Revista Lupa n. 12

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ISSN 1982-2995

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28 Onde estรก sua bicicleta? 06 Luiz Galvรฃo, uma entrevista 23 Nerds? Geeks?

REVISTA DA FACOM-UFBA. ANO ViI, N. 12. SALVADOR, SEGUNDO semestre 2011


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Editorial

expediente

Lupa é uma publicação da Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). ISSN 1982-2995. Turma da disciplina Comunicação Jornalística 2010.2.  Ano V, Número 10. Salvador, Inverno de 2012. Distribuição Gratuita.

Aproxime-se! Foto: Arquivo Lupa

Reitora da Universidade Federal da Bahia Profª. Dra. Dora Leal Rosa Diretor da Faculdade de Comunicação Prof. Giovandro Ferreira Coordenação Editorial Profª. Graciela Natansohn (DRT/BA 2702) Revisão Edvan Lessa Edição de Fotografia Labfoto – Agnes Cajaíba Projeto Gráfico Rai Trindade e Jonas Santos Redação (editores) Circo Urbano - Caroline Prado Prova dos Nove - Gislene Ramos Meio e Mensagem - Fábio Arcanjo Impressões - Labfoto Passepartout - Daniel Silveira Cubo Mágico - Tiago Rego Repórteres Adriele Souza, Alles Alves, Caroline Prado, Daniel Silveira, Daiane de Vasconcellos , Danilo Pestana, Edvan Lessa, Fábio Arcanjo, Fabrina Macedo, Gislene Ramos, Guilherme Silva, José Calasans, Júlia Belas, Juliana Alves da Silva, Lara Maiato, Lara Perl, Lara Bastos, Luana Amaral, Luiz Fernando Texeira, Thamires Tavares, Tiago Rego, Viviana Preziotti Fotografia Carol D´Avila, Danilo Pestana, Julien Jatobá Karl / LabFoto, Natália Reis, Thais Motta, Wesley Miranda, Vinicius Carvalho, Jessica Lemos Direção de Arte e Diagramação Rai Trindade e Jonas Santos Ilustração Carlos Ruas, João Oliveira, Taiane Oliveira Impresso em Arte Brasilis - Curitiba (PR)

As opiniões expressas neste veículo são de inteira responsabilidade dos seus autores.

Porque árvores e pássaros não cantam por vaidade, profissão”. O trecho da poesia de Luiz Galvão - o eterno Novo Baiano, se declamado, talvez ecoe como uma auto referência do velho poeta. E como esperar diferente de alguém que amanhã é melhor que ontem? A conversa, por outro lado, vai além. Afinal, a poesia está em toda parte, inclusive na selva de pedra de Salvador. Seja na trajetória de uma latinha de spray esquecida na prateleira, ou no andar de bicicleta. Bicicleta? Sim. Dessas que serviriam para burlar a preguiça que é viver, subverteriam o caos da vida dominada pelos automóveis e reafirmariam a necessidade de desfrutar uma vida cíclica, ou em ciclovias, não fosse a

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falta de educação ou a ignorância. Não de quem sequer sabe onde está a sua bike. E sim, de quem insiste em não ter a sua por receio de abdicar do deleite que é estar sob quatro rodas, e não duas. Deus é quem sabe qual será o destino desses seres. Oxalá que ele proteja o Rio dos Macacos. Mas onde é que está mesmo a nossa divindade? Na internet, é claro. Peça a um Geek pra te mostrar, esse cara jamais fica desconectado. Em situações de perigo, todavia, chame um Nerd – nunca sai de casa sem o sabre luminoso. Adicione cronópio, fama, esperança e uma modelo plussize. Sem misturar, convido-te, a olhar bem de perto, ou se aproximar com uma Lupa. Boa leitura!

Edvan Lessa Faculdade de Comunicação da UFBA Rua Barão de Geremoabo, s/n, Ondina, Salvador, Bahia - Brasil. CEP: 40170-115 Tel: (71) 3283-6174, 3283-6177 Fax: (71) 3283-6197


SUMÁRIO

PASSEPARTOUT 05 09 12 14

Velho poeta, Novo Baiano Curta! O (re)ciclo da latinha Cronópio, Fama ou Esperança?

CUBO MÁGICO IMPRESSÕES 16 Rio dos Macacos

Cubo Mágico 18 Crônicas do Bate-Papo OnLine

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09 Foto: Carol D´Avila

Foto: Natália Reis

MEIO E MENSAGEM 20 Traduzindo o Silêncio 23 Mesmo planeta, órbitas diferentes

POVA DOS NOVE 26 Campi Digital

CIRCO URBANO 28 Cidade das Bicicletas 30 Beleza em novas formas 31 Onde está seu Deus?


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Velho poeta Novo Baiano


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L

uiz Galvão é um poeta completo, sempre lembrado pelas composições históricas dos Novos Baianos. Ele também faz cinema, literatura, e conta histórias como ninguém. Vamos mergulhar na poesia e nas lembranças de um velho novo baiano, que está sempre se reinventando.

Texto Lara Perl e Lara Maiato Foto Thais Motta Em que momento você resolveu optar pela música?

Eu estava em Juazeiro quando João Gilberto foi lançar a bossa nova. Ele passou uma semana lá, me mostrou a canção “Chega de Saudade” e eu vi que ele tinha mudado a música do mundo. Fiquei encantado. Mostrei para ele umas letras bobas, que nem existem mais. Ele viu e disse assim: “bora comigo para você fazer músicas para a bossa nova”. E eu: “não, eu vou estudar Agronomia porque passei no vestibular”. Ele disse: “no Rio e São Paulo tem certas coisas que poucas pessoas pensam e que você pensa”.

Quando eu ia dormir, eu pensava: “eu não sou isso aqui não, eu sou o que João Gilberto falou”. Aí quando foi um dia, já estava trabalhando há três anos na área, abandonei agronomia, fiz uma carta pra João dizendo que ia fazer o que ele tinha falado pra eu fazer. Aí eu fui pra São Paulo. O culpado foi João Gilberto. Como foi poder escrever a biografia de João Gilberto?

Eu escrevi e dei a ele. Ele gostou muito, mas tem um empecilho: a influência de outras pessoas que não deixam que ela seja publicada. Desde quando

João me ligava às 4h da manhã e dizia “Luizinho, eu tô gostando tanto do livrinho, vou liberar”. Ele não liberou, ainda, mas quem sabe, né? Eu só lanço se ele liberar. O livro só fala bem, só fala da arte, da vida dele. Todo mundo tem coisa que não é boa, João também tem, mas eu não vou olhar isso, não. João conversava muito comigo, sou uma das pessoas que convivi mais profundamente com ele. Tem as mulheres dele, mas eu tinha um lado que nem elas tinham, da conversa que ele tinha diretamente comigo sobre arte, que é uma coisa muito pessoal.

Eu venho dele. Tudo que eu faço é João, tem o dedo dele. Então, pode esperar que algo vem aí, pois eu não sou de desistir não. Lahirí, seu filho, também está envolvido com poesia. Como se deu essa influência?

Lahirí faz poesia e ele também pesquisa poetas, mais do que eu. Toda hora ele vem e mostra uma poesia. No início eu mostrei para ele como fazer uma poesia e ele está assimilando isso. As pessoas às vezes me perguntam se eu ainda faço as coisas maravilhosas de antes e sempre digo: “eu sou melhor do que ontem”


(risos). Não estou com amnésia, eu tenho mais experiência. Como surgiu essa ideia de unir música e poesia em um só espetáculo?

Para mim, letra de música é poesia. Eu faço poesia,. Eu só sei fazer poesia. Se eu faço cinema, meu cinema é poesia. Livro de literatura, a linguagem é poética. Então, a poesia está em tudo o que eu faço. Eu costumo dizer que a poesia é a língua de Deus porque é a melhor maneira de se comunicar e Deus sabe o que faz (risos). Os Novos Baianos acabaram em 1979 e, mesmo após mais de 30 anos, a influência da banda no cenário musical é intensa. A que você atribui todo esse sucesso atemporal conquistado pelos Novos Baianos?

Cada um fazia o que melhor sabia, foi uma soma de talentos. Uma das coisas foi isso. Outra, é que nós estávamos vencendo a ditadura militar, ao contrário do que a esquerda universitária fazia, que era com luta armada. A gente reagiu com anarquismo. A gente curtia com a cara da ditadura e ninguém podia fazer nada. Teve uma época que, como tínhamos brigado com Marcos Lázaro [primeiro empresário da banda], não podíamos fazer show, tinha o contrato com ele e não iríamos fazer isso porque

podia estragar tudo. Aí a gente parava no sinal e as mulheres pediam para os homens assim: “estamos no carro, acabou a gasolina aqui, nós somos os Novos Baianos, arranja R$ 1 aí!”, e os homens pediam no outro sinal, para as mulheres. Eu botei uma lei, que só podia ser 200 reais, então, se passasse disso, a gente dava como esmola. Então todo dia tirávamos esse dinheiro para comprar as coisas necessárias, as certas e as erradas (risos). Como você analisa essa inovação da banda, de viverem todos em comunidade? Essa relação tão íntima e constante atrapalhava o trabalho de vocês?

Não. Naquela época, a gente era muito unido porque estava lutando contra o sistema. O dinheiro era um só para todo mundo. Se alguém precisava ia lá e pegava. Ninguém roubava porque dinheiro para a gente não tinha valor, era pra gastar mesmo, era essa a nossa filosofia. Vivíamos unidos por causa da necessidade. Tinha discussão, mas saía na urina (risos). Não tinha problema, não. Eu escrevia as letras sobre o que a gente vivia, uma realidade oposta à maioria das pessoas porque era uma comunidade em um apartamento. Em 2007, a revista Rolling Stones considerou o disco Acabou Chorare [lançado em

1972] como o melhor disco da música brasileira. Como você analisa e a que você atribui todo o sucesso desse álbum?

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As pessoas às vezes me perguntam se eu ainda faço as coisas maravilhosas de antes e eu sempre digo: “eu sou melhor do que ontem” foi esse “movimento novos baianos”. Deixa até uma sensação nostálgica. Não dá vontade de saber se daria certo hoje em dia?

Eu creio que seja mesmo o melhor. Embora tenha o disco de João Gilberto e a Tropicália, que também fez um movimento, o “Acabou Chorare” é a mistura de tudo isso, a soma de tudo isso. Ele tem o dedo de João Gilberto, a influência de Caetano e Gil. Influência, mas não é imitação. O “Ferro na Boneca” tinha muita influência do Tropicalismo, do que estava acontecendo na França e o Acabou Chorare, tinha a criatividade vinda do que a gente estava vivendo. Isso era muito importante. Então era uma coisa nova, criada, concebida. “Tinindo Trincando”, por exemplo, eu vou assim, era como a gente ia; “A Menina Dança” eu fiz para a Baby, era como ela fazia, era a vida dela, o jeito dela, nós estávamos juntos. Então, era ali retratando ela, a menina dos olhos. A gente estava respondendo com arte ao momento. É uma criatividade que teve esse respaldo de ser um disco que ainda hoje é considerado o melhor de todos os tempos, por ter tudo isso, o Tropicalismo e a Bossa Nova.

Rapaz, dá. Brasileiro rasga dinheiro. Os Novos Baianos se afastaram. Então estamos rasgando dinheiro. Lá fora não se faz isso, não. Porque é o seguinte: você vê que não acabaram esses outros de fora, e há um chamado constante pra fazer coisas, o sistema buscando a gente, vai chegar uma hora que isso vai acontecer. Quem é que quer rasgar dinheiro mesmo?!

O filme Filhos de João, O admirável mundo novo baiano, do Henrique Dantas reconstrói um pouco do que

Eu vou estar pra sempre vivo (risos). Eu não sei me aposentar. Eu tenho 74 anos, mas ainda jogo bola,

Então existe mesmo a possibilidade de um retorno?

Existe, sim. Nem que seja quando a gente tiver uns 80 anos. Em 97 nós voltamos e o disco ficou muito bom. Foi um disco duplo, o que foi um erro porque é muito difícil de vender, fica muito caro. Se lançasse um disco depois o outro, podia ter sido... melhor. A gente criou tudo na hora e a crítica toda é boa. Você está o tempo se descobrindo, redescobrindo e se reinventando. Você já escreveu livros, poemas, músicas, peças de teatro... O que mais a gente pode esperar? Quais as próximas novidades?

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sou um menino. Eu estou sempre buscando... Cinema, eu já tenho algumas coisas, literatura, para lançar, não só esse livro como outro também; música... Estou juntando uns poemas pra lançar um livro de poesias. Tem romance, que estou querendo lançar na

Bienal (do livro da Bahia). E tem também o meu filme, que já tem 30 minutos prontos, que é o Zé Mario (um doido de rua que mora em Juazeiro e morou com os Novos Baianos, no apartamento e no sítio também) contando a história dos Novos Baianos para os

outros doidos de rua, com quem ele viveu. Ele anda muito perturbado, mas é assim uma figura, inteligente pra caramba. Tem pessoas fazendo o papel da gente na época dos Novos Baianos, a gente vai só narrar, e no final vai ter uma cena nossa. Eu quero fazer um final

bom porque, bicho, brasileiro não sabe terminar filme. Só Glauber Rocha ou um ou outro assim que conseguiu, mas não é fácil. Outro dia eu estava assistindo a um filme bom do Arnaldo Jabor, aí quando vi o final fiquei decepcionado. Nem Jabor sabe, pô (risos).

CPI DAS ESPINGARDAS E BADOGUES

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Mesmo que reunas Todas as árvores e pássaros em revoada Para a matutina alvorada E exija-lhes silêncio Falando alto acima dos decibéis Ou suave pluma Como um beija-flor Parado no ar Não conseguiras calar Tão afinados bicos Porque árvores e pássaros Não cantam por vaidade, profissão Nem para males espantar O fazem apenas pelo prazer De estar em sintonia Com a alegria Do dia ao alvorecer Ainda que tivessem A fala, a flor da língua Aves e pássaros não contariam O que queres tu saber E até se acuados por cães ferozes rowtivailers , Pitibus e Buldogues “Au-au-au” e submetidos a CPI Das espingardas e badogues Não soltariam uma só palavra Por suas cabeças Não passam pensamentos E não têm nada a ver Com julgamentos Nem com os badalados Pingos nos is

Não sabem quantas penas têm no corpo Nem quantas unhas no pé Por isso suas penas lhes aquecem ao frio Bem diferentes das tuas Que ardem, queimam e te consomem Essas tuas penas também são minhas Pois as conheço “ipse lítere” E além pele-pele-pele Pelé Mas mesmo assim Saúdo-as e saldo-as Uma a uma Na boca do caixa Trocado em miúdos No guichê do banco E como um abnegado jumento As carrego ao destino e a dor Levando a carga e o montador “Ran-ran-ran!“ Mas o providencial canto em dueto De Asa Branca e Pássaro Preto Percorre a mesma rota das canções E chega via ouvidos sãos nossos corações E nós se andássemos não sobre Mas nos trilhos Poderíamos ser melhores pais e filhos E saberíamos acima de tudo Amar Escrito recentemente, é considerado por Galvão como o seu melhor poema.


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Curta! De onde vêm e para onde vão os curtas-metragens produzidos no cenário cinematográfico baiano Adailson Dias, Carlinhos Brown e Diego Lisboa em Olho de Boi

Texto Lara Perl e Lara Maiato Fotos Carol D’Ávila e Banco de Imagens SXC

C Marcio Cavalcante dirigindo Bahêa Minha Vida

Rafael Jardim na direção de Breve Passeio

Gabriela Almeida em Primavera - Foto de Josué Souza

ontar histórias através de imagens em movimento e em períodos de tempo cada vez mais breves vem conquistando o seu lugar no cenário da sétima arte. E a Bahia, sempre conhecida pela sua criatividade, não fica de fora desse panorama. Num período de grande destaque para a cinematografia baiana, os curtas cumprem um importante papel, não apenas como experiência e experimentação para os novos cineastas, mas também como fomento à produção independente e própria de longa metragem. Em 2011, quatro longas - Filhos de João, o Admirável Mundo Novo Baiano, Bahêa Minha Vida, Jardim das Folhas Sagradas e Capitães da Areia - foram exibidos, simultaneamente, em salas de cinema de vários estados do país. Segundo Gabriela Almeida, diretora dos curtas Náufragos (2010), Primavera (2011) e A Mão que Afaga, seu mais novo trabalho. “O curtametragem não difere em nada do longa em relação à preparação do filme: é um filme pequeno, mas não menor. Ele precisa do mesmo investimento de energia na concepção, desenho, decupagem e trabalho com ator que o longa-metragem precisa.

O que difere é que o longa tem um tempo maior na execução das tarefas, já o curta é muito condensado”. Para o cineasta Marcio Cavalcante, diretor do documentário “Bahêa Minha Vida”, que se prepara para o seu primeiro longa-metragem ficcional, Os Stones, os curtas se configuram como “uma boa escola de aprendizado. Contar história é o grande desafio e o curta é a forma que os realizadores têm para fazer isso com mais frequência e com um custo menor”. Nos últimos anos, o crescimento da produção de filmes curtos na Bahia tem sido notável, e o resultado pode ser percebido nos festivais nacionais. De acordo com Sofia Federico, diretora da Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado da Bahia (DIMAS), o crescimento e consolidação da produção local se deve à palavra-chave “acesso”. “Acesso cada vez maior dos realizadores e artistas aos meios de produção, aos recursos públicos, federais, estaduais de apoio e maturação de política pública de fomento ao setor”, reforça. Por outro lado, ela reconhece que a Bahia precisa avançar mais no que diz respeito à distribuição e exibição dessa produção. Além de incentivos

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O curta-metragem não difere em nada do longa em relação à preparação do filme: é um filme pequeno, mas não menor Gabriela Almeida públicos através de editais, novos cursos de graduação em cinema na Bahia, como o de Cinema da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e o de Audiovisual da Universidade Jorge Amado, vêm abrindo um vasto espaço de criação e produção experimental independente e cada vez mais profissional. Esses novos cursos, juntamente com os mais tradicionais, como os da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) e da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), configuram ambientes propensos ao surgimento de novas produções e, ainda, de discussões para a busca do aperfeiçoamento através da teoria.

FESTIVAIS

As mostras competitivas dos festivais têm sido um grande estímulo para o aprimoramento da qualidade e quantidade na produção de curtasmetragens. Muitos cineastas investem na produção de seus filmes pensando especificamente em um festival, como é o caso do “Festival Nacional 5 minutos”, que já virou tradição em Salvador. O diretor Rafael Jardim, formado pela FTC, diretor de Chapeuzinho, um dos dez curtas nacionais selecionados para a Mostra Universitária Salobrinho de Audiovisual (MUSA), declara sua intenção de continuar fazendo curtas e mandar para os festivais.

“A ideia é me aperfeiçoar, investir mais nas produções para tentar participar dos festivais maiores, os mais tradicionais”, declara. Para ele, apesar do crescimento na produção de curtas na Bahia, as dificuldades nos processos de produção e distribuição ainda são enormes. Uma delas é a falta de previsão mercadológica e de distribuição, que promove um circuito de curtas fechado, pequeno e restrito à exibição em festivais. Em relação à distribuição, Diego Lisboa, diretor de Olho de Boi (2011), eleito o melhor curta baiano pelo VII Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual (Cine Futuro), acredita que a falta de uma cultura

significativa no consumo de curtas não gera um interesse dos distribuidores em fomentar essa rede e, por isso, as formas de exibição são muito limitadas. “As exibições se restringem a festivais (frequentados, em sua maioria, por estudantes de cinema e pessoas que trabalham na área) o que dificulta a consolidação de um mercado consumidor e, consequentemente, o processo de captação de recursos para as produções”. Viver de cinema?!

Em decorrência desse mercado restrito, da falta de patrocínio e do baixo número de editais disponibilizados, o investimento realizado na produção de um curta-


curtas produzidos, o aperfeiçoamento das técnicas apreendidas por esses diretores. Diego, por exemplo, começou a dirigir curtas-metragens em 2004. “Uma coisa eu sei: no segundo curta você comete sempre menos erros do que no primeiro”, conclui. Novas janelas e novos horizontes

Nos últimos anos, a internet e as novas mídias vêm se fortalecendo como canal de exibição para essas histórias de poucos minutos, ampliando o público para além do nicho de pessoas que frequentam os festivais. “O curta-metragem nunca esteve tão vocacionado para o mercado como agora. Além das janelas tradicionais do cinema e da TV, múltiplas outras janelas estão disponíveis para o filme de curta duração, como as telas dos celulares, iPods, tablets e outras plataformas. O caminho para a grande mudança será criar modelos de negócio para o curta”, afirma Sofia. O site portacurtas da Petrobrás é um bom exemplo de como isso pode funcionar, pois se trata de um acervo online aberto com milhares de filmes disponíveis para serem assistidos por qualquer um. A crescente produção baiana de curtas-metragens comprova a possibilidade de se driblar as barreiras e investir em projetos e novas ideias. Os curtas-metragistas se mostram otimistas e sugerem algumas soluções para melhorar esse panorama em meio às dificuldades encontradas. Rafael, por exemplo, acredita que o financiamento de projetos audiovisuais

Uma coisa eu sei: no segundo curta você comete sempre menos erros do que no primeiro Diego Lisboa

por editais fornecidos pela iniciativa privada com valores semelhantes aos governamentais seria uma forma de melhorar o cenário, assim como o financiamento da produção de curtas por empresas televisivas para a exibição em suas programações. Marcio, por sua vez, defende a necessidade de aumentar o fomento através da criação de mais festivais e editais. A exibição de um curta antes de um longa em todas as salas de cinema é uma ideia que Diego Lisboa defende para ampliar a exibição, difundir os trabalhos, instigar e ampliar o mercado consumidor de curtas. As perspectivas para o futuro são as melhores, principalmente, ao avaliar as mudanças ocorridas no cenário cinematográfico baiano dos últimos anos. Marcio, que trabalha na área há sete anos, afirma que nesse período as mudanças são inúmeras e importantes. “Chegamos num ano muito especial para o cinema baiano, mais maduro, com produções locais melhor posicionadas comercialmente e com uma visão de futuro generosa”, expressa. Bernard Attal também nota a diferença, chamando a atenção para o fato de que existe uma grande diversidade de diretores e produtores, e os novos cineastas vêm com força. Parafraseando Stanley Kubrick, Attal afirmou que “para aprender cinema, é melhor fazer do que estudar, pelo menos no começo, e no seu primeiro filme tem que se envolver em tudo: produzir, escrever, fotografar, captar o som, dirigir, montar”. Sendo assim, vamos todos experimentar, fazer arte, e claro, curtir os curtas!

O caminho para a grande mudança será criar modelos de negócio para o curta Sofia Federico

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metragem acaba sendo superior ao retorno financeiro que ele pode proporcionar. Por isso, ainda é difícil encontrar diretores que se sustentem exclusivamente da sua produção cinematográfica, principalmente em relação aos curtas. Gabriela, por exemplo, além de diretora, é roteirista e dramaturga e realiza assessoria de roteiros. Já Diego Lisboa costuma dirigir vídeos publicitários. Outra dificuldade recorrente é a instabilidade do mercado cinematográfico. O diretor francês Bernard Attal, A Coleção Invisível, afirma que “não tem regularidade no fluxo de produções e no ritmo do editais”. Rafael complementa: “Você pode ganhar um bom dinheiro trabalhando em algum projeto, mas depois fica meses sem nenhum trabalho de cinema”. Por todas essas dificuldades, principalmente em relação à ausência de um mercado expressivo, a transição de um diretor de curtas para longasmetragens acaba sendo um processo natural, embora não obrigatório. Os longas, como afirma Marcio, acabam tendo um caráter mais mercadológico, como produto e com potencial de retorno financeiro efetivo. Os curtas, apesar de se constituírem como uma porta de entrada favorável para a produção de longas devido ao aperfeiçoamento e à segurança pessoal que essa produção favorece, são formatos audiovisuais que possuem vida e linguagem próprias, o que explica o fato de diretores com anos de experiência continuarem produzindo conteúdos em curto formato. É possível ver, entre a sucessão dos

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O (re)ciclo

da latinha A história de uma lata de tinta spray, do nascimento ao renascimento Texto Daniel Silveira da Cruz e Thamires Tavares Fotos Banco de Imagens SXC 12

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ra um simples arranjo de metal, cilíndrico, vazio. Era sem alma. Não tinha em si uma essência que pudesse lhe dar motivos de viver. Mas em meio a uma enorme fileira com muitas latas semelhantes, ela recebeu o que lhe dava uma existência, a tinta. Era como se ela estivesse na fila de deus, esperando por sua alma. Agora tinha vida, era uma lata de tinta spray, afinal, já tinha conteúdo. E não, ela não tinha CFC, era uma lata de tinta correta, não destruiria a camada de ozônio cada vez que soltasse sua tinta por aí. Sem luz, embalada em uma caixa sem saber para onde iria, a lata esperou muito para saber o seu destino. Quando chegou lá, foi puxada sem cuidados e colocada em uma prateleira com muitas latas iguais a ela. Tempos depois, percebeu que estava em uma loja. Era apenas uma lata, entre outras tantas. E não eram só latas, eram bicos, pincéis, outras tintas que ela nunca tinha visto nem ouvido falar. Não sabia quando sairia de lá, mas não via a hora de poder mostrar o seu potencial com o melhor da cor lilás. Adorava estar junto de suas amigas latas, mas o que ela queria mesmo era sair por aí, no mundo, espalhando cor e alegria, pintando muros

de escolas, de parques, pintando paredes e embelezando a cidade. A cada pessoa que entrava na loja, fosse mulher, homem, idoso ou mais jovem, a lata achava que seria a vez dela de ser comprada, mas não era bem o que acontecia. Ela sabia que sua tinta era de boa qualidade, afinal suas irmãs de marca já tinham sido compradas. Inclusive, outras já tinham chegado para renovar a prateleira, mas ela demorou muito para sair de lá. Quando estava com poeira sobre sua tampa, quando achou que seria devolvida ao estoque ou que estavas prestes a ter sua validade vencida, a latinha ouviu ser pedida. Inicialmente adorou a ideia de sair da loja, mas tinha medo, ela não sabia qual seria seu destino. Já tinha ouvido falar várias histórias de latas de spray de cores bonitas que tinham sido usadas para pintar muros e pilastras na cidade com palavrões e rabiscos incompreensíveis. Ela nunca sonhara com isso. Seu sonho sempre foi ser uma obra de arte, dessas que as pessoas param na frente e ficam horas tentando desvendar seu sentido. Agora estava na mão de seu comprador. Um sujeito estranho e que não parecia ter boas intenções. No

entanto, a lata não conseguia expressar a felicidade de, enfim, poder fazer coisas belas por aí. Andando pelas ruas dentro de uma sacola, não poderia imaginar que seria sacada para fazer rabiscos em muros da cidade. Seu destino estava longe do sonhado. Era uma pichação. Aquilo não era arte, era depredação. Mesmo sabendo que a pichação pode ser usada para expor ideais políticos, de contrariedade a regimes e guerras, como era comum na ditadura militar no Brasil, no famoso Muro de Berlim, na Alemanha, ou ainda na revolta de maio de 1968, na França, a latinha não sabia era para isso que seria usada. O sujeito que a tinha em mãos era o líder de uma gangue e estava pintando paredes com o seu nome apenas com o intuito de deixar sua marca pela cidade. Depois de muitas decepções, noites de subversão e correrias da polícia, a latinha foi esquecida em algum canto, em qualquer beco deserto da cidade. Várias pessoas passaram por ela e ignoraram sua presença. Até que um dia, outro sujeito estranho, com roupas largas que catava material reciclável a encontrou, recolheu e levou para seu ateliê. De repente, ela viu que poderia


Poder dar alegria a todos que passavam pelas ruas e causar nelas a sensação agradável de estar diante de uma obra de arte, poder colorir prédios e deixar a cidade menos cinzenta, era isso que mais

importava. Agora a latinha seria enviada para a reciclagem e depois dará vida a mais obras de arte, seja nas ruas, museus ou um simples quarto de criança.

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ter outra chance de fazer parte de uma grande obra de arte. Em um dia sem muitas perspectivas, seu novo dono tomou-lhe no canto em que a tinha guardado e colocou-a na mochila. A lata de tinta spray achou que novamente iria pintar rabiscos em muros, marcar o nome de alguém a quem ela nem conhecia ou fazia questão de servir. Tamanha a sua surpresa quando percebeu os primeiros traços de algo que poderia ser grandioso e belo. Não era uma pichação qualquer, agora a cor que saia de sua lata enriquecia a pintura de um prédio central na metrópole. Um grafite. Uma arte de rua, que transmite o olhar de quem habita na cidade, mas não tem oportunidade de estar em galerias ou museus. Arte que é acessível e democrática, deixando-se ser vista por todos. No entanto é passageira, já que numa noite ela pode estar ali e no dia seguinte ser apenas um muro, como uma tela em branco. Depois de muitos muros, o sujeito resolveu que seria a hora do lilás colorir uma tela. Quem sabe o museu municipal, talvez uma exposição no outro lado do oceano e a latinha teria sua tinta vista por outros olhos, olhos estrangeiros. Mas as coisas não saíram bem como esperava. Nos primeiros apertos do bico, como se faltasse ar, o lilás morreu. Não tinha mais tinta em seu tubo, já não era capaz de pintar nem meio-fio de calçada. E a latinha foi lançada ao lixo dos recicláveis. Foi melhor assim, estar na rua era muito melhor do que estar presa num museu.

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Cronópio, fama ou esperança?

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Faça o teste e descubra qual dessas criaturas se parece mais com você Texto Luana Amaral Ilustração João Oliveira 1) Alguém está dançando na sua frente e você detesta. Qual a sua reação: Peço para que a pessoa pare de dançar. Se não acatar o meu pedido bato nela até que caia no chão envolvida em seu sangue Sente pena da pessoa que apanhou por estar dançando. Vai até o lugar onde ela se encontra caída e fala algo que a faça sentir-se melhor Não costumo dançar, mas quando tento me dou mal.

2) Você: Perde coisas e se perde facilmente. Quando canta suas músicas favoritas ninguém te segura, se empolga a ponto de esquecer quem ou quê está ao seu redor É metódico e preza pela organização. É prático é pé no chão. É um meio termo das opções anteriores

3) Quando viaja, você: Prepara-se com antecedência e certifica-se de todas as possibilidades que podem ocorrer, pois nunca se sabe quando é preciso hospitalizar-se ou encontrar a delegacia mais próxima. Pesquisa hotéis, preços, tudo que puder saber sobre a cidade, e fica feliz quando nenhum imprevisto acontece. Não se preocupa muito com planejamento, por isso acaba encontrando hotéis lotados, perde o horário do avião, trem ou ônibus, e não dá sorte com taxistas. Mas você não se importa, pois acredita que esse tipo de coisa pode acontecer com todo mundo e o próximo dia será melhor. Viajar? Ah, prefiro continuar em casa...

4) Qual desses pensamentos exprime melhor o tipo de profissional que você é? “Trabalho é coisa séria, não é lugar para brincadeiras.


5) Você costuma praticar alguma ação de caridade? Sim, sou muito bom e atento a quem precisa. Estou sempre muito ocupado com alguma distração interessantíssima, por isso acabo não ligando para caridade Geralmente sou eu quem precisa de ajuda

7) Em um passeio pelo bosque, você: Não esquece o seu machado, sempre útil para derrubar alguma árvore que na verdade não terá a mínima utilidade para você. Encanta-se com alguma flor. Sem arrancá-la, brinca com ela, dança e cheira seu perfume Não frequento bosques.

Resultado:

6) Qual dessas frases seria melhor opção para enfeitar a porta da sua casa?

Se você marcou mais :

• “Bem – vindos os que chegam a esse lar” Prefiro não colocar nada Várias, nesta ordem: “Bem- vindos os que chegam a este lar”. “A casa é pequena, mas o coração é grande”. “A presença do hóspede é suave como a relva”. “Somos pobres de verdade, mas não de vontade”. “Este cartaz anula todos os anteriores. Se manda, cachorro”.

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Desprezo quem age de forma negligente.” “Trabalho? Até freqüento, mas sempre encontro coisas mais interessantes para fazer quando estou por lá.” “Não morro de amores, faço o necessário e volto pra casa”

Você é um cronópio, tem alma de poeta e inclinações artísticas. Vive à margem das coisas, é distraído e sonhador. Você é fama. É organizado e pode ser dar bem em cargos formais, como gerente de banco ou quem sabe presidente da república

Você é esperança. Elas são intermediárias, estão no meio do caminho, e adaptam-se às características dos famas e cronópios de acordo com o momento e as circunstâncias.

As três criaturas são personagens apresentadas por Julio Cortázar em seu sexto livro, “Histórias de Cronópios e Famas”, lançado em 1962. Elas surgiram pela primeira vez na mente do escritor argentino em uma noite no Teatro Champs Elysées, em Paris. Durante o entreato de um concerto em homenagem ao compositor russo Igor Strawinsk, Julio permaneceu sozinho no teatro e disse ter sido tomado pela sensação da presença de personagens cômicos e divertidos. Movidos pela poesia, os cronópios são seres verdes e úmidos, desorganizados e nada convencionais. Pouco se atentam a detalhes maçantes, mas vêem a beleza das coisas simples e por vezes esquecidas, principalmente pelos famas. Estes são metódicos, pés no chão, trabalhadores e estudiosos. Meticulosos, nada deve sair do alcance de seu controle. Os cronópios não dizem, mas sentem uma enorme pena dos famas. Esperanças situam-se em um meio termo, não são sonhadores e idealistas como os cronópios, ou práticos como os famas, “sedentárias, deixam-se viajar pelas coisas e pelos homens, são como estátuas, que é preciso ir vê-las porque elas não vêm até nós.” Esperanças são bobas, lamentam-se sentadas na calçada por não conseguirem amarrar os sapatos. Cronópios e famas conhecem uma dança chamada espera, e ficam muito chateados quando famas dançam trégua e catala. As casas dos famas são organizadas, limpas e silenciosas. Suas lembranças são embalsamadas, embrulhadas e identificadas com um cartãozinho. Cronópios são expansivos, suas lembranças andam soltas pela casa. Perdem as chaves, e ao procurá-las acabam por se perder. São um tanto neuróticos. “E se o mundo houvesse se deslocado de repente e nada estivesse onde deveria? Fósforos no lugar das chaves, o açucareiro cheio de dinheiro, o piano cheio de açúcar e o catálogo cheio de música? Um cronópio se desespera ao acreditar que o mundo se inverteu. Seus vizinhosfamas e esperanças- precisam acudi-lo, e demora, até que impressionado se acalme. Certa vez famas contrataram cronópios para trabalhar em sua fábrica de mangueiras coloridas. Eles tiveram a grande idéia de cortá-las em pedaços e distribuí-las pela cidade para que as meninas pulassem mangueira. A fábrica faliu. Claro, culpa dos cronópios, que só queriam saber de dançar e gritar. Os famas ficaram muito zangados. Mas a cidade ficou mais colorida. O próprio Cortázar criou seu método de identificação de cronópios, famas e esperanças. Ele testava suas visitas apresentado-lhes um caleidoscópio, presente de Natal que ganhou da sua primeira esposa, Aurora. “Quando vem alguém aqui em casa, eu logo lhe ofereço o caleidoscópio. Se a pessoa enlouquece, dá pulos etc., eu a proclamo cronópio. Se ela se mostra condescendente, com um sorriso bem-educado, mando-a mentalmente às favas”.

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IMPRESSĂ•ES 16

Rio dos Macacos Texto e Fotos Jessica Lemos e Vinicius Carvalho


IMPRESSÕES

Em Simões Filho, mais uma comunidade resiste contra a tentativa de destruição de seu modo e de sua história de vida. O Quilombo Rio dos Macacos é uma comunidade negra rural, composta por cerca de quarenta famílias descendentes de escravos e com história que remonta mais de um século de existência. Hoje a Marinha do Brasil disputa as terras quilombolas com a comunidade, que passou a conviver com uma série de restrições impostas pela Marinha, através de práticas abusivas cometidas pelos militares que proibiram os moradores de construir novas ou de reformar as antigas casas, bem como negaram o direito de manter roçados próprios para subsistência. Rostos abatidos, expressões de medo e tensão são transmitidas no local. As famílias se escondem, vivem diariamente na dúvida se poderão permanecer nas terras que nasceram e cresceram. São sempre encontradas na porta ou na janela de suas casas, mostrando a angústia de não estarem protegidas dentro do próprio lar.

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E

u ainda era bem jovem, conhecendo o sexo e todas as suas possibilidades. Costumava navegar pela internet em busca de pornografia fácil, até que descobri a existência desse chat em que pessoas conversavam sacanagem, expunham fotos de conteúdo adulto e, enfim, podiam marcar uma transa sem compromisso. Costumava

buscar mulheres e, quando as adicionava no MSN, as mesmas não costumavam descobrir a minha verdadeira idade. me passava por um homem bem mais velho, mas decerto, me tinham como um homem bobo, idiota ou até mesmo tarado, devido a minha excitação excessiva. Pois então, eis que um dia, resolvo entrar numa mesma sala de bate-papo. com dois apelidos

Autor: gatinho_olhosnegros_16cm_profundo

Troca de sexo fake diferentes, ao mesmo tempo e sendo um feminino e um masculino, resolvi criar um discussão entre os dois. Esse casal estaria supostamente discutindo pelo bate-papo. E não é que passei o meu MSN verdadeiro para um rapaz que queria conhecer a minha personagem feminina?! Ainda tive de inventar que aquele era o e-mail do namorado dela, que discutia com a mesma no chat. Não

tendo mais passos a seguir nessa brincadeira, revelo ao rapaz a farsa, digo que sou homem e etc. mas, o mesmo, para o meu espanto, disse que não fazia problema e continuou a insistir que eu mostrasse minhas partes íntimas para ele, via MSN. Mas, eu macho que sou, não cedi e ele insistiu bastante. Bloqueei-o e nunca mais fiz uma brincadeira dessa novamente.

Apesar do surgimento das redes sociais, as salas de bate-papo ainda são muito usadas no Brasil. A Lupa foi atrás das histórias mais intrigantes vividas nesse universo. Confira!

DO BATE-PAPO ONLINE

Crônicas

18 CUBO MÁGICO


Autora: senhora_do_seu_pecado

E

u, após anos brigando com o meu marido, resolvi procurar na internet, o que tinha muito medo de encontrar pela rua (meu marido costuma ser agressivo), um novo homem para me dar o prazer de que eu necessitava. Meu esposo não me procurava mais, ele estava sempre insatisfeito com algum elemento da nossa vida de casal. Comecei a ver que ele provavelmente já não gostava mais dessa união entre nós dois, só que nunca admitiria. Então fui buscar consolo nesse bate-papo. Era divertido, muitos jovenzinhos, todos na média dos dezoito aninhos, sedentos de sexo, querendo foder a todo custo e eu lá, carente, uma senhora já. Eu lia cada comentário e ficava cada

vez mais molhada, querendo fazer o proibido mas não podia, meu marido era capaz de me matar se descobrisse. Até que conheci Paulão_bemdotado. O menino tinha um bom papo, sabia seduzir com as palavras, me deixava excitada como ninguém mais fazia. Eu queria sentir aquele homem me possuir. Acho que a vontade era maior do que com meu marido que eu ainda tinha um resquício de esperança que voltasse a si, e visse a mulher ao seu lado na cama, querendo o seu toque, o seu cheiro, o seu amor. Paulão era tarado, só vim descobrir isso mais tarde, quando finalmente não consegui mais resistir aos seus convites e topei ir com ele a um motel. Pois cheguei lá e ele não estava sozinho. Era sim, um gato, mas, além dele, tinham mais

dois, todos nus, com seus membros enrijecidos, loucos para me surrar, me lamber, me comer. Achei aquilo indecente, mas eu já estava traindo meu marido, com um rapaz mais novo, indecência por indecência, não fazia mal aumentar aquilo. E então, me joguei de boca, sentei, deitei, pulei, trepei loucuras e tive a gozada mais saborosa da minha vida. Saí de lá com o corpo mole, anestesiado. Resolvi me separar do meu marido. Mas, após levar uma surra (de verdade) do mesmo e após assinar os papéis, descobri que Paulão só queria sexo sem compromisso e viu em mim a senhora do seu pecado. Paulo Henrique estava noivo, sua noiva estava grávida, não poderia ser mais do que sua amante. E não é que virei?!

oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii Autor: menino_carente

E

la sempre entrava na mesma sala. Usava sempre o mesmo nick e entrava sempre no mesmo horário. Dama da noite, esse era o nome escolhido por ela. Eu sempre tentava, inutilmente, buscar papo com ela, usando, para isso, vários nomes como, homem sozinho, cara maduro, homem gentil, mas tudo em vão. Certa vez resolvi mudar de sala e, para me divertir um pouco, entrei com um nick feminino. Lá estava ela. A dama da noite acabara de entrar na sala que eu estava e, pra minha surpresa, me deu um oi. Retribui dizendo oi também. Ela me dizia que estava curiosa, e tinha muita vontade de conhecer uma mulher, porém só tinha coragem pela internet. Tomado por uma curiosidade imensa marquei um encontro com ela, mesmo sendo homem. Ela chegou no horário marcado às 15 horas, vestida de vermelho. Me aproximei dela e disse: a Lúcia mandou dizer que não vem. A dama de vermelho deixou o seu número e me pediu pra entregar a Lúcia. Resolvi, então, ligar e fui surpreendido novamente. Eu sabia que era você, ela me disse. Seu jeito de teclar é irreconhecível. Com saudações do tipo oiiiiiiii iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.

CUBO MÁGICO

Traição na rede

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MEIO E MENSAGEM 20

Traduzindo o Silêncio Texto Fábio Arcanjo e Guilherme Silva Foto Wesley Miranda

O

s dois repórteres entram na sala e se acomodam na cadeira, assim como Deise. Eles estão em um pequeno escritório e, enquanto ela vira-se para a tela do computador e termina a leitura de uma página, os meninos abrem seus computadores portáteis e conferem as perguntas planejadas. O parágrafo acima não está muito distante de um roteiro para audiodescrição, com os períodos sendo intercalados pelas falas dos personagens. Esse é um dos poucos meios pelo

qual deficientes visuais têm acesso a conteúdo de origem audiovisual, como peças de teatro, filmes e programas de televisão. Deise Silveira é vice-coordenadora do grupo de pesquisa TRAMAD (Tradução, Mídia e Audiodescrição) que tem como objetivo estudar e promover recursos que auxiliem a acessibilidade audiovisual, em especial a audiodescrição. Na entrevista, ela fala principalmente do trajeto da audiodescrição no Brasil e os obstáculos que essa enfrenta para ser disseminada no país

Como surgiu a audiodescrição?

A audiodescrição surgiu no início da década de 2000. Por volta de 2002 foi sancionada uma lei que, inicialmente, obrigaria a ter audiodescrição em todos os programas, o que de fato não foi implementado. Como isso implicava altos custos, as emissoras não colaboraram, recorreram à lei, dificultaram a implantação. Até que, finalmente, em julho de 2011, foi instituída a lei que obriga duas horas de programação semanal com audiodescrição (Portaria nº 188 de 24 de março de 2010). Quais recursos já auxiliavam os cegos antes da audiodescrição?

Improvisação. Parentes ou amigos que assistiam junto, descreviam o que se passava na tela para o deficiente visual. Era uma audiodescrição natural, meio sem querer. Hoje temos softwares de leitura de tela, que leem o que aparece na tela do computador para eles, e o Braile. Aqui na Biblioteca Central da Universidade Federal da Bahia (UFBA) tem uma seção somente de livros em Braile e audiolivros, que são gravados em CD.


MEIO E MENSAGEM

Qual o alcance das ferramentas de audiodescrição no Brasil? Muitos deficientes visuais já têm acesso a elas?

O grande problema é o sinal digital porque só com esse sinal é possível ter acesso à audiodescrição. Eles acabam não conseguindo acessar os programas por não terem os equipamentos necessários e o alcance fica refém da tecnologia. Em outros meios, como o teatro e o cinema, não há adicionais de custo para ter acesso a esse recurso. É oferecido gratuitamente. O tema da acessibilidade para deficientes, sejam eles físico, visual ou auditivo, tem ganhado cada vez mais relevância. De que forma a audiodescrição se destaca e ganha importância em meio a todos os outros?

Eu vejo a audiodescrição como um recurso excelente e, junto aos outros meios de acessibilidade, se completam muito bem. A chave da audiodescrição é justamente suprir informação, mostrar o que está acontecendo a quem não tem acesso. Estamos descobrindo que pode ajudar também deficientes intelectuais, mas não há estudos nessa área. Fizemos, em 2010, audiodescrição de uma peça em Santo Amaro e alguns alunos da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - APAE estavam presentes. Eles adoraram a audiodescrição, acharam muito melhor, conseguiram entender. Ficamos curiosos e, então, fizemos um teste com quatro deficientes intelectuais da APAE. Mostramos um filme sem e com audiodescrição e depois de cada um, aplicamos um questionário com eles e o resultado foi bastante positivo: todos conseguiram absorver muito mais informação com o uso da audiodescrição. As redes de televisão realmente se interessam em implantar

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esse recurso?

Deliberadamente, não, principalmente por causa dos custos. Mas deixou de ser questão de escolha porque agora é lei federal e elas têm que cumprir. O que falta é contratar as pessoas certas e qualificadas para esse trabalho. O que acontece é que as emissoras estão utilizando os dubladores não profissionais. A audiodescrição quer traduzir o silêncio, momentos em que se tem somente imagem ou imagem e música na tela, os gaps (lacunas) que existem entre as falas dos personagens que nós, videntes, conseguimos compreender. Audiodescrever é selecionar o que é importante saber, quando falar, o que falar e em que quantidade falar. E é necessário o profissional, aquele capacitado para realizar a audiodescrição, aquele que estudou para compreender quais os silêncios são necessários e quais devem ser passados para o público. E por isso eu concluo que as emissoras não têm interesse. Como o Brasil está posicionado em termos de acessibilidade através da audiodescrição?

No mundo, temos quatro manuais de como se fazer audiodescrição, um espanhol, um alemão, um inglês e um americano (Espanha, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos). Eles têm algumas coisas em comum e algumas diferenças, porque cada caso é um caso e fazer audiodescrição é algo muito subjetivo. Se eles já têm um roteiro, estão mais avançados em pesquisa e a Espanha é a grande referência mundial nesse setor. Apesar disso, estamos caminhando bem, temos feito muitos trabalhos aqui, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ainda estamos atrás em relação à Europa, mas chegaremos lá. Uma coisa que já ocorre hoje na Espanha, e que aqui brigamos para que ocorra também, é que os filmes

Audiodescrever é selecionar o que é importante saber, quando falar, o que falar e em que quantidade falar


MEIO E MENSAGEM

já são produzidos pensando também nos deficientes audiovisuais. Os filmes já são feitos com esses recursos por lá, ao invés do recurso ser implantado depois. Aqui no Brasil, alguns DVDs e filmes já saem com audiodescrição, como “Nosso Lar” e “Chico Xavier”. O primeiro filme brasileiro a ser comercializado em DVD com audiodescrição foi o “Ensaio Sobre a Cegueira”. Mas são poucos filmes que possuem esses recursos. Lá fora ainda encontramos mais títulos, também com legendas para surdos, que é diferenciada. O que ainda pode ser melhorado na audiodescrição e quais as suas limitações?

A audiodescrição possui limitações técnicas. Por exemplo, quem nunca questionou a legenda de um filme? A gente quer a perfeição mas, se você estudar a legendagem, verá que existem normas técnicas, uma série de fatores que determinam que ela seja dessa forma. Para a audiodescrição também há esse tipo de limitação, os comentários tem que caber no silêncio, não podem transmitir emoção, não podem sobrepor falar e sons; exigências das produtoras, dentre outras. O avanço dos produtos tecnológicos permite imaginar que em breve teremos novas maneiras de transmitir aos deficientes visuais as sensações passadas em filmes ou apresentações teatrais, por exemplo?

A técnica vai se desenvolvendo ao longo do tempo, através de estudos, de pesquisas. Antes, havia uma dúvida se devíamos descrever cores e, hoje em dia, já conseguimos perceber que é

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fundamental descrever esse tipo de coisa. A cegueira pode ser congênita, de nascimento, mas pode também ter sido adquirida ao longo da vida e, para esses cegos, descrever as cores, as formas, faz grande diferença. Então, a audiodescrição vai se aprimorando ao longo do tempo, com os estudos e a colaboração daqueles que a utilizam, os deficientes visuais. Quais os objetivos do TRAMAD? Quais deles já têm sido cumpridos?

O TRAMAD é um grupo de pesquisa, dirigido pela professora doutora Eliana Franco, que funciona aqui na UFBA desde 2005. A sigla significa Tradução, Mídia e Audiodescrição e o grupo trabalha com legendagem aberta e fechada – aberta é a comum e a fechada é a especial para surdos – e audiodescrição. Em 2011 haviam entre 17 e 20 pessoas no grupo e já implementamos vários trabalhos, traduzindo espetáculos de dança junto à Faculdade de Dança da UFBA, curtas e filmes maiores como “Ensaio Sobre a Cegueira” e “O Espanta Tubarões”, do qual fizemos o roteiro. No segundo semestre do ano passado nos dedicamos bastante à prática. Então, agora, estamos equilibrando mais, trabalhando com a teoria, com pesquisas. Recebemos um contato da Biblioteca Central dos Barris e eles querem que façamos a audiodescrição dos filmes que estão na lista do vestibular da UFBA. É uma ótima oportunidade para ajudar os deficientes visuais a estar no mesmo patamar de um candidato que não possui deficiência. O grupo é bastante atuante e se reúne a cada quinze dias, nas sextasfeiras, no Instituto de Letras.


MEIO E MENSAGEM

Mesmo planeta, órbitas diferentes

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O quarto de João Marcelo é um pedacinho do céu para nerds e geeks

Texto Alles Alves e Edvan Lessa Foto Julien Jatobá Karl | LabFoto Ilustração Taiane Oliveira

T

odos querem encontrar seu lugar no mundo. Essa máxima parece óbvia, principalmente quando falamos das tribos urbanas, grupos formados por pessoas que partilham os mesmos gostos e estilos. Isto é, ouvem as mesmas músicas, curtem os mesmos filmes e dedicam grande parte do seu tempo para discutir assuntos de

interesse comum. Os nerds e os geeks são exemplos dessas tribos e têm estilos similares. Eles possuem idiomas próprios, com direito a expressões como “42” e outros termos que cabem, quase que particularmente, a seu próprio imaginário. Assim como as pessoas que comem acarajé com ketchup, os nerds eram bastante criticados, considerados quase aberrações

da natureza. Sem nenhuma vida social, esses indivíduos, tachados como bobalhões no passado, subiram num foguete em direção à popularidade. Sentavam-se nas primeiras cadeiras da turma, tiravam as melhores notas e “namoravam a própria mão”, mas agora são respeitados, ganhando a atenção de grandes empresas do entretenimento, do design e da moda. Já os geeks são os des-

pojados, ou melhor, nerds viciados em tecnologias, que compram e pesquisam sobre novidades o tempo inteiro. Surgiram como uma versão “neonerd”: totalmente desinibidos, sem aparelho nos dentes ou espinhas. Alguns até usam óculos, mas quebraram completamente o estereótipo de esquisitos, desleixados e que perambulavam sozinhos pelos corredores dos colégios.


MEIO E MENSAGEM 24

DE ONDE VIERAM Quem pensou que ambas as expressões geek e nerd surgiram do nada, e que não significam coisa alguma, certamente não entendem da missa a metade. Geek é muito mais uma gíria que define pessoas peculiares ou excêntricas aficionadas em tecnologia do que um padrão de vida escolhido pela mídia. O termo nerd também é uma gíria e ficou popular aqui no Brasil em 1984com o filme a “Vingança dos Nerds”. A teoria é de que a expressão surgiu em 1950 quando um escritor de contos eróticos e infantis (sim, acredite), o americano Theodore Seuss Geisel (Dr. Seuss), apresentou um personagem esquisitão chamado Nerd. A tese mais comum, porém, é que Nerd seria uma sigla que funcionários da companhia canadense de telecomunicações, Northern Eletric ResearchandDevelopment (Nortel), levavam no bolso da camisa.

GEEK? NERD? A verdade é que a imagem antiga do nerd começou a ruir quando popstars do mundo da tecnologia surgiram. Steve Jobs, cofundador da Apple, e Bill Gates, um dos fundadores da empresa Microsoft, revolucionaram a maneira de ser e, quem sabe, a de se sentir nerd. O último cara, por exemplo, é dono da famosa frase: “Seja legal com os Nerds. Existe uma grande probabilidade de você vir a trabalhar para um deles”. Outro fator que elevou a popularidade dos nerds e geeks foi a disseminação de alguns elementos na cultura pop. Se gostar de Star Wars algum dia foi estranho, hoje não é mais assim. A indústria cultural percebeu que havia aí um grande mercado consumidor e começou a produzir artigos que entraram no gosto popular e foram imediatamente aceitos. Não conhecer os “Jedi” ou o capacete do “Darth Vader” é sinal de heresia e pode levar

Aqueles que se sentavam nas primeiras cadeiras da turma, tiravam as melhores notas e “namoravam a própria mão”, agora são respeitados, ganhando a atenção de grandes empresas alguém à fogueira nos dias de hoje. Yang Bonfim, geek de 20 anos, diz que “talvez todos sejamos no fundo nerds, pois está sendo até legal ser assim; como um momento ou modinha, fazendo a gente pensar que há muitos por aí.” Ele também defende que o que se tem hoje é uma geração nascida nos anos 1980 e 1990que compartilharam momentos semelhantes no seu crescimento, assistindo aos mesmos programas, desenhos, jogando os mesmos jogos, o que torna difícil identificar os verdadeiros nerds. “Mas, com certeza, se nos compararmos aos primeiros Nerds, nascidos nos anos 50, 60 e 70, não seríamos classificados como tais”, avalia. Tanto geeks quanto nerds gostam muito de histórias em quadrinhos (hqs), seriados, games, etc. No entanto, os nerdstendem a demonstrar uma afeição maior por esses produtos culturais, ou seja, se ser geek é inserir todas as parafernálias high-tech, as maiores características nerds são o apego grandioso pela cultura pop e a idolatria a per-

sonagens e super-heróis das histórias lidas e assistidas. Não é raro que, ainda assim, as pessoas vejam em um geek, um nerd e vice versa. Ambos têm traços em comum. Mas então, como diferenciá-los? Mais fácil, na verdade, é destacá-los da multidão. Basta observar se trajam camisas de heróis, vilões, tênis All Star, ou se manuseiam freneticamente o smartphone, tablet e o sabre de luz. Fazer cosplay – se vestir de algum personagem querido – também é um sinal. Na dúvida, puxe assunto, fale de Star Trek, Senhor dos Anéis, Harry Potter, etc. Yang Bonfim revela não ser mais um nerd. “Não por desinteresse, mas ficou difícil depois de entrar na Faculdade de Medicina. Me senti mais ligado à tecnologia após ganhar meu primeiro computador, aos 8, 9 anos de idade”. Essa renúncia ao comportamento nerd é respeitada por outros nerds. Para João Marcelo, 19 anos, presidente do Conselho Jedi Bahia – fã clube da série Star Wars ,ruim é ser um ‘nerd de ocasião’, ou seja, aquela pessoa que só foi a um evento nerd uma vez na vida, ou nunca foi; mal lê uma


hq por ano; profere a frase “Que a Força esteja com Você”, sem nunca ter assistido Star Wars, além de jamais ter visto a capa do Guia do Mochileiro das Galáxias ou sequer saber que o dia 25 de maio é o dia do Orgulho Nerd. ENQUANTO ISSO NA BAHIA Micael Culpi, 19 anos, frequentador de eventos sobre cultura japonesa opina que em Salvador há mais espaço para os otakus – pessoas ligadas à cultura nipônica - do que para os nerds ou geeks. “Sempre que possível, procuro frequentar eventos do mundo nerd - ou exclusivamente de Star Wars - em outros lugares, principalmente em São Paulo, onde encontros desse tipo são mais comuns. Na Bahia é um mercado que ainda está em crescimento”, sublinha. “Muitos realizadores e produtores não estão sabendo como administrar [os eventos

nerds e geeks]”, acredita o “jovem Jedi”, João Marcelo. Ele foi responsável por um dos maiores encontrosnerds de Salvador, o AliançaSalvador, que em maio de 2011 reuniu pelo menos 450 simpatizantes dos filmes de George Lucas. Frederico Dargel, 21, assume ser um pouco geek e nerd, mas se identifica como um retrôgammer – pessoa aficionada em jogos antigos - e tem opinião radical sobre a quase inexistência de eventos como o “Aliança”. “Em Salvador não existe cultura além da do carnaval, cerveja e futebol. Logo, as culturas nerd, geek, otaku, gammer não são muito bem difundidas. Sendo assim, não tem como encontrar muitos como eu”, lamenta. AS GAROTAS NESSA HISTÓRIA Há quem diga que muitas garotas gostam do estilo nerd e geek, mas não se assumem

MEIO E MENSAGEM

como pertencentes a um ou outro grupo por “receio de ficarem reclusas de outros meios que as interessam”. Elas também não têm tanta facilidade em se mobilizar sozinhas para formar grupos, fã-clubes ou conselhos, mas quando isso acontece há forte participação. O Conselho Jedi Bahia, que faz parte de um grande grupo de fã-clubes pelo Brasil inteiro e se reúne para discutir, organizar e realizar atividades acerca do Universo Star Wars, possui três mulheres atuantes, além de outras associadas. “Existem cada vez mais mulheres entrando nesse universo, mas isso é muito preocupante porque boa parte das que se dizem geek ou nerd, só o faz por que virou moda”, expressa Nicolle Melo, 20 anos. A internet, por outro lado, tem ajudado bastante algumas garotas interessadas na cultura nerd ou geek, pois, através dasredes sociais e dos blogs, por exemplo, elas podem discutir sobre suas HQs e séries preferidas, além de reafirmar seu espaço nesse mundo. “As meninas não faziam um público grande, por isso a oferta era menor. Agora não. Agora você tem batom cuja capinha é um sabre de luz. Isso me preocupa porque as meninas que sempre gostaram, e que vão gostar sempre [do estilo nerd], mesmo depois que a modinha passar,acabam sendo levadas nessa onda ‘tô na moda’”, acrescenta Nicolle. Ainda de acordo com ela, o lado bom é que asnerds e geeks de verdadetêm mais opções de produtos. “Mas se você olhar para o lado, vai ver que aquela menina que nunca viu um episódio de Star Wars, ou nem sabe a origem de um personagem como o Flash ou Lanterna Verde, está vestindo a camisa”, adverte.

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PROVA DOS NOVE

Campi Digital Entrevista com @HéberSales, idealizador da rede de aprendizado colaborativo em Comunicação Digital

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Texto Danilo Pestana Foto Danilo Pestana

A

Campi Digital é uma rede de aprendizado colaborativo que investe em inteligência coletiva para proporcionar experiência de estudos em marketing e comunicação digital. Para entender mais sobre isso, entrevistamos o idealizador da rede, Héber Sales, que também é mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), especialista em branding cultural e sóciofundador da agência QuantaGente Interativa.

O que te inspirou a criar a Campi Digital?

Durante meu mestrado recorri a comunidades e fóruns on-line para tirar dúvidas e pedir dicas. Encontrei espaços de aprendizado vibrantes, nos quais as pessoas compartilhavam informações e produziam

conhecimento. Uma delas, lembro bem, fica no Orkut e ainda é muito ativa: a Antropologia Social. Os desenvolvedores e fãs do Linux constituem outro bom exemplo de produção coletiva de conhecimento. Conheço jovens que começaram a atuar profis-

sionalmente antes mesmo de fazerem qualquer curso formal graças a seu aprendizado na comunidade Linux. Tudo isso me levou a pensar que a Campi Digital seria uma boa ideia, intuição que foi confirmada posteriormente quando conversei com outros pesquisadores e empreendedores do mercado digital. Juntos montamos, então, a primeira versão da Campi. No papel de professor e de diretor de uma agência digital, como você avalia o ensino da comunicação digital nas faculdades de marketing e publicidade em Salvador? A ideia de criar uma rede de aprendizado colaborativo tem a ver com isso?

Tudo a ver, já que no mercado temos muita dificuldade para encontrar mão de obra qualificada. As faculdades ainda são muito tímidas no estudo dos métodos e

ferramentas que precisamos usar numa agência de comunicação digital. Nosso gargalo hoje nas agências não está na demanda, mas em conseguir profissionais preparados para atendê-la. Como ocorre o processo de aprendizado na Campi Digital?

Possuímos um perfil ativo no Twitter, onde filtramos e compartilhamos conteúdos relevantes sobre marketing e comunicação digital. Nessa rede, trocamos muitas informações com nossos seguidores e com outros perfis relacionados ao nosso campo. Em nossa rede Ning, temos recursos mais completos para o aprendizado colaborativo. Os membros podem abrir fóruns, produzir e comentar posts, publicar vídeos, infográficos, trocar mensagens entre si. Lá temos todos os recursos de uma rede social,


Quais os planos da Campi Digital no longo prazo?

que usamos com o objetivo de desenvolver a inteligência coletiva da comunidade. Eventualmente realizamos também cursos e eventos presenciais. Não seria contraditório uma rede de aprendizado colaborativo funcionar através do NING que é software proprietário?

Sim, mas fomos pragmáticos quanto a isso ao criarmos a Campi Digital. Encontramos no Ning recursos mais amigáveis e completos a um custo muito acessível. Na época em que a rede foi criada, a plataforma era gratuita e hoje não é?.Não, Gra. Hoje se paga de R$ 59 a mil reais por ano para manter a rede, dependendo do plano. É uma rede colaborativa, mas também promove eventos e cursos pagos. Poderíamos considerar a Campi Digital como um negócio rentável?

Tem potencial para ser, mas até aqui conseguimos cobrir apenas os custos de realização dos cursos e de manutenção da rede on-line. De qualquer modo, neste momento vemos a Campi

Digital mais como uma organização do terceiro setor do que uma empresa com fins lucrativos.ora bolas, não é a mesma coisa, né? Quais os principais resultados da Campi Digital?

A Campi Digital reúne hoje mais de 1.800 seguidores no Twitter e mais de 700 membros em sua rede Ning. Já realizou 5 cursos e 1 seminário, que, no conjunto, atenderam a cerca de 560 pessoas.

No momento, estamos revendo objetivos e recursos para decidir como manter o crescimento da comunidade. Esperamos contribuir com as Instituições de Ensino Superior (IES) na reestruturação de seus processos de aprendizado em comunicação e marketing digital. Sala de aula é um recurso valioso ainda, mas não é capaz de atender a avalanche de conhecimento que vem sendo produzido na internet e nas redes sociais. Seu papel no aprendizado precisa ser repensado. O EAD é um posto avançado dessa reforma, mas muitas IES estão

simplesmente adaptando o modelo excessivamente hierarquizado da sala de aula tradicional para ambiente on-line. Não funciona mais. O professor precisa atuar como um curador, porque os estudantes têm acesso praticamente ilimitado à informação e muitos deles estão produzindo conhecimento fora dos circuitos de pesquisa tradicionais. Não é raro hoje em dia sermos surpreendidos por alunos que já dominam conteúdos que estamos ensinando graças à sua inserção em redes de aprendizado virtuais, sejam elas mais estruturadas como a Campi Digital ou não.

Quais as dificuldades em manter a Campi Digital funcionando?

Tempo. Os líderes e parceiros atuais são pessoas de mercado muito requisitadas e têm tido pouco tempo para fomentar e moderar discussões. Apesar de ser um ambiente colaborativo, a Campi Digital, como a grande maioria das comunidades e iniciativas crowdsourcing, precisam de liderança para se manterem vivas. Uma das estratégias que estamos usando no momento é justamente apoiar novas lideranças na comunidade.

Como acessar O endereço da Campi Digital na internet é www.campidigital.ning.com. Basta se cadastrar e criar um perfil para participar e ter acesso aos conteúdos e discussões sobre o mundo da comunicação digital.Também possui Twitter: @CampiDigital.

PROVA DOS NOVE

Nosso gargalo hoje nas agências não está na demanda, mas em conseguir profissionais preparados para atendê-la

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CIRCO URBANO

Cidade das Bicicletas

Já está na hora de discutir novas formas de mobilidade para Salvador 28

Texto Luiz Fernando Teixeira e Fabrina Macedo Foto Natalia Reis

Onde estão suas bicicletas?” Assim fomos recebidos pelos ciclistas ao chegar ao Movimento Bicicletada Salvador Massa Crítica, que é ativo na cidade desde 2009, e acontece no Brasil desde 2002. Por volta das 18 horas, jovens, adultos, crianças e até idosos começam a se reunir no Largo da Mariquita, no Rio Vermelho, e seguem em uma pedalada pela orla. Não importa a velocidade em que cada um pedale, o que importa é a defesa da cultura da bicicleta em Salvador, melhorias no sistema de transporte da cidade e o respeito ao ciclista. Segundo os objetivos divulgados pela Bicicletada, responsável pela organização do movimento no Brasil, o foco não é combater os carros, mas sim, conscientizar os cidadãos sobre a importância da bicicleta para a qualidade do transporte nas grandes cidades. O movimento das bicicletadas ocorre há cerca de 30 anos em todo o mundo, com o propósito de ocupar as ruas com bicicletas, abordar as pessoas distribuindo panfletos e defender esse meio de transporte. Atualmente, o evento é realizado em cerca de 200

cidades no mundo, sempre na última sexta-feira do mês, no mesmo horário. “Em Salvador, já contamos com a presença de mais de 160 ciclistas”, afirma Clemént Vialle, francês radicado na capital desde 2008 e um dos membros mais ativos do movimento. Segundo ele, o Massa Crítica não conta com uma organização central, mas com entusiastas que lutam por uma causa comum. Os problemas de mobilidade

Com a aproximação de eventos como a Copa de Mundo e os Jogos Olímpicos, associado ao aumento do número de carros na cidade e um sistema de transporte público ineficiente, soluções alternativas para a melhoria da mobilidade urbana da cidade vêm se tornando pauta nas discussões atuais. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2011, a frota de carros da cidade já alcançava mais de 750 mil veículos. Com esse aumento e a falta de planejamento urbano, os engarrafamentos estão cada vez mais constantes. Portanto, muitos especialistas estão defendendo a criação de transportes de massa alternativos,

como BRT ou Bus Rapid Transit (sigla em inglês que significa, literalmente, Ônibus de Trânsito Rápido) e metrô. Mas, onde ficam os debates sobre a utilização das bicicletas como meio de transporte? O que se percebe é que há muitas conversas sobre transporte e quase nenhuma sobre mobilidade. Na cidade, a única ciclovia ativa está localizada na Orla, começando no bairro de Itapuã e seguindo até Amaralina, e tem aproximadamente 17 quilômetros de extensão. Talvez devido à falta de ciclovias na cidade, a cultura da bicicleta não seja tão difundida. Porém, segundo a opinião de Valci Barreto, líder do grupo de ciclistas Jabutis Vagarosos, o problema é a falta de educação dos motoristas e pedestres nas ruas. “Seria melhor, ao invés das ciclovias, que houvesse investimento para educar a população do ponto de vista da mobilidade. Essa falta de respeito desestimula novos ciclistas e ainda gera insegurança”. Segundo Marcos Rodrigues, professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a cultura brasileira de transporte urbano não é voltada para o ciclista e o pedestre,


ao contrário de outras cidades mundiais, como Copenhague, na Dinamarca. “Nas metrópoles brasileiras, isso não acontece porque nós temos um padrão voltado para o uso de carros, um modelo norte-americano que foi copiado desde a década de 50, devido ao acrescimento da indústria automobilística”. O professor coordena o Núcleo de Estudos em Mobilidade Urbana, que atua desde 2010 em pesquisas que abordam a não eficiência do sistema de transportes da cidade e suas possíveis soluções. “Os pró-ciclistas não defendem a não existência do trânsito, mas sua otimização, o que contribui com a melhoria da qualidade de vida das pessoas”, reforça Rodrigues. O preconceito

Outro fator que impede que as bicicletas se tornem um meio de transporte efetivo é o preconceito das pessoas quanto ao seu uso.

É inevitável que haja a associação do uso da bicicleta à falta de recursos financeiros. “As pessoas ainda associam o uso do carro a status, à sensação de poder, ao charme proporcionado pelo veículo”, diz Valci Barreto. Marcos complementa: “Existe um preconceito ao associar o uso das bicicletas às camadas mais pobres porque o carro está ligado a uma questão de status social. Pode ser que isso mude com o tempo, mas tem a carga cultural de que o uso das bicicletas é algo que desvaloriza socialmente”. Segundo Clemént, isso também ocorre devido ao que é noticiado para as pessoas pela mídia. “Há muitos estímulos para se conseguir o carro dos sonhos. Isso reforça a subestimação ao estilo de vida dos ciclistas”. Projeto Cidade Bicicleta

Porém, os quase dez mil ciclistas soteropolitanos, segundo dados da Companhia

de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), agora tem um grande motivo para ficarem felizes. Desenvolvido pela Conder e sob a coordenação da Secretaria Estadual para Assuntos da Copa do Mundo (Secopa), o projeto Cidade Bicicleta busca transformar Salvador na maior malha cicloviária do País. O projeto tem como metas: construir 140 km de ciclovia, promovendo a mobilidade de 1,5 milhão de pessoas; redução ou isenção do IPI sobre as bicicletas; articular com os bancos uma linha de crédito/financiamento, o Credibicicleta; promover cinco eventos culturais e desportivos por ano, dentre outras. A proposta é conscientizar a população sobre o valor da bicicleta enquanto transporte urbano. Para Marcos, “se o projeto for implantado mesmo, podemos considerar que teremos a maior malha cicloviária do Brasil. Porém,

é importante dizer que a bicicleta sozinha não resolve problemas de locomoção de ninguém. Ela tem que compor um sistema maior onde entram ônibus, metrôs, BRT, VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), e inclusive os carros particulares. A bicicleta é recomendada para até 5 km, e, a partir daí, é indicado ter uma interação modal, isto é, você chegar numa estação, deixar sua bicicleta num bicicletário, e de lá, pegar um ônibus ou metrô. Do jeito que está planejado, o Cidade Bicicleta poderia incentivar o uso da bicicleta em Salvador, pelo menos nos principais corredores”. A bicicleta é um meio de transporte que não gera poluição, de baixo custo e garante mais qualidade de vida aos seus usuários. A ideia não é abolir o uso de carros, mas encontrar um jeito para que os ciclistas também se sintam integrados ao trânsito.

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Na cidade, a única ciclovia ativa está localizada na Orla, começando no bairro de Itapuã e seguindo até Amaralina, e tem aproximadamente 17 quilômetros de extensão

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Conheço apenas três marcas plus size baianas e isso é uma grande incoerência, pois vivemos na capital com mais gordinhos do país

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Engana-se quem acha que, para entrar no mundo das passarelas, é preciso ser magrela. Texto Caroline Prado e Lara Bastos Foto Banco de Imagens GOOGLE

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16 de busto, 97 de cintura, 120 de quadril. Profissão: modelo. Achou estranho? Pois saiba que, há muito tempo, as magrelas não mais monopolizam as passarelas. Bartira Vasconcelos é a prova viva dessa revolução. Modelo plus size há três anos, a moça, que aos dez já pesava 77 kg, diz ser, hoje, plenamente feliz com seu corpo. “Não há nada que eu goste mais do que fazer poses para as lentes dos fotógrafos”. Como a maioria das mulheres que não se encaixa no velho e ultrapassado padrão de beleza, Bartira nunca pensou na possibilidade de se tornar modelo.

Tudo mudou quando ela descobriu, na internet, a existência do concurso “A Gordinha Mais Bonita do Brasil”. Resolveu se inscrever e ganhou o primeiro lugar entre as baianas. O prêmio abriu as portas para a carreira de Bartira que, logo em seguida, foi contratada por uma agência paulista. “Pra mim, foi tudo novidade. Eu não acreditava que aquilo estava realmente acontecendo. No meu primeiro trabalho, eu era a única modelo gordinha que iria desfilar. Quase morri de vergonha”, lembra. Boa parte dessa timidez, ela atribui ao preconceito que sofreu a vida inteira por não se adequar aos padrões. “O ambiente escolar é um

inferno para qualquer criança ou adolescente acima do peso. São sempre colocados de lado pelos colegas. Uma coisa que sempre me incomodou é o fato de quase nunca se referirem a mim pelo meu nome, e sim por “aquela gordinha”. A modelo conta ter feito terapia durante muito tempo para superar os complexos causados pela discriminação que sofreu. Aos dez anos, Bartira foi levada pela mãe, preocupada com a saúde da garota que já tinha um peso muito acima da média para as garotas de sua idade, a um endocrinologista. Ele receitou uma dieta rígida, em que conseguiu eliminar mais de 20 kg em apenas 11 meses. No entanto, ela conta que, muito mais difícil do que emagrecer, foi conseguir manter o peso após a dieta. Por isso, acabou engordando novamente. Para ser uma modelo plus size, diz Bartira, não basta ser uma gordinha com rosto bonito. Primeiramente, é necessário ter o IMC (Índice de Massa Corporal) acima de 25 e ser extremamente fotogênica. Para quem quer desfilar, a altura mínima é de 1,70 m, mas as modelos fotográficas podem ser mais baixinhas. O grande problema é que, para ser uma boa profissional nesse ramo, é importante ter segurança e estar feliz com seu corpo.

Os cuidados com a beleza também são essenciais. A moça diz ir ao nutricionista de três em três meses e fazer exames de sangue com bastante frequência para controlar o açúcar e o colesterol. Além disso, vai ao salão, pelo menos, uma vez por semana. Apesar da visibilidade que o mercado da moda GG vem ganhando no mundo todo, as oportunidades ainda são escassas para as modelos plus size. Segundo Bartira, seus trabalhos são, normalmente, desfiles ou fotos para lojas de produtos voltados para os gordinhos. Esse tipo de segmento, porém, ainda é raro no Brasil. A modelo explica que essas grifes estão mais concentradas no Sul e Sudeste do Brasil. “Conheço apenas três marcas plus size baianas e isso é uma grande incoerência, pois vivemos na capital com mais gordinhos do país”. Quando perguntada sobre o que é, para ela, uma mulher realmente bonita, Bartira não hesita. “Linda, pra mim, é uma mulher de bundão, com mais de 1,70 m de altura e um belo sorriso”. A moça diz ter como principal referência a modelo, também gordinha, Fluvia Lacerda, brasileira, mas conhecida nos Estados Unidos, onde é comparada a uma Gisele Bündchen da moda GG.


Na internet, é lógico!

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Onde está seu Deus agora? Texto Luiz Fernando Teixeira e Fabrina Macedo Ilustrações Carlos Ruas

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Você acha que Deus é feliz? Afinal, ele vive sozinho no paraíso, eventualmente recebendo visitas de anjos ou de santos e, mais eventualmente ainda, ajuda um dos seus fiéis, não é? Mas, Deus não é tão solitário quanto parece, e se atualizou na internet (se atualizou tanto que convocou Steve Jobs para lhe dar uma mãozinha com a tecnologia). Ele se diverte com primeira criação à sua imagem e semelhança, Adão. As peripécias do casamento de, pasmem, 900 anos entre ele e sua costela, digo, Eva, fazem os dias de Deus passarem mais rapidamente. Menos quando tem que tomar conta do filho dos dois, Caim, que como todos sabem, é um psicopata em formação (Abel que o diga). Deus também gosta de se distrair da sua onipresença e onipotência ao discutir com personalidades que

agora estão no paraíso (ou no inferno). Nietzsche ficou chocado ao ver que Deus não estava nem um pouco morto. Freud trata da insegurança divina com uma regularidade surpreendente, pois ser eterno, não ter um início nem um fim, provoca uma ira sem tréguas, e irremediavelmente quem sofre somos nós, humanos (quem não ouviu falar do dilúvio?). Charles Darwin tem ásperas discussões com ele sobre a evolução, mesmo estando diante de provas da criação aleatória divina, vide o ornitorrinco. Galileu ainda não perdoa Deus por ter sido excomungado e posto no Inferno apesar de estar correto com o seu sistema heliocêntrico (pelo menos lá ele conheceu vários advogados para defender sua causa). Além disso, Deus também se diverte com outros deuses. Surpreso? Rá, Odin, Zeus, entre outros, são amigos dele

e aceitam, em parte, terem perdido o posto de divindade suprema para Deus. Com bom humor, eles frequentam os mesmos locais para socializar e debater sobre a eternidade. Deus gosta da companhia dos seus amigos, mesmo quando eles tentam roubar seus fiéis. A relação entre Deus e Luciraldo também é muito boa. Não sabe quem é Luciraldo? Então você deve conhecê-lo por um de seus outros nomes: diabo, Lúcifer, Satã, demônio ou Luci, como é carinhosamente chamado por Deus. Ele aceita muito bem seu posto no Inferno, embora às vezes fique entediado e faça visitas a Deus, Adão, Eva e Caim. Deus faz apostas com ele para medir o nível da fé dos homens, e nem sempre vence. Deus gosta muito dos homens, mas reclama da sua incrível capacidade de fazer render uma fofoca. Ora, há pouco mais de dois mil anos

ele teve um casinho com uma judia, e até hoje se fala nisso! Além disso, não pode se descuidar da Terra um pouquinho que os homens logo inventam uma guerra, por motivos muito fúteis, e nem sempre sob a influência de Luci (que por sinal, está cansado de levar a culpa de tudo o que os homens fazem). Deus não é lá muito trabalhador. Afinal, criou o planeta Terra em apenas seis dias, só pra poder descansar no sábado. Mesmo assim ele tem muita coisa pra pensar, como decidir onde irá passar as férias, e já está cansado de carregar tantas responsabilidades nas costas. Ele fica chateado com a inércia dos homens quando decidem deixar as coisas de acordo com a vontade de Deus e não movem uma palha sequer. Já está cansado de tanta gente querendo segurar na mão dele. Sem contar seus “apóstolos”, que vivem pedindo dinheiro às pessoas para ajudar construir “a casa do senhor”. Como se Deus precisasse de dinheiro para construir casas. Por fim, apesar de se esforçar para não parecer tendencioso demais, Deus sempre dá uma mãozinha para que os brasileiros se deem bem, principalmente em eventos esportivos. Ou você acha mesmo que somos tão bons assim no futebol? Esse Deus bem humorado e divertido é criação do desenhista carioca Carlos Ruas. Gostou? Gostaria de acompanhar as peripécias dele e de sua trupe? É só visitar o site www. umsabadoqualquer.com.

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A UFBA apoia a Lupa www.ufba.br


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