Revista CFMV 53

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ISSN 1517-6959

R e v i s t a

Ano 17/2011 – N°52 – R$ 7,00

CFMV

jan/fev/mar/abr

Conselho Federal de Medicina Veterinária

Transgenia em Animais um novo campo de atuação profissional


CFMV A Revista CFMV é editada quadrimestralmente pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária e destina-se à divulgação de trabalhos técnicocientíficos (revisões, artigos de educação continuada, artigos originais) e matérias de interesse da Medicina Veterinária e da Zootecnia. A distribuição é gratuita aos inscritos no Sistema CFMV/CRMVs e aos órgãos públicos. Correspondência e solicitações de números avulsos devem ser enviadas ao Conselho Federal de Medicina Veterinária no seguinte endereço:

SIA – Trecho 6 – Lote 130 e 140 Brasília – DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 – Fax: (61) 2106-0444 Site: www.cfmv.gov.br – E-mail: cfmv@cfmv.gov.br

A Revista Cfmv é indexada na base de dados AGROBASE

Revista CFMV. – v.17, n.52 (2011) Brasília: Conselho Federal de Medicina Veterinária, 2011 Quadrimestral ISSN 1517 – 6959 1. Medicina Veterinária – Brasil – Periódicos. I. Conselho Federal de Medicina Veterinária. AGRIS L70 CDU619(81)(05)


Sumário 4

Editorial

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Entrevista

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Biotecnologia Animal

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Comportamento Animal

|

Andréa Cristina Basso

26 Suplemento Científico 58 Avicultura Industrial 66 Obesidade Canina 72 Vigilância Sanitária 76 Publicações 78 Agenda Cézar Menezes Fontes – Necessidade de uma 80 Opinião | Lívio Visão Profissional - Empresarial


e d i t or i a l

O futuro que nos espera E chegou o tão esperado ano novo! Como estamos entregando o primeiro número da Revista CFMV em 2011, as esperanças estão renovadas e as perspectivas, bem positivas. Início de ano é época de se preparar para enfrentar o que vem pela frente, é época de muito trabalho e também de muita dedicação. O início de um novo ano estimula a todos – até aos mais descrentes – a encontrar coragem para superar os desafios, transformando-os em oportunidades de crescimento e realizações. Recomendamos aos nossos colegas Médicos Veterinários e Zootecnistas que aproveitem este início de ano, e todos os dias que estão por vir, para buscar a melhoria e o aperfeiçoamento profissional e pessoal. Nossa existência, com certeza, deve ser mar-

cada pelos valores que somos capazes de agregar às pessoas que estão a nossa volta. Nesta edição da Revista CFMV tivemos a satisfação de entrevistar a Dra. Andréa Cristina Basso, Médica Veterinária atuante em Biotecnologia da Reprodução, e tratamos, em nossa reportagem de capa, da Transgenia Animal. Daí vem a ideia de pensar o que nos prepara o futuro. Como vai ficar tudo? O certo é que os avanços da ciência importam em que devemos estar preparados para atuar com eficiência e dentro do que a sociedade espera de nós. Atualmente, não conseguimos mais viver exclusivamente o momento presente. Não paramos de tentar adivinhar o porvir e, nesta nave, devemos estar atentos e esperançosos de que a ciência nos levará ao bom caminho e, se quisermos, poderemos contribuir.

E X P E D IE N TE CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA SIA – Trecho 6 – Lote 130 e 140 Brasília – DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444 www.cfmv.gov.br cfmv@cfmv.gov.br

CONSELHEIROS EFETIVOS Adeilton Ricardo da Silva

Tiragem: 85.000 exemplares

José Saraiva Neves

DIRETORIA EXECUTIVA Presidente

Benedito Fortes de Arruda

Eduardo Luiz Silva Costa CRMV-SE Nº 0037

Secretário-Geral

Joaquim Lair

Oriana Bezerra Lima CRMV-PI Nº 0431

CRMV-RR Nº 0004

Presidente

Eduardo Luiz Silva Costa Joaquim Lair

CRMV-GO Nº 0242 CRMV-PB Nº 0237

Amilson Pereira Said CRMV-ES Nº 0093

Geovane Pacífico Vieira CRMV-AL Nº 0250

Antônio Felipe Paulino Figueiredo Wouk CRMV-PR Nº 0850

CONSELHEIROS SUPLENTES Josiane Veloso da Silva CRMV-MA Nº 0030/Z

Tesoureiro

Luiz Carlos Januário da Silva

CRMV-ES Nº 0093

CONSELHO EDITORIAL CRMV-SE Nº 0037

Célio Macedo da Fonseca

CRMV-GO Nº 0242

Amilson Pereira Said

CRMV-DF Nº 0166/Z

CRMV-RO Nº 0002/Z

CRMV-GO Nº 0272 Vice-Presidente

Ricardo de Magalhães Luz

CRMV-AC Nº 0001/Z

Editor Ricardo Junqueira Del Carlo

CRMV-MG Nº 1759

Jornalista Responsável Flávia Tonin MTB Nº 039263/SP Colaboração Flávia Lobo MTB Nº 4.821/DF

Nivaldo de Azevêdo Costa CRMV-PE Nº 1051

Projeto e Diagramação Duo Design Comunicação

Raimundo Nonato C. Camargo Júnior

Impressão Gráfica Editora Pallotti

CRMV-PA Nº 1504

OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES, NÃO REPRESENTANDO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CFMV.


En t r e v i s ta

ANDRÉA CRISTINA BASSO Médica Veterinária graduada pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho UNESP. Obteve os títulos de Mestre e Doutora em Reprodução Animal pela Universidade de São Paulo – USP. É uma das maiores especialistas em melhoramento genético bovino do País e é uma das fundadoras da In Vitro Brasil, laboratório que se tornou referência em biotecnologia reprodutiva no Brasil. Atua principalmente na produção “in vitro” de embriões bovinos no cultivo “in vitro” de tecido ovariano e na criopreservação de embriões bovinos produzidos “in vitro”.

1. Você pode definir o que se entende por Biotecnologia da Reprodução e qual sua importância para o melhoramento genético bovino? As biotecnologias aplicadas à reprodução animal compreendem um grupo de tecnologias desenvolvidas a partir de estudos científicos direcionados ao melhor entendimento e desenvolvimento da biologia reprodutiva dos animais domésticos e silvestres. Envolve desde estudos relacionados à pesquisa básica até a aplicada. A primeira parte desvendando a fisiologia da reprodução e seu funcionamento e a segunda, utilizando-se de ferramentas que promoRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

vem, direta ou indiretamente, a melhoria da reprodução animal. Depois da inseminação artificial e da transferência de embriões produzidos in vivo, nas duas últimas décadas, a Fertilização In Vitro (FIV) foi introduzida como a terceira grande biotecnologia da reprodução animal no Brasil. Outras biotecnologias da reprodução vêm complementando a FIV, como é o caso do uso de sêmen sexado, da criopreservação de embriões produzidos in vitro, do transporte de embriões durante o cultivo in vitro e da clonagem e produção de animais transgênicos.

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InVitro Brasil

En t r e v i s ta

Bezerras Girolando, resultado do processo de produção em larga escala, produzidas por fertilização in vitro, após implantação em receptoras da raça Nelore

2. Faça um paralelo entre o tipo de produtor que esta tecnologia atende no Brasil e em outros países que possuem pecuária de alto nível de produção. O Brasil tem sido bastante requisitado em termos de exportação de genética por meio de embriões congelados, principalmente de raças leiteiras. Países da América do Sul e Central, como Colômbia, Venezuela, Panamá e México, têm enviado delegações ao Brasil em busca de novos negócios, para compra tanto de genética como de tecnologia de produção de embriões. África do Sul, China, Austrália, Israel, Espanha e Estados Unidos também fazem parte do grupo de países que têm investido em melhoramento genético por meio da FIV. O perfil do criador brasileiro tem mudado nos últimos quatro anos. Hoje, o interesse pelos serviços de FIV tem sido direcionado ao melhoramento genético rápido, feito pela negociação de embriões, criopreservados ou não, oriundos de rebanhos geneticamente superiores. Há, por exemplo, alguns projetos realizados e outros em andamento no Brasil em que grandes indústrias de beneficiamento de leite formam seus próprios rebanhos de matrizes de alta produção 100% a partir de embriões produzidos in vitro, com sêmen sexado de fêmea. O objetivo é fortalecer o abastecimento de leite para a indústria e fazer com que o produtor tenha menos animais, porém com maior produtividade.

Os criadores de rebanhos de elite para produção de carne continuam produzindo matrizes e reprodutores de alto padrão. Também têm melhorado rebanhos localizados em propriedades distantes dos grandes centros, aonde, até pouco tempo, as biotecnologias da reprodução não chegavam. Atualmente, é possível maximizar a produção de embriões em um mesmo período de tempo, possibilitando produzir mais embriões por dia de trabalho. A biotecnologia tornou-se mais acessível ao criador. 3. A que se deve creditar o crescimento do número de empresas que fornecem esse tipo de serviço no Brasil? No início da aplicação comercial da FIV (2002) eram duas ou três empresas prestando esse serviço. O custo de produção era alto, assim como o retorno financeiro. Havia poucos profissionais especializados no assunto, os estudos eram escassos e localizados e a FIV era direcionada a rebanhos de elite. Comercialmente, os resultados eram instáveis e havia pouca flexibilidade na técnica. Os estudos científicos em torno das biotecnologias da reprodução foram ganhando adeptos e a tecnologia se aperfeiçoou. As empresas, aos poucos, conquistaram a confiança do criador, e novos técnicos foram treinados para realizar as diferentes etapas do processo. Novas empresas surgiram sempre alavancadas pelas pesquisas desenvolvidas para o setor e, para-

“No Brasil, grandes indústrias de beneficiamento de leite formam seus próprios rebanhos de matrizes de alta produção 100% a partir de embriões produzidos “in vitro”, com sêmen sexado de fêmea.” 6

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“A criopreservação dos embriões excedentes nos permite montar um banco de embriões congelados, a serem utilizados quando há sobra de receptoras, otimizando o trabalho e diminuindo sensivelmente os custos do processo.“ lelamente, os profissionais que saíam das universidades com a base teórica da técnica iniciaram sua atuação no mercado. Entre 2004 e 2007, o Brasil tinha cerca de 50 empresas atuantes, porém o retorno era menor, apesar da maior estabilidade de resultados. A FIV passou a ser aplicada na reposição dos rebanhos de elite. Desde essa época, o perfil das empresas continuou mudando. Hoje o retorno é marginal, mas é possível lançar mão de diferentes recursos que a FIV oferece para dar garantias de resultados.

6. Qual é a realidade do congelamento e do comércio de embriões congelados no Brasil? Quais são os números do setor? O Brasil é o líder mundial em produção in vitro de embriões, no entanto, apenas 3,7% deles eram criopreservados em 2007 (IETS). Esse baixo número de embriões congelados foi influenciado pelos resultados de campo, em que os embriões FIV apresentavam menor tolerância ao congelamento, principalmente os de gado zebu, quando comparados com os embriões de vacas europeias. Durante anos, as estratégias de criopreservação estudadas pelos pesquisadores foram baseadas nos crioprotetores e nas velocidades de congelação e descongelação dos embriões, sendo os métodos mais utilizados a congelação lenta e a vitrificação. Na rotina dos laboratórios de FIV é muito comum ter sobra de embriões, seja por falta de receptoras

InVitro Brasil

4. Qual é a realidade da FIV no Brasil? A FIV é uma ferramenta consolidada no País e utilizada por inúmeras empresas comerciais, universidades e centros de pesquisa. Desde 2008, nossa empresa tem realizado grandes projetos de produção de matrizes leiteiras em diferentes estados do território nacional e no exterior. Em 2009, essa escala atingiu a produção de animais destinados ao abate. Em termos numéricos, a IETS estimou que, em 2007, o Brasil teria produzido 200 mil embriões. Vamos aguardar os números de 2010, que, posso afirmar, vão surpreender, pois somente nossa empresa fechou o ano com 140 mil embriões produzidos.

e implantação de um protocolo sanitário voltado à exportação de embriões FIV de bovinos.

5. O que podemos esperar da produção e da oferta de embriões produzidos in vitro no Brasil? Todos os dias mais pecuaristas têm acesso à tecnologia de produção in vitro de embriões, pois, com o aperfeiçoamento dos meios de cultivo e com a capacitação de mais Médicos Veterinários e equipes de campo, a técnica se massificou, os resultados ficaram mais consistentes e os custos diminuíram. O Brasil vê ampliada a possibilidade de exportar sua genética zebuína para o mundo. Porém, torna-se urgente a discussão Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

Andréa no laboratório de clonagem próxima do equipamento de micro-manipulação de células e embriões

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“ Mesmo tendo especialização na área, esses profissionais necessitam passar por um treinamento para se adequar à rotina de produção comercial, que é bastante diferente da rotina que aprendemos na universidade.” aptas no dia da transferência, seja por produção acima da média. Em contrapartida, há ocasiões em que sobram receptoras sincronizadas sem receber embrião. O fato é que, até há pouco tempo, os embriões não transferidos eram descartados, um desperdício de genética e dinheiro. A criopreservação dos embriões excedentes nos permite montar um banco de embriões congelados, a serem utilizados quando há sobra de receptoras, otimizando o trabalho e diminuindo sensivelmente os custos do processo. 7. Qual sua opinião sobre a clonagem animal? Atualmente, o que se tem praticado com essa tecnologia em termos de animais de produção? A clonagem de bovinos, assim como as demais biotecnologias da reprodução, teve início em âmbito de pesquisa e, diante da expectativa dos técnicos e criadores, foi introduzida como prática comercial no Brasil. InVitro Brasil

A preservação genética pelo simples armazenamento de uma linhagem celular de determinado animal tem funcionado como um seguro de vida em muitos casos. Por um custo muito baixo, é possível manter um estoque de células congeladas para uma futura clonagem que se faça necessária. Quando iniciamos a produção comercial de clones de bovinos em 2005, havia uma série de dificuldades relacionadas à produção propriamente dita. Os partos necessitavam de assistência e, na sua maioria, eram feitos por meio de cesariana. Os produtos apresentavam dificuldades de sobrevivência e a taxa de perda neonatal era em torno de 70%. Depois de inúmeras modificações de protocolos e adequações, conseguimos evoluir quanto aos resultados de produção. Atualmente, 50% dos partos realizados em nossa sede são por via natural, sem assistência. Dos outros 50%, uma parte é natural assistido e somente 20% ainda necessitam de cesariana. O aproveitamento das receptoras passou de 10 % para 90% e a taxa de morte neonatal caiu para cerca de 20%. O crescimento vertical da clonagem no último ano se deu principalmente pela possibilidade de se fazer o registro de animais clonados, oficializado pelo MAPA e pelas associações de criadores em 2009. Para este ano, já estamos caminhando para um novo passo na técnica, a clonagem de equinos.

Clones do Touro Bandido, popular em rodeios, nasceram em 2006 e foram produzidos por transferência nuclear de células somáticas (fibroblastos)

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8. Em entrevista recente para a Revista Exame você mencionou que as empresas do setor são carentes de mão de obra qualificada. Onde está a origem do problema? Você tem treinado profissionais? A técnica de produção in vitro de embriões consiste de três etapas distintas: a coleta dos oócitos, a

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produção in vitro e a transferência dos embriões. Para cada uma delas é necessário uma equipe com qualificações diferentes. A oferta de mão de obra é abundante, quase todos os dias recebo currículos de profissionais Médicos Veterinários e Biólogos, a maioria recémformados, porém 90% deles nunca participaram de nenhum estágio ou treinamento na área. Entre os outros profissionais recém-formados que seguem para a pós-graduação em Reprodução Animal, somente uma pequena parte deles sai do Mestrado ou Doutorado em busca de trabalho em empresas de FIV. A maioria segue carreira acadêmica ou de pesquisa. Mesmo tendo especialização na área, esses profissionais necessitam passar por um treinamento para se adequar à rotina de produção comercial, que é bastante diferente da rotina que aprendemos na universidade. É evidente que o embasamento teórico aprofundado e a experiência de rotina laboratorial de especialistas acelera esse processo de treinamento. Todos os profissionais que são contratados pela nossa empresa passam, pelo menos, por quatro meses de treinamento. Primeiramente, o técnico tem que conhecer a rotina comercial de produção de embriões, as dificuldades e as exigências do trabalho, para, depois, começar a FIV propriamente. 9. Sabemos que o Brasil detém tecnologia e excelentes programas de pós-graduação na área de biotecnologia da reprodução. Qual a sua opinião sobre a interação universidade e empresa? A interação entre a universidade e o setor privado é importante e, muitas vezes, imprescindível. De um lado, a universidade colabora com oferta de mão de obra, projetos de pesquisa direcionados ao aperfeiçoamento da técnica e possibilidade de desenvolvimento de projetos subsidiados. De outro lado, a empresa absorve a mão de obra, fornece uma tecnologia padronizada e com resultados conhecidos para execução de experimentos e tem agilidade em disponibilizar recursos para a pesquisa.

Nossa empresa pratica a interação com universidades brasileiras e do exterior e está sempre buscando parcerias para inovações tecnológicas. Estamos participando, atualmente, de três projetos de pesquisa de Doutorado em três universidades no Brasil e outro no Canadá. Esperamos novidades para 2011. Atualmente, a empresa disponibiliza estágios curriculares direcionados à contratação. Boa parte dos que fizeram estágio conosco não foram mais embora e hoje são grandes profissionais. 10. Em 1999, o número de Médicas Veterinárias correspondia a 25% do total de profissionais no Brasil, atualmente, esse número corresponde a quase 45% dos atuantes. A que atribui esse crescimento? Para você foi difícil ser uma mulher atuante na Medicina Veterinária? Algum conselho à futuras colegas? Não só a presença da mulher na Medicina Veterinária cresceu como os recursos tecnológicos ficaram mais acessíveis, o que facilitou – e não somente para as mulheres – o trabalho “pesado” do campo. Outros setores surgiram e atraíram em especial as mulheres, como é o caso das biotecnologias da reprodução. Desde o início do curso de Medicina Veterinária ficou claro qual seria o foco da minha profissão. Depois da graduação, tive a oportunidade de me dedicar mais à biotecnologias da reprodução e, durante seis anos, apliquei-me no Mestrado e no Doutorado. Essa experiência me forneceu a base para o trabalho que desenvolvo. No entanto, ao chegar ao mercado de trabalho, ainda tive muito em que me aperfeiçoar, sobretudo na execução da técnica de FIV em si, na padronização de protocolos comerciais, na criação de técnicas novas e por aí vai. Considero que, como em qualquer outra profissão, atuar em Medicina Veterinária requer habilidade, dedicação, empenho e paixão. Por isso se tiver que passar uma mensagem para as colegas Médicas Veterinárias, será esta: tudo o que se dispuser a fazer, faça com capricho e emprenho e, sobretudo, tenha prazer no que faz. Somente assim terá realização profissional e pessoal.

“Se tiver que passar uma mensagem para as colegas Médicas Veterinárias, será esta: tudo o que se dispuser a fazer, faça com capricho e emprenho e, sobretudo, tenha prazer no que faz.” Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

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D e s ta qu e s

Arquivo CFMV

2011 é instituído como o ano Mundial da Medicina Veterinária

No ano em que a Medicina Veterinária comemora 250 anos de ensino no mundo, as principais organizações que representam a profissão em diversos países, entre elas o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), se reuniram para iniciar as comemorações do “VET 2011: Ano Mundial da Medicina Veterinária”. O slogan do evento evidencia a importância da Medicina Veterinária para a saúde, alimentação e sustentabilidade do planeta. A data relembra

a primeira escola de Medicina Veterinária fundada, em Lyon, na França, em 1761. Na reunião de abertura, fez-se um balanço dos eventos que serão realizados. No total, serão 154, distribuídos em 55 países. Desses, 58 eventos receberam a chancela de acreditação da associação organizadora do VET 2011. Todos os eventos enviados pelo CFMV foram acreditados, correspondendo a 10% das atividades que receberam o selo mundial. A chancela demonstra a afinidade da entidade brasileira às propostas discutidas entre os dirigentes da Medicina Veterinária de diferentes países. Além das organizações profissionais, o evento tem outros membros institucionais de peso, como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Organização Mundial de Saúde (OMS), Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), entre outras. Acompanhe as atividades do VET 2011 no Portal do CFMV (www.cfmv.gov.br).

Comissão de Ensino da Medicina Veterinária do CFMV assessorará coordenadores interessados no aprimoramento de cursos Atenta à atualização e à qualidade do ensino superior e disposta a atuar em parceria com os cursos de Medicina Veterinária que apresentarem interesse, a Comissão Nacional de Ensino da Medicina Veterinária (CNEMV) do CFMV se dispõe a assessorar os coordenadores de curso, para analisarem e discutirem, em conjunto, o programa pedagógico praticado pela instituição, buscando melhorias para os próximos anos. Voluntariamente as escolas poderão solicitar adesão ao programa. Previamente elas preencherão um cadastro e enviarão o programa pedagógico. Em seguida, dois integrantes da Comissão visitarão a instituição para que seja feito um diagnóstico em conjunto com a equipe local definida pela escola. “Serão avaliações pontuais, pois cada curso tem as suas particularidades”, comentou Rafael Gianella Mondadori, Presidente da CNEMV. Os membros da Comissão esclarecem que não haverá custo para a instituição e garante-se o sigilo das informações tratadas. O processo não é uma

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avaliação, mas uma consultoria cujos resultados poderão ser acatados pela instituição para a melhoria. Mais informações sobre a parceria podem ser obtidas em comissoes@cfmv.gov.br Arquivo CFMV

Instalações adequadas são imprescindíveis para bons cursos

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Programa de Parcelamento de débitos é reinstituído no Sistema CFMV/CRMVs O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) reinstituiu o programa de parcelamento de débitos fiscais no âmbito do Sistema CFMV/CRMVs a partir da Resolução CFMV nº. 975, de 14 de dezembro de 2010, publicada no Diário Oficial da União em 23 de dezembro do mesmo ano. O programa é destinado à regularização de débitos de anuidades, multas, taxas, emolumentos e demais créditos das pessoas físicas e jurídicas com vencimentos até 31/12/2008, inscritos ou não em dívida ativa, ajuizados ou a ajuizar, com exigibilidade suspensa ou não. O parcelamento do débito deverá ser solicitado pelo interessado até o último dia útil do mês de junho de 2011. Não poderão aderir ao programa reinstituído por essa resolução os interessados que tiverem sido excluídos do programa instituído pela Resolução CFMV nº. 924, de 2009. A Resolução CFMV nº. 975 pode ser lida na íntegra no Portal CFMV, em Legislações/Resoluções CFMV.

Rio de Janeiro – O CFMV também decidiu prorrogar o prazo de pagamento das anuidades referentes ao exercício de 2011 para as empresas e os profissionais residentes nos municípios da região serrana do Rio de Janeiro atingidos pelos desastres naturais do início do ano. A prorrogação é válida apenas àqueles que estão sediados em Areal, Bom Jardim, Nova Friburgo, Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto, Sumidouro e Teresópolis. Shutterstock

Portal CFMV agora é www.cfmv.gov.br O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) tem novo domínio para acesso ao seu portal na internet e também para envio de mensagens eletrônicas. Após vários anos com o domínio “org.br”, o CFMV passa a ser “gov.br”. Ao buscar o portal de notícias, acesse www.cfmv.gov.br e todos os e-mails devem ser enviados para a extensão @cfmv.gov.br. Como exemplo: cfmv@cfmv.gov.br. Serviços – Por meio do Portal CFMV o usuário tem, em um único lugar, informações de interesse para os profissionais registrados no Sistema. Além do acesso aos contatos de todos os Conselhos (Federal e Regionais), existem informações sobre a legislação, comissões assessoras, Programas de Residência reconhecidos pelo CFMV, Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUAs) registradas no Conselho, listagem

com as entidades habilitadas pelo CFMV para a concessão de título de especialista, notícias institucionais, edições anteriores da Revista CFMV, notícias diárias de interesse para a Medicina Veterinária e Zootecnia, entre outras informações. Visite www.cfmv.gov.br e cadastra-se para receber o boletim eletrônico. Shutt

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Médicos Veterinários e Zootecnistas. Cadastrem-se em www.cfmv.gov.br e recebam semanalmente, em seu endereço eletrônico, notícias do CFMV.

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D e s ta qu e s CFMV discute aquecimento global em sessão plenária e avalia versão científica oposta ao aquecimento Muito se discute sobre o aquecimento global e suas causas, porém, para uma linha de especialistas em meteorologia, o planeta vive uma fase de resfriamento. A informação é baseada nos dados históricos e técnicos de ciclos que se repetem a cada 30 anos. Desde 1999, os estudos mostram que a Terra entrou em uma fase de invernos mais rigorosos, maior número de tempestades, períodos secos mais agressivos e menores índices pluviométricos. A tendência é de agravamento até 2030. Os dados científicos foram apresentados pelo especialista em meteorologia Luiz Carlos Baldicero Molion (foto), no dia 9 de fevereiro, na abertura da Sessão Plenária Ordinária do CFMV, realizada de 9 a 11 de fevereiro de 2011, em Maceió, AL. Arquivo CFMV

Contrário à ideia de aquecimento, Molion informa que a temperatura atual é inferior à média dos últimos 10 anos. Ele esclarece que as alterações são influenciadas por ciclos e fenômenose também pelas mudanças nos oceanos. Ele enfatiza que a concentração de pessoas em grandes centros pode alterar o microclima local, mas não influencia diretamente em todo o clima do planeta. O alerta é dado para os próximos anos. “O sol produzirá menos energia e os oceanos estão se esfriando”, comenta o pesquisador. Ele acredita que a situação está próxima do que houve durante a fase fria da Terra, de 1947 a 1976. Caso o ciclo se repita, Molion teme pelos animais, em especial os que são criados a pasto, pois podem vir a perder peso e não resistir, como já ocorreu em períodos frios anteriores. Molion é graduado em Física pela USP e estudou meteorologia nos Estados Unidos e no Reino Unido. Ele é pesquisador sênior apostado do Inpe/MCT e, atualmente, professor associado da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), entre outras atuações.

Tramitação de artigos científicos para a Revista CFMV terá maior agilidade Com objetivo de agilizar a tramitação de artigos científicos enviados para a Revista CFMV, o Conselho Federal de Medicina Veterinária mudou algumas regras de envio e passa a aceitar a remessa de artigos científicos por e-mail. Os trabalhos para serem submetidos à publicação poderão ser encaminhados para artigos@cfmv.gov.br A tramitação entre consultores e autores também será toda digitalizada, evitando atrasos e perdas. Apesar das mudanças no envio, as normas de conteúdo, formatação e avaliação por consultores ad hoc continuam as mesmas (veja página 56). A Revista CFMV, com periodicidade quadrimestral, segue para todos os profissionais inscritos no Sistema CFMV/CRMVs. Ela é indexada à agrobase, além de ser considerada um dos principais veículos de comunicação com Médicos Veterinários e Zootecnistas no Brasil.

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Duo Design

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CFMV discutiu a Leishmaniose Visceral e publicou seu posicionamento Arquivo CFMV

bom que seja o Conselho Federal de Medicina Veterinária que esteja liderando esta discussão. Por sua atuação com os Regionais, ele tem grande potencial para apoiar o trabalho que o Estado precisa cumprir”. Leanes enfatizou a necessidade de consenso entre as diferentes opiniões para que exista o avanço no combate à doença. Para o Presidente da Associação Nacional de Clínicos de Pequenos Animais (Anclivepa Brasil), Paulo Carvalho de Castilho, o evento foi válido por ter apresentado os dois lados de ação contra a Leishmaniose Visceral e também os avanços científicos.

Fórum reuniu Presidentes do Sistema CFMV/CRMVs

Muito aguardada por todos, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) promoveu, no final de 2010, uma discussão sobre a Leishmaniose Visceral, com apresentação de diferentes pontos de vista sobre a doença e suas implicações. O fórum foi realizado nos dias 22 e 23 de novembro, em Brasília, DF, e acompanhado pelos Presidentes do Sistema CFMV/CRMVs. Também houve transmissão pela internet, com participação de profissionais de todo o Brasil. Para o Presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, foram dois dias em que a Medicina Veterinária brasileira mostrou a sua força, a sua potencialidade, a sua jovialidade, o seu conhecimento, a sua profundidade e a sua responsabilidade. “Nós saberemos caminhar ouvindo todos os lados e todas as posições”, afirmou ao final do evento. Ele enfatizou a importância da participação das organizações convidadas, que contribuíram para os esclarecimentos e apresentação de dados atualizados. No final do ano, o CFMV publicou seu posicionamento sobre a doença (veja página 71). O representante da Organização Pan-Americana da Saúde Panaftosa (OMS/Opas), Fernando Leanes, comentou que o evento se equipara às discussões que estão sendo realizadas em outros países. “É muito

Principais debates – Sobre a vacinação, o chefe da Divisão de Produtos Veterinários do Departamento de Fiscalização de Insumos Pecuários, Ricardo Pamplona, do Ministério de Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), afirmou que a análise dos estudos da fase III executados por seus respectivos laboratórios e cujos relatórios foram enviados ao Mapa para avaliação ainda está em andamento e não há um parecer conclusivo. Apresentações debateram os prós e contras dos tratamentos em cães infectados. Sobre etiopatias, resposta imune, diagnóstico e interpretação de diagnóstico, o Médico Veterinário Fabiano Borges Figueiredo, do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz) explicou como é feito tanto o diagnóstico clínico e epidemiológico, como também a evidência do parasito, técnica molecular e provas imunológicas. Em sua opinião, é de extrema importância que haja a notificação de casos mesmo em áreas não endêmicas, pois, assim, pode-se identificar e investir em ações de controle da doença no início de sua ocorrência. Muitos palestrantes enfatizaram a importância de se investir em várias medidas de controle de forma integrada, para que se consiga combater a doença. Entre elas, a mais citada foi o combate ao vetor.

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B i o t e cnolog i a a n i m a l

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transgenia em animais: novo campo de atuação profissional Em 1798, Malthus publicou sua teoria sobre crescimento populacional e produção de alimentos, em que previa uma catástrofe mundial provocada pela fome, já que, segundo ele, a população cresceria mais que a produção de alimentos. Essa ideia assombrou a humanidade até que, em meados do século passado, a difusão de sementes melhoradas e técnicas agrícolas modernas aumentaram significativamente a produção de alimentos, fazendo com que regiões de baixo potencial agrícola se tornassem celeiros, como foi o caso do cerrado brasileiro. Tal fato foi denominado “revolução verde”, que rendeu ao agrônomo Norman Borloug o prêmio Nobel da Paz de 1970. Isso mostra a capacidade de transformação do homem, que pode tanto provocar desastres como evitá-los, com o uso da ciência e tecnologia. Recentemente, assistimos a uma enorme polêmica provocada pela utilização de sementes transgênicas, acusadas de provocar doenças e prejudicar a biodiversidade. Atualmente, quase não ouvimos mais manifestações sobre o tema, e a produção de vegetais transgênicos, em 2009, chegou aos 134 milhões de hectares plantados, dos quais 16% no Brasil. A transgenia vem colaborando com a produção agrícola mundial, sendo uma realidade comercial e social

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irreversível, apesar da resistência de alguns setores mais conservadores. Na década de 1980, foram demonstradas as primeiras tentativas de geração de animais transgênicos, incluindo camundongos, ovelhas, coelhos e porcos, com potencial de expressão proteica exógena. Desde então, a produção de diversas proteínas recombinantes de interesse farmacêutico tem sido desenvolvida em animais transgênicos gerados por ferramentas da biologia molecular em conjunto com biotécnicas reprodutivas avançadas (Figura 1). A utilização de animais transgênicos como biorreatores representa uma alternativa promissora para a indústria farmacéutica. A maioria das pesquisas concentra-se na produção de medicamentos, aos quais se agrega um alto valor. Alguns exemplos de produtos secretados no leite de animais transgênicos são: fatores de coagulação VIII e IX, produzidos por ovelhas, cabras e porcas, empregados no tratamento de distúrbios da coagulação sanguínea; proteína da teia de aranha, produzida por cabras e empregada como cola orgânica; A-1 antitripsina, produzida por ovelhas e utilizada no tratamento de fibrose cística e enfisema pulmonar. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


Peso (g)

Paulo (Unifesp), como modelo para estudo de doenças cardíacas. ”Camila” e “Tinho” são cabritos produzidos pelo Laboratório de Fisiologia e Controle da Reprodução (LFCR), da Universidade Estadual do Ceará (Uece), chefiado pelo Médico Veterinário Dr. Vicente José Figueirêdo de Freitas. Esses caprinos têm a capacidade de eliminar no leite o Fator de Estimulação de Colônias de Granulócitos humano (hG-CSF), que pode auxiliar no tratamento de AIDS e do câncer. A possibilidade de animais transgênicos expressarem proteínas em determinados orgãos, utilizando-se promotores tecido-específicos, torna-os viáveis como biorreatores de proteínas de importância biomédica. Animais de produção podem servir como “biofábricas” em larga escala de proteínas expressas na urina ou no leite. Modelos atuais de animais transgênicos são capazes de secretar/eliminar em seus fluidos (leite, urina, sangue, plasma seminal) substâncias com atividades farmacológicas, tornando-os “biofábricas” de substâncias ativas. O isolamento de proteínas expressas nos fluidos corporais apresenta vantagens sobre os tecidos, pois estes Figura 1. Esquema de produção de proteínas recombinantes em glândula mamária são constantemente produzidos e aquelas são utilizando tecnologia de microinjeção em embriões de bovinos. Fonte: adptado de facilmente recuperadas. Collares et.al., 2007 Diversos estudos têm demonstrado que o No Brasil temos relato da produção de alguns anitecido mamário pode ser o sítio de produção de mais transgênicos. “Vitor” foi um camundongo prouma unidade de proteína recombinante de interesse duzido pelo Laboratório de Animais Transgênicos famacêutico. A produção de proteína no leite é um do Centro de Modelos Experimentais em Medicina dos melhores modelos de biorreator animal, pela e Biologia (Cedeme), da Universidade Federal de São praticidade em se obterem grandes volumes para

Salmão AquAdvantage

Salmão Standard

Dias a partir da alimentação inicial Figura 2. Curva de crescimento do salmão AquAdvantage em comparação à do salmão Standard. Fonte: Aquabounty Technologies

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B i o t e cnolog i a a n i m a l Grupos de pesquisa daUniversidade de São Paulo (USP) coordenados pelos professores Lygia da Veiga Pereira (Instituto de Biociências) e José Antônio Visintin (Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia)

Figura 3. Filhotes de camundongos quiméricos gerados pela agregação de células-tronco embrionárias geneticamente modificadas com embriões. A foto ilustra diferentes graus de integração das células modificadas, oriundas de camundongos da pelagem agouti

extração de produto biológico e pelo domínio da tecnologia de produção de leite. A transgenia poderá atuar também na produção de órgãos de animais para serem utilizados em transplantes nos seres humanos (xenotransplantes). Existem trabalhos que relatam a introdução de gene humano em células de suínos. Consequentemente, os órgãos desses animais passaram a incitar menor reação imunológica quando transplantados em símios não humanos. O desenvolvimento de animais transgênicos compatíveis imunologicamente com o homem trará uma nova perspectiva para os transplantes entre espécies diferentes (xenotransplante), permitindo a recuperação da saúde de muitos seres humanos e dando à produção animal uma nova finalidade. Também estão sendo apresentadas pesquisas para aumento de produtividade. Nesse sentido, pode ser citado o salmão denominado “AquAd-

Dados do Autor

Felipe Pohl de Souza

Médico Veterinário, CRMV-PR 2934. Mestrado em Ciências Veterinárias – UFPR. Endereço para correspondência: Atílio Gasparini, 46 – Bairro Jardim Social – Curitiba/PR – CEP 82520-440. E-mail: buiatra@bol.com.br

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vantage”, que pode atingir o tamanho de mercado duas vezes mais rápido que o salmão tradicional (Figura 2). Esses animais são estéreis, o que elimina a ameaça de cruzamentos entre si ou com populações nativas. A transgenia pode contribuir com a produção animal, gerando animais com maior capacidade de conversão alimentar, velocidade de crescimento, resistência a doenças infecciosas e parasitárias. De outra forma, também pode auxiliar a adaptação de animais a ambientes inóspitos, como os que podem surgir com o aquecimento global, ou melhorar a tolerância ao cativeiro, o que pode levar à preservação de algumas espécies que correm risco de extinção pela destruição dos ambientes naturais. A transgenia já é um campo de atuação para os Médicos Veterinários e, à medida que as técnicas forem sendo aprimoradas e seus custos diminuídos, muitos mais poderão estar envolvidos quer seja na produção animal ou, na preservação das espécies quer seja, na erradicação de doenças ou na produção de animais de laboratório para uso em pesquisa (Figura 3). Enfatize-se que os investimentos no setor biotecnológico crescem a cada ano e que vaca, porcos, cabras, ovelhas, camundongos, coelhos e galinhas transgênicos estão, cada vez mais, sendo utilizados em ensaios biotecnológicos e que precisamos ocupar nossos espaços como Médicos Veterinários.

Referências Bibliográficas Collares, T.; Seixas, F.K.; Campos, V.F. et al. Animais transgênicos biorreatores. Rev Bras Reprod Anim, Belo Horizonte, v.31, n.4, p.462-478, out./dez. 2007. DOHMEN, P. ; COSTA, F. D. A. ; VEIGA, S.A. ; POHL-DE-SOUZA, F; VILANI, R. G. D’O. C. ; YOSHI, S. ; COSTA, M. B. ; KONERTZ, W. Results of a Decellularized Porcine Heart Valve Implanted into the Juvenile Sheep Model. The heart surgery forum, v. 8, n. 2, p. E 100-E 104, 2005. Meirelles , F.V. et al. Perspectivas para as técnicas de FIV, clonagem e transgenia, 3º. SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE REPRODUÇÃO ANIMAL APLICADA) -2008. Disponível em: http://www.geraembryo.com.br/br/trabalhos_evento. php?cod_trabalho=16 PEREIRA, L. V. Animais transgênicos - a nova fronteira do saber. Ciência e Cultura, São Paulo, p. 40 - 42, 01 jul. 2008. Pesquero, J.B. Animais Trasngênicos. Biotecnologia, Ciência & Desenvolvimento , n. 27, jul./ago. 2002, p. 52-56. Disponível em: http://www.biotecnologia.com.br/edicoes/ ed27.php Rumpf, R. Produção de animais transgênicos: metodologias e aplicações. Brasília: Embrapa, Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2005. 2

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Desafios na associação epidemiológica entre raça e agressividade canina INTRODUÇÃO

A agressividade canina é o problema de comportamento que mais leva cães, do mundo inteiro, aos serviços de etologia clínica (Overall e Love, 2001; Bamberger e Houpt, 2006; Fatjó et al., 2007). É também um problema de saúde pública, visto que o número de pessoas atacadas por cães é muito grande. Nós Estados Unidos da América, por exemplo, o número de pessoas atacadas é de cerca de 2% da população (Overall e Love, 2001). No Brasil, a agressividade canina é o segundo problema de comportamento mais frequentemente relatado nas clínicas e é a principal causa comportamental de abandono ou eutanásia (Soares et al., 2010). Por conta disso, há uma preocupação em se prevenir o problema dos ataques de cães a seres humanos. No Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

estado do Rio de Janeiro, em abril de 1999, redigiuse uma lei (Rio de Janeiro, 1999), que ganhou nova redação em setembro de 2005 (Rio de Janeiro, 2005), para controlar populações de cães de certas raças supostamente agressivas, caracterizados como cães ferozes. Essa lei impõe a castração de cães da raça Pit Bull e proíbe sua criação. Também obriga que cães das raças Pit Bull, Rottweiler, Fila e Doberman transitem apenas em logradouros públicos de pouco movimento e usando guia, enforcador e focinheira. O governo do estado de São Paulo, em 2003, também promulgou a Lei n. 11.531 (São Paulo, 2003), que obriga o uso de guia e coleira em cães das raças Pit Bull, Rottweiler e Mastim Napolitano, para condução desses cães em locais públicos. Vários projetos de lei vêm tramitando, inclusive

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Por que é tão difícil chegar a uma conclusão a respeito da associação entre agressividade e raça? O objetivo do presente artigo é analisar, à luz da literatura, alguns desafios encontrados em tal análise.

A origem das raças caninas

Cães de raças consideradas agressivas sofrem restrições em algumas cidades

em escala federal, mantendo a perspectiva de levar à extinção algumas raças no País. Tais dispositivos legais foram propostos, supostamente, para atender a uma necessidade expressa pela população desses estados. Contudo, uma pergunta é relevante: segregar uma ou outra raça resolve a questão da agressão canina como problema de saúde pública? Não há um consenso na literatura sobre a associação da raça canina com seu envolvimento em ataques (Guy et al., 2001a; Guy et al., 2001b; Bamberger e Houpt, 2006; Takeuchi e Mori, 2006; Fatjó et al., 2007; Rosado et al., 2007; Duffy et al., 2008; McGreevy e Masters, 2008; O’Sullivan et al., 2008a; Shuler et al., 2008;), sendo necessários mais estudos para que se chegue a tal associação. Um estudo espanhol (Fatjó et al., 2007) cita o Pastor Catalão e o Cocker Spaniel Inglês como mais agressivos, já um estudo canadense (Guy et al., 2001a) cita o Retriever do Labrador e o Springer Spaniel. Esse conceito de mais agressivos, nesses dois estudos, é consequente do número de animais envolvidos nos ataques, não há uma análise qualitativa dos ataques. Mesmo que a agressividade não apresente relação direta com a raça, o poder de contundência dos ataques deve ser considerado. Raças maiores e mais fortes provocam lesões mais graves nas pessoas atacadas e, por isso, estão envolvidas em mais casos fatais (Overall e Love, 2001), ganhando, consequentemente, mais repercussão na mídia.

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Ao longo da história, os cães vêm sendo submetidos tanto aos efeitos da seleção natural, que possibilitaram a sua adaptação ao meio ambiente em que vivem, como aos efeitos da seleção artificial, provocada pelos seres humanos, de diversos modos, objetivando uma ampla variedade de aplicações para esses cães (Denis, 2007). No início da domesticação, os seres humanos conservaram aqueles animais menos agressivos e menos arredios, provavelmente selecionando aqueles com características morfológicas que diferiam dos exemplares selvagens, fato que pode ter possibilitado a grande variedade morfológica encontrada nos cães domésticos hoje em dia (Denis, 2007). A origem do cão doméstico tem o lobo como ancestral mais provável (Vilá et al., 1997). Exemplares dessa espécie foram, ao longo do tempo, sendo selecionados para diversas aptidões, sendo, hoje, um animal com potencial maior de cognição social que os lobos selvagens, destacando-se até de grandes primatas em certas tarefas que dependem da leitura de sinais corporais humanos (Hare et al., 2002). As primeiras associações entre homens e canídeos foram encontradas na China e remontam há 150.000 anos. Há cerca de 10.000 anos, ao deixar de ser nômade e caçador para ser produtor e criador do seu

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morfológica, pertencem à espécie Canis familiaris. Entre animais da mesma raça podem existir linhagens diferentes, que são desenvolvidas pelos criadores a partir da seleção das matrizes e padreadores para personalizar sua criação (Grandjean, 2001).

Relação da raça com o comportamento do cão

Primeiras associações entre homens e canídeos remontam há 150.000 anos

alimento, o homem precisou domesticar o canídeo ancestral do cão para auxiliá-lo na caça e, posteriormente, no cuidado do gado. A fixação dos padrões raciais só apareceu a partir do Século XVI para os cães de caça e prosseguiu ao longo dos séculos posteriores. A cinofilia progrediu até que, no Século XIX (Londres, 1861 e Paris, 1863), registraram-se as primeiras exposições caninas (Grandjean, 2001). Raça é entendida como subespécie animal resultante do cruzamento de indivíduos selecionados pelo homem para manutenção ou aprimoramento de determinados caracteres (Ferreira, 1975). As raças, como são conhecidas hoje, são fruto de seleção natural, seleção artificial e do cruzamento entre animais de padrões diferentes. O reconhecimento das raças depende da organização das pessoas que criam os cães em associações ou clubes, nos quais seus integrantes estabelecem padrões morfológicos e comportamentais. Essas associações ou clubes de cinofilia têm, hoje, uma entidade internacional de reconhecimento e classificação das raças, chamada Federação Cinófila Internacional (FCI). Portanto, do Husky Siberiano ao Cão Pelado Mexicano, do Pequinês ao Dogue Alemão, todas as cerca de 400 raças homologadas pela FCI, a despeito de sua diversidade Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

Todos os criadores de cães trabalham com a seleção dos animais a partir de características morfológicas, como: porte, pelagem, inserção de orelhas e cauda e aprumos. Alguns excluem de seus plantéis animais com temperamento inapropriado. Então, se faz a pergunta: é possível que uma característica comportamental, como a agressividade, seja transmitida para a geração seguinte? Em 1965, os pesquisadores John Scott e John Fuller, publicaram um livro em que relatam os resultados de suas experiências com hereditariedade de características comportamentais em cães (Scott e Fuller, 1965). Os experimentos foram realizados com cães de cinco raças: Cocker Spaniel Americano, Basenji Africano, Fox Terrier pelo de arame, Pastor de Shetland e Beagle. Entre os experimentos realizados, esses pesquisadores relatam diferenças raciais significativas no comportamento agressivo de filhotes de 13 a 15 semanas, sendo os filhotes da raça Fox Terrier os mais agressivos e os Cocker Spaniel Americano os menos. Porém, esse estudo considerou comportamentos agressivos durante interações lúdicas com os filhotes, o que pode não estar diretamente associado ao comportamento agressivo desses cães quando adultos, porque esses comportamentos se alteram com a idade e com as experiências vividas. O que tem relação com a socialização do cão. Da mesma forma que características morfológicas podem ser herdadas de gerações passadas, características neurofisiológicas também podem. Portanto, a predisposição genética para diversos problemas comportamentais pode justificar uma possível associação entre agressividade e raça do cão. Tal relação pode ser justificada com diferenças nos níveis de neurotransmissores ou na eficiência de seus receptores no Sistema Nervoso Central (SNC), favorecendo, ou não, o surgimento de problemas como agressividade ou ansiedade ( Takeuchi e Houpt, 2003). Alguns artigos associam alterações estruturais nos cérebros de cães agressivos e não agressivos. Por exemplo, há um aumento do número de receptores para andrógenos na amígdala baso-lateral em machos agressivos comparados a não agressivos

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C o m por ta m e n t o An i m a l (Jacobs et al., 2006). Também há aumento no número de receptores serotoninérgicos por todo encéfalo (Badino et al., 2004; Jacob s et al., 2007) e uma diminuição no número de receptores adrenérgicos no córtex frontal, hipocampo e tálamo (Badino et al., 2004) dos cães agressivos comparados aos não agressivos. Há alterações metabólicas associadas à agressividade. Cães agressivos da raça Pastor Alemão tiveram menores concentrações de bilirrubina e colesterol total comparados a cães não agressivos da mesma raça, idade, porte e sexo. A composição sérica dos ácidos graxos também diferiu. O grupo agressivo apresentou menores concentrações de Ácido Docosahexaenóico (DHA) e uma razão maior de Ácidos graxos Omega6/Omega3 (Re et al., 2008). Porém esses resultados merecem uma avaliação no eixo causa-efeito, pois tais alterações podem ter relação com o estresse, o que ficou evidente em uma pesquisa (Verrier et al., 1987) na qual os cães induzidos a ataques de fúria tiveram alterações cardíacas, provavelmente mediadas por catecolaminas. Há um setor identificado no genoma canino que interfere na captação da dopamina no cérebro, o que pode estar relacionado com a agressividade de certas raças (Ito et al., 2004). Mesmo com todas essas possibilidades, em um estudo realizado com

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cães das raças Pastor Alemão e Rottweiler, os autores identificaram uma correlação genética em alguns traços de personalidade, como os comportamentos do eixo timidez-ousadia, mas não naqueles relacionados à agressividade (Saetre et al., 2006). Há outro estudo que comprovou que o efeito do ambiente da ninhada tem maior influência no comportamento que a genética materna (Strandberg et al., 2005). Ainda outro, em que foi relatada uma associação maior entre fatores ambientais, sociais e de manejo no desenvolvimento de agressões por dominância, comparados a fatores intrínsecos aos cães, como: raça, porte e cor de pelagem (PérezGuisado e Muñoz-Serrano, 2009). Os aspectos relatados nos parágrafos anteriores poderiam alicerçar os argumentos favoráveis à associação entre raça e agressividade, porém ainda não é possível responder à pergunta se há uma associação direta entre agressividade e raça. Até porque, dentro de uma mesma raça, há linhagens diferentes que dependem das características “da moda”, fato que pode ser regionalizado. A formação dessas linhagens depende também da seleção dos machos padreadores ou raçadores, que acontece sempre que um macho se destaca nas exposições e passa a ser muito procurado para transmitir as suas características morfológicas (Grandjean, 2001), o que pode causar um viés dentro dessa raça em relação a características morfológicas ou comportamentais originadas desse indivíduo.

O que é agressividade? Definir agressividade canina é um outro desafio, pois os mesmos comportamentos podem ser interpretados como agressivos ou não. Por exemplo, um cão que morde a perna do proprietário para chamá-lo para brincar está se comportando de maneira agressiva sem, contudo ameaçar a integridade física dessa pessoa. Por outro lado, um cão que rosne para o proprietário que mexe em seu comedouro pode representar ameaça de ataque contra essa pessoa. A agressividade é definida como a conduta do agressivo, como a disposição para o desencadeamento de condutas hostis e destrutivas (Ferreira, 1975). A palavra agressão traz como significado à mente humana: maldade, sordidez ou vingança, mas não é o que acontece com

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os cães. As agressões fazem parte do repertório comportamental dessa espécie (Fogle, 1992). No caso do cão, os comportamentos agressivos são subdivididos em três etapas: ameaça, ataque e apaziguamento (Beaver, 2001). A ameaça é caracterizada por posturas intimidadoras, rosnados, latidos, exibição de dentes, piloereção cervical ou manutenção de contato visual, podendo se compor de um ou vários desses sinais. O ataque é a agressão propriamente dita, caracterizada pela mordida ou sua tentativa. A fase de apaziguamento é caracterizada por um comportamento relativamente não agressivo, mas que reforça a postura agressiva do cão pós-ataque. O cão pode lamber a região mordida, montar no agredido ou apenas por sua pata sobre ele (Overall, 1997). A agressividade pode ser manifestada em vá- A interação cão e ser humano manifesta-se de várias formas rios contextos e é essa contextualização que vai direcionar uma possível abordagem terapêutica Disputa Hierárquica – uma das principais capara cada caso. As vítimas, nesses contextos, poracterísticas deste tipo de agressão é o fato de, na dem ser de qualquer espécie, sendo a agressão dimaioria das vezes, ser direcionada a algum membro recionada a humanos o foco do presente artigo. Os da família (Cameron, 1997; Palácio et al., 2005). É o contextos podem ser divididos didaticamente em tipo de agressão mais difícil de ser contextualizado, ativos ou passivos. Nos casos da agressividade atipois, normalmente, envolve situações em que não va, os cães atacam sem que tenha havido qualquer se encontram justificativas, tendo como base valoameaça direta à sua integridade física. Portanto, se res humanos, como o cão atacar a pessoa porque foi podem caracterizar como ativos os episódios de acordado ou acariciado enquanto estava deitado. agressão ocorridos nos seguintes contextos: A agressividade caracterizada como passiva enPredação – o cão ataca com todo um gestual de volve situações em que o cão simplesmente reage caça. É comum acontecer contra pessoas correndo a estímulos que ameacem sua integridade física. (frequentemente crianças), rodas e pneus (carros, São essas situações: motos, bicicletas, patins ou skates). Também com Por Medo – um cão acuado se defende dessa animais de outras espécies (Fogle, 1992; Overall, ameaça de forma agressiva. Este tipo de agressão 1997; Beaver, 2001). foi o mais observado em um estudo belga com cães Proteção Territorial – os ataques são direciomilitares, mesmo com a rejeição de cães medrosos nados a indivíduos que invadam seu espaço terrino momento da seleção para o trabalho designado torial. Esse território pode se estender para além (Haverbeke et al., 2009), o que pode estar relacionados limites estabelecidos pelos seres humanos, do com a técnica de adestramento usada com tal como muros ou cercas. Neste contexto, o cão pode, grupo de cães. É um tipo de agressão normalmente também, reagir agressivamente durante passeios perigoso, pois o cão não reprime o ataque, visto que com algum membro humano de seu grupo social, se sente ameaçado (Fogle, 1992; Overall, 1997; Beaquando indivíduos (humanos ou caninos) se aprover, 2001). É como se dissesse: “é ele ou eu”. ximam, invadindo um perímetro territorial que ele Por Dor – o cão ataca aquele que está causandoreconhece como seu (Fogle, 1992; Overall, 1997; lhe dor, ou que já lhe tenha causado dor (Fogle, Landsberg, 2004). 1992; Overall, 1997; Beaver, 2001). Portanto é um Proteção Maternal – os ataques são efetuados contexto comum nas clínicas veterinárias ou com por fêmeas comumente em período de amamentacães que estejam sofrendo ou que já tenham sofrido ção. Pode ocorrer também com algumas cadelas em processos dolorosos (artrites, miosites, otites ou pseudociese. Esta categoria de agressividade assume traumas de maneira geral). características semelhantes às de proteção territorial, Todas as situações listadas envolvem contextos porém dentro do contexto da fêmea protegendo sua comuns de respostas agressivas, porém ainda ocorprole (Fogle, 1992; Overall, 1997; Beaver, 2001). rem agressões que não se enquadram nesses contexRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

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C o m por ta m e n t o An i m a l tos mais comuns e são chamadas de idiopáticas. Existem também aquelas com causas clínicas (disfunções hormonais, raiva ou neuropatias) e ainda há casos com ambivalências, que mesclam classificações. A agressão, normalmente caracterizada como hierárquica ou por dominância, traz, em inúmeros casos, linguagem corporal incompatível com o conflito hierárquico, com o contexto do líder se impondo ao seu subordinado. Tal linguagem corporal, com misto de ofensiva e defensiva (ativa e passiva), caracteriza uma situação que mescla a dominância e o medo, motivando a agressão (Luescher e Reisner, 2008). Essa contextualização também cria um viés em relação à associação com a raça, já que algumas delas têm maior potencial para agredir em certos contextos do que em outros. Por exemplo, a agressão direcionada a seres humanos muitas vezes é desejada pelos proprietários, como no caso dos cães de guarda. Porém, ainda assim é necessário que se preveja e trabalhe tal agressividade, a fim de evitar acidentes que ocorrem pela falta de discernimento dos cães para o certo e o errado.

A importância da socialização do cão

Socialização é o processo de integração de indivíduos em um grupo (Ferreira, 1975). No processo de domesticação, o cão é inserido no convívio humano, por isso, é extremamente necessário que seja socializado, para que possa interagir com seres humanos de uma forma coerente e socialmente aceita. Ao ser socializado, o cão passa a ter uma relação mais harmônica com sua família humana (Seksel, 1997). Considerando que a maioria dos ataques acontece em contextos familiares e comumente são direcionados a pessoas conhecidas da família, como vizinhos, parentes e amigos (Overall e Love, 2001), a socialização torna-se uma necessidade mais significativa. Por meio do processo de socialização, o cão passa a reconhecer pessoas ou atividades como parte da sua vida e não como ameaça. Assim, o cão não ataca uma criança conhecida quando ela invade o seu território por não identificá-la nem como ameaça nem como presa. O grande desafio nesse caso é avaliar o quanto um cão é socializado ou não. Existem testes destinados a avaliar o temperamento dos cães (Svartberg e Forkman, 2002; Svartberg, 2006; Duffy et al., 2008), mas seriam eficazes em predizer as atitudes dos cães em todos os contextos possíveis de agressão? Mesmo sabendo que a abordagem para a socialização

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pode diferir de uma raça para outra (Scott e Fuller, 1965), a socialização é um processo individual e a sua deficiência é uma grande geradora de problemas de comportamento em cães (Seksel, 1997). Como generalizar essa capacidade de socialização a uma raça ou outra, se depende de quem está socializando e de como está fazendo? Talvez a melhor solução seja incentivar a socialização primária (Seksel, 1997; Serra, 2005). A fase da vida que vai de oito a dezesseis semanas é considerada um ponto crítico no desenvolvimento emocional dos cães (Scott e Fuller, 1965). Nessa fase, o cão aprende com muito mais facilidade e de uma forma mais intensa e duradoura o que é seguro ou não para ele. Cães que até as 16 semanas não têm contato com pessoas passam a se comportar como selvagens, temendo qualquer pessoa que se aproxime, o que o torna incapaz de aprender comandos simples de adestramento (Scott e Fuller, 1965). Por outro lado, cães criados em famílias têm maior rendimento em testes cognitivos (Scott e Fuller, 1965) e menos reações agressivas quando comparados aos que ficam instalados permanentemente em canis (Lefebvre et al., 2007). O processo de socialização primária caracterizase pela apresentação positiva ao filhote (8-16 semanas) de todos os fatores controláveis que farão parte da sua vida. Esses fatores controlados são: pessoas de diferentes idades e diferentes etnias, brinquedos e objetos (Seksel, 1997; Serra, 2005).

Origem dos dados epidemiológicos

A origem dos dados epidemiológicos é um outro grande desafio para busca da associação entre agressividade e raça. Nove estudos retrospectivos, publicados entre 1997 e 2008, se baseiam em informações dos serviços públicos de saúde dos países onde as pesquisas foram feitas. Desses, quatro citam as raças que foram envolvidas nos ataques (Keuster et al.,2006; Rosado et al., 2007; O’Sullivan et al., 2008a; Shuler et al., 2008) e outros cinco com o mesmo tipo de fonte de dados não citam (Tan et al., 2004; Fortes et al., 2007; O’Sullivan et al., 2008b; Vucinic et al., 2008; Georges e Adesiyun, 2009). A única raça coincidente como a mais agressiva, ou seja, a mais frequentemente envolvida em ataques foi o Pastor Alemão, que está citado em estudos belga (Keuster et al., 2006) e espanhol (Rosado et al., 2007). Neste último, os autores usam dados epidemiológicos para comparar a casuística de ataques de cães em cinco anos anteriores à promulgação de uma Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


lei contra cães ferozes com cinco anos sob a vigência dessa lei e constatam que não houve diminuição nessa casuística, nem alterações quantitativas das raças mais envolvidas nos ataques. O estudo norteamericano não cita diretamente nenhuma raça, mas grupos raciais da FCI, e descreve os tipos Terrier e cães de trabalho como os mais envolvidos em ataques contra seres humanos (Shuler et al., 2008). O Colie é citado como a raça mais agressiva no estudo irlandês (O’Sullivan et al., 2008a), no qual os pesquisadores fizeram contatos telefônicos com 134 vítimas de agressão canina para caracterizar as vítimas e os agressores. As amostras desses nove estudos são compostas por dados extraídos das notificações do serviço público de saúde, ou seja, pelos registros dos atendimentos das pessoas agredidas por cães. Mas, todas as pessoas que são mordidas procuram o serviço público de saúde? Há autores que afirmam que pessoas familiares ao cão dificilmente notificam oficialmente tais ataques (Guy et al., 2001b; Palestrini et al., 2005; Voith, 2009). Outra questão importante para divulgação de dados científicos é a confiabilidade desses dados. Não há como confirmar se todos os casos que chegaram ao sistema de saúde foram registrados, se os que foram registrados o foram de maneira correta e os agredidos podem não saber identificar corretamente a raça do cão agressor. Talvez, em virtude disso, há artigos (Tan et al., 2004; Fortes et al., 2007; O’Sullivan et al., 2008b; Vucinic et al., 2008; Georges e Adesiyun, 2009) que não tecem conclusões a esse respeito. Outros três estudos (Bamberger e Houpt, 2006; Fatjó et al.¸2007; Yalcn e Batmaz, 2007) usam informação de serviços especializados em etologia clínica, ou seja, relatam a casuística das clínicas especializadas no tratamento de distúrbios de comportamento. O estudo turco (Yalcn e Batmaz, 2007) não cita quais raças são as mais agressivas. O estudo norteamericano (Bamberger e Houpt, 2006) conclui que cães sem raça definida são os mais frequentes com queixas de agressividade, seguidos por cães das raças: Pastor Alemão, Springer Spaniel e Retriever do Labrador. O terceiro estudo, que é espanhol (Fatjó et al.¸2007), cita cães da raça Cocker Spaniel Inglês e Pastor Catalão como as mais frequentes com queixas de agressividade. Também há estudos feitos a partir de dados coletados em clínicas veterinárias (Bradshaw e Goodwin, 1998; Guy et al., 2001a; Guy et al., 2001b; Takeuchi e Mori, 2006; O’Sullivan et al., 2008b). Desses, merece destaque o estudo japoRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

nês (Takeuchi e Mori, 2006), no qual é feita uma pesquisa de opinião diretamente com médicos veterinários, ou seja, os autores perguntam a esses profissionais quais raças consideram mais agressivas, sendo a Miniatura Pinscher Shu t te rst a mais frequente oc k mente relacionada com agressividade. Já pesquisa inglesa (Bradshaw e Goodwin, 1998), não cita qualquer raça como mais agressiva, ainda que usando o mesmo tipo de abordagem do estudo japonês ( Takeuchi e Mori, 2006). Há dois estudos canadenses. E em um deles (Guy et al., 2001a) os autores coletam dados com proprietários de cães nas clinicas e, no outro (Guy et al., 2001b), assim como no estudo irlandês (O’Sullivan

Dados dos Autores

Guilherme Marques Soares

Médico Veterinário, CRMV-RJ 5092; MSc; Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária – Clínica e Reprodução Animal – Faculdade de Veterinária – Universidade Federal Fluminense. Endereço para correspondência: Prof. Hernani Melo, 101– Gravato – Niterói/RJ – CEP 24210-150 . E-mail: gsoaresvet@oi.com.br

Rita Leal Paixão

Médica Veterinária, CRMV-RJ 3937; MSc; DSc; Professora Associada do Departamento Fisiologia e Farmacologia – Instituto Biomédico – Universidade Federal Fluminense. E-mail: rpaixao@vm.uff.br

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C o m por ta m e n t o An i m a l et al., 2008b), foram feitas entrevistas telefônicas com proprietários de cães que tinham histórico de agressividade. A pesquisa irlandesa (O’Sullivan et al., 2008b) não traz conclusões sobre raças e as duas canadenses (Guy et al., 2001a; Guy et al., 2001b) citam os cães sem raça definida e os da raça Retriever do Labrador como os mais agressivos. Duas outras pesquisas buscam dados diretamente na população de proprietários de cães e se baseiam em respostas de questionários (McGreevy e Masters, 2008; Duffy et al., 2008). No estudo norte-americano (Duffy et al., 2008), os questionários foram enviados para proprietários de cães de 30 raças, tendo como base o cadastro de uma entidade cinófila. Esse estudo concluiu que cães das raças: Dachshund, Chiuaua e Jack Russel Terrier obtiveram as maiores pontuações para agressividade. Já a pesquisa australiana (McGreevy e Masters, 2008) se baseou em questionários encartados em uma revista sobre cães. Os autores concluíram que os cães sem raça definida obtiveram os maiores escores para agressividade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há muitos desafios para que se confirme a associação entre raças caninas e manifestação de agressividade dos cães, sendo ainda necessários muitos estudos. Pode-se concluir que novos estudos devem se embasar em abordagens individualizadas, considerando não só a raça, mas também aspectos psicológicos dos proprietários, prevalência das raças na população canina da região pesquisada, qualidade do processo de socialização, tipo de manejo a que esses cães são submetidos ao longo da vida, predominância de determinada linhagem entre o total de animais de uma raça na região pesquisada e ainda o tamanho e a força dos cães que atacam. Este último aspecto parece óbvio, mas não é o que a mídia mostra quando exibe certas raças como ferozes. A diversidade de tamanho e força dentro da espécie canina também ressalta a necessidade de mais estudos qualitativos dos ataques caninos, para que se possa saber se as raças tidas como ferozes o são porque atacam com maior frequência ou com maior intensidade.

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SuplementoCientífico Caprinocultura e Ovinocultura de corte no Brasil: pontos para reflexão Aurino Alves Simplício

Avaliação do teste do antígeno acidificado tamponado em soros tratados com rivanol como teste confirmatório no diagnóstico sorológico da brucelose bovina Raphaella Barbosa Meirelles Bartoli / Luis Antonio Mathias

Ocorrência de dois casos de queilosquise ligados à endogamia em bezerros da raça Girolando Wesley Antunes Meireles / Charles Bernardo Buteri

Fatores limitantes ao estudo da dinâmica folicular em ovelhas Carmo Emanuel Almeida Biscarde / Sony Dimas Bicudo / Maria Denise Lopes Cezinande Meira/ Claudia Dias Monteiro / Luís Carlos Oña Magalhães

REVISTA DO CFMV - Brasília - DF - Ano XVII – N° 52 - 2011 CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA SIA – Trecho 6 – Lote 130 e 140 Brasília – DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444 www.cfmv.gov.br cfmv@cfmv.gov.br DIRETORIA EXECUTIVA Presidente

Benedito Fortes de Arruda Vice-Presidente

Eduardo Luiz Silva Costa Secretário-Geral

Joaquim Lair

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Tesoureiro

Amilson Pereira Said Editor da Revista CFMV

Ricardo Junqueira Del Carlo CRMV-MG nº 1759

Conselho Editorial da Revista CFMV

Presidente

Eduardo Luiz Silva Costa

CRMV-SE nº 0037

Joaquim Lair

CRMV-GO nº 0242

Amilson Pereira Said CRMV-ES nº 0093

Comitê Científico da Revista CFMV

Presidente

Cláudio Lisias Mafra de Siqueira CRMV-MG nº 5170

Luis Augusto Nero CRMV-PR nº 4261

Flávio Marcos Junqueira Costa CRMV-MG nº 5779

Antônio Messias Costa CRMV-PA nº 0722

Celso da Costa Carrer CRMV-SP nº 0494/Z

Luiz Fernando Teixeira Albino CRMV-MG nº 0018/Z

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


suplemento científico

CAPRINOCULTURA E OVINOCULTURA DE CORTE NO BRASIL: Pontos para reflexão Goat And Sheep meat activity in brazil: pontentialities, challenges and opportunities Resumo O objetivo deste trabalho é textualizar e discutir a caprino-ovinocultura de corte com foco nas potencialidades, desafios e oportunidades e o seu desenvolvimento com rentabilidade econômica e sustentabilidade ambiental e social. Entende-se que a exploração dos caprinos e ovinos de corte exige investimentos em organização e gestão da unidade produtiva, bem como em qualificação técnica de mão de obra. Também que, nos dias atuais, as atividades devem ser conduzidas com foco na assistência técnica, no mercado, na otimização da rentabilidade econômica, no respeito ao meio ambiente, no não uso de mão de obra infantil e no desenvolvimento social. O uso de técnicas de manejo reprodutivo, como estação de monta, inseminação artificial, sincronização do estro, transferência de embrião e diagnóstico precoce de gestação é muito importante. Atenção especial deve ser dada ao bem-estar animal, ao manejo alimentar, da nutrição e da promoção da saúde dos animais, à idade ao primeiro parto e ao intervalo entre partos. Esses aspectos, aliados à idade e ao acabamento das carcaças ao abate, favorecem o desfrute dos rebanhos e a rentabilidade da unidade produtiva. Palavras-chave: caprinos, ovinos, produção de carne, desenvolvimento sustentado

Abstract The aim of this work is to textualize and discuss the goat and sheep meat activity in according to potentialities, challenges and opportunities with economic profit and environment and social sustainability. It is understood that the exploration of goat and sheep to meat production asks for investment in organization and rational management of the animal productive unit and in human technical qualification. Moreover, the explorations should be conducted with focus in the market, in economic rentability, social development and without the use of infantile work. It is fundamental to keep in mind the animal welfare. The use of reproductive management techniques as breeding season, artificial insemination, synchronization of estrus, embryo transfer and precocious pregnancy diagnosis are of great importance. Special attention should be given to alimentary management regime, nutrition support and promotion of animal health. Also to the age at first parturition and the interval between partum as factors to guarantee benefits such as high fertility at parturition, the number of females that show estrus followed by ovulation as soon as possible during post partum period, high weaning rate and good body weight of the young at weaning. These aspects together with the age and carcass condition at slaughter have a positive effect on the flock performance and rentability of the animal productive unit. Keywords: goat, sheep, meat production, sustained development

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suplemento científico Introdução

Os efetivos brasileiros de caprinos e ovinos em 2006 eram da ordem aproximada de, respectivamente, 10.401.449 milhões e 16.019.170 milhões de cabeças, sendo que 9.613.847 (92,43%) e 9.379.380 (58,55%) encontravam-se na região Nordeste, Tabela 1 (Anuário Brasileiro de Caprinos & Ovinos, 2008). No entanto, as explorações de caprinos e de ovinos no Brasil até o passado recente eram vistas como atividades pecuárias secundárias, particularmente recomendáveis para as regiões menos desenvolvidas do País. Daí, a Zona Semiárida do Nordeste brasileiro ter sido considerada como uma das mais apropriadas para a exploração de caprinos e de ovinos deslanados. Entenda-se que a maioria do Semiárido nordestino é permeada pela caatinga e esta apresenta grande diversidade em sua composição florística, com significante presença de plantas espinhosas. Essa condição dificulta ou impossibilita a produção, em especial, de peles de boa qualidade, particularmente quando as três fases da exploração, isto é, de produção, recria e acabamento, são feitas em regime de pastoreio, tendo a caatinga como suporte forrageiro exclusivo. Ressalte-se que os pequenos ruminantes domésticos têm potencialidades biológicas para contribuírem com a produção de produtos de elevado valor biológico para a nutrição e o vestuário e, ainda, com o fornecimento de matérias-primas relevantes para o enriquecimento do solo e a preparação de produtos especiais, como pincéis usados na maquilagem feminina. No entanto, é fundamental que se invista na organização e gestão da cadeia produtiva, com foco nos mercados interno e externo e na satisfação do consumidor (Simplício et al., 2003a e b). Ainda, é de suma importância que se implemente melhorias substanciais no ambiente, visando ao bem-estar animal; no regime de manejo, independentemente de ser extensivo, semi-intensivo ou intensivo; no estabelecimento de sistemas de exploração compatíveis com a função explorada; na transferência de conhecimentos e tecnologias e na assistência técnica, objetivando o incremento da eficiência reprodutiva, a redução nos custos de produção e o aumento da produtividade (Simplício & Santos, 2005). Em se tratando da exploração para corte, a demanda por carne de qualidade é grande, o que passa a exigir o abate de animais jovens. Evidencie-se que uma parcela significativa dos pecuaristas e agroindustrias trabalha com foco no abate aos quatro meses. No entanto, o custo de produção desse cabrito ou cordeiro é muito elevado. Para tanto, quase se transformam os caprinos e ovinos em não ruminantes e, por consequência, concorrentes por componentes da dieta do

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homem, em função do elevado consumo de grãos e de seus derivados. Ressalte-se, aqui, que é possível produzir carne e pele de qualidade com caprinos e ovinos abatidos até os 10 meses de idade. No entanto, independentemente da idade de abate, não se pode negligenciar a importância que têm os manejos alimentar, da nutrição, da promoção da saúde e o genótipo. Este deve apresentar boa capacidade de ganho de peso e de conversão alimentar. Em anos recentes a expansão da caprinocultura e da ovinocultura de corte para todas as regiões geográficas do País se tornou realidade. Registra-se a forte e crescente exploração com fins econômicos nas regiões Norte, Sudeste, Centro-Oeste e Sul. Também estados como Pará, Minas Gerais, São Paulo e Paraná, entre outros, têm investido no sentido de tornar a caprinocultura de corte uma atividade econômica viável. Essas regiões e estados constituem um território amplo e com grande potencial para a exploração semi-intensiva e intensiva dos caprinos e ovinos de corte. Evidencie-se que, apesar de a área territorial brasileira suportar o crescimento numérico dos efetivos, entende-se que não ocorrerão melhorias significativas na produtividade das explorações caso não se massifique o uso de conhecimentos e tecnologias apropriadas. Ainda, para Barreto Neto (2007), o crescimento dos rebanhos não deve ser a estratégia imperativa para a sustentabilidade do setor de carnes de caprinos e ovinos. Mas, sim, a diferenciação das atividades, o fortalecimento delas com foco nos processos produtivos e a melhoria da comunicação com os clientes que se mostram interessados pelos produtos oriundos das duas explorações. É fundamental não esquecer a importância do equilíbrio agroecológico e social, sem negligenciar a rentabilidade econômica, com foco na produtividade por unidade de área e na satisfação do consumidor. Sabe-se que o desenvolvimento econômico, além de ser afetado por determinantes políticos, é, também, fortemente influenciado pelo mercado e pelas estratégias de comercialização. Nesse contexto, o custo e a diversificação da produção, a qualidade de produtos e serviços, a logística, a constância da oferta e a competitividade tornam-se primordiais para o crescimento e o desenvolvimento da caprino-ovinocultura de corte (Simplício et al., 2003a e b). Enfatize-se a perspectiva de produção de carnes e peles de qualidade a preços de custo em condições de competir nos mercados, interno e externo. Por outro lado, apesar de a caprinocultura e ovinocultura de corte, no transcorrer das três últimas décadas, terem despertado a atenção de Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


alguns governantes, nos três níveis de poder, municipal, estadual e federal, o apoio recebido tem sido insuficiente para garantir, com segurança, o crescimento e o desenvolvimento das duas atividades.

de monta; o corte do umbigo e tratamento do coto umbilical com tintura de iodo a 10%; o uso racional de instalações adequadas; o uso de esterqueira; os manejos alimentar, da nutrição e da promoção da saúde;

Tabela 1. Efetivos dos rebanhos, caprino e ovino, no Brasil, por região geográfica País Região

Caprinos

Ovinos

10.401.449

16.019.170

Cabeça

%

Cabeça

%

155.114

1,49

496.755

3,10

9.613.847

92,43

9.379.380

58,55

Sudeste

263.283

2,53

664.422

4,15

Sul

252.209

2,43

4.491.523

28,04

Centro-Oeste

116.996

1,13

987.090

6,16

Norte Nordeste

Fonte: Anuário Brasileiro de Caprinos & Ovinos, 2008.

Importância

A caprinocultura e a ovinocultura de corte brasileiras apresentam uma produtividade aquém da média de outros países. Certamente um fator que muito contribui para essa situação reside no fato de as explorações no Brasil serem conduzidas ainda com objetivos e metas não bem definidos, sem foco no mercado e no uso de pouca tecnologia. No entanto, já se registram ações positivas, apesar de ainda desordenadas, no sentido da especialização das atividades, mesmo em regiões inóspitas, como a Zona Semiárida do Nordeste, e passa-se a enxergar essas atividades como alternativas importantes para os diferentes ecossistemas brasileiros (Medeiros & Costa, 2005). Na Zona

o emprego de cercas compatíveis com a produção de peles de boa qualidade; o abate humanitário; os cuidados com as peles durante a esfola; a conservação e o armazenamento e o corte padronizado de carcaça contribuirão fortemente para o aumento do desfrute e da rentabilidade da unidade produtiva (Riera 1980; et al., Alves & Figueiró, 1986; Barros, 1994). Evidencie-se que o crescimento da agroindústria de processamento de peles no Brasil culminou com a importação de matéria-prima, gerando um déficit de 22 milhões de dólares no período de 2000 a 2002, Tabela 2. Do total importado, a maioria foi de peles caprinas e mais de 50,00% delas destinaram-se ao polo de calçados da região Sul.

Tabela 2. Importação e exportação de peles caprina e ovina, em milhões de dólares americanos Período

Variável Importação

Exportação

Déficit

1992 - 1999

115

113

2

2000 - 2002

52

30

22

Fonte: Coelho, 2003.

Semiárida do Nordeste as condições edafoclimáticas; a estrutura fundiária, com um significativo número de unidades produtivas menor do que 100 hectares; e o crédito insuficiente (Campos, 2003) não favorecem a implementação de ações e de práticas de manejo que visem ao aumento da produtividade por unidade de área. Aumentar a produtividade mediante o uso de tecnologias apropriadas e de baixo custo favorece, positivamente, a rentabilidade das explorações. O uso de tecnologias e práticas eficazes como a estação Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

A exploração racional de caprinos e ovinos de corte pode favorecer, também, os produtores que usam modelos físicos que têm como base a mão de obra familiar, constituindo-se numa alternativa com amplas perspectivas de sucesso (Guimarães Filho, 2005). É importante valorizar o potencial de produção de uma grande diversidade de produtos a partir das carnes e das peles dos caprinos e ovinos, os quais podem ocupar diferentes segmentos dos mercados interno e externo. Mesmo os subprodutos consti-

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suplemento científico tuídos por órgãos e vísceras, que correspondem a, aproximadamente, 12,00% do peso vivo e apresentam teores de gordura e proteína similares ao da carne, também denominados de miúdos ou “quinto quarto”, podem ser transformados em pratos regionais típicos, como a “buchada” e o “picado” (Madruga, 1999; Madruga et al., 2003). Com esse enfoque, a caprino-ovinocultura de corte deve ser tratada à luz do agronegócio (Simplício, 2001; Rocha, 2003) e, por conseguinte, passível de gerar emprego e renda,

compreensão dos produtores para a importância do associativismo, independente mente da forma, associação, cooperativa etc. (Couto, 2003; Borges et al., 2004). Aproximadamente 15,0% do mercado interno de carne ovina são supridos pela matéria-prima importada, principalmente de países do Mercosul, destacando-se a participação do Uruguai e da Nova Zelândia (Barreto Neto, 2007). Para a carne caprina, apenas no período de 1996 a 2000 ocorreram importações, mas de pequeno volume.

Tabela 3. Distribuição, por estado, quantidade média de pele beneficiada anualmente e número de empregado na indústria de curtimento, na região Nordeste Estado

Indústria

Produção/ Ano

Empregado

-

-

-

Maranhão Piauí

Coobrasil Europa

1.200.000 900.000

320 100

Ceará

CV Couro

900.000

100

Rio Grande do Norte

J.Mota

400.000

70

-

-

-

900.000

285

Paraíba Pernambuco

Moderno

Alagoas

-

-

-

Sergipe

-

-

-

Brespel Campelo

Bahia * TOTAL

Outras 12

1.400.000 1.400.000

285 415

500.000

100

7.600.000

1.665

Fontes: Couto Filho, 1999; Leite & Simplício, 2002.

Tabela 3. Não se pode esquecer que, nos dias atuais, o mercado brasileiro ainda é comprador de carne e pele desses pequenos ruminantes. Apesar da expressiva e crescente demanda por carnes e peles oriundas dos caprinos e ovinos, o consumo dessas carnes no País ainda se situa em torno de 1,5 Kg a 1,8 Kg por habitante/ano, exceto em algumas microrregiões do Nordeste. Não se deve esquecer as vantagens comparativas da carne caprina ao apresentar teores de gordura saturada e total, proteína, ferro e calorias em valores similares aos da carne de frango. A carne dos ovinos deslanados tem menos gordura saturada do que a dos ovinos lanados (Addizzo, 1992; Zapata et al., 2001), Tabela 4. Apesar desses aspectos positivos, a produção e a oferta de carnes caprina e ovina de qualidade no País encontram-se reprimidas. Entre os principais entraves, destacamse a ausência de organização, principalmente nos elos da cadeia inerentes à unidade produtiva, e de

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Desafios e Oportunidades

Os governantes, em seus diferentes níveis de poder, e as instituições de desenvolvimento estão tomando consciência de que as explorações de caprinos e ovinos, particularmente em áreas consideradas adversas, como a Zona Semiárida da região Nordeste, são atividades que oferecem menores riscos e maior retorno econômico em comparação à exploração dos bovinos. Daí a importância da geração do conhecimento, da transferência de tecnologias apropriadas e de baixo custo e da inovação da gestão e tecnológica, para dar suporte ao crescimento e desenvolvimento dessas atividades (Alves, 2005; Ximenes et al., 2007). Também, principalmente nos médios e grandes centros urbanos do País, as pessoas vêm se adaptando a novos hábitos de consumo, o que tem favorecido o crescimento da demanda pelas carnes de caprinos e ovinos e de seus derivados. No entanto, é fundamental que se faça parceria e manRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


Tabela 4. Principais componentes de seis tipos de carnes consumidas no País Discriminação Carne assada (100g)

Caloria (Kcal)

Gordura (g)

Gordura Saturada (g)

252

17,14

7,82

24

1,50

-

-

2,20

25

-

Bovino¹

263

17,14

7,29

25

3,11

Suíno¹

332

25,72

9,32

24

2,90

Caprino¹

131

2,76

0,85

25

3,54

129

3,75

1,07

25

1,62

Ovino Lanado¹ Ovino Deslanado²

Frango¹

Proteína (g)

Ferro (g)

Fontes: Addizzo , 1992; Zapata et al., 2001. 1

2

tenha o foco para que se aproveitem essas oportunidades e se disponibilizem aos consumidores carnes de animais jovens, isto é, de cabritos e cordeiros, com constância na oferta, na segurança alimentar e a preços competitivos, favorecendo o fortalecimento das atividades e a criação, a conquista, a manutenção e a expansão dos mercados. O produtor precisa tomar consciência e investir com visão empresarial e, independentemente do tamanho da exploração, usar conhecimentos e tecnologias apropriadas e fazer parceiras, pública e privada, na busca de apoio ao desenvolvimento de soluções para novos desafios. O acesso fácil ao crédito, suficiente e diferenciado por categoria de produtores e regiões geográficas; a logística; a qualidade dos produtos e serviços; o custo de produção; a produção de bens e produtos com valor agregado, desde que competitivos; e a inovação tecnológica, entre outros pontos, são requisitos fundamentais para a inserção nos mercados. No entanto, muitos desafios necessitam ser solucionados para que a caprinocultura e a ovinocultura de corte ocupem definitivamente seus papéis como atividades economicamente rentáveis e contribuam para a geração de emprego e renda, com participação no PIB dos municípios dos estados e do país. A sustentabilidade tendo como foco os aspectos agroecológico, social e econômico das duas atividades e as suas contribuições para a geração de riqueza e bem-estar das pessoas está diretamente ligada à capacidade de articulação e de resposta dos próprios produtores e seus parceiros frente aos desafios, particularmente no tocante à organização e gestão dos diferentes elos das cadeias produtivas. Entre os desafios, ressalte-se a pequena dimensão das políticas públicas, de médio e longo prazo, que tenham foco na sustentabilidade; na organização e gestão das atividades à luz do agronegócio; e na organização das cadeias produtivas das carnes e das peles e seus derivados (Holanda Júnior et al., 2003; Barreto Neto, Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

2003). Também, de ações efetivas para a especialização das atividades e qualificação de mão de obra; de modelos físicos de exploração com foco no ambiente, no manejo alimentar, da nutrição e da promoção da saúde dos animais; de programas, públicos e privados, de transferência de tecnologias apropriadas e de assistência técnica. Certamente é fundamental compreender a diversidade do ambiente ao se considerarem as macrorregiões geográficas brasileiras e a capacidade de adaptação produtiva dos diferentes genótipos em relação às condições edafo-climáticas dessas regiões. A formação, conquista, manutenção e expansão dos mercados frente às demandas do consumidor devem servir de estímulos aos atores das cadeias produtivas, em seus diferentes elos, a usarem a informação e o conhecimento como seus principais capitais para enfrentarem os desafios. Não se deve esquecer de que a formação, conquista, manutenção e expansão dos mercados e a competitividade dos produtos são decorrentes de fatores, como: a eficiência no processo produtivo, avaliada em função do custo de produção e da produtividade; da qualidade, inocuidade e apresentação dos produtos; e da constância da oferta (Medeiros & Ribeiro, 2006). As explorações, independente mente dos seus tamanhos, devem estar alicerçadas nos princípios e nas regras do agronegócio e com foco no equilíbrio agroecológico, social e econômico. O respeito a esse tripé e ao não uso de mão de obra infantil muito contribuirá para o desenvolvimento sustentável dessas atividades. Ainda, ao se analisar a capacidade reprodutiva e produtiva dos caprinos e ovinos de corte, é fácil concluir que a produtividade desses animais e o desfrute dos rebanhos estão aquém das suas potencialidades, o que, de certa forma, denota o uso de sistemas de exploração incompatíveis com o potencial biológico desses animais. Por outro lado, no Brasil, em 2000, foram abatidos, oficialmente, 135.000 caprinos e ovinos, mas adquiridas

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suplemento científico 5.000.000 peles, significando que, aproximadamente, 97,00% dos abates foram feitos na clandestinidade. Esse fato, sem sombra de dúvidas, representa um forte desafio que precisa ser resolvido em curto prazo. Certamente, outro grande desafio é atender aos mercados tendo como foco a satisfação plena do consumidor final. Nesse contexto, conhecer as exigências desses mercados, produzir a custo baixo e estabelecer estratégias e logística de comercialização são pontos de grande relevância para o sucesso do empreendimento. O fato de a participação do Brasil no mercado mundial de produtos de origem caprina e ovina ser pequena e as importações superarem as exportações, gerando déficits na balança comercial, deve ser visto como uma oportunidade, desde que se organize a atividade com foco nos mercados (Carvalho & Lima, 2000). Registre-se que, em 2005, os efetivos ovinos na Austrália, na Nova Zelândia, no Uruguai e nos Estados Unidos voltaram a crescer. Certamente, isso é um desafio, mas, também, pode ser visto como uma oportunidade no sentido de os produtores investirem na organização das explorações, na especialização e no crescimento qualiquantitativo dos efetivos brasileiros, sem esquecerem da importância da qualificação de mão de obra. A curto e médio prazos, existem outros desafios a serem suplantados para o desenvolvimento, com rentabilidade, da caprinocultura e da ovinocultura de corte no Brasil, destacando-se a inserção das explorações como atividades comerciais, segundo os princípios e as regras do agronegócio. Para tanto, são pontos básicos a postura empreendedora do caprino-ovinocultor; a educação continuada a qualificação de mão de obra e a assistência técnica constante e disponível aos diferentes extratos de produtores. Também, ao se ter foco na produção de carne e pele de qualidade e, por consequência, numa unidade produtiva rentável, é muito importante que se invista em melhorias no ambiente e se utilizem práticas de manejo que permitam se obter um intervalo entre partos com oito (8) meses de duração, elevada fertilidade ao parto e taxa de sobrevivência e peso vivo corporal elevados ao desmame e para a comercialização dos animais.

Mercados e Comercialização Em 2006 o Brasil conseguiu mais de 48 milhões de reais oriundos de leilões de caprinos e ovinos, sendo os animais leiloados avaliados como de elite (Anuário Brasileiro de Caprinos & Ovinos, 2007). No entanto, exceção feita aos animais importados e suas descendências, não é prudente assumir que os caprinos e ovinos brasileiros já possam ser assim considerados, uma vez que ainda são poucos os animais que foram submetidos à avaliação e à seleção genética. Por outro lado, entende-se que a caprinocultura e a ovinocultura de corte ressentem-se da ausência de núcleos de seleção. Estes deveriam existir, pelo menos, em parte das unidades produtivas daqueles produtores que assumem trabalhar com genética. O que se acredita é que, seria muito importante para as duas atividades se reprodutores e matrizes avaliados e selecionados em base genética fossem usados para retroalimentar os sistemas de exploração. E, também, a ação estava centrada na função, isto é, na produção de carne e pele, focos das explorações de corte. Em anos recentes, um significativo parque agroindustrial voltado para caprinos e ovinos foi instalado no País no tocante a abatedouros-frigoríficos e curtumes. Ressalta-se que a maioria dessas agroindústrias opera aquém da capacidade instalada e algumas se encontram fechadas. Possivelmente, na ausência de investimento massivo na organização e gestão das respectivas cadeias produtivas e de logística na localização dessas agroindústrias, estejam as principais causas para os elevados custos operacionais e alguns insucessos. Na Tabela 5 demonstra-se o perfil crescente da importação de ovinos vivos e de carcaça, no período de 1992 a 2000, mas, a partir deste último ano, a importação de carnes dos pequenos ruminantes começou a declinar. Entende-se que particularmente a carne ovina importada do Uruguai é na maioria das vezes, de qualidade inferior em comparação à produzida no Brasil, em virtude de, em parte, ela ser oriunda de animais idosos e de raças exploradas, primordialmente, para produzir lã.

Tabela 5. Importação de ovinos para o abate e de carcaça, em tonelada, de 1992 a 2000 Variável/ Ano

1992

1994

1996

1998

2000

Animal vivo

119,5

4.628,9

5.732,0

5.179,4

6.245,9

163,9

823,5

325,4

530,4

278,6

2.075,9

4.694,5

5.715,1

6.148,3

8.216,4

Carcaça: Borrego Adulto

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, 2000.

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Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


Em explorações caprina e ovina de corte, as peles devem ser tratadas como produtos. Apesar da boa qualidade das peles dos caprinos e ovinos deslanados brasileiros, no tocante a elasticidade, maciez e resistência, o mercado brasileiro se ressente da carência de matéria-prima em quantidade e qualidade. Essa situação é consequência, principalmente, do uso de sistemas de exploração inadequados, em que predominam o uso de cercas de arame farpado e o abate tardio. Esses dois aspectos favorecem a que os animais tenham uma maior exposição às intempéries do meio. É consequência, também, da pouca importância que se tem dado ao se praticar o cruzamento entre raças, em especial com ovinos de raças lanadas e da quase completa ausência de cuidados durante o abate e a esfola, a conservação e o armazenamento das peles. Embora a agroindústria couro-calçadista de peles caprina e ovina esteja em expansão, parte da matéria-prima processada é importada, principalmente de países africanos e asiáticos. O Brasil também é exportador de peles, mas em número insignificante frente às importações que são feitas, em quase sua totalidade, de peles semi-acabadas e acabadas ou couros, o que leva o País a perder divisa. A incipiente organização e gestão da cadeia produtiva possivelmente seja o principal entrave limitante para se disponibilizarem aos mercados, interno e externo, produtos oriundos dos caprinos e ovinos de corte com a qualidade e na quantidade que eles estão a demandar. No mercado interno, apesar de sinalizar para o consumo de carnes e derivados oriundos de animais jovens, isto é, abatidos com até 10 meses de idade, mas, preferencialmente, até os seis meses, ainda predomina o abate de animais com idade superior a 12 meses, resultando, na maioria das vezes, em carcaças e produtos de baixa qualidade (Madruga, 2004; 2006). A qualidade das peles guarda estreita relação com a idade de abate. As oriundas de animais jovens são preferidas e de maior valor comercial. Isso é consequência da aparência estética do produto acabado, resultante do padrão criado pela disposição dos folículos pilosos na superfície do couro. A aparência decresce com o avançar da idade e o couro oriundo de animais com 90 dias de idade é mais valorizado pelo mercado do que daqueles com 180 dias (Jacinto & Costa, 2004). A exploração de caprinos e ovinos de corte deve ser conduzida, preferencialmente, a pasto e as instalações, especialmente as cercas, devem ser compatíveis com a produção de pele de boa qualidade. Ainda, a duração do intervalo médio entre partos deve ser de sete a oito meses; a Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

taxa de reprodução, focada na fertilidade ao parto, no número de crias nascidas por fêmea parida, na habilidade materna auferida pela sobrevivência e no desenvolvimento corporal das crias ao desmame; na precocidade sexual dos indivíduos; na idade ao abate; na quantidade de quilogramas de crias ao desmame, por fêmea exposta ao acasalamento ou, preferencialmente, por unidade de área; no rendimento de carcaça e na qualidade da carne e da pele. Não se pode negligenciar que o abate humanitário, a rastreabilidade e a inocuidade e certificação dos produtos são exigências do mercado consumidor, por consequência, elementos-chaves para a garantia do sucesso do empreendimento (Pineda, 2003). É válido observar que a preferência dos mercados varia entre as regiões, os estados e os países. No entanto, avanços significativos têm sido feitos quanto ao uso de práticas de manejo nas três fases da exploração, particularmente nas de recria e de acabamento, este confinado ou a pasto, e na valorização da análise da sua viabilidade econômica (Barros et al., 1997; 2005; Otto et al., 1997; Siqueira, 2000; Vaconcelos et al., 2000; Barros & Simplício, 2001; Farias, 2003; Wander & Martins, 2004a e b; Cavalcante et al., 2005; Santello et al., 2006; Wander & Barros, 2006; Barros & Lobo, 2007). O retorno econômico do acabamento varia com alguns aspectos. Entre eles, a qualidade e o preço dos insumos, a idade e o peso dos indivíduos ao início e ao fim da terminação, a capacidade do genótipo para ganhar peso, a duração do período de acabamento e o preço que o mercado pode pagar pela carcaça melhor acabada. Ainda, ações positivas vêm sendo postas em práticas no sentido do consórcio entre a pecuária dos pequenos ruminantes e a agricultura, em especial a fruticultura (Guimarães Filho & Soares, 2003; 2006), bem como o uso de vários subprodutos desta na alimentação de caprinos e ovinos, particularmente durante a fase de acabamento. Já se registram ações voltadas para a produção de carnes e peles de caprino e de ovino com selo de qualidade quanto à origem e ao modelo físico de exploração, destacando-se a importância da rastreabilidade para a gestão do processo e a inocuidade e qualidade do produto como elementos fundamentais para a garantia do mercado (Pineda, 2003; Guimarães Filho et al., 2006). No Brasil o preço praticado, por quilo de peso vivo, no âmbito da unidade produtiva, varia dentro e entre as regiões. A demanda interna continua reprimida e o País não atende ao mercado externo, o que significa existir um grande mercado a ser conquistado. Para que o mercado seja conquistado e permaneça estável ou crescente, é imprescindível

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suplemento científico Tabela 6. Defeitos em peles de caprinos e ovinos, numa escala de zero (0) a cinco (5), no Curtume Cobrasil, Parnaíba, Piauí PELE

Defeito

Seca, 3900.

Bexiga

Salgada, 6550.

3

3

Perfuração por espinho

3–4

2–3

Cicatriz

4–5

4–5

Esfola / corte por faca

3–4

3–4

Conservação: Mancha por fermentação

2–3

2–3

Ressecamento

3

0

Ardimento

5

0

Escala: 0 = sem defeito; 5 = alta frequência de defeito. Fonte: Barros, 1994.

que se mantenha a oferta do produto constante, que este seja proveniente de animais jovens e bem acabados, que a carcaça apresente boa conformação e tamanho compatíveis com as exigências de cada mercado e os preços competitivos. Também, os abates devem ser feitos em abatedouros-frigoríficos que tenham fiscalização efetiva da vigilância sanitária. Sistemas de exploração e animais que atendam a essas exigências favorecem o uso de cortes padronizados da carcaça no âmbito de abatedouros-frigoríficos, supermercados e casas de carnes especializadas, aspectos importantes para a apresentação e comercialização do produto. Uma vez mantido constante o padrão de qualidade e respeitada a preferência do cliente, o consumo das carnes caprina e ovina é influenciado principalmente pelo preço do produto, pela renda per capita dos consumidores e pelos preços das carnes concorrentes. Quando se considera a preferência dos consumidores brasileiros e o preço, a carne bovina é a mais consumida e barata, ao passo que, a ovina é a menos consumida e com preço mais elevado (Couto, 2002). A pele de animais das raças ovinas deslanadas e suas cruzas e das caprinas, particularmente das

raças e dos tipos raciais naturalizados do Nordeste e da Anglo-nubiana são muito valorizados por seus atributos de qualidade. Estes favorecem a diversificação de uso pela agroindústria para o fabrico de artefatos finos, como calçados e vestuário. Apesar da importância das peles e de os mercados interno e externo serem compradores, a comercialização do produto no País, com exceção da região Nordeste, ainda recebe pouca atenção. Maximizar a produção de peles sem defeitos e avançar nas etapas de beneficiamento até o estado de semiacabada e acabada, com foco na comercialização e no fabrico de produtos manufaturados, devem ser metas a serem alcançadas. Evidencie-se que as peles são os produtos oriundos da caprinocultura e ovinocultura de corte que mais suportam a agregação de valor ao longo da cadeia produtiva, desde a matériaprima ao couro até o consumidor final. No entanto, um número significativo das peles que chega aos curtumes é impróprio para a agroindústria devido ao número elevado de defeitos. O abate tardio; a exposição dos animais por um período longo à vegetação espinhosa e a cerca de arame farpado;

Tabela 7. Porcentagem de nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K) no esterco Espécie

N

P

K

Bovina

0,50

0,45

0,30

Caprina

0,97

0,65

0,48

Ovina

1,00

0,60

0,35

Galinácea

1,75

0,85

1,25

Suína

1,00

0,30

0,40

Fonte: Vieira, 1984.

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lesões decorrentes da linfadenite caseosa e da sarna demodécica; e os processos arcaicos de abate, esfola, conservação, armazenamento e transporte interferem na qualidade das peles, Tabela 6 (Barros, 1994; Leite & Simplício, 2002). As peles, caprinas e ovinas, juntam, representam menos de um por cento do valor das exportações totais de peles e couros do Brasil (Courobusiness, 2000). O esterco de caprino e ovino é mais rico do que o de bovino em nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), Tabela 7, sendo de fácil aproveitamento e deven-

do ser usado, preferencialmente, após o curtimento. O solo rico em matéria orgânica apresenta maior capacidade de retenção de água e, geralmente, responde melhor à adubação química, aspectos muito importantes para a produção de alimentos para o consumo humano e animal. Em regiões brasileiras onde a fruticultura irrigada e a produção de hortifrutigranjeiros são predominantes, a oferta de esterco não atende a demanda. Essa situação representa mais uma oportunidade de negócio e favorece a comercialização do produto.

Dados dos Autor

Aurino Alves Simplício

Médico Veterinário, CRMV-RN 0463; PhD em Ciência Animal; Ex-Pesquisador da Embrapa; Pesquisador do CNPq/FAPERN/Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN). Endereço para correspondência: Rua dos Tororós, 2.300, Ed. Vernier, Apt. 402 – Lagoa Nova – Natal/RN – CEP 59054-550. E-mail: aa.simplicio@uol.com.br

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Avaliação do teste do antígeno acidificado tamponado em soros tratados com rivanol como teste confirmatório no diagnóstico sorológico da brucelose bovina Evaluation of the rose Bengal test in bovine serum after treatment with rivanol as a confirmatory test for brucellosis diagnosis Resumo O trabalho teve por objetivo avaliar a prova do antígeno acidificado tamponado após tratamento dos soros com rivanol (RIV-AAT), como teste confirmatório no diagnóstico sorológico da brucelose bovina. Foram selecionadas 1.061 amostras de soros bovinos, previamente analisadas pelos testes preconizados pelo Programa Nacional de Controle e Erradicação de Brucelose e Tuberculose (PNCEBT): como teste de triagem, a prova do antígeno acidificado tamponado (AAT), e como testes confirmatórios, a combinação das provas de soroaglutinação lenta e 2-mercaptoetanol (SAL+ME), e a reação de fixação de complemento (RFC) foram utilizados. Os dados foram analisados pelo indicador kappa, adotando-se como ponto-de-corte o título 25 no ME e 4 na RFC. O RIV-AAT apresentou concordância regular (kappa = 0,53) com o AAT e boa com os testes confirmatórios (kappa: ME = 0,67; SAL+ME = 0,66; RFC = 0,76). A comparação entre os resultados do RIV-AAT e a condição verdadeira do animal, estabelecida pela combinação dos resultados das provas AAT, SAL+ME e RFC, resultou em uma sensibilidade relativa de 76,5%, com intervalo de confiança (95%) de 72,7% a 80,3%, e especificidade relativa de 100%. Conclui-se que o RIV-AAT pode ser utilizado como teste confirmatório no diagnóstico sorológico da brucelose bovina, sendo os animais com resultado positivo considerados infectados e aqueles com resultado negativo submetidos a um dos dois testes confirmatórios adotados pelo PNCEBT. Com isso, haverá barateamento do diagnóstico, maior rapidez na obtenção do resultado e, portanto, na adoção da medida sanitária para a redução da taxa de prevalência da infecção, que é o objetivo do Programa. Palavras-chave: brucelose bovina, rivanol, diagnóstico sorológico, PNCEBT

Abstract The purpose of the investigation was to evaluate the rose Bengal test in bovine serum after treatment with rivanol (RBT-RIV) as a confirmatory test for brucellosis diagnosis. Serum samples from 1,061 bovine were analyzed by serological diagnostic techniques adopted by the Brazilian Program for Animal Brucellosis and Tuberculosis Control and Eradication: as screening test, the rose Bengal test (RBT), and as confirmatory tests, the 2-mercaptoethanol plus standard tube agglutination test (STAT+ME), or the complement fixation test (CFT) were used. RBT-RIV showed a moderate agreement (kappa = 0.53) with RBT, and substantial agreement with the confirmatory tests (kappa: ME = 0.67; STAT+ME = 0.66; CFT = 0.76). Comparing the RBT-RIV results with the true condition of the animals, established by combining the results of RBT, STAT+ME and CFT, the relative sensitivity was 76.5%, with a 95% confidence interval from 72,7% to 80.3%, and relative specificity of 100%. The results suggested that the RBT-RIV is suitable to be used as a confirmatory test for brucellosis serological diagnosis: an animal testing positive should be classified as infected, and an animal testing negative should be further tested by CFT or STAT+ME. This option could provide a cheap and quick diagnosis, so that a quick sanitation of the heard could be achieved, leading to the reduction of the brucellosis prevalence rate, the main goal of the program. Keywords: bovine brucellosis, rivanol, serodiagnosis, PNCEBT

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suplemento científico INTRODUÇÃO

Diversos países desenvolvidos conseguiram, após a adoção de rigorosos programas sanitários, erradicar a brucelose bovina, mas, na maioria dos países, a infecção continua a ocorrer de forma endêmica, como é o caso do Brasil (Poester et al., 2002). Com a implantação do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT), em 2001, o Brasil deu um importante passo para o controle e posterior erradicação, porém a adesão dos criadores ao sistema de certificação de propriedades livres e monitoradas está ocorrendo de maneira mais lenta do que seria desejável. Como ocorre em programas adotados em outros países, um dos pilares do programa brasileiro é a identificação das fontes de infecção com base em testes sorológicos. Uma ampla variedade desses testes está disponível para essa finalidade (Nielsen, 2002), todos com vantagens e desvantagens. O PNCEBT optou pelos menos sofisticados e mais acessíveis. O Programa prevê que o diagnóstico da brucelose bovina e bubalina deve ser feito usando o teste do antígeno acidificado tamponado (AAT) como triagem. Os animais com resultado positivo podem ser classificados como infectados ou, então, podem ser submetidos a um teste confirmatório, situação para a qual existem duas opções: a combinação das provas de soroaglutinação lenta e do 2-mercaptoetanol (SAL+ME) ou a reação de fixação de complemento (RFC). Ambas as opções para o teste confirmatório apresentam inconvenientes que dificultam sua realização, limitando o número de laboratórios envolvidos nesse diagnóstico, principalmente quando se leva em consideração o tamanho do rebanho brasileiro e, portanto, o grande número de animais a serem examinados. Diante disso, e considerando que tal tipo de estudo não é encontrado na literatura, este trabalho se propôs a avaliar o desempenho da prova do antígeno acidificado tamponado após tratamento dos soros com rivanol (RIV-AAT) como teste confirmatório para o diagnóstico sorológico da brucelose bovina, alternativa que poderia proporcionar uma opção rápida, barata e de fácil execução para o teste de animais com resultado positivo na prova de triagem.

MATERIAL E MÉTODOS Amostras Foram analisadas 1.061 amostras de soros sanguíneos de bovinos adultos, de diversas raças,

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ambos os sexos e de diferentes rebanhos. Essas amostras foram submetidas ao teste do antígeno acidificado tamponado (AAT), também conhecido como rosa de Bengala, ao teste do 2-mercaptoetanol (ME), ao teste de soroaglutinação lenta em tubos (SAL) e à reação de fixação de complemento (RFC). Após tratamento com rivanol, foram novamente submetidas ao teste do antígeno acidificado tamponado (RIV-AAT).

Testes sorológicos Os testes AAT, ME e SAL foram realizados conforme descrito no Manual Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (Brasil 2006). Para a interpretação dos resultados da combinação SAL+ME, conforme prevê o PNCEBT, adotou-se a Tabela para animais não vacinados (Brasil, 2004a). Para a RFC, empregou-se a microtécnica com incubação a 37ºC nas duas fases da reação, recomendada por Alton et al. (1988), utilizando antígeno de célula total de Brucella abortus amostra 1119/3. Como complemento foi utilizado soro de cobaia, na dose de 5 unidades hemolíticas 50%, titulado conforme a técnica descrita por Alton et al. (1988). Foi empregado sistema hemolítico formado por hemácias de carneiro sensibilizadas com hemolisina (anticorpo de coelho contra hemácia de ovino) titulada conforme a recomendação de Alton et al. (1988).

Prova do antígeno acidificado tamponado em soros tratados com rivanol Foi utilizado antígeno comercial produzido com Brucella abortus amostra 1119/3, pelo Instituto Biológico de São Paulo, preparado de acordo com a técnica recomendada pelo Ministério da Agricultura, corado com rosa de Bengala (Brasil 2004b). O teste foi realizado com o antígeno na concentração padrão (8,0% de volume celular) e também na concentração de 4%. Para a obtenção do antígeno na concentração de 4% de volume celular, o antígeno padrão foi diluído, em partes iguais, em solução preparada com 9 mL de ácido láctico (H6C3O3), 2 g de hidróxido de sódio, completando-se o volume de 100mL com solução salina fenolada (NaCl 0,85% e fenol 0,5%), ficando o pH em 3,65 (Figura 1). A solução de rivanol (6,9-diamino-2-ethoxyacridine lactate) foi preparada de acordo com a descrição do Centro Panamericano de Zoonosis Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


Fotos: Arquivo do Autor

Figura 1. Frasco pequeno com rótulo contendo o antígeno Brucella abortus amostra 1119/3 (8,0% de volume celular). O conteúdo do frasco pequeno sem rótulo é o antígeno diluído na concentração de 4%. Solução diluente depositada no frasco maior

Figura 2. Embalagem comercial do rivanol em pó (6,9-diamino-2-ethoxyacridine lactate). Ao lado, frasco embalado com papel alumínio contendo rivanol na concentração de 1%

Figura 3. Tubo de centrífuga com 200 μL da amostra de soro e 200 μL da solução de rivanol 1%, após homogeneização manual e descanso à temperatura ambiente

Figura 4 . Centrifugação dos tubos a 1.000 G durante 5 a 10 minutos

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(1982), na concentração de 1%, em água destilada (Figura 2). Para o tratamento dos soros com rivanol, colocavam-se, em um tubo de centrífuga, 200 μL da amostra de soro e 200 μL da solução de rivanol 1%. Agitava-se o tubo para promover a homogeneização e deixava-se em descanso à temperatura ambiente por 10 a 60 minutos (Figura 3). Centrifugava-se a mistura a 1.000 G durante 5 a 10 minutos (Figura 4) e, após esse tratamento, o sobrenadante (Figura 5) era submetido ao AAT (Figuras 6, 7 e 8).

Análise dos dados A concordância entre os testes foi obtida com base no coeficiente Kappa, o qual foi interpretado de acordo com os critérios adotados por Pereira (2000). Para a obtenção da sensibilidade e da especificidade relativas do RIV-AAT, utilizou-se a combinação dos resultados da prova padrão do AAT, da RFC e da SAL+ME para determinar a condição verdadeira dos animais. Conforme as recomendações de Martin et al. (1987), os animais com resultado positivo nos três testes que serviram de parâmetro foram considerados infectados, aqueles com resultado negativo nos três testes foram considerados não infectados e aqueles com resultados divergentes entre os três testes padrões foram desconsiderados. O intervalo de confiança da sensibilidade foi calculado de acordo com a metodologia mencionada por Thorner & Remein (1961).

RESULTADOS Dos 1.061 soros sanguíneos analisados, 644 (60,7%) apresentaram resultado positivo no AAT e 417 (39,3%) apresentaram resultado negativo, ao passo que 375 (35,3%) apresentaram resultado positivo no RIV-AAT e 686 (64,7%) apresentaram resultado negativo. Das 644 amostras positivas no AAT, 375 (58,2%) também apresentaram resultado positivo no RIV-AAT, e 269 (41,8%) apresentaram resultado negativo. Já as 417 amostras negativas no AAT foram todas negativas também no RIV-AAT (Tabela 1). Nessa situação, observouse uma concordância regular (kappa = 0,53).

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suplemento científico TABELA 1. Comparação entre os resultados obtidos por meio do teste do antígeno acidificado tamponado em soros tratados com rivanol (RIV-AAT) e do teste do antígeno acidificado tamponado (AAT) para diagnóstico sorológico de brucelose em bovinos RIV-AAT

AAT Positivo

Negativo

Total

Positivo

375

0

375

Negativo

269

417

686

Total

644

417

1.061

K = 0,53 Dos 375 soros positivos no RIV-AAT, 3 (0,8%) não apresentaram título na RFC, ao passo que os outros 372 (99,2%) apresentaram título a partir de 4. Dos 686 soros negativos no RIV-AAT, 483 (70,4%) não apresentaram título na RFC, 79 (11,5%) apresentaram título 2, e os demais 124 (18,1%) apresentaram títulos variando de 4 a 64. Quando as provas de RFC e RIV-AAT foram comparadas (Tabela 2), encontrou-se um valor de kappa igual a 0,76, caracterizando uma concordância boa entre os dois testes. Quando comparados os resultados do RIV-AAT com os do ME, verificou-se que, dos 543 soros com resultado positivo no ME, 371 (68,3%) apresentaram também resultado positivo no RIV-AAT e 172 (31,7%) apresentaram resultado negativo. Das 518 amostras negativas no ME, 4 (0,8%) apresentaram resultado positivo no RIV-AAT e 514 (99,2%) apresentaram resultado negativo. Das 686 amostras negativas no RIV-AAT, 172 (25,1%) apresentaram resultado positivo no ME, com títulos que variaram de 25 a 200. Adotando-se como ponto de corte o título 25 no ME, constata-se a ocorrência de 371 amostras com resultado positivo em ambos os testes e 514 amostras com resultado negativo em ambos, o que significa uma proporção de 83,4% de resultados concordantes, resultando em kappa igual a 0,67, ou seja, concordância boa entre os dois testes (Tabela 3).

Das 545 amostras com resultado positivo na combinação SAL+ME, 371 (68,1%) também apresentaram resultado positivo no RIV-AAT e 174 (31,9%) apresentaram resultado negativo. Das 61 amostras que apresentaram resultado inconclusivo na combinação SAL+ME, 58 (95,1%) apresentaram resultado negativo no RIV-AAT e 3 (4,9%) apresentaram resultado positivo. Das 455 amostras com resultado negativo na combinação, apenas 1 (0,2%) apresentou resultado positivo no RIV-AAT, e 454 (99,8%) apresentaram resultado negativo. Excluindo os resultados inconclusivos, observa-se que 371 amostras apresentaram resultado positivo em ambas as provas e 454 apresentaram resultado negativo nas duas provas, o que significa uma proporção de 82,5% de resultados concordantes, resultando em kappa igual a 0,66, ou seja, concordância boa (Tabela 4). A comparação entre os resultados obtidos pelo RIV-AAT e a condição verdadeira do animal, estabelecida pela combinação dos resultados das provas AAT, SAL+ME e RFC, encontra-se no Tabela 5. Observa-se que, entre os 857 soros, o RIV-AAT apresentou 744 (86,8%) resultados condizentes com a condição verdadeira. Dos 481 animais classificados como infectados, 368 apresentaram resultado positivo no RIV-AAT, o que significa uma sensibilidade relativa de 76,5%, com intervalo de

TABELA 2. Comparação entre os resultados obtidos por meio do teste do antígeno acidificado tamponado em soros tratados com rivanol (RIV-AAT) e da reação de fixação de complemento (RFC) para diagnóstico sorológico de brucelose em bovinos RIV-AAT

RFC (≥ 4) Positivo

Negativo

Total

Positivo

372

3

375

Negativo

124

562

686

Total

496

565

1.061

K = 0,76

40

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


Figura 5. Após centrifugação, o material utilizado para a realização da prova do antígeno acidificado tamponado (AAT) AAT será o sobrenadante

confiança variando de 72,7% a 80,3%, com 95% de probabilidade. Todos os animais classificados como livres da infecção apresentaram resultado negativo no RIV-AAT, o que indica uma especificidade relativa de 100%. Uma vez que todos os animais com resultados positivos no RIV-AAT foram classificados como infectados, o valor preditivo positivo do teste foi de 100%, ao passo que o valor preditivo negativo foi de 76,9%, ou seja, das 489 amostras com resultado negativo no RIV-AAT, 376 foram classificadas como não infectadas.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Figura 6. Realização da prova do antígeno acidificado tamponado (AAT) com soros tratados com rivanol reagindo com antígenos na concentração a 4% e 8%

Figura 7. Homogeneização e movimentos rotatórios durante 4 minutos para a realização da prova do antígeno acidificado tamponado (AAT) em soros tratados com rivanol reagindo com antígenos na concentração a 4% e 8% A

B

C

D

Figura 8. Resultado negativo (A), com ausência de aglutinações, e resultados positivos (B,C e D), com presença de aglutinações

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

O teste que está sendo avaliado neste trabalho (RIV-AAT) apresentou concordância regular com o teste de triagem (kappa = 0,53) e concordância boa com os testes confirmatórios. Na comparação com a combinação SAL+ME, o kappa foi 0,66 (Tabela 4); na comparação com o ME isoladamente, o kappa foi 0,67 (Tabela 3); e na comparação com a RFC o coeficiente kappa foi 0,76 (Tabela 2), ou seja, o RIV-AAT apresentou melhor concordância com a RFC. A menor concordância com o teste de triagem está relacionada com a elevada especificidade do RIV-AAT. Na comparação com os testes confirmatórios, obser vou-se que, geralmente, títulos elevados na RFC ou no ME estão associados com resultado positivo no RIV-AAT. Constatou-se que apenas 3 dos 375 soros com resultado positivo no RIV-AAT apresentaram resultado negativo na RFC, mas deve-se destacar que esses 3 soros apresentaram resultado positivo e com títulos altos (200I, ≥400, ≥400) no teste do ME, sugerindo que se trata de soro de animal infectado e que, provavelmente, o resultado da RFC foi falso-negativo. Da mesma forma, observou-se que apenas 4 soros entre 375 positivos no RIV-AAT apresentaram resultado negativo no ME, mas esses soros apresentaram resultado positivo na RFC (1 com título 8, 2 com título 64 e 1 com título ≥128), sugerindo que se trata de resultado falso-negativo no ME, e não resultado falso-positivo no RIV-AAT.

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suplemento científico TABELA 3. Comparação entre os resultados obtidos por meio dos testes do 2- mercaptoetanol (2-Me) e antígeno acidificado tamponado em soros tratados com rivanol (AAT-RIV) para diagnóstico sorológico de brucelose em bovinos RIV-AAT

ME Positivo

Negativo

Total

Positivo

371

4

375

Negativo

172

514

686

Total

543

518

1.061

K = 0,67 A maneira ideal de determinar a sensibilidade de um teste de diagnóstico sorológico da brucelose seria pela análise de amostras de animais dos quais tivesse sido isolado o agente etiológico. Entretanto esse material é de difícil obtenção, e a alternativa mais prática consiste na determinação da sensibilidade relativa, na qual se usam, para estabelecer a condição de infectado, procedimentos biologicamente similares ao do teste que está sendo avaliado. Não se deve, porém, ignorar que essa metodologia apresenta inconvenientes, pois resultado falso-negativo em um dos testes usados como parâmetro acarreta descarte de amostra de animal infectado, restando apenas as amostras com resultado positivo em todos os testes padrões, o que pode acarretar distorções na determinação da sensibilidade do teste que está sendo avaliado. Da mesma forma, para a determinação da especificidade, o ideal seria o uso de amostras provenientes de rebanhos livres da infecção, localizados em áreas onde a brucelose esteja erradicada. Na impossibilidade de obtenção desse material, a opção é determinar a especificidade relativa, usando soros com resultado negativo nos testes que serviram de padrão, o que também pode acarretar distorções. Os resultados do presente trabalho apontaram uma

sensibilidade relativa do RIV-AAT de 76,5% (72,7% a 80,3%, com 95% de confiança) e uma especificidade relativa de 100%. A alta especificidade e a sensibilidade comparativamente mais baixa podem ser explicadas pelo fato de a ação do rivanol tornar o teste mais específico pela precipitação de imunoglobulinas da classe IgM, além de que o baixo pH do antígeno também torna o teste de aglutinação mais específico, conforme observaram Rose & Roepke (1957). Uma vez que não há na literatura outro estudo avaliando o AAT após tratamento do soro com rivanol (RIV-AAT), não há como comparar a sensibilidade e a especificidade observadas no presente trabalho. Comparando os resultados com aqueles obtidos com o teste do rivanol, que é o teste pela prova de soroaglutinação rápida em placa após o tratamento com esse produto, pode-se deduzir que o RIV-AAT apresentou menor sensibilidade e maior especificidade, já que Reyes (1996), citado por Aparicio et al. (2000), verificou sensibilidade de 83% e especificidade de 93% para o teste do rivanol. Já Nicoletti & Tanya (1993) observaram, para o teste do rivanol, sensibilidade variando de 84,9% a 98,6% e especificidade variando de 28,5% a 61,8%. Sabe-se que a concentração do antígeno pode influenciar a sensibilidade e a especificidade de

TABELA 4. Comparação entre os resultados obtidos por meio do teste do antígeno acidificado tamponado em soros tratados com rivanol (RIV-AAT) e da combinação dos testes de soroaglutinação lenta e 2-mercaptoetanol (SAL+ME), desconsiderando os inconclusivos, para diagnóstico sorológico de brucelose em bovinos RIV-AAT

Positivo

Negativo

Total

Positivo

371

1

372

Negativo

174

454

628

545

455

1.000

Total K = 0,66

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SAL+ME

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


TABELA 5. Resultados do teste do antígeno acidificado tamponado em soros tratados com rivanol (RIV-AAT) em comparação com a condição verdadeira do animal (infectado ou nãoinfectado), determinada pela combinação dos resultados dos testes do antígeno acidificado tamponado (AAT), soroaglutinação lenta + 2-mercaptoetanol (SAL+ME) e reação de fixação de complemento (RFC), para diagnóstico sorológico de brucelose em bovinos RIV-AAT

AAT/SAL+ME/RFC Infectado

Não infectado

Total

Positivo

368

0

368

Negativo

113

376

489

Total

481

376

857

Sensibilidade relativa = (368 / 481) x 100 = 76,5% {IC 95% = 72,7% ¾ 80,3%} Especificidade relativa = (376 / 376) x 100 % = 100,0% um teste sorológico. No AAT utiliza-se antígeno na concentração de 8% de volume celular. Considerando que no RIV-AAT o soro é tratado com igual volume da solução de rivanol, o soro é testado na metade de sua concentração original. Por isso,

o teste foi também realizado com o antígeno na metade de concentração padrão. No entanto os resultados foram exatamente os mesmos tanto com o antígeno na concentração de 8% quanto na concentração de 4% de volume celular.

AAT Teste de Triagem

SAL +2 - ME

RFC

SACRIFÍCIO

Testes confirmatórios

SACRIFÍCIO SAL +2 - ME

Indicam ações obrigatórias Indicam alternativas de decisão Indicam possibilidades de resultados

AAT: Teste do antígeno acidificado tamponado SAL+2-Me: Combinação das provas de soroaglutinação lenta e 2-Mercaptoetanol RFC: Reação de fixação de complemento Figura 9. Uso das provas sorológicas para diagnóstico da brucelose bovina conforme prevê o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (BRASIL, 2006) Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

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suplemento científico

AAT Teste de Triagem

SACRIFÍCIO

RCF

ATT - RIV

RCF

SAL +2 - ME

SACRIFÍCIO

SACRIFÍCIO

Testes confirmatórios

SAL +2 - ME

Indicam ações obrigatórias Indicam alternativas de decisão Indicam possibilidades de resultados

AAT: Teste do antígeno acidificado tamponado SAL+2-Me: Combinação das provas de soroaglutinação lenta e 2-Mercaptoetanol RFC: Reação de fixação de complemento AAT-RIV: Prova do antígeno acidificado tamponado em soros tratados com rivanol Figura 10. Proposta da inclusão da prova do antígeno acidificado tamponado em soros tratados com rivanol (AAT-RIV) no diagnóstico da brucelose bovina

Os resultados observados no presente trabalho mostraram que o RIV-AAT é um teste altamente específico e que pode fornecer alguma contribuição ao diagnóstico sorológico da brucelose bovina. Essa contribuição consistiria na sua aplicação como prova confirmatória, em soros positivos no teste de triagem, porém antes de serem submetidos aos testes confirmatórios já adotados pelo PNCEBT. Pelo esquema atualmente adotado pelo Programa, os soros com resultado positivo no teste de triagem podem ser submetidos ao diagnóstico confirmatório pela combinação SAL+ME ou pela RFC, como ilustra a Figura 9. Entretanto esses testes são laboriosos, complexos e demorados, o que retarda a obtenção do resultado final e limita o número de laboratórios que podem realizar o diagnóstico confirmatório. A inserção do RIV-AAT no esquema de diagnóstico constituiria uma opção rápida e de baixo custo

44

para a confirmação dos resultados positivos no teste de triagem, que poderia até ser realizada pelo Veterinário habilitado, sem maiores ne cessidades de recursos laboratoriais, exigindo, em relação à infraestrutura de que ele já dispõe, apenas o acréscimo de uma centrífuga. O RIV-AAT poderia ser realizado nas amostras positivas no AAT, e os resultados positivos no RIV-AAT poderiam ser considerados indicadores de infecção, uma vez que o resultado positivo nesse teste é acompanhado de resultado positivo em pelo menos um dos testes confirmatórios adotados pelo PNCEBT. Dessa forma, não haveria necessidade de submeter essas amostras à RFC ou à combinação SAL+ME, em decorrência da elevada especificidade do teste. Já amostras positivas no AAT e negativas no RIV-AAT seriam, então, submetidas a um dos dois testes confirmatórios, para a conclusão do diagnóstico, conforme ilustra a Figura 10. Com Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


isso, haveria barateamento do diagnóstico, maior rapidez na obtenção do resultado e, portanto, na adoção da medida sanitária para a redução da taxa de prevalência da infecção, que é o objetivo do Programa.

AGRADECIMENTOS

À Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo auxílio financeiro ao projeto (processo nº 2006/59673-0), e pela bolsa de mestrado concedida (Processo nº 2006/51940-0).

Dados dos Autores

Raphaella Barbosa Meirelles-Bartoli

Médica Veterinária, CRMV-SP 19.398; Doutoranda do Programa de Medicina Veterinária (Medicina Veterinária Preventiva) – Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal da FCAV/ Unesp – Campus Jaboticabal.

Endereço para correspondência: Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane Km 5 – Jaboticabal/SP – CEP 14884-900. E-mail: raphaellabrasil@hotmail.com

Luis Antonio Mathias

Médico Veterinário, CRMV - SP 01943 – Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal da FCAV/Unesp – Campus Jaboticabal.

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45


suplemento científico

Ocorrência de dois casos de queilosquise ligados à endogamia em bezerros da raça Girolando Occurrence of two cases of cheiloschisis related inbreeding in calf of Girolando breed Resumo Foi observada ocorrência de dois casos de queilosquise em bezerros, um macho e uma fêmea, decorrente do cruzamento consanguíneo entre um reprodutor da raça Gir e matrizes (filha e neta) da raça Girolando. Foram calculados os coeficientes de endogamias de ambos indivíduos, que resultou em índices elevados, obtendo 12,5% para o bezerro e 25% para a bezerra. As patologias encontradas nos indivíduos resultaram em desenvolvimento de uma fissura lábio-naso-palatal unilateral completa no lado esquerdo do bezerro e unilateral completa no lado direito da bezerra. As alterações patológicas compreenderam na formação de fissura com alterações ósseas no bezerro com hipoplasia na parte rostral dos ossos maxilar e incisivo, com hipertrofia da cartilagem nasal direita e assimetria severa da narina. Na bezerra, as alterações ósseas foram mais discretas, assim como a assimetria da narina. Portanto, o coeficiente de endogamia no presente estudo ultrapassou o valor de 6,25%, máximo recomendado pela literatura científica, o que aumentou as chances de expressão de genes recessivos deletérios, podendo ter originado os presentes quadros clínicos. Palavras-chave: queilosquise, endogamia, anomalias craniofaciais

Abstract Was observed occurrence of two cases of cheiloschisis in calf, a male and female, caused by incest crossing between reproducer of Gir breed and females breeder (daughter and granddaughter) of Girolando breed. Were calculated inbreeding coefficient of two individuals, where result in high index, obtain 12.5% to calf male and 25% to calf female. The pathology found in individuals result in development of cleft lip, jaw and palate complete unilateral in left cavity in calf male and complete unilateral in right cavity in calf female. Pathological alterations comprehend in formation of cleft with bone alterations in calf male with hypoplasia in rostral part of maxilar bone and incisive, with hypertrophy of right nasal cartilage and severe asymmetry of nostril. In case of calf female, such bone alterations were less severe. Perhaps, inbreeding coefficient in present work to exceed the limits of 6.25%, maximum recommended in scientific papers, what increase the opportunity of genes deleterious expression, afford be raised clinic cases. Keywords: cheiloschisis, inbreeding, craniofacial abnormality

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Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


INTRODUÇÃO

Queilosquise, fissura labiopalatal, fenda palatal primária ou, simplesmente, lábio leporino é uma abertura na região do lábio ou palato, ocasionada pelo não fechamento dessas estruturas no período de gestação (Cheville, 2004). O termo lábio leporino refere-se à semelhança com o focinho fendido de uma lebre (Jones et al., 2000). As fissuras podem ser unilaterais (quando atingem somente um lado do lábio) ou bilaterais (quando atingem os dois lados do lábio), completas (quando atingem o lábio e o palato) ou incompletas (quando atingem somente uma dessas estruturas), além de atípicas, variando desde as formas mais leves, como a cicatriz labial, até formas mais graves, como as fissuras amplas de lábio e palato (Spranger et al., 1982). As fissuras labiopalatais também podem se associar a outras más-formações, sejam elas de face ou de outras regiões do corpo (Cunha et al., 2004). As fissuras de palato deixam o canal oral em contato com o nasal, podendo causar complicações respiratórias como sinusite, rinites ou broncopneumonias (Jones et al., 2000). A origem da maioria das fendas labiais e palatinas resulta de fatores múltiplos, genéticos e não genéticos (como inanição, infecções neonatais, intoxicações etc.), cada um deles pode causar perturbações no desenvolvimento embrionário (Maritomo et al., 1999). A fissura resultante de má-formação congênita decorrente de falhas no desenvolvimento ou na maturação dos processos embrionários geralmente ocorre entre a quarta e a oitava semana de vida intrauterina, período no qual ocorre a formação de estruturas do organismo como cérebro, olhos, órgãos digestivos, língua e vasos sanguíneos (Garcia e Garcia, 2006). Por volta da sexta semana do desenvolvimento embrionário, as estruturas faciais externas completam sua fusão e as internas se completarão até o final da oitava semana (Jones et al., 2000). Em gado bovino, existem poucos relatos de queilosquise, o que dificulta estimar a incidência de casos (Greene et al., 1974; Leipold et al., 1983; Szabo, 1989; Moritomo et al., 1999; Tammen e Tammen, 2007). A endogamia ou consanguinidade resulta do acasalamento, intencional ou não, de animais aparentados, sendo um sistema de acasalamento capaz de alterar a constituição genética da população (Muniz et al., 2008). Isso se dá por meio do aumento da homozigose e, consequentemente, da diminuição da heterozigose, alterando, assim, a frequência genotípica, mas não as frequências gênicas (Queiroz et al., 2000). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

Na primeira metade deste século, a endogamia foi utilizada, juntamente com a seleção, visando aumentar a uniformidade em algumas raças bovinas (Muniz et al., 2008). Segundo Pirchner (1985), os criadores reconheceram tanto os perigos da endogamia na saúde e no desempenho da progênie como também suas vantagens na consolidação de certas características, e ainda a imprevisibilidade, que parece ser inerente ao processo da endogamia. Apesar de seus riscos, a endogamia tem sido bastante usada por criadores de animais, principalmente entre criadores de elite, com o objetivo de assegurar uniformidade racial e fixação de certas características em linhagens cujos produtos têm maior aceitação comercial (Queiroz et al., 2000). Entretanto, a endogamia acima de certos níveis tem sido registrada como deterioradora do rebanho, do vigor e do crescimento dos animais, ocasionando, ainda, diminuição no desempenho reprodutivo (Pirlea e Ilea, 1970). No Brasil, Penna (1990), Amaral et al. (1991) e Queiroz et al. (2000) relataram efeito significativo e adverso da endogamia sobre características de importância econômica de bovinos das raças Tabapuã, Caracu e Gir, respectivamente. Entretanto, não foram observados casos de queilosquise nas referências pesquisadas nesses estudos. O objetivo deste trabalho foi descrever a sintomatologia clínica e as alterações morfológicas de dois casos de queilosquise, observando as variações patológicas e relacionando-as com o grau de consanguinidade envolvido.

MATERIAL E MÉTODOS A patologia afetou dois animais da raça Girolando, um macho (Bezerro A) e uma fêmea (Bezerro B), provenientes de um cruzamento consanguíneo (Figura 1). Acasalamento acidental de um touro reprodutor da raça Gir com uma filha e uma neta pertencentes ao rebanho leiteiro do Instituto Federal de Ensino Tecnológico Norte de Minas – Campus Salinas (Coordenadas Geográficas 16º10’19” S e 42º17’33” W). A bezerra nasceu no dia 19 de julho de 2008 com grau de sangue 25/32 GL/HO (Gir Leiteiro/Holandês), enquanto o bezerro nasceu no dia 14 de agosto, do mesmo ano, com grau de sangue 39/64 GL/HO, por meio de parto normal, sem intervenção ou assistência. As vacas foram alimentadas no pré-parto com ração balanceada, sal mineral e água ad libitum. Foi calculado o coeficiente de endogamia (F) dos dois indivíduos, pela fórmula de Wright (1922): Fx =

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suplemento científico I

1

2

1

III

3

2

1

II

3

B

A

IV Macho

Fêmea

Macho Afetado

Fêmea Afetada

Figura 1. Representação esquemática da árvore genealógica dos animais com queilosquise

S(0,5)n+n’+1 (1+FA), na qual Fx é o coeficiente de endogamia do indivíduo X; n e n’ é o número de gerações nas linhas através das quais o pai e a mãe são relacionados (parentes); FA é o coeficiente de endogamia do ascendente comum; S indica que os resultados devem ser somados, depois de ter sido computada, separadamente, cada “passagem” ou ligação de parentesco entre pai e mãe. Os animais foram avaliados por exames físicos com descrição das alterações patológicas. O bezerro foi submetido a uma intervenção cirúrgica corretiva, no dia 30 de setembro de 2008, por apresentar sintomatologia de complicações respiratórias (estertor úmido e secreção nasal), vindo a óbito no dia 13 de outubro de 2008.

dos ossos maxilar e incisivo esquerdo, hipertrofia da cartilagem nasal direita e assimetria severa da narina. Na bezerra, as alterações ósseas foram mais discretas, e a assimetria da narina foi menos severa. Tais alterações patológicas estão de acordo com os achados de Moritomo et al. (1999). O cálculo do coeficiente de endogamia evidenciou um índice de 12,5% no bezerro com queilosquise, enquanto o coeficiente para a bezerra resultou em 25%. Esses valores foram muito elevados, visto que o cruzamento endogâmico máximo permitido é de até 6,5%, de acordo com Frank (1997), a partir do qual se esperacomprometimento dos desempenhos reprodutivo e produtivo dos animais. Algumas anomalias genéticas que ocorrem em bovinos relacionadas com endogamia são: acondroplasia, agnatia, agenesia atingindo dois ou mais membros defeituosos, prognatismo, hérnia cerebral, espasmos letais congênitos, catarata congênita, membros curvos, epilepsia, lábio leporino, alopecia com ausência total ou parcial dos pelos, hidrocefalia, hipoplasia de ovário ou de testículo, espinha curta, hérnia umbilical, cauda torcida, entre outras, sendo várias delas letais (Jones et al., 2000). Arquivo do Autor

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram diagnosticados dois casos de queilosquise, com fendas unilaterais, no lábio superior esquerdo no bezerro e direito na bezerra. As duas fendas resultaram na falha da junção do pré-maxilar e maxilar, sendo ambas completas, associadas com a formação de fendas do processo alveolar e palato. As fendas causaram dificuldade no aleitamento natural, sendo necessário o uso de mamadeiras adaptadas, conforme descrições de Bowman et al. (1982). No exame clínico e procedimento cirúrgico no bezerro, foram observadas formação de fissura com alterações ósseas com hipoplasia na parte rostral

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Bezerros com lábio leporino

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


Segundo Smith et al. (1998), a consanguinidade não cria nenhum gene deletério na população, o que ocorre, de fato, é que a endogamia leva a um aumento de pares de genes em homozigose, e muitas anomalias congênitas se manifestam somente em homozigose recessiva.

CONCLUSÃO

Recomenda-se evitar os acasalamentos endogâmicos intencionais e o monitoramento dos acasalamentos, a fim de manter um menor coeficiente de endogamia, buscando-se diminuir a incidência de anomalias genéticas.

Dados dos Autores

Wesley Antunes Meireles

Médico Veterinário, CRMV-MG 5754; Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico – Instituto Federal do Norte de Minas Gerais – Campus Salinas; Doutorando em Animais Silvestres pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo. Endereço para correspondência: Fazenda Varginha, Rodovia Salinas-Taiobeiras, km 2 – Salinas/MG – CEP 39560-000. E-mail: wesley.meireles@usp.br

Charles Bernardo Buteri

Médico Veterinário, CRMV-MG 3177; Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico – Instituto Federal do Norte de Minas Gerais. E-mail: charles@eafsalinas.gov.br

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suplemento científico

FATORES LIMITANTES AO ESTUDO DA DINÂMICA FOLICULAR EM OVELHAS STUDY OF FOLLICULAR DYNAMICS IN EWES: LIMITING FACTORS Resumo O Brasil é um país com franco potencial para despontar como um dos maiores produtores de carne ovina do mundo. O estado de São Paulo está despertando para importância dessa atividade pecuária. Para que se consiga alcançar altos graus de produção nessa espécie é necessário o domínio de biotécnicas da reprodução que visem aperfeiçoar sua produtividade. Portanto, o conhecimento e controle da dinâmica folicular em ovelhas são essenciais na aplicação das biotecnologias correlacionadas como superovulação, sincronização ou indução de estro. Esta revisão tem como objetivo apresentar o padrão de crescimento folicular até o desencadeamento da ovulação e os principais fatores que interferem no estudo dos eventos ovarianos que acontecem na ocasião do desenvolvimento folicular e posterior ovulação. Palavras-chave: ovelhas, dinâmica folicular, monitoramento ovariano

Abstract Brazil is prone to be one of the biggest ovine meat producers due to its frank potential. The state of São Paulo is wakening for the importance of such agricultural activity. And in order to reach the highest levels of production of this species it is necessary to excel the knowledge of reproduction biotechnology regarding the ovine. Thus, knowing and controlling the ewe’s follicular dynamics are essential to understand how and where to act in different moments of the estrus cycle and select the most appropriate biotechnology to be used such as superovulation, synchronization, or estrus induction. This review aims at presenting the standard follicle growth until ovulation takes place, and displaying the factors that may interfere in the follicle development and ovulation. Keywords: ewes, follicular dynamics, ovarian monitoring

INTRODUÇÃO

A exploração da ovinocultura racional em sintonia com os aspectos agroecológico, econômico e social, tendo como foco o mercado real e potencial brasileiro, representa uma excelente alternativa para os diferentes ecossistemas existentes em nosso país (Simplício et al., 2003). Nas últimas décadas, a ovinocultura brasileira tem passado por grandes modificações em sua cadeia produtiva, devido à notável expansão dos mercados interno e externo (Leite, 2000). Atual-

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mente, o país conta com efetivo de 17.105.572 ovinos, sendo a região Sudeste zona de alto potencial na produção de carnes dessa espécie, devido ao elevado crescimento do número de animais e ao alto poder de consumo por parte da sua população (Anualpec, 2006). Para o desenvolvimento e manipulação de novos protocolos de superovulação, sincronização e indução de estro, é pré-requisito indispensável o entendimento dos eventos controladores da dinâmica folicular e as interações entre as mudanças Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


endócrinas e morfológicas do ovário nas ovelhas. A realização de novos estudos dos eventos ovarianos e o conhecimento dos fatores limitantes a estes, com elevada acurácia, são de extrema valia. O objetivo desta revisão é apresentar o padrão de crescimento folicular até o desencadeamento da ovulação e os principais fatores que interferem no estudo dos eventos ovarianos que acontecem na ocasião do desenvolvimento folicular e posterior ovulação.

REVISÃO DE LITERATURA As ovelhas são animais poliéstricos estacionais de dias curtos, ou seja, sua estação reprodutiva concentra-se nos meses de menor exposição à luz ao longo do ano, o que não quer dizer que nos demais períodos não haja atividade ovariana (Evans e Maxwell, 1991). Noel et al. (1993), em estudo realizado ao longo do ano em ovelhas Suffolk monitoradas por laparoscopia, observaram desenvolvimento folicular, sem ocorrência da ovulação nas estações de primavera e verão. Utilizando a ultrassonografia em tempo real, com transdutor de frequência 7,5 Mhz, associada a dosagens hormonais, pesquisadores canadenses avaliaram ovelhas em anestro e observaram desenvolvimento folicular, porém sem ocorrência de pico de LH, essencial para ocorrência de ovulação. Por outro lado, foram observadas oscilações nas concentrações de estrógenos e progesterona, devido, respectivamente, ao desenvolvimento folicular e à luteinização de folículos (Bartlewski et al., 1998).

Fatores que afetam o desenvolvimento folicular O desenvolvimento folicular pode ser dividido em duas fases, pré-antral e antral, que ocorrem, respectivamente, independente e dependente das gonadotrofinas. O folículo antral desenvolve-se em maior velocidade nas 48 horas antecedentes à ovulação (Cahill, 1981), demonstrando que as gonadotrofinas promovem um aumento na taxa de crescimento folicular. A dependência da ação gonadotrófica, por parte do folículo ovariano em ovelhas, ocorre quando este alcança cerca de 2 mm (Driancourt, 2001). O desenvolvimento folicular na fase pré-antral é controlado por ação local de fatores de cresciRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

mento, tais como: fator de crescimento semelhante à insulina (insulin like growth factor, IGF), membros da superfamília de fatores de crescimento de transformação–β (transforming growth factor-β, TGF-β) e de transformação–α, de fibroblastos (fibroblast growth factor, FGFs) e edendotelial (endothelial growth factor, EGF) (Webb et al., 1998). Esses controles, parácrino e autócrino, modulam a ação dos hormônios gonadotróficos. Destaca-se a ação dos IGF, TGF-beta e ativina, que potencializam a ação do hormônio folículo estimulante (FSH), estimulando a aromatização dos andrógenos por parte das células da granulosa, o que promove uma maior liberação de estrógeno para o antro (Gonzalez-Bulnes et al., 2004). O EGF, quando associado à inibina, promove o declínio na ação do FSH para promoção da aromatização; por outro lado, quando associado à ativina, modula de forma negativa a ação do hormônio luteinizante (LH) nas células da teca para a produção de andrógenos. O IGF e a inibina, diferentemente dos fatores anteriores, aumentam a ação do LH para a produção desses andrógenos, os quais serão os precursores do estrógeno (Leyva et al., 1998). O recrutamento é o evento ovariano que forma um pool de pequenos folículos antrais que se desenvolvem sobre ação do hormônio folículo estimulante. Neste momento há baixos níveis circulantes de hormônio luteinizante, estradiol e inibina (Driancourt et al., 1991; Ginther et al., 1995). Aos dois eventos (recrutamento e seleção), que ocorrem na ocasião do surgimento do FSH, dá-se o nome de onda folicular, porém essa denominação não é uma máxima no estudo do crescimento folicular em ovelhas. Em ovelhas ocorrem cerca de três ondas foliculares, sendo duas na fase luteal e uma na fase folicular (Noel et al., 1993), que emergem nos dias 0, 6 e 11 do ciclo estral (Rubianes, 2000). Na fase lútea há o predomínio de progesterona, e na folicular o estrógeno é o esteroide predominante (Baird, 1983). McNatty et al. (1999) propôs que apenas folículos entre 1 e 3 mm estariam envolvidos no recrutamento, ou seja, responderiam ao FSH, porém Dufour et al. (1979) e Driancourt (1991) demonstraram uma maior variabilidade no diâmetro dos folículos recrutados, de 2 a 6 mm de tamanho. Na ocasião da seleção, os folículos destinados à ovulação adquirem receptores de LH nas células da granulosa, aumentando sua capacidade de síntese de estrógeno, há diminuição na secreção de FSH e regressão dos folículos menores. Caso ocorra a

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suplemento científico diminuição da concentração plasmática de progesterona, consequentemente à regressão lútea ou retirada de um implante exógeno, pode acontecer o desencadeamento da ovulação. Driancourt e Cahill (1984) demonstraram diminuição no número de folículos 12 horas após aplicação de PGF2-alfa e associaram esse fenômeno à existência de uma grande proporção de folículos atrésicos na fase lútea. Os autores também observaram que entre 48 e 54 horas após essa aplicação o folículo selecionado já era observado e a ovulação ocorria cerca de 60 horas após a administração da PGF-2-alfa. Comportamento semelhante foi observado por Cahill (1981), que detectou a ocorrência da ovulação próxima das 48 horas após a regressão luteal. Com a dominância, a concentração plasmática de estrógeno cresce promovendo feedback positivo para liberação do pico de LH e, consequentemente, a ovulação, que ocorre cerca de 24 horas após o aparecimento dos sinais do estro, acontecendo neste mesmo intervalo após o surgimento do pico LH (Gordon, 1997; Rubianes et al., 1997). Neste momento, além do aumento nas concentrações de LH até o alcance do pico, haverá alta nas concentrações de inibina. A taxa de ovulação é determinante da eficiência reprodutiva nos ovinos, variando de acordo com a raça, a nutrição e as fontes exógenas de hormônios gonadotróficos. Bartlewski et al. (1998) demonstraram que ovelhas com níveis de inibina mais baixos apresentam um nível maior de prolificidade. O fato de haver crescimento de mais de um folículo, resultando em ovulação, prejudica o estudo do padrão do crescimento com técnicas menos invasivas (Schrick et al., 1993). Quirke et al. (1981) observaram que a alta população de folículos provoca maior sensibilidade na interação do LH com estrógeno, levando um maior número de folículos até a ovulação. Em experimentos comparando população folicular de duas raças e suas respectivas taxas de ovulações, em que ovelhas Romanov eram as mais prolíficas e consequentemente as que possuíam uma maior população folicular, os autores justificaram a maior taxa ovulatória com uma maior quantidade de estrógeno e uma menor sensibilidade do feedback negativo ao FSH, não causando a regressão de um elevado número de folículos, consequentemente uma maior resposta ao LH (Cahill et al., 1979). Castoguay et al. (1990) não observaram efeito de folículos maiores suprimindo menores. Por outro

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lado, concluíram que uma maior taxa de ovulação ocorria quando havia um ou mais folículos disponíveis no momento do recrutamento. Ressalte-se que a maioria dos folículos ovulatórios surge em momento no qual ainda há um corpo lúteo funcional.

Estudo dos eventos ovarianos

Os resultados dos estudos sobre o desenvolvimento folicular nas ovelhas devem ser analisados com cuidado em função da sua acessibilidade. Fato que não ocorre na vaca, tampouco em éguas, animais nos quais o ovário pode ser palpado e colocado em contato direto com o transdutor. Os primórdios do estudo do crescimento folicular, na ovelha, ocorreram através da utilização do abate de animais e colheita dos ovários (Cahill, 1981); da laparotomia, em que se procedia à mensuração do ovário in situ (Quirke et al., 1981); ou quando as fêmeas eram ovariectomizadas (Cahil e Mauléon, 1980), além da laparoscopia (Boyd e Ducker, 1973; Noel et al., 1993). Nesses experimentos, os autores faziam cortes histológicos para observação da população ovariana, seja de folículos pré-antrais, seja folículos pré-ovulatórios, além da contagem e mensuração de maneira macroscópica dos folículos antrais encontrados. Na maioria dos estudos com ovelhas, os animais eram abatidos, em diferentes estágios do ciclo estral, o que acarretava numa posterior análise e avaliação visando juntar dados e obter o padrão de crescimento durante o ciclo estral completo (Cahil e Mauléon, 1980; Driancourt et al., 1986). Outra alternativa utilizada era a injeção de tinta nanquim nos folículos com menos de 2 mm, para avaliação posterior e verificação do crescimento ou regressão (Driancourt e Cahill, 1984). Porém, a análise dos achados ovarianos por meio dos cortes histológicos era muito difícil. Essa dificuldade era driblada por meio do ranqueamento dos folículos em cinco classes: Classe 01, os folículos possuíam 0,20-0,32 mm; Classe 02, de 0,32-0,50 mm; Classe 03, de 0,50-0,80 mm; Classe 04, de 0,80-2,00 mm; Classe 05, acima de 2 mm, na qual já estariam em final de diferenciação para posterior crescimento até os estágios subsequentes (Driancourt et al., 1986). Oldham et al. (1976) para evidenciar a nocividade dos experimentos com laparotomia nas taxas de ovulação compararam este método ao da laparoscopia proposto por Boyd e Ducker (1973), sendo observado que a laparotomia interferia Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


Arquivo do Autor

significativamente nessas taxas, quando não havia perdas no número de animais envolvidos no experimento.

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A1

A ultrassonografia no estudo ovariano

A popularização do método não invasivo da ultrassonografia (US) modo B, na década de 90, possibilitou que os estudos dos eventos ovarianos fossem realizados com maior objetividade na ovelha (Ginther et al., 1995; Schrick Figura 1. A) Espiral metálica colocada no ligamento próprio do ovário direito para et al., 1993) e na cabra (Ginther e Kot, 1994). No facilitar o estudo da estrutura ovariana em ovelhas. A1) Comparação entre a imaentanto, nesses pequenos ruminantes, como já gem real e a imagem ultrassonográfica comentado anteriormente, não se tem o perfeito acesso do operador com a estrutura. Schrick et al. (1993) descreveram uma técnica com o animal confiabilidade que a de tamanho real, uma vez que em decúbito dorsal. A qual foi comprovada postepromove uma superestimação no tamanho real riormente ser uma maneira melhor e mais tranquila das estruturas ovarianas. para exame dessas estruturas. Nesse caso, as oveSchrick et al. (1993) detectaram o corpo lúteo lhas são animais que têm uma elevada submissão, ao redor de 4 dias pós-ovulação e esta estrutura embora possuam o desconforto da posição. No muitas vezes apresentava cavidade. Entretanto entanto, esse tipo de exame não foi recomendado não foi possível relacionar as baixas concentrações para realização a campo (Viñoles et al., 2004). de progesterona com a presença de CL cavitários, Viñoles et al. (2004,) utilizando probe linear pois, na maioria dos casos, havia a presença de CL de 7,5 MHz com o animal em estação, mostraram proveniente de outra ovulação. sucesso na observação de folículos maiores que Dessa forma, a US é tida como a redenção do 4 mm e corpo lúteo, porém há dificuldade nas estudo da dinâmica folicular em ovelhas, embora mensurações de mais de um corpo lúteo (CL) no ocorra subestimação ou superestimação dos vamesmo ovário. lores de folículos menores que 3 mm e de número O estudo do corpo lúteo, por meio de exames de corpos lúteos, e dificuldade de identificação de ultrassonográficos, não demonstra confiabilidade. toda a população de folículos com tamanho igual Por exemplo, Gonzales de Bulnes et al. (1999), em ou menor que 2 mm (Viñoles et al., 2004). estudo de cabras tratadas com eCG, utilizaram a As diferentes angulações a que o ovário é subUS apenas para observar o crescimento folicular na metido no momento do exame ultrassonográfico ocasião da ovulação; porém, para observação de dificultam sua realização. Assim, para aumentar a CL já formado e sua funcionalidade, lançaram mão acurácia dos exames, são realizadas gravações de da laparoscopia. monitoramento dos ovários para avaliação posterior. Observando a ocorrência de refrateriedade à Dessa forma, além de reduzir erros nas mensurações PGF-2-alfa por parte do corpo lúteo de Arquivo do Autor ovelhas Corriedale multíparas, Rubianes B B1 et al. (2003) comprovaram, por meio de redução dos níveis plasmáticos de progesterona que estaria sendo secretada pelo corpo lúteo e que a regressão dessa estrutura acontecia somente quando a PGF-2-alfa foi administrada a partir do terceiro dia pós-ovulação. Exames ultrassonográficos diários, utilizando probe de 5 Mhz, objetivaram apenas a observação do desaparecimenFigura 2. B) Esfera metálica colocada no ligamento próprio do ovário esquerdo facilitar no to do folículo ovulatório. Segundo Dickie estudo da estrutura ovariana em ovelhas. B1) Comparação entre a imagem real e a imagem et al. (1999), a probe de 5 Mhz é de menor ultrassonográfica Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

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suplemento científico realizadas, promove-se imparcialidade no exame do ovário, tendo em vista que a pessoa que fez as mensurações não será o operador do ultrassom (Reyna et al., 2007). Diagramas que servem como mapas dos ovários para localização das estruturas (Figuras 1 e 2) também são ferramentas facilitadoras ao estudo do padrão de crescimento folicular (Contreras-Solis et al., 2008; Viñoles et al., 2004). Além da questão física, dificultando o acesso ao ovário, há a relação entre a genética, a endocrinologia e o padrão de crescimento (Montgomery et al., 2001), o que provoca em alguns autores relutância em classificar o padrão de crescimento folicular como dinâmico em ovelhas (Evans, 2003; Schrick et al., 1993). Na maioria das duplas ovulações, os folículos emergem da mesma onda folicular, sendo considerada uma onda como a emergência de um grupo de folículos antrais que originam um ou dois folículos com 5 mm ou mais de diâmetro. Esses folículos crescem cerca de 5 a 7 dias com uma taxa de no máximo 1 mm por dia, e o máximo de diâmetro atingido pelo folículo difere entre as ondas, ou seja, não necessariamente o folículo pré-ovulatório terá o mesmo tamanho entre as ondas as diferentes (Menchaca e Rubianes, 2004).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A característica poliéstrica estacional de dias curtos em ovelhas provoca a necessidade de maior conhecimento dos eventos fisiológicos da dinâmica folicular e uma manipulação destes por parte dos pesquisadores. No desenvolvimento folicular há interações de vários fatores intraovarianos ainda pouco elucidados na espécie ovina com mudanças endócrina no eixo hipotálamo-hipofisário-ovariano, o que leva a interferência nos diferentes momentos de recrutamento, seleção e dominância. Isso culmina com a ovulação, evento de muita importância nas ovelhas, já que apresentam o fenômeno de múltiplas ovulações. Assim, esses eventos, associados às impossibilidades anatômicas que restringem os estudos dos fenômenos envolvidos no controle deste crescimento, limitam a técnica de ultrassonografia, que é a principal fonte de estudos e que deverá ser cada vez mais aprimorada para aumento da acurácia nos estudos dos eventos ovarianos em ovelhas. Dessa forma, o conhecimento desses mecanismos reprodutivos é de extrema importância, promovendo intenso grau de agregação de conhecimento para posterior utilização em programas de inseminação artificial em tempo fixo (IATF) em transferência de embriões.

Dados dos Autores

Carmo Emanuel Almeida Biscarde

Médico Veterinário, CRMV-BA 3335; Pós-graduando – Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária – FMVZ – UNESP. Endereço para correspondência: Rua 2 de Julho, nº146 – Centro – Nova Soure/Bahia. E-mail: ceabiscarde@yahoo.com.br

Sony Dimas Bicudo

Médico Veterinário, CRMV-SP 2843; Professor Titular – Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária – FMVZ – UNESP, Botucatu–SP. E-mail: sony@fmvz.unesp.br

Maria Denise Lopes

Médica Veterinária, CRMV-SP 2519; Professora Titular – Departamento de Reprodução Animal

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e Radiologia Veterinária – FMVZ – UNESP, Botucatu– SP. E-mail: denise@fmvz.unesp.br

Cezinande Meira

Médico Veterinário CRMV-SP 6222; Professor Adjunto – Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária – FMVZ – UNESP, Botucatu–SP. E-mail: meira@fmvz.unesp.br

Claudia Dias Monteiro

Médica Veterinária, CRMV-SP 22544; Pós-graduanda – Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária – FMVZ – UNESP, Botucatu–SP.

Luís Carlos Oña Magalhães

Médico Veterinário, CRMV-SP 9916; Pós-graduando – Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária – FMVZ – UNESP, Botucatu–SP.

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suplemento científico suplemento científico

Normas para apresentação de Artigos Informações Gerais O Suplemento Científico da Revista do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) tem como objetivo principal a publicação de artigos de investigação científica, de revisão e de educação continuada, básica, e profissionalizante, que contribuam para o desenvolvimento da ciência nas áreas de Medicina Veterinária e de Zootecnia. Os artigos, cujos conteúdos serão de inteira responsabilidade dos autores, devem ser originais e previamente submetidos à apreciação do editor e/ou do Conselho Editorial da Revista CFMV, bem como de assessores ad hoc de reconhecido saber na especialidade. A publicação do artigo dependerá da sua apresentação dentro das Normas Editoriais e de pareceres favoráveis. Os pareceres terão caráter sigiloso e imparcial. A periodicidade da publicação será quadrimestral. Os artigos deverão ser encaminhados para:

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Normas Editoriais Os textos de revisão, de educação continuada e científicos devem ser de primeira submissão, escritos segundo as normas ortográficas oficiais da língua portuguesa e com abreviaturas consagradas, exceto o Abstract e Keywords, que serão apresentados em inglês. Assim como uma versão do título.

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Artigos Científicos Os artigos científicos deverão conter dados conclusivos de uma pesquisa e conter Resumo, Abstract, Palavras- chave, Keywords, Introdução, Material e Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão(ões), Referências Bibliográficas e, quando houver, Agradecimentos, Tabela(s), Quadro(s) e Figura(s). A critério do(s) autor(es), os itens Resultados e Discussão poderão ser apresentados como uma única seção. Quando a pesquisa envolver a utilização de animais, os princípios éticos de experimentação animal preconizados pelo Conselho Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) e aqueles contidos no Decreto nº 24.645, de 10 de julho de 1934, e na Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979, devem ser observados. Também deve ser observado o disposto na Resolução CFMV nº 879, de fevereiro de 2008.

Apresentação Os manuscritos encaminhados deverão estar digitados com o uso do editor de textos Microsoft Word for Windows (versão 6.0 ou superior), no formato A4 (21,0 x 29,7), com espaço simples, em uma só face do papel, com margens laterais de 3,0 cm e margens superior e inferior de 2,5 cm, na fonte Times New Roman de 16 cpi para o título, 12 cpi para o texto e 9 cpi para rodapé e informações de tabelas, quadros e figuras. As páginas e as linhas de cada página devem ser numeradas.

Título O título do artigo, com 25 palavras no máximo, deverá ser escrito em negrito e centralizado na página, sem utilizar abreviaturas. A versão na língua inglesa deverá anteceder o Abstract.

Resumo e Abstract O Resumo e sua tradução para o inglês, o Abstract, não podem ultrapassar 250 palavras, com informações que permitam uma adequada caracterização do artigo como um todo. No caso de artigos científicos, o Resumo deve informar o objetivo, a metodologia aplicada, os resultados principais e as conclusões.

Palavras-chaves e Keywords No máximo cinco palavras serão representadas em seguida ao Resumo e Abstract. As palavras serão escolhidas do texto e não necessariamente do título.

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Texto Principal Não há número limite de páginas para a apresentação do artigo. No entanto, recomenda-se que sejam concisos. Poderão ser utilizadas abreviaturas consagradas pelo Sistema Métrico Internacional, por exemplo, kg, g, cm, ml, EM etc. Quando for o caso, abreviaturas não usuais serão apresentadas como nota de rodapé. Exemplo, GH=hormônio do crescimento. As citações bibliográficas do texto devem ser pelo sobrenome do(s) autor(es) seguido do ano. Quando houver mais de dois autores, somente o sobrenome do primeiro será citado, seguido da expressão “et al.”. Exemplos: Rodrigues (1999), (Rodrigues, 1999), Silva e Santos (2000), (Silva e Santos, 2000), Gonçalves et al. (1998), (Gonçalves et al., 1998).

Referências Bibliográficas A lista de referências bibliográficas será apresentada em ordem alfabética por sobrenome de autores, de acordo com a norma ABNT/NBR-6023 da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Inicia-se a referência com o último sobrenome do(s) autor(es) seguido da(s) letra(s) inicial(is) do(s) prenome(s), exceto nos nomes de origem espanhola ou de dupla entrada, os quais devem ser registrados pelos dois últimos sobrenomes. Todos os autores devem ser citados. Obras anônimas têm sua entrada pelo título do artigo ou pela entidade responsável por sua publicação. A referência deve ser alinhada pela esquerda e a segunda linha iniciada abaixo do primeiro caractere da primeira linha. Os títulos de periódicos da referência podem ser abreviados, segundo a notação do BIOSES *BIOSIS. Serial sources for the BIOSIS previews database. Philadelphia, 1996, 486p. Abaixo são apresentados alguns exemplos de referências bibliográficas.

Artigo de periódico EUCLIDES FILHO, K.; V.P.B.; FIGUEIREDO, M.P. Avaliação de animais nelore e seus mestiços com charolês, fleckvieh e chianina, em três dietas 1. Ganho de peso e conversão alimentar. Revista Brasileira de Zootecnia, v.26, n.1, p.66-72, 1997.

Livros MACARI, M.; FURLAN, R.L.; GONZALES, E. Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal: FUNEP, 1994. 296p. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

Capítulos de livro WEEKES, T.E.C Insulin and growyh. In: Buttery, P.J.; LINDSAY, D.B.; HAYNES, N.B. (ed). Control and manipulation of animal growth. Londres: Butterworths, 1986. p.187-206.

Teses (doutorado) ou dissertações (mestrado) MARTINEZ, F. Ação de desinfetantes sobre salmonella na presença de matéria orgânica. Jaboticabal, 1998. 53p. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. Universidade Estadual Paulista.

Artigos apresentados em congressos, reuniões e seminários RAHAL, S.S.; W.H.; TEIXEIRA, E.M.S. Uso de fluoresceina na identificação dos vasos linfáticos superficiais das glândulas mamárias em cadelas. In. CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 23 Recife, 1994. Anais... Recife, SPEMVE, 1994. p.19.

Tabelas, Quadros e Ilustrações As tabelas, quadros e ilustrações (gráficos, fotografias, desenhos etc.) podem ser apresentados no corpo do artigo. Uma em cada página. Serão numerados consecutivamente com números arábicos. A tabela deve ter sua estrutura construída segundo as normas de Apresentação Tabular do Conselho Nacional de Estatística (Ver. Bras. Est. V. 24, p. 42-60, 1963).

Fotografias As fotografias deverão estar em boa resolução (nítida, colorido sem saturação, sem estouro de luz ou sombras excessivas), com resolução mínima de 300 dpi, com a foto em tamanho grande (centímetros), formato TIF e as cores em CMYK. Se possível, também devem ser enviadas em arquivos separados (JPG).

Avaliações/Revisões Os artigos sofrerão as seguintes avaliações/revisões antes da publicação: 1) avaliação inicial pelo editor; 2) revisão técnica por consultor ad hoc; 3) avaliação do editor e/ou Comitê Editorial.

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A v i cult ur a i ndu s t r i a l

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PROGRAMA DE LUZ NA AVICULTURA DE POSTURA INTRODUÇÃO

Diversos fatores ambientais apresentam papéis importantes no controle das funções biológicas das aves, sendo a luz um deles. É conhecido que a diferença na luminosidade, em função das estações do ano, coordena a migração e permite a reprodução de animais na denominada “estação de monta”, período em que as fêmeas estão prontas para serem fecundadas (Campos, 2000). Um dos trabalhos pioneiros do estudo da influência da luz sobre as aves foi realizado por Rowan em 1921. Ao proporcionar luz artificial para imitar os dias longos da primavera, o autor fez com que as aves colocassem ovos no outono, mesmo em temperaturas abaixo de zero. Esses resultados foram o ponto inicial para uma série de estudos visando compreender como os sinais fotoperiódicos são percebidos pelas aves e como eles influenciam a postura. Sistemas artificiais de luz têm sido idealizados para aperfeiçoar o ganho de peso, controlar a idade para a maturidade sexual e aumentar a produção de ovos em poedeiras e matrizes. Porém, no Brasil,

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poucos pesquisadores têm dado a devida atenção ao estudo deste tema. Sabe-se que os produtores de ovos julgam que quanto mais luz for fornecida às suas poedeiras, melhor será o desempenho das aves. No entanto, o estabelecimento de programa de luz eficiente pode proporcionar redução em até 90% da energia elétrica e também contribuir para o aumento dos lucros no setor.

AÇÃO DA LUZ NAS AVES

A luz que incide sobre a retina e atinge áreas associadas do cérebro, representadas pela glândula pineal, pelo hipotálamo e pelos fotorreceptores (Figura 1). Contudo, em 1930, o francês Jacques Benoit constatou que a via mais importante na percepção da luz, no estímulo luminoso à reprodução, é a via transcraniana. Assim, aves desprovidas da visão também são influenciadas pela luminosidade. Por via transorbitária ou craniana as aves respondem mais ao estímulo luminoso quando a iluminação é produzida por raios do final do espectro, Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


Arquivo do Autor

como o roxo e o alaranjado, produzindo mais hormônios reprodutivos. A energia contida nos fótons presentes na luz é transformada em estímulos nervosos que regulam o ritmo circadiano, também chamado de biorritmo (representa o controle fisiológico das atividades metabólicas do indivíduo através da luz), coordenando eventos bioquímicos e comportamentais que influenciam no desempenho das galinhas. Vários estudos demonstram que a Figura 1. Mecanismo fotossensível das aves e hormônios reprodutivos resposta aos estímulos da luz é periódica e esse período se denomina fase fotossensível. mentais e as características sexuais secundárias. Quando a ave recebe o primeiro estímulo lumiA hierarquia folicular é a responsável direta pela noso (natural ou artificial), o relógio circadiano é intensidade e persistência da postura. ativado. A sensibilidade fotoperíodica é máxima entre 10 e 15 horas. Após esse período, a ave se torna fotorefratária, podendo-se concluir que fotoO principal efeito da luz é alterar a idade em periódos curtos não atingem a fase fotossensível, que as aves alcançam a maturidade sexual. Essa enquanto dias longos têm essa capacidade, coordiferença não é produzida pela intensidade da luz, denando, dessa forma, a postura (Sauveur, 1996). e sim pela duração do período de luz, que altera a As aves distinguem um dia curto de um dia idade de produção dos primeiros ovos. A intensilongo e esse é o motivo principal da ocorrência de dade da luz está mais relacionada com a uniformimigração na natureza. O dia mais curto do hemisdade da maturidade sexual e com o aumento da fério sul, 21 de junho, é conhecido por solstício de sensibilidade orgânica em responder aos estímuinverno, e o mais longo, 21 de dezembro, por solslos luminosos. tício de verão. Entre o solstício de inverno e o de Se diminui a quantidade de luz das aves que verão, os dias têm luminosidade crescente, o que estão no período final de crescimento, aumentará estimula a maturidade sexual. De modo contrário, a idade necessária para alcançar a maturidade a partir de solstício de verão, o fotoperíodo dimisexual. Ao contrário, se aumenta a duração da nui, os dias se tornam mais curtos, inibindo o ciclo luz, diminui a idade para alcançar a maturidade reprodutivo da galinha (Freitas, 2003). sexual. Em ambos os casos, em lotes recriados em Segundo Macari et al. (1994), a luz é percebida galpões abertos, devem-se empregar sistemas pelos fotorreceptores hipotalâmicos que converespeciais, com luz constante, para amenizar os tem o sinal eletromagnético em uma mensagem efeitos sazonais do ano. É importante para lotes hormonal através de seus efeitos nos neurônios em produção (Figuras 2 e 3) acender as luzes dos hipotalâmicos que secretam o hormônio liberador aviários durante o dia quando o tempo estiver de gonadotrofina (GnRH). O GnRH atua na hipófise muito fechado, para as aves não perderem o períproduzindo as gonadotrofinas: hormônio luteiniodo mais fotossensível do dia. zante (LH) e hormônio folículo estimulante (FSH). Na Tabela 1, estão demonstradas as divergênO LH e o FSH ligam-se aos seus receptores na teca cias encontradas no campo, com dados totalmene nas células granulosas do folículo ovariano, estite diferenciados pela estação do ano (lotes de mulando a produção de andrógenos e de estrógeestação e lotes fora de estação), nos quais se obnos pelos folículos pequenos e a produção de proservam os problemas de produtividade causados gesterona pelos folículos pré-ovulatórios maiores. pelos dois extremos. Dias curtos não estimulam a secreção adequada Alguns dos efeitos observados em aves criadas de gonadotrofinas porque não iluminam toda a sem programa de luz adequado fora de estação fase fotossensível. Dias mais longos, entretanto, são: demora de três a quatro semanas na idade fazem a estimulação e, desse modo, a produção do início da produção; picos baixos de produção de LH é iniciada. Esse mecanismo neurohormonal e atrasados; falta de persistência de produção; controla as funções reprodutivas, comporta-

EFEITOS DA LUZ

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A v i cult ur a i ndu s t r i a l Tabela 1. Efeito sazonal por mês de nascimento das pintainhas Mês de nascimento

Idade a 10% de produção

Idade no pico de produção

24,3 semanas

30,1 semanas

de estação

27,4 semanas

35,2 semanas

fora de estação

Período

Março Abril Maio Setembro Outubro Fonte: Boni & Paes, 1999.

diferenças de maturidade sexual entre fêmeas e machos, e possíveis problemas de eclosão; e sobrepeso das fêmeas.

RESULTADOS DO CONTROLE DE LUZ

Lotes de estação:

O atraso do início da produção de ovos por meio de procedimentos de controle de luz também altera outros fatores da produção, como: melhor qualidade da casca do ovo, menor número de ovos de duas gemas e deformados, e menor mortalidade por prolapso.

Controlar a duração da luz do dia na fase de crescimento aumenta a produção de ovos na primeira fase de produção, porém o aumento do número de ovos totais não é significativo. O que melhora é o número de ovos incubáveis. Com a redução da duração da luz do dia no período de crescimento, aumenta o tamanho dos primeiros ovos, com o aumento de todos os restantes produzidos.

Lotes fora de estação: Os lotes não atrasam a produção e respondem melhor à fotoestimulação, obtendo 5 % de produção às 25 semanas. Assim, atingem um melhor pico de produção, resultando em maior massa de ovos. Arquivo do autor Outra vantagem deses lotes seria a redução do sobrepeso nas aves pelo armazenamento excessivo de gordura, pois os incrementos de ração nesta fase são para mantença e produção.

TIPOS DE PROGRAMAS DE LUZ

Figura 2. Aves em sistema intensivo de postura

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O objetivo principal de um programa de luz é o de retardar a maturidade sexual das frangas, fazendo com que elas iniciem a postura por volta de 23 semanas de idade. A partir daí, o objetivo é estimular a produção de ovos e sincronizar a postura. Segundo Campos (2000), a ave começa a se tornar sensível ao estímulo luminoso entre 10 e 12 semanas de idade, porém entre 18 e 22 semanas de idade ela se torna altamente sensível a eles. É justamente nessa fase que começa a secreção de LH, assim, quanto menos estímulos Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


de luz a ave receber, menor será a produção de LH. Entre 18 e 20 semanas, a ave começa a receber estímulos crescentes de luz até atingir 14 horas de fotofase. Os programas de luz se classificam, de acordo com o fotoperíodo, em hemerais e haemerais. Os programas hemerais são compostos de períodos de 24 horas distribuídos em duas fases distintas denominadas fotofase (fase clara) e escotofase (fase escura). Quando as duas fases apresentam a mesma duração, o período é chamado de simétrico; e quando suas durações são

INTENSIDADE DE LUZ

A intensidade baseia-se no seu brilho ao nível dos olhos das aves; a intensidade de luz não se relaciona com o comprimento de onda ou cor. As medidas de intensidade se resumem em fóton, lúmen, lux. Lux é a unidade de iluminação de um lúmen por metro quadrado (SI). Um lúmen é a unidade de fluxo luminoso (International System of Units- SI), medido em uma área de um esferoradiano por um emissor de uma candela colocado no seu centro. Uma candela (SI) é igual a 1/60 da intensidade luminosa de Arquivo do autor um centímetro quadrado da superfície de um radiador perfeito na temperatura de 2043K. Um lux corresponde à incidência perpendicular de 1 lúmen em uma superfície de 1 metro quadrado. Existem vários tipos de luz (natural, lâmpada incandescentes, fluorescentes, mercúrio). A luz natural sofre com os problemas estacionais, não produzindo período de luz uniforme durante todo o ano. Assim, a luz artificial se torna a figura mais importante no cenário da moderna produção avícola, graças a sua importância na composição dos programas de luz. Campos (2000) estimulou poedeiras comerciais durante a fase de recria com estímulos de luz variando desde 1 lux até 500 luxes de intensidade, verificando os seus efeitos sobre a idade ao primeiro ovo, peso do ováFigura 3. Aves em sistema semi-intensivo de postura rio, peso total e número de folículos grandes amarelos (Tabela 2). diferentes, eles se chamam assimétricos. Os haemeParece que a ave não distingue um estímulo rais são programas com períodos diferentes de 24, que varia de 1 para 5 luxes e de 50 para 500 luxes alterando o ritmo circadiano dos animais. no aparecimento do primeiro ovo, porém os efeiOs programas hemerais são bastante simples, tos do aumento da intensidade se fazem notar no podem ser aplicados em qualquer tipo de instalação ovário, cujas características são diretamente proe ser divididos em: contínuo – a luz natural ou artifiporcionais ao aumento de intensidade do estímulo cial é aplicada de forma contínua, tanto em galpões luminoso: se considerar a idade do aparecimento abertos quanto fechados – ou intermitente – é o do primeiro ovo em semanas, a diferença entre 1 resultado da combinação de luz e escuro durante o e 500 luxes é mínima, mas os efeitos no ovário são período. Por exemplo, 15 min de luz, por hora, durangrandes. Assim, na escolha entre 50 e 500 luxes, em te 16 horas seguidas sugere às aves um fotoperíodo termos econômicos, é melhor o de 50, porque os de 16 horas (dia subjetivo). Diversas combinações efeitos são semelhantes. originam vários programas. Os programas haemerais exigem instalação A escolha do tipo de lâmpada vai depender de em ambiente controlado. Antes de iniciar qualquer inúmeros fatores, tais como custo, durabilidade, maprograma de luz, as pintainhas devem receber, no nutenção e eficiência. Em termos práticos, são eminício da criação, pelo menos 23 a 24 horas de luz diapregadas lâmpadas incandescentes e fluorescentes. riamente, durante aproximadamente 3 dias, com o Apesar do custo inicial elevado, as lâmpadas fluoresobjetivo de se adaptarem às condições de ambiente, centes são superiores às incandescentes em virtude água, ração e, em geral, à fonte de calor.

TIPOS DE LUZ

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A v i cult ur a i ndu s t r i a l Tabela 2. Efeito da intensidade de luz sobre a idade da maturidade sexual e as características ovarianas de poedeiras comerciais Intensidade de luz (lux)

Peso total dos folículos amarelos (g)

Idade ao 1° ovo (dias)

Peso do ovário (g)

Folículos amarelos (n)

1

152,7

26,9b

23,50b

5,50b

5

153,6

31,901b

28,30ab

6,56ab

50

149,4

36,10a

32,20a

7,31a

500

149,6

37,40a

33,40a

7,50a

Fonte: Campos, 2000.

das inúmeras vantagens que oferecem, como maior intensidade e durabilidade, menor manutenção, menor gasto de energia (Tabela 3). Ao se utilizar um programa de luz adequado e um número correto de lâmpadas para o ambiente, não haverá diferenças no desempenho dos animais. Contudo o consumo de energia pode diferir. Comparando o emprego de lâmpadas fluorescentes e incandescentes em programas de luz para reprodutores pesados, Campos (2000) não observou diferenças

deve ser baixa devido ao baixo raio de alcance desse tipo de iluminação. Outro inconveniente é a baixa vida útil da lâmpada: 750 a 1.000 horas.

FLUORESCENTE A luz fluorescente branca convencional não é indicada, devido à grande variação de intensidade. Esse tipo de lâmpada apenas tem a sua máxima eficiência quando a temperatura do ar está entre 21º a 27ºC. Fora desses patamares, sua eficiência é

Tabela 3. Comparação entre lâmpadas incandescentes e fluorescentes quanto ao número médio de lumens de acordo com a potência medida em Watt Incandescentes

Lumens

Fluorescentes

Lumens

15

125

15

500

700

25

225

20

800

1000

40

430

40

2000

2500

50

655

75

4000

5000

60

810

200

10000

120000

100

1600

150

2500

200

3500

Fonte: Campos, 2000.

significativas no peso do ovo, % de eclosão, % de fertilidade e % de ovos incubáveis (Tabela 4). A seguir, são descritas algumas das características de cada tipo de lâmpada:

INCANDESCENTE Apesar de apresentar instalação barata, esse tipo de lâmpada necessita de refletores (pratos de plásticos ou metal louçado) a fim de aumentar a eficiência das lâmpadas em 50%. Deve-se utilizar refletor do tipo plano para não direcionar o foco da luz, e assim potencializar a dispersão do foco luminoso. A altura

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reduzida. O ideal é a utilização da luz fluorescente quente (fluorescente eletrônica compacta ou Pl). A utilização desse tipo de lâmpada implica um maior custo de instalação, no entanto, resulta em menor consumo de energia (70% a menos). Como vantagem tem-se a durabilidade da lâmpada, sendo 8 a 10 vezes maior que a incandescente, entretanto não podem ser utilizadas com reostatos (dimer). Devido ao seu maior raio de alcance, essas lâmpadas podem ser instaladas em alturas superiores (1,70 a 2,0 m) sem comprometer a eficácia da iluminação. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011


Tabela 4. Luz fluorescente versus incandescente: efeito sobre o desempenho de reprodutoras pesadas Variável

Incandescentes

Flurescentes

Ovos incubáveis (%)

87,58

88,07

Fertilidade (%)

85,74

82,42

Eclosão (%)

72,74

72,84

Peso do ovo (G)

70,96

71,46

Fonte: Campos, 2000.

VAPOR DE MERCÚRIO Essas lâmpadas devem ser instaladas a mais de 3m de altura, a fim de melhorar a distribuição da luz. Porém, mesmo instaladas respeitando esses detalhes, a distribuição da luz geralmente não é uniforme, sendo necessária a complementação com luz incandescente para que não ocorram zonas escuras. Outra alternativa seria a colocação de 3 linhas de lâmpadas, aumentando o custo inicial de instalação. Sua eficiência é semelhante à fluorescente, tendo vida útil semelhante a esta (24.000 h). Comparando-se às fluorescentes, possui maior estabilidade luminosa em função da temperatura ambiente. Entretanto, essas lâmpadas requerem vários minutos para serem ligadas novamente quando há falta de energia. Para esse tipo de instalação são requeridos reatores a prova d’água a fim de evitar incêndios.

LÂMPADAS MISTAS São as lâmpadas mais utilizadas na avicultura com potência de cerca de 160 watts. Possuem características intermediárias entre as lâmpadas fluorescentes e as de mercúrio. Possuem grande durabilidade como as fluorescentes e as de mercúrio, entretanto consomem maior quantidade de energia que estas. Essas lâmpadas possuem melhor distribuição de luz que as de mercúrio, porém, a exemplo destas, demoram a reacender após quedas de luz ou flutuação na tensão elétrica.

seriam necessárias várias lâmpadas para substituir a iluminação convencional, instaladas bem próximas às aves, aumentando bastante os custos de instalação. Estudos sugerem que a conversão completa para a tecnologia LED diminuiria em até 50% as emissões de CO2, a partir do uso de energia elétrica para iluminação, em pouco mais de 20 anos.

EXEMPLOS DE PROGRAMAS DE LUZ

Na Tabela 5, pode-se observar a diferença entre os programas de luz para poedeiras comerciais, matrizes leves e pesadas (Hy-Line, 2007 e 2009). As poedeiras comerciais apresentam o programa de luz mais relacionado com a diminuição do estímulo luminoso que as matrizes leves e pesadas, necessitando de muito mais horas de luz durante a recria, a fim de simular dias com fotoperíodos decrescentes.

POEDEIRAS COMERCIAIS O programa de estimulação por meio da iluminação pode ser usado como uma ferramenta para Arquivo do autor

LÂMPADAS de led Apenas muito recentemente tem-se proposto esse tipo de iluminação em avicultura. LED é a sigla em inglês para diodo emissor de luz, material semicondutor com o qual se fabricam tais lâmpadas. Quando uma corrente elétrica percorre esse diodo, ele é capaz de emitir luz. A vantagem dessas lâmpadas em relação às demais é que consomem menos energia, cerca de 80% menos energia que as incandescentes e duas vezes mais eficientes que as fluorescentes, durando muito mais tempo. Entretanto, sua potência e emissão de luz são bastante reduzidas, equivalentes às lâmpadas de 40 watts. Assim, Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

Figura 4. Visão externa de um galpão tipo “dark house”

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A v i cult ur a i ndu s t r i a l ajudar a obter o tamanho do ovo desejado. Geralmente, a estimulação precoce resultará em poucos ovos a mais por ave alojada, porém, haverá redução no tamanho do ovo. O atraso na estimulação de luz resultará em poucos ovos a menos por ave alojada, no entanto, haverá aumento no tamanho dos ovos precocemente. Dessa maneira, os programas de iluminação podem ser adotados de acordo com as necessidades de mercado . A alimentação à “meia-noite” é uma variação desse mesmo programa de luz e consiste em uma técnica opcional de iluminação que incrementa o consumo de ração. Deve-se oferecer luz por uma hora, no meio do período de escuro, e estimular o consumo nos comedouros durante esse período. O programa diário com 16 horas de luz e 8 de escuro seria alterado no período escuro para 3,5 horas de escuro, 1hora de luz e 3,5 horas de escuro. Essa técnica permite que o consumo de ração aumente cerca de 2-5 g/ave/dia, sendo aplicável em condições de estresse calórico ou, a qualquer momento,

para aumentar o consumo de ração, tanto para lotes em crescimento quanto para lotes em produção (Hy-Line, 2009).

MATRIZES PESADAS: Semiescuro ou Darkhouse É um programa de luz utilizado principalmente em matrizes pesadas, pois há uma tendência de busca de animais de alta conformação. Uma das principais características dessas aves é a de serem muito mais sensíveis e exigentes de luz para produção. Quando a ave é recriada no sistema semiescuro, que consiste no fornecimento de luz na intensidade de 5 a 8 luxes durante toda a recria, é muito importante manter abaixo de 10 luxes, porque a partir de 10 luxes as aves já começam a responder sexualmente à luz. Isso é notório no campo, pois tem-se observado que acima de 10 luxes, em aves a partir de 14 semanas, há o desenvolvimento da crista, principalmente nas mais pesadas.

Tabela 5. Programas de luz para poedeiras comerciais, matrizes leves e pesadas Poedeiras comerciais

Matrizes pesadas

Matrizes leves

Na primeira semana as pintainhas devem receber 20-22 horas de luz diária a uma intensidade de 30 luxes.

Usar 23 horas de luz nas duas primeiras semanas de idade para forçar o consumo e o ganho de peso inicial.

Cria - 0 a 3 dias 24 horas de luz.; 4º dia, 19 horas de luz e a partir daí reduzir para que fique somente com luz natural.

Na 2ª semana: Reduzir para 20 horas com 5 luxes.

Manter 8 horas de luz diária de 5 a 8 luxes, entre 3 e 21 semanas completas (baixar a lona às 9 da manhã e subir às 5 da tarde).

Recria - Somente luz natural. Nas regiões do sul do país, para as aves nascidas entre março e agosto,pode-se adicionar luz diária a partir da 12ª semana de forma a manter o mesmo comprimento do dia até, 18ª semana, tomando–se como base o maior dia-luz do período.

Da 10ª à 17ª semana: Permanecer fixo em 10-12 horas, ou o dia mais longo do período. Após a 17ª semana: O começo do estímulo luminoso nunca deve ser realizado com animais abaixo de 1,27kg de peso. Aumentar o período de luz em 15-30 minutos por semana, ou a cada duas semanas, até que se atinja 16 horas de luz diária. Preferencialmente, o período de estímulo luminoso (fotoperíodo crescente) deve ser até as 28-32 semanas. A intensidade de luz também deve ser aumentada até 10-30 luxes no momento do alojamento.

1º dia da 24ª semana: 15 horas de luz na estação e 14 a 15 horas de luz fora da estação. 1º dia da 24ª semana: 15 horas de luz na estação e 14 a 15 horas de luz fora da estação. 1º dia da 26ª semana: 16 horas de luz na estação e 16 horas de luz fora da estação. 1º dia da 28ª semana: 17 horas de luz na estação e 17 horas de luz fora da estação.

Pré-produção e produçãoDurante esta fase, deve-se atingir um período dia-luz entre 14 e 16 horas de luz, e este comprimento do dia deve ser atingido no pico de produção e ser mantido até o final da produção. O aumento deve ser de 15 a 30 minutos por semana e a intensidade de luz ideal é de 20 lumens.

Fonte: Hy-Line (2007 e 2009).

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MATRIZES LEVES O território nacional se situa entre as latitudes 5° ao Norte e 33° ao Sul e trabalhos têm demonstrado que há uma diferença de aproximadamente 12 dias

em relação ao amadurecimento sexual de aves nascidas no inverno e no verão. Essas diferenças vão reduzindo à medida que as aves são criadas nas regiões Centro e Norte do país.

Dados dos Autores

Wagner Azis Garcia de Araújo

Zootecnista, CRMV 1511/Z; Doutorado em Zootecnia–UFV; Bolsista do CNPq.

Luíz Fernando Teixeira Albino

Zootecnista, CRMV 0018/Z; Professor Titular – Departamento de Zootecnia–UFV.

Fernando de Castro Tavernari

Zootecnista, CRMV 1732/Z; Doutorado em Zootecnia–UFV; Bolsista do CNPq; Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Concórdia–SC.

Mauro Jarbas de Souza Godoy

Zootecnista, CRMV 0519/Z; Divisão de Produção–UFV.

Endereço para correspondência: Departamento de Zootecnia–Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG – CEP 36570-000. E-mail: lalbino@ufv.br

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obesidade canina

PROGRAMA DE REDUÇÃO DE PESO PARA CÃES Arquivo cfmv

A obesidade é a doença nutricional mais comum em sociedades desenvolvidas e estima-se que 25 a 35% dos cães estão com sobrepeso. É responsável pela diminuição da capacidade física do animal, por doenças associadas e, frequentemente, por locomoção dolorosa. É resultado do excesso de energia, obtido pela alimentação, em relação ao gasto energético do animal. Esse desequilíbrio pode ter origem no próprio animal (doenças como hipotireodismo, hiperadrenocorticismo e distúrbios do pâncreas), em problemas comportamentais, mas também em fatores associados ao manejo estabelecido pelo proprietário.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A OBESIDADE CANINA 99 O excesso de peso durante a fase de crescimento se agrava progressivamente. 99 É responsável pela infiltração de gordura nos órgãos e por maior esforço mecânico do corpo. 99 Cães com dores realizam menos exercício tendo maior tendência para engordar. 99 Afeta o bem-estar psíquico do animal (falta de movimentos diminui seus contatos sociais). 99 Potencializa possibilidades de complicações em intervenções cirúrgicas.

CAUSAS DA OBESIDADE CANINA Afecção sistêmica Shu tt er st oc k

99 99 99 99 99 99

Diabetes mellitus. Disfunção da tireoide. Disfunção das suprarrenais. Causas Farmacológicas. Administração continuada de progestágenos. Administração de corticoides, anticonvulsivantes e ansiolíticos, que, quando ingeridos por tempo prolongado, causam polifagia.

Distúrbio comportamental grave 99 Aumento da ingestão alimentar. 99 Confinamento após a agressividade, desobediência, comportamento destrutivo.

Fatores relacionados ao proprietário 99 Falta de disponibilidade para passear ou brincar. 99 Administração de excesso de alimentos, guloseimas e alimentação desbalanceada.

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Arquivo cfmv

CÃES QUE DEMANDAM MAIOR ATENÇÃO 99 Raças com maior propensão (labradores, raças pequenas de companhia, cães de guarda). 99 Cães que recebem manejo alimentar inadequado (alimento muito apetitoso administrado à vontade, oferta de petiscos ou de sobras de refeições). 99 Cães com atividade física reduzida (animais idosos, cães que vivem em apartamentos ou com doenças debilitantes). 99 Cães e cadelas esterilizados (32% dos cães e cadelas esterilizados contra 15% dos animais não esterilizados).

RECONHECIMENTO DA OBESIDADE POR MEIO DE PONTOS DA CONDIÇÃO FÍSICA VERIFICADOS NA SILHUETA DO CÃO Muito magro Escore = 1 a 2

1

Costelas, espinha dorsal, ossos pélvicos visíveis. Perda óbvia da massa muscular. Ausência de gordura palpável na caixa torácica.

Magro Escore = 3

3

Costelas, espinha dorsal e ossos pélvicos visíveis.

Ideal Escore = 4 a 5

5

Costelas, espinha dorsal não visível, mas facilmente palpáveis. Pequenas quantidades de gordura palpáveis na caixa torácica. Cintura e dobra abdominal visíveis.

Sobrepeso Escore = 6 a 7

7

Costelas dificilmente palpáveis. Depósito de gordura na espinha e na base da cauda. Cintura e dobra do abdômen ausentes.

Obeso Escore = 8 a 9

9

Depósito maciço de gordura no tórax, espinha e base da cauda. Distensão abdominal óbvia.

Adaptado de Body Condition System for Adult Dogs – Purina Veterinary Diets (2011). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

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obesidade canina

CONSIDERAÇÕES SOBRE ALIMENTAÇÃO dE CÃES ADULTOS 99 A dose diária deve ser adaptada às necessidades energéticas do cão, que aumentam em função do crescimento, do exercício físico, das condições climáticas adversas e da reprodução (gestação e lactação). 99 A necessidade energética diminui com a castração, o sedentarismo e o envelhecimento. 99 Os passeios ou brincadeiras estimulantes são imprescindíveis para preservar o peso ideal. Assegurar a prática de um mínimo de atividade física. 99 O alimento utilizado como recompensa deve ser reduzido da dose diária prescrita. Até 50% da dosagem diária poderá ser utilizada como recompensa durante processos de aprendizagem. 99 Nunca utilizar o alimento como presente e nem ceder à tentação de fornecer alimentos para eliminar comportamentos indesejáveis.

SOBRE O PROGRAMA DE EMAGRECIMENTO 99 O proprietário precisa entender sua responsabilidade no processo, avaliando seu modo de interagir com o animal. 99 Adotar outros tipos de interação (brincar, acariciar, lançar brinquedos) em substituição a alimentos em respostas às solicitações por atenção. 99 Todos os membros da família deverão respeitar o programa. 99 Devem ser identificados e tratados os distúrbios psíquicos passiveis de alterar a sensação de saciedade e aumentar a ingestão alimentar . 99 A perda de peso resulta da associação entre o consumo de um alimento hipocalórico (baixo teor energético) e o aumento do nível de atividade física do cão. 99 O cão continuará com fome e solicitará alimentos se, simplesmente, for diminuída a dose de alimento habitual. 99 Transição alimentar ao longo de uma semana favorece a adaptação a novo alimento. 99 Recomenda-se o fracionamento da dose diária em 3 ou 4 refeições, evitando-se a sensação de fome. 99 O exercício físico, adaptado de forma gradual, estimula o gasto energético e favorece a preservação da massa muscular. 99 Ao final do programa de emagrecimento, as quantidades de alimento têm de ser estabelecidas de forma a impedir a reaquisição do peso perdido. Arquivo cfmv

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CÁLCULOS PARA O PROGRAMA DE REDUÇÃO DE PESO A primeira fase do controle da obesidade consiste em determinar o peso ideal a ser obtido no final do programa. Durante o programa de redução de peso, os animais devem ser pesados semanalmente e os pesos devem ser registrados.

Arquivo cfmv

RECOMENDAÇÕES PARA REDUÇÃO DO PESO Sobrepeso: redução de 10-20% do peso inicial. Obesidade: redução de 20-30% do peso inicial. Obesidade mórbida: redução acima de 30% do peso inicial, não devendo ultrapassar 50%.

Exemplo: Um cão da raça Rottweiller, com 3,5 anos, com escore corporal oito, alto grau de obesidade, pesando 62 Kg. O animal apresenta estrutura corporal e óssea grandes, sendo recomendado um peso máximo de 45 Kg com redução de 27,4% do seu peso corporal. Definição da pressão de emagrecimento Programas de controle da obesidade objetivam a redução do peso vivo em 2 a 6% por mês. Cálculo da quantidade de Kcal que deve ser perdida mensal e diariamente Para o cão será aplicada uma pressão inicial de emagrecimento de 2% do peso vivo, assim: Perda de peso no primeiro mês = 2% do peso corporal (PC = 62 Kg). Perda de peso mensal = 1,24 Kg / mês = 1240 gramas / mês. • Perda de peso diária = 41,3 gramas. Considerando-se a perda de peso em gordura corporal e que 1,0 grama de gordura fornece 9,0 Kcal, então: • 1240 gramas / mês = 11160 Kcal a serem perdidas mensalmente. • 41,0 gramas / dia = 372 a serem perdidas diariamente. Repetir o cálculo todos os meses até que o animal atinja o peso ideal.

Definição das necessidades calóricas do animal e da dieta As necessidades energéticas de manutenção (NEM) são calculadas sobre o peso final que se deseja obter no final do primeiro mês. PV no final do primeiro mês = 62 - 1,24 = 60,76 Kg. Utiliza-se para o cálculo a fórmula de Heusner (1983), em que: NEM = 139 Kcal x PV0,67NEM = 139 kcal x 60,760,67 = 2177,9 Kcal. A quantidade de Kcal ingerida diariamente será calculada diminuindo-se de NEM a perda calórica diária estabelecida pela pressão de emagrecimento. • Ingestão diária de Kcal = 2177,9 – 372 = 1805,9 Kcal. Repetir os passos até o final do programa. Cálculo da necessidade de ingestão diária de acordo com a dieta estabelecida: determina a quantidade de alimento a ser oferecida diariamente para o animal. Duas dietas: • uma dieta específica para controle de obesidade com 3000 Kcal / Kg. • e outra comercial para manutenção com 3600 Kcal / Kg. Dieta 1 = 1805,9 / 3000 = 0,602 Kg ou 602 gramas ≈ 600 gramas / dia. Dieta 2 = 1805,9 / 3600 = 0,502 Kg ou 502 gramas ≈ 500 gramas / dia.

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obesidade canina Cálculo de um programa de obesidade para um animal da raça Rottweiller, sem exercícios Peso inicial: 62 Kg Período Peso vivo

Pressão de emagrecimento

Peso a ser perdido: 17 Kg = 27,415 % do peso inicial Peso final: 45 Kg (obesidade) Kcal Kcal Necessidade Dieta Dieta Peso a ser Kcal estaperdidas / perdidas calórica 3000 Kcal 3600 Kcal perdido belecidas mês / dia diária* (light) (padrão)

Mês 1

62,00

2,0%

1,24

11160,00

372,00

2177,90

1805,90

601,97

501,64

Mês 2

60,76

2,0%

1,22

10938,80

364,56

2148,62

1784,06

594,69

495,57

Mês 3

59,54

2,00%

1,19

10718,06

357,27

2119,74

1762,47

587,49

489,57

Mês 4

58,35

2,5%

1,46

13129,63

437,65

2084,08

1646,43

548,81

457,34

Mês 5

56,90

2,5%

1,42

12801,39

426,71

2049,03

1622,31

540,77

450,64

Mês 6

55,47

2,5%

1,39

12481,35

416,05

2014,56

1598,52

532,84

444,03

Mês 7

54,09

3,0%

1,62

14603,18

486,77

1973,87

1487,09

495,70

413,08

Mês 8

52,46

3,0%

1,57

14165,09

472,17

1933,99

1461,82

487,27

406,06

Mês 9

50,89

3,0%

1,53

13740,13

458,00

1894,93

1436,92

478,97

399,14

Mês 10

49,36

3,0%

1,48

13327,93

444,26

1856,65

1412,38

470,79

392,33

Mês 11

47,88

3,0%

1,44

12928,09

430,94

1819,14

1388,20

462,73

385,61

Mês 12

46,45

3,0%

1,39

12540,25

418,01

1782,39

1364,38

454,79

379,00

Peso Final

45,05

_

_

_

_

1782,39

1425,91

475,30

396,09

Dados dos Autores

Ingrid Bitencourt Bohnenberger

Graduanda em Medicina Veterinária na Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail: ingrid.bohnenberger@ufv.br

Ricardo Junqueira Del Carlo

Médico Veterinário, CRMV-MG 1759 ; MSc; DSc; Bolsista Produtividade CNPq; (UFV). E-mail: ricarlo@ufv.br

Simone Rezende Galvão

Médica Veterinária, CRMV-MG 4738; MSc; Doutoranda UFV. E-mail: simone.galvao@ufv.br Endereço para correspondência: Departamento de Veterinária – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG – CEP 36570-000.

Referências Bibliográficas Body Condition System for Adult Dogs - Purina Veterinary Diets. Disponível em: <http://www.purinaveterinarydiets.com/resources/ products/dog/dog_chart.pdf>. COLIN, M. Obesidade canina: como mudanças de comportamento podem ajudar a evitá-

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Serviço Público Federal Conselho Federal de Medicina Veterinária

CARTA DE BRASÍLIA A Leishmaniose Visceral (LV) é uma zoonose cujo agente etiológico no Brasil é o protozoário Leishmania Chagasi. Constitui-se uma enfermidade de evolução crônica transmitida aos seus hospedeiros por meio da picada de fêmeas de flebotomíneos, Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi, conhecido como mosquito-palha, birigui, asa delta ou cangalhinha. A LV acomete especialmente os cães, mas também raposas, gambás e secundariamente o homem. Associados a isso, estudos vêm apontando o risco de infecção também para felinos, roedores e equídeos. Entretanto, especificamente no ambiente doméstico de áreas urbanas e rurais, os cães são os principais reservatórios, sendo considerado o principal elo da cadeia epidemiológica da doença. Tal afirmação se dá devido ao longo período de incubação da doença nos cães, o que faz com que animais aparentemente sadios (assintomáticos) continuem mantendo ativa a cadeia de transmissão da doença. Por essa razão o tratamento dos cães não é permitido pelos órgãos públicos, já que os fármacos atualmente empregados no tratamento da Leishmaniose visceral não eliminam o parasito do organismo do cão. Em razão disso e devido à íntima relação do cão com seus proprietários, manter um animal infectado em áreas receptivas para o vetor é um risco para a população - principalmente crianças, idosos e pessoas imunocomprometidas. Um outro ponto importante da profilaxia da doença são as vacinas contra LV canina atualmente em comercialização. Entretanto, para renovação de registro, seus fabricantes tiveram que executar os estudos de Fase III para análise junto ao Ministério da Agricultura (MAPA) e Ministério da Saúde (MS) e no momento se aguarda a definição dos dois ministérios sobre a conclusão dessa análise. É importante também enfatizar que os fabricantes das vacinas precisam produzir antígenos que não interfiram nos resultados laboratoriais de inquéritos sorológicos, pois nesse caso o impasse continuará, já que não poderemos diferenciar cães vacinados de infectados e nesse contexto. Em face dessas informações, observa-se que o poder público tem investido de maneira fragmentada e descontinuada na profilaxia da LV, deixando de considerar a associação das estratégias. � Assim, as questões relativas à LV devem ser tratadas pela transversalidade interinstitucional entre MAPA, MS, Ministério do Meio Ambiente, Ministério Público e Conselhos de Medicina Veterinária. � Revisão, interpretação e padronização dos testes diagnósticos, os quais devem ser licenciados pelo MAPA, em particular, a espécie a que se destine, e purificação dos antígenos utilizados e diluição padrão para determinar a positividade dos cães. � Reavaliação e normatização da metodologia preconizada pelo MS para os inquéritos amostrais e censitários caninos. � Elaboração de protocolos e fomento às pesquisas referentes à biologia do vetor e ao “possível” papel de outros flebotomíneos na cadeia de transmissão. � Previsão orçamentária para estímulo às pesquisas de validação das atuais medidas de diagnóstico e controle de tratamento do cão com LV. � Regularização do trânsito e comercialização de cães e gatos, pois como a capacidade de voo do vetor é restrita, a disseminação da doença se dá principalmente pela movimentação dos animais. � Necessidade de controle populacional e da infecção por Leishmania em cães errantes e semidomiciliados, sendo obrigatória a identificação dos animais com microchip. � Adoção de estratégias para o combate da doença em novos reservatórios. � Cumprimento da notificação compulsória conforme determinação das normas vigentes. � Imediata liberação dos resultados finais das avaliações dos protocolos da Fase III das vacinas contra LV canina comercializadas no Brasil. � Reavaliação e normatização das ações de eutanásia dos CCZs (UVZs), incluindo correto destino dos cadáveres. � Aplicação do Código Sanitário Internacional. Portanto, a elaboração de uma norma por si só não é capaz de mudar uma realidade, sendo necessário o aprimoramento de políticas públicas por meio do diálogo entre os órgãos competentes envolvidos e a integralização das ações em prol da Saúde Pública em todo seu contexto. Até que se encontre um fármaco eficaz no tratamento da LV canina, a eutanásia continuará sendo a medida de controle preconizada para o reservatório canino, desde que tenham sido aplicados exames que não deixem dúvidas quanto a positividade identificada. Brasília, 16 de dezembro de 2010

Sistema CFMV/CRMVs Conselho Federal e Conselhos Regionais de Medicina Veterinária

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V i g i lânc i a S a n i tár i a

Médicos Veterinários inovam em atuações nos mercados municipais de São Paulo Além da atenção à vigilância sanitária, grupo incentiva ações de gerenciamento e implantação de programas de qualidade. Também prepara ações de conscientização para o consumidor. Um modelo para os que atuam na vigilância sanitária municipal. Por Flávia Tonin - MTB 039.263/SP

Em São Paulo, que é uma das cinco maiores cidades do mundo, um dos locais mais conhecidos é o Mercado Municipal. Além do famoso pastel de bacalhau, o Mercadão, como é tratado pelos paulistanos, também atrai os consumidores e varejistas pela qualidade e frescor de seus produtos como pescados, queijos e derivados de leite, carnes, embutidos, produtos em conserva, hortifrutigranjeiros, entre outros. Cada vendedor é independente na disputa pela preferência do consumidor, mas, em comum, existe um grupo liderado por Médicos Veteriná-

rios que garante a qualidade dos produtos, a melhora na gestão organizacional dos boxes e o consequente ganho de competitividade frente aos hipermercados. Os Médicos Veterinários atuam diretamente em aproximadamente 300 boxes do Mercado Municipal de São Paulo, como também em outros 14 mercados e 17 sacolões da cidade, os quais respondem por outros 700 pontos de venda. O próximo passo será colaborar em quase 900 feiras livres do município que são supervisionadas por outro setor. Direcionados ao consumidor, Arquivo cfmv

Detalhes de bancas do Mercado Municipal de São Paulo, que recebem mais de um milhão de pessoas ao mês em busca de produtos de origem animal e vegetal

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Arquivo cfmv

também organizam eventos, em especial sobre os produtos de origem animal para fortalecer o consumo dos produtos disponíveis. O grupo constitui a Supervisão de Mercados e Sacolões de São Paulo (subordinado à Supervisão Geral de Abastecimento de São Paulo). Eles perceberam a necessidade de não ficar restritos às ações pontuais de apoio à Vigilância Sanitária. Assim, identificaram pontos falhos no conhecimento da legislação, manuseio e conservação dos produtos; organização dos locais, uso de programas de qualidade, entre outros que poderiam ser sanados com a conscientização. “O Médico Veterinário é reconhecido como o melhor profissional para fornecer essas informações, já que em sua formação conhece toda a cadeia, desde a produção ao produto pronto”, avalia a diretora da Supervisão de Mercados e Sacolões, Célia Alas Rossi, Médica Veterinária. Sua equipe técnica é multiprofissional, composta, em 2010, pelos Médicos Veterinários Flávio Santana Garcia e Mariana Brizeno Teixeira. Também pela nutricionista Cláudia Alves Tavares Colturi e pelo Biólogo Enzio Meixedo Chiarelli, além de três estagiários que cursam Medicina Veterinária.

Profissionais em atuação

Entre as atividades realizadas, os profissionais da Supervisão de Mercados e Sacolões fazem visitas técnicas aos permissionários, como são chamados os pequenos empresários que têm o termo de permissão de uso do ponto de venda ou box. São feitas capacitações periódicas para temas específicos e implantação de programas de qualidade, como o “Qualidade Total” e o “Super Limpeza”. “O Super Limpeza é uma atividade que nenhum estabeleciArquivo cfmv

Além das orientações, os técnicos auxiliam na gestão do negócio com a implantação de programas de qualidade Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

Equipe técnica formada, na maioria, por Médicos Veterinários

mento particular realiza. Duas vezes ao ano, fechamos a unidade por um dia para a realização de uma limpeza e manutenção completas”, explicou Flávio Santana Garcia, da equipe técnica. Em especial o Mercadão, maior da cidade de São Paulo, fecha por quatro dias durante o ano para esse programa. Os técnicos reconhecem que existem programas implantados por hipermercados que poderiam ser interessantes, como o Hazard Analysis and Critical Control Point (HACCP), que pode ser traduzido por Análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC). Conhecido mundialmente, é um sistema de gestão de segurança alimentar que se baseia na análise das diversas etapas da produção de alimentos para identificar os perigos potenciais à saúde humana. “Seria difícil implantar um programa complexo como este dentro de uma unidade do mercado, mas existem outros similares, com os quais conseguimos nos aproximar, cada vez mais, da realidade ideal para aquele ponto de venda”, avalia Garcia. Ele também lembra que é importante que o técnico orientador tenha consciência da realidade vivida e dos custos que cada programa implantado poderá gerar para o negócio. Nessa linha, a equipe tem ainda um programa “Super Organização” de adesão voluntária, em que o técnico ordena o box junto com o permissionário e sua equipe. Nas arrumações é considerado o cuidado com a cadeia do frio; a organização dos itens no ponto de venda, com base na legislação e na manutenção da qualidade do produto, e, por fim, os conceitos de marketing. “Diferente de entregar uma cartilha com orientações, nos predispomos a ajudálo. Nesta hora, conseguimos conquistá-lo, pois esclarecemos as dúvidas práticas”, afirma Mariana Brizeno, da equipe técnica. Na capacitação dos permissionários, a principal dificuldade dos técnicos está em mudar a cultura

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V i g i lânc i a S a n i tár i a Arquivo cfmv

Colocação de tampas nos recipientes: conquista dos técnicos após trabalho de conscientização

de trabalho. “Buscamos transferir o conhecimento e a inovação a partir do que ele vivencia no dia a dia”, enfatiza Enzio Meixedo Chiarelli, integrante da equipe. Exemplo conquistado foi a colocação de tampas em todos os recipientes dos mercados. “A primeira resposta do público foi negativa, pois havia o hábito de ‘experimentar’ e manusear o produto. Porém, treinamos os vendedores para que explicassem a importância das tampas para a manutenção da qualidade e higiene dos alimentos. Hoje o uso é uma realidade em todos os boxes”, exemplifica a diretora Célia Rossi sobre a conquista. Foco da mudança de cultura também está na leitura

das orientações da embalagem e na obediência a elas, principalmente para informações sobre temperatura e acondicionamento dos produtos. A aplicação da legislação é um quesito que permeia todas as atividades. Nas capacitações e consultorias, os técnicos buscam traduzir os itens da lei para uma linguagem simples. “Existem pontos controversos na percepção de vendedores e de consumidores, como as atividades que requerem o uso de luva ou máscara”, exemplifica Célia. Ela enfatiza que o grupo não trabalha com multa, mas com a conscientização. “Dessa forma, a mudança é mais trabalhosa e lenta, mas o resultado é mais duradouro”, reconhece a diretora. Ao aprofundar as consultorias para atender às necessidades dos permissionários, os Médicos Veterinários identificaram a carência, em sua formação, de conhecimentos gerenciais, de marketing e também de relacionamento com o cliente. Por esse motivo, o grupo foi buscar capacitação em pósgraduações. “Identificamos que era necessário aliar as necessidades sanitárias aos apelos comerciais”, reconhece Flávio Garcia sobre o apoio aos vendedores para a manutenção de sua competitividade. Ele acredita que esses novos temas poderiam ser abordados na graduação durante a formação do profissional, pois podem ser aplicados nas diversas atividades exercidas pelos Médicos Veterinários.

A exigência vem do consumidor Mensalmente, apenas o Mercado Municipal de São Paulo recebe mais de um milhão de visitantes. Ciente desse público, uma segunda frente de ação da equipe técnica da Supervisão de Mercados e Sacolões é a organização de eventos específicos para os consumidores. As apresentações e temas são segmentados para que atendam donas de casa, varejistas e especialistas em gastronomia. “Dificilmente conseguiremos o comprometimento do permissionário se a mudança não for Shutterstock valorizada pelo consumidor”, escla-

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rece a diretora Célia Rossi. Ela lembra que o consumidor precisa estar informado para que cobre uma mudança de postura dos vendedores e também para que saiba diferenciar os que trabalham com qualidade e, consequentemente, se presdiponhase a pagar um preço diferenciado por isso. Além de informação sobre os cuidados sanitários, os workshops com o público externo buscam incentivar a compra de produtos pouco utilizados e apresentam informações sobre a cadeia produtiva. Também são realizadas atividades específicas para incentivar as crianças a experimentar novos sabores.

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Pescado necessita de maior consumo e inovação na hora da venda Mesmo com crescimento de 6% ao ano, o consumo do pescado no Brasil ainda está abaixo do nível recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com o último levantamento do Ministério da Pesca e Aquicultura, o brasileiro consome anualmente nove quilos de pescado, sendo que a recomendação da OMS é de 12 quilos do produto

ma que as informações fiquem mais atraentes para o consumidor”, exemplifica Célia Rossi, diretora da Supervisão e Médica Veterinária. Também houve a necessidade de apresentar técnicas de fracionamento ou processamento mínimo do peixe, a exemplo do que é feito nas carnes bovinas, de aves e de suínos. “Muitas pessoas moram Arquivo cfmv sozinhas; as famílias são menores e aumentou o hábito de comer fora de casa. O consumidor prefere pagar mais caro e levar a porção exata, limpa, sem espinhas e, se possível, temperada”, explica Célia. No evento também foi sugerido que o vendedor oriente o comprador sobre a variedade de produtos, como também ofereça embalagens adequadas de acondicionamento para o transporte. Direcionados ao consumidor e àqueles que trabalham com gastronomia, os técnicos preparam workshops com ênfase nas alternativas de uso do produto, apresentação de suas qualidades e tipos que podem ser usados para a substituição. “Às Médico Veterinário fazendo orientações nas peixarias do Mercadão de São Paulo vezes o consumidor não encontra o tipo ao ano. Como comparação, o consumo nacional de de peixe que procura e opta por deixar de consumicarne bovina é de 38 quilos por habitante/ano, de lo, pois não conhece outro que possa ser interessanacordo com a Confederação da Agricultura e Pecuáte”, lembra Célia. ria do Brasil. Como resultado inicial, os técnicos constataram Para os Médicos Veterinários da Supervisão de mudanças na postura dos vendedores de bacalhau Mercados e Sacolões do município de São Paulo, que passaram a usar uma mesa de corte mais adea falta de incentivo ao produto também é fruto da quada às condições sanitárias. Além disso, também é falta de atenção da indústria e dos varejistas sobre possível notar maior esclarecimento sobre as formas os hábitos do consumidor. Por esse motivo, em 2010, de preparo na hora de vender o produto. o grupo organizou dois eventos específicos para o A expansão do setor de pescado é evidente setor de pescado, já que nos 15 mercados municipais e os varejistas estão buscando alternativas para de São Paulo estão alocadas 36 peixarias. No primeiacompanhar o crescimento, o mesmo pode ser feito ro semestre foi realizado o evento “Bacalhau – o Rei pelos graduandos ou novos profissionais que não se da Páscoa” e no segundo semestre ocorreu o “I Simatentaram para essa opção de mercado. “É uma área pósio sobre Pescado em São Paulo (I Simpesp)”. que demanda profissionais e o Médico Veterinário, Aos proprietários de peixarias foram sugeridos que tem uma base sólida para atuar com pescado, artifícios mais atrativos para a comercialização do está deixando de aproveitar”, reconhece Célia. “Muipescado. Os palestrantes enfatizaram a necessidade tos cursos de graduação oferecem as disciplinas de de melhorar a forma de apresentação e embalagem aquicultura, psicultura e criação de pescado como do produto. “Por ser vendido fresco e depender de optativas. Acabamos deixando espaço para que gelo para a conservação, o pescado é apresentado outras áreas que não apresentam a mesma formação na horizontal. Sugerimos alternativas e embalagens do Médico Veterinário tomem o espaço”, completa para que o produto seja colocado na vertical, de forFlávio Garcia, da equipe técnica da Supervisão. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

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publicações

Editora ROCA Ltda Rua Dr. Cesário Mota Jr., 73 CEP 01221-020 – São Paulo – SP www.editoraroca.com.br

PATOLOGIA VETERINÁRIA Renato Lima - Antonio Carlos Alessi

Trata-se de livro organizado pelos doutores Renato de Lima Santos – médico veterinário, PhD em Patologia Veterinária pela Texas A&M University, professor associado da Escola de Veterinária da UFMG – e Antonio Carlos Alessi – médico veterinário, doutor em Medicina Veterinária pela Universidade de São Paulo e professor titular da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista. O livro conta com a participação de 22 autores com destacada atuação em patologia veterinária no Brasil e em outros países e dá um enfoque peculiar da prevalência da manifestação das várias enfermidades em animais domésticos no Brasil. Como se trata de um livro organizado com autores familiarizados com a realidade brasileira, oferece uma visão mais adequada a esta realidade. Cada capítulo é estruturado em tópicos semelhantes, que são ricamente ilustrados com fotografias em cores e de excelente qualidade, associadas às tabelas elucidativas, e possui referências bibliográficas atuais e pertinentes. Os assuntos tratados estão em consonância com os céleres avanços da patologia nas últimas décadas, como resultado das modernas técnicas de diagnóstico em toxicologia, microbiologia, virologia e imunopatologia, proporcionando uma abordagem atualizada da patologia dos diferentes sistemas.

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Nandaya Livros e Serviços Ltda Avenida do Contorno, 6.000 – loja 01 – Savassi CEP 30110-060 – Belo Horizonte – MG www.nandayalivros.com.br

BIOSSEGURANÇA, HIGIENE E PROFILAXIA Abordagem teórico-didática e aplicada Elis Bernard Kamwa

A obra possui a coordenadoria editorial do médico veterinário Elis Bernard Kamwa, formado pela Universidade Federal do Paraná (1994), mestrado em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal do Paraná (1997) e doutorado em Ciência Animal pela Universidade Federal de Minas Gerais (2002), com a colaboração de professores e pesquisadores que militam na área. Trata-se de um livro que aborda desde a conceituação de aspectos relacionados à biossegurança até a prevenção de doenças em animais de produção e estimação, focando a vacinologia e vacinação, a higiene e o manejo sanitário de rebanhos. Está dividido em capítulos, organizados de acordo com os temas, que estão apresentados de forma a atender as peculiaridades de determinadas espécies animais.

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L.F. Livros de Veterinária Ltda Avenida Brasil, 5.493/301 – Bonsucessso CEP 21040-360 – Rio de Janeiro – RJ ww.lflivros.com.br

DESEMPENHO SUSTENTÁVEL EM MEDICINA VETERINÁRIA: como entender, medir e relatar Márcio Ricardo Costa dos Santos

O autor da obra, Márcio Ricardo Costa dos Santos, possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Fluminense (1972), residência médica com especialização em Pathology of Reproduction pela Cornell University no New York State College of Veterinary Medicine (1977), mestrado em Fisiopatologia da Reprodução Animal pela Universidade Federal Fluminense (1978), doutorado em Medicina Veterinária pela Ludiwig Maximilians Universität München (1986), pós-doutorado pela Technische Universität München (1988). Na obra, a Medicina Veterinária é analisada do ponto de vista do Desenvolvimento Sustentável, dentro da óptica de que o médico veterinário da atualidade deve ser capaz de zelar pela saúde humana e animal, bem como pela produção. Assim, supre as necessidade nutricionais de uma população crescente e assegura a rentabilidade, além de dimensionar todas as atividades visando minimizar o comprometimento do meio ambiente. Dessa forma, o autor deixa clara a responsabilidade dos profissionais atuais com a sustentabilidade por meio da adoção de práticas adequadas à preservação do meio ambiente. O livro, além de conter ensinamentos preciosos, provoca uma reflexão sobre as condições de nosso planeta e de seus habitantes. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

Imprensa Universitária Universidade Federal do Paraná www.ufpr.br

PRINCíPIOS BáSICOS PARA A PRODUÇÃO DE LEITE BOVINO Masahiko Ohi - Ana Carolina Gurgel Knopki Franciela Bednarski - Ligia Valéria Nascimento Lilian Barbosa da Silva

O livro possui a coordenação editorial do Professor Masahiko Ohi e foi elaborado pelo projeto “Cuidando da qualidade do leite no Vale do Ribeira”, da UFPR em convênio com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado do Paraná. Objetiva ser consultado por produtores de leite e familiares, estudantes e técnicos agropecuários, contribuindo para a profissionalização do seguimento. São descritos os fundamentos para que os produtores possam aprender a produzir leite com qualidade e boa produtividade. O livro é dividido em capítulos que perpassam por questões relacionadas à administração da propriedade leiteira e ao manejo na bovinocultura de leite; aborda ainda as características, constituintes, beneficiamento e comercialização do leite. É um livro de leitura fácil, que aborda os aspectos práticos da bovinocultura de leite.

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agenda

Maio

Junho

11º Congresso sobre Nutrição de Bovinos – Mato Grosso do Sul

Local: Mato Grosso do Sul – MS. Período: 11 a 13 de maio de 2011. Mais informações: (19) 3232 7518 / www.cbna.com.br

Simpósio Internacional de Nefrologia e Urologia Veterinárias

Local: Porto de Galinhas – PE. Período: 25 a 27 de maio de 2011. Mais informações: (81) 9996 8943/ (81) 9193-0733/ (81) 3034 3370/contato@ shirazeventos.com

XIX Congresso Brasileiro de Reprodução Animal

Local: Centro de Convenções Mar Hotel – Recife – PE. Período: 25 a 27 de maio de 2011. Mais informações: cbra@cbra.org.br

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Julho II Conferência Medicina Veterinária do Coletivo e I Simpósio Internacional de Agressividade

XVI ENESCO – Encontro Nacional de Educação Sanitária e Comunicação Local: Expominas – Belo Horizonte – MG. Período: 1 a 3 de junho de 2011. Mais informações: http://enesco.webnode. com.br/

Local: FMVZ, USP – São Paulo – SP. Período: 1 a 3 de julho de 2011. Mais informações: http://www.itecbr.org/

Agosto

XII Conferência Anual da Abraveq

Local: Royal Palm Plaza Resort – Campinas – SP. Período: 11 e 12 de junho de 2011. Mais informações: http://www.abraveq. com.br/eventos2011

XIX Encontro de Médicos Veterinários e Zootecnistas do Agreste Meridional de Pernambuco e VIII Encontro Regional de Buiatria de Pernambuco

Local: Garanhuns – PE. Período: 3 a 5 de junho de 2011. Mais informações: (81) 3797-2517 / crmvpe@elogica.com.br

IV Simpósio Brasil Sul de Suinocultura e III Brasil Sul Pig Fair Local: Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes – Chapecó – SC. Período: 9 a 11 de agosto de 2011. Mais informações: (49) 3329-1640 / (49) 3328-4785 / www.nucleovet.com.br

VEJA MAIS EVENTOS EM www.cfmv.gov.br

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AGENDA CFMV EVENTOS ORGANIZADOS PELO

CFMV EM 2011 JÁ TÊM DATA PREVISTA

EVENTO

DATA

LOCAL

Fórum das Comissões Nacional e Regionais de Ensino de Medicina Veterinária

1º/3/2011

Brasília-DF

III Fórum das Comissões Nacional e Regionais de Saúde Pública do Sistema CFMV/CRMVs

24 e 25/3/2011

Brasília-DF

Seminário de Saúde Pública Veterinária

11 a 13/5/2011

Curitiba-PR

17/5/11

Campo Grande-MS

23 a 25/5/2011

Maceió-AL

1 a 3/6/2011

Brasília-DF

Seminário de Saúde Pública Veterinária

16 e 17/6/2011

Guarapari-ES

Curso de Formação de Professores em Medicina Veterinária e Zootecnia para Ética, Bioética e Bem-Estar Animal

15 a 19/8/2011

Brasília-DF

XIX Seminário de Ensino de Medicina Veterinária

14 a 16/9/2011

Brasília-DF

Pré-Evento no IX Congresso Brasileiro de Bioética

Setembro/2011

Brasília-DF

4/10/2011

São Luis-MA

17 e 18/10/2011

Brasília-DF

7/11/2011

Brasília-DF

II Encontro de Ética, Bioética e Bem-estar Animal – Centro-Oeste I Seminário Nacional de Ensino de Zootecnia III Seminário Brasileiro de Residência em Medicina Veterinária

III Encontro de Ética, Bioética e Bem-estar Animal – Nordeste II Fórum das Comissões Nacional e Regionais de Ensino de Zootecnia I Fórum Nacional de Saúde Ambiental

CAMPANHA PELA REDUÇÃO DO CONSUMO DE SAL A Organização Mundial da Saúde – OMS recomenda que o consumo máximo de sal por dia deve ser de 5 gramas. O brasileiro consome em media + de 12 g diárias. O Consumo excessivo pode acarretar problemas circulatórios, agravando os problemas de hipertensão e o risco de causar infarto e derrame no consumidor. Para melhorar a sua qualidade de vida, é importante usar o sal com moderação, principalmente quando se sabe que 30 % dos brasileiros sofrem de hipertensão.

www.iboc.org.br

www.universidadedoconsumidor.org.br

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opinião

NECESSIDADE DE UMA VISÃO PROFISSIONALEMPRESARIAL Lívio Cézar Menezes Fontes

Médico Veterinário , CRMV - MG nº 05373 Especialista em Clínica e Cirurgia de Grandes Animais – UFV MBA em Gestão Empresarial – FGV

Quero parabenizar os médicos-veterinários que O mercado pet brasileiro é um dos maiores do obtiveram sucesso na profissão. Entretanto, neste mundo, em franca expansão, com expectativa de famomento, minha preocupação é com aqueles que turamento cada vez maior, aproveitando as benesses ainda não o atingiram e que almejam um lugar ao sol. de uma economia estável. Entretanto, para atender É premente a necessidade de estar alerta para o proa este mercado, exige-se cada vez mais profissiofissionalismo inerente ao mercado em expansão, que nalismo e visão empresarial do envolvido. O cliente possui grande potencial e está cada vez mais compemudou, o paciente mudou, os níveis de exigência são titivo. Os futuros clientes apresentam-se cada vez mais imensos. O bom profissional não basta. Atualmente, bem informados e exigentes, mormente aqueles que por exemplo, cita-se que o paciente pet tornou-se possuem maior disponibilidade financeira para assumembro da família de seu proprietário. mir custos, mas, em contrapartida, Arquivo cfmv exigem garantia de prestação de bom serviço/resultados. É possível verificar, no dia a dia, a presença de colegas empreendedores no mercado de trabalho, com visão de futuro, atuantes. Por outro lado, percebem-se também bons clínicos e cirurgiões que dominam com competência os aspectos técnicos da profissão veterinária, porém demonstram um “fracasso administrativo”. Não conseguem se estabelecer como empresários, pecam na administração, não conseguem evoluir, muitos deles atuando nos denominados “pet garagens”e“agro garagens”. Mercadorias dispostas em estantes adequadas e profissional treinado para atendimento

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Ambiente confortável e adequado ao desempenho das funções

empresas do setor uma diversidade de desafios referentes à consolidação e à reestruturação empresarial, aos custos tributários e logísticos, aos processos de sucessão. Esse trabalho está exigindo que o profissional demonstre capacidade de administrar, conhecimentos em agribusiness, marketing, gestão de pessoas e processos. Após essa pequena reflexão, permito-me sugerir que nossas escolas incorporem em suas grades curriculares disciplinas que permitam e orientem a atuação do profissional empreendedor. É necessário estimular a vertente empreendedora e estas joias devem ser lapidadas no ambiente escolar. Disponibilizar disciplinas afins como matéria optativa, com o objetivo simplista de integrar o número obrigatório de créditos, não é a solução. O aluno precisa reconhecer a importância, dando o mesmo reconhecimento que se dá para a clínica, a cirurgia, a reprodução e a produção. É evidente o aumento crescente do número de médicos veterinários adentrando no mercado de trabalho. Se vamos formar um veterinário com competência generalista ou se especialista, deve ser observado. Mas, independentemente dessa posição, o mercado está exigindo um profissional gestor de seu próprio negócio e da sua própria carreira.

Também, o agronegócio brasileiro experimenta um momento de grandes oportunidades e desafios. Quando consideramos as necessidades da população humana e a crescente demanda por alimentos, somos obrigados a refletir sobre a importância e nível de envolvimento do profissional médico veterinário no processo produtivo e qualitativo do alimento disponibilizado para consumo. Somos pouco ouvidos em situações de epidemias ou não conseguimos nos fazer ouvir? Nossos colegas que estão atuando no campo conseguem ser representantes da profissão? Estão preparados Arquivo cfmv e atuam no dia a dia como profissionais da área de saúde? O sucesso do agronegócio nacional depende do entrosamento entre as notórias possibilidades de expansão e a superação dos gargalos que engessam o crescimento mais acelerado da atividade. Entre eles, a necessidade de investir em infraestrutura e a de aperfeiçoar a gestão. E nossos colegas que estão envolvidos com a indústria de alimentos estão conquistando mercado ou estão se sentido cada vez mais acuados, despreparados e sujeitos a concorrência de novos profissionais, alguns oriundos de cursos cujos nomes são de difícil compreensão? As novas oportunidades de negócios impõem às Disposição adequada de mercadoria a ser comercializada Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVII - nº 52 - 2011

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Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Ceará – CRMV/CE Endereço: Rua Dr. José Lourenço, 3288 - Bairro Aldeota - Fortaleza/CE - CEP: 60115-280 Telefone: (85) 3272-4886 - Fax: (85) 3272-4886/ E-mail: administrativo@crmv-ce.org.br/ Site: www.crmv-ce.org.br

Diretoria Executiva

Méd. Vet. Márcia Martins Carvalho Lima CRMV-CE Nº 1523

Presidente: Méd. Vet. José Maria dos Santos Filho

Méd. Vet. Ana Cristina Farias Moreira Ribeiro

CRMV-CE Nº 0950

CRMV-CE Nº1835

Vice-Presidente: Méd. Vet. Carlos Aurélio Azevedo Albuquerque

Conselheiros Suplentes

CRMV-CE Nº 1237

Secretário-Geral: Méd. Vet. Francisco Antônio Rocha Macedo

Zoot. Cleber Medeiros Barreto

CRMV-CE Nº 0283

Tesoureiro: Méd. Vet. Rodrigo Macambira de Morais

Méd. Vet. Francisco Roger Aguiar Cavalcante

CRMV-CE Nº 1881

CRMV-CE Nº 1537

CRMV-CE Nº 0098/Z

Méd. Vet. Jeová da Silva Pereira Conselheiros Efetivos

CRMV-CE Nº 1400

Méd. Vet. Juarez Charles Carvalho Méd. Vet. Airton Alencar de Araújo

CRMV-CE Nº 0849

CRMV-CE Nº 0990

Méd. Vet. Raquel Queiroz de Menezes

Méd. Vet. David Caldas Vasconcelos

CRMV-CE Nº 1667

CRMV-CE Nº 1841

Méd. Vet. José Arturo de Oliveira Carvalho CRMV-CE Nº 1883

Mandato: 22-02-2009 a 21-02-2012


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Galeria de Imagens Médicos Veterinários, Zootecnistas e Alunos de graduação A revista do CFMV está criando um e para isso conta com a sua colaboração. As imagens serão utilizadas em reportagens e peças institucionais de divulgação do CFMV e terão que conter motivos relacionados à Medicina Veterinária e à Zootecnia, como rebanhos, casos clínicos, animais e até situações inusitadas. O crédito do autor da foto sempre virá na publicação. As fotos deverão estar com excelente nitidez, sem saturação, sem estouro de luz ou sombra; também não poderão conter qualquer tipo de montagem. A resolução deve ser de no mínimo 300dpi, medida de 15 cm de altura, em JPG (sem muita compactação) e as cores em cmyk. Não há limites de fotos por autor. artigos@cfmv.gov.br


Sede do CFMV: Sia - Trecho 6 - Lote 130 e 140 Brasília – DF - CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 - Fax: (61) 2106-0444 E-mail: cfmv@cfmv.gov.br www.cfmv.gov.br


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