos restaurantes da cidade que compreenderam plenamente o que é a cozinha paulistana ou o que come o paulistano. Tem arroz com feijão, sardinha, salada de tomate com pepino, massa, rabada com polenta e, é claro, miúdos. Uma dobradinha para calar as bocas cheias de preconceitos, fígado acebolado e língua ao molho madeira com purê de batatas. Todos impecáveis, especialmente a língua.

La Casserole Rins de vitelo ao molho de Beaujolais. Clássico. No charme do centro de São Paulo, desde 1954, fazendo cozinha tradicional francesa. É o complemento obrigatório da Sala São Paulo.

Casa da Li Aqui não tem desculpas. “Sem tempo, sem dinheiro, sem fome agora, não gosto deste.” Todo dia tem miúdos na Casa



ROteirO

da Li, de vários tipos, o tempo todo. É barato e você ainda pode levar para casa. Eliane André, além de incrível cozinheira, é uma aficionada por comida roots. Celebrei meu último Burns Day lá, comendo pão com patê de fígado de porco a tarde inteira, até quase explodir. Almoço dos campeões.

Ventriglio e Fegato di Pollo, da Tappo Trattoria

Kidoairaku Restaurante tradicional de cozinha japonesa quente, nada de sushi. O fígado com nirá, um clássico da mesa nipônica, é o melhor da Liberdade e está sempre no cardápio. Vez ou outra, o chef Kakuzui Matsui solta alguma carta da manga, tipo miúdos de peixe ou uma língua espetacular. Não é sempre, mas o que se encontra de sabores insólitos ali, com enorme consistência de cozinha, já vale cada visita, com ou sem miúdos.

Um clássico: rins de vitelo ao molho de Beaujolais, do La Casserole

Le Marais Bistrot Wagner Resende uniu o roots ao agradável e fez uma entrada deliciosa. Salada de mâche com moela de frango e mostarda di Cremona. Bem leve, com moelas na cocção exata e ótima combinação de sabores.

fotos: Anderson Barreto, José Henrique Vieira, Mário Leite, Mauro Holanda e Paulo Uras

Tappo Trattoria

68 diVino Sabores

Benny Novak não sabe brincar. Por falta de um, combinou dois tipos de miúdo na mesma entrada. Ventriglio e Fegato di Pollo: moela confitada e fígado de frango acebolado com uvas verdes, flambados na grappa. Para passar a vida encharcando o pão naquele molho. Se ela fizer cara feia, termine o namoro.

É dia de miúdos Na Escócia, em 25 de janeiro, celebra-se o Burns Day – feriado em homenagem a Robert Burns, considerado o poeta mais importante do país. Burns escreveu inúmeros poemas em dialeto local e, entre eles, uma ode ao haggis (Address to a haggis), prato mais representativo da culinária local. É um prato de sabor pungente, quase um rocambole de miúdos: fígado, coração e pulmão de ovelha cozidos no próprio estômago do animal. Comemora-se a data com grandes festas, em família ou no bar, com muito uísque e, óbvio, haggis. Todos se levantam para a chegada do alimento embalada por música tradicional e gaita de foles, e o anfitrião lê o poema no dialeto escocês. Um brinde de scotch whisky (grita-se “sláinte”) e então se pode comer. É delicioso, mas para os fortes... quase como morder uma ovelha viva, com tudo a que o pasto tem direito.

diVino Sabores 69



Sabores nO Ar

Vip nO céu

e na terra

Entre um voo e outro, as salas VIP dos aeroportos são como tranquilos refúgios, onde é possível relaxar e aproveitar de delícias enquanto se espera pelo embarque.

L A Singapore Airlines possui uma das mais luxuosas salas Vip da Ásia, no Terminal 3 do aeroporto de Cingapura 72 diVino Sabores

por Carlos Marcondes ongas conexões, atrasos de voos e a falta de estrutura e conforto dos aeroportos são desafios que, em qualquer parte do mundo, desgastam até mesmo um viajante experiente. Mas há um bálsamo para essas situações! As chamadas salas VIP de companhias aéreas ou de cartões de crédito são espaços pensados para proporcionar aos passageiros momentos prazerosos, de sossego e, em alguns casos, tentadoras ofertas enogastronômicas. Exemplo de sofisticação e excelência em design, o lounge Concorde Room, da British Airways, localizado no terminal 5 do aeroporto Heathrow, em Londres, é um dos poucos no planeta a oferecer o chamado “pré-jantar”, refeição destinada a passageiros da primeira classe que em-

barcam em voos depois das 20 horas. A in­tenção da companhia é proporcionar ao cliente a possibilidade de jantar antes do voo, em um ambiente confortável de restaurante, e assim desfrutar de mais horas de sono durante o trajeto no avião. O menu apresenta algumas opções de entrada como minestrone ou tapas de alcachofra com tomate seco e azeitona. Já o prato principal pode ser a famosa shepherd’s pie, a torta inglesa de carneiro, ou um salmão grelhado com variados tipos de molho. Para a sobremesa, há opções como o creme de natas inglês (custard) ou o festival de queijos, também de especialidades típicas da terra da rainha. Para harmonização dos pratos do cardápio estão disponíveis alguns Pinot Noir da Borgonha diVino Sabores 73


Sabores nO Ar

e da Califórnia e um Sauvignon Blanc da Nova Zelândia. O Champagne Bar do complexo de lounge da British é uma tentação para passageiros enófilos. Os privilegiados podem relaxar degustando taças de Veuve Clicquot ou Dom Pérignon, acomodados em mobílias inspiradas nas peças que compõem a decoração de hotéis cinco estrelas de Londres. No Brasil, a empresa não possui espaço próprio, mas utiliza a sala da United Airlines em Cumbica e a da parceira American Airlines no Galeão, no Rio de Janeiro, ambas bem mais modestas que as do Heathrow. Aliás, o Brasil ainda é carente desse tipo de oferta de luxo em seus aeroportos, principalmente no quesito eno-

A British Airways oferece taças de champanhe antes dos voos

74 diVino Sabores

gastronomia. A Infraero, a empresa responsável pela administração da maioria dos aeroportos do País, tem 16 contratos com companhias aéreas, sendo quatro salas em Guarulhos, quatro no Santos Dumont, duas no Galeão, duas em Porto Alegre, uma no Recife, uma em Manaus, uma em Curitiba e uma em Florianópolis. Muitas delas são compartilhadas por diversas empresas, em acordos de parceria ou em programas de milhagens. A TAM é a companhia que oferece mais opções aos clientes: são sete salas no País, sendo uma em Cumbica para atender a primeira classe e as demais abertas à executiva. No menu do lounge do aeroporto de Guarulhos,



Sabores nO Ar

Bufê da Gol: opções diversificadas aos viajantes

é oferecido um bufê similar ao de cafés da manhã de hotéis. O banquete, assinado pelo chef Yann Corderon, traz uma farta tábua de frios, frutas, cereais, minissalgados, sanduíches e algumas opções de sopa. Já a carta de vinhos, selecionada pelo consultor Arthur Azevedo, é composta pelo tinto francês Floridence 2006 e pelos australianos Shiraz/ Cabernet e Chardonnay da Jacob’s Creek. A empresa também utiliza salas de parceiras em mais 13 países. Quem possui os cartões Diamond ou Gold do programa Smiles da Gol/Varig pode aproveitar no Brasil as cinco salas com bufê, em que são oferecidos diversos salgados quentes e uma sopa a cada dia, como a de feijão com bacon, a de ervilha, o creme de milho, o de cenoura, o de frango, o de abóbora ou o de mandioquinha. No bar, para além das cachaças, dos uísques e de alguns licores, a companhia apostou na oferta de vinhos nacionais da vinícola Salton, 76 diVino Sabores

A TAM é a companhia que oferece mais opções: são sete salas no País, uma para a primeira classe e as demais para a executiva. como o Classic Chardonnay e o Volpi Cabernet Sauvignon. Há ainda, nos aeroportos nacionais, salas próprias das operadoras de cartão de crédito, como a do American Express, em Congonhas, que montou um espaço tranquilo para clientes que têm os cartões Platinum e Express Gold. É uma área aconchegante, mas sem uma oferta gastronômica requintada. Não há vinhos nem coquetéis, pois não se servem bebidas alcoólicas no local.



Lounge das Arábias A Emirates, umas das mais sofisticadas companhias aéreas do mundo, investiu em luxuosas instalações, criando um lounge especial no Terminal 3 do aeroporto de Dubai. No restaurante, decorado com temas árabes, o cardápio diversificado e original oferecido aos viajantes da cobiçada primeira classe traz sete tipos de entrada, entre as quais o camarão com abacate coberto por um coquetel de frutas vermelhas e a sopa árabe de lentilhas, com filetes de frango e camarões grelhados. Fartura lusitana no lounge da TAP

78 diVino Sabores

Tanto no almoço como no jantar, são sete opções de prato principal, duas das quais vegetarianas, como o cogumelo à Provençal. Há ainda opções com carnes, como o filé americano ao molho holandês com estragão (bérnaise) cercado de aspargos verdes caramelizados e polenta grelhada. Também há ótimas sobremesas, além da tábua de queijos internacional. Vale destacar a torta de ruibarbo acompanhada de sorvete de baunilha. A carta de vinhos oferecida no lounge não foi divulgada pela companhia. Outra companhia aérea com uma enogastronomia tentadora é a portuguesa TAP. A empresa inaugurou, há pouco mais de dois anos, um dos mais belos lounges da Península Ibérica, apostando na originalidade da identidade portuguesa, construída pela rica cultura de fartura e qualidade à mesa. Embora o novo espaço no aeroporto de Lisboa, reservado aos passageiros da classe Executive Premium, não ofereça um menu à la carte, o bufê desenhado pelo renomado chef Vitor Sobral, considerado um dos mais talentosos do país, é mesmo muito atrativo. O cliente pode optar entre sanduíches de rosbife e salmão defumado, provar as tradicionais empadas de bacalhau e de espinafre, além de degustar uma tábua de queijos como o famoso Serra da Estrela. Por fim, a não menos renomada pastelaria lusitana traz delícias como o pastel de nata, ícone da gastronomia lusitana. “Os passageiros esperam encontrar produtos nacionais de qualidade, que façam parte de nossa cultura. É uma forma deliciosa de divulgarmos o nome de nosso país além das fronteiras”, comenta Sandra Arraias, responsável pelo marketing do Lounge Premium da companhia. Do terroir lusitano estão disponíveis entre os tintos os rótulos Quinta do Cotto, Monte da Cal Reserva, Churchill Estates e Casa de Santar. Já entre os brancos, Paulo Laureano Reserva, Vinha da Defesa e Vallado figuram ao lado do espumante Cabriz. Para fechar o time, bem ao estilo português, um Porto representado pelo Churchill’s Tawny 10 anos. A carta de vinhos é sugestão de enófilos viajados como João Paulo Martins, Luis Antunes, Maria João de Almeida e o chef italiano que adotou o Rio de Janeiro como lar, Dânio Braga. São exemplos de profissionais que conhecem muito bem os benefícios prazerosos de ter acesso a um cantinho especial VIP, repleto de detalhes e delícias, capazes de acelerar as longas horas de espera pela decolagem.

fotos: divulgação

Sabores nO Ar



CafezinhO

por Danilo Nakamura fotos José Henrique Vieira

Latte -art Uma vez por mês baristas e aficionados por café se reúnem em torno de uma competição independente de latte-art em uma noite batizada de Thursday Night Throwdown.

80 diVino Sabores

diVino Sabores 81


CafezinhO

S

ão 20h52 e três baristas já estão treinando no Suplicy Café do Itaim Bibi, tirando cafés como se não houvesse amanhã. Eles não têm limite, tiram quantos cafés quiserem, jogam fora, bebem, pedem para outros provarem. Os clientes também não têm limites, afinal hoje o café é gratuito. Marco Suplicy, dono da casa, chega, dá um abraço em um dos baristas e pede uma cerveja no balcão. A casa funcionará normalmente até as 23h. Hoje é TNT (Thursday Night Throwdown), o dia em que os baristas de todas as sortes e cafés da cidade se reúnem para uma competição independente de latte-art (a arte de fazer desenhos em café com leite), quase como um Clube da Luta do café. A ideia foi trazida do Octane Cafe por Marco há dois anos, quando voltou do campeonato mundial de baristas em Atlanta, Geórgia – daí o nome em inglês – e existe no mundo inteiro. A competição, que ocorre em toda última quinta-feira do mês, tem clima amistoso, quase de brincadeira, não fosse o dinheiro envolvido: são R$ 300 oferecidos pela Revista Espresso, mais R$ 10 de cada participante e contribuições livres de espectadores (uma senhora ofertou R$ 50... eu dei R$ 5). Ao final, todo o dinheiro é dividido entre os dois finalistas.

Às 21h15, Marco faz o sorteio das chaves, enquanto mais baristas se amontoam atrás do balcão para treinar, assistir à demonstração dos colegas ou esperar sua vez pra usar a máquina. Hoje são oito competidores (na edição anterior, foram 12) enfrentando-se em etapas eliminatórias, tipo matamata. O julgamento se dá da seguinte maneira: um barista neutro tira dois expressos simultaneamente, enquanto os dois competidores vaporizam seus leites, um de cada lado da máquina; cada um desenha sua arte e põe sua xícara no balcão; três juízes se aproximam para julgá-los, sem saber de quem são os desenhos; eles contam até três (no velho e bom “um, dois, três e já!”) e apontam para o latte escolhido. Os critérios de avaliação são beleza, simetria e contraste de cores. Tiago Lucchesi, juiz certificado pelo Campeonato Brasileiro de Baristas, é

um dos juízes regulares do TNT e vem por puro entusiasmo. Ele diz que é tudo muito equilibrado, nunca se sabe quem vai ganhar. “Tudo depende do humor do barista no dia. Quase todo o mundo já ganhou uma vez”. Faz sentido, afinal são os melhores baristas das melhores casas de São Paulo – e, às vezes, do mundo – participando. Numa das edições, estava Ingibjörg Ferrer, barista campeã nacional da Islândia (veja bem, da Islândia), que apareceu depois de conhecer uma brasileira mochilando no Chile. A primeira dupla a se enfrentar é Plínio, do Santo Grão, e Bruno, do Octá­ vio Café. Ambos coincidentemente de­senharam dois corações na xícara. Bruno perde por dois votos a um, por ter menos contraste e uma falha na simetria do desenho, segundo os juízes. Em seguida, Cleison e Lucas (do Santo Grão e do Suplicy, respectivamente).

Noite de TNT: os melhores baristas da cidade se reúnem para uma competição independente de latte-art.

Latte-art: a arte de fazer desenhos em café com leite

Três juízes avaliam os desenhos: um, dois, três e já!

Atrás do balcão, os baristas treinam, assistem ou esperam a sua vez para usar a máquina

82 diVino Sabores

diVino Sabores 83


CafezinhO

Lucas perde e questiona o julgamento de Marco, que hoje é um dos juízes. “Não aprendo. Se tem roseta, o Marco vai escolher a roseta.” A roseta é talvez o desenho mais clássico da latte-art. Marco nem dá ouvidos. E assim segue a noite: barista ganha daqui, perde dali; sai para fumar um cigarro, volta para competir. O clima é muito bom, repito. A certa altura, veem-se mais long necks de cerveja do que xícaras de café pelo salão, parece uma festa entre amigos – muito diferente do que se vê em outros círculos de trabalho. Luciano Salomão (o Lucci do Coffee Lab) chega a vaporizar o leite segurando uma Heineken na mão... e perde, óbvio, mas não dá a mínima. “Ninguém vem exatamente para ganhar. Latteart é mais uma desculpa pra fazermos esta bagunça”, diz Bruno, que participa desde a

primeira edição e já ganhou nove delas, o maior “campeão” do TNT. A final é disputada entre Plínio, Warner e Gabriel (um competidor tardio, barista do Suplicy Café, que foi encaixado como cabeça de chave por um regulamento de última hora, acordado entre baristas e juízes). Plínio vence e sai gritando em falsete pelo salão “HAHAHA! Ganhei! Ganhei!”. Ele ganhou R$ 225; Gabriel e Warner ganharam R$ 135 e R$ 90, respectivamente. O clube é aberto. Todos podem participar, de baristas experientes a coffee-geeks ou leigos. A brincadeira é ótima, nem que seja só para olhar e tomar um café, ou vários. São Paulo já tinha de tudo: de delivery de bife à milanesa a churrasco da gente diferenciada. Completou com um clube independente de café. Está aí uma definição de metrópole.

Os critérios de avaliação são beleza, simetria e contraste de cores.

Thursday Night Throwdown Quando? Toda última quinta-feira do mês a partir das 21h. Onde? Suplicy Cafés Especiais. Rua Renato Paes de Barros, 198 – Itaim Bibi. Tel.: (11) 3079-7926 Por quê? Beber excelentes cafés de graça, cerveja (paga) e, quem sabe, brincar de tirar café (e ganhar dinheiro). *não custa ligar para confirmar o evento, que, embora muito raramente, pode mudar de local ou data devido a feriados.

84 diVino Sabores

A competição ocorre em clima amistoso, quase de brincadeira

diVino Sabores 85



Minha Cozinha

por Laura Meurer

confortO

N

88 diVino Sabores

ão há como negar que a cozinha é um dos lugares mais gostosos da casa. É onde começam ou terminam as melhores conversas e as melhores visitas. É também um lugar de trabalho para os chefs – profissionais ou amadores – e, por isso, deve ser prática sem deixar de ser aconchegante. Foi para unir essas duas facetas essenciais a uma cozinha moderna que a arquiteta Ilana Murahovschi Stern, da Kitchens, criou este projeto, sob medida para um casal de jovens executivos – ele gosta de fazer as vezes de cozinheiro e não abre mão de receber os amigos para um bom jantar.

fotos: divulgação

Praticidade e

“Cada vez mais, uma cozinha precisa ter a opção de poder ser integrada à área social da casa por meio de soluções inteligentes e práticas. A cozinha planejada precisa ser criativa, extremamente funcional, bonita, confortável e atual”, comenta a arquiteta. A solução encontrada neste projeto foi um jogo de portas de correr, com requadro de madeira laqueada e vidro leitoso brancos, que divide a cozinha do living e do home theater, e um grande painel, também de correr e laqueado de branco, que separa a cozinha da sala de jantar. “Quando fechados (as portas e o painel), permitem privacidade a quem está cozinhando. Já abertos possi-

Um projeto versátil para quem gosta de receber.

bilitam a integração, que pode ser graduada, de acordo com o número de portas que forem fechadas”, explica Ilana. E, se o projeto é ideal para acolher os convidados, também não decepciona o “chef”, que tem à sua disposição uma grande área de trabalho em uma bancada de aço inoxidável e em uma de madeira teka para refeições rápidas. Uma combinação que permite que o cozinheiro permaneça em contato com seus convidados e chame as visitas a participar do preparo. “A cozinha ficou charmosa o suficiente para permanecer aberta para a sala de estar, mas sem perder suas características e funcionalidade”, finaliza a arquiteta. diVino Sabores 89


Ser SaudáVel por Fernando Levy

Você já comeu sloW?

Qual foi a última vez que você se sentou à mesa diante de uma verdadeira refeição na companhia de pessoas muito queridas? Não se lembra? Pois então você precisa conhecer o Slow Food! O movimento procura instigar as pessoas a redescobrir o sabor natural de um alimento e a preservar, ao mesmo tempo, a tradição gastronômica e a convivência entre as pessoas. Isso significa que aquele almoço de domingo na casa dos avós, com o tradicionalíssimo prato da família à mesa e muita conversa, é o que há de mais precioso neste mundo. Ou então a infância de brincadeiras na roça, com leite de vaca, frutas colhidas diretamente do pé, queijo fresco e café moído na hora. Tudo isso tem relação com o Slow Food. Porém manter o sabor original da comida é somente uma das muitas vertentes desse movimento, que também acredita que os alimentos devem ser cultivados de maneira limpa, ou seja, sem prejudicar o meio ambiente, os animais ou a nossa saúde, além de respeitar as pessoas responsáveis pela produção. Outro fator realmente interessante do Slow Food é a Arca do Gosto, um catálogo mundial que identifica, localiza, descreve e divulga sabores caídos praticamente no esquecimento. Só no Brasil há 23 produtos listados nessa categoria, entre os quais o umbu – deliciosa fruta típica da caatinga nordestina – e o babaçu, um tipo específico de palmeira que produz um pequeno coco, base para a produção de um

Fernando Levy é especialista em mercado de alimentação saudável. Sua empresa Astinova importa as barrinhas argentinas Nature Crops e a linha de produtos orgânicos da Lapinha Spa. 90 diVino Sabores

óleo muito utilizado em pratos regionais, também do Nordeste. Todos esses fatores combinados são passos importantes na busca de uma vida mais saudável, tanto física quanto psicologicamente! Mas agora eu pergunto: como arrumar tempo para realizar uma refeição calma se vivemos em um mundo em que a velocidade e o imediatismo são os principais pilares de nossa vida cotidiana? Para começar, não é preciso ser radical, deixar de comer qualquer coisa que seja industrializada e ficar a um passo de ter um ataque de nervos por não conseguir atingir o objetivo. A ideia do Slow Food é fazer as coisas com tranquilidade. Incorporar o hábito de cozinhar as próprias refeições, por exemplo, é a maneira mais incrível de saber o que você está comendo. Além da compra dos ingredientes, da preparação e do cozimento, ainda há o prazeroso momento de dividir sua criação. Esse é o instante ideal para abrir a mente e, a cada garfada, perceber a importância do prazer aliado à alimentação. Até mesmo aquele cafezinho no meio da tarde pode transformar um momento corriqueiro em uma hora extremamente gratificante. Experimente sentir o cheiro do café e identificar todos os sabores contidos em uma xícara. Aposto que você vai se surpreender com o mundo que vai descobrir a partir dessas experiências.

FOTo: Paulo Uras

A ideia do Slow Food é fazer as coisas com tranquilidade. Incorporar o hábito de cozinhar as próprias refeições, por exemplo.



Eu RecomendO

por Claudia Zani

Tomei um dry martíni com lichia em uma das últimas vezes que fui para Londres, no novo Nobu. Estava com minha amiga querida Marina Petti, que há uns dois anos se mudou para lá e conhece os melhores lugares da cidade. Desde então, é meu drinque preferido, eu me tornei compulsiva por dry martíni! É uma opção leve e feminina, que, combinada com novos sabores, fica ainda mais irresistível.

O de sempre,

por faVor

Bianca Ranucci estilista

Meu drinque preferido é o mojito, um coquetel à base de rum branco, originário de Cuba. Essa bebida deixa os momentos mais doces, você fica mais aberto para amar a vida. Também gosto da caipirinha tradicional.

Adoro os drinques do Skye. O meu preferido é o basílico martíni. Quando saio, também gosto muito de ir ao Alucci Alucci e tomar o samurai, que é feito de saquê, maçã verde, gengibre e kiwi. Ele é levemente adocicado e tem um toque picante de gengibre. Delicioso!

Martin Willy músico

O meu drinque preferido é a caipirinha de três limões com gengibre e cachaça Espírito de Minas, que é servida no Bar Veloso. Elaborada pelas mãos mágicas do mestre Souza, tem limão-cravo, que remete à minha roça – que eu adoro – e é muito refrescante. Geraldo Mattar Jr. empresário

92 diVino Sabores

FOTOS: DIVULGAÇÃO, Silvio Fatz e Tainá azeredo

Melissa Oliveira diretora de operações do hotel Unique

Meu drinque preferido é o Negroni, que eu bebo no restaurante Ritz, em São Paulo. Apesar de aparentemente ter uma receita simples, já experimentei versões que não estavam de acordo com a original – por isso sempre peço a bebida no Ritz. Sua fórmula é infalível. Mário Pantalena designer de joias

diVino Sabores 93


Vide VinO

por Carlos Marcondes

TradiçãO na Ribera A Finca Torremilianos produz vinhos desde 1903 e é uma das únicas no mundo que constroem suas próprias barricas.

94 diVino Sabores

Fachada do luxuoso hotel situado na Finca Torremilianos

Fotos: divulgação

E

m Aranda de Duero, uma pequena vila da célebre região de Ribera del Duero, não é difícil caminhar pelos vinhedos e se deparar com árvores centenárias repletas de história e ainda em atividade, como as da autóctone Tempranilla Branca, com 120 anos de vida. A experiência é uma das sugestões oferecidas aos enoturistas que visitam a tradicional Finca Torremilianos, uma das mais antigas bodegas da Espanha, que, além de elaborar belos vinhos, possui em sua propriedade um suntuoso hotel cercado de videiras e contornado pelo famoso rio que batiza a região. O projeto de montar uma hospedagem é recente, assinado pela segunda geração da família Peñalba López, que, em 1975, comprou a Torremilianos com o propósito de ampliar a produção da até então pequena bodega, fundada no início do século passado pelo renomado espanhol Calixto Zorrilla. De lá para cá, Pablo Peñalba, o novo proprietário, realizou diversas mudanças no tamanho da propriedade e nas áreas plantadas, mas nunca abandonou a herança deixada pelos fundadores da tradicional finca. Manteve as vinhas velhas e ampliou o vinhedo para 220 hectares, todos cultivados de forma orgânica. Não há nenhum estudo nem grupos de especialistas capazes de comprovar cientificamente que um vinho orgânico ganhe em qualidade devido ao manejo natural dos vinhedos. Contudo não há quem duvide de que produzir 600 mil garrafas por ano, de 220 hectares orgânicos, seja uma real demonstração de cuidado e enorme respeito por seu terroir. “Os mais velhos da região nos ensinam que é preciso entender o que a natureza poderá oferecer no ano, e não tentar controlála. E é essa tradição que buscamos resgatar”, explica o engenheiro-agrônomo Vicente Peñalba, filho do falecido Pablo, que, ao lado do irmão, do primo e da mãe, conduz a Torremilianos. Outra prova de que, para a família, a qualidade está nos detalhes é a decisão de construir suas próprias barricas. A bodega compra madeira da França, dos EUA e

da Romênia e prepara, trata e monta tudo dentro da própria vinícola. Eles secam a madeira por três anos, aquecem-na em fogo para tornar as ripas flexíveis e colocam os anéis de metais auxiliados por um marceneiro especialista. A iniciativa, segundo Vicente, é a única maneira de ter a certeza de que as barricas darão o resultado esperado, além de terem a flexibilidade de montar uma barrica com carvalhos de origens distintas ou de diferentes anos. “Não abrimos mão desse processo, apesar de ser mais custoso. Pelo que sei, apenas uma vinícola em Rioja faz algo similar, essa é uma cultura rara no mundo do vinho”, conta o jovem Vicente, de 27 anos, que esteve recentemente no Brasil para divulgar seus rótulos. O resultado de todo esse cuidado é facilmente percebido em

seus vinhos, quase todos de Tempranillo, uva que se sente em casa em Ribera del Duero. Prova disso é o Cyclo 2006, um vinho robusto, de taninos redondos e com aroma de chocolate bem realçado. Entram na sua composição 10% de Tempranillo Branca e 5% de Garnacha. Outra excelente pedida é o Torremilianos Crianza 2005, com 19 meses em barrica francesa e 12 meses em garrafa. Todos os Tempranillos da finca conquistaram a crítica especializada – são varietais bem pontuados, principalmente por Robert Parker. Segundo Vicente, a cepa é beneficiada pela forte amplitude térmica da região, que chega a variar 20 graus em um mesmo dia. Além disso, os invernos são bem frios, com temperaturas que podem atingir -20°C em seus vinhedos, diVino Sabores 95


Vide VinO

Apesar do solo pedregoso, é o frio que faz da Tempranillo uma uva de destaque

localizados entre 800 m e 1.050 m acima do nível do mar. Nessa parte fria da Espanha, há geadas em oito meses do ano, inclusive em setembro, ainda verão na Europa. “Em Ribera, temos um solo pedregoso, pobre em matéria orgânica, mas é o frio que torna a Tempranillo tão especial, aumentando suas concentrações de cor, seus aromas e sua estrutura”, explica o especialista, que aponta a Garnacha como a segunda melhor variedade de seus vinhedos.

Cava única Um dos grandes promotores que expõem a finca para o mundo é o fato de eles serem os únicos autorizados no Estado de Castilla y Leon a produzir um Cava, comumente encontrado na Catalunha. A bebida já era elaborada por eles há mais de 30 anos, antes de a legislação determinar quais regiões poderiam dar a seus espumantes a denominação Cava. “Costumo dizer que temos o melhor e o pior Cava de Ribera del Duero, pois ninguém mais poderá obter essa autorização”, brinca Vicente. De olho no mercado externo, são produzidas cerca de 40 mil 96 diVino Sabores

Vicente Peñalba, que busca resgatar a tradição em seus vinhos

garrafas de um Cava feito com 90% de Macabeo e 10% de Chardonnay. Superfresco, delicado e de perlagem correta. Importado pela Vinea, é vendido ao consumidor final por R$ 51, uma ótima relação qualidade/preço. A bodega também faz poucas garrafas de um Cava Rosado, que ainda não está disponível no Brasil. Todos os rótulos da Torremilianos passarão a ter a certificação de orgânicos já a partir do ano que vem, quando terminará o processo de espera de três anos para a conversão dos vinhedos nesse tipo de cultura natural. Apesar de Vicente utilizar alguns conceitos biodinâmicos, como calendário lunar e adubação com fezes de cavalos e carneiros, o agrônomo não pensa em buscar o selo de biodinâmico. Quer ficar marcado como orgânico e continuar o processo de transformar a finca em uma empresa totalmente sustentável. “Temos painéis solares, recirculamos a água utilizada e reciclamos tudo, mas isso é pouco. Meu conceito de sustentabilidade é muito amplo e levará alguns anos para atingirmos o nível de excelência que queremos”, prevê o jovem, atento aos conceitos de uma Espanha antiga.



Sabores dO MundO

Sabor inconfundíVel Do Japão para o mundo: wasabi ganha adeptos nos quatro cantos do planeta. Saiba mais sobre esse condimento surpreendente.

98 diVino Sabores

ma pitada de ardência para acompanhar os típicos pratos japoneses. Assim é o wasabi, um condimento oriental cultivado, principalmente, no leito dos rios de água gelada e límpida da região de Shizuoka, província japonesa. Embora seu formato seja parecido com o da raiz-forte tradicional (chamada no Japão de armoracia rusticana), ele é originário da família da planta wasabia japonica, utilizada na região desde o século 8. O condimento é encontrado em diversas apresentações: em pó (deve ser dissolvido em água); em pasta (com aroma semelhante ao do condimento fresco), em tubo (o condimento de melhor qualidade) e o wasabi fresco, que, recém-ralado, traz o seu verdadeiro gosto, um pouco adocicado, com textura cremosa. Durante muito tempo, foi usado exclusivamente na culinária japonesa, principalmente como acompanhamento de sushi

e sashimi. Contudo, nos últimos anos, o wasabi ganhou espaço em diversos países e passou a ser cultivado também no Canadá, na Nova Zelândia e na China. Uma das qualidades do tempero é o fato de disfarçar o cheiro do peixe cru. Também traz benefícios à saúde, pois, graças ao poder de suas enzimas, ajuda a combater algumas doenças infecciosas do aparelho digestivo e a cárie.

A palavra dos chefs De acordo com Mari Hirata, chef brasileira atualmente radicada no Japão, o wasabi é um dos poucos ingredientes nativos do país. “O melhor tempero é encontrado no monte Fuji (Japão). As águas geladas da região fazem dele um condimento fresco e picante”, explica. O wasabi acentua os sabores do prato e, ao mesmo tempo, excita as papilas gustativas.

fotos: Shutterstock e Anderson Barreto

U

por Pamela Fortes

Wasabi: muito mais do que um acompanhamento para sushi e sashimi diVino Sabores 99


Sabores dO MundO

“Ele sempre faz sucesso, por isso, hoje em dia, os chefs ocidentais adoram utilizá-lo, principalmente com a carne de boi crua”, ressalta Mari. “Gosto de fazer um tartar de carne crua substituindo a mostarda pelo wasabi. Servir rosbife malpassado com shoyu misturado com o tempero também é uma boa pedida.” Mari ainda revela que adora misturá-lo com maionese para servir com steak de vegetais. Shin Koike, chef japonês do Aizomê, conta que, além de

fazer uso do wasabi em seus pratos tradicionais, também aproveita o condimento em seus molhos e carnes. “Filémignon grelhado com molho wasabi cremoso, peixe cozido com molho de ervilha e caldo de peixe são alguns dos pratos em que mais utilizo o condimento.” Segundo o chef, é importante ressaltar que o wasabi tem muito potencial para ser utilizado nos mais diferentes pratos. “Ele é ardido e um pouco doce ao mesmo tempo. É, sem dúvida, um condimento especial e versátil.”

Filé-mignon grelhado com molho de wasabi Rendimento 2 porções Ingredientes 180 g de filé-mignon 20 g de manteiga 20 g de farinha de trigo 100 ml de caldo de carne 20 g de wasabi 15 ml de creme de leite 30 ml de saquê Sal a gosto

100 diVino Sabores

Modo de Preparo Molho Esquente a panela e deixe a manteiga derreter. Acrescente a farinha de trigo e, em seguida, o caldo de carne. Mexa-o até ficar cremoso. No final, acrescente o wasabi, o saquê e o creme de leite. Filé-mignon Tempere o filé com sal e a pimenta-do-reino. Logo em seguida, passe-o na farinha de trigo. Grelhe a carne até o ponto que desejar. Monte o filé-mignon no prato e coloque o molho.



Eu, cerVejeirO por Eduardo Passarelli

Eduardo Passarelli é empresário, graduado em gastronomia e especialista em Gestão de Negócios de Serviços de Alimentação pelo SENAC. Sócio do Melograno, dedica-se a divulgar a cultura cervejeira nacional. 102 diVino Sabores

No último mês de maio, aconteceu em Buenos Aires, na Argentina, a Great South Beer Cup, primeiro campeonato sul-americano de cervejas artesanais. Concorreram bebidas de diversos países, julgadas às cegas por um time de renomados especialistas. Esse evento foi um marco na recente história das “boas” cervejas do continente, reunindo cervejarias importantes do atual cenário com uma organização impecável, que permitiu não só um belo evento mas também imparcialidade nos resultados. Estive em Buenos Aires para acompanhar a festa de premiação, em um jantar regado a mais de cem bebidas diferentes. E lá pude ver o Brasil ser reconhecido com muitas medalhas, concedidas a diferentes microcervejarias. O destaque foi a paulista Bamberg, que, além de conquistar quatro medalhas, ainda foi eleita a Cervejaria do Ano na América Latina. A Eisenbahn, de Blumenau, faturou três medalhas, também se destacando no quadro de vencedores. A Baden Baden, de Campos do Jordão, levou duas, uma das quais foi o único ouro trazido para terras tupiniquins. A novata Bodebrown, de Curitiba, ficou com duas, enquanto a Colorado (SP), a Bier Hoff (PR) e a Backer (MG) levaram para casa uma medalha cada uma. No total, 14 medalhas para os brasileiros, que fizeram bonito da competição. Para 2012, está prevista mais uma Great South Beer Cup, desta vez no Brasil. E certamente até lá teremos outras grandes cervejas concorrendo. E que venham mais medalhas!

fotos: José Henrique Vieira

A copa sul -americana da cerVeja



Biblioteca

200 Receitas Fáceis de Fazer Louise Pickford – Publifolha

Se você não tem muita habilidade na cozinha, não precisa mais recorrer ao ovo frito ou ao disk-pizza mais próximo. O livro 200 Receitas Fáceis de Fazer transporta o leitor para o fabuloso mundo das receitas simples e rápidas do dia a dia. A obra apresenta massas, risotos, sopas, carnes, aves, peixes, saladas, pratos vegetarianos e sobremesas irresistíveis. São 200 opções de receitas, ideais para quem mora sozinho ou se casou recentemente. Além disso, Louise Pickford ensina quais são os ingredientes que não podem faltar na despensa, dá dicas para fazer compras e recomenda uma lista dos utensílios mais importantes.

O Poder de Cura do Azeite de Oliva Cal Orey – Larousse

Além de dar sabor aos alimentos, o azeite de oliva traz benefícios à saúde e ajuda no tratamento de doenças. Pensando em publicar os efeitos positivos do alimento, Cal Orey, jornalista e escritora norte-americana, pesquisou sobre o assunto com médicos, nutricionistas, produtores e chefes de cozinha para escrever O Poder de Cura do Azeite de Oliva, obra que a editora Larousse traz agora para o Brasil. O livro apresenta os benéficos efeitos do produto já comprovados tanto para a saúde quanto para a beleza. A obra tem um capítulo inteiro dedicado a remédios caseiros e apresenta sugestões de consumo, receitas de doces e salgados que levam o ingrediente, além de uma sugestão de cardápio nutritivo e emagrecedor. 104 diVino Sabores



Biblioteca

Churrascos e Grelhados Marlena Spieler – Editora Manole

O livro mais parece um guia culinário. Os amantes de carnes na brasa e de grelhados em geral vão se deliciar e também viajar pela cozinha de vários países. A obra abrange desde os pratos clássicos até os tipos de tempero, de azeite e de cobertura, detalhando técnicas de preparo de peixes, vegetais, aves e frutas etc. O livro está repleto de ideias criativas para quem gosta de cozinhar ao ar livre, acompanhadas de instruções e fotos coloridas. Receitas de molhos e sugestões de cardápio também estão presentes, além de dicas importantíssimas relacionadas à escolha da carne e dos condimentos, a limpeza do ambiente, o aquecimento da grelha e o controle do tempo.

Whisky O Guia Mundial Definitivo

Facas de Cozinha Marianne Lumb – Editora Nobel

106 diVino Sabores

Michael Jackson – Senac

FOTOS: DIVULGAÇÃO

A obra é indispensável na estante de chefs, estudantes de gastronomia e apreciadores da arte na cozinha. O livro, que é totalmente ilustrado com fotos detalhistas, traz informações importantes sobre cortes apropriados e os melhores métodos de preparação de cada tipo de alimento. A instigante leitura leva-nos a conhecer inúmeros tipos de faca e uma grande variedade de utensílios de cozinha, desde os básicos até os que são puro capricho de quem não abre mão do profissionalismo na hora de preparar as refeições. Além disso, o livro traz dicas de como armazenar as facas e manter a lâmina sempre em perfeitas condições de uso.

O livro vencedor do prêmio James Beard, de 2006, desvenda os segredos do uísque, bebida vendida em mais de 200 países. Para isso, o autor parte em busca de uísques em diversas regiões, de Arran (Escócia) ao Oregon (EUA), de Cooley (Irlanda) a Yamazaki (Japão), justamente para explicar as diferenças encontradas e celebrar a sua diversidade. A obra mostra, passo a passo, os processos de produção do destilado e traz informações sobre o clima e a região ideais para a fabricação da bebida. Um capítulo inteiro dedicado à geologia revela a importância dessa ciência para a qualidade e o sabor. Repleto de ilustrações, o livro ainda traz receitas de coquetéis e dicas de harmonização, destacando os principais países fabricantes do uísque. diVino Sabores 107


Boas Ideias Leva e traz Levar petiscos para os encontros entre amigos e familiares pode tornar-se uma tarefa mais fácil se a pessoa tiver uma cesta onde guardar os alimentos. Foi pensando nisso que a Vacu Vin, marca holandesa famosa por criar soluções práticas para o dia a dia na cozinha, criou o Bread & Dip. Trata-se de uma caixa multifuncional, ideal para carregar pães, molhos e queijos para coquetéis e encontros ao ar livre. A caixa, que serve de recipiente de pães, traz um encaixe para uma bandeja de cerâmica com três divisórias, perfeita para acondicionar os molhos. A tampa, feita de bambu, também pode ser utilizada como tábua de corte. Basta juntar as três peças e transportar com segurança os petiscos e guloseimas.

Quer preparar grelhados mais saudáveis? A Barbecook® lançou no mercado europeu um produto inovador, que combina design com funcionalidade. Trata-se da PUUUR®, uma churrasqueira de carvão vegetal que, por meio do QuickStart® – sistema ajustável de retenção de ar e de fácil acendimento –, unido a uma tigela interna de cerâmica, produz uma excelente combustão. Outro diferencial do produto é o refletor retrátil do brilho do carvão, que pode ser mantido aberto ou fechado, de acordo com a necessidade. Ele oferece todas as vantagens de uma tampa de churrasqueira convencional, sem, no entanto, deixar as carnes entrarem em contato com os gases nocivos da fumaça. A PUUUR® encontra-se disponível nas seguintes cores: branco, cinza e azul. Outras cores podem ser solicitadas sob encomenda. Detalhes sobre o produto em www.barbecook.com/puuur. 108 diVino Sabores

Fotos: divulgação

Fogo ideal



Fique SabendO

Cursos

VIAGENs

Coquetelaria Aprenda as bases da coquetelaria para criar ou aperfeiçoar seus drinques. Durante a aula, os interessados conhecerão as principais características de cada bebida, além de aprender sobre montagens e apresentações em copos e taças. O curso, que será realizado em 5 de julho, terá duração de três horas e será ministrado por Ana Paula Montesso e Alexandre D’Agostinho na Escola Wilma Kovesi de Cozinha. Rua Cristiano Viana, 224. Preço e inscrições pelo telefone (11) 3063-1592.

Enogastromia na região vinícola da Serra Gaúcha O ateliê-escola de cozinha Madame Aubergine e a Arqbacana realizam juntos uma viagem gourmet exclusiva e intimista, durante a qual um grupo de 16 pessoas poderá conhecer a fundo os segredos da região vinícola da Serra Gaúcha. Com duração de quatro dias, a viagem dará aos viajantes a oportunidade de fazer uma visita à Chandon, onde poderão degustar cinco produtos e ainda participar de uma palestra sobre espumantes. Além disso, haverá uma visita à Escola de Gastronomia Italiana, em Flores da Cunha. Outras degustações, passeios e workshops estão inclusos no pacote. O tour será feito entre os dias 28 e 31 de julho, partindo do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. O valor é de R$ 2.100 por pessoa hospedada em apartamento duplo. Informações e reservas pelo telefone (11) 3078-7715.

Degustação de cerveja Os amantes da bebida poderão deliciar-se durante os dois dias de curso. Cada aula tem três horas de duração e será possível conhecer a história da cerveja e de seus ingredientes, além de aprender sobre técnicas de degustação e de serviço, produção, estilos, escolas cervejeiras e harmoni­zação. O curso, que será ministrado por Ana Carolina Oda, mestre-cervejeira e sommelier de cervejas, será realizado nos dias 8 e 15 de julho, das 19h às 22h, na Escola São Paulo. Rua Augusta, 2.239 – Jardins – São Paulo. Informações e reservas: (11) 3060-3636. O mundo dos queijos O curso apresenta as diferentes variedades de queijos que existem no mundo, abordando sua história, sua importância na cultura gastronômica e as principais regiões produtoras. A aula tem duração de duas horas e os alunos poderão participar de uma degustação conduzida pelo chef francês Charles Piriou. O curso se realizará no dia 22 de julho, das 19h30 às 21h30 e custa R$ 140. Os interessados devem inscrever-se na Escola São Paulo. Rua Augusta, 2.239 – Jardins – São Paulo. Informações e reservas: (11) 3060-3636. Formação de Baristas O Senac da Penha promove em agosto o curso de barista. O aluno aprenderá a preparar espressos com base em técnicas específicas e a utilizar utensílios e máquinas profissionais, bem como a distinguir os produtos existentes no mercado. O curso abrange também a preparação de bebidas variadas à base de café e técnicas de coquetelaria. Informações pelo telefone (11) 2135-0300. 110 diVino Sabores

Semana do vinho em Portillo Entre os dias 30 de julho e 6 de agosto acontecerá a 10ª Semana do Vinho na estação de esqui Portillo (Chile). O evento, que terá início com o Master Sommelier Héctor Vergara, no sábado, oferece para turistas do mundo todo a oportunidade de conhecer os vinhos chilenos durante uma temporada de esqui. De domingo até sexta-feira haverá a participação de grandes e tradicionais vinícolas chilenas como: Casas del Bosque, Matetic, De Martino, Montes, Max Errázuriz e Lapostolle. Mais informações podem ser obtidas pelo site www.skiportillo.com. Tierra Atacama Hotel & Spa Os sabores do Chile serão revelados na Semana Gastronômica, que acontece de 1º a 5 de agosto em um dos destinos mais conhecidos do Chile, o Deserto do Atacama. Diversas atividades serão disponibilizadas pela chef belga Ruth Van Waerebeeck, que conduzirá os hóspedes a uma viagem pelas tradições gastronômicas da região. O roteiro inclui aulas práticas de culinária, visitas a pequenos agricultores, almoços típicos e saborosas conversas sobre a cultura e história do Atacama. Os interessados poderão saber mais detalhes sobre a viagem no site do hotel: www.tierraatacama.com.



Um café e a conta por Danilo Nakamura

A fumaça que nãO sai dO fogãO

Le Chateaubriand (Paris): na volta de uma excursão frustrada ao Le Baratin (que estava fechado), desci na estação Goncourt do metrô para ir ao Le Chateaubriand. Nunca tinha visto tanta gente amontoada na minha vida. Era um pardon por passo. Cheguei até o balcão com muito esforço, pedi um QV d’Étoiles en Pesus – espetacular vinho da região de Jura – e uma porção de presunto cru do balcão. Isso levou, pelo menos, meia hora para chegar. É claro que eu fumei, mas foram cigarros funcionais, para espantar a fome e passar o tempo (mais de uma hora de espera). O momento crucial para figurar neste Chaminé Awards foi após a refeição. Depois de comer, entrar na cozinha por engano, pensando que era o banheiro, e ver um garçom dançando enquanto os cozinheiros ouviam The Smiths em volume altíssimo, voltei à mesa para terminar o vinho – àquela altura, um Agnès et René Mosse Anjou Rouge. Sair para fumar, ali, é um choque de culturas. O restaurante é cheio, apertado, barulhento, garçons correndo. A rua é quieta, escura, fria, nem sei se é segura. De qualquer maneira, não fui sozinho, nem por vontade própria. Fui intimado pelo garçom a fumar com ele lá fora. O papo foi ótimo, debaixo de chuva fina, e ele ainda me indicou um dos melhores bars à vin de Paris, o Le Verre Volé.

Ah, a lei antifumo. É tão difícil admitir que se fuma neste meio da gastronomia. “As pessoas apontam”, costuma dizer um amigo meu. É aquele olhar com lasers, sabe? Algo entre a reprovação e o asco. Pois eu vou lhes contar: poucas coisas são tão prazerosas quanto sair do restaurante para fumar. Ao contrário do que se pensa, não é um hábito social, e sim o contrário. Sair para fumar é um ato egoísta, um momento intransferível de reflexão, algo que os não fumantes têm, no máximo, quando vão ao banheiro – é aquela caminhada salutar, para se perceberem as coisas, as pessoas, a decoração, os pratos que os outros pedem e até mesmo para perceber que já se bebeu o suficiente. É quase um decanter de sutilezas. Quando saiu a lista dos 50 melhores restaurantes do mundo, aquela da “Restaurant Magazine”, eu fiquei me coçando para escrever algo a respeito. Nada vinha. Todo o mundo já tinha escrito tudo sobre os restaurantes, a comida, a decoração. Mas ninguém tinha ido fumar – ou pelo menos não quis contar. Então, aqui estou eu, humildemente me oferecendo para compartilhar a experiência de sair para fumar em cinco dos dez melhores restaurantes do mundo: o que se sente, o que se vê, como proceder. Segue a lista: NOMA (Copenhague): seis horas de refeição exigiram pelo menos três saídas para um cigarro. Não que eu tenha problema em ficar abstêmio por muito tempo (foram 15 horas de voo até a Dinamarca, afinal), mas aquele cenário é inspirador. Uma tarde cinzenta de inverno em Copenhague, a -3ºC, naquelas docas. Você se sente num navio abandonado. Fumava sozinho, encolhido, ao lado das duas tochas acesas que ficam na porta do restaurante. Dali, pode-se ver a cozinha trabalhando. Ninguém me dava bola – tanto melhor. A refeição, um espetáculo. René Redzepi tem o tempo da piada. Ele o recebe com um vasinho de rabanetes, para ser comido com terra (que não é terra) e tudo, menos o vaso. E então você aprende o que é rabanete. O lagostim, servido numa rocha quente de basalto, parece que está tomando sol na pedra da praia, pelado, em pleno inverno dinamarquês. Para comer com a mão, passando o bicho no musgo (gotas de uma emulsão de ostra com salsinha dispostas pela pedra). Não, Heston Blumenthal, eu não preciso de fones de ouvido para sentir o mar.

112 diVino Sabores

Per Se (Nova York): eu adoro o Per Se. É a máxima expressão do ponto onde se encontram a alta cozinha e os Estados Unidos. Tudo perfeitamente programado, ainda que imprevisível. O serviço impecável. Uma decoração diferente em cada banheiro. Todas as respostas para todas as perguntas. Aquela vista sobre as árvores do Central Park. Alguns exageros agradáveis, como o tanto de trufa no risoto de milho doce, o tamanho da carta de vinhos, a fartura de comida. Se o Mugaritz é Bergman, o Per Se é Tarantino. Violência plástica, deliciosa. Agora, precisava ser no quarto andar de um shopping center? Haja escada rolante – mais americano, impossível. Quer fumar? No soup for you!

Os 50 melhores restaurantes do mundo segundo a revista britânica Restaurant

foto: Carlos Bêla

Danilo Nakamura é jornalista e formado em gastronomia, mas prefere comer fora a cozinhar. Aficionado por vinho, cultura escandinava, empada, gim, tênis branco, miúdos e Bob Dylan.

Mugaritz (San Sebastián): meu último palito de fósforo da caixinha que ganhei no Mugaritz se foi na semana passada. Usei tão cuidadosamente aquela caixinha, só para cigarros significativos. O primeiro, eu o acendi lá mesmo, na saída do restaurante – único cigarro da refeição. Foi um dos dias mais felizes da minha vida. Passei a tarde no museu Chillida-Leku, ouvindo música no gramado e fazendo sentido da escultura, do minimalismo lírico. E, à noite, no restaurante, foi como uma continuação de pensamento. Andoni Luis Aduriz faz um tipo de cozinha que eu deliberadamente chamo de “void cuisine”, sem muito saber como explicar. Talvez fosse a situação. Era o primeiro dia de restaurante aberto após férias coletivas e havia apenas uma mesa, além da minha. Comecei a refeição na “casinha” do lado de fora, tomando Txacoli e vendo um casal planejar seu casamento. Um silêncio tão pesado, que parecia um restaurante prestes a fechar as portas. Confesso que tinha um pouco de drama naquilo, como num filme de Bergman. É isso, Ingmar Bergman. Poucas palavras, muito a dizer, grande eficácia. Somente um cigarro, aquele da reflexão, tipo o cantinho do castigo: “Vai lá pensar, olhando pra parede, menino”. Gênio.

D.O.M. (São Paulo): foi meu primeiro restaurante de alta cozinha, quando ainda havia área de fumantes, foie gras e aquela parede linda de listras coloridas, de que eu tanto sinto falta. Voltei logo depois da reforma e tive a melhor refeição que já comi no Brasil. Já era fim de noite, Alex Atala sentou-se à mesa, mandou fechar a porta do restaurante, pediu um cinzeiro e perguntou se podia fumar um cigarro. Foram três, contadinhos, falando basicamente sobre cigarro e bebida... fumando e bebendo.

1. Noma (Dinamarca) 2. El Celler de Can Roca (Espanha) 3. Mugaritz (Espanha) 4. Osteria Francescana (Itália) 5. The Fat Duck (Inglaterra) 6. Alinea (EUA) 7. D.O.M. (Brasil) 8. Arzak (Espanha) 9. Le Chateaubriand (França) 10. Per Se (EUA) 11. Daniel (EUA) 12. Les Creations de Narisawa (Japão) 13. L’ Astrance (França) 14. L’ Atelier de Joel Robuchon (França) 15. Hof Van Cleve (Bélgica) 16. Pierre Gagnaire (França)

17. Oud Sluis (Holanda) 18. Le Bernardin (EUA) 19. L’ Arpege (França) 20. Nihonryori RyuGin (Japão) 21. Vendome (Alemanha) 22. Steirereck (Áustria) 23. Schloss Schauenstein (Suíça) 24. Eleven Madison Park (EUA) 25. Aqua (Alemanha) 26. Quay (Austrália) 27. Iggy’s (Cingapura) 28. Combal Zero (Itália) 29. Martin Berasategui (Espanha) 30. Bras (França) 31. Biko (México) 32. Le Calandre (Itália) 33. Cracco (Itália) 34. Le Ledbury (Inglaterra)

35. Chez Dominique (Finlândia) 36. Le Quartier Français (África do Sul) 37. Amber (China) 38) Dal Pescatore (Itália) 39. Il Canto (Itália) 40. Momofuku Ssam Bar (EUA) 41. St John (Inglaterra) 42. Astrid Y Gastón (Peru) 43. Hibiscus (Inglaterra) 44. Maison Troisgros (França) 45. Alain Ducasse au Plaza Athenee (França) 46. De Librije (Holanda) 47. Restaurant de L’ Hotel De Ville (Suíça) 48. Varvary (Rússia) 49. Pujol (México) 50. Asador Etxebarri (Espanha)

diVino Sabores 113


Onde Encontrar Restaurantes e cafés

La Casserole

Doural

Emirates

(11) 3331-6283

(11) 3313-2883

(11) 5503-5000

www.lacasserole.com.br

www.doural.com.br

www.emirates.com/br

Le Marais Bistrot

Du Chapéu

Falmec do Brasil

(11) 3071-2873

(11) 2126-5700

www.falmec.com.br

Bar da Dona Onça

MO.D

Finca Torremilianos

(11) 3257-2016

www.lojamod.com.br

www.torremilanos.com

Multiplon

Freddo

(54) 3025-1133

(11) 3562-1654

Aizomê (11) 3251-5157 www.aizome.com.br

www.lemaraisbistrot.com.br

www.bardadonaonca.com.br Brasero Amatxu (11) 3582-5918 www.braseroamatxu.com Casa da Li (11) 3871-1002 http://casadali.com.br Coffee Lab

Maní (11) 3085-4148 www.manimanioca.com.br Marakuthai (11) 3062-7556 www.marakuthai.com.br

Epice

Famiglia Mancini

(11) 3062-4000 www.fasano.com.br Hotel Emiliano (11) 3069-4369 www.emiliano.com.br Il Sogno di Anarello (11) 5575-4266

Heineken Brasil Spicy

www.octaviocafe.com

(11) 3083-4407 www.spicy.com.br

Piselli St. James

www.piselli.com.br

(11) 2955-5344 www.saintjames.com.br

Latitudes Operadora de Turismo www.latitudes.com.br Lofra (11) 0800 41 5757

Santo Grão (11) 3552-7700

Tok & Stok

www.santograo.com.br

0800-7010161 www.tokstok.com.br

www.lofra.com.br Petrossian (11) 3552-7200

Suplicy Café www.suplicycafes.com.br

www.heineken.com.br

(11) 3045-7740

(11) 3081-6043

(11) 3061-0195 Fasano

www.voegol.com.br

(11) 3082-5553

(11) 3255-6599 www.waltermancini.com.br

0800-7040465

(11) 3073-0333

Octávio Café

(11) 3062-0866 www.epicerestaurante.com.br

Gol Pepper www.pepper.com.br

(11) 3375-7400 www.coffeelab.com.br

www.multiflon.com.br

Vacu Vin

www.petrossian.com

www.vacuvin.nl Ponta dos Ganchos Resort

Tappo Trattoria (11) 3063-4864 www.tappo.com.br Vinheria Percussi (11) 3088-4920 www.percussi.com.br

Viking

(48) 3953-7000

(11) 3064-0011

www.pontadosganchos.com.br

www.vikingrange.com.br Singapore Airlines

Outros

www.singaporeair.com Slow Food

British Airways

www.slowfood.com

www.britishairways.com Kidoairaku (11) 3207-8569

Lojas e ateliês

Tam Callebaut

4002-5700 (capitais)

www.callebaut.com

www.tam.com.br

Kinoshita

D’olivino

(11) 3241-3586

(11) 5532-1820

Caminhos de Pedra

Tap

www.restaurantekinoshita.com.br

www.dolivino.com.br

www.caminhosdepedra.org.br

www.flytap.com

114 diVino sabores




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.