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C O L U N A

Uma mãe preta escrevendo

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Meca Andrade

Luciana Viegas

É autista, mãe do Luiz (autista) e da Elisa, professora da Rede Estadual de São Paulo. Ativista pela neurodiversidade e membro da ABRAÇA. Atua nas redes falando sobre a relação entre a luta antiracista e anticapacitista.

@umamaepretaautistafalando

@seeufalarnaosaidireito - tio .faso Ilustração:

#RESPECTRO

QUANDO ME PERCEBI AUTISTA?

Essa pergunta ecoou na minha cabeça nos primeiros dias que surgiu a suspeita de ser autista.

Eu ouvi tantos “não” categóricos, tanta gente gabaritada e que “estuda” o tema falando que eu não era autista, afi nal não tinha “cara” (nem cor) de autista.

E eu acreditei! Acreditei que autismo não era pra mim, que eu era só um somatório de erros e falhas, e talvez não tivesse “dado certo” ainda.

Isso mexeu profundamente com a minha autoestima e com a minha segurança desde a infância. Apesar de sempre ter uma fala assertiva sobre os temas do meu hiperfoco, uma conversa normal pra mim era, e continua sendo, cansativa por não conseguir estabelecer um contato direto.

Conversando com mais amigas pretas e autistas, percebi que todas passamos a vida tentando romper essa baixa estima, esse olhar tão ruim que nos dão (a autora bell hooks fala disso). Quando percebemos que somos autistas, toda nossa vida passa a fazer sentido.

A maioria das mulheres negras que são autistas são autodiagnosticadas. Ninguém usa o autismo como muleta, assim sendo, reconhecer-se autista diz muito sobre a maneira de a Saúde nos tratar. À margem de todos, rotulam-nos a qualquer custo sob o diagnóstico de diversas doenças mentais, somos submetidos a tratamentos invasivos e indevidos para conter crises que não são sensoriais. Somos dopados, vistos como casos perdidos, quando deveríamos ter a atenção de médicos com olhares mais cuidadosos, médicos com vontade e competência para romper a barreira de estereótipos racistas, da mulher negra vista como desequilibrada, forte e totalmente fora de si.

Os casos são inúmeros, passei por muitos psicólogos que olharam pra mim e me trataram com desdém. Duvidavam e chegavam a dizer que eu estaria “inventando” sintomas.

Quando eu falo em “empretecer” a luta autista, é sobre isso. Sobre ainda termos uma referência racial e heteronormativa, quase uma norma, pressupondo que, para ser autista, a pessoa deve ser branca. Aqui, eu me dirijo a minhas irmãs e irmãos autistas, pretas e pretos: você não é um bocado de erros e falhas. Você não é desequilibrado(a) e fora de si. Você é autista e “prete”! A sociedade não foi feita pra nós, ela não quer incluir. Há muitos processos que precisamos romper.

Sua palavra tem valor e você tem voz.

A luta é coletiva e ela também é nossa.

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