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ENTREVISTA

A Homeopatia na rede pública de saúde do DF

O Distrito Federal é pioneiro quando o assunto é o atendimento homeopático integrado à rede pública de saúde. O trabalho começou em 1987, quando atividades de fitoterapia e Homeopatia foram implantadas no Centro de Saúde Nº 2 do Núcleo Bandeirante/DF e no Instituto de Saúde Mental no Riacho Fundo/DF, e hoje o Sistema Único de Saúde – SUS do DF conta com 20 Unidades de Saúde que oferecem essa especialidade, realizando cerca de duas mil consultas por mês.

Para esclarecer algumas questões sobre o funcionamento do atendimento homeopático na rede pública de saúde do DF, conversamos com a Dra. Maria Júlia Pereira Spina (CRM-DF18.603), da Coordenação Técnica de Homeopatia/SESDF e com a Assessoria de Comunicação da Secretaria de Saúde do DF.

Como funciona o atendimento homeopático e em quais casos é possível indicá-lo?

SES/DF - A consulta homeopática é focada na integralidade do sujeito, dando atenção ao seu sofrimento, que representa muito mais do que somente a doença (patologia), que ele eventualmente possa ser portador. Durante a consulta, o médico abordará a totalidade do paciente nos seus aspectos físico, mental e emocional; seus hábitos de vida, sua sensibilidade aos fatores externos, buscando compreender a sua forma individual de adoecer e de manter a sua saúde. A partir desta compreensão é que será administrada uma substância medicinal segundo a Lei dos Semelhantes. A homeopatia está indicada em qualquer situação de sofrimento que perturbe a saúde, até mesmo em casos de doenças agudas e crônicas.

Qual é o órgão responsável por gerenciar o atendiDF?

SES/DF - Atualmente, tanto a organização quanto o funcionamento do atendimento homeopático em toda a rede pública de saúde do Distrito Federal fica a cargo da Gerência das Práticas Integrativas em Saúde – GERPIS, através da Coordenação de Homeopatia.

Como é realizada a seleção dos homeopatas que atendem na rede pública de saúde do DF?

Dra. Maria Júlia Spina - A seleção é feita exclusivamente por concurso e os candidatos precisam ser formados em Medicina, com especialidade em Homeopatia.

Há quanto tempo a senhora trabalha como homeopata na rede pública de saúde do DF?

Dra. Maria Júlia Spinola - Eu trabalho com Homeopatia há 15 anos. Comecei no Amazonas e em seguida fui para o Rio Grande do Sul. Estou na Secretaria de Saúde do DF há cinco meses.

Como homeopata, é comum sofrer preconceito mento homeopático na rede pública de saúde do

por parte de médicos de outras especialidades?

Dra. Maria Júlia Spina - Sim, é comum o preconceito. Um dia, um paciente meu que foi atendido por um cardiologista retornou à consulta informando que o médico pediu para que ele cessasse o uso da Homeopatia, sendo que o medicamento que eu prescrevi para o caso

dele foi o Cactus grandfolia, totalmente adequado para a patologia.

Quais são as dificuldades de trabalhar como homeopata na rede pública de saúde do DF?

Dra. Maria Júlia Spina - Às vezes, o médico homeopata tem que ser criativo. A Homeopatia exige algumas condutas que podem ficar comprometidas se o paciente de primeira consulta não for alertado. É necessário conferir o medicamento ao recebê-lo e, também, seguir as indicações de armazenamento e prazo de conservação, por exemplo. A dispensação do medicamento deveria ser feita diretamente pela SES-DF para evitar erros, desde a prescrição até o uso. As equipes da Unidade de Saúde também deveriam ter conhecimento sobre as peculiaridades da Homeopatia.

Quantos atendimentos homeopáticos a senhora realiza por mês?

Dra. Maria Júlia Spina – Na SES-DF, o médico homeopata trabalha 20h ou 40h. No primeiro caso, ele chega a realizar uma média de 110 atendimentos mensais, e esse número dobra no segundo caso. Também há os atendimentos considerados como “informais”, que acontecem durante encontros periódicos com a comunidade, através de palestras nas Unidades de Saúde, que chegam a receber 150 pessoas por evento.

A procura por atendimento Homeopático na rede de saúde pública do DF é alta?

Dra. Maria Júlia Spina - Essa questão é relativa porque depende do nível de conhecimento do público e dos demais profissionais médicos em relação à Homeopatia e se há cobertura suficiente de profissionais Homeopatas em todas as Unidades de Saúde da Secretaria de Saúde do DF. A porta de acesso mais adequada para o atendimento homeopático seria nas Unidades de Atenção Primária, que visam atender regionalmente, de forma sistematizada, a maior parte da procura da população, integrando ações preventivas e curativas; e não na Atenção Secundária, que envolve os serviços especializados em nível ambulatorial e hospitalar, utilizando equipamentos e tecnologia para tratamento, pois a primeira opção permite o livre acesso e livre demanda da comunidade. No aspecto epidemiológico há como dimensionar a procura potencial (pessoas a serem atendidas pela Homeopatia) de uma comunidade, e o atendimento real (consultas realizadas), mas as variáveis citadas acima justificam essa procura.

Quais foram os atendimentos homeopáticos realizados pela senhora que mais chamaram a sua atenção e por quê?

Dra. Maria Júlia Spina – Há alguns. O primeiro foi um caso com crianças que tinham dermatite atópica que abrangia 60% da pele. Com uma primeira prescrição, elas tiveram uma melhora de 80% nas lesões. Outro caso envolveu uma consulta indireta, realizada com a sobrinha de uma paciente de 84 anos, que estava na UTI, intubada, com septicemia por uma laparatomia branca (cirurgia em que não se encontra evidência visível de doença). Ela recebeu alta da UTI após a primeira semana da medicação. Administrar a Homeopatia em uma pessoa intubada foi pura criatividade, principalmente porque foi preciso orientar que o frasco do medicamento fosse identificado como “água benta”. Esse caso repercutiu em reuniões periódicas na Sociedade Gaúcha de Homeopatia. O último caso foi com pais que estavam decepcionados com a quantidade de antibióticos utilizados sempre para o mesmo problema de saúde, sem melhora efetiva e com riscos de uso contínuo e efeitos colaterais em seus filhos. Em geral, o que me chama a atenção é quando há um interesse maior pelo tratamento em Homeopatia.

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