Revistão Porão #001

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FUTEBOL • GAMES • ROCK’N ROLL ANO| 01 - JUNHO 2019 - EDIÇÃO 01 VALOR: NA FAIXA

A DECISÃO DAS GRANDES MENTES JURGÜEN KLOPP CHEGA A SUA TERCEIRA FINAL DE CHAMPIONS LEAGUE; MAURICIO POCHETTINO TENTARÁ LEVANTAR A PRIMEIRA ‘ORELHUDA’ DA HISTÓRIA DO TOTTENHAM


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MÚSICA

CRISTIANO

FELÍCIO

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NBA

JUNHO 2019

SUMÁRIO


EDITORIAL

METAMORFOSE AMBULANTE Q

uem um dia acreditaria que em uma partida de pebolim qualquer, no horário de almoço, surgiria uma ideia de se fazer uma revista, mas não uma revista comum, mas uma feita por amigos, com assuntos que esses amigos falam e da forma como eles conversam. Bom essa revista surgiu, e você começou a lê-la agora. O nome pode soar estranho, e se você leu até aqui pode se perguntar: Por que raios porão? Primeiro temos que entender oque é um porão, geralmente um depósito onde as pessoas guar-

EU PREFIRO SER ESSA METAMORFOSE AMBULANTE DO QUE TER AQUELA VELHA OPINIÃO FORMADA SOBRE TUDO dam coisas que gostam mas deixaram de usar por algum motivo, porém não tem o desapego necessário para jogar fora, essa é a idéia da revista que você lê agora, um depósito de ideias, onde não podemos descartar, ou deixar de lado, por acharmos que não se tem espaço para esse tipo de conteúdo no mercado, ou que as pessoas não se interessam por esporte, música, números e etc... Não vamos jogar fora nossas ideias guardadas nesse porão, mas vamos mostrar para o mundo, do mesmo jeito que se conversa em mesas de bares, ou rodas de amigos, a mesma maneira que a ideia dessa revista surgiu, uma simples conversa entre amigos, falando de coisas que gostam em comum, e esperamos que você faça parte dessa conversa lendo as próximas páginas.

A TRIPULAÇÃO Alexandre Nascimento Projeto Gráfico

Geovanni Henrique Jornalista

Bia Oliveira Conselheira

Bruno Martins Designer Gráfico

Rafael Beraldi Designer Gráfico

Igor Abreu Jornalista

Caio Garavazzo Designer Gráfico

Murilo Bernardes Jornalista

Ana Carolina Patrício Revisão EDIÇÃO 01 - 5


CAPA

NET EOS EST sitaquatibus sim utatet, consent eostion sendigeniae sitam que adipsae plaboris dist expla sus magnam quam dolum quo ium et ini quam doloribus int oditatiatque verferorio dem qui omnis magnatatem est quamEquia sectus. Pidellam ipsam esequi quiant, omnienimus intorum

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NET EOS EST sitaquatibus sim utatet, consent eostion sendigeniae sitam que adipsae plaboris dist expla sus magnam quam dolum quo ium et ini quam doloribus int oditatiatque verferorio dem qui omnis magnatatem est quamEquia sectus. Pidellam ipsam esequi quiant, omnienimus intorum


A DECISÃO DAS

CAPA

Texto: Geovanni Henrique Arte: Rafael Beraldi

GRANDES MENTES

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xatos 1825 dias. Esse foi o tempo que o Tottenham levou para confirmar o êxito no projeto com Mauricio Pochettino, que levou pela primeira vez o time de Londres para uma final da Liga dos Campeões. A campanha que derrubou Inter de Milão, PSV, Borussia Dortmund, Manchester City e o surpreendente Ajax, ratifica o excelente trabalho do técnico argentino. A gigante classificação dos Spurs para a final da UCL se torna ainda maior quando analisados os últimos desafios e apostas feitas pelo clube. Confiança e planejamento. Essas duas palavras definem o projeto de Pochettino que, durante toda a temporada, não desembolsou um euro se quer para realizar contratações para a sequência dos campeonatos, apostando em jovens e jogadores considerados incertos, como é o caso de Lucas Moura, responsável por marcar os três gols históricos no jogo de volta contra o Ajax e que deram a vaga para a grande decisão. Outro ponto importantíssimo que deve ser destacado é a ausência da grande estrela do time, Harry Kane, que se lesionou no confronto contra o Manchester United pela Premier League em janeiro. O camisa 10 é o principal goleador da equipe, responsável por 159 gols desde a chegada de Pocchetino nos Spurs. Lesão, palavra que também aterrorizou os torcedores de Liverpool quando não viram os nomes de Mohamed Salah e Roberto Firmino na lista de escalados na partida, considerada pela maioria dos fãs de futebol, impossível de ser revertida contra o Barcelona, que possuía uma vantagem enorme de 3 a 0, construída no Camp Nou. Foi aí que Jürgen Klopp confirmou a fusão de seu DNA com a história dos Reds. Em 2005, aconteceu “O milagre de Istambul”, que não contou com a participação do técnico alemão, mas já mostrava o rosto de um time que batalharia até o fim. Em 2016, com a presença de Klopp, o Liverpool perdia até os 60 minutos de 3 a 1 para o Dortmund, mas aos 91 conseguiu uma virada surpreendente e inesquecível

com o gol de Dejan Lovren. No dia 7 de maio de 2019, mais um capítulo foi escrito. Anfield recebeu uma das maiores partidas de toda a história da Champions League, quando viu o Liverpool golear o apático time do gigante Messi por 4 a 0, com dois gols de Divock Origi e Georginio Wijnaldum, revertendo o placar e concluindo a missão impossível. No confronto direto entre os treinadores, o alemão leva vantagem. Em nove oportunidades em que os misters se encontraram, o técnico dos reds levou a melhor 4 vezes, enquanto o dos Spurs conquistou apenas 1 vitória e as outras 4 partidas terminaram empatadas. O argentino iniciou seu trabalho no Tottenham na temporada 2013/14 e durante esse período alcançou o melhor desempenho de sua carreira. Sob o comando dos londrinos, Pochettino já esteve na beira do campo durante 275 jogos, obteve 155 vitórias, 55 empates e 66 derrotas, o que resulta em 62,9% de aproveitamento. Quando foi treinador de Espanyol - ESP e Southampton – ING, Mauricio alcançou 41% e 48,3%, respectivamente. Após cinco meses da chegada de seu adversário, Klopp aterrissou na terra dos Beatles. Assim como Pochettino, o técnico alemão conquistou no Liverpool o melhor desempenho de sua carreira. Nas 208 partidas que comandou os reds, saiu vencedor em 119 oportunidades, derrotado em 37 e com empate em 52, alcançando 65,3% de aproveitamento. Quando treinou o Borussia de 2008 a 2015, o alemão atingiu a marca de 63,4%, superior à de quando treinou o Mainz - média de 50,1%. A experiência de duas finais de UCL e dois vice-campeonatos, com o Dortmund na temporada 2012/13 e com o próprio Liverpool na 2017/2018, pode colocar Jürgen Klopp em vantagem contra Mauricio Pochettino. Essa é a decisão de duas grandes mentes que ainda não ganharam nada pelos seus clubes. EDIÇÃO 01 - 7


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O MAIOR NO MENOR DOS ÚLTIMOS ANOS FAVORITO AO MELHOR DO MUNDO E COM 51 GOLS NA TEMPORADA, LIONEL MESSI SALVOU A TEMPORADA DO PIOR BARCELONA VISTO NO PASSADO RECENTE Se o Barcelona chegou ao seu 26º título espanhol e a mais uma semifinal de Champions League, deve-se a grandiosidade do pequeno Lionel Messi. Com 3 gols na Copa do Rei, artilheiro da UCL com 12 gols e do Campeonato Espanhol com 36, o argentino é o grande favorito para levar a bola de ouro desta temporada e responsável por evitar o fracasso do time catalão. De fato é estranho imaginar que um clube que se consagrou campeão da liga nacional, vicecampeão da Copa do Rei e semifinalista da Champions, pode ser questionado. Mas sim, esse é o caso do Barcelona. Qual foi a importância de Messi na temporada 2018/2019 e como teria sido se ele estivesse ausente? Além de líder na artilharia, o baixinho também lidera no número de assistências – ao todo são 13, mesmo número que Pablo Sarabia do Sevilla. Para demonstrar o quanto Messi destoou do restante dos jogadores do Barcelona, a Revista Porão construiu um infográfico comparando o camisa 10 com outros companheiros considerados referências no elenco. Das 90 bolas na rede do Barcelona na La Liga, Messi tem participação direta em 54,4%. Os gols decisivos do craque foram responsáveis por conquistar 24 pontos dos jogos em que os blaugranas estavam atrás do marcador ou empatando. Se retirássemos esse número dos 86 pontos conquistados, o clube estaria ocupando a 4ª colocação da competição. A mesma situação ocorre na Liga dos Campeões. Atrás apenas do Manchester City com 30 gols, o Barcelona é o segun-

do time que mais fez gols na competição – 26 ao todo. Deste número, Lionel Messi participou diretamente em 57,6% dos tentos feitos. O pequeno gigante decidiu partidas como a vitória por 3 a 0 contra Liverpool e Manchester United no Camp Nou, contra o Tottenham por 4 a 2, em Londres e o PSV por 4 a 0 na Catalunha. Dos últimos 10 jogos dos espanhóis, Messi marcou 7 gols e deu 1 assistência. Segundo o “WhoScored”, site especialista em análise de atletas, nas 12 partidas em que o argentino esteve em campo pela Champions League, foi eleito o melhor em 7 oportunidades, enquanto nas 28 participações no Campeonato Espanhol, foi nomeado craque do jogo 16 vezes. A notória queda de rendimento do Barcelona, mesmo que tenha conquistado o título do campeonato nacional, fica evidente se compararmos as pontuações do time desde a temporada 2014/15. Para Ernesto Valverde, garantido por Josep Bartolomeu na próxima temporada, presidente dos culés, a missão é resgatar a eficiência coletiva, plano de jogo sólido e participação de jogadores como Luis Suárez, Ousmane Dembélé e Philippe Coutinho. É clara a mudança e a queda de rendimento dos catalães desde a saída de Guardiola, no entanto, “soltar” a bola nos pés do melhor jogador do mundo e esperar que ele resolva todas as partidas é um retrocesso para o clube que ainda nesta década alcançou o triplete, jogando em alto nível. O maior de todos precisa de um Barcelona ainda maior.

• 2014/15: 94 PONTOS CAMPEÃO • 2015/16: 91 PONTOS CAMPEÃO • 2016/17: 90 PONTOS VICE-CAMPEÃO • 2017/18: 93 PONTOS CAMPEÃO • 2018/19: 87 PONTOS CAMPEÃO

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NBA

BRASIL NBA NA

Texto: Murilo Bernardes

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efender uma equipe na NBA é o sonho de diversos jovens apaixonados por basquete ao redor do mundo. Afinal, quem não quer fazer parte da liga que reúne os melhores times e atletas globais? Atualmente o Brasil conta com 4 jogadores disputando a liga norte-americana regularmente. Bruno Caboclo (Memphis Grizzlies), Cristiano Felício (Chicago Bulls), Raulzinho (Utah Jazz) e Nenê Hilário (Houston Rockets). Nenê, inclusive, foi o único dos brasileiros que disputou os playoffs, chegando até as semifinais da conferência oeste. Fazer parte de equipes como as que estes brasileiros jogam não é tarefa fácil. Eles sabem o tamanho do feito que conquistaram em suas carreiras e tratam de deixar isso bem claro em toda oportunidade que têm para falar. Cristiano Felício, em visita à cidade de Ribeirão Preto para o lançamento de uma das unidades da NBA Store, falou com a Revista Porão e afirmou que “ralou” para chegar onde está e que sabe da importância de suas conquistas. “Eu tive muitas inspirações e espero que as crianças de hoje possam olhar pra mim e ter como exemplo. Eu saí de uma cidade no interior de Minas, uma cidade pequena e que não tem muito apoio ao esporte. Apesar de tudo, tive muita vontade, muita determinação e sempre procurei caminhos, nunca fiquei sentado esperando a oportunidade chegar, eu corri atrás. Eu sou um cara bem tímido, mas sei da importância do que eu já fiz e de onde eu estou”, contou. A temporada não foi tão positiva para Felício e o Bulls. Com média de 4 pontos por jogo do brasileiro e apenas a 13ª campanha do leste para o tradicional time de Chicago, a expectativa é de que o time cresça de produção na próxima temporada. “Nossa temporada não foi muito boa, nós tivemos muitas lesões e isso acabou atrapalhando bastante. Mas no geral, fizemos bons jogos, contra grandes equipes. Vencemos times que ninguém imaginava que nós pudéssemos derrotar. Nosso time é muito jovem, sem medo de encarar os desafios. Acredito que ano que vem, se não tivermos tantas lesões, a gente pode fazer uma temporada melhor”, disse Felício. Felício é uma das estrelas da Seleção Brasileira, que disputa no mês de agosto, na China, o Campeonato Mundial. O jogador afirmou que está ansioso

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NBA para a competição e que espera ser convocado. O pivô também projetou o duelo com o grego Giannis Antetokounmpo, astro do Bucks e atualmente um dos melhores jogadores da liga. “Se eu for chamado, ficarei muito feliz. Sempre que sou convocado tento representar bem a seleção, porque essa camisa já me ajudou muito, já me abriu muitas portas, é um orgulho pra mim. O Giannis é um jogador incrível, muito difícil de ser marcado, ele é muito alto e isso dificulta muito mais. Joguei contra ele quatro vezes nessa temporada e vou tentar passar para os companheiros. Parar ele você não consegue, mas pode tentar amenizar”, brincou. O basquete brasileiro já teve grandes nomes jogando na liga norte-americana, principalmente, pivôs. Para citar alguns, podemos falar novamente de Nenê, Anderson Varejão e Tiago Splitter, os últimos dois, campeões da NBA. Felício diz viver um sonho e classifica como “surreal” fazer parte de uma lista com nomes de tanto peso. “Pra mim é surreal, sair de uma cidade pequena e eu nunca achei que fosse chegar tão longe. São vários exemplos de grandes nomes brasileiros que passaram por lá e saber que hoje eu sou um desses caras é muito gratificante. Também é sinal de que todo o trabalho e esforço que eu tenho tido, está sendo bem executado”, afirmou. Trajetória Natural de Pouso Alegre-MG, a “Fera Brasileira”, como é conhecido na NBA, começou a dar os primeiros passos no basquete. De origem humilde, Felício enfrentou as tradicionais dificuldades de quem nasce com poucas oportunidades. Falta de dinheiro, incentivo e oportunidades para mostrar seu valor. Mas, com as dificuldades, o brasileiro também desenvolveu um de seus maiores dons, além do basquete, é claro, a perseverança. Mesmo com todas as dificuldades impostas, Felício não

desistiu e seguiu atrás de seu sonho. Com calçados doados por um amigo, seguiu em busca do seu objetivo de ser jogador profissional. Em 2006, Felício fez teste para entrar no Minas Tênis Clube, não foi aprovado e chegou a pensar em parar. Mas a vontade de jogar foi maior. Passou por Pindamonhangaba e chegou ao Jacareí. O bom desempenho em Jacareí fez com que o jogador tivesse a oportunidade de retornar ao Minas, por onde atuou de 2009 a 2012. O destaque por lá, fez com que o jogador fechasse contrato com o Flamengo para a temporada de 2013. No clube carioca a carreira de Felício decolou. Por lá, foram diversos títulos, incluindo o bicampeonato do NBB, título da Liga das Américas e o Intercontinental de Basquete. Chegou ao Chicago Bulls após se destacar na Summer League, torneio de pré-temporada disputado principalmente por jovens jogadores e atletas agentes livres. Há quase 5 temporadas no melhor basquete do mundo, Felício cresceu, ganhou espaço e hoje é um dos jogadores mais importantes do time que tem ninguém menos do que Michael Jordan como maior jogador da história. O basquete brasileiro, que já teve nomes como Leandrinho, Anderson Varejão, Marcelinho Huertas, Tiago Splíter, Marquinhos, Alex Garcia, Raulzinho e Caboclo, segue bem representado no melhor basquete do mundo, uma vez que temos alguns representantes inscritos no Draft 2019/20. Mas não vamos falar disso agora, isso é assunto para a segunda edição da Revista Porão, onde traremos todas as informações sobre o Draft. EDIÇÃO 01 - 15


NBA

Texto: Murilo Bernardes

TORONTO RAPTORS DE KAWHI LEONARD DESAFIA DINASTIA DO GOLDEN STATE WARRIORS MELHOR JOGADOR DOS PLAYOFFS, LEONARD BUSCA FAZER HISTÓRIA COM A FRANQUIA CANADENSE; SEM KEVIN DURANT,“SPLASH BROTHERS” RESSURGEM

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uando Kawhi Leonard matou aquela bola incrível diante dos Sixers no estourar do relógio, o craque não só fez história ao colocar o Toronto Raptors em sua primeira final de conferência, como também deu um recado claro ao mundo do basquete de que o time canadense não estava ali por acaso. Do outro lado está o Golden State Warriors, atual bicampeão e responsável pela segunda maior dinastia da história do melhor basquete do mundo. A quinta final consecutiva não é surpresa para ninguém. Varrer o Portland Trail Blazzers nas finais do oeste também não foi surpresa. A trupe de Stephen Curry, Klay Thompson, Draymond

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Green e Kevin Durant forma o melhor time da liga há alguns anos e o Toronto de Kawhi vai ter de jogar muito basquete para vencer os Warriors. Mas, vamos dar uma pausa no assunto final e vamos falar do monstro de jogador que é Kawhi Leonard. O ala-armador dos Raptors simplesmente colocou o seu nome, definitivamente, no hall dos maiores da história. Levar uma franquia sem tradição e que jamais chegou a uma decisão é um feito para um cara grande e Leonard é um dos maiores. Quando Toronto Raptors e San Antonio Spurs anunciaram a troca de Demar DeRozan por Kawhi Leonard, poucos entenderam a intenção


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Ilustração: Paulo Ricardo do Nascimento @ @waytosurvart

de cada time. Porque trocar seus melhores jogadores? Mas, meses depois, pelo menos para um dos lados, a troca se mostrou fundamental. Kawhi voltou aos seus melhores dias, dias de MVP. O astro faturou tal prêmio na temporada 2013/14, quando levou os Spurs ao título diante do Miami Heat de Lebron James. A troca fez bem a Leonard, que vinha de duas temporadas ruins, onde sofreu com diversas lesões e pouco conseguiu entrar em quadra. Já na temporada regular, o craque mostrou que estava em forma e que lideraria o time canadense para grandes feitos. Com média de 26.6 pontos por jogo, número superior ao de jogadores como Kevin Durant, com 26 pontos por jogo, Leonard foi decisivo e fez história com os Raptors. A segunda melhor campanha do Leste possibilitou ao time pensar em voos mais altos, porém, teriam de superar times como o Philadelphia 76ers de Joel Embiid e o Milwaukee Bucks do candidato a MVP Giannis Antetokoumpo. Para alguns, vitórias improváveis, mas para os Raptors, não. Se o rendimento do ala-ar-

mador já havia sido exuberante durante a temporada regular, nos playoffs ele aumentou. A média de pontos por jogo subiu para 31.2, quase o dobro da média de toda a carreira de Kawhi que era 17.7. Como uma máquina, Leonard comandou os Raptors nos duelos diante do Orlando Magic, Philadelphia 76ers e Milwaukee Bucks. No duelo com os Bucks outra versão do craque entrou em ação. Eleito melhor marcador da liga em algumas oportunidades, o astro precisou colocar em prática todo o seu aparato defensivo para ajudar a marcar o gigante grego Antetokoumpo. Com Kawhi na cola de Giannis, a média de um dos melhores jogadores da temporada caiu e a diminuição brusca de pontos do craque dos Bucks fez com que o time não conseguisse uma reação no confronto, que ficou definido em 4 a 2 para o Toronto. Para muitos, Kawhi Leonard é o jogador mais completo da liga. Com o poder de atacar e marcar praticamente no mesmo nível, o jogador é um dos maiores atletas que já passaram pela NBA. Talvez seu jeito de ser não jogue a seu favor. Concentrado e de poucas palavras, Leonard é daqueles “sem

mídia”. De poucas palavras, o astro dos Raptors parece que só pensa em jogar basquete. Compenetrado, nada tira seu foco, nada faz com que ele diminua sua concentração no jogo, uma verdadeira máquina. Pois a máquina agora vai precisar fazer mágica. Parar os Warriors não será tarefa fácil. Uma varrida para o Golden State, por exemplo, não seria surpresa. O conjunto dos Raptors será fundamental. Pascal Siakam, Kyle Lowry, Danny Green, campeão da NBA com Kawhi, Marc Gasol e Serge Ibaka, outro que tem o título da liga, atuando pelos Warriors, serão fundamentais na caminhada rumo ao milagre. Já os Warriors chegam como favoritos e sabem disso. Com os “Splash Brothers” em modo “on fire” desde que Kevin Durant deixou o time por lesão. Stephen Curry e Klay Thompson subiram de produção e carregaram o time na varrida diante dos Blazzers. Curry, inclusive, fez mais de 35 pontos em todos os jogos da final da conferência. Durant não participou de nenhuma das partidas. Sabendo da ausência do astro e da necessidade de assumir a responsabilidade dos pontos, Steph o fez. O jogador voltou ao protagonismo que possuía antes da chegada de Durant e mostrou que está pronto para decidir para o time da Califórnia. Kevin Durant deve reforçar os Warriors somente a partir do jogo 3. Até lá, a missão dos Raptors será “menos” dolorosa. O fato é que as finais da temporada 2018/19 já nos reservam uma emoção diferente. A novidade depois de 4 finais consecutivas entre Warriors x Cavaliers é um alento para os fãs de basquete. Ter uma equipe que nunca havia chegado a uma final de NBA e a possibilidade de ter um campeão inédito, na liga dos maiores times do mundo, é um grande programa para os apaixonados pela bola laranja acompanharem. EDIÇÃO 01 - 17


E-SPORTS

NÃO É SÓ UMA COISA PARA NERDS: O CRESCIMENTO DOS E-SPORTS NO BRASIL Texto: Caio Garavazzo | Arte: Bruno Martins Na primeira edição da Revista Porão, não poderíamos deixar de fora a mudança de comportamento do cenário eletrônico, onde os antes conhecidos como “NERDS” estão dando a volta por cima e muitas vezes tendo mais reconhecimento do que jogadores de esportes tradicionais. O conhecido e-sport não é nada mais que o cenário competitivo dos jogos eletrônicos, que hoje em dia é considerado por muitos o esporte que mais cresce no mundo. Deixando de ser vistos apenas como um jogo casual, eles vem sendo um modo de trabalho, contando com equipes profissionais, competições milionárias, transmissão mundial e as chamadas gaming houses (centro de treinamentos para os atletas). O grande investimento nesta área fez com que até grandes clubes de futebol começassem a participar e criar suas equipes para diferentes jogos, como no caso do Flamengo, que em novembro de 2017 inaugurou a equipe Flamengo eSports de 18 - REVISTA PORÃO

League Of Legends, que atualmente conta com um dos maiores ícones do cenário nacional como jogador, o atirador Felipe “brTT” Gonçalves. Segundo o site Newzoo, o mercado de e-sports tende a crescer quase 15% no ano de 2019, gerando uma receita de aproximadamente U$ 150 bilhões (R$ 600 bilhões). A pesquisa ainda diz que o crescimento contínuo dos e-sports e sua popularidade vai levar mais atletas deste meio a participarem de campanhas de marketing de grandes empresas nacionais e internacionais. Um destes exemplos, é o Brasileiro Gabriel “Fallen” Toledo, capitão da equipe MIBR que tem o patrocínio da marca de equipamentos eletrônicos Razer e utiliza a imagem dos jogadores como parte de suas campanhas publicitárias. Outra grande marca que está entrando no mundo dos esportes eletrônicos é a Coca Cola, que no dia 24 de maio de 2019 foi anunciada pela paiN Gaiming como sua nova patrocinadora, ajudando o time a re-

tornar para o Campeonato Brasileiro de League Of Legends (CBLoL). Esta parceria foi anunciada pelo Twitter da equipe através do tweet: “Hoje recebemos uma parceria pra nos dar um gás no #CBLoL: Seja muito bem vinda @CocaCola_Br A chegada da Coca-Cola na nossa família é um grande marco pro cenário de esports e a #MelhorTorcidaDoMundo #VaiNoGás com a gente no próximo split #GOpaiN”.


E-SPORTS

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PREMIER league

DINHEIRO, TELEVISÃO E PREPARO: COMO A PREMIER LEAGUE CHEGOU AO TOPO

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Texto: Lucas Filus | Arte: Rafael Beraldi

esde que era apenas um embrião, o campeonato inglês atraiu diferentes visões e passou por várias transformações. É a liga nacional mais antiga e tradicional do planeta, tendo sua primeira versão oficializada em 1988, ainda com o nome de Football League First Division. No início dos anos 90, vivenciou uma mudança que superou qualquer expectativa em relação ao seu sucesso e consequente efeito. Motivados por fatores esportivos, econômicos, sociais, publicitários e políticos, David Dein e Noel White - diretores do Arsenal e do Liverpool, respectivamente - lideraram um grupo de clubes que converteram descontentamento em revolução. “O futebol estava decaindo: estigma-

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tizado como uma plataforma para o hooliganismo e com seu estado se agravando após a tragédia de Hillsborough. O esporte era repugnado pelo governo e tinha dificuldades para cumprir metas”, conta o relato do jornal The Guardian. Os dois times citados anteriormente então uniram forças com Manchester United, Aston Villa, Norwich City, Blackburn Rovers, Queens Park Rangers, Sheffield Wednesday, Tottenham, Manchester City, Chelsea, Wimbledon, Everton, Sheffield United, Coventry City, Ipswich Town, Leeds United, Southampton, Oldham Athletic, Crystal Palace, Middlesbrough e Nottingham Forest e foram em frente nessa investida, enxergando uma oportunidade de subir alguns patamares.


PREMIER league

Conforme o site oficial da Premier League, “tendo que encarar o alto custo da implementação de recomendações do governo e a preocupação crescente com a incapacidade de atrair jogadores qualificados, se via um enorme desânimo entre os grandes clubes. Já em 1988, dez equipes haviam ameaçado sair da Football League para conseguir tirar vantagem de receitas televisivas maiores”. Guardem a última frase, especialmente as últimas três palavras, pois esse é o elemento que faria a diferença até hoje. Greg Dyke, diretor da London Weekend Television (LWT - corporação que representava a ITV, emissora da capital inglesa), em uma reunião com

representantes do big five da época (Manchester United, Liverpool, Arsenal, Tottenham, Everton), apresentou a ideia de uma quantia maior de direitos televisivos. Naqueles tempos, a BBC - pública - era a detentora dos direitos da First Division e exibia apenas compactos das partidas. A proposta agradou e foi levada pra frente, mas só funcionaria com um suporte maior. Aí entra a figura da Football Association (a Federação de Futebol), que sustentava uma relação desgastada com a Football League e resolveu, para enfraquecer a posição da mesma, apoiar os clubes. O Founders Members Agreement, documento assinado em julho de

91, estabeleceu as bases para a criação da FA Premier League, dando início ao fenômeno que acompanhamos agora. A primeira edição teve sua estreia em agosto de 92 e fez história por diversos motivos. Era, afinal de contas, uma liga completamente controlada por seus participantes, tendo apenas apoio e trabalho em conjunto com a FA - dessa, tinha independência financeira a fim de colocar em prática a intenção de simplificar o caminho do dinheiro para os cofres das agremiações. Qualquer coisa que pudesse brecar o crescimento exponencial do campeonato seria eliminada. Mesmo com a participação chave de executivos da LWT/ EDIÇÃO 01 - 21


PREMIER league ITV, quem levou a melhor na primeira disputa para os direitos televisivos foi a Sky Sports, do magnata americano Rupert Murdoch. Na época operando sob a alcunha BSkyB, a emissora venceu com sua proposta de £ 304 milhões por cinco temporadas, ou seja: de 1992 a 1997. Em negociações posteriores, porém, o valor acabou caindo para £ 191 milhões que seriam distribuídos ao longo desses anos. Mesmo sendo a emissora de maior alcance no país, a BBC também foi derrotada pelo direito das transmissões, porém ficou com o pacote de highlights, os melhores momentos de cada jogo. Até os dias atuais, o canal detém esses lances e os utiliza em um dos programas mais assistidos no Reino Unido, o Match of the Day. Daquele momento em diante, ficou claro que grande parte de um eventual sucesso da Premier League passaria não só pelos refletores dos modernizados estádios, mas também pelas lentes da televisão.

“CONSIDERAR A PREMIER LEAGUE PURAMENTE EM TERMOS DE SUA COBERTURA MIDIÁTICA PODE PARECER PECULIAR, MAS O CRESCIMENTO DO TORNEIO TEM SE BASEADO INTEIRAMENTE NESSA COBERTURA. A DIVISÃO EM SI FOI ESSENCIALMENTE CRIADA COM FINS DE ENTRETENIMENTO VISUAL - E EFETIVAMENTE RECUPEROU AS ASSINATURAS DO SERVIÇO A CABO DA SKY, QUE ANTES DE 1992 ESTAVA ECONOMICAMENTE NO VERMELHO”, DISSE TEXTO DA ESPN. A Premier League, então, desde sua primeira edição apresentou um foco extremo em seu refinamento como produto. A missão era transfor22 - REVISTA PORÃO

mar o jogo em um espetáculo do início ao fim, expandindo o significado do esporte para além dos 90 minutos. Com um trabalho extenso de comercialização da liga, a experiência de acompanhá-la passou a ser um hábito diário e perpétuo de seu público - clientes na concepção direta, torcedores no aspecto de paixão e sua potencialização para fins lucrativos. E hoje é a liga nacional com mais força - que colhe frutos, como consequência - da globalização. Em conjunto com sua principal transmissora - a Sky -, fez questão de dar uma atenção ao detalhe que foi alavancada com o avanço tecnológico. Elementos como os ângulos de câmera próximos ao gramado, os microfones altos nas arquibancadas e estádios geralmente lotados maximizam a atmosfera e trazem grande vantagem sobre as outras competições. Um dos intuitos lá atrás era, de fato, fomentar a expansão do potencial competitivo dos times nos torneios continentais; confrontar Itália, Espanha e Alemanha, principalmente. Mas o caminho não seria per-

corrido sem altos e baixos que, no fim das contas, se transformariam em aprendizado. Após Gianfranco Zola abrir de vez as portas para grandes talentos do resto do mundo em 1996, com sua transferência do Parma para o Chelsea, qualidade nunca faltou. O Manchester United foi campeão da Champions League em 1998/99 e, entre 2004/05 e 2008/09, todas as finais tiveram pelo menos um clube inglês. Que voltaram em 2010/11 e 2011/12, com o vice dos comandados de Sir Alex Ferguson e o Chelsea levantando a taça. São duas agremiações que tiveram peso no torneio neste século e não podem ser menosprezadas, mas mesmo assim viveram cercadas por dúvidas. Os fatores não são tão amplos quanto parecem, uma vez que praticamente todas as condições possíveis para o sucesso estavam lá. Faltava a utilização inteligente e planejada desses recursos. O esporte já passou por diversas transformações táticas, mas as que surgiram por volta do início desta década são as mais relevantes e ‘firmes’.


PREMIER league Em parte por serem as mais recentes, em parte por carregarem de fato uma dimensão incomparável de conceitos e preparação. Se os anos 60 foram marcados pelo catenaccio de Helenio Herrera e os anos 70 pelo total football de Rinus Michels e Johann Cruyff, as épocas posteriores não tiveram tanto peso em ‘revoluções’ sistemáticas. O papel do comando técnico continuava crucial, mas é notório que as tarefas eram mais amplas – com muitos sendo managers – e em alguns casos criavam até certo distanciamento do treinamento e desenvolvimento organizacional dos conjuntos. Os atletas sempre serão as peças principais, mas por algum tempo se sobressaiam tanto que não existiam discussões táticas como

as de hoje. Até que um dos melhores esquadrões da história, o Barcelona de Pep Guardiola, lançou novos argumentos e foi complementado por personagens como Jurgen Klopp, ainda no Borussia Dortmund. São dois nomes que estão na ponta da língua de quase todos os técnicos, que passaram a absorver os ensinamentos da dupla e aplicá-los das formas que fizessem sentido. Não é uma questão específica de futebol ofensivo ou defensivo, ‘bonito’ ou ‘feio’, mas sim de esforços redobrados para a construção de times bem alinhados em termos de compactação, pressão, proteção e valorização do espaço, movimentação etc. Tanto é que a Espanha de Vicente del Bosque usou muito a posse de bola para fins defensivos, conquistando a Copa de 2010. E o Liverpool de Klopp usa e abusa dos momentos sem a posse para fins ofensivos, considerando que o principal playmaker da equipe, ao lado de Robertson e Alexander-Arnold, é o pressing. Aquela marcação forte quando a bola entra em determinadas partes do campo, capaz de resultar em contra-ataques fulminantes e produtivos. É um clube ideal para demonstrarmos o porquê de o futebol inglês ter passado anos na seca, sem colocar medo em ninguém, e agora voltar a demonstrar sua superioridade. Por uma questão cultural e de determinado nível de arrogância, o país acreditava muito em seu jeito próprio de fazer as coisas e não se abria tanto para o que vinha de fora (tirando o dinheiro e os reforços em campo). Enquanto ligas como a da Espanha e a da Alemanha abraçaram as metamorfoses do jogo, o Reino Unido como um todo parecia estagnado. Havia entretenimento e diversão de sobra, mas na hora H, mais precisamente o mata-mata da UCL, faltava preparo. Mas como alguém poderia ensinar um in-

glês a praticar o esporte que ele mesmo inventou? Não é preciso explicar que espanhóis e alemães, com recursos extremamente menores e elencos piores, se aproveitaram e fizeram a Inglaterra pagar por esse pensamento retrógrado. Mas aos poucos o cenário mudaria. Em Anfield, a ideia de que o ressurgimento da instituição viria através da boa e velha vontade e perspicácia britânica foi substituída por projetos como o de Ian Graham. Diretor de pesquisa, ele foi um dos responsáveis pelos estudos que motivaram a contratação de Klopp e contou com a abertura do comandante (alemão, diga-se de passagem) para criar um departamento de análise de estatísticas. É um setor que casou completamente com o projeto e,

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PREMIER league dentre outros acertos do dia a dia, esteve por trás das contratações de Alisson, Van Dijk e Mohamed Salah e o momento da compra e venda de Coutinho (nesse caso, especificamente o know-how de Ian), garantindo 5 anos de retorno esportivo e uma valorização de 1.135% (1.570% se todas as cláusulas do contrato com o Barcelona forem ativadas). A partir daí a estruturação do time foi fantástica e hoje é difícil citar dois ou três adversários que superariam os reds. Ainda no Noroeste, o projeto do Manchester City com Guardiola elevou os parâmetros de sucesso doméstico para sempre. Após um ano de conhecimento inicial, levantou duas taças da Premier League seguidas e em 2019/20 alcançou a ‘tríplice secundária’, com a Copa da Inglaterra e a Copa da Liga. Sistematicamente falando, nunca existiu naquelas terras uma equipe tão dominante e avassaladora.

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Só não foi campeão em sua primeira temporada, quando sofreu com uma máquina criada por Antonio Conte. No Chelsea, o italiano montou um time taticamente impressionante e também passou dos 90 pontos, conquistando o título em 2016/17. No processo deixou marcas como a automatização de movimentos da defesa ao ataque e a aplicação eficaz de um esquema com 3 ou 5 defensores. Na capital, outro que já havia chegado bem antes e estava evoluindo seu trabalho era Mauricio Pochettino. O argentino já provava sua qualidade no Southampton, em 2013, mas foi o Tottenham que ganhou com sua gestão e o desenvolvimento de um time preparado para jogar bem de várias maneiras. Todos esses treinadores, contando com comissões super capacitadas, também focaram na parte física dos atletas e hoje colhem os frutos com times de alta intensidade. Em menor nível, tra-

balhos como o de Rafa Benitez (um estrategista de elite) no Newcastle ajudaram nessa reciclagem cultural. Nuno Espírito Santo, devoto da periodização tática portuguesa que se espalhou pelo continente nos mais altos escalões, já chegou levando o Wolverhampton para a Europa League. Em Javi Gracia no Watford e Ralph Hassenhutl no Southampton temos um espanhol e um austríaco (mas com carreira e aprendizado na Alemanha) fazendo bons papeis; Marco Silva (Everton), Manuel Pellegrini (West Ham) e Brendan Rodgers (Leicester) vão trazendo à liga uma variedade tática necessária. Eddie Howe (Bournemouth) e Sean Dyche (Burnley) são exemplos de como conduzir pequenos times desde as divisões inferiores e já foram cotados até para a Seleção da Inglaterra. O primeiro com princípios de jogo posicional à la Pep e aplicando camadas de um pragma-


PREMIER league tismo inteligente para evoluir e o segundo fazendo sucesso por anos com seus métodos defensivos especiais. Dois goleiros (Nick Pope e Tom Heaton) e três zagueiros (Ben Mee, James Tarkowski e Michael Keane) já foram convocados para o British Team parcialmente devido ao sistema de ‘bloqueio do gol’ de Dyche. Unai Emery e Maurizio Sarri viveram altos e baixos em suas campanhas de estreia por Arsenal e Chelsea, mas um dos pontos positivos é a chegada na final da UEL. O retorno de José Mourinho à liga com o United não pode ser mencionado no mesmo tom da maioria e o impacto de Ole Gunnar Solskjaer ainda é um enigma, mas é importante ressaltar que o único clube do big six fora desse núcleo de desenvolvimento é o que ignorou o planejamento. Na contramão dos efeitos do setor de análise do Liverpool e de Txiki Begiristain como diretor no City, por exemplo, o maior campeão inglês está sem direção desde a aposentadoria

de Ferguson. Se a mentalidade do seu maior rival simboliza a subida de patamar do país, os red devils demonstram perfeitamente aquele estado de espírito que proporcionava estagnação e mediocridade: se fecham diante da urgência por atualizar o modo de pensar e fazer futebol, desde as pequenas ações até decisões sobre cargos de gerência, scouting e contratações. E é um case de extremo sucesso comercial e financeiro, como a Premier League já era antes de se desenvolver nas quatro linhas. A ver se vai aprender com seus adversários, que não devem parar de crescer. Estão firmes no caminho do conhecimento e contam com o aporte estratosférico dos direitos de transmissão, que é fundamental. Não por menos, esse era o objetivo prioritário quando se desprenderam da Football League em 91. Hoje, os valores estão próximos dos £ 10 bilhões (mais de 50 bilhões em reais) por triênio. Entre 2016 e 19, veículos de

todo o mundo desembolsaram £ 8.8 bilhões, chegando na marca de £ 9 bilhões para o período de 2019-22. A organização e o entendimento entre todos os eixos do campeonato garantem uma divisão saudável, quase igualitária, desse dinheiro. Em 2018/19, a liga pagou exatos £2,456,008,346 bilhões para os 20 clubes, com o repartimento funcionando da seguinte forma. Foram £34,361,519 milhões puramente pela participação, pagamentos adicionais pela transmissão na TV (uma parte fixa pelos melhores momentos das partidas, outra por cada jogo transmitido no Reino Unido e £43,184,608 - fixos - referente a todos os contratos com veículos estrangeiros), direitos comerciais (£4,965,392 fixos) e o pagamento por mérito, que é baseado na posição final na tabela de cada time; o líder (City) embolsou £38,370,360, enquanto o lanterna (Huddersfield) ficou com £1,918,518. É a única categoria com uma diferença considerável. Tudo isso permite aos ‘pequenos’ agirem no mercado como alguns grandes de outras ligas e aos gigantes a montarem elencos que condizem com o planejamento de suas diretorias e o tamanho de seus treinadores. Um dos poucos asteriscos nesse cenário é o fato de que, comparado ao crescimento de 70% nos direitos domésticos de TV que o triênio 16-19 apresentou, o de 19-22 trouxe estagnação. Soma-se isso aos eventuais efeitos do Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia impossibilitaria muitas contratações) e dá para visualizar uma postura mais retraída nos gastos das agremiações. Mas nada que impeça o futebol do país a dominar os próximos anos. Quando junho de 2019 chegar e os campeões da Europa carregarem a bandeira da Inglaterra, em primeiro e segundo escalão, lembrem-se: não é coincidência, tudo isso começou em agosto de 1992. EDIÇÃO 01 - 25


MÚSICA Texto: Murilo Bernardes | Arte: Bruno Martins

RED HOT CHI

ORIGINALIDADE, DROGAS E O SEU NO

A

banda escolhida para inaugurar a editoria musical da Revista Porão é o Red Hot Chili Peppers. Gosto em comum dos membros e criadores do projeto “Porão”, a trupe comandada por Anthony Kiedis é a homenageada nesta primeira edição. Falar de RHCP é falar de originalidade. Sabe quando você escuta uma música e mesmo sem ouvir a voz de quem está cantando, somente pelo estilo dos elementos musicais, você “mata” qual é a banda? Pois é, isso é Red Hot. Detentora de hits potentes e mundialmente conhecidos como “Californication”, “By The

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Way”, “Scar Tissue”, “Under The Bridge” e tantas outras grandes faixas, o Red Hot Chili Peppers tem um estilo inconfundível. A sonoridade da banda é algo único e original. Kiedis pode não ser dono de uma das maiores vozes da história, mas as músicas cantadas por ele com certeza estão gravadas nela. Se hoje a banda possui diretrizes sonoras bem conhecidas e definidas, nem sempre foi assim. No começo do grupo, em meados dos anos 80, a dificuldade de encontrar um estilo a ser seguido fez com que vários músicos passassem pela banda.

PRIMEIRA FORMAÇÃO A primeira formação dos Chili Peppers, no começo dos anos 80, era composta por: Anthony Kiedis (vocal), Flea (baixo), Jack Irons (bateria) e Hillel Slovak (guitarra). Neste período, a banda lançou três discos: “Red Hot Chili Peppers” (1984), “Freaky Styley” (1985) e “The Uplift Mofo Part Plan” (1987). Nenhum destes álbuns conseguiu emplacar e até hoje são parte do começo nebuloso da banda. Porém, infelizmente, uma tragédia mudou os rumos do grupo. Em 1988, Hillel Slovak, aos 26 anos, faleceu de overdose, ocasionada por uso excessivo de heroína. A morte de Slovak fez com que um novo guitarrista fosse contratado. A nova “aquisição” da banda, John Frusciante, chegou e revolucionou as guitarras do RHCP. A tão procurada identidade musical que a banda buscava apareceu com a expertise técnica de Frusciante. Foi também em 1988, que outro membro importante para a nova identidade da banda entrou para o grupo. O baterista Chad Smith foi selecionado durante uma audição realizada na Califórnia e nunca mais saiu. Sob a batuta de John, dois discos foram lançados. “Moth-


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ILI PEPPERS

OME NA HISTÓRIA DO ROCK MUNDIAL

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er’s Milk” (1989) e “Blood Sugar Sex Magik” (1991), o segundo disco continha músicas que viriam a ser hinos da banda, como “Give It Away” e “Under The Bridge”. Apesar de trazer o que “faltava” à banda, a primeira passagem do guitarrista foi curta. Devido aos problemas com drogas, o que merece um capítulo exclusivo para falar sobre a relação dos entorpecentes com a banda, John deixou o grupo alegando estar incomodado com todo o sucesso e foi substituído por Dave Navarro. O período com Navarro não foi tão “produtivo” e apenas um disco foi lançado. “One Hot Minute” (1995), que teve como uma das músicas mais tocadas o hit “Aeroplane” e foi marcado por letras pesadas e a sombra da morte de Slovak. A qualidade de Navarro nunca foi algo a ser questionado, porém a sintonia com os demais membros da banda nunca foi boa. A passagem de Navarro pelos Chilli Peppers durou 6 anos. Em 1998 o guitarrista deixou a banda. O período fora do RHCP foi difícil para Frusciante. O talentoso guitarrista passou por um dos momentos mais sombrios de sua vida. Quase morreu algumas vezes por overdose e tentativas de suicídio. Eis que John é convidado para voltar ao grupo e com sua volta, a banda atingiu o seu ápice. Em 1999, com Frusciante de volta ao comando das guitarras, o RHCP mostrou o que tinha de melhor ao mundo. Kiedis, Flea, Chad e John produziram o magnífico álbum “Californication”, considerado o disco de maior sucesso da banda. Recheado de hits pesados como “Californication”, “Otherside” e “Scar Tissue”, o Red Hot Chili Peppers colocou de vez o seu nome no “hall” das grandes bandas de rock. Foi esse disco 28 - REVISTA PORÃO

que mostrou ao mundo qual era a cara do RHCP. Os anos seguintes da banda foram com status de estrelas mundiais, aliás, rodar o mundo é uma outra característica forte do grupo. Com mais de 17 turnês realizadas ao redor do mundo, os Chili Peppers passaram por lugares pouco visitados pelos grandes nomes do rock, como: Líbano, Turquia, Coreia do Sul, Tailândia e Malásia. Os dois discos seguintes “cimentaram” o nome da banda na entre os grandes astros de rock da história mundial. “By The Way” (2002) e “Stadium Arcadium” (2006) contaram com grandes sucessos como “Can’t Stop”, “By The Way”, “The Zephyr Song”, “Dani California”, “Snow” e “Tell Me Baby”. Em 2009, mais uma vez, a banda passou por uma troca crucial. John Frusciante, alegando cansaço do rock, decidiu deixar de vez o Red Hot Chili Peppers. Para o seu lugar,

Josh Klinghoffer foi contratado. Desta vez, a mudança não foi tão sentida, pois Josh já tocava com a banda como músico de apoio. Com estilo parecido, a banda seguiu sua vida e continua fazendo grande sucesso. Com Josh no comando das guitarras, dois álbuns foram lançados. “I’m With You” (2011) e “The Gateway” (2016). DROGAS Infelizmente, não dá para falar da banda sem citar as drogas. A forte ligação dos membros do Red Hot com os entorpecentes sempre foi o calcanhar de Aquiles dos músicos. John Frusciante sempre foi o que mais ficou em evidência por conta dos vícios e quase perdeu a vida em algumas ocasiões, mas o vocalista da banda, Anthony Kiedis também teve dificuldades para se livrar dos problemas trazidos pela droga. Segundo o artista, em sua biografia, está “limpo” desde o ano 2000.


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CURIOSIDADES Os Chili Peppers possuem 3 álbuns na lista dos 500 melhores de todos os tempos da Rolling Stone. “By The Way”, “Blood Sugar Sex Magik” e “Californication”. Com o lançamento de “Dark Necessities”, o grupo alcançou seu 25º single no “Top 10” da Billboard, tornando-se a banda que ficou mais vezes entre as dez mais tocadas na história. Muitas das músicas mais antigas da banda não são tocadas ao vivo em seus shows.

Do álbum “Californication”, “Porcelain” nunca foi tocada ao vivo pelo grupo. Em 2012, o RHCP entrou para o Rock and Roll Hall of Fame e todos os músicos que fizeram parte da banda participaram da cerimonia. Apenas Dave Navarro e Jack Sherman não participaram da festividade. Na ocasião, Josh Klinghoffer, aos 32 anos, foi a pessoa mais jovem a entrar para o hall da fama do rock. O Red Hot Chili Peppers é uma das bandas mais originais

que o universo da música vai conhecer. A originalidade do som criado por eles é sua grande marca registrada. O entrosamento sonoro da guitarra de John Frusciante e do baixo de Flea é tão homogêneo que chega a parecer um único instrumento. Quem não se lembra do show à parte proporcionado pela dupla na exuberante apresentação de “Californication” no “Live at Slane Castle”? Aquilo é Flea, aquilo é Frusciante, aquilo é Red Hot Chili Peppers! EDIÇÃO 01 - 29



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