Os melhores CDs do mês • Notas sonoras • José Serebrier Jessye Norman e o jazz • Indicados Gramophone Awards
CONCERTO Guia mensal de música clássica
EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO REVISTA CONCERTO 15 ANOS ROTEIRO MUSICAL LIVROS • CDs • DVDs Atrás da pauta por Júlio Medaglia
Setembro 2010
Música para todos
Turnê europeia da Sinfônica Heliópolis reforça iniciativas artístico-sociais brasileiras
ENTREVISTA Guilherme Bauer Palco XX Festival Ritmo e Som
r$ 11,90 ISSN 1413-2052 - ANO XVI - Nº 165
vidas musicais Glenn Gould minha música Carlito Carvalhosa
Daniel Taylor
Paul Lewis
Osvaldo Golijov
Alison Balsom
Zubin Mehta
o brasil na rota dos clássicos Destacadas atrações internacionais movimentam a agenda de concertos
REGÊNCIA FABIO MECHETTI GOMES • BEETHOVEN • MOZART • DVORÁK
uma orquestra emocionante em cidades que emocionam
8/9 12/9
20h30 TEATRO CASTRO ALVES
10/9 20h30 CINE BANGÜÊ
19h TEATRO DE SANTA ISABEL
14/9
16/9
19/9
20h30 THEATRO JOSÉ DE ALENCAR
19h TEATRO AMAZONAS
20h30 TEATRO ALBERTO MARANHÃO
Informações: 31 3789-0300 w w w. t w i t t e r. c o m / f i l a r m o n i c a m g
w w w. f i l a r m o n i c a . a r t . b r
17/9 20h THEATRO DA PAZ O concerto integra a programação do 4º Festival Internacional de Ópera da Amazônia
CONCERTO Setembro de 2010 nº 165
22
EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO 15 ANOS
2 Carta ao Leitor 4 Cartas
18
66
6 Contraponto Notícias do mundo musical
14
10 Palco 20º Festival Ritmo e Som 12 Atrás da Pauta Coluna mensal do maestro Júlio Medaglia 14 Brasil Musical O Brasil na rota internacional dos clássicos, por Leonardo Martinelli
24
18 Em Conversa Entrevista com o compositor Guilherme Bauer 20 Música Viva João Marcos Coelho escreve sobre os 150 anos de Hugo Wolf
68 60
22 Vidas Musicais Trajetória artística do pianista Glenn Gould 24 Capa Musica social, por Camila Frésca 28 Roteiro Musical Destaques da programação musical no Brasil 30 Roteiro Musical São Paulo 44 Roteiro Musical Rio de Janeiro 50 Roteiro Musical Outras Cidades
Uma seleção exclusiva do melhor da revista GRAMOPHONE
58 Gramophone Uma seleção exclusiva do melhor da revista GRAMOPHONE
58 Notas Sonoras Notícias internacionais
65 CDs e DVDs
59 A escolha do editor James Inverne aponta os dez melhores CDs do mês
69 Livros 70 Outros Eventos
60 Entrevista Jessye Norman e o jazz
71 Classificados
64 Entrevista José Serebrier
72 Minha Música A música que inspira o artista plástico Carlito Carvalhosa
CONCERTO Setembro 2010 1
Prezado Leitor, Em setembro de 1995, com 44 páginas e em formato de bolso, circulava pela primeira vez a Revista CONCERTO, o guia mensal de música clássica no Brasil. Desde então, todos os meses e de forma ininterrupta, a Revista CONCERTO divulgou as atividades e as temporadas musicais, consolidando-se como o principal veículo de comunicação da área em nosso país. Orgulhamo-nos deste feito, que não teria sido possível sem o indispensável apoio de nossos anunciantes, das entidades promotoras – nossos principais parceiros –, e de você, nosso leitor, a quem agradecemos. Para comemorar o aniversário, lançamos com esta edição o Concurso CONCERTO 15 Anos. Respondendo o questionário do folheto anexo (também disponível em nosso site www.concerto.com.br) você concorre a 15 pares de ingressos para os melhores concertos da Sala São Paulo seguidos de jantar no restaurante ou a 15 vales no valor de R$ 100 cada para compras na Loja CLÁSSICOS. Participe! Concorra a ingressos para a Filarmônica da Radio France, para a Orquestra Bach da Gewandhaus Leipzig, para atrações da Osesp ou (se preferir ou se você não mora em São Paulo) concorra a 15 vales da Loja CLÁSSICOS, a loja dos melhores livros, CDs e DVDs. O Concurso CONCERTO 15 Anos é exclusivo para assinantes da Revista CONCERTO e conta com o apoio da Sociedade de Cultura Artística, do Mozarteum Brasileiro, da Fundação Osesp, da Oitava Arte Restaurante e da CLÁSSICOS. E nada melhor do que fazer aniversário em um mês repleto de ótimas atrações (é o Brasil na rota internacional dos clássicos, leia na página 14). Em setembro, Rio de Janeiro e São Paulo recebem a visita de uma das principais orquestras alemãs, a Filarmônica de Munique, conduzida pelo extraordinário maestro Zubin Mehta, verdadeiro mito da regência. Teremos também o grupo norte-americano Musica Angelica, a trompetista britânica Alison Balsom, a Orquestra de Câmara da União Europeia com a violoncelista Natalie Clein, o contratenor Daniel Taylor e um criativo programa em torno da obra de Igor Stravinsky no Rio de Janeiro. Como se não bastasse, confira o impressionante mês da Osesp: a violinista Leila Josefowicz tocando John Adams; a afamada maestrina norteamericana Marin Alsop interpretando Bernstein e Mahler; o elogiado pianista britânico Paul Lewis (indicado ao prêmio Gramophone Awards deste ano, veja na página 58); e ainda a visita do argentino Osvaldo Golijov, possivelmente o mais badalado compositor do momento, que estará em São Paulo para acompanhar um programa inteiramente dedicado a sua obra. Nada mal para o país do futebol... Tendo em vista a turnê da Sinfônica Heliópolis pela Europa – atendendo a convite do Festival Beethovenfest de Bonn –, Camila Frésca aborda, no artigo de capa desta edição, os projetos de inclusão social pela música desenvolvidos em nosso país (página 24). Em clara demonstração de responsabilidade social, poder público e iniciativa privada investem recursos e esforços para a criação de oportunidades de desenvolvimento para crianças e jovens, em programas pedagógicos cada vez mais consistentes. Se em um primeiro instante os projetos concretamente abrem novos horizontes para camadas sociais vulneráveis e expostas a riscos, eles também proporcionam uma oxigenação de todo o tecido social, restituindo valores e revalorizando o próprio papel da música e das artes. O entrevistado desta edição da Revista CONCERTO é o compositor carioca Guilherme Bauer (página 18). Membro da Academia Brasileira de Música, Bauer, que acaba de completar 70 anos, estreia este mês uma nova obra sinfônica encomendada pela OSB. Como todos os meses, a Revista CONCERTO publica a seção GRAMOPHONE com uma seleção dos melhores artigos da prestigiosa revista inglesa (página 58). Além dos principais lançamentos de CDs do mercado internacional, você poderá ler uma matéria sobre a soprano Jessye Norman e uma entrevista com o maestro uruguaio José Serebrier. Tudo o que se passa no mundo da música clássica você encontra aqui. Leia a Revista CONCERTO e viaje com a gente através do maravilhoso mundo da música!
Nelson Rubens Kunze diretor-editor 2 Setembro 2010 CONCERTO
Capa: Divulgação / Keith Saunders (Lewis), Festival de Saint-Denis – Sébastien Chambert (Golijov), Oded Antman (Mehta)
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Camila Frésca, jornalista e pesquisadora Clóvis Marques, jornalista e crítico musical Irineu Franco Perpetuo, jornalista e crítico musical João Marcos Coelho, jornalista e crítico musical Júlio Medaglia, maestro Leonardo Martinelli, jornalista e compositor
ACONTECEU EM SETEMBRO Nascimentos H.-J. Koellreutter 2 de setembro de 1915 Francisco Mignone 3 de setembro de 1897 Nadia Boulanger 16 de setembro de 1887 Gustav Holst 21 de setembro de 1874 Falecimentos Luciano Pavarotti 6 de setembro de 2007 Carlos Gomes 16 de setembro de 1896 Jean Sibelius 20 de setembro de 1957 Vincenzo Bellini 23 de setembro de 1835 Estreias O inocente de Francisco Mignone / Teatro Municipal do Rio de Janeiro, 5 de setembro de 1928 O contratador de diamantes de Francisco Mignone / Teatro Municipal do Rio de Janeiro, 20 de setembro de 1924 A história do soldado de Igor Stravinsky / 28 de setembro de 1918 Porgy and Bess de George Gershwin / 30 de setembro de 1935
Luigi Nono
Osesp e Frank Shipway
É perfeitamente válido que se lembre de data tão memorável quanto a morte de Luigi Nono. Contudo, mais do que isso, é preciso que os músicos brasileiros executem a obra do importante compositor italiano. Aliás, não somente a dele, mas a de outros compositores contemporâneos praticamente relegados ao ostracismo em nosso país, como Langgaard, Rautavaara, Carter, Penderecki, Adams, Berio, Prin, dentre vários. Não é mais admissível que músicos profissionais desconheçam as sinfonias de Scriabin, que as plateias permaneçam na superfície e que os diretores artísticos das nossas orquestras continuem a rechaçar a música de nossos dias sob o confortável abrigo do repertório tradicional. Que se rompa de vez a barreira do século XIX em direção ao século XXI! Ainda há tempo...
Valeu o sacrifício de subir a serra para acompanhar o concerto da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo no dia 17 de julho em Campos do Jordão. Primeiramente pelo programa, que contava, nada mais nada menos, com o Concerto para piano nº4 de Beethoven, com a excelente Maria João Pires, e a grandiosa Sinfonia Alpina op. 64 de Richard Strauss. O Beethoven foi fantástico, Maria João é um anjo e ouvi-la tocar é um privilégio. Acompanhada pela Osesp sob a batuta de Frank Shipway o concerto foi magnífico e a solista ovacionada e chamada ao palco inúmeras vezes. Após o intervalo, consagração, eu não esperava menos do que isso com a Osesp sob o comando de Shipway. É uma Osesp completamente diferente, o que o homem extrai dessa orquestra é de cair o queixo. Simplesmente arrebatadora a interpretação da Sinfonia Alpina. Cordas eletrizantes, apaixonadas, madeiras divinas, percussão imponente e metais soberbos. É o concerto dos sonhos de qualquer melômano, imagino o que poderia ser uma temporada com Frank Shipway regendo pelo menos 9 semanas. Parabéns Osesp! Parabéns maestro Frank Shipway!
P.S.: Na página 43 da edição de agosto de 2010 da Revista CONCERTO (“Sinfônica de Santo André convida violinista Emmanuele Baldini”) afirma-se que Paganini compôs cinco concertos para violino e orquestra, quando na verdade, compôs seis, a saber: Concerto nº 1 em ré maior, op. 6; Concerto nº 2 em si menor, op. 7; Concerto nº 3 em mi maior; Concerto nº 4 em ré menor; Concerto nº 5 em lá menor; e o Concerto nº 6 em mi menor.
Willian Cardoso Abreu, Cajamar, SP
Guilherme Fontão, Nova Friburgo, RJ
José Roberto Prazeres Durante o período em que foi ao ar, pela Cultura FM, o programa “Filarmonia” era o meu favorito. Sendo assim, sinto profundamente a morte de seu honorável criador e apresentador, José Roberto Prazeres. Sem ele a boa música perde um de seus maiores e mais brilhantes divulgadores. Anderson de Carvalho, por e-mail
e-mail: cartas@concerto.com.br Cartas para esta seção devem ser remetidas por e-mail: cartas@concerto.com.br, fax (11) 3539-0046 ou correio (Rua João Álvares Soares, 1.404 – CEP 04609-003 São Paulo, SP), com nome e telefone. Escreva para nós e dê sua opinião! A cada mês uma correspondência será premiada com um CD de música clássica. (Em razão do espaço disponível, reservamo-nos o direito de editar as cartas.)
Concurso CONCERTO 15 Anos Participe da comemoração dos 15 anos da Revista CONCERTO e concorra a ingressos para ótimos concertos, jantares na Sala São Paulo e vales de R$ 100 da Loja CLÁSSICOS. É fácil! Consulte o encarte anexo (apenas nos exemplares para assinantes) ou acesse nosso site www.concerto.com.br.
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Guia mensal de música clássica www.concerto.com.br SETEMBRO 2010 Ano XVI – Número 165 Periodicidade mensal ISSN 1413-2052 Redação e Publicidade Rua João Álvares Soares, 1.404 04609-003 São Paulo, SP Tel. (11) 3539-0045 – Fax (11) 3539-0046 e-mail: concerto@concerto.com.br Realização diretor-editor Nelson Rubens Kunze (MTb-32719) editoras executivas Cornelia Rosenthal Mirian Maruyama Croce reportagens Camila Frésca revisão Gabriela García Maloucaze, site e projetos especiais Marcos Fecchio apoio de produção Kátia Sabino, Luciana Alfredo Oliveira, Priscila Martins, Vanessa Solis da Silva projeto gráfico BVDA Brasil Verde editoração e produção gráfica Lume Artes Gráficas / Gilberto Duobles As datas e programações de concertos são fornecidas pelas próprias entidades promotoras, não nos cabendo responsabilidade por alterações e/ou incorreções de informações. Inserções de eventos são gratuitas e devem ser enviadas à redação até o dia 10 do mês anterior ao da edição, por fax (11) 3539-0046 ou e-mail: concerto@concerto.com.br. Artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião da redação. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução por qualquer meio sem a prévia autorização.
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4 Setembro 2010 CONCERTO
A Clássicos Editorial Ltda, consciente das questões ambientais e sociais utiliza papéis com certificação FSC (Forest Stewardship Council) na impressão deste material. A certificação FSC garante que uma matériaprima florestal provenha de um manejo considerado social, ambiental e economicamente adequado e outras fontes controladas. Impresso na IBEP Gráfica Ltda. - certificada na cadeia de custódia - FSC.
OSB refaz concerto inaugural em comemoração aos seus 70 anos Em 17 de agosto passado, a Orquestra Sinfônica Brasileira refez no Teatro Municipal do Rio de Janeiro – em comemoração aos seus setenta anos de atividades – o mesmo programa de seu concerto inaugural de 1940. Setenta anos depois quem empunhou a batuta foi o maestro Roberto Minczuk, desde 2005 diretor artístico e regente titular do grupo e um dos responsáveis pela boa fase que a orquestra atravessa. O concerto foi precedido pela apresentação da OSB Jovem, grupo de formação mantido pela OSB. A OSB é uma das mais tradicionais sinfônicas do país e fez história sobretudo na direção dos maestros Eleazar de Carvalho (de 1952 a 57, 1960 a 62 e 1966 a 69) e Isaac Karabtchevsky (de 1969 a 1996). Algumas curiosidades elencadas no programa comemorativo apontam que aproximadamente 700 músicos passaram pela orquestra, que ela interpretou 2 mil diferentes obras escritas por mais de 500 diferentes compositores, que os autores mais executados foram Beethoven, Mozart e Wagner (Carlos Gomes, Villa-Lobos e Alberto Nepomuceno entre os brasileiros), e que a abertura da ópera O Guarani, de Carlos Gomes, foi a obra mais vezes apresentada. Na cerimônia que ocorreu durante a noite, a OSB e o presidente de seu conselho curador, Eleazar de Carvalho Filho, fizeram uma homenagem a Hans Stern, aos patrocinadores Vale, BNDES e Prefeitura do Rio de Janeiro, e ao fagotista decano Noel Devos.
Sala Guiomar Novaes em São Paulo terá série de música de câmara Com uma programação semanal até dezembro, a Funarte – Fundação Nacional das Artes apresentou o projeto vencedor do edital de ocupação da Sala Guiomar Novaes, dentro da sede paulistana da entidade. O projeto “Transversal da música no tempo”, que tem curadoria de música clássica do maestro Mário Ficarelli, faz apresentações a preços populares nas manhãs de domingo e conta com diferentes formações e repertórios, em módulos que abordam da música barroca à escrita contemporânea. Neste mês, serão apresentados compositores como Bach, Händel, Palestrina, Gabrielli, Telemann e Vivaldi. Além de criar uma programação regular em um importante – porém esquecido – espaço de música da capital paulista, o projeto leva o público de cultura ao tradicional bairro dos Campos Elíseos, em um movimento louvável de revitalização da região. Com mais esta iniciativa, aliada a premiações como as de incentivo à composição clássica e de crítica musical, além de projetos como a Bienal de Música Brasileira Contemporânea, a Funarte reforça uma atuação crescente no fomento da música de concerto.
Faleceu na cidade de Taubaté no dia 12 de agosto o violista Geza Kiszely, músico que atuou como primeira viola da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, como instrumentista da Sinfônica da USP e como membro do Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo. Geza Kiszely foi ainda professor da Escola Municipal de Música de São Paulo e fundador do Collegium Musicum da Rádio MEC. Nascido na Hungria, estudou na Academia Franz Liszt de Budapeste e se aperfeiçoou na Academia Santa Cecília, em Roma. A série Concertos Paulínia deu o primeiro passo em seu Projeto Cidadão Musical, visando a criação da futura Orquestra Sinfônica Jovem de Paulínia. O trabalho de iniciação e formação musical para crianças e jovens da comunidade de Paulínia e região selecionou 80 bolsistas, que já começaram a receber aulas de violino, viola, violoncelo e contrabaixo, além de teoria musical e prática orquestral. O projeto Cidadão Musical tem coordenação pedagógica de André Micheletti e direção artística de Roberto Ring. Entre 10 de setembro e 3 de outubro a pianista brasileira Eny da Rocha realiza turnê pela Itália, com apresentações em Magnacavallo, Mantova e no Teatro Comunale de Ferrara, além de recital na República de San Marino. Nascida em São Paulo, Eny da Rocha estudou com o Maestro Souza Lima e fez licenciatura pela École Marguerite Long. Villa-Lobos in America é o nome do espetáculo que os pianistas Rogerio Tutti e João Paulo Casaroti apresentarão em Boston (Steinert and Son’s) e Nova York (Steinway Hall). O programa conta ainda com a mezzo soprano Crystal Whitaker e o tenor Thiago Soares. A série tem como patrocinadores a Embaixada Brasileira, o Consulado Brasileiro de Nova York, a Steinway Hall e a Steinert and Son’s. No dia em que foi aberta a venda de ingressos avulsos para a temporada 2010-11 do Metropolitan Opera, em Nova York, foram contabilizados mais de dois milhões e seiscentos mil dólares em vendas (mais de 24 mil ingressos), valor recorde da arrecadação em um único dia na bilheteria do MET, nas vendas por telefone e pela internet. A temporada 2010-11, que celebra os 40 anos de James Levine com a companhia, tem início no dia 27 de setembro com a nova produção da ópera O ouro do Reno, de Wagner, regida por Levine. A temporada conta ainda com produções inéditas de Boris Godunov (11 de outubro), Don Carlo (22 de novembro), La Traviata (31 de dezembro), Nixon na China (2 de fevereiro de 2011), Le Comte Ory (24 de março) e As Valquírias (22 de abril).
Em uma homenagem à Companhia Cinematográfica Vera Cruz – que marcou a década de 1950 com 22 longa metragens produzidos em São Bernardo do Campo – estreou no mês passado a Filarmônica Vera Cruz, orquestra dirigida por Júlio Medaglia e que contará inicialmente com 50 músicos. Segundo o maestro, “o projeto tem missões artísticas, mas também didáticas. Faremos uma temporada de nível internacional e teremos músicos vindos de outros países que ocuparão as primeiras estantes e ajudarão a formar uma nova geração de instrumentistas em São Bernardo do Campo”.
6 Setembro 2010 CONCERTO
Além das atividades pedagógicas, a Filarmônica Vera Cruz pretende atuar junto às comunidades carentes da região, promovendo o ensino de música e oferecendo oportunidades de futuro a jovens em situação de risco. No concerto de estreia, em 21 de agosto passado, a batuta foi entregue ao maestro pela atriz Eliane Lage, estrela dos tempos da Vera Cruz. A orquestra apresentou trechos da trilha do filme O cangaceiro, de 1953, o Andante spianato e a Grande polonaise brillante, de Chopin com o pianista Ney Salgado, e a Sinfonia nº 5 de Beethoven.
DIVULGAÇÃO / Luciano Piva
Filarmônica Vera Cruz estreia sob comando de Júlio Medaglia
Notícias do mundo musical
Série leva ópera a novas plateias
DIVULGAÇÃO
Em uma proposta inovadora, um dos títulos mais conhecidos do repertório lírico, a ópera Carmen, de Bizet, estreou em julho dentro de uma nova série denominada “Ópera contada e cantada”, para aproximar as mais diversificadas plateias ao mundo da lírica. Até o fim de setembro, a ópera terá sido vista por mais de 12 mil pessoas, em cerca de 20 apresentações em aproximadamente 16 diferentes cidades, todas do interior do Estado de São Paulo. De acordo com o criador e diretor do projeto, Cleber Papa, a série nasceu de reflexões sobre a disparidade entre a imagem que o grande público tem da ópera e seu verdadeiro alcance. “Apesar de a ópera ser associada a uma coisa antiga, com cantores obesos e um linguajar ‘italianado’, de nariz empinado, e de ser raro encontrar um jovem que tenha assistido
à ópera Carmen, praticamente todas as faixas etárias sabem cantarolar uma das melodias criadas por Bizet, mesmo que seja em uma redução do “Toreador” em ringtones de celular ou em desenhos animados”, comenta Cleber. A série contempla a criação de espetáculos baseados em óperas famosas, com uma visão pouco convencional do libreto e duração aproximada de uma hora e vinte minutos. A primeira produção, Madama Butterfly, foi apresentada com muito sucesso no primeiro semestre. Nesta versão de Carmen, a ação, pontuada pelos trechos conhecidos da ópera, se passa na Bodega Lilas Pástia, onde o próprio Pástia (Leonardo Pace) começa a contar a história. Ele é o sexto membro de uma família que, em várias gerações desde o final do século XIX, vem narrando (e cantando) os amores e desatinos de Carmen (Magda Painno e Laura Aimberê), de Dom José (Miguel Geraldi e Martin Mühle), de Escamillo (Leonardo Pace) e de Micaela (Cláudia Riccitelli e Gabriella Pace). Além dos cantores, integram o grupo um ator, três bailarinos de flamenco e três músicos – um pianista, uma flauta/piccolo e um percussionista. “Nossa opção foi trabalhar com poucos músicos, para que o espetáculo possa ser adaptado nos mais diferentes espaços nas cidades do interior, mas em uma formação que permita traduzir algumas das expressões musicais e rítmicas do espetáculo”, afirma Luís Gustavo Petri, diretor musical do projeto. A série é patrocinada pela Secretaria de Estado da Cultura. Confira as cidades e datas de apresentações no site da Revista CONCERTO (www.concerto.com.br).
Notícias do mundo musical
Vozes brasileiras Cantora carioca vence concurso lírico promovido pelo Teatro Municipal do Rio de Janeiro Por Clóvis Marques
A
divulgação / Vânia Laranjeira
Fachada do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. No detalhe, a soprano vencedora Ludmila Bauerfeldt (em foto de 2008)
divulgação
soprano Ludmila Bauerfeldt, do Rio de Janeiro, foi a vencedora do concurso “Vozes do Brasil”, realizado em agosto por iniciativa tomada pelo Teatro Municipal carioca, em um momento em que a floração de vozes líricas brasileiras se enriquece consideravelmente e faltam escoadouros para tanta vontade de cantar – o que vem levando alguns nomes consagrados do nosso meio operístico a apostar em carreiras internacionais. É o caso de tenores como Fernando Portari e Atala Ayan, de barítonos como Paulo Szot e Rodrigo Esteves, da soprano Adriane Queiroz e alguns outros. Eles levam para os palcos europeus e americanos uma escola de canto brasileira que sempre se orgulhou de gerar artistas de peso. Outros concursos dão conta Brasil afora de um momento de cultivo intensificado dessa arte tão popular entre os melômanos do país, mas estava faltando o Rio nesse panorama. Idealizado pelo maestro Roberto Minczuk, diretor artístico da Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o “Vozes do Brasil” atraiu 72 cantores, com idades de até 35 anos, dos mais variados pontos do país. Desse total, 34 foram selecionados para as eliminatórias e 19 se apresentaram nas semifinais. Em dois dias, elas atraíram ao auditório do anexo do teatro um público de conhecedores e entusiastas que vibrou com verdadeiras torcidas no desfile dos concorrentes: um clima muito típico dos fãs
8 Setembro 2010 CONCERTO
do canto lírico, de que não tínhamos notícia na cidade desde os saudosos concursos internacionais promovidos na segunda metade do século passado por Helena de Oliveira, e que revelaram ao mundo nomes importantes da cena lírica daquele período. Também eu, como não poderia deixar de ser, tinha minhas preferências, e lamentei não ver na seleção final aquela que me pareceu a cantora mais “pronta” – a julgar por sua única apresentação a que assisti, nas semifinais – do ponto de vista vocal e musical: a soprano Tati Helene, de São Paulo, que deu versões atraentes e lindamente trabalhadas de árias de Rusalka, de Dvorák, e do Morcego, de Johann Strauss (o regulamento previa apenas árias de ópera e opereta, à exclusão da canção e da música vocal de concerto). No dia 21 de agosto, os seis finalistas se apresentaram no Teatro Municipal com a Orquestra da casa, regida pelo seu maestro titular, Silvio Viegas, que fez parte da banca julgadora, ao lado de Minczuk, que a presidia; de Arthur Nestrovski, diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo; do tenor José Carlos Xavier, professor do Conservatório Nacional de Lisboa; dos maestros Luís Gustavo Petri, da Sinfônica de Santos, Reinaldo Censabella, do Teatro Colón de Buenos Aires, e Roberto Duarte, da Sinfônica do Teatro São Pedro paulistano. Bauerfeldt, uma carioca de 27 anos que é aluna de Sergio Lavor, formou-se pela Escola Técnica de Teatro Martins Pena e bacharelou-se em canto pela Unirio, aperfeiçoando-se atualmente no Conservatório Brasileiro de Música e cantando no Coro Sinfônico do Rio de Janeiro. Ela já havia recebido o prêmio de melhor intérprete de árias de ópera no VIII Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão, em 2008; no Municipal do Rio, além do prêmio do Júri Popular, levou para casa um troféu e um prêmio de R$ 8.000. Em segundo lugar ficou o barítono Rodolfo Giugliani, 34 anos, dono de uma dessas vozes que enchem um teatro, e em terceiro, o tenor lírico Gilberto Chaves – ambos paulistas e alunos de Benito Maresca. Os premiados deverão ter oportunidades nas temporadas próximas no Rio e com as orquestras cujos representantes faziam parte do júri. Esse tipo de compromisso já está sendo honrado pelo Municipal, neste mês de setembro, com a incorporação ao elenco do Romeu e Julieta de Gounod, que sobe ao palco no dia 18, da soprano Alzeny Nelo, uma rio-grandense-do-norte que concluiu sua formação na França e que há dois anos me havia encantado, com sua arte e sua voz de grande delicadeza e sofisticação, quando fiz parte da banca do concurso Francisco Mignone promovido no Rio pela Finep. Feliz com o nível global do concurso, Viegas resume as qualidades principais que encontrou na arte de Ludmila Bauerfeldt: “Ela tem um timbre belíssimo, quente, um belo volume de soprano e canta com grande emoção, além de apresentar uma ótima afinação e um bom senso de ritmo.”
Unesp promove 20ª edição do Festival Ritmo e Som Festival retoma atividades e faz homenagem a sua fundadora, a professora Maria de Lourdes Sekeff Por Camila Frésca
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etomar um festival que marcou época – homenageando sua fundadora, a professora Maria de Lourdes Sekeff – bem como ser um marco das atividades de seu novo campus na Barra Funda é o que pretende o Instituto de Artes da Unesp com a realização da vigésima edição do Festival Ritmo e Som. “Com a recente mudança de campus houve uma necessidade entre os próprios professores de ‘se reconhecer’. Estamos em um espaço físico muito maior e tudo fica mais disperso. Então pensamos em realizar um evento para reaproximar o corpo docente e também os alunos. Ao invés de criar algo novo, chegamos à conclusão que melhor seria retomar o Ritmo e Som”, revela a professora e pianista Anna Claudia Agazzi, que coordena esta edição ao lado de Márcia Guimarães e Eduardo Oliva. Iniciado em 1986 pela professora Maria de Lourdes Sekeff, figura de destaque no meio acadêmico e musical paulista nas últimas décadas, o Festival Ritmo e Som nasceu a partir de um concurso de composição voltado para os alunos do departamento de música. Com o concerto das peças premiadas e de obras fotos: divulgação / gustavo brognara
Orquestra Acadêmica da Unesp
Nova sede do Instituto de Artes da Unesp
10 Setembro 2010 CONCERTO
dos professores da casa, surgia o Ritmo e Som. Todo ano, as aulas eram suspensas por cinco dias e uma programação especial tomava conta do campus. A empreitada, sempre levada a cabo por Sekeff, foi interrompida a partir de 2003 por problemas de saúde da musicista, que acabou falecendo em 2008. Assim, nada mais natural que esta 20ª edição do evento homenageie Maria de Lourdes Sekeff, que também dará nome ao novo teatro do Instituto de Artes, a ser inaugurado oficialmente durante o festival. Anna Claudia Agazzi conta que a vontade de reunir os docentes e retomar o Ritmo e Som uniu-se ainda ao plano do professor Eduardo Oliva de fazer um evento em torno de Schumann e Chopin. Assim, o 20º Festival Ritmo e Som tem como eixo temático o romantismo da obra desses compositores, sem deixar de lado a produção de alunos e docentes da casa, como era tradição do evento. As atividades acontecem entre os dias 13 e 24 deste mês e incluem master classes, palestras, apresentações de alunos, recitais de docentes da Unesp e convidados como Peter Dauelsberg, Amilcar Zani, Adélia Issa e Ricardo Ballestero. Atividades paralelas ainda incluem a mostra “Chopiníssimo”, cedida pela Embaixada da Polônia, e a exibição de filmes que retratam a época do romantismo. Entre os destaques da programação de concerto estão a vinda do pianista Flávio Varani, que apresentará em recital os 24 prelúdios de Chopin, além de ministrar uma master class; um arranjo do grupo de percussão Piap para uma obra de Schumann; obras vocais pouco tocadas de Schumann, que serão apresentadas pela classe de canto do departamento; e uma versão original para orquestra de cordas do Concerto para piano nº 2 de Chopin, com a Orquestra de Câmara da Unesp regida pelo maestro Lutero Rodrigues e com solos de Nahim Marun. O festival marca ainda a inauguração dos dois pianos Steinway de cauda inteira adquiridos pelo departamento. A curadoria da programação ficou a cargo dos professores Anna Claudia Agazzi, Márcia Guimarães, Eduardo Oliva, André Rangel e Matha Herr. “Praticamente todos os docentes estão envolvidos no evento, e todos os nossos convidados estão se apresentando de graça, por simpatia à causa”, comemora a professora Agazzi. Algumas atividades do festival serão replicadas também no Espaço Cultural Tattersal, no Parque da Água Branca, a partir do dia 11. A ideia dos organizadores é que o Festival Ritmo e Som seja retomado de fato a partir de agora. Ainda está em discussão se ele será anual ou bienal, mas é certo que terá sempre um eixo temático definido pelos curadores. “Fazer um festival desses hoje em dia é um desafio bem maior do que há 20 anos. São Paulo era outra cidade, tudo era bem menor e não havia tantas opções como atualmente. De qualquer forma, estamos muito felizes em retomar o evento”, conclui Anna Claudia Agazzi.
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