Revista Autismo nº 15

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O

L U

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Uma mãe preta escrevendo

Meca Andrade

Luciana Viegas

É autista, mãe do Luiz (autista) e da Elisa, professora da Rede Estadual de São Paulo. Ativista pela neurodiversidade e membro da ABRAÇA. Atua nas redes falando sobre a relação entre a luta antiracista e anticapacitista. @umamaepretaautistafalando

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R EVI STA AUTI SMO

Ilustração: tio .faso -

@seeufalarnaosaidireito

#RESPECTRO

A FALA DE UMA MULHER NEGRA E AUTISTA NO STF Foram dois dias de audiência pública no Supremo Tribunal Federal, com o objetivo de instruir os ministros na decisão pelo retrocesso do Brasil, ou não, com a (re) criação e promoção de escolas especiais e classes especiais. Venho aqui como mulher, negra, autista, favelada, e professora da rede pública, em nome do Movimento Vidas Negras com Deficiência Importam. Não há nada de novo que eu possa dizer aqui que já não tenha sido dito contra o decreto 10.502, que institui a Política Nacional de Educação Especial Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida (PNEE), mas gostaria de chamar atenção para a história e trajetória do nosso país por uma educação inclusiva, levando em consideração a perspectiva de raça e deficiência. Historicamente o nosso país tem uma trajetória racista e capacitista, e para entender a dinâmica segregadora desse decreto nós precisamos recorrer à história da luta das pessoas com deficiência por uma educação inclusiva no Brasil. Pensar em educação inclusiva sem levar em consideração a realidade do povo preto com deficiência desconsidera como os processos educacionais são diversos. Hoje é um dia histórico!

Porque é a primeira vez na historia deste pais que um movimento negro de pessoas com deficiencia é convocado a falar sobre educação inclusiva dentro de uma pescpectiva interseccional entre raça e deficiência. Mas, por que hoje é um marco histórico da Educação do Brasil? E o que está em julgamento, para além da inconstitucionalidade do decreto 10.502, é a concepção sobre o que é Educação inclusiva e o que é Educação no nosso país. Nas periferias não há acesso ao diagnóstico correto e nem comprometimento com a identificação de barreiras no processo de ensino, gerando assim dificuldade de inclusão no ensino regular, apesar de garantido por lei. O olhar médico sobre o processo de aprendizagem dos alunos prejudica e faz com que a gente patologize comportamentos, tirando o direito da criança com deficiência de ser quem é. Essa prática é mais recorrente em alunos periféricos e pretos. Mas todas essas problemáticas dentro da escola não são em função da nossa deficiência, e sim em função de um sistema educacional que não inclui e nem investe em inclusão. A mentalidade capacitista de toda comunidade escolar somada à falta de debate


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