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A Fé supera tudo

Fotos: Bruno Cecim, Jader Paes/ Ag. Pará, Davi Souza Junior, Divulgação/Basílica de Nazaré, Igor Mota, Karol Coelho - Ascom Basílica Santuário de Nazaré, Manoel Campos da Costa Neto, Marcelo Seabra/Ag.Pará, Osmarino Souza, Salim Wariss-Ascom Guarda da Santa

Tudo diferente: não havia procissões

Se adaptando ao novo momento

A228ª edição do Círio de Nazaré, em Belém do Pará – Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) – uma das maiores procissões religiosas do Brasil, não teve procissões com a imagem peregrina de Nossa Senhora, em decorrência da pandemia do Covid 19. Retratava, porém, em toda amplitude, as palavras do IPHAN “grande momento anual de demonstração de devoção e solidariedade, de reiteração de laços familiares, assim como de manifestação social e política”. Mas, realmente, esse outubro em Belém, nem parecia outubro. Calmaria total... O segundo domingo de outubro mais calmo já vivido. Na cidade o trânsito parecia de feriado – uma mansidão enervante. A grande maioria das ruas de Belém estavam vazias. Estávamos vivenciando um ano em que, de maneira inédita, o Círio teve uma presença digital muito forte.

A saudade foi maior...

Em homenagem aos trabalhadores do Mercado de Peixes do Ver o Peso

Dentro da nossa atual realidade era a melhor possível de substituir a forma presencial.

Desde seus primórdios, o Dia do Círio eram repletos de apaixonados devotos de Nossa

Durante a trasladação improvisada

Senhora de Nazaré e que a cada ano registrava maior, mais participativa e vibrante demonstração de Fé e Amor a nossa padroeira. O cenário normal seria, portanto, de festa fervilhante em torno do Círio – a maior procissão religiosa do país: cerca de dois milhões de pessoas nas ruas no segundo domingo de outubro.

Mas estava tudo diferente: não havia procissões..., mas... não foi bem assim...

Devotos, promesseiros da corda, pagadores de promessas e ex-votos, tiveram que se adaptar ao novo momento. A realidade era outra... e o Círio ocorreu diferentemente... com tema “Ave Maria, cheia de graça”, os promesseiros puderam pagar suas promessas.

As procissões ocorreram de modos diferentes, ao jeito e modo de quem as organizaram e participavam. Improvisações ao gosto, bolso e criatividade de cada um ou de cada família ou grupo de amigos... Infelizmente muitas delas estavam sem máscara...

Muitas famílias realizaram inclusive, antecipadamente, o percurso da Catedral Metropolitana até a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré – o mesmo que a imagem de Nossa Senhora realiza no domingo de Círio.

Outras...desobedeceram às orientações e na boa... fizeram seus Círios particulares..., muitos devotos mesmo sem o endosso ou autorização da organização oficial, realizaram o percurso com emoções fortes nos corações, repletos de sentimentos e demonstração do Amor maternal a Nossa Senhora de Nazaré.

A grande maioria da população, porém, passou o segundo domingo de outubro em suas residências, em família, revivendo na memória seus Círios mais marcantes, rezando e agradecendo o dom da Vida com as interseções de Nossa Senhora de Nazaré, nossa Padroeira, Rainha da Amazônia e Mãe de nós todos.

O 228º Círio na realidade foi comemorado ou rememorado com um sobrevoo de helicóptero da imagem peregrina sobre Belém no trajeto oficial e pelos hospitais da cidade que atuavam no tratamento de pessoas com covid-19. O helicóptero da Segurança Pública fez as vezes da berlinda durante este Círio no qual os devotos não puderam acompanhar a imagem da padroeira na grande procissão, mas puderam assistir pela TV Círio as diversas etapas da festividade, como lives musicais, a bênção do cônego Roberto Cavalli, a missa na Catedral celebrada por dom Alberto Taveira Corrêa. Além disso, foi preparada uma programação televisiva com documentários e os melhores momentos do Círio.

A imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré sendo conduzida do estacionamento à Basílica Santuário de Nazaré

Após o sobrevoo de helicóptero e o pouso final a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré foi conduzida em cortejo, do estacionamento à Basílica Santuário de Nazaré, em cortejo com a presença do governador do estado, Helder Barbalho, do arcebispo metropolitano de Belém, D. Alberto Taveira, membros do clero, da diretoria da festividade do Círio, da Guarda de N. Sª de Nazaré e raras outras autoridades. A celebração final foi presidida pelo Bispo Auxiliar de Belém, D. Antônio de Assis Ribeiro, não tendo a participação dos fiéis. Em sua homilia o bispo destacou a criatividade movida pela Fé do povo paraense que, mesmo em tempos adversos da pandemia, não deixou de manifestar sua devoção.

Para que ninguém ficasse excluído, fiéis de qualquer parte do mundo podiam acompanhar a programação ao vivo pelos Meios de Comunicação da Arquidiocese de Belém – os veículos oficiais de transmissão do Círio: TV Nazaré, Rádio Nazaré, Portal Nazaré e as redes sociais. Este ano como ótima novidade, a programação também foi retransmitida pelo canal TV Círio.

O que se viu durante as festividades da 228ª edição do Círio de Nazaré, em Belém do Pará, comprovam as assertivas do IPHAN: “configuram a face múltipla, a que estão associadas diferentes significações decorrentes da diversidade das formas de inserção no e do evento, da apropriação simbólica e da diferenciação social dos participantes”.

Não teve a pujança das cerca de dois milhões de pessoas nas ruas (só no 2º segundo domingo de outubro) mas cerca de 100 mil pessoas realizaram procissões não oficiais no domingo de Círio conforme dados do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) da Segup, que integrou a Operação Círio 2020, e monitoravam/avaliavam o movimento por meio de 16 câmeras espalhadas por todo o percurso, durante os dois dias, atestando que nenhuma ocorrência grave de saúde ou policial foi registrada. Todas na mais pura demonstração de Fé, Amor, devoção e esperança, de forma ordeira e tranquila.

Para Albano Martins, coordenador da Diretoria da Festa de Nazaré “2020 foi um ano de resiliência, e a renovação da fé estava sendo feita de forma individual. “Maria sempre nos deixou uma lição de resignação, de resiliência. Acho que é isso que, neste ano, a gente teve que colocar no coração, ser resiliente, ser resignado, entender que são tempos de atenção e cuidado com a saúde. Então, não poderíamos pensar num formato de Círio tradicional. Fizemos o possível pra tentar preencher essa lacuna com uma programação bonita. Obviamente, a gente sente um pouquinho de saudade da igreja lotada, mas a gente tem, acima de tudo, um senso de responsabilidade com a saúde do povo do Pará”. “O brilho do Círio está dentro de cada devoto” : disse Albano Martins.

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