Revista Culinária Caiçara no Litoral Norte

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Edição 1 | Ano 1 | Junho 2019

TUPI Por dentro da tradição culinária guarani em Ubatuba

ANIME E COMIDA Nova lanchonete local inspirada em Yu-Gi-Oh!

VEGANISMO NERD Junção dos dois mundos gera evento de sucesso em Caraguá

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Caiçaras trocam seus maus hábitos por vidas cheias de disposição,

OPEN CREAM

E OUTRAS NOVIDADES As estratégias quentes das sorveterias do Litoral Norte

ânimo e saúde


Revista Laboratório do curso de Jornalismo do Centro Universitário Módulo. Edição 1 | Ano 01 | Junho de 2019 Caraguatatuba|Litoral Norte de São Paulo A Culinária Caiçara no Litoral Norte é uma publicação experimental e temática produzida pelos estudantes do 5º semestre de Jornalismo do Centro Universitário Módulo. Responsável: Profa. Dra. Bruna Vieira Guimarães (MTB 32.441) Edição e revisão: Anna Larissa Zeferino Repórteres: Allan Vicente Daniela Andrade Evelin Oliveira Gabriel Batalha Giovani Rezende Isabella Rodrigues Larissa Duarte Leonice Lopes Nicolas Cantagesso Patrícia Pereira Rayssa Soares Capa: Allan Vicente (foto) e Raiana Bitencourt (arte). Projeto Gráfico: Raiana Bitencourt Versão on-line disponível em: issuu.com/revistaculinariacaicara Reitora: Profa. Ms. Maria Antônia de Lima Ribeiro Furgeri Coordenador de Jornalismo: Prof. Dr. Lourival da Cruz Galvao Junior Campus Martim de Sá Rua Maria D’Assumpção Carvalho, 1.000 Caraguatatuba, SP CEP 11662-047

EDITORIAL Valorizar o que é nosso Fomos escolhidos para viver em meio à primeira grande explosão da era da informação. A velocidade desta era traz consigo uma comunicação globalizada, a conexão entre culturas, ideias e mentes que antes não se encontravam. Por exemplo, é possível que um brasileiro tenha laços de amizade com um tailandês que nunca viu pessoalmente – e esse tipo de interação está dentro do espectro do que se considera “normal”. Porém, essa revolução também traz consigo uma síndrome de “comparação”. Com a renovada facilidade de observar de perto – mesmo que virtualmente – o comportamento de outras cidades, países ou culturas através da internet e suas mídias sociais, a mente do jovem pode se perder em devaneios e complexos de inferioridade: “ah, mas lá é melhor que aqui”; “minha cidade pouco oferece”; “o Brasil não funciona, preciso ir embora para o exterior”. É necessário lembrar que tais conclusões são enganosas, e a “grama do vizinho” nem sempre é “mais verde”. O lugar de onde viemos também traz seu brilho, aguardando apenas um olhar sensível que possa entendê-lo. Como forma de valorizar o Litoral Norte de São Paulo e aquilo que é nosso, nosso grupo optou por mergulhar no paladar local – o paladar é sempre um dos pontos mais enriquecedores de uma cultura. Então, como anda a rotina culinária do caiçara? As respostas são interessantes, e até mesmo apontam para a convergência de culturas proposta na modernidade: desde um festival de cerveja artesanal até uma lanchonete inspirada em um anime asiático, ou ainda outro festival, cujo tema mistura veganismo e cultura nerd. Há também as histórias reais de caiçaras que escolheram uma rotina de alimentação saudável, e aqueles que têm em quitutes brasileiros sua forma de sustento. A tecnologia nos leva longe, e com isso esquecemos de olhar para perto. Este trabalho é um pequeno tributo às redondezas de casa, e ao cotidiano da região que chamamos de “lar”.

Anna Larissa Zeferino

Aluna e editora


#4 Do mal para o bem: Caiçaras trocam seus maus hábitos por vidas cheias de disposição, ânimo e saúde

#6 | Veganismo e Cultura Nerd: Junção de dois mundos geram evento de sucesso

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#16 |Muito além de um hobby: uma forma de sustento Onda das lanchonetes temáticas chega ao Litoral Norte

#10 Ideias quentes descongelam o bolso dos clientes no Litoral Norte

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#18 |O outro lado da gastronomia de rua

Cerveja artesanal ganha visibilidade no Litoral Norte

#22 Cultura, Gastronomia e Peixe com Banana Verde

#24

#19 |Algumas curiosidades sobre uma paixão mundial: O chocolate #20 |Conheça a Rota que conduz aos melhores sabores de São Sebastião

Por dentro da tradição culinária guarani em Ubatuba


Fit

DO MAL PARA O BEM: Caiçaras trocam seus maus hábitos por vidas cheias de disposição, ânimo e saúde

TEXTO: Gabriel Batalha IMAGENS: Beleaf e Rita Lobo

M

udar hábitos alimentares não é uma tarefa fácil. Trocar o consumo de frituras, produtos industrializados e afins torna-se mais difícil ainda quando não é possível encontrar facilmente alimentos saudáveis, ricos em fibras, proteínas, com baixa caloria e, talvez o principal, sem agrotóxicos. De acordo com uma pesquisa da Abrasco – Associação Brasi4|

leira de Saúde Coletiva, 70% dos alimentos in natura consumidos no Brasil estão contaminados por agrotóxicos. Desse total, segundo a Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 23% contêm substâncias não autorizadas, o que é um risco à saúde humana. Com isso, muitas pessoas já estão cientes do mal que produtos deste tipo podem causar, tanto para o ser humano quanto para

o meio ambiente, e buscam uma alimentação natural e originária da agricultura orgânica. Karen da Silva, 24, é adepta dos novos hábitos alimentares há um ano, e conta que fez muito bem à sua vida. “Troquei refrigerante por água com gás ou suco natural. O sal comum, troquei pelo sal do Himalaia. Na hora do almoço, tirei o carboidrato de arroz pela batata doce”, contou a estudante.


|5 A disposição de Karen também mudou, e é uma dos pontos principais desse novo hábito alimentar. “Eu sentia muito sono, muita fadiga, depois que eu comia. E só pelo fato de ter substituído esses alimentos tenho mais disposição; você se sente bem melhor para fazer um exercício, por exemplo”, ressaltou. Já Brenda Santos, 21, iniciou uma rotina saudável há duas semanas. Começou a praticar exercícios e está se alimentando de produtos saudáveis e naturais. “Estou vendo a diferença. Por mais que sejam duas semanas de mudança, tenho ânimo, disposição e já me sinto uma nova pessoa”, disse ela. Brenda comia lanches calóricos e industrializados praticamente todos os dias, antes da mudança. “Vivia cansada. Hoje pego minha bicicleta e ando em pleno domingo, e vou pedalar. É domingo! Quem poderia imaginar que eu estaria assim?”, ressaltou, rindo e feliz com as mudanças. E existem aqueles que trabalham com o outro lado, vendendo

produtos alternativos e oferecendo auxílio no comer bem e saudável, sem exageros. Beth Dalcin, 50, é autônoma e responsável por uma espécie de “disk vida saudável”. Beth começou com lanche natural há cinco anos. Há um ano passou a vender saladas no pote, e há seis meses entrou de vez no mundo da “comida fitness”, tornando-se responsável pelo próprio negócio, o “Natureba Gourmet”, em Caraguatatuba. Muitos têm procurado por Beth porque querem mudar de vida, emagrecer ou por possuirem alguma restrição ou indicação médica. O cardápio do “Natureba Gourmet” é bastante variado. Seus pratos levam mandioquinha, aveia, espinafre, quinoa, abóbora, entre outros alimentos que deixam o almoço mais nutritivo e saboroso. “Eu tento equilibrar a quantidade de vitaminas e proteínas, com um pouco de carboidrato, daquele que faz bem, para todos”, contou. Beth ainda afirma que faz frituras, não usa bacon, margarina e

temperos artificiais: “Exploro uma grande variedade de legumes e verduras para elaborar os pratos, faço saladas com molhinhos gourmet, uso folhas orgânicas”. As pessoas viram no cardápio dela opções diferentes do habitual. A empreendedora possui vários clientes, desde atletas até donas de casa. Um nutricionista esportivo de um de seus clientes aprovou o menu e pediu que o atleta permanecesse cliente do estabelecimento. Beth vê resultados positivos, e conta que “as pessoas estão gostando, elogiam sempre e pedem de novo”. Quem passa por lá acaba se tornando não apenas um cliente, mas um amigo. Por que não chamá-la de amiga, já que cuida de tanta gente? Para comer e sentir-se bem, não é preciso se privar de muito, mas sim identificar aquilo que de fato faz bem e leva a uma vida totalmente saudável, sabendo que os novos hábitos devem durar para toda a vida, e valem a pena.

Os novos hábitos alimentares mudam a aparência dos pratos, que ganham mais vida, cor e sabor. As saladas, por exemplo, fazem a cabeça de quem está em busca de uma alimentação saudável, pois são rápidas, práticas e há grande variedade.


Geek

VEGANISMO E CULTURA NERD: Junção de dois mundos gera evento de sucesso TEXTO: Larissa Duarte IMAGENS: Red Dani

O

movimento vegano tem crescido nos últimos tempos e adquirido cada vez mais adeptos. Muitos são as pessoas que tem se interessado pela prática e buscado substituir produtos de origem animal em sua alimentação e estilo de vida. Em Caraguatatuba, unindo o veganismo e o movimento geek, nasce o “Red Dani Veganismo

Nerd”. A organizadora do movimento, Daniele Mancz, é vegana e vocalista da banda Gaijin Sentai há mais de dez anos, e após conhecer pessoas do universo nerd/ geek em vários lugares do mundo, percebeu que poderia criar um intercâmbio entre o veganismo e as manifestações culturais diversas, a fim de ampliar o alcance do pensamento vegano.

“Através das diversas viagens com a banda, percebi que meu estilo de vida vegano despertava o interesse de muitos fãs pelo veganismo, por isso resolvi criar este evento para a integração entre do público participante”, declarou Daniele. Por sua roupagem mais moderna, o evento, que é realizado anualmente, atrai diversos jovens da região interessados na proposta que busca apresentar a cultura vegana através da interação da Cultura Pop com os elementos do movimento vegano.

Além da Feira de Alimentação Inclusiva que conscientiza o público acerca do veganismo e vida saudável, os torneios de jogos de carta também fazem parte do Red Dani Veganismo Nerd


20º Encontro Este ano, o 20º Encontro Red Dani Veganismo Nerd ocorreu no dia 19 de maio, na ETEC de Caraguatatuba, e atraiu muitos jovens da própria escola e demais frequentadores que já conheciam o movimento. Entre as atrações do mundo geek, estavam os torneios “Red Dani de Magic” e “Yu-Gi-Oh!”, ambos jogos de cartas colecionáveis; jogos de tabuleiro modernos criados por frequentantes dos encontros; torneios de jogos de videogames, e palestras sobre o mundo feminino. Mas a sua atração principal foi a feira de alimentação inclusiva, que abrangeu desde alimentos veganos, sem glúten e sem lactose até produtos seguindo a mesma linha. Daniele explica que a feira é tem como finalidade “apresentar a cultura vegana para o público em geral, oferecendo oportunidade de entrar em contato com a culinária vegana e conhecer práticas de vida saudáveis, sempre atrelada a questão dos direitos dos animais.” Para o visitante do encontro, Maquir Alves, a experiência proporcionou muitas descobertas. “Foi a minha primeira vez em um evento vegano, então eu pude tirar dúvidas e conhecer mais sobre esse estilo de vida e quebrar muitos tabus que são espalhados sobre a dieta vegana.”, conta Alves. Já Lucas Lima da Silva, que também visitou a feira, é vegano a quatro anos e afirma que a realização de eventos como esse promovem a divulgação desse estilo de vida. “É muito interessante que mais pessoas conheçam para entenderem melhor do que se trata, porque não é apenas não comer carne, mas sim ter respeito pelos animais, e pensar também no meio ambiente e em uma alimentação mais saudável e respeitosa.”

Participação do Red Dani -Veganismo Nerd na festa Junina da Etec de Caraguatatuba em junho de 2019

VEGETARIANO X VEGANO Um vegetariano é uma pessoa com um regime alimentar baseado no consumo de alimentos de origem vegetal, e não come qualquer tipo de animal, com ou sem uso de laticínios e ovos. Já o vegano pratica o veganismo em todas as suas ações, seja

na alimentação ou não. Ele é vegetariano estrito em sua dieta e também não utiliza produtos de origem animal, e busca excluir, na medida do possível e do praticável, todas as formas de exploração e de crueldade contra animais. |7


Geek

ONDA DAS

LANCHONETES TEMÁTICAS CHEGA AO LITORAL NORTE Casal inova e lança em Caraguatatuba a “Kaiba Lanches”, inspirada no anime “Yu-Gi-Oh” TEXTO E IMAGENS: Nicolas Cantagesso

A

ntes de mencionar a recém-inaugurada “Kaiba Lanches”, deve-se voltar no tempo e relembrar um desenho animado que marcou toda uma geração – principalmente no Brasil, onde era transmitido em rede nacional quase todas as manhãs no início dos anos 2000 pelo extinto programa da rede Globo, a TV Globinho. Esse desenho é o Yu-Gi-Oh!. Yu-Gi-Oh! conta a história de Yugi Muto, um jovem amante de jogos. Certo dia, o jovem ganha, de seu avô, fragmentos das peças de um antigo artefato egípcio. Ao montar o artefato, Yugi acolhe em seu corpo um espírito misterioso com a personalidade de um jogador. Sempre que Yugi ou um de seus amigos é ameaçado por aqueles que têm escuridão em seu coração, o espírito do artefato se manifesta e os desafia a um jogo de cartas onde monstros tomam vida, chamado “Jogos da Sombra”. “Eu gostei sempre do anime, sempre fui apaixonado por coisas geek, e otaku [fãs de animes e mangás], mas nunca pensei em abrir um negócio temático com isso”, conta Paulo Ricardo, um dos proprietários da “Kaiba Lanches”, juntamente com sua esposa, Zelinda Brito. E foi assim que o destino apareceu na vida do casal. Segundo Paulo Ricardo, sua esposa estava desempregada, mas tinha recebido uma quantia em dinheiro de seu último emprego, e o mesmo aconteceu com ele: “Eu trabalho como vigia também. No meu trabalho houve uma troca de empresa e eu recebi o dinheiro da rescisão. Nisso nós tínhamos dinheiro para investir em algum estabelecimento. Sempre quisemos abrir algo relacionado com comida, mas nunca sabíamos o que. Mas também queríamos criar algo diferente, não só mais um estabelecimento.” 8|

AJUDA DO ACASO: Este

Lanches”

é o desenho original do logo da “Kaiba

“Certo dia no trabalho, eu estava um pouco entediado, e eu sempre gostei de desenhar. Então comecei a desenhar o ‘Dragão de Olhos Azuis’ [um dos monstros do anime], e quando terminei achei que podia colocar mais uma coisa. Foi aí, que brincando, coloquei um lanche e um copo de refrigerante nas mãos dele”, lembrou. Logo após terminar o desenho, Paulo o mostrou para a esposa e familiares. Após alguns reparos e ajustes, foi aprovado por todos. Assim a história começou a ser formada, faltando apenas o nome e a construção da identidade da futura lanchonete. A escolha do nome se tornou uma tarefa bem difícil. “Nós queríamos um nome atrativo e que fizesse referência ao desenho”, conta Paulo. “Mas esse era o problema, o anime tem muito ‘demônio’, tem muito ‘monstro’ e tem muitas pessoas que não iam entender e achar outra coisa”, conta Zelinda olhando para seu marido com um sorriso no canto do rosto.


|9 “Depois de vários nomes, várias variações, a gente então decidiu o nome. Conseguimos unir tudo, algo que chame a atenção e que faça uma referência ao anime, por isso o ‘Kaiba Lanches’. Kaiba é um dos personagens principais do desenho e nele, o personagem abre um empreendimento chamado ‘Kaibalândia’, então associamos o lanche com o Kaiba e foi um bom resultado”, conta. A próxima tarefa era a decoração, como explica Zelinda: “Para a decoração a gente sempre teve em mente o que queria. A pior parte foi os preços, os quadros que queríamos fazer eram caros e não tínhamos condições. Então a gente pensou em algo mais barato, fizemos as imagens das cartas do desenho e eu mesmo fiz os moldes por trás. Foi algo barato e que teve um resultado muito bom.” Com todos os detalhes acertados, Paulo Ricardo compartilhou uma publicação da página da lanchonete no Facebook em uma fan page do anime. A lanchonete, que tinha apenas 100 curtidas em sua página, ultrapassou a marca das mil em três dias. “Foi algo surreal, hoje se alguém for na nossa página, vai encontrar gente de Fortaleza, São Paulo, diversas cidades e estados, lamentando por não ter uma lanchonete assim perto de sua casa e pedindo para que a gente abra uma franquia em sua cidade. É algo surpreendente”, conta Paulo.

Cardápio As referências ao anime ainda não terminam – o cardápio também faz várias menções a temas do Yu-Gi-Oh!.

PAULO É O “OTAKU” DO CASAL: no decorrer do projeto da lanchonete, ele precisou explicar algumas coisas do desenho para sua esposa, Zelinda.

“Nós nunca quisemos fazer só ‘mais uma lanchonete’, nós queríamos fazer algo diferente. Senão seria só ‘mais uma lanchonete’ na cidade e pronto. Como por exemplo, o nosso cardápio possui várias citações ao desenho. Como o “Mago Negro”, “Olhos Azuis”, “Guardião Celta” e etc.”, relata Ricardo. “Outra coisa também que pensamos fortemente, é os ingredientes. Nós pegamos coisas que fazíamos em casa, algo do nosso paladar. Cada lanche tem um ingrediente que o outro não tem. Nós vimos também que diversas lanchonetes colocam de tudo nos seus lanches e acabam que as pessoas que comem, não tenham uma boa experiência. Aqui nós optamos pela leveza, para que o cliente consiga ter uma boa experiência com o lanche e a ideia está dando certo”, finaliza Zelinda.

A decoração da lanchonete – que está localizada na Av. José Herculano, 4647, no bairro do Jardim Britânia, ao lado do Supermercado Dia – é repleta de referências ao desenho, como por exemplo as fotos das cartas nas paredes.


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IDEIAS QUENTES

DESCONGELAM O BOLSO DOS CLIENTES

NO LITORAL NORTE

Sorveterias do litoral bolam e rebolam na tentativa de cativar um público que por incrível que pareça, ainda está aprendendo a tomar sorvete TEXTO E IMAGENS: Allan Vicente

“Coma à vontade”. Esse tipo de anúncio é muito comum em restaurantes, churrascarias, pizzarias e casas de rodízio espalhadas pelo Brasil. Na ocasião, o cliente paga um valor fixo e pode comer o quanto quiser, sem crise no bolso. Seguindo essa linha, a Sorveteria Capittani, de Caraguatatuba, resolveu adotar o mesmo serviço, inclusive dando nome a ele: “Open Cream”. Quem for a uma

das duas sorveterias, seja na Avenida da Praia (Av. Dr. Arthur da Costa Filho) ou no bairro Sumaré, e escolher essa opção, ganhará uma pulseira VIP amarela e desfrutará, por R$ 25, do máximo de sorvete que conseguir ingerir, inclusive podendo adicionar frutas, coberturas e guloseimas em geral. Para os amantes do açaí, o fruto roxo também entra no jogo do “Open Cream” e pode ser ingerido junto com o sorvete ou se-

Uma das alternativas da sorveteria Capittani é “liberar geral”, por R$ 25,00

paradamente, com adicionais, do jeito que o freguês preferir. Além disso, não há limite de tempo para aproveitar o tentador serviço – o cliente pode ficar quantas horas quiser, como em qualquer outro estabelecimento culinário. A única regra, que segundo os donos do estabelecimento nunca precisou ser aplicada, existe para coibir o desperdício. Quem deixar sorvete sobrando no pote, paga um adicional de R$ 20. A medida que gera surpresa no olhar da maioria das pessoas que entra na Capittani, é totalmente pioneira no Litoral Norte Paulista, e ainda não há registros de alguma sorveteria que faça algo parecido no Brasil ou no mundo. A inspiração veio de um dos donos da sorveteria, Eduardo Lemos, de 32 anos, que disse que o “Open Cream” é muito mais do que o “coma à vontade”. “Na verdade o cliente compra a experiência de não ter que pegar fila, não ter que pesar na balança e pagar um preço fixo sem surpresas no local”, comenta.


O “Open Cream”, mesmo novo, já obteve sucesso interno como constatado pelos donos. A medida entrou em vigor no mês de março e em dois meses já está no top 10 de vendas da sorveteria. Por conta de ainda ser uma novidade, Eduardo confessa: “É pouco divulgado, precisamos fazer uma divulgação melhor em cima dele”, diz. A ideia veio depois de Eduardo pensar na qualidade do serviço prestado. Segundo ele, as taças especiais de sorvete presentes em sua sorveteria não conseguiam ser bem produzidas quando havia muita pedida em tempos de alta temporada: “O grande objetivo foi reduzir o nosso cardápio, mas não deixar de entregar algo bom ao nosso cliente, que terá uma experiência diferente em tomar sorvete”. Experiência essa que foi pensada em um dia no qual o proprietário estava recebendo seus amigos de São Paulo e pensou em qual serviço gostaria que uma sorveteria proporcionasse a ele. “Eu pensei, ‘quero ter acesso ao freezer, quero ser livre’, e por algum motivo inexplicável as sorveterias ainda não tinham pensado nisso”, diz Eduardo aos risos. Outro ponto apontado pelo proprietário é que não basta ser à vontade, a qualidade do serviço prestado tem que ser uma realidade: “Se chegar lá e não tiver frutas ou o sabor de sorvete que os clientes querem, não adianta nada, tem que ter qualidade”. A gerente da loja do Centro, Aedizan dos Santos, conta que todos os clientes que chegam na loja se surpreendem ao saberem do “Open Cream”; segundo ela, por toda a liberdade que proporciona, e por um valor mínimo. Tanta liberdade causa algumas histórias inusitadas. “O pessoal perde a noção do tempo, tem um

Sorveteria Sundae virou gelateria em 2012 e sofre com crise finaceira desde 2016

cliente conhecido da gente que um dia chegou aqui na sorveteria às 15h, pediu o “Open”, começou a tomar sorvete, conversar, ficou mexendo no celular, quando ele olhou no relógio eram 22h”, conta ela rindo. Outra que também ri ao contar sua experiência é a cliente Milena Motta. “Posso dizer que nunca tinha tido uma experiência tão gostosa desse jeito. Eu que, particularmente, sou uma amante

de sorvete e açaí me senti no paraíso!”, afirma. Milena comenta ainda que a sensação de liberdade foi tão grande, que nem sequer lembra quantas vezes repetiu. Mas conta que foram muitos os sabores escolhidos e que inclusive mesclou alguns. “É aquele tipo de promoção acessível que a gente não cansa de participar. Não vejo a hora de ir novamente!”, disse ela com um sorriso no rosto.

Apertado pela crise Na contramão, a única gelateria de São Sebastião tenta voltar a seus anos de sucesso, sendo que passa por uma maré ruim desde 2016, quando segundo o proprietário, Alexandro Luiz, a crise financeira apertou e não largou seu pé até hoje. Sendo sorveteria desde 1998 e transformada em gelateria em 2012, o proprietário da Sundae aponta outros fatores para o insucesso atual de seu comércio. “Tenho que me conscientizar que estou em um bairro e não no centro da cidade, não tenho

a cultura de consumo de sorvetes e as pessoas não tem uma renda favorável para o consumo de sorvete toda semana”, afirma. O carro chefe da gelateria está no nome, o gelato, que é um sorvete com o dobro de cremosidade do convencional e a metade de gelo do comum, perpassando o encontrado nas sorveterias comuns. Tudo o que é prometido por no quesito sabor se concretiza ao chegar ao paladar, causando leveza também no estômago, que não se sente estufado após uma ou até duas rodadas desse estilo de sorvete, que é típico italiano. | 11


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“A Sundae foi sucesso de 2012 até 2015, muito por conta da novidade, mas com a crise e o desemprego, a primeira coisa que o pessoal fez foi cortar o supérfluo”, diz Alexandro. A dificuldade, de acordo com ele, é trazer de volta esse público que um dia foi seu. “Estamos a 100 dias com esse governo, eu pensei que as coisas iam mudar, mas não, tudo ainda está muito travado”, comenta novamente. Para voltar aos tempos de glória na gelateria, Alexandro pretende trazer ao seu comércio alunos de escolas municipais e privadas de São Sebastião para acompanha-

rem um dia de produção dos seus produtos, visando, a partir disso, trazer a família dos alunos, que depois desse dia passarão a conhecer o serviço prestado pela Sundae. Outra medida na qual o proprietário acredita são os pedágios radiofônicos e eventos de supermercado, porque para ele, se a população no geral experimentar seu sorvete, voltará para experimentar de novo – isso é constatado por ele quando turistas vão a sua loja: “Recebi aqui uma senhora competidora do JORI (Jogos Regionais dos Idosos), que disse pra mim que o meu sorvete é o melhor do mundo, e realmente eu

“O medo do diferente ainda assusta”, ressalta a funcionária da Sundae, Priscila Silva

foco em qualidade, com certeza quem experimentar uma vez vai querer voltar”. Ainda não acertando a mão, o proprietário continua acreditando em seu projeto. Segundo ele, duas importantes medidas precisam acontecer: a crise passar e a população com maior poder aquisitivo de São Sebastião conhecer o seu produto. Uma das funcionárias da loja, Priscila Silva, concorda com o dono. “As pessoas só precisam conhecer mesmo, às vezes até ficam com medo de entrar por conta do design da loja, o medo do diferente ainda assusta”, comenta.


GIGANTE NO CALOR, PEQUENO NO CONSUMO Mesmo sendo um país com um verão conhecido em todo o mundo pelo calor e badalação, A Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes (Abis) constata que o Brasil é apenas o 11º em consumo mundial de sorvetes, atrás das geladas Suíça, Suécia e Dinamarca, que ficam respectivamente em quinto, sexto e sétimo no ranking. Tudo isso faz com que os

produtores e vendedores do ramo de sorvete no Brasil tenham que “rebolar” para vender seus produtos, o que justifica tantas estratégias novas constatadas no Litoral Norte Paulista, principalmente focando no inverno, a estação mais fria do ano, que acaba jogando os índices já inexpressivos para estacas ainda mais irrisórias.

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Bebidas

CERVEJA ARTESANAL ganha visibilidade no Litoral Norte

O estilo é tendência no país, e São Sebastião também conta com seus mestres cervejeiros TEXTO: Isabella Rodrigues

IMAGENS: Cervejaria Marítima

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ão típico quanto a água de coco no verão, assim é a cerveja. No Brasil, o amor pela bebida é herança dos influenciadores portugueses, que trouxeram-na ao país com a colonização, quando o vinho ainda era a bebida em maior evidência. Já a cerveja artesanal só encontrou mais força entre os brasileiros a partir do final do século XIX, mas um novo movimento tem crescido nos últimos anos e ganhado o coração de muitos apreciadores da bebida à base de cevada. Para refrescar o dia-a-dia, o 14 |

Litoral Norte agora conta com a Cervejaria Marítima, o mais novo ponto de venda da cerveja artesanal. A Marítima é uma fábrica de cervejas artesanais instalada em São Sebastião, sendo assim a primeira cervejaria registrada em operação no Litoral Norte. Iniciou seus trabalhos em 2015, fornecendo as cervejas artesanais apenas em São Sebastião, mas com seu crescimento em 2016, ampliou seu local de distribuição por todo o Litoral Norte, Vale do Paraíba e São Paulo. Trabalha também com parcerias em estabelecimentos de

São Sebastião para a revenda de seus produtos e fornecem cervejas artesanais para festas particulares, eventos e confraternizações. A fábrica da Cervejaria Marítima é aberta à visitação dos degustadores da cerveja artesanal e, buscando entregar maior conhecimento aos seus visitantes, o local oferece cursos e eventos, também abertos ao público. Os visitantes podem degustar cervejas diretamente dos tanques enquanto ouvem boa música e se divertem. Júlio Cesar Frazão, caiçara natural de Ilhabela e produtor


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artesanal há mais de 14 anos, explica que a cerveja artesanal é feita em uma panela composta por cerveja, água, malte e lúpulo. Ao final, é armazenada em uma garrafa, sendo assim pronta para o consumo daqueles que apreciam uma bebida leve, fresca e suave. Júlio Cesar produz cerveja artesanal não apenas para o consumo próprio, mas trabalha também com fornecimento para estabelecimentos locais. Com a repercussão da cerveja artesanal no Brasil, a cidade de

São Sebastião realizou o primeiro Festival de Cerveja Artesanal do Litoral Norte em 2017. O evento contou com dez estandes de mestres cervejeiros locais e do Vale do Paraíba, além quatro Food Trucks e apresentações de duas bandas locais por dia. O evento apresentou ao grande público o universo da cerveja artesanal, adotando como filosofia “beba menos, mas beba melhor”. A febre das cervejas artesanais parece chegar para ficar – e o Litoral Norte não está de fora dessa.


Sabores&Cia

MUITO ALÉM DE UM HOBBY: UMA FORMA DE SUSTENTO TEXTO: Patrícia Pereira IMAGENS: Rosemary Alexandre e Patricia Pereira

“Homem-Aranha caiçara”, além de participar de festas infantis, vende doces na porta do Centro Universitário Módulo

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á muitas maneiras de obter-se uma renda extra, seja por necessidade ou por um hobby que acaba virando uma forma de trabalho e sustento, principalmente para aqueles que passam a maior parte de seus dias fora de casa, na correria. Com isso entram os empreendedores que trabalham com alimentação fora do lar, setor que cresce constantemente. Um dos maiores destaques neste campo é o de comida de rua, envolvendo centenas de barracas e carrinhos espalhados pela cidade de Caraguatatuba. Há histórias daqueles que vendem açaí no Centro da cidade, faça chuva ou faça sol, ou aqueles que saem às 7h45 da manhã de casa para atender a seus clientes e vender empadas de frango, ou pão de queijo fresquinho. Ou, enquanto todos já estão recolhidos em seus lares à noite, outros estão em uma vendendo hot dog e acompanhamentos na frente de casa. Uma diversão que virou trabalho sério é o caso do “Homem-Aranha”, como é conhecido por seus clientes. Vendendo doces, seu ponto é estratégico: a entrada do Centro Universitário Módulo, em Caraguá, onde alunos das quatro cidades do Litoral Norte frequentam as aulas. Além disso, também participa de festas de aniversário infantis. O “Homem-Aranha” relata como surgiu a ideia e como atrai a atenção do público: “Tive a ideia de usar a roupa de Homem-Aranha como uma maneira de unir o útil ao agradável; minha fantasia surgiu da vestimenta que o personagem usa nos seus filmes. Tinha guardado em casa, comprei para a festa de aniversário de meu sobrinho, e tive a idéia de utilizála para atrair a atenção dos meus


clientes na porta da faculdade aqui em Caraguatatuba.” Já Berenice de Souza levanta cedo da manhã para organizar-se e sair de encontro com seus clientes. É professora de música, pedagoga por formação e, para complementar sua renda, vende lanches caseiros em Caraguá. Seu carro chefe é a empadinha de frango, além do enrolado de presunto e queijo e também marmitas. A estudante de jornalismo Bianca Almeida, cliente antiga de Berenice, frequentava sua casa e degustava de seus lanches artesanais: “na época que ela e minha mãe trabalhavam juntas, eu ia para a casa dela e comia os quitutes. Ela sempre cozinhou super bem e sempre levou jeito para a cozinha”, afirma. Para Bianca, a especialidade realmente é a empada. Hoje Bianca é vegetariana, mas comeria novamente suas delícias, desde que não contessem carne. A tecnologia anda lado a lado com Berenice. Toda a sua clientela é organizada por meio de grupos no aplicativo WhatsApp, facilitando o trabalho diário. Para Diego dos Santos não é diferente. Trabalha durante a semana como operador de sistemas de identificação, e aos finais de semana, junto com a esposa, vende açaí em um ponto fixo na praia. O objetivo de vender açaí na praia é “eu e minha esposa complementarmos nossa renda, e ao mesmo tempo é um momento de desligamento da rotina acelerada e preocupações do dia a dia”, afirma Diego. Estes são alguns de muitos relatos de caiçaras que, por algum motivo e meta, tiram parte de seu dia para garantir seu sustento ou renda extra, garantindo também sua colaboração com o movimento da economia criativa local.

Berenice de Souza tem sua pequena linha de produção caseira

Berenice servindo salgados e refrigerante a uma de suas clientes

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Sabores&Cia

O OUTRO LADO DA

GASTRONOMIA DE RUA

TEXTO: Daniela Andrade ILUSTRAÇÃO: Luiza Formagin

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últiplos temperos para todos os gostos, um toque de receita caseira, o pão, salsicha e outras enormes quantidades de adicionais, assim é montado o lanche que mata sua fome, Big Dogão. Aqui estou, 30 anos no mesmo perímetro, cercado por diversão. A minha frente pode se notar um ponto de ônibus, não um ponto qualquer, é um dos pontos principais do centro da cidade de Caraguatatuba-SP. Ao meu lado direito um estabelecimento “Concorrente”. Já no lado esquerdo um enorme brinquedo, com balanços. Balanços de verdade, com correntes e acentos de madeira, onde causa enjoo nas pessoas com frequência, nem quero imaginar o rebuliço que ocorrer quando os enor-

mes balanços começam a girar. Na parte de trás, temos uma linda dimensão a se admirar, o parque da cidade. O parque de diversões Trombini, com 34 brinquedos que atrai clientes. Tudo bem que ele está a mais tempo, 1957 o meu dono não tinha ideia de empreendedorismo. Sofri várias reformas ao decorrer do tempo. Pois a nossa cidade é conhecida como “Caraguatachuva” pelos meus clientes turistas. Foi preciso adaptação, para atender melhorar a recepção da clientela em dias chuvosos. Por outro lado, sabemos que o sol é escaldante, as tintas sobre mim ressecam em poucos meses, então sempre preciso estar em manutenção, pois a minha imagem é o nosso cartão de visita.

Tem dias que filas quilométricas se foram, outros dias são mais visitados pelos nosso clientes fixos, como, joana. Joana, tem aproximadamente 30 anos de idade, sempre acompanhada pelo seu cachorro, chocolate. “Não me canso de vir aqui, é um local agradável e movimentado. Posso comer sem que ninguém peça para retirar o meu cachorro. E a melhor parte é que a própria pessoa pode se servir”. Relata, Joana. E é assim que trabalhamos, com o diferencial “Me diz em qual lugar da cidade, vende pão, com duas salsichas, com uma enorme variação de adicionais que a própria pessoa pode se servir?” o preço é imbatível, 10,00$ que mata a sua fome. Big dogão!


Algumas curiosidades sobre uma

paixão mundial:

O CHOCOLATE TEXTO: Evelin Oliveira IMAGEM: Bigstock

E

xiste outra paixão mundial além do futebol: o chocolate. Querido por milhares de corações espalhados pelo mundo, é provável que muitos não conheçam algumas curiosidades desta maravilha, especialmente sobre o processo que leva à sua fabricação. A fabricação se inicia no processamento das sementes de cacau. A cultura do cacau é artesanal, pois necessita de mão-deobra humana ao longo de toda sua produção. O processamento das sementes passa por três principais etapas: colheita, fermentação e secagem. Cada semente contém uma quantidade significativa de gordura (40-50% de manteiga de cacau) e polifenóis, que compõem cerca de 10% do peso seco do grão inteiro (as concentrações de epicatequina do grão recém-colhido variam entre de 21,89 - 43,27 mg / g de matéria seca quando avaliadas as amostras desengorduradas). De acordo com Érica Silva, estudante caiçara de nutrição, o consumo moderado do chocolate é saudável e recomendável. “Em pesquisas é possível percebermos que o chocolate realmente contém uma grande quantidade de antioxidantes que ajudam a proteger o coração e o organismo contra o câncer. Isso acontece por causa do cacau. A melhor e mais saudável opção é o chocolate amargo e escuro, com maior quantidade de cacau”, afirmou. Érica ainda conta que a antiga civilização Maia foi a primeira a descobrir uma nova maneira de utilizar o grão de cacau, transformando-o em uma bebida: “A bebida se tornou tão importante na cultura maia que começaram a usar grãos de cacau como dinheiro. Estudos dizem que algumas pessoas até criavam falsos grãos de cacau, feitos com barro”, completou.


Eventos

CONHEÇA A ROTA QUE C

AOS MELHORES SABOR

SÃO SEBASTIÃO

TEXTO: Leonice Lopes ILUSTRAÇÃO: PMSS

C

ercado por belas praias, ilhas, trilhas e uma mata atlântica rica em fauna e flora, o município de São Sebastião, Litoral Norte de São Paulo, é um dos melhores lugares para saborear o melhor da vida. A cidade histórica de 383 anos, a mais antiga entre os quatro municípios que compõe o Litoral Norte, proporciona aos meros mortais um verdadeiro paraíso natural, cercado de cultura e sabores. Ah, os sabores... São Sebastião é referência quando o assunto é gastronomia. Com festivais para todos os gostos, a cidade proporciona grande variedade e qualidade em seus pratos para os amantes da boa culinária. Percorrendo o charmoso e tombado Centro Histórico do município, deparei-me com maravilhosos restaurantes, cada um com a sua personalidade, mas com algo em comum. Logo na entrada, notei a plaquinha “Rota dos Sabores”, com a seguinte descrição: “O restaurante dá a sugestão e você dá o seu voto”.

Descobri que se tratava da 3ª edição do ‘Rota dos Sabores’, uma iniciativa dos próprios proprietários dos restaurantes, para presentear os clientes que, ao longo do ano, frequentam com fidelidade os comércios da “Rua da Praia”. O formato do festival é totalmente diferente dos que geralmente são realizados no país. Nele, são eleitas as melhores receitas de São Sebastião. O restaurante sugere o melhor da culinária sebastianense, e o cliente dá o voto. São 43 dias de Festival (segue até 12 de junho) para degustar, avaliar e concorrer a prêmios. Cada prato acompanha uma cédula de votação, que o cliente avalia com notas de 1 a 10, e deposita na urna que está no estabelecimento. As avaliações são nas categorias de: melhor prato, atendimento, apresentação, e ambiente. O evento tem 21 participantes, entre diversos estabelecimentos, como restaurantes, cafés, bares e lanchonetes. Além da riqueza na gastronomia,

os consumidores e atendentes serão premiados, ao final do festival. Os prêmios são: duas TVs Smart 32’, uma adega climatizada de vinhos e a todos os pratos que estão no evento. Demais, não é mesmo? De acordo com o organizador da Rota dos Sabores, Rodrigo Notari, que também é proprietário do “Cantinho dos Amigos”, a festa conta com a colaboração dos demais 20 comerciantes. Segundo ele, o Festival não é um concurso entre os estabelecimentos, mas sim “uma maneira de agradecer e retribuir os clientes que nos prestigiam o ano todo”, comentou. Ainda segundo o organizador, a ideia surgiu para fomentar o comércio na baixa temporada e trazer algo novo para os clientes. “Na época reuni os comerciantes da Rua da Praia e passei meu projeto, eles adoraram e 17 aderiram à ideia. Além dos pratos que cada estabelecimento sugere, temos música ao vivo itinerante entretendo o público no calçadão da Rua da Praia”, finalizou.


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CONDUZ

RES DE

O

O Festival é um sucesso desde a sua primeira edição, e conta com o apoio da Prefeitura Municipal através da Secretaria de Turismo, além da Fundação de Cultura, da Associação Comercial, e dos grupos de comunicação da região: Radar Litoral, Rádio Morada e Evidence Mídia. O nome do festival também é bem sugestivo, quando relacionado à arquitetura do município. Isso você só encontra no Litoral. Como já dito, há opções para todos os gostos e sabores, para que todos tenham a chance de se deliciarem. Desde o doce – com incríveis sobremesas – ao salgado, como o exuberante prato Abadejo ao molho branco, sugestão do chef do restaurante Canoa. Os nomes dos pratos também são interessantes como, por exemplo, o “Zungu de Quilombo”, do Manihôt Restaurante. Quem imagina que o prato refere-se a uma saborosa polenta

mole com lula, polvo, camarão, marisco, pimentões e cebola? Para quem curte frutos do mar, o festival também oferece, no Ceravolos Casa Nostra – Pizza Por Metro & Pasta, o prato “Paella da Dé”, que nada mais é do que arroz com especiarias, camarão, polvo, lula, marisco, peixe, pimentões (verde, vermelho e amarelo) – deu até água na boca. Já para os fãs da comida oriental, o evento oferece, no restaurante Idaina Kami Sashimi, o prato “Especial Sashimis”, composto de mistos variados de salmão, atum, pescado branco, polvo e lula com um toque especial do Chef. Os amantes de uma boa massa também não podem ser esqueci-

dos. Para estes, o festival também traz para o cardápio uma pizza diferente, em formato de torta estufada, encontrada na Nova Palhoça Pizzaria. Para as formiguinhas de plantão, o doce está presente na forma de iguarias como o “Peccato”, taça coberta com Nutella e amendoim, além de duas bolas de sorvete (sabor a escolher), creme de leite ninho, chantilly, Kinder Bueno, Kit Kat e cacau em pó, da sorveteria Rocha. Incrível, não? Se quiser acompanhar o que a culinária sebastianense tem a oferecer, acesse a página do Facebook do festival: @festivalrotadossabores. Saboreie-se – nesta rota, você está autorizado a se perder.


Identidade

Cultura, Gastronomia e

Pei

TEXTO: Rayssa Soares FOTO: Equipe Pousadinhas

É

chamado de “caiçara” aquele que nasceu e sempre morou no Litoral do Sul e do Sudeste do Brasil. A nomenclatura indígena é usada pelos próprios caiçaras, que carregam consigo heranças antigas e cheias de conhecimento. A característica dominante deste povo é a indígena, principalmente no que se refere a sua relação com a natureza. As técnicas antigas de pesca e de caça foram aprendidas a partir dos índios. Além disso, a relação caiçara-natureza está enraizada, cravada na memória e nas ações de muitos pescadores, homens e mulheres que navegam por rios e pelo mar. Com poucos contatos com o “mundo de fora”, os caiçaras evoluíram aproveitando os recursos naturais à sua volta, resultando em uma grande intimidade com o meio ambiente. Povo anfíbio, entre o mar e a floresta, estas pequenas comunidades tentam, ainda hoje, preservar 22 |

seus valores. Seus territórios, praias e enseadas, são de difícil acesso, por vezes protegido por Unidades de Conservação. Atualmente estas terras são alvo da especulação imobiliária, devido à sua beleza e excelente estado de conservação. Gastronomia A história da culinária caiçara começa com os índios, os donos verdadeiros desta terra, que aqui viviam na época do descobrimento do país, no século XVI. Sua cultura rica, cheia de lendas e rituais, deu origem à cozinha simples e saborosa, com ingredientes frescos como o pescado, as raízes e os vegetais que plantavam em suas roças, costume até hoje preservado. O Litoral Norte de São Paulo é privilegiado em matéria de culinária. Há peixes variados, pois a pesca é muito rica devido às correntes frias que vem do


ixe com Banana Verde Sul. A agricultura garante farta produção; há roças de verduras frescas e chácaras por toda parte. Antigamente, os caiçaras e viajantes do Litoral preparavam todas as suas refeições seguindo os costumes deixados. Mandioca, mandioquinha (batata baroa), banana verde, inhame, manjubinha frita, pirão, tainha assada na grelha, carne cozida para comer com angu. Pratos rápidos, substanciosos e, além de tudo, saborosos. Peixe com banana verde O Peixe com Banana Verde é um prato típico do Litoral Paulista. É uma daquelas iguarias que, a princípio, não chamam a atenção, mas trata-se de um clássico caiçara que merece ser conhecido e depois, certamente, será revisitado por quem teve o privilégio da primeira prova. No último mês de abri, visitei a casa de Dona Nice – como é conhecida por todos – no bairro do

Massaguaçu, em Caraguatatuba. Além de aproveitar a boa comida da caiçara Nice, que nasceu e reside no mesmo local há 55 anos, puder conhecer sua história, seu lar e sua maneira simples de levar a vida. Recomendo que façam a deliciosa receita que Dona Nice preparou para me receber. O peixe que compunha o saboroso cozido é a Tainha. O preparo, além da carne macia, leva também coentro, sal, azeite, cebola e muita banana verde que, junto com o caldo do peixe, traz um sabor inigualável. Como acompanhamentos para esse cozido o ideal é arroz branco e pirão, com uma salada simples – de preferência com alface e tomates, para uma atmosfera mais caiçara – e uma boa pimenta, para arder a língua e marejar os olhos. É aconselhável que a banana verde seja amassada quando colocada no prato e, depois, que acrescente-se caldo sobre ela e também sobre o peixe. | 23


Identidade

Por dentro da

tradição culinária guarani em Ubatuba

TEXTO: Giovani Rezende IMAGENS: Clickgourmet e Giovani Rezende

E

m meio à área da Mata Atlântica do bairro do Sertão do Promirim, em Ubatuba, encontra-se a Aldeia Boa Vista. Habitada por índios guarani do grupo M’byá (ou Nhandeva), formou-se na década de 1960, através de três famílias oriundas da Aldeia de Rio Silveira, localizada no município de Bertioga. Atualmente, a Aldeia Boa Vista abriga mais de quarenta famílias em comunidade, e entre elas há a preservação da cultura, da tradição e das raízes, principalmente na culinária. Cada família cultiva um tipo de plantação. Por exemplo, uma família tem uma plantação de mandioca enquanto outras já não têm, mas podem ter plantação de banana ou jaca. Sendo assim, é realizada uma troca de alimentos entre as famílias. A troca de alimentos é feita 24 |

apenas entre eles, pois não se utilizam do alimento como negócio, por considerá-lo sagrado. Para obter renda, usam-se do artesanato. Na tribo, são cultivados o palmito, a batata doce, a mandioca, e o milho. Porém, de acordo com o líder da juventude da tribo, Valdecir Veramine, 24, a colheita não é abundante, pois possuem uma área delimitada para plantar. “O espaço é delimitado, porque a aldeia está localizada dentro do Parque Estadual da Serra do Mar. Por isso, é necessário acatar regras de preservação da Mata Atlântica”, afirmou. Antes de começar o plantio, é realizado o batismo. De acordo com a crença local, isso acarretará em uma boa colheita. Todas as famílias da aldeia vão até a Opy – casa de reza – e pedem para que a plantação seja abençoada. A Opy é como uma “universidade

guarani”, onde a comunidade aprende seus valores e tradições, para que então se aprofundem na espiritualidade. Além da plantação, a atividade de pesca também é regulamentada pelo Parque Estadual. Entretanto, para que os índios possam fazê-la, é preciso que o Pajé – mais alta liderança da aldeia – também assim o permita. Mas, já em mês de desova, de acordo com Valdecir Veramine, é proibida a caça por ambos – tanto pelo Parque Estadual quanto pelo Pajé. Nos meses em que a pesca é permitida, os peixes que costumam utilizar em sua culinária é o lambari e acará. Receitas indígenas Algumas receitas já difundidas no cardápio do brasileiro têm sua origem na culinária indígena. Uma delas, por exemplo, é a moqueca de peixe.


| 25 Moqueca de peixe, um prato brasileiro de origem indígena

Entrada para a Aldeia Boa Vista, em Ubatuba

Índios da Aldeia Boa Vista preparam milho para a produção de farinha

O termo moqueca vem da língua tupi – pokeka – e significa “assado de peixes”. Muito consumida com o pirão, tem como base o caldo de peixe e a farinha de mandioca. Originalmente, entre os indígenas, era assada em áreas cobertas de cinzas e grelhas de varas. A receita foi sendo alterada de acordo com a região consumida, e os ingredientes mais comuns em seu preparo hoje são, além do peixe, o leite de coco, azeite de dendê, tomate, cebola e pimentão.

Outra receita típica da culinária guarani é o beiju, ou tapioca. Originário da alimentação de indígenas da região onde hoje é o estado de Pernambuco, o beiju é feito a partir da massa da mandioca, enquanto a tapioca é geralmente feita do amido da mandioca. Esta, ao ser espalhada em uma frigideira, forma uma espécie de crepe seco. Entre os recheios mais comuns, estão o de coco, carne seca e o queijo coalho.

Guaranis no Brasil Os índios de etnia guarani podem ser encontrados nos estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pará, Santa Catarina e Tocantins. Atualmente, a população do grupo guarani Nhandeva é estimada em cerca de 9 mil indivíduos, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).


A primeira publicação especializada em gastronomia do Litoral Norte. Conteúdo abrangente que evidencia a culinária do Litoral Norte por meio de reportagens sobre inovações, novidades e muito mais.


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