O Ã M A R T CO N 1
edição 01 l AGOS TO 2016
marcinha lima
O peso (de aceitar e de fazer parte) da diversidade
política Movimentos sociais e o renascimento da política estudantil
Saúde O tratamento de pacientes com Microcefalia em Campina
TURISMO Lajedo do Pai Mateus, um paraíso de pedras na Roliúde Nordestina contramão agosto 2016
editorial
Com o objetivo de trazer para os leitores, variedades de conteúdos e comprometimento com a informação, é com muita satisfação e orgulho que trazemos à público a 1ª edição da revista Contramão.
Valtyennya Pires
Desenvolvida no componente curricular Jornalismo Impresso II, ministrado pela professora Ada Guedes, a revista foi criada por 25 alunos, com a finalidade de trazer entretenimento e informação. Em sete editorias, o periódico tem o propósito de abranger todos os públicos, destacando temas como cultura, política e educação. Nossa missão é repassar uma mensagem humanizada, mas também crítica, questionadora.
Paulo Roberto editor
Joalisson Sebastião
Monalisa Alves
Como matéria de capa a estudante Marcinha contou um pouco sua história de luta e resistência. Divulgamos também alguns projetos de interesse não só estudantil, mas de toda a sociedade, como: Jovem Repórter e Caminhos Indígenas dos Cariris; além de dar visibilidade a personagens “anônimos”, mas de atuação relevante no esporte paraibano. Convidamos vocês a conhecer uma revista que vai na Contramão dos discursos prontos e impostos, pois seguimos a via da resistência, da solidariedade, da luta, e do empreendedorismo que compõem o povo paraibano. Um trabalho feito com muito carinho e dedicação que nos proporcionou a prática legítima do jornalismo. Desejamos uma excelente leitura e agradecemos desde já a valorização do nosso trabalho.
contramão AGOSTO 2016
J
repórter / cronista
ilustradora
Karla Sylmara
repórte
repórter / fotógrafa
Beatriz Leite
repórter / fotógrafa
Dalisson Markel
fotógrafo
Thia
repórt
expediente
Joyce Rocha
Mirelly Passos
repórter
Júnior Silva
Rogerio Santos
repórter
Nessa Garcia
ago Andrade
ter / fotógrafo
repórter
Walisson Porto
repórter
Isabely Garcia
repórter
Suênia Basilio
er / fotógrafa
fotógrafa
Deysy Silva
repórter
Annellyezy Aparecida
Daliana Azevedo
repórter
Alisson Melo
repórter
Fabiana Silva
repórter
repórter
Nayala Ramos
repórter / cronista
Géssica Souza
repórter
José Leal
cronista
repórter
Olga Lopes
diagramadora / ilustradora
contramão AGOSTO 2016
índice
cultura Sebos, uma fonte de cultura reportagem
04
Casa contemporânea reportagem
06
Esqueceram-se dos orelhões? crônica
08
hipster: estilo ou tribo? artigo
11
O peso (de aceitar e de fazer parte) da diversidade entrevista
12
O poder das Teresas brasileiras crônica
13
saúde MICROCEFALIA: TRATAMENTO E HISTÓRIAS DE VIDA reportagem
esporte MASSAGISTA PÉ QUENTE reportagem
36
DA PEDRA BRUTA AO DIAMANTE reportagem
38
contramão AGOSTO 2016
24
moda e comportamento 14
A moda e a Uni(Diversidade) ensaio fotográfico
política 22
O renascimento dos movimentos sociais artigo
23
Acesse arte dicas culturais
educação 28
Visando o Futuro reportagem
31
Desperdício crônica
32
CAMINHOS DE UMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA EM BOQUEIRÃO reportagem
35
Problema nosso de cada dia crônica
turismo 40
UM PARAÍSO DE PEDRAS em cabaceiras reportagem
44
AREIA: FRIO, HISTÓRIA, CACHAÇA E CULTURA reportagem
50
EMPODERANDO NOSSA CULTURA entrevista
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cultura
SEBOS, UMA FONTE DE CULTURA Apesar da diminuição de visitantes nos sebos, ainda há bons índices de venda com ajuda da internet. Reportagem Joalisson Sebastião
Fotos Karla Sylmara
O
mercado editorial tem passado por grandes mudanças nos últimos anos e em Campina Grande não é diferente. Existem atualmente na cidade aproximadamente nove livrarias, duas destas com produtos religiosos destinados a um público específico, e dois sebos.
teve sebo na rodoviária velha e em uma banca de livros no calçadão da Cardoso Vieira. Para ele, o mercado editorial se sustentará, e afirma que para estudar, os livros são necessários e não apenas o computador, mas vê nos livros disponibilizados em PDF, sigla inglesa, que significa (Portable Document Format) Formato Portátil de Documento, uma ameaça para o futuro.
O livreiro Ronaldo Roberto de Andrade, 57, dono do Cata Livros, contou que as livrarias e sebos se adaptaram aderindo à internet. Hoje o estabelecimento vende seus títulos via web para todo o país e essas vendas somam 50% do orçamento do comércio, sendo o Estado de São Paulo o maior comprador.
Para ele as livrarias não deixarão de existir, mas terão cada vez menos consumidores. “Nós recebemos da criança ao idoso que gosta de fazer uma pesquisa mais aprofundada. Além disso, nós ainda oferecemos esse espaço e esses livros para alguma pessoa que queira fazer uma pesquisa de escola ou mesmo ler um livro no local”, disse Ronaldo.
Segundo o livreiro, houve queda acentuada nas vendas diretamente na loja, mas por outro lado a internet contribui com a comercialização. O proprietário contou ainda que há uma diminuição do fluxo de leitores e o espaço recebe principalmente turistas na época de eventos na cidade. Contudo, as vendas superam as trocas. São dois espaços funcionando no centro da cidade, um na Praça Clementino Procópio, na Avenida Floriano Peixoto, há 21 anos, e outro na Getúlio Vargas, vizinho à livraria Cultura existente já há 16 anos. O comerciante que completa 30 anos de atividade no ramo, também já O livreiro Ronaldo Roberto de Andrade, trabalhando em meio à pilha de livros
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Títulos para todos os gostos literários
Para o motorista José Marcos,
pensou em escrever um livro, mas
por exemplo, com a atualização
47, os livros didáticos são seus
por enquanto só está adquirindo
dos livros lançados. Revela ainda
preferidos por conta das informa-
conhecimento.
que não tem o hábito de ler em
ções e conteúdo que somam con-
formato virtual.
hecimento. Ele mantém o hábito
Andreza Santana, 21, estudante
da leitura de livros, diz sentir
do segundo período do curso de
Apesar de todas as facilidades
mais prazer do que olhando para
História da Universidade Estad-
das obras em plataforma digital,
uma tela.
ual da Paraíba (UEPB), gosta de
o livro impresso e editado, man-
vários gêneros literários, como
tém por enquanto, seus leitores
romance e poesia.
fiéis, para estes, o livro tem chei-
O fato de ter os livros nas mãos, poder conhecer sobre o autor e
ro, tem vida, oferece sensações
sua história, o cativa. Seu pri-
Relata que frequenta livrarias e
com o toque de suas páginas e
meiro contato com os livros foi
sebos para poder ler e comprar
traz, nesse contato, algo maior do
aos nove anos de idade, a partir
os títulos. Para a jovem, os ser-
que o simples ato de ler, propor-
daí tomou gosto pela leitura. Já
viços poderiam melhorar como,
ciona prazer à leitura.
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cultura
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Casa Contemporânea A difusora cultural em Campina Grande Reportagem Alisson Melo
Fotos Beatriz Leite
N
ascida com o objetivo de ser um centro de produção e divulgação comunitária de cultura, a Casa Contemporânea iniciou suas atividades em 2015, em uma residência no bairro da Conceição, em Campina Grande/PB. Nas palavras dos idealizadores, “a Casa oferece espaço para vivências e convivências, novas dimensões no aprendizado, novas formas de desenvolvimento para nos ajudar a abrir os olhos da alma.” A Casa Contemporânea, em suma, objetiva a criação e difusão de projetos culturais diversos, com o diferencial de buscar investimentos e recursos financeiros dos denominados “ocupantes da casa”; uma espécie de financiamento comunitário. Todavia, não há exigência de valores mínimos para contribuição. Aqueles que puderem e quiserem ajudar monetariamente na manutenção dos projetos da Casa são livres para escolher o valor que melhor couber no bolso ou que achar mais justo dispender. Vai de cada um. Ao participar do financiamento todos os meses, o ocupante poderá entrar para a rede de colaboração e desenvolver a Casa com ideias novas, projetos e, consequentemente, gerar visibilidade e renda. O espaço é democrático também no que diz respeito às manifestações culturais. Tudo de acordo com a proposta da Casa. Já foram realizados exposições de arte, individual e coletiva, cursos de aprendizado coletivo, saraus, bazares, feiras gastronômicas, shows, apresentações artísticas, exibições de cinema, além da loja colaborativa em parceria com artistas visuais e CONTATO artesãos locais.
Para saber sobre os eventos promovidos pela Casa, basta acessar a página do projeto no Facebook (facebook. com/groups/conectandocomaCasa) ou visitar o site oficial (ocupeacasa.wordpress.com)
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cultura
Esqueceram-se dos orelhões? Por Joalisson Sebastião
A
lô, alô, alô. Tu. Tu. Tu .Tu .....
Eles já foram sinônimos de avanço tecnológico da telefonia no país. Os orelhões, sempre presentes nas praças e ruas das cidades brasileiras hoje são pouco usados. Por ocasião e de seu surgimento era desejado e muitas pessoas esperavam horas para telefonar para amigos e parentes que moravam em cidades e estados afastados. Com o surgimento e desenvolvimento do sistema de telefonia móvel e popularização dos celulares, os orelhões foram pouco a pouco deixando de ser usados até praticamente desaparecer das ruas das cidades. Aqueles ainda existentes passam despercebidos. Diferente das filas para utilização desse aparelho as pessoas dispõem de potentes e convergentes micros celulares e ignoram e esquecem que aquele aparelho telefônico ainda funciona perfeitamente bem. Se pararmos só um pouquinho em uma praça ou rua que ainda tenha um desses orelhões, veremos que as pessoas passam de um lado para o outro utilizando os celulares e de forma apressada não reparam ao que têm a sua volta, menos ainda nos esquecidos orelhões, outrora um serviço importante para a população. Há pouco tempo o governo federal até conce-
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deu ligações gratuitas para telefones fixos no país, mas será que todos sabem dessa boa nova? [...] Faz um bom tempo que utilizei os serviços dos orelhões, a última vez foi para falar com a minha prima que mora na cidade de Areial bem próxima de Esperança, na Paraíba. Vale lembrar o velho e caro cartão telefônico com seus créditos que sumiam rápido e por vezes deixavam o cidadão ao ouvir um tuuuuuuuuuuuuuu no meio de uma ligação importante, eu mesmo cansei de ouvi-lo. Atualmente, não me recordo de ver na cidade onde moro alguém utilizar o aparelho. Praticamente, viraram mais uma forma de decoração urbana, enfeitando as praças e ruas das cidades e de vez em quando servindo de abrigo para as pessoas que fogem da chuva e do sol quente em alguns momentos. Ao longo dos últimos anos, muitos foram vandalizados, alguns recuperados e outros não, uns pararam de funcionar e passaram a servir de ninho para algumas aves, mas assim como a história de um tempo, de costumes e hábitos, eles estão lá trazendo memórias àqueles que ainda olham em volta e os percebem e junto com esse gesto recordam palavras, conversas, declarações, retalhos de comunicações. Bom caro leitor, agora que redescobriu o orelhão, vai ignora-lo, ou será que também tem uma história compartilhada através dele?
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hipster: estilo ou tribo? Por Suênia Basilio
H
Fotos Beatriz Leite
ipster é uma palavra inglesa usada para descrev-
er um grupo de pessoas com estilo próprio. Começou nos anos 40 com o jazz, onde surgiram diversos músicos brancos que copiavam a forma de vestir e viver dos músicos negros, o que para a época era algo um tanto diferente. Basicamente, hoje um hipster é uma pessoa que inventa moda, fazem eles mesmos as novas modas. Jeans skinny, óculos grandes, blusas irônicas, vestidos florais e vintage, compõem o look. São pessoas que gostam de roupas, musicas, comidas e atividades que não façam parte da massa popular, claro nem sempre as coisas funcionam dessa forma. Hispter são naturalmente “esquisitos” e realmente não ligam, e isso faz com que seja complicado achar uma pessoa completamente hipster, não que seja obrigatório ter um visual feio, muito pelo contrario, pode sair muito bonito, no entanto é um tipo de pessoa que você acha estranho, mas, ao mesmo tempo acha natural. Possuem em sua maioria aquele look que você olha e diz: nossa quem usaria isso?, e daí dois anos depois você ver um monte de gente indo pra todo lado. Mas, há aqueles que definem o estilo hipster como um estilo morto, é o caso da colunista Morwenna Ferrier do jornal The Guardian, que usa a musica Sunday do rapper Earl Swestshirt para explicar os novos hispters: “Você não é apaixonado por metade das merdas que você gosta”, e cita o filosofo Pierre Bourdieu: “identidade social se baseia na diferença, e a diferença é afirmada contra aquilo que está mais perto, o que representa a maior ameaça”. O que acabou deixando a definição de hipster como algo negativo. Prefiro ainda assim o slogan: Use o que você gosta, o que te faz se sentir bem, independente de tribos, classificação de estilos ou coisa parecida. Resumindo, seja você sem precisar definir-se o tempo inteiro!
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O peso de fazer divers Reportagem e Fotos Beatriz Leite
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V
ivemos em um mundo rodeado de diferenças. De cores, de raças, de tipos e formas. Num Brasil de brasileiros que comporta de maneira tão bonita essa tanta água junto desse tanto de gente, a pergunta é: por que então não comporta a diferença de nosso povo? Aonde a linha do respeito se perde a partir do momento em que o outro não é igual a nós e nós não somos iguais a ninguém? O ambiente acadêmico comporta diferentes universos mentais e sociais. A faculdade é um ponto decisivo na vida de tantos, e é lá onde nos encontramos em outros assuntos e em outras pessoas a todo o momento, a cada semestre que passa. Esse costuma também ser o ambiente onde encontramos os mais diversos estilos; de ser, de viver, de agir, de parecer. Enquanto a liberdade de mudar constantemente é exercida, ela também é vetada ou diminuída a partir de preconceitos alheios. Como desconstruir isso então? Esse tem sido um desafio diário para militantes, coletivos e simpatizantes das causas sociais. A entrevistada é uma militante feminista, negra, paraibana e que recentemente passou por um caso de racismo que foi levado à nível nacional pela imprensa. Márcia Lima, mais conhecida como Marcinha, é jornalista formada pela Universidade Estadual da Paraíba e exerceu a profissão por alguns anos. Atualmente cursa Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande, é fotógrafa de eventos, trabalha também como produtora e faz trabalhos freelancers como modelo.
eso (de aceitar e er parte) da ersidade
Marcinha se abriu sobre a repercussão da cena de racismo vivida por ela no Terminal de Integração de Campina Grande e ressalta como após toda tempestade sempre é possível ver um raio de luz: - Uma das coisas mais importantes que aconteceram para mim e que me deixou feliz por poder estar à frente foi ter sido considerada uma figura que pode falar disso. Foram alguns convites que recebi para dar palestras, fazer conversas com jovens, principalmente em algumas escolas da cidade. Inclusive, já fui até para outros Estados para conversar sobre isso. Com os pés no chão a respeito de tudo que foi resultado da situação, ela afirma que se sentiu realmente ferramenta importante e que não acha que isso deve ser protagonizado. - Mas fiquei feliz por poder colaborar, pois acho que além de lutando, devemos estar repassando isso para o máximo de pessoas que pudermos. Eu como mulher e como negra, tive oportunidade de falar de machismo e racismo para muita gente, para muitos jovens, que é o público o qual eu acho que devemos falar mesmo. Essa foi uma das consequências mais legais, importantes e válidas de tudo. Foi ter a oportunidade de ser porta voz de algo que eu acredito, que eu sei que é necessário e que tem muita gente que gostaria de estar tendo oportunidade. Foi positivo também pois além de fazer as pessoas refletirem, pude conversar e ter papos francos com alguns setores da sociedade que para mim são bem interessantes , por ser justamente onde se proliferam certas opiniões. Com o questionamento relacionado a cenas negativas dentro do ambiente acadêmico, ela afirma: - Acho que todos os tipos de preconceito vêm de falta de informação e empatia, que é algo que vamos aprendendo, desenvolvendo. Fico preocupada quando alguma atitude racista acontece na universidade, mas eu consigo compreender. Eu me revolto, mas entendo que isso é resultado de algo que foi construído e levado socialmente o tempo inteiro dentro da escola. Eu acho preocupante e perigoso, e ao mesmo tempo em que entendo de onde isso vem, eu não entendo porque permanece [...] Eu espero que o mundo tenda a ficar bom. Como militante a gente tem que fazer
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e tem que levar até onde a gente pode. A faculdade não é um espaço muito fácil. Percebi isso na pele, no cabelo, no corpo todo. Percebi ao sofrer racismo por tudo isso [...] Sofro, choro, luto, brigo junto com meus colegas militantes! – Por ter envolvimento com âmbitos da arte também, ela acrescenta: - Como pessoa que trabalha com isso, eu realmente gostaria de fazer algo no meio acadêmico que conseguisse invadir, literalmente, esse ambiente. Às vezes “só” a arte não atinge como queremos, mas pretendo fazer algo de forma efetiva, voltado para o lado artístico.
não podemos nos deixar sermos vitimas, e tudo só me dá mais vontade de continuar me denominando e me expondo como tal. E além de mulher e feminista, também sou negra. Isso me faz adentrar numa vertente feminista bem mais complicada e que é a minha realidade, pois eu realmente passo por algumas situações devido a minha cor, e o sentido de feminismo para mim é sim questão de sobrevivência. O tanto que eu resisti a ele tempos atrás, hoje tento absorver o máximo possível. – se orgulha Marcinha sobre a maneira como ela enxerga as feministas.
Sobre sua militância, a moça fala sem pestanejar: - A minha relação com o feminismo é uma história - Não participo de nenhum coletivo, mas participo de de amor e ódio: primeiro ódio e depois veio o amor. movimentos sempre que tenho tempo. Faço parte de Acredito que todas as coisas ruins do mundo aconteum grupo de mulheres da maçonaria que são feminicem quando a gente não entende. - Iniciou Marcinha stas, e o nome é ‘’Vida de Ethel’’, que ao ser questionada como o feminismo remete ao nome da fundadora. – E foi relevante em sua caminhada. - Porem um momento de nostalgia, explitanto, o feminismo para mim semIsso não é só ca: - Como já falei, eu era feminista pre foi motivo de resistência pessoal uma questão sem saber. As meninas do grupo fora porque eu era uma pessoa que sempre acadêmica. Ódio m as maiores responsáveis pelo meu teve atitudes feministas, mas nunca não é questão de maior entendimento sobre o feminischeguei a me considerar uma pelo fato mo e foram elas que me ajudaram. opinião. de que eu também reproduzia machismo, vivia em ambientes machistas. Marcinha já foi assessora de imprensa de um time de futebol da cidade, e teve uma longa convivência pessoal e profissional com pessoas dentro de ambientes naturalmente machistas. Assim, ela justifica seu primeiro empasse com o feminismo. - Então, veio primeiro esse questionamento de ‘’por que eu deveria me denominar algo?’’. Na verdade, sempre tive problemas com autodenominações e o feminismo foi uma destas. Mas depois que tive contato mais direto com algumas amigas e com algumas leituras específicas, eu pude perceber que o feminismo não é isso nem vai ser isso, essa coisa que nos limita. Na verdade, ele é algo que expande e liberta o nosso gênero. Em relação a seu processo para ‘’se assumir’’ como militante, ela explica: - Hoje eu sei que posso me denominar feminista quando entendo o que ele me propõe, quando eu tento o exercer e quando reflito sobre o que o feminismo e o machismo causam. E entendi que se vem algum comentário de ruim para elas é justamente porque estão fazendo certo. O feminismo nos mostra que não devemos abaixar a cabeça,
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E explica como faz sua ‘’abordagem’’ de desconstrução nos ambientes: - Lido com o feminismo de uma forma carinhosa e tento levar ele de uma forma sutil tentando levantar bandeiras porque as pessoas acabam exercendo uma resistência menor quando a gente não joga o nome ‘’feminismo’’ de uma forma tão direta. Quando tenho espaço para falar com a galera que tá na militância, com amigas feminista, falamos das maneiras mais abertas mesmo. Mas quando vejo que há uma resistência com isso, eu vejo outras formas de falar sobre, e acho que faz diferença e de pouquinho em pouquinho vamos fazendo. Marcinha finaliza ressaltando que “Isso não é só uma questão acadêmica. Ódio não é questão de opinião. Quando eu me questiono sobre o que a gente tá fazendo em relação a isso, eu me questiono de forma efetiva. Eu quero fazer alguma coisa e não só tá falando. Eu acho que a faculdade não é o lugar onde deveríamos discutir isso, e sim na escola. Mas já que esse espaço de discussão só se inicia na faculdade, que a gente discuta, e discuta com quem não quer ouvir. São eles que precisam dessa discussão e dessa fala.”
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O poder das Teresas brasileiras Por Fabiana Silva
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oje quero falar sobre Teresa, uma garota muito bonita, por onde passa chama atenção, suas roupas são sensuais, o riso é fácil e o jeito é alegre e espontâneo. Ela sabe que junto com os olhares vem os comentários sobre seu comportamento, roupas e até o tom de sua risada. O motorista de ônibus, vizinhos, “amigos” da faculdade e até o moço da padaria comentam que ela “é fácil”, “já saiu com a maioria”, “quem quiser pega”, dizem até que não é “moça pra casar”. Falam de suas roupas, mas não deixam de olhar, vizinhos olham torto para ela, mas não evitam cumprimentar, mesmo com ar de falsidade e reprovação. O moço da padaria, esse aí nem se fala, até piada solta pra ela, chama de gostosa, delícia. Outro dia ouviu de um jovem homem na rua, um sonoro “puta”, mas Teresa não dá a mínima, tão pouco muda seu vestuário, pelo contrário, é seu jeito, seu gosto, e as vezes até provoca algumas pessoas da vizinhança. Teresa não liga para a opinião dos outros e decidiu assumir uma postura: se é pra incomodar, que seja então! Resolveu sorrir mais alto, abusar de seus shorts e decotes. Aprendeu a ignorar assobios e piadinhas. Trocar de calçada ao ver um grupo de ho-
mens reunidos também ficou fora de seu dia a dia. Em resposta a algum mais atrevido, só esboça sorrisos. Foi se tornando mais altiva, independente e até irônica. Ah, mas ela não se acostumou, não acha normal, e o que mais queria era andar nas ruas sem ouvir ofensas ou se sentir assediada nos ônibus rumo à faculdade. Apesar de tudo, de sua autoestima e ar despretensioso e despreocupado, ela se sente insegura e em silêncio agradece todos os dias ao chegar em casa com segurança, e pede, deseja que outras garotas como ela sejam respeitadas como realmente deve ser. E quem nunca teve seu dia de Teresa? São muitas por aí, tantas como ela, algumas se inibem, outras enfrentam, nos mais singelos gestos, mas muitas silenciam. Por quê? Os motivos são distintos, mas o que quero falar aqui, além de compartilhar a história de Teresa, é que àquelas que falam, reagem e lutam contra essa realidade, cabe a missão de aumentar esse grupo, a missão de chamar as Teresas à luta, de empoderar umas as outras. Só unidas podemos mudar o que está a nossa volta e criar outra história para ela e para todas nós.
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moda e comportamento
A MODA e a UNI(DIVERSIDADE) Entre uma aula e outra, é comum se deparar com a diversidade de pessoas e estilos: a moda quem faz são eles! Neste editorial, uma pequena mostra dessa mistura que faz da UEPB um lugar colorido e cheio de gente diferente!
Produção Beatriz Leite Fotos Beatriz Leite Daliana Azevedo
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moda e comportamento
Daliana Azevedo – Jornalismo
Sakura Tomura - Filosofia
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Amanda Lopes – Filosofia
Renan Lutiane - Jornalismo
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moda e comportamento
Sabrina Brito – Jornalismo
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Mario Arthur – Letras
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moda e comportamento
Nessa Garcia - Jornalismo
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Luana Calina – Jornalismo
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política
O RENASCIMENTO DO MOVIMENTO SOCIAL E ESTUDANTIL O lema do Levante Popular Da Juventude diz: “Juventude que ousa lutar, constrói o poder popular!”. Está dito. Por Beatriz Leite
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ormatando a base dos termos ‘‘luta’’, ‘‘resistência’’, e ‘‘jovens de hoje em dia”, o movimento estudantil tem visto, entre formações de campos populares, centros e diretórios acadêmicos e organizações políticas, uma nova maneira de reconstruir a realidade e preparar um futuro de luta e mudanças reais para todos.
O corpo estudantil universitário tem por critérios básicos formar grupos de cabeças pensantes no que se refere à formação escolar, histórica, cultural e social. Estudantes do ensino infantil precisam ser preparados para a entrada em um ambiente de ensino superior até a sua formação e o que vier depois de tais processos.
É nesse percurso que os movimentos sociais, desde os primórdios dos tempos e das instituições, são criados para organizar o corpo discente para a luta e reivindicação de seus direitos e causas. Em tempos de crise, os movimentos tomam força e dão um novo rosto a toda a classe estudantil e ao significado de luta que ela representa. A UEPB tem representantes nas seguintes instituições estudantis: o DCE (Diretório Central Acadêmico), os CA’s (Centros Acadêmicos), o Levante Popular da Juventude (Célula Elizabeth Teixeira), a UJS (União da Juventude Socialista), a ENECOS (Executiva de Estudantes de Comunicação Social), entre outras. A expectativa, em tempos de crise, é de que os diversos movimentos possam se unir não apenas na luta por melhorias, causas e liberdade no âmbito acadêmico, mas também sobre o que acontece na política brasileira. Ao longo da história, os estudantes sempre tiveram papel importante nas grandes lutas e decisões políticas do país e sempre foram às ruas em defesa da democracia, em prol de reformas políticas, na luta pela liberdade de imprensa e direitos das minorias. Depois de algum tempo adormecido, o movimento volta à tona para mostrar que a política faz sim parte de toda a vivência estudantil e que a tomada de consciência é mais que necessária para que o poder popular aconteça de fato.
Representação do setorial do campo popular das mulheres
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Acesse Arte: Para entender, aprender e exercitar a consciência social diante dos direitos das mulheres
Por Beatriz Leite
Imagens Divulgação
Trata-se de um registro da vida e morte de 45 mulheres brasileiras que lutaram contra a ditadura. O livro trás o testemunho de 27 sobreviventes que narram em detalhes e com impressionante coragem, as brutalidades das quais foram vítimas. Relatos de torturas,
para ler
sobretudo no âmbito sexual, alguns casos de partos na prisão e até episódios de aborto. Os textos introdutórios de cada capítulo buscam resumir o contexto de cada fase da repressão política vivida na época. Onde achar: www.dhnet.org.br/dados/livros/dh/livro_sedh_mulheres_ditadura.pdf
O projeto fotográfico trata-se de uma corrente do bem realizada através da fotografia no intuito de mostrar que a essência do feminismo não é nada mais que isso: usar da luta e mulheres e fazer com que elas possam propagar o mesmo amor e luta também. A ideia é fazer com que a sororidade e o empoderamento entre as mulheres possa acontecer de fato. O conceito do ‘’Esse corpo é meu’’ é esse: mulheres que se dispõem a fazer parte do todo e de expor sua imagem, são fotografadas e tem seus depoimentos registrados em forma de vídeo e texto, aparecendo então na fanpage, no blog e na página do youtube do projeto para que a ‘’corrente do bem’’ seja implementada e espalhada. Onde achar: http://essecorpoemeu.tumblr.com
para assitir
Produzido em 2001, O filme biográfico de nome FRIDA fala, acima de tudo, de resistência. A película mostra a vida da artista Frida Kahlo da juventude até o momento de seu falecimento. Nascida em 1907, lutou contra a dor e transgrediu relacionamentos e a arte de um jeito surpreendente. Sua ascensão na arte, na vida e no mundo se deve a cada traço interno e externo dessa personalidade feminina que tanto resistiu em tantos sentidos. Hoje em dia, a imagem de Frida é facilmente relacionada à sua paixão sem limites, às sobrancelhas grossas, as suas cores peculiares, vibrantes e únicas, e as roupas mexicanas tradicionais. Frida foi uma construção: do mundo para ela e dela para o mundo.
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para visitar
resistência para cultivar o amor próprio acima de padrões para conseguir abraçar outras
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saúde
Microcefalia:
TRATAMENTO E HISTÓRIAS DE VIDA Um relato sobre o cuidado das mães e assitência médica em Campina Grande Reportagem Géssica Souza Joyci Caroline Mirelly Passos
Fotos Dalisson Markel
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mosquito Aedes Aegypti sempre foi um problema em nosso país, chegou a ser erradicado na década de 50 por causar grande epidemia de febre amarela, mas ficou conhecido mesmo por transmitir os quatro tipos do vírus da dengue. Hoje está presente em todos os estados do Brasil, em toda a América Latina, e novamente se encontra em evidência pois além da dengue agora o Aedes Aegypti transmite dois novos vírus, Chikungunya e Zika. Os sintomas são semelhantes entre si e também tem relação com os sintomas da dengue: dor no corpo, febre, dor nos olhos, vermilhidão, coçeiras e mancha na pele. De modo geral, diferem por meros detalhes e pelo tempo que os sintomas se apresentam no corpo. Mas um desses vírus, o Zika tem uma capacidade ainda mais devastadora pois é suspeito de causar microcefalia nos bebês caso a gestante seja picada pelo mosquito antes e durante a gravidez.
Os casos, que só aumentam, precisam ser investigados e medidas devem ser adotadas para evitar a contaminação de mais mulheres grávidas. Até agora consta o registro de 745 crianças nascidas com microcefalia, sendo 93% dos casos no nordeste, principalmente nas capitais de Pernambuco (o maior número de casos e onde surgiu a relação entre o vírus e a microcefalia), Rio Grande do Norte e Paraíba. Aqui na Paraíba já foram confirmados cerca de 43 casos, sendo 13 em Campina Grande, que disponibiliza centros de tratamento e acompanhamento nos hospitais públicos. São nesses centros que estão sendo investigados e acompanhados casos locais e de cidades vizinhas.
Desde outubro do ano passado notou-se o aumento nos casos de bebês nascidos com microcefalia – alteração do crescimento e desenvolvimento do cérebro, causando má formação nos bebês – principalmente nos estados da região Nordeste. Desde então, milhares de novos casos não param de surgir. Na tentativa de responder a esse novo fenômeno, pesquisas foram realizadas pela médica campinense Adriana Melo, 45, especialista em medicina fetal, ginecologia e obstetrícia, uma das primeiras a constatar ligação entre o vírus Zika e a má formação que surgiram nos fetos durante a gravidez e o posterior diagnóstico de microcefalia. O vírus, de alguma forma, consegue chegar até o feto e afetar o sistema neurológico do bebê ainda em formação. Além de comprometer o desenvolvimento motor, a fala e a audição, pode acarretar outros problemas mais graves dependendo do nível cerebral afetado. Algumas crianças sofrem danos menores enquanto outras são extremamente afetadas e algumas não resistem. Com o aumento do fenômeno e a suspeita de novos casos que agora se espalham por regiões distintas, o Ministério da Saúde decretou emergência sanitária em 11 de novembro do ano passado e confirmou a relação do vírus com a má formação. Ainda não se sabe o quanto o vírus pode afetar a criança e a falta de conhecimento do tema é a maior barreirra para uma tentativa de solução.
O acompanhamento precoce permite que os bebês sejam estimulados o quanto antes e obtenham resultados mais eficazes ao tratamento
Assistência médica em CG O tratamento oferecido às gestantes e aos bebês com microcefalia surgiu devido à necessidade e aumento do número de casos registrados. Como anteriormente nunca houve surto, também não havia nenhum tipo de serviço de assistência prestado a tais pacientes, mas isto teve de ser modificado para atender a demanda crescente dos casos. O tratamento deve ser iniciado durante o pré-natal quando já é possível descobrir alguns tipos de al-
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saúde terações no feto, mas além do exame de ultrassonografia, a microcefalia pode ser detectada nos exames de ultrassom morfológico, ressonância magnética, além da tomografia e da medição do perímetro cerebral do bebê, sendo os três últimos realizados somente após o nascimento. O acompanhamento do pré-natal é de extrema importância, pois só assim o bebê pode ser encaminhado ao médico especialista para que se inicie o tratamento específico.
“Inicialmente não tínhamos essa estrutura
Após o nascimento, uma criança com microcefalia deve ser acompanhada por uma equipe de especialistas formada por pediatra, neurologista, fisioterapeuta, oftalmologista e fonoaudiologista. A equipe varia com a necessidade de cada bebê. Como existem graus distintos é necessário que se inicie o acompanhamento precoce para que os bebês sejam estimulados o quanto antes e assim obtenham resultados mais eficazes ao tratamento.
das crianças. A equipe
que vocês estão vendo hoje, ainda está sendo adaptada”, revelou a fisioterapeuta. O ambulatório é adaptado e além da equipe
São considerad
já estabelecida conta com novos médicos
medida não sign
especialistas como otorrinolaringologista,
física menor do
“Inicialmente não tínhamos essa estrutura que vocês estão vendo hoje, ainda está sendo adaptada”
Em entrevista, a fisioterapeuta Jeime Leal, da equipe de tratamento do hospital Pedro I, referência em Campina Grande, mostrou o ambulatório que atende pacientes da cidade e região. O espaço foi inaugurado no final de novembro do ano passado, quando começaram a surgir os vários casos de má formação.
terapeuta ocupacional e
o corpo menor
ortopedista para melhor
estrutura física
atender as necessidades atende aproximadamente 43 pacientes, sendo 11
de Campina Grande e 32 de cidades vizinhas, mas a procura por atendimento especializado vem aumentando a cada dia.
O hospital disponibiliza toda estrutura e aparato para a melhor eficácia do tratamento, independente do caso ou suas possíveis complicações. As crianças com microcefalia devem ser acompanhadas indispensavelmente até os dois anos de idade. Vale lembrar que este atendimento deve ser oferecido gratuitamente pelos órgãos públicos nos grandes hospitais. Toda criança tem direito a um atendimento médico qualificado que englobe todas as suas necessidades, isto é um direito assegurado por lei.
Ev
as
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Circunferência da cabeça do bebê os casos de microcefalia, crinças com perímetro (contorno) da cabeça igual ou inferior a 32 cm. Mas calma, ter um bebê com essa
nifica necessariamente que ele tenha microcefalia. O que ocorre em alguns casos é que alguns bebês nascem com uma estrutura
o que outros, como acontece com bebês prematuros, por exemplo, são aqueles que nascem não só com a cabeça mas com todo do que o considerado padrão. Diferente do que ocorre com um bebê que é afetado pelo vírus, desenvolvendo normalmene toda a do corpo, exceto a cabeça.
Convivendo com a microcefalia Moradora da cidade de São Vicente do Seridó, a dona de casa Ana Angélica Gomes descobriu durante o primeiro trimestre da gestação, através do exame de ultrassonografia, o que seria a princípio, uma má formação cerebral em seu bebê. Somente no 7º mês de gestação foi confirmado o diagnóstico de microcefalia. Durante o início da gravidez, Ana apresentou sintomas do Zika Vírus: vermelhidão nos olhos, manchas no corpo, coceira e indisposição.
Ana Hávilla é a segunda filha de Ana Angélica, nasceu em dezembro do ano passado, diagnosticada com microcefalia e está sendo acompanhada por uma equipe de profissionais. Com apenas 18 dias de vida iniciou a rotina da filha junto à mãe. Em busca de qualidade de vida para Ana Hávilla, as duas, que moram a cerca de 90 km de distância de Campina Grande, enfrentam Cuidados durante a 01h36m de viagem e contam gestação com o transporte público disponibilizado por sua civite contato com o Aedes Aegypti, siga dade.As viagens ao hospital s medidas preventivas: acontecem três vezes durante a semana, chegando • Fiscalize o ambiente e evite o a ultrapassar esse número acúmulo de água parada em algumas ocasiões, o que • Mantenha o calendário de pode deixar os bebês irritavacinação em dia dos.
•
Faça uso de repelentes indicados pelo seu obstetra
•
Use roupas compridas
•
Adote o uso de telas de proteção
•
ou feche as janelas Á noite, utilize o velho e eficiente mosquiteiro
Hávilla é a única criança com microcefalia em São Vicente, onde não há recursos e tratamento necessário além da fisioterapia. É somente no hospital Pedro I que encontra a equipe médi-
ca e ambulatório especializado tão importante para seu desenvolvimento.A rotina de tratamento também inclui acompanhamento psicológico às mães, elas participam de um grupo de troca de experiências. Tal prática é importante, pois a falta de conhecimento inicial sobre o que vem a ser a microcefalia, o medo do que acarreta em seu bebê, além da falta de apoio e assistência podem atrapalhar ou interromper o tratamento que depende inteiramente da dedicação da família. O sentimento de acolhimento ajuda a enfrentar a mudança brusca em suas vidas, os pais são a fortaleza de uma criança que requer atenção especial. A vida com um bebê com microcefalia muda, é necessário adaptar-se a uma nova realidade e a rotina de esforços nem sempre é fácil. “Eu trato ela normal, pra mim não há diferença se tem microcefalia se não tem, o cuidado é o mesmo, o amor é o mesmo”, diz Ana Angélica, mãe de Hávilla. Não se pode negar que a mudança é extrema, para muitas mães um bebê com microcefalia é algo inesperado, mas, também não se pode negar a força dessas mulheres. A entrega, o carinho e toda a dedicação se resumem em uma única palavra: amor. São grandes heroínas para pequenos heróis, num sentimento recíproco de desenvolvimento e aprendizagem contínua.
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educação
Visando o Futuro O Jovem Repórter e sua importância social
Reportagem Rogério Santos Walisson Porto Fabiana Silva Fotos Dalisson Markel
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31 Com o intuito de possibilitar aos jovens o conhecimento sobre a dinâmica dos jornais e transmitir-lhes habilidades na área da comunicação social, surge no ano de 2011 em Campina Grande, PB, o projeto “Jovem Repórter”, desenvolvido de forma voluntária pela Associação Raízes da Cultura (ASSORAC). A organização não governamental e sem fins lucrativos, idealizada no ano de 2008 pelo poeta Aziel Lima em parceria com o Major da Policia Militar Gilberto Silva tem sede no bairro das Malvinas, na zona oeste da cidade.
A associação vem se destacando ao transmitir cultura popular para a comunidade, através da leitura e da comunicação. Apesar de oito anos de atuação social, a instituição só conseguiu seu registro no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) no ano de 2013. Aziel explica que a entidade começou com o projeto “Cordel na Escola”, em seguida nasce a “Biblioteca Comunitária” que atua hoje em três bairros campinenses: Malvinas, Três Irmãs e Mutirão. O poeta idealizaria na sequência o “Projeto Jovem Repórter”, proporcionando aos jovens engajados, conhecimento prático sobre a produção de textos, entrevistas, elaboração de pautas e o desenvolvimento de um olhar critico sobre temas de relevância social. Os conteúdos produzidos são veiculados em programas
de rádio e principalmente nas plataformas digitais, como site e canal do youtube. Como metas futuras há ainda a criação de uma Web Rádio e de um tabloide que vai possibilitar a junção dos materiais produzidos pelos alunos tanto na sede, quanto nas atividades em campo. O projeto conta com a colaboração de universitários como Jessica Nunes, aluna do curso de Educomunicação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Ela estimula o desenvolvimento das habilidades de escrita dos alunos. Para Vidal Silva, um dos coordenadores do “Jovem Repórter” destaca que as atividades desenvolvidas no projeto proporcionam a desenvoltura necessária para a inserção dos alunos no mercado profissional.
Os conteúdos produzidos são veiculados em programas de rádio e principalmente nas plataformas digitais, como site e canal do youtube.
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educação “O Jovem Repórter, acredito eu, é um projeto de dinamizar e dar uma perspectiva pra o jovem, ou seja, tirá-lo daquela ansiedade, levá-lo pra um mercado expansivo, no caso a comunicação”, explica. As escolas têm papel fundamental para o desenvolvimento do projeto através do grupo de voluntários, composto atualmente por aproximadamente 120 alunos. A estudante Andrielly Souza destaca a importância dos exercícios para sua desenvoltura pessoal, pois a timidez sempre a incomodou. Ressalta também a relevância das atividades para a sociedade, “O objetivo
do projeto, o que a gente faz todos os dias, é dar voz a comunidade. É tudo para a comunidade”. Explica. Para o poeta Aziel, o Jovem Repórter já mostrou seu valor de transformação social junto aos jovens e à comunidade, “eles têm os programas de rádios, o blog, a página. Tem o talento deles colocado em prática, cada um discute sua ideia, cada um tem sua identidade própria, cada um bota em prática o que acredita e a voz da comunidade se fortalece. Então eu acho o jovem repórter um projeto de grande rele-
O Jovem Repórter possibilita que os jovens tenham acesso constante à leitura
vância social e de grande alcance na questão de formação de opiniões, porque o nosso jovem é o futuro do país”. Questionado sobre a evolução do projeto, Aziel explica que em parceria com a procuradoria do trabalho conseguiram uma rádio difusora com um estúdio equipado que ajudará no desenvolvimento profissional dos voluntários.
cio Silva é um exemplo disso, iniciou no projeto como
José Negreiros, outro coordenador da ASSORAC, lembra que as atividades desenvolvidas proporcionam uma nova perspectiva de vida e acarreta o afastamento dos caminhos das drogas e das ruas. Com relação ao futuro, Negreiros ressalta que o objetivo é o aumento das atividades. “Nós temos o plano de abrir nossa própria associação, ter nosso prédio próprio, pra ter mais incentivos, pra gente ter novos projetos com danças e músicas”, destaca.
Preservar a cultura popular, estimular o aprendizado
É evidente a capacidade do “Jovem Repórter” na formação de pessoas mais conscientes com o meio social que estão inseridas. A evolução dos voluntários acontece de forma natural e progressiva através do engajamento nos exercícios disponibilizados. Maurí-
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aluno e hoje é um dos coordenadores junto com Vidal. Mauricio é aluno do curso de Jornalismo na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), e hoje compartilha suas experiências e auxilia os novos alunos, seu exemplo de vida é motivador para os estudantes.
dos jovens e contribuir para a formação de uma sociedade crítica e consciente de seus direitos são características chave do projeto “Jovem Repórter”, que em cinco anos de atuação já demonstra todo o seu potencial de conscientização e capacidade de transformar vidas. Tudo isso com a colaboração de pessoas que se unem de forma voluntária com o propósito de serem um diferencial em uma sociedade que se mostra cada vez mais necessitada de novos rumos, e novas oportunidades.
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Desperdício Por Maria Amanda
A
pós meses de falatório e burburinho sobre o mais recente filme de um herói da Marvel, Deadpool, fui convencida pelo meu irmão a acompanhá-lo ao cinema e realizar seu grande desejo do momento. João Vítor é um fanático por heróis, seja em quadrinhos, filmes, seriados ou desenhos animados, ele encontra a mesma magia que faz os olhos brilharem e por diversas vezes me contar as mesmas histórias dos seus favoritos, repetidamente. Decidi então levá-lo comigo. Desta vez, não fui apenas para servir de acompanhante para meu irmão, fui de fato com vontade de conhecer o famigerado Deadpool. Chegamos ao shopping, compramos ingressos e lanches e em seguida adentramos no cinema, um pouco eufóricos, confesso. A sala, que estava com metade de sua capacidade ocupada, ficou praticamente vazia ao subirem os créditos do filme. João, como um bom fã da Marvel, sabia que haveria uma cena pós-créditos e assim aguardamos um pouco mais, até que o meu mais novo herói favorito nos revelasse que haverá um segundo filme da franquia. Ops! Desculpe o spoiler. Saímos em êxtase, comentávamos as cenas com entusiasmo a caminho do banheiro, mas a alegria eufórica logo passou ao me deparar com uma senhora que aparentava ter muito mais anos que de fato teria. Roupas sujas e rasgadas, cabelos brancos e
bagunçados. Um contrassenso naquele cenário de consumo e lazer. Retoquei a maquiagem e os meus olhos voltaram a encontrar no espelho a imagem daquela mulher que trazia no rosto um semblante tão sofrido. Dessa vez encarei a situação por mais alguns instantes e pude sentir, no meio de toda a satisfação que me atingia por ver a alegria do meu irmão, o infortúnio que impactava a vida dela naquele momento, mesmo sem saber do que se tratava. Me peguei em uma sucessão de suposições, e entre uma teoria e outra, pude visualizar o que de fato ela fazia ali. Fiquei tão presa em sua expressão que somente depois observei os detalhes da cena. Havia uma sacola de uma sofisticada loja da cidade sobre o lavabo. Dentro, pude contar seis garrafas, dos mais variados tipos, enfileiradas, e mais duas fora dela enquanto a senhora as enchia com a água da torneira. Depois de alguns segundos de reflexão, lembrei-me que se tratava de uma segunda-feira, terceiro dia de racionamento de água em uma cidade com cerca de quatrocentos mil habitantes e uma incidência de pobreza de 58,88%, segundo o IBGE. Algumas famílias têm a possibilidade de armazenar água suficiente para os quatro dias e meio de escassez. Mas e as que não têm? Quando entendi o que ali se passava, fui ao encontro
de João Vítor, que me esperava no corredor, ainda encantado e com milhões de comentários que renderiam a semana inteira. Em minha cabeça, no entanto, o que martelava era a situação que antecedera. Na teoria todos aprendemos, ou deveríamos aprender, que a água não é um bem inesgotável. Temos acesso a dados, informativos, campanhas mundiais contra o desperdício dela. Sabemos que há realidades duras da porta de casa pra fora, mas encará-las é mais difícil do que se imagina. Não podemos sequer pensar ser essa uma situação que atinge toda a população. Quem não tem acesso a uma caixa d’água ou qualquer outro tipo de reservatório, fica sem opção alguma. E como é que uma família consegue sobreviver sem água durante a maior parte da semana? É simples, não consegue, ou encontra seus meios nada fáceis ou dignos. A partir daí, começamos a enxergar esse tipo de cena com mais frequência. Tiramos as vendas e a realidade vem à tona, muitas vezes junto ao peso na consciência. Saber que indiretamente afetamos a vida de tantas pessoas com o tão recriminado e recorrente desperdício não é fácil de digerir. Desperdício esse que não se intimida nem mesmo com o mais baixo nível da história, do principal reservatório de abastecimento da cidade.
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educação
Caminhos de uma educação inclusiva EM BOQUEIRÃO Reportagem e Fotos Annellyezy Aparecida
Duas vezes por semana os alunos especiais são atendidos individualmente ou em dupla
Localizada no cariri oriental paraibano, Boqueirão tem 16.888 habitantes e possui uma área de 371,984 km2 situada a 146,30 km de distancia da capital João Pessoa. Como muitas cidades interioranas, enfrenta dilemas no que se refere ao ensino voltado para alunos portadores de necessidades especiais.
Inclusão em escolas públicas
S
egundo o secretário de Educação José Erivaldo da Silva, o trabalho inclusivo vem ocorrendo de forma mais intensa desde o ano de 2013 com apoio de uma psicopedagoga e professores especializados para Braile e Libras que auxiliam os docen-
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tes de ensino regular quando necessário em duas escolas da cidade e em uma escola do distrito do Marinho. Inicialmente uma das maiores dificuldades foi o trabalho de busca para trazer os alunos com
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algum tipo de deficiência para a escola. Também não é fácil encontrar profissionais especializados, para se ter uma ideia, para auxiliar crianças e jovens com deficiência visual é preciso trazer um professor da cidade de Campina Grande. No entanto, no ano de 2015 uma docente da cidade se dispôs a trabalhar com os mesmos. Outro obstáculo é que o trabalho psicopedagógico ainda não atende de forma regular todos os alunos com necessidades especiais.
Aprendendo com as dificuldades A professora auxiliar Ediana Matias, conta que o primeiro impacto ao trabalhar com necessidades especiais de um pupilo aconteceu com um aluno surdo e pensou: “Ai meu Deus como vou ensinar essa criança surda dentro da minha sala”.
Se identificando com o trabalho A professora Maricelia do Carmo Roberto diz que resolveu trabalhar com portadores de necessidades especiais por ser uma área relativamente nova que vem se destacando nas escolas. Dessa forma, sua identificação só aumenta com o trabalho de professora auxiliar de alunos especiais na escola Municipal João Agripino, na qual atua desde 2012 atendendo alunos surdos, autistas, entre outros que estudam no ensino regular. Relatou que duas vezes por semana estes alunos são atendidos individualmente ou em dupla para a realização de atividades que possibilite ao aluno o desenvolvimento em atividades que demandam mais dificuldades. Alunos da Escola Municipal Padre Inácio
Relatou ainda que durante o ano esse garoto foi lhe dando pistas de como devia trabalhar. Então Diana foi percebendo que ele estava pré-alfabetizado, foi dessa forma, com boa vontade e sem formação apropriada, que passou a trabalhar com conteúdos visuais e o ensinou a escrever. Após cinco anos lhe apareceu a oportunidade de uma formação de AEE (Atendimento Educacional Especializado). E desde 2015 ela vem trabalhando na Escola Municipal Padre Inácio como professora principalmente na área de deficiências visuais com a tradução de braile e apoio psicopedagógico.
Mais que especiais Eles estudavam e moravam no instituto dos cegos em Campina Grande quando mais jovens. Contudo, a escola deixou de funcionar em tempo integral, ficaram muitos anos sem estudar e somente em 2015 retornaram a sala de aula. A moça gosta de cozinhar e cantar. Já o rapaz gosta de tocar violão e diz “se Deus quiser eu termino os estudos para poder ser um professor” – Os irmãos Maria de Lourdes, 46, e Reginaldo Rosa de 41 anos, são hoje, alunos do 5ª ano da Escola Padre Inácio.
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educação
A inclusão em escolas particulares A diretora da escola Edilene Rodrigues, Hosana Leli Cavalcante conta que a escola recebeu
atualmente
uma
aluna
com
síndrome de down na educação infantil, e três alunos diagnosticados com déficit de atenção em outras turmas. Relatou ainda que uma psicopedagoga ajuda na confecção de matérias e atividades que facilite o aprendizado dos mesmos. Lembrou que nos anos de 2012 e 2013 a escola recebeu dois alunos com baixa visão. Para o ensino, os professores utilizaram letras de formas maiores no quadro e apostilas especiais com o mesmo sistema. A diretora ressaltou ainda que a escola contém rampas e portas maiores, para facilitar a passagem de cadeirantes.
Sede da APAE de Boqueirão
APAE: Ajudando excepcionais A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
fonoaudiologia
(APAE) foi fundada em 10 de julho de 2000 e atende
oferecido o ensino escolar fundamental I dividindo-
atualmente 105 pessoas das cidades de Boqueirão,
se em turmas de educação infantil, jovens e adultos e
Caturité, Cabaceiras e Barra de São Miguel com
deficientes auditivos com professores especializados
serviços de fisioterapia, serviço social, psicologia,
na área. De acordo com a diretora da instituição,
e
psicopedagogia.
Também
é
Josefa Neuza Juvenal apesar da força
O que diz a legislação sobre educação inclusiva?
de vontade dos alunos; ainda existe o frequente problema da falta de interesse de muitos familiares, que por sua vez, não os prestam assistência, deixando
A lei Brasileira de inclusão da pessoa com deficiência (Lei n.º
13.146/2015) diz que constitui crime punível com reclusão de 2 a 5 anos e multa recusar, cobrar valores adicionais, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, em razão de sua deficiência. Dessa maneira as escolas da cidade tentam atender as
até mesmo de levá-los ao médico para fazer exames rotineiros e anuais. Já em relação ao estudo ela conta que quando o aluno termina o fundamental I, e os profissionais da escola percebem que os mesmos estão aptos a irem para
necessidades de alunos especiais; no entanto necessita-se
a escola regular, conversam com os
de um ampliamento desse trabalho através da contratação
pais que nem sempre aceitam a ideia.
de novos professores especializados para que mais alunos
Por causa, sobretudo, dessa falta de
possam ser beneficiados. Como também seria por vez
estímulo e iniciativa da família, apenas
importante a implantação de salas especializadas a realização
cerca de cinco alunos que estudaram na
um atendimento de apoio pedagógico com esses alunos.
instituição chegaram a terminar o ensino médio.
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Problema nosso de cada dia Ops... Percurso nosso de cada dia! Por José Leal
E
le chega à bilheteria no terminal de integração e compra o passe, que por sinal é muito caro, vai para a roleta e ao mostrar para o leitor de cartão e como de costume, dá erro, tenta de novo e outra vez erro, mais uma vez, agora sim a roleta é liberada para passar. Agora caminha um pouco mais aliviado e apesar de está apressado, vai ao longo do percurso olhando os letreiros que estão acima dos boxes e indicam quais linhas deverá pegar para chegar à universidade. Não encontra as informações. Decide então ir para o outro lado do terminal onde enfim encontra o que precisava, agora é só esperar o ônibus. Os bancos estão quase todos ocupados e quando finalmente encontra um e senta-se, observa um problema: o banco está posto para o lado con-
trário de onde o ônibus virá, a solução encontrada é ficar torcendo a cabeça a todo instante para espiar a chegada do coletivo, caso continue assim por muito
Não, corriqueiro. Prefere não arriscar, guarda o celular e volta ao seu exercício forçado e incômodo com o pescoço.Depois de um tempo chega o coletivo, ele entra e procura um assento já perto da porta de desembarque, isso por dois motivos; primeiro, facilitará a sua saída e segundo para deixar os primeiros assentos para os mais idosos. Enquanto permanece ali, segue observando as pessoas e detecta todo tipo de desrespeito, o primeiro deles é a falta de educação dos jovens com as pessoas mais velhas, muitos ficam sentados enquanto os senhores e senhoras ficam de pé chacoalhando, tentando a todo custo se equilibrar durante o percurso. O motorista também não colabora, fazem curvas bruscas sem necessidade ou preocupação com os que estão de pé. Enfim, ele chega
tempo, vai sentir dor no pescoço.
à Universidade, desce e segue para a sala de
Tenta se distrair usando o celular, mas lembra-se da
é ele? A resposta é simples, somos todos
iminência constante de assalto dentro do próprio
nós que usamos diariamente os coletivos de
terminal, estranho por ser dentro desse espaço?
Campina Grande.
aula. Você pode estar se perguntando, e quem
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esporte
MASSAGISTA PÉ QUENTE Amaral dos Santos, 52, cearense, natural de Juazeiro do Norte, é um dos massagistas mais vitoriosos da história do futebol paraibano e entende seu bom desempenho na profissão como vocação. Atualmente no campinense clube, em 36 anos de carreira no mundo do futebol, passou por quatro clubes do nosso Estado: Santa Cruz de Santa Rita, Sousa e os dois maiores clubes de Campina Grande, Treze e Campinense.
F
azendo parte da comissão técnica de vários clubes, o massagista é um verdadeiro colecionador de títulos. Só aqui na Paraíba foram sete títulos de campeão paraibano. É um “pé quente”, como ele mesmo afirma.
cadorias por aí. Não consigo ficar parado,
Sua trajetória teve início na Paraíba, no modesto Santa Cruz de Santa Rita. Talentoso, o massagista logo fez despertar o interesse dos grandes clubes do estado. A história de Amaral em Campina Grande começou no Treze Futebol Clube, no ano de 1992, a primeira passagem do profissional, não foi marcada por um título, mas conquistou um vice-campeonato paraibano pelo time alvinegro e o carisma da torcida.
Morou na Rainha da Borborema por vários
Não demorou para outro grande clube de Campina desejar o trabalho do massagista e no ano seguinte, teve sua primeira passagem no Campinense clube. São, ao todo, cinco passagens pelo Campinense e três pelo Treze. Indagado sobre qual clube gosta mais de trabalhar, respondeu: “não falo isso porque estou trabalhando aqui hoje, mas prefiro o Campinense. É um clube mais tranqüilo e foi o time que mais me acolheu, prova disso é a minha quinta passagem por aqui. Não quero dizer que no Treze é ruim, é clube grande e tem que ser respeitado, mas entre os dois, prefiro trabalhar no Campinense”.
de Sousa, fica um pouco distante, mas já
Com muitos anos de profissão, Amaral não é apenas massagista, divide seu tempo entre o futebol e bicos em comércio como autônomo. Muito conhecido, sempre que tem folga, consegue vender seus variados produtos por diferentes cidades. “Já tive loja e adoro vender meus produtos. Sempre que estou de folga, vendo minhas mer-
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eu gosto de sempre ficar me movimentando e ainda aproveito para tirar um dinheiro extra”, falou o Amaral comerciante.
anos, se identifica com o lugar, foi casado com uma campinense, e fala da sua vida e história na cidade: “tive uma família aqui em Campina. Já faz muito tempo que eu me separei, tive um filho que hoje é falecido. Aqui é bem tranqüilo, moro em um bairro aonde todo mundo me conhece, é uma cidade bastante acolhedora. Minha esposa é voltei a morar aqui ha quase um ano e me acostumei”, relata. Figura carismática e sempre de bom humor, Amaral ficou conhecido também no futebol paraibano por sua irreverência. Famoso por comemorar os gols dos times nos quais trabalha, com uma dança, batizada por ele mesmo de “derêguedê”. Contou sobre a idéia: “o derêguedê, surgiu quando eu estava no Treze, eu conversava com os atacantes, dizia que eles iriam fazer gols, por coincidência eles faziam e vinham comemorar o gol comigo, dançando. Batizei essa dança de derêguedê, e hoje é conhecida por todo o Brasil”, explicou o massagista.
Um profissional imprescindível Desde os primórdios, as massagens são utilizadas com várias adaptações pelo mundo. Trata-se de uma técnica milenar empregada para relaxamento, tratamento de dores e terapias fisioterápicas.
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Reportagem Afonso Carlos Júnior Silva Walisson Porto Fotos Samy Oliveira Afonso Carlos
Em 5 de Outubro de 1961, foi regulamentada a profissão de massagista através da Lei Federal 3.968, existente até o momento, mesmo estando desatualizada em alguns aspectos. Este perito em massagem domina técnicas que ajudam o desempenho da saúde evitando doenças, aliviando dores e relaxando musculaturas. No mundo do futebol, o massagista é uma peça principal para um bom desenvolvimento de uma equipe. Responsável por tratar de incômodos e dores que os atletas sentem, tem contato próximo com os jogadores durante as disputas e o principal, atua por vezes como um “pombo-correio”. Na hora da partida de futebol, ele é encarregado de passar as informações táticas repassadas pelo treinador, na ocasião de sua entrada em campo para um pronto atendimento. Daí a precisão do trabalho, do empenho, da capacidade, responsabilidade e da evolução de cada trabalho feito por este especialista da área. Geralmente o massagista é o primeiro a chegar e o último a sair dos campos, seja dos jogos ou dos treinos.
O famoso “derêguedê”, a dança de comemoração inventada por Amaral
peça de um todo que precisa agir
da comissão do clube rubro-negro
em sintonia na busca pela vitória.
de 2004, comandada pelo saudo-
Essa equipe ou comissão técnica
so Mauricio Simões que saiu do
agrega todos os profissionais que
time da vida em outubro de 2011.
trabalham fora do campo plane-
Atualmente a comissão técnica
jando e executando atividades
do campinense é comandada pelo
que visam alcançar determinado
treinador Francisco Diá.
objetivo.
Para Amaral, trata-se de “um trei-
No futebol, são integrantes da
nador vitorioso que tem leitura de
comissão: o Técnico; o Auxiliar
jogo, acompanhado de seu auxil-
Técnico; o Preparador Físico; o
iar Romildo que tem olho clínico”.
Auxiliar de Preparador Físico; o
Mencionou também o trabalho de
Treinador de Goleiros; o Fisiotera-
qualidade de Dinho, o segundo
peuta; o Massagista; o Nutricioni-
auxiliar que trouxe na bagagem
Sintonia e competência
sta; o Psicólogo; o Olheiro; entre
sua experiência como jogador.
outros. O massagista Amaral dos
Amaral foi só elogios para toda a
Santos, que já passou por diver-
equipe ressaltando a importância
sos clubes do nordeste elogiou a
tanto do preparador físico como
A ideia de time está diretamente ligada ao sentido de trabalho em grupo e espírito de equipe. A figura do massagista é só mais uma
comissão técnica do Campinense
do preparador de goleiros e um de-
Clube e disse que há tempos não
partamento médico de qualidade.
trabalhava em parceria com uma
Para ele a equipe está afinada e
comissão tão boa. Lembrou ainda
capacidade é o que não falta.
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esporte
Da pedra bruta ao diamante A integração do esporte na reabilitação de um usuário de drogas e sua mudança de vida Reportagem Isabely Garcia
T
Fotos Dalisson Markel
rinta e três anos de vida, vinte e quatro deles refém das drogas. Um contato prematuro,
uma brincadeira que poderia não ter tido volta. Aos nove anos de idade, Nielson Bethoven Farias Silva, nascido no dia 22 de abril de 1983, filho de Ednaldo Belarmino e Aldenora das Neves, começava a traçar
que após a ingestão daquele copo cheio de rum, ficou bêbado, sem coordenação, vindo a desmaiar e dormindo mais que o normal. Passado aquele episódio, sempre que tinha oportunidade consumia bebidas alcoólicas, que para ele
um destino triste para sua vida.
é a porta para todas as outras drogas, não se con-
Era noite de São João e seu primeiro contato com
passou a usar maconha diariamente e consecutiva-
o álcool se deu dentro do próprio lar em um dia de
mente outros entorpecentes, inclusive medicamen-
comemoração entre seus familiares. Nielson conta,
tos controlados, ingerido sempre com álcool, o que
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tentando com o efeito que o álcool proporcionava,
41 causa um efeito maior e mais prolongado no usuário. Problemas familiares, separação dos pais e a vida simples que levava junto à mãe e as irmãs, no bairro Centenário em Campina Grande, fez com que Nielson cada vez mais levasse uma vida desregrada, regada a festas, prostituição e muita confusão. Em 2002, após contrair dengue hemorrágica, passando meses em tratamento, muitos deles internado e sob forte medicação, por um milagre se recuperou, mas isso trouxe alguns danos para sua saúde. Após receber alta, tanto ele quanto os seus familiares notaram que a cada dia o jovem ganhava mais peso, era necessário naquele momento que Nielson começasse a se reeducar, ter hábitos saudáveis. Foi quando um ano depois, se matriculou no boxe para perder peso, essa era sua principal intenção e também um escape, uma tentativa de recomeço, se libertar daquela vida errada que levara até o presente momento e fazer tudo diferente. Com talento nato para o esporte, seu desenvolvimento era surpreendente e em pouco tempo, vieram as primeiras conquistas, mas os vícios eram mais fortes e por vezes o nocautearam. Tão envolvido como nunca, ele se dividia entre os treinos e os velhos hábitos, nem ele, nem ninguém mais acreditava que a libertação fosse possível. Em 2010, Regis, seu treinador de boxe, o convida para conhecer o jiu jitsu, a priori houve resistência por parte de Nielson, que não queria treinar um esporte onde dois homens se agarravam. Enfim, aderiu a nova modalidade, os treinos eram realizados na igreja Bola de Neve, onde encontrou também orientação espiritual, “o Jiu Jitsu me levou a um encontro com Deus, foi uma estratégia de Deus para me levar até ele, me fazer seguir o que realmente Ele preparou para mim ”, afirmou.
atleta que levava o nome de sua equipe e fazia valer cada esforço, seu e das pessoas ao seu redor, que lutavam suas lutas diárias para torná-lo um vencedor. Quando as coisas pareciam começar a se ajustar, um acidente automobilístico tirou a vida do seu pai, a fatalidade o fez cair de cabeça na nova história que escrevia, na qual era o personagem principal e aquele “passado” nebuloso, não traria o final feliz que queria deixar para seus dois filhos. Dedicou-se cada vez mais a Deus, a igreja, ao seu ministério e as coisas boas começaram a fluir. Primeiro veio a boa notícia do emprego, convocado para o concurso da Polícia Militar da Paraíba, cargo que esperava desde 2008; depois as conquistas na vida pessoal, uma companheira que chegou para ensinar sobre o verdadeiro amor e a paciência, e o presenteou com duas lindas crianças. Hoje, Diamante, como é conhecido, tornou-se faixa marrom 4º grau de Jiu Jitsu. Leva uma vida normal, longe do vício, tem suas responsabilidades, cuida de quatro filhos, da esposa, da casa, e ministra aulas de Jiu Jitsu para crianças, jovens e adultos que recebe na igreja Bola de Neve. Seus discípulos geralmente chegam sem muita perspectiva, muitos deles repetem sua história, mas Diamante persiste em ajudá-los, em traçar com eles um novo caminho, sobretudo, porque esse tipo de rota é uma velha conhecida desse atleta. Sem vergonha de contar sua história, ele nos mostra que é possível mudar de vida e o esporte pode ser uma importante ferramenta para a transformação.
Conforme o tempo passava, cada vez mais o diamante era lapidado. Sim, foi assim que seu primeiro professor de jiu jitsu, Rulio Areda, o batizou. Para ele, Nielson era uma pedra bruta que estava sendo lapidada, tanto no esporte quanto na vida. As mudanças já eram nítidas, já trocava as drogas e festas por treinos e competições, concluiu sua primeira graduação e já não era mais aquele faixa branca sem muitas perspectivas. Surgia um Para seu primeiro professor de jiu jitsu Nielson era uma pedra bruta que estava sendo lapidada, tanto no esporte quanto na vida
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turismo
Um paraíso de pedras na Roliúde Nordestina Reportagem e Fotos Thiago Andrade
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Localizada no cariri paraibano ocidental, ha aproximadamente 120 km da capital João Pessoa, Cabaceiras é uma das cidades turísticas mais conhecidas da Paraíba. A “Roliúde Nordestina” atrai turistas de todo o Brasil e já foi cenário de vários filmes e novelas, mas seu nome se tornou conhecido nacionalmente com o filme “O Auto da Compadecida” escrito por Ariano Suassuna e dirigido por Guel Arraes e “Aquele Beijo”, telenovela escrita por Miguel Falabella e transmitida pela Rede Globo de Televisão. Cabaceiras também é conhecida por suas belezas naturais e o local de maior visitação é o Lajedo do Pai Mateus, situado a 25 km do centro da cidade.
O
“Pai Mateus” é uma elevação rochosa em
formato de “prato invertido”, com pedras arredondadas que tomaram forma ao longo dos anos, caracterizando a linda paisagem típica e inigualável do cariri paraibano. Localizado em um pequeno sítio da cidade com nome Tapera, o lugar pouco povoado está a aproximadamente 7 km do distrito Ribeira. À disposição dos turistas, sempre há guias para responder perguntas e falar sobre toda a história do lajedo.
Eventos culturais O médico Crysótomo Lucena, sempre se interessou por atividades agropecuárias características da região e por isso em 1979 comprou toda a propriedade onde estão situadas as formações rochosas. No entanto, o local só se tornou ponto de visitação turística da cidade alguns anos depois, em meados
de 1997, depois que o geólogo e empresário Eduardo Bagnoli (1955 – 2010) fundador do Manary Praia Hotel na cidade de Natal, visitou a região. Lucena, então, construiu o Hotel Fazenda Pai Mateus, que até hoje acomoda os visitantes de forma agradável e aconchegante, firmando o local como principal destino de ecoturismo da cidade.
O misterioso Pai Mateus O local é envolto de uma energia própria. As formações rochosas, a vista que proporciona e a introspecção que o local inspira faz com que se fortaleça a lenda de seu poder místico. Por volta do século XVIII, um curandeiro fazia morada naquela região, sua casa era uma grande gruta de pedra, localizada no ponto mais alto do lajedo e com uma vista privilegiada do intenso e maravilhoso por do sol. Ao chegar perto dessa pedra, se observa uma espécie de mesa que foi
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“é maravilhoso, cada vez que venho aqui sinto a energia positiva
“
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usada por Pai Mateus, como era conhecido o curandeiro, e até hoje é conservada no seu local de origem.
contido naquele “oceano de pedras”, uma beleza
Algumas marcas de mãos foram encontradas no lugar, principalmente nas paredes da grande pedra onde viveu o curandeiro, algumas pessoas afirmam que lá era um local de rituais espirituais reforçando o poder místico e intrigante dessa maravilhosa paisagem.
A advogada Iris Fonseca, 34, natural da cidade
Outro atrativo do local são as pinturas rupestres também encontradas nas pedras e de autoria atribuída a índios que também moraram ali há cerca de 10 mil anos.
tão rara que só é encontrada no cariri paraibano.
de São Paulo, mora em João Pessoa, visita o Pai Mateus anualmente e fala sobre a sua experiência no local: “esse lugar é maravilhoso, cada vez que venho aqui sinto a energia positiva e maravilhosa, é como uma terapia, um cantinho ótimo para meditar”, relatou. O artesão Wallison Maracajá (23), natural de
Relatos de quem conhece
Cabaceiras, também fala sobre sua experiência
Só quem visita o Pai Mateus entende a beleza contida nesse lugar, uma paisagem típica da região, com uma história mística e forte que encanta qualquer pessoa. O pôr do sol magnífico deixa evidente o poder revitalizador
pôr do sol deslumbrante. Quando eu fui estava
ao conhecer o lajedo, “um lugar maravilhoso, um chovendo, a água escorrendo pelas pedras deixava tudo mais bonito, um verdadeiro show pra quem vê”, contou.
Em 2008, o lajedo do Pai Mateus foi considerado a primeira das sete maravilhas do Estado da Paraíba em uma eleição realizada pela Assembléia Legislativa do Estado recebendo 6.198 votos, sendo considerado o principal ponto de visitação turística.
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turismo
Areia: frio, história, cachaça e cultura N a microrregião do brejo paraibano, no topo da serra da Borborema, a cerca de 130 km da capi-
tal João Pessoa, está localizada Areia, seu clima ameno e temperaturas baixas durante o inverno renderam-lhe a alcunha de “Suíça Paraibana”. O povoado foi descoberto por desbravadores portugueses, em meados do século XVII. Um desses desbravadores, Pedro Bruxaxá, se fixou na região, construiu um curral e uma hospedaria conhecida como “Pouso do Bruxaxá”, o que justifica o nome “Sertão de Bruxaxá”, como ficou conhecido o povoado. Com o tempo, o lugar passou a ser chamado de Brejo d’Areia, devido a um riacho que possuía grandes bancos de areia branca.
Em 30 de agosto de 1818
o povoado foi elevado à categoria de vila, e em 18 de maio de 1846 tornou-se a cidade de Areia que hoje tem aproximadamente 23.288 habitantes. Foi economicamente o maior município da região do brejo paraibano, com o desenvolvimento da lavoura do algodão por volta do século XVIII, e da lavoura canavieira no século XIX. Participou da campanha abolicionista, sendo a primeira cidade da Paraíba e a segunda do Nordeste a decretar a abolição da escravatura antes mesmo da lei ser assinada pela Princesa Isabel. Foi à primeira cidade da Paraíba a ter uma biblioteca pública e um jornal impresso. É a cidade natal de figuras históricas como o pintor Pedro Américo, autor do quadro “O Grito do Ipiranga” e um dos nomes mais importantes da história e da cultura brasileira do final do século XIX; o ex-governador da Paraíba, escritor e importante político nacional, José Américo de Almeida; o primeiro arcebispo da Paraíba, Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques; o músico erudito e criador da letra do Hino da Paraíba, Abdon Felinto Milanês; o médico e ex-prefeito de Campina Grande, Elpídio de Almeida; e o fundador do Jornal A União, Álvaro Machado.
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Considerada patrimônio histórico do Brasil e conhecida por suas riquezas históricas, culturais e naturais, Areia atrai turistas durante o ano todo Reportagem Nayala Ramos
Fotos Dalisson Markel
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turismo
Sobrado de José Rufino
Memória e patrimônio histórico nos pontos turísticos da cidade O Sítio Histórico de Areia é uma parte da cidade
Na mesma rua, se encontra o Sobrado de José Rufino, prédio
onde se mantém preservada a arquitetura
onde funcionam algumas das secretarias da Prefeitura
colonial
Municipal de Areia. O Sobrado mantém a arquitetura
das
casas
e
prédios,
lá
estão
localizados o Museu Regional de Areia (MURA), com uma belíssima exposição de peças de arte sacra, peças mobiliárias rústicas, paramentos litúrgicos e objetos antigos. Ao lado está a igreja mais antiga da cidade, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Quase defronte, está o Museu Casa de Pedro Américo, onde nasceu o pintor e se encontram telas famosas do artista, alguns esboços autênticos,
colonial, mobília e decoração antigas. Na parte posterior do lugar há uma senzala onde ficavam presos os escravos, com dois portões que dão acesso a um terraço com vista para a belíssima paisagem da Gruta do Bonito. Defronte ao Sobrado se encontra o Espaço das Artes, ponto de atendimento aos turistas, onde são vendidas peças artesanais produzidas por artistas da região. Os produtos que se destacam são o sorvete de rapadura com cachaça,
o original “Cristo Morto”, um dos seus últimos
o mel de abelha ou de engenho, os doces e licores caseiros
trabalhos pintado em 1901, de inestimável
e o artesanato da palha de bananeira. Os preços dos
valor, além de objetos de uso pessoal do pintor.
produtos vendidos variam entre R$ 2,00 e R$ 50.
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Em outros pontos da cidade encontram-se a Igreja Nossa Senhora do Rosário, também conhecida como Igreja dos pretos, uma das mais antigas da Paraíba, construída pelos escravos no final do século XVII, e o Teatro Minerva, o primeiro construído no Estado, inaugurado em 1859, com o objetivo de arrecadar fundos para a libertação dos escravos. Com capacidade para 250 pessoas, já foi cinema e atualmente serve como espaço para apresentação de grupos teatrais e de tradições folclóricas da cidade. Há ainda o Museu do Brejo Paraibano, conhecido como Museu da Rapadura. Localizado no Campus II da Universidade Federal da Paraíba, outro local histórico da cidade, pois foi a primeira Escola de Agronomia do Nordeste. O Museu da Rapadura possui vários atrativos, a começar por um casarão todo mobiliado com móveis rústicos, uma biblioteca especializada em cana-de-açúcar e um arquivo documental para pesquisas à disposição da comunidade.
Há também, dentro do campus, um engenho antigo onde é possível acompanhar o processo de produção dos derivados da cana de açúcar, em especial, da rapadura. Na área rural de Areia encontram-se os engenhos modernos . São 28 engenhos ativos, onde é possível conhecer todas as fases de produção da cachaça. Os mais conhecidos são o Engenho Vaca Braba, o mais antigo da região, e o Engenho Triunfo, produtor da Cachaça Triunfo, considerada a mais tradicional da Paraíba. Este se destaca pelo empreendimento na área turística, pois cultiva um belo jardim e uma lojinha onde são vendidos produtos como cachaça, doces e especiarias a base da aguardente; o preço da cachaça varia entre R$ 5,00 e R$ 50,00. A recepção aos turistas é calorosa, quem visita o engenho não sai de lá sem provar das iguarias locais como frutas, caldo de cana e é claro, a cachaça Triunfo. O preço para fazer uma visita é de R$ 7,00 por pessoa. No caminho dos engenhos, encontra-se também a Casa do Doce, um atrativo de dar água na boca. Lá são vendidos mais de 73 tipos de doces, todos feitos utilizando como ingredientes principais a cachaça e a rapadura. Os doces são vendidos num valor entre R$ 4,00 e R$ 20,00.
Casa do Doce
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turismo
Trilha na Mata do Pau Ferro
Turismo ecológico Em Areia também há belezas naturais, como o Parque Estadual Mata do Pau Ferro, localizado a 9 km da cidade, na comunidade Chã de Jardim, um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste, representando 1%
Informações ao turista Como opção de hospedagem, a cidade dispõe de hotéis e pousadas com o melhor da gastronomia local, conforto e diversão, além de passeios pelos pontos turísticos da cidade como serviço de algumas delas. Os valores para acomodações simples variam entre R$ 137,00 e R$ 190,00. Já para contemplar mais de uma pessoa, o valor fica entre 195,00 e 373,00. Há variedades de restaurantes na cidade e o preço mínimo de uma refeição é de R$ 16 por pessoa. Por ser uma cidade bastante visitada durante o ano inteiro, Areia possui diversos guias turísticos e o valor mínimo cobrado por um guia é R$ 100,00 independente de grupo ou pessoa.
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de mata de Brejo de Altitude que ainda existe na Paraíba. São 607 hectares de mata, um refúgio para animais ameaçados de extinção como o pássaro pintor, a cobra jararaca, entre outros. O nome vem da árvore pau de ferro que existia abundantemente na mata e por ser boa para a confecção de móveis. Não se encontra mais esta árvore em seu estado natural. O Parque tem trilhas com árvores gigantescas, formigões, pássaros, plantas venenosas como a erva de rato, o cipó cururu, entres outras. A comunidade Chã de Jardim oferece também, um piquenique para os visitantes em meio a Mata, organizado para grupos de no mínimo 15 pessoas a custo de R$ 15 por pessoa.
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Eventos culturais O Festival da Cachaça e da Rapadura, mais conhecido como Bregareia tem projeção nacional, é realizado todos os anos no mês de setembro e atrai turistas de todo o país. No festival acontecem minicursos e palestras sobre assuntos voltados à cultura da cana de açúcar, com a presença de especialistas de todo o país; shows com cantores e bandas de brega do cenário local e nacional, além de movimentar a cidade e o comércio, que se dedica a apre-
sentar para os turistas a cultura local, desde a arte a culinária. Nos palcos do Bregareia já se apresentaram artistas como Reginaldo Rossi, Gilliard e Agnaldo Timóteo, humoristas do cenário nacional, entre outros. Outro evento de destaque e que abrange outras cidades além de Areia, é o Caminhos do Frio. Tratase de uma rota cultural que acontece nos meses de julho e agosto e contempla cidades do Brejo
Paraibano situadas em serras, condição que levam os termômetros nos meses de inverno a marcarem até 12 graus. Os eventos ocorrem cinco dias em cada cidade, seu ponto de partida é Areia, e na programação há oficinas, atividades culturais, gastronômicas e shows musicais. No ano de 2013, o cantor Lenine fez o show de encerramento do Caminhos do Frio em Alagoa Grande, última cidade onde o evento acontece
Espaço das Artes
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turismo
Empoderando nossa Cultura Um projeto ainda pequeno, mas com o grande objetivo de elevar a auto-estima da cultura paraibana Entrevista Karla Sylmara
Fotos Keitiana de Souza
A cultura local é por vezes desprestigiada em nosso Estado. Alguns até consideram a cultura de fora superior a nossa. É isso que a paraibana de Santa Luzia do Cariri, Keitiana de Souza Silva, 33, tem procurado mudar. Professora e mestre em filosofia formada pela UEPB, atualmente professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) e integrante do Núcleo de Extensão Resgate Cultural dos Ancestrais Indígenas da Paraíba, nos falou em entrevista um pouco sobre o trabalho que desenvolve no Projeto Caminhos Indígenas dos Cariris.
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A Pedra do Ingá é um monumento arqueológico, identificado como “itacoatiara”, o termo vem da língua tupi: itá (“pedra”) e kûatiara (“riscada” ou “pintada”)
Repórter: Você participa de um projeto que visa o resgate dos aspectos culturais do nosso Estado. Como o projeto surgiu? Keitiana: O IFPB tem um campus pequeno localizado em Cabedelo, voltado para a educação popular, atividades de extensão e atividades náuticas, que trabalha com comunidades tradicionais (assentados, indígenas, comunidades pesqueiras e ribeirinhas), que é o nosso foco. Devido ao contato com essas comunidades percebemos a necessidade de reorganizar ações turísticas para que elas pudessem fortalecer uma economia comunitária e também para que valorizassem aspectos culturais e não desorganizassem e descaracterizassem a cultura desses povos. O projeto nasceu dessa carência atrelada a necessidade de reorganizar o turismo local. Como eu sempre quis levar essa elevação de autoestima ao cariri paraibano,
já que temos um grande potencial turístico e uma cultura muito forte que deve ser valorizada, eu resolvi ampliar o projeto para que também alcançasse a minha região e não apenas o litoral norte, porque a princípio ocorreria somente nessa região. Qual o objetivo principal do projeto? O resgate cultural das comunidades tradicionais. Esse resgate cultural seria do cariri ao litoral norte e sul, de um extremo a outro. E o pano de fundo seria as comunidades indígenas. No cariri não tem comunidades indígenas, mas existem comunidades que vieram do povo indígena então é esse reconhecimento que a gente precisa. A ideia é promover turismo, economia, renda e trabalho, mas sobretudo, preservar a cultura indígena. Como o projeto visa conseguir seu objetivo?
Basicamente é um projeto de extensão que visa a formação de condutores e cooperativas que trabalhem em uma rede que possibilite diversas trocas entre o litoral e o cariri. Dessa forma, nosso empenho é formar roteiros turísticos em que o turista que vem de fora e desconhece a Paraíba, ao chegar ao litoral, por exemplo, tenha informações sobre outras regiões como o cariri, em roteiros que interliguem todo o Estado. Um dos destaques do projeto têm sido a catalogação e divulgação dos sítios arqueológicos com pinturas rupestres. O que são, onde podemos encontrá-las e como surgiu o interesse em trabalhar com as pinturas rupestres? As pinturas rupestres são representações artísticas pré-históricas realizadas em paredes, tetos e outras superfícies, eram usadas para a comunicação. Uma das características dessas pinturas
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turismo que observamos no cariri, é que elas foram feitas em locais de proteção, em grandes alturas ou, quando mais baixas, encontradas geralmente em esconderijo, como tocas e cavernas. Quanto ao interesse nas artes rupestres, este surge a partir da experiência de um colega, Horácio Aquino Montenegro que hoje também faz parte do projeto. Ele tinha viajado pela América Latina, visitando países que tem forte valorização da cultura indígena. Impressionado com essa valorização, ele desejou o mesmo para o povo do nosso Estado. Assim começou o trabalho de resgate da autoestima do Caririense que através da fotografia poderiam registrar locais que considerassem importantes. Nessa atividade surgiram vários registros desse tipo de arte e o interesse nasceu justamente da vontade de valorizar essa demanda das pessoas, de buscar, compreender e proteger essa forma de expressão. Você citou a importância e vontade da valorização e proteção da arte rupestre. A partir disso como você define turismo sustentável e por que preservar é importante?
sas comunidades porque se essas não estão formadas para receber esses turistas, não estarão formadas para valorizarem-se. Como o projeto está ajudando na questão da preservação? O projeto irá ajudar na preservação porque esses sítios de pinturas rupestres inicialmente vão ser de fato conhecidos. Talvez não conhecidos no mundo em geral, mas eles vão ganhar status de existência, porque hoje é apenas uma pedra com algo pintado lá, mas quando colocarmos um nome, não será apenas mais uma pedra, o nome da gente é que dá o status de existência e de identidade.
Ainda, quando esses lugares tiverem um nome, estiverem em um catálogo, eles vão exigir sua preservação, a permanência de sua existência. Por isso queremos catalogar e tornar esses lugares conhecidos. Não é o turismo só pelo turismo: é o turismo para a preservação, e para que isso seja eternizado, O ecoturismo tem para que as pessoas busquem que ser trabalhado conhecer como patrimônio culcom conscientização tural.
O turismo sustentável está sempre porque você não Considerando a relevância desse dialogando com o ecoturismo, segpode modificá-lo, é tema que abordamos, qual mensamento do turismo que mais cresce o ambiente que tem ultimamente. As pessoas estão gem você gostaria de deixar para os correndo para atividades que não leitores da revista? que modificar você. estejam voltadas para coisas luxuosas, com gastos exorbitantes, até O projeto é bem extenso, mas eu porque os grandes centros urbanos se tornaram o queria focar na ideia das trilhas indígenas do cariri, cotidiano de muita gente. Então, as pessoas buscam pontuando essa questão das pinturas rupestres. Eu um turismo que lhe traga outro tipo de sensação, acho que esse projeto vai ser essencial para nossa onde possam se desligar dessa eletricidade que os valorização e nosso autoconhecimento. Se você grandes centros têm, trata-se de outro tipo de expegar a base do conhecimento ocidental, que é a fiperiência como a busca por equilíbrio. losofia grega, ela vai dizer: eu não posso conhecer O ecoturismo tem que ser trabalhado com conscientização porque você não pode modificá-lo, é o ambiente que tem que modificar você. A sustentabilidade é a permanência desses lugares, existem muitas práticas que são consideradas próprias de ecoturismo, mas que estão reconfigurando o lugar e essa não é a intenção. O turismo, para cumprir essa função, tem que ser fundamentado na sustentabilidade em dois sentidos: sustentabilidade e ausência de degradação ambiental. Quem conhece a Paraíba sabe de suas muitas riquezas naturais. Em sua opinião elas estão sendo preservadas? Infelizmente não. Houve até um investimento do Governo do Estado em infraestrutura (estradas, aberturas de trilhas, etc.), porém eu acho que esse tipo de turismo tem que ser feito a partir da formação des-
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nada além de mim, sem antes me conhecer. O conhecimento das pessoas é raso porque as pessoas buscam conhecer coisas externas a elas, mas não têm o mínimo de conhecimento de si mesmas, então o conhecimento do outro vai ‘bater e voltar’, diferente de quando temos um conhecimento consolidado de nós mesmos, porque o conhecimento de fora ele vai agregando o que eu já tenho de mim, e isso é um fundamento para tudo, inclusive para todo tipo de conhecimento. Assim, eu acho que o foco principal desse projeto, é levar essa valorização a essas comunidades tradicionais e a percepção de como elas estão vivas em nosso dia a dia e a não paramos para refletir sobre isso. A ideia é de levar o conhecimento, de dentro para fora e não o contrário.
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O Ã M A R T N O C