Há jardins entre a terra e o mar

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há jardins entre a terra e o mar...

valéria scornaienchi



Minha pesquisa determina e é determinada pelos percursos da minha vida cotidiana. Há muito tempo venho desenvolvendo um trabalho relacionado com a natureza. Costumo fazer coletas ao longo do caminho e acompanho o processo de transformação das plantas e dos fragmentos que recolho e coleciono. O meu encontro com Livro da Natureza, de Fritz Kahn, aconteceu há 7 anos atrás em um sebo que costumo frequentar. O tema, as ilustrações, a materialidade e a abordagem entre o científico e o poético despertaram o meu interesse. Adquiri vários exemplares e passei a utilizálo no meu trabalho. As pesquisas com os fragmentos naturais e o acompanhamento de seus processos de mutação me levaram a criar desenhos que se apresentavam de início como desenhos de observação mas se transformaram depois em outras imagens. Sigo estabelecendo com esses elementos uma relação a partir dos sentimentos, do afeto e dos segredos escondidos em suas superfícies. Os desenhos surgem em cadernos, folhas soltas e papéis diversos; e junto com os fragmentos de plantas formam uma coleção que se amplia ao longo do tempo, constituindo um atlas afetivo de botânica. Os trabalhos apresentados nesse portfólio são um recorte dos trabalhos realizados nesse série onde os desenhos são feitos com aquarela de terra e de grafite, e as reflexões e criação de pequenas narrativas surgem a partir da ideia de pensar jardins nas suas formas mais expandidas. Jardins que transitam entre o céu, o mar e a terra. Jardins nos quais seria possível imaginas novas composições de existências, de coexistências de seres de todos os reinos convivendo em harmonia.




O elemento terra como elo de união, de conexão e de aterramento do ser no exato lugar onde se está.


A conexão entre o céu e a terra, entre o céu e o mar, entre o mar e a terra. Vias de mão dupla. Vias de mãos múltiplas.


A construção de jardins imaginários que partem da ideia de metamorfoses possíveis entre esses dois entes. cuidar flutuar Escutar guardar revelar caminhar fragilizar A vida amorosa entre peixes e plantas.



A existência da lagarta a partir das bolinhas que se acomodam empilhadas nas árvores. Algumas caem das árvores e ficam sob a terra e se desenvolve delicadamente entre os grãos de areia, outras caem no mar e crescem em plantas.

o nascimento da lagarta

As fabulações me ajudam a pensar em novas formas de existência. Nas existências hibridas.




As mães das águas com suas crias que flutuam no mar. Há jardins no mar. Flores e folhas que crescem com as algas algumas vezes são jardins invisíveis outras multicoloridos.

As mães das águas constroem seus ninhos com suas próprias raízes. Abraçam seus fetos entrelaçados em seus filamentos raízes, até que eles se soltam e sobem para receber o luar.


As infindáveis noites no deserto. O árido, a terra que sobrepõe ao ar e se por um lado pode asfixiar por outro pode apresenta outras formas de vida. Vidas do invisível que o deserto sugere em uma primeira vista mas que ao adentrar os olhos se acostumam e surgem existências múltiplas, mínimas e secretas.



gestos terra gestos flor gesto planta


1.a vida, sublime, entregue as sensações de simplesmente ser. 2.a espera, inquieta na mente e silenciosa no corpo. 3.encontro, quase encontro do ser com ele mesmo



Essa publicação foi realizada com imagens de uma série de trabalhos chamada há jardins entre o céu e a terra, que dá nome ao livro, e que traz como proposta fabulações que provoquem a reflexão de novos mundos, novas conexões entre os seres que estão todos imersos nesse lugar de terra, útero e vestígios da própria terra, de onde surgem as insurgências. Textos e imagens, e edição da artista.


valeriascornaienchi.com


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